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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL
BEATRIZ DEMIRDJIAN SAMPAIO JORGE
SÓ MENTE CORPO
CAMPO GRANDE – MS
2014
BEATRIZ DEMIRDJIAN SAMPAIO JORGE
SÓ MENTE CORPO: Retratos da sensibilidade feminina
Relatório de pesquisa apresentado
para fins de avaliação parcial para
obtenção do grau de Bacharel em
ArtesVisuais.
Orientação:EluizaBortolottoGhizzi
Coorientação:RenanKubota
CAMPO GRANDE – MS
2014
FOLHA DE ROSTO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL
BEATRIZ DEMIRDJIAN SAMPAIO JORGE
SÓ MENTE CORPO: Retratos da sensibilidade feminina
Relatório de pesquisa apresentado
para fins de avaliação parcial para
obtenção do grau de Bacharel em
ArtesVisuais.
Orientação:RenanKubota
Coorientação:EluizaBortolottoGhizzi
Campo Grande, MS, _____ de __________________ de 2014.
COMISSÃO EXAMINADORA
__________________________________________________
Profª. Eluiza BortolottoGhizzi
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
__________________________________________________
Prof. Renan Kubota
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
__________________________________________________
Prof.ª. Priscilla de Paula Pessoa
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por me guiar em meus caminhos, por me
consolar nos tempos de dúvida e por me fazer acreditar que isto seria possível.
Agradeço também às amigas Taíza e Ludmila que confiaram em mim e se
voluntariaram para posar em prol da execução deste trabalho que não existiria
sem a cooperação delas. Agradeço à minha família que me apoiou e apoia
sempre que possível, aos meus pais, principalmente, por me incentivarem e me
encorajarem sempre que preciso. Agradeço também aos meus professores por
compartilhar o seu vasto conhecimento comigo de maneira bem interessante e
voluntariosa. A todos, o meu muito obrigada.
RESUMO
O presente trabalho teve como objetivo desenvolver uma pesquisa teórico-
prática voltada para a busca de uma poética pessoal na realização de uma
obra artística capaz de expressar sentimentos femininos por meio da fotografia
digital, da arte da colagem e da fotomontagem. As obras que resultaram desse
trabalho expressam esses sentimentos femininos, por meio de retratos
inspirados esteticamente no Dadaísmo, no Surrealismo e na Pop Art. No
desenvolvimento da pesquisa teórica recorremos à história do retrato e do nu
na fotografia, às vanguardas europeias nas artes plásticas, com foco nas
colagens e na fotomontagem, à arte digital, especialmente a fotografia e as
técnicas de colagem digital. Pesquisamos artistas cujos trabalhos nos ajudaram
a confirmar ideias e argumentos. O resultado artístico é um conjunto de retratos
fotográficos de mulheres, manipulados posteriormente por meio da técnica de
colagem digital.
Palavras chave: Fotografia Digital. Retrato Feminino. Colagem Digital. Manipulação
Fotográfica.
ABSTRACT
This study aimed to develop a research focused on the pursuit of a personal
poetic in carrying out a work of art can express female feelings through digital
photography, collage and photomontage theory and practice. The works that
resulted from this work express these feminine feelings through pictures
aesthetically inspired in Dadaism, Surrealism and Pop Art. In developing the
theoretical research we turn to the history of portraiture and the nude in
photography, the European avant-garde in the plastic arts, focusing on collage
and photomontage, digital art, especially photography and digital collage
techniques. Researched artists whose work helped confirm the ideas and
arguments. The artistic result is a series of photographic portraits of women,
later manipulated by the technique of digital collage.
Keywords: Digital Photography. Female Portrait. Digital Collage. Photography
Manipulation.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 “View from the window at Le Gras”............................................................................. 16
Figura 2 Autorretrato de Robert Cornelius............................................................................16
Figura 3 Retrato de Louise Gamet........................................................................................17
Figura 4 “I’instante décisif”....................................................................................................19
Figura 5 “Les Arquives”..............................................................................................................20
Figura 6 Série “Poland”........................................................................................................22
Figura 7 Série “Poland”.......................................................................................................22
Figura 8 “Girls I” Bianca.............................................................................................................22
Figura 9 “Girls I” Sem título........................................................................................................22
Figura 10 “Girls I” Ivette Febrero..............................................................................................23
Figura 11 “Girls I” Katrina Franco Nicole..................................................................................23
Figura 12 “Deux II”.....................................................................................................................23
Figura 13 Sem título...................................................................................................................23
Figura 14 “Diana and Actaeon”..................................................................................................24
Figura 15 “Le Violon d'Ingres”....................................................................................................26
Figura 16 “Natasha”...................................................................................................................26
Figura 17 “Andy with hoops”......................................................................................................26
Figura 18 ”Distortion”.................................................................................................................27
Figura 19 “Nude”........................................................................................................................28
Figura 20 “Naked New York”.....................................................................................................28
Figura 21 Gorgona da série “Genre”.........................................................................................29
Figura 22 “Дикие локоны падают гривой” da série “Nude”.....................................................29
Figura 23 Fruteira e Copo.........................................................................................................31
Figura 24 Copo e Garrafa de Suze...........................................................................................31
Figura 25 “Factum I e Factum II”.............................................................................................. 33
Figura 26 “L.H.O.O.Q.”..............................................................................................................34
Figura 27 Retrato de Max Ernst para "Une semaine de bonté”.................................................35
Figura 28 O crítico de arte..................................................................................................36
Figura 29 “Da Dandy”................................................................................................................37
Figura 30 “Tears”.......................................................................................................................38
Figura 31 “Le Baiser”.................................................................................................................38
Figura 32 “Amor sin ilusion”.......................................................................................................39
Figura 33 Sem título..................................................................................................................39
Figura 34 Sem título..................................................................................................................40
Figura 35 “Everything I Know”...................................................................................................41
Figura 36 “Miss Pipe”.................................................................................................................42
Figura 37 “Bullitt”........................................................................................................................42
Figura 38 Sem título...................................................................................................................43
Figura 39 Sem título...................................................................................................................43
Figura 40 “O que exatamente torna os lares de hoje, tão atraentes?”......................................45
Figura 41 “Sem título”................................................................................................................48
Figura 42 “Deux”........................................................................................................................48
Figura 43 Sem título 38 da série “Le Carnet Noir”.....................................................................49
Figura 44 Sem título 19 da série “Le Carnet Noir”.....................................................................49
Figura 45 “A Fight or Flight to a Future Freshness”...................................................................50
Figura 46 “Mind Mapping”..........................................................................................................50
Figura 47 “Vitality”....................................................................................................................50
Figura 48- Teste 01...............................................................................................................54
Figura 49- Teste 02..............................................................................................................54
Figura 50- Teste 03..............................................................................................................54
Figura 51- Teste 04..............................................................................................................54
Figura 52- Estúdio Semelhante ao da Uniderp........................................................................56
Figura 53- Estúdio do fotógrafo.............................................................................................56
Figura 54- Edição de luz e saturação no Lightroom (Antes e Depois)......................................57
Figura 55- Exemplo do uso da ferramenta Saturação no Lightroom........................................57
Figura 56- Importando para o Photoshop..............................................................................58
Figura 57- Duplicando o layer...............................................................................................58
Figura 58- Processo efeito espelhado.......................................................................................59
Figura 59- Efeito espelhado.....................................................................................................59
Figura 60- Edição concluída...................................................................................................59
Figura 61- Fotografia de flor em alta resolução.......................................................................59
Figura 62- Aplicando preset preto e branco...........................................................................60
Figura 63- Antes e Depois do efeito preto e branco................................................................60
Figura 64- Preset P&B..........................................................................................................61
Figura 65- Aplicando efeito Hard Light...................................................................................61
Figura 66- Efeito “Hard Light”................................................................................................61
Figura 67- Aplicando máscara................................................................................................61
Figura 68- Aplicando efeito “Screen”........................................................................................62
Figura 69- Edição final..........................................................................................................62
Figura 70- Dupla Mente.........................................................................................................62
Figura 71- Anseio..................................................................................................................63
Figura 72- Flor menina............................................................................................................64
Figura 73- Doa oque doação................................................................................................64
Figura 74- Apedrejada..........................................................................................................65
Figura 75- Desejo em pedaços..............................................................................................65
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..............................................................................................................12
1 O RETRATO DA HISTÓRIA......................................................................................15
1.2 Introduções ao Retrato.........................................................................................15
1.3 O Retrato Fotográfico nos Séc. XX e XXI............................................................18
1.4 O Nu Fotográfico...................................................................................................24
1.5 Colagens nas Vanguardas Europeias.................................................................30
1.5.1 Colagem e Dadaísmo...........................................................................................33
1.5.2 Colagem e Surrealismo........................................................................................37
1.5.3 Colagem e Pop Art...............................................................................................44
1.6 Fotomontagem e Fotografia Digital.....................................................................46
2 A OBRA SÓ MENTE CORPO...................................................................................52
2.1 A escolha do tema.................................................................................................52
2.2 Desenvolvimentos práticos..................................................................................53
2.3 Conceito.................................................................................................................54
2.4 Processos de produção........................................................................................56
2.5 Análises das obras................................................................................................62
CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................67
REFERÊNCIAS.............................................................................................................69
APÊNDICE A – Portfolio..............................................................................................72
12
INTRODUÇÃO
O presente trabalho acadêmico tem como tema o retrato feminino. A
partir da técnica de colagem digital e da fotomontagem inspirada nas
vanguardas europeias, principalmente no Surrealismo, no Dadaísmo e na Pop
Art, as fotografias foram pensadas e editadas. A inspiração do tema ocorreu ao
conhecer as ilustrações da artista francesa Paula Bonet, que retrata o
sentimento feminino de uma forma muito peculiar em seus desenhos e grafites.
A série fotográfica que resultou desta pesquisa foi idealizada há um ano,
quando, a partir de experiências com edição de imagens digitais, veio a ideia
de retratar o íntimo das pessoas. O retrato esteve sempre muito presente em
minha forma de expressão, tanto no desenho, quanto na pintura, portanto levei
isso para a fotografia também, além de me interessar muito pela junção da arte
com a tecnologia.
Sempre muito curiosa sobre o comportamento das pessoas e de suas
personalidades, busquei por uma poética que me permitisse mostrar o
indivíduo e não meramente sua aparência. A escolha do retrato feminino se
deu pela vontade de trazer um trabalho sensível ao observador, e por ver as
mulheres como dotadas de beleza e de uma sensibilidade que eu poderia
explorar. Com isso as coisas acabaram “casando”. Porém, faltava ainda o
íntimo: como mostrar as pessoas no seu íntimo. Em resposta a isso ocorreu a
ideia do nu fotográfico como uma forma de acesso. Mas a ideia não era
trabalhar apenas o nu artístico tradicional, que corre o risco de chamar muito a
atenção para o corpo e não para o íntimo que eu buscava. Havia, portanto,
ainda, a necessidade de encontrar um modo de mostrar aspectos desse íntimo
que não são visíveis na aparência, mesmo no nu. A colagem e a fotomontagem
apareceram como recursos que possibilitavam trabalhar isso.
O corpo feminino nu expressando, com as interferências da colagem e
de fotomontagem, o sentimento individual de cada mulher foi o grande desafio
do trabalho artístico. Para exercitar a capacidade de distinguir os sentimentos
por meio da manipulação das fotografias, decidi fotografar duas mulheres, o
que exigiria desenvolver modos de tornar singulares não apenas os seus
13
retratos, mas também a manipulação deles, de modo que as obras resultantes
dos retratos de cada uma das modelos se apresentassem com características
individuais próprias delas e distintas uma da outra.
Foi feito um grande número de fotografias e, ao final, foram escolhidas
as seis melhores fotos. Fotografar o corpo nu em preto e branco – outra
decisão tomada durante o processo -, fez com que as formas dos corpos
fossem valorizadas e, assim, a luz e a sombra poderiam ser mais bem
trabalhadas nas obras, trazendo a suavidade que eu procurava. As
interferências com a colagem e a fotomontagem foram realizadas em cores, o
que ajudou a ressaltar o sentimento das mulheres retratadas. As obras, ao
final, propõem uma interpretação da artista daquilo que são esses sentimentos.
A pesquisa acontece em três momentos: primeiramente, a parte teórica,
envolvendo estudos de elementos plásticos e referências visuais de artistas, de
acordo com os temas estudados; depois, o desenvolvimento dos recursos
visuais a serem trabalhados e, por fim, o desenvolvimento prático de uma série
de fotografias, que foram manipuladas digitalmente com recursos de colagem
digital e fotomontagem.
Este texto está organizado em dois capítulos, nos quais, o primeiro
refere-se à história da fotografia, que é traçada de forma cronológica
mostrando a evolução da tecnologia na técnica fotográfica. A partir disso, nota-
se a fotografia entrelaçada com a história da arte a todo o momento. No
decorrer da leitura deste texto, o tema do trabalho vai sendo construído e
analisado. Veem-se os sentimentos da mulher como tema principal do trabalho,
não deixando de comentar sobre o indivíduo, o corpo, e sua relação com a
mente e esses sentimentos mais profundos. A feminilidade e delicadeza
também são um ponto fortemente transcorrido no texto.
Já o segundo capítulo, trata-se da produção fotográfica e pós-fotográfica
das obras. As técnicas utilizadas são apresentadas e explicadas de forma que
tenham sentido comparadas com os conceitos analisados no primeiro capítulo.
Logo também, se demonstra todo o processo prático envolvido no trabalho
14
para depois ser apresentada uma conclusão do mesmo para este trabalho ter
sido realizado com êxito.
15
O RETRATO DA HISTÓRIA
1.2 Introduções ao Retrato
Quando falamos de retratos, logo nos vêm à mente uma imagem de
alguém ou um grupo de pessoas com suas variadas características. Essa
imagem é relacionada com os primeiros retratos feitos antigamente, pois o
surgimento desta prática é um fato muito marcante na história da arte, onde a
burguesia pedia aos mais famosos pintores para retratarem suas famílias.
Segundo o livro “Um retrato de Giacometti”, de James Lord:
O retrato é a representação de uma figura individual ou de um
grupo, elaborada a partir de modelo vivo, documentos,
fotografias, ou com o auxílio da memória, o retrato (do
latim retrahere, copiar) em seu sentido primeiro ligado à ideia
de mimese. Por essa razão, foi muito utilizado nas academias e
escolas de arte para o aprendizado do ofício e domínio da
técnica no século XIV. (LORD, 1998, p.159)
O retrato, na história da fotografia foi muito utilizado, inicialmente, como
base para a pintura. Posteriormente a fotografia começou a ter sua expressão
própria. A fotografia não começou com um único criador. Ao longo do tempo
muitas pessoas agregaram conceitos e processos, dando origem à fotografia.
No início desse período está à câmara escura, criada por Giovanni Della Porta
1
, em 1558.
A primeira fotografia reconhecida é uma imagem produzida em Saint
Loup de Varennes, pelo francês Joseph Nicéphore Niépce, em 1826. A imagem
foi produzida com uma espécie de câmera não convencional, sendo exigidas
oito horas de exposição à luz do sol. O processo ficou conhecido como
“heliografia”, o que significa gravura com a luz (Figura 1).
1
Outras fontes tomam o físico árabe, conhecido por Alhazen, como verdadeiro descritor da câmara escura. Nascido
em 965 a.C. no que hoje conhecemos como Iraque, Alhazen foi nomeado pai do método científico moderno. Sua
relação com a câmara escura advém de seus estudos sobre o fenômeno dos corpos celestes no horizonte epelas
observações sobre os fenômenos da refracção da luz.
16
Figura 1-“View from the window at Le Gras”
Joseph NicéphoreNiépce, Paris, 1826.
Fonte: LEMAGNY; ROUILLÉ, 1988, p.16.
Partindo desse mesmo princípio, outro francês, chamado Louis Jacques
Mandé Daguerre, cria uma câmara escura com outros efeitos especiais,
chamada de “diorama”, que era usado para deixar desenhos com aspectos
mais realistas. Estes dois inventores ficam, então, responsáveis pelo
pioneirismo da fotografia. Anos mais tarde, o retrato se pronuncia efetivamente
em 1839 com a imagem do autorretrato do químico Robert Cornelius,
considerado o primeiro retrato fotográfico da história (Figura 2).
Figura 2- Autorretrato de Robert Cornelius
Robert Cornelius, Filadélfia,1839.
Fonte: BRANDÃO, Claudio, 2013, p.124.
Disponível em: <http://www.maxwell.lambda.ele.puc-
rio.br/Busca_etds.php?strSecao=resultado&nrSeq=21126@1>
Acesso em: 07 abril 2014.
De acordo com o autor Jean-Claude Lemagny (1988), com o passar do
tempo a prática do retrato continuou a se expandir artisticamente e ele ainda foi
utilizado para pintura em muitos países; porém, nos Estados Unidos a prática
daguerriana fez muito sucesso a partir do momento em que a placa de cobre
17
foi trocada pela de vidro. Com materiais mais baratos o preço dos negativos
caiu, ampliando o campo social e o número de clientes. Em 1850 já se notavam
traços da fotografia moderna, na qual os clientes não precisavam esperar muito
para ter suas fotos impressas em mãos.
Desta forma o retrato ganhou um padrão de comércio e virou moda
fotografar certas poses, principalmente em retratos femininos. As fotografias
eram tiradas de forma que mostrassem o respeito e dignidade do retratado.
Fosse ao formato carte-de-visite, ou como cabinet portraits, tais
retratos prestavam-se para registrar poses que tendiam a
expressar dignidade, respeitabilidade, status social.
Representações através das quais o retratado mostrava-se não
conforme ele "realmente" era, mas tentando satisfazer
expectativas não apenas suas, mas dos possíveis destinatários
de cópias daquele souvenir cuja troca entre parentes e amigos
tornara-se habitual. (STANCIK, 2011, p.10.)
Como, por exemplo, o retrato de Louise Gamet mostrado na Figura 3,
abiaxo:
Figura 3- Retrato de Louise Gamet
Estúdio F. Berthault, Angers, França. Carte-de-visite, 5,5 × 9,0 cm. Ano de 1880.
Fonte:STANCIK, 2011, p.8.
A partir deste momento, o retrato torna-se um produto social e cultural,
concebido como documento e monumento. Traz consigo os traços da época,
como registro e fragmento dos tempos. Torna-se uma forma não verbal de
comunicação pelo registro de poses, olhares, gestos, expressões faciais e
movimentos do corpo.
18
1.3 O Retrato Fotográfico nos Séc. XX e XXI.
Aproximando-se cada vez mais da forma de retratar dos tempos de hoje,
o retrato muda, porém, ainda traz consigo características de um tempo
distante. Permanece sua essência em meio ao indivíduo, mas modifica seu
propósito e utilidade nos tempos modernos.
O retrato passou a não ser mais visto como o “espelho do real”, pois
muitos, quando fotografados não se mostravam verdadeiramente, sendo assim
impressões do real, um instrumento de análise e interpretação. Segundo o livro
“O Ato fotográfico”, de Philippe Dubois:
O principio de realidade foi então designado como pura
"impressão", um simples "efeito". Com esforço tentou-se
demonstrar que a imagem fotográfica não é um espelho neutro,
mas um instrumento de transposição, de análise, de
interpretação e até de transformação do real, como a língua,
por exemplo, e assim, também culturalmente codificada.
(DUBOIS, 1994, p.1)
Anteriormente, era comum a prática da fotografia documento, onde a
fotografia jornalística tinha destaque. Não se valorizava a fotografia enquanto
imagem, nos seus aspectos formais, mas sua capacidade de mostrar outra
coisa, externa a ela. Posteriormente, muitos fotógrafos começaram a importar-
se com significado de suas fotos, e não com o simples registro de
acontecimentos. Como disse Rouillé (2009, p. 139), “A verdade do documento
não é a verdade da expressão”, sendo assim abertos os tempos da crise, o
declínio da imagem-ação2
.
Uma perda significativa do elo com o mundo manifesta-se na prática. Os
artistas partilham com frequência desse sentimento de perda associado às
imagens, de se ter uma imagem e não o mundo como referência. Os fotógrafos
se veem mais interessados em fotografar o seu próprio mundo e não os fatos
corriqueiros da época. O regime da verdade e da prova enfraquece então, por
basear-se na imagem-impressão3
das coisas.
2
O termo refere-se à imagem fotográfica usada como registro de acontecimentos jornalísticos.
3
O termo refere-se à imagem fotográfica usada como expressão individual do fotógrafo, visando uma interpretação
diferenciada de cada um que a veja.
19
Na prática do instante decisivo4
, em meados do séc. XX, Henri Cartier -
Bresson acreditava haver um momento composicional de máxima
potencialidade expressiva que, se captado, transmitiria com suma eficácia
determinado acontecimento. Não só esse instante deveria ser reconhecido à
medida que um acontecimento se desenrolava diante do fotógrafo, mas
também, nessa fração de segundo ele deveria organizar no quadro as formas
que o delineavam para que pudesse ser expresso em toda sua intensidade5
.
Uma fotografia que ilustra esse conceito associada à obra, de Bresson é
mostrado na Figura 4, abaixo:
Figura 4- I’instante Décisif
Henri Cartier-Bresson,1970. 40x30cm.
Fonte: FREIRE, 2010, 01p.
A fotografia se estabelece como resultado de um trabalho de intervenção
do fotógrafo sobre o real, no qual seu imaginário exerce papel central. Segundo
“A fotografia entre documento e expressão” (ROUILLÉ, 2009), as imagens do
foto-documentário imaginário são capazes de se vincular a um modo de
representação que vai além da remissão ao referente: à coisa fotografada são
agregadas lembranças, crenças, valores, interesses, desejos e receios do
próprio fotógrafo. Isso se dá tanto na forma como o fotógrafo limita sua
4
Origem da expressão ”I'instantdécisif”, que intitula o prefácio do primeiro livro de Bresson,”Images à
lasauvette”(Imagens furtivas), e que por não ter em inglês a expressão correspondente, nomeou-se “The
decisivemomment”(O momento decisivo).
5
Referência de trecho do artigo “Ensaio sobre a perda do momento decisivo” de Pollyanna Freire.
20
percepção (o que vê e como vê), quanto na maneira como guia o seu trabalho
(o que fotografa e como fotografa).
A partir desse momento onde a fotografia não é mais entendida como
realidade capturada e sim como transformação do real. Os processos
chamados de mecânicos, como o plano, o enquadramento e a luz, são tratados
como formas de expressão. Assim concede-se à fotografia uma assinatura e ao
fotógrafo a valorização de sua visão do mundo.
Muitos artistas, como o francês Christian Boltanski, revelaram suas
fotografias mais expressivas nos anos de 1970-1990. São os chamados
artistas-fotógrafos. O principal projeto da fotografia dos artistas não é
reproduzir o visível, mas tornar visível alguma coisa do mundo, alguma coisa
que não é necessariamente da ordem do visível, observa André Rouillé (2009).
Segundo Joana Lobinho (2011, p.36), Christian Boltanski trazia a ideia
de morte e memória às suas obras. Quase sempre associado a ambientes
obscuros e religiosos, seu tema, a partir de 1980, volta-se para problemas
sociais e não mais pessoais. Como mostrado na Figura 5, em seu trabalho
sobre o Holocausto, “Le Arquives”, abaixo:
Figura 5- “Les Arquives”
Christian Boltanski. 1987.
Fonte: LOBINHO, Joana, 2011 p.42.
A partir dos anos 1980, como dito anteriormente, os artistas passam a
dominar com facilidade o procedimento fotográfico, obtendo excelentes
resultados técnicos e, muitas vezes, tamanhos monumentais. Para Rouillé a
21
fotografia tornou-se a componente central de seus trabalhos, o seu material
expressivo. Ela não era mais utilizada como recurso para obras como pintura
etc., a fotografia tornou-se obra.
Uma grande mudança para a história da fotografia foi, e continua sendo,
o avanço tecnológico. A arte de fotografar vem se reinventado a cada época e
artistas descobrem novos meios de expressão com o auxílio da fotografia a
todo tempo. Segundo o filósofo francês Gilles Deleuze:
Ferramentas tecnológicas existem na interligação entre o que
as fazem possíveis e entre o que estas podem produzir
efetivamente. Isto é, o que leva ao desenvolvimento de
determinadas ferramentas é a necessidade de produzir
resultados que são de certa forma, almejados socialmente por
determinados grupos. (DELEUZE, apud BRANDÃO, 2013,
p.102).
Conclui-se que não é apenas uma ferramenta que altera um
determinado status, mas uma demanda social por mudanças facilita o
aparecimento de determinadas ferramentas, como a fotografia. Segundo
Lombardi:
Filmes granulados, negativos superexpostos, uso abusivo da
grande angular, imagens desfocadas ou borradas,
composições abstratas e recorrências ao ficcional passam a
ser explorados como formas expressivas possíveis à fotografia,
como modo de expressar na imagem as impressões e
sensações imateriais que o fotógrafo experiência na realidade.
(LOMBARDI, 2007. p4)
Partindo desse ponto, fotógrafos como o americano Michael Ackerman
utilizam as distorções na imagem como forma de expressão fotográfica a partir
de 1999, como pode ser exemplificado nas figuras 6 e 7, abaixo:
22
Figura 6- Série “Poland”
Figura 7- Série “Poland”
Michael Ackerman, Poland, 1999-2007.
Fonte: SiteI’Agence VU .Disponível em
<http://www.agencevu.com/stories/index.php?i
d=144&p=1> Acesso em: 10 jun. 2014.
Michael Ackerman, Poland, 1999-2007.
Fonte: I’Agence VU. Disponível em
<http://www.agencevu.com/stories/index.php?i
d=144&p=1> Acesso em: 10 jun. 2014.
Ackerman, desde jovem, foi premiado por suas fotografias cheias de
histórias e sensações. Sempre em preto em branco para trazer mais
dramaticidade às fotos, ele nos transmite suas dúvidas, reflexões pessoais e
angústias.
Apesar de a fotografia digital ter dominado o mercado de fotografias,
muitos artistas fazem uso da fotografia analógica ainda hoje. É o caso do
chileno, Cristóbal Escanilla, fotógrafo e vídeo maker. Em sua série “Girls I”
(Garotas I), ele faz o uso dessa prática fotográfica, exemplificada nas figuras 8,
9, 10 e 11, abaixo:
Figura 8- “Girls I” Bianca Figura 9- “Girls I” Sem título
Cristóbal Escanilla, 2012-2014.
Disponível em:
<http://cargocollective.com/cabinadelafoto/girls-
I> Acesso em: 10 jun. 2014.
Cristóbal Escanilla, 2012-2014.
Disponível em:
<http://cargocollective.com/cabinadelafoto/g
irls-I> Acesso em: 10 jun. 2014.
23
Figura 10- “Girls I” Ivette Febrero Figura 11- “Girls I” Katrina Franco Nicole
Cristóbal Escanilla, 2012-2014.
Disponível em:
<http://cargocollective.com/cabinadelafoto/portaf
olio> Acesso em: 10 jun. 2014.
Cristóbal Escanilla, 2012-2014.
Disponível em:
<http://cargocollective.com/cabinadelafoto/g
irls-I> Acesso em: 10 jun. 2014.
Nesta série fotográfica Escanilla usa luz natural e, em sua maioria,
cenários ao ar livre. Fotografa as mulheres ao natural, assim como as relaciona
com os cenários e a natureza, conquistando um resultado que transcende o
sensível, nos deixando a sensação de intimidade com o retratado.
Outro artista que fotografa mulheres é Jon Duenas, fotógrafo de moda,
cujas fotografias são muito expressivas. Diferente de Escanilla, Duenas utiliza
sua Polaroid e, também, sua câmera digital para suas composições. A seguir
são apresentadas duas de suas obras (Figuras 12 e 13):
Figura 12- “Deux II” Figura 13- Sem título
Jon Duenas, 2014. Fotografia Analógica.
Fonte: Site do artista, disponível
em:<http://www.jonduenas.com/ii#13>
Acesso em: 11 jun. 2014.
Jon Duenas, 2014. Fotografia Digital.
Fonte: Site do artista, disponível
em:<http://www.jonduenas.com/portfolio-
iii#26> Acesso em: 11 jun. 2014.
24
Duenas faz o uso da fotografia analógica6
na Figura 12, atrelando a
técnica de sobreposição de imagens à fotografia. Já na figura 13 usa a
fotografia digital em seu trabalho. Ambas retratando as mulheres de modo a
gerar significados associados ao sentimento feminino.
Desta forma percebe-se, ao final deste capítulo, a evolução da fotografia
como documento do real para meio de expressão artística. Enquanto para o
documento a técnica deve ficar a serviço do registro, de modo a não interferir
nele, para a fotografia como arte a técnica é utilizada como recurso de
linguagem, para criar elementos expressivos e representativos.
1.4 O Nu Fotográfico
Sobre o “retrato” do corpo nu encontram-se resquícios desde antes do
período greco-romano. Foi repetidamente utilizado para a prática da pintura e
escultura desde os tempos do Renascimento, como desenho de observação e
conhecimento das formas do corpo humano. Como a obra de Brueghel, O
Velho, “Diana and Actaeon” mostrada na Figura 14, abaixo:
Figura 14- “Diana and Actaeon”
Jan Brueghel, O velho, 1595. Fonte: Site da BBC Brasil, 05p.
Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/especial/819_nuartistico/page5.shtml>
Acesso em: 28 maio 2014.
É então, indispensável sua aparição como arte na fotografia. Segundo
José Farinha (2001, p.78), “Os primeiros daguerreótipos eróticos começaram a
circular por Paris a partir de 1840[...]”, com isso vê-se o registro e o
exibicionismo do nu feminino antes do começo do nu fotográfico considerado
6
Fotografia analógica é aquela que utiliza filme fotográfico e é revelada pelo processo fotoquímico.
25
como arte. O surgimento deste tipo de fotografia veio ao encontro de
oportunidades comerciais, porém mesmo a fotografia do nu sendo referência
para pintores, ele não deixou de ter um forte potencial erótico e pornográfico
para com a fotografia.
O erotismo foi proibido em meados da década de 1840 e muitos
fotógrafos foram presos por suas “cenas obscenas”, segundo Camargo Filho
(2006, p.29). O primeiro movimento estético fotográfico ocorreu em 1880,
denominado Pictorialismo7
. A fotografia era defendida como arte, usando de
artifícios não convencionais para chegar ao resultado pictural. Mais tarde
muitos fotógrafos mudaram o seu olhar sobre a fotografia e passaram a fazer
fotografias por elas mesmas, ou seja, sem ser destinada a pintura.
Somente no início do século XX, depois da I Guerra Mundial,
os fotógrafos, influenciados pelo pensamento modernista e
percebendo as possibilidades particulares que a fotografia
oferecia para a criação (tais como o ângulo de tomada da cena,
a instantaneidade, a possibilidade de interferir no negativo
etc.), passaram a fazer fotografias por elas mesmas, sem o seu
destino inicial para a pintura, criando, assim, novas formas de
representação. O corpo nu passa a ser explorado
principalmente em função de sua forma e de suas
possibilidades figurativas. (CAMARGO FILHO, 2006, p.30)
Acredito que um dos nomes influentes para a fotografia foi Man Ray.
Segundo o Departamento Educacional do J. Paul Getty Museum, Ray foi
artista, fotógrafo, arquiteto e engenheiro, nascido na Filadélfia nos Estados
Unidos, porém foi em Nova Iorque que se tornou famoso por sua fotografia e
ideais artísticos. Em 1915 conheceu Marcel Duchamp e fundaram o grupo
Dada-Nova-iorquino. Além do Dadaísmo, depois que mudou para a França
Man Ray se envolveu com o Surrealismo em 1921. Suas obras possuíam
características fantasiosas, mas trazendo muita originalidade em provocar a
sociedade com suas ideias sobre arte e cultura. Ray trabalhava bem com a
desconstrução da fotografia e usava muitas vezes a distorção de formas e
7
Definição segundo Itaú Cultural; Pictorialismo foi o movimento que eclodiu na França, na Inglaterra e nos Estados
Unidos a partir da década de 1890, congregando os fotógrafos que ambicionavam produzir aquilo que consideravam
como fotografia artística, capaz de conferir aos seus praticantes o mesmo prestígio e respeito grangeado pelos
praticantes dos processos artísticos convencionais. O problema é que essa ânsia de reconhecimento levou muito dos
adeptos do pictorialismo a simplesmente tentar imitar a aparência e o acabamento de pinturas, gravuras e desenhos ao
invés de tentarem explorar os novos campos estéticos oferecidos pela fotografia.
26
corpos criando as famosas fotografias surrealistas8
. Uma de suas primeiras
fotografias de nu feminino foi “Le Violon d'Ingres”, mostrada na Figura 15,
abaixo:
Figura 15-“Le Violon d'Ingres”
Man Ray, 1924. Impressão em prata gelatinosa. 530 x 390 mm.
Fonte: Lista de Exibição dos Retratos de Man Ray do Museu Ludwig, na Alemanha. De7
fev.2013- 27 maio 2013.
Man Ray retratava com frequência figuras femininas atreladas ao nu
fotográfico. Como em “Natasha”(Figura 16) e “Andy with hoops”(Figura 17):
Figura 16- Natasha Figura 17- “Andy with hoops”
Man Ray, 1929.
Disponível em: <http://www.manray-
photo.com/catalog/product_info.php?cPath=
32&products_id=684&osCsid=956bfd65692e
31e2d1ec3f5b2bfbe70b> Acesso em: 29
maio 2014.
Man Ray, 1937.
Disponível em:<http://www.manray-
photo.com/catalog/product_info.php?cPath=32&
products_id=1069&osCsid=956bfd65692e31e2
d1ec3f5b2bfbe70b> Acesso em:29 maio 2014.
Outro artista com características parecidas com as Man Ray era
AndreKertesz. Nascido em Budapeste em 1894, o artista húngaro era famoso
8
Surrealista é aquilo que está acima, além da realidade, (sur – realisme), além daquilo que nossos sentidos e razão
são capazes de compreender; o movimento surrealista foi inspirado pelas ideias de Freud sobre a psicanálise, assim a
loucura também passa a fazer parte desse conteúdo.
27
por seu trabalho com a fotografia jornalística em 1900, porém um de seus
trabalhos que traz curiosidade aos olhos é a série de 200 fotografias de nus
femininos chamados “Distortions” (Distorções), feita em 1933. Kertesz
consegue resultados incríveis com experimentos óticos com reflexão e
espelhos.
Figura 18- “Distortion”
AndreKertesz,1933.
Fonte:Site Masters ofPhotography, disponível em: <http://www.masters-of-
photography.com/K/kertesz/kertesz_distortion_full.html> Acesso em:29 maio 2014.
Esses dois artistas possuíam características em comum ao se
desprenderem do tradicionalismo quando se tratava de fotografar pessoas, e
em especial mulheres. Acredito que isso era feito como forma de protesto e de
desafiar a sociedade a enxergar o corpo desnudo sem pudor e malícia. Era
trazer uma nova visão do corpo feminino, contrária ao símbolo sexual, uma
nova visão das formas do corpo e suas inúmeras características
representativas.
O nu era muito explorado nesta época por artistas, como o retrato de
Edward Weston em 1936, onde ele explora o jogo de luz e sombra a fim de
modificar as formas reais do corpo feminino; como em Nude(Figura 19):
28
Figura 19-“Nude”
Edward Weston, 1936. Fonte: Artigo da Revista Studium, disponível em:
<http://www.studium.iar.unicamp.br/12/6.html> Acesso em: 30 maio 2014.
Outros artistas compartilharam ideias para desmistificar o nu feminino na
fotografia e encontrar novas formas de expressão deixando o erotismo de lado.
Nos tempos modernos esse “tema” ainda é recorrente, como no ensaio de
Greg Friedler chamado “Naked New York” (Figura 20):
Figura 20- “Naked New York”
Greg Friedler, 1997. Fonte: Artigo da revista Studium3, por PIEDADE, 2000.
Disponível em: <http://www.studium.iar.unicamp.br/tres/pg5.htm> Acesso em:30 maio 2014
Friedler traz a ideia de mostrar as pessoas como elas são. O objetivo era
retratar pessoas representando elas mesmas por meio do nu. Friedler se
preocupou em não representar as pessoas da forma que elas gostariam de ser
fotografadas e, assim, chegar mais próximo do que poderia de um real, uma
identificação com o eu. Segundo Lúcio Piedade:
O modo de atuação de Friedler foi fotografar cada pessoa
vestida e sem roupa, de modo a poder mostrar os dois lados da
mesma pessoa: o público e o privado. Ou seja: o público é a
29
maneira como ela se apresenta no dia-a-dia, perante à
sociedade. Para Friedler, essa versão vestida é apenas uma
parte de uma verdade. Afinal as roupas, espontaneamente,
alteram-se de acordo com a nossa vontade, ou seja, refletem
como nós gostaríamos de aparecer, ou como sentimos que
devemos ser. Colocando em foco uma pessoa nua, deixa-se de
lado as expectativas que seu modo de vestir produz sobre sua
ocupação ou nível social, modo de ser e preferências. Sai de
cena o público e entra o privado: a pessoa nua e crua em sua
intimidade e essência. (PIEDADE, Lúcio. 2014, p.5).
Na atualidade vemos fotógrafos utilizarem o nu de forma mais poética.
Como os sensíveis retratos do fotógrafo russo, Dmitry Chapala, que podem ser
vistos em Gorgona (Figura21) e em “Дикие локоны падают гривой”(Figura
22):
Figura 21- Gorgona da série “Genre” Figura 22- “Дикие локоны падают гривой”
da série “Nude”
Dmitry Chapala, 2008. Fonte: Site do artista,
disponível em:
<http://www.dmitrychapala.com/genre/>Acesso
em:30 maio 2014.
Dmitry Chapala, 2012. Fonte: Site do artista,
disponível em:
<http://www.dmitrychapala.com/nude/page-
5/> Acesso em: 30 maio 2014.
O nu de Dmitry é repleto de suavidade e delicadeza. Quase sempre
utiliza iluminação natural em suas composições, favorecendo as curvas das
modelos e ressaltando as texturas dos corpos. Seu trabalho é rico em texturas
e sensações, ainda mais quando feitos em preto e branco. É um trabalho
intimista e belo, onde as fotografias são sensuais e a posição dos corpos é
bem resolvida.
30
Os retratos de Chapala trazem emoção ao expectador, justamente por
retratar mulheres de um jeito tão sensível e natural. São fotografias fáceis de
serem apreciadas.
Por fim percebe-se o nu como forma expressiva, ainda muito em alta na
fotografia. Resultado esse da liberdade dos fotógrafos hoje em dia por explorar
suas diversas maneiras de expressão e técnicas.
1.5 Colagens nas Vanguardas Europeias
Inicialmente é importante definir o que é Colagem. De acordo com o
dicionário Tate Gallery (TATE GALLERY), Colagem é o termo utilizado tanto
para a técnica quanto para o resultado de um trabalho que inclui pedaços de
papeis, fotografias, tecidos, entre outros materiais, arranjados em uma
superfície de suporte. A colagem pode incluir outras mídias, como pintura e
desenho além de conter elementos tridimensionais.
A colagem consiste ainda na utilização de sobreposições analógicas ou
digitais, apropriações e recontextualizações espaciais e semânticas, sejam elas
bidimensionais ou tridimensionais, que impliquem em uma escolha estética por
parte do artista.
Segundo Randolph Souza, “técnicas de colagem foram utilizadas pela
primeira vez na China com a invenção do papel, cerca de 200 A.C, e limitadas
até o século XX, quando os caligrafistas chineses começaram a aplicar papel
colado e texto nas superfícies, onde escreviam seus poemas”. (SOUZA, 2009,
p.19)
O termo francês coller; significando colar, ou colagem, foi cunhado por
Georges Braque e Pablo Picasso no movimento cubista9
, no início do século
XX, quando essa passou a ser uma técnica característica da arte moderna10
,
inaugurando a poética do fragmento, afirma Souza (2009, p.19).
9
O Cubismo tinha como proposta promover a decomposição, fragmentação e a geometrialização das formas.
10
A arte presente no movimento Modernista que segundo o Tate Gallery foi um amplo movimento na arte ocidental,
arquitetura e design, que conscientemente rejeitou o passado como um modelo para a arte do presente.
31
A obra “Fruteira e Copo” (Figura 23), de Georges Braque, é considerada
uma das primeiras colagens da arte moderna. A partir desse momento, a
técnica é empregada em diferentes escolas e movimentos artísticos, com
sentidos muito variados.
Figura 23- Fruteira e Copo
Georges Braque, 1912.
Fonte: SOUZA,2009, p.20
Pablo Picasso também encontra no novo recurso um instrumento de
experimentação sem igual, que tem início com a obra “Copo e Garrafa de
Suze” (Figura 24) em 1912, parte de uma série em que são utilizados papéis e
desenhos a carvão. O uso de papéis colados abre pesquisas cubistas em
novas direções.
Figura 24-Copo e Garrafa de Suze
Pablo Picasso, 1912.
Colagem, guache e carvão, 65 x 45,2 cm.
Fonte: BERNARDO, 2012, p.25.
32
Assim como a maioria dos movimentos políticos ocorridos na história,
muitos artistas marcaram época com suas revoluções ao longo dos tempos. A
vanguarda11
teve seu termo deslocado para as artes pelos seus seguidores e
aplicado aos movimentos artísticos que produziram rupturas com modelos pré-
estabelecidos, estabelecendo relação entre formas antitradicionais de arte ou o
novo, nas fronteiras do experimentalismo.
Desta forma, com a crise política em 1930 na Europa, o movimento
moderno na arte sofreu grande impacto, porém, foi apenas na década de 1940
que suas regras básicas se modificaram com a derrota do fascismo, o início da
era nuclear e o começo da Guerra Fria. Em 1950 o realismo pictórico passou a
ser identificado com a repressão e o conservadorismo político, ao mesmo
tempo em que o modernismo se recuperava.
A arte das vanguardas apareceu cada vez mais conceitual e autônoma.
O modernismo do pós-guerra americano foi segundo Wood:
[...] uma escola de abstração gestual, pois os artistas da
época dependiam de uma convicção quanto à
autenticidade intuída e da necessidade de uma marca
autoral. Essa convicção, de que a singularidade de um
determinado traço, feito por aquele indivíduo, em resposta
a uma circunstância específica, precisamente por ser tão
verdadeiro e único, escapa à contingência e ascende a
um plano universal de sentimento [...] (WOOD, 2002,
p.17)
Com isso as obras de Robert Rauschenberg surgem de forma
impactante para a arte vanguardista. São obras complexas por possuírem
muitos elementos como fotografias, jornais, objetos descartados, detritos
automotivos e ainda muitos animais empalhados em uma só composição,
como se vê na obra mostrada na Figura 25. Segundo ele próprio, procurava
operar no limiar entre a arte e a vida. (WOOD, 2002, p.17).
11
De acordo com o dicionário Tate Gallery, vanguarda quando aplicado à arte significa arte que é inovadora,
introduzindo ou explorar novas formas ou assunto. Do francês Avant – garde, literalmente guarda avançada.
33
Figura 25-“Factum I e Factum II”
Robert Rauschenberg, 1957.
Óleo, nanquim, crayon, papel, tecido, reproduções de jornal e papel pintado sobre tela.
155,9 x 90,2 cm.
Fonte: WOOD, 2002p.18
As obras Factum I e Factum II (Figura 25) remetem-se à colagem, uma
vez que se repetem várias imagens em fotografias que ali foram coladas e
duplicadas. As marcas da arte propriamente dita são duplicadas, porém de um
modo específico, nas repetidas obras, cobertas de borrões e manchas, das
pinturas expressionistas abstratas. Segundo Wood (2004, p.18), a matéria
principal da obra é a institucionalização da espontaneidade.
No final da década de 1950 a luta pela autenticidade tornou-se um estilo.
A arte se volta para o pensamento mais uma vez, cujo significado é produzido
durante o trabalho com os conjuntos de convenções, e por meio de jogos
empreendidos com a linguagem à obra. Os artistas passam então a ter a
crença de que a arte visual era um meio sem utilidade para a criatividade e
para o pensamento.
1.5.1 Colagem e Dadaísmo
Raquel Branco (2011, p.15) afirma que o Dadaísmo foi um movimento
crítico e contestador, surge na Suíça e em várias partes do mundo por volta de
1915-1916. Rompe com todas as barreiras da arte brincando e ironizando com
tudo o que já havia existido e mesmo com suas próprias produções. A grande
regra era não ter regras, alega Branco, o caos é o que guiava os trabalhos e
manifestações dos artistas deste movimento.
34
O movimento Dadá apresenta-se, ao contrário de outras correntes
artísticas, como um movimento de crítica cultural mais ampla, que interpela não
somente as artes, mas modelos culturais, passados e presentes. Trata-se de
um movimento radical de contestação de valores que utilizou variados canais
de expressão: revistas, manifestos, exposições, entre outros. O dadaísmo
surgiu para destruir a noção de arte vinda do passado e propor a mais radical
interrogação sobre o que é arte.
Segundo “Colagens nos meios imagéticos contemporâneos”
(BERNARDO, 2012), os jovens estavam revoltados com a I Guerra Mundial e a
forma de demonstrarem sua insatisfação para com a sociedade era negar todo
o convencional da arte, tudo aquilo que fora, até então, imposto como padrão
estético. E é por meio da colagem que estes ideais antibelicistas tornaram-se
mais evidentes.
Como mencionado anteriormente, uma grande característica do
Dadaísmo era a crítica à arte tradicional. A Mona Lisa de Marcel Duchamp, na
Figura 26 abaixo, é um dos readymade12
mais conhecidos do movimento Dadá.
Com uma caneta ele brinca com um dos maiores ícones da arte clássica,
desenhando barba e bigode na obra Mona Lisa de Leonardo Da Vinci.
Figura 26- L.H.O.O.Q.
Marcel Duchamp, 1919/1930.
Lápis sobre reprodução de Mona Lisa.
Fonte: Souza, 2009, p.23.
12
ReadymadeS.m. [ARTES PLÁSTICAS] objeto comum, retirado do seu contexto habitual e tratado como
um objeto artístico.
35
Se tratando de Dadaísmo é inevitável falar de Duchamp sem mencionar,
mais uma vez, o fotógrafo Man Ray, cofundador do Dadá Nova-iorquino. Man
era um artista múltiplo, porém era bastante ligado à fotografia e, a partir disso,
começou a interligá-la com outras formas de arte. Na colagem mistura-a com
retratos, como a fotografia do livro "Une Semaine de Bonté" de 1934, de Max
Ernst13
(Figura 27):
Figura 27- Retrato de Max Ernst para "Une semaine de bonté"
Man Ray, 1934.
Fonte: Disponível em:<http://www.manray-
photo.com/catalog/product_info.php?cPath=32&products_id=974&osCsid=956bfd65692e31e2d
1ec3f5b2bfbe70b> Acesso em: 20 jun. 2014.
Outro artista muito influente no movimento Dadá foi Raoul Hausmann.
Artista austríaco, escritor e poeta, precursor do movimento Dadaísta na
Alemanha em 1918. Utilizava o pseudônimo “Der Dadasophe” e participava
dos grupos de Zurique e Berlim. Suas obras iam de colagens experimentais,
fotomontagens, esculturas, pinturas até poesia sonora, como na obra, “O crítico
de arte” (Figura 28):
13
Tate Gallery; Max Ernst era um pintor e escultor alemão que foi um grande artista do movimento surrealista.
36
Figura 28- O crítico de arte
Raoul Hausmann, 1919-20.
Litografia e colagem fotográfica sobre papel.
31,8 x 25,4 cm
Tate Modern, Londres.
Fonte: BERNARDO, 2012, p.31.
Ao observarmos a obra acima, podemos compreender alguma relação
comum a crítica política. As obras feitas com colagens deste tipo são de fácil
visualização, nos fazendo ter as mais diversas interpretações por meio das
imagens. De acordo com Eldger Bradley (2004 apud BERNARDO, 2012 p.31),
“os olhos do crítico estão cobertos, como se sua visão estivesse enfraquecida,
não podendo perceber nitidamente o objeto de sua crítica. Na parte posterior
da cabeça há uma cédula monetária que, enfiada no colarinho do crítico,
insinuaria um possível suborno”.
Nesta mesma época a artista Hannah Höch, segundo Bernardo (2012,
p.32) aparece muito importante para o Dadaísmo, e junto com Raoul, traz
novas possibilidades para o movimento. Embora algumas das obras de
Hannah retratassem a situação política da Europa naquela época e os
absurdos da guerra, Bernardo afirma que era a mulher a principal figura de seu
trabalho. Essa característica permaneceu em toda sua obra, ultrapassando sua
fase dadaísta.
Höch, segundo Bernardo (2012, p.32), refletiu o convívio entre a mulher
alemã moderna e a mulher alemã colonial, desafiando as representações
culturais femininas e levantando questões relativas à sexualidade e aos papéis
dos gêneros na nova sociedade. Suas imagens retratavam os medos,
37
possibilidades e expectativas para as mulheres na Europa moderna. Como a
obra “Da Dandy” (Figura 29), abaixo:
Figura 29- “Da-Dandy”
Hannah Höch, 1919- Colagem.
Bridgeman- Giraudon, Art Resource, NY (1889-1978).
Fonte: Site ArtSy, disponível em: <https://artsy.net/artwork/hannah-hoch-da-dandy> Acesso
em: 22 jun. 2014.
Mesmo com seus ideais, algumas fontes dizem que o movimento Dadá
teve seu fim em 1920, porém deixou um grande legado estabelecendo bases
para novos movimentos artísticos. Criou relações e inspirou o Surrealismo e a
Pop Arte nos próximos anos.
1.5.2 Colagem e Surrealismo
O Surrealismo surge por volta dos anos 1920, deriva do Dadaísmo por
ter como teoria o irracional, o inconsciente na arte. Muitas das obras são
figurativas e de muito rigor técnico; as representações quase que saem das
telas e entram na realidade. O foco são as ideias, os sonhos. (BRANCO, 2011,
p.17).
Segundo Bernardo (2012, p.36), os surrealistas tinham apreço pelo
método científico, o da psicologia, e aceitavam a realidade do mundo físico,
embora acreditassem tê-la transcendido.
Outra preferência dos surrealistas era a presença simultânea de temas
paradoxais e que frequentemente são retratados isolados, como, por exemplo,
dia e noite, palavra e imagem, silêncio e grito, nascimento e morte, calma e
38
confusão. Isto é uma maneira de reforçar a contradição surrealista e criar uma
nova tradição, alega Bernardo (2012, p.38).
No tópico anterior Man Ray foi citado em razão de mostrar sua
importância para a fotografia no meio dadaísta, porém, ao falar de Surrealismo
é preciso retomá-lo. Suas obras surrealistas eram fantásticas. A fotografia
estava muito presente em seus trabalhos surreais e o dadaísmo trouxe grande
parte da inspiração de Ray. Ele gostava de complementar suas habilidades, e,
por isso, mostrava o que não podia ser fotografado, ou seja, o que não existia e
era abstrato, como sonhos e pensamentos; desta forma gostava de fotografar
aquilo que já existia adicionando um pequeno toque do seu ponto de vista
artístico, como nas fotografias mostradas nas figuras 30 e 31, a seguir, sem
deixar de criar sua polêmica arte.
Figura 30- “Tears” Figura 31- “Le Baiser”
Man Ray, Paris,1930-1932.
Impressão em prata gelatinosa
Fonte: Coleção do Museu J. Paul
Getty, disponível
em:<http://www.getty.edu/art/gettyg
uide/artObjectDetails?artobj=44253
> Acesso em: 20 jun. 2014.
Man Ray, 1930.
Fonte: disponível em: <http://www.manray-
photo.com/catalog/product_info.php?cPath=32&products
_id=717&osCsid=956bfd65692e31e2d1ec3f5b2bfbe70b
> Acesso em: 20 jun. 2014.
Man Ray se encaixa na colagem com as fotografias acima, por adicionar
bolinhas de vidro no rosto feminino da modelo, ou seja, ele interfere naquilo já
existente e o torna outra coisa, dando outro significado à foto. Já na segunda
fotografia faz colagem por aproximar e juntar duas fotografias de bocas
femininas. Man Ray, como artista múltiplo que era, também situa na fotografia
de moda e desenvolve, em seu lado mais criativo, uma linguagem singular,
pois transmite a essência da alma feminina. A moda, como sempre, é um
39
reflexo de cada época e, depois da Primeira Guerra Mundial, ela mudou
gradativamente adaptando-se aos novos hábitos sociais.
Se tratando de Surrealismo e da representação feminina, Grete Stern foi
uma grande colaboradora para tal feito. Segundo Fernanda Pacheco (2012),
Stern era judia, nascida na Alemanha em 1904,teve que fugir de seu país
durante o nazismo, exilando-se na Argentina. Foi em 1936, em Buenos Aires,
que começou a deixar suas raízes germânicas para assumir sua nova
identidade nacional, o que passou a influenciar demasiadamente sua produção
artística. Mas foi em 1948 que começou o auge de sua carreira. Stern foi
convidada para ilustrar os sonhos das leitoras da revista feminina “Idilio”, na
coluna "El Psicoanálisis le Ayudará”, e, assim, por meio dos sonhos que as
leitoras contavam ela ia representando, por meio da colagem fotográfica, os
significados que contribuía a esses sonhos. Suas obras sempre traziam a
figura feminina como oprimida pela sociedade e injustiçada, deixando-a famosa
por sua irreverência, como se vê nas obras mostradas abaixo (Figuras 32 e
33):
Figura 32- “Amor sin ilusion” Figura 33- Sem título
Grete Stern, 1950.
Fotomontagem.
Publicação: Idilio n.64, 7 fev. 1950
26,5 x 20,7 cm
Fonte: Disponível em:
<http://www.museusegall.org.br/mlsItem.
asp?sSume=21&sItem=236>
Acesso em: 06 julho 2014.
Grete Stern, 1949.
Fotomontagem.
Publicação: Idilio n.15, 1 fev. 1949
20,6 x 28,4 cm. Fonte: Disponível
em:<http://www.museusegall.org.br/mlsItem.asp?s
Sume=21&sItem=236> Acesso em: 06 julho 2014.
Nas fotografias das figuras 32 e 33, acima, é de fácil percepção o
surrealismo das imagens. A primeira imagem chama a atenção para um
40
homem com cabeça de tartaruga, totalmente fora da realidade, mas que
transmite a ideia de alguém velho, parado nos costumes antiquados e
aparentemente agressivos. A segunda imagem chama a atenção para a força
feminina, pois a mulher é retratada carregando uma pedra quase que maior
que ela, simbolizando tudo aquilo que a mulher precisava aguentar na época, e
existe também a contradição com a fragilidade feminina presente na imagem.
O Surrealismo ainda influencia muitos artistas hoje em dia. Ele
permanece em cada obra que dá prioridade à subjetividade ou coloca a
investigação da mente como objeto, sendo consideradas obras com traços
surrealistas.
Ben Giles é um artista contemporâneo que utiliza colagens e fotografia
como forma de expressão. Segundo Laura Pulgarin (2013), ele faz trabalhos
com editoriais de moda entre outros. Tem como característica forte a mistura
da colagem utilizando imagens vintage14
, de moda com a natureza e, dessas
imagens criativas, faz uma narrativa harmoniosa em suas obras. Muitas vezes
se percebe flores muito coloridas em seus trabalhos, pois ele recorta várias
delas e as reorganiza na imagem. A natureza é muito presente em suas
fotografias; e as mulheres também. Giles traz muita expressão e um mix de
sentimentos, como na imagem da Figura 34, a seguir, feita para a revista
Kneon #10:
Figura 34- Sem título
Revista KNEON #10, Ben Giles, 2014.
Colagem sobre fotografia
Fonte: Site do artista, disponível em: <http://benlewisgiles.4ormat.com/leanne-collab>
Acesso em: 22 jun. 2014.
14
Vintage significa algo clássico, antigo e de excelente qualidade. Trata-se de um estilo de vida que recupera os estilos
dos anos 1920, 1930, 1940, 1950 e 1960, e aplica em vestuário, calçado, mobiliário e peças decorativas.
41
Outro artista que trabalha com referências das vanguardas é Charles
Wilkin. Seu trabalho a meu ver é parecido com o de Giles, porém possuem
estéticas bem diferentes. Wilkin também faz editoriais para revistas de moda e
tem a fotografia e a colagem como técnica expressiva, de acordo com suas
indicações em seu site oficial. Ele usa modelos, portando são fotografias de
rostos e corpos cobertos por colagens.
Segundo Deeksha Mehta (2014), as suas fotografias trazem uma
sensação de decomposição e decadência ao observador, e sua distorção e
reconstrução de traços faciais através de colagem faz referência a obras
modernistas de Picasso.
Atualmente a colagem tornou-se extremamente popular e artistas que a
utilizam, muitas vezes, incorporam referências da cultura pop e imagens de alta
moda para criar composições interessantes, alega Mehta (2014). No caso de
Wilkin, a sua concentração é na alteração de rostos e corpos, obtendo um
resultado ao mesmo tempo perturbador e cativante. Como na imagem da
Figura 35, a seguir:
Figura 35-“Everything I Know”
Charles Wilkin, 2013.
Colagem sobre papel
Fonte: Site do artista, disponível em: <http://www.charlesscottwilkin.com/?p=825>
Acesso em: 22 jun. 2014.
42
Franz Falckenhaus é um artista polonês interessado em fotografias,
colagens e cinema, é detalhista em cada uma de suas obras, segundo sua
indicação em seu site (2014). Ele mistura ilustrações, recortes e fotografias, e
cria pequenas histórias, remetendo sempre ao “vintage”, de acordo com a
revista Zupi (2012). Suas colagens são todas digitais, não se utilizando de
papel e cola para montar seu trabalho, como outros artistas.
A meu ver, a colagem quando usada como interferência no retrato
fotográfico, no caso das imagens abaixo (Figura 36 e 37), traz uma
característica surreal muito forte, pois são imagens de algo que não acontece
na realidade. O interessante destas imagens é o carácter imaginativo que nos
proporciona, e aquilo que representam. A imagem “Bullitt”, abaixo, nos dá a
impressão de que a garota não está ali, mas ao mesmo tempo temos a ideia do
vazio de sua alma. Já “Miss Pipe” nos traz muito movimento, uma mulher meio
máquina, sustentada e preenchida por algo que a completa dentro dos canos.
Figura 36- “Miss Pipe” Figura 37- “Bullitt”
Franz Falckenhaus, 2011.
Fonte: Site do artista, disponível em:
<https://www.flickr.com/photos/63011297@N0
2/8506322389> Acesso em: 23 jun. 2014.
Franz Falckenhaus, 2011.
Fonte: Site do artista, disponível em:
<https://www.flickr.com/photos/63011297@N0
2/9025938148> Acesso em: 23 jun. 2014.
Por fim, há outro artista contemporâneo, fotógrafo de moda e designer
gráfico, com trabalhos muito interessantes, Ernesto Artillo. Ele é um fotógrafo
de moda e editorial que faz o uso da colagem também com referências
43
surrealistas. Artillo é espanhol e mora em Madrid. Suas colagens possuem uma
característica forte para o artista, que usa a iconografia religiosa e deuses
antigos em suas imagens, alega a SOMA Magazine (2013).
Segundo a revista SOMA (2013), as colagens de Artillo são obras de
arte misteriosas e às vezes intrigantes em suas combinações de anatomia e
natureza, arte e geometria, formando um mundo mágico onde a nostalgia
encontra sensualidade, entregue em uma paleta sempre subjugada. Cada
imagem pode ser lida como uma reflexão pessoal sobre forma e cor,
aparentemente existente apenas para o prazer estético; mas em cima de uma
inspeção mais próxima essas imagens podem se comunicar profundamente
com seu público e se envolver com o olho do espectador.
Artillo declara para a revista SOMA (2013) que suas influências mais
fortes em sua arte vêm das pinturas renascentistas, da arte moderna de
Matisse e Picasso, e do folclore espanhol, mas só retrata suas inspirações
pessoais e sentimentos de amor e ternura.
Algo que pode ser notado nas obras mostradas nas figuras 38 e 39, a
seguir:
Figura 38- Sem título Figura 39- Sem título
Ernesto Artillo
Fonte: Disponível
em:<http://romeumag.blogspot.com.br/2014/01/
collage-artist-ernesto-artillo.html> Acesso em:
23 jun. 2014.
Ernesto Artillo
Fonte: Site do artista, disponível em:
<http://www.ernestoartillo.com/tagged/collab
oration> Acesso em: 23 jun. 2014.
44
Analiso a imagem da Figura 38 como totalmente lúdica, nos fazendo
pensar sobre o destino que o retratado possui, uma vez que seu rosto flutua
para fora de seu corpo e em seu interior há um único caminho. Remete-nos
aos sonhos e aspirações individuais. A imagem da Figura 39 possui um
sentimento mais forte, onde o homem em pedaços lamenta, chora, e existe na
obra uma profundidade, tanto das cores frias como o azul, quanto da forma e
desenho do que nos lembra um mar fluindo de dentro do corpo desse homem.
A referência religiosa se percebe na coroa de flores que o homem usa em sua
cabeça.
Desta forma é possível notar as inúmeras vertentes que o movimento
surrealista trouxe para a história da arte ao longo dos anos. Percebe-se sua
mudança estética e também o avanço de sua técnica, neste caso, da colagem.
1.5.3 Colagem e Pop Art
Branco (2011, p.20) conta que a Pop Art surgiu no Reino Unido e
Estados Unidos no final da década de 1950, possui uma estética marcante e se
espalhou por todo o mundo por consequência de sua popularidade. Apropriou-
se de grandes ícones da TV, da publicidade e dos quadrinhos, e aproveitou o
aumento do consumismo do grande público para vender e popularizar seus
trabalhos de arte.
Muitos artistas criavam suas obras utilizando latas de refrigerante,
embalagens de alimentos, histórias em quadrinhos, bandeiras, panfletos de
propagandas e outros objetos que serviram de base para a criação artística
deste período, uma vez que se utilizavam deste “lixo” criado pela mídia e o
ironizavam em forma de obra. Os artistas também trabalhavam com cores
vivas e modificavam o formato dos objetos que utilizavam. A técnica de
colagem, repetindo várias vezes um mesmo objeto, com cores diferentes, foi
muito utilizada. Os materiais mais usados pelos artistas da Pop Art eram
derivados das novas tecnologias que surgiam.
McCarthy (2002, p.6) ressalta que “a colagem apareceu primeiramente
como anúncio”, pois era a arte do pós-guerra identificada com signos,
45
consumismo e comunicação em massa. Um dos pôsteres mais importantes foi
o de Richard Hamilton, feito para a exposição “This isTomorrow” (“Este é o
Amanhã”), em 1956, na galeria de arte de Whitechapel de Londres. Este pôster
nos faz pensar o quão interessante é saber que a arte do pós-guerra, que mais
se identifica com consumismo, signos e comunicação em massa, tenha
aparecido na história da arte como um anúncio. Esse pôster (Figura 40) era
composto apenas de recortes das revistas populares, como se vê abaixo:
Figura 40- “O que exatamente torna os lares de hoje tão diferentes, tão atraentes?”
Richard Hamilton-1956.
Colagem.
Fonte: MCCARTHY, 2002, p.7.
Segundo David McCarthy (2002, p.8): “Hamilton chamava a atenção
tanto para as correntes da moda quanto para os muitos públicos cujo acesso
mais imediato à cultura visual não se dava através de museus e galerias, mas
sim de revistas populares”. Diz Mccarthy: “Ele tirou imagens preexistentes de
seus contextos originais e as transpôs, sem mudá-las para uma composição
nova”.(MCCARTHY, 2002, p.8).
McCarthy (2002, p.6) interpreta a colagem de Hamilton da seguinte
forma: “um mundo de fantasia consumista, disponível por um bom preço,
prometia uma fuga do enfadonho trabalho na vida do pós-guerra na Grã-
Bretanha”.
A meu ver o objetivo central do movimento era ironizar, criticar as
grandes massas e o capitalismo. As colagens em sua maioria faziam o uso de
imagens manipuladas pela mídia de artistas famosos e marcas importantes de
46
produtos. Segundo McCarthy (2002, p.10), a arte pop também era contra a arte
modernista.
Os artistas pop como Allen Jones e Peter Phillips demonstraram um
forte interesse por design chamativo e alusão erótica, cuja representação
misógina do nu feminino seria um objeto de ira feminista nos anos seguintes
(MCCARTHY, 2002, p.13). O que nos faz lembrar da ideologia do corpo
feminino tão explorado pela mídia e utilizada como tema por esses artistas.
Eles fazem críticas à grande massa que dita padrões de beleza impostos pela
mídia e revistas, vendendo a imagem de uma mulher sexualmente
comercializada.
A Pop Art deu a muitos artistas “[...] um vocabulário que podia ser
dirigido para vários fins, seja celebrando a cultura comercial, seja protestando
contra a agressão norte americano na Guerra Fria.” (MCCARTHY, p.13).De
acordo com McCarthy(2002, p.14),estavam vinculados a momentos de
mudança política e otimismo na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, quando
adotaram uma resposta positiva à tecnologia dos anos 1960. O avanço
tecnológico trouxe muitos benefícios e novas possibilidades de expressão para
a arte pop.
Com isso a arte pop mostra-se um dos movimentos centrais na arte
inglesa e norte americano, reconfigurando o entendimento da cultura do século
XX. Ela evitou a rigidez e as censuras de algumas manifestações do
modernismo em favor de uma arte que era visual e verbal, figurativa e abstrata,
criada e apropriada, artesanal e produzida em massa, irônica e sincera
(MCCARTHY, 2002, p.14). Eram tão complexos e dinâmicos quanto o
momento e os artistas que lhe deram vida, alega McCarthy.
2.5. Fotomontagem e Fotografia Digital
Pode-se definir a fotomontagem como “uma maneira de composição de
imagens que se utiliza da combinação de fragmentos visuais provenientes de
origens diversas, com características variadas, aplicados em um mesmo
suporte, criando um conjunto único.” (BERNARDO, 2012, p.54)
47
De acordo com André Rouillé (2009, p.326), foram os dadaístas alemães
Georg Grosz, John Heartfield, Raoul Hausmann e HannaHoch- quem, no final
dos anos 1910, primeiro recorreram à fotomontagem, em uma reação à pintura,
da qual denunciavam a abstração crescente, o vazio conceitual, a ruptura com
a realidade. Juliana Bernardo ainda afirma:
Estes artistas utilizavam o termo "fotomontagem" para designar
trabalhos constituídos total ou parcialmente por fotos reunidas
de maneira semelhante aos elementos de uma colagem. A
combinação dos fragmentos fotográficos passa a ser o
elemento básico na estruturação da imagem. O termo
‘montagem’ remeteria, para eles, a um trabalho mecânico ou
artesanal, numa crítica à arte tradicional. (BERNARDO, 2012,
p.58)
A fotomontagem para Raoul Hausmann “é considerada como uma forma
importante do realismo moderno e atribui o papel construtivo de conciliar uma
composição livre e estrita de imitação” (ROUILLÉ, 2009, p.327), que são duas
características heterogêneas da arte moderna. Já Laszlo Moholy-Nagy15
alega
que “enquanto o fotógrafo registra as aparências das coisas, o artista
fotomontador constrói uma nova unidade fotográfica com a ajuda de fotos
dadas ou escolhidas” (ROUILLÉ, 2009, p.328), portando se diferenciam
fotografia e fotomontagem.
Segundo Santaella (1994), as imagens são divididas em três categorias:
pré-fotográficas, fotográficas e pós-fotográficas, sendo que as imagens
técnicas englobariam as duas últimas. As imagens produzidas com o auxílio do
computador são colocadas entre as imagens pós-fotográficas. As colagens nas
imagens técnicas que derivam da fotografia são: fotomontagem, cinema e
colagem digital.
Atualmente existe a possibilidade de se fazer colagens e fotomontagens
com a ajuda da tecnologia de softwares em computadores, o que hoje em dia
nos confunde o olhar por serem bastante parecidas. A primeira câmera digital
da história foi desenvolvida em 1975 por Steve Sasson, engenheiro elétrico da
Kodak; a imagem era em preto e branco e demorava cerca de 23 minutos para
15
Tate Gallery. LaszloMoholy-Nagy foi um artista húngaro, designer, pintor, tipógrafo, fotógrafo, cineastra e teologista.
Muito influente nos movimentos vanguardistas como o dadaísmo e o construtivismo.
48
ser armazenada numa fita cassete (SOUZA; CARDOZA, 2009). Logo mais, em
1990, lançaram uma câmera digital comerciável, porém o custo era
elevadíssimo e foi um fracasso de vendas. Como hoje vemos o avanço que a
fotografia alcançou, percebe-se que mais tarde ela ganhou seu reconhecimento
por ser prática e de fácil armazenamento, deixando a fotografia analógica em
segundo plano.
Ao ler o artigo “Sensores de Imagem Digitais CCD E CMOS”, de Jhonata
Serra de Souza e Jorge Alexander Sosa Cardoza, observei que o
funcionamento da fotografia digital se dá a partir da sensibilização de um
sensor eletrônico (CCD ou CMOS), que converte a luz captada em código
eletrônico digital e armazena este código em um cartão de memória. As
imagens armazenadas no cartão podem ser vistas imediatamente através do
visor da câmera, geralmente de LCD, ou num computador, através da
transferência de dados do cartão para este ou, até mesmo, impressas
diretamente, pois há no mercado impressoras que imprimem imagens de
cartão de memória dispensando a intermediação do computador.
Uma vez no computador as imagens podem ser manipuladas. As
fotomontagens analógicas e digitais são muito similares, o que as diferencia
são os meios e os processos pelos quais são feitas. Como podemos ver nas
imagens a seguir:
Figura 41- Sem título Figura 42- “Deux”
Jerry Uelsmann, 1991.
Fotomontagem analógica.
Fonte: Site do artista, disponível em:
http://www.uelsmann.net/works.php
Acesso em: 25 jun. 2014.
Jon Duenas, 2014.
Fotomontagem digital.
Fonte: Site do artista, disponível em:
http://www.jonduenas.com/double-
exposures#10
49
Acesso em: 25 jun. 2014.
A imagem da Figura 41 é de Jerry Uelsmann, fotógrafo americano e
conhecido como o “mestre das montagens”, por ter um trabalho rico em
detalhes e de inacreditável composição surrealista. A técnica de Uelsmann era
a de juntar diversos negativos em uma só imagem e usar vários ampliadores já
preparados, passando o papel de um ao outro, de acordo com seu plano, até
completar a montagem. Já a imagem fotomontada na Figura 42 é digital,
portanto utiliza-se do programa Photoshop para conseguir fazer rapidamente
essas montagens. A fotomontagem de Duenas pode ser facilmente confundida
com a analógica, por existir a possibilidade de sobrepor as fotos, esse efeito é
criado quando se tira uma foto e, logo depois, mais uma, sem rodar o filme da
câmera, sem necessitar de edição pós-fotográfica.
Com a ajuda da tecnologia da fotografia digital, Nacho Ormaechea faz
colagens digitais muito interessantes. Ele é um artista parisiense, diretor de
arte espanhol radicado na França e designer gráfico. Suas colagens digitais
quase sempre nos levam para outra dimensão, como um portal para dentro da
cabeça das pessoas, vemos aquilo que parecem ser e o que pensam. Ele
utiliza-se de silhuetas de pessoas desconhecidas, que fotografa nas ruas de
Paris, e as preenche quase que totalmente com aquilo que, ele imagina que
devem estar pensando no momento. Como nas fotografias a seguir, da série
“Le Carnet Noir”:
Figura 43- Sem título 38 da série “Le
Carnet Noir”
Figura 44- Sem título 19 da série “Le Carnet
Noir”
NachoOrmaechea, 2012.
Colagem digital
NachoOrmaechea, 2012.
Colagem digital
50
Fonte: Site do artista, disponível
em:<http://www.ormaechea.eu/LCN>
Acesso em: 25 jun. 2014.
Fonte: Revista Beautiful/Decay, disponível
em:<http://beautifuldecay.com/2012/01/19/nacho-
ormaecheas-internal-portals/>
Acesso em: 25 jun. 2014.
A primeira imagem (Figura 43) nos traz a ideia de que a mulher está
sendo transportada para a dimensão do livro em que lê, uma paz e ternura é
sentida quando a imagem de um pôr-do-sol é colocada como preenchimento
de sua silhueta. Na segunda imagem (Figura 44) percebe-se que o jovem
retratado está pensando em “safadezas”, por lermos as palavras naughty
(safado) e party (festa) no letreiro colocado dentro de sua silhueta. Algo
interessante que Nacho nos traz também com essa série de colagens digitais é
o contraste entre o local onde as pessoas se encontram e aquilo que
supostamente elas pensam.
Outro artista recorrente das colagens digitais é Sinead Leonard, designer
de moda e ilustrador nova iorquino. Seus trabalhos têm referência nas
primeiras colagens feitas, pois nos dá a impressão de que foram feitas a mão,
embora sejam recortadas e coladas digitalmente. Por ser designer de moda,
suas imagens trazem a figura feminina quase sempre presente (Figuras 45 a
47). Nas colagens abaixo, Leonard fala das mulheres guerreiras, da cabeça
feminina e de sua alma:
Figura 45- “A Fight or Flight to
a Future Freshness”
Figura 46- “Mind Mapping” Figura 47- “Vitality”
Sinead Leonard, 2012.
Colagem digital.
Fonte: Disponível em:
<http://begseekandlausa.blog
spot.com.br/2012/04/fight-or-
flight-to-future-
freshness.html?view=flipcard
Sinead Leonard, 2012.
Colagem digital.
Fonte: Disponível em:
<http://begseekandlausa.blog
spot.com.br/2012/05/mind-
mapping.html?view=flipcard>
Acesso em: 25 jun. 2014.
Sinead Leonard, 2012.
Colagem digital.
Fonte: Disponível em:
<http://begseekandlausa.blog
spot.com.br/2012/05/blog-
post.html?view=flipcard>Aces
so em: 25 jun. 2014.
51
> Acesso em: 25 jun. 2014.
Leonard possui um trabalho muito vivo e bonito, assim como diz ser a
alma feminina. Ele representa as mulheres como sendo fortes e ainda tentando
mostrar-se socialmente. Na primeira imagem (Figura 45) ele envolve a mulher
naquilo que chama de zona de conforto, uma proteção rígida em meio à
fragilidade feminina, proteção essa perceptível através das texturas de conchas
e outros elementos marinhos. Na segunda imagem (Figura 46) ele retrata a
mente feminina, mostrando as inúmeras coisas que elas pensam e as
possibilidades de destinos diferentes. Retrata a dificuldade do pensar com a
palavra e a ação, retrata também aquilo que se pensa, mas não se diz. Na
terceira imagem (Figura 47) Leonard nos mostra uma mulher aparentemente
retraída e talvez insegura; por dentro veem-se suas cores, sua vitalidade na
vida. Ele potencializa e incentiva a mulher a olhar para si mesma e a descobrir
as suas cores e beleza interior.
Desta forma percebe-se o benefício que a tecnologia nos traz no ramo
fotográfico das fotomontagens e colagens digitais. Os artistas de hoje têm
inúmeras possibilidades de expressão com a fotografia, seja ela analógica ou
digital. Mesmo utilizando técnicas antigas, é completamente possível criar uma
obra contemporânea. E também é totalmente possível fazer-se o inverso, criar
obras através das tecnologias de hoje com características de antigamente.Com
isso a fotografia está cada vez mais ligada à arte, e cada vez mais ela se
reinventa na história do mundo.
52
2. A OBRA SÓ MENTE CORPO
Este capítulo está destinado a tratar da produção prática deste trabalho
de conclusão do curso de Artes Visuais. Começa com a descrição sobre a
escolha do tema e se desenvolve até a finalização das obras fotográficas
propostas.
2.1 A escolha do tema
Como foi dito na Introdução do presente trabalho, a inspiração do tema
ocorreu ao conhecer as ilustrações da artista francesa Paula Bonet, que retrata
o sentimento feminino de uma forma muito peculiar em seus desenhos e
grafites. A série fotográfica apresentada como finalização deste estudo foi
idealizada há um ano, quando, a partir de experiências com edição de imagens
digitais, veio à mente a ideia de retratar o íntimo das pessoas.
O retrato esteve sempre muito presente em minha forma de expressão,
tanto no desenho, quanto na pintura, portanto levei isso para a fotografia
também, além de me interessar muito pela junção da arte com a tecnologia.
Sempre muito curiosa sobre o comportamento das pessoas e de suas
personalidades, busquei por uma poética que me permitia mostrar o indivíduo e
não meramente sua aparência.
A escolha do retrato feminino se deu pela vontade de trazer um trabalho
sensível ao observador, e por ver as mulheres como dotadas de beleza e de
uma sensibilidade que eu poderia explorar. Com isso as coisas acabaram
“casando”. Porém, faltava ainda o íntimo: como mostrar as pessoas no seu
íntimo. Em resposta a isso ocorreu a ideia do nu fotográfico como uma forma
de acesso. Mas a ideia não era trabalhar apenas o nu artístico tradicional, que
corre o risco de chamar muito a atenção para o corpo e não para o íntimo que
eu buscava. Havia, portanto, ainda, a necessidade de encontrar um modo de
mostrar aspectos desse íntimo que não são visíveis na aparência, mesmo no
nu. A colagem e a fotomontagem apareceram como recursos que
possibilitavam trabalhar isso.
53
O corpo feminino nu expressando, com as interferências da colagem e
de fotomontagem, o sentimento individual de cada mulher, foi o grande desafio
do trabalho artístico. Para exercitar a capacidade de distinguir os sentimentos
por meio da manipulação das fotografias, decidi fotografar duas mulheres, o
que exigiria desenvolver modos de tornar singulares não apenas os seus
retratos, mas também a manipulação deles, de modo que as obras resultantes
dos retratos de cada uma das modelos se apresentassem com características
individuais próprias delas e distintas uma da outra.
2.2 Desenvolvimentos práticos
Antes de obter o resultado definitivo das obras, fiz vários testes de
imagens. Como as fotografias seriam impressas em grande formato, tive que
optar por uma qualidade bem alta dessas imagens, por isso fotografei tudo em
RAW16
. Esse tipo de formato de foto equivale ao negativo das câmeras
analógicas, mas não pode ser revelado da mesma forma por se tratar de um
arquivo digital. No processo de edição é possível alterar qualquer erro de luz
que possa ocorrer na imagem sem perder a qualidade e naturalidade da foto.
Usei o formato RAW para manter todas as informações que foram capturadas
no momento da foto pela câmera e, assim, tive mais controle na hora da edição
no computador. Neste caso fiz as edições com os softwares Adobe Photoshop
CS6 e Adobe Photoshop Lightroom 5.6.
Comecei fazendo um ensaio sem ajuda de equipamentos externos,
apenas com a luz ambiente e a câmera digital. Eu ainda não tinha um bom
conceito formado, nem noção de muitos dos problemas que enfrentaria para
realizar as fotografias. Assim, esse ensaio serviu como um ótimo teste inicial.
Abaixo algumas fotos resultantes dele:
16
Definição deRaw segundo o Dicionário Online Michaelis: RAW ,1material ou produto em bruto. 2 em estado
natural, não trabalhado.
54
Figura 48- Teste 01
Figura 50- Teste 03
Figura 49-Teste 02
Figura 51- Teste 04
Foi graças a esse ensaio que descobri o que realmente queria trazer
como proposta para meu trabalho final. Descobri que precisava de um local
maior, pois fotografei na casa da modelo e não sabia que o espaço era
pequeno. Usei a lente 50mm, que necessita respeitar uma distância específica
entre a câmera e o fotografado para dar foco, e sendo o espaço pequeno,
fiquei limitada demais para fazer boas angulações. Além disso, queria controlar
mais a luz do ambiente, o que era complicado fora de um estúdio.
As manipulações digitais feitas nas Figuras 48 e 51 foram sobreposições
da mesma imagem em tamanhos diferentes, porém nas Figuras 49 e 50 foram
inseridas outras fotografias, feitas por mim anteriormente a esse ensaio. Essas
manipulações também foram experimentações que ajudaram a compreender
os efeitos obtidos.
2.3 Conceito
As fotografias mostradas no próximo tópico ilustram o conceito deste
trabalho de forma que retratam o sentimento feminino. Para chegar a este
55
conceito precisei observar ainda mais as pessoas à minha volta, principalmente
as mulheres. Considerando aquilo que disse na Introdução deste trabalho, as
mulheres são dotadas de beleza e sensibilidade, porém vistas muitas vezes de
forma pejorativa. A mulher desde muito tempo foi tratada como ser inferior e
fraco, que servia apenas à família e marido, mas nos tempos atuais essa
situação já mudou drasticamente. As mulheres têm direito à sua liberdade e
podem mais do que em outras épocas, realizar seus desejos e ser elas
mesmas.
Mesmo com essa “liberdade”, ainda há resquícios machistas e
tradicionais na sociedade em que vivemos, o que pode ser lido na mídia e,
principalmente, nas fotografias, como as publicitárias de moda, beleza e saúde.
Fotos essas que muitas vezes vendem uma ilusão, uma falsa verdade sobre
aquilo que as mulheres podem se tornar. E com a tecnologia e o avanço de
softwares de edição de imagem ficou ainda mais fácil moldar essas mulheres e
criar novos padrões de beleza. São fotografias que retratam mulheres com a
pele perfeita, cabelo, sorriso, corpo em forma, enfim, atributos de um ser
perfeito, que sabemos não existir.
A ideia era retratar mulheres comuns, com corpos comuns e únicos,
mulheres com alma e sentimentos, mulheres de verdade. Queria fugir também
de algo feminista e que batesse de frente com os ideais publicitários, pois a
proposta não foi criticar e banalizar essas fotografias, mas sim mostrar outros
tipos de mulheres. Desta forma retratei duas mulheres diferentes, interpretando
alguns sentimentos comuns. Algo como a feminilidade, a leveza, o belo e o
drama, o pesado e a tristeza.
Como a ideia era mostrar aquilo que sentimos, as roupas e qualquer
outro objeto comum não teriam o porquê estar na composição, pois era o
indivíduo, seu sentimento e expressão corporal que importavam. Já que,
também, o que mais se explora na fotografia é o corpo feminino, é muito
comum ver mulheres seminuas em propagandas e anúncios, onde a imagem
delas é sexualmente comercializada. Por isso quis usar o nu de forma não
56
erotizada, a fim de mostrar a sensualidade feminina de outras formas, como
algo natural.
2.4 Processos de produção.
Como a ideia era ter mais controle da luz, dos elementos presentes nas
imagens e, também, trazer conforto às pessoas fotografadas durante a sessão,
optei por fotografar em estúdio. O primeiro local usado foi o estúdio da
Universidade Anhanguera Uniderp, onde fotografei a primeira modelo. Eu
nunca tinha fotografado em estúdio antes, porém fiquei muito satisfeita com o
resultado de ambos os ensaios. O segundo local foi alugado, utilizei o estúdio
de um fotógrafo. Os locais, apesar de serem estúdios parecidos, possuíam
equipamentos e iluminação diferenciada, mas nada que afetasse drasticamente
as fotografias. Como vemos a seguir:
Figura 52- Estúdio Semelhante ao da Uniderp Figura 53- Estúdio do fotógrafo
Usei dois pontos de luz e o fundo branco refletido em ambos os
estúdios, pois eu queria que os corpos das modelos ficassem bem nítidos para
que depois, na pós-produção, eu conseguisse recortar as imagens com
eficiência. Porém o segundo ensaio teve uma luz menos dura e mais
dramática, mas não interferiu em nada na pós-produção. Tirei
aproximadamente 350 fotos de cada modelo em cada ensaio para que depois
pudesse escolher as melhores fotos pra utilizar na edição e composição das
fotografias.
Desta forma utilizei o Adobe Photoshop Lightroom 5.6 para a correção
de luz, contraste, brilho, saturação e para realizar alguns outros pequenos
efeitos adicionais que deixaram minhas fotografias em preto e branco. Como o
57
programa é compatível com o Adobe Photoshop CS6, eu apenas transferi as
fotografias para poder trabalhar as montagens e colagens nesse software,
coisa que o Lightroom não faz.
Podemos entender as edições feitas detalhadamente no processo
abaixo:
Figura 54- Edição de luz e saturação no Lightroom (Antes e Depois)
Na Figura 54, acima, mostro o Antes e Depois de um processo de uma
das obras finais deste trabalho. A foto da esquerda mostra o antes, que era
colorido e que depois, à direita, tornou-se preto e branco, porém ainda
continuou com algumas partes originais da fotografia. Para fazer esse efeito eu
utilizei a ferramenta responsável pela saturação das fotografias, chamada
Saturação, e dentro dela diminuí as cores de pele, cabelo e fundo, deixando
apenas as cores da coroa de flores aparente (Figura 55).
Figura 55- Exemplo do uso da ferramenta Saturação no Lightroom
58
Depois desse processo eu importei a imagem (Figura 56) em preto e
branco para o software Adobe Photoshop CS6, pois para manipulação
fotográfica ele é o ideal. Apenas clicando com o botão direito do mouse sobre a
foto e encontrando as opções “Edit In” e logo depois “Edit in Adobe Photoshop
CS6”, a fotografia aparece no software Photoshop CS6.
Figura 56- Importando para o Photoshop Figura 57- Duplicando Layer
Já aberta a imagem, resolvi balanceá-la espelhando-a. Então selecionei
a fotografia desejada e fiz uma cópia da imagem duplicando o Layer (Figura
57); logo depois usei a ferramenta “FreeTransform” (Figura 58) para espelhar a
fotografia virando-a na horizontal, ao contrário da foto original (Figura 59). Essa
ferramenta também é usada para ajeitar o tamanho da imagem e rotação da
mesma.
59
Figura 58- Processo efeito espelhado Figura 59- Efeito espelhado
Apaguei algumas partes da fotografia (Figura 59), pois havia diminuído a
opacidade da mesma para que os fundos não se sobrepusessem. Desta forma
resolvi adicionar o elemento final que traria mais característica, dando mais
sentido à composição. Este elemento foi a imagem de uma rosa de tecido
(Figura 61), tirada por mim de um arranjo, em alta resolução, para que não
perdesse qualidade na hora da impressão da obra. Apenas abri a foto em um
novo arquivo do Photoshop CS6 e, com os dois arquivos abertos (A foto
espelhada e a flor), arrastei com o mouse a flor para o arquivo da foto
espelhada, onde usando a ferramenta “FreeTransform” ajeitei o tamanho e a
rotação que queria. Por fim dupliquei mais duas vezes a layer da flor, e
organizei agora as três layers de flores, para compor a nova fotografia, obtendo
o resultado final (figura 60).
Figura 60- Edição concluída Figura 61-Fotografia de flor em alta
resolução
60
Salvei a imagem em alta resolução, pois foi impressa no tamanho 50 cm
por 60cm e depois emoldurada.
O segundo ensaio fotográfico também passou por edições parecidas
com as da fotografia acima, conforme é detalhado a seguir:
Figura 62- Aplicando Preset Preto e Branco Figura 63- Antes e Depois do efeito preto e
branco
Primeiramente usei o software Adobe Photoshop Lightroom 5.6 para as
edições básicas como cor, contraste e exposição, entre outros. Assim,
escolhida imagem eu apliquei o que no Ligthroom é chamado de Preset, que
são os efeitos prontos para as fotografias; neste caso apliquei o B&W Contrast
High dos efeitos de Preto e Branco (Figura 62). Depois escureci um pouco o
preto, como pode ser visto na Figura 63, onde é mostrado o Antes e Depois da
imagem. Feito isso, abri a fotografia importando-a, da mesma forma mostrada
nas edições do primeiro ensaio, e assim comecei as manipulações no
Photoshop CS6.
Além desta primeira imagem, importei também uma segunda que já
havia aplicado o preset preto e branco (Figura 64) para poder mesclar as duas
fotografias no Adobe Photoshop CS6. Apliquei um efeito chamado “Hard Light”
na primeira (Figura 65) e depois na segunda foto (Figura 66), a fim de
aumentar o contraste entre o preto e o branco, além de iluminar as fotografias
para que na hora de diminuir a opacidade de ambas a foto não ficasse com
muito fundo para ser removido. Sendo assim fiz um efeito chamado de
61
Transparência, no qual com pouca opacidade duas fotos se mesclam só por
serem colocadas uma sobre a outra.
Figura 64-Preset P&B Figura 65-Aplicando efeito Hard Light
Depois de mesclar as fotografias resolvi recortar a silhueta da modelo
para que quando fosse adicionar as flores de tecido vermelho elas não
fugissem para o fundo da imagem, sendo assim criei uma máscara (Figura 67).
Usei a ferramenta de seleção rápida “Quick Selection Tool” para delimitar a
área onde eu queria que as flores ficassem e, então, deletei.
O próximo passo foi adicionar as flores e agrupá-las de forma que
ficassem harmônicas na composição (Figura 68). Logo depois adicionei o efeito
“Screen” (Figura 68) em todas as layers duplicadas. E por fim juntei todas as
layers e edições, obtendo o resultado que esperava para a finalização do
trabalho (Figura 69).
Figura 66- Efeito “Hard Light” Figura 67- Aplicando máscara
62
Figura 68- Aplicando efeito “Screen” Figura 69- Edição final
2.5 Análises das obras
Como etapa final deste trabalho, apresento as obras finalmente
definidas. Depois de muito tempo de pesquisa, análise de referências e testes,
finalizei os conceitos e técnicas. As obras a seguir apresentam características
sentimentais e conceituais sobre a minha visão de feminilidade e sua relação
com sentimentos. Essa subjetividade é importante no meu trabalho, mesmo
ciente de que as minhas interpretações não serão exatamente iguais às dos
observadores.
Figura 70- Dupla Mente
A obra “Dupla Mente” (Figura 70) remete a uma ideia de duplicidade de
pensamentos, como quando alguém pensa demais ou reage de formas muito
63
diferentes umas das outras, podemos dizer que esta pessoa é dupla. Podemos
dizer que existem dois seres dentro de um só. A expressão da modelo é fixa,
não sorri e seu olhar está parado em direção ao vago, porém, mesmo assim a
imagem é carregada de serenidade e feminilidade. Ao usar a flor rosa como
elemento símbolo feminino procurei trazer à tona a natureza e linkar o simples
e natural com a beleza da flora, dizer que a mulher como ela é não foge do
natural. E nesta imagem a mulher está no meio das flores, de forma
harmoniosa, como se pertencesse ao meio.
Figura 71- Anseio
Na obra “Anseio” (Figura 71) eu ainda continuo a mesclar o feminino
com a natureza, com a beleza daquilo que existiu desta forma. A imagem
acima traz o significado de que a natureza existe dentro de cada mulher, elas
possuem suas próprias flores em seu interior. A beleza da imagem aflora
quando interpreta-se que é o retrato da mulher olhando para dentro de si
mesma e aceitando seu jeito natural de ser.
64
Figura 72- Flor menina
“Flor menina”, (Figura 72) se vista de longe parece ser as pétalas das
rosas e o órgão reprodutor da flor, transformando-se em uma planta. Aqui
venho falar da pureza feminina, daquilo que tem a ver com o sexo e seus
vários sentidos. Neste caso têm-se a impressão de uma virgem, uma deusa
movendo-se por entre as flores, mas ao mesmo tempo a vemos leve e com
movimentos gentis. Apenas confortavelmente em seu estado de espírito.
Figura 73- Doa o que doação
A obra mostrada na Figura 73 é muito mais rica em expressões e
sentimentos do que as anteriores. Nela vemos o sofrimento, porém a doação
65
consciente e serena. O título refere-se à expressão: “Doa a quem doer”; porém,
aqui ressalto que, mesmo que estejamos machucados, nós não deixamos de
doar e de amar. As transparências de flores foram idealizadas para que as
ligássemos à ideia de tristeza, porém não se comportava como algo ruim, mas
sim.
Figura 74- Petrificada
A obra “Petrificada” (Figura 74) traz consigo a ideia de desilusão. Traz
características da natureza ainda com a sobreposição de pedras e de galhos
secos, ambos retratando a frieza e a falta de carinho. Nesta obra a modelo se
comporta como se tivesse sido despejada, tratada mal e, assim sofrendo, o seu
coração foi se enrijecendo como uma pedra, dura e imóvel que é.
Figura 75- Desejo em pedaços
66
Esta última obra fotográfica (Figura 75) retrata a frustração, o
desequilíbrio e a dor de desejar e não obter aquilo que se almeja. “Desejo em
pedaços” é dotada de expressão e drama, onde o sofrimento permanece em
grande parte das interpretações. Por mais que as fotografias tenham caráter
dramático, elas não são tristes e nem arranham aos nossos olhos. É como se
casassem harmonicamente dentro da composição.
Foi remetendo sempre ao belo e à natureza que construí o meu conceito
sobre esses sentimentos femininos. E a partir disso quis mostrá-los para que
todos pudessem, ao ver, entende-los dentro de si mesmos. A natureza é
naturalmente bela, as mulheres também. O fato de sentirem com o coração é o
que nos diferencia. E assim, só nos resta viver plenamente.
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Martins; fábio mira ar elemento de poética
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Moreira; daniel augusto nunes linhas delicadas
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Tcc 2014 beatriz demirdjian

  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL BEATRIZ DEMIRDJIAN SAMPAIO JORGE SÓ MENTE CORPO CAMPO GRANDE – MS 2014
  • 2. BEATRIZ DEMIRDJIAN SAMPAIO JORGE SÓ MENTE CORPO: Retratos da sensibilidade feminina Relatório de pesquisa apresentado para fins de avaliação parcial para obtenção do grau de Bacharel em ArtesVisuais. Orientação:EluizaBortolottoGhizzi Coorientação:RenanKubota CAMPO GRANDE – MS 2014
  • 4. UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL BEATRIZ DEMIRDJIAN SAMPAIO JORGE SÓ MENTE CORPO: Retratos da sensibilidade feminina Relatório de pesquisa apresentado para fins de avaliação parcial para obtenção do grau de Bacharel em ArtesVisuais. Orientação:RenanKubota Coorientação:EluizaBortolottoGhizzi Campo Grande, MS, _____ de __________________ de 2014. COMISSÃO EXAMINADORA __________________________________________________ Profª. Eluiza BortolottoGhizzi Universidade Federal de Mato Grosso do Sul __________________________________________________ Prof. Renan Kubota Universidade Federal de Mato Grosso do Sul __________________________________________________ Prof.ª. Priscilla de Paula Pessoa Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
  • 5. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus por me guiar em meus caminhos, por me consolar nos tempos de dúvida e por me fazer acreditar que isto seria possível. Agradeço também às amigas Taíza e Ludmila que confiaram em mim e se voluntariaram para posar em prol da execução deste trabalho que não existiria sem a cooperação delas. Agradeço à minha família que me apoiou e apoia sempre que possível, aos meus pais, principalmente, por me incentivarem e me encorajarem sempre que preciso. Agradeço também aos meus professores por compartilhar o seu vasto conhecimento comigo de maneira bem interessante e voluntariosa. A todos, o meu muito obrigada.
  • 6. RESUMO O presente trabalho teve como objetivo desenvolver uma pesquisa teórico- prática voltada para a busca de uma poética pessoal na realização de uma obra artística capaz de expressar sentimentos femininos por meio da fotografia digital, da arte da colagem e da fotomontagem. As obras que resultaram desse trabalho expressam esses sentimentos femininos, por meio de retratos inspirados esteticamente no Dadaísmo, no Surrealismo e na Pop Art. No desenvolvimento da pesquisa teórica recorremos à história do retrato e do nu na fotografia, às vanguardas europeias nas artes plásticas, com foco nas colagens e na fotomontagem, à arte digital, especialmente a fotografia e as técnicas de colagem digital. Pesquisamos artistas cujos trabalhos nos ajudaram a confirmar ideias e argumentos. O resultado artístico é um conjunto de retratos fotográficos de mulheres, manipulados posteriormente por meio da técnica de colagem digital. Palavras chave: Fotografia Digital. Retrato Feminino. Colagem Digital. Manipulação Fotográfica.
  • 7. ABSTRACT This study aimed to develop a research focused on the pursuit of a personal poetic in carrying out a work of art can express female feelings through digital photography, collage and photomontage theory and practice. The works that resulted from this work express these feminine feelings through pictures aesthetically inspired in Dadaism, Surrealism and Pop Art. In developing the theoretical research we turn to the history of portraiture and the nude in photography, the European avant-garde in the plastic arts, focusing on collage and photomontage, digital art, especially photography and digital collage techniques. Researched artists whose work helped confirm the ideas and arguments. The artistic result is a series of photographic portraits of women, later manipulated by the technique of digital collage. Keywords: Digital Photography. Female Portrait. Digital Collage. Photography Manipulation.
  • 8. LISTA DE FIGURAS Figura 1 “View from the window at Le Gras”............................................................................. 16 Figura 2 Autorretrato de Robert Cornelius............................................................................16 Figura 3 Retrato de Louise Gamet........................................................................................17 Figura 4 “I’instante décisif”....................................................................................................19 Figura 5 “Les Arquives”..............................................................................................................20 Figura 6 Série “Poland”........................................................................................................22 Figura 7 Série “Poland”.......................................................................................................22 Figura 8 “Girls I” Bianca.............................................................................................................22 Figura 9 “Girls I” Sem título........................................................................................................22 Figura 10 “Girls I” Ivette Febrero..............................................................................................23 Figura 11 “Girls I” Katrina Franco Nicole..................................................................................23 Figura 12 “Deux II”.....................................................................................................................23 Figura 13 Sem título...................................................................................................................23 Figura 14 “Diana and Actaeon”..................................................................................................24 Figura 15 “Le Violon d'Ingres”....................................................................................................26 Figura 16 “Natasha”...................................................................................................................26 Figura 17 “Andy with hoops”......................................................................................................26 Figura 18 ”Distortion”.................................................................................................................27 Figura 19 “Nude”........................................................................................................................28 Figura 20 “Naked New York”.....................................................................................................28 Figura 21 Gorgona da série “Genre”.........................................................................................29 Figura 22 “Дикие локоны падают гривой” da série “Nude”.....................................................29 Figura 23 Fruteira e Copo.........................................................................................................31 Figura 24 Copo e Garrafa de Suze...........................................................................................31 Figura 25 “Factum I e Factum II”.............................................................................................. 33 Figura 26 “L.H.O.O.Q.”..............................................................................................................34 Figura 27 Retrato de Max Ernst para "Une semaine de bonté”.................................................35
  • 9. Figura 28 O crítico de arte..................................................................................................36 Figura 29 “Da Dandy”................................................................................................................37 Figura 30 “Tears”.......................................................................................................................38 Figura 31 “Le Baiser”.................................................................................................................38 Figura 32 “Amor sin ilusion”.......................................................................................................39 Figura 33 Sem título..................................................................................................................39 Figura 34 Sem título..................................................................................................................40 Figura 35 “Everything I Know”...................................................................................................41 Figura 36 “Miss Pipe”.................................................................................................................42 Figura 37 “Bullitt”........................................................................................................................42 Figura 38 Sem título...................................................................................................................43 Figura 39 Sem título...................................................................................................................43 Figura 40 “O que exatamente torna os lares de hoje, tão atraentes?”......................................45 Figura 41 “Sem título”................................................................................................................48 Figura 42 “Deux”........................................................................................................................48 Figura 43 Sem título 38 da série “Le Carnet Noir”.....................................................................49 Figura 44 Sem título 19 da série “Le Carnet Noir”.....................................................................49 Figura 45 “A Fight or Flight to a Future Freshness”...................................................................50 Figura 46 “Mind Mapping”..........................................................................................................50 Figura 47 “Vitality”....................................................................................................................50 Figura 48- Teste 01...............................................................................................................54 Figura 49- Teste 02..............................................................................................................54 Figura 50- Teste 03..............................................................................................................54 Figura 51- Teste 04..............................................................................................................54 Figura 52- Estúdio Semelhante ao da Uniderp........................................................................56 Figura 53- Estúdio do fotógrafo.............................................................................................56 Figura 54- Edição de luz e saturação no Lightroom (Antes e Depois)......................................57 Figura 55- Exemplo do uso da ferramenta Saturação no Lightroom........................................57
  • 10. Figura 56- Importando para o Photoshop..............................................................................58 Figura 57- Duplicando o layer...............................................................................................58 Figura 58- Processo efeito espelhado.......................................................................................59 Figura 59- Efeito espelhado.....................................................................................................59 Figura 60- Edição concluída...................................................................................................59 Figura 61- Fotografia de flor em alta resolução.......................................................................59 Figura 62- Aplicando preset preto e branco...........................................................................60 Figura 63- Antes e Depois do efeito preto e branco................................................................60 Figura 64- Preset P&B..........................................................................................................61 Figura 65- Aplicando efeito Hard Light...................................................................................61 Figura 66- Efeito “Hard Light”................................................................................................61 Figura 67- Aplicando máscara................................................................................................61 Figura 68- Aplicando efeito “Screen”........................................................................................62 Figura 69- Edição final..........................................................................................................62 Figura 70- Dupla Mente.........................................................................................................62 Figura 71- Anseio..................................................................................................................63 Figura 72- Flor menina............................................................................................................64 Figura 73- Doa oque doação................................................................................................64 Figura 74- Apedrejada..........................................................................................................65 Figura 75- Desejo em pedaços..............................................................................................65
  • 11. SUMÁRIO INTRODUÇÃO..............................................................................................................12 1 O RETRATO DA HISTÓRIA......................................................................................15 1.2 Introduções ao Retrato.........................................................................................15 1.3 O Retrato Fotográfico nos Séc. XX e XXI............................................................18 1.4 O Nu Fotográfico...................................................................................................24 1.5 Colagens nas Vanguardas Europeias.................................................................30 1.5.1 Colagem e Dadaísmo...........................................................................................33 1.5.2 Colagem e Surrealismo........................................................................................37 1.5.3 Colagem e Pop Art...............................................................................................44 1.6 Fotomontagem e Fotografia Digital.....................................................................46 2 A OBRA SÓ MENTE CORPO...................................................................................52 2.1 A escolha do tema.................................................................................................52 2.2 Desenvolvimentos práticos..................................................................................53 2.3 Conceito.................................................................................................................54 2.4 Processos de produção........................................................................................56 2.5 Análises das obras................................................................................................62 CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................67 REFERÊNCIAS.............................................................................................................69 APÊNDICE A – Portfolio..............................................................................................72
  • 12. 12 INTRODUÇÃO O presente trabalho acadêmico tem como tema o retrato feminino. A partir da técnica de colagem digital e da fotomontagem inspirada nas vanguardas europeias, principalmente no Surrealismo, no Dadaísmo e na Pop Art, as fotografias foram pensadas e editadas. A inspiração do tema ocorreu ao conhecer as ilustrações da artista francesa Paula Bonet, que retrata o sentimento feminino de uma forma muito peculiar em seus desenhos e grafites. A série fotográfica que resultou desta pesquisa foi idealizada há um ano, quando, a partir de experiências com edição de imagens digitais, veio a ideia de retratar o íntimo das pessoas. O retrato esteve sempre muito presente em minha forma de expressão, tanto no desenho, quanto na pintura, portanto levei isso para a fotografia também, além de me interessar muito pela junção da arte com a tecnologia. Sempre muito curiosa sobre o comportamento das pessoas e de suas personalidades, busquei por uma poética que me permitisse mostrar o indivíduo e não meramente sua aparência. A escolha do retrato feminino se deu pela vontade de trazer um trabalho sensível ao observador, e por ver as mulheres como dotadas de beleza e de uma sensibilidade que eu poderia explorar. Com isso as coisas acabaram “casando”. Porém, faltava ainda o íntimo: como mostrar as pessoas no seu íntimo. Em resposta a isso ocorreu a ideia do nu fotográfico como uma forma de acesso. Mas a ideia não era trabalhar apenas o nu artístico tradicional, que corre o risco de chamar muito a atenção para o corpo e não para o íntimo que eu buscava. Havia, portanto, ainda, a necessidade de encontrar um modo de mostrar aspectos desse íntimo que não são visíveis na aparência, mesmo no nu. A colagem e a fotomontagem apareceram como recursos que possibilitavam trabalhar isso. O corpo feminino nu expressando, com as interferências da colagem e de fotomontagem, o sentimento individual de cada mulher foi o grande desafio do trabalho artístico. Para exercitar a capacidade de distinguir os sentimentos por meio da manipulação das fotografias, decidi fotografar duas mulheres, o que exigiria desenvolver modos de tornar singulares não apenas os seus
  • 13. 13 retratos, mas também a manipulação deles, de modo que as obras resultantes dos retratos de cada uma das modelos se apresentassem com características individuais próprias delas e distintas uma da outra. Foi feito um grande número de fotografias e, ao final, foram escolhidas as seis melhores fotos. Fotografar o corpo nu em preto e branco – outra decisão tomada durante o processo -, fez com que as formas dos corpos fossem valorizadas e, assim, a luz e a sombra poderiam ser mais bem trabalhadas nas obras, trazendo a suavidade que eu procurava. As interferências com a colagem e a fotomontagem foram realizadas em cores, o que ajudou a ressaltar o sentimento das mulheres retratadas. As obras, ao final, propõem uma interpretação da artista daquilo que são esses sentimentos. A pesquisa acontece em três momentos: primeiramente, a parte teórica, envolvendo estudos de elementos plásticos e referências visuais de artistas, de acordo com os temas estudados; depois, o desenvolvimento dos recursos visuais a serem trabalhados e, por fim, o desenvolvimento prático de uma série de fotografias, que foram manipuladas digitalmente com recursos de colagem digital e fotomontagem. Este texto está organizado em dois capítulos, nos quais, o primeiro refere-se à história da fotografia, que é traçada de forma cronológica mostrando a evolução da tecnologia na técnica fotográfica. A partir disso, nota- se a fotografia entrelaçada com a história da arte a todo o momento. No decorrer da leitura deste texto, o tema do trabalho vai sendo construído e analisado. Veem-se os sentimentos da mulher como tema principal do trabalho, não deixando de comentar sobre o indivíduo, o corpo, e sua relação com a mente e esses sentimentos mais profundos. A feminilidade e delicadeza também são um ponto fortemente transcorrido no texto. Já o segundo capítulo, trata-se da produção fotográfica e pós-fotográfica das obras. As técnicas utilizadas são apresentadas e explicadas de forma que tenham sentido comparadas com os conceitos analisados no primeiro capítulo. Logo também, se demonstra todo o processo prático envolvido no trabalho
  • 14. 14 para depois ser apresentada uma conclusão do mesmo para este trabalho ter sido realizado com êxito.
  • 15. 15 O RETRATO DA HISTÓRIA 1.2 Introduções ao Retrato Quando falamos de retratos, logo nos vêm à mente uma imagem de alguém ou um grupo de pessoas com suas variadas características. Essa imagem é relacionada com os primeiros retratos feitos antigamente, pois o surgimento desta prática é um fato muito marcante na história da arte, onde a burguesia pedia aos mais famosos pintores para retratarem suas famílias. Segundo o livro “Um retrato de Giacometti”, de James Lord: O retrato é a representação de uma figura individual ou de um grupo, elaborada a partir de modelo vivo, documentos, fotografias, ou com o auxílio da memória, o retrato (do latim retrahere, copiar) em seu sentido primeiro ligado à ideia de mimese. Por essa razão, foi muito utilizado nas academias e escolas de arte para o aprendizado do ofício e domínio da técnica no século XIV. (LORD, 1998, p.159) O retrato, na história da fotografia foi muito utilizado, inicialmente, como base para a pintura. Posteriormente a fotografia começou a ter sua expressão própria. A fotografia não começou com um único criador. Ao longo do tempo muitas pessoas agregaram conceitos e processos, dando origem à fotografia. No início desse período está à câmara escura, criada por Giovanni Della Porta 1 , em 1558. A primeira fotografia reconhecida é uma imagem produzida em Saint Loup de Varennes, pelo francês Joseph Nicéphore Niépce, em 1826. A imagem foi produzida com uma espécie de câmera não convencional, sendo exigidas oito horas de exposição à luz do sol. O processo ficou conhecido como “heliografia”, o que significa gravura com a luz (Figura 1). 1 Outras fontes tomam o físico árabe, conhecido por Alhazen, como verdadeiro descritor da câmara escura. Nascido em 965 a.C. no que hoje conhecemos como Iraque, Alhazen foi nomeado pai do método científico moderno. Sua relação com a câmara escura advém de seus estudos sobre o fenômeno dos corpos celestes no horizonte epelas observações sobre os fenômenos da refracção da luz.
  • 16. 16 Figura 1-“View from the window at Le Gras” Joseph NicéphoreNiépce, Paris, 1826. Fonte: LEMAGNY; ROUILLÉ, 1988, p.16. Partindo desse mesmo princípio, outro francês, chamado Louis Jacques Mandé Daguerre, cria uma câmara escura com outros efeitos especiais, chamada de “diorama”, que era usado para deixar desenhos com aspectos mais realistas. Estes dois inventores ficam, então, responsáveis pelo pioneirismo da fotografia. Anos mais tarde, o retrato se pronuncia efetivamente em 1839 com a imagem do autorretrato do químico Robert Cornelius, considerado o primeiro retrato fotográfico da história (Figura 2). Figura 2- Autorretrato de Robert Cornelius Robert Cornelius, Filadélfia,1839. Fonte: BRANDÃO, Claudio, 2013, p.124. Disponível em: <http://www.maxwell.lambda.ele.puc- rio.br/Busca_etds.php?strSecao=resultado&nrSeq=21126@1> Acesso em: 07 abril 2014. De acordo com o autor Jean-Claude Lemagny (1988), com o passar do tempo a prática do retrato continuou a se expandir artisticamente e ele ainda foi utilizado para pintura em muitos países; porém, nos Estados Unidos a prática daguerriana fez muito sucesso a partir do momento em que a placa de cobre
  • 17. 17 foi trocada pela de vidro. Com materiais mais baratos o preço dos negativos caiu, ampliando o campo social e o número de clientes. Em 1850 já se notavam traços da fotografia moderna, na qual os clientes não precisavam esperar muito para ter suas fotos impressas em mãos. Desta forma o retrato ganhou um padrão de comércio e virou moda fotografar certas poses, principalmente em retratos femininos. As fotografias eram tiradas de forma que mostrassem o respeito e dignidade do retratado. Fosse ao formato carte-de-visite, ou como cabinet portraits, tais retratos prestavam-se para registrar poses que tendiam a expressar dignidade, respeitabilidade, status social. Representações através das quais o retratado mostrava-se não conforme ele "realmente" era, mas tentando satisfazer expectativas não apenas suas, mas dos possíveis destinatários de cópias daquele souvenir cuja troca entre parentes e amigos tornara-se habitual. (STANCIK, 2011, p.10.) Como, por exemplo, o retrato de Louise Gamet mostrado na Figura 3, abiaxo: Figura 3- Retrato de Louise Gamet Estúdio F. Berthault, Angers, França. Carte-de-visite, 5,5 × 9,0 cm. Ano de 1880. Fonte:STANCIK, 2011, p.8. A partir deste momento, o retrato torna-se um produto social e cultural, concebido como documento e monumento. Traz consigo os traços da época, como registro e fragmento dos tempos. Torna-se uma forma não verbal de comunicação pelo registro de poses, olhares, gestos, expressões faciais e movimentos do corpo.
  • 18. 18 1.3 O Retrato Fotográfico nos Séc. XX e XXI. Aproximando-se cada vez mais da forma de retratar dos tempos de hoje, o retrato muda, porém, ainda traz consigo características de um tempo distante. Permanece sua essência em meio ao indivíduo, mas modifica seu propósito e utilidade nos tempos modernos. O retrato passou a não ser mais visto como o “espelho do real”, pois muitos, quando fotografados não se mostravam verdadeiramente, sendo assim impressões do real, um instrumento de análise e interpretação. Segundo o livro “O Ato fotográfico”, de Philippe Dubois: O principio de realidade foi então designado como pura "impressão", um simples "efeito". Com esforço tentou-se demonstrar que a imagem fotográfica não é um espelho neutro, mas um instrumento de transposição, de análise, de interpretação e até de transformação do real, como a língua, por exemplo, e assim, também culturalmente codificada. (DUBOIS, 1994, p.1) Anteriormente, era comum a prática da fotografia documento, onde a fotografia jornalística tinha destaque. Não se valorizava a fotografia enquanto imagem, nos seus aspectos formais, mas sua capacidade de mostrar outra coisa, externa a ela. Posteriormente, muitos fotógrafos começaram a importar- se com significado de suas fotos, e não com o simples registro de acontecimentos. Como disse Rouillé (2009, p. 139), “A verdade do documento não é a verdade da expressão”, sendo assim abertos os tempos da crise, o declínio da imagem-ação2 . Uma perda significativa do elo com o mundo manifesta-se na prática. Os artistas partilham com frequência desse sentimento de perda associado às imagens, de se ter uma imagem e não o mundo como referência. Os fotógrafos se veem mais interessados em fotografar o seu próprio mundo e não os fatos corriqueiros da época. O regime da verdade e da prova enfraquece então, por basear-se na imagem-impressão3 das coisas. 2 O termo refere-se à imagem fotográfica usada como registro de acontecimentos jornalísticos. 3 O termo refere-se à imagem fotográfica usada como expressão individual do fotógrafo, visando uma interpretação diferenciada de cada um que a veja.
  • 19. 19 Na prática do instante decisivo4 , em meados do séc. XX, Henri Cartier - Bresson acreditava haver um momento composicional de máxima potencialidade expressiva que, se captado, transmitiria com suma eficácia determinado acontecimento. Não só esse instante deveria ser reconhecido à medida que um acontecimento se desenrolava diante do fotógrafo, mas também, nessa fração de segundo ele deveria organizar no quadro as formas que o delineavam para que pudesse ser expresso em toda sua intensidade5 . Uma fotografia que ilustra esse conceito associada à obra, de Bresson é mostrado na Figura 4, abaixo: Figura 4- I’instante Décisif Henri Cartier-Bresson,1970. 40x30cm. Fonte: FREIRE, 2010, 01p. A fotografia se estabelece como resultado de um trabalho de intervenção do fotógrafo sobre o real, no qual seu imaginário exerce papel central. Segundo “A fotografia entre documento e expressão” (ROUILLÉ, 2009), as imagens do foto-documentário imaginário são capazes de se vincular a um modo de representação que vai além da remissão ao referente: à coisa fotografada são agregadas lembranças, crenças, valores, interesses, desejos e receios do próprio fotógrafo. Isso se dá tanto na forma como o fotógrafo limita sua 4 Origem da expressão ”I'instantdécisif”, que intitula o prefácio do primeiro livro de Bresson,”Images à lasauvette”(Imagens furtivas), e que por não ter em inglês a expressão correspondente, nomeou-se “The decisivemomment”(O momento decisivo). 5 Referência de trecho do artigo “Ensaio sobre a perda do momento decisivo” de Pollyanna Freire.
  • 20. 20 percepção (o que vê e como vê), quanto na maneira como guia o seu trabalho (o que fotografa e como fotografa). A partir desse momento onde a fotografia não é mais entendida como realidade capturada e sim como transformação do real. Os processos chamados de mecânicos, como o plano, o enquadramento e a luz, são tratados como formas de expressão. Assim concede-se à fotografia uma assinatura e ao fotógrafo a valorização de sua visão do mundo. Muitos artistas, como o francês Christian Boltanski, revelaram suas fotografias mais expressivas nos anos de 1970-1990. São os chamados artistas-fotógrafos. O principal projeto da fotografia dos artistas não é reproduzir o visível, mas tornar visível alguma coisa do mundo, alguma coisa que não é necessariamente da ordem do visível, observa André Rouillé (2009). Segundo Joana Lobinho (2011, p.36), Christian Boltanski trazia a ideia de morte e memória às suas obras. Quase sempre associado a ambientes obscuros e religiosos, seu tema, a partir de 1980, volta-se para problemas sociais e não mais pessoais. Como mostrado na Figura 5, em seu trabalho sobre o Holocausto, “Le Arquives”, abaixo: Figura 5- “Les Arquives” Christian Boltanski. 1987. Fonte: LOBINHO, Joana, 2011 p.42. A partir dos anos 1980, como dito anteriormente, os artistas passam a dominar com facilidade o procedimento fotográfico, obtendo excelentes resultados técnicos e, muitas vezes, tamanhos monumentais. Para Rouillé a
  • 21. 21 fotografia tornou-se a componente central de seus trabalhos, o seu material expressivo. Ela não era mais utilizada como recurso para obras como pintura etc., a fotografia tornou-se obra. Uma grande mudança para a história da fotografia foi, e continua sendo, o avanço tecnológico. A arte de fotografar vem se reinventado a cada época e artistas descobrem novos meios de expressão com o auxílio da fotografia a todo tempo. Segundo o filósofo francês Gilles Deleuze: Ferramentas tecnológicas existem na interligação entre o que as fazem possíveis e entre o que estas podem produzir efetivamente. Isto é, o que leva ao desenvolvimento de determinadas ferramentas é a necessidade de produzir resultados que são de certa forma, almejados socialmente por determinados grupos. (DELEUZE, apud BRANDÃO, 2013, p.102). Conclui-se que não é apenas uma ferramenta que altera um determinado status, mas uma demanda social por mudanças facilita o aparecimento de determinadas ferramentas, como a fotografia. Segundo Lombardi: Filmes granulados, negativos superexpostos, uso abusivo da grande angular, imagens desfocadas ou borradas, composições abstratas e recorrências ao ficcional passam a ser explorados como formas expressivas possíveis à fotografia, como modo de expressar na imagem as impressões e sensações imateriais que o fotógrafo experiência na realidade. (LOMBARDI, 2007. p4) Partindo desse ponto, fotógrafos como o americano Michael Ackerman utilizam as distorções na imagem como forma de expressão fotográfica a partir de 1999, como pode ser exemplificado nas figuras 6 e 7, abaixo:
  • 22. 22 Figura 6- Série “Poland” Figura 7- Série “Poland” Michael Ackerman, Poland, 1999-2007. Fonte: SiteI’Agence VU .Disponível em <http://www.agencevu.com/stories/index.php?i d=144&p=1> Acesso em: 10 jun. 2014. Michael Ackerman, Poland, 1999-2007. Fonte: I’Agence VU. Disponível em <http://www.agencevu.com/stories/index.php?i d=144&p=1> Acesso em: 10 jun. 2014. Ackerman, desde jovem, foi premiado por suas fotografias cheias de histórias e sensações. Sempre em preto em branco para trazer mais dramaticidade às fotos, ele nos transmite suas dúvidas, reflexões pessoais e angústias. Apesar de a fotografia digital ter dominado o mercado de fotografias, muitos artistas fazem uso da fotografia analógica ainda hoje. É o caso do chileno, Cristóbal Escanilla, fotógrafo e vídeo maker. Em sua série “Girls I” (Garotas I), ele faz o uso dessa prática fotográfica, exemplificada nas figuras 8, 9, 10 e 11, abaixo: Figura 8- “Girls I” Bianca Figura 9- “Girls I” Sem título Cristóbal Escanilla, 2012-2014. Disponível em: <http://cargocollective.com/cabinadelafoto/girls- I> Acesso em: 10 jun. 2014. Cristóbal Escanilla, 2012-2014. Disponível em: <http://cargocollective.com/cabinadelafoto/g irls-I> Acesso em: 10 jun. 2014.
  • 23. 23 Figura 10- “Girls I” Ivette Febrero Figura 11- “Girls I” Katrina Franco Nicole Cristóbal Escanilla, 2012-2014. Disponível em: <http://cargocollective.com/cabinadelafoto/portaf olio> Acesso em: 10 jun. 2014. Cristóbal Escanilla, 2012-2014. Disponível em: <http://cargocollective.com/cabinadelafoto/g irls-I> Acesso em: 10 jun. 2014. Nesta série fotográfica Escanilla usa luz natural e, em sua maioria, cenários ao ar livre. Fotografa as mulheres ao natural, assim como as relaciona com os cenários e a natureza, conquistando um resultado que transcende o sensível, nos deixando a sensação de intimidade com o retratado. Outro artista que fotografa mulheres é Jon Duenas, fotógrafo de moda, cujas fotografias são muito expressivas. Diferente de Escanilla, Duenas utiliza sua Polaroid e, também, sua câmera digital para suas composições. A seguir são apresentadas duas de suas obras (Figuras 12 e 13): Figura 12- “Deux II” Figura 13- Sem título Jon Duenas, 2014. Fotografia Analógica. Fonte: Site do artista, disponível em:<http://www.jonduenas.com/ii#13> Acesso em: 11 jun. 2014. Jon Duenas, 2014. Fotografia Digital. Fonte: Site do artista, disponível em:<http://www.jonduenas.com/portfolio- iii#26> Acesso em: 11 jun. 2014.
  • 24. 24 Duenas faz o uso da fotografia analógica6 na Figura 12, atrelando a técnica de sobreposição de imagens à fotografia. Já na figura 13 usa a fotografia digital em seu trabalho. Ambas retratando as mulheres de modo a gerar significados associados ao sentimento feminino. Desta forma percebe-se, ao final deste capítulo, a evolução da fotografia como documento do real para meio de expressão artística. Enquanto para o documento a técnica deve ficar a serviço do registro, de modo a não interferir nele, para a fotografia como arte a técnica é utilizada como recurso de linguagem, para criar elementos expressivos e representativos. 1.4 O Nu Fotográfico Sobre o “retrato” do corpo nu encontram-se resquícios desde antes do período greco-romano. Foi repetidamente utilizado para a prática da pintura e escultura desde os tempos do Renascimento, como desenho de observação e conhecimento das formas do corpo humano. Como a obra de Brueghel, O Velho, “Diana and Actaeon” mostrada na Figura 14, abaixo: Figura 14- “Diana and Actaeon” Jan Brueghel, O velho, 1595. Fonte: Site da BBC Brasil, 05p. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/especial/819_nuartistico/page5.shtml> Acesso em: 28 maio 2014. É então, indispensável sua aparição como arte na fotografia. Segundo José Farinha (2001, p.78), “Os primeiros daguerreótipos eróticos começaram a circular por Paris a partir de 1840[...]”, com isso vê-se o registro e o exibicionismo do nu feminino antes do começo do nu fotográfico considerado 6 Fotografia analógica é aquela que utiliza filme fotográfico e é revelada pelo processo fotoquímico.
  • 25. 25 como arte. O surgimento deste tipo de fotografia veio ao encontro de oportunidades comerciais, porém mesmo a fotografia do nu sendo referência para pintores, ele não deixou de ter um forte potencial erótico e pornográfico para com a fotografia. O erotismo foi proibido em meados da década de 1840 e muitos fotógrafos foram presos por suas “cenas obscenas”, segundo Camargo Filho (2006, p.29). O primeiro movimento estético fotográfico ocorreu em 1880, denominado Pictorialismo7 . A fotografia era defendida como arte, usando de artifícios não convencionais para chegar ao resultado pictural. Mais tarde muitos fotógrafos mudaram o seu olhar sobre a fotografia e passaram a fazer fotografias por elas mesmas, ou seja, sem ser destinada a pintura. Somente no início do século XX, depois da I Guerra Mundial, os fotógrafos, influenciados pelo pensamento modernista e percebendo as possibilidades particulares que a fotografia oferecia para a criação (tais como o ângulo de tomada da cena, a instantaneidade, a possibilidade de interferir no negativo etc.), passaram a fazer fotografias por elas mesmas, sem o seu destino inicial para a pintura, criando, assim, novas formas de representação. O corpo nu passa a ser explorado principalmente em função de sua forma e de suas possibilidades figurativas. (CAMARGO FILHO, 2006, p.30) Acredito que um dos nomes influentes para a fotografia foi Man Ray. Segundo o Departamento Educacional do J. Paul Getty Museum, Ray foi artista, fotógrafo, arquiteto e engenheiro, nascido na Filadélfia nos Estados Unidos, porém foi em Nova Iorque que se tornou famoso por sua fotografia e ideais artísticos. Em 1915 conheceu Marcel Duchamp e fundaram o grupo Dada-Nova-iorquino. Além do Dadaísmo, depois que mudou para a França Man Ray se envolveu com o Surrealismo em 1921. Suas obras possuíam características fantasiosas, mas trazendo muita originalidade em provocar a sociedade com suas ideias sobre arte e cultura. Ray trabalhava bem com a desconstrução da fotografia e usava muitas vezes a distorção de formas e 7 Definição segundo Itaú Cultural; Pictorialismo foi o movimento que eclodiu na França, na Inglaterra e nos Estados Unidos a partir da década de 1890, congregando os fotógrafos que ambicionavam produzir aquilo que consideravam como fotografia artística, capaz de conferir aos seus praticantes o mesmo prestígio e respeito grangeado pelos praticantes dos processos artísticos convencionais. O problema é que essa ânsia de reconhecimento levou muito dos adeptos do pictorialismo a simplesmente tentar imitar a aparência e o acabamento de pinturas, gravuras e desenhos ao invés de tentarem explorar os novos campos estéticos oferecidos pela fotografia.
  • 26. 26 corpos criando as famosas fotografias surrealistas8 . Uma de suas primeiras fotografias de nu feminino foi “Le Violon d'Ingres”, mostrada na Figura 15, abaixo: Figura 15-“Le Violon d'Ingres” Man Ray, 1924. Impressão em prata gelatinosa. 530 x 390 mm. Fonte: Lista de Exibição dos Retratos de Man Ray do Museu Ludwig, na Alemanha. De7 fev.2013- 27 maio 2013. Man Ray retratava com frequência figuras femininas atreladas ao nu fotográfico. Como em “Natasha”(Figura 16) e “Andy with hoops”(Figura 17): Figura 16- Natasha Figura 17- “Andy with hoops” Man Ray, 1929. Disponível em: <http://www.manray- photo.com/catalog/product_info.php?cPath= 32&products_id=684&osCsid=956bfd65692e 31e2d1ec3f5b2bfbe70b> Acesso em: 29 maio 2014. Man Ray, 1937. Disponível em:<http://www.manray- photo.com/catalog/product_info.php?cPath=32& products_id=1069&osCsid=956bfd65692e31e2 d1ec3f5b2bfbe70b> Acesso em:29 maio 2014. Outro artista com características parecidas com as Man Ray era AndreKertesz. Nascido em Budapeste em 1894, o artista húngaro era famoso 8 Surrealista é aquilo que está acima, além da realidade, (sur – realisme), além daquilo que nossos sentidos e razão são capazes de compreender; o movimento surrealista foi inspirado pelas ideias de Freud sobre a psicanálise, assim a loucura também passa a fazer parte desse conteúdo.
  • 27. 27 por seu trabalho com a fotografia jornalística em 1900, porém um de seus trabalhos que traz curiosidade aos olhos é a série de 200 fotografias de nus femininos chamados “Distortions” (Distorções), feita em 1933. Kertesz consegue resultados incríveis com experimentos óticos com reflexão e espelhos. Figura 18- “Distortion” AndreKertesz,1933. Fonte:Site Masters ofPhotography, disponível em: <http://www.masters-of- photography.com/K/kertesz/kertesz_distortion_full.html> Acesso em:29 maio 2014. Esses dois artistas possuíam características em comum ao se desprenderem do tradicionalismo quando se tratava de fotografar pessoas, e em especial mulheres. Acredito que isso era feito como forma de protesto e de desafiar a sociedade a enxergar o corpo desnudo sem pudor e malícia. Era trazer uma nova visão do corpo feminino, contrária ao símbolo sexual, uma nova visão das formas do corpo e suas inúmeras características representativas. O nu era muito explorado nesta época por artistas, como o retrato de Edward Weston em 1936, onde ele explora o jogo de luz e sombra a fim de modificar as formas reais do corpo feminino; como em Nude(Figura 19):
  • 28. 28 Figura 19-“Nude” Edward Weston, 1936. Fonte: Artigo da Revista Studium, disponível em: <http://www.studium.iar.unicamp.br/12/6.html> Acesso em: 30 maio 2014. Outros artistas compartilharam ideias para desmistificar o nu feminino na fotografia e encontrar novas formas de expressão deixando o erotismo de lado. Nos tempos modernos esse “tema” ainda é recorrente, como no ensaio de Greg Friedler chamado “Naked New York” (Figura 20): Figura 20- “Naked New York” Greg Friedler, 1997. Fonte: Artigo da revista Studium3, por PIEDADE, 2000. Disponível em: <http://www.studium.iar.unicamp.br/tres/pg5.htm> Acesso em:30 maio 2014 Friedler traz a ideia de mostrar as pessoas como elas são. O objetivo era retratar pessoas representando elas mesmas por meio do nu. Friedler se preocupou em não representar as pessoas da forma que elas gostariam de ser fotografadas e, assim, chegar mais próximo do que poderia de um real, uma identificação com o eu. Segundo Lúcio Piedade: O modo de atuação de Friedler foi fotografar cada pessoa vestida e sem roupa, de modo a poder mostrar os dois lados da mesma pessoa: o público e o privado. Ou seja: o público é a
  • 29. 29 maneira como ela se apresenta no dia-a-dia, perante à sociedade. Para Friedler, essa versão vestida é apenas uma parte de uma verdade. Afinal as roupas, espontaneamente, alteram-se de acordo com a nossa vontade, ou seja, refletem como nós gostaríamos de aparecer, ou como sentimos que devemos ser. Colocando em foco uma pessoa nua, deixa-se de lado as expectativas que seu modo de vestir produz sobre sua ocupação ou nível social, modo de ser e preferências. Sai de cena o público e entra o privado: a pessoa nua e crua em sua intimidade e essência. (PIEDADE, Lúcio. 2014, p.5). Na atualidade vemos fotógrafos utilizarem o nu de forma mais poética. Como os sensíveis retratos do fotógrafo russo, Dmitry Chapala, que podem ser vistos em Gorgona (Figura21) e em “Дикие локоны падают гривой”(Figura 22): Figura 21- Gorgona da série “Genre” Figura 22- “Дикие локоны падают гривой” da série “Nude” Dmitry Chapala, 2008. Fonte: Site do artista, disponível em: <http://www.dmitrychapala.com/genre/>Acesso em:30 maio 2014. Dmitry Chapala, 2012. Fonte: Site do artista, disponível em: <http://www.dmitrychapala.com/nude/page- 5/> Acesso em: 30 maio 2014. O nu de Dmitry é repleto de suavidade e delicadeza. Quase sempre utiliza iluminação natural em suas composições, favorecendo as curvas das modelos e ressaltando as texturas dos corpos. Seu trabalho é rico em texturas e sensações, ainda mais quando feitos em preto e branco. É um trabalho intimista e belo, onde as fotografias são sensuais e a posição dos corpos é bem resolvida.
  • 30. 30 Os retratos de Chapala trazem emoção ao expectador, justamente por retratar mulheres de um jeito tão sensível e natural. São fotografias fáceis de serem apreciadas. Por fim percebe-se o nu como forma expressiva, ainda muito em alta na fotografia. Resultado esse da liberdade dos fotógrafos hoje em dia por explorar suas diversas maneiras de expressão e técnicas. 1.5 Colagens nas Vanguardas Europeias Inicialmente é importante definir o que é Colagem. De acordo com o dicionário Tate Gallery (TATE GALLERY), Colagem é o termo utilizado tanto para a técnica quanto para o resultado de um trabalho que inclui pedaços de papeis, fotografias, tecidos, entre outros materiais, arranjados em uma superfície de suporte. A colagem pode incluir outras mídias, como pintura e desenho além de conter elementos tridimensionais. A colagem consiste ainda na utilização de sobreposições analógicas ou digitais, apropriações e recontextualizações espaciais e semânticas, sejam elas bidimensionais ou tridimensionais, que impliquem em uma escolha estética por parte do artista. Segundo Randolph Souza, “técnicas de colagem foram utilizadas pela primeira vez na China com a invenção do papel, cerca de 200 A.C, e limitadas até o século XX, quando os caligrafistas chineses começaram a aplicar papel colado e texto nas superfícies, onde escreviam seus poemas”. (SOUZA, 2009, p.19) O termo francês coller; significando colar, ou colagem, foi cunhado por Georges Braque e Pablo Picasso no movimento cubista9 , no início do século XX, quando essa passou a ser uma técnica característica da arte moderna10 , inaugurando a poética do fragmento, afirma Souza (2009, p.19). 9 O Cubismo tinha como proposta promover a decomposição, fragmentação e a geometrialização das formas. 10 A arte presente no movimento Modernista que segundo o Tate Gallery foi um amplo movimento na arte ocidental, arquitetura e design, que conscientemente rejeitou o passado como um modelo para a arte do presente.
  • 31. 31 A obra “Fruteira e Copo” (Figura 23), de Georges Braque, é considerada uma das primeiras colagens da arte moderna. A partir desse momento, a técnica é empregada em diferentes escolas e movimentos artísticos, com sentidos muito variados. Figura 23- Fruteira e Copo Georges Braque, 1912. Fonte: SOUZA,2009, p.20 Pablo Picasso também encontra no novo recurso um instrumento de experimentação sem igual, que tem início com a obra “Copo e Garrafa de Suze” (Figura 24) em 1912, parte de uma série em que são utilizados papéis e desenhos a carvão. O uso de papéis colados abre pesquisas cubistas em novas direções. Figura 24-Copo e Garrafa de Suze Pablo Picasso, 1912. Colagem, guache e carvão, 65 x 45,2 cm. Fonte: BERNARDO, 2012, p.25.
  • 32. 32 Assim como a maioria dos movimentos políticos ocorridos na história, muitos artistas marcaram época com suas revoluções ao longo dos tempos. A vanguarda11 teve seu termo deslocado para as artes pelos seus seguidores e aplicado aos movimentos artísticos que produziram rupturas com modelos pré- estabelecidos, estabelecendo relação entre formas antitradicionais de arte ou o novo, nas fronteiras do experimentalismo. Desta forma, com a crise política em 1930 na Europa, o movimento moderno na arte sofreu grande impacto, porém, foi apenas na década de 1940 que suas regras básicas se modificaram com a derrota do fascismo, o início da era nuclear e o começo da Guerra Fria. Em 1950 o realismo pictórico passou a ser identificado com a repressão e o conservadorismo político, ao mesmo tempo em que o modernismo se recuperava. A arte das vanguardas apareceu cada vez mais conceitual e autônoma. O modernismo do pós-guerra americano foi segundo Wood: [...] uma escola de abstração gestual, pois os artistas da época dependiam de uma convicção quanto à autenticidade intuída e da necessidade de uma marca autoral. Essa convicção, de que a singularidade de um determinado traço, feito por aquele indivíduo, em resposta a uma circunstância específica, precisamente por ser tão verdadeiro e único, escapa à contingência e ascende a um plano universal de sentimento [...] (WOOD, 2002, p.17) Com isso as obras de Robert Rauschenberg surgem de forma impactante para a arte vanguardista. São obras complexas por possuírem muitos elementos como fotografias, jornais, objetos descartados, detritos automotivos e ainda muitos animais empalhados em uma só composição, como se vê na obra mostrada na Figura 25. Segundo ele próprio, procurava operar no limiar entre a arte e a vida. (WOOD, 2002, p.17). 11 De acordo com o dicionário Tate Gallery, vanguarda quando aplicado à arte significa arte que é inovadora, introduzindo ou explorar novas formas ou assunto. Do francês Avant – garde, literalmente guarda avançada.
  • 33. 33 Figura 25-“Factum I e Factum II” Robert Rauschenberg, 1957. Óleo, nanquim, crayon, papel, tecido, reproduções de jornal e papel pintado sobre tela. 155,9 x 90,2 cm. Fonte: WOOD, 2002p.18 As obras Factum I e Factum II (Figura 25) remetem-se à colagem, uma vez que se repetem várias imagens em fotografias que ali foram coladas e duplicadas. As marcas da arte propriamente dita são duplicadas, porém de um modo específico, nas repetidas obras, cobertas de borrões e manchas, das pinturas expressionistas abstratas. Segundo Wood (2004, p.18), a matéria principal da obra é a institucionalização da espontaneidade. No final da década de 1950 a luta pela autenticidade tornou-se um estilo. A arte se volta para o pensamento mais uma vez, cujo significado é produzido durante o trabalho com os conjuntos de convenções, e por meio de jogos empreendidos com a linguagem à obra. Os artistas passam então a ter a crença de que a arte visual era um meio sem utilidade para a criatividade e para o pensamento. 1.5.1 Colagem e Dadaísmo Raquel Branco (2011, p.15) afirma que o Dadaísmo foi um movimento crítico e contestador, surge na Suíça e em várias partes do mundo por volta de 1915-1916. Rompe com todas as barreiras da arte brincando e ironizando com tudo o que já havia existido e mesmo com suas próprias produções. A grande regra era não ter regras, alega Branco, o caos é o que guiava os trabalhos e manifestações dos artistas deste movimento.
  • 34. 34 O movimento Dadá apresenta-se, ao contrário de outras correntes artísticas, como um movimento de crítica cultural mais ampla, que interpela não somente as artes, mas modelos culturais, passados e presentes. Trata-se de um movimento radical de contestação de valores que utilizou variados canais de expressão: revistas, manifestos, exposições, entre outros. O dadaísmo surgiu para destruir a noção de arte vinda do passado e propor a mais radical interrogação sobre o que é arte. Segundo “Colagens nos meios imagéticos contemporâneos” (BERNARDO, 2012), os jovens estavam revoltados com a I Guerra Mundial e a forma de demonstrarem sua insatisfação para com a sociedade era negar todo o convencional da arte, tudo aquilo que fora, até então, imposto como padrão estético. E é por meio da colagem que estes ideais antibelicistas tornaram-se mais evidentes. Como mencionado anteriormente, uma grande característica do Dadaísmo era a crítica à arte tradicional. A Mona Lisa de Marcel Duchamp, na Figura 26 abaixo, é um dos readymade12 mais conhecidos do movimento Dadá. Com uma caneta ele brinca com um dos maiores ícones da arte clássica, desenhando barba e bigode na obra Mona Lisa de Leonardo Da Vinci. Figura 26- L.H.O.O.Q. Marcel Duchamp, 1919/1930. Lápis sobre reprodução de Mona Lisa. Fonte: Souza, 2009, p.23. 12 ReadymadeS.m. [ARTES PLÁSTICAS] objeto comum, retirado do seu contexto habitual e tratado como um objeto artístico.
  • 35. 35 Se tratando de Dadaísmo é inevitável falar de Duchamp sem mencionar, mais uma vez, o fotógrafo Man Ray, cofundador do Dadá Nova-iorquino. Man era um artista múltiplo, porém era bastante ligado à fotografia e, a partir disso, começou a interligá-la com outras formas de arte. Na colagem mistura-a com retratos, como a fotografia do livro "Une Semaine de Bonté" de 1934, de Max Ernst13 (Figura 27): Figura 27- Retrato de Max Ernst para "Une semaine de bonté" Man Ray, 1934. Fonte: Disponível em:<http://www.manray- photo.com/catalog/product_info.php?cPath=32&products_id=974&osCsid=956bfd65692e31e2d 1ec3f5b2bfbe70b> Acesso em: 20 jun. 2014. Outro artista muito influente no movimento Dadá foi Raoul Hausmann. Artista austríaco, escritor e poeta, precursor do movimento Dadaísta na Alemanha em 1918. Utilizava o pseudônimo “Der Dadasophe” e participava dos grupos de Zurique e Berlim. Suas obras iam de colagens experimentais, fotomontagens, esculturas, pinturas até poesia sonora, como na obra, “O crítico de arte” (Figura 28): 13 Tate Gallery; Max Ernst era um pintor e escultor alemão que foi um grande artista do movimento surrealista.
  • 36. 36 Figura 28- O crítico de arte Raoul Hausmann, 1919-20. Litografia e colagem fotográfica sobre papel. 31,8 x 25,4 cm Tate Modern, Londres. Fonte: BERNARDO, 2012, p.31. Ao observarmos a obra acima, podemos compreender alguma relação comum a crítica política. As obras feitas com colagens deste tipo são de fácil visualização, nos fazendo ter as mais diversas interpretações por meio das imagens. De acordo com Eldger Bradley (2004 apud BERNARDO, 2012 p.31), “os olhos do crítico estão cobertos, como se sua visão estivesse enfraquecida, não podendo perceber nitidamente o objeto de sua crítica. Na parte posterior da cabeça há uma cédula monetária que, enfiada no colarinho do crítico, insinuaria um possível suborno”. Nesta mesma época a artista Hannah Höch, segundo Bernardo (2012, p.32) aparece muito importante para o Dadaísmo, e junto com Raoul, traz novas possibilidades para o movimento. Embora algumas das obras de Hannah retratassem a situação política da Europa naquela época e os absurdos da guerra, Bernardo afirma que era a mulher a principal figura de seu trabalho. Essa característica permaneceu em toda sua obra, ultrapassando sua fase dadaísta. Höch, segundo Bernardo (2012, p.32), refletiu o convívio entre a mulher alemã moderna e a mulher alemã colonial, desafiando as representações culturais femininas e levantando questões relativas à sexualidade e aos papéis dos gêneros na nova sociedade. Suas imagens retratavam os medos,
  • 37. 37 possibilidades e expectativas para as mulheres na Europa moderna. Como a obra “Da Dandy” (Figura 29), abaixo: Figura 29- “Da-Dandy” Hannah Höch, 1919- Colagem. Bridgeman- Giraudon, Art Resource, NY (1889-1978). Fonte: Site ArtSy, disponível em: <https://artsy.net/artwork/hannah-hoch-da-dandy> Acesso em: 22 jun. 2014. Mesmo com seus ideais, algumas fontes dizem que o movimento Dadá teve seu fim em 1920, porém deixou um grande legado estabelecendo bases para novos movimentos artísticos. Criou relações e inspirou o Surrealismo e a Pop Arte nos próximos anos. 1.5.2 Colagem e Surrealismo O Surrealismo surge por volta dos anos 1920, deriva do Dadaísmo por ter como teoria o irracional, o inconsciente na arte. Muitas das obras são figurativas e de muito rigor técnico; as representações quase que saem das telas e entram na realidade. O foco são as ideias, os sonhos. (BRANCO, 2011, p.17). Segundo Bernardo (2012, p.36), os surrealistas tinham apreço pelo método científico, o da psicologia, e aceitavam a realidade do mundo físico, embora acreditassem tê-la transcendido. Outra preferência dos surrealistas era a presença simultânea de temas paradoxais e que frequentemente são retratados isolados, como, por exemplo, dia e noite, palavra e imagem, silêncio e grito, nascimento e morte, calma e
  • 38. 38 confusão. Isto é uma maneira de reforçar a contradição surrealista e criar uma nova tradição, alega Bernardo (2012, p.38). No tópico anterior Man Ray foi citado em razão de mostrar sua importância para a fotografia no meio dadaísta, porém, ao falar de Surrealismo é preciso retomá-lo. Suas obras surrealistas eram fantásticas. A fotografia estava muito presente em seus trabalhos surreais e o dadaísmo trouxe grande parte da inspiração de Ray. Ele gostava de complementar suas habilidades, e, por isso, mostrava o que não podia ser fotografado, ou seja, o que não existia e era abstrato, como sonhos e pensamentos; desta forma gostava de fotografar aquilo que já existia adicionando um pequeno toque do seu ponto de vista artístico, como nas fotografias mostradas nas figuras 30 e 31, a seguir, sem deixar de criar sua polêmica arte. Figura 30- “Tears” Figura 31- “Le Baiser” Man Ray, Paris,1930-1932. Impressão em prata gelatinosa Fonte: Coleção do Museu J. Paul Getty, disponível em:<http://www.getty.edu/art/gettyg uide/artObjectDetails?artobj=44253 > Acesso em: 20 jun. 2014. Man Ray, 1930. Fonte: disponível em: <http://www.manray- photo.com/catalog/product_info.php?cPath=32&products _id=717&osCsid=956bfd65692e31e2d1ec3f5b2bfbe70b > Acesso em: 20 jun. 2014. Man Ray se encaixa na colagem com as fotografias acima, por adicionar bolinhas de vidro no rosto feminino da modelo, ou seja, ele interfere naquilo já existente e o torna outra coisa, dando outro significado à foto. Já na segunda fotografia faz colagem por aproximar e juntar duas fotografias de bocas femininas. Man Ray, como artista múltiplo que era, também situa na fotografia de moda e desenvolve, em seu lado mais criativo, uma linguagem singular, pois transmite a essência da alma feminina. A moda, como sempre, é um
  • 39. 39 reflexo de cada época e, depois da Primeira Guerra Mundial, ela mudou gradativamente adaptando-se aos novos hábitos sociais. Se tratando de Surrealismo e da representação feminina, Grete Stern foi uma grande colaboradora para tal feito. Segundo Fernanda Pacheco (2012), Stern era judia, nascida na Alemanha em 1904,teve que fugir de seu país durante o nazismo, exilando-se na Argentina. Foi em 1936, em Buenos Aires, que começou a deixar suas raízes germânicas para assumir sua nova identidade nacional, o que passou a influenciar demasiadamente sua produção artística. Mas foi em 1948 que começou o auge de sua carreira. Stern foi convidada para ilustrar os sonhos das leitoras da revista feminina “Idilio”, na coluna "El Psicoanálisis le Ayudará”, e, assim, por meio dos sonhos que as leitoras contavam ela ia representando, por meio da colagem fotográfica, os significados que contribuía a esses sonhos. Suas obras sempre traziam a figura feminina como oprimida pela sociedade e injustiçada, deixando-a famosa por sua irreverência, como se vê nas obras mostradas abaixo (Figuras 32 e 33): Figura 32- “Amor sin ilusion” Figura 33- Sem título Grete Stern, 1950. Fotomontagem. Publicação: Idilio n.64, 7 fev. 1950 26,5 x 20,7 cm Fonte: Disponível em: <http://www.museusegall.org.br/mlsItem. asp?sSume=21&sItem=236> Acesso em: 06 julho 2014. Grete Stern, 1949. Fotomontagem. Publicação: Idilio n.15, 1 fev. 1949 20,6 x 28,4 cm. Fonte: Disponível em:<http://www.museusegall.org.br/mlsItem.asp?s Sume=21&sItem=236> Acesso em: 06 julho 2014. Nas fotografias das figuras 32 e 33, acima, é de fácil percepção o surrealismo das imagens. A primeira imagem chama a atenção para um
  • 40. 40 homem com cabeça de tartaruga, totalmente fora da realidade, mas que transmite a ideia de alguém velho, parado nos costumes antiquados e aparentemente agressivos. A segunda imagem chama a atenção para a força feminina, pois a mulher é retratada carregando uma pedra quase que maior que ela, simbolizando tudo aquilo que a mulher precisava aguentar na época, e existe também a contradição com a fragilidade feminina presente na imagem. O Surrealismo ainda influencia muitos artistas hoje em dia. Ele permanece em cada obra que dá prioridade à subjetividade ou coloca a investigação da mente como objeto, sendo consideradas obras com traços surrealistas. Ben Giles é um artista contemporâneo que utiliza colagens e fotografia como forma de expressão. Segundo Laura Pulgarin (2013), ele faz trabalhos com editoriais de moda entre outros. Tem como característica forte a mistura da colagem utilizando imagens vintage14 , de moda com a natureza e, dessas imagens criativas, faz uma narrativa harmoniosa em suas obras. Muitas vezes se percebe flores muito coloridas em seus trabalhos, pois ele recorta várias delas e as reorganiza na imagem. A natureza é muito presente em suas fotografias; e as mulheres também. Giles traz muita expressão e um mix de sentimentos, como na imagem da Figura 34, a seguir, feita para a revista Kneon #10: Figura 34- Sem título Revista KNEON #10, Ben Giles, 2014. Colagem sobre fotografia Fonte: Site do artista, disponível em: <http://benlewisgiles.4ormat.com/leanne-collab> Acesso em: 22 jun. 2014. 14 Vintage significa algo clássico, antigo e de excelente qualidade. Trata-se de um estilo de vida que recupera os estilos dos anos 1920, 1930, 1940, 1950 e 1960, e aplica em vestuário, calçado, mobiliário e peças decorativas.
  • 41. 41 Outro artista que trabalha com referências das vanguardas é Charles Wilkin. Seu trabalho a meu ver é parecido com o de Giles, porém possuem estéticas bem diferentes. Wilkin também faz editoriais para revistas de moda e tem a fotografia e a colagem como técnica expressiva, de acordo com suas indicações em seu site oficial. Ele usa modelos, portando são fotografias de rostos e corpos cobertos por colagens. Segundo Deeksha Mehta (2014), as suas fotografias trazem uma sensação de decomposição e decadência ao observador, e sua distorção e reconstrução de traços faciais através de colagem faz referência a obras modernistas de Picasso. Atualmente a colagem tornou-se extremamente popular e artistas que a utilizam, muitas vezes, incorporam referências da cultura pop e imagens de alta moda para criar composições interessantes, alega Mehta (2014). No caso de Wilkin, a sua concentração é na alteração de rostos e corpos, obtendo um resultado ao mesmo tempo perturbador e cativante. Como na imagem da Figura 35, a seguir: Figura 35-“Everything I Know” Charles Wilkin, 2013. Colagem sobre papel Fonte: Site do artista, disponível em: <http://www.charlesscottwilkin.com/?p=825> Acesso em: 22 jun. 2014.
  • 42. 42 Franz Falckenhaus é um artista polonês interessado em fotografias, colagens e cinema, é detalhista em cada uma de suas obras, segundo sua indicação em seu site (2014). Ele mistura ilustrações, recortes e fotografias, e cria pequenas histórias, remetendo sempre ao “vintage”, de acordo com a revista Zupi (2012). Suas colagens são todas digitais, não se utilizando de papel e cola para montar seu trabalho, como outros artistas. A meu ver, a colagem quando usada como interferência no retrato fotográfico, no caso das imagens abaixo (Figura 36 e 37), traz uma característica surreal muito forte, pois são imagens de algo que não acontece na realidade. O interessante destas imagens é o carácter imaginativo que nos proporciona, e aquilo que representam. A imagem “Bullitt”, abaixo, nos dá a impressão de que a garota não está ali, mas ao mesmo tempo temos a ideia do vazio de sua alma. Já “Miss Pipe” nos traz muito movimento, uma mulher meio máquina, sustentada e preenchida por algo que a completa dentro dos canos. Figura 36- “Miss Pipe” Figura 37- “Bullitt” Franz Falckenhaus, 2011. Fonte: Site do artista, disponível em: <https://www.flickr.com/photos/63011297@N0 2/8506322389> Acesso em: 23 jun. 2014. Franz Falckenhaus, 2011. Fonte: Site do artista, disponível em: <https://www.flickr.com/photos/63011297@N0 2/9025938148> Acesso em: 23 jun. 2014. Por fim, há outro artista contemporâneo, fotógrafo de moda e designer gráfico, com trabalhos muito interessantes, Ernesto Artillo. Ele é um fotógrafo de moda e editorial que faz o uso da colagem também com referências
  • 43. 43 surrealistas. Artillo é espanhol e mora em Madrid. Suas colagens possuem uma característica forte para o artista, que usa a iconografia religiosa e deuses antigos em suas imagens, alega a SOMA Magazine (2013). Segundo a revista SOMA (2013), as colagens de Artillo são obras de arte misteriosas e às vezes intrigantes em suas combinações de anatomia e natureza, arte e geometria, formando um mundo mágico onde a nostalgia encontra sensualidade, entregue em uma paleta sempre subjugada. Cada imagem pode ser lida como uma reflexão pessoal sobre forma e cor, aparentemente existente apenas para o prazer estético; mas em cima de uma inspeção mais próxima essas imagens podem se comunicar profundamente com seu público e se envolver com o olho do espectador. Artillo declara para a revista SOMA (2013) que suas influências mais fortes em sua arte vêm das pinturas renascentistas, da arte moderna de Matisse e Picasso, e do folclore espanhol, mas só retrata suas inspirações pessoais e sentimentos de amor e ternura. Algo que pode ser notado nas obras mostradas nas figuras 38 e 39, a seguir: Figura 38- Sem título Figura 39- Sem título Ernesto Artillo Fonte: Disponível em:<http://romeumag.blogspot.com.br/2014/01/ collage-artist-ernesto-artillo.html> Acesso em: 23 jun. 2014. Ernesto Artillo Fonte: Site do artista, disponível em: <http://www.ernestoartillo.com/tagged/collab oration> Acesso em: 23 jun. 2014.
  • 44. 44 Analiso a imagem da Figura 38 como totalmente lúdica, nos fazendo pensar sobre o destino que o retratado possui, uma vez que seu rosto flutua para fora de seu corpo e em seu interior há um único caminho. Remete-nos aos sonhos e aspirações individuais. A imagem da Figura 39 possui um sentimento mais forte, onde o homem em pedaços lamenta, chora, e existe na obra uma profundidade, tanto das cores frias como o azul, quanto da forma e desenho do que nos lembra um mar fluindo de dentro do corpo desse homem. A referência religiosa se percebe na coroa de flores que o homem usa em sua cabeça. Desta forma é possível notar as inúmeras vertentes que o movimento surrealista trouxe para a história da arte ao longo dos anos. Percebe-se sua mudança estética e também o avanço de sua técnica, neste caso, da colagem. 1.5.3 Colagem e Pop Art Branco (2011, p.20) conta que a Pop Art surgiu no Reino Unido e Estados Unidos no final da década de 1950, possui uma estética marcante e se espalhou por todo o mundo por consequência de sua popularidade. Apropriou- se de grandes ícones da TV, da publicidade e dos quadrinhos, e aproveitou o aumento do consumismo do grande público para vender e popularizar seus trabalhos de arte. Muitos artistas criavam suas obras utilizando latas de refrigerante, embalagens de alimentos, histórias em quadrinhos, bandeiras, panfletos de propagandas e outros objetos que serviram de base para a criação artística deste período, uma vez que se utilizavam deste “lixo” criado pela mídia e o ironizavam em forma de obra. Os artistas também trabalhavam com cores vivas e modificavam o formato dos objetos que utilizavam. A técnica de colagem, repetindo várias vezes um mesmo objeto, com cores diferentes, foi muito utilizada. Os materiais mais usados pelos artistas da Pop Art eram derivados das novas tecnologias que surgiam. McCarthy (2002, p.6) ressalta que “a colagem apareceu primeiramente como anúncio”, pois era a arte do pós-guerra identificada com signos,
  • 45. 45 consumismo e comunicação em massa. Um dos pôsteres mais importantes foi o de Richard Hamilton, feito para a exposição “This isTomorrow” (“Este é o Amanhã”), em 1956, na galeria de arte de Whitechapel de Londres. Este pôster nos faz pensar o quão interessante é saber que a arte do pós-guerra, que mais se identifica com consumismo, signos e comunicação em massa, tenha aparecido na história da arte como um anúncio. Esse pôster (Figura 40) era composto apenas de recortes das revistas populares, como se vê abaixo: Figura 40- “O que exatamente torna os lares de hoje tão diferentes, tão atraentes?” Richard Hamilton-1956. Colagem. Fonte: MCCARTHY, 2002, p.7. Segundo David McCarthy (2002, p.8): “Hamilton chamava a atenção tanto para as correntes da moda quanto para os muitos públicos cujo acesso mais imediato à cultura visual não se dava através de museus e galerias, mas sim de revistas populares”. Diz Mccarthy: “Ele tirou imagens preexistentes de seus contextos originais e as transpôs, sem mudá-las para uma composição nova”.(MCCARTHY, 2002, p.8). McCarthy (2002, p.6) interpreta a colagem de Hamilton da seguinte forma: “um mundo de fantasia consumista, disponível por um bom preço, prometia uma fuga do enfadonho trabalho na vida do pós-guerra na Grã- Bretanha”. A meu ver o objetivo central do movimento era ironizar, criticar as grandes massas e o capitalismo. As colagens em sua maioria faziam o uso de imagens manipuladas pela mídia de artistas famosos e marcas importantes de
  • 46. 46 produtos. Segundo McCarthy (2002, p.10), a arte pop também era contra a arte modernista. Os artistas pop como Allen Jones e Peter Phillips demonstraram um forte interesse por design chamativo e alusão erótica, cuja representação misógina do nu feminino seria um objeto de ira feminista nos anos seguintes (MCCARTHY, 2002, p.13). O que nos faz lembrar da ideologia do corpo feminino tão explorado pela mídia e utilizada como tema por esses artistas. Eles fazem críticas à grande massa que dita padrões de beleza impostos pela mídia e revistas, vendendo a imagem de uma mulher sexualmente comercializada. A Pop Art deu a muitos artistas “[...] um vocabulário que podia ser dirigido para vários fins, seja celebrando a cultura comercial, seja protestando contra a agressão norte americano na Guerra Fria.” (MCCARTHY, p.13).De acordo com McCarthy(2002, p.14),estavam vinculados a momentos de mudança política e otimismo na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, quando adotaram uma resposta positiva à tecnologia dos anos 1960. O avanço tecnológico trouxe muitos benefícios e novas possibilidades de expressão para a arte pop. Com isso a arte pop mostra-se um dos movimentos centrais na arte inglesa e norte americano, reconfigurando o entendimento da cultura do século XX. Ela evitou a rigidez e as censuras de algumas manifestações do modernismo em favor de uma arte que era visual e verbal, figurativa e abstrata, criada e apropriada, artesanal e produzida em massa, irônica e sincera (MCCARTHY, 2002, p.14). Eram tão complexos e dinâmicos quanto o momento e os artistas que lhe deram vida, alega McCarthy. 2.5. Fotomontagem e Fotografia Digital Pode-se definir a fotomontagem como “uma maneira de composição de imagens que se utiliza da combinação de fragmentos visuais provenientes de origens diversas, com características variadas, aplicados em um mesmo suporte, criando um conjunto único.” (BERNARDO, 2012, p.54)
  • 47. 47 De acordo com André Rouillé (2009, p.326), foram os dadaístas alemães Georg Grosz, John Heartfield, Raoul Hausmann e HannaHoch- quem, no final dos anos 1910, primeiro recorreram à fotomontagem, em uma reação à pintura, da qual denunciavam a abstração crescente, o vazio conceitual, a ruptura com a realidade. Juliana Bernardo ainda afirma: Estes artistas utilizavam o termo "fotomontagem" para designar trabalhos constituídos total ou parcialmente por fotos reunidas de maneira semelhante aos elementos de uma colagem. A combinação dos fragmentos fotográficos passa a ser o elemento básico na estruturação da imagem. O termo ‘montagem’ remeteria, para eles, a um trabalho mecânico ou artesanal, numa crítica à arte tradicional. (BERNARDO, 2012, p.58) A fotomontagem para Raoul Hausmann “é considerada como uma forma importante do realismo moderno e atribui o papel construtivo de conciliar uma composição livre e estrita de imitação” (ROUILLÉ, 2009, p.327), que são duas características heterogêneas da arte moderna. Já Laszlo Moholy-Nagy15 alega que “enquanto o fotógrafo registra as aparências das coisas, o artista fotomontador constrói uma nova unidade fotográfica com a ajuda de fotos dadas ou escolhidas” (ROUILLÉ, 2009, p.328), portando se diferenciam fotografia e fotomontagem. Segundo Santaella (1994), as imagens são divididas em três categorias: pré-fotográficas, fotográficas e pós-fotográficas, sendo que as imagens técnicas englobariam as duas últimas. As imagens produzidas com o auxílio do computador são colocadas entre as imagens pós-fotográficas. As colagens nas imagens técnicas que derivam da fotografia são: fotomontagem, cinema e colagem digital. Atualmente existe a possibilidade de se fazer colagens e fotomontagens com a ajuda da tecnologia de softwares em computadores, o que hoje em dia nos confunde o olhar por serem bastante parecidas. A primeira câmera digital da história foi desenvolvida em 1975 por Steve Sasson, engenheiro elétrico da Kodak; a imagem era em preto e branco e demorava cerca de 23 minutos para 15 Tate Gallery. LaszloMoholy-Nagy foi um artista húngaro, designer, pintor, tipógrafo, fotógrafo, cineastra e teologista. Muito influente nos movimentos vanguardistas como o dadaísmo e o construtivismo.
  • 48. 48 ser armazenada numa fita cassete (SOUZA; CARDOZA, 2009). Logo mais, em 1990, lançaram uma câmera digital comerciável, porém o custo era elevadíssimo e foi um fracasso de vendas. Como hoje vemos o avanço que a fotografia alcançou, percebe-se que mais tarde ela ganhou seu reconhecimento por ser prática e de fácil armazenamento, deixando a fotografia analógica em segundo plano. Ao ler o artigo “Sensores de Imagem Digitais CCD E CMOS”, de Jhonata Serra de Souza e Jorge Alexander Sosa Cardoza, observei que o funcionamento da fotografia digital se dá a partir da sensibilização de um sensor eletrônico (CCD ou CMOS), que converte a luz captada em código eletrônico digital e armazena este código em um cartão de memória. As imagens armazenadas no cartão podem ser vistas imediatamente através do visor da câmera, geralmente de LCD, ou num computador, através da transferência de dados do cartão para este ou, até mesmo, impressas diretamente, pois há no mercado impressoras que imprimem imagens de cartão de memória dispensando a intermediação do computador. Uma vez no computador as imagens podem ser manipuladas. As fotomontagens analógicas e digitais são muito similares, o que as diferencia são os meios e os processos pelos quais são feitas. Como podemos ver nas imagens a seguir: Figura 41- Sem título Figura 42- “Deux” Jerry Uelsmann, 1991. Fotomontagem analógica. Fonte: Site do artista, disponível em: http://www.uelsmann.net/works.php Acesso em: 25 jun. 2014. Jon Duenas, 2014. Fotomontagem digital. Fonte: Site do artista, disponível em: http://www.jonduenas.com/double- exposures#10
  • 49. 49 Acesso em: 25 jun. 2014. A imagem da Figura 41 é de Jerry Uelsmann, fotógrafo americano e conhecido como o “mestre das montagens”, por ter um trabalho rico em detalhes e de inacreditável composição surrealista. A técnica de Uelsmann era a de juntar diversos negativos em uma só imagem e usar vários ampliadores já preparados, passando o papel de um ao outro, de acordo com seu plano, até completar a montagem. Já a imagem fotomontada na Figura 42 é digital, portanto utiliza-se do programa Photoshop para conseguir fazer rapidamente essas montagens. A fotomontagem de Duenas pode ser facilmente confundida com a analógica, por existir a possibilidade de sobrepor as fotos, esse efeito é criado quando se tira uma foto e, logo depois, mais uma, sem rodar o filme da câmera, sem necessitar de edição pós-fotográfica. Com a ajuda da tecnologia da fotografia digital, Nacho Ormaechea faz colagens digitais muito interessantes. Ele é um artista parisiense, diretor de arte espanhol radicado na França e designer gráfico. Suas colagens digitais quase sempre nos levam para outra dimensão, como um portal para dentro da cabeça das pessoas, vemos aquilo que parecem ser e o que pensam. Ele utiliza-se de silhuetas de pessoas desconhecidas, que fotografa nas ruas de Paris, e as preenche quase que totalmente com aquilo que, ele imagina que devem estar pensando no momento. Como nas fotografias a seguir, da série “Le Carnet Noir”: Figura 43- Sem título 38 da série “Le Carnet Noir” Figura 44- Sem título 19 da série “Le Carnet Noir” NachoOrmaechea, 2012. Colagem digital NachoOrmaechea, 2012. Colagem digital
  • 50. 50 Fonte: Site do artista, disponível em:<http://www.ormaechea.eu/LCN> Acesso em: 25 jun. 2014. Fonte: Revista Beautiful/Decay, disponível em:<http://beautifuldecay.com/2012/01/19/nacho- ormaecheas-internal-portals/> Acesso em: 25 jun. 2014. A primeira imagem (Figura 43) nos traz a ideia de que a mulher está sendo transportada para a dimensão do livro em que lê, uma paz e ternura é sentida quando a imagem de um pôr-do-sol é colocada como preenchimento de sua silhueta. Na segunda imagem (Figura 44) percebe-se que o jovem retratado está pensando em “safadezas”, por lermos as palavras naughty (safado) e party (festa) no letreiro colocado dentro de sua silhueta. Algo interessante que Nacho nos traz também com essa série de colagens digitais é o contraste entre o local onde as pessoas se encontram e aquilo que supostamente elas pensam. Outro artista recorrente das colagens digitais é Sinead Leonard, designer de moda e ilustrador nova iorquino. Seus trabalhos têm referência nas primeiras colagens feitas, pois nos dá a impressão de que foram feitas a mão, embora sejam recortadas e coladas digitalmente. Por ser designer de moda, suas imagens trazem a figura feminina quase sempre presente (Figuras 45 a 47). Nas colagens abaixo, Leonard fala das mulheres guerreiras, da cabeça feminina e de sua alma: Figura 45- “A Fight or Flight to a Future Freshness” Figura 46- “Mind Mapping” Figura 47- “Vitality” Sinead Leonard, 2012. Colagem digital. Fonte: Disponível em: <http://begseekandlausa.blog spot.com.br/2012/04/fight-or- flight-to-future- freshness.html?view=flipcard Sinead Leonard, 2012. Colagem digital. Fonte: Disponível em: <http://begseekandlausa.blog spot.com.br/2012/05/mind- mapping.html?view=flipcard> Acesso em: 25 jun. 2014. Sinead Leonard, 2012. Colagem digital. Fonte: Disponível em: <http://begseekandlausa.blog spot.com.br/2012/05/blog- post.html?view=flipcard>Aces so em: 25 jun. 2014.
  • 51. 51 > Acesso em: 25 jun. 2014. Leonard possui um trabalho muito vivo e bonito, assim como diz ser a alma feminina. Ele representa as mulheres como sendo fortes e ainda tentando mostrar-se socialmente. Na primeira imagem (Figura 45) ele envolve a mulher naquilo que chama de zona de conforto, uma proteção rígida em meio à fragilidade feminina, proteção essa perceptível através das texturas de conchas e outros elementos marinhos. Na segunda imagem (Figura 46) ele retrata a mente feminina, mostrando as inúmeras coisas que elas pensam e as possibilidades de destinos diferentes. Retrata a dificuldade do pensar com a palavra e a ação, retrata também aquilo que se pensa, mas não se diz. Na terceira imagem (Figura 47) Leonard nos mostra uma mulher aparentemente retraída e talvez insegura; por dentro veem-se suas cores, sua vitalidade na vida. Ele potencializa e incentiva a mulher a olhar para si mesma e a descobrir as suas cores e beleza interior. Desta forma percebe-se o benefício que a tecnologia nos traz no ramo fotográfico das fotomontagens e colagens digitais. Os artistas de hoje têm inúmeras possibilidades de expressão com a fotografia, seja ela analógica ou digital. Mesmo utilizando técnicas antigas, é completamente possível criar uma obra contemporânea. E também é totalmente possível fazer-se o inverso, criar obras através das tecnologias de hoje com características de antigamente.Com isso a fotografia está cada vez mais ligada à arte, e cada vez mais ela se reinventa na história do mundo.
  • 52. 52 2. A OBRA SÓ MENTE CORPO Este capítulo está destinado a tratar da produção prática deste trabalho de conclusão do curso de Artes Visuais. Começa com a descrição sobre a escolha do tema e se desenvolve até a finalização das obras fotográficas propostas. 2.1 A escolha do tema Como foi dito na Introdução do presente trabalho, a inspiração do tema ocorreu ao conhecer as ilustrações da artista francesa Paula Bonet, que retrata o sentimento feminino de uma forma muito peculiar em seus desenhos e grafites. A série fotográfica apresentada como finalização deste estudo foi idealizada há um ano, quando, a partir de experiências com edição de imagens digitais, veio à mente a ideia de retratar o íntimo das pessoas. O retrato esteve sempre muito presente em minha forma de expressão, tanto no desenho, quanto na pintura, portanto levei isso para a fotografia também, além de me interessar muito pela junção da arte com a tecnologia. Sempre muito curiosa sobre o comportamento das pessoas e de suas personalidades, busquei por uma poética que me permitia mostrar o indivíduo e não meramente sua aparência. A escolha do retrato feminino se deu pela vontade de trazer um trabalho sensível ao observador, e por ver as mulheres como dotadas de beleza e de uma sensibilidade que eu poderia explorar. Com isso as coisas acabaram “casando”. Porém, faltava ainda o íntimo: como mostrar as pessoas no seu íntimo. Em resposta a isso ocorreu a ideia do nu fotográfico como uma forma de acesso. Mas a ideia não era trabalhar apenas o nu artístico tradicional, que corre o risco de chamar muito a atenção para o corpo e não para o íntimo que eu buscava. Havia, portanto, ainda, a necessidade de encontrar um modo de mostrar aspectos desse íntimo que não são visíveis na aparência, mesmo no nu. A colagem e a fotomontagem apareceram como recursos que possibilitavam trabalhar isso.
  • 53. 53 O corpo feminino nu expressando, com as interferências da colagem e de fotomontagem, o sentimento individual de cada mulher, foi o grande desafio do trabalho artístico. Para exercitar a capacidade de distinguir os sentimentos por meio da manipulação das fotografias, decidi fotografar duas mulheres, o que exigiria desenvolver modos de tornar singulares não apenas os seus retratos, mas também a manipulação deles, de modo que as obras resultantes dos retratos de cada uma das modelos se apresentassem com características individuais próprias delas e distintas uma da outra. 2.2 Desenvolvimentos práticos Antes de obter o resultado definitivo das obras, fiz vários testes de imagens. Como as fotografias seriam impressas em grande formato, tive que optar por uma qualidade bem alta dessas imagens, por isso fotografei tudo em RAW16 . Esse tipo de formato de foto equivale ao negativo das câmeras analógicas, mas não pode ser revelado da mesma forma por se tratar de um arquivo digital. No processo de edição é possível alterar qualquer erro de luz que possa ocorrer na imagem sem perder a qualidade e naturalidade da foto. Usei o formato RAW para manter todas as informações que foram capturadas no momento da foto pela câmera e, assim, tive mais controle na hora da edição no computador. Neste caso fiz as edições com os softwares Adobe Photoshop CS6 e Adobe Photoshop Lightroom 5.6. Comecei fazendo um ensaio sem ajuda de equipamentos externos, apenas com a luz ambiente e a câmera digital. Eu ainda não tinha um bom conceito formado, nem noção de muitos dos problemas que enfrentaria para realizar as fotografias. Assim, esse ensaio serviu como um ótimo teste inicial. Abaixo algumas fotos resultantes dele: 16 Definição deRaw segundo o Dicionário Online Michaelis: RAW ,1material ou produto em bruto. 2 em estado natural, não trabalhado.
  • 54. 54 Figura 48- Teste 01 Figura 50- Teste 03 Figura 49-Teste 02 Figura 51- Teste 04 Foi graças a esse ensaio que descobri o que realmente queria trazer como proposta para meu trabalho final. Descobri que precisava de um local maior, pois fotografei na casa da modelo e não sabia que o espaço era pequeno. Usei a lente 50mm, que necessita respeitar uma distância específica entre a câmera e o fotografado para dar foco, e sendo o espaço pequeno, fiquei limitada demais para fazer boas angulações. Além disso, queria controlar mais a luz do ambiente, o que era complicado fora de um estúdio. As manipulações digitais feitas nas Figuras 48 e 51 foram sobreposições da mesma imagem em tamanhos diferentes, porém nas Figuras 49 e 50 foram inseridas outras fotografias, feitas por mim anteriormente a esse ensaio. Essas manipulações também foram experimentações que ajudaram a compreender os efeitos obtidos. 2.3 Conceito As fotografias mostradas no próximo tópico ilustram o conceito deste trabalho de forma que retratam o sentimento feminino. Para chegar a este
  • 55. 55 conceito precisei observar ainda mais as pessoas à minha volta, principalmente as mulheres. Considerando aquilo que disse na Introdução deste trabalho, as mulheres são dotadas de beleza e sensibilidade, porém vistas muitas vezes de forma pejorativa. A mulher desde muito tempo foi tratada como ser inferior e fraco, que servia apenas à família e marido, mas nos tempos atuais essa situação já mudou drasticamente. As mulheres têm direito à sua liberdade e podem mais do que em outras épocas, realizar seus desejos e ser elas mesmas. Mesmo com essa “liberdade”, ainda há resquícios machistas e tradicionais na sociedade em que vivemos, o que pode ser lido na mídia e, principalmente, nas fotografias, como as publicitárias de moda, beleza e saúde. Fotos essas que muitas vezes vendem uma ilusão, uma falsa verdade sobre aquilo que as mulheres podem se tornar. E com a tecnologia e o avanço de softwares de edição de imagem ficou ainda mais fácil moldar essas mulheres e criar novos padrões de beleza. São fotografias que retratam mulheres com a pele perfeita, cabelo, sorriso, corpo em forma, enfim, atributos de um ser perfeito, que sabemos não existir. A ideia era retratar mulheres comuns, com corpos comuns e únicos, mulheres com alma e sentimentos, mulheres de verdade. Queria fugir também de algo feminista e que batesse de frente com os ideais publicitários, pois a proposta não foi criticar e banalizar essas fotografias, mas sim mostrar outros tipos de mulheres. Desta forma retratei duas mulheres diferentes, interpretando alguns sentimentos comuns. Algo como a feminilidade, a leveza, o belo e o drama, o pesado e a tristeza. Como a ideia era mostrar aquilo que sentimos, as roupas e qualquer outro objeto comum não teriam o porquê estar na composição, pois era o indivíduo, seu sentimento e expressão corporal que importavam. Já que, também, o que mais se explora na fotografia é o corpo feminino, é muito comum ver mulheres seminuas em propagandas e anúncios, onde a imagem delas é sexualmente comercializada. Por isso quis usar o nu de forma não
  • 56. 56 erotizada, a fim de mostrar a sensualidade feminina de outras formas, como algo natural. 2.4 Processos de produção. Como a ideia era ter mais controle da luz, dos elementos presentes nas imagens e, também, trazer conforto às pessoas fotografadas durante a sessão, optei por fotografar em estúdio. O primeiro local usado foi o estúdio da Universidade Anhanguera Uniderp, onde fotografei a primeira modelo. Eu nunca tinha fotografado em estúdio antes, porém fiquei muito satisfeita com o resultado de ambos os ensaios. O segundo local foi alugado, utilizei o estúdio de um fotógrafo. Os locais, apesar de serem estúdios parecidos, possuíam equipamentos e iluminação diferenciada, mas nada que afetasse drasticamente as fotografias. Como vemos a seguir: Figura 52- Estúdio Semelhante ao da Uniderp Figura 53- Estúdio do fotógrafo Usei dois pontos de luz e o fundo branco refletido em ambos os estúdios, pois eu queria que os corpos das modelos ficassem bem nítidos para que depois, na pós-produção, eu conseguisse recortar as imagens com eficiência. Porém o segundo ensaio teve uma luz menos dura e mais dramática, mas não interferiu em nada na pós-produção. Tirei aproximadamente 350 fotos de cada modelo em cada ensaio para que depois pudesse escolher as melhores fotos pra utilizar na edição e composição das fotografias. Desta forma utilizei o Adobe Photoshop Lightroom 5.6 para a correção de luz, contraste, brilho, saturação e para realizar alguns outros pequenos efeitos adicionais que deixaram minhas fotografias em preto e branco. Como o
  • 57. 57 programa é compatível com o Adobe Photoshop CS6, eu apenas transferi as fotografias para poder trabalhar as montagens e colagens nesse software, coisa que o Lightroom não faz. Podemos entender as edições feitas detalhadamente no processo abaixo: Figura 54- Edição de luz e saturação no Lightroom (Antes e Depois) Na Figura 54, acima, mostro o Antes e Depois de um processo de uma das obras finais deste trabalho. A foto da esquerda mostra o antes, que era colorido e que depois, à direita, tornou-se preto e branco, porém ainda continuou com algumas partes originais da fotografia. Para fazer esse efeito eu utilizei a ferramenta responsável pela saturação das fotografias, chamada Saturação, e dentro dela diminuí as cores de pele, cabelo e fundo, deixando apenas as cores da coroa de flores aparente (Figura 55). Figura 55- Exemplo do uso da ferramenta Saturação no Lightroom
  • 58. 58 Depois desse processo eu importei a imagem (Figura 56) em preto e branco para o software Adobe Photoshop CS6, pois para manipulação fotográfica ele é o ideal. Apenas clicando com o botão direito do mouse sobre a foto e encontrando as opções “Edit In” e logo depois “Edit in Adobe Photoshop CS6”, a fotografia aparece no software Photoshop CS6. Figura 56- Importando para o Photoshop Figura 57- Duplicando Layer Já aberta a imagem, resolvi balanceá-la espelhando-a. Então selecionei a fotografia desejada e fiz uma cópia da imagem duplicando o Layer (Figura 57); logo depois usei a ferramenta “FreeTransform” (Figura 58) para espelhar a fotografia virando-a na horizontal, ao contrário da foto original (Figura 59). Essa ferramenta também é usada para ajeitar o tamanho da imagem e rotação da mesma.
  • 59. 59 Figura 58- Processo efeito espelhado Figura 59- Efeito espelhado Apaguei algumas partes da fotografia (Figura 59), pois havia diminuído a opacidade da mesma para que os fundos não se sobrepusessem. Desta forma resolvi adicionar o elemento final que traria mais característica, dando mais sentido à composição. Este elemento foi a imagem de uma rosa de tecido (Figura 61), tirada por mim de um arranjo, em alta resolução, para que não perdesse qualidade na hora da impressão da obra. Apenas abri a foto em um novo arquivo do Photoshop CS6 e, com os dois arquivos abertos (A foto espelhada e a flor), arrastei com o mouse a flor para o arquivo da foto espelhada, onde usando a ferramenta “FreeTransform” ajeitei o tamanho e a rotação que queria. Por fim dupliquei mais duas vezes a layer da flor, e organizei agora as três layers de flores, para compor a nova fotografia, obtendo o resultado final (figura 60). Figura 60- Edição concluída Figura 61-Fotografia de flor em alta resolução
  • 60. 60 Salvei a imagem em alta resolução, pois foi impressa no tamanho 50 cm por 60cm e depois emoldurada. O segundo ensaio fotográfico também passou por edições parecidas com as da fotografia acima, conforme é detalhado a seguir: Figura 62- Aplicando Preset Preto e Branco Figura 63- Antes e Depois do efeito preto e branco Primeiramente usei o software Adobe Photoshop Lightroom 5.6 para as edições básicas como cor, contraste e exposição, entre outros. Assim, escolhida imagem eu apliquei o que no Ligthroom é chamado de Preset, que são os efeitos prontos para as fotografias; neste caso apliquei o B&W Contrast High dos efeitos de Preto e Branco (Figura 62). Depois escureci um pouco o preto, como pode ser visto na Figura 63, onde é mostrado o Antes e Depois da imagem. Feito isso, abri a fotografia importando-a, da mesma forma mostrada nas edições do primeiro ensaio, e assim comecei as manipulações no Photoshop CS6. Além desta primeira imagem, importei também uma segunda que já havia aplicado o preset preto e branco (Figura 64) para poder mesclar as duas fotografias no Adobe Photoshop CS6. Apliquei um efeito chamado “Hard Light” na primeira (Figura 65) e depois na segunda foto (Figura 66), a fim de aumentar o contraste entre o preto e o branco, além de iluminar as fotografias para que na hora de diminuir a opacidade de ambas a foto não ficasse com muito fundo para ser removido. Sendo assim fiz um efeito chamado de
  • 61. 61 Transparência, no qual com pouca opacidade duas fotos se mesclam só por serem colocadas uma sobre a outra. Figura 64-Preset P&B Figura 65-Aplicando efeito Hard Light Depois de mesclar as fotografias resolvi recortar a silhueta da modelo para que quando fosse adicionar as flores de tecido vermelho elas não fugissem para o fundo da imagem, sendo assim criei uma máscara (Figura 67). Usei a ferramenta de seleção rápida “Quick Selection Tool” para delimitar a área onde eu queria que as flores ficassem e, então, deletei. O próximo passo foi adicionar as flores e agrupá-las de forma que ficassem harmônicas na composição (Figura 68). Logo depois adicionei o efeito “Screen” (Figura 68) em todas as layers duplicadas. E por fim juntei todas as layers e edições, obtendo o resultado que esperava para a finalização do trabalho (Figura 69). Figura 66- Efeito “Hard Light” Figura 67- Aplicando máscara
  • 62. 62 Figura 68- Aplicando efeito “Screen” Figura 69- Edição final 2.5 Análises das obras Como etapa final deste trabalho, apresento as obras finalmente definidas. Depois de muito tempo de pesquisa, análise de referências e testes, finalizei os conceitos e técnicas. As obras a seguir apresentam características sentimentais e conceituais sobre a minha visão de feminilidade e sua relação com sentimentos. Essa subjetividade é importante no meu trabalho, mesmo ciente de que as minhas interpretações não serão exatamente iguais às dos observadores. Figura 70- Dupla Mente A obra “Dupla Mente” (Figura 70) remete a uma ideia de duplicidade de pensamentos, como quando alguém pensa demais ou reage de formas muito
  • 63. 63 diferentes umas das outras, podemos dizer que esta pessoa é dupla. Podemos dizer que existem dois seres dentro de um só. A expressão da modelo é fixa, não sorri e seu olhar está parado em direção ao vago, porém, mesmo assim a imagem é carregada de serenidade e feminilidade. Ao usar a flor rosa como elemento símbolo feminino procurei trazer à tona a natureza e linkar o simples e natural com a beleza da flora, dizer que a mulher como ela é não foge do natural. E nesta imagem a mulher está no meio das flores, de forma harmoniosa, como se pertencesse ao meio. Figura 71- Anseio Na obra “Anseio” (Figura 71) eu ainda continuo a mesclar o feminino com a natureza, com a beleza daquilo que existiu desta forma. A imagem acima traz o significado de que a natureza existe dentro de cada mulher, elas possuem suas próprias flores em seu interior. A beleza da imagem aflora quando interpreta-se que é o retrato da mulher olhando para dentro de si mesma e aceitando seu jeito natural de ser.
  • 64. 64 Figura 72- Flor menina “Flor menina”, (Figura 72) se vista de longe parece ser as pétalas das rosas e o órgão reprodutor da flor, transformando-se em uma planta. Aqui venho falar da pureza feminina, daquilo que tem a ver com o sexo e seus vários sentidos. Neste caso têm-se a impressão de uma virgem, uma deusa movendo-se por entre as flores, mas ao mesmo tempo a vemos leve e com movimentos gentis. Apenas confortavelmente em seu estado de espírito. Figura 73- Doa o que doação A obra mostrada na Figura 73 é muito mais rica em expressões e sentimentos do que as anteriores. Nela vemos o sofrimento, porém a doação
  • 65. 65 consciente e serena. O título refere-se à expressão: “Doa a quem doer”; porém, aqui ressalto que, mesmo que estejamos machucados, nós não deixamos de doar e de amar. As transparências de flores foram idealizadas para que as ligássemos à ideia de tristeza, porém não se comportava como algo ruim, mas sim. Figura 74- Petrificada A obra “Petrificada” (Figura 74) traz consigo a ideia de desilusão. Traz características da natureza ainda com a sobreposição de pedras e de galhos secos, ambos retratando a frieza e a falta de carinho. Nesta obra a modelo se comporta como se tivesse sido despejada, tratada mal e, assim sofrendo, o seu coração foi se enrijecendo como uma pedra, dura e imóvel que é. Figura 75- Desejo em pedaços
  • 66. 66 Esta última obra fotográfica (Figura 75) retrata a frustração, o desequilíbrio e a dor de desejar e não obter aquilo que se almeja. “Desejo em pedaços” é dotada de expressão e drama, onde o sofrimento permanece em grande parte das interpretações. Por mais que as fotografias tenham caráter dramático, elas não são tristes e nem arranham aos nossos olhos. É como se casassem harmonicamente dentro da composição. Foi remetendo sempre ao belo e à natureza que construí o meu conceito sobre esses sentimentos femininos. E a partir disso quis mostrá-los para que todos pudessem, ao ver, entende-los dentro de si mesmos. A natureza é naturalmente bela, as mulheres também. O fato de sentirem com o coração é o que nos diferencia. E assim, só nos resta viver plenamente.