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5
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E assim se lembra outro dia febril
que em tempos mudou a história
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era um fruto prometido,
tantas vezes proibido,
que tinha o sabor secreto
da esperança e do afeto
e dos amigos todos juntos
debaixo do mesmo teto.
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6
NÃO QUERO, NÃO
Não quero, não quero, não,
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Quero um cavalo só meu,
seja baio ou alazão,
sentir o vento na cara,
sentir a rédea na mão.
Não quero, não quero, não,
ser soldado nem capitão.
Não quero muito do mundo:
quero saber-lhe a razão,
sentir-me dono de mim,
ao resto dizer que não.
Não quero, não quero, não,
ser soldado nem capitão.
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7
Tanto Mar
Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo pra mim
Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor do teu jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também que é preciso, pá
Navegar, navegar
Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim.
Chico Buarque
8
Elefante de Abril
A Revolução
teve uma flor
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tão paciente e sofredor
durante tanto ano
mas quando a paciência se esgotou
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violento
eficaz
empolgante.
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algo distante.
Mas, atenção
nunca se viu morrer
um elefante!
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9
Crocodilo de trazer por casa
Aquilo
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era uma mania
que Madame vestia.
Tinha crocodilo para todo o serviço
– sapato de crocodilo
– mala de crocodilo
– aplicações de crocodilo
no casaco e no chapéu.
O crocodilo era todo seu.
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E não se ficou por aqui
digo eu que vi
Madame Reaça
cheia de graça
tirar um frasco da mala
e pôr pinguinhos nos olhos
enquanto explicava
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reverentes
que não usava óculos
(isso era dantes)
usava lentes.
Só que, no Verão
não via bem secava-se-lhe a vista
e, de aí, o expediente
do frasco lacrimal.
Conclusão a tirar: eram de crocodilo as lágrimas também.
Carlos Pinhão, in Bichos de Abril
10
Ser ou não ser carneiro
Votava de cruz
à ordem do pastor
mas veio Abril
e já começa a ter cor
e já começa a saber
o que quer
e já começa a votar
a pensar
pela própria cabeça
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Em resumo já não é carneiro.
Carlos Pinhão, in Bichos de Abril
11
Oportunismo
O camaleão
tem a cor da ocasião.
Usa-se muito em política
é prática muito vista
– a situação pode mudar
ele não
é sempre situacionista
Carlos Pinhão, in Bichos de Abril
12
Somos livres (uma gaivota voava voava)
Ontem apenas
fomos a voz sufocada
dum povo a dizer não quero;
fomos os bobos-do-rei
mastigando desespero.
Ontem apenas
fomos o povo a chorar
na sarjeta dos que, à força,
ultrajaram e venderam
esta terra, hoje nossa.
Uma gaivota voava, voava,
assas de vento,
coração de mar.
Como ela, somos livres,
somos livres de voar.
Uma papoila crescia, crescia,
grito vermelho
num campo qualquer.
Como ela somos livres,
somos livres de crescer.
Uma criança dizia, dizia
'quando for grande
não vou combater'.
Como ela, somos livres,
somos livres de dizer.
Somos um povo que cerra fileiras,
parte à conquista
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não voltaremos atrás. Ermelinda Duarte
13
Mulheres do meu País
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o gesto e a palavra
fala de nós
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Mulheres
quebrámos as grandes barricadas
dizendo: igualdade
a quem ouvir nos quis
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de mãos dadas
O povo somos:
Mulheres do meu país
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14
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quando um homem se põe a pensar
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Quem lá vem
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dorme à noite ao relento no mar
dorme à noite ao relento no mar
E se houver
uma praça de gente madura
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Anda alguém
pela noite de breu à procura
e não há quem lhe queira valer
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Vejam bem
daquele homem a fraca figura
desbravando os caminhos do pão
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E se houver
uma praça de gente madura
ninguém vai
ninguém vai levantá-lo do chão
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15
Ei-los que partem
novos e velhos
buscando a sorte
noutras paragens
noutras aragens
entre outros povos
ei-los que partem
velhos e novos
Ei-los que partem
de olhos molhados
coração triste
e a saca às costas
esperança em riste
sonhos dourados
ei-los que partem
de olhos molhados
Virão um dia
ricos ou não
contando histórias
de lá de longe
onde o suor
se fez em pão
virão um dia
ou não
Manuel Freire
16
Liberdade
Viemos com o peso do passado e da semente
Esperar tantos anos torna tudo mais urgente
e a sede de uma espera só se estanca na torrente
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Vivemos tantos anos a falar pela calada
Só se pode querer tudo quando não se teve nada
Só quer a vida cheia quem teve a vida parada
Só quer a vida cheia quem teve a vida parada
Só há liberdade a sério quando houver
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Novena de Pentecostes com textos de São João Eudes
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Novena de Pentecostes com textos de São João Eudes
 

Poesia - aLer+ a Liberdade - Ficheiro A.pdf

  • 1. 1 Compilação de poemas celebrando o 25 de Abril e a Liberdade Agrupamento de Escolas Infante D. Henrique Bibliotecas Escolares Ano letivo 2023-2024
  • 2. 2 25 de Abril Era um dia puro e limpo, Aquele dia de abril, Em que as ovelhas do medo Fugiram do seu redil. Um dia que amanheceu, Com os capitães da guerra, A lutarem pela paz Com gente da nossa terra. Dia de cravos vermelhos, Nos canos das espingardas, Dos gritos de liberdade Nas bocas amordaçadas. Não pode morrer abril, Que nós não vamos deixar. Hão de florir sempre cravos, Basta alguém os semear. Luísa Ducla Soares
  • 3. 3 25 de Abril Sophia de Mello Breyner Andresen, in O Nome das Coisas Esta é a madrugada que eu esperava O dia inicial inteiro e limpo Onde emergimos da noite e do silêncio E livres habitamos a substância do tempo
  • 4. 4 Revolução Como casa limpa Como chão varrido Como porta aberta Como puro início Como tempo novo Sem mancha nem vício Como a voz do mar Interior de um povo Como página em branco Onde o poema emerge Como arquitetura Do homem que ergue Sua habitação Sophia de Mello Breyner Andresen, in O Nome das Coisas
  • 5. 5 O dia da Liberdade Este dia é um canteiro com flores todo o ano e veleiros lá ao largo navegando a todo o pano. E assim se lembra outro dia febril que em tempos mudou a história numa madrugada de Abril, quando os meninos de hoje ainda não tinham nascido e a nossa liberdade era um fruto prometido, tantas vezes proibido, que tinha o sabor secreto da esperança e do afeto e dos amigos todos juntos debaixo do mesmo teto. José Jorge Letria in O livro dos dias
  • 6. 6 NÃO QUERO, NÃO Não quero, não quero, não, ser soldado nem capitão. Quero um cavalo só meu, seja baio ou alazão, sentir o vento na cara, sentir a rédea na mão. Não quero, não quero, não, ser soldado nem capitão. Não quero muito do mundo: quero saber-lhe a razão, sentir-me dono de mim, ao resto dizer que não. Não quero, não quero, não, ser soldado nem capitão. Eugénio de Andrade, in Aquela nuvem e outras
  • 7. 7 Tanto Mar Sei que estás em festa, pá Fico contente E enquanto estou ausente Guarda um cravo pra mim Eu queria estar na festa, pá Com a tua gente E colher pessoalmente Uma flor do teu jardim Sei que há léguas a nos separar Tanto mar, tanto mar Sei também que é preciso, pá Navegar, navegar Lá faz primavera, pá Cá estou doente Manda urgentemente Algum cheirinho de alecrim. Chico Buarque
  • 8. 8 Elefante de Abril A Revolução teve uma flor o cravo. Não teve um animal e, como tal, proponho o elefante tão paciente e sofredor durante tanto ano mas quando a paciência se esgotou foi coisa de se ver violento eficaz empolgante. Depois, voltou a ser lento bom rapaz algo distante. Mas, atenção nunca se viu morrer um elefante! Carlos Pinhão, in Bichos de Abril
  • 9. 9 Crocodilo de trazer por casa Aquilo do crocodilo era uma mania que Madame vestia. Tinha crocodilo para todo o serviço – sapato de crocodilo – mala de crocodilo – aplicações de crocodilo no casaco e no chapéu. O crocodilo era todo seu. Ao quilo. E não se ficou por aqui digo eu que vi Madame Reaça cheia de graça tirar um frasco da mala e pôr pinguinhos nos olhos enquanto explicava aos circunstantes reverentes que não usava óculos (isso era dantes) usava lentes. Só que, no Verão não via bem secava-se-lhe a vista e, de aí, o expediente do frasco lacrimal. Conclusão a tirar: eram de crocodilo as lágrimas também. Carlos Pinhão, in Bichos de Abril
  • 10. 10 Ser ou não ser carneiro Votava de cruz à ordem do pastor mas veio Abril e já começa a ter cor e já começa a saber o que quer e já começa a votar a pensar pela própria cabeça e não pela cabeça do parceiro. Em resumo já não é carneiro. Carlos Pinhão, in Bichos de Abril
  • 11. 11 Oportunismo O camaleão tem a cor da ocasião. Usa-se muito em política é prática muito vista – a situação pode mudar ele não é sempre situacionista Carlos Pinhão, in Bichos de Abril
  • 12. 12 Somos livres (uma gaivota voava voava) Ontem apenas fomos a voz sufocada dum povo a dizer não quero; fomos os bobos-do-rei mastigando desespero. Ontem apenas fomos o povo a chorar na sarjeta dos que, à força, ultrajaram e venderam esta terra, hoje nossa. Uma gaivota voava, voava, assas de vento, coração de mar. Como ela, somos livres, somos livres de voar. Uma papoila crescia, crescia, grito vermelho num campo qualquer. Como ela somos livres, somos livres de crescer. Uma criança dizia, dizia 'quando for grande não vou combater'. Como ela, somos livres, somos livres de dizer. Somos um povo que cerra fileiras, parte à conquista do pão e da paz. Somos livres, somos livres, não voltaremos atrás. Ermelinda Duarte
  • 13. 13 Mulheres do meu País Deu-nos Abril o gesto e a palavra fala de nós por dentro da raiz Mulheres quebrámos as grandes barricadas dizendo: igualdade a quem ouvir nos quis E assim continuamos de mãos dadas O povo somos: Mulheres do meu país Maria Teresa Horta, in Mulheres de Abril
  • 14. 14 Vejam bem Vejam bem que não há só gaivotas em terra quando um homem se põe a pensar quando um homem se põe a pensar Quem lá vem dorme à noite ao relento na areia dorme à noite ao relento no mar dorme à noite ao relento no mar E se houver uma praça de gente madura e uma estátua e uma estátua de d febre a arder Anda alguém pela noite de breu à procura e não há quem lhe queira valer e não há quem lhe queira valer Vejam bem daquele homem a fraca figura desbravando os caminhos do pão desbravando os caminhos do pão E se houver uma praça de gente madura ninguém vai ninguém vai levantá-lo do chão Zeca Afonso in Cantares de Andarilho
  • 15. 15 Ei-los que partem novos e velhos buscando a sorte noutras paragens noutras aragens entre outros povos ei-los que partem velhos e novos Ei-los que partem de olhos molhados coração triste e a saca às costas esperança em riste sonhos dourados ei-los que partem de olhos molhados Virão um dia ricos ou não contando histórias de lá de longe onde o suor se fez em pão virão um dia ou não Manuel Freire
  • 16. 16 Liberdade Viemos com o peso do passado e da semente Esperar tantos anos torna tudo mais urgente e a sede de uma espera só se estanca na torrente e a sede de uma espera só se estanca na torrente Vivemos tantos anos a falar pela calada Só se pode querer tudo quando não se teve nada Só quer a vida cheia quem teve a vida parada Só quer a vida cheia quem teve a vida parada Só há liberdade a sério quando houver A paz o pão habitação saúde educação Só há liberdade a sério quando houver Liberdade de mudar e decidir quando pertencer ao povo o que o povo produzir quando pertencer ao povo o que o povo produzir. Sérgio Godinho, Canções de Sérgio Godinho