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1
I BIENAL INTERNACIONAL DE POESIA
DE BRASÍLIA
2
Governo do Distrito Federal
José Roberto Arruda
SECRETÁRIO DE ESTADO DE CULTURA
José Silvestre Gorgulho
CONJUNTO CULTURAL DA REPÚBLICA
Antônio Miranda
Biblioteca Nacional de Brasília
ORGANIZADORES DA OBRA
Maria das Graças Pimentel
Salomão Sousa
3
I BIENAL INTERNACIONAL DE POESIA DE BRASÍLIA
POEMÁRIO
Biblioteca Nacional de Brasília
Organização
Brasília
2008
4
© 2008 Direitos autorais reservados aos autores.
Projeto Gráfico: Carlos Alberto Menezes
Arte final: Tagore Alegria
Arte de Capa: Alfredo Carlos H. Reis
Fotomontagem da capa: Ricardo Rodrigues
Revisão: João Carlos Taveira
Traduções: Antonio Miranda (exceto as indicadas)
B582b	 Bibliotena Nacional de Brasília (Brasil) (BNB).
	 I Bienal de Poesia : poemário / Biblioteca Nacional de Brasília 	
	 (Brasil) (BNB) — Brasília : Petrobrás : Biblioteca Nacional de Brasília : 	
	 Secretaria de Estado de Cultura do Distrito Federal, 2008.
	 272 p. : 16 x 23 cm
	 Poemas apresentados na I Bienal Internacional de Poesia.
	 1. Literatura. 2. Poesia. I. Bienal Internacional de Poesia (1 : 2008 : 	
	 Brasília, DF). II. Título.
						 CDU 82-1
ISBN 9788570627773
5
Sumário
7	 Apresentação
Poetas homenageados
15	 Affonso Romano de Sant’anna	 Brasil
22	 Reynaldo Jardim			 Brasil
25	 Thiago de Mello			 Brasil
30	 Wladimir Dias-Pino			 Brasil
Poetas convidados
34	 Alice Ruiz				 Brasil
37	 Alice Spíndola			 Brasil
40	 Amparo Osório			 Colômbia
43	 Antonio Brasileiro			 Brasil
47	 Antonio Carlos Secchin		 Brasil
50	 Antonio Cisneros			 Peru
53	 Antonio Vicente Petroforte		 Brasil
57	 Aricy Curvello			 Brasil
59	 Aristóteles España			 Chile
63	 Betty Chiz				 Uruguai
67	 Carlos Ortega Guerreiro		 México
72	 Daniel Chirom			 Argentina
75	 Diego Mendes Sousa			 Brasil
78	 Eduardo García			 Espanha
81	 Eduardo Mora-Anda			 Equador
84 	 Elena Medel				 Espanha
88	 Emilia Currás				 Espanha
91	 Enrique Hernández d´Jesús		 Venezuela
94	 Fábio Morabito			 México
99	 Fabrício Carpinejar			 Brasil
102	 Fernando Pinto do Amaral		 Portugal
105	 Frederico Barbosa			 Brasil
108	 Gilberto Mendonça Teles		 Brasil
6
112	 Hector Collado			 Panamá
116	 Henryk Siewierski 			 Polônia
121	 Jorge Tufic				 Brasil
123	 José Carlos Capinan			 Brasil
128	 José Carlos Irigoyen			 Peru
136	 José Geraldo Neres			 Brasil
140	 Juan Carlos Pajares			 Espanha
144	 Juan Carlos Reche			 Espanha
147	 Katia Chiari				 Panamá
152	 Lourdes Sarmento 			 Brasil
155	 Luiz Otavio Oliani 			 Brasil
159	 Manoel Orestes Nieto 		 Panamá
165	 Manuel Pantigoso			 Peru
170	 Márcia Theóphilo			 Itália
173	 Márcio Almeida			 Brasil
176	 Marcos Caiado			 Brasil
180	 Margot Ayala de Michelagnoli	 Paraguai
183	 Maria Romeu				 México
188	 Mathias Lockart			 Argentina
191	 Miguel Ángel Zapata			 EUA
195	 Miguel Márquez			 Venezuela
199	 Moacir Amâncio 			 Brasil
201	 Ricardo Corona 			 Brasil
203	 Roberto Bianchi			 Uruguai
206	 Ronaldo Werneck			 Brasil
210	 Rubenio Marcelo 			 Brasil
213	 Rui Mascarenhas			 Brasil
216	 Susana Cabuchi			 Argentina	
220	 Susy Morales				 Peru
222	 Silvio Beck 				 Brasil
225	 Testa Garibaldo			 Panamá
231	 Trina Quiñones			 Venezuela
237	 Vadinho Velhinho			 Cabo Verde
239	 Veronica Volkow			 México
244	 Viviane Mosé 			 Brasil
248	 Wilfredo Machado			 Venezuela
250	 William Ospina 			 Colômbia
254	 Zélia Bora 				 Brasil
257 Informações Biobibliográficas
7
Apresentação
A PONTA DO ICEBERG: com a proliferação dos blogs e multiplicação dos
estilos, a poesia se expande e ganha vitalidade.
ANTONIO MIRANDA
Diretor da Biblioteca Nacional de Brasília
Coordenador da I BIP
	 “Curiosamente, hoje, o artigo do dia é poesia. nos bares da moda, nas
portas do teatro, nos lançamentos, livrinhos circulam e se esgotam com rapi-
dez. (…) Mesas-redondas e artigos de imprensa discutem o acontecimento. O
assunto começa – ainda que com resistência – a ser ventilado nas universidades.
(…) O fato é que a poesia circula, o número de poetas aumenta dia-a-dia e as
segundas edições já não são raras. Frente ao bloqueio sistemático das editoras,
um círculo paralelo de produção e distribuição independente vai se formando
e conquistando um público jovem que não se confunde com o antigo leitor
de poesia. Planejadas ou realizadas em colaboração direta com o autor, as
edições apresentam uma face charmosa, afetiva e, portanto, particularmente
funcional. (…) o que sugere e ativa uma situação próxima do diálogo do que
a oferecida comumente na relação de compra e venda, tal como se realiza no
âmbito editorial. A tal propósito, convém lembrar a tão freqüente presença do
autor no ato da venda, o que de certa forma recupera para a literatura o sentido
de relação humana.”
	 O texto em epígrafe é da pesquisadora Heloísa Buarque de Hollanda no
prefácio de sua antologia 26 Poetas Hoje (RJ: Aeroplano, 2007), com os textos
de poetas contemporâneos representativos das novas linguagens poéticas,
incluindo excepcionalmente os falecidos Wally Salomão e Torquato Neto,
considerados pioneiros. O que mais vale ressaltar na análise da antologista é
a causa (principal?) da aproximação da poesia com o público:
A presença de uma linguagem informal, à primeira vista fácil, leve e
engraçada e que fala da experiência vivida contribui para encurtar a
distância que separa o poeta e o leitor. Este, por sua vez, não se sente
mais oprimido pela obrigação de ser um entendido para se aproximar
da poesia. (Heloísa Buarque de Hollanda)
	 Estaríamos diante da dessacralização do exercício poético, que sai da
torre-de-marfim e é absorvido e reelaborado por um público amplo, criador
de novas formas, muitas delas coletivas, mas sem a proposta monolítica das
8
vanguardas anteriores. Sem cânones, sem ortodoxias, embora seja possível à
academia, que começa a estudar o fenômeno, categorizar as novas linguagens
e explicar algumas tendências e estilos, como pretende o lingüista e poeta
Antonio Vicente Pietroforte, da USP. É óbvio que a falta de regras e modelos
leva à perplexidade e a equívocos evidentes por transformar-se em “modismo”
e “diluição”, ou seja, “em mero registro subjetivo sem valor simbólico e, por-
tanto, poético”, no entender de Heloísa Buarque de Hollanda. Perplexidade
que também infesta as artes plásticas (instalações, intervenções urbanas) e
performáticas dos tempos atuais.
	 De qualquer maneira, não há como não reconhecer a expansão e a
vitalidade da poesia na sociedade do início deste século e milênio, mesmo
sem o apoio oficial (ou por causa disso…), sem a infra-estrutura da grande
industria editorial. Mas com a crescente abertura da universidade, apesar das
resistências.
	 A poeta e pesquisadora Sylvia Cyntrão, da Universidade de Brasí-
lia, líder de um grupo de pesquisa sobre Poesia (registrado nas agências de
financiamento), reconhece que o início foi difícil. Poesia? Não havia muitos
alunos interessados. Agora a situação é bem diferente. E ela está organizando
o Simpósio de Crítica e Poesia, que vai acontecer como parte da I BIENAL
INTERNACIONAL DE POESIA DE BRASILIA (de 3 a 7 de setembro de 2008).
A agenda está cheia e certamente vai atrair muitos inscritos e curiosos.
	 A proliferação de poemas-show, recitais abertos em bares e em salas
de aula, e até nas ruas, não é apenas no Brasil, mas em muitos países. Sem
dúvida, a web como base e a internet como veículo, vem permitindo à poesia
um espaço privilegiado para o registro e a difusão de textos poéticos, formando
verdadeiras redes sociais com os autores e leitores, de poesia convencional ou
visual, em todos os estilos e temáticas. Mais recentemente, firmando-se com
a proliferação de blogs de poesia, além das páginas e repositórios próprios.
Páginas individuais se multiplicam aos milhares, não apenas incluindo a
produção solitária, mas congregando grupos de ativistas, apontando para ou-
tros endereços afins. E-books e textos virtuais agora são gratuitos. Já existem
estudos específicos, com metodologias complexas e sofisticadas como os top
maps e as redes hiperbólicas, tentando explicitar e compreender tais relações
criativas e associativas.
	 Certamente que a multiplicação de poetas e leitores tem repercussão
e desenvolvimentos incontroláveis, mas não de todo imprevisíveis. Como
acontece com toda atividade social intensa, alguma ordem se impõe, estilos
se multiplicam, lideranças surgem e as celebridades aparecem por caminhos
próprios, já libertas das amarras das grandes editoras e da própria crítica que
já não tem mais os espaços tradicionais para manifestar-se. Em verdade, o
consenso se faz de forma mais aberta, as opiniões se multiplicam sem muita
Antonio Miranda 
9
teoria e normas, causando as perplexidades já referidas anteriormente. A julgar
pelo que acontece com a música, com os esportes e outras atividades de massa,
a poesia vai firmar-se em estilos e correntes visíveis e muitas acabarão sendo
absorvidas e industrializadas para o consumo. Com a melhoria técnica de sua
produção e até com a banalização de seus métodos de criação e entendimento.
Mas com a certeza de que o crescimento da atividade dará lugar a patamares
altos de qualidade e a vanguardas e elites que estarão em melhores condições
de criação e uso… É inevitável. A melhor será inevitavelmente para poucos, a
melhor poesia acabará sendo o privilégio de poucos, mas fica o consolo de que
a poesia – como a música, à qual está cada vez mais associada, xifópagas… –
deixará de ser para o usufruto de uns poucos para ser de muitos, não importa
em que forma se apresente…
	 Vale lembrar o exemplo do iceberg… Só há uma ponta porque existe
uma base ampla de sustentação… Maior a base, maior a parte visível. Milhares
de blogs serão acessados em escala quase doméstica, outros serão o território
de tribos enormes e alguns conquistarão multidões como galáxias em expan-
são, crescendo, desaparecendo, numa dinâmica que tentaremos acompanhar,
compreender e usufruir.
***
	 A I BIENAL INTERNACIONAL DE POESIA foi imaginada como um
espaço para o confronto das linguagens e formatos em que acontece a poesia
contemporânea, em sua diversidade. Uma espécie de caleidoscópio, de vitral
ou mural em que se expõem todas as tendências para um confronto entre os
criadores, mas aberto ao público. Não é (apenas) um festival de poesia para os
poetas, pretende ser um encontro de poetas, editores, ensaístas e toda classe de
ativistas culturais com públicos em diversas escalas, desde os freqüentadores
dos cafés literários e academias até os espaços abertos, em shows, em ônibus,
praças públicas. Daí porque também se pretende que a poesia vá aos bairros
mais distantes e ocupe palcos em faculdades, em escolas, em toda parte. Quem
vai fazer o julgamento final, se couber, é a platéia, o ouvinte, o leitor.
	 Embora tenha o auspício da Secretaria de Cultura do Governo do Dis-
trito Federal e de muitas outras entidades públicas e privadas, a I BIP não deve
ser vista como uma atividade “chapa branca”, mas solidária, cooperativa, em
que muitos parceiros e voluntários se prestaram à montagem de sessões em
diversos locais, com a total liberdade de organização e escolha. Embora ofereça
um programa formatado, com nomes célebres em seus países de origem, está
aberta a Bienal para que qualquer poeta divulgue seu trabalho, sem censura.
	 O presente volume reúne os poetas convidados de diversos países e
de outros estados do Brasil, muitos deles vieram com o patrocínio de embai-
Antonio Miranda
10
xadas, de instituições nacionais e estrangeiras, ou com recursos obtidos junto
a patrocinadores como a Petrobras, a FAP (Fundo de Amparo à Pesquisa do
GDF), a Brasília Tour e a VARIG.
	 Os poetas brasilienses estão reunidos na antologia Deste Planalto
Central – Poetas de Brasília, organizada pelo poeta e ensaísta Salomão Sousa,
com a chancela da Câmara do Livro do Distrito Federal, com o apoio sempre
entusiasmado de nosso amigo Valter Silva, além de lançamentos de livros pelos
autores e editores da cidade durante a 27.ª Feira do Livro de Brasília.
	 Os poetas visuais saem no catálogo de OBRANOME2, exposição que
acontece nos espaços magníficos do Museu Nacional do Conjunto Cultural da
República, com a competente e criativa curadoria de Wagner Barja. Os atores
e músicos com a parceria tão oportuna do Festival Internacional de Teatro
CENA CONTEMPORÂNEA, dirigido por Guilherme Reis.
	 Sem descartar as oportunidades do SIMPÓSIO DE CRÍTICA LITE-
RÁRIA, na Universidade de Brasília, coordenado pela poeta e pesquisadora
Sylvia Cyntrão, além de muitas oficinas para levar conhecimentos e técnicas
aos interessados.
	 Os poetas mirins também têm seu volume de poemas – a Antologia da
Poesia em Superdotação –, resultante de um concurso nacional patrocinado
pelo Ministério da Educação, através do Núcleo de Atividades de Altas Habi-
lidades/Superdotação (NAAH/S-DF), em concurso nacional organizado pelos
professores Olzeni Ribeiro e Josué Mendes, com textos bilíngües português e
espanhol, com o apoio da Embaixada da Espanha, para distribuição em escolas
e bibliotecas brasileiras e espanholas. Haverá também mostra de filmes sobre
poetas brasileiros nos espaços do Cine Brasília.
	 Certamente que há omissões e erros, em parte pela impossibilidade de
reunir a todos num único evento. Mas pretendemos voltar em 2010, com a II
Bienal para celebrar os 50 anos da inauguração de Brasília, com mais experi-
ência, com mais tempo para superar os equívocos e aprofundar os possíveis
méritos desta iniciativa da Biblioteca Nacional de Brasília, na festa de abertura
de seus serviços à população local e extramuros. Agora é a hora e a vez da
poesia; vamos nos unir neste mutirão com entusiasmo e devoção às musas por
mais difusas que sejam.
Antonio Miranda
11
Presentación
LA PUNTA DEL ICEBERG: con la proliferación de los blogs y la multiplicación
de los estilos, la poesía se expande y gana vitalidad.
ANTONIO MIRANDA
Director de la Biblioteca Nacional de Brasilia
Coordinador de la I BIP
	 “Curiosamente, hoy, el artículo del día es poesía. En los bares de moda,
en las puertas de los teatros, en los lanzamientos, libritos circulan e se agotan
con rapidez. (…) Mesas-redondas y artículos de la prensa discuten el suceso.
El asunto empieza – aunque con alguna resistencia – a ser estudiado en las
universidades. (…) El hecho es que la poesía circula, el número de poetas
aumenta a cada día y las segundas ediciones ya no son cosas raras. Frente
al bloqueo sistemático de las editoras, un círculo paralelo de producción y
distribución independiente se está formando, conquistando un público joven
que no se confunde con o antiguo lector de poesía. Planificadas o realizadas
en colaboración directa con el autor, las ediciones tienen una cara elegante,
afectiva y, por lo tanto, particularmente funcional. (…) lo que surgiere y ac-
tiva una situación más próxima del diálogo de la comúnmente ofrecida en la
relación de compra y venta, tal como se realiza en el ámbito editorial. Por tal
propósito, conviene recordar la tan frecuente presencia del autor en el acto
de la venta, lo que de cierta forma recupera para la literatura el sentido de la
relación humana.”
	 El texto en epígrafe es de la investigadora Heloísa Buarque de Hollanda
en el prefacio de su antología 26 Poetas Hoy (RJ: Aeroplano, 2007), con textos
de poetas contemporáneos representativos de los nuevos lenguajes poéticos,
incluido excepcionalmente los fallecidos Wally Salomão y Torquato Neto, con-
siderados pioneros. Lo que más vale resaltar en el análisis de la antologadora
es la causa (¿principal?) de la aproximación de la poesía con el público:
La presencia de un lenguaje informal, a primera vista fácil, leve y
cómico que habla de la experiencia vivida para disminuir la distan-
cia que separa al poeta del lector. Este, por su vez, no se siente más
oprimido por la obligación de ser un conocedor de la poesía para
aproximarse a ella. (Heloísa Buarque de Hollanda)
	 Estaríamos delante de la desacralización del ejercicio poético, que
sale de la torre-de-marfil y es absorbido y reelaborado por un amplio público,
creador de nuevas formas, muchas de ellas colectivas, pero sin la propuesta
12
monolítica de las vanguardias anteriores. Sin cánones, sin ortodoxias, aunque
sea posible para la academia, que empieza a estudiar el fenómeno, categorizar
los nuevos lenguajes y explicar algunas tendencias y estilos, como pretende
el lingüista y poeta Antonio Vicente Pietroforte, de la USP. Es obvio que la
falta de reglas y modelos lleva a la perplejidad y a deslices evidentes por trans-
formarse en “modismo” y “dilución”, o sea, “en simple registro subjetivo sin
valor simbólico y, por lo tanto, poético”, según entiende Heloísa Buarque de
Hollanda. Incertidumbre que también infesta las artes plásticas (instalacio-
nes, intervenciones urbanas) y performáticas en la actualidad. De cualquier
manera, no hay como no reconocer la expansión y la vitalidad de la poesía en
la sociedad de este nuevo siglo y milenio, mismo sin el apoyo oficial (o por
causa de eso…), sin la infra-estructura de la gran industria editorial. Pero con
la creciente abertura de la universidad, a pesar de las resistencias.
	 La poetisa e investigadora Sylvia Cyntrão, de la Universidad de Brasi-
lia, líder de un grupo de investigación sobre Poesía (registrado en las agencias
de financiamiento), reconoce que el comienzo fue difícil. ¿Poesía? No había
muchos alumnos interesados. Ahora la situación es bien diferente. Y ella está
organizando el Simpósio de Crítica Y Poesía, que va a realizarse como parte
de la I BIENAL INTERNACIONAL DE POESÍA DE BRASILIA (del 3 al 7 de
septiembre de 2008). La agenda está llena y ciertamente va a atraer muchos
inscritos y curiosos.
	 La proliferación de poema-show, recitales abiertos en bares y en salas
de aula, y hasta en las calles, no sucede apenas en Brasil, también ocurre en
muchos países. Sin duda, la Web como base y la Internet como vehículo, vie-
nen permitiendo a la poesía un espacio privilegiado para registrar y difundir
textos poéticos, formando verdaderas redes sociales con los autores y lectores,
de poesía convencional o visual, en todos los estilos y temáticas. Firmándose
recientemente con la proliferación de blogs de poesía, además de las páginas
y repertorios de los propios autores. Páginas individuales se cuentan a los
miles, no apenas incluida la producción solitaria, sino congregando grupos
de activistas, apuntando para otras direcciones análogas. E-books y textos
virtuales ahora son gratuitos. Ya existen estudios específicos, con metodolo-
gías complejas y sofisticadas como los Topic maps y las redes hiperbólicas,
intentando explicar y comprender tales relaciones creativas y asociativas.
	 Es indudable como la multiplicación de poetas y lectores se ha desar-
rollado con repercusiones incontrolables, pero no de todo imprevisibles. Como
sucede con toda actividad social intensa, alguna orden se impone, estilos se
multiplican, líderes surgen y las celebridades aparecen por caminos propios,
ya liberadas de las amarras de las grandes editoras y de la propia crítica que
ya no tiene más los espacios tradicionales para manifestarse. En verdad, el
consenso se hace de forma más abierta, las opiniones se multiplican sin mu-
Antonio Miranda
13
cha teoría y normas, causando las ya referidas perplejidades. A juzgar por
lo que sucede con la música, con los deportes y otras actividades de masa,
la poesía va firmándose en estilos y corrientes visibles y muchas acabarán
siendo absorbidas e industrializadas para el consumo. Con la mejoría técnica
de su producción y hasta con la generalización de sus métodos de creación y
entendimiento. Pero con la convicción de que el crecimiento de la actividad
dará lugar a rellanos altos de calidad y a vanguardias y elites que estarán en
mejores condiciones de creación y uso… Es inevitable. La mejoría será ine-
vitablemente para pocos, la mejor poesía acabará siendo privilegio de pocos,
pero nos queda el consuelo de que la poesía – como la música, la cuales está
cada vez más asociada, xifópagas… – dejará de ser para el uso de unos pocos
para ser de muchos, no importa en que forma se presente…
	 Vale la pena recordar el ejemplo del iceberg… Sólo hay una punta
porque existe una base amplia de sustentación… Mayor la base, mayor la parte
visible. Millares de blogs serán accesados en escala casi domestica, otros serán
el territorio de tribus enormes y algunos conquistarán multitudes como galaxias
en expansión, creciendo, desapareciendo, con una dinámica que intentaremos
acompañar, comprender y usufructuar...
***
	
	 La I BIENAL INTERNACIONAL DE POESÍA fue imaginada como un
espacio para el confronto de los lenguajes y formatos en que sucede la poesía
contemporánea, en su diversidad. Una especie de caleidoscopio, de vitral o
mural en que se exponen todas las tendencias para un confronto entre los
creadores, pero abierto al público. No es (apenas) un festival de poesía para
los poetas, pretende ser un encuentro de poetas, editores, ensayistas y toda
clase de activistas culturales con públicos en diversas escalas, desde los fre-
cuentadores de los cafés literarios y academias hasta los espacios abiertos, en
show, en ómnibus, plazas públicas. Por eso también se pretende que la poesía
vaya a los barrios más lejanos y ocupe palcos en facultades, en escuelas, en
toda parte. Quien va a hacer el juzgamiento final, si es que cabe, es la platea,
el oyente, el lector.
	 Aunque cuenta con el auspicio de la Secretaria de Cultura del Gobier-
no del Distrito Federal y de muchas otras instituciones públicas y privadas,
la I BIP no debe ser vista como una actividad “chapa blanca”, y si como una
actividad solidaria, cooperativa, en que muchos colaboradores y voluntarios
se dispusieron a trabajar en el montaje de secciones en diversos locales, con
la total libertad de organización y decisión. Aunque ofrezca un programa for-
mateado, con nombres celebres en sus países de origen, está abierta para que
cualquier poeta divulgue su trabajo, sin censura. El presente volumen reúne
Antonio Miranda
14
los poetas invitados de diversos países y de otros estados do Brasil, muchos
de ellos vinieron con el patrocinio de embajadas, de instituciones nacionales y
extranjeras, o con recursos conseguidos junto a patrocinadores como Petrobras,
FAP (Fundo de Amparo à Pesquisa do GDF), Brasilia Tour y VARIG.
Los poetas de Brasilia están reunidos en la antología “DESTE PLANALTO
CENTRAL”, organizada por el poeta y ensayista Salomão Sousa, con el apoyo de
la Cámara del Libro del Distrito Federal, y la colaboración siempre entusiasta
de nuestro amigo Valter Silva, además de lanzamientos de libros por los autores
y editores de la ciudad durante la 27.ª Feria del Libro de Brasilia.
Los poetas visuales están en el catálogo de OBRANOMBRE2, exposi-
ción que podrá ser vista en los magníficos espacios del Museo Nacional del
Conjunto Cultural de la República, con la competente y creativa curadoría
de Wagner Barja. Los actores y músicos con la colaboración tan oportuna del
Festival Internacional de Teatro ESCENA CONTEMPORÁNEA, dirigido por
Guilherme Reis.
	 Sin descartar las oportunidades del SIMPÓSIO DE CRÍTICA LITERÁ-
RIA, en la Universidad de Brasilia, coordenado por la poetisa e investigadora
Sylvia Cyntrão, además de muchos talleres para llevar conocimientos y técnicas
a los interesados.
	 Los niños poetas también tienen su volumen de poemas – la Antología
de Poesía en Superdotados –, resultando de un concurso nacional patrocinado
por el Ministerio da Educación, a través del Núcleo de Actividades de Altas
Habilidades/Superdotados (NAAH/S-DF), en concurso nacional organizado por
los profesores Olzeni Ribeiro y Josué Mendes, con textos bilingües portugués
y español, que cuenta con el apoyo de la Embajada de España, para distribuir
en escuelas y bibliotecas brasileñas y españolas. Hay también una muestra de
cine sobre notables poetas brasileños en los espacios del Cine Brasilia.
	 Claro que puede haber omisiones y fallas, en parte por la imposibili-
dad de reunir a todos en un único evento. Pero pretendemos volver en 2010,
con la II Bienal para celebrar los 50 años de la inauguración de Brasilia, con
más experiencia, con más tiempo para superar los deslices y profundizar los
posibles méritos de esta iniciativa de la Biblioteca Nacional de Brasilia, en
la fiesta de inauguración de sus servicios a la población local y extramuros.
Ahora es la hora y la vez de la poesía, vamos a unirnos en esta cruzada con
entusiasmo y devoción a las musas por más difusas que sean.
Reproducción del texto publicado originalmente en el Correio Braziliense, suplemento
Pensar, Brasilia, sábado, 26 de enero de 2008. Cuaderno C, p. 7 con el objetivo de
promover la I BIENAL INTERNACIONAL DE POESÍA DE BRASÍLIA, seguido de comen-
tarios sobre el presente volumen.
Traducción de Aurora Cuevas Cerveró
Antonio Miranda
15
Affonso Romano de Sant’Anna
A GRANDE FALA DO ÍNDIO GUARANI (1978)
(fragmento)
 
3
E a pergunta martela e pousa
como um corvo
                         no desespero aberto da janela.
 
— Quem escreveria o poema de meu tempo?
— Eu próprio? Mas, com que mãos, arroubos, insânias?
                               com que vaidades, prêmios, vexames?
 
Fala alguém por alguém
			 — com alheio coração?
Vive alguém por alguém
			 — ou morre sempre aquém da própria mão?
 
Não seriam a fala
                   o amor
                   a vida
                                    a metafórica versão do exílio
                                    o brilho da apagada estrela
                                    ausência e concreção do nada?
 
Sim, é verdade que cada dia sei mais do que se compõem a poesia e o nada.
 
      Debulho poemas e milharais
      como o camponês aduba estrofes e mulheres.
      Mas me sinto maduro e inútil. Como ontem:
                                        — imaturo e fútil.
 
Não acordo mais às cinco
não selo mais o animal
desesperam-me os vegetais. Do pomar
olho minha inútil biblioteca. Doirados
frutos na estante.
                        Inutilíssima sapiência. Sabíamos tudo.
16
                        Merecíamos tudo. Tínhamos até fé.
 
Outrora eu passeava entre canteiros de enciclopédias
limpando pulgões podando ervas e páginas. Perdia-me
na contemplação da abelha sobre as letras:
— favos de mel derramavam-se da estante.
 
Todos nós líamos os poetas
mas não lavramos um mundo mais justo,
E enquanto soturnos decifrávamos as tabuinhas dos
caldeus os mais astutos e modernos
                     empolgavam o poder e o generais
marcando em nossas testas anátemas fatais.
 
E líamos grossos romancistas
exalando suor vermelho e revoltas sobre a praça.
Povo era a palavra
                 e o amanhã era a palavra
                                     da palavra povo.
 
Mas porque estava tudo escrito
                            nosso futuro                         					
			 petrificado
de nós se alienou.
                       Ontem soltávamos pombas nos estádios
éramos livres, juvenis e a paz um poster de Picasso.
Mas foram-se os posters e Picasso
                       — e as pombas não voltaram nunca mais.
 
Nossos pais também liam os poetas
citavam os clássicos
              e pelas noites com seus robes tomavam chávenas
              e liam dourados tomos sem ver as traças
                                           — que nos comem.
 
Mas os acontecimentos desviaram-se dos livros
e por mais que entulhássemos os cursos de história
de novo a história
                  desviava-nos seus rios
e os livros
                 nem sempre férteis
                             prodreciam no Nilo.
Affonso Romano de Sant’Anna
17
E sobrevieram borrascas e explodindo códigos e leis
que eram logo dissolvidos e refeitos em novas leis
e códigos. E erguíamos diques e parágrafos murando o mar
e a ressaca dos fatos
                      — a tudo rebentar.
A vida, a vida é mais que profecias e algemas
             a vida é irrefreável
                        não se contém nas lâminas
                                         partidos
                                         nem nos fichários
                                        e antenas
a vida
              — é o impoemável poema.
 
 
 
QUE PAÍS É ESTE? (1980)
(fragmento)
	
	 para Raymundo Faoro
 
              Puedo decir que nos han traicionado? No. Que
              todos fueron buenos? Tampoco. Pero allí está
              una buena voluntad, sin duda y sobretodo, el ser así.
                                                     César Vallejo
 
1
       Uma coisa é um país,
           outra um ajuntamento.
 
           Uma coisa é um país,
           outra um regimento.
 
           Uma coisa é um país,
           outra o confinamento.
 
Mas já soube datas, guerras, estátuas
usei caderno “Avante”
                                     — e desfilei de tênis para o ditador.
Vinha de um “berço esplêndido” para um “futuro radioso”
e éramos maior em tudo
Affonso Romano de Sant’Anna
18
                        — discursando rios e pretensão.
 
           Uma coisa é um país,
           outra um fingimento.
 
           Uma coisa é um país,
           outra um monumento.
 
           Uma coisa é um país,
           outra o aviltamento.
 
Deveria derribar aflitos mapas sobre a praça
em busca da especiosa raiz? ou deveria
parar de ler jornais
                     e ler anais
como anal
            animal
                    hiena patética
                                 na merda nacional?
Ou deveria, enfim, jejuar na Torre do Tombo
comendo o que as traças descomem
                                     procurando
Quinto Império, o primeiro portulano, a viciosa visão do paraíso
que nos impeliu a errar aqui?
 
             Subo, de joelhos, as escadas dos arquivos
              nacionais, como qualquer santo barroco a rebuscar
              no mofo dos papiros, no bolor
              das pias batismais, no bodum das vestes reais
              a ver o que se salvou com o tempo
              e ao mesmo tempo
                                              — nos trai.
 
 
EPITÁFIO PARA O SÉCULO XX
 
1.
Aqui jaz um século
onde houve duas ou três guerras
mundiais e milhares
de outras pequenas
Affonso Romano de Sant’Anna
19
e igualmente bestiais.
2.
Aqui jaz um século
onde se acreditou
que estar à esquerda
ou à direita
eram questões centrais.
3.
Aqui jaz um século
que quase se esvaiu
na nuvem atômica.
Salvaram-no o acaso
e os pacifistas
com sua homeopática
atitude
— nux vômica.
4.
Aqui jaz o século
que um muro dividiu.
Um século de concreto
armado, canceroso,
drogado,empestado,
que enfim sobreviveu
às bactérias que pariu.
5.
Aqui jaz um século
que se abismou
com as estrelas
nas telas
e que o suicídio
de supernovas
contemplou.
Um século filmado
que o vento levou.
6.
Aqui jaz um século
semiótico e despótico,
Affonso Romano de Sant’Anna
20
que se pensou dialético
e foi patético e aidético.
Um século que decretou
a morte de Deus,
a morte da história,
a morte do homem,
em que se pisou na Lua
e se morreu de fome.
7.
Aqui jaz um século
que opondo classe a classe
quase se desclassificou.
Século cheio de anátemas
e antenas,sibérias e gestapos
e ideológicas safenas;
século tecnicolor
que tudo transplantou
e o branco, do negro,
a custo aproximou.
8.
Aqui jaz um século
que se deitou no divã.
Século narciso & esquizo,
que não pôde computar
seus neologismos.
Século vanguardista,
marxista, guerrilheiro,
terrorista, freudiano,
proustiano, joyciano,
borges-kafkiano.
Século de utopias e hippies
que caberiam num chip.
9.
Aqui jaz um século
que se chamou moderno
e olhando presunçoso
o passado e o futuro
julgou-se eterno;
Affonso Romano de Sant’Anna
21
século que de si
fez tanto alarde
e, no entanto,
— já vai tarde.
10.
Foi duro atravessá-lo.
Muitas vezes morri, outras
quis regressar ao 18
ou 16, pular ao 21,
sair daqui
para o lugar nenhum.
11.
Tende piedade de nós, ó vós
que em outros tempos nos julgais
da confortável galáxia
em que irônico estais.
Tende piedade de nós
— modernos medievais —
tende piedade como Villon
e Brecht por minha voz
de novo imploram. Piedade
dos que viveram neste século
– per seculae seculorum.
Affonso Romano de Sant’Anna
22
Reynaldo Jardim
O SOM EMBUTIDO NA MATÉRIA
 
O Som se oculta no
Lenho da madeira,
Cordas de piano,mesa
De bar,corpo de cristal
Ou vidro ordinário,
Se esconde,o Som ,nos
Másculos do corpo,couro
Do tamborim, no
Stradivarius, ossário
Dos animais carnívoros
Ou não.
Em silêncio o Som
Aguarda que o libertem
Da matéria bruta ou
Manufaturada, para
Expressar sua angústia,
Melodia, ruído ,linguagem
Áspera, doce , requintada ,
Basta um leve toque
No atabaque, da baqueta
Na pele tensionada
Do surdo para que
Ele,o Som,rompa a
Mortalha e vibre no ar
O ritmo do samba sincopado.
Ele ,o Som,grita quando
A porta bate forte no
Batente e se desespera
Quando mãos desajeitadas
Foram, dele o irritante
Arranhar de lixa polindo
A ferrugem das cascos
Dos navios.
O Som implora que
Todos o tratem com
23
A delicadeza de um
João Gilberto.
 
MATERNAL
 
Ela se deita,
Diz que não se importa
E deixa a porta
Escancarada e nua
Ela projeta
Uma sombra torta,
Iluminada pela luz da rua.
A lua bate e ela
se comporta
Como se a lua fosse
Seu cachorro
que amestrado
Lhe beijasse a boca,
que sensitivo
Lhe aplacasse o choro.
E esse quarto
vira uma loucura
de bocas,de cachorro
de ternuras
de luas espalhadas
Água em chamas.
No incêndio dourado
de seus pêlos
queimam-se desvarios
e desvelos.
O mel de leite
Brota em suas mamas. 
DESAMORES
4  
Quero me despojar
de tudo o que não tenho.
Limpar meus horizontes
de artes e de engenho.
Reynaldo Jardim
24
Quero me desfazer
de tudo o que não tive.
A certeza certeira
de quem viveu não vive.
Quero me entristecer
de alegria e calma.
Olhar no espelho e ver
a cara de minha alma.
E quero dessofrer
o que nunca sofri.
O gosto do prazer:
sumo de sapoti.
 
 
SONETO TRAVADO
 
O que será que ela me ama,
se a impudência da ternura,
o quando vou, a volta escura,
esse parir quando me chama?
 
O que terá que assim me odeia,
por que se faz de alegre e raiva,
sendo a distância que desmaia,
por que me aranha em sua teia?
 
O que faria se me esquece
e já me fere da esquivança,
senão me erra o que padece:
 
a manhã cedo em cada prece,
a fúria azul dessa lembrança,
o calendário que enlouquec
 
Reynaldo Jardim
25
Thiago de Mello
OS ESTATUTOS DO HOMEM
 
Poema que escrevi em 1964,                             
em protesto contra o terror da ditadura militar.   
	 É dedicado a Car/os Heitor Cony
 
Artigo I.
 
Fica decretado que agora vale a verdade,
que agora vale a vida
e que, de mãos dadas,
trabalharemos todos pela vida verdadeira.
 
Artigo II.
 
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
 
Artigo III.
 
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.
 
Artigo IV.
 
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.
26
Parágrafo único:
O homem confiará no homem
como um menino confia em outro menino.
 
Artigo V.
 
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.
 
Artigo VI.
 
Fica estabelecida, durante os milênios da vida,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.
 
Artigo VII.
 
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridão,
e a esperança será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.
 
Artigo VIII.
 
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar amor a quem se ama
sabendo que é a água
que dá à planta o milagre da flor.
 
 
Thiago de Mello
27
Artigo IX.
 
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal do seu suor.
Mas que sobretudo tenha sempre
o quente sabor da ternura.
 
Artigo X.
 
Fica permitido a qualquer pessoa,
a qualquer hora da vida,
o uso do traje branco.
 
Artigo XI.
 
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo do que a estrela da manhã.
 
Artigo XII.
 
Decreta-se que nada será obrigado nem proibido.
Tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.
 
Parágrafo único:
 
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.
 
Artigo XIII.
 
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
Thiago de Mello
28
a festa do dia que chegou.
 
Artigo final.
 
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo, um rio,
como a semente do trigo
e a sua morada será sempre
o coração do homem.
 
LEÃO 
(21 de Julho a 20 de Agosto)
 
Leão é fogo, sonhos cerrados,
a rosa de amor feita de brasa.
A vida te será amável,
companheiro que avanças
sob o sortilégio do Sol.
 
A menos que sejas um Leão
cujos dias se cumprem
em certos pedaços de chão como o do Nordeste
da minha pátria, sob o sol da injustiça.
Mas é desgraça demasiada
para tão pouco horóscopo.
De resto, trata o meu zodíaco da vida,
que não é precisamente o que tu levas,
companheiro camponês.
Contudo, algo te digo: não te submetas,
dentes de esmeralda já se cravam
na entranha do latifúndio.
 
Quanto a ti, Leão poderoso,
sei que não calculas os momentos que vives,
não calculas nem medes,
confias nos teus átomos,
Thiago de Mello
29Thiago de Mello
te encantam as turquesas,
ostentas a gordura,
esbanjas as suavidades.
Tuas razões terás, e são das fortes,
porque se nutrem da alheia desventura.
Mas não posso ocultar-te
que vejo fluidos escuros
baixando sobre tua cabeça.
Enquanto caminhas confiante,
levado por tua extrema ganância,
Saturno está só te olhando
com seu olho implacável.
Te recomendo, para começar,
empinar um papagaio agora mesmo,
pelo menos uma tarde por mês,
e publicamente.
Queres que eu te diga tudo?
Haverá um instante de inverno
em que sete astros se unirão
à esquerda da tua indiferença.
Sete astros, sete ventos,
sete nebulosas verdes,
sete segredos reunidos
contra tua força de homem,
que sempre foste sozinho,
que apenas contas contigo.
Vais ver enfim como te odeia
a multidão que te adula.
Vê se descobres um irmão,
vê se ainda podes ser irmão,
talvez possas, ainda é tempo.
Depende do teu coração,
se é que ainda o levas.
 
E tu, doce mulher de Leão,
não abandones assim tanto a cozinha:
inventa um guisado,
com aipo, ternura e orégano,
em fogo bem brando,
para o teu homem.
30
Wlademir Dias-Pino
31Wlademir Dias-Pino
32 Wlademir Dias-Pino
33Wlademir Dias-Pino
34
Alice Ruiz
HAICAIS 
 
mar bravio
a cada onda
novo silêncio
  
diante do mar
três poetas
e nenhum verso
  
manhã de outono
o verde do mar
também amarela
  
sinal fechado
o menino atravessa
escrevendo versos
  
contra o prédio cinza
uma só flor
e todas as cores
  
procurando a lua
encontro o sol
mas já de partida
   
pôr-do-sol
em torno dele
todos os cinzas 
 
começo de outono
cheia de si
a primeira lua
  
som alto
vento na varanda
a samambaia samba 
35
trânsito parado
os mesmos olhares
e ninguém se olha
  
último raio de sol
primeiro da lua
outono nascendo
  
cerimônia do chá
três convidados
e um mosquito
  
nuvem de mosquitos
tocando violão
silenciosamente
  
sob a folha ver-escura
a folha verde-clara
trêmula dissimula  
 
   
DRUMUNDIANA
e agora maria?
 
o amor acabou
a filha casou
o filho mudou
teu homem foi pra vida
que tudo cria
a fantasia
que você sonhou
apagou
à luz do dia
 
e agora maria?
vai com as outras
vai viver
com a hipocondria
Nota: Paródia do poema “José”, de Carlos Drummond de
Andrade.
 
Alice Ruiz
36
SE
se por acaso
a gente se cruzasse
ia ser um caso sério
você ia rir até amanhecer
eu ia ir até acontecer
de dia um improviso
de noite uma farra
a gente ia viver
com garra
eu ia tirar de ouvido
todos os sentidos
ia ser tão divertido
tocar um solo em dueto
ia ser um riso
ia ser um gozo
ia ser todo dia
a mesma folia
até deixar de ser poesia
e virar tédio
e nem o meu melhor vestido
era remédio
daí vá ficando por aí
eu vou ficando por aqui
evitando
desviando
sempre pensando
se por acaso
a gente se cruzasse…
Alice Ruiz
37
Alice Spíndola
ÁGUAS-MILAGRES
 
Ouve, meu rio,
         o homem persegue, há séculos,
o mistério das águas.
Quentes? Vulcânicas? Águas de gelo?
 
Bacias hidrográficas
                   honram a nossa França,
         aguardam a História,
     indo atrás dos rastros
das míticas
e místicas paragens de sua trajetória.
 
Primitivo tempo das caçadas…
Interior das florestas detém a teimosia
                   de homens e condados.
Represas de águas claras
                   e mananciais subterrâneos
             salvam a pauta das memórias
      das águas-milagres,
no desafio de reter a sinfonia dos rios.
 
Vazantes, abraçadas pelo mar,
                   sangram o arco-íris,
código das cores
                   dos frutos maduros.
 
Folhagens estampam o escuroverde.
 
SEMPRE BUSCANDO A CANÇÃO ESQUECIDA
 
No frêmito da ventura,
         a fuga e o retorno da imagem
                   do pequeno barco.
Imagem – fonte e oráculo –
38
                   mergulhada na insularidade
do mar de gestos e de palavras.
 
Com a alma seqüestrada
                   pela beleza do rio
e pelo rumor de suas águas,
o menino procura a canção esquecida.
 
         Menino parisiense voga nas milhas do sol.  
 
 
A CHAVE
No meio da noite, configura
a fragrância das palavras mágicas
Na chave da noite, a ternura,
pluma que verte enigmas
Nas mãos do tempo,
o arado que rasga os mistérios
do sentimento que define
O homem da meia noite,
em seu caminho de volta
que faz
ao adentrar a meia lua
das unhas dos enigmas.
A mão da noite destrava a chave
da fragrância das palavras mágicas
 
VIGÍLIA
No labirinto do silêncio, o abismo
O pêndulo do relógio
Sai do corpo das horas
E entra em contrita vigília
 
O espelho do tempo
Reflete a imagem:
Alice Spíndola
39
Um relógio preso
Na parede pálida
Espera o êxtase da alma das horas
 
O poeta mira o relógio
E aguarda que o poema
Revele a sua maturidade
E que vele pela vigília
E que valha um palpite de eternidade
 
Na alma do poeta, o êxtase
Do poema que pontilha o eterno.
Alice Spíndola
40
Amparo Osório
INVENTARIO
 
Nada fue tuyo.
Sólo imaginaste una casa y la luna.
El fuego vacilante de la llama.
La mensajera noche
alta en la soledad de tus estrellas
 
La sombra perfecta y fiel dictando
el paso de las constelaciones.
La música del agua…
Ahora lo sabes.
Palidecen las manos.
Miras el tiempo de tu cuerpo,
el tiempo de los ríos,
el tiempo de las ruinas.
 
Basta que quisieras dormir
sin pronunciar la última palabra.
Que sólo desearas
ya no mirar y desatar los brazos.
 
Sólo eso bastaría…
Pero no sabes cómo.
 
Traduções de Floriano Martins
 
INVENTÁRIO
 
Nada foi teu.
Apenas imaginaste uma casa e a lua.
O fogo vacilante da chama.
A mensageira noite
alta na solidão de tuas estrelas.
 
A sombra perfeita e fiel ditando
o passo das constelações.
41
A música da água…
Agora já sabes.
 
Tuas mãos empalidecem.
Vês o tempo de teu corpo,
o tempo dos rios,
o tempo das ruínas.
 
Bastaria que quisesses dormir
sem pronunciar a última palavra.
Que desejasses somente
não mais olhar e desatar os braços.
 
Bastaria apenas isto…
Porém não sabes como.
 
 
EM SEGREDO
 
Por quem canta o obscuro caracol
e seu pó de séculos
por que persiste ainda?
 
Partimos tantas vezes
sob o breve tremor das estrelas
que fugir uma vez mais
é apenas mais caminho.
 
Não se parte.
Nunca se parte
sempre se regressa.
 
 
À DERIVA
 
Houve um instante de pavor
em que o tempo do nunca se deteve
e o jamais devolveu suas mãozinhas
ao relógio de água
dos olhos.
Antes ia o amor
Amparo Osório
42
alto, subindo,
porém entraram velozes
as mentirosas águias rapinantes…
 
e então:
o esquecimento.
 
 
ESTAÇÃO PROFÉTICA
 
Crepúsculos alheios
destinos vãos
presentes irreais
 
Desperdício!
 
Meus olhos nada podem mudar.
Nem as palavras ditas ou caladas
nem o rosto da morte
inventariado nas dobras da sombra.
 
Esquecimentos. Centenas de esquecimentos
e úmidas crisálidas
— guardiãs das tumbas —
avançam apesar de meu soluço.
 
Os relógios cumprem
com sua cota de espanto.
Amparo Osório
43
Antonio Brasileiro
O SIM & OUTROS ACHAQUES
 
A vida inteira anulada
por falta de outros desígnios,
 
eis que voltamos ao parque
onde os homens se congregam:
 
ninguém jamais sabe ao certo
onde o sim das grandes aves,
 
singramos por mares mansos
que julgáramos esquecidos –
 
mas eis que a vida se perde
por falta de outros desígnios.
 
Ou não se perde: é só isto.
 
SONETO DO AMOR PROFANO
 
Não me consinta o amor tanta alegria,
pois, por não merecê-la, me constrange
o peito (já uma dor, não longe, me
sussurra que este amor sem agonias
não há de consentir em tanta graça),
eis que, perdidamente, já pressinto
– e quanto, e quanto – que em amor, perdidos
todos os lances, não há como obtê-lo
de outro modo que não por sacrifícios /
e eis que este, pois, gratuita dádiva,
me chega às mãos de um modo tão profano,
que quase certo estou de que, se o tenho,
já não o tenho por justo e dadivoso
mas por amor que é fruto só de engano.
 
E não me engana um amor quando enganoso.
44
CEM ANOS
 
Vejo mãos que me folheiam
buscando-me a fisionomia –
         mas já passei, agora
         sou apenas poesia.
 
Vejo rostos que me amam
tentando saber quem fui –
         sou um retrato, miragem
         que o tempo dilui.
 
Vejo braços que me acenam
chamando-me insistentemente –
         para que, se a folha que passa
         passa tão de repente?
 
A NOITE DAS NOVE LUAS
 
1. Deixai-me com meus lírios e minhas luas.
Andar é sempre a mesma
   luz
   à frente.
 
Vou explodir com os planetas
vou seguir a rota das galáxias
   ai amor
   estou prestes a me dissolver
   no ar.
 
Mas deixai-me com meus lírios
e interlúdios
nestes mares nunca mares calmos mares.
 
1. Deixai-me com meus lírios
e sonetos.
Vou explodir de luz um dia desses,
amiga, um dias desses.
Deixai-me com meus lírios
e sonetos.
 
Antonio Brasileiro
45
Hás de me encontrar
insone e louco
no meio dos trigais da inconsciência,
   ai, declamando
   os versos que Van Gogh
   não escreveu.
 
 
ARTE POÉTICA
 
Meus versos são da pura essência
dos poemas inessenciais.
 
Nada dizem de verídico
não querem nada explicar.
 
Não narram o clamor dos peitos
não encaram a dor do mundo.
 
Se por vezes falam alto
é por puro gozo, júbilo.
 
humor que brota de dentro
como se movem os astros.
 
Eles, meus versos, são pura
floração de irresponsáveis
 
flores nascidas nos mangues,
por nascer – mas multicores,
 
lindas, não importa que os homens
as conheçam ou não conheçam.
 
    
TUDO QUE SOMOS
 
Tudo que somos,
pouco sabemos.
 
Um poço imenso,
Antonio Brasileiro
46
cheio de sonhos.
 
Quando choramos,
não nos perdemos.
 
Viver é um sonho,
Não esqueçamos.
 
Viver é a sombra,
o assombro, o apenas.
 
/ Tão frágeis somos!
Frágeis e imensos.
 
 
CONTEMPLAÇÃO DA NUVEM
             
	 p/ Luis Alberto
 
a vida é a contemplação daquela nuvem.
E o mundo
uma forma de passar, que inventamos
para não ver que o mundo não é o mundo,
mas uma nuvem
                       passando.
 
E uma nuvem passando
ensina-nos mais coisas que cem pássaros
mil livros      um milhão de homens.
 
A vida é a contemplação daquela nuvem.
E o mundo
uma forma de passar, que inventamos
para não ver que o mundo não é o mundo,
mas uma nuvem.
                       Passando.
Antonio Brasileiro
47
Antonio Carlos Secchin
A ILHA
 
E olhamos a ilha assinalada
pelo gosto de abril que o mar trazia
e galgamos nosso sono sobre a areia
 
num barco só de vento e maresia.
Depois, foi a terra. E na terra construída
erguemos nosso tempo de água e de partida.
 
Sonoras gaivotas a domar luzes bravias
em nós recriam a matéria de seu canto,
e nessas asas se esparrama nossa glória,
 
de um amor anterior a todo estio,
de um amor anterior a toda história.
E seguimos no caminho de ser vento
 
onde as aves vinham ver se havia maio,
e as marcas espalmadas contra o frio
recobriam de brancura nosso rumo.
 
E abrimos velas alvas que se escondem
dos mapas de um sonho pequenino,
do início de uma selva que se espraia
 
na distância entre mim e o meu destino.  
 
 
MARGEM
 
Vou andando para a beira desse porto,
entre cheiros de cigarra e de sardinha
e um desejo líquido de partir.
Meu olhar desliza no horizonte, querendo saber
a que distância um nome deixa de doer.
seu nome, marcado em minha boca
48
como a polpa de uma pêra .
O navio enorme avisa que vai embora.
Escrevo a palavra salto,
e paro no sal, e não chego ao alto.
A noite está boiando
num óleo grosso de silêncio e luz.
Molho os pés, penso em seu nome: gozo
de um poço tapado. Insônia de musgos
na beira das águas redondas.
Me vejo na ponta do cais,
cacos de luz
abrindo a cara do mar.
Destroços de palavras, pedaços de seu nome,
sílabas que batem contra os cascos.
Estou parado na beira de um porto,
azul e morte no oco do ar.
 
 
BIOGRAFIA
 
O poema vai nascendo
num passo que desafia:
numa hora eu já o levo,
outra vez ele me guia.
 
O poema vai nascendo,
mas seu corpo é prematuro, 
letra lenta que incendeia
com a carícia de um murro.
 
O poema vai nascendo
sem mão ou mãe que o sustente,
e perverso me contradiz
insuportavelmente.
 
Jorro que engole e segura
o pedaço duro do grito,
o poema vai nascendo,
pombo de pluma e granito.
 
Antonio Carlos Secchin
49
CANTIGA
 
Senhora, é doença tão sem cura
meu querer de vossos olhos tão distantes,
que digo: é maior a desventura
ver os olhos sem os ver amantes.
 
Senhora, é doença tão largada
meu querer de vossa boca tão serena,
que até mesmo a cor da madrugada
é vermelha de chorar a minha pena.
 
 
POEMA DO INFANTE
 
É a noite.
E tudo escava tudo
na língua ambígua que desliza
para o esquivo jogo.
Amargo corpo,
que de mim a mim se furta,
não recuso teu percurso
no hálito das pedras
que me existem em ti
– estéril dorso entre águas
estancadas.
O nada, o perto, o pouco,
não posso dividir
do que se espera o que me habita,
ao fazer fluir a via antiga
de um menino que mediu o lado impuro.
Operário do precário,
me limito nesse corpo amanhecido,
asa e gozo onde a morte mora.
Minha vida, mapeada e descumprida,
está pronta para o preço dessa hora
Antonio Carlos Secchin
50
Antonio Cisneros
KARL MARX DIED 1883 AGED 65
 
Todavía estoy a tiempo de recordar la casa de mi tía
     abuela y ese par de grabados:
Un caballero en la casa del sastre, Gran desfile militar
     en Viena, 1902.
Días en que ya nada malo podía ocurrir. Todos llevaban
     su pata de conejo atada a la cintura.
También mi tía abuela –veinte anos y el sombrero de
     paja bajo el sol, preocupándose apenas
por mantener la boca, las piernas bien cerradas.
Eran los hombres de buena voluntad y las orejas limpias.
Sólo en el music-hall los anarquistas, locos barbados y
     envueltos en bufandas.
Qué otoños, qué veranos.
Eiffel hizo una torre que decía “hasta aquí llegó el
     hombre”.
Otro grabado:
Virtud y amor y cela protegiendo a las buenas familias.
Y eso que el viejo Marx aún no cumplía los veinte años
     de edad bajo esta yerba
 gorda y erizada, conveniente a los campos de golf.
Las coronas de flores y el cajón tuvieron tres descansos al
     pie de la colina
y después fue enterrado
junto a I
la tumba de Molly Redgrove “bombardeada por
     el enemigo en 1940 y vuelta a construir”.
Ah el viejo Karl moliendo y derritiendo en la marmita
     los diversos metales
mientras sus hijos saltaban de las torres de Spiegel a las
     islas de Times
y su mujer hervía las cebollas y la cosa no iba y después
     sí y entonces
vino lo de Plaza Vendome y eso de Lenin y el montón
     de revueltas y entonces
las damas temieron algo más que una mano en las naIgas
     y los caballeros pudieron sospechar
51
que la locomotora a vapor ya no era más el rostro
     de la felicidad universal.
 
“Así fue, y estoy en deuda contigo, viejo aguafiestas:”
 
Traduções
 
KARL MARX DIED 1883 AGED 65
 
Ainda estou pronto para recordar a casa de minha avó e 
esse par de gravuras:
Um cavalheiros na casa do alfaiate, Grande desfile militar
 em Viena, 1902.
Dias em que mais nada de ruim podia acontecer. Todos levavam
 seu pé de coelho na cintura.
Também minha tia-avó  ¯ vinte anos e o chapéu de palha sob o sol,
                                               preocupando-se apenas
com manter a boca, as pernas bem fechadas.
Eram os homens de boa vontade e as orelhas limpas.
No music hall apenas os anarquistas, loucos barbudos  e envoltos
                                               em cachecóis.
Que outonos, que verões!
Eiffel fez uma torre que dizia: “até aqui chegou o homem”.
Outra gravura:
Virtude e amor e ciúme protegendo as melhores famílias.
E dizer que o velho Marx ainda não cumprira os vinte anos de idade
                                               debaixo desta erva
¯ gorda e eriçada, conveniente para os campos de golf.
As coroas de flores e o caixão tinham três descanços
                                               ao pé da colina
e depois foi enterrado
junto ao túmulo de Molly Redgrove “bombardeado pelo inimigo
                                               em 1940 e logo reconstruído”.
Ah o velho Marx moendo e derretendo na marmita os diversos metais
enquanto os filhos pulavam das torres de Spiegel às ilhas de Times
e sua mulher fervia as cebolas e a coisa não avançava e depois
                                               sim e então
veio o da Praça Vendome e aquilo de Lênin e o montão de revoltas
                                               e então
Antonio Cisneros
52
as damas temeram algo mais do que  mão nas nádegas
e os cavalheiros puderam suspeitar
que a locomotiva a vapor já não era mais o rosto
                                               da felicidade universal.
 
“Assim foi, e estou te devendo, velho estraga-festas”.
 
OUTRA FESTA DO MENINO JESUS
 
Se eu soubesse por onde começar começaria com o
         coração na mão.
Filha da mãe de pescadores e agricultores, servidora do
Menino.
Aqui de pé com o punho cerrado e os espinhos da tuna
mais seca.
(Os canais de pedra afundando na areia como um
	 rato no matorral.)
Sem ter a quem queixar-me agora.
Já abandonamos nossos mortos (posso ouvi-los
	 Crescer sob o carvão).
O Menino me perdoa.
Adeus plantinha de pimenta, mudinha de arruda,
	 plantinha do rocoto.*
Adeus pirilampos, lagartos, escorpiões.
Recolho os cabelos e tento dormir enquanto escuto
as sombras nas dunas uma derradeira vez.
(Ao deserto o que era do deserto. Ao mar o que é do mar.
Antonio Cisneros
Antonio Vicente Pietroforte
O RETRATO DO ARTISTA ENQUANTO FOGE
	 para Camila
 
o que apetece, Balzac?
na descrição da forma mais
bonita, você se perde entre
o desenho e o fato; e agora
Glauco, na hora de fazer
mais um soneto, qual parte
do corpo que você escolhe?
a tinta da melancolia
te entrega uns braços, a veia
do poeta negro se toca
quando fica duro; palmeira,
a menina loira desmaia
sobre a mata, a pata da
donzela ciumenta te consome
como te consome
o pulso machucado; muitas
putas para Henry Miller, para
Jean Genet, travestis, viados
como na Ilíada, Aquiles
e Pátroclo; continua a
saga no drama, na comédia
é sempre uma mulher que te abre
o Céu como se abrisse as pernas;
como Camões na redondilha
pede um beijo às lavadeiras, Joyce,
numa carta à namorada
pede peidos na cara
está parado em frente ao Elevado
na Amaral Gurgel
 
toma cuidado
o emplasto que segura o saco
o talco no lugar da flor
54
 
puro Mistral
desceu pelo nariz nervoso
 
havia um sex-shop ali ano passado
 
beleza
há um pôster de mulher pelada
imenso
em cada prédio
 
dureza
fingir indiferença à mendiga suja
o pé descalço
a coxa dura
a curva da cintura
no vestido dado
 
vazio?
 
por que duas lésbicas precisariam
de um pinto de borracha
para completar o trio?
 
o brilho da água se recorta
no vôo do inseto
 
o Buda sentado alucina
esmeralda incrustada no olho de vidro
a loucura do fungo
nos night clubs em Nagazaki
pássaro feito de plástico
tão bonito que parece de verdade
 
minha doce emoção
 
se desgasta no excesso da palavra
o brilho da água
já não diz mais nada
 
Antonio Vicente Pietroforte
55
mas soluça a água salgada do teu olho falho
grita na garganta, mais viscosa
só me diz a água
que do teu olho vaza
lacrimosa
neblina produto da fumaça
zebra riscada com chicote
 
o Buda toca uma punheta, e goza
) mas (sob o céu da Pérsia
no bico do Simorg
ela é minha de verdade
o
  
shortsvermelho
reetus
vermelhovermelho
proeta
vermelho vermelho
zen
o vôo da garça
zen
o vôo da garça
ergo
semdramasemdrama
erectus
malae tenebrae
Orci
rubent rubent
como
se trata do corpus
como
se trata do animus
incógnito
trata-se da mens
lubrax
trata-se do noûs
 
Antonio Vicente Pietroforte
56 Antonio Vicente Pietroforte
o
outro anal para Camila
ninguém repara, amada
você não leva nada
em uma noite escura
 
quem sabe alguma prece rara, súcubo
a vespa pronta pra bater as asas
com ânsias, em amores inflamada
 
decotada, a Vênus
indecente, desfruta
ó ditosa ventura!
 
a sensação do tato
sob os pés, prece rara
– saí sem ser notada
 
o chão é caramelo puro, gata
sussurra pela noite escura, fada
estando minha casa sossegada
Aricy Curvelo
aqui não mais aqui
(uma fímbria)
(uma face)
(uma frase)
nem tudo o que sabemos
linguagem
nem tudo o que resta
: o pousar que recolhe
o que existe (a obscura mistura)
viver significa
— e é tudo
sobretudo
quando
sem receio, quando te entregares,
quando te fundires, sem medo,
ao obsclaro e ao mênstruo da linguagem,
mesmo se te houveres perdido,
porque terás de criar livremente a tua língua,
haverás de criar livremente o teu espírito.
o náufrago
Os planos que malogram,
	 a fortuna que se rende,
	 o fado que tem olhos
	 de acaso e relógio,
	 pelo pesadelo a grande Barca abalroada,
	 três mil passageiros se paralisaram no terror da hora,
58
	 em plena noite, ao mar, na baía da Guanabara.
	 Alguns, das águas
	 recuperados. Um, não dos mais belos, porém dos mais
jovens,
	 fortes ventos e correntes o impeliram para fora
	 da barra, para as altas águas, o alto mar,
	 roído de peixes,
	 que humano já não era, incorporado
	 a medusas, a algas, ao
	 plenilúnio, às vagas, aos eflúvios do sal.
	 Agora, sua respiração percorre o litoral.
indigência e riqueza
o real (julgaram) é só
o que vem ter à palavra
há muito mais silêncio e muito mais
silêncio
há muito mais real e muito mais
real
o verso existe para impedir o poeta
de falar
E-U
	 canção de uma só palavra
	 pássaro de uma só asa
	 cidades de uma só casa
	 uma só mão
	 batendo palmas
Aricy Curvelo
59
Aristóteles España
LLEGADA
 
Bajamos de la barcaza con las manos en alto
a una playa triste y desconocida.
La primavera cerraba sus puertas,
el viento nocturno sacudió de pronto
         mi cabeza rapada
         el silencio
esa larga fila de Confinados
que subia a los camiones de la Armada Nacional
                   marchando
cerca de las doce de la noche del once de septiembre
de mil novecientos setenta y tres en Isla Dawson
Viajamos
por un camino pantanoso que me pareció
una larga carretera con destino a la muerte.
Un camino con piedras y soldados.
El ruido del motor es una carcajada,
mi abrigo café tiene barro y bencina:
         nos rodean
         bajamos del camión
uno        dos       tres                 kilómetros
         cerca
         del
         mar
         y
         de
         la
         nada,
¿Qué será de Chile a esta hora?
¿Veremos el sol mañana?
Se escuchan voces de mando y entramos a un callejón
esquizofrênico que nos lleva al Campo de Concentración,
se encienden focos amarillos a nuestro paso,
las ventanas de la vida se abren y se cierran.
60
Traduções
      
CHEGADA
Saimos da barcaça com as mãos ao alto
numa praia triste e desconhecida.
A primavera fechava as portas,
o veno noturno sacudiu de repente
         minha cabeça raspada
         o silêncio
essa longa fila de Confinados
que subia aos caminhões da Armada Nacional
                   marchando
próximo da meia noite de onze de setembro
de mil novecentos setenta e três em Ilha Dowson
Viajamos
por um caminho pantanoso que me pareceu
uma longa estrada com destino à morte.
Um caminho com pedras e soldados.
O ruído do motor é uma gargalhada,
meu abrigo café tem barro e benzian:
         nos acurralam
         descemos do caminhão
um          dois          três          quilômetros     
         próximo
         do
         mar
         e
         de
         nada,
Que será do Chile a estas horas?
Veremos o sol amanhã?
Escutam-se vozes de comando e entramos num corredor
esquizofrênico que nos leva ao Campo de Concentração,
acendem focos amarelos em nossa passagem,
as janelas da vida se abrem e se fecham.
 
 
Aristóteles España
61
APONTAMENTOS
 
Me fotografam num galpão
como um objeto,
uma, duas, três vezes,
de perfil, de frente,
elaboram minha ficha com esmero:
“solteiro, estudante, 17 anos,
perigoso para a Segurança Nacional”.
Olham de soslaio:
Querem minhas impressões digitais.
Um suor gelado
inunda minhas faces.
Nada comi.
Creio que há uma tormenta.
Me algema novamente.
Sinto náuseas.
Começo a ver que tudo gira
a mil quilômetros por hora.
Batem com força
em meus ouvidos.
Caio.
Grito de dor.
Vou chocar com uma montanha.
Mas não é uma montanha.
Senão barro e pontapés,
e um barulho intermitente
que se mete em meu cérebro
até a inconsciência.
 
O OUTRO INVERNO
 
As vozes de minhas primas ardem na direção de um janeiro que se foi.
Todas reencarnadas, mínimas lendas,
Espelhando-se na água onde eram mais duendes que mulheres.
 
Imitações vagas, um quadro de Renoir,
Corridas pelo pátio onde devorávamos o assado natalino.
 
Aristóteles España
62
Uma vez mais repete o mesmo sol em suas coxas
depois de doze anos,
essa luta por assemelhar-nos a parentes distantes
como se nada tivesse acontecido.
E aquilo de usar sempre os mesmos disfraces.
Também uma dança que não recordo e ícones religiosos,
com os magos que retornam de uma história diferente todo dia,
como imagens de leões mortos
 
e este bombardeio nos órgãos sexuais,
e o mesmo final na boca de filhos imaginários;
 
velhas fotografias que começo a despedazar no cuarto
de uma úmida pensão na Dez de Julho, retendo o ar,
enquanto miro, imóvel, os ossos na parede.
Aristóteles España
63
Betty Chiz
TRÁNSITO
 
Desciendo por los arcos
cada día cada año.
La memoria se empantana.
Me esfuerzo por recordar
nombres y rostros
buceo en mis archivos
neuronales
guardo información innecesaria
escondo espontáneos
deseos de abrazar amigos
cansada de brindarme
sin prejuicios.
Camino calle arriba los silencios
mastico las palabras habituales
las que nombran
techo y pan
desentrañando semánticas ajenas.
         Argumento del arco iris
         su circunferencia
o el semicírculo visible el transitado
en una sola vía.
         Remuevo del dolor
         transidas circunstancias
         me apoyo en cimientos milenarios
         y así nomás ando por la vida
         derramándome total
en cuerpo y alma.
64
Traduções 
TRÂNSITO
 
Descendo pelos arcos
todo dia cada ano.
A memória se empantana.
Me esforço para recordar
nomes e rostos
submerjo em meus arquivos
neurais
guardo informação desnecessária
escondo espontâneos
desejos de abraçar amigos
cansada de celebrar-me
sem preconceitos.
Caminho rua acima os silêncios
mastigo as palavras habituais
as que nomeiam
teto e pão
desentranhando semânticas alheias.
             Argumento do arco-íris
             transidas circunstancias
             apoio-me em cimentos antigos
             e assim é que ando pela vida
             derramando-me inteira
em corpo e alma.
TAPETE
Urdidura
onde
mãos de mulher plasmam
flores e pássaros
novelos transformados em textura apertada
o tear intercepta
o alinhavo
a obra cresce
desenvolve sua teia
com a velocidade da aranha
Betty Chiz
65
que captura sonhos.
Urdidura
onde
os olhos desenham o tecido
caprichoso
atrevido
artístico
que acomete a academia
caçadora de sonhos.
Urdidura
onde
fios e lãs mimam o bastidor
          abrigo seguro
regaço materno
                      tradição rural
o fuso tece sonhos.
Urdidura
onde
fomos do calendário de parede
aos parafusos
do suporte de madeira
sustentam utopias
vivendo sonhos.
Urdidura
onde
com as falanges nuas
           e as estrias nos dedos
o unicórnio se levanta
no estandarte azul
espreitando nuvens.
AVE FÉNIX
                                              
“…hay golpes en la vida tan fuertes…yo no sé…”                
	 César Vallejo “Los Heraldos Negros”
 
Acreditei dever sustentar o mundo
com minhas mãos
e senti
“que hay golpes en la vida tan fuertes…yo no sé”.
Betty Chiz
66
Se é que não sabia que era como ave fênix
e dores e
impostam,
tornam-se sarro,
envelhecem nas cavas,
pra que servem, me pergunto, os anos nas costas
que mais de endiabram entre o amor e o ódio
em cada circunstância.
Que importa!, me digo
“si hay golpes en la vida…”
golpes de misericórdia. Sei lá!
O mundo se coloca de soslaio
quando subo a ladeira
mão dupla
me ouço dizendo-me ao meu ouvido externo
que devo deixar a ave fênix
ressurgir dos escombros e excrescências
mesmo que haja “golpes en la vida…tan fuertes…”
bem o sei.
Betty Chiz
67
Carlos Ortega Guerrero
 
 
DANZA EL PASAJERO DE LA ESTANCIA
 
     Estar o no estar
         hacen el margen
el campo donde sin pausa configuran
las aleaciones de la conciencia y de la forma
	“los espisódios de la realidad’’
 
¿Cuántos caminos tienden a esta tarde
colmada de frutos en los jarros?
 
Fluyen     en las corrientes del diálogo
de lábios a ojos ávidos     historias
traídas desde lejos
para en el ensueño arraigar
 
A veces oigo latir mi corazón
como metido en el agua de un tibor
en la maleza transpariente del tiempo
 
“¡Voz del tambor
         voy a velear!”
                         me digo
 nauta en la cavidad de la conciencia
 
Ofrendo mientras vuelo sutiles espaciosas
               ganas de morir
                    me hago vacante
               oscuro inmemorial quedo
                                 descanso
            en paz
       para levantarme outra vez fresco
a pulsar amoroso entre los hilos
que mueven en el mundo
la belleza y la suma
68
el beso y el madrazo
la falta y el desdén:
sordomudo del tiempo y del espacio
inmóvil oquedad que nada empoza
 
            mas que rebosa
               cuando vuelve al halo
mental el sabor de la conciencia
entre hierbas delicias matutinas:
la luz     el aire    el agua    la campana
Salto del globo que lleva el pensamiento
a la tierra de nadie del silencio
donde palpita la vena primordial
 
El horizonte se figura:
las formas ciertas que disipan su arte
son ojos mudos que las vem llegar
 
ßEspaciotiempo    lugar de la ignorancia
oportunidad cruda del raudal!
reino de cada uno en el Todo Uno
perdido u olvidado por cada orondo quién
 
¿Por qué no llegar al mar de cada instante
por las vias individuales de la sed
cada cual lleno de si    claro vacío
ebrio de Dios   aliento de su sino
 
para en el centro del aire inteligente
                          llano
        estar?
Traduções
  
CANÇÃO DA MORADA AMPLA
 
O acaecimento     que nos revela:
sua nulidade de fim e de princípio
que suporte oferece    que argumento?
 
Carlos Ortega Guerrero
69
Feituras de luz a luz povoando
os filhos pródigos do Todo que acontece
indagamos o mundo
 
embora sejamos tão somente lascas
estelas na substância absorta
desprendimentos de ramificações do provedor original
seqüelas    que desde o impacto repentino
cumulado irradiou
colapsando adentro
em sonoro mas vacante vocábulo negro
o estalo do silêncio
 
Que logo nomeia o assunto da duração
e a consciência da duração
e a duração da consciência da duração?
 
e quanto pense não sacia nem se sacia
 
Mas o mistério de respirar a luz e recriá-la
o mistério de fazer     dar     dizer
amar no coração do incessante tamanho incom-
parável
o mistério calado de saber-se
de espreitar  e compreender vão adentro
o pulso lúcido da noção
                                        a fonte
plana que se imensa
parece endereçar um verbo que assim varia
 
Campos vibrantes o âmbito gera
brotam y soam
brilham    calam    cessam
 
são?
 
Uma rocha
                   uma rosa
                                   um raio
Carlos Ortega Guerrero
70
          um rio
una voz que decifra seu arbítrio?
 
                 uma rosa
 
DANÇA O PASSAGEIRO DA ESTÂNCIA
 
Estar ou não estar
                            fazem a margem
o campo onde sem pausa configuram
as ligações da consciência e da forma
“os episódios da realidade”
 
Quantos caminhos tendem para esta tarde
colmada de frutas nas bandejas?
 
Fluem    nas correntes do diálogo
de lábios a olhos ávidos     histórias
trazidas de longe
para no sonho entranhar
 
‘As vezes ouço bater meu coração
como metido na água de um vaso
na matagal transparente do tempo
 
“¡Voz do tambor
         Vou velejar!”
                                         me digo
nauta na cavidade da consciência
Ofereço enquanto vôo sutis e espaçosas
             ganas de morrer
                    e torno vacante
             escuro imemorial quedo
                            descanso
             em paz
         para levantar-me outra vez ameno
 
Carlos Ortega Guerrero
71
a pulsar amoroso entre os fios
que se movem no mundo
a beleza e o sumo
o beijo e o tapa
a falta e o desdém:
surdo mudo do tempo e do espaço
imóvel vacuidade que nada empoça
 
                 mas que transborda
                     quando volta ao halo
mental o sabor da consciência
entre ervas delícias matutinas:
a luz     o ar    a água    o sino
 
Salto do globo que leva o pensamento
à terra de ninguém do silêncio
onde pulsa a veia elemental
 
O horizonte se figura:
as formas certas que dissipam sua arte
seus olhos mudos que as vêem chegar
 
Espaço-tempo    lugar da ignorância
oportunidade crua do caudal!
reino de cada um no Todo Um
perdido ou olvidado por cada presumido quem
 
Por que não ir ao mar de cada instante
pelas vias individuais da sede
cada quem pleno de si    claro vazio
ébrio de Deus   alento de sua sina
 
para    no centro do ar inteligente
                                  plano
				 estar?
Carlos Ortega Guerrero
72
Daniel Chirom
HOMERO
Mi alma se acostumbró a este oscuro paisaje.
Tras mis pasos
vendrán otros a poblar estas sombrías estepas
como yo
perderán la luz.
Soy el adelantado de una raza de ciegos.
 
LEONARDO Y “LA ÚLTIMA CENA”
Por encargo de Ludovico “el moro”
eletreé durante tres años  la Ultima Cena.
No cometí ningún error,
fue mi voluntad que Cristo y sus apóstoles
se fueran desintegrando con el tiempo.
Cuando la cena sea nuevamente servida
otro Ludovico me encargará rehacerla
hasta que el vino vuelva a escasear.
Confío en la eterna sed del hombre.
LA DIÁSPORA
 
Hacia los cuatro vientos,
el polvo del camino nos nubló la vista.
Descendimos
hasta volver.
Estamos en todas partes y no somos nadie,
Sólo la noche nos rescata.
Nuestro horizonte es la cruz del sur
donde ojos entrecerrados
aún tocan música.
73
Traduções
HOMERO
 
Minha alma acostumou-se a esta paisagem escura.
Seguindo meus passos
virão outros povoar estas estepes sombrias
e como eu
perderão a luz.
Sou o pioneiro de uma raça de cegos.
 
 
LEONARDO E “A ÚLTIMA CEIA”
 
Por encomenda de Ludovico “o mouro”
soletrei durante três amos a Última Ceia.
Não cometi erro algum.
foi minha vontade que Cristo e seus apóstolos
fossem desintegrando-se com o tempo.
Quando a ceia seja novamente servida
outro Ludovico vai me encomendar refaze-la
até que o vinho volta a escassear.
Confio na eterna sede do homem.
 
  
A DIÁSPORA
 
Aos quatro ventos
o pó do caminho nublou a nossa vista.
Descemos
até retornar.
Estamos em toda parte e nada somos,
só a noite nos resgata.
Nosso horizonte é o cruzeiro do sul
onde os olhos entreabertos
ainda tocam música.
 
 
Daniel Chirom
74
ABRAÃO
 
Mago dos jugos eternos,
ensina-me o caminho de casa
pois desejo fazer o amor,
delirar com o vinho
e sonhar nos entardeceres.
Não para mim este mundo imortal e silencioso,
não para mim as redes que outros tecem.
O fruto pende prenhe do ramo,
a primavera borda o céu
e uma semente me habita.
  
MARIA
 
Desconheço os planos do destino.
Sou o instante
em que a sigla
é alienada por um segredo.
 
PONTES
 
Pontes,
acesas e ocultas pontes
que intercedem pela surpresa
as nossas intenções e incertezas.
Delas
nada dizem os livros,
às cegas as buscamos
guiados por nossas suspeitas.
Quando as encontramos
Já as tínhamos cruzado.
Daniel Chirom
75
Diego Mendes Sousa
VERTIGEM
A poesia desinfetou as entranhas
                              de
                              meu estômago
 
agora vomito como
                   restos sólidos
depois catarei essa
                   e
                   aquela
                         palavra
 
impulsarei na sintaxe
            o de sobra
      voltará à vertigem digestiva
                                              
 
VAIDADE
 
Esta pele morena
          não é feita de ouro
 
O suor do corpo
               contrapala
               a côndea lisa:
Uma do homem presente
        do tato presente
 
outra
 
        Onde só os mais dotados
                  de sensibilidade
                     entenderão
               a natureza-fátua e
                               frívola
         desse homem
                              ainda nascente
76
OBSERVAÇÃO
 
O vento corredio passa engraçado
                    pelas árvores
dando-lhes os movimentos
 
         e os pássaros
                     saltam
as trincheiras da brisa de outros nortes
 
Cantando tudo dentro de seu possível
               como pardais
                     audíveis
              por toda manhã
 
PECHA
 
Como macilenta
              pode ser minha imagem?
 
E concluo:
         não são banais
               os coriscos
          as nuvens
                  os penedos
         inerentes à minha pessoa
 
Apenas são defeitos
 
CANDELABRO
 
Dói-me o peito
Queima-me a alma
                  esta solidão reclusa
 
Não por querer viver
         nesta orla-névoa
      albicante como meu rosto
Diego Mendes Sousa
77
 
Se por medo da morte
 
Se por medo da perda
desta vida sob velas
 
Uma noite…
 
… Não serei solidão
 
não serei solidão
               quando o candelabro
                      for sereno
              ao apagar-se
 
    
Diego Mendes Sousa
78
UN HOMBRE MIRA A OUTRO EN LA VENTANA
 
Un hombre mira a outro en la ventana;
a otro hombre sentado junto a otra
ventana silenciosa,
su mirada en la página y el aire
solemne con que lee ahora una línea
buscando un sol de invierno, unos caballos
galopando en la nieve, una mujer
hermosa e imposible y fugitiva,
la caricia del viento y la costumbre
o la detonación, el grito, el breve
latido en que la sangre se demora
suspendida y a punto,
y ahora si,
el temblor de la piedra sumergida,
el aliento que vibra y se desboca,
la ciudad que aparece en la distancia.
 
Un hombre mira a outro en la ventana.
Escribe unas palabras. No sospecha
 más allá de la sangre y los caballos
y el viento y la mujer y aquel latido 
que los trazos que araña en el papel
son los versos que el outro lee agora.
 Traduções
 
UM HOMEM OBSERVA UM OUTRO NA JANELA
 
Um homem observa um outro na janela;
um outro homem sentado junto a outra
janela silenciosa,
sua mirada na página e o ar
solene com que lê agora uma linha
buscando um sol de inverno, uns cavalos
Eduardo García
79
galopando na neve, a mulher
formosa e impassível e fugitiva,
a carícia do vento e o costume
ou a detonação, o grito, o breve
pulsar em que o sangue demora
suspenso e a ponto,
e agora sim,
o tremor da pedra submersa,
o fôlego que vibra e se desboca,
a cidade que aparece na distância.
 
Um homem observa um outro na janela.
Escreve uma palavras. Não suspeita
 além do sangue e dos cavalos
e o vento e a mulher e aquele palpitar –
que os traços da aranha no papel
são os versos que o outro agora lê.
 
NO FUNDO DA CENA
 
Cruzei o umbral. Estou em casa.
Depois do frio, o vento e os verões
eu vim. Saúdo os objetos
com um suspiro grave e respeitoso.
A sala decorada com flores que parecem
desaprumar-se carnívoras sobre os comensais.
Ocupei meu assento. Alguém comenta
o preço escasso da vida humana
em um país remoto e as notícias
liberam promessas de um futuro
que valha a pena. A mulher
me serve um sorriso.
O homem fala com ela como alguém acaricia
um sonho que ser torna cotidiano.
Sob o mantel as crianças brigam.
O sal. O pão. A mesa de sempre:
cada quem em seu lugar, absorto na tarefa
de ser o personagem que a trama
dispõe.
         Assim, já vês, somos felizes.
Eduardo García
80
Ignoramos que um dia a ausência da mãe,
esta cadeira vazia, inconcebível,
fará que a criança aquela – no fundo da cena –
escreva estas palavras.
 
SONHO COM FACAS
 
Caminho por uma bosque de facas.
Os cabos enterrados
Levantam a ameaça do aço.
Avanço com cautela, sem saber
para onde me dirijo. O ar apaga
à minha espalda meu rastro, e o confunde.
O eco de meus passos
se voltam as facas contra mim,
girassóis de sombra  agachada…
 
Desperto. Abro os olhos:
o copo na mesa, teu corpo junto ao meu,
a casa em calma. É o amanhecer.
Volto a fechar os olhos, olho para dentro:
 
Um bosque de facas me contempla.
Não é o bosque do sonho. Tem uma luz mais funda
e conhece meu nome e sua penumbra.
Seus fios brotam para mim, o clamor
do aço:
 
         a angústia dos dias
transcorridos às cegas por um túnel
na lenta tortura do relógio,
o pavor das noites
aguardando o gemido de um telefone:
notícias de uma vida
suspensa entre a luz e sua escuridão.
 
E de repente o silêncio.
Meus olhos refletem em suas folhas.
Toca o telefone:
         Pulam
sobre mim
Eduardo García
81
Eduardo Mora-Anda
EX PAISAJE CON RETRATOS
 
1
 
El torpe muro, el
inhumano hierro
cubren la tierra inmaterial y buena
donde cantaban antes los jilgueros
y el rio hablaba sus murmullos lentos…
 
2
 
Turba mi noche una inquietud de ciego
que busca los caminos de la vida,
uma misión o vocación de Cielo
que yo la incumplo en la rutina fría.
La madrugada acecha. En el silencio
espero el don que ha de cambiar mi vida.
¿Cuál es mi hora, mi lugar, mi dia?
¿Cuál es mi sino y a qué vine al mundo:
Una ansiedad me ahoga el pecho enjuto
mientras yo rezo y alborea el día…
 
3
 
Los años pasan. La rutina es hueca.
La mente en vano esboza, hila, elabora.
¿Qué quiero? ¿qué me falta? ¿qué venero?
Si no está aqui tu brío, tu alegría,
¿cómo vivir la claridad del día?
La loca geografia de la vida
señala que el amor es lo primero…
 
82
4
 
La madrugada acrece. El mundo toma
un perfil de amistad. El agua mece
su consistencia eterna repicando
contra la piedra agreste,
y, pincelada gualda entre los prados,
la flor silvestre
rastro es de Dios en el momento breve.
La pincelada eterna en el ahora
mientras la vida pasa fugazmente…
 
9
 
Bebo en tu cielo limpio el aire eterno,
la inevitable luz,
el amplio brío.
La provisión más dulce e infinita.
Tú me das cuanto soy,
Tú me renuevas.
Todos tus dones son puntuales y gratuitos,
                   ¡oh maternal Señor de la mañana!
 
 
Traduções
 
EX PAISAGEM COM RETRATOS
 
1
 
O rude muro, o
inumano ferro
cobrem a terra imaterial e boa
onde cantavam os pintassilgos
e o rio expressava lentos murmúrios…
 
2
 
Turva minha noite uma inquietação de cego
que busca os caminhos da vida,
Eduardo Mora Anda
83
essa missão ou vocação de Céu
que eu descumpro na rotina fria.
A madrugada espreita. No silêncio
espero o dom que há de mudar minha vida.
Qual será minha hora, meu lugar, meu dia?
Qual é minha sina e a que vim ao mundo?
Uma ansiedade me afoga o peito enxuto
enquanto eu rezo e clareia o dia…
 
3
 
Os anos passam. A rotina é vazia.
A mente em vão esboça, fia, elabora.
Que eu busco?  que me falta? o que venero?
Se não está aqui teu brio, tua alegria,
Como viver a claridade do dia?
A louca geografia da vida
assinala que o amor é primordial…
  
4
 
A madrugada acresce. O mundo ganha
um perfil de amizade.  A água agita
sua consciência eterna repicando
contra a pedra agreste,
e, pincelada amarela entre os prados,
a flor silvestre
rastro é de Deus no momento breve.
A pincelada eterna no agora
enquanto a vida passa fugazmente…
 
9
 
Bebo em teu céu límpido o ar eterno,
a inevitável luz,
o amplo brio.
A provisão mais doce e infinita.
Tu me dás quanto sou.
Tu me renovas.
Todos os teus dons são pontuais e gratuitos,
ó maternal Senhor da manhã!
Eduardo Mora Anda
84
Elena Medel
PEZ
Nuestro plato favorito requería cierta preparación. Mi abuela abría el pesca-
do en vertical, leyendo mi futuro.
Sobre la superficie herida distribuía su relleno, con cuidado: las marcas de
la muerte no deben infectarse.
Mientras, ella me hablaba. Yo aún era pequeña; había vuelto del colegio,
preguntaba qué había de almorzar, relamía mis gracias y decía:
peces como los del verano. Por entonces hacía frío. Y al terminar de comer
nos sentábamos juntas, veíamos la televisión juntas, respirábamos juntas
cada tarde.
Vivir era costumbre de las dos,
y en verano me enfadaba al verla caminar
orilla arriba
                          orilla abajo:
yo me enfadaba porque temía perderla en una ola, o que se resfriase, o sim-
plemente estar lejos de ella unos minutos.
Al volver, me sentaba en su hamaca y me ayudaba a limpiarme la arena de
los pies, a buscar mis ceras en la bolsa, a despegarme la sal y las legañas.
 
El invierno es, ahora, amable en esta casa. Al entrar he querido encontrarte
tranquila, repitiendo tus historias, sonriendo al recordar los buenos tiem-
pos, como siempre, siguiendo las costumbres de mi infancia.
Pero ahora no estás. Las dos ya no vivimos, y el frío me agarra por la espalda
y me golpea, recuerda tantas cosas que vuelvo a tener miedo,
y mis ojos
resbalan en mis manos
húmedos
como el pez del invierno. 
 
 
85
Traduções de Javier Iglesias 
 
PEIXE
 
Nosso prato favorito exigia certa preparação.
Minha avó abria o peixe em vertical, lendo meu futuro.
Sob a superfície ferida distribuía seu recheio, com cuidado:
as marcas da morte não o devem o infectar.
Entretanto, ela me falava.
Eu ainda era pequena; havia voltado do colégio,
perguntava o que havia de almoçar,
bajulava minhas graças e dizia:
peixes como os do verão.
Por então fazia frio.
E ao terminar de comer nós sentávamos juntas,
víiamos televisão juntas, respirávamos juntas cada tarde.
Viver era costume das duas, e no verão me incomodava vê-la caminhar
beira acima, beira abaixo:
Isso me incomodava porque temia perdê-la em uma onda, ou que se resfriasse,
ou, simplesmente, estar longe dela por uns minutos.
Ao voltar, me sentava na sua rede e me ajudava a limpar a areia dos pés,
a buscar minhas ceras na bolsa, a despegar-me o sal e as remelas.
Agora o inverno é amável nesta casa.
Ao entrar queria encontrar-te tranqüila,
repetindo tuas histórias, sorrindo ao lembrar os bons tempos,
como sempre, seguindo os costumes da minha infância.
Mas agora não estás. Nós duas já não vivemos,
e o frio me pega pelas costas e me golpeia,
lembra-me tantas coisas que volto a ter medo,
e meus olhos escorregam em minhas mãos
úmidos como o peixe do inverno.
 
 
ÁRVORE GENEALÓGICA
 
Eu pertenço a uma raça de mulheres com o coração biodegradável.
Quando uma de nós morre exibem seu cadáver nos parques públicos,
as crianças se aproximam para bisbilhotar na sua garganta de folha-de-flandres,
celebram-se banquetes com moscas e vermes,
me fez mal porque me fez sorrir, logo eu que sou tão triste.
Aos trinta dias exatos de sua morte o corpo desta extraordinária raça se auto-
Elena Medel
86
destrói,
e às portas de vossas casas chamam os restos da alma das mulheres sobrena-
turais,
batem contra vossas paredes, suas pastas e suas unhas perfuram vossas
janelas
até que sangram nossas aortas fincadas na terra, igual que as raízes.
Ao morrer nos abrem o estômago, examinam com os dedos seu interior,
rebuscam entre as vísceras o mapa do tesouro,
tiram seus dedos negros de todos os poemas que nós ficaram dentro com os
anos.
Um espetáculo.
Pertenço a uma raça desenvolvida além dos altares.
Sou uma delas porque meu coração mancha ao tomá-lo entre as mãos,
porque coincide em tamanho com o buraco de um nicho;
fresco e doce como o de um animal, suga meu coração para que, ao morrer,
saibam que temos estado juntos.
Sou uma delas porque meu coração será adubo.
Porque meu sangue, que é o seu, sobe e desce pelo meu cadáver como por
escadas mecânicas;
porque o fundamento de meu caráter, ao  se descompor,
incorpora-se a uma espécie selvagem que late e que fere e que te leva a seu
terreno,
que ignora as afrontas, que jamais se extinguirá.
 
 
ESCREVEREI QUINHENTAS VEZES O NOME DE MINHA MÃE
 
Escreverei quinhentas vezes o nome de minha mãe.
Com um vestido branco traçarei cada uma de suas letras pelas paredes de
meu dormitório,
pelo solo do pátio do colégio, pelo corredor da casa mais antiga.
Para lembrar minha origem cada vez que eu viva.
Em todos os lugares poderei beijar seu rosto  limpo de cristal, mesmo que
ela durma longe:
seu rosto perto que me doerá lá onde acaricie seu nome escrito.
Tantos dias, tantas noites terão de alimentar-me amorosamente com sua
parábola descalça;
virá minha mãe para me agasalhar, mulher de fumaça, com olhos tremendo
de sorte,
e em cada sonho meus sobrenomes doerão como um cartaz de boas vindas a
um lar diferente.
Elena Medel
87
Sob meu cabelo, louro como o de minha mãe, a coroa que me coroou como
filha primogênita
da Dinamarca.
Chamar-me-ei Vazia, em homenagem a meus mortos;
olharei como jogam de acrílico as palmas de minhas mãos,
sangrará minha língua a disposição de meus mortos.
Gritarei quinhentas vezes o nome de minha mãe para quem queira escutá-lo,
e escreverei que abençôo este meio coração em greve meu, pois não esqueço:
nasci para chorar a morte dos outros.
 
EM DEMASIA
 
Tu e eu nos demais: livram à maçã de sua pele.
Mais belo quando estamos sós.
 
Cristal em fragmentos, infância, salão que é refúgio:
a fuga deixa atrás nossos problemas.
 
Descuidar o gesto quando servimos água.
Adeus, pois, ao equilíbrio entre trejeito e efeito.
 
Desbordar-se. Que esperas tu de mim.
Defraudar a intensidade do outro: tu e eu nos demais.
Elena Medel
88
Emilia Currás
TÚ TIENES ALAS DE PLATA
 
Tú tienes alas de plata,
alas de ensueño,
de ilusión, de anhelo.
¿Me darás alas de plata?
Calla, calla.
 
Tú tienes alas de bronce,
alas de pasión,
de amor sin freno.
¿Me darás alas de bronce?
Calla, calla.
 
Tú tienes alas de hierro,
alas fuertes y seguras,
alas de grandes realidades.
¿Me darás alas de hierro?
Calla, calla.
 
Tú tienes alas de estaño,
alas de engaño,
alas falsas y amargas.
¿Me darás alas de estaño?
Calla, calla.
No me preguntes tanto.
 
¡ QUÉ TRISTE VIVIR SIN AMOR!!
 
¡ Qué triste viver sin amor!
¡ Qué sequedad interior!
Y ¡qué cansancio y hastío!
No se puede  soportar.
 
El alma me va a estallar,
que el desconsuelo es dolor
y el dolor es soledad.
El alma me va a estallar.
89
Traduções
TENS ASAS DE PRATA
 
Tens asas de prata
asas de sonho,
de ilusão, de desejo.
Me darás asas de prata?
Cala, cala!
 
Tens asas de bronze,
asas de paixão,
de amor sem freio.
Me darás asas de bronze?
Cala, cala!
 
Tu tens asas de ferro,
asas fortes e seguras,
asas de grandes realidades.
Me darás asas de ferro?
Cala, cala.
 
Tu tens asas de estanho,
asas de engano,
asas falsas e amargas.
Me darás asas de estanho?
Cala, cala.
Não perguntes tanto.
QUE TRISTE É VIVER SEM AMOR! 
 
Que triste é viver sem amor!
Que secura interior!
E que cansaço e fastio!
Não se pode  suportar.
 
Minh´alma vai estalar,
que o desconsolo é dor
e a dor é solidão.
Minh´alma vai estalar.
Emilia Currás
90
LENÇO AZUL SE AGITANDO AO VENTO
 
Lenço azul se agitando ao vento
É que vens em seguida
ou é a despedida?
Somente tu o sabes
Em teu movimento.
 
VEJO OS BARCOS A SAIR
 
Pela janela
vejo os barcos a sair,
quem os poderia seguir
em seu doce navegar?
 
Fincada estou nesta terra
com todo afã dia-a-dia,
sem ilusão, nem carinho,
nem forças para largar.
 
FERIDO ESTAVA
 
Ferido estava
estendido na areia,
e senti pena.
 
Aproximei-me a curá-lo
Mas já havia partido.
 
Emilia Currás
91
Henrique Hernández d’Jesús
LA LENGUA ALTERADA
 
La
devoción
a primera vista
por la presa
falsea
las
huellas
 
Se inicia la ausencia
SIN LOS PÁRPADOS
 
El sonido animal
con la habilidad
del Tigre Invisible
dilató la muerte
Exorcizó
calles estrechas
Estragó
crueles almas
CUANDO LA SENSACIÓN DESAPARECE
 
El
equilibrista
se
dota
de
la
traición
 
en este oficio virtuoso
 
Saborea la cacería
 
92
Traduções 
 
A LÍNGUA ALTERADA
 
A
devoção
a primeira vista
falseia
as
pegadas
 
Tem início a ausência
 
SEM AS PÁLPEBRAS
 
O ruído animal
com a habilidade
do Tigre Invisível
dilatou a morte
Exorcizou
ruas estreitas
Estragou
almas cruéis
 
QUANDO A SENSAÇÃO DESAPARECE
 
O equilibrista
se
dota
com
a
traição
 
neste ofício de virtude
 
Saboreia a caçada
 
 
Henrique Hernández d’Jesús
93
A SENSAÇÃO DA PELE
 
Os espaços fechados
o elouquecem
as grades passam
despercebidas
 
Perde a memória
 
A TIGRESA PALAVRA
 
A palavra se esconde em si mesma
 
Não percebe?
 
está deserta
nas ruas frias
 
O SILÊNCIO EXCITADO DA MORTE
 
À vista da qual
 
as imagens
 
São deliciosas sem serem caóticas?
 
O Tigre sente
a terra de ninguém
 
Não poder voltar atrás
Henrique Hernández d’Jesús
94
Fabio Morabito
Los perros ladran a lo lejos.
Junto con ellos soy
el único sin sueño en el planeta.
Me ladran a mí,
despiertos por mi culpa. 
                                           
Mi estar despierto los encoleriza                                 
y su cólera me espanta.                         
Somos los únicos                                  
que no dudan                                        
de la redondez de la tierra.                   
Los otros, los dormidos,
han renegado de Copérnico,
por esta única vez
se han reclinado sobre un mundo plano.
Por esta única vez, todas las noches,
y así amanecen,
creyendo que la tierra no da giros
y ellos se han dormido en sus laureles.
No pueden conciliar el sueño
sobre una superficie triste,
sobre un planeta equis.
Mejor oír ladrar los perros
que amanecer neolíticos.                     
Más vale no pegar el ojo
que claudicar del universo.
 
Orejas
 
dos orejas: una para oír a los vivos
otra para oír a los muertos
 
las dos abiertas día y noche
las dos cerradas a nuestros sueños
95
 
para oír el silencio no te tapes las orejas
oirás la sangre que corre por tus venas
 
para oír el silencio aguza los oídos
escúchalo una vez y no vuelvas a oírlo
 
si te tapas la oreja izquierda oirás el infierno
si te tapas la derecha oirás… no te digo
 
había una tercera oreja pero no cabía en la cara
la ocultamos en el pecho y comenzó a latir
 
está rodeada de oscuridad
es la única oreja que el aire no engaña
 
es la oreja que nos salva de ser sordos
cuando allá arriba nos fallan las orejas.
Traduções
Os cães ladram à distância.
Junto deles sou
o único sem sonho no planeta.
Ladram para mim,
despertos por minha culpa.
Meu estar desperto os encoleriza
e sua cólera me espanta.
Somos os únicos
que não duvidam
da redondez da terra.
Os demais, os dormidos,
renegaram Copérnico,
por esta única vez
reclinaram-se sobre um mundo plano.
Por esta única vez, todas as noites.
e assim amanhecem,
acreditando que a terra não gira
e eles dormiram em seus lauréis.
Fabio Morabito
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A Proliferação da Poesia na Era Digital

  • 1.
  • 2. 1 I BIENAL INTERNACIONAL DE POESIA DE BRASÍLIA
  • 3. 2 Governo do Distrito Federal José Roberto Arruda SECRETÁRIO DE ESTADO DE CULTURA José Silvestre Gorgulho CONJUNTO CULTURAL DA REPÚBLICA Antônio Miranda Biblioteca Nacional de Brasília ORGANIZADORES DA OBRA Maria das Graças Pimentel Salomão Sousa
  • 4. 3 I BIENAL INTERNACIONAL DE POESIA DE BRASÍLIA POEMÁRIO Biblioteca Nacional de Brasília Organização Brasília 2008
  • 5. 4 © 2008 Direitos autorais reservados aos autores. Projeto Gráfico: Carlos Alberto Menezes Arte final: Tagore Alegria Arte de Capa: Alfredo Carlos H. Reis Fotomontagem da capa: Ricardo Rodrigues Revisão: João Carlos Taveira Traduções: Antonio Miranda (exceto as indicadas) B582b Bibliotena Nacional de Brasília (Brasil) (BNB). I Bienal de Poesia : poemário / Biblioteca Nacional de Brasília (Brasil) (BNB) — Brasília : Petrobrás : Biblioteca Nacional de Brasília : Secretaria de Estado de Cultura do Distrito Federal, 2008. 272 p. : 16 x 23 cm Poemas apresentados na I Bienal Internacional de Poesia. 1. Literatura. 2. Poesia. I. Bienal Internacional de Poesia (1 : 2008 : Brasília, DF). II. Título. CDU 82-1 ISBN 9788570627773
  • 6. 5 Sumário 7 Apresentação Poetas homenageados 15 Affonso Romano de Sant’anna Brasil 22 Reynaldo Jardim Brasil 25 Thiago de Mello Brasil 30 Wladimir Dias-Pino Brasil Poetas convidados 34 Alice Ruiz Brasil 37 Alice Spíndola Brasil 40 Amparo Osório Colômbia 43 Antonio Brasileiro Brasil 47 Antonio Carlos Secchin Brasil 50 Antonio Cisneros Peru 53 Antonio Vicente Petroforte Brasil 57 Aricy Curvello Brasil 59 Aristóteles España Chile 63 Betty Chiz Uruguai 67 Carlos Ortega Guerreiro México 72 Daniel Chirom Argentina 75 Diego Mendes Sousa Brasil 78 Eduardo García Espanha 81 Eduardo Mora-Anda Equador 84 Elena Medel Espanha 88 Emilia Currás Espanha 91 Enrique Hernández d´Jesús Venezuela 94 Fábio Morabito México 99 Fabrício Carpinejar Brasil 102 Fernando Pinto do Amaral Portugal 105 Frederico Barbosa Brasil 108 Gilberto Mendonça Teles Brasil
  • 7. 6 112 Hector Collado Panamá 116 Henryk Siewierski Polônia 121 Jorge Tufic Brasil 123 José Carlos Capinan Brasil 128 José Carlos Irigoyen Peru 136 José Geraldo Neres Brasil 140 Juan Carlos Pajares Espanha 144 Juan Carlos Reche Espanha 147 Katia Chiari Panamá 152 Lourdes Sarmento Brasil 155 Luiz Otavio Oliani Brasil 159 Manoel Orestes Nieto Panamá 165 Manuel Pantigoso Peru 170 Márcia Theóphilo Itália 173 Márcio Almeida Brasil 176 Marcos Caiado Brasil 180 Margot Ayala de Michelagnoli Paraguai 183 Maria Romeu México 188 Mathias Lockart Argentina 191 Miguel Ángel Zapata EUA 195 Miguel Márquez Venezuela 199 Moacir Amâncio Brasil 201 Ricardo Corona Brasil 203 Roberto Bianchi Uruguai 206 Ronaldo Werneck Brasil 210 Rubenio Marcelo Brasil 213 Rui Mascarenhas Brasil 216 Susana Cabuchi Argentina 220 Susy Morales Peru 222 Silvio Beck Brasil 225 Testa Garibaldo Panamá 231 Trina Quiñones Venezuela 237 Vadinho Velhinho Cabo Verde 239 Veronica Volkow México 244 Viviane Mosé Brasil 248 Wilfredo Machado Venezuela 250 William Ospina Colômbia 254 Zélia Bora Brasil 257 Informações Biobibliográficas
  • 8. 7 Apresentação A PONTA DO ICEBERG: com a proliferação dos blogs e multiplicação dos estilos, a poesia se expande e ganha vitalidade. ANTONIO MIRANDA Diretor da Biblioteca Nacional de Brasília Coordenador da I BIP “Curiosamente, hoje, o artigo do dia é poesia. nos bares da moda, nas portas do teatro, nos lançamentos, livrinhos circulam e se esgotam com rapi- dez. (…) Mesas-redondas e artigos de imprensa discutem o acontecimento. O assunto começa – ainda que com resistência – a ser ventilado nas universidades. (…) O fato é que a poesia circula, o número de poetas aumenta dia-a-dia e as segundas edições já não são raras. Frente ao bloqueio sistemático das editoras, um círculo paralelo de produção e distribuição independente vai se formando e conquistando um público jovem que não se confunde com o antigo leitor de poesia. Planejadas ou realizadas em colaboração direta com o autor, as edições apresentam uma face charmosa, afetiva e, portanto, particularmente funcional. (…) o que sugere e ativa uma situação próxima do diálogo do que a oferecida comumente na relação de compra e venda, tal como se realiza no âmbito editorial. A tal propósito, convém lembrar a tão freqüente presença do autor no ato da venda, o que de certa forma recupera para a literatura o sentido de relação humana.” O texto em epígrafe é da pesquisadora Heloísa Buarque de Hollanda no prefácio de sua antologia 26 Poetas Hoje (RJ: Aeroplano, 2007), com os textos de poetas contemporâneos representativos das novas linguagens poéticas, incluindo excepcionalmente os falecidos Wally Salomão e Torquato Neto, considerados pioneiros. O que mais vale ressaltar na análise da antologista é a causa (principal?) da aproximação da poesia com o público: A presença de uma linguagem informal, à primeira vista fácil, leve e engraçada e que fala da experiência vivida contribui para encurtar a distância que separa o poeta e o leitor. Este, por sua vez, não se sente mais oprimido pela obrigação de ser um entendido para se aproximar da poesia. (Heloísa Buarque de Hollanda) Estaríamos diante da dessacralização do exercício poético, que sai da torre-de-marfim e é absorvido e reelaborado por um público amplo, criador de novas formas, muitas delas coletivas, mas sem a proposta monolítica das
  • 9. 8 vanguardas anteriores. Sem cânones, sem ortodoxias, embora seja possível à academia, que começa a estudar o fenômeno, categorizar as novas linguagens e explicar algumas tendências e estilos, como pretende o lingüista e poeta Antonio Vicente Pietroforte, da USP. É óbvio que a falta de regras e modelos leva à perplexidade e a equívocos evidentes por transformar-se em “modismo” e “diluição”, ou seja, “em mero registro subjetivo sem valor simbólico e, por- tanto, poético”, no entender de Heloísa Buarque de Hollanda. Perplexidade que também infesta as artes plásticas (instalações, intervenções urbanas) e performáticas dos tempos atuais. De qualquer maneira, não há como não reconhecer a expansão e a vitalidade da poesia na sociedade do início deste século e milênio, mesmo sem o apoio oficial (ou por causa disso…), sem a infra-estrutura da grande industria editorial. Mas com a crescente abertura da universidade, apesar das resistências. A poeta e pesquisadora Sylvia Cyntrão, da Universidade de Brasí- lia, líder de um grupo de pesquisa sobre Poesia (registrado nas agências de financiamento), reconhece que o início foi difícil. Poesia? Não havia muitos alunos interessados. Agora a situação é bem diferente. E ela está organizando o Simpósio de Crítica e Poesia, que vai acontecer como parte da I BIENAL INTERNACIONAL DE POESIA DE BRASILIA (de 3 a 7 de setembro de 2008). A agenda está cheia e certamente vai atrair muitos inscritos e curiosos. A proliferação de poemas-show, recitais abertos em bares e em salas de aula, e até nas ruas, não é apenas no Brasil, mas em muitos países. Sem dúvida, a web como base e a internet como veículo, vem permitindo à poesia um espaço privilegiado para o registro e a difusão de textos poéticos, formando verdadeiras redes sociais com os autores e leitores, de poesia convencional ou visual, em todos os estilos e temáticas. Mais recentemente, firmando-se com a proliferação de blogs de poesia, além das páginas e repositórios próprios. Páginas individuais se multiplicam aos milhares, não apenas incluindo a produção solitária, mas congregando grupos de ativistas, apontando para ou- tros endereços afins. E-books e textos virtuais agora são gratuitos. Já existem estudos específicos, com metodologias complexas e sofisticadas como os top maps e as redes hiperbólicas, tentando explicitar e compreender tais relações criativas e associativas. Certamente que a multiplicação de poetas e leitores tem repercussão e desenvolvimentos incontroláveis, mas não de todo imprevisíveis. Como acontece com toda atividade social intensa, alguma ordem se impõe, estilos se multiplicam, lideranças surgem e as celebridades aparecem por caminhos próprios, já libertas das amarras das grandes editoras e da própria crítica que já não tem mais os espaços tradicionais para manifestar-se. Em verdade, o consenso se faz de forma mais aberta, as opiniões se multiplicam sem muita Antonio Miranda 
  • 10. 9 teoria e normas, causando as perplexidades já referidas anteriormente. A julgar pelo que acontece com a música, com os esportes e outras atividades de massa, a poesia vai firmar-se em estilos e correntes visíveis e muitas acabarão sendo absorvidas e industrializadas para o consumo. Com a melhoria técnica de sua produção e até com a banalização de seus métodos de criação e entendimento. Mas com a certeza de que o crescimento da atividade dará lugar a patamares altos de qualidade e a vanguardas e elites que estarão em melhores condições de criação e uso… É inevitável. A melhor será inevitavelmente para poucos, a melhor poesia acabará sendo o privilégio de poucos, mas fica o consolo de que a poesia – como a música, à qual está cada vez mais associada, xifópagas… – deixará de ser para o usufruto de uns poucos para ser de muitos, não importa em que forma se apresente… Vale lembrar o exemplo do iceberg… Só há uma ponta porque existe uma base ampla de sustentação… Maior a base, maior a parte visível. Milhares de blogs serão acessados em escala quase doméstica, outros serão o território de tribos enormes e alguns conquistarão multidões como galáxias em expan- são, crescendo, desaparecendo, numa dinâmica que tentaremos acompanhar, compreender e usufruir. *** A I BIENAL INTERNACIONAL DE POESIA foi imaginada como um espaço para o confronto das linguagens e formatos em que acontece a poesia contemporânea, em sua diversidade. Uma espécie de caleidoscópio, de vitral ou mural em que se expõem todas as tendências para um confronto entre os criadores, mas aberto ao público. Não é (apenas) um festival de poesia para os poetas, pretende ser um encontro de poetas, editores, ensaístas e toda classe de ativistas culturais com públicos em diversas escalas, desde os freqüentadores dos cafés literários e academias até os espaços abertos, em shows, em ônibus, praças públicas. Daí porque também se pretende que a poesia vá aos bairros mais distantes e ocupe palcos em faculdades, em escolas, em toda parte. Quem vai fazer o julgamento final, se couber, é a platéia, o ouvinte, o leitor. Embora tenha o auspício da Secretaria de Cultura do Governo do Dis- trito Federal e de muitas outras entidades públicas e privadas, a I BIP não deve ser vista como uma atividade “chapa branca”, mas solidária, cooperativa, em que muitos parceiros e voluntários se prestaram à montagem de sessões em diversos locais, com a total liberdade de organização e escolha. Embora ofereça um programa formatado, com nomes célebres em seus países de origem, está aberta a Bienal para que qualquer poeta divulgue seu trabalho, sem censura. O presente volume reúne os poetas convidados de diversos países e de outros estados do Brasil, muitos deles vieram com o patrocínio de embai- Antonio Miranda
  • 11. 10 xadas, de instituições nacionais e estrangeiras, ou com recursos obtidos junto a patrocinadores como a Petrobras, a FAP (Fundo de Amparo à Pesquisa do GDF), a Brasília Tour e a VARIG. Os poetas brasilienses estão reunidos na antologia Deste Planalto Central – Poetas de Brasília, organizada pelo poeta e ensaísta Salomão Sousa, com a chancela da Câmara do Livro do Distrito Federal, com o apoio sempre entusiasmado de nosso amigo Valter Silva, além de lançamentos de livros pelos autores e editores da cidade durante a 27.ª Feira do Livro de Brasília. Os poetas visuais saem no catálogo de OBRANOME2, exposição que acontece nos espaços magníficos do Museu Nacional do Conjunto Cultural da República, com a competente e criativa curadoria de Wagner Barja. Os atores e músicos com a parceria tão oportuna do Festival Internacional de Teatro CENA CONTEMPORÂNEA, dirigido por Guilherme Reis. Sem descartar as oportunidades do SIMPÓSIO DE CRÍTICA LITE- RÁRIA, na Universidade de Brasília, coordenado pela poeta e pesquisadora Sylvia Cyntrão, além de muitas oficinas para levar conhecimentos e técnicas aos interessados. Os poetas mirins também têm seu volume de poemas – a Antologia da Poesia em Superdotação –, resultante de um concurso nacional patrocinado pelo Ministério da Educação, através do Núcleo de Atividades de Altas Habi- lidades/Superdotação (NAAH/S-DF), em concurso nacional organizado pelos professores Olzeni Ribeiro e Josué Mendes, com textos bilíngües português e espanhol, com o apoio da Embaixada da Espanha, para distribuição em escolas e bibliotecas brasileiras e espanholas. Haverá também mostra de filmes sobre poetas brasileiros nos espaços do Cine Brasília. Certamente que há omissões e erros, em parte pela impossibilidade de reunir a todos num único evento. Mas pretendemos voltar em 2010, com a II Bienal para celebrar os 50 anos da inauguração de Brasília, com mais experi- ência, com mais tempo para superar os equívocos e aprofundar os possíveis méritos desta iniciativa da Biblioteca Nacional de Brasília, na festa de abertura de seus serviços à população local e extramuros. Agora é a hora e a vez da poesia; vamos nos unir neste mutirão com entusiasmo e devoção às musas por mais difusas que sejam. Antonio Miranda
  • 12. 11 Presentación LA PUNTA DEL ICEBERG: con la proliferación de los blogs y la multiplicación de los estilos, la poesía se expande y gana vitalidad. ANTONIO MIRANDA Director de la Biblioteca Nacional de Brasilia Coordinador de la I BIP “Curiosamente, hoy, el artículo del día es poesía. En los bares de moda, en las puertas de los teatros, en los lanzamientos, libritos circulan e se agotan con rapidez. (…) Mesas-redondas y artículos de la prensa discuten el suceso. El asunto empieza – aunque con alguna resistencia – a ser estudiado en las universidades. (…) El hecho es que la poesía circula, el número de poetas aumenta a cada día y las segundas ediciones ya no son cosas raras. Frente al bloqueo sistemático de las editoras, un círculo paralelo de producción y distribución independiente se está formando, conquistando un público joven que no se confunde con o antiguo lector de poesía. Planificadas o realizadas en colaboración directa con el autor, las ediciones tienen una cara elegante, afectiva y, por lo tanto, particularmente funcional. (…) lo que surgiere y ac- tiva una situación más próxima del diálogo de la comúnmente ofrecida en la relación de compra y venta, tal como se realiza en el ámbito editorial. Por tal propósito, conviene recordar la tan frecuente presencia del autor en el acto de la venta, lo que de cierta forma recupera para la literatura el sentido de la relación humana.” El texto en epígrafe es de la investigadora Heloísa Buarque de Hollanda en el prefacio de su antología 26 Poetas Hoy (RJ: Aeroplano, 2007), con textos de poetas contemporáneos representativos de los nuevos lenguajes poéticos, incluido excepcionalmente los fallecidos Wally Salomão y Torquato Neto, con- siderados pioneros. Lo que más vale resaltar en el análisis de la antologadora es la causa (¿principal?) de la aproximación de la poesía con el público: La presencia de un lenguaje informal, a primera vista fácil, leve y cómico que habla de la experiencia vivida para disminuir la distan- cia que separa al poeta del lector. Este, por su vez, no se siente más oprimido por la obligación de ser un conocedor de la poesía para aproximarse a ella. (Heloísa Buarque de Hollanda) Estaríamos delante de la desacralización del ejercicio poético, que sale de la torre-de-marfil y es absorbido y reelaborado por un amplio público, creador de nuevas formas, muchas de ellas colectivas, pero sin la propuesta
  • 13. 12 monolítica de las vanguardias anteriores. Sin cánones, sin ortodoxias, aunque sea posible para la academia, que empieza a estudiar el fenómeno, categorizar los nuevos lenguajes y explicar algunas tendencias y estilos, como pretende el lingüista y poeta Antonio Vicente Pietroforte, de la USP. Es obvio que la falta de reglas y modelos lleva a la perplejidad y a deslices evidentes por trans- formarse en “modismo” y “dilución”, o sea, “en simple registro subjetivo sin valor simbólico y, por lo tanto, poético”, según entiende Heloísa Buarque de Hollanda. Incertidumbre que también infesta las artes plásticas (instalacio- nes, intervenciones urbanas) y performáticas en la actualidad. De cualquier manera, no hay como no reconocer la expansión y la vitalidad de la poesía en la sociedad de este nuevo siglo y milenio, mismo sin el apoyo oficial (o por causa de eso…), sin la infra-estructura de la gran industria editorial. Pero con la creciente abertura de la universidad, a pesar de las resistencias. La poetisa e investigadora Sylvia Cyntrão, de la Universidad de Brasi- lia, líder de un grupo de investigación sobre Poesía (registrado en las agencias de financiamiento), reconoce que el comienzo fue difícil. ¿Poesía? No había muchos alumnos interesados. Ahora la situación es bien diferente. Y ella está organizando el Simpósio de Crítica Y Poesía, que va a realizarse como parte de la I BIENAL INTERNACIONAL DE POESÍA DE BRASILIA (del 3 al 7 de septiembre de 2008). La agenda está llena y ciertamente va a atraer muchos inscritos y curiosos. La proliferación de poema-show, recitales abiertos en bares y en salas de aula, y hasta en las calles, no sucede apenas en Brasil, también ocurre en muchos países. Sin duda, la Web como base y la Internet como vehículo, vie- nen permitiendo a la poesía un espacio privilegiado para registrar y difundir textos poéticos, formando verdaderas redes sociales con los autores y lectores, de poesía convencional o visual, en todos los estilos y temáticas. Firmándose recientemente con la proliferación de blogs de poesía, además de las páginas y repertorios de los propios autores. Páginas individuales se cuentan a los miles, no apenas incluida la producción solitaria, sino congregando grupos de activistas, apuntando para otras direcciones análogas. E-books y textos virtuales ahora son gratuitos. Ya existen estudios específicos, con metodolo- gías complejas y sofisticadas como los Topic maps y las redes hiperbólicas, intentando explicar y comprender tales relaciones creativas y asociativas. Es indudable como la multiplicación de poetas y lectores se ha desar- rollado con repercusiones incontrolables, pero no de todo imprevisibles. Como sucede con toda actividad social intensa, alguna orden se impone, estilos se multiplican, líderes surgen y las celebridades aparecen por caminos propios, ya liberadas de las amarras de las grandes editoras y de la propia crítica que ya no tiene más los espacios tradicionales para manifestarse. En verdad, el consenso se hace de forma más abierta, las opiniones se multiplican sin mu- Antonio Miranda
  • 14. 13 cha teoría y normas, causando las ya referidas perplejidades. A juzgar por lo que sucede con la música, con los deportes y otras actividades de masa, la poesía va firmándose en estilos y corrientes visibles y muchas acabarán siendo absorbidas e industrializadas para el consumo. Con la mejoría técnica de su producción y hasta con la generalización de sus métodos de creación y entendimiento. Pero con la convicción de que el crecimiento de la actividad dará lugar a rellanos altos de calidad y a vanguardias y elites que estarán en mejores condiciones de creación y uso… Es inevitable. La mejoría será ine- vitablemente para pocos, la mejor poesía acabará siendo privilegio de pocos, pero nos queda el consuelo de que la poesía – como la música, la cuales está cada vez más asociada, xifópagas… – dejará de ser para el uso de unos pocos para ser de muchos, no importa en que forma se presente… Vale la pena recordar el ejemplo del iceberg… Sólo hay una punta porque existe una base amplia de sustentación… Mayor la base, mayor la parte visible. Millares de blogs serán accesados en escala casi domestica, otros serán el territorio de tribus enormes y algunos conquistarán multitudes como galaxias en expansión, creciendo, desapareciendo, con una dinámica que intentaremos acompañar, comprender y usufructuar... *** La I BIENAL INTERNACIONAL DE POESÍA fue imaginada como un espacio para el confronto de los lenguajes y formatos en que sucede la poesía contemporánea, en su diversidad. Una especie de caleidoscopio, de vitral o mural en que se exponen todas las tendencias para un confronto entre los creadores, pero abierto al público. No es (apenas) un festival de poesía para los poetas, pretende ser un encuentro de poetas, editores, ensayistas y toda clase de activistas culturales con públicos en diversas escalas, desde los fre- cuentadores de los cafés literarios y academias hasta los espacios abiertos, en show, en ómnibus, plazas públicas. Por eso también se pretende que la poesía vaya a los barrios más lejanos y ocupe palcos en facultades, en escuelas, en toda parte. Quien va a hacer el juzgamiento final, si es que cabe, es la platea, el oyente, el lector. Aunque cuenta con el auspicio de la Secretaria de Cultura del Gobier- no del Distrito Federal y de muchas otras instituciones públicas y privadas, la I BIP no debe ser vista como una actividad “chapa blanca”, y si como una actividad solidaria, cooperativa, en que muchos colaboradores y voluntarios se dispusieron a trabajar en el montaje de secciones en diversos locales, con la total libertad de organización y decisión. Aunque ofrezca un programa for- mateado, con nombres celebres en sus países de origen, está abierta para que cualquier poeta divulgue su trabajo, sin censura. El presente volumen reúne Antonio Miranda
  • 15. 14 los poetas invitados de diversos países y de otros estados do Brasil, muchos de ellos vinieron con el patrocinio de embajadas, de instituciones nacionales y extranjeras, o con recursos conseguidos junto a patrocinadores como Petrobras, FAP (Fundo de Amparo à Pesquisa do GDF), Brasilia Tour y VARIG. Los poetas de Brasilia están reunidos en la antología “DESTE PLANALTO CENTRAL”, organizada por el poeta y ensayista Salomão Sousa, con el apoyo de la Cámara del Libro del Distrito Federal, y la colaboración siempre entusiasta de nuestro amigo Valter Silva, además de lanzamientos de libros por los autores y editores de la ciudad durante la 27.ª Feria del Libro de Brasilia. Los poetas visuales están en el catálogo de OBRANOMBRE2, exposi- ción que podrá ser vista en los magníficos espacios del Museo Nacional del Conjunto Cultural de la República, con la competente y creativa curadoría de Wagner Barja. Los actores y músicos con la colaboración tan oportuna del Festival Internacional de Teatro ESCENA CONTEMPORÁNEA, dirigido por Guilherme Reis. Sin descartar las oportunidades del SIMPÓSIO DE CRÍTICA LITERÁ- RIA, en la Universidad de Brasilia, coordenado por la poetisa e investigadora Sylvia Cyntrão, además de muchos talleres para llevar conocimientos y técnicas a los interesados. Los niños poetas también tienen su volumen de poemas – la Antología de Poesía en Superdotados –, resultando de un concurso nacional patrocinado por el Ministerio da Educación, a través del Núcleo de Actividades de Altas Habilidades/Superdotados (NAAH/S-DF), en concurso nacional organizado por los profesores Olzeni Ribeiro y Josué Mendes, con textos bilingües portugués y español, que cuenta con el apoyo de la Embajada de España, para distribuir en escuelas y bibliotecas brasileñas y españolas. Hay también una muestra de cine sobre notables poetas brasileños en los espacios del Cine Brasilia. Claro que puede haber omisiones y fallas, en parte por la imposibili- dad de reunir a todos en un único evento. Pero pretendemos volver en 2010, con la II Bienal para celebrar los 50 años de la inauguración de Brasilia, con más experiencia, con más tiempo para superar los deslices y profundizar los posibles méritos de esta iniciativa de la Biblioteca Nacional de Brasilia, en la fiesta de inauguración de sus servicios a la población local y extramuros. Ahora es la hora y la vez de la poesía, vamos a unirnos en esta cruzada con entusiasmo y devoción a las musas por más difusas que sean. Reproducción del texto publicado originalmente en el Correio Braziliense, suplemento Pensar, Brasilia, sábado, 26 de enero de 2008. Cuaderno C, p. 7 con el objetivo de promover la I BIENAL INTERNACIONAL DE POESÍA DE BRASÍLIA, seguido de comen- tarios sobre el presente volumen. Traducción de Aurora Cuevas Cerveró Antonio Miranda
  • 16. 15 Affonso Romano de Sant’Anna A GRANDE FALA DO ÍNDIO GUARANI (1978) (fragmento)   3 E a pergunta martela e pousa como um corvo                          no desespero aberto da janela.   — Quem escreveria o poema de meu tempo? — Eu próprio? Mas, com que mãos, arroubos, insânias?                                com que vaidades, prêmios, vexames?   Fala alguém por alguém — com alheio coração? Vive alguém por alguém — ou morre sempre aquém da própria mão?   Não seriam a fala                    o amor                    a vida                                     a metafórica versão do exílio                                     o brilho da apagada estrela                                     ausência e concreção do nada?   Sim, é verdade que cada dia sei mais do que se compõem a poesia e o nada.         Debulho poemas e milharais       como o camponês aduba estrofes e mulheres.       Mas me sinto maduro e inútil. Como ontem:                                         — imaturo e fútil.   Não acordo mais às cinco não selo mais o animal desesperam-me os vegetais. Do pomar olho minha inútil biblioteca. Doirados frutos na estante.                         Inutilíssima sapiência. Sabíamos tudo.
  • 17. 16                         Merecíamos tudo. Tínhamos até fé.   Outrora eu passeava entre canteiros de enciclopédias limpando pulgões podando ervas e páginas. Perdia-me na contemplação da abelha sobre as letras: — favos de mel derramavam-se da estante.   Todos nós líamos os poetas mas não lavramos um mundo mais justo, E enquanto soturnos decifrávamos as tabuinhas dos caldeus os mais astutos e modernos                      empolgavam o poder e o generais marcando em nossas testas anátemas fatais.   E líamos grossos romancistas exalando suor vermelho e revoltas sobre a praça. Povo era a palavra                  e o amanhã era a palavra                                      da palavra povo.   Mas porque estava tudo escrito                             nosso futuro                         petrificado de nós se alienou.                        Ontem soltávamos pombas nos estádios éramos livres, juvenis e a paz um poster de Picasso. Mas foram-se os posters e Picasso                        — e as pombas não voltaram nunca mais.   Nossos pais também liam os poetas citavam os clássicos               e pelas noites com seus robes tomavam chávenas               e liam dourados tomos sem ver as traças                                            — que nos comem.   Mas os acontecimentos desviaram-se dos livros e por mais que entulhássemos os cursos de história de novo a história                   desviava-nos seus rios e os livros                  nem sempre férteis                              prodreciam no Nilo. Affonso Romano de Sant’Anna
  • 18. 17 E sobrevieram borrascas e explodindo códigos e leis que eram logo dissolvidos e refeitos em novas leis e códigos. E erguíamos diques e parágrafos murando o mar e a ressaca dos fatos                       — a tudo rebentar. A vida, a vida é mais que profecias e algemas              a vida é irrefreável                         não se contém nas lâminas                                          partidos                                          nem nos fichários                                         e antenas a vida               — é o impoemável poema.       QUE PAÍS É ESTE? (1980) (fragmento) para Raymundo Faoro                 Puedo decir que nos han traicionado? No. Que               todos fueron buenos? Tampoco. Pero allí está               una buena voluntad, sin duda y sobretodo, el ser así.                                                      César Vallejo   1        Uma coisa é um país,            outra um ajuntamento.              Uma coisa é um país,            outra um regimento.              Uma coisa é um país,            outra o confinamento.   Mas já soube datas, guerras, estátuas usei caderno “Avante”                                      — e desfilei de tênis para o ditador. Vinha de um “berço esplêndido” para um “futuro radioso” e éramos maior em tudo Affonso Romano de Sant’Anna
  • 19. 18                         — discursando rios e pretensão.              Uma coisa é um país,            outra um fingimento.              Uma coisa é um país,            outra um monumento.              Uma coisa é um país,            outra o aviltamento.   Deveria derribar aflitos mapas sobre a praça em busca da especiosa raiz? ou deveria parar de ler jornais                      e ler anais como anal             animal                     hiena patética                                  na merda nacional? Ou deveria, enfim, jejuar na Torre do Tombo comendo o que as traças descomem                                      procurando Quinto Império, o primeiro portulano, a viciosa visão do paraíso que nos impeliu a errar aqui?                Subo, de joelhos, as escadas dos arquivos               nacionais, como qualquer santo barroco a rebuscar               no mofo dos papiros, no bolor               das pias batismais, no bodum das vestes reais               a ver o que se salvou com o tempo               e ao mesmo tempo                                               — nos trai.     EPITÁFIO PARA O SÉCULO XX   1. Aqui jaz um século onde houve duas ou três guerras mundiais e milhares de outras pequenas Affonso Romano de Sant’Anna
  • 20. 19 e igualmente bestiais. 2. Aqui jaz um século onde se acreditou que estar à esquerda ou à direita eram questões centrais. 3. Aqui jaz um século que quase se esvaiu na nuvem atômica. Salvaram-no o acaso e os pacifistas com sua homeopática atitude — nux vômica. 4. Aqui jaz o século que um muro dividiu. Um século de concreto armado, canceroso, drogado,empestado, que enfim sobreviveu às bactérias que pariu. 5. Aqui jaz um século que se abismou com as estrelas nas telas e que o suicídio de supernovas contemplou. Um século filmado que o vento levou. 6. Aqui jaz um século semiótico e despótico, Affonso Romano de Sant’Anna
  • 21. 20 que se pensou dialético e foi patético e aidético. Um século que decretou a morte de Deus, a morte da história, a morte do homem, em que se pisou na Lua e se morreu de fome. 7. Aqui jaz um século que opondo classe a classe quase se desclassificou. Século cheio de anátemas e antenas,sibérias e gestapos e ideológicas safenas; século tecnicolor que tudo transplantou e o branco, do negro, a custo aproximou. 8. Aqui jaz um século que se deitou no divã. Século narciso & esquizo, que não pôde computar seus neologismos. Século vanguardista, marxista, guerrilheiro, terrorista, freudiano, proustiano, joyciano, borges-kafkiano. Século de utopias e hippies que caberiam num chip. 9. Aqui jaz um século que se chamou moderno e olhando presunçoso o passado e o futuro julgou-se eterno; Affonso Romano de Sant’Anna
  • 22. 21 século que de si fez tanto alarde e, no entanto, — já vai tarde. 10. Foi duro atravessá-lo. Muitas vezes morri, outras quis regressar ao 18 ou 16, pular ao 21, sair daqui para o lugar nenhum. 11. Tende piedade de nós, ó vós que em outros tempos nos julgais da confortável galáxia em que irônico estais. Tende piedade de nós — modernos medievais — tende piedade como Villon e Brecht por minha voz de novo imploram. Piedade dos que viveram neste século – per seculae seculorum. Affonso Romano de Sant’Anna
  • 23. 22 Reynaldo Jardim O SOM EMBUTIDO NA MATÉRIA   O Som se oculta no Lenho da madeira, Cordas de piano,mesa De bar,corpo de cristal Ou vidro ordinário, Se esconde,o Som ,nos Másculos do corpo,couro Do tamborim, no Stradivarius, ossário Dos animais carnívoros Ou não. Em silêncio o Som Aguarda que o libertem Da matéria bruta ou Manufaturada, para Expressar sua angústia, Melodia, ruído ,linguagem Áspera, doce , requintada , Basta um leve toque No atabaque, da baqueta Na pele tensionada Do surdo para que Ele,o Som,rompa a Mortalha e vibre no ar O ritmo do samba sincopado. Ele ,o Som,grita quando A porta bate forte no Batente e se desespera Quando mãos desajeitadas Foram, dele o irritante Arranhar de lixa polindo A ferrugem das cascos Dos navios. O Som implora que Todos o tratem com
  • 24. 23 A delicadeza de um João Gilberto.   MATERNAL   Ela se deita, Diz que não se importa E deixa a porta Escancarada e nua Ela projeta Uma sombra torta, Iluminada pela luz da rua. A lua bate e ela se comporta Como se a lua fosse Seu cachorro que amestrado Lhe beijasse a boca, que sensitivo Lhe aplacasse o choro. E esse quarto vira uma loucura de bocas,de cachorro de ternuras de luas espalhadas Água em chamas. No incêndio dourado de seus pêlos queimam-se desvarios e desvelos. O mel de leite Brota em suas mamas.  DESAMORES 4   Quero me despojar de tudo o que não tenho. Limpar meus horizontes de artes e de engenho. Reynaldo Jardim
  • 25. 24 Quero me desfazer de tudo o que não tive. A certeza certeira de quem viveu não vive. Quero me entristecer de alegria e calma. Olhar no espelho e ver a cara de minha alma. E quero dessofrer o que nunca sofri. O gosto do prazer: sumo de sapoti.     SONETO TRAVADO   O que será que ela me ama, se a impudência da ternura, o quando vou, a volta escura, esse parir quando me chama?   O que terá que assim me odeia, por que se faz de alegre e raiva, sendo a distância que desmaia, por que me aranha em sua teia?   O que faria se me esquece e já me fere da esquivança, senão me erra o que padece:   a manhã cedo em cada prece, a fúria azul dessa lembrança, o calendário que enlouquec   Reynaldo Jardim
  • 26. 25 Thiago de Mello OS ESTATUTOS DO HOMEM   Poema que escrevi em 1964,                              em protesto contra o terror da ditadura militar.    É dedicado a Car/os Heitor Cony   Artigo I.   Fica decretado que agora vale a verdade, que agora vale a vida e que, de mãos dadas, trabalharemos todos pela vida verdadeira.   Artigo II.   Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as terças-feiras mais cinzentas, têm direito a converter-se em manhãs de domingo.   Artigo III.   Fica decretado que, a partir deste instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança.   Artigo IV.   Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem. Que o homem confiará no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do céu.
  • 27. 26 Parágrafo único: O homem confiará no homem como um menino confia em outro menino.   Artigo V.   Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira. Nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio nem a armadura de palavras. O homem se sentará à mesa com seu olhar limpo porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa.   Artigo VI.   Fica estabelecida, durante os milênios da vida, a prática sonhada pelo profeta Isaías, e o lobo e o cordeiro pastarão juntos e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.   Artigo VII.   Por decreto irrevogável fica estabelecido o reinado permanente da justiça e da claridão, e a esperança será uma bandeira generosa para sempre desfraldada na alma do povo.   Artigo VIII.   Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre não poder dar amor a quem se ama sabendo que é a água que dá à planta o milagre da flor.     Thiago de Mello
  • 28. 27 Artigo IX.   Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal do seu suor. Mas que sobretudo tenha sempre o quente sabor da ternura.   Artigo X.   Fica permitido a qualquer pessoa, a qualquer hora da vida, o uso do traje branco.   Artigo XI.   Fica decretado, por definição, que o homem é um animal que ama e que por isso é belo, muito mais belo do que a estrela da manhã.   Artigo XII.   Decreta-se que nada será obrigado nem proibido. Tudo será permitido, inclusive brincar com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa begônia na lapela.   Parágrafo único:   Só uma coisa fica proibida: amar sem amor.   Artigo XIII.   Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar o sol das manhãs vindouras. Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para defender o direito de cantar Thiago de Mello
  • 29. 28 a festa do dia que chegou.   Artigo final.   Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo, um rio, como a semente do trigo e a sua morada será sempre o coração do homem.   LEÃO  (21 de Julho a 20 de Agosto)   Leão é fogo, sonhos cerrados, a rosa de amor feita de brasa. A vida te será amável, companheiro que avanças sob o sortilégio do Sol.   A menos que sejas um Leão cujos dias se cumprem em certos pedaços de chão como o do Nordeste da minha pátria, sob o sol da injustiça. Mas é desgraça demasiada para tão pouco horóscopo. De resto, trata o meu zodíaco da vida, que não é precisamente o que tu levas, companheiro camponês. Contudo, algo te digo: não te submetas, dentes de esmeralda já se cravam na entranha do latifúndio.   Quanto a ti, Leão poderoso, sei que não calculas os momentos que vives, não calculas nem medes, confias nos teus átomos, Thiago de Mello
  • 30. 29Thiago de Mello te encantam as turquesas, ostentas a gordura, esbanjas as suavidades. Tuas razões terás, e são das fortes, porque se nutrem da alheia desventura. Mas não posso ocultar-te que vejo fluidos escuros baixando sobre tua cabeça. Enquanto caminhas confiante, levado por tua extrema ganância, Saturno está só te olhando com seu olho implacável. Te recomendo, para começar, empinar um papagaio agora mesmo, pelo menos uma tarde por mês, e publicamente. Queres que eu te diga tudo? Haverá um instante de inverno em que sete astros se unirão à esquerda da tua indiferença. Sete astros, sete ventos, sete nebulosas verdes, sete segredos reunidos contra tua força de homem, que sempre foste sozinho, que apenas contas contigo. Vais ver enfim como te odeia a multidão que te adula. Vê se descobres um irmão, vê se ainda podes ser irmão, talvez possas, ainda é tempo. Depende do teu coração, se é que ainda o levas.   E tu, doce mulher de Leão, não abandones assim tanto a cozinha: inventa um guisado, com aipo, ternura e orégano, em fogo bem brando, para o teu homem.
  • 35. 34 Alice Ruiz HAICAIS    mar bravio a cada onda novo silêncio    diante do mar três poetas e nenhum verso    manhã de outono o verde do mar também amarela    sinal fechado o menino atravessa escrevendo versos    contra o prédio cinza uma só flor e todas as cores    procurando a lua encontro o sol mas já de partida     pôr-do-sol em torno dele todos os cinzas    começo de outono cheia de si a primeira lua    som alto vento na varanda a samambaia samba 
  • 36. 35 trânsito parado os mesmos olhares e ninguém se olha    último raio de sol primeiro da lua outono nascendo    cerimônia do chá três convidados e um mosquito    nuvem de mosquitos tocando violão silenciosamente    sob a folha ver-escura a folha verde-clara trêmula dissimula         DRUMUNDIANA e agora maria?   o amor acabou a filha casou o filho mudou teu homem foi pra vida que tudo cria a fantasia que você sonhou apagou à luz do dia   e agora maria? vai com as outras vai viver com a hipocondria Nota: Paródia do poema “José”, de Carlos Drummond de Andrade.   Alice Ruiz
  • 37. 36 SE se por acaso a gente se cruzasse ia ser um caso sério você ia rir até amanhecer eu ia ir até acontecer de dia um improviso de noite uma farra a gente ia viver com garra eu ia tirar de ouvido todos os sentidos ia ser tão divertido tocar um solo em dueto ia ser um riso ia ser um gozo ia ser todo dia a mesma folia até deixar de ser poesia e virar tédio e nem o meu melhor vestido era remédio daí vá ficando por aí eu vou ficando por aqui evitando desviando sempre pensando se por acaso a gente se cruzasse… Alice Ruiz
  • 38. 37 Alice Spíndola ÁGUAS-MILAGRES   Ouve, meu rio,          o homem persegue, há séculos, o mistério das águas. Quentes? Vulcânicas? Águas de gelo?   Bacias hidrográficas                    honram a nossa França,          aguardam a História,      indo atrás dos rastros das míticas e místicas paragens de sua trajetória.   Primitivo tempo das caçadas… Interior das florestas detém a teimosia                    de homens e condados. Represas de águas claras                    e mananciais subterrâneos              salvam a pauta das memórias       das águas-milagres, no desafio de reter a sinfonia dos rios.   Vazantes, abraçadas pelo mar,                    sangram o arco-íris, código das cores                    dos frutos maduros.   Folhagens estampam o escuroverde.   SEMPRE BUSCANDO A CANÇÃO ESQUECIDA   No frêmito da ventura,          a fuga e o retorno da imagem                    do pequeno barco. Imagem – fonte e oráculo –
  • 39. 38                    mergulhada na insularidade do mar de gestos e de palavras.   Com a alma seqüestrada                    pela beleza do rio e pelo rumor de suas águas, o menino procura a canção esquecida.            Menino parisiense voga nas milhas do sol.       A CHAVE No meio da noite, configura a fragrância das palavras mágicas Na chave da noite, a ternura, pluma que verte enigmas Nas mãos do tempo, o arado que rasga os mistérios do sentimento que define O homem da meia noite, em seu caminho de volta que faz ao adentrar a meia lua das unhas dos enigmas. A mão da noite destrava a chave da fragrância das palavras mágicas   VIGÍLIA No labirinto do silêncio, o abismo O pêndulo do relógio Sai do corpo das horas E entra em contrita vigília   O espelho do tempo Reflete a imagem: Alice Spíndola
  • 40. 39 Um relógio preso Na parede pálida Espera o êxtase da alma das horas   O poeta mira o relógio E aguarda que o poema Revele a sua maturidade E que vele pela vigília E que valha um palpite de eternidade   Na alma do poeta, o êxtase Do poema que pontilha o eterno. Alice Spíndola
  • 41. 40 Amparo Osório INVENTARIO   Nada fue tuyo. Sólo imaginaste una casa y la luna. El fuego vacilante de la llama. La mensajera noche alta en la soledad de tus estrellas   La sombra perfecta y fiel dictando el paso de las constelaciones. La música del agua… Ahora lo sabes. Palidecen las manos. Miras el tiempo de tu cuerpo, el tiempo de los ríos, el tiempo de las ruinas.   Basta que quisieras dormir sin pronunciar la última palabra. Que sólo desearas ya no mirar y desatar los brazos.   Sólo eso bastaría… Pero no sabes cómo.   Traduções de Floriano Martins   INVENTÁRIO   Nada foi teu. Apenas imaginaste uma casa e a lua. O fogo vacilante da chama. A mensageira noite alta na solidão de tuas estrelas.   A sombra perfeita e fiel ditando o passo das constelações.
  • 42. 41 A música da água… Agora já sabes.   Tuas mãos empalidecem. Vês o tempo de teu corpo, o tempo dos rios, o tempo das ruínas.   Bastaria que quisesses dormir sem pronunciar a última palavra. Que desejasses somente não mais olhar e desatar os braços.   Bastaria apenas isto… Porém não sabes como.     EM SEGREDO   Por quem canta o obscuro caracol e seu pó de séculos por que persiste ainda?   Partimos tantas vezes sob o breve tremor das estrelas que fugir uma vez mais é apenas mais caminho.   Não se parte. Nunca se parte sempre se regressa.     À DERIVA   Houve um instante de pavor em que o tempo do nunca se deteve e o jamais devolveu suas mãozinhas ao relógio de água dos olhos. Antes ia o amor Amparo Osório
  • 43. 42 alto, subindo, porém entraram velozes as mentirosas águias rapinantes…   e então: o esquecimento.     ESTAÇÃO PROFÉTICA   Crepúsculos alheios destinos vãos presentes irreais   Desperdício!   Meus olhos nada podem mudar. Nem as palavras ditas ou caladas nem o rosto da morte inventariado nas dobras da sombra.   Esquecimentos. Centenas de esquecimentos e úmidas crisálidas — guardiãs das tumbas — avançam apesar de meu soluço.   Os relógios cumprem com sua cota de espanto. Amparo Osório
  • 44. 43 Antonio Brasileiro O SIM & OUTROS ACHAQUES   A vida inteira anulada por falta de outros desígnios,   eis que voltamos ao parque onde os homens se congregam:   ninguém jamais sabe ao certo onde o sim das grandes aves,   singramos por mares mansos que julgáramos esquecidos –   mas eis que a vida se perde por falta de outros desígnios.   Ou não se perde: é só isto.   SONETO DO AMOR PROFANO   Não me consinta o amor tanta alegria, pois, por não merecê-la, me constrange o peito (já uma dor, não longe, me sussurra que este amor sem agonias não há de consentir em tanta graça), eis que, perdidamente, já pressinto – e quanto, e quanto – que em amor, perdidos todos os lances, não há como obtê-lo de outro modo que não por sacrifícios / e eis que este, pois, gratuita dádiva, me chega às mãos de um modo tão profano, que quase certo estou de que, se o tenho, já não o tenho por justo e dadivoso mas por amor que é fruto só de engano.   E não me engana um amor quando enganoso.
  • 45. 44 CEM ANOS   Vejo mãos que me folheiam buscando-me a fisionomia –          mas já passei, agora          sou apenas poesia.   Vejo rostos que me amam tentando saber quem fui –          sou um retrato, miragem          que o tempo dilui.   Vejo braços que me acenam chamando-me insistentemente –          para que, se a folha que passa          passa tão de repente?   A NOITE DAS NOVE LUAS   1. Deixai-me com meus lírios e minhas luas. Andar é sempre a mesma    luz    à frente.   Vou explodir com os planetas vou seguir a rota das galáxias    ai amor    estou prestes a me dissolver    no ar.   Mas deixai-me com meus lírios e interlúdios nestes mares nunca mares calmos mares.   1. Deixai-me com meus lírios e sonetos. Vou explodir de luz um dia desses, amiga, um dias desses. Deixai-me com meus lírios e sonetos.   Antonio Brasileiro
  • 46. 45 Hás de me encontrar insone e louco no meio dos trigais da inconsciência,    ai, declamando    os versos que Van Gogh    não escreveu.     ARTE POÉTICA   Meus versos são da pura essência dos poemas inessenciais.   Nada dizem de verídico não querem nada explicar.   Não narram o clamor dos peitos não encaram a dor do mundo.   Se por vezes falam alto é por puro gozo, júbilo.   humor que brota de dentro como se movem os astros.   Eles, meus versos, são pura floração de irresponsáveis   flores nascidas nos mangues, por nascer – mas multicores,   lindas, não importa que os homens as conheçam ou não conheçam.        TUDO QUE SOMOS   Tudo que somos, pouco sabemos.   Um poço imenso, Antonio Brasileiro
  • 47. 46 cheio de sonhos.   Quando choramos, não nos perdemos.   Viver é um sonho, Não esqueçamos.   Viver é a sombra, o assombro, o apenas.   / Tão frágeis somos! Frágeis e imensos.     CONTEMPLAÇÃO DA NUVEM               p/ Luis Alberto   a vida é a contemplação daquela nuvem. E o mundo uma forma de passar, que inventamos para não ver que o mundo não é o mundo, mas uma nuvem                        passando.   E uma nuvem passando ensina-nos mais coisas que cem pássaros mil livros      um milhão de homens.   A vida é a contemplação daquela nuvem. E o mundo uma forma de passar, que inventamos para não ver que o mundo não é o mundo, mas uma nuvem.                        Passando. Antonio Brasileiro
  • 48. 47 Antonio Carlos Secchin A ILHA   E olhamos a ilha assinalada pelo gosto de abril que o mar trazia e galgamos nosso sono sobre a areia   num barco só de vento e maresia. Depois, foi a terra. E na terra construída erguemos nosso tempo de água e de partida.   Sonoras gaivotas a domar luzes bravias em nós recriam a matéria de seu canto, e nessas asas se esparrama nossa glória,   de um amor anterior a todo estio, de um amor anterior a toda história. E seguimos no caminho de ser vento   onde as aves vinham ver se havia maio, e as marcas espalmadas contra o frio recobriam de brancura nosso rumo.   E abrimos velas alvas que se escondem dos mapas de um sonho pequenino, do início de uma selva que se espraia   na distância entre mim e o meu destino.       MARGEM   Vou andando para a beira desse porto, entre cheiros de cigarra e de sardinha e um desejo líquido de partir. Meu olhar desliza no horizonte, querendo saber a que distância um nome deixa de doer. seu nome, marcado em minha boca
  • 49. 48 como a polpa de uma pêra . O navio enorme avisa que vai embora. Escrevo a palavra salto, e paro no sal, e não chego ao alto. A noite está boiando num óleo grosso de silêncio e luz. Molho os pés, penso em seu nome: gozo de um poço tapado. Insônia de musgos na beira das águas redondas. Me vejo na ponta do cais, cacos de luz abrindo a cara do mar. Destroços de palavras, pedaços de seu nome, sílabas que batem contra os cascos. Estou parado na beira de um porto, azul e morte no oco do ar.     BIOGRAFIA   O poema vai nascendo num passo que desafia: numa hora eu já o levo, outra vez ele me guia.   O poema vai nascendo, mas seu corpo é prematuro,  letra lenta que incendeia com a carícia de um murro.   O poema vai nascendo sem mão ou mãe que o sustente, e perverso me contradiz insuportavelmente.   Jorro que engole e segura o pedaço duro do grito, o poema vai nascendo, pombo de pluma e granito.   Antonio Carlos Secchin
  • 50. 49 CANTIGA   Senhora, é doença tão sem cura meu querer de vossos olhos tão distantes, que digo: é maior a desventura ver os olhos sem os ver amantes.   Senhora, é doença tão largada meu querer de vossa boca tão serena, que até mesmo a cor da madrugada é vermelha de chorar a minha pena.     POEMA DO INFANTE   É a noite. E tudo escava tudo na língua ambígua que desliza para o esquivo jogo. Amargo corpo, que de mim a mim se furta, não recuso teu percurso no hálito das pedras que me existem em ti – estéril dorso entre águas estancadas. O nada, o perto, o pouco, não posso dividir do que se espera o que me habita, ao fazer fluir a via antiga de um menino que mediu o lado impuro. Operário do precário, me limito nesse corpo amanhecido, asa e gozo onde a morte mora. Minha vida, mapeada e descumprida, está pronta para o preço dessa hora Antonio Carlos Secchin
  • 51. 50 Antonio Cisneros KARL MARX DIED 1883 AGED 65   Todavía estoy a tiempo de recordar la casa de mi tía      abuela y ese par de grabados: Un caballero en la casa del sastre, Gran desfile militar      en Viena, 1902. Días en que ya nada malo podía ocurrir. Todos llevaban      su pata de conejo atada a la cintura. También mi tía abuela –veinte anos y el sombrero de      paja bajo el sol, preocupándose apenas por mantener la boca, las piernas bien cerradas. Eran los hombres de buena voluntad y las orejas limpias. Sólo en el music-hall los anarquistas, locos barbados y      envueltos en bufandas. Qué otoños, qué veranos. Eiffel hizo una torre que decía “hasta aquí llegó el      hombre”. Otro grabado: Virtud y amor y cela protegiendo a las buenas familias. Y eso que el viejo Marx aún no cumplía los veinte años      de edad bajo esta yerba  gorda y erizada, conveniente a los campos de golf. Las coronas de flores y el cajón tuvieron tres descansos al      pie de la colina y después fue enterrado junto a I la tumba de Molly Redgrove “bombardeada por      el enemigo en 1940 y vuelta a construir”. Ah el viejo Karl moliendo y derritiendo en la marmita      los diversos metales mientras sus hijos saltaban de las torres de Spiegel a las      islas de Times y su mujer hervía las cebollas y la cosa no iba y después      sí y entonces vino lo de Plaza Vendome y eso de Lenin y el montón      de revueltas y entonces las damas temieron algo más que una mano en las naIgas      y los caballeros pudieron sospechar
  • 52. 51 que la locomotora a vapor ya no era más el rostro      de la felicidad universal.   “Así fue, y estoy en deuda contigo, viejo aguafiestas:”   Traduções   KARL MARX DIED 1883 AGED 65   Ainda estou pronto para recordar a casa de minha avó e  esse par de gravuras: Um cavalheiros na casa do alfaiate, Grande desfile militar  em Viena, 1902. Dias em que mais nada de ruim podia acontecer. Todos levavam  seu pé de coelho na cintura. Também minha tia-avó  ¯ vinte anos e o chapéu de palha sob o sol,                                                preocupando-se apenas com manter a boca, as pernas bem fechadas. Eram os homens de boa vontade e as orelhas limpas. No music hall apenas os anarquistas, loucos barbudos  e envoltos                                                em cachecóis. Que outonos, que verões! Eiffel fez uma torre que dizia: “até aqui chegou o homem”. Outra gravura: Virtude e amor e ciúme protegendo as melhores famílias. E dizer que o velho Marx ainda não cumprira os vinte anos de idade                                                debaixo desta erva ¯ gorda e eriçada, conveniente para os campos de golf. As coroas de flores e o caixão tinham três descanços                                                ao pé da colina e depois foi enterrado junto ao túmulo de Molly Redgrove “bombardeado pelo inimigo                                                em 1940 e logo reconstruído”. Ah o velho Marx moendo e derretendo na marmita os diversos metais enquanto os filhos pulavam das torres de Spiegel às ilhas de Times e sua mulher fervia as cebolas e a coisa não avançava e depois                                                sim e então veio o da Praça Vendome e aquilo de Lênin e o montão de revoltas                                                e então Antonio Cisneros
  • 53. 52 as damas temeram algo mais do que  mão nas nádegas e os cavalheiros puderam suspeitar que a locomotiva a vapor já não era mais o rosto                                                da felicidade universal.   “Assim foi, e estou te devendo, velho estraga-festas”.   OUTRA FESTA DO MENINO JESUS   Se eu soubesse por onde começar começaria com o          coração na mão. Filha da mãe de pescadores e agricultores, servidora do Menino. Aqui de pé com o punho cerrado e os espinhos da tuna mais seca. (Os canais de pedra afundando na areia como um rato no matorral.) Sem ter a quem queixar-me agora. Já abandonamos nossos mortos (posso ouvi-los Crescer sob o carvão). O Menino me perdoa. Adeus plantinha de pimenta, mudinha de arruda, plantinha do rocoto.* Adeus pirilampos, lagartos, escorpiões. Recolho os cabelos e tento dormir enquanto escuto as sombras nas dunas uma derradeira vez. (Ao deserto o que era do deserto. Ao mar o que é do mar. Antonio Cisneros
  • 54. Antonio Vicente Pietroforte O RETRATO DO ARTISTA ENQUANTO FOGE para Camila   o que apetece, Balzac? na descrição da forma mais bonita, você se perde entre o desenho e o fato; e agora Glauco, na hora de fazer mais um soneto, qual parte do corpo que você escolhe? a tinta da melancolia te entrega uns braços, a veia do poeta negro se toca quando fica duro; palmeira, a menina loira desmaia sobre a mata, a pata da donzela ciumenta te consome como te consome o pulso machucado; muitas putas para Henry Miller, para Jean Genet, travestis, viados como na Ilíada, Aquiles e Pátroclo; continua a saga no drama, na comédia é sempre uma mulher que te abre o Céu como se abrisse as pernas; como Camões na redondilha pede um beijo às lavadeiras, Joyce, numa carta à namorada pede peidos na cara está parado em frente ao Elevado na Amaral Gurgel   toma cuidado o emplasto que segura o saco o talco no lugar da flor
  • 55. 54   puro Mistral desceu pelo nariz nervoso   havia um sex-shop ali ano passado   beleza há um pôster de mulher pelada imenso em cada prédio   dureza fingir indiferença à mendiga suja o pé descalço a coxa dura a curva da cintura no vestido dado   vazio?   por que duas lésbicas precisariam de um pinto de borracha para completar o trio?   o brilho da água se recorta no vôo do inseto   o Buda sentado alucina esmeralda incrustada no olho de vidro a loucura do fungo nos night clubs em Nagazaki pássaro feito de plástico tão bonito que parece de verdade   minha doce emoção   se desgasta no excesso da palavra o brilho da água já não diz mais nada   Antonio Vicente Pietroforte
  • 56. 55 mas soluça a água salgada do teu olho falho grita na garganta, mais viscosa só me diz a água que do teu olho vaza lacrimosa neblina produto da fumaça zebra riscada com chicote   o Buda toca uma punheta, e goza ) mas (sob o céu da Pérsia no bico do Simorg ela é minha de verdade o    shortsvermelho reetus vermelhovermelho proeta vermelho vermelho zen o vôo da garça zen o vôo da garça ergo semdramasemdrama erectus malae tenebrae Orci rubent rubent como se trata do corpus como se trata do animus incógnito trata-se da mens lubrax trata-se do noûs   Antonio Vicente Pietroforte
  • 57. 56 Antonio Vicente Pietroforte o outro anal para Camila ninguém repara, amada você não leva nada em uma noite escura   quem sabe alguma prece rara, súcubo a vespa pronta pra bater as asas com ânsias, em amores inflamada   decotada, a Vênus indecente, desfruta ó ditosa ventura!   a sensação do tato sob os pés, prece rara – saí sem ser notada   o chão é caramelo puro, gata sussurra pela noite escura, fada estando minha casa sossegada
  • 58. Aricy Curvelo aqui não mais aqui (uma fímbria) (uma face) (uma frase) nem tudo o que sabemos linguagem nem tudo o que resta : o pousar que recolhe o que existe (a obscura mistura) viver significa — e é tudo sobretudo quando sem receio, quando te entregares, quando te fundires, sem medo, ao obsclaro e ao mênstruo da linguagem, mesmo se te houveres perdido, porque terás de criar livremente a tua língua, haverás de criar livremente o teu espírito. o náufrago Os planos que malogram, a fortuna que se rende, o fado que tem olhos de acaso e relógio, pelo pesadelo a grande Barca abalroada, três mil passageiros se paralisaram no terror da hora,
  • 59. 58 em plena noite, ao mar, na baía da Guanabara. Alguns, das águas recuperados. Um, não dos mais belos, porém dos mais jovens, fortes ventos e correntes o impeliram para fora da barra, para as altas águas, o alto mar, roído de peixes, que humano já não era, incorporado a medusas, a algas, ao plenilúnio, às vagas, aos eflúvios do sal. Agora, sua respiração percorre o litoral. indigência e riqueza o real (julgaram) é só o que vem ter à palavra há muito mais silêncio e muito mais silêncio há muito mais real e muito mais real o verso existe para impedir o poeta de falar E-U canção de uma só palavra pássaro de uma só asa cidades de uma só casa uma só mão batendo palmas Aricy Curvelo
  • 60. 59 Aristóteles España LLEGADA   Bajamos de la barcaza con las manos en alto a una playa triste y desconocida. La primavera cerraba sus puertas, el viento nocturno sacudió de pronto          mi cabeza rapada          el silencio esa larga fila de Confinados que subia a los camiones de la Armada Nacional                    marchando cerca de las doce de la noche del once de septiembre de mil novecientos setenta y tres en Isla Dawson Viajamos por un camino pantanoso que me pareció una larga carretera con destino a la muerte. Un camino con piedras y soldados. El ruido del motor es una carcajada, mi abrigo café tiene barro y bencina:          nos rodean          bajamos del camión uno        dos       tres                 kilómetros          cerca          del          mar          y          de          la          nada, ¿Qué será de Chile a esta hora? ¿Veremos el sol mañana? Se escuchan voces de mando y entramos a un callejón esquizofrênico que nos lleva al Campo de Concentración, se encienden focos amarillos a nuestro paso, las ventanas de la vida se abren y se cierran.
  • 61. 60 Traduções        CHEGADA Saimos da barcaça com as mãos ao alto numa praia triste e desconhecida. A primavera fechava as portas, o veno noturno sacudiu de repente          minha cabeça raspada          o silêncio essa longa fila de Confinados que subia aos caminhões da Armada Nacional                    marchando próximo da meia noite de onze de setembro de mil novecentos setenta e três em Ilha Dowson Viajamos por um caminho pantanoso que me pareceu uma longa estrada com destino à morte. Um caminho com pedras e soldados. O ruído do motor é uma gargalhada, meu abrigo café tem barro e benzian:          nos acurralam          descemos do caminhão um          dois          três          quilômetros               próximo          do          mar          e          de          nada, Que será do Chile a estas horas? Veremos o sol amanhã? Escutam-se vozes de comando e entramos num corredor esquizofrênico que nos leva ao Campo de Concentração, acendem focos amarelos em nossa passagem, as janelas da vida se abrem e se fecham.     Aristóteles España
  • 62. 61 APONTAMENTOS   Me fotografam num galpão como um objeto, uma, duas, três vezes, de perfil, de frente, elaboram minha ficha com esmero: “solteiro, estudante, 17 anos, perigoso para a Segurança Nacional”. Olham de soslaio: Querem minhas impressões digitais. Um suor gelado inunda minhas faces. Nada comi. Creio que há uma tormenta. Me algema novamente. Sinto náuseas. Começo a ver que tudo gira a mil quilômetros por hora. Batem com força em meus ouvidos. Caio. Grito de dor. Vou chocar com uma montanha. Mas não é uma montanha. Senão barro e pontapés, e um barulho intermitente que se mete em meu cérebro até a inconsciência.   O OUTRO INVERNO   As vozes de minhas primas ardem na direção de um janeiro que se foi. Todas reencarnadas, mínimas lendas, Espelhando-se na água onde eram mais duendes que mulheres.   Imitações vagas, um quadro de Renoir, Corridas pelo pátio onde devorávamos o assado natalino.   Aristóteles España
  • 63. 62 Uma vez mais repete o mesmo sol em suas coxas depois de doze anos, essa luta por assemelhar-nos a parentes distantes como se nada tivesse acontecido. E aquilo de usar sempre os mesmos disfraces. Também uma dança que não recordo e ícones religiosos, com os magos que retornam de uma história diferente todo dia, como imagens de leões mortos   e este bombardeio nos órgãos sexuais, e o mesmo final na boca de filhos imaginários;   velhas fotografias que começo a despedazar no cuarto de uma úmida pensão na Dez de Julho, retendo o ar, enquanto miro, imóvel, os ossos na parede. Aristóteles España
  • 64. 63 Betty Chiz TRÁNSITO   Desciendo por los arcos cada día cada año. La memoria se empantana. Me esfuerzo por recordar nombres y rostros buceo en mis archivos neuronales guardo información innecesaria escondo espontáneos deseos de abrazar amigos cansada de brindarme sin prejuicios. Camino calle arriba los silencios mastico las palabras habituales las que nombran techo y pan desentrañando semánticas ajenas.          Argumento del arco iris          su circunferencia o el semicírculo visible el transitado en una sola vía.          Remuevo del dolor          transidas circunstancias          me apoyo en cimientos milenarios          y así nomás ando por la vida          derramándome total en cuerpo y alma.
  • 65. 64 Traduções  TRÂNSITO   Descendo pelos arcos todo dia cada ano. A memória se empantana. Me esforço para recordar nomes e rostos submerjo em meus arquivos neurais guardo informação desnecessária escondo espontâneos desejos de abraçar amigos cansada de celebrar-me sem preconceitos. Caminho rua acima os silêncios mastigo as palavras habituais as que nomeiam teto e pão desentranhando semânticas alheias.              Argumento do arco-íris              transidas circunstancias              apoio-me em cimentos antigos              e assim é que ando pela vida              derramando-me inteira em corpo e alma. TAPETE Urdidura onde mãos de mulher plasmam flores e pássaros novelos transformados em textura apertada o tear intercepta o alinhavo a obra cresce desenvolve sua teia com a velocidade da aranha Betty Chiz
  • 66. 65 que captura sonhos. Urdidura onde os olhos desenham o tecido caprichoso atrevido artístico que acomete a academia caçadora de sonhos. Urdidura onde fios e lãs mimam o bastidor           abrigo seguro regaço materno                       tradição rural o fuso tece sonhos. Urdidura onde fomos do calendário de parede aos parafusos do suporte de madeira sustentam utopias vivendo sonhos. Urdidura onde com as falanges nuas            e as estrias nos dedos o unicórnio se levanta no estandarte azul espreitando nuvens. AVE FÉNIX                                                “…hay golpes en la vida tan fuertes…yo no sé…”                 César Vallejo “Los Heraldos Negros”   Acreditei dever sustentar o mundo com minhas mãos e senti “que hay golpes en la vida tan fuertes…yo no sé”. Betty Chiz
  • 67. 66 Se é que não sabia que era como ave fênix e dores e impostam, tornam-se sarro, envelhecem nas cavas, pra que servem, me pergunto, os anos nas costas que mais de endiabram entre o amor e o ódio em cada circunstância. Que importa!, me digo “si hay golpes en la vida…” golpes de misericórdia. Sei lá! O mundo se coloca de soslaio quando subo a ladeira mão dupla me ouço dizendo-me ao meu ouvido externo que devo deixar a ave fênix ressurgir dos escombros e excrescências mesmo que haja “golpes en la vida…tan fuertes…” bem o sei. Betty Chiz
  • 68. 67 Carlos Ortega Guerrero     DANZA EL PASAJERO DE LA ESTANCIA        Estar o no estar          hacen el margen el campo donde sin pausa configuran las aleaciones de la conciencia y de la forma “los espisódios de la realidad’’   ¿Cuántos caminos tienden a esta tarde colmada de frutos en los jarros?   Fluyen     en las corrientes del diálogo de lábios a ojos ávidos     historias traídas desde lejos para en el ensueño arraigar   A veces oigo latir mi corazón como metido en el agua de un tibor en la maleza transpariente del tiempo   “¡Voz del tambor          voy a velear!”                          me digo  nauta en la cavidad de la conciencia   Ofrendo mientras vuelo sutiles espaciosas                ganas de morir                     me hago vacante                oscuro inmemorial quedo                                  descanso             en paz        para levantarme outra vez fresco a pulsar amoroso entre los hilos que mueven en el mundo la belleza y la suma
  • 69. 68 el beso y el madrazo la falta y el desdén: sordomudo del tiempo y del espacio inmóvil oquedad que nada empoza               mas que rebosa                cuando vuelve al halo mental el sabor de la conciencia entre hierbas delicias matutinas: la luz     el aire    el agua    la campana Salto del globo que lleva el pensamiento a la tierra de nadie del silencio donde palpita la vena primordial   El horizonte se figura: las formas ciertas que disipan su arte son ojos mudos que las vem llegar   ßEspaciotiempo    lugar de la ignorancia oportunidad cruda del raudal! reino de cada uno en el Todo Uno perdido u olvidado por cada orondo quién   ¿Por qué no llegar al mar de cada instante por las vias individuales de la sed cada cual lleno de si    claro vacío ebrio de Dios   aliento de su sino   para en el centro del aire inteligente                           llano         estar? Traduções    CANÇÃO DA MORADA AMPLA   O acaecimento     que nos revela: sua nulidade de fim e de princípio que suporte oferece    que argumento?   Carlos Ortega Guerrero
  • 70. 69 Feituras de luz a luz povoando os filhos pródigos do Todo que acontece indagamos o mundo   embora sejamos tão somente lascas estelas na substância absorta desprendimentos de ramificações do provedor original seqüelas    que desde o impacto repentino cumulado irradiou colapsando adentro em sonoro mas vacante vocábulo negro o estalo do silêncio   Que logo nomeia o assunto da duração e a consciência da duração e a duração da consciência da duração?   e quanto pense não sacia nem se sacia   Mas o mistério de respirar a luz e recriá-la o mistério de fazer     dar     dizer amar no coração do incessante tamanho incom- parável o mistério calado de saber-se de espreitar  e compreender vão adentro o pulso lúcido da noção                                         a fonte plana que se imensa parece endereçar um verbo que assim varia   Campos vibrantes o âmbito gera brotam y soam brilham    calam    cessam   são?   Uma rocha                    uma rosa                                    um raio Carlos Ortega Guerrero
  • 71. 70           um rio una voz que decifra seu arbítrio?                    uma rosa   DANÇA O PASSAGEIRO DA ESTÂNCIA   Estar ou não estar                             fazem a margem o campo onde sem pausa configuram as ligações da consciência e da forma “os episódios da realidade”   Quantos caminhos tendem para esta tarde colmada de frutas nas bandejas?   Fluem    nas correntes do diálogo de lábios a olhos ávidos     histórias trazidas de longe para no sonho entranhar   ‘As vezes ouço bater meu coração como metido na água de um vaso na matagal transparente do tempo   “¡Voz do tambor          Vou velejar!”                                          me digo nauta na cavidade da consciência Ofereço enquanto vôo sutis e espaçosas              ganas de morrer                     e torno vacante              escuro imemorial quedo                             descanso              em paz          para levantar-me outra vez ameno   Carlos Ortega Guerrero
  • 72. 71 a pulsar amoroso entre os fios que se movem no mundo a beleza e o sumo o beijo e o tapa a falta e o desdém: surdo mudo do tempo e do espaço imóvel vacuidade que nada empoça                    mas que transborda                      quando volta ao halo mental o sabor da consciência entre ervas delícias matutinas: a luz     o ar    a água    o sino   Salto do globo que leva o pensamento à terra de ninguém do silêncio onde pulsa a veia elemental   O horizonte se figura: as formas certas que dissipam sua arte seus olhos mudos que as vêem chegar   Espaço-tempo    lugar da ignorância oportunidade crua do caudal! reino de cada um no Todo Um perdido ou olvidado por cada presumido quem   Por que não ir ao mar de cada instante pelas vias individuais da sede cada quem pleno de si    claro vazio ébrio de Deus   alento de sua sina   para    no centro do ar inteligente                                   plano estar? Carlos Ortega Guerrero
  • 73. 72 Daniel Chirom HOMERO Mi alma se acostumbró a este oscuro paisaje. Tras mis pasos vendrán otros a poblar estas sombrías estepas como yo perderán la luz. Soy el adelantado de una raza de ciegos.   LEONARDO Y “LA ÚLTIMA CENA” Por encargo de Ludovico “el moro” eletreé durante tres años  la Ultima Cena. No cometí ningún error, fue mi voluntad que Cristo y sus apóstoles se fueran desintegrando con el tiempo. Cuando la cena sea nuevamente servida otro Ludovico me encargará rehacerla hasta que el vino vuelva a escasear. Confío en la eterna sed del hombre. LA DIÁSPORA   Hacia los cuatro vientos, el polvo del camino nos nubló la vista. Descendimos hasta volver. Estamos en todas partes y no somos nadie, Sólo la noche nos rescata. Nuestro horizonte es la cruz del sur donde ojos entrecerrados aún tocan música.
  • 74. 73 Traduções HOMERO   Minha alma acostumou-se a esta paisagem escura. Seguindo meus passos virão outros povoar estas estepes sombrias e como eu perderão a luz. Sou o pioneiro de uma raça de cegos.     LEONARDO E “A ÚLTIMA CEIA”   Por encomenda de Ludovico “o mouro” soletrei durante três amos a Última Ceia. Não cometi erro algum. foi minha vontade que Cristo e seus apóstolos fossem desintegrando-se com o tempo. Quando a ceia seja novamente servida outro Ludovico vai me encomendar refaze-la até que o vinho volta a escassear. Confio na eterna sede do homem.      A DIÁSPORA   Aos quatro ventos o pó do caminho nublou a nossa vista. Descemos até retornar. Estamos em toda parte e nada somos, só a noite nos resgata. Nosso horizonte é o cruzeiro do sul onde os olhos entreabertos ainda tocam música.     Daniel Chirom
  • 75. 74 ABRAÃO   Mago dos jugos eternos, ensina-me o caminho de casa pois desejo fazer o amor, delirar com o vinho e sonhar nos entardeceres. Não para mim este mundo imortal e silencioso, não para mim as redes que outros tecem. O fruto pende prenhe do ramo, a primavera borda o céu e uma semente me habita.    MARIA   Desconheço os planos do destino. Sou o instante em que a sigla é alienada por um segredo.   PONTES   Pontes, acesas e ocultas pontes que intercedem pela surpresa as nossas intenções e incertezas. Delas nada dizem os livros, às cegas as buscamos guiados por nossas suspeitas. Quando as encontramos Já as tínhamos cruzado. Daniel Chirom
  • 76. 75 Diego Mendes Sousa VERTIGEM A poesia desinfetou as entranhas                               de                               meu estômago   agora vomito como                    restos sólidos depois catarei essa                    e                    aquela                          palavra   impulsarei na sintaxe             o de sobra       voltará à vertigem digestiva                                                  VAIDADE   Esta pele morena           não é feita de ouro   O suor do corpo                contrapala                a côndea lisa: Uma do homem presente         do tato presente   outra           Onde só os mais dotados                   de sensibilidade                      entenderão                a natureza-fátua e                                frívola          desse homem                               ainda nascente
  • 77. 76 OBSERVAÇÃO   O vento corredio passa engraçado                     pelas árvores dando-lhes os movimentos            e os pássaros                      saltam as trincheiras da brisa de outros nortes   Cantando tudo dentro de seu possível                como pardais                      audíveis               por toda manhã   PECHA   Como macilenta               pode ser minha imagem?   E concluo:          não são banais                os coriscos           as nuvens                   os penedos          inerentes à minha pessoa   Apenas são defeitos   CANDELABRO   Dói-me o peito Queima-me a alma                   esta solidão reclusa   Não por querer viver          nesta orla-névoa       albicante como meu rosto Diego Mendes Sousa
  • 78. 77   Se por medo da morte   Se por medo da perda desta vida sob velas   Uma noite…   … Não serei solidão   não serei solidão                quando o candelabro                       for sereno               ao apagar-se        Diego Mendes Sousa
  • 79. 78 UN HOMBRE MIRA A OUTRO EN LA VENTANA   Un hombre mira a outro en la ventana; a otro hombre sentado junto a otra ventana silenciosa, su mirada en la página y el aire solemne con que lee ahora una línea buscando un sol de invierno, unos caballos galopando en la nieve, una mujer hermosa e imposible y fugitiva, la caricia del viento y la costumbre o la detonación, el grito, el breve latido en que la sangre se demora suspendida y a punto, y ahora si, el temblor de la piedra sumergida, el aliento que vibra y se desboca, la ciudad que aparece en la distancia.   Un hombre mira a outro en la ventana. Escribe unas palabras. No sospecha  más allá de la sangre y los caballos y el viento y la mujer y aquel latido  que los trazos que araña en el papel son los versos que el outro lee agora.  Traduções   UM HOMEM OBSERVA UM OUTRO NA JANELA   Um homem observa um outro na janela; um outro homem sentado junto a outra janela silenciosa, sua mirada na página e o ar solene com que lê agora uma linha buscando um sol de inverno, uns cavalos Eduardo García
  • 80. 79 galopando na neve, a mulher formosa e impassível e fugitiva, a carícia do vento e o costume ou a detonação, o grito, o breve pulsar em que o sangue demora suspenso e a ponto, e agora sim, o tremor da pedra submersa, o fôlego que vibra e se desboca, a cidade que aparece na distância.   Um homem observa um outro na janela. Escreve uma palavras. Não suspeita  além do sangue e dos cavalos e o vento e a mulher e aquele palpitar – que os traços da aranha no papel são os versos que o outro agora lê.   NO FUNDO DA CENA   Cruzei o umbral. Estou em casa. Depois do frio, o vento e os verões eu vim. Saúdo os objetos com um suspiro grave e respeitoso. A sala decorada com flores que parecem desaprumar-se carnívoras sobre os comensais. Ocupei meu assento. Alguém comenta o preço escasso da vida humana em um país remoto e as notícias liberam promessas de um futuro que valha a pena. A mulher me serve um sorriso. O homem fala com ela como alguém acaricia um sonho que ser torna cotidiano. Sob o mantel as crianças brigam. O sal. O pão. A mesa de sempre: cada quem em seu lugar, absorto na tarefa de ser o personagem que a trama dispõe.          Assim, já vês, somos felizes. Eduardo García
  • 81. 80 Ignoramos que um dia a ausência da mãe, esta cadeira vazia, inconcebível, fará que a criança aquela – no fundo da cena – escreva estas palavras.   SONHO COM FACAS   Caminho por uma bosque de facas. Os cabos enterrados Levantam a ameaça do aço. Avanço com cautela, sem saber para onde me dirijo. O ar apaga à minha espalda meu rastro, e o confunde. O eco de meus passos se voltam as facas contra mim, girassóis de sombra  agachada…   Desperto. Abro os olhos: o copo na mesa, teu corpo junto ao meu, a casa em calma. É o amanhecer. Volto a fechar os olhos, olho para dentro:   Um bosque de facas me contempla. Não é o bosque do sonho. Tem uma luz mais funda e conhece meu nome e sua penumbra. Seus fios brotam para mim, o clamor do aço:            a angústia dos dias transcorridos às cegas por um túnel na lenta tortura do relógio, o pavor das noites aguardando o gemido de um telefone: notícias de uma vida suspensa entre a luz e sua escuridão.   E de repente o silêncio. Meus olhos refletem em suas folhas. Toca o telefone:          Pulam sobre mim Eduardo García
  • 82. 81 Eduardo Mora-Anda EX PAISAJE CON RETRATOS   1   El torpe muro, el inhumano hierro cubren la tierra inmaterial y buena donde cantaban antes los jilgueros y el rio hablaba sus murmullos lentos…   2   Turba mi noche una inquietud de ciego que busca los caminos de la vida, uma misión o vocación de Cielo que yo la incumplo en la rutina fría. La madrugada acecha. En el silencio espero el don que ha de cambiar mi vida. ¿Cuál es mi hora, mi lugar, mi dia? ¿Cuál es mi sino y a qué vine al mundo: Una ansiedad me ahoga el pecho enjuto mientras yo rezo y alborea el día…   3   Los años pasan. La rutina es hueca. La mente en vano esboza, hila, elabora. ¿Qué quiero? ¿qué me falta? ¿qué venero? Si no está aqui tu brío, tu alegría, ¿cómo vivir la claridad del día? La loca geografia de la vida señala que el amor es lo primero…  
  • 83. 82 4   La madrugada acrece. El mundo toma un perfil de amistad. El agua mece su consistencia eterna repicando contra la piedra agreste, y, pincelada gualda entre los prados, la flor silvestre rastro es de Dios en el momento breve. La pincelada eterna en el ahora mientras la vida pasa fugazmente…   9   Bebo en tu cielo limpio el aire eterno, la inevitable luz, el amplio brío. La provisión más dulce e infinita. Tú me das cuanto soy, Tú me renuevas. Todos tus dones son puntuales y gratuitos,                    ¡oh maternal Señor de la mañana!     Traduções   EX PAISAGEM COM RETRATOS   1   O rude muro, o inumano ferro cobrem a terra imaterial e boa onde cantavam os pintassilgos e o rio expressava lentos murmúrios…   2   Turva minha noite uma inquietação de cego que busca os caminhos da vida, Eduardo Mora Anda
  • 84. 83 essa missão ou vocação de Céu que eu descumpro na rotina fria. A madrugada espreita. No silêncio espero o dom que há de mudar minha vida. Qual será minha hora, meu lugar, meu dia? Qual é minha sina e a que vim ao mundo? Uma ansiedade me afoga o peito enxuto enquanto eu rezo e clareia o dia…   3   Os anos passam. A rotina é vazia. A mente em vão esboça, fia, elabora. Que eu busco?  que me falta? o que venero? Se não está aqui teu brio, tua alegria, Como viver a claridade do dia? A louca geografia da vida assinala que o amor é primordial…    4   A madrugada acresce. O mundo ganha um perfil de amizade.  A água agita sua consciência eterna repicando contra a pedra agreste, e, pincelada amarela entre os prados, a flor silvestre rastro é de Deus no momento breve. A pincelada eterna no agora enquanto a vida passa fugazmente…   9   Bebo em teu céu límpido o ar eterno, a inevitável luz, o amplo brio. A provisão mais doce e infinita. Tu me dás quanto sou. Tu me renovas. Todos os teus dons são pontuais e gratuitos, ó maternal Senhor da manhã! Eduardo Mora Anda
  • 85. 84 Elena Medel PEZ Nuestro plato favorito requería cierta preparación. Mi abuela abría el pesca- do en vertical, leyendo mi futuro. Sobre la superficie herida distribuía su relleno, con cuidado: las marcas de la muerte no deben infectarse. Mientras, ella me hablaba. Yo aún era pequeña; había vuelto del colegio, preguntaba qué había de almorzar, relamía mis gracias y decía: peces como los del verano. Por entonces hacía frío. Y al terminar de comer nos sentábamos juntas, veíamos la televisión juntas, respirábamos juntas cada tarde. Vivir era costumbre de las dos, y en verano me enfadaba al verla caminar orilla arriba                           orilla abajo: yo me enfadaba porque temía perderla en una ola, o que se resfriase, o sim- plemente estar lejos de ella unos minutos. Al volver, me sentaba en su hamaca y me ayudaba a limpiarme la arena de los pies, a buscar mis ceras en la bolsa, a despegarme la sal y las legañas.   El invierno es, ahora, amable en esta casa. Al entrar he querido encontrarte tranquila, repitiendo tus historias, sonriendo al recordar los buenos tiem- pos, como siempre, siguiendo las costumbres de mi infancia. Pero ahora no estás. Las dos ya no vivimos, y el frío me agarra por la espalda y me golpea, recuerda tantas cosas que vuelvo a tener miedo, y mis ojos resbalan en mis manos húmedos como el pez del invierno.     
  • 86. 85 Traduções de Javier Iglesias    PEIXE   Nosso prato favorito exigia certa preparação. Minha avó abria o peixe em vertical, lendo meu futuro. Sob a superfície ferida distribuía seu recheio, com cuidado: as marcas da morte não o devem o infectar. Entretanto, ela me falava. Eu ainda era pequena; havia voltado do colégio, perguntava o que havia de almoçar, bajulava minhas graças e dizia: peixes como os do verão. Por então fazia frio. E ao terminar de comer nós sentávamos juntas, víiamos televisão juntas, respirávamos juntas cada tarde. Viver era costume das duas, e no verão me incomodava vê-la caminhar beira acima, beira abaixo: Isso me incomodava porque temia perdê-la em uma onda, ou que se resfriasse, ou, simplesmente, estar longe dela por uns minutos. Ao voltar, me sentava na sua rede e me ajudava a limpar a areia dos pés, a buscar minhas ceras na bolsa, a despegar-me o sal e as remelas. Agora o inverno é amável nesta casa. Ao entrar queria encontrar-te tranqüila, repetindo tuas histórias, sorrindo ao lembrar os bons tempos, como sempre, seguindo os costumes da minha infância. Mas agora não estás. Nós duas já não vivemos, e o frio me pega pelas costas e me golpeia, lembra-me tantas coisas que volto a ter medo, e meus olhos escorregam em minhas mãos úmidos como o peixe do inverno.     ÁRVORE GENEALÓGICA   Eu pertenço a uma raça de mulheres com o coração biodegradável. Quando uma de nós morre exibem seu cadáver nos parques públicos, as crianças se aproximam para bisbilhotar na sua garganta de folha-de-flandres, celebram-se banquetes com moscas e vermes, me fez mal porque me fez sorrir, logo eu que sou tão triste. Aos trinta dias exatos de sua morte o corpo desta extraordinária raça se auto- Elena Medel
  • 87. 86 destrói, e às portas de vossas casas chamam os restos da alma das mulheres sobrena- turais, batem contra vossas paredes, suas pastas e suas unhas perfuram vossas janelas até que sangram nossas aortas fincadas na terra, igual que as raízes. Ao morrer nos abrem o estômago, examinam com os dedos seu interior, rebuscam entre as vísceras o mapa do tesouro, tiram seus dedos negros de todos os poemas que nós ficaram dentro com os anos. Um espetáculo. Pertenço a uma raça desenvolvida além dos altares. Sou uma delas porque meu coração mancha ao tomá-lo entre as mãos, porque coincide em tamanho com o buraco de um nicho; fresco e doce como o de um animal, suga meu coração para que, ao morrer, saibam que temos estado juntos. Sou uma delas porque meu coração será adubo. Porque meu sangue, que é o seu, sobe e desce pelo meu cadáver como por escadas mecânicas; porque o fundamento de meu caráter, ao  se descompor, incorpora-se a uma espécie selvagem que late e que fere e que te leva a seu terreno, que ignora as afrontas, que jamais se extinguirá.     ESCREVEREI QUINHENTAS VEZES O NOME DE MINHA MÃE   Escreverei quinhentas vezes o nome de minha mãe. Com um vestido branco traçarei cada uma de suas letras pelas paredes de meu dormitório, pelo solo do pátio do colégio, pelo corredor da casa mais antiga. Para lembrar minha origem cada vez que eu viva. Em todos os lugares poderei beijar seu rosto  limpo de cristal, mesmo que ela durma longe: seu rosto perto que me doerá lá onde acaricie seu nome escrito. Tantos dias, tantas noites terão de alimentar-me amorosamente com sua parábola descalça; virá minha mãe para me agasalhar, mulher de fumaça, com olhos tremendo de sorte, e em cada sonho meus sobrenomes doerão como um cartaz de boas vindas a um lar diferente. Elena Medel
  • 88. 87 Sob meu cabelo, louro como o de minha mãe, a coroa que me coroou como filha primogênita da Dinamarca. Chamar-me-ei Vazia, em homenagem a meus mortos; olharei como jogam de acrílico as palmas de minhas mãos, sangrará minha língua a disposição de meus mortos. Gritarei quinhentas vezes o nome de minha mãe para quem queira escutá-lo, e escreverei que abençôo este meio coração em greve meu, pois não esqueço: nasci para chorar a morte dos outros.   EM DEMASIA   Tu e eu nos demais: livram à maçã de sua pele. Mais belo quando estamos sós.   Cristal em fragmentos, infância, salão que é refúgio: a fuga deixa atrás nossos problemas.   Descuidar o gesto quando servimos água. Adeus, pois, ao equilíbrio entre trejeito e efeito.   Desbordar-se. Que esperas tu de mim. Defraudar a intensidade do outro: tu e eu nos demais. Elena Medel
  • 89. 88 Emilia Currás TÚ TIENES ALAS DE PLATA   Tú tienes alas de plata, alas de ensueño, de ilusión, de anhelo. ¿Me darás alas de plata? Calla, calla.   Tú tienes alas de bronce, alas de pasión, de amor sin freno. ¿Me darás alas de bronce? Calla, calla.   Tú tienes alas de hierro, alas fuertes y seguras, alas de grandes realidades. ¿Me darás alas de hierro? Calla, calla.   Tú tienes alas de estaño, alas de engaño, alas falsas y amargas. ¿Me darás alas de estaño? Calla, calla. No me preguntes tanto.   ¡ QUÉ TRISTE VIVIR SIN AMOR!!   ¡ Qué triste viver sin amor! ¡ Qué sequedad interior! Y ¡qué cansancio y hastío! No se puede  soportar.   El alma me va a estallar, que el desconsuelo es dolor y el dolor es soledad. El alma me va a estallar.
  • 90. 89 Traduções TENS ASAS DE PRATA   Tens asas de prata asas de sonho, de ilusão, de desejo. Me darás asas de prata? Cala, cala!   Tens asas de bronze, asas de paixão, de amor sem freio. Me darás asas de bronze? Cala, cala!   Tu tens asas de ferro, asas fortes e seguras, asas de grandes realidades. Me darás asas de ferro? Cala, cala.   Tu tens asas de estanho, asas de engano, asas falsas e amargas. Me darás asas de estanho? Cala, cala. Não perguntes tanto. QUE TRISTE É VIVER SEM AMOR!    Que triste é viver sem amor! Que secura interior! E que cansaço e fastio! Não se pode  suportar.   Minh´alma vai estalar, que o desconsolo é dor e a dor é solidão. Minh´alma vai estalar. Emilia Currás
  • 91. 90 LENÇO AZUL SE AGITANDO AO VENTO   Lenço azul se agitando ao vento É que vens em seguida ou é a despedida? Somente tu o sabes Em teu movimento.   VEJO OS BARCOS A SAIR   Pela janela vejo os barcos a sair, quem os poderia seguir em seu doce navegar?   Fincada estou nesta terra com todo afã dia-a-dia, sem ilusão, nem carinho, nem forças para largar.   FERIDO ESTAVA   Ferido estava estendido na areia, e senti pena.   Aproximei-me a curá-lo Mas já havia partido.   Emilia Currás
  • 92. 91 Henrique Hernández d’Jesús LA LENGUA ALTERADA   La devoción a primera vista por la presa falsea las huellas   Se inicia la ausencia SIN LOS PÁRPADOS   El sonido animal con la habilidad del Tigre Invisible dilató la muerte Exorcizó calles estrechas Estragó crueles almas CUANDO LA SENSACIÓN DESAPARECE   El equilibrista se dota de la traición   en este oficio virtuoso   Saborea la cacería  
  • 93. 92 Traduções    A LÍNGUA ALTERADA   A devoção a primeira vista falseia as pegadas   Tem início a ausência   SEM AS PÁLPEBRAS   O ruído animal com a habilidade do Tigre Invisível dilatou a morte Exorcizou ruas estreitas Estragou almas cruéis   QUANDO A SENSAÇÃO DESAPARECE   O equilibrista se dota com a traição   neste ofício de virtude   Saboreia a caçada     Henrique Hernández d’Jesús
  • 94. 93 A SENSAÇÃO DA PELE   Os espaços fechados o elouquecem as grades passam despercebidas   Perde a memória   A TIGRESA PALAVRA   A palavra se esconde em si mesma   Não percebe?   está deserta nas ruas frias   O SILÊNCIO EXCITADO DA MORTE   À vista da qual   as imagens   São deliciosas sem serem caóticas?   O Tigre sente a terra de ninguém   Não poder voltar atrás Henrique Hernández d’Jesús
  • 95. 94 Fabio Morabito Los perros ladran a lo lejos. Junto con ellos soy el único sin sueño en el planeta. Me ladran a mí, despiertos por mi culpa.                                              Mi estar despierto los encoleriza                                  y su cólera me espanta.                          Somos los únicos                                   que no dudan                                         de la redondez de la tierra.                    Los otros, los dormidos, han renegado de Copérnico, por esta única vez se han reclinado sobre un mundo plano. Por esta única vez, todas las noches, y así amanecen, creyendo que la tierra no da giros y ellos se han dormido en sus laureles. No pueden conciliar el sueño sobre una superficie triste, sobre un planeta equis. Mejor oír ladrar los perros que amanecer neolíticos.                      Más vale no pegar el ojo que claudicar del universo.   Orejas   dos orejas: una para oír a los vivos otra para oír a los muertos   las dos abiertas día y noche las dos cerradas a nuestros sueños
  • 96. 95   para oír el silencio no te tapes las orejas oirás la sangre que corre por tus venas   para oír el silencio aguza los oídos escúchalo una vez y no vuelvas a oírlo   si te tapas la oreja izquierda oirás el infierno si te tapas la derecha oirás… no te digo   había una tercera oreja pero no cabía en la cara la ocultamos en el pecho y comenzó a latir   está rodeada de oscuridad es la única oreja que el aire no engaña   es la oreja que nos salva de ser sordos cuando allá arriba nos fallan las orejas. Traduções Os cães ladram à distância. Junto deles sou o único sem sonho no planeta. Ladram para mim, despertos por minha culpa. Meu estar desperto os encoleriza e sua cólera me espanta. Somos os únicos que não duvidam da redondez da terra. Os demais, os dormidos, renegaram Copérnico, por esta única vez reclinaram-se sobre um mundo plano. Por esta única vez, todas as noites. e assim amanhecem, acreditando que a terra não gira e eles dormiram em seus lauréis. Fabio Morabito