Intervenções estruturais em edifício antigo na Rua Trindade Coelho

Intervenções Estruturais em Edifícios Antigos _ Edifício na Rua Trindade Coelho nº 32 a 36
Isabel Flaminio|Ivana Korac|Sara Cruz
1_ ENQUADRAMENTO HISTÓRICO
• Zona de confluência e cruzamento vias urbanas
• 1592/1629 – Construção da Igreja dos Lóios,
dormitórios e oficinas no lugar de edifícios
existentes
• Profundas alterações urbanísticas no séc. XVIII
• Início do séc. XVIII – abertura do postigo dos
Lóios /Hortas ou Porta do Almada na Muralha
Fernandina: atravessamento Norte – Sul, acesso à
Praça Nova das Hortas/ Liberdade
• Projecto da Rua Trindade Coelho – antiga Rua
D. Maria II traçada em 1784 - Ligação directa entre
a Rua das Flores e Porta do Almada
• 1798 – Licença régia para a mudança da entrada
do Mosteiro dos Lóios para a actual Praça da
Liberdade
Apontamento do traçado da Rua D. Maria
Segunda/Trindade Coelho
Pequeno troço da antiga
Rua Mendo Afonso
Porta do
Almada
Muralha
Fernandina
Convento e
cerca de St.
Elói
Rossio do Padrão de
Santo Elói - cruzeiro
Rua
das
Flor
es

Intervenções Estruturais em Edifícios Antigos _ Edifício na Rua Trindade Coelho
• 1834 – Extinção das Ordens Religiosas e
conclusão do edifício do Mosteiro que passou a
funcionar para fins privados (actual Palácio da
Cardosas)
• Abertura da Rua Trindade Coelho no
prolongamento da fachada poente do dormitório de
St.º Elói, atravessando a cerca do mosteiro e já
sem o objectivo de ligar à porta do Almada,
entretanto demolida
• 1876 - Prolongamento do traçado viário aquando
da 1ª fase de abertura da Rua Mouzinho da Silveira
Planeamento do lote do Edifício
em estudo

2_EVOLUÇÃO HISTÓRICA
• Não sofreu grandes transformações a nível
espacial ou estrutural, apenas tendo sido
realizadas duas remodelações parciais
• 1ª fase de Ocupação
• Piso térreo e 1º Piso – estabelecimento de
Fazendas
• Pisos superiores – Habitação da família
proprietária
• 1908 – Demolição de parede e escada de
ligação entre piso térreo e 1º piso, ocupação
parcial do logradouro ao nível do 1º piso,
construção de pequena cave, substituição
dos apoios da cobertura envidraçada, em
tijolo e madeira, por betão armado
• 2ª fase de Ocupação
• 1930 – Construção de vitrine, alteração
dos caixilhos dos dois vãos correspondentes
à loja e mudança de gestão do espaço:
extensão da ocupação comercial para os
pisos superiores
• 2003/2004 – Grande incêndio que deixou o
edifício em estado de ruína

3_ CARACTERIZAÇÃO DO EDIFÍCIO
DESCRIÇÃO GERAL
• Edifício de planta rectangular – largura constante
8,85 m
• Organização vertical em 5 pisos
• Profundidade do lote – 34,20 m
•Profundidade do edifício – 22,50 m
•Existência de saguão para iluminação e ventilação
• Ocupação do logradouro pela inserção de
estrutura mista de metal e betão: espaço
centralizado iluminado por cobertura em vidro +
galeria periférica de acesso alternativo ao 1º piso
FACHADA PRINCIPAL
• Alvenaria de pedra irregular, com espessura
variável, ligada com argamassa à base de cal e
revestida com azulejos relevados
FACHADA POSTERIOR
• Alvenaria de pedra irregular com espessura
constante de 64 cm ligada com argamassa à base
de cal e revestida a reboco

COBERTURA
• Não acessível e totalmente destruída
•A estrutura estaria oculta por tecto horizontal
executado em fasquiado revestido a estuque
• Clarabóia em estrutura metálica e vidro que ruiu
• Revestimento a telha marselha ainda visível numa
pequena parte
CANTARIA DE PEDRA
• guarnecimento de vãos, embasamento, remate
das empenas, cornija e platibanda
VÃOS
• Caixilhos de madeira com portadas interiores
• Na fachada posterior existem espaços encerrados
por marquises com estrutura e caixilhos de madeira
REDE DE INFRAESTRUTURAS
• Rede de drenagem de águas parcialmente
destruída instalação eléctrica, abastecimento de
água e drenagem de águas residuais com grandes
debilidades

ELEMENTOS CONSTRUTIVOS INTERIORES
ESTRUTURA DE MADEIRA DE APOIO AOS
PAVIMENTOS
• Pavimento térreo – terra batida sobre a qual
assenta o revestimento em soalho de carvalho
• Pisos superiores
Estrutura principal: vigas de secção circular,
paralelas, encaixadas em aberturas dispostas nas
paredes laterais e central, a distâncias variáveis
entre 20 a 40 cm
Estrutura secundária: tarugos transversais às
vigas, impedem a encurvadura e minimizam os
efeitos de deformação transversal e torção
• Acabamentos dos pavimentos – soalho de
carvalho
• Acabamentos dos tectos – estuque sobre
fasquiado de madeira com trabalhos em relevos
figurativos e geométricos de grande qualidade

ESTRUTURA DA COBERTURA
• Quatro águas intersectadas por dois corpos
salientes provavelmente em estrutura de madeira
revestida a chapa de madeira
•Asnas de madeira das quais se desconhecem a
configuração e constituição exactas, provavelmente
asnas simples
• Quase certa existência de estrutura secundária
de madres, varas e ripas que transmitia às asnas
descargas actuantes e fixaria o revestimento
• Desconhecimento acerca do sistema de
solidarização das peças e do modo de fixação das
asnas nos apoios
PAREDES RESISTENTES
• Provável existência de fundações directas
• Paredes de alvenaria de pedras graníticas
irregulares unidas por ligante à base de argamassa
grosseira de cal
• Travamento transversal garantido pelos
vigamentos de madeira que atravessam o volume
no sentido do menor vão

•Existência, devido à largura do lote, de uma 3ª
parede para além das 2 laterais, com esp. De 30
cm e deslocada em relação ao eixo longitudinal
• Revestimento em reboco estucado e pintado,
ocasionalmente, a azulejo
PAREDES DE COMPARTIMENTAÇÃO
• Tabique – “esqueleto” de madeira constituído por
conjunto de peças verticais horizontais e inclinadas
sobre as quais é pregado um fasquiado, de secção
trapezoidal, que serve de suporte à argamassa de
reboco
• Desempenham, ocasionalmente um papel
importante no travamento da estrutura
ESCADAS
• Em madeira apoiam-se me 2 paredes de tabique
e nas paredes da alvenaria da empena norte e
central
• Cadeias – vigas estruturais dos lanços dos
degraus – apoia-se através de assemblagens e
pregagens nas vigas dos pisos que podiam ser
reforçadas

4_DIAGNÓSTICO
PAVIMENTOS
• Fendas por contracção transversal que, em
princípio, não diminuem a qualidade e eficácia
estrutural
• Vigas visivelmente carbonizadas nos pisos
inferiores da parte nordeste/traseiras do edifício
• Sintomas de degradação (fungos de podridão)
provocados pela exposição directa à água e
alterações climatéricas – último piso e cave
• Estado de conservação razoável no piso térreo e
na parte sudoeste/frente do edifício
• Tectos estucados – lacunas na superfície de
revestimento, fissuração generalizada, manchas de
humidade, destacamentos de relevos e pintura,
enegrecimento por acção do fogo
• É de esperar o aparecimento de problemas pela
sujeição de certas zonas a cargas permanente por
um longo período de tempo – entulho e destroços

• Peças totalmente carbonizadas, conjunto
estrutural praticamente irreconhecível
• Apenas são visíveis partes de algumas asnas não
existindo uma única conservada na totalidade
• Procedeu-se ao abrigo da caixa de escadas com
uma estrutura de madeira revestida a chapa
ondulada – medida parcial e provisória de prevenir
o agravamento da degradação
PAREDES RESISTENTES
• Sem sinais evidentes da existência de humidade
ascensional
• Sem fendas, fissuras ou esmagamentos
significativos – aparente boa capacidade resistente
• Sem sinais de alteração pela acção dos
elementos atmosféricos embora não tenha sido
possível verificar as zonas mais expostas
• Enegrecimento das cantarias do 1º piso
(traseiras)
• Cachorro fendido e parcialmente destacado do
conjunto
• Parede da fachada principal desprotegida pelo
destacamento e remoção dos azulejos

• Rebocos degradados
• Peças desalinhadas na platibanda da fachada
principal provavelmente devido à cedência do
suporte pela acção de infiltrações ocorridas após a
destruição da cobertura
• Estados de conservação desde o mau ao
razoável associados à maior ou menor proximidade
em relação ao foco de incêndio e à cobertura
inexistente
• Fissurações, destacamentos de pintura e reboco,
camadas sucessivas de pintura e reboco, manchas
de humidade (visíveis sobretudo nas faces
interiores das marquises e parte traseira) e
sujidade
ESCADAS
• Acessos ao 1º e último pisos parcialmente
destruídos
• Razoável capacidade resistente apesar da
sobrecarga

5_ESTRATÉGIA DE INTERVENÇÃO
ARQUITECTÓNICA
• Porto Vivo/SRU – Unidade de Intervenção no
Quarteirão das Cardosas
A proposta de intervenção arquitectónica e
estrutural incide unicamente na área ocupada pelo
edifício, uma vez que o logradouro irá ser utilizado
para outros fins
• Projecto do Arq. Nuno Pinto Cardoso serviu de
base à proposta de intervenção estrutural
• Manutenção dos aspectos arquitectónicos e
construtivos que caracterizam o edifício como
unidade e parte integrante de um contexto urbano
consolidado concedendo, simultaneamente ,
condições de habitabilidade
• Piso térreo – estabelecimento comercial
Pisos 1, 2 e 3 – 6 fogos T1 com kitchenette
Piso 4 + recuados – 2 fogos T2 duplex com
kitchenette e terraço
• Introdução de elevador no saguão
• Reconstrução da clarabóia
Planta de vermelhos e amarelos proposta – Rés-do-chão
Planta de vermelhos e amarelos proposta – Piso 1

• Substituição ou reparação dos elementos de
madeira danificados, restauro ou reprodução de
portas e rodapés
• Sempre que possível preservação da
compartimentação original dos espaços
• Linguagem de contraste e simplicidade de
desenho demarca as novas volumetrias do
carácter dos elementos existentes - elementos
soltos no espaços favorecem uma leitura visual
contínua
• Conjugação entre linguagem arquitectónica
proposta e pré existente assegura a diferença entre
o novo e o original na procura da valorização
mútua
Planta de vermelhos e amarelos proposta – Rés-do-chão

6_ESTRATÉGIA DE INTERVENÇÃO
ESTRUTURAL
SOLUÇÃO ESTRUTURAL
• Impossibilidade de realização de reabilitação
ligeira apenas com limpezas, reparações e
substituições pontuais
• Definição de estratégia de intervenção de nível
médio – reforço e/ou substituição de elementos
estruturais, introdução de alterações espaciais e
inclusão de novas redes de infra-estruturas
• Os critérios seguidos tentam evitar que se atinja
um grau de intervenção profundo - manutenção da
aparência exterior e não da identidade e ambiente
do edifício
PAVIMENTOS
• Pavimento térreo
• Pavimentos superiores - 2 soluções propostas
1ª solução aproveitamento do maior nº possível de
vigas de madeira na parte melhor conservada do
edifício e colocação de novas vigas de madeira ou
lamelados colados na parte mais danificada

_Observação directa da estrutura dos pavimentos
mais conservados preferencialmente junto aos
apoios - avaliação das reais possibilidades de
reaproveitamento
_Reforço da capacidade resistente: colocação de
vigas paralelas ou reforço das existentes através
de chapas ou perfis de aço
_Parte melhor conservada do edifício – hipótese do
uso de soluções de reforço com perfis metálicos e
próteses de madeira
_Vigas afectadas pelo fogo – limpeza e raspagem
para averiguação da dimensão da secção residual
degradastes por ataques de fungo ou insectos –
realização de tratamentos curativos e
preservadores, escoramento, remoção das zonas
danificadas e substituição por peças idênticas no
mesmo material
• 2ª Solução (adoptada)
Substituição total por novas vigas de madeira ou
lamelados colados apoiadas sobre cantoneiras
metálicas perimetrais fixas às paredes de alvenaria

Colocação de barrotes de madeira sobre as vigas
para assentamento do soalho
_Kitchenette e W.C. – solução de pavimentos
mistos com a utilização de vigas metálicas
apoiadas nas cantoneiras metálicas perimetrais
sobre as quais serão executadas lajes
colaborantes de betão e chapas metálicas
_Revestimento de pavimentos – soalho de
carvalho
_Revestimento de tecto – placas de gesso
cartonado
• Interferência mínima na alvenaria e não
introdução de cargas excessivas – bom
comportamento global da estrutura e elevado grau
de reversibilidade
• Nova estrutura de asnas simples apoiadas sobre
as paredes exteriores e contraventadas por
madres, frechais e pau-de-fileira
• Ligações através de assemblagens e encaixes +
ligadores metálicos aparafusados em aço inox –
grande resistência e durabilidade

• Atenção ao desenho e execução do beiral da
articulação da cobertura com o sistema de
drenagem de águas pluviais e do apoio das asnas
nas paredes de alvenaria
• Redução ao mínimo do uso de argamassas (de
cal e não de cimento)
• Revestimento a telha marselha
• Reforço estrutural através de cinta de
solidarização em todo o perímetro do coroamento
das paredes
PAREDES RESISTENTES
• Necessidade de informação acerca da natureza,
localização, profundidade, largura e estado de
conservação das fundações – sondagens e
inspecções
• Manutenção na íntegra das paredes de alvenaria
de pedra – após limpeza é provável que seja
necessário intervir para melhorar capacidade
estrutural e corrigir anomalias localizadas
• Detecção de fendas e vazios – realização de
injecções para reposição da capacidade resistente

• Detecção de material degradado – remoção e
substituição com reconstituição das zonas
afectadas assegurando a compatibilidade entre o
novo e o existente
• Detecção de problemas de ligação entre paredes
ortogonais – colocação de tirantes de aço
embebidos nas alvenarias e devidamente
ancorados
• Reforço da amarração dos elementos da
platibanda e reconstituição do cachorro fracturado
recorrendo a elementos de fixação adequados
• Novas paredes de compartimentação executadas
em estrutura metálica revestida a placas duplas de
gesso cartonado
• Processo de construção seco que dá origem a
elementos leves e em termos de lógica construtiva
é o que mais se assemelha às paredes de tabique
tradicionais

SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIOS
• Separação entre fogos e os espaços comuns –
classe CF90 de resistência ao fogo
• Compartimentação interior – classe M1 (não
combustível) e classe => CF30
• Elementos de madeira e metálicos – pinturas
intumescentes
ISOLAMENTO ACÚSTICO
• Optimização das características da caixilharia
• Execução de pavimento flutuante
ISOLAMENTO TÉRMICO
• Paredes exteriores – criação de camada de
isolamento térmico entre as faces das paredes
existentes e uma contra-fachada em gesso
cartonado (novo revestimento interior)
• Cobertura – tecto do último piso encerrado com
placas de gesso cartonado sobre as quais é
colocada uma barreira anti-vapor e uma manta de
lã-de-rocha
Necessidade de ventilação do vão da cobertura –
saída do vapor de água, equilíbrio da temperatura
e humidade relativa e minimização da
condensação

REDES DE INFRA-ESTRUTURAS
• Atenção às drenagens de águas pelas
perturbações que podem introduzir nos diversos
elementos sensíveis à humidificação
• Localização ao longo das paredes em coretes e
em tectos falsos das linhas e colunas das redes de
infra-estruturas garantindo uma fácil acessibilidade
para futura manutenção

Intervenções estruturais em edifício antigo na Rua Trindade Coelho

Recomendados

Recomendados

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Mais procurados (16)

Destaque

Destaque (13)

Último

Último (9)

Intervenções estruturais em edifício antigo na Rua Trindade Coelho