1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE EDIFICAÇÕES E
AMBIENTAL
AVALIAÇÃO DO IMPACTO DA URBANIZAÇÃO SOBRE
O ESCOAMENTO SUPERFICIAL NA BACIA DO CÓRREGO
DO BARBADO, CUIABÁ-MT
KARINA MARCONDES COLET
CUIABÁ, MT
MAIO, 2012
2. UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS –GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE EDIFICAÇÕES E
AMBIENTAL
AVALIAÇÃO DO IMPACTO DA URBANIZAÇÃO SOBRE
O ESCOAMENTO SUPERFICIAL NA BACIA DO CÓRREGO
DO BARBADO, CUIABÁ-MT
KARINA MARCONDES COLET
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Engenharia de Edificações
e Ambiental da Universidade Federal de Mato
Grosso, como um requisito, à obtenção do
título de Mestre em Engenharia de Edificações
e Ambiental.
ORIENTADOR: PROF. DR. ALEXANDRE KEPLER SOARES
CUIABÁ, MT
MAIO, 2012
3.
4.
5. DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos ‘anjos’ da minha
vida, à minha mãe, meu pai (in memorian),
minha irmã e ao meu marido.
6. AGRADECIMENTOS
A Deus, por tornar tudo possível e magnífico na minha vida.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Alexandre Kepler Soares, pelo idealismo deste trabalho,
ensinamentos transmitidos e confiança depositada.
Ao meu marido Eduardo, minha mãe Mariza e irmã Kassia, pelo amor e incentivo
constante a minha formação.
A minha cunhada Daniela, pelo apoio e ajuda na revisão desse trabalho.
Aos meus tios Regina Celi e José Carlos pelo carinho e constante apoio em todas as
etapas da minha vida.
A Marcele Ariane Garbin pela motivação, criticas e sugestões durante o
desenvolvimento desse trabalho, além de sua valiosa amizade.
A Arquiteta Ana de Cássia Moraes Bernardino Abdalla, pelo exemplo de dedicação a
arquitetura e urbanismo de Cuiabá-MT, e o imensurável apoio e motivação para realização
desse mestrado.
A Olga da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMA) e Roberto do Programa
de Pós Graduação de Geografia (POSGEO), pela ajuda na utilização do software ARC-GIS.
Ao Sr. Abílio Mateus da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SMDU)
da Prefeitura Municipal de Cuiabá e aos professores Prudêncio, Ximenes e Eliana pela ajuda
na obtenção de material para essa pesquisa.
Ao Prof. Frederico Carlos Martins de Menezes Filho, pelo suporte fornecido neste
trabalho e ensinamentos transmitidos durante a realização do meu estágio de docência.
A todos os professores, colegas e funcionários do Programa de Pós Graduação em
Edificações em Engenharia e Ambiental (PPGEEA), pela convivência harmoniosa e
colaboração.
Aos membros da minha banca examinadora Prof. Dr. José Eduardo Alamy Filho, Prof.
Dr. José Afonso Botura Portocarrero, Prof. Dr. Paulo Modesto Filho e Prof. Dr. Gilson
Alberto Rosa Lima pelas valiosas contribuições.
7. À Coordenadoria de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior – CAPES, pela
concessão da bolsa.
Enfim, todos que de alguma maneira contribuíram com esse trabalho.
8. RESUMO
COLET, K.M. Avaliação do Impacto da Urbanização sobre o Escoamento Superficial na
Bacia do Córrego do Barbado, Cuiabá-MT. Cuiabá – MT, 2012. 134 p. Dissertação
(Mestrado em Engenharia de Edificações e Ambiental) - Universidade Federal de Mato
Grosso.
O planejamento urbano em muitas cidades brasileiras não aconteceu no mesmo ritmo que o
seu crescimento, gerando assim uma ocupação desordenada do seu espaço físico e acarretando
enormes prejuízos ambientais aos cursos de água. Dessa maneira, a realização de estudos
sobre as alterações na dinâmica hidrológica no espaço urbano subsidia a elaboração de
soluções para essa questão. Assim, esse trabalho tem como objetivo avaliar o impacto da
urbanização sobre a dinâmica hidrológica da Bacia do Córrego do Barbado a partir da
elaboração de Índices de Qualidade Ambiental (IQA) e estimativa do escoamento superficial,
além do diagnóstico ambiental para verificação do estado atual de conservação da Área de
Preservação Permanente do córrego. Os resultados mostraram que o Índice de Área Verde
(IAV), Percentual de Áreas Verdes (PAV), Índice de Espaços Livres Públicos (IEL) e
Percentual de Espaços Livres Públicos (PEL) da bacia são baixos quando comparados a de
outras localidades, havendo a necessidade de ampliação dessas áreas. As simulações
hidrológicas indicaram a necessidade de planejar soluções que atenuem o escoamento
superficial, pois com o crescimento urbano e consequente aumento da impermeabilização do
solo, o córrego e os sistemas de drenagem podem não suportar a demanda de escoamento. E o
diagnóstico ambiental revelou que o córrego apresenta graves fatores de degradação.
Palavras-chave: áreas verdes urbanas, drenagem urbana, índice de qualidade ambiental.
9. ABSTRACT
COLET, K.M. Assessment of the Impact of Urbanization on Surface Runoff in the Basin
Stream Barbado, Cuiabá-MT. Cuiabá – MT, 2012. 134 p. Master’s Dissertation (Master in
Environmental Engineering and Buildings) - Federal University of Mato Grosso.
The purpose of this study is highlight the changes in hydrological dynamics in the urban area
due the rapid population growth. Thus, this study aims to evaluate the impact of urbanization
on the hydrological dynamics catchments stream Barbados by means the elaboration of
Environmental Quality Indices (EQI), estimation of runoff and the environmental diagnosis to
check the current status of conservation of Permanent Preservation Areas stream (PPA). The
results showed that the Green Area Index (GAI), Percentage of Green Areas (PGA), Index of
Public Spaces (IPS) and Percentage of Public Spaces (PPE) of the catchments are low
compared to other localities, indicating the need to expand green areas. The hydrological
simulations indicate planning solutions that mitigate runoff, need mitigate runoff, as with
urban growth, the drainage systems can not support the surfaces flow demand. The
environmental diagnosis revealed that the stream has serious degradation factors.
Keywords: urban green areas, urban drainage, environmental quality index.
10. LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 Planta do Projeto ‘As novas avenidas de São Paulo’ 7
Figura 2.2 Área de intervenção no Córrego Gumitá 14
Figura 2.3 Estrutura do programa de intervenção no Córrego Gumitá 15
Figura 2.4 Corte esquemático do projeto de intervenção no Córrego Gumitá 15
Figura 2.5 A evolução urbana de Cuiabá – MT 18
Figura 2.6 A evolução urbana da Bacia do Córrego Barbado - Cuiabá – MT 19
Figura 2.7 Avenida das Torres e Córrego do Barbado 20
Figura 2.8 Rede hidrográfica no Perímetro Urbano de Cuiabá – MT 21
Figura 2.9 Esboço da Avenida Parque do Barbado 23
Figura 2.10 Pista de Caminhada e bosque no Campus da UFMT 24
Figura 2.11 Traçado da Av. Parque do Barbado – Campus UFMT 24
Figura 3.1 Localização da Bacia do Barbado 29
Figura 3.2 Córrego do Canjica e Barbado 30
Figura 3.3 Área da Bacia do Córrego do Barbado 31
Figura 3.4 Nascente do Córrego do Barbado 33
Figura 3.5 Foz do Córrego Barbado no Rio Cuiabá 33
Figura 3.6 Trecho canalizado Córrego do Barbado – Av. Fernando Corrêa da Costa 34
Figura 3.7 Trecho não-canalizado – cruzamento da Av. Gonçalves Antunes de Barros
com futura Av. Parque do Barbado
35
Figura 3.8 Mini-estádio do bairro Morada do Ouro 38
Figura 4.1 Procedimentos matemáticos para simulação do Escoamento Superficial 44
Figura 4.2 Hidrograma Unitário Sintético Triangular 49
Figura 5.1 Mapa das Áreas Verdes da Bacia do Barbado 54
Figura 5.2 Divisão de trechos da Bacia do Córrego do Barbado 57
Figura 5.3 Localização das nascentes do Córrego do Barbado 59
Figura 5.4 Loja Maçônica Grande Oriente do Estado de Mato Grosso 59
Figura 5.5 Nascente Barbado – Parque Massairo Okamura 60
Figura 5.6 Nascente do Barbado – Bairro Jardim das Américas 61
Figura 5.7 Ponte sobre o Córrego do Barbado – Rua Principal - Bairro Bela Vista 62
Figura 5.8 Empreendimento paralelo ao Córrego do Barbado – Av. Juliano Costa
Marques
62
Figura 5.9 Canalização do trecho Av. Juliano Costa Marques- Bairro Jardim Aclimação 63
Figura 5.10 Córrego do Barbado – Rua Quinze - Trecho entre Bairro Terra Nova e Bela
Vista
64
11. Figura 5.11 Trecho Paralelo a Av. Torres e Rua Mara Aguapé - Bairro Pedregal 66
Figura 5.12 Trecho do Médio Curso - Bairro Pedregal 66
Figura 5.13 Córrego do Barbado - Campus UFMT 67
Figura 5.14 Estação de Tratamento de Esgoto – Campus UFMT 68
Figura 5.15 Trecho canalizado – Av. Tancredo de Almeida Neves 68
Figura 5.16 Trecho canalizado – Av. Tancredo de Almeida Neves 70
Figura 5.17 Foz – Av. Tancredo de Almeida Neves – Bairro Praeirinho 71
Figura 5.18 Conexão do baixo curso e foz –Bairro Praeirinho 71
Figura 5.19 Levantamento áreas da Bacia do Córrego do Barbado para estimativa de CN 76
Figura 5.20 HUS Triangular – SCS 79
Figura 5.21 Hidrograma Unitário Sintético Curvilíneo – SCS para a bacia do Barbado 81
Figura 5.22 Hidrogramas de projeto – Tr 5 anos 82
Figura 5.23 Hidrogramas de projeto – Tr 10 anos 82
Figura 5.24 Hidrogramas de projeto – Tr 20 anos 83
Figura 5.25 Hidrogramas Tr de 5, 10 e 20 anos – solo seco e úmido 83
12. LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 Histórico dos planos urbanísticos no Brasil 8
Tabela 3.1 Características dos bairros da Bacia do Barbado 32
Tabela 4.1 Fatores de degradação da Bacia do Barbado 43
Tabela 5.1 Índices de Qualidade Ambiental (IQA) para a bacia do Barbado 56
Tabela 5.2 Resultado do Diagnostico Ambiental 72
Tabela 5.3 Áreas permeáveis e impermeáveis para cada cenário (m2) 75
Tabela 5.4 Ajustamento do CN da condição normal II para o solo seco (I) e úmido (III) 77
Tabela 5.5 Valores encontrados de CN para cada cenário 78
Tabela 5.6 Valores de CN obtidos 78
Tabela 5.7 Ordenadas do HUC 80
Tabela 5.8 Comparação entre vazões dos hidrogramas simulados 84
Tabela 5.9 Eficiência da APP no amortecimento das vazões 86
13. LISTA DE QUADROS
Quadro 2.1 Localidades da Bacia do Barbado atendidas pelo Sistema de Coleta de Esgoto
em Cuiabá
22
Quadro 3.1 Médias mensais das variáveis climatológicas observadas em Cuiabá nos anos
de 1970 à 2007- dados do 9º Distrito de Meteorologia
36
Quadro 4.1 Índices de Qualidade Ambiental a serem calculados para a Bacia do Barbado 40
Quadro 4.2 Princípios utilizados na foto-interpretação e exemplos aplicados 42
Quadro 4.3 Grupos de solos e características do solo 45
Quadro 4.4 Valores de CN para bacias urbanas e suburbanas 46
Quadro 4.5 Condições de umidade antecedente do solo 47
Quadro 4.6 Ajustamento do CN da condição normal II para o solo seco (I) e úmido (III) 47
Quadro 5.1 Fatores de degradação nas Cabeceiras 58
Quadro 5.2 Fatores de degradação Alto Curso 63
Quadro 5.3 Fatores de degradação Médio Curso 65
Quadro 5.4 Fatores de degradação Baixo Curso 69
Quadro 5.5 Fatores de degradação Foz 70
14. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Agecopa Agência Estadual de Execução dos Projetos da Copa do Mundo do
Pantanal
APP Áreas de Preservação Permanente
AVP Áreas Verdes Públicas
AVPA Áreas Verdes Particulares
CN Coeficiente de Escoamento Superficial
COHAB Companhia de Habitação Popular do Estado de Mato Grosso
CPA Centro Político Administrativo
ETE Estação de Tratamento de Esgoto
FONPLATA Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia da Prata
HUC Hidrograma Unitário Curvilíneo
IAV Índice de Área Verde
IEL Índice de Espaços Livres
IPDU Instituto de Planejamento e Desenvolvimento Urbano
IQA Índices de Qualidade Ambiental
LANDSAT Land Remote Sensing Satellite
NRCS Natural Resources Conservation Service
PAV Percentual Áreas Verdes
PEL Percentual Espaços Livres
RGB Red, Green e Blue
SBAU Sociedade Brasileira de Arborização Urbana
SCS Soil Conservation Service
Secopa Secretaria Extraordinária da Copa
SEMA Secretaria de Estado do Meio Ambiente
SMDU Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano
SPOT Sistem e Proboitoire de Observation de la Terre
UFMT Universidade Federal de Mato Grosso
ZIA Zonas de Interesse Ambiental
15. LISTA DE SIMBOLOS
A área da bacia
CNi coeficiente obtido para a área impermeável
CNp número CN da área permeável da bacia em estudo
CNw número CN composto da área urbana em estudo
i intensidade de precipitação máxima média
K parâmetro determinado pela estação pluviográfica
L comprimento do curso de água principal
m parâmetro determinado pela estação pluviográfica
n parâmetro determinado pela estação pluviográfica
P precipitação
Pef chuva excedente
Q vazão
p q vazão de pico
c t tempo de concentração
p t tempo de retardamento da bacia
Tr tempo de recorrência
t parâmetro determinado pela estação pluviográfica
ΔH diferença de altitudes
16. SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 1
1.1 JUSTIFICATIVA .......................................................................................................................... 3
1.2 OBJETIVOS ................................................................................................................................. 4
1.3 DELIMITAÇÕES DA PESQUISA .............................................................................................. 4
1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO .................................................................................................. 5
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................................ 6
2.1 O PROCESSO BRASILEIRO DE URBANIZAÇÃO .................................................................. 6
2.2 O IMPACTO DA URBANIZAÇÃO NOS RECURSOS HÍDRICOS .......................................... 8
2.2.1 Recuperação e Intervenções em Cursos de Água ................................................................ 11
2.2.1.1 Intervenção no Córrego Gumitá, Cuiabá – MT ................................................................ 13
Fonte: Plano Diretor de Desenvolvimento Estratégico de Cuiabá (2008)..................................... 14
Figura 2.3 – Estrutura do programa de intervenção no Córrego Gumitá ...................................... 15
2.2.2 Crescimento Urbano e o Processo de Degradação Ambiental das Bacias de Cuiabá – MT 16
2.2.2.1 Esgotamento Sanitário ...................................................................................................... 22
2.2.3 Avenida Parque do Barbado ................................................................................................. 23
2.3 A IMPORTÂNCIA DAS ÁREAS VERDES NO ESPAÇO URBANO ..................................... 25
2.3.1 Índices de Qualidade Ambiental (IQA) ................................................................................ 27
2.4 ESCOAMENTO SUPERFICIAL – HIDROGRAMA UNITÁRIO DO SCS ............................. 27
3. ÁREA DE ESTUDO ......................................................................................................................... 29
3.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS ................................................................................................. 29
3.2 CLIMA ........................................................................................................................................ 35
3.3 GEOMORFOLOGIA, GEOLOGIA E SOLOS .......................................................................... 36
3.4 VEGETAÇÃO ............................................................................................................................ 36
3.5 O CÓRREGO DO BARBADO E O PARQUE ECOLÓGICO MASSAIRO OKAMURA ....... 37
4. MÉTODO DE PESQUISA ............................................................................................................... 39
4.1 ÍNDICES DE QUALIDADE AMBIENTAL (IQA) ................................................................... 39
4.1.1. Levantamento das áreas verdes em espaços públicos e particulares, APP, e espaços livres
públicos na Bacia do Córrego do Barbado .................................................................................... 40
4.2 DIAGNÓSTICO AMBIENTAL ................................................................................................. 42
4.3 SIMULAÇÕES HIDROLÓGICAS ............................................................................................ 44
4.3.1 Determinação de Coeficiente de Escoamento Superficial (CN) .......................................... 45
4.3.2 Hidrograma Unitário Triangular do SCS ............................................................................. 49
17. 4.3.3 Cálculo da Chuva Efetiva ..................................................................................................... 51
4.3.4 Tempo de Recorrência (Tr) .................................................................................................. 51
5.RESULTADOS E DISCUSSÕES ..................................................................................................... 53
5.1 MAPEAMENTO E ÍNDICES .................................................................................................... 53
5.2 DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DA ÁREA DE APP DA BACIA DO BARBADO ................ 56
5.2.1 Cabeceiras ............................................................................................................................ 57
5.2.2 Alto Curso ............................................................................................................................ 61
5.2.3 Médio Curso ......................................................................................................................... 64
5.2.4 Baixo Curso .......................................................................................................................... 68
5.2.5 Foz ........................................................................................................................................ 70
5.2.6.1 Esgoto ................................................................................................................................ 72
5.2.6.2 Erosão e Instabilidade das Encostas................................................................................. 73
5.2.6.3 Vegetação .......................................................................................................................... 73
5.2.6.4 Resíduos Sólidos e Presença de animais ........................................................................... 73
5.3 SIMULAÇÕES HIDROLÓGICAS ............................................................................................ 74
5.3.1 Escoamento Superficial – SCS ............................................................................................. 74
5.3.2 Hidrograma Unitário Sintético Triangular - SCS ................................................................. 79
5.3.3 Hidrogramas de Projeto e Chuva Efetiva ............................................................................ 81
6- CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS.............................................. 88
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................................. 91
APÊNDICE A – Cálculo CN .............................................................................................................. 100
APÊNDICE B – Cálculo CN Composto ............................................................................................. 103
APÊNDICE C – Cálculo Chuva Efetiva – Tr 5 anos .......................................................................... 105
APÊNDICE D – Cálculo Chuva Efetiva – Tr 10 anos ........................................................................ 108
APÊNDICE E – Cálculo Chuva Efetiva – Tr 20 anos ........................................................................ 111
APÊNDICE E – Ordenadas Hidrograma – Tr 5 anos ......................................................................... 114
APÊNDICE F – Ordenadas Hidrograma – Tr 10 anos ....................................................................... 121
APÊNDICE G – Ordenadas Hidrograma – Tr 20 anos ....................................................................... 128
18. 1
1. INTRODUÇÃO
O processo de urbanização brasileira ocorreu de maneira intensa e rápida, e teve
as atividades humanas impulsionadas por fatores socioeconômicos responsáveis pela
degradação dos serviços ecológicos. Em menos de uma geração, o Brasil, um país
predominantemente agrário, tornou-se virtualmente urbanizado. Dessa maneira, as
transformações quantitativas resultantes do crescimento urbano, resultaram em
transformações qualitativas profundas, afetando assim a qualidade do espaço urbano
devido a falta de infra-estrutura (DEÁK; SCHIFFER, 1999; TUCCI, 2007a).
Para Baptista et al. (2005), a urbanização provoca alterações significativas no
meio ambiente, influenciando diretamente nos processos hidrológicos, por meio da ação
direta dos cursos de água nas bacias hidrográficas.
A descaracterização da mata ciliar das Áreas de Preservação Permanente (APP)
dessas bacias, decorrente do processo de urbanização com a instalação de obras
irregulares em seu entorno, bem como da falta de fiscalização, afeta não só os recursos
hídricos e sistemas de drenagem, mas também altera a paisagem, comprometendo a
estabilidade geológica, a biodiversidade, a fauna, a flora e a proteção do solo.
Além disso, a cobertura vegetal contribui na atenuação da erosão do solo, e
também atua na intercepção das chuvas, captura do gás, manutenção da fauna e flora,
conforto climático e melhoramento do aspecto visual no espaço urbano.
A poluição das águas dos córregos urbanos também é outro fator impactante do
processo de urbanização sobre eles, não só devido ao lançamento de esgoto, mas
também pela disposição de resíduos em locais indevidos e a poluição difusa que são
transportados a estes cursos em períodos chuvosos.
A falta de manutenção dos cursos de água no espaço urbano acarreta a
proliferação de doenças e exalação de odores, desvalorizando também o seu entorno. A
gestão dessas áreas tem se tornado um grande desafio para os administradores públicos,
pois à medida que as cidades crescem os impactos ambientais nas bacias aumentam,
tornando a recuperação destas áreas bastante onerosa para os cofres públicos.
No Brasil ainda é recente a elaboração de projetos para recuperação de cursos de
água. Segundo Gorski (2010), cidades situadas em países desenvolvidos implementaram
planos e projetos considerados modelos em relação ao tratamento de sistemas e
19. 2
corredores fluviais urbanos, buscando, assim, uma integração destes cursos de água no
meio urbano.
Em vista disso, a realização de estudos nessas bacias, com a avaliação do
impacto de urbanização sobre a dinâmica hidrológica, fornece subsídios para a
elaboração de propostas que visam à sua recuperação e preservação.
A cidade de Cuiabá possui diversos cursos de água na sua área urbana, estando
muitos deles em situações degradantes, como por exemplo, a bacia do Córrego do
Barbado, escolhida para este estudo por se tratar de um importante afluente do Rio
Cuiabá - responsável pelo abastecimento de água das cidades de Cuiabá e Várzea
Grande, que apresenta trechos canalizados e descaracterizados ambientalmente, estando
todo seu curso inserido no espaço urbano.
A forma proposta para avaliar o impacto da urbanização sobre seu curso, foi a
partir da elaboração de Índices de Qualidade Ambiental (IQA), para a avaliação da
cobertura vegetal (áreas verdes) existente da bacia, bem como a realização de um
diagnóstico ambiental da APP do córrego, e também a estimativa do escoamento
superficial gerado na bacia pelas áreas impermeabilizadas e não impermeabilizadas, e
pelo tipo de solo.
A elaboração dos IQA possibilita a verificação do percentual dos Espaços Livres
Públicos, podendo tais espaços ser utilizados para ampliação dos índices de áreas verdes
e, consequentemente melhoramento do IQA.
Por causa da diversidade dos fatores observados na visita de campo, houve a
necessidade de sintetizá-los visando à facilitar sua análise.
O mapeamento do uso e ocupação do solo e sua quantificação são utilizados na
estimativa do escoamento superficial a partir de modelos matemáticos, com
quantitativos de áreas permeáveis e impermeáveis levantados com base no uso e
ocupação do solo da área da bacia.
20. 3
1.1 JUSTIFICATIVA
A crescente urbanização traz inúmeras modificações no ambiente natural,
gerando a necessidade de realização de políticas de planejamento, a fim de ordenar o
crescimento e o investimento em obras de infraestrutura.
Infelizmente, na prática, o que ocorre é o crescimento desordenado, havendo a
necessidade da realização de obras, geralmente de elevado custo, para remediar os
problemas apresentados.
Assim também ocorre com o Córrego do Barbado, que se encontra totalmente
inserido na área urbana de Cuiabá-MT, objeto de estudo deste trabalho. A bacia
analisada é uma das maiores sub-bacias afluentes do rio Cuiabá, sendo este afluente do
Rio Paraguai, que drena o Pantanal Mato-Grossense.
O córrego percorre 21 bairros, estando 25 bairros na área de sua bacia, com
diferentes padrões de renda, dimensão, infraestrutura e com alto nível de urbanização,
possuindo apenas algumas porções pouco ocupadas. Algumas de suas nascentes se
localizam-se na Reserva Ecológica Parque Massairo Okamura, que contribuiu para
amortizar a ocupação urbana em torno deste trecho. Já o restante de seu curso apresenta
trechos descaracterizados e mal conservados.
A cidade vem apresentando contínuo crescimento, motivado pelo
desenvolvimento econômico do Estado e também pela realização de obras de
engenharia para a Copa de 2014, na qual Cuiabá será uma das sedes. Novas avenidas
serão construídas e muitas obras de infraestrutura são necessárias para melhor
organização do espaço urbano, dentre elas a Avenida Parque do Barbado, já prevista no
Plano Diretor da cidade, que será paralela ao curso do Córrego do Barbado, próxima a
montante da bacia. Essa obra motivará a ocupação em seu entorno e ampliará os efeitos
dos impactos gerados pelo crescimento urbano.
Nos períodos chuvosos, o Córrego do Barbado apresenta a ocorrência de
alagamentos, que atingem suas áreas marginais. Porém, algumas obras de infra-estrutura
na jusante do córrego contribuíram para reduzir enchentes no seu curso, como o
rebaixamento do seu nível no baixo curso e a construção da usina hidrelétrica de Manso
em 2000, fez com que as cheias do Rio Cuiabá fossem controladas.
21. 4
A última grande enchente registrada do rio Cuiabá, ocorrida em 1995, atingiu
diretamente o Córrego do Barbado e mais 6 afluentes, além de afetar dezenove bairros e
uma população de 8.500 pessoas (CUIABÁ, 2009).
Desta maneira, analisar o impacto da urbanização sobre a bacia do córrego do
Barbado, que drena uma área com elevado índice de urbanização, é extremamente
relevante para estudar o ambiente urbano e gerar dados para subsidiar a elaboração de
futuras medidas preventivas e corretivas para a preservação desse curso de água, que se
encontra presente em uma grande extensão do espaço urbano de Cuiabá.
1.2 OBJETIVOS
O objetivo geral deste trabalho é o estudo sobre o impacto da urbanização na
dinâmica hidrológica da bacia hidrográfica do Córrego do Barbado, que tem toda sua
extensão localizada na área urbana da cidade de Cuiabá-MT, a partir da elaboração de
Índices de Qualidade Ambiental (IQA), Diagnóstico Ambiental e Estimativa do
Escoamento Superficial. Sendo estes elaborados com dados do diagnóstico foto-interpretativo
e visitas de campo.
Os objetivos específicos são:
• Avaliação do percentual de cobertura vegetal existente na área da bacia;
• Análise dos Índices de Qualidade Ambiental (IQA);
• Avaliação da situação ambiental da Área de Preservação Permanente (APP) do
Córrego do Barbado;
• Avaliação do escoamento superficial gerado pelo uso e ocupação do solo na área
da bacia do Córrego do Barbado.
1.3 DELIMITAÇÕES DA PESQUISA
Este trabalho se constitui de um estudo sobre a Bacia do Córrego do Barbado e o
ambiente urbano no qual ele está inserido, a fim de verificar a degradação por ele
sofrida com o processo de urbanização.
22. 5
Para alcançar os objetivos propostos neste trabalho, foi realizado um
diagnóstico ambiental da APP, por intermédio de visitas de campo para identificar
fatores de degradação, tais como erosão, residuos sólidos, solos, vegetação e esgoto. A
quantificação da cobertura vegetal na área da bacia foi obtida por meio da análise de
imagem de satélite por foto-interpretação. Após a análise são elaborados os IQA, bem
como a verificação do seu estado de conservação.
O escoamento superficial calculado foi comparado com outros 4 cenários, para
isso, foi realizada a classificação de uso e ocupação do solo da bacia, para quantificação
das áreas permeáveis e impermeáveis, a partir da fotointerpretação da mesma imagem
de satélite utilizada para levantamento da cobertura vegetal.
1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO
A dissertação está organizada em seis capítulos, distribuídos da seguinte forma:
introdução, revisão bibliográfica, área de estudo, metodologia da pesquisa, resultados e
discussões e conclusões e sugestões para trabalhos futuros.
Capítulo 1: contém a parte introdutória do trabalho, como também a justificativa,
objetivos, delimitação da pesquisa e estrutura do trabalho.
Capítulo 2: apresenta a revisão bibliográfica, que trata sobre o processo de
urbanização brasileira, impacto da urbanização sobre os recursos hídricos e importância
das áreas verdes no espaço urbano Brasil.
Capítulo 3: contém a caracterização da área estudada.
Capítulo 4: apresenta a metodologia empregada na pesquisa.
Capítulo 5: contém os resultados encontrados na pesquisa.
Capítulo 6: apresenta as conclusões e sugestões para trabalhos futuros.
23. 6
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 O PROCESSO BRASILEIRO DE URBANIZAÇÃO
As cidades se transformam devido à ação de vários agentes, que são
responsáveis pelas modificações no ambiente, assim como Corrêa (2011) afirma que a
produção do espaço urbano e intraurbano é a consequência da ação de agentes sociais
concretos, históricos, estratégias e práticas espaciais próprias, portadores de
contradições e geradores de conflitos entre eles mesmos e com outros segmentos da
sociedade. Assim, para analisar tal processo, faz-se necessário compreender esses
fatores.
O processo de urbanização brasileira teve início no ano de 1849, após a
consolidação da nova nação–Estado, com a ocorrência dos movimentos separatistas /
republicanos em diversas províncias do Brasil (DÉAK; SCHIFFER, 1999).
Ao contrário do que ocorreu na maioria dos países desenvolvidos, onde as bases
de infraestrutura para o desenvolvimento urbano foram financiadas previamente pela
iniciativa privada, no Brasil, coube ao Estado a criação das condições gerais para o
desenvolvimento urbano, já em meio ao processo descontrolado de urbanização
(MENEZES, 1996).
Segawa (2004) relata que no ano de 1910 um grupo de capitalistas propôs ao
poder legislativo do Estado e à Câmara Municipal de São Paulo o Projeto ‘As Novas
Avenidas de São Paulo’ (Figura 2.1), do Engenheiro Civil Alexandre de Albuquerque,
que faria uma remodelação da cidade de São Paulo, inspirado no modelo parisiense de
Haussmann. Nesse projeto, seria preservado o Triângulo Tradicional, em respeito ao
passado e ao alto valor das propriedades do local, e tinha como propostas a criação de
avenidas com a realização de grandes expropriações em nome da higienização e
aspectos precários da cidade antiga. O referido projeto buscava ampliar o espaço urbano
da cidade buscando novas referências urbanas.
24. 7
Figura 2.1 – Planta do Projeto ‘As novas avenidas de São Paulo’
Fonte: Segawa (2004)
Na década de 1960 e início de 1970, os planos urbanísticos e a atividade de
planejamento chegava no seu auge, estimulada por duas idéias: (i) no plano de idéias, a
produção efervescente da reconstrução pós-guerra e (ii) no plano material, o
reconhecimento governamental de que o processo de rápida urbanização em curso era
uma das transformações fundamentais da sociedade brasileira e que requeria
intervenção estatal no planejamento urbano (DEÁK; SCHIFFER, 1999).
Na Tabela 2.1, é exposto o histórico dos planos urbanísticos no Brasil. Villaça
(1999) define que ocorreram três períodos principais, sendo o primeiro período
compreendido entre 1875 a 1930, que foi marcado pelos planos de embelezamento. Já o
segundo período, que vai de 1930 a 1990, foi marcado pelo planejamento com padrões e
parâmetros técnicos para solucionar os problemas urbanos, e o último período,
compreendido entre 1990 e a década atual, é chamado de pós reforma urbana, sendo
uma reação ao último período.
25. 8
Tabela 2.1 – Histórico dos planos urbanísticos no Brasil
Período Planos
1875-1930 Planos de melhoramento e embelezamento
1930-1990 Ideologia do planejamento – técnica de base científica
1990 - Década atual Reação à etapa anterior
Fonte: Adaptado de VILLAÇA (1999)
Quando o processo de urbanização parecia estar consolidado, surgem os
questionamentos dos parâmetros tradicionais, com o afloramento dos movimentos
sociais urbanos sobre contraste social formado no espaço urbano, gerando, assim, um
processo de Reforma Urbana. O tratamento técnico do espaço urbano pela legislação
urbanística estabelece padrões satisfatórios de qualidade para seu funcionamento.
Porém, os conflitos são ignorados, bem como a realidade da desigualdade das condições
de renda e sua influência sobre o funcionamento dos mercados imobiliários urbanos
(ROLINK, 2000).
Rolink (2000) ainda afirma que o modelo tradicional de planejamento
urbanístico, com o estabelecimento de lotes mínimos, coeficientes, recuos, taxas e
índices produziram territórios ilegais, sendo que as novas estratégias de regulação
urbanística reconhece a existência de territórios cuja a produção ocorre de maneira
tradicional.
Assim, as formas de concepção e gestão do espaço urbano vêm sendo
questionadas, dando maior abertura para a participação social e também para a questão
ambiental. DEÁK; SCHIFFER, (1999) afirmam que a gestão dos recursos ambientais,
serviços públicos e gestão do uso do espaço urbano deverão se adaptar ao estágio atual
do desenvolvimento.
2.2 O IMPACTO DA URBANIZAÇÃO NOS RECURSOS HÍDRICOS
O Brasil, que possui uma extensa rede de bacias hidrográficas, e historicamente
teve a ocupação das cidades localizadas às margens dos cursos d’água, modificando sua
paisagem, tem como principal desafio aos seus gestores o fenômeno chamado
‘crescimento urbano’.
26. 9
Segundo Silva (2010), no Brasil, percebem-se formas diversas de ocupações
urbanas, que de acordo com cada momento histórico, político, econômico ou social e,
conforme as inter-relações desses fatores, sempre influenciaram a ocupação territorial.
Com a expansão da malha urbana e segmentação do espaço urbano por classes
de renda, entraves sociais e culturais surgiram, alterando assim o ecossistema destas
bacias.
O elevado custo da terra no espaço urbano motiva o surgimento de
assentamentos localizados em áreas de risco (e áreas de preservação permanente) e em
localidades desprovidas de infra-estrutura básica (água e esgoto).
A ineficácia das entidades fiscalizadoras, e a imatura conscientização ambiental
da sociedade favorecem o surgimento de empreendimentos destoantes às diretrizes
urbanísticas previstas por lei. O aumento da taxa de impermeabilização é bastante
preocupante, pois sobrecarrega o sistema de drenagem, em especial nos períodos
chuvosos, causando danos à saúde e prejuízos econômicos a cidade.
Desta maneira, o impacto ambiental nas bacias é potencializado. A Resolução do
Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) nº. 1, de 23 de janeiro de 1986
define impacto ambiental como:
(..) qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e
biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria
ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou
indiretamente, afetam: (i) a saúde, a segurança e o bem-estar da
população, (ii) as atividades sociais e econômicas, (iii) a biota, (iv) as
condições estéticas e sanitárias do meio ambiente e (v) a qualidade
dos recursos ambientais.
O impacto ambiental não é só o resultado de uma ação realizada sobre o
ambiente, mas sim a relação de mudanças sociais e ecológicas (COELHO, 2011).
Assim, para entender os impactos ambientais se faz necessário conhecer os processos
que o geram:
As mudanças sociais e ecológicas são marcadas por rupturas num
contínuo, provocando uma desestruturação e uma reestruturação que
deverá ser afetada por nova mudança. Somente através de pesquisa
de acompanhamento sistemático voltada para a compreensão das
estruturas e dos processos não planejados e de longa duração é que
podem ser explicados os impactos. Coelho (2011, p. 24).
27. 10
Segundo Coelho, “Os problemas ambientais (ecológicos e sociais) não atingem
igualmente todo o espaço urbano. Atingem muito mais os espaços físicos de ocupação
das classes sociais menos favorecidas do que os das classes mais elevadas” (2011, p.
27).
A preocupação com os distúrbios ambientais sofreu significativa evolução a
partir da década de 1960, com os movimentos e conferências mundiais sobre o meio
ambiente, gerando, também, ações antrópicas sobre recursos hídricos (GORSKI, 2010).
A criação da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA), realizada em
1973, buscou atenuar as críticas e pressões feitas por entidades ambientalistas
internacionais. Porém, foi atribuída a ela objetivos de difícil operacionalidade, estando
subordinada a outros ministérios (MENEZES, 1996).
Outro passo importante foi a constitucionalização e obrigatoriedade do Plano
Diretor para cidades com mais de 20.000 habitantes em 1988, sendo realizadas
audiências públicas em cada município, com a participação da sociedade na discussão
de suas diretrizes.
Ainda no aspecto legislativo, Moura (2004) alerta que, se for relegada a
participação no processo decisório, o Estatuto da cidade, que tem função de
democratizar o espaço urbano, será sucumbido diante da prática empresarial, que acaba
provocando uma segmentação social e fragmentação do tecido urbano. Esta questão,
também comentada por Rolink (2000) e por Villaça (1999), conclui que o destino do
planejamento urbano, inclusive a credibilidade dos planos diretores estão ligados aos
avanços da consciência de classe, e a organização do poder político das classes
populares.
Na constatação de Zampronio (2009), os problemas relacionados a influências
políticas, tais como carência na educação pública, inexistência ou falha nas obras de
saneamento ambiental, podem consumir grande parte do orçamento público, restando
pouco para o gerenciamento de risco de cheias. Assim, o elevado índice de
analfabetismo de nosso país dificulta a implantação de políticas de preparo e
conscientização da população sobre seus direitos e deveres, para exercerem um papel
mais atuante e fiscalizador na questão dos problemas urbanos e sociais.
É observado que muitas obras de infraestrutura no Brasil são realizadas de forma
corretiva, e não preventiva, elevando assim seus custos, e que em muitos casos se
28. 11
tornam inviáveis financeiramente. Não havendo, por esse motivo uma harmonia entre o
planejamento urbano e o seu crescimento.
Portanto, existe um descompromisso do mercado em intervir nas demandas
sociais. As agências multilaterais acabam sendo as principais financiadoras de políticas
públicas urbanas, oferecendo medidas compensatórias e corretivas para aliviar os
problemas existentes, não havendo uma interação entre políticas e agências, nem o
comprometimento cívico das autoridades (MOURA, 2004). Tal perfil de ações públicas
corretivas deixa transparecer a incapacidade administrativa e a desorganização do
Estado junto a uma sociedade desarticulada e desprovida de poder de negociação
(MENEZES, 1996).
2.2.1 Recuperação e Intervenções em Cursos de Água
No Brasil, ainda é recente a elaboração de projetos para recuperação de curso
d’água. Segundo Giorski (2010), cidades situadas em países desenvolvidos
implementaram planos e projetos considerados modelos em relação ao tratamento de
sistemas e corredores fluviais urbanos, buscando uma integração destes cursos d’água
no meio urbano.
Ainda segundo Giorski (2010), Francisco Saturnino Rodrigues de Brito (1864-
1929) e Frederick Law Olmsted (1822-1903) foram importantes precursores da inclusão
da dimensão paisagística em projetos de saneamento e drenagem. Brito, Engenheiro
Sanitarista, que participou da implantação do urbanismo moderno no Brasil, tinha como
preceito sanear, embelezar e prever a expansão da cidade em um único ponto. Olmsted,
como mentor da arquitetura e planejamento da paisagem nos Estados Unidos, tendo
como uma de suas principais projetos o Back Bay Fens, desenvolvido em 1880, reúne
uma área de recreação associada ao sistema de proteção de enchentes e melhoria da
qualidade das águas de Boston.
Na Nova Zelândia, um estudo para bacia do lago Waiwhakareke Natural
Heritage Park (WHNP) realizado por Dulgan (2011), apresenta a reversão de terras
agrícolas para áreas de floresta, reduzindo assim a quantidade de contaminantes na
água, causados pelo avanço das cidades a áreas rurais e florestais. Esse autor ainda
29. 12
destaca a influência das algas verdes na diminuição da quantidade de oxigênio da água,
comprometendo o lazer, pesca e a estética.
Esse fenômeno se chama eutrofização, que é que o crescimento de plantas
aquáticas pelo excesso de fertilização em mananciais, afetando diretamente a qualidade
da águas (BROOKE et al., 2008).
O aumento da matéria orgânica é uma das consequências deste processo, bem
como o crescimento das substâncias dissolvidas que geram odor e sabor na água. O
acúmulo de matérias e vegetação causa o assoreamento, tornando o lago cada vez mais
raso, podendo evoluir para o desaparecimento do lago. O oxigênio também sofre
diminuição (próximo ao sedimento), podendo incidir na liberação de sulfeto de
hidrogênio, amônia, ferro, manganês e outros contaminantes que provocam a
mortalidade de peixes (anaerobiose).
A questão de recuperação de cursos de água divide opiniões, visto que na
maioria dos casos os cursos de água se apresentam totalmente degradados e poluídos,
sendo transportadores de esgoto a céu aberto, e sua recuperação se torna, em muito
casos, inviável financeiramente para o seu gestor, se tornando um espaço desvalorizado
no espaço urbano e promotor da ocorrência de criminalidades.
Na pesquisa Caracterização e delimitação cartográfica das áreas de
preservação permanente (APP) e de zonas de interesse ambiental (ZIA) na área urbana
de Cuiabá-MT, coordenada pelo professor Prudêncio Rodrigues de Castro Jr., do
Departamento de Geologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), concluiu-se
que 80% dos cursos d’água, nascentes, canais efêmeros e brejos foram destruídos e a
APP toda descaracterizada. Questionam, ainda, a necessidade de manter os córregos e
suas APP’s sob proteção.
A Profª. Dra. Cátia Nunes, do Departamento de Botânica do Instituto de
Biociências da UFMT, em entrevista concedida ao Jornal A Gazeta, de 5 de junho de
2009 (reportagem de Josana Sales), afirma que esses córregos são ilhas ecológicas e
exercem função ecológica de manter a fauna e amenizar o clima árido e quente da
cidade.
Apesar desse grave diagnóstico das APP’s dos cursos d’água, o Córrego
Gumitá, localizado na cidade de Cuiabá-MT, recebeu um projeto de intervenção,
considerado no município pioneiro nessa esfera. Ele vem sendo implementado em
30. 13
etapas, devido a sua complexidade e fatores envolvidos (ocupações irregulares,
descaracterização ambiental e poluição das águas), estando descrito no capítulo
seguinte.
2.2.1.1 Intervenção no Córrego Gumitá, Cuiabá – MT
No município de Cuiabá – MT foi proposto, a partir da elaboração do Plano
Diretor de Desenvolvimento Estratégico de Cuiabá pelo extinto Instituto de
Planejamento e Desenvolvimento Urbano (IPDU), um novo tratamento urbanístico e
ambiental para integração com o entorno da micro-bacia do Córrego Gumitá (Figura
2.2). Ele vem sendo executado em conjunto com todas as secretarias do município,
através de recursos oriundos de empréstimos contraídos junto ao Fundo Financeiro para
o Desenvolvimento da Bacia da Prata (FONPLATA).
A motivação para elaboração do plano se deu pela degradação sofrida na bacia
devido à ocupação desordenada em seu entorno ocorrida a partir da implantação do
Centro Político Administrativo (CPA) com a construção de núcleos habitacionais. O
projeto propõe implantar um parque linear em toda sua extensão, com a reconstituição
de sua mata ciliar, assim como reduzir a carga de poluentes e realizar o controle de
erosão, e também, uma via que delimitará sua área e servirá de barreira para evitar
novas invasões.
31. 14
Figura 2.2 – Área de intervenção no Córrego Gumitá
Fonte: Plano Diretor de Desenvolvimento Estratégico de Cuiabá (2008)
Na Figura 2.3 é possível observar a estrutura do programa para realização do
projeto, sendo o primeiro passo o reassentamento populacional devido a existência de
ocupação irregular em torno da bacia. Para isso, foram construídas 810 casas no
Residencial Canaã e 174 casas no bairro Altos da Serra. O segundo passo seria a
recuperação das áreas degradadas, através da implantação do parque linear com a
recuperação da estação de tratamento de esgoto. Por fim, o último passo seria o
desenvolvimento da infraestrutura urbana, com a reestruturação viária, pavimentação de
32. vias, rede de distribuição de água e
(Figura 2.4).
Figura 2.3 – Estrutura do programa de intervenção no Córrego Gumitá
Estrutura do
Programa
Reassentamento
Populacional
Recuperação de
Áreas
Degradadas
Desenvolvimento
da Infraestrutura
urbana
Fonte: Adaptado do Plano Diretor de Desenvolvimento Estratégico de Cuiabá (2008)
Figura 2.4 – Corte esquemático do projeto de intervenção no Córrego Gumitá
Fonte: Plano Diretor de Desenvolvimento Estratégico de Cuiabá (2008)
Além disso, foi prevista
diagnóstico à elaboração do
captação de esgotos, drenagem e energia elétrica
a participação da sociedade em todas as etapas
programa de intervenção.
15
– do
33. 16
Com isso, os principais benefícios a serem alcançados com a intervenção seriam:
• Melhoria nos indicadores de saúde da população,
• Proteção e recuperação do meio ambiente,
• Acessibilidade aos bens públicos,
• Legalização de imóveis e atividades econômicas,
• Geração de emprego e renda,
• Elevação do nível de organização comunitária,
• Ampliação da cidadania,
• Inclusão social,
• Melhores condições de acesso para o transporte de pessoas e a otimização de
itinerários,
• Diminuição dos custos de operação e de manutenção de veículos e redução de
poluentes provenientes de congestionamentos.
O plano de intervenção referido é pioneiro na questão de recuperação de cursos
d’água no município de Cuiabá, ele visa atenuar os impactos sofridos pela urbanização
(em especial, a ocupação irregular de APP’s e o lançamento de esgotos). Ele vem sendo
executado por etapas.
2.2.2 Crescimento Urbano e o Processo de Degradação Ambiental das Bacias de Cuiabá –
MT
A urbanização causa diversas alterações no meio ambiente, em especial nos
processos hidrológicos. Segundo Tucci (2007a), o meio formado pelo ambiente natural
e pela população é um ser vivo e dinâmico que gera um conjunto de efeitos interligados,
que, sem controle, pode provocar caos à cidade. Além disso, a urbanização aumenta
com o crescimento econômico, quando o perfil da renda se altera e o emprego se
concentra mais nos serviços e na indústria do que na agricultura. Com a urbanização, a
taxa de natalidade tende a diminuir em razão de vários fatores sociais.
34. 17
Nas grandes cidades ocorreu um processo de desconcentração urbana da área
central para a periferia, deixando o centro despovoado e degradado. Dificuldades de
vias de transporte, aumento de tráfego e deterioração do transporte têm levado a
mudanças de atitude nesse processo. Assim, é correto afirmar que o processo de
ampliação da ocupação do espaço urbano também foi motivado pelo crescimento
populacional, que, consequentemente favoreceu a impermeabilização do solo (com
novas construções), acarretando maior vazão de escoamento em conjunto com a
degradação ambiental de muitos cursos d’água.
A cidade de Cuiabá apresenta um conflito entre o passado, representado por uma
rica cultura e patrimônio local, e a necessidade de modernização futura (SILVA,
2010).Tendo sua origem pela mineração em 1719 e sofreu grande crescimento urbano a
partir da década de 1930, em função dos incentivos concedidos pelo governo federal,
como o programa “Marcha para o Oeste”, e nos anos de 1960 e 1970, com a integração
da Amazônia ao processo de expansão capitalista empreendido pelos governos militares
(MARTINS, 2008).
O espaço arquitetônico e urbanístico da cidade de Cuiabá sofreu um processo
descontínuo de crescimento devido a variação da estabilidade econômica, gerando uma
grande intervenção pública em sua evolução, podendo essas fases serem caracterizadas
em três ciclos (FREIRE, 1997):
• O Ciclo da Mineração: tendo início com a fundação de Cuiabá em 1719 até o
ano de 1720, quando passa a sediar a capital da Província de Mato Grosso;
• O Ciclo da Sedimentação Administrativa: que vai de 1820 a 1968, que ocorreu a
demolição da Catedral do Bom Jesus, coincidindo com a abertura do portal
mato-grossense da Amazônia para o avanço das fronteiras e mediando a
expansão capitalista para as imensas áreas do Norte do Estado;
• O Ciclo da Modernização: teve início em 1968, quando se iniciou efetivamente a
diversificação das funções urbanas da cidade, sob o fluxo das frentes de
expansão. A construção de Brasília estimulou o fortalecimento da rede urbana.
Nas décadas de 1960 e 1990, e em consequência do alto índice de migração que
exerceu pressão sobre a cidade, ocasionou o processo de espacialização urbano não
acompanhado pelo planejamento urbano adequado.
35. 18
Em 1966, o Governo Estadual, pressionado com a forte imigração, criou a
Companhia de Habitação Popular do Estado de Mato Grosso (COHAB), responsável
pela construção do Núcleo Cidade Verde, localizado nas proximidades do Rio Cuiabá,
sendo o primeiro núcleo de habitação popular de iniciativa estadual, atraindo, também,
o crescimento urbano para a porção oeste da cidade.
A construção da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), juntamente
com a expansão da infraestrutura para essa região, polarizou o crescimento em direção
ao Coxipó da Ponte, integrando esse núcleo à malha urbana (FREIRE, 1997).
Para solucionar os problemas gerados com a expansão dos serviços públicos, foi
criado o CPA, logo depois foram construídos conjuntos habitacionais para atender a
população de baixa renda, surgindo os bairros CPA I, II, III e IV, e de classe média
Morada do Ouro.
Após a ocupação do setor norte da cidade e a construção da Estação Rodoviária
Engenheiro Cassio Veiga de Sá, sucederam processos de invasão com posterior
formação de favelas (Bairros Santa Izabel, Barbado, Canjica, Praeiro, Pedregal, Planalto
A e B e Jardim Bela Vista).
Na Figura 2.5, é possível observar a evolução urbana de Cuiabá, tendo ela o seu
início nas proximidades do Rio Cuiabá a partir do século XVIII. Na Figura 2.6
apresenta o mapa da evolução urbana de Cuiabá ampliado na área da Bacia do Barbado.
Figura 2.5- A evolução urbana de Cuiabá – MT
Fonte: Perfil Socioeconômico de Cuiabá, Vol. IV (2009)
36. 19
Figura 2.6- A evolução urbana da Bacia do Córrego Barbado - Cuiabá – MT
Fonte: Adaptado do Perfil Socioeconômico de Cuiabá, Vol. IV (2009)
A construção da Avenida das Torres (Figura 2.7) iniciada no ano de 2007,
interligando o bairro Pedra 90 à Avenida Gonçalves Antunes de Barros (Jurumirim),
próximo ao Córrego do Barbado, acarretou mudanças significativas no espaço urbano
da cidade, estimulando o surgimento de novos empreendimentos imobiliários.
37. 20
Figura 2.7 – Avenida das Torres e Córrego do Barbado
Fonte: Acervo Particular (2011)
A cidade de Cuiabá está inserida em uma região que contém grande diversidade
de rios, ribeirões e córregos formadores da bacia do rio Cuiabá (Figura 2.8), sendo que
muitos deles apresentam um acentuado processo de degradação, podendo até sofrer o
processo de extinção e efemerização, fato este explicado por Castro Junior et al. (2008)
da seguinte forma:
Os volumes de águas lançadas de forma concentrada e
incompatível com a capacidade de suporte dos terrenos,
misturados às águas servidas e de esgoto, atingem
desastradamente os cursos d’água naturais, gerando erosão,
assoreamento, poluição e contaminação. Esses processos vêm
causando a extinção de nascentes e a efemerização de córregos.
38. 21
Figura 2.8- Rede hidrográfica no Perímetro de Cuiabá - MT
Fonte: Adaptado de SEMINFE/SMADES (2007) apud CUIABÁ (2009)
39. 22
2.2.2.1 Esgotamento Sanitário
O projeto de esgotamento sanitário de Cuiabá foi construído com base no projeto
de Saturnino de Brito de1952, tendo uma rede de 625 km e 53.573 ligações. Seu sistema
de coleta é realizado por três sistemas: misto, com coleta de águas pluviais e esgoto em
único sistema separador; sistema separador absoluto, que são dois sistemas de coleta
sendo um para águas pluviais e outro para esgoto e pelo sistema condominial, que
realiza a coleta nos lotes urbanos (LIMA e RONDON LIMA, 2009; CUIABÁ, 2009).
Na localidade do Barbado existem quatro sistemas de tratamento de esgoto, que
se encontram dispostos no Quadro 2.1, sendo: coleta de esgoto e tratamento recebida
pela Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Dom Aquino, que atende a maioria dos
bairros localizados na bacia do Barbado; coleta e tratamento com sistema isolado
atendido por Biodigestor e Lagoas de Estabilização, e apenas a coleta sem tratamento.
Quadro 2.1 – Localidades da Bacia do Barbado atendidas pelo Sistema de Coleta de
Esgoto em Cuiabá
Sistema de Tratamento de Esgoto Bairro / Localidade
Coleta com tratamento de esgoto – Integrado
Convencional – ETE Dom Aquino
Grande Terceiro
Jardim Califórnia
Jardim Leblon
Terra Nova
Morada do Ouro (setor leste)
Jardim das Américas
Jardim Tropical
Jardim Petropólis
Barbado
Jardim Shangri-lá (parte)
Alphaville
Coleta com tratamento de esgoto – Isolado
Convencional - Biodigestor
Campus UFMT
Coleta com tratamento de esgoto – Isolado
Convencional - Lagoas de Estabilização
Morada do Ouro I
Morada do Ouro II
Morada da Serra (CPA II, III e IV)
Somente Coleta de Esgoto – Condominial
isolado sem tratamento
Carumbé
Praeirinho
Pedregal
Canjica
Bela Vista
Praeiro
Somente Coleta de Esgoto – Condominial
isolado com tratamento desativado
Morada da Serra (CPA I)
Fonte: Perfil Sócio Econômico de Cuiabá – Volume IV (2009)
40. 23
2.2.3 Avenida Parque do Barbado
O plano de obras de mobilidade urbana das obras para a copa de 2014 elaborado
pela Secretaria Extraordinária da Copa (Secopa) [Extinta Agência Estadual de Execução
dos Projetos da Copa do Mundo do Pantanal (Agecopa)] estabelece que a via Parque do
Barbado terá o eixo viário estrutural projetado em pista dupla entre as avenidas Juliano
Costa Marques e Fernando Côrrea com aproximadamente 6 km de extensão.
A avenida tem este nome devido ao parque linear (APP do córrego do Barbado)
que será delimitado por ela. Na Figura 2.9 é apresentado o esboço do parque entre
avenida pelo extinto IPDU.
Figura 2.9 – Esboço da Avenida Parque do Barbado
Fonte: Poppi (2011)
A obra da Av. Parque do Barbado envolverá muitas desapropriações de
edificações em áreas nas áreas de APP. Esta tem o objetivo de desafogar o trânsito da
Av. Miguel Sutil e se integrará como uma importante via na cidade.
Até o presente momento foram realizadas duas audiências públicas sobre esta
avenida, sendo que na primeira foi apresentado o estudo preliminar deste projeto, com
ênfase no trecho que irá passar pelo campus da UFMT. Foram apresentadas duas
opções: a primeira ocupará parte da pista de caminhada (bosque) – Figura 2.10,
estruturando a avenida em paralelo ao curso do córrego; a segunda prevê a construção
da avenida sobre o córrego numa faixa de aproximadamente 500 metros. A segunda
opção foi a mais defendida pela comissão da Secopa pelo fato de não destruir a área de
41. 24
vegetação consolidada da pista de caminhada do campus da UFMT, gerando menos
impacto.
Figura 2.10 – Pista de Caminhada e bosque no Campus da UFMT
Fonte: Acervo Particular (2012)
A Figura 2.11 mostra o traçado da avenida no trecho entre a Av. Arquimedes
Pereira Lima e Fernando Côrrea da Costa, com ênfase ao campus da UFMT, que teria a
posição da sua entrada principal alterada, sendo apresentada na primeira audiência
pública realizada no dia 24 de maio de 2011.
Figura 2.11 – Traçado da Av. Parque do Barbado – Campus UFMT
Fonte: Acervo Particular (2011)
42. 25
A obra está divida em dois lotes, sendo o primeiro lote compreendendo uma
extensão de 4 km entre as avenidas das Torres e Fernando Correa da Costa, estimada
no valor de 23 milhões, já o segundo lote com 1.824 m entre as avenidas Juliano Costa
Marques e Jurumirim está orçado em 10,8 milhões.
A obra da Avenida Parque do Barbado ainda não foi iniciada, sendo realizado
um levantamento psicossocial e econômico da região por uma equipe conveniada do
Departamento de Geografia da UFMT, devido à necessidade de realização de
desapropriações para implantação do projeto.
Em conversa com o Arquiteto Ademar Poppi, arquiteto da extinta Agecopa, está
prevista a construção de um coletor de esgoto na margem do córrego, com o objetivo
de bloquear o lançamento de águas contaminadas no leito do Córrego do Barbado.
2.3 A IMPORTÂNCIA DAS ÁREAS VERDES NO ESPAÇO URBANO
A importância das áreas verdes no espaço urbano sempre foi uma questão
bastante estudada no planejamento urbano. A Revolução Industrial acarretou inúmeras
discrepâncias no espaço urbano, causadas não só pelo êxodo rural, mas também pela
falta de organização do ordenamento urbano e do meio ambiente, provocando uma
situação de extrema insalubridade.
A presença de novas situações nas áreas urbanas forçou um
planejamento das funções a serem desenvolvidas pelos espaços livres
nas cidades. A idéia de E. Howard e sua Cidade Jardim (1996) foram
grande influência para o desenvolvimento de novos modelos para os
espaços verdes e jardins. A partir das idéias de Howard e de outros
autores da época, os espaços verdes passaram a ser considerados
como parte do sistema da cidade. Um conjunto de elementos e funções
entrelaçados, não mais visto separado do sistema único: Cidade.
(Buccheri Filho, 2010, p.16).
Logo, a ocupação urbana gera uma substituição das áreas verdes por superfícies
impermeabilizadas que, além de afetar os recursos hídricos com o aumento do
escoamento superficial, afeta, também, a temperatura das áreas urbanas com a formação
de ilhas de calor. Por isso, é importante existir áreas verdes no espaço urbano. Segundo
Callejas et al. (2009), a vegetação é um importante componente regulador da
temperatura urbana, principalmente em locais de clima tropical e subtropical.
43. 26
Áreas arborizadas em grande extensão são responsáveis pela atenuação térmica
de no mínimo 2 a 3ºC e máxima de 6 a 8ºC, se propagando em áreas circundantes em
até 2 km da borda de um parque (HENKE-OLIVEIRA, 2001).
A cobertura vegetal, em especial as matas ciliares, auxilia no controle da erosão
do solo urbano, interceptando as chuvas (e protegendo o solo), reduzindo, assim, sua
velocidade de escoamento. Ela ainda contribui na retenção de sedimentos, evitando o
assoreamento dos cursos de água e realiza a captura do gás carbônico durante o dia e
produção de oxigênio durante a noite.
Segundo Tucci; Clarke (1997), as alterações na cobertura vegetal das bacias
hidrológicas não influenciam apenas o seu comportamento hidrológico, mas também
altera a precipitação e a umidade do solo.
A vegetação é responsável por realizar o processo de evapotranspiração, que é o
retorno de água para a atmosfera e influencia diretamente na quantidade de água
precipitada, que posteriormente é transformada em vazão em uma bacia hidrográfica
(COLLISCHONN; TASSI, 2010).
Os espaços verdes também exercem função de satisfação psicológica e cultural
na maioria dos cidadões. A Carta de Atenas de 1933 estabelece que os elementos sol,
espaço e vegetação são indispensáveis aos seres vivos, de maneiras que as superfícies
verdes não devem ter apenas a função de embelezamento da cidade, mas sim um papel
útil, sendo um prolongamento da habitação.
A importância dessas áreas também se dá no âmbito imobiliário, havendo uma
maior valorização comercial de empreendimentos localizados próximos a parques e
espaços de recreação, e que também possuem ampla área verde em bom estado de
preservação. Como de maneira oposta, em áreas próximas a córregos com sua água e
vegetação degradada, propicia a ocorrência de criminalidade e transmissão de doenças.
Sendo assim, a preservação destas áreas é importante não só para a manutenção
do ecossistema urbano, mas também para o conforto térmico e valorização do espaço
urbano, sendo estas áreas verdes importantes indicadores de qualidade ambiental.
44. 27
2.3.1 Índices de Qualidade Ambiental (IQA)
A emergência da problemática ambiental nos espaços urbanos traz a necessidade
de avaliá-los para propor medidas que busquem a sustentabilidade.
Assim, o uso de indicadores para avaliar a qualidade ambiental tem sido
empregados devido a sua facilidade de adequação a realidade do ambiente estudado,
analisando, em sua maioria, aspectos objetivos, quando desenvolvidos a partir de dados
quantitativos.
Tais índices procuram descrever um determinado aspecto da realidade com
equações matemáticas, a partir de dados (áreas) quantificados. Sendo assim, o estudo
deve se basear em indicadores capazes de produzir o retrato do ambiente estudado, de
maneira a transmitir informações sobre fenômenos observáveis a partir de parâmetros.
Ainda assim, esses indicadores não são precisos e definitivos, pois surgem como
resposta as pressões do sistema socioeconômico e cultural sobre o meio ambiente
(DIAS et al. 2011).
A carência de dados sistematizados dificulta a realização deste tipo de trabalho,
uma vez que os indicadores precisam retratar com clareza a realidade do objeto
avaliado.
Enfim, as informações e parâmetros a serem utilizados para a elaboração dos
Índices de Qualidade Ambiental (IQA) devem ser organizados de acordo com as
características do objeto a ser avaliado, sendo esta uma importante ferramenta para o
planejamento ambiental.
2.4 ESCOAMENTO SUPERFICIAL – HIDROGRAMA UNITÁRIO DO SCS
Denomina-se escoamento superficial a água que escoa por uma determinada área
devido a ocorrência de uma chuva torrencial sobre aquela área.
No estudo dos processos hidrológicos, é possível, a partir da observação dos
processos naturais, analisar a sazonalidade dos processos envolvidos no meio físico
natural, assim como equacionar o escoamento superficial, que nada mais é que o
45. 28
escoamento de água sobre a superfície de uma bacia, até encontrar um ponto de
captação.
Esses processos hidrológicos estão associados à hidrologia urbana, que propende
conhecer a controlar os efeitos da urbanização nos diversos componentes do ciclo
hidrológico. Silveira (1998) afirma que “A visão exclusivamente mecanicista da
circulação das águas e esgotos no espaço urbano não é mais admissível no mundo
moderno que deseja um saneamento com maior respeito pelo meio ambiente”
O hidrograma pertence ao campo da hidrologia urbana, sendo um gráfico que
relaciona a vazão no tempo, que analisa o comportamento da bacia a partir de alguns
valores de tempo (TUCCI, 2007b).
O escoamento superficial direto é causado por uma chuva efetiva unitária (1 mm
ou 1 cm), considerando-se uma precipitação efetiva unitária constante ao longo de sua
duração, distribuindo-se uniformemente por toda a área de drenagem
(COLLISCHONN; TASSI, 2010), sendo representando no hidrograma unitário.
O método do Hidrograma Unitário SCS foi desenvolvido pelo Departamento de
Conservação do Solo - Soil Conservation Service (SCS) – atualmente Natural
Resources Conservation Service (NRCS), baseado em dados observados em diversas
bacias que possuíam registros de vazão e de chuvas para ser utilizado em bacias com
carência, sendo denominado sintético por reunir as características das bacias sintetizadas em
equações (MENEZES FILHO; COSTA, 2007).
46. 29
3. ÁREA DE ESTUDO
3.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS
A bacia do Córrego do Barbado está localizada na latitude S 15º36’04”e
longitude W 56º03’59”. Toda sua extensão encontra-se inserida na área urbana da
cidade de Cuiabá-MT, na porção centro-leste da cidade (Figura 3.1). Esse córrego é uma
das maiores sub-bacias afluentes do rio Cuiabá, constituindo-se, com outras sub-bacias,
a grande bacia hidrográfica do Rio Cuiabá, responsável por abastecer treze municípios
da baixada cuiabana, dentre ele, as cidades de Cuiabá e Várzea-Grande. O Rio Cuiabá é
afluente do Rio Paraguai, que drena o Pantanal Mato-Grossense.
Seu curso inicia-se no Centro Político Administrativo (CPA), onde o divisor de
águas separa as nascentes dos Córregos Ribeirão da Ponte, Moinho, Quarta-Feira e
Barbado. Esta área apresenta pontos degradados devido ao processo iniciado na década
de 1970 com o garimpo e construção do CPA.
Figura 3.1 – Localização da Bacia do Córrego do Barbado
Fonte: Autora (2011)
47. 30
O córrego percorre 21 bairros, porém 25 bairros integram a área de sua bacia
conforme ilustra a Figura 3.3, sendo eles de diferentes padrões de renda e extensões, de
acordo com os dados do IBGE do ano de 2000 e 2007 do Perfil Socioeconômico de
Cuiabá, Tabela 3.1.
O córrego do Canjica, maior afluente do córrego do Barbado, é classificado por
por Castro Junior et al. (2008) como um canal efêmero com esgoto. Sua nascente está
situada no Bairro Bosque da Saúde (próximo à Av. CPA), Figura 3.2. Este conecta-se
ao córrego do Barbado nas proximidades da Av. Gonçalves Antunes de Barros
(Jurumirim).
Figura 3.2 – Córrego do Canjica e Barbado
Fonte: Adaptado do Google Earth (2012)
48. 31
Figura 3.3- Área da Bacia do Córrego do Barbado
Fonte: Adaptado de CUIABÁ (2011)
Na Tabela 3.1, observa-se que os bairros que compõem a área da Bacia do
Barbado têm densidades populacionais que variam entre 5,8 à 139,38 hab/ha e têm em
sua maioria classe de renda media baixa.
49. 32
Tabela 3.1 – Caracteristicas dos bairros da Bacia do Córrego do Barbado
Bairro
Pop.
(hab)
Densidade
Populacional
(hab/ha)
Faixa renda
(S.M.)
Classe Renda
1
CENTRO POLITICO ADMINISTRATIVO
(CPA)
4243 5,8 2,72 BAIXA
2 MORADA DO OURO 5023 21,74 11,69 MÉDIO-ALTA
3 JARDIM ACLIMAÇÃO 1777 24,75 25,84 ALTA
4 TERRA NOVA 2781 107,42 11,87 MÉDIO-ALTA
5 BELA VISTA 4042 139,38 2,81 BAIXA
6 SÃO ROQUE 544 35,74 4,7 MÉDIO- BAIXA
7 DOM BOSCO 1927 27,31 4,54 MÉDIO- BAIXA
8 CANJICA 2301 67,68 4,92 MÉDIO- BAIXA
9 CAMPO VERDE 1976 72,83 3,11 MÉDIO- BAIXA
10 CARUMBÉ 2800 92,93 3,51 MÉDIO- BAIXA
11 BOSQUE DA SAÚDE 4141 62,41 18,21 MÉDIO-ALTA
12 JARDIM ITÁLIA 3946 15,18 13,24 MÉDIO-ALTA
13 PEDREGAL 6572 107,02 3,27 MÉDIO- BAIXA
14 JARDIM LEBLON 3975 55,25 3,5 MÉDIO- BAIXA
15 JARDIM DAS AMÉRICAS 3714 33,55 31,96 ALTA
16 BOA ESPERANÇA 5337 30 21,54 MÉDIO-ALTA
17 PICO DO AMOR 1889 40,56 11,88 MÉDIO-ALTA
18 CAMPO VELHO 2414 89,41 3,94 MÉDIO- BAIXA
19 JARDIM TROPICAL 1539 46,57 18,73 MÉDIO-ALTA
20 JARDIM PETRÓPOLIS 1467 28,21 20,29 MÉDIO-ALTA
21 GRANDE TERCEIRO 4599 52,54 5,34 MÉDIO- BAIXA
22 JARDIM CALIFORNIA 1590 21,77 23,18 ALTA
23 JARDIM SHANGRI-LÁ 1413 22,8 30,67 ALTA
24 PRAEIRO 1323 76,56 3,62 MÉDIO- BAIXA
25 PRAEIRINHO 2121 51,56 2,72 BAIXA
Fonte: Adaptado do Perfil Socioeconômico de Cuiabá Vol. IV, 2010
Entre os anos de 1960 e 1990, a cidade de Cuiabá passou por grandes
transformações decorrentes da expansão urbana, particularizando o Córrego do
Barbado, a construção do Centro Político Administrativo (CPA) em 1970 na porção NE
- região da nascente, e Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) em 1972, na
porção SE – região central da bacia, fomentaram a ocupação urbana em seu entorno
(BORDEST, 2003).
Segundo Bordest (2003), o Barbado tem leitos estreitos e com uma profundidade
média de 1 a 2 metros, seus afluentes em geral são curtos e poucos ramificados e
atualmente sucumbidos chegam a desaparecer. Sua cabeceira possui cota de 225 m e sua
foz cota de 140 m de altitude.
50. A sua ua extensão é de 9.400 m e sua área de drenagem possui aproximadamente
14 km2, com sua nascente (Figura 3.
até sua foz, no Rio Cuiabá (Figura 3.
, 3.4), nas proximidades do Parque Massairo Okamura,
a 3.5).
Figura 3.4 – Nascente do Córrego do Barbado
Fonte: Yano et al. (2010)
Figura 3.5 – Foz oz do Córrego Barbado no Rio Cuiabá
Adaptado do Google Earth (2011)
Um importante fator que deve ser levado em consideração para a analise
ambiental desta bacia, é a ocorrência de dois períodos sazonais na
cidade de Cuiabá
MT, , sendo um chuvoso entre os meses de novembro a março e outro seco nos meses
33
), Cuiabá-
51. 34
seguintes, logo suas formações vegetacionais naturais sofrem um processo de
adaptação, fato este constatado por Castro Junior et al. (2008):
Por isso, as espécies do Cerrado da Baixada Cuiabana são
fortemente aptas à suportarem elevados graus de estresses hídricos,
baixa capacidade edáfica dos solos, sendo de alta rusticidade e alta
resiliência, em função das alterações da própria dinâmica superficial,
do balanço morfogênese/ pedogênese, etc.
Dessa maneira, no período chuvoso os excessos de água no solo e nos cursos de
água podem indicar uma época de maior vulnerabilidade ao desenvolvimento de
processos erosivos bem como da lixiviação de produtos químicos. E também com o
aumento do nível de água no canal e de sua velocidade vazante, a água fica mais turva
devido ao transporte de sedimentos.
O córrego possui um trecho do baixo curso canalizado (Figura 3.6) que se
estende entre as avenidas Fernando Correa da Costa e Beira Rio, tendo suas margens
limitadas pela Avenida Tancredo Neves.
Figura 3.6 – Trecho canalizado Córrego do Barbado – Av. Fernando Corrêa da Costa
Fonte: Acervo Particular (2011)
52. 35
No trecho a cabeceira da bacia, verificam-se pontos de degradação, com a
disposição de resíduos a sua margem e a ocupação irregular do entorno ilustrado na
Figura 3.7.
Figura 3.7 – Trecho não canalizado – cruzamento da Av. Gonçalves Antunes de Barros com a
futura Av. Parque do Barbado
Fonte: Acervo Particular (2011)
3.2 CLIMA
O clima da cidade de Cuiabá-MT, bem como da bacia do Córrego do Barbado é
essencialmente tropical continental, apresentando dois períodos distintos o chuvoso e
seco. No Quadro 3.1 observa-se que os meses outubro a abril apresentam maiores
índices de precipitação, configurando o período chuvoso, já os outros meses apresentam
índices muito inferiores configurando o período de estiagem (seco). A média anual da
temperatura máxima é de 32,8 ºC.
53. 36
Quadro 3.1- Médias mensais das variáveis climatológicas observadas em Cuiabá nos anos de
1970a 2007- dados do 9º Distrito de Meteorologia
Mês
Temperatura do Ar (ºC) Umidade
Média Precipitação (mm)
Relativa
(%)
Compensada
Média das
Máximas
Média das
Mínimas
Jan 27,3 27,1 24,0 81,2 209,1
Fev 26,6 31,9 23,5 84,5 247,6
Mar 27,1 32,9 23,7 80,5 180,6
Abr 25,9 27,1 21,8 74,8 116,2
Mai 23,7 25,7 19,5 76,5 29,9
Jun 23,0 26,5 18,7 70,3 7,3
Jul 22,7 26,3 16,9 66,5 18,9
Ago 25,4 34,2 18,1 56,8 9,6
Set 26,9 34,1 20,9 61,2 51,5
Out 27,9 34,2 23,6 60,5 130,2
Nov 27,4 33,4 23,6 74,0 188,4
Dez 27,5 33,2 24,0 77,5 167,7
Média
Anual
26,0 32,8 21,5 72,7 1.356,9
Fonte: Adaptado do Perfil Socioeconômico de Cuiabá Vol. IV (2010)
3.3 GEOMORFOLOGIA, GEOLOGIA E SOLOS
O relevo da Bacia do Barbado foi modelado sobre rochas metamórficas Pré-
Cambrianas e se encontra na unidade geomorfológica da Depressão Cuiabana, bem
como apresenta topografia levemente inclinada, com baixos espigões. Apresenta,
também, pequenos ‘cluses’ correspondentes às fraturas e diáclases que cortam as
camadas rochosas (BORDEST, 2003).
O solo característico desta bacia é o litólico, sendo um solo muito raso e não
hidromórfico, com textura variável, sendo esta freqüentemente arenosa ou média,
ocorrendo também a textura argilosa e raramente siltosa, sendo heterogênea quanto às
propriedades químicas (IBGE, 2007; EMBRAPA, 2009).
3.4 VEGETAÇÃO
A vegetação característica da Bacia do Córrego do Barbado é a formação de
savana arbórea do tipo campo cerrado, sendo considerada bastante resistente ao fogo
54. 37
(queimadas). Esta também é conhecida como campo cerrado, estando ordenada de
maneira esparça, tendo sua estrutura esgalhada e tortuosa de altura que varia entre 2 a 5
metros. Ela encontra-se dispersa sobre um tapete de gramíneas e ainda intercalada de
plantas arbustivas baixas e outras lenhosas rasteiras (BORDEST 2003; SCHWENK,
2005).
3.5 O CÓRREGO DO BARBADO E O PARQUE ECOLÓGICO MASSAIRO
OKAMURA
A criação da Reserva Ecológica Massairo Okamura foi realizada após a
elaboração do Código Municipal do Meio Ambiente de Cuiabá na década 90 e teve
como objetivo conservar a mata ciliar que protege as cabeceiras do Barbado. Segundo
Guarim e Vilanova (2008), a criação deste parque pode ser considerada como um dos
indicativos da reorientação na política urbana de ocupação do solo com princípios do
desenvolvimento sustentável.
Inicialmente, sua área era de 180 ha, estabelecida na sua criação pelo Decreto lei
nº. 2.681 de 6 de julho de 1989. Porém, devido à inoperância e omissão das instituições
responsáveis pela sua manutenção, áreas juntamente com a política de doação de terras,
esta reserva passou a ter 83 ha, estabelecido pela Lei Estadual nº. 7.313 de 1 de
setembro de 2000. No entanto, tal área não poderia ser utilizada pela comunidade como
espaço de lazer, e o governo federal a transformou de Reserva para Parque Estadual
com 53,75 ha, através da Lei nº. 7.506 de 21 de setembro de 2001 (GUARIM e
VILANOVA, 2008).
A construção do Mini-estádio Municipal da Morada do Ouro em 1998 (Figura
3.8) pela Prefeitura Municipal de Cuiabá dentro do perímetro da Reserva Ecológica,
acarretou dano ambiental na nascente do Córrego do Barbado devido à grande
movimentação de terra no local, que quase assoreou a nascente.
55. 38
Figura 3.8 – Mini-estádio do bairro Morada do Ouro
Fonte: Adaptado Google Earth (2011)
O desinteresse político e ambiental na área do parque, ao longo do
crescimento urbano da cidade, colaborou para a degradação ambiental da área e
nascentes do Córrego do Barbado.
56. 39
4. MÉTODO DE PESQUISA
4.1 ÍNDICES DE QUALIDADE AMBIENTAL (IQA)
As superfícies impermeáveis têm sido empregadas como indicadoras do grau de
urbanização, processo este que impacta diretamente nos sistemas de drenagem,
dinâmica das bacias hidrográficas e qualidade da água. Desse modo, elaboram-se
Indicadores de Qualidade Ambiental (IQA), a partir da quantificação do verde urbano,
sendo utilizados como instrumentos e parâmetros de avaliação da qualidade ambiental
em áreas urbanas (BUCCHERI FILHO e NUCCI, 2006).
Para a elaboração dos indicadores, foi realizada a análise de imagem de satélite,
que é uma ferramenta muito utilizada para o reconhecimento e planejamento do espaço
urbano, em variados segmentos, tais como vegetação, cursos de água, uso do solo, entre
outros (HENKE-OLIVEIRA, 2001; SOUSA, 2008).
Não existe uma norma para a elaboração dos IQA, esses são baseados em
procedimentos metodológicos desenvolvidos em estudos realizados (SOUSA, 2008;
BUCCHERI FILHO, 2010; DIAS, 2011).
Para esta pesquisa, foi adotada a metodologia utilizada por Sousa (2008), com a
quantificação de áreas verdes e permeáveis para o cálculo dos índices, a partir da
interpretação de imagens, estando discriminados no Quadro 4.1.
Os indicadores dependentes de demografia foram chamados de ‘Índices’ e os
independentes de demografia de ‘Percentual’ (HENKE-OLIVEIRA, 2001). Os IQA
calculados para a Bacia do Córrego do Barbado encontram-se descritos no Quadro 4.1.
O Índice de Área Verde (IAV) é determinado com base nos parâmetros Áreas
Verdes Públicas (AVP) e Áreas Verdes Particulares (não ocupadas) (AVPA), por isso
são adotadas as nomenclaturas IAV¹ e IAV² respectivamente.
O IAV¹ é obtido com o cálculo das áreas verdes apenas em espaços públicos, de
acesso livre e uso comum, espelhos de água e lagos, como estabelecido por muitos
autores para a elaboração dos IQA. E o IAV² utiliza áreas verdes, espelhos de água e
lagos em espaços públicos e particulares, ou seja, esse é a somatória do IAV¹ com as
áreas verdes particulares.
57. 40
O IAV² é um parâmetro hipotético para uma situação futura de transformação
dos lotes particulares em áreas verdes por meio de desapropriação, visando avaliar a
contribuição dessas áreas no valor dos IQA.
Quadro 4.1 – Índices de Qualidade Ambiental que foram calculados para a Bacia do Córrego do
Barbado
Índices Descrição
IAV¹
Índice Área Verde em função do tamanho da
população
Relação entre superfície total das
áreas verdes públicas (m²) /
população (hab)
IAV²
Índice Área Verde em função do tamanho da
população
Relação entre superfície total das
áreas verdes públicas e particulares
(m²) / população (hab)
PAV Percentual de Áreas Verdes
Relação entre superfície total de
áreas verdes (m²) / Superfície total
bacia (m²)
IEL Índice de Espaços Livres Públicos
Superfície total espaços livres
públicos (m²) / População (hab)
PEL Percentual de Espaços Livres Públicos
Superfície total espaços livres
públicos (m²) / Superfície total da
bacia (m²)
A análise quantitativa da vegetação urbana é realizada com base nos indicadores
calculados para verificação da situação das áreas verdes e permeáveis da bacia, servindo
de instrumento para trabalhos futuros que busquem a projeção de soluções tecnológicas
para o melhoramento da qualidade urbana.
4.1.1. Levantamento das áreas verdes em espaços públicos e particulares, APP, e
espaços livres públicos na Bacia do Córrego do Barbado
Para o levantamento das áreas verdes em espaços públicos, particulares, APP, e
espaços livres públicos na Bacia do Barbado foi empregada a técnica de interpretação
de imagem e fotografia aérea (fotointerpretação). As imagens utilizadas (SPOT e
fotografia aérea ambas do ano de 2009) foram cedidas pela Secretaria de Estado do
Meio Ambiente de Mato Grosso (SEMA).e prefeitura de Cuiabá respectivamente. As
imagens foram projetadas e georreferenciada no programa ARCGIS versão 9.3. Para
dar suporte a análise da imagem, foi realizado o reconhecimento da área de estudo
através de visitas de campo, manipulação de mapas digitais no programa AutoCAD e
também a utilização das imagens do programa Google Earth (versão cliente), que
58. 41
possuem alta resolução espacial (superior à resolução da imagem SPOT), para
visualização e conferência de informações para interpretação das imagens.
A delimitação da área da bacia para este estudo foi obtida com base no trabalho
de Yano et al. (2010) e também utilizada como máscara de recorte da imagem, sendo
essa obtida com os mosaicos montados.
Os critérios para interpretação e classificação da imagem, com a quantificação
das áreas permeáveis e impermeáveis da bacia, bem como as áreas verdes, espaços
livres públicos e APP, foram:
a) Áreas Permeáveis: sendo lotes particulares ou públicos, sem construção ou qualquer
tipo de impermeabilização, com área superior a 50 m², sendo ela subdividida em:
• Áreas Verdes Públicas: praças, jardins, cemitérios, parques, bosques públicos
com cobertura vegetal predominante, incluindo áreas gramadas e copas de
árvores, e que propicie bem-estar à comunidade. Sendo áreas que apresentem no
máximo 30% de impermeabilização;
• Áreas Verdes Particulares: lotes sem nenhuma construção e com área superior a
aproximadamente 50 m², restritas ao uso do seu proprietário, sem nenhuma área
construída, estando coberta por vegetação predominante, incluindo áreas
gramadas e copas de árvores. Exemplo: lotes residenciais e comerciais.
• APP: Faixa de vegetação existente ao longo do curso de água, estabelecida pela
Lei nº. 4.771, de 15 de setembro de 1965 (Código Florestal), que estabelece, em
seu artigo 2º a distância de 30 metros de afastamento para cursos de água com
até 10 m de largura, que é o caso do Córrego do Barbado;
• Espaços Livres Públicos: são destinados a pedestres, podendo ser espaços
públicos (praças, parques e outros) e também de uso coletivo, como escolas e
universidades que abram suas portas para o lazer e recreação nos fins de semana
(BUCCHERI FILHO, 2010).
b) Áreas Impermeáveis: Foi considerado todo o restante da área de estudo,
descontando-se a área total da bacia pela área total permeável.Os princípios utilizados
para a classificação das áreas verdes e áreas públicas livres a partir da fotointerpretação
(classificação das cores da imagem), segundo Henke-Oliveira (2001), são apresentados
no Quadro 4.2.
59. 42
Quadro 4.2 - Princípios utilizados na foto-interpretação e exemplos aplicados
Princípios de Foto-Interpretação Exemplos de Aplicação
Cor/Tonalidade
Vegetação cor verde; Piscinas e espelhos d’água cor azul; Asfalto
cor cinza escuro.
Forma Árvores possuem forma redonda (globosa); Muros forma linear.
Tamanho Definição do tamanho dos objetos a partir de imagem em escala.
Pátios com grande número de veículos representam áreas de
Associação
estacionamento ou manutenção de veículos.
Textura
Áreas gramadas e passagens diferem em textura daquelas
ocupadas por vegetação arbórea e/ou arbustiva, com textura
tipicamente rugosa.
Padrão
Padrões de distribuição homogênea das árvores devem estar
associados com a presença de pomares comerciais ou arborização
de rua. Vegetação de áreas verdes públicas e particulares tem
padrão de distribuição agregada ou irregular.
Profundidade / Altura
O uso de estereoscópio permite perceber diferença na altura e
profundidade dos elementos.
Sombra
Superfícies com calçadas não apresentam sombra própria ou
projetada, diferindo de objetos tridimensionais, como árvores,
muros e casas.
Fonte: Henke-Oliveira (2001)
Desse modo, o levantamento dos índices permite avaliar a qualidade ambiental
da área bacia, através do parâmetro cobertura vegetal. Esses indicadores também
servirão de subsídios para trabalhos futuros que envolvam o planejamento urbano da
Bacia do Córrego do Barbado.
4.2 DIAGNÓSTICO AMBIENTAL
O diagnóstico ambiental visa a interpretar a situação ambiental de uma
determinada área para se buscar o conhecimento de seus componentes ambientais.
Sendo esta uma importante ferramenta que oferece subsídios para o planejamento e
gestão ambiental (GOMÉZ et al. , 2009; SOUSA, 2008)
Logo, para a realização do diagnostico ambiental na Bacia do Córrego do
Barbado foram observados os seguintes fatores de degradação: erosão, esgoto,
instabilidade das encostas, resíduos sólidos, presença de animais e vegetação, expostos
na Tabela 4.1.
60. 43
Tabela 4.1- Fatores de degradação Bacia do Barbado
Fator de
Degradação
Baixo Médio Grave
Esgoto
Sem suspeita de
aporte
Com suspeita de
aporte
Comprovado
Instabilidade das
encostas
Sem visualização,
vegetação arbórea por
toda área
Verificando, pontos
sem vegetação
arbórea
Toda a área sem
vegetação arbórea
Erosão Somente sulcos
Ravinas e poucas
voçorocas
Grande número de
voçorocas, até no
maciço arbóreo
Resíduos Sólidos Ausência Pequena quantidade Grande quantidade
Presença de animais Ausência Pequena quantidade Grande quantidade
Vegetação
Vegetação
característica em toda
a faixa de APP
Vegetação
característica na
maioria da faixa de
APP
Vegetação não -
característica na
maioria da faixa de
APP
Fonte: Adaptado de SOUSA (2008)
O diagnóstico fotográfico é dividido por partes, a fim de permitir uma análise
mais detalhada das transformações sofridas pela bacia, conforme metodologia utilizada
por Bordest (2003): cabeceiras, alto curso, médio curso, baixo curso e foz.
61. 44
4.3 SIMULAÇÕES HIDROLÓGICAS
No estudo dos processos hidrológicos é possível, a partir da observação dos
processos naturais, analisar a sazonalidade dos processos envolvidos no meio físico
natural, bem como equacionar o escoamento superficial, que nada mais é do que a água
que escoa sobre a superfície de uma bacia até encontrar um ponto de captação.
A bacia hidrográfica é uma área de captação natural da água da precipitação,
compondo-se basicamente de um conjunto de superfícies vertentes e de uma rede de
drenagem formada por cursos de água que se destinam até o seu exutório (SILVEIRA,
2007).
Os modelos matemáticos empregados para a simulação do escoamento
superficial da Bacia do Córrego do Barbado é apresentando no fluxograma da Figura
4.1. Tendo como ponto de partida a determinação do Coeficiente de Escoamento
Superficial (CN) e os Hidrogramas Unitários Triangular e Curvilíneo – SCS e,
posteriormente através do cálculo da Precipitação Efetiva e convulução de seus dados,
determina-se o Hidrograma de Projeto considerando os Tempos de Retorno de 5, 10 e
20 anos.
Figura 4.1- Procedimentos matemáticos para simulação do Escoamento Superficial
Fonte: Autora (2012)
62. 45
4.3.1 Determinação de Coeficiente de Escoamento Superficial (CN)
A curva número (CN) é um coeficiente de escoamento superficial, sendo obtido
a partir da combinação empírica de pelo menos três fatores: grupo de solo, cobertura e
condições de umidade antecedente do solo (McCuen, 1998 apud Tomaz, 2002).
Em relação ao grupo de solos, este foi classificado em quatro grupos pelo o SCS,
Quadro 4.3. O teor de argila influencia na capacidade de infiltração do solo, sendo este
fator predominante nos grupos de solos.
Quadro 4.3 – Grupos de solos e características do solo
Grupo
de solos
Características do solo
A
solos arenosos com baixo teor de argila total, inferior a 8%, não havendo rocha
nem camadas argilosas e nem mesmo densificadas até a profundidade de 1,5m.
O teor de húmus é muito baixo, não atingindo 1% (Porto, 1979 e 1995).
Solos que produzem baixo escoamento superficial e alta infiltração. Solos
arenoso profundos com pouco silte e argila (Tucci et al., 1993).
B
solos arenosos menos profundos que os do Grupo A e com menor teor de argila
total, porém ainda inferior a 15%. No caso de terras roxas, esse limite pode
subir a 20% graças à maior porosidade. Os dois teores de húmus podem subir,
respectivamente, a 1,2 e 1,5%. Não pode haver pedras e nem camadas argilosas
até 1,5m, mas é, quase sempre, presente camada mais densificada que a camada
superficial (Porto, 1979 e 1995).
Solos menos permeáveis do que o anterior, solos arenosos menos profundo do
que o tipo A e com permeabilidade superior à média (Tucci et al., 1993).
C
solos barrentos com teor total de argila de 20% a 30%, mas sem camadas
argilosas impermeáveis ou contendo pedras até profundidade de 1,2m. No caso
de terras roxas, esses dois limites máximos podem ser de 40% e 1,5m. Nota-se
a cerca de 60cm de profundidade, camada mais densificada que no Grupo B,
mas ainda longe das condições de impermeabilidade (Porto, 1979 e 1995).
Solos que geram escoamento superficial acima da média e com capacidade de
infiltração abaixo da média, contendo percentagem considerável de argila e
pouco profundo (Tucci et al., 1993).
D
solos argilosos (30% a 40% de argila total) e ainda com camada densificada a
uns 50cm de profundidade. Ou solos arenosos como do grupo B, mas com
camada argilosa quase impermeável ou horizonte de seixos rolados (Porto,
1979 e 1995).
Solos contendo argilas expansivas e pouco profundos com muito baixa
capacidade de infiltração,gerando a maior proporção de escoamento superficial
(Tucci et al., 1993).
Fonte: Retirado de Tomaz (2002)
Posterior a esta classificação do grupo de solo, foi realizada a estimativa do CN
a partir da caracterização do uso e ocupação do solo da área da bacia, com base nas
categorias estabelecidas no Quadro 4.4 para bacias urbanas e suburbanas.
63. 46
Quadro 4.4 - Valores de CN para bacias urbanas e suburbanas
Utilização do solo
Grupos de solo
A B C D
Zonas cultivadas: sem conservação do solo 72 81 88 91
com conservação do solo 62 71 78 81
Pastagens ou terrenos em más condições 68 79 86 89
Baldios em boas condições 39 61 74 80
Prado em boas condições 30 58 71 78
Bosques ou zonas com cobertura ruim 45 66 77 83
Florestas: cobertura boa 25 55 70 77
Espaços abertos, relvados, parques, campos de golfe, cemitérios, boas
condições
Com relva em mais de 75% da área 39 61 74 80
Com relva de 50% a 75% da área 49 69 79 84
Zonas comerciais e de escritórios 89 92 94 95
Zonas industriais 81 88 91 93
Zonas residenciais
Lotes de (m2) % média impermeável
500 65 77 85 90 92
1000 38 61 75 83 87
1300 30 57 72 81 86
2000 25 54 70 80 85
4000 20 51 68 79 84
Parques de estacionamentos, telhados, viadutos, etc. 98 98 98 98
Arruamentos e estradas
Asfaltadas e com drenagem de águas pluviais 98 98 98 98
Paralelepípedos 76 85 89 91
Terra 72 82 87 89
Fonte: Tomaz (2002)
Assim, o CN obtido na classificação de uso e ocupação do solo, fornecido pelo
Quadro 4.4, deve ser corrigido de acordo com a umidade do solo, conforme estabelecido
64. 47
nos Quadros 4.5 e 4.6, sendo esse outro fator que influencia diretamente sua capacidade
de infiltração.
Quadro 4.5 - Condições de umidade antecedente do solo
Condições do
solo
Situação do solo
I Solo seco.
II
Condições médias do solo. É a condição normal das tabelas do
número CN.
III
Solo úmido. Ocorreram precipitações nos últimos cinco dias. O solo está
saturado.
Fonte: Tomaz (2002)
Quadro 4.6 - Ajustamento do CN da condição normal II para o solo seco (I) e úmido (III)
Condição normal II
do número CN
CN adequado para a devida condição
Condição I
Condição III
(solo seco)
(solo úmido)
100 10 100
95 87 99
90 78 98
85 70 97
80 63 94
75 57 91
70 51 87
65 45 83
60 40 79
55 35 75
50 31 70
45 27 65
40 23 60
35 19 55
30 15 50
25 12 45
20 9 39
15 7 33
10 4 26
5 2 17
0 0 0
Fonte: Tomaz (2002)
A cidade de Cuiabá apresenta duas estações no ano muito distintas, sendo os
meses de novembro a março os que concentram a maior parte das chuvas acumuladas
durante o ano todo, deixando o solo úmido. E os demais meses que não apresentam a
65. 48
mesma regularidade de chuvas, o solo se encontra praticamente seco. Desse modo
optou-se por calcular o CN em duas categorias de solo, sendo ele seco (I) e úmido (III).
O coeficiente CN é simulado em quatro cenários, para os dois tipos de solos
considerados (seco e úmido) a fim de realizar uma comparação e verificação da eficácia
das áreas verdes e permeáveis da bacia, sendo eles descritos a seguir:
• Cenário 1: Situação atual do uso do solo.
• Cenário 2: Situação futura, considerando apenas os lotes residenciais como área
permeável.
• Cenário 3: Situação futura, considerando apenas área da APP (área de
preservação permanente) como permeável.
• Cenário 4: Situação futura, considerando toda a área da bacia impermeável.
Observa-se que o Cenário 4 é uma situação irreal, pois a legislação não permite a
impermeabilização das APP. Ele servirá de parâmetro para avaliar a eficiência de
amortecimento das áreas de APP, desse modo os Cenários 3 e 4 serão comparados entre
si.
Devido à existência de áreas permeáveis e impermeáveis, há a necessidade de se
estimar um CN composto, considerando a fração de área impermeável, obtido pela
equação 1:
CNw = CNp.(1− f ) + f .CNi (1)
Sendo CNw = número CN composto da área urbana em estudo, CNp = número
CN da área permeável da bacia em estudo, f = relação entre a área impermeável e a área
total da bacia, CNi = coeficiente obtido para a área impermeável.
Além disso, faz-se necessário calcular o parâmetro que representa o potencial
máximo de retenção do terreno (S) dado em mm após o início do escoamento
superficial, obtido pela equação 2:
254
25400
= −
CN
S
(2)
66. 49
De posse destes dados, calcula-se o escoamento superficial pela equação 3:
( −
0,2. )
2
P S
P +
S
=
Pef 0,8.
(3)
Sendo: Pef: Chuva excedente (mm), P: precipitação (mm) e S: potencial máximo
de retenção após começar o runoff (mm).
4.3.2 Hidrograma Unitário Triangular do SCS
Nesse trabalho, foi utilizado o Método do Hidrograma Unitário proposto pelo
Departamento dos Estados Unidos Soil Conservation Service (SCS) - atualmente
Natural Resources Conservation Service (NRCS), pois é um procedimento bastante
aceito para estimar vazões de projeto em bacias com áreas superiores a 3km² e 250 km²
(TOMAZ, 2008), também sendo considerado um procedimento mais sofisticado do que
o Método Racional.
O método SCS foi desenvolvido a partir de um estudo com um grande número
de bacias, sendo determinado pela vazão de pico p q , tempo de pico tp e tempo de base
Tb , com formato triangular, conforme Figura 4.2.
Figura 4.2 – Hidrograma Unitário Sintético Triangular
67. 50
Fonte: Adaptado de FENDRICH (2008)
A vazão de pico p q do hidrograma unitário triangular é estimada pela equação 4,
sendo A a área da bacia em km² e p t o tempo de retardamento da bacia medido em
horas.
p
p t
A
q
2,08.
=
(4)
O tempo de pico p t é obtido pela equação 5, sendo r t a duração da precipitação
em horas, e o c t o tempo de concentração.
= + (5)
c
t r
0,6
t
p t
2
A duração da precipitação r t é obtida pela equação 6.
1
≤ (6)
r c t t
5
O tempo de concentração em minutos c t é definido por Fendrich (2008) como o
tempo gasto pela gota a chuva para se deslocar do ponto mais afastado da bacia até seu
exutório, sendo obtido pela equação 7 de Kirpich, de maneira que L é o comprimento do
curso d’água principal em km; e ΔH a diferença de altitudes em metros entre os pontos
extremos da montante e da jusante.
3 0,385
L
57
t=
(7)
c H
68. 51
O Hidrograma Unitário Curvilíneo (HUC) apresenta muitos aspectos
semelhantes ao Triangular, porém, devido à sua forma suavizada, torna-se mais realista.
Suas ordenadas são obtidas pela estimativa de vazão (Q) para cada tempo relacionado.
4.3.3 Cálculo da Chuva Efetiva
Para o cálculo da chuva efetiva foi utilizada a equação IDF (equação 8), que foi
adaptada para a cidade de Cuiabá por Silveira (2006), exposta na equação 9.
i
K.T
69.
70. (8)
Sendo: i intensidade de precipitação máxima média (mm/h), t: tempo de duração da
chuva (min), Tr: tempo de recorrência (anos) e K, t, m, n: parâmetros a determinar
para a estação pluviográfica.
i
,.T,
71. ,, (9)
A chuva efetiva é calculada para os quatro cenários propostos no item 4.3.1.,
utilizando os CN obtidos com o mapeamento do uso e ocupação do solo na área da
bacia.
4.3.4 Tempo de Recorrência (Tr)
Tendo em vista que o Tempo de Recorrência (Tr) se trata do risco hidrológico
aceitável para uma comunidade, estando diretamente relacionado ao contexto
socioeconômico, pois envolve custos e decisões políticas (representantes da sociedade).
Quanto maior for o tempo de recorrência, maiores serão as estruturas hidráulicas, o que
consequentemente exercerá maior impacto no meio ambiente, devido à realização de
obras de engenharia, obtenção de espaço físico disponível para implantação destas
estruturas entre outros aspectos.
72. 52
O Tr é definido como o período médio em que um determinado evento deve ser
igualado pelo menos uma vez (Pinto et al. 1976 apud Fendrich, 2008).
Para a realização deste trabalho foram adotados os Tr de 5, 10 e 20 anos para
cálculo dos hidrogramas curvilíneos, por serem os mais utilizados em projetos,
possibilitando uma melhor comparação da eficiência dos Tr em relação à vazão
calculada.