Dança Circulação Política Pública Brasil 1997-2007
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Dança, cidade-território e circulação
como política pública – 1997 a 2007
Alexandre Batista Reis, diretor da Contemplo Cia de Dança (PRONAC 070179) e
doutorando em Ciencias de la Actividad Física e Deportes da Universidad Autónoma de
MADRID/Espanha
Bahia, janeiro de 2007
Resumo: Este texto apresenta uma
crítica ao edital Funarte de
investimentos em caravanas de
circulação regional no Brasil, durante
o decênio 1997 a 2007.
Palavras-chave: Caravana Funarte de
Circulação Regional, Funarte, Política
Pública, Dança, Difusão Cultural e
Diversidade.
Abstract: This text presents a critique
of the Funarte public notice for
investments in caravans of regional
circulation in Brazil, during the
decade from 1997 to 2007.
Keywords: Regional Circulation
Funarte Caravan, Funarte, Public
Policy, Dance, Cultural Diffusion and
Diversity.
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O corpo dançante ou corpo circulante do Brasil solicita
uma resposta sobre caravanas inexistentes. Este corpo
exige um parecer sobre as condições de movimentar-se em
cada cidade ou região do país. Ele quer desvendar e
investigar a sua diversidade cultural na produção
dancística, bem como na diversidade regional por meio da
dança artística brasileira.
A Funarte (Fundação Nacional de Artes) demonstra
ausência de um projeto esclarecedor, simplificado e que por
mais de dez anos não implementa a mobilidade que a arte
da dança emana. A Funarte não potencializou a circulação
de dança no país, excluindo os artistas da dança de sua
integração completa. As injustiças e as incompetências
deste órgão federal são várias e históricas.
Essa questão de avaliação da competência fundamenta-se
em duas realidades: a primeira se refere ao fato de que a
Funarte, desde que começou a premiar os artistas da
dança em 1994 com o Prêmio Mambembe, não estimulou a sua
continuidade e sustentabilidade. Quando muito ela realizava eventos que
fossem capazes de iludir o público com pontuais apresentações. Seria
essa apenas mais uma desculpa de gestão e orçamento?
A segunda é a comprovada ausência de circulação de grupos de dança
no Brasil. Em outros países esta é uma prerrogativa cultural que interage
com o sistema geopolítico dos seus diferentes “environments” e
esclarece a difusão do “empowerment” de suas culturas. Dentre eles a
França tem uma política exemplar com a criação de seus centros
coreográficos em todos os seus departamentos (estados).
A Funarte não esclareceu a que veio até hoje no Brasil. Um país que
dança muito e que ainda não alcança projeção suficientemente capaz de
transcender as suas meras e simples questões morfológicas de sua
condição geopolítica.
O sucesso de uma política pública para a superação das desigualdades
sociais, sobretudo das desigualdades nas nossas metrópoles, só será
possível quando a ação cultural abrigar uma política social que incorpore
a diversidade do fazer cultural em dança nos espaços populares. De
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modo que a sociedade tenha conhecimento dela, independentemente de
onde ela aconteça no território nacional.
Além dos espaços é preciso também diversificar o conceito de cultura
estabelecido e sustentado por redes comunicacionais que deram
privilégios para inúmeros artistas estabelecidos desde os anos da
repressão (anos 60 e 70).
Outro problema é ainda a hegemonia dos veículos comunicacionais, tais
como: programas de TV, periódicos e revistas especializadas que não
deram oportunidade ao desenvolvimento das pequenas estéticas em
pequenas comunidades dançantes nos últimos anos.
Não podemos mais nos conceber cidadãos plenos quando vivemos
divididos entre lugares de supremacia cultural e lugares subalternizados.
Isso ainda acontece aqui e muitos filósofos e semiólogos insistem que a
comunicação é um processo dialógico, pois os indivíduos procuram o
entendimento e fazem uso da razão comunicativa.
Portanto, os indivíduos que não trazem um legado cultural hegemônico
ou então representam uma contracorrente à indústria cultural não
possuem significado ou significante para a cultura. Por este motivo é
preciso construir e perceber um plano de ação cotidiano e suas
implicações éticas e estéticas no âmbito de suas contracorrentes para
ser inovador nesta mesma indústria cultural.
Cada grupo social é portador de signos de referência e códigos sociais
inseridos em determinados territórios. É claro que o Ministério da Cultura
tem insistido alcançar outras regiões e paradigmas culturais. Mas as
informações que chegam dessas regiões são precárias e, quando elas
surgem, aos nossos sentidos podem estimular a nossa destinação
identitária e a compreensão das diferenças, no caso do Brasil o paralelo
é transcontinental.
Podemos dizer que a cidade- território é um espaço/tempo demarcado
por intencionalidades humanas. Cujas identidades possuem fluxos de
correspondência e de intensidades plurais, principalmente no tocante a
afirmação individual e de grupos na sociedade urbana.
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As artimanhas do progresso social também costumam projetar pessoas e
instituições nem sempre muito bem preparadas para a circulação das
idéias e ações. A questão da difusão depende dessas interfaces e
desses recursos tecnológicos, muitas vezes oportunistas e repetitivos.
Recursos que ainda não percorrem todas as cidades e territórios
brasileiros indistintamente. Muitas vezes isso não favorece o
desenvolvimento completo e imediato do país, fragmentando-o numa
condição irrelevante e ainda muito dependente de itens que não
aproximam as diferenças de sua cultura.
O intercâmbio de bens culturais e, em especial à dança, depende de uma
equilibrada capacidade de governança da cultura nas regiões brasileiras.
A cultura é sempre diversa, dinâmica e plural. Multiplicam-se pelas
cidades os signos impressos nas falas, nos gestos, nas roupas, na
música e na dança. Eles reportam as moradas dos grupos sociais e,
conseqüentemente, a condição de cada um na sociedade.
Mas estes significados não costumam ser bem apreciados por todos os
brasileiros, pois existe ainda uma incapacidade gestora dos organismos
de difusão cultural. Neste caso, está a Funarte que desde 1997 não
soluciona a inclusão dos signos da dança na atualidade do fazer cultural.
Além disso, esta reconhecida Fundação viabiliza o geral, o difuso e o
global em detrimento ao específico, ao concentrado e o comunitário. Isso
tem significado, em larga medida, posições de privilégio ou não na escala
de valores e práticas hegemônicas no espaço metropolitano de difusão
de grupos e eventos. Resultando num processo de distinção de territórios
que, por sua vez, reduzem e/ou confinam as possibilidades de trocas
simbólicas e culturais.
Romper com essa redução sociocultural da dança nos territórios da
cidade significa o reconhecimento da legitimidade da presença do Outro,
da sua atividade criativa e do direito de manifestar as leituras do seu
mundo.
Estas ações ainda não foram cumpridas pela Funarte que, muito embora,
esforça-se desde 1997 para ampliar a legitimidade do fazer e do apreciar
cultural, visando uma democrática via de acesso aos bens culturais, não
integrou o país em termos artísticos.
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A Funarte não reuniu os artistas e seus fazeres em todas as suas regiões
e não criou estas “esferas de difusão” e “rotas de circulação” tão
propagadas apesar de todo o avanço tecnológico e comunicacional que
temos neste século.
Esta ação tardará, provavelmente, alguns anos ainda para ser resolvida.
A não ser que, neste momento, se inicie uma nova formatação entre o
fazer cultural e entre o acessível e o disponível ao público. De longe,
estamos ainda em processo de sistematização com a circulação dos
bens culturais no Brasil.
E afirmo que, infelizmente, a atual gestão governamental não dará conta
de solucionar este problema em correspondência ao que aponto. Em
função do ritmo de trabalho em que se encontra e, seja também, pela
ausência de mão de obra especializada nesta fundação para tanto.
Valorizar e respeitar a diversidade de manifestações culturais e artísticas
dos moradores dos espaços populares é um ato primordial de construção
de uma sociabilidade urbana renovada. Para que o sujeito e seu corpo
que dança se destaquem na construção de múltiplas identidades sociais
e, também, para que estas representem a diversidade é preciso que este
corpo seja capaz de circular veementemente.
Vislumbra-se, como efeito, a ampliação da circularidade de imaginários,
de obras, de bens e práticas culturais na cidade sob o primado da
comunicação entre próximos e distantes. Afinal, a cultura se torna mais
rica quando expandimos as nossas trocas de imaginários, de saberes, de
fazeres e convivências.
A preocupação do artista geralmente é com o vazio. Ela se pontua na
organização do plano vazio, seja na tela ou no palco. A busca e a
conquista de espaço são excelentes justificativas para a criação imediata
de programas de circulação permanentes e sustentáveis para a dança
brasileira em várias cidades.
Essa proposta nos remete a superação das desigualdades sociais, que
não dizem somente respeito aos aspectos econômicos: distribuição de
renda, desemprego, consumo. Elas estão expressas em outras
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condições de existência social na escolarização, na habitação, na saúde
e no acesso aos bens e equipamentos culturais.
Observemos o exemplo da cidade do Rio de Janeiro em que a
distribuição espacial de equipamentos e bens culturais é um forte retrato
das desigualdades sociais. Há uma forte concentração de teatros,
cinemas e espaços culturais no Centro e nos bairros da Zona Sul.
Entretanto, nas grandes favelas cariocas – Maré, Alemão, Rocinha – não
encontramos nenhum investimento público de porte no âmbito da arte e
da cultura.
Estudos do IBGEi
apontaram que 42,1% dos municípios brasileiros não
têm uma política cultural formulada, o que significa dizer que a cultura
ainda não está incluída na agenda de suas políticas públicas.
Testemunhos de artistas de várias partes do país apontam que os
equipamentos culturais mantidos pelo governo federal não têm
respondido às expectativas de sua aplicação. A demanda de recursos
culturais para as regiões ainda não é capaz de atendê-los
essencialmente em sua manutenção. Muitos ainda estão abandonados
ou não foram incluídos numa perspectiva produtiva.
O papel que a Funarte deveria representar seria o de estimular e
promulgar essa transformação com mais desembolso e sustentabilidade
para projetar a dança no país, isso exige uma busca por intercâmbio dos
bens culturais e artísticos agora em distintas regiões e cada vez mais
intensivamente.
Isso deve acontecer desde que a Funarte respeite as possibilidades de
difusão equilibrada e o caráter emanante da semiótica como parâmetro
da difusão cultural e de circulação de dança.
Voltemos ao tema da inflexão territorial das políticas públicas, pois é
impossível conceber e aceitar a concentração desmedida na distribuição
de bens e equipamentos culturais, especialmente os criados pelo poder
público em espaços privilegiados.
A resignificação dos espaços urbanos e sociais depende deste
investimento agora. A circulação de dança pelas cidades e territórios
exige uma ocupação diversa favorecendo a busca de novos significados
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dos espaços culturais. Mesmo assim, essa transformação é mais lenta
do que imaginamos, pois estamos falando de anos a fio de ausência dos
recursos destinados à difusão cultural da dança no Brasil. E, quando isso
aconteceu, privilegiou situações, entidades e organizações ainda hoje
sujeitas a severas críticas de sua moral e de seus projetos.
As favelas e as periferias reúnem um conjunto de comunidades que não
podem permanecer sem espaços culturais como cinemas, teatros e
casas de cultura. Se existirem estes equipamentos hoje, porque se fala
tão pouco deles? Portanto, aqui é solicitado um parecer de sua
existência e de seu projeto de ação estratégica.
Por outro lado, jovens artistas destas comunidades não alcançam o
resultado de suas realizações e corre-se o risco do esquecimento dos
princípios cooperativos em detrimento aos competitivos que o mercado
cultural insistentemente apresenta nos dias de hoje para a juventude de
modo geral. Os jovens não conseguem ainda emergir de suas ações
artísticas significantes na dança, por exemplo.
A tomada de decisões e a ética são imprescindíveis para que as ações
da Funarte sejam reconhecidas no âmbito da circulação dos espetáculos.
E também, por este motivo, considero importante valorizar os artistas que
não sabem repensar o seu fazer, em lugar de valorizar outros que há
muitos anos se aproveitam da conferida hegemonia dos veículos
comunicacionais em prol de sua memória e de seus arquétipos
imagético-sensoriais consolidados no coletivo.
Observando que o fazer dança não significa apenas a obra em si, tal
como produto de uma sociedade demasiadamente lucrativa, mas
significa o encontro e a articulação dos espaços e tempos do fazer
artístico que propõe a circulação vindoura do resultado em si, ou seja, a
obra coreográfica.
Desde 1997 a Funarte não tem investido perante a difusão que a dança
precisava. Mesmo o Prêmio Mambembe só começa a premiar os artistas
da dança em 1994, dezessete anos depois de sua criação. Investimentos
em premiações e em caravanas de circulação não podem apresentar-se
como programas pontuais. E, esta imobilidade, fez da Funarte um órgão
desacreditado no que ela prometeu e não cumpriu desde muitos anos
atrás.
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É do conhecimento de todos que a cultura desempenha um valor
importante na transformação do ser humano. Investimentos em
programas culturais seriam de extrema importância em termos
educacionais, artísticos e, inclusive no tocante à segurança pública, pois
podem significar transformações nas condições de existência não só nas
favelas e periferias, como também nos demais bairros vizinhos.
Enfim, mesmo que agora aconteçam essas ações, a Funarte fez a
difusão da dança esperar por mais de vinte anos por um “por-de-bras”
justo. Enfatizar o protagonismo dos jovens artistas e não apenas
questionar as competências deles e dos proponentes por suas pesquisas
de identidade na dança, deveriam ser de competência deste órgão de
gestão e difusão.
Isso deve ser feito através de cursos, seminários e oficinas de arte e
cultura, que são pouco ou nunca oferecidos pela Funarte e os jovens
poderiam ser orientados e estimulados a criar suas representações de
mundo e de si.
É preciso reconhecer que a cidade é produto da diversidade da vida
social, cultural e pessoal. A dança se caracteriza pelo movimento de
suas andanças e pelas percepções que ela transita nessa mesma
brasilidade, interagindo nos cotidianos das cidades-territórios.
Isto significa dizer que a cidade deve ser pensada, tratada e vivida como
um bem público comum, como um ser dançante, e não como um espaço
imóvel e de desigualdades. A cidade é o encontro de diferentes
movimentos. A cidade é a expressão da pluralidade de vivências
culturais, afetivas e existenciais. A padronização cultural da vida rouba
da cidade a criatividade necessária para inventar a alegria e a felicidade.
A homogeneização das práticas socioculturais enfraquece o significado
do conviver e do aprender com a presença do outro. Significa dizer,
portanto, que é preciso reconstruir a identidade da cidade-território pelo
reconhecimento da diversidade cultural como um valor da existência.
Apostar na liberdade das práticas socioculturais significa, para a dança,
sua aplicação junto aos princípios defendidos por muitos educadores,
tais como Paulo Freire.
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A viabilização do fazer cultural também não estipulou que o benefício
trazido por redes comunicacionais esteticamente e eticamente
consolidadas pudesse ter um espaço significativo na alma brasileira.
Deu-se privilégio para inúmeros artistas que participaram de suas
políticas comunicacionais até então. Os outros foram literalmente
“esquecidos” ou “mal-interpretados”.
Um pífio dançarino-intérprete da Maré só aparece quando ele é
transportado com o nome de um grande coreógrafo, como Ivaldo
Bertazzo, por exemplo. Ele nunca seria digno de estar ali por si só, por
suas andanças, por suas expressões gestuais e orais em praça pública
ou por suas mais belas e significativas atuações na cena de sua cidade.
Ele, infelizmente, não aparece como portador de uma infinita mudança
em sua insignificância.
De fato, a segurança do processo de circulação da dança só é viável se,
e somente se, não impossibilitarmos a movimentação dos corpos destes
dançarinos para outras comunidades e cidades. Assim, pensar uma
identidade própria e possível da Metrópole consiste em reconhecer as
favelas e as periferias, na sua pluralidade e na sua qualidade de espaço
produtor de dança, como territórios legítimos na realização de um projeto
de cidade como espaço de direitos e deveres democráticos.
Uma cidade plena e democrática se faz com o entrecruzamento de
diferentes expressões da vida. Pressupõe, portanto, encontros de
sociabilidades, conhecimentos recíprocos dos modos de viver e respeito
aos estilos existenciais que se realizam nos territórios múltiplos que
coexistem entre si.
Trata-se, portanto, da formulação e execução de políticas públicas
capazes de (re)constituir paisagens e imaginários das múltiplas
identidades e representações socioculturais nestes territórios. Se isso
acontecer, em menos de dez anos, a circulação de dança no Brasil
efetivamente dará um “grand-jetté”, o salto que ela merece e aguarda
desde os idos dos anos 90.
A Funarte deve valorizar a diversidade como princípio de nossa formação
identitária, promover encontros entre distantes/diferentes como
possibilidade do respeito à alteridade e promover a tessitura de
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acontecimentos e intervenções artístico-culturais como mediações
necessárias à construção das narrativas propostas.
Este encontro entre diferentes e distantes, esse apelo para que as novas
narrativas aconteçam não pode ser efetivado no Brasil neste momento. O
país ainda enfrenta a barbárie de suas relações, não estamos
completamente libertos para criar um elo emancipatório de nossa
circulação cultural pacífica e indiscriminada.
O país insiste em suas conquistas de espaço por meio da força, insiste
em suas deterioradas políticas de acesso aos bens culturais e privilegia
muito aqueles que sempre se envolveram com a arte no requinte dos
salões europeus desde o período monárquico.
Neste aspecto a Funarte se perde. Ela não é capaz ainda de cumprir
com as suas promessas desde os idos de 1997, quando na Folha de São
Paulo, o Sr. Marcio de Souza, escritor e na época seu presidente,
prometia criar mecanismos para que os grupos de dança pudessem
circular pelo país. Isso não aconteceu desde 1997 e quais são as
garantias que a Funarte promove para todos os dançarinos do Brasil
neste aspecto? Eu garanto, por experiência própria, nenhuma!
É preciso construir outras narrativas, sobretudo através de mapas
urbanos do viver, do olhar, do morar, do trabalhar, do conhecer e do
sonhar na cidade. A questão do vazio e da territorialidade tem muito a
ver com isso. Se o artista é então capaz de preencher com movimentos e
matérias, se ele estabelece uma profunda necessidade de segurança e
existência, então será ele capaz de dominar diferentes territórios e
interagir próximo a eles.
O artista faz de sua dança um ocupar de sentidos e sensações
transformadoras que o violento, o imoral e o instável se instalaram nestes
longos anos de escuridão nas cidades brasileiras.
Conhecer o outro para reconhecer a complexidade do mundo significa a
busca de comunicação. Esse movimento de descoberta expressa suas
representações e exige uma condição espaço-temporal diferenciada do
que para os outros tipos de manifestações corporais e produtos estéticos
já aprovados pelos territórios culturais consolidados das cidades.
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O artista da dança desperta possibilidades de elaboração de um mapa
sensível da cidade ou da região a partir daquilo que lhe é mais recôndito,
o seu corpo. Ou seja, busca-se a invenção de outra geografia de
registros e trocas comunicativas que contribuam para o exercício pleno
da cidadania do artista da dança.
A difusão e circulação da dança aproximam as cidades de outra
representação territorial: bucólica e primordial, invicta e atemporal, sutil e
popular que constrói a vida metropolitana. Tendo como referência
atores/autores sociais em seus territórios de identidade, em especial aos
jovens inseridos em diferentes grupos de dança.
A Funarte deve, enfim, procurar oferecer e fomentar o encontro de
comunidades, favelas, interiores, periferias, coletivos sociais, baixadas,
tribos e galeras de zonas oeste e sul. Desenvolver a Metrópole em
grandioso raio de ação e é nesse sentido que podemos, notadamente,
falar da intervenção cultural urbana e acreditar na circulação de
caravanas como são propostas em seus editais abertos à concorrência
dos artistas da dança na atualidade deste século.
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Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic 2006), realizada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o Ministério da Cultura, com dados comparativos entre
os anos de 1999 e 2006.