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Vila Mukwano: uma vila heterogênea para inserção comunitária de crianças e
adolescentes abrigados na cidade de são paulo

trabalho final de graduação
aluna.suellen oliveira maia
orientador.prof. dr. artur simões rozestraten
defesa.30 de junho de 2010

Resumo
A proposta era fazer um abrigo para crianças e adolescentes em situações de risco pessoal ou
social, encaminhadas para um trabalho de reinserção familiar e comunitária na cidade de São
Paulo.

O projeto se iniciou como um conjunto de quatro casas independentes, contendo no máximo 20
crianças e adolescentes por casa, além dos educadores, ou pais sociais (mãe ou casal).

Entretanto, o período entre o momento em que são retiradas de suas famílias e o momento em
que são devolvidas, não precisa ser de reclusão social, aliás, não deve ser. Essas crianças
precisam ser preparadas para a sociedade que a espera. Portanto a idéia das quatro casas
cresceu, evoluiu para a escala do bairro, para o projeto de um trecho de cidade onde essas
crianças possam ter a experiência de vivenciar o bairro, os vizinhos, os comércios, os
equipamentos. Assim, escolha do terreno foi feita levando-se em consideração os sistemas de
Educação, Lazer, Saúde e Transporte.

A reflexão sobre a inserção no bairro, o contexto da cidade, me levou a projetar não só o abrigo,
mas um local que insere essas crianças e adolescentes num ambiente onde a exclusão social,
geralmente já incorporada ao tema abrigo, não fosse uma realidade. A estigmatização de
crianças abandonadas, o preconceito que elas sofrem deve ser eliminado, proporcionando a
essas crianças um ambiente familiar e de boa vizinhança, a integração social que eles precisam.

Assim surgiu a vila, com uso misto, onde a instituição está misturada a habitações de 1, 2 ou 3
dormitórios, e qualquer pessoa possa ser vizinho dessas crianças. Na administração encontram-
se salas para psicólogo, assistente social, reunião, administração, e um depósito para as
doações, além de banheiros, cozinha e copa.

O comércio também foi incorporado para dialogar com o bairro, pois a via de maior movimento é
predominantemente comercial, assim também a vila ganharia mais vida e movimento. Sugiro um
comércio de uso mais local como lanchonete, banca de jornal, farmácia, armarinho ou bazar.

Uma praça no interior da quadra faz o papel principal dessa integração, além de reunir os
acessos ao estacionamento, reservado aos moradores e comerciantes, e aos pavimentos
superiores, a praça é um local de passagem e de permanência.

O estudo volumétrico foi feito com o uso da modelagem que não foi utilizada apenas como
representação dos desenhos, mas como ferramenta de projeto em si. Grande parte do projeto
saiu dos modelos e grandes problemas resolvidos neles. O estudo da volumetria começou com
peças de LEGO, depois comecei a utilizar o LEGO Digital Designer e então o modelo com
papel, tudo com ajuda de croquis.

A partir desses estudos, pesquisas e conversas realizados, surgiu o desenho da Vila Mukwano,
como resposta do conceito aqui criado.

O desnível de três metros no terreno, no sentido leste-oeste, possibilitou a criação de patamares
diversificados. O comércio fica situado na cota mais baixa e por isso ganhou um pé-direito
duplo, ficando a critério do comerciante como utilizá-lo. As únicas áreas definidas são as áreas
molhadas.
O estacionamento fica no lado oposto, semi-enterrado, com 33 vagas para moradores,
comerciantes da vila e funcionários da administração do abrigo, foi colocado no mesmo nível do
comércio, entretanto seu acesso é na rua mais alta, pedindo assim a rampa, projetada em curva
para poupar espaço utilizado para criação de vagas. O estacionamento possui um sistema de
cancelas e luzes, para coordenar o tráfico, pois o acesso é de uma via, não exigindo mais pela
baixa rotatividade do estacionamento.

As unidades residenciais de diferentes tipologias, de 1 (45m²), 2 (60m²), e 3 dormitórios (80m²),
estão espalhadas pelos três pavimentos, assim como as unidades voltadas ao abrigo (125m²),
permitindo assim mais integração entre as mais diferentes pessoas.

Os materiais foram escolhidos para conferir mais aconchego à vila, para a vedação o tijolo
aparente e cobogós, também utilizado como guarda-corpo, e para os caixilhos a madeira. A
estrutura é metálica e independente, permitindo maior mobilidade.

As fachadas têm tratamentos diferentes. A fachada nordeste apresenta portas que correm por
fora, na fachada, que levam os moradores do 3º pavimento a um terraço exclusivo para algumas
unidades. A fachada noroeste apresenta brises para proteger do sol mais forte. Já as fachadas
sudeste e sudoeste apresentam tijolos de vidro junto às janelas. Todos os elementos conferem
movimento às fachadas.

O pergolado foi escolhido como cobertura alternativa em algumas áreas, produzindo
sombreamento e aconchego. Na cobertura do edifício foi projetada uma pista para corrida, além
de áreas de lazer e áreas ajardinadas.

Para o único muro que divide a vila foi pensado um jardim vertical, que conversa com outros
trechos de jardins verticais dentro da própria vila. Esse jardim continua no chão, configurando
uma área de brincar para as crianças com árvores e gramados. Ele se estende ainda ao longo
da parede da garagem, onde também é utilizado do cobogó, permitindo ventilação e iluminação
dentro do estacionamento, sem a visibilidade de quem está do lado de fora.

A vila reúne então conceitos retirados desse estudo específico e de toda a formação acadêmica
na FAU. O que pretendi fazer com esse trabalho foi uma crítica ao modelo de abrigos existentes,
ao modelo de institucionalização e segregação utilizado com essas crianças e adolescentes. O
projeto da unidade, do quarto, da sala ou do banheiro, apesar de terem sido pensados, não
foram prioridades aqui, a prioridade foi o conjunto, a integração da vila com a cidade e, portanto,
das crianças com a sociedade que a rodeia, para que se desenvolvam agentes transformadores
de seu meio.



Palavras-Chave: Abrigo Infantil. Orfanato. Vila Heterogênia. Uso Misto.




Ficha Técnica:

Projeto: Vila Mukwano

Local: Santo Amaro, São Paulo, SP

Data: 2010

Área do terreno: 3.500 m²
uma vila heterogênea para reinserção comunitária de crianças e adolescentes abrigados na cidade de são paulo
trabalho final de graduação
       suellen oliveira maia
orientador.artur rozestraten
        30 de junho de 2010


                          1
Agradecimentos

A Deus, por tudo que sou e tenho, pela renovação de forças a cada manhã.

À minha família, em especial a minha mãe Dorinha, pela compreensão e paciência com minhas
angústias e receios de não conseguir terminar este trabalho.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Artur Simões Rozestraten, por enxergar antes de todos a arquiteta
que havia em mim, por acreditar mais no meu potencial que, muitas vezes, eu mesma. Obrigada
por sua extrema generosidade em ensinar, em compartilhar o enorme conhecimento que
adquiriu, pela paciência, carinho e sensibilidade nos momentos difíceis.

À Prof. Dra. Maria Cecília Loschiavo, ao Arq. Ms. Mário Lasar Segall, e ao Arq. Celso Bussamra
por aceitarem compor a banca avaliadora deste trabalho.

Ao grupo de docentes da FAU-USP, em especial à Prof. Dra. Claudia Teresinha de Andrade
Oliveira, ao Prof. Dr. Luís Antônio Jorge e à Prof. Dra. Maria Cecília Loschiavo, o meu muito
obrigada.

Aos amigos do grupo de orientação Flávia Pereto e Pedro Guglielmo, pelos olhares
diversificados sobre os dados apresentados em nossas reuniões, pelas sugestões de desenho e
análise, por notarem aquilo que eu não pude observar.

Aos arquitetos Monica Nickel e Celso Bussamra pelo imprescindível apoio e exemplo
profissional.

E, em especial, à irmã e Psicóloga Ana Paula Maia e à amiga e Assistente Social Julia Benedini,
pelos materiais de pesquisa e plantões de dúvida. Sem vocês este projeto não seria possível.




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Aos educadores do Lar Batista de Crianças - Unidade Campo Limpo e da Associação
Beneficente Brasileira Aslam – ABBA que eu tive o prazer de conhecer e entrevistar, que
gentilmente compartilharam comigo um pouco de suas bonitas trajetórias de vida e escolhas
profissionais.

À Rosemeire Aguiar e Graça Brito pela fundamental ajuda na busca do terreno.

À amiga e também formanda da Faculdade de Arquitetura, Urbanismo e Design da Universidade
Federal de Uberlândia, Flavia Alves, pelos projetos por MSN e pelas palavras de incentivo,
carinho e certeza de que eu posso... Nós podemos!

Aos amigos Patrícia Ramona, Luiz Seo e Natália Sampaio, pelas broncas, pelos exemplos de
autoconfiança que são, pelos modelos de perseverança em alcançar seus objetivos, por me
fazerem crer que nada é impossível para os que desejam, estudam e ainda se divertem no
processo.

Ao amigo de longa data (e modelo) André Felipe de Medeiros, pela admiração, pelos ouvidos
amigos, pelas orações, por me amar do jeito que sou e comemorar comigo minhas vitórias, além
de servir como escala humana nos passeios fotográficos ao terreno e fornecer a trilha sonora
das infindáveis noites de projeto.

Às amigas amoras e a mentora Maria Eugênea Bussamra, pelo compartilhamento de dúvidas e
ansiedades quanto aos caminhos da vida. Sei que vocês vibraram e vibram, ainda, com cada
passo dessa longa caminhada. Obrigada pelas orações, pela confiança e por acreditarem em
tudo o que eu faço.

À Karina Griesi pela amizade, apoio e pelos anos e anos de caronas à USP.

A todos que contribuíram direta ou indiretamente para a realização deste trabalho.


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Eu sei, mas não devia

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as
janelas ao redor. E, porque não tem vista logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não
olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas,
logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol,
esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café
correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da
viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A
cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os
mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas
negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra,
dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para
as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar
o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a
pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais
trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.




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A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a
televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado,
conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz
artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água
potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir
passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no
pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não
perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema
está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está
contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente
se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a
gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para
evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente
se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se
perde de si mesma.

Marina Colasanti (1972)




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A proposta

Nós nos acostumamos com a vida que vamos vendo a nossa volta, mas não devíamos. Por que
não mudar? Por que não fazer diferente?

Ao fazer um estágio em Uganda, no leste da África, participei do projeto de um abrigo na
Tanzânia, país vizinho, onde as crianças morariam em casas comuns, com grupos de oito
crianças e uma mãe social por casa, surgiu, então, a questão: por que não trazer essa idéia
para a realidade paulistana?

Children of Destiny, Mwanza, Tanzânia.

Engineering Ministries International – East Africa




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O nome, Vila Mukwano, tem a mesma origem africana. Mukwano significa Amigo em Luganda,
língua falada em Kampala, capital de Uganda, representando assim a relação que gostaria que
os moradores e trabalhadores dessa vila tivessem entre si.

Começando, então, por visitas a abrigos existentes na cidade de São Paulo e a leitura da nova
lei que entrou em vigor em agosto de 2009, pude perceber que os abrigos deverão modificar sua
estrutura física e irão assim aproximar-se mais desse tipo de projeto, mais próximo a casas
comuns do que grandes instituições.

As instituições, inicialmente com espaços amplos como os refeitórios e dormitórios para mais
de vinte crianças, são obrigadas a se adaptarem. Como o prazo estipulado é curto, muitos
abrigos estão retirando as crianças “em excesso” e colocando-as rapidamente em espaços
alugados ou emprestados, sem o devido preparo.

Além disso, os espaços de hoje, em geral, não privilegiam as crianças, não são projetados de
forma a desenvolvê-las, e sim para que os educadores consigam controlá-las e organizá-las
mais facilmente.

Essas crianças e adolescentes precisam de espaços que lhes transmitam segurança e
acolhimento, que lhes despertem a curiosidade e imaginação, e, ainda, que lhes ensinem o
significado de lar que muitos deles não encontraram em seus próprios. Ainda que seja um
espaço de transição que possa ser também um espaço de aprendizado e crescimento para
essas crianças abrigadas.

“O que se opõe ao descuido e ao descaso é o cuidado. Cuidar é mais que um ato; é uma
atitude. Portanto, abrange mais que um momento de atenção, de zelo e de desvelo. Representa
uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o
outro.” Leonardo Boff (Baptista, pg.63)


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A idéia então era fazer um abrigo para crianças e adolescentes em situações de risco pessoal
ou social, encaminhadas para um trabalho de reinserção familiar e comunitária na cidade de
São Paulo.

Minha proposta era inicialmente um espaço projetado para as crianças onde elas tivessem a
possibilidade e a liberdade para modificá-lo, criando oportunidade para que elas exercessem
sua criatividade e imaginação, que inserissem elementos pessoais, que trouxessem sua história
consigo, que encontrassem o significado de lar e sua identidade pessoal. Transitório ou não,
que seu tempo de permanência fosse permeado de acolhimento, segurança e alegria.

 “No aspecto físico, um ambiente rico em estimulação irá proporcionar objetos que possam ser
manipulados pela criança, lugares que possam ser explorados (...). No plano social, o ambiente
será rico de estimulação quando reforçar e valorizar a aquisição de competência da criança em
muitos e muitos aspectos.” (Rappaport, p.56)

Dessa forma o projeto se iniciou como um conjunto de quatro casas independentes, contendo
no máximo 20 crianças e adolescentes por casa, além dos educadores, ou pais sociais (mãe ou
casal). As casas seriam coordenadas por uma administração que teria ainda profissionais como
psicólogo e assistente social.

Na primeira etapa foi realizado principalmente um trabalho de pesquisa que incluiu leitura de
bibliografia, estudo de referências arquitetônicas, visita a abrigos, levantamento de legislação e
de critérios para escolha do terreno.




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Lei 12.010/09 – Estatuto da Criança e do Adolescente

A lei aprovada no dia 3 de agosto de 2009 prevê que a permanência da criança e do
adolescente em programa de acolhimento institucional não deverá se prolongar por mais de
dois anos, exceto se comprovada necessidade e devidamente fundamentada pela autoridade
judiciária. (Art. 19- § 2º)

A mesma lei exige ainda a preservação dos vínculos familiares (Art. 92), evitando ao máximo
a separação de irmãos, o que significa a presença de idade e sexo variados em uma mesma
casa.

As diretrizes para o reordenamento dos abrigos recomendam que as instituições ofereçam um
acolhimento que seja o mais semelhante possível ao da rotina familiar. As entidades não
devem, por exemplo, manter placas ou faixas externas que as identifiquem como abrigos. Da
mesma forma, a construção deve aparentar uma residência comum. Os grandes pavilhões,
símbolos dos antigos orfanatos, devem ser abolidos. Por outro lado, é fundamental que o
atendimento ocorra em pequenos grupos, o que permite o olhar para as características
individuais de cada criança ou adolescente, bem como para as especificidades de suas histórias
de vida. (IPEA, pg.5)

A partir destas questões foram feitas visitas a algumas instituições para verificar suas condições
nesse momento de transição. Todos apresentam pontos positivos e negativos que serão
apresentados a seguir.




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Visitas

Lar Batista de Crianças

A visita ao Lar Batista de Crianças – Unidade Campo Limpo revelou um espaço diferente dos
outros abrigos por estar no mesmo terreno do Centro da Criança e do Adolescente (CCA) que
atende a 270 crianças de 6 a 16 anos com ajuda dos parceiros como: Prefeitura, Projeto Guri e
Compassion. Entretanto essas crianças passam apenas meio período, realizando diversas
atividades no CCA, e voltam para suas famílias.

O Lar trabalha com educadores, com horários e escalas de trabalho, atende 20 crianças e
adolescentes de 2 a 18 anos, tendo no momento da visita apenas uma para adoção. Por
estarem em um grande terreno cercado por um muro, as crianças não experimentam o que há
na vizinhança, pois “têm tudo o que precisam ali mesmo”.

Esse é um dos espaços obrigados a realocar metade de suas crianças em outra casa, mas
apesar de diminuir o número de crianças, sua estrutura permanece a mesma, portanto podemos
encontrar alguns problemas como banheiros coletivos, permitindo o uso de muitas crianças ao
mesmo tempo, acabando com a privacidade, assim como os quartos que ainda abrigam seis
crianças.




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Entretanto a individualidade é respeitada nos armários. Cada criança tem uma parte nos guarda-
roupas, na sapateira, e ainda caixas para guardarem os pertences mais pessoais. Cada criança
tem sua própria roupa e sapato, esses itens não são compartilhados.

Infelizmente o muro, construído aqui para substituir a grade e assim diminuir o número de
roubos às doações, e a placa, indicando a presença da instituição, ainda são parte deste e de
muitas instituições.




Imagens: acervo da autora.




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Associação Brasileira Beneficente Aslam – ABBA - Casa das meninas

O abrigo encontra-se funcionando em uma residência comum, em uma rua residencial, sem
placas, sem muros, sem indicações de instituição, assim como a lei exige. O programa também
é bastante comum: dois quartos, com quatro crianças em cada, um banheiro para todas, um
quarto para a mãe social e voluntárias com um banheiro, cozinha, sala de jantar e sala de estar.
Nos fundos construíram uma sala de computadores e um espaço para guardar doações e acima
dele um terraço coberto para atividades externas. Tem ainda um quintal com mini-horta,
lavanderia e garagem.

Aqui eles têm uma mãe social, uma pessoa que mora na casa, período integral, com apenas um
dia de folga na semana. A mãe social é a figura mais importante, é ela quem exerce o papel
principal na formação dessas crianças e é quem gere a casa. As outras duas voluntárias são
figuras secundárias, que também ajudam a cuidar das crianças e da casa, ajudam em atividades
externas e a organizar e limpar a casa.

Para proporcionar maior aconchego e para que as meninas sintam que podem se apropriar dos
espaços, mesmo que por um tempo pequeno, mas que a principio é indeterminado, podem-se
encontrar desenhos das crianças nas paredes dos quartos, sala e cozinha. A casa possui ainda
um cachorro, mais uma figura de carinho para essas meninas.




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Casa dos meninos

A casa dos meninos funciona de forma bem diferente. Por serem meninos retirados da rua, mais
especificamente do Vale do Anhangabaú, a casa trabalha com um sistema também diferente,
apenas com voluntários e educadores, e um sistema de fases.

O projeto funciona tão bem que até a visita ainda não havia casos de não terem encontrado e
preparado a família para receber os adolescentes. Os educadores os preparam também para a
volta à escola, pois esses adolescentes ficaram parados por muito tempo, e ensinam ofícios que
podem proporcionar empregos, uma vez que estejam fora do abrigo.

Há então um quarto para cada fase do programa com quatro meninos por quarto. Cada fase tem
uma duração e obrigações a cumprir. Eles ficam, no entanto, na última fase até que possam
voltar para suas famílias.

Na casa tem ainda uma cozinha, sala de jantar, sala de leitura/música/vídeo, sala de estar/lazer,
piscina, churrasqueira, oficina de marcenaria, oficina de bicicleta, sala de artes, horta e até um
campinho de futebol.




Imagens: acervo da autora.



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Os abrigados

Nas visitas foram recolhidos alguns dados como o de que a grande maioria das crianças e
adolescentes não está para adoção e de que apenas 7% das crianças disponíveis são menores
de três anos, faixa etária procurada por 80% das pessoas que querem adotar.

A partir de outra pesquisa (Fávero, pg.28-31) pode-se perceber que 37% das crianças e
adolescentes estão abrigadas há mais de dois anos, uma porcentagem ainda alta para uma lei
que limita a institucionalização das crianças nesse período, mas não diz o que deverá ser feito
após esse tempo de acolhida.

Como a faixa etária está bem distribuída entre os 02 e 15 anos, e o número de meninas e
meninos é praticamente igual, o desafio então é o de fazer um projeto que atenda a todas as
idades e suas diferentes fases de desenvolvimento.




Tabelas: Famílias de crianças e adolescentes abrigados



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Significado de lar

Autores de textos nas áreas de psicologia, assistência social, filosofia e arquitetura, se utilizam
de alguns termos para descrever ou qualificar um abrigo. Eles descrevem os espaços, as
relações, os sentimentos que devem proporcionar. Esses termos estão aqui elencados para
também nortear esse projeto:

Privacidade, Auto-imagem, Identidade, Crescimento pessoal, Naturalidade, Espontaneidade,
Aceitação das diferenças, Acolhida, Proteção, Cuidado mútuo, Porto seguro, Provisório,
Transitório, Respeito, Aprendizagem, Novas rotinas, História, Memória, Brincadeira, Alegria,
Agradável, Gostoso, Projetos de futuro, Re-elaboração de sonhos, Sócio educação.

É importante que o abrigo não seja somente um teto, uma cama, ou comida. Deve ser um lugar
que dê às crianças e adolescentes a proteção de que necessitam, um lugar em que possam se
sentir seguros. Um lugar onde vão aprender sobre a comunidade e sobre eles mesmos, sobre
suas histórias, seu passado, e então começar a sonhar com seu futuro. Um lugar onde vão
aprender um novo significado para a palavra lar.

Os arquitetos Mayumi Souza Lima, Herman Hertzberger e Clare Cooper Marcus, falam sobre a
relação da criança com a cidade, com a arquitetura e com o lar, respectivamente. Essas
relações ultrapassam limites e se interagem, de forma que, a maneira como uma criança
compreende seu lar é a mesma de como compreende a cidade, assim projetar um sem
considerar o outro se torna inviável.

Para as crianças, os espaços menores proporcionam maior segurança e conforto, portanto
também prazer, enquanto os mais versáteis criam um ambiente propício a imaginação e
criatividade. Da mesma forma as aberturas menores são menos agressivas e incitam a




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curiosidade, uma vez que para as crianças as aberturas servem para se observar a paisagem
do outro lado, e não para ventilação ou iluminação. Para isto elas devem ser mais numerosas.

Outra fascinação para essas crianças é o descobrir o lugar em que estão, para isso os
diferentes níveis tem um papel importante, patamares que podem ser percebidos, mas não
completamente compreendidos no primeiro olhar, que exigem uma maior exploração do lugar.

"Escadas, patamares, vazios e áreas abertas, onde quer que se situem, estão espacialmente
relacionados e expressam a presença de outros espaços, sugerindo encontros e discussões não
programados". Hertzberger



Dessa maneira o programa do meu projeto se modificou, crescendo para além das paredes do
abrigo, incorporando a cidade e proporcionando a permeabilidade entre a menor e a maior
escala.

O período entre o momento em que são retiradas de suas famílias e o momento em que são
devolvidas, não precisa ser de reclusão social, aliás, não deve ser. Essas crianças precisam ser
preparadas para a sociedade que a espera. Portanto a idéia das quatro casas cresceu, evoluiu
para a escala do bairro, para o projeto de um trecho de cidade onde essas crianças possam ter
a experiência de vivenciar o bairro, os vizinhos, os comércios, os equipamentos.




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Localização

A escolha do terreno foi feita levando-se em consideração os sistemas de Educação, Lazer,
Saúde e Transporte. Para os dois primeiros inicialmente buscou-se a proximidade de uma
unidade do CEU, possibilitando a utilização dos equipamentos já existentes. Entretanto, a
reflexão sobre a vida urbana, a inserção no contexto do bairro e a vida cotidiana comum, me
levou a buscar os diferentes serviços em diferentes equipamentos.

“As casas, os caminhos, as cidades são espaços da criança que transcendem as suas
dimensões físicas e se transformam nos entes e locais de alegria, de medo, de segurança, de
curiosidade, de descoberta” (Lima, pg.14)

As famílias dos abrigados também são um ponto importante, a proximidade com os locais onde
moram se torna importante para facilitar a visitação e, portanto, mantendo os laços familiares.
Porém pelo longo período em que essas crianças e adolescentes permanecem abrigados há
possibilidades, e muitas vezes acontecem em função de seus empregos, de as famílias
mudarem, portanto um sistema de transporte eficiente na região é importante.

O terreno escolhido está próximo a dois terminais de ônibus importantes, à uma estação da
CPTM e à duas estações do Metrô. Hospitais, Bibliotecas, Teatro, Hípica, Casa de Cultura,
SESC e um Clube Escola são equipamentos encontrados no s arredores do terreno. A
proximidade com as Varas da Infância e Juventude e os Conselhos Tutelares, também foram
consideradas, por facilitar o contato com essas instituições.

O terreno é uma ponta de quadra, tendo acesso por três ruas. A de maior porte é a Rua Dr.
Antonio Bento a oeste, uma rua mais comercial. A Rua São José, ao norte, é uma rua
secundária e nessa quadra abriga também o Colégio Jesus Maria José, e a oeste encontra-se a
Rua Salomão Karlik, onde se localiza o Pronto Socorro Santo Amaro.


                                                                                            17
Escolas públicas e privadas   Esporte, lazer e cultura   CT e VIJ




Hospitais e postos de saúde    Transporte




Usos do entorno                                          Terreno


Imagens: Google Earth




                                                                    18
Fotos do terreno e entorno




Terreno                     Rua Salomão Karlik       R. Salomão Karlik x R.São José




Rua Dr. Antonio Bento       Terreno cercado por tapume vermelho

Imagens: acervo da autora




                                                                                      19
A vila

A mesma reflexão sobre a inserção no bairro, o contexto da cidade, me levou a projetar não só o
abrigo, mas um trecho de cidade que insere essas crianças e adolescentes num ambiente onde
a exclusão social, geralmente já incorporada ao tema abrigo, não fosse uma realidade. A
estigmatização de crianças abandonadas, o pré-conceito que elas sofrem deve ser eliminado,
proporcionando a essas crianças um ambiente familiar e de boa vizinhança, a integração social
que eles precisam.

Assim surgiu a vila, com uso misto, onde a instituição está misturada a habitações de 1, 2 ou 3
dormitórios, e qualquer pessoa possa ser vizinho dessas crianças. O comércio também foi
incorporado para dialogar com o bairro, pois a via de maior movimento é predominantemente
comercial, assim também a vila ganharia mais vida e movimento. Sugiro um comércio de uso
mais local como lanchonete, banca de jornal, farmácia, armarinho ou bazar.

Uma praça no interior da quadra faz o papel principal dessa integração, além de reunir os
acessos ao estacionamento, reservado aos moradores e comerciantes, e aos pavimentos
superiores, a praça é um local de passagem e de permanência.

Programa

O programa da vila consiste em cinco unidades de um dormitório, sete de dois dormitórios e seis
de três, quatro unidades de abrigo e sua administração, e oito unidades de comercio.

Cada unidade do abrigo terá quartos para quatro crianças cada, um quarto para pais sociais,
banheiros, sala de estar, sala de jantar, cozinha e área de serviço.

Na administração encontram-se salas para psicólogo, assistente social, reunião, administração,
e um depósito para as doações, além de banheiros, cozinha e copa.


                                                                                            20
Estudo Volumétrico

A modelagem não foi utilizada apenas como representação dos desenhos, mas como
ferramenta de projeto em si. Grande parte do projeto saiu dos modelos e grandes problemas
resolvidos neles.

O estudo da volumetria começou com peças de LEGO. Ao fazer alguns croquis, definindo
modulações, percebi que as proporções utilizadas eram conhecidas de longa data: as
proporções do brinquedo de montar. Apesar das peças rígidas, o modelo foi até certo ponto
flexível por me permitir uma mudança rápida e, portanto, muitas tentativas, muitas
experimentações. Pude trabalhar então a modulação, volumetria, passagens e patamares,
cheios e vazios.




                                                                                      21
Depois comecei a utilizar o LEGO Digital Designer. Apesar de breve a utilização dessa
ferramenta, foi muito útil antes do modelo físico, para o estudo da relação da volumetria que eu
estava criando com a volumetria do entorno existente.




Os croquis ajudaram a estudar as proporções humanas e os desenhos sobre fotografia me
ajudaram a inserir alguns detalhes a mais da vizinhança, tais como postes de luz, semáforos,
árvores e faixas de pedestre.




                                                                                             22
A maquete de papel entrou então para um estudo mais detalhado, me permitindo mudanças que
o LEGO não permitia como o feitio de lajes, caimento do terreno e mudança na estrutura geral.
Os blocos feitos com papel cartão e o terreno em papel paraná, me foi possível estudar e
modificar tanto as edificações quanto o terreno.




                                                                                          23
Referências arquitetônicas

Children of Destiny, Mwanza, Tanzânia.

Engineering Ministries International – East Africa

O projeto, citado no inicio deste trabalho, engloba um programa variado. Em um terreno de 89
mil m² foi feito o projeto de um centro social e educacional contendo o orfanato, dividido em
quatro nichos de quatro casas e uma cozinha, clínica médica, estação de rádio, escola primária,
igreja, centro de estudo bíblico e moradia para funcionários e voluntários.

Os orfanatos são residencias com plantas iguais a outras residências da região, funcionando em
um regime de mãe social. A preocupação aqui foi de proporcionar a comunidade equipamentos
que estão em falta e integra-los entre si.




                                                                                 Imagens: eMi


                                                                                            24
Mto Moyoni, Jinja, Uganda.

Engineering Ministries International – East Africa

Projeto de um centro de conferências e retiros à beira do Rio Nilo. A conversa com o entorno é
um ponto muito importante nesse projeto e por isso as aberturas. Nos blocos de dormitórios a
ventilação é feita por uma abertura no encontro da parede com a cobertura e pelas janelas que
passeiam pela fachada conforme a mudança das camas no interior. A iluminação ganha ainda
um reforço dos tijolos de vidro.




Imagens: Phil Greene




                                                                                           25
Escola Montessori Ool, Amsterdam, Holanda

Herman Hertzberger

Na escola projetada para alunos de muitas nacionalidades, a proposta era não fazer escolas
que parecessem labirintos. Partindo do exemplo da cidade, as salas de aula são com áreas
urbanas situadas as extremidades do edifício, conectadas com o exterior. Uma praça faz a
ligação entre os dois blocos. Hertzberger posiciona os patamares e escadas de maneira a não
só serem interessantes, mas para que também possam servir como arquibancada, fazendo com
que aqueles que estão nos níveis inferiores possam ser observados por aqueles que estão nos
níveis mais elevados, transformando-os em platéias, expectadores, e transformando todos os
lugares em lugares de passagem e lugares de permanência.




Imagens: Portal Vitruvius




                                                                                        26
SESC Pompéia, São Paulo, SP

Lina Bo Bardi

Um equipamento urbano que reúne atividades de esporte, lazer e cultura, o SESC foi
implantado em um terreno onde existia uma antiga fábrica de tambores. Lina resolveu então
manter estruturas, edifícios, elementos dessa fábrica e reaproveitá-los em seu projeto. Nos
edifícios mais altos Lina brinca com as aberturas, ora recortes irregulares alinhados na fachada,
ora aberturas regulares desalinhados.




                                                                                              27
Instituto Acaia, Vila Leopoldina, SP

UNA Arquitetos

Um espaço cultural e artístico, o Instituto recebe crianças e suas mães para fazer cursos de
marcenaria, pintura, costura, tecelagem, teatro, dança, música, vídeo e capoeira. Os arquitetos
aqui fazem uma transição do descoberto para o coberto e ainda deste para o ambiente fechado
de maneira suave e tranqüila.




Imagens: UMA Arquitetos




                                                                                            28
Escola pública, Itapevi, SP

Chão Arquitetos

A escola pública estadual foi projetada levando-se em consideração o desenho que surgiu a
partir do atalho que os moradores criaram no terreno. O jardim interno é separado por painéis de
elementos vazados. A maneira como esses elementos são utilizados, permitindo a passagem
de luz, são ainda um convite para quem passa para ver o que há por trás de uma daquelas
pequenas aberturas.




Imagens: ARCOWEB




                                                                                             29
Grisbi Industrias Têxteis, Polo Petroquímico de Camaçari, BA

Brasil Arquitetura

Um projeto cuja construção infelizmente foi abandonada quando da venda da propriedade, a
fábrica de fiação e tecelagem

Os tijolos vazados permitem a visibilidade e conversam com os materiais e com as aberturas em
ritmo diferente do habitual.




Imagens: Brasil Arquitetura




                                                                                          30
O projeto

A partir desses estudos, pesquisas e conversas realizados, surgiu o desenho da Vila Mukwano,
como resposta do conceito aqui criado.

O desnível de três metros no terreno, no sentido leste-oeste, possibilitou a criação de patamares
diversificados. O comércio fica situado na cota mais baixa e por isso ganhou um pé-direito
duplo, ficando a critério do comerciante como utilizá-lo. As únicas áreas definidas são as áreas
molhadas.

O estacionamento fica no lado oposto, semi-enterrado, com 33 vagas para moradores,
comerciantes da vila e funcionários da administração do abrigo, foi colocado no mesmo nível do
comércio, entretanto seu acesso é na rua mais alta, pedindo assim a rampa, projetada em curva
para poupar espaço utilizado para criação de vagas. O estacionamento possui um sistema de
cancelas e luzes, para coordenar o tráfico, pois o acesso é de uma via, não exigindo mais pela
baixa rotatividade do estacionamento.

As unidades residenciais de 1 (45m²), 2 (60m²), e 3 dormitórios (80m²), estão espalhadas pelos
três pavimentos residenciais da vila. As unidades voltadas ao abrigo de crianças e adolescentes,
com 125m², comportam no máximo quatro crianças por dormitório, totalizando um máximo de 16
crianças por residência. Essas unidades se encontram também espalhadas pela vila, fazendo
vizinhança com apartamentos de todas as demais tipologias, permitindo assim mais integração
entre as mais diferentes pessoas.




                                                                                              31
Os materiais foram escolhidos para conferir mais aconchego à vila, para a vedação o tijolo
aparente e cobogós, também utilizado como guarda-corpo, e para os caixilhos a madeira. A
estrutura é metálica e independente, permitindo maior mobilidade

As fachadas têm tratamentos diferentes. A fachada nordeste apresenta portas que correm por
fora, na fachada, que levam os moradores do 3º pavimento a um terraço exclusivo para algumas
unidades. A fachada noroeste apresenta brises para proteger do sol mais forte. Já as fachadas
sudeste e sudoeste apresentam tijolos de vidro junto às janelas. Todos os elementos conferem
movimento às fachadas.

O pergolado foi escolhido como cobertura alternativa em algumas áreas, produzindo
sombreamento e aconchego. Na cobertura do edifício foi projetada uma pista para corrida, além
de áreas de lazer e áreas ajardinadas.

Para o único muro que divide a vila foi pensado um jardim vertical, que conversa com outros
trechos de jardins verticais dentro da própria vila. Esse jardim continua no chão, configurando
uma área de brincar para as crianças com árvores e gramados. Ele se estende ainda ao longo
da parede da garagem, onde também é utilizado do cobogó, permitindo ventilação e iluminação
dentro do estacionamento, sem a visibilidade de quem está do lado de fora.

A vila reúne então conceitos retirados desse estudo específico e de toda a formação acadêmica
na FAU. O que pretendi fazer com esse trabalho foi uma crítica ao modelo de abrigos existentes,
ao modelo de institucionalização e segregação utilizado com essas crianças e adolescentes. O
projeto da unidade, do quarto, da sala ou do banheiro, apesar de terem sido pensados, não
foram prioridades aqui, a prioridade foi o conjunto, a integração da vila com a cidade e portanto
das crianças com a sociedade que a rodeia, para que se desenvolvam agentes transformadores
de seu meio.



                                                                                              32
Referências Bibliográficas

Abrigo

Abrigo para crianças de 0 a 6 anos: um olhar sobre as diferentes concepções e suas
     interfaces. Revista Mal Estar e Subjetividade, vol.7 no 2. Fortaleza, 2007.

BAPTISTA, Myrian V.(coord.) Abrigo: comunidade de acolhida e socioeducação. São Paulo:
    Instituto Camargo Corrêa, 2006.

BARROS, Z. O. O cotidiano dos filhos do Estado: um estudo da vida cotidiana das crianças
   que necessitam de assistência do Estado. São Paulo: Programa de Pós Graduação em
   Serviço Social / Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Dissertação de Mestrado,
   1988.

CARREIRÃO, Úrsula Lehmkuhl. Modalidades de abrigo e a busca pelo direito à convivência
   familiar e comunitária. In: SILVA, Enid Rocha Andrade (Org). O direito à convivência
   familiar e comunitária: os abrigos para crianças e adolescentes no Brasil. Brasília:
   IPEA/CONANDA, 2004. 416p. cap. 11, p. 303 - 323.

FÁVERO, Eunice T.; VITALE, Maria Amália F.; BAPTISTA, Myrian V.(orgs.) Famílias de
    crianças e adolescentes abrigados. Quem são, como vivem, o que pensam, o que
    desejam. São Paulo: Paulus, 2009.

IPEA: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. O direito à convivência familiar e
    comunitária: os abrigos para crianças e adolescentes no Brasil. Brasília, 2005.

Keep Children Safe Coalition. Um Lugar Seguro para as Crianças: Guia 1 e Guia 2.


                                                                                        33
LIMA, Mayumi Souza. A cidade e a criança. São Paulo: Nobel, 1989.

MAIA, A. P. O.; SANTOS, A. R. dos; SANTOS, C. M. dos; ZACCARIAS, R. H.; KUNTZ, T. G.;
    COSTA, T. C. G. R. da. Adoção. Vara da Infância e Juventude. São Paulo: Centro
    Universitário – UniFMU, 2004

ROCHA, A. B. N.; BATISTA, A. C. C.; MAIA, A. P. O.; SANTOS, A. R. dos; SANTOS, C. M. dos;
   ARAUJO, P. V. de; STEINAS, R.; COSTA, T. C. G. R. da. Promovendo a psico-higiene
   através de uma intervenção institucional. São Paulo: Centro Universitário – UniFMU,
   2005

Síntese das propostas que subsidiarão a Resolução de abrigos do Conselho Municipal
     dos Direitos da Criança e do Adolescente CMDCA-SP, 2007.



Assistência social e Psicologia

PEREIRA, Potyara A.P. Necessidades humanas: subsídios à crítica dos mínimos sociais. São
   Paulo: Cortez, 2000.
RAPPAPORT, Clara R.; FIORI, Wagner da R.; Davis, Cláudia. Psicologia do
    Desenvolvimento. Vol.1 Teorias do desenvolvimento. Conceitos fundamentais. São Paulo:
    EPU, 1981. cap. 3, p.51 -75
SILVA, Roberto da. Os filhos do governo: a formação da identidade criminosa em crianças
órfãs e abandonadas. São Paulo: Ática, 1997. p.33 – 71




                                                                                      34
Espaço

BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. Coleção “Os Pensadores”. Ed. Abril Cultural.
   1957
GARDNER, Howard. Inteligências múltiplas - a teoria na prática. Porto Alegre: 2000.
HERTZBERGER, Herman. Lições de Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
NORBERG-SCHULZ, Christian. Existence, Space & Architecture. Londres: Studio Vista, 1972



Lar

MARCUS, Clare Cooper. House as a Mirror os Self. Exploring the Deeper Meaning of Home.
   Berkeley: Conari Press, 1997.

RYBCZYNSKI, Witold. Casa: pequena história de uma idéia. Rio de Janeiro: Record, 2002.



Legislações

Lei Nº 12.010, de 29 de Julho de 2009 - http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/818490/lei-
    12010-09
Lei Nº 8.069, de 13 De Julho de 1990 - http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm




                                                                                         35

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Vila heterogênea para reinserção de crianças e adolescentes

  • 1. Vila Mukwano: uma vila heterogênea para inserção comunitária de crianças e adolescentes abrigados na cidade de são paulo trabalho final de graduação aluna.suellen oliveira maia orientador.prof. dr. artur simões rozestraten defesa.30 de junho de 2010 Resumo A proposta era fazer um abrigo para crianças e adolescentes em situações de risco pessoal ou social, encaminhadas para um trabalho de reinserção familiar e comunitária na cidade de São Paulo. O projeto se iniciou como um conjunto de quatro casas independentes, contendo no máximo 20 crianças e adolescentes por casa, além dos educadores, ou pais sociais (mãe ou casal). Entretanto, o período entre o momento em que são retiradas de suas famílias e o momento em que são devolvidas, não precisa ser de reclusão social, aliás, não deve ser. Essas crianças precisam ser preparadas para a sociedade que a espera. Portanto a idéia das quatro casas cresceu, evoluiu para a escala do bairro, para o projeto de um trecho de cidade onde essas crianças possam ter a experiência de vivenciar o bairro, os vizinhos, os comércios, os equipamentos. Assim, escolha do terreno foi feita levando-se em consideração os sistemas de Educação, Lazer, Saúde e Transporte. A reflexão sobre a inserção no bairro, o contexto da cidade, me levou a projetar não só o abrigo, mas um local que insere essas crianças e adolescentes num ambiente onde a exclusão social, geralmente já incorporada ao tema abrigo, não fosse uma realidade. A estigmatização de
  • 2. crianças abandonadas, o preconceito que elas sofrem deve ser eliminado, proporcionando a essas crianças um ambiente familiar e de boa vizinhança, a integração social que eles precisam. Assim surgiu a vila, com uso misto, onde a instituição está misturada a habitações de 1, 2 ou 3 dormitórios, e qualquer pessoa possa ser vizinho dessas crianças. Na administração encontram- se salas para psicólogo, assistente social, reunião, administração, e um depósito para as doações, além de banheiros, cozinha e copa. O comércio também foi incorporado para dialogar com o bairro, pois a via de maior movimento é predominantemente comercial, assim também a vila ganharia mais vida e movimento. Sugiro um comércio de uso mais local como lanchonete, banca de jornal, farmácia, armarinho ou bazar. Uma praça no interior da quadra faz o papel principal dessa integração, além de reunir os acessos ao estacionamento, reservado aos moradores e comerciantes, e aos pavimentos superiores, a praça é um local de passagem e de permanência. O estudo volumétrico foi feito com o uso da modelagem que não foi utilizada apenas como representação dos desenhos, mas como ferramenta de projeto em si. Grande parte do projeto saiu dos modelos e grandes problemas resolvidos neles. O estudo da volumetria começou com peças de LEGO, depois comecei a utilizar o LEGO Digital Designer e então o modelo com papel, tudo com ajuda de croquis. A partir desses estudos, pesquisas e conversas realizados, surgiu o desenho da Vila Mukwano, como resposta do conceito aqui criado. O desnível de três metros no terreno, no sentido leste-oeste, possibilitou a criação de patamares diversificados. O comércio fica situado na cota mais baixa e por isso ganhou um pé-direito duplo, ficando a critério do comerciante como utilizá-lo. As únicas áreas definidas são as áreas molhadas.
  • 3. O estacionamento fica no lado oposto, semi-enterrado, com 33 vagas para moradores, comerciantes da vila e funcionários da administração do abrigo, foi colocado no mesmo nível do comércio, entretanto seu acesso é na rua mais alta, pedindo assim a rampa, projetada em curva para poupar espaço utilizado para criação de vagas. O estacionamento possui um sistema de cancelas e luzes, para coordenar o tráfico, pois o acesso é de uma via, não exigindo mais pela baixa rotatividade do estacionamento. As unidades residenciais de diferentes tipologias, de 1 (45m²), 2 (60m²), e 3 dormitórios (80m²), estão espalhadas pelos três pavimentos, assim como as unidades voltadas ao abrigo (125m²), permitindo assim mais integração entre as mais diferentes pessoas. Os materiais foram escolhidos para conferir mais aconchego à vila, para a vedação o tijolo aparente e cobogós, também utilizado como guarda-corpo, e para os caixilhos a madeira. A estrutura é metálica e independente, permitindo maior mobilidade. As fachadas têm tratamentos diferentes. A fachada nordeste apresenta portas que correm por fora, na fachada, que levam os moradores do 3º pavimento a um terraço exclusivo para algumas unidades. A fachada noroeste apresenta brises para proteger do sol mais forte. Já as fachadas sudeste e sudoeste apresentam tijolos de vidro junto às janelas. Todos os elementos conferem movimento às fachadas. O pergolado foi escolhido como cobertura alternativa em algumas áreas, produzindo sombreamento e aconchego. Na cobertura do edifício foi projetada uma pista para corrida, além de áreas de lazer e áreas ajardinadas. Para o único muro que divide a vila foi pensado um jardim vertical, que conversa com outros trechos de jardins verticais dentro da própria vila. Esse jardim continua no chão, configurando uma área de brincar para as crianças com árvores e gramados. Ele se estende ainda ao longo
  • 4. da parede da garagem, onde também é utilizado do cobogó, permitindo ventilação e iluminação dentro do estacionamento, sem a visibilidade de quem está do lado de fora. A vila reúne então conceitos retirados desse estudo específico e de toda a formação acadêmica na FAU. O que pretendi fazer com esse trabalho foi uma crítica ao modelo de abrigos existentes, ao modelo de institucionalização e segregação utilizado com essas crianças e adolescentes. O projeto da unidade, do quarto, da sala ou do banheiro, apesar de terem sido pensados, não foram prioridades aqui, a prioridade foi o conjunto, a integração da vila com a cidade e, portanto, das crianças com a sociedade que a rodeia, para que se desenvolvam agentes transformadores de seu meio. Palavras-Chave: Abrigo Infantil. Orfanato. Vila Heterogênia. Uso Misto. Ficha Técnica: Projeto: Vila Mukwano Local: Santo Amaro, São Paulo, SP Data: 2010 Área do terreno: 3.500 m²
  • 5. uma vila heterogênea para reinserção comunitária de crianças e adolescentes abrigados na cidade de são paulo
  • 6. trabalho final de graduação suellen oliveira maia orientador.artur rozestraten 30 de junho de 2010 1
  • 7. Agradecimentos A Deus, por tudo que sou e tenho, pela renovação de forças a cada manhã. À minha família, em especial a minha mãe Dorinha, pela compreensão e paciência com minhas angústias e receios de não conseguir terminar este trabalho. Ao meu orientador, Prof. Dr. Artur Simões Rozestraten, por enxergar antes de todos a arquiteta que havia em mim, por acreditar mais no meu potencial que, muitas vezes, eu mesma. Obrigada por sua extrema generosidade em ensinar, em compartilhar o enorme conhecimento que adquiriu, pela paciência, carinho e sensibilidade nos momentos difíceis. À Prof. Dra. Maria Cecília Loschiavo, ao Arq. Ms. Mário Lasar Segall, e ao Arq. Celso Bussamra por aceitarem compor a banca avaliadora deste trabalho. Ao grupo de docentes da FAU-USP, em especial à Prof. Dra. Claudia Teresinha de Andrade Oliveira, ao Prof. Dr. Luís Antônio Jorge e à Prof. Dra. Maria Cecília Loschiavo, o meu muito obrigada. Aos amigos do grupo de orientação Flávia Pereto e Pedro Guglielmo, pelos olhares diversificados sobre os dados apresentados em nossas reuniões, pelas sugestões de desenho e análise, por notarem aquilo que eu não pude observar. Aos arquitetos Monica Nickel e Celso Bussamra pelo imprescindível apoio e exemplo profissional. E, em especial, à irmã e Psicóloga Ana Paula Maia e à amiga e Assistente Social Julia Benedini, pelos materiais de pesquisa e plantões de dúvida. Sem vocês este projeto não seria possível. 2
  • 8. Aos educadores do Lar Batista de Crianças - Unidade Campo Limpo e da Associação Beneficente Brasileira Aslam – ABBA que eu tive o prazer de conhecer e entrevistar, que gentilmente compartilharam comigo um pouco de suas bonitas trajetórias de vida e escolhas profissionais. À Rosemeire Aguiar e Graça Brito pela fundamental ajuda na busca do terreno. À amiga e também formanda da Faculdade de Arquitetura, Urbanismo e Design da Universidade Federal de Uberlândia, Flavia Alves, pelos projetos por MSN e pelas palavras de incentivo, carinho e certeza de que eu posso... Nós podemos! Aos amigos Patrícia Ramona, Luiz Seo e Natália Sampaio, pelas broncas, pelos exemplos de autoconfiança que são, pelos modelos de perseverança em alcançar seus objetivos, por me fazerem crer que nada é impossível para os que desejam, estudam e ainda se divertem no processo. Ao amigo de longa data (e modelo) André Felipe de Medeiros, pela admiração, pelos ouvidos amigos, pelas orações, por me amar do jeito que sou e comemorar comigo minhas vitórias, além de servir como escala humana nos passeios fotográficos ao terreno e fornecer a trilha sonora das infindáveis noites de projeto. Às amigas amoras e a mentora Maria Eugênea Bussamra, pelo compartilhamento de dúvidas e ansiedades quanto aos caminhos da vida. Sei que vocês vibraram e vibram, ainda, com cada passo dessa longa caminhada. Obrigada pelas orações, pela confiança e por acreditarem em tudo o que eu faço. À Karina Griesi pela amizade, apoio e pelos anos e anos de caronas à USP. A todos que contribuíram direta ou indiretamente para a realização deste trabalho. 3
  • 9. Eu sei, mas não devia Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia. A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão. A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia. A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração. A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra. 4
  • 10. A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos. A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta. A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado. A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma. Marina Colasanti (1972) 5
  • 11. A proposta Nós nos acostumamos com a vida que vamos vendo a nossa volta, mas não devíamos. Por que não mudar? Por que não fazer diferente? Ao fazer um estágio em Uganda, no leste da África, participei do projeto de um abrigo na Tanzânia, país vizinho, onde as crianças morariam em casas comuns, com grupos de oito crianças e uma mãe social por casa, surgiu, então, a questão: por que não trazer essa idéia para a realidade paulistana? Children of Destiny, Mwanza, Tanzânia. Engineering Ministries International – East Africa 6
  • 12. O nome, Vila Mukwano, tem a mesma origem africana. Mukwano significa Amigo em Luganda, língua falada em Kampala, capital de Uganda, representando assim a relação que gostaria que os moradores e trabalhadores dessa vila tivessem entre si. Começando, então, por visitas a abrigos existentes na cidade de São Paulo e a leitura da nova lei que entrou em vigor em agosto de 2009, pude perceber que os abrigos deverão modificar sua estrutura física e irão assim aproximar-se mais desse tipo de projeto, mais próximo a casas comuns do que grandes instituições. As instituições, inicialmente com espaços amplos como os refeitórios e dormitórios para mais de vinte crianças, são obrigadas a se adaptarem. Como o prazo estipulado é curto, muitos abrigos estão retirando as crianças “em excesso” e colocando-as rapidamente em espaços alugados ou emprestados, sem o devido preparo. Além disso, os espaços de hoje, em geral, não privilegiam as crianças, não são projetados de forma a desenvolvê-las, e sim para que os educadores consigam controlá-las e organizá-las mais facilmente. Essas crianças e adolescentes precisam de espaços que lhes transmitam segurança e acolhimento, que lhes despertem a curiosidade e imaginação, e, ainda, que lhes ensinem o significado de lar que muitos deles não encontraram em seus próprios. Ainda que seja um espaço de transição que possa ser também um espaço de aprendizado e crescimento para essas crianças abrigadas. “O que se opõe ao descuido e ao descaso é o cuidado. Cuidar é mais que um ato; é uma atitude. Portanto, abrange mais que um momento de atenção, de zelo e de desvelo. Representa uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro.” Leonardo Boff (Baptista, pg.63) 7
  • 13. A idéia então era fazer um abrigo para crianças e adolescentes em situações de risco pessoal ou social, encaminhadas para um trabalho de reinserção familiar e comunitária na cidade de São Paulo. Minha proposta era inicialmente um espaço projetado para as crianças onde elas tivessem a possibilidade e a liberdade para modificá-lo, criando oportunidade para que elas exercessem sua criatividade e imaginação, que inserissem elementos pessoais, que trouxessem sua história consigo, que encontrassem o significado de lar e sua identidade pessoal. Transitório ou não, que seu tempo de permanência fosse permeado de acolhimento, segurança e alegria. “No aspecto físico, um ambiente rico em estimulação irá proporcionar objetos que possam ser manipulados pela criança, lugares que possam ser explorados (...). No plano social, o ambiente será rico de estimulação quando reforçar e valorizar a aquisição de competência da criança em muitos e muitos aspectos.” (Rappaport, p.56) Dessa forma o projeto se iniciou como um conjunto de quatro casas independentes, contendo no máximo 20 crianças e adolescentes por casa, além dos educadores, ou pais sociais (mãe ou casal). As casas seriam coordenadas por uma administração que teria ainda profissionais como psicólogo e assistente social. Na primeira etapa foi realizado principalmente um trabalho de pesquisa que incluiu leitura de bibliografia, estudo de referências arquitetônicas, visita a abrigos, levantamento de legislação e de critérios para escolha do terreno. 8
  • 14. Lei 12.010/09 – Estatuto da Criança e do Adolescente A lei aprovada no dia 3 de agosto de 2009 prevê que a permanência da criança e do adolescente em programa de acolhimento institucional não deverá se prolongar por mais de dois anos, exceto se comprovada necessidade e devidamente fundamentada pela autoridade judiciária. (Art. 19- § 2º) A mesma lei exige ainda a preservação dos vínculos familiares (Art. 92), evitando ao máximo a separação de irmãos, o que significa a presença de idade e sexo variados em uma mesma casa. As diretrizes para o reordenamento dos abrigos recomendam que as instituições ofereçam um acolhimento que seja o mais semelhante possível ao da rotina familiar. As entidades não devem, por exemplo, manter placas ou faixas externas que as identifiquem como abrigos. Da mesma forma, a construção deve aparentar uma residência comum. Os grandes pavilhões, símbolos dos antigos orfanatos, devem ser abolidos. Por outro lado, é fundamental que o atendimento ocorra em pequenos grupos, o que permite o olhar para as características individuais de cada criança ou adolescente, bem como para as especificidades de suas histórias de vida. (IPEA, pg.5) A partir destas questões foram feitas visitas a algumas instituições para verificar suas condições nesse momento de transição. Todos apresentam pontos positivos e negativos que serão apresentados a seguir. 9
  • 15. Visitas Lar Batista de Crianças A visita ao Lar Batista de Crianças – Unidade Campo Limpo revelou um espaço diferente dos outros abrigos por estar no mesmo terreno do Centro da Criança e do Adolescente (CCA) que atende a 270 crianças de 6 a 16 anos com ajuda dos parceiros como: Prefeitura, Projeto Guri e Compassion. Entretanto essas crianças passam apenas meio período, realizando diversas atividades no CCA, e voltam para suas famílias. O Lar trabalha com educadores, com horários e escalas de trabalho, atende 20 crianças e adolescentes de 2 a 18 anos, tendo no momento da visita apenas uma para adoção. Por estarem em um grande terreno cercado por um muro, as crianças não experimentam o que há na vizinhança, pois “têm tudo o que precisam ali mesmo”. Esse é um dos espaços obrigados a realocar metade de suas crianças em outra casa, mas apesar de diminuir o número de crianças, sua estrutura permanece a mesma, portanto podemos encontrar alguns problemas como banheiros coletivos, permitindo o uso de muitas crianças ao mesmo tempo, acabando com a privacidade, assim como os quartos que ainda abrigam seis crianças. 10
  • 16. Entretanto a individualidade é respeitada nos armários. Cada criança tem uma parte nos guarda- roupas, na sapateira, e ainda caixas para guardarem os pertences mais pessoais. Cada criança tem sua própria roupa e sapato, esses itens não são compartilhados. Infelizmente o muro, construído aqui para substituir a grade e assim diminuir o número de roubos às doações, e a placa, indicando a presença da instituição, ainda são parte deste e de muitas instituições. Imagens: acervo da autora. 11
  • 17. Associação Brasileira Beneficente Aslam – ABBA - Casa das meninas O abrigo encontra-se funcionando em uma residência comum, em uma rua residencial, sem placas, sem muros, sem indicações de instituição, assim como a lei exige. O programa também é bastante comum: dois quartos, com quatro crianças em cada, um banheiro para todas, um quarto para a mãe social e voluntárias com um banheiro, cozinha, sala de jantar e sala de estar. Nos fundos construíram uma sala de computadores e um espaço para guardar doações e acima dele um terraço coberto para atividades externas. Tem ainda um quintal com mini-horta, lavanderia e garagem. Aqui eles têm uma mãe social, uma pessoa que mora na casa, período integral, com apenas um dia de folga na semana. A mãe social é a figura mais importante, é ela quem exerce o papel principal na formação dessas crianças e é quem gere a casa. As outras duas voluntárias são figuras secundárias, que também ajudam a cuidar das crianças e da casa, ajudam em atividades externas e a organizar e limpar a casa. Para proporcionar maior aconchego e para que as meninas sintam que podem se apropriar dos espaços, mesmo que por um tempo pequeno, mas que a principio é indeterminado, podem-se encontrar desenhos das crianças nas paredes dos quartos, sala e cozinha. A casa possui ainda um cachorro, mais uma figura de carinho para essas meninas. 12
  • 18. Casa dos meninos A casa dos meninos funciona de forma bem diferente. Por serem meninos retirados da rua, mais especificamente do Vale do Anhangabaú, a casa trabalha com um sistema também diferente, apenas com voluntários e educadores, e um sistema de fases. O projeto funciona tão bem que até a visita ainda não havia casos de não terem encontrado e preparado a família para receber os adolescentes. Os educadores os preparam também para a volta à escola, pois esses adolescentes ficaram parados por muito tempo, e ensinam ofícios que podem proporcionar empregos, uma vez que estejam fora do abrigo. Há então um quarto para cada fase do programa com quatro meninos por quarto. Cada fase tem uma duração e obrigações a cumprir. Eles ficam, no entanto, na última fase até que possam voltar para suas famílias. Na casa tem ainda uma cozinha, sala de jantar, sala de leitura/música/vídeo, sala de estar/lazer, piscina, churrasqueira, oficina de marcenaria, oficina de bicicleta, sala de artes, horta e até um campinho de futebol. Imagens: acervo da autora. 13
  • 19. Os abrigados Nas visitas foram recolhidos alguns dados como o de que a grande maioria das crianças e adolescentes não está para adoção e de que apenas 7% das crianças disponíveis são menores de três anos, faixa etária procurada por 80% das pessoas que querem adotar. A partir de outra pesquisa (Fávero, pg.28-31) pode-se perceber que 37% das crianças e adolescentes estão abrigadas há mais de dois anos, uma porcentagem ainda alta para uma lei que limita a institucionalização das crianças nesse período, mas não diz o que deverá ser feito após esse tempo de acolhida. Como a faixa etária está bem distribuída entre os 02 e 15 anos, e o número de meninas e meninos é praticamente igual, o desafio então é o de fazer um projeto que atenda a todas as idades e suas diferentes fases de desenvolvimento. Tabelas: Famílias de crianças e adolescentes abrigados 14
  • 20. Significado de lar Autores de textos nas áreas de psicologia, assistência social, filosofia e arquitetura, se utilizam de alguns termos para descrever ou qualificar um abrigo. Eles descrevem os espaços, as relações, os sentimentos que devem proporcionar. Esses termos estão aqui elencados para também nortear esse projeto: Privacidade, Auto-imagem, Identidade, Crescimento pessoal, Naturalidade, Espontaneidade, Aceitação das diferenças, Acolhida, Proteção, Cuidado mútuo, Porto seguro, Provisório, Transitório, Respeito, Aprendizagem, Novas rotinas, História, Memória, Brincadeira, Alegria, Agradável, Gostoso, Projetos de futuro, Re-elaboração de sonhos, Sócio educação. É importante que o abrigo não seja somente um teto, uma cama, ou comida. Deve ser um lugar que dê às crianças e adolescentes a proteção de que necessitam, um lugar em que possam se sentir seguros. Um lugar onde vão aprender sobre a comunidade e sobre eles mesmos, sobre suas histórias, seu passado, e então começar a sonhar com seu futuro. Um lugar onde vão aprender um novo significado para a palavra lar. Os arquitetos Mayumi Souza Lima, Herman Hertzberger e Clare Cooper Marcus, falam sobre a relação da criança com a cidade, com a arquitetura e com o lar, respectivamente. Essas relações ultrapassam limites e se interagem, de forma que, a maneira como uma criança compreende seu lar é a mesma de como compreende a cidade, assim projetar um sem considerar o outro se torna inviável. Para as crianças, os espaços menores proporcionam maior segurança e conforto, portanto também prazer, enquanto os mais versáteis criam um ambiente propício a imaginação e criatividade. Da mesma forma as aberturas menores são menos agressivas e incitam a 15
  • 21. curiosidade, uma vez que para as crianças as aberturas servem para se observar a paisagem do outro lado, e não para ventilação ou iluminação. Para isto elas devem ser mais numerosas. Outra fascinação para essas crianças é o descobrir o lugar em que estão, para isso os diferentes níveis tem um papel importante, patamares que podem ser percebidos, mas não completamente compreendidos no primeiro olhar, que exigem uma maior exploração do lugar. "Escadas, patamares, vazios e áreas abertas, onde quer que se situem, estão espacialmente relacionados e expressam a presença de outros espaços, sugerindo encontros e discussões não programados". Hertzberger Dessa maneira o programa do meu projeto se modificou, crescendo para além das paredes do abrigo, incorporando a cidade e proporcionando a permeabilidade entre a menor e a maior escala. O período entre o momento em que são retiradas de suas famílias e o momento em que são devolvidas, não precisa ser de reclusão social, aliás, não deve ser. Essas crianças precisam ser preparadas para a sociedade que a espera. Portanto a idéia das quatro casas cresceu, evoluiu para a escala do bairro, para o projeto de um trecho de cidade onde essas crianças possam ter a experiência de vivenciar o bairro, os vizinhos, os comércios, os equipamentos. 16
  • 22. Localização A escolha do terreno foi feita levando-se em consideração os sistemas de Educação, Lazer, Saúde e Transporte. Para os dois primeiros inicialmente buscou-se a proximidade de uma unidade do CEU, possibilitando a utilização dos equipamentos já existentes. Entretanto, a reflexão sobre a vida urbana, a inserção no contexto do bairro e a vida cotidiana comum, me levou a buscar os diferentes serviços em diferentes equipamentos. “As casas, os caminhos, as cidades são espaços da criança que transcendem as suas dimensões físicas e se transformam nos entes e locais de alegria, de medo, de segurança, de curiosidade, de descoberta” (Lima, pg.14) As famílias dos abrigados também são um ponto importante, a proximidade com os locais onde moram se torna importante para facilitar a visitação e, portanto, mantendo os laços familiares. Porém pelo longo período em que essas crianças e adolescentes permanecem abrigados há possibilidades, e muitas vezes acontecem em função de seus empregos, de as famílias mudarem, portanto um sistema de transporte eficiente na região é importante. O terreno escolhido está próximo a dois terminais de ônibus importantes, à uma estação da CPTM e à duas estações do Metrô. Hospitais, Bibliotecas, Teatro, Hípica, Casa de Cultura, SESC e um Clube Escola são equipamentos encontrados no s arredores do terreno. A proximidade com as Varas da Infância e Juventude e os Conselhos Tutelares, também foram consideradas, por facilitar o contato com essas instituições. O terreno é uma ponta de quadra, tendo acesso por três ruas. A de maior porte é a Rua Dr. Antonio Bento a oeste, uma rua mais comercial. A Rua São José, ao norte, é uma rua secundária e nessa quadra abriga também o Colégio Jesus Maria José, e a oeste encontra-se a Rua Salomão Karlik, onde se localiza o Pronto Socorro Santo Amaro. 17
  • 23. Escolas públicas e privadas Esporte, lazer e cultura CT e VIJ Hospitais e postos de saúde Transporte Usos do entorno Terreno Imagens: Google Earth 18
  • 24. Fotos do terreno e entorno Terreno Rua Salomão Karlik R. Salomão Karlik x R.São José Rua Dr. Antonio Bento Terreno cercado por tapume vermelho Imagens: acervo da autora 19
  • 25. A vila A mesma reflexão sobre a inserção no bairro, o contexto da cidade, me levou a projetar não só o abrigo, mas um trecho de cidade que insere essas crianças e adolescentes num ambiente onde a exclusão social, geralmente já incorporada ao tema abrigo, não fosse uma realidade. A estigmatização de crianças abandonadas, o pré-conceito que elas sofrem deve ser eliminado, proporcionando a essas crianças um ambiente familiar e de boa vizinhança, a integração social que eles precisam. Assim surgiu a vila, com uso misto, onde a instituição está misturada a habitações de 1, 2 ou 3 dormitórios, e qualquer pessoa possa ser vizinho dessas crianças. O comércio também foi incorporado para dialogar com o bairro, pois a via de maior movimento é predominantemente comercial, assim também a vila ganharia mais vida e movimento. Sugiro um comércio de uso mais local como lanchonete, banca de jornal, farmácia, armarinho ou bazar. Uma praça no interior da quadra faz o papel principal dessa integração, além de reunir os acessos ao estacionamento, reservado aos moradores e comerciantes, e aos pavimentos superiores, a praça é um local de passagem e de permanência. Programa O programa da vila consiste em cinco unidades de um dormitório, sete de dois dormitórios e seis de três, quatro unidades de abrigo e sua administração, e oito unidades de comercio. Cada unidade do abrigo terá quartos para quatro crianças cada, um quarto para pais sociais, banheiros, sala de estar, sala de jantar, cozinha e área de serviço. Na administração encontram-se salas para psicólogo, assistente social, reunião, administração, e um depósito para as doações, além de banheiros, cozinha e copa. 20
  • 26. Estudo Volumétrico A modelagem não foi utilizada apenas como representação dos desenhos, mas como ferramenta de projeto em si. Grande parte do projeto saiu dos modelos e grandes problemas resolvidos neles. O estudo da volumetria começou com peças de LEGO. Ao fazer alguns croquis, definindo modulações, percebi que as proporções utilizadas eram conhecidas de longa data: as proporções do brinquedo de montar. Apesar das peças rígidas, o modelo foi até certo ponto flexível por me permitir uma mudança rápida e, portanto, muitas tentativas, muitas experimentações. Pude trabalhar então a modulação, volumetria, passagens e patamares, cheios e vazios. 21
  • 27. Depois comecei a utilizar o LEGO Digital Designer. Apesar de breve a utilização dessa ferramenta, foi muito útil antes do modelo físico, para o estudo da relação da volumetria que eu estava criando com a volumetria do entorno existente. Os croquis ajudaram a estudar as proporções humanas e os desenhos sobre fotografia me ajudaram a inserir alguns detalhes a mais da vizinhança, tais como postes de luz, semáforos, árvores e faixas de pedestre. 22
  • 28. A maquete de papel entrou então para um estudo mais detalhado, me permitindo mudanças que o LEGO não permitia como o feitio de lajes, caimento do terreno e mudança na estrutura geral. Os blocos feitos com papel cartão e o terreno em papel paraná, me foi possível estudar e modificar tanto as edificações quanto o terreno. 23
  • 29. Referências arquitetônicas Children of Destiny, Mwanza, Tanzânia. Engineering Ministries International – East Africa O projeto, citado no inicio deste trabalho, engloba um programa variado. Em um terreno de 89 mil m² foi feito o projeto de um centro social e educacional contendo o orfanato, dividido em quatro nichos de quatro casas e uma cozinha, clínica médica, estação de rádio, escola primária, igreja, centro de estudo bíblico e moradia para funcionários e voluntários. Os orfanatos são residencias com plantas iguais a outras residências da região, funcionando em um regime de mãe social. A preocupação aqui foi de proporcionar a comunidade equipamentos que estão em falta e integra-los entre si. Imagens: eMi 24
  • 30. Mto Moyoni, Jinja, Uganda. Engineering Ministries International – East Africa Projeto de um centro de conferências e retiros à beira do Rio Nilo. A conversa com o entorno é um ponto muito importante nesse projeto e por isso as aberturas. Nos blocos de dormitórios a ventilação é feita por uma abertura no encontro da parede com a cobertura e pelas janelas que passeiam pela fachada conforme a mudança das camas no interior. A iluminação ganha ainda um reforço dos tijolos de vidro. Imagens: Phil Greene 25
  • 31. Escola Montessori Ool, Amsterdam, Holanda Herman Hertzberger Na escola projetada para alunos de muitas nacionalidades, a proposta era não fazer escolas que parecessem labirintos. Partindo do exemplo da cidade, as salas de aula são com áreas urbanas situadas as extremidades do edifício, conectadas com o exterior. Uma praça faz a ligação entre os dois blocos. Hertzberger posiciona os patamares e escadas de maneira a não só serem interessantes, mas para que também possam servir como arquibancada, fazendo com que aqueles que estão nos níveis inferiores possam ser observados por aqueles que estão nos níveis mais elevados, transformando-os em platéias, expectadores, e transformando todos os lugares em lugares de passagem e lugares de permanência. Imagens: Portal Vitruvius 26
  • 32. SESC Pompéia, São Paulo, SP Lina Bo Bardi Um equipamento urbano que reúne atividades de esporte, lazer e cultura, o SESC foi implantado em um terreno onde existia uma antiga fábrica de tambores. Lina resolveu então manter estruturas, edifícios, elementos dessa fábrica e reaproveitá-los em seu projeto. Nos edifícios mais altos Lina brinca com as aberturas, ora recortes irregulares alinhados na fachada, ora aberturas regulares desalinhados. 27
  • 33. Instituto Acaia, Vila Leopoldina, SP UNA Arquitetos Um espaço cultural e artístico, o Instituto recebe crianças e suas mães para fazer cursos de marcenaria, pintura, costura, tecelagem, teatro, dança, música, vídeo e capoeira. Os arquitetos aqui fazem uma transição do descoberto para o coberto e ainda deste para o ambiente fechado de maneira suave e tranqüila. Imagens: UMA Arquitetos 28
  • 34. Escola pública, Itapevi, SP Chão Arquitetos A escola pública estadual foi projetada levando-se em consideração o desenho que surgiu a partir do atalho que os moradores criaram no terreno. O jardim interno é separado por painéis de elementos vazados. A maneira como esses elementos são utilizados, permitindo a passagem de luz, são ainda um convite para quem passa para ver o que há por trás de uma daquelas pequenas aberturas. Imagens: ARCOWEB 29
  • 35. Grisbi Industrias Têxteis, Polo Petroquímico de Camaçari, BA Brasil Arquitetura Um projeto cuja construção infelizmente foi abandonada quando da venda da propriedade, a fábrica de fiação e tecelagem Os tijolos vazados permitem a visibilidade e conversam com os materiais e com as aberturas em ritmo diferente do habitual. Imagens: Brasil Arquitetura 30
  • 36. O projeto A partir desses estudos, pesquisas e conversas realizados, surgiu o desenho da Vila Mukwano, como resposta do conceito aqui criado. O desnível de três metros no terreno, no sentido leste-oeste, possibilitou a criação de patamares diversificados. O comércio fica situado na cota mais baixa e por isso ganhou um pé-direito duplo, ficando a critério do comerciante como utilizá-lo. As únicas áreas definidas são as áreas molhadas. O estacionamento fica no lado oposto, semi-enterrado, com 33 vagas para moradores, comerciantes da vila e funcionários da administração do abrigo, foi colocado no mesmo nível do comércio, entretanto seu acesso é na rua mais alta, pedindo assim a rampa, projetada em curva para poupar espaço utilizado para criação de vagas. O estacionamento possui um sistema de cancelas e luzes, para coordenar o tráfico, pois o acesso é de uma via, não exigindo mais pela baixa rotatividade do estacionamento. As unidades residenciais de 1 (45m²), 2 (60m²), e 3 dormitórios (80m²), estão espalhadas pelos três pavimentos residenciais da vila. As unidades voltadas ao abrigo de crianças e adolescentes, com 125m², comportam no máximo quatro crianças por dormitório, totalizando um máximo de 16 crianças por residência. Essas unidades se encontram também espalhadas pela vila, fazendo vizinhança com apartamentos de todas as demais tipologias, permitindo assim mais integração entre as mais diferentes pessoas. 31
  • 37. Os materiais foram escolhidos para conferir mais aconchego à vila, para a vedação o tijolo aparente e cobogós, também utilizado como guarda-corpo, e para os caixilhos a madeira. A estrutura é metálica e independente, permitindo maior mobilidade As fachadas têm tratamentos diferentes. A fachada nordeste apresenta portas que correm por fora, na fachada, que levam os moradores do 3º pavimento a um terraço exclusivo para algumas unidades. A fachada noroeste apresenta brises para proteger do sol mais forte. Já as fachadas sudeste e sudoeste apresentam tijolos de vidro junto às janelas. Todos os elementos conferem movimento às fachadas. O pergolado foi escolhido como cobertura alternativa em algumas áreas, produzindo sombreamento e aconchego. Na cobertura do edifício foi projetada uma pista para corrida, além de áreas de lazer e áreas ajardinadas. Para o único muro que divide a vila foi pensado um jardim vertical, que conversa com outros trechos de jardins verticais dentro da própria vila. Esse jardim continua no chão, configurando uma área de brincar para as crianças com árvores e gramados. Ele se estende ainda ao longo da parede da garagem, onde também é utilizado do cobogó, permitindo ventilação e iluminação dentro do estacionamento, sem a visibilidade de quem está do lado de fora. A vila reúne então conceitos retirados desse estudo específico e de toda a formação acadêmica na FAU. O que pretendi fazer com esse trabalho foi uma crítica ao modelo de abrigos existentes, ao modelo de institucionalização e segregação utilizado com essas crianças e adolescentes. O projeto da unidade, do quarto, da sala ou do banheiro, apesar de terem sido pensados, não foram prioridades aqui, a prioridade foi o conjunto, a integração da vila com a cidade e portanto das crianças com a sociedade que a rodeia, para que se desenvolvam agentes transformadores de seu meio. 32
  • 38. Referências Bibliográficas Abrigo Abrigo para crianças de 0 a 6 anos: um olhar sobre as diferentes concepções e suas interfaces. Revista Mal Estar e Subjetividade, vol.7 no 2. Fortaleza, 2007. BAPTISTA, Myrian V.(coord.) Abrigo: comunidade de acolhida e socioeducação. São Paulo: Instituto Camargo Corrêa, 2006. BARROS, Z. O. O cotidiano dos filhos do Estado: um estudo da vida cotidiana das crianças que necessitam de assistência do Estado. São Paulo: Programa de Pós Graduação em Serviço Social / Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Dissertação de Mestrado, 1988. CARREIRÃO, Úrsula Lehmkuhl. Modalidades de abrigo e a busca pelo direito à convivência familiar e comunitária. In: SILVA, Enid Rocha Andrade (Org). O direito à convivência familiar e comunitária: os abrigos para crianças e adolescentes no Brasil. Brasília: IPEA/CONANDA, 2004. 416p. cap. 11, p. 303 - 323. FÁVERO, Eunice T.; VITALE, Maria Amália F.; BAPTISTA, Myrian V.(orgs.) Famílias de crianças e adolescentes abrigados. Quem são, como vivem, o que pensam, o que desejam. São Paulo: Paulus, 2009. IPEA: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. O direito à convivência familiar e comunitária: os abrigos para crianças e adolescentes no Brasil. Brasília, 2005. Keep Children Safe Coalition. Um Lugar Seguro para as Crianças: Guia 1 e Guia 2. 33
  • 39. LIMA, Mayumi Souza. A cidade e a criança. São Paulo: Nobel, 1989. MAIA, A. P. O.; SANTOS, A. R. dos; SANTOS, C. M. dos; ZACCARIAS, R. H.; KUNTZ, T. G.; COSTA, T. C. G. R. da. Adoção. Vara da Infância e Juventude. São Paulo: Centro Universitário – UniFMU, 2004 ROCHA, A. B. N.; BATISTA, A. C. C.; MAIA, A. P. O.; SANTOS, A. R. dos; SANTOS, C. M. dos; ARAUJO, P. V. de; STEINAS, R.; COSTA, T. C. G. R. da. Promovendo a psico-higiene através de uma intervenção institucional. São Paulo: Centro Universitário – UniFMU, 2005 Síntese das propostas que subsidiarão a Resolução de abrigos do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente CMDCA-SP, 2007. Assistência social e Psicologia PEREIRA, Potyara A.P. Necessidades humanas: subsídios à crítica dos mínimos sociais. São Paulo: Cortez, 2000. RAPPAPORT, Clara R.; FIORI, Wagner da R.; Davis, Cláudia. Psicologia do Desenvolvimento. Vol.1 Teorias do desenvolvimento. Conceitos fundamentais. São Paulo: EPU, 1981. cap. 3, p.51 -75 SILVA, Roberto da. Os filhos do governo: a formação da identidade criminosa em crianças órfãs e abandonadas. São Paulo: Ática, 1997. p.33 – 71 34
  • 40. Espaço BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. Coleção “Os Pensadores”. Ed. Abril Cultural. 1957 GARDNER, Howard. Inteligências múltiplas - a teoria na prática. Porto Alegre: 2000. HERTZBERGER, Herman. Lições de Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 2006. NORBERG-SCHULZ, Christian. Existence, Space & Architecture. Londres: Studio Vista, 1972 Lar MARCUS, Clare Cooper. House as a Mirror os Self. Exploring the Deeper Meaning of Home. Berkeley: Conari Press, 1997. RYBCZYNSKI, Witold. Casa: pequena história de uma idéia. Rio de Janeiro: Record, 2002. Legislações Lei Nº 12.010, de 29 de Julho de 2009 - http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/818490/lei- 12010-09 Lei Nº 8.069, de 13 De Julho de 1990 - http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm 35