Estrada da Graciosa roteiro cicloturismo Mata Atlântica
1. NA ROTA DA TRIP
00 outubro de 2010 00outubro de 2010
Trilha da Graciosa, usada ao longo dos séculos
por jesuítas, escravos e indígenas que se aventuravam pelo interior do país, cresceu, entrou para a his-
tória do estado do Paraná e foi pavimentada, mas nunca mudou de nome. Além de carregar parte do
passado nos paralelepípedos de seu caminho, a Graciosa, ao cruzar a Serra do Mar, atravessa um dos
mais preservados trechos de Mata Atlântica no Brasil. Entre cachoeiras, riachos e uma flora capaz de
encher alguns livros de biologia, é possível ver uma grande variedade de pássaros e de diversos outros
animais. Pelo caminho, há também algumas reservas ambientais, como o Parque Estadual da Graciosa
e o Parque Estadual Roberto Ribas Lange, onde a concentração de animais selvagens é ainda maior.
Dentro desse cenário ímpar, a bicicleta ganha cada vez mais espaço. A Estrada da Graciosa se
firma como roteiro favorito de muitos cicloturistas brasileiros. Por oferecer uma viagem sem gran-
des dificuldades, uma incrível paisagem, ar puro, tranquilidade, baixo fluxo de veículos e um mergu-
lho na história da região, o número de ciclistas que desce a estrada aumenta a cada ano. E, com a
sustentabilidade em alta, a bicicleta tornou-se uma das melhores formas de conhecer as belezas e
os segredos deste antigo caminho.
A
Acima, trecho da Estrada
da Graciosa e ruína, uma
das várias encontradas pelo
caminho. Na página ao
lado, portal da estrada
A caminho do mar
A Estrada da Graciosa, um dos roteiros prediletos dos paranaenses e de
cicloturistas brasileiros, é parte da história do Paraná e a melhor forma de
conhecer um dos trechos mais preservados da Mata Atlântica do país
Texto e fotos ARTHUR SIMÕES
2. 00outubro de 2010
NA ROTA DA TRIP
00 outubro de 2010
Descendo a serra
Quem escolhe percorrer a Graciosa sobre duas rodas precisa fazer uma
escolha logo no início do caminho. O visitante pode começar pedalando a
partir de Curitiba, 945 metros acima do nível do mar, mas aí terá de encarar
cerca de 30 quilômetros da movimentada BR-116, dividindo espaço com
caminhões, ônibus e outros motores, além de respirar um pouco de fumaça
até chegar à entrada da Graciosa. Outra possibilidade é pegar uma carona
ou tentar algum tipo de transporte até a PR-410 – nome oficial da Estrada
da Graciosa – e pular o trânsito da rodovia.
Lá, o visitante não se sente em uma estrada, mas sim em uma trilha
tranquila – onde é proibido o tráfego de veículos de grande porte –, quase
esquecida, em meio a uma densa floresta. O caminho ainda é o mesmo que
os índigenas da região percorriam antes de os portugueses atracarem nesta
parte da costa brasileira.
Os índios subiam a Serra do Mar em busca dos pinhões que nasciam
apenas nas terras altas do planalto e depois voltavam para as terras baixas
com o alimento para toda a tribo. Hoje, a estrada é percorrida na direção
oposta. Quem desce a serra de bicicleta agora não pensa em pinhões, mas
sonha em chegar a Morretes, ponto final da Graciosa.
Arquitetura, gastronomia e natureza
As ruas de Morretes marcam o fim da Estrada da Graciosa e coroam as
belezas deste caminho.A cidade é calma,com antigos casarões bem preser-
vados, bons restaurantes e uma população hospitaleira. A culinária ali é
uma atração à parte. O prato típico da região, o barreado, é o carro chefe de
todos os restaurantes da cidade e a prova viva da influência açoriana no lito-
ral paranaense. Uma generosa quantidade de carne bovina é colocada em
uma grande panela vedada com uma mistura de farinha de mandioca,água
e cinzas, onde é cozida por mais de 20 horas. Após quase um dia inteiro de
preparo no vapor, a carne praticamente derrete e está pronta para ser sabo-
reada com arroz, banana e farinha de mandioca.
E a cidade paranaense vai além das belas fachadas de seus casarões e de
suas delícias gastronômicas: Morretes está cercada por uma área quase into-
cada da Mata Atlântica e oferece diversos passeios para os mais aventureiros.
Um deles é o Caminho do Itupava,uma trilha histórica,aberta no século 17 por
índios e mineradores, originalmente parte do Caminho da Graciosa, mas que
hoje é destino para quem quer se aproximar da natureza ou ir em direção ao
Morro do Anhangava, o predileto dos montanhistas do Paraná.
Acima, vista de trecho
da estrada e centro de
Morretes. Na página ao
lado, a cidade paranaense:
praça central, um dos
diversos casarões de
Morretes e igreja local
Em Morretes, os visitantes encontram antigos casarões bem preservados,
bons restaurantes e população hospitaleira
3. 00outubro de 2010
NA ROTA DA TRIP
00 outubro de 2010
Longe de tudo
Mesmo com o fim da estrada da Graciosa nas proximidades de
Morretes, o passeio não acaba necessariamente ali. Geralmente, aqueles
que fazem a viagem de bicicleta traçam seus roteiros até a cidade de
Guaraqueçaba, localizada cerca de 100 quilômetros ao norte de Morretes. O
caminho até lá é bem diferente da primeira parte viagem: o calçamento dá
espaço à estrada de terra batida e pedras, com algumas montanhas pelo
caminho e baixa altitude, o que faz a temperatura subir.
E Guaraqueçaba está longe de tudo. É um daqueles lugares onde é
mais fácil chegar pelo mar do que pela estrada e o destino perfeito para
quem busca aventura ou apenas sossego. A paisagem que se descortina é,
em muitos trechos, composta pela floresta verde, campos com algumas
cabeças de gado e muitos búfalos.A urbanização é mínima e talvez seja jus-
tamente isso que atraia tantos cicloturistas para lá: a busca por um lugar
quase intocado pelo homem.
Nesse caminho, a estrada de terra batida muda conforme o clima.
Quando está seco, provavelmente o melhor para encará-la, há apenas a
poeira como inimiga. Quando chove, tudo muda, a terra vira lama, a veloci-
dade diminui, os pneus da bicicleta patinam e a aventura, para quem gosta,
acontece de verdade. A viagem, que pode ser feita muitas vezes em apenas
um dia, pede dois diante do tempo úmido.
Os pequenos vilarejos espalhados pelo caminho oferecem pousadas
simples para quem busca um local para descansar por uma noite. Para
alguns, esta é a melhor parte do passeio. A população recebe de braços
abertos os visitantes que ali chegam e ajudam no que for preciso para que
a viagem continue bem até o seu destino final. O maior vilarejo é o de
Tagaçaba, de no máximo vinte casas, onde é possível encontrar agradáveis
pousadas e restaurantes servindo comida caseira.
De Tagaçaba até Guaraqueçaba são cerca de 40 quilômetros de estra-
da, e um dos trechos mais bonitos do caminho. Um antigo mirante se
encarrega de dar uma visão panorâmica da região e mostrar as belezas
desta parte do litoral paranaense. A vista oferece uma ideia de onde se quer
chegar. Guaraqueçaba está perto, assim como o mar, que marca o fim ou
uma nova fase da viagem. Do porto da cidade é possível tomar um barco
para Paranaguá, de onde fica fácil voltar para Curitiba, ou seguir a aventura
pelo litoral paranaense e paulista, com barcos que levam o viajante até
alguma vila de pescadores, ou mesmo para dentro da costa paulista, dei-
xando o ciclista na Ilha do Cardoso. Mas aí, já é outra viagem.
Acima, caminho a Guaraqueçaba,
vista do Morro do Anhangava e
mirante, de onde se vê o litoral.
Na página ao lado, a beleza da
Mata Atlântica encontrada na
Estrada da Graciosa
Serviço:
O acesso à Estrada da Graciosa, a PR-410, está no km 59 da rodovia BR-116, a cerca de 30 quilômetros de Curitiba. Há diversos
mirantes e áreas de lazer, com churrasqueiras e outras facilidades, abertas aos visitantes, ao longo dos 30 quilômetros da
estrada. Em Morretes, os hotéis Nhundiaquara (41 3462-1938), situado à beira do rio de mesmo nome, e Porto Real (41 3462-
1944), no centro da cidade, oferecem confortáveis acomodações e restaurantes famosos pelo tradicional barreado.Quem leva:
A TRIP Linhas Aéreas oferece voos para Curitiba a partir de Alta Floresta (MT), Araxá (MG), Belém (PA), Belo Horizonte
(Aeroporto da Pampulha – MG), Bonito (MS), Brasília (DF), Cabo Frio (RJ), Campinas (SP), Campo Grande (MS), Cascavel (PR),
Corumbá (MS), Cuiabá (MT), Diamantina (MG), Dourados (MS), Governador Valadares (MG), Humaitá (AM), Ipatinga (MG), Ji-
Paraná (RO), Juiz de Fora (MG), Lábrea (AM), Londrina (PR), Manaus (AM), Maringá (PR), Montes Claros (MG), Patos de Minas
(MG), Porto Seguro (BA), Porto Velho (RO), Rio Branco (AC), Rio de Janeiro (Aeroporto Santos Dumont – RJ), Rondonópolis (MT),
São João del-Rei (MG), São José do Rio Preto (SP), Sinop (MT), São Paulo (Aeroporto de Guarulhos – SP), Uberaba (MG), Vilhena
(RO), Vitória (ES) e Vitória da Conquista (BA). Mais informações: www.voetrip.com.br