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JOAQUIM ALVES VINHAS
A IGREJA E O CONVENTO DE VILAR DE FRADES
DAS ORIGENS DA CONGREGAÇÃO DOS CÓNEGOS SECULARES DE SÃO
JOÃO EVANGELISTA (LÓIOS) À EXTINÇÃO DO CONVENTO. 1425-1834
 Não inclui o Apêndice Documental.
Barcelos
1998
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JOAQUIM ALVES VINHAS
A IGREJA E O CONVENTO DE VILAR DE FRADES
DAS ORIGENS DA CONGREGAÇÃO DOS CÓNEGOS SECULARES DE SÃO
JOÃO EVANGELISTA (LÓIOS) À EXTINÇÃO DO CONVENTO. 1425-1834
Dissertação de mestrado em História da Arte
apresentada à Faculdade de Letras da
Universidade do Porto, em 15 de Julho de 1996
Barcelos
1998
3
Aos meus familiares e amigos
4
PREFÁCIO
Ao aceitar o convite para prefaciar a obra A Igreja e o Convento de Vilar de
Frades. Das origens da Congregação dos Cónegos Seculares de São João Evangelista
(Lóios) à extinção do Convento 1425-1834, sinto a satisfação de ser dada à estampa uma
obra de merecimento que as minhas obrigações profissionais e a estima que me merece o
autor levaram que a acompanhasse passo a passo. O Convento de S. Salvador de Vilar de
Frades que tinha já merecido a atenção de alguns autores, entre os quais queremos referir
Manuel de Aguiar Barreiros (1919), Luís António de Oliveira Ramos (1965), Maria
Teresa Calheiros Figueiredo de Oliveira Ramos (1990) e Maria do Carmo Henriques de
Lancastre (1991), não havia sido objecto do estudo que merecia no contexto artístico
português. Essa tarefa foi realizada por Joaquim Alves Vinhas.
O Convento de S. Salvador de Vilar de Frades é um magnífico exemplo daquilo
que caracteriza as grandes (e por vezes pequenas) casas monásticas: repositório de estilos
como resultado da sua longa existência, do gosto e das necessidades dos que lá viveram e
moldaram a sua fisionomia. Este somatório de estilos, que nos permite uma leitura e uma
melhor compreensão do seu passado, conseguiu ultrapassar, ainda que com marcas
profundas, todas as vicissitudes que, principalmente a partir de 1834, esses edifícios
sofreram. Em poucos anos, os interesses e a ignorância levaram (e por vezes ainda levam)
à delapidação de todo um património que o passado nos legou.
Edifício beneditino desde a sua fundação até 1425, altura em que passaria para a
Congregação dos Cónegos Seculares de São João Evangelista, vai a partir do século XVI
ser alvo de profundas obras que lhe deram o aspecto que hoje apresenta e para as quais,
numa fase inicial, muito contribuiu o arcebispo de Braga D. Diogo de Sousa (1505-1532).
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A esta insigne figura e a duas suas familiares (D. Leonor de Lemos e D. Teresa de
Mendonça) ficaram os Lóios a dever uma parte da actual igreja.
Se quanto aos mecenas da nova igreja não se levantam dúvidas, o mesmo não
acontece com o responsável pelo seu projecto. Dois nomes disputam essa honra: João de
Castilho e o mestre pedreiro João Lopes. Como o autor nos esclarece, e com ele estamos
de acordo, seria ao responsável pela nova capela-mor da Sé de Braga (1509) que D.
Diogo de Sousa encomendaria o projecto da nova capela-mor da igreja do Convento de
Vilar de Frades. Assim, a traça seria de João de Castilho e a execução de João Lopes, o
que, como tivemos ocasião de referir, se terá passado com o Mosteiro de S. Bento da Ave
Maria (1518) do Porto.
Além da excelente arquitectura da igreja onde no seu interior encontramos bons
exemplares da arte da talha, da azulejaria e do estuque, na sacristia, todo o conjunto
conventual tem a mesma qualidade onde se pode encontrar a lição da tratadística, como
acontece, a título de exemplo, na portada que dá acesso ao terreiro da igreja.
Memória dos Lóios que lá viveram, memória das formas artísticas que o moldaram,
o convento de S. Salvador de Vilar de Frades está mais vivo e mais presente com o
trabalho de Joaquim Alves Vinhas.
Joaquim Jaime B. Ferreira-Alves
Faculdade de Letras. Universidade do Porto
6
NOTA PRELIMINAR
O presente projecto de investigação, focalizado na igreja e no antigo convento de Vilar
de Frades, teve o seu início no Outono de 1992, durante o primeiro curso de mestrado em
História da Arte, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Ao longo dos quatro anos que se seguiram, fomos favorecidos pela colaboração de
diversas personalidades, que muito contribuíram para o resultado final. Será pois de toda
a justiça uma palavra de gratidão.
Antes de mais, agradeçemos ao Revmº Padre Aurélio Ribeiro Soares, então pároco
de S. João de Areias de Vilar e ao sacristão Sr. Manuel Pinheiro Ferreira, que nos
receberam sempre de braços abertos aquando das nossas visitas à igreja e ao que resta do
antigo convento; ao historiador e bibliotecário barcelense, Dr. Victor Pinho, pela
disponibilidade com se sempre nos presenteou; aos funcionários dos arquivos e
bibliotecas que frequentámos no âmbito deste trabalho, especialmente ao Sr. Armando
Soares Araújo, à Sr.ª D. Maria da Costa Martins e à Sr.ª D. Leónida Rebelo Gomes,
do Arquivo Distrital de Braga, pela simpatia e empenho profissional demonstrados.
O nosso reconhecimento aos amigos e companheiros, em especial ao Luís Alexandre
Rodrigues, com quem muito dialogámos sobre a matéria em estudo; à Ana Carvalheira;
ao Manuel Pereira; ao João Manuel Fernandes, barcelense que sempre nos
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acompanhou nas visitas a Areias de Vilar, e ao Davide Barbosa, que nos deu um apoio
precioso no domínio da informática.
Uma ajuda especial veio do consagrado investigador bracarense Eduardo Pires de
Oliveira, que nos facultou informações importantes - das quais salientamos as referências
aos contratos da construção da porta da igreja e da varanda do noviciado (1), do
acrescento da capela-mor (2), do douramento do retábulo-mor e sua tribuna (3) - e da
Professora Doutora Lúcia Rosas, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, que
nos deu a conhecer a existência, na Torre do Tombo, do inventário de 1834 (4).
Ao saudoso Professor Doutor Carlos Alberto Ferreira de Almeida, que nos
orientou na escolha do tema e que muito nos ensinou, e a todos os Mestres que nos foram
desbravando caminhos e abrindo horizontes, o nosso humilde agradecimento.
À Professora Doutora Natália Marinho Ferreira-Alves, que sempre nos distinguiu
com o saber e o estímulo, a amizade e a compreensão, não podemos deixar de aproveitar
esta oportunidade para lhe prestar a nossa homenagem.
Finalmente, cabe reconhecer na pessoa do nosso orientador científico, o Professor
Doutor Joaquim Jaime B. Ferreira-Alves, uma bela expressão da solidariedade.
Um efectivo acompanhamento do nosso trabalho, uma grande abertura de espírito e de
compreensão, as sugestões metodológicas e um diálogo sempre enriquecedor, a defesa da
honestidade e do rigor científicos, constituíram lições que jamais poderemos esquecer.
Nas horas em que o desânimo espreitava, era um esteio do optimismo científico; nos
momentos mais exaltantes da nossa investigação, era o mestre comovido. Este sentido
(1) A.D.B. - Notarial de Barcelos, Lº 750, fls. 82-82v..
(2) A.D.B. - Notarial de Barcelos, Lº 760, fls. 9-10v..
(3) A.D.B. - Notarial de Barcelos, Lº 765, fls. 103v.-104v..
(4) A.N.T.T. - Arquivo Histórico do Ministério das Finanças - Cat. nº 439, Cx. 2264.
8
humanista da existência não deixou de marcar decisivamente o trabalho que agora se
apresenta a público. A tão ilustre orientador devemos o nosso trabalho!
  
Finalmente, uma palavra de agradecimento à Exª Junta de Freguesia de Areias de
Vilar. De facto, a publicação deste trabalho fica a dever-se ao empenho do seu presidente,
Senhor Domingos Lopes, patenteado na defesa, valorização e divulgação do património
arquitectónico, artístico e cultural da sua terra. O nosso muito obrigado!
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SUMÁRIO
FONTES MANUSCRITAS
PERIÓDICOS
BIBLIOGRAFIA
ABREVIATURAS E SINAIS
INTRODUÇÃO
CATÍTULO I
A CONGREGAÇÃO DOS CÓNEGOS SECULARES DE SÃO JOÃO
EVANGELISTA (LÓIOS): ORIGENS E DESENVOLVIMENTO
1. O PROBLEMA DOS ANTECEDENTES MEDIEVAIS
1.1. NOTÍCIAS DO MOSTEIRO BENEDITINO
2. GÉNESE DA CONGREGAÇÃO DOS CÓNEGOS SECULARES DE S. JOÃO
EVANGELISTA - LÓIOS
2.1. DO CONVENTO DOMINICANO DE BENFICA E DA IGREJA DOS
OLIVAIS, EM LISBOA, A SANTA MARIA DE CAMPANHÃ, NO PORTO
2.2. DO PORTO A BRAGA, O DESTINO É VILAR DE FRADES
2.3. A IMPORTÂNCIA DE MESTRE JOÃO VICENTE E DE D. FERNANDO DA
GUERRA, ARCEBISPO DE BRAGA
2.4. DAS IGREJAS ANEXAS AO CONVENTO DE VILAR
2.5. A UNIÃO DE S. MARTINHO DE MANHENTE
3. O CARÁCTER REFORMISTA DOS CÓNEGOS LÓIOS
4. CRESCIMENTO E EXPANSÃO DA CONGREGAÇÃO EVANGELISTA
10
4.1. IMPORTÂNCIA DOS BENFEITORES: ARCEBISPOS E PAPAS, NOBRES E
MONARCAS
4.2. OS CONVENTOS DA CONGREGAÇÃO EVANGELISTA: SEU CORPO DE
RELIGIOSOS
4.2.1. CONDIÇÕES DE INGRESSO NOS CONVENTOS
4.2.2. DO NOVICIADO AO SACERDÓCIO
4.2.3. AS NOVE CASAS DA CONGREGAÇÃO
CAPÍTULO II
A IGREJA E O CONVENTO DO SÉCULO XVI
1. AS OBRAS NA IGREJA
1.1. A CAPELA-MOR E O TRANSEPTO MANUELINOS
1.2. DA POBREZA DO CORPO QUINHENTISTA À MAJESTADE DA PORTADA
MANUELINA
2. AS OBRAS NO CONVENTO
2.1. O CLAUSTRO: SUA ESTRUTURA E FUNCIONALIDADE
2.2. DO CONJUNTO CONVENTUAL DE QUINHENTOS
2.3. JOÃO COELHO LOPES, MESTRE PEDREIRO DE GUIMARÃES, NAS
OBRAS DE 1593-1594
CAPÍTULO III
AS OBRAS DO SÉCULO XVII
1. REFORMA E EXPANSÃO DO CONVENTO NO PRIMEIRO QUARTEL DE
SEISCENTOS
2. A CAPELA DE NOSSA SENHORA DO SOCORRO
3. A IGREJA
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3.1. O NOVO CORPO E SEU ABOBADAMENTO: UMA OBRA DE 1620-1658
3.2. O NOVO CADEIRAL DO CORO: UMA OBRA DE ANTÓNIO JOÃO
PADILHA, MESTRE ENSAMBLADOR DO PORTO
3.3. A VARANDA DO NOVICIADO E A PORTA DA IGREJA: CONTRATO DO
MESTRE CARPINTEIRO SIMÃO ANTÓNIO, DO CONCELHO DA MAIA
3.4. A OBRA DE PEDRARIA NA CAPELA-MOR: CONTRATO DE PASCOAL
FERNANDES E JOÃO MOREIRA, MESTRES PEDREIROS DO PORTO
3.5. A TALHA DOURADA DOS FINAIS DO SÉCULO: OBRAS DE ANTÓNIO
GOMES E DOMINGOS NUNES, MESTRES ENTALHADORES DO PORTO
3.5.1. O RETÁBULO-MOR E SUA TRIBUNA
3.5.2. OS ALTARES COLATERAIS E O REVESTIMENTO DAS PAREDES DA
CAPELA-MOR
CAPÍTULO IV
OBRAS NO CONVENTO NOS INÍCIOS DO SÉC. XVIII
1. O DORMITÓRIO DA ALA SUL DO CONVENTO: CONTRATOS DE MANUEL
FERNANDES E ANDRÉ MARTINS, MESTRES PEDREIROS DO PORTO
1.2. ASSINATURA DE NOVO CONTRATO
1.3. ENVOLVIMENTO DE DOMINGOS NUNES E MANUEL MARTINS,
MESTRES DA CIDADE DO PORTO
2. A OBRA DA "EMENDA" E DA FRONTARIA CONVENTUAL
2.1. CONTRATO DE MANUEL FERNANDES DA SILVA, MESTRE PEDREIRO
RESIDENTE NA CIDADE DE BRAGA
2.2. ANTÓNIO CORREIA, MESTRE PEDREIRO DE BRAGA, PRESENTE NA
IMPREITADA DE MANUEL FERNANDES DA SILVA
3. A OBRA DE CARPINTARIA DO NOVO CONJUNTO CONVENTUAL: UMA
EMPREITADA DOS MESTRES MIGUEL MARTINS, DO PORTO E MANUEL DE
SOUSA LEMOS, DE MATOSINHOS
4. CONCLUSÃO DAS OBRAS DOS INÍCIOS DO SÉCULO XVIII
12
5. OS CHAFARIZES
5.1. O CHAFARIZ DO CLAUSTRO
5.2. O CHAFARIZ DO TERREIRO DOS CABEDAIS
CAPÍTULO V
A IGREJA DOS SÉCULOS XVIII E INÍCIOS DO SÉCULO XIX
1. A IGREJA BARROCA
1.1. O INTERIOR: REMODELAÇÃO E EMBELEZAMENTO
2. AS OBRAS DOS FINAIS DO SÉC. XVIII E INÍCIOS DO SÉC. XIX
3. REVIVALISMO MEDIEVAL NA FRONTARIA DA IGREJA
4. A IGREJA DE VILAR DE FRADES NOS FINAIS DA ÉPOCA MODERNA
4.1. A CAPELA-MOR
4.2. O CORPO DA IGREJA
4.2.1. O TRANSEPTO: ALTARES COLATERAIS E CAPELA DO SANTÍSSIMO
SACRAMENTO
4.2.2. CAPELAS LATERAIS: LADO DO EVANGELHO
4.2.3. CAPELAS LATERAIS: LADO DA EPÍSTOLA
4.3. OS METAIS PRECIOSOS: SUA IMPORTÂNCIA NA DECORAÇÃO DOS
ALTARES E NO ENRIQUECIMENTO DO CERIMONIAL LITÚRGICO
4.4. O NARTEX INTERIOR E A PORTA PRINCIPAL
4.5. O CORO
4.6. A SACRISTIA
4.7. O CLAUSTRO
4.8. DO FRONTISPÍCIO DA IGREJA
CONCLUSÃO
APÊNDICE DOCUMENTAL
13
FONTES MANUSCRITAS
1. Arquivo Distrital de Braga
1.1. Colecção dos Manuscritos
Mss. 8, 330, 924 e 1054
1.2. Fundo Monástico Conventual
L 1-82
1.3. Notarial de Barcelos
Livros 1-220, 650-711, 763, 771.
2. Arquivo Distrital de Bragança
Edital da Junta do Crédito Público - Lista 344/4-8, de 7 de Fevereiro de 1838.
3. Arquivo da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais - Direcção
Regional dos Edifícios e Monumentos do Norte
Pasta I
- C.D.B., of. 928
- c. do Arcebispo de 23-10-1943
- C.M.B., of. 383
- D.G.F.P./R.P., Proc. nº 3678, Lº 6, of. A-3487-43
Proc. nº 26, Lº 7, of. A-183-44
14
- J.P.A.M.V., c. 1931
- Ofs. nºs 11, 12, 28, 38, 61, 251, 254, 266, 297, 338, 380, 383, 388, 390, 407, 514,
568, 678, 701, 744, 769, 787, 823, 866, 898, 924, 4046
- O.S. nºs 163, 181, 258, 271, 350, 354, 380, 628, 765, 881, 1164, 1414, 2198, 2482,
2995, 3039, 3333, 3391, 3457
- P.A.P. (cinco Propostas de Ajuste Particular)
- P.V., c. 1941
- Procº nº 62, est. 1937;
est. 1944
- Rtº nº 1
4. Arquivo Distrital do Porto
Registo Paroquial de Campanhã - Lº 3 dos Mistos
5. Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Arquivo Histórico do Ministério das Finanças - Cat. nº 439, Cx. 2264, docs. 5, 8, 10 e
2345.
Índice Geographico das Cidades, Villas, e Parochias de Portugal conteudas nos 43
volumes manuscritos do Dicionário Geographico existente na Bibliotheca da Senhora
das Necessidades. Lisboa, 1832 - Vol. 41, Mc. 288.
Vilar de Frades, Convento de São Salvador - Lº 1, Cx. 1, Conv. Diversos-nº 25.
6. Biblioteca Pública Municipal do Porto
Ms. 1272 - Henrique Duarte e Sousa Reis, Apontamentos para a Historia Antiga e
Moderna da Cidade do Porto, Vol. IV, 1865.
15
PERIÓDICOS
O Comércio de Barcelos
- Ano IX, Nº 442, 21 Agosto 1898
- Ano X, Nº 509, 5 Dezembro 1899
Correio do Minho
- Ano XI, nº 3777, 4 Novembro 1938
Jornal de Barcelos
- Ano V, nº 205, 4 Fevereiro 1954
- Ano VI, nº 263, 17 Março 1955
- Ano VII, nº 309, 2 Fevereiro 1956
- Ano VIII, nº 364, 21 Fevereiro 1957
BIBLIOGRAFIA
16
ALMEIDA, Fortunato de - História da Igreja em Portugal, Vol. I, Porto, Ed.
Portucalense, s/d..
ALMEIDA, Rodrigo Vicente de - História da Arte em Portugal (segundo estudo).
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Barcelos-Revista - Anos I e II, 1909-1910.
BARREIROS, Manuel de Aguiar - A Egreja de Villar de Frades, Braga, 1919; A Portada
Românica de Vilar de Frades e o seu Simbolismo, Porto, Ed. Marques Abreu,
1920; A Catedral de Santa Maria de Braga, Braga, Edições Sólivros, 1989.
BAZIN, Germain - Reflexions sur l'origine et l'évolution du baroque dans le nord du
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BLUTEAU, Rafael - Vocalulario Portuguez e Latino, Coimbra, Tomos II e VIII, 1712-
1721.
Boletim da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, Nº l, Setembro de
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BORROMEO, Carlos - Instruccions de la Fábrica y del Ajuar Eclesiástico (Introducción,
traducción y notas de Bulmaro Reys Coria e nota preliminar de Elena Isabel
Estrada de Cerlero), México, Universidad Nacional Autónoma de México,
1985.
17
BRANDÃO, Domingos de Pinho - Obra de Talha Dourada, Ensamblagem e Pintura na
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CALADO, Margarida - Estilo Nacional, in "Dicionário da arte barroca em Portugal",
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CORREIA, Vergílio - A Arte do Ciclo Manuelino, Obras, Vol. II, Coimbra, 1949.
COSTA, Américo - Dicionário Corográfico de Portugal Continental e Insular, Vol. II,
1930.
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COSTA, Avelino de Jesus da - D. Diogo de Sousa. Novo Fundador de Braga e Grande
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CUNHA, D. Rodrigo da - Da História Eclesiástica dos Arcebispos de Braga, e dos
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18
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FERREIRA-ALVES, Joaquim Jaime B. - Aspectos da Actividade Arquitectónica no
Porto na Segunda Metade do Século XVII, in "Revista da Faculdade de Letras -
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Porto, 1988; Pascoal Fernandes, Mestre Pedreiro de Arquitectura. Alguns
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Sé de Braga", Actas do Congresso Internacional , Vol. II, Braga, 1990; As duas
Igrejas do Mosteiro de São Bento da Avé-Maria do Porto, Sep. do I Congreso
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FERREIRA-ALVES, Natália Marinho - A Arte da Talha no Porto na Época Barroca
(Artistas e Clientela. Materiais e Técnica), Documentos e Memórias para a
História do Porto - XLVII, Vols. I e II, Porto,1989; Gomes, António, in
"Dicionário da Arte Barroca em Portugal", Lisboa, Ed. Presença, 1989; A
Actividade de Pintores e Douradores em Braga nos Séculos XVII e XVIII, in "IX
Centenário da Dedicação da Sé de Braga", Actas do Congresso Internacional,
Vol. II, Braga, 1990; De Arquitecto a Entalhador. Itinerário de um Artista nos
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Séculos XVII e XVIII, in "Actas do I Congresso Internacional do Barroco", Porto,
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FERREIRA DE ALMEIDA, Carlos Alberto - A Arquitectura Românica de Entre-Douro-
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Riegl e Hoje, Sep. da «Revista da Faculdade de Letras», II série - Vol. X, Porto,
1993.
FONSECA, Teotónio da - Barcelos Aquém e Além-Cávado, (Reprodução fac-similada da
edição de 1948) Vols. I e II, Companhia Editora do Minho, Barcelos, 1987.
FREIRE, Manuel da Rocha - Relação Historica do que fizeram os moradores de
Barcellos, desde o dia em que na Villa acclamaram D. João IV, apenas sabida a
Restauração da Capital em 1 de Dezembro de 1640, até o ultimo de Janeiro de
1642 (precedida d'uma noticia geral da Villa de Barcellos, escripta pelo
Professor Pereira-Caldas), Braga, Livraria Internacional, 1871.
FREITAS, Eugénio de Andrea da Cunha e - As Lembranças de um Padre Lóio, in
"Boletim Cultural da C.M.P.", Porto, Vol. VII, 1944; O Convento Novo de Santa
Maria da Consolação (padres lóios), Documentos e Memórias para a História
do Porto - XVI, Publicação da Câmara Municipal do Porto, 1947; João de
Castilho e a sua Obra no Além-Douro, in "Colóquio", Lisboa, nº 15, 1961; Os
Mestres Biscainhos na Matriz de Vila do Conde, in "Anais da Academia
Portuguesa de História", Lisboa, II série, Vol. XI, 1961; O Mosteiro da Serra do
Pilar no Século XVI. Notas de História e de Arte, Separata de "O Tripeiro",
Porto, 1964.
Galeria das Ordens Religiosas e Militares desde a mais remota antiguidade até nossos
dias, Tomo II, Porto, 1843.
GAMA, Arnaldo - O Sargento-Mór de Vilar, vol. I, 2ª edição, 1885.
20
GODINHO, V. Magalhães - Estrutura da Antiga Sociedade Portuguesa, 4ª edição,
Lisboa, Arcádia, 1980.
GÓIS, Damião de - Chronica do Príncipe D. Joam, Rey que foi destes Reynos, Lisboa,
1724; Chronica do Serenissimo Senhor Rei D. Emanuel, Coimbra, 1790.
GONÇALVES, A. Nogueira - O Claustro do Mosteiro da Serra do Pilar na Arquitectura
Portuguesa, in "Boletim Cultural da C. M. P.", Porto, Vol. XXXI, 1968.
GOUVEIA, António Camões - O Enquadramento Pós-Tridentino e as Vivências do
Religioso, in "História de Portugal" (dir. José Mattoso), Vol. IV, Lisboa, Círculo
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GRAF, Gerbard N. - Portugal Roman, (tradução do alemão por G. Schecher), Paris,
Zodiaque, 1987.
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira - Vols. XVIII e XXIX, Lisboa-Rio de
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HESPANHA, António Manuel - O Poder Eclesiástico. Aspectos Institucionais, in
"História de Portugal" (dir. José Mattoso), Vol. IV, Lisboa, Círculo de Leitores,
1993.
História da Arte em Portugal - Vols. IV-VIII, Lisboa, Publicações Alfa, 1986.
História da Arte Portuguesa (dir. Paulo Pereira), Vols. I-III, Círculo de Leitores, 1995.
História de Portugal (dir. José Mattoso) - Vols. III e IV, Lisboa, Círculo de Leitores,
1993.
21
HOLANDA, Francisco de - Da Pintura Antiga (Introdução e notas de Angel González
Garcia), Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1983.
HORTA CORREIA, José Eduardo – A Arquitectura – Maneirismo e “estilo chão”, in
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Illustração Catholica, Ano I, Nº 18, 1913.
KUBLER, George e SORIA, Martin - Art and Architecture in Spain and Portugal and
their American dominions. 1500-1800, Penguin Books, Harmondsworth, 1959.
KUBLER, George - A Arquitectura Portuguesa Chã. Entre as Especiarias e os
Diamantes. 1521-1706, Lisboa, Ed. Vega, 1988.
LANCASTRE, Maria do Carmo Henriques de - A Igreja do Convento de Vilar de Frades
segundo as Memórias do Padre Jorge de São Paulo (1658), Separata da
Barcelos-Revista, Série II - Nº 2, Edição da Câmara Municipal de Barcelos,
1991.
LOPES, Victor Sousa - O Azulejo no século XVIII, Lisboa, Direcção-Geral da
Divulgação, 1983.
MAGALHÃES, Joaquim Romero - Grandes, Títulos e Fidalgos, in "História de
Portugal" (dir. José Mattoso), Vol. III, Lisboa, Círculo de Leitores, 1993.
MAGANO, Fernando - A Respeito e em Respeito da Congregação de Vilar de Frades - O
"Compêndio" do Padre Jorge de S. Paulo (manuscrito da Biblioteca de Braga),
in "Boletim do Centro de Estudos Humanísticos" (Anexo à Universidade do
Porto), Vol. III, Nº 1, Porto, 1956.
MARQUES, José - Os Itinerários do Arcebispo de Braga D. Fernando da Guerra (1417-
1467), Porto, 1978; O Estado dos Mosteiros Beneditinos da Arquidiocese de
22
Braga, no Século XV, Sep. da Bracara Augusta, Vol. XXXV, Braga, 1981; A
Extinção do Mosteiro de Manhente, Separata da Barcelos-Revista, Barcelos,
1985; A Arquidiocese de Braga no Século XV, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa
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ABREVIATURAS E SINAIS
ARQUIVOS
A.D.B. - Arquivo Distrital de Braga
A.D.G.E.M.N./D.R.E.M.N. - Arquivo da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos
Nacionais/Direcção Regional dos Edifícios e Monumentos do Norte
A.D.P. - Arquivo Distrital do Porto
A.H.M.F. - Arquivo Histórico do Ministério das Finanças
A.N.T.T. - Arquivo Nacional da Torre do Tombo
OUTRAS ABREVIATURAS E SINAIS
c. - carta
B.D.G.E.M.N. - Boletim da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais
Cap. - Capítulo
C.D.B. - Comissário de Desemprego de Braga
C.E.M. - Companhia Editora do Minho
Cf. - Confrontar
C.M.B. - Câmara Municipal de Barcelos
Conv. - Conventos
C.P.V. - Carta do Pároco de Vilar
Cx. - Caixa
D.G.F.P./R.P. - Direcção Geral da Fazenda Pública/Repartição do Património
dir. - direcção de
doc. - documento
docs. - documentos
Ed. - Editor, edição, edições
est. - estimativa
27
F.C.S.H.U.N.L. - Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de
Lisboa
Fig. - Figura
fl. - folio
fls. - fólios
F.L.U.P. - Faculdade de Letras da Universidade do Porto
J.P.A.M.V. - Junta da Paróquia de Areias e Madalena de Vilar
L - Lóios
Lº - Livro
Mc. - Maço
Mc. - Microfilme
Ms. - Manuscrito
Mss. - Manuscritos
Nº - Número
nº - número
nºs - números
Ob. cit. - Obra citada
of.(s) - ofício(s)
O.S. - Ordem de Serviço
p. - página
pp. - páginas
P.A.P. - Proposta de Ajuste Particular
Procº - Processo
Publ. - Publicação, publicações
Rtº - Relatório
Séc. - Século
s/fl.(s) - sem folio(s)
Seg. - Segundo
Sep. - Separata
v. - verso
Vol. - Volume
Vols. - Volumes
28
(...) - Omissão de palavra ou palavras ilegíveis no documento
[...] - Omissão de texto numa citação documental ou bibliográfica
INTRODUÇÃO
O presente estudo teve como objectivo principal, desde que o iniciámos no Outono de
1992, contribuir para um melhor conhecimento da dimensão arquitectónica e artística da
igreja e do antigo convento de Vilar de Frades, a primeira casa-mãe da Congregação dos
Cónegos Seculares de S. João Evangelista - Lóios.
As suas balizas cronológicas coincidem genericamente com a fundação e a extinção
desta Ordem Religiosa: 1425-1834.
Não nos foi possível encontrar todas as respostas para as perguntas que íamos
formulando ao longo do percurso metodológico encetado: umas suscitadas pelo trabalho
de campo realizado - foram inúmeras as visitas à igreja e ao antigo convento -, outras
pelas meias-verdades contidas em fontes manuscritas e impressas, de grande valor, aliás,
porque nos esclareceram sobre diversos aspectos da vida conventual e da mentalidade dos
religiosos.
Como base do nosso trabalho, apoiámo-nos nas fontes manuscritas do Arquivo
Distrital de Braga, designadamente em livros do Notarial de Barcelos e do Fundo
Monástico Conventual, bem como no parcialmente divulgado manuscrito de Jorge de São
Paulo, de 1658 (5); na crónica impressa em 1697, de Francisco de Santa Maria (6), que se
encontra na Biblioteca Pública Municipal do Porto; nos documentos do Arquivo Nacional
da Torre do Tombo, relacionados com o antigo convento de S. Salvador de Vilar de
Frades, particularmente o inventário do Arquivo Histórico do Ministério das Finanças, de
1834 (7); e na existência do valioso conjunto arquitectónico - ainda que maltratado pelo
tempo e pelo Homem -, tão cheio de significações históricas, religiosas e artísticas.
(5) A.D.B. - Ms. 924.
(6) SANTA MARIA, Francisco de - O Ceo Aberto na Terra. História das Sagradas Congregações dos
Cónegos Seculares de S. Jorge em Alga de Veneza e de S. João Evangelista em Portugal, Lisboa, 1697.
(7) A.N.T.T. - Arquivo Histórico do Ministério das Finanças, Cat. nº 439, Cx. 2264, doc. 8.
29
Das dezenas de incursões à igreja e ao convento, ficou-nos uma consciência radical da
importância do diálogo directo com os edifícios (8), durante as diferentes fases do seu
estudo.
Da observação e análise dos vestígios materiais ao sentir o lugar da implantação do
conjunto arquitectónico, emergiu uma melhor compreensão do nosso objecto de
investigação e do sentido frequentemente subjectivo dos testemunhos: os cónegos que
escreveram as memórias da Congregação (9) não se cansaram de proclamar a casa de
Vilar de Frades como uma das mais celebres e famosas, quer da região de Entre-Douro-e-
Minho quer de Portugal (10), realçando a monumentalidade arquitectónica e artística da
igreja, mas também a beleza natural do sítio - um "genius loci" especial onde os primeiros
padres lóios (sobre as ruínas da memória dos antigos frades bentos) exprimiram o seu
desejo de independência frente aos arcebispos de Braga, a sua sede de grandeza e de
glória, o seu destino de religiosos famosos, enfim a essência ideológica dos cónegos
seculares evangelistas.
No sopé do monte Airó, junto à margem esquerda do Cávado, o conjunto
arquitectónico da igreja e do convento de Vilar de Frades marcou definitivamente S. João
(8) Só a leitura visual dos edifícios, confrontada com os registos documentais e bibliográficos, nos
permite uma compreensão plena de certas fissuras e cicatrizes que ocorrem no decurso das construções
arquitectónicas, sobretudo nos conjuntos conventuais, cujas obras estão muitas vezes condicionadas pelo
pulsar económico dos encomendadores.
(9) Uma boa parte do que hoje sabemos acerca dos lóios deve-se, sem dúvida, às obras de Jorge de S.
Paulo (1658) e de Francisco de Santa Maria (1697).
(10) "Hum convento admiravel e magestozo mui celebre na provincia de Entre Douro e Minho, e muito
mais nomeado e de maior fama em os mais de Portugal" - A.D.B. - Ms. 924, fl. 335.
A duas léguas a Ocidente de Braga e a pouco mais de meia para Oriente de Barcelos, "nas fraldas da
serra, ou monte de Ayrò, a pouca distancia do rio Homem, & Cavado, està fundado o convento de Villar,
em sitio o mais alegre, & aprasivel, que póde formar a naturesa, & idear a imaginação. Apparecem no
circuito do convento dilatados campos, nos quaes, a qualquer parte, que se lance a vista, tem muito por
onde se estender, & muito em que se divertir: jà no crystallino das aguas, jà na verdura, e louçanìa das
plãtas, jà no ameno, & frondoso das devesas, compostas de castanheiros, & carvalhos [...] A cerca, &
tapado se dilatão na circunferencia do convento quasi huma legoa, povoada de infinitas arvores [...] Na
cerca ha muitas ruas de parreiras, ciprestes, buxos, platanos, murta, & de todo o outro genero de arvores,
que servem com as sombras para o fresco, com os fruttos para o gosto, com as flores para o olfato, & com
a verde, & inquieta confusão das folhas, & dos ramos para o agrado, & delicia dos olhos. He aqui por
extremo deliciosa em seus tempos a suave armonia dos passarinhos, a cuja musica serve de fundamento o
ruìdoso susurro de huma ribeyra, que atravessa pelo meyo da cerca, com outras fontes, de cuja agua se
alimenta huma dilatada, & fecundissima horta.
Em differentes lugares da mesma cerca ha cappelinhas de varios Santos, cousa muy perfeita, de
conchas, & pedrinhas refulgentes, dispostas com admiravel artificio, & brincadas com engenhoso primor:
a do Presepio he singular entre todas pela valentia, & propriedade das figuras" - SANTA MARIA,
Francisco de - Ob. cit., pp. 373-374.
30
de Areias, dando-lhe uma feição peculiar, histórica, estética e cultural, de inegável
riqueza e que urge conservar.
As qualidades do lugar são elogiadas por toda a bibliografia, depois dos relatos
apaixonados dos cronistas. Ora, como é sabido, o sítio desempenha um papel
fundamental na implantação da arquitectura e, "sem dúvida que um qualquer monumento
arquitectónico marca o lugar onde está implantado, recriando íntimas relações com o
sítio. A sua envolvência faz parte da sua memória histórica e estética" (11).
Sobre a importância do lugar, escreveu Norberg-Schulz:
"Depuis le début des temps, l´homme s'est rendu compte que le fait
de crier un lieu signifie exprimer l'essence de l'être.
L'univers artificiel dans lequel il vit n'est pas seulement un
instrument pratique, ou le résultat d'événements arbitraires, mais il
possède une struture et il incarne des significations qui reflètent sa
manière de ressentir le milieu naturel et la situation existentielle en
géneral" (12).
Ao iniciarmos esta empresa, estávamos conscientes das dificuldades que poderíamos
encontrar, decorrentes da falta de documentos, gerando vazios e angústias.
Inevitavelmente a nossa acção foi dificultada, quer pela escassez de documentos
escritos, quer pela ausência completa de traças ou plantas das obras empreendidas no
quase permanente estaleiro de Vilar de Frades.
Consequentemente, abundam os lapsos de tempo sem memória escrita, sem registos,
sem contratos, sem os nomes dos arquitectos ou mestres pedreiros (13) e dos oficiais e
aprendizes, sem as exigências dos encomendadores.
(11) FERREIRA DE ALMEIDA, Carlos Alberto - Património - Riegl e Hoje, Sep. da «Revista da
Faculdade de Letras», II série, Vol. X, Porto, 1993, p. 410.
(12) NORBERG-SCHULZ, Christian - Genius Loci. Paysage-Ambience-Architecture, Bruxelles, Pierre
Mardaga Éditeur, 1981, p. 50.
(13) É nítida a desvalorização social daqueles que riscaram ou dirigiram as obras (já para não falarmos do
pessoal menos qualificado), pois muito raramente os cronistas registam os nomes dos artistas nas suas
crónicas, cuja finalidade da escrita é destacar a acção despesista de determinados reitores e protectores do
convento e a sobrevalorização da sua igreja.
31
Frequentemente deparámos com os registos de uma memória fantasiada, sobretudo
pela mão dos cronistas particularmente preocupados com enaltecer os feitos dos seus
heróis e dos reitores que mais embelezaram a igreja e enriqueceram o seu convento (14).
Acresce que nem sempre a organização e funcionamento dos arquivos foram factores
facilitadores da investigação. O registo notarial de Barcelos, do Arquivo Distrital de
Braga, encontrava-se deficientemente organizado... dezenas e dezenas de livros do
cartório do extinto convento de Vilar de Frades estavamo espalhados entre as muitas
centenas de exemplares dos vários tabeliães barcelenses. Tanto mais que o que resta do
antigo cartório do convento, disseminado nos fundos notarial e monástico referidos, não
nos fornece a memória completa atinente ao cabal esclarecimento do nosso objecto de
estudo.
Oxalá o futuro possa completar a história arquitectónica e artística da igreja e do
convento de Vilar de Frades que, necessariamente, fica incompleta.
(14) Tivemos sempre o cuidado de tentar distinguir quando os cronistas falavam verdade e quando se
deixavam conduzir pelos esquemas mentais inerentes às suas crenças e às reminiscências da crise religiosa
32
CATÍTULO I
A CONGREGAÇÃO DOS CÓNEGOS SECULARES DE SÃO
JOÃO EVANGELISTA (LÓIOS): ORIGENS E
DESENVOLVIMENTO
que atravessou o século XVI e se projectou no século XVII.
33
FOTO 1
Pormenor do pórtico da igreja românica (adaptação dos inícios
do séc. XIX)
1. O PROBLEMA DOS ANTECEDENTES MEDIEVAIS
Os vestígios da igreja românica de Vilar de Frades, patentes na chamada "torre velha"
(localizada no lado sul da fachada), geraram divergências entre estudiosos e historiadores
de arte (15), quer porque se desconhece, com precisão, a data da sua edificação, quer
porque as adaptações revivalistas dos inícios do século XIX vieram perturbar um olhar
atento e sereno sobre o que resta, possivelmente, dos finais do século XII.
Categórico, o cónego Aguiar Barreiros afirmava em 1919:
"Do que não resta a menor dúvida é de que o portico romanico e
bem assim a primeira archivolta, com as columnas
correspondentes, da janella que lhe fica por cima [...] pertencem ao
seculo XII (presumivelmente aos primeiros annos do reinado de D.
Sancho I) e acusam um estreito parentesco com a portada principal
da Sé de Braga, ficando a favor da portada romanica de Villar, se
não as proporções, ao menos a execução, que pode chamar-se
(15) "Les avis, il est vrai, divergent considérablement, e les dates avancées vont de 1070 au début du
XIIIe siécle. Toutefois, en prenant comme point de repère l'attribution du couto par Sancho Iº (1185-
1211) et en compte des caractéristiques des éléments conservés, qui en font une oeuvre de stlyle roman
avancé, on pourrait considérer le dernier quart du XIIe siècle comme période probable de sa réalisation" -
GRAF, Gerard N. - Portugal Roman, (tradução do alemão por G. Schecher), Paris, Zodiaque, 1987, p.
325.
34
primorosa, e para a qual, apesar dos retoques posteriores, não
concorreu sómente a melhor qualidade da pedra" (16).
Em 1964, o professor Oliveira Ramos defendia que o que restava da primitiva igreja
românica deveria datar do segundo quartel do século XII (17).
Já em 1978, dizia o professor Ferreira de Almeida que o portal de Vilar de Frades, tal
como pode ser observado, “constitui uma adaptação da época românica, como a sua
arcada interior bem mostra [...] possivelmente não são originais algumas impostas" (18). E
acrescentava: "Temos também dúvidas sobre a adaptação da janela alta que aí vemos"
(19).
Não estando completamente ultrapassados os problemas que impedem uma datação
rigorosa, hoje é praticamente certo que, tanto o portal como a janela (20) do antigo
mosteiro beneditino, foram (re)construídos nos inícios do século XIX, aquando das obras
aí realizadas a partir de 1804-1805, data em que o reitor Martinho José de Almeida "deu
inicio a frontaria da igreja" (21).
1.1. NOTÍCIAS DO MOSTEIRO BENEDITINO
(16) BARREIROS, Manuel de Aguiar - A Egreja de Villar de Frades, Porto, Edição Marques de
Abreu, 1919, p. 9.
Informa este autor que, "disseminados pelas hortas e ruinas do Convento encontram-se ainda alguns
capiteis e bases romanicas" - Idem, Ibidem (nota 4).
(17) OLIVEIRA RAMOS, Luís A. de - Uma Arcatura Historiada de Vilar de Frades, Sep. das Actas do
III Colóquio Portuense de Arqueologia, Porto, 1965, p. 6.
(18) FERREIRA DE ALMEIDA, Carlos Alberto - A Arquitectura Românica de Entre-Douro-e-Minho,
Vol. II, Tese de doutoramento apresentada na F.L.U.P, Porto, 1978, p. 150.
(19) Idem, Ibidem.
(20) Admitimos a hipótese desta janela ter como base a reutilização de pedras do possível portal lateral,
que comunicava com o claustro medievo. Quanto ao antigo pórtico axial, é sabido que houve adaptações
nas arquivoltas, nos inícios do século XIX.
(21) A.D.B. - Ms. 924, fl. 780.
35
A inexistência de vestígios materiais anteriores ao período românico e a escassez de
fontes escritas (22), têm impedido os investigadores de descerem às origens do mosteiro
beneditino de Vilar de Frades. Data de 1059 a mais antiga referência que se conhece (23),
embora tenha sido divulgada uma lendária carta do beneditino frei Drumário que,
segundo frei Leão de São Tomás, teria sido escrita em 7 de Outubro de 571, missiva que
dataria a fundação do mosteiro de S. Bento, por S. Martinho de Dume, em 566 (24).
Ao mergulhar a fundação dos mosteiros beneditinos na conturbada Alta Idade Média,
frei Leão de São Tomás põe em relevo o papel de S. Martinho de Dume, prelado da Igreja
de Braga entre 570-583 (25):
"Huma carta de hum Monje nosso chamado Frey Drumario escrita
por nome Frey Frontano, e lançada naquelle livro antigo do
Mosteyro de Pedroso, donde o nosso padre Frey João do Apocalipse
per sua mão propria a copiou, cuja copia tenho em meu poder entre
outras memorias suas, na qual falando o dito Monje de S. Martinho
Dumiense diz assim:
«Fructo ventris sui, posuerunt Deus, e Sanctissimus Pater Noster
Benedictus supra sedes suas. Monasterium scilicet Dumiense,
Antoniuum, Victorium, Tibanense, Villare, Vargense, Magnetense
[...]» - Do fruto de S. Martinho puserão Deus e Nosso Pai
Santissimo S. Bento tantos filhos seus nos mosteiros de Dume,
Antonino, Vitorino, Tibanense, Vilar, Vargense, Manhetense" (26).
(22) Para além de escassas, as fontes de que dispomos não nos permitem um olhar seguro sobre a
fundação do antigo cenóbio de S. Bento.
(23) MARQUES, José - A Arquidiocese de Braga no Século XV, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da
Moeda, 1988, p. 652.
Cf. MATOS, Sebastião - Areias de Vilar. Das suas origens, Sep. da Barcelos Revista, Nº 2 - série II,
Edição da Câmara Municipal de Barcelos, 1985, p. 4.
(24) SÃO TOMÁS, Frei Leão de - Benedictina Lusitana, Tomo I, p. 358v..
(25) A.D.B. - Ms. 1054, fl. 21.
Cf. SENNA FREITAS, Bernardino José de - Memorias de Braga Contendo Muitos e Interessantes
Escriptos Extrahidos e Recopilados de Differentes Archivos, Tomo I, Braga, Imprensa Catholica, 1890,
pp. 80 e 83.
(26) SÃO TOMÁS, Frei Leão de - Ob. cit., p. 358v..
D. Rodrigo da Cunha (arcebispo de Braga em 1627-1635), legou-nos sobre o assunto o seguinte
registo: "Vargense, Magnatense, forão a principio mosteiros, e ambos fundados por S. Martinho; o
primeiro se chamou S. Bento da Varsea, uma legoa de Barcellos: he hoje Igreja parochial unida ao
mosteiro de Villar de Frades, por renuncia, que delle fez o Abbade Vasco Roîz chantre desta Sé varão de
muita virtude, e santos exemplos, foi dos primeiros Conegos Regulares (sic), que neste Reino florescerão,
36
Foi provavelmente o conhecimento que tinha desta carta (caso ela tenha realmente
existido), ou seguindo a sua suposta publicação na obra de frei Leão de São Tomás, que
Jorge de São Paulo (27) defendeu em 1658 (28), que o mosteiro de Vilar de Frades
estivera sob a Regra de S. Bento desde 566 (29) até 714, altura em que este antigo cenóbio
teria sido destruído pelas invasões muçulmanas (30).
A investida destruidora dos mouros teria provocado o desaparecimento dos vestígios
materiais, apagando os testemunhos da existência do mosteiro beneditino anterior aos
inícios do século VIII (31).
Uma vez reconstruído o velho conjunto monasterial, nele voltará a imperar a Ordem
beneditina, entre 1070 e 1425 (32).
A reconstrução dos séculos XI-XIII ter-se-á devido à acção de nobres locais,
designadamente de D. Godinho Viegas e seus descendentes, que se destacaram na luta
pela Reconquista Cristã e pela Independência de Portugal, ao lado dos primeiros
viveo no reinado de Dom Affonso o Quinto, e em Villar de Frades está sepultado. São Martinho de
Manhente se unio tãbem no mesmo tempo, pello mesmo Arcebispo Dom Fernando da Guerra a Villar de
Frades: era então abbadia secular, e nesta fórma persevera hoje, com seu vigairo, que administra os
Sacramentos aos freiguezes: dista pouco espaço do mesmo mosteiro" - CUNHA, Dom Rodrigo da - Da
Historia Ecclesiastica dos Arcebispos de Braga e dos Santos Varões Ilustres, que florescerão neste
Arcebispado. 1634, Braga, 1989, pp. 319-320.
(27) Cronista da Congregação dos Cónegos Seculares de São João Evangelista, vulgo Lóios, Jorge de São
Paulo nasceu em Lisboa, filho de Felicio Rodrigues e Catarina Carvalho e no século tinha o nome de
Jorge de Carvalho - SÃO PAULO, Jorge de - História da Rainha D. Leonor e da fundação do hospital
das Caldas, Lisboa, Tipografia da Empresa Nacional de Publicidade, 1928, p. 7.
Jorge de Carvalho, tendo "a idade competente entrou na Congregação em 3 de Julho de 1609; e foi
noviço nesta Caza de Villar de Frades. Ja contava 6 annos de habito, quando no de 1615 foi mandado para
o curso de Filozofia, que na caza de Arraiolos leo o padre mestre Manoel da Ascenção" - MAGANO,
Fernando - A respeito e em respeito da congregação de Vilar de Frades - O "Compêndio" do padre Jorge
de S. Paulo (manuscrito da Biblioteca de Braga), in "Boletim do Centro de Estudos Humanísticos"
(Anexo à Universidade do Porto), Vol. III, Nº 1, Porto, 1956, p. 10.
(28) Na sua obra manuscrita, depositada no Arquivo Distrital de Braga: "Epílogo e compendio da origem
da Congregação de Sam Joam Evangelista e do nacimento, vida e morte dos seus três fundadores. Da
dundaçam dos nove conventos, das suas rendas; encargos; e prelados; e dos onze hospitaes da sua
administração; e de outras memorias, composto e escrito pello padre mestreJorge de Sam Paulo sendo
geral o reverendissimo padre Manoel da Madre de Deos, ambos naturaes da cidade de Lisboa corte del
rei Dom João quarto felecissimo restaurador deste reino de Portugal. 1658" - A.D.B. - Ms. 924 .
(29) Ano da suposta fundação, por S. Martinho de Dume - A.D.B. - Ms. 924, fl. 306.
(30) Idem, Ibidem.
(31) "Arruinado pellos mouros sem vestigios de mosteiro - 356 annos. Des o anno de 714 ate o de 1070" -
Idem, Ibidem.
(32) Idem, Ibidem.
37
monarcas, de quem recebem em troca determinados favores e privilégios, entre os quais a
elevação do mosteiro a terra coutada (33).
Aparentemente preocupado com a verdade histórica, mas não menos em afirmar a
qualidade e a antiguidade do sítio religioso do convento de Vilar de Frades, Jorge de São
Paulo, "revolvendo o cartorio deste convento de Villar" (34), encontrou uma "memoria"
do (re)fundador do mosteiro beneditino (no século XII), que integrou na sua crónica, não
deixando no entanto de "dar credito à carta de frei Drumario" (35), para datar a primitiva
fundação na segunda metade do século VI:
"Revolvendo o cartorio deste convento de Villar achei huma
memoria que diz primeiro fundador, e reformador do mosteiro de
São Salvador de Villar foi D. Pero Salvadores, e sua mulher Sancha
Martins, o qual foi fidalgo da caza del rei D. Sancho 1º, e ahi jazem
sepultados. Esta memoria devia ter fundamento em o dito rei D.
Sancho na era de Cezar de 1210, e na de Christo de 1172 coutar ao
convento de Villar por fazer merce a D. Pedro Salvadores e a sua
mulher D. Sancha Martins pello muito serviço que fizera a el rei D.
Afonso Henriques seu pai" (36).
Porém, acrescenta o cronista:
"Quem fez a memoria totalmente se enganou pois hemos dar
credito à carta de frei Drumario na nova fundação pello bispo de
(33) "As concessões de coutos, frequentes entre os séculos IX e XIII como expressão clássica do regime
senhorial (e a que correspondem, além-Pirenéus, as cartas de imunidade), implicavam, como privilégio
mais importante, a proibição de entrada de funcionários régios (juizes, meirinhos, mordomos, etc.) na
terra coutada. Além disso, escusavam-se, em geral, os seus moradores de cumprir serviço militar no
exército do rei, de solver tributos pecuniários ou braçais ao monarca, de pagar multas aplicadas ao fisco,
etc." - OLIVEIRA MARQUES, A. H. de - Couto, in Dicionário da História de Portugal (dir. Joel Serrão),
Vol II, Porto, Livraria Figueirinhas, 1989, p. 225.
(34) A.D.B. - Ms. 924, fl. 307.
(35) Idem, Ibidem.
(36) Idem, Ibidem.
38
Dume São Martinho pellos annos de Christo de 566 (37) e ao infante
D. Pedro pella reedificação por D. Godinho Viegas pellos annos de
Christo de 1070 [...] o que me parece he que este convento de Villar
quando hera governado pellos abbades de São Bento depois da
reedificação tinhão seus padroeiros sucessivos; e o primeiro como
reedificador foi D. Godinho Viegas a que socederão seus filhos no
padroado e netos que seria este D. Pedro Salvadores que por seus
particulares serviços feitos a el rei D. Afonso Henriques pederia em
satisfação a el rei D. Sancho seu filho lhe coutasse o dito convento
de Villar, como consta da carta referida" (38).
A mãe deste protector, Dona Gotinha, filha de D. Nuno e Dona Adosinda (39), terá
contribuída para o crescimento económico do convento, ao fazer-lhe a doação de uma
propriedade rústica de Santiago de Encourados, nos inícios do séc. XII:
"Attendendo à obra pia e santa que tinha feito seu filho quiz
tambem accrecentar a renda do restaurado convento com lhe fazer
doação de huma herdade que possuia em Encourados pellos annos
de Christo de 1104" (40).
A propósito da reedificação dos antigos mosteiros beneditinos medievais, havia dito
frei Leão de São Tomás que:
"No que toca ao de S. Bento da Varzea destruido na entrada dos
Mouros em Hespanha, reedificousse pellos annos de Christo mil e
tantos (sic) por hum fidalgo daquelle tempo chamado Dom Soeyro
Guedes sogro de D. Godinhos Viegas o que reedificou Villar de
(37) Sebastião Matos chama a atenção para o facto desta datação carecer de provas documentais, "pois
nem elementos escritos, nem quaisquer outros vestígios nos permitem concluir por tal antiguidade" -
MATOS, Sebastião, - Ob. cit., p. 2.
(38) A.D.B. - Ms. 924, fl. 307.
Cf. SÃO TOMÁS, Frei Leão de - Ob. cit., p. 406.
Cf. SANTA MARIA, Francisco de - Ob. cit., pp. 362-364.
(39) A.D.B. - Ms. 924, fl. 307.
39
Frades, e irmão de D. Troicozendo Guedes, o que fundou Paço de
Sousa. E ambos elles filhos de D. Guido Arnaldes, e netos de D.
Arnaldo de Bayão, segundo affirma o conde D. Pedro em seu
nobiliario titulo 42" (41).
Apoiados na tradição - que muito valorizamos, mas que nem sempre constitui
certificado de certeza -, o manuscrito de Jorge de São Paulo e toda a bibliografia
tradicional, fizeram recuar até à segunda metade do século VI a fundação do mosteiro de
S. Bento.
No último terço do século XIX, Arnaldo Gama reflecte na literatura o legado da
tradição escrita e oral:
"A primitiva fundação do mosteiro de Villar data, segundo dizem,
da segunda metade do século VI; mas foi sómente desde os
principios do século XV que pertenceu aos padres loyos, os quaes,
apossando-se d'elle, architectaram sobre o acanhado e mesquinho
cenóbio, que os beneditinos tinham abandonado, o magestoso
edificio que ainda hoje se levanta n'aquelle local. D'esta epoca é que
data tambem a sua celebridade. Desde então o mosteiro de Villar
foi sempre tido em conta de um dos mais famosos do Minho. E com
justiça o era, não só em razão da magestade do edificio e do
pittoresco do sitio, mas, e sobretudo, em respeito das grandes
riquezas que possuia, e dos vastos dominios que senhoreava" (42).
Destinados a escrever as primeiras páginas da história multissecular da Congregação
dos Cónegos Seculares de São João Evangelista, no primeiro convento sito na antiga
freguesia de S. Salvador de Vilar de Frades (43), os religiosos que ali estacionaram a
(40) "A qual doação refiro aqui por antiquissima, e por se considerar o latim macarronico uzado nas
escrituras daquelle tempo" - Idem, fl. 306.
(41) SÃO TOMÁS, Frei Leão de - Ob. cit., p. 406.
(42) GAMA, Arnaldo - O Sargento-Mór de Villar, Vol. I, 2ª edição, Porto, 1885, p. 10.
(43) Posteriormente, a fusão das 3 freguesias - Santa Maria Madalena de Vilar, S. João Baptista de Areias
de Vilar e S. Salvador de Vilar de Frades - resultou na que mantém o nome de S. João de Areias de Vilar -
Cf. FONSECA, Teotónio da - O Concelho de Barcelos Aquém e Além-Cávado, (Reprodução fac-similada
da edição de 1948), Vol. II, Barcelos, Companhia Editora do Minho, 1987, pp.27-29.
40
partir de 1425 - no contexto da reforma pastoral e monástica de D. Fernando da Guerra -,
herdaram toda a riqueza espiritual (a riqueza material, como veremos, era reduzida) do
longínquo passado beneditino.
Dirigimos o nosso olhar - interrogado, para não dizer desconfiado -, sobre o passado
opaco do mosteiro medieval, cuja fundação pertenceria ao século de S. Martinho de
Dume, pelo respeito que nos merece a tradição... que também pode falar verdade (44).
O MOSTEIRO BENEDITINO DE VILAR DE FRADES: 665-1425 (45)
DATA FACTOS PROTAGONISTAS
566 Fundação S. Martinho, bispo de Dume.
1070 Reconstrução D. Godinho Viegas - descendente de D.
Arnaldo de Baião.
1104 Ampliação (em terras) D. Gotinha – parente de D. Godinho Viegas
1172 Carta de couto
D. Sancho I - a pedido de D. Pedro
Salvadores, descendente de D. Godinho
Viegas.
1302
Doação do padroado e
jurisdição, a D. Geraldo
bispo do Porto.
D. Beringeira Aires - "sendo Herdeira e
padroeira de vários conventos, entre os
quais o de Vilar de Frades, doou em 12 de
Agosto de 1302 o padroado e jurisdição
que tinha sobre este a D. Geraldo, bispo do
Porto".
1400 Passagem a "abadia
secular, sob o padroado
do Arcebispo de Braga".
Arcebispo D. Martinho Afonso Pires.
Cf. MATOS, Sebastião - Ob. cit., pp. 7 e 9.
(44) Não estamos em condições de provar, nem contestar, tal antiguidade.
(45) Cf. FONSECA, Teotónio da - Ob. cit., pp. 29-30.
41
1425 Entrega do mosteiro ao
mestre João Vicente.
D. Fernando da Guerra, arcebispo de Braga
e João Vicente, futuro bispo de Lamego e de
Viseu.
2. GÉNESE DA CONGREGAÇÃO DOS CÓNEGOS SECULARES DE S. JOÃO
EVANGELISTA - LÓIOS
Os primitivos membros da nova instituição religiosa, bem depressa conhecidos por
Bons Homens de Villar (46), baptizaram-na como Congregação dos Cónegos Seculares de
S. Salvador de Vilar de Frades (47), designação que permanecerá até 1461, altura em que
esta nomenclatura será alterada, devido à influência da rainha Dona Isabel e à sua
particular devoção por S. João Evangelista, que fez com que o Pontífice Pio II ordenasse
um novo título: Congregação dos Conegos Seculares de S. João Evangelista (48).
FOTO 2
Parte superior da portada de acesso ao “terreiro dos cabedais”
do convento, com a imagem de S. João Evangelista (séc.
XVII).
(46) "Em quanto aos nomes com que esta Congregação foi, & he conhecida em Portugal; o primeiro que
teve foi o dos Bons Homens de Villar, antonomasia, a toda a luz, gloriosa, da qual se fiserão dignos os
nossos Conegos, & a logràrão por muitos annos, pela virtuosa, exemplar, & santa vida, em que florecèrão
nos seus principios. Achãose ainda hoje muitas doações, & testamentos, nos quaes muitas pessoas de
authoridade, & supposição: Deixam [dizem] aos Bons homens de Villar, tal, ou tal propriedade" -
SANTA MARIA, Francisco de - O Ceo Aberto na Terra, Lisboa, 1697, p. 235.
(47) Idem, Ibidem.
Ver LANCASTRE, Maria do Carmo Henriques de - A Igreja do Convento de Vilar de Frades
segundo as Memórias do Padre Jorge de São Paulo (1658), Sep. da Barcelos Revista, Nº 2 - série II,
Edição da Câmara Municipal de Barcelos, 1991, pp. 169-170.
(48) "Depoes pela devoção, que a Rainha D. Isabel, mulher de D. Affonso V insigne protectora nossa,
teve ao Evãgelista, ordenou o Põtifice Pio II à instancia del-Rey D.Affonso V [que pedio esta graça por
contemplação, & respeito da Rainha sua mulher] que se chamasse de S. João Evãgelista, & este he o seu
proprio nome: Congregação dos Conegos Seculares de S. João Evãgelista" - SANTA MARIA, Francisco
de - Ob. cit., p. 235.
42
Todavia, viria a designar-se por Ordem dos Lóios, com a transferência da sede para
Lisboa, em Santo Elói, vindo tal designação popular a merecer o seguinte reparo de
Francisco de Santa Maria: "por abuso he chamada de S. Eloy, costume vulgar deste
reyno, dar às religiões o titulo derivado de algum principal mosteyro" (49).
Por outro lado, os lóios eram também conhecidos por Cónegos Azúis "derivando-se a
estravagancia deste appellido, da singularidade da cor do habito" (50).
Fundada em 1425 sobre as ruínas do antigo mosteiro beneditino de Vilar de Frades, a
Congregação dos Cónegos Seculares de São João Evangelista viria a implantar-se em
várias regiões do território nacional (51), ao longo do século XV e inícios do século XVI,
sob o apoio e protecção de papas e de arcebispos bracarenses (a quem os padres se vão
opor, sempre que os seus direitos e interesses estiverem ameaçados), mas também de
nobres e monarcas.
Como teremos ocasião de verificar, estes cónegos evangelistas, orgulhosos da sua
casa-mãe sita em Vilar de Frades, contam antes de mais com a protecção da Santa Sé e a
benignidade dos arcebispos de Braga, que os beneficiam através da anexação de 13
igrejas à de S. Salvador de Vilar de Frades, entre 1425 e 1510.
Atente-se desde já no seguinte apontamento:
"O nome de Santo Eloi lhe rezultou da caza que tem na corte de
Lisboa; o de Evangelista, he por que tomarão a S. João
Evangelista por seu protector, e o seu verdadeiro instituidor e
fundador foi S. Lourenço Justiniano. Foi este Sancto o primeiro
que se chamou patriarca de Veneza. Tambem o chamão
fundador da Congregação dos conegos nominados de S. Jorge de
Alga de quem somarão o nome os assima ditos. Entrarão, estes
padres neste arcebispado no tempo do arcebispo D. Fernando,
que lhes deu a caza e antigo mosteiro de Villar de Frades, que
inda hoje possuem, e he huma respeitavel collegiada: o seu reitor
(49) Idem, Ibidem.
(50) Idem, p. 236.
(51) Designadamente no Porto, Vila da Feira, Lamego, Coimbra, Lisboa e Évora.
43
elleito em capitulo geral vem colar-se pelo arcebispo
bracharense, e fazer profição da fé e fica paroco de treze igrejas,
cujas curas provê e lhe dá cartas annuais" (52).
FOTO 3
Parte superior do portal do “terreiro da igreja”, com a imagem
de S. Lourenço Justiniano (séc. XVII)
2.1. DO CONVENTO DOMINICANO DE BENFICA E DA IGREJA DOS OLIVAIS,
EM LISBOA, A SANTA MARIA DE CAMPANHÃ, NO PORTO
Preocupados com a "relaxação grãde a que se via lastimosamente redusida a ordem
sacerdotal" (53), cerca de 1420, o mestre João Vicente e os seus companheiros Martim
Lourenço e Afonso Nogueira (54) reuniam-se em casa de Lourenço Anes, prior da igreja
de S. Julião, "outro sacerdote, douto, e virtuoso" (55), onde em conjunto reflectiam sobre
as causas da decadência social e religiosa em geral e do clero em particular (56).
As dificuldades da governação no reinado de D. Fernando, as perturbações políticas e
sociais que se seguiram após a sua morte e as guerras entre Portugal e Castela, enfim a
crise socio-política e militar de 1383-1385 terá estado na origem da corrupção e
dissolução do clero, que deixou de respeitar as "obrigações da sua dignidade, sendo
(52) A.D.B. - Ms. 340, fl. 1v..
(53) SANTA MARIA, Francisco de, Ob. cit., p.209.
Ver LANCASTRE, Maria do Carmo Henriques de - Ob. cit., pp. 171-172.
Ver FERREIRA, Mons. José Augusto - Ob. cit., p. 266
(54) "O primeiro catedrático de Medicina na universidade de Lisboa, o segundo doutor graduado na
sagrada Teologia da mesma universidade, o terceiro graduado também em um, e outro Direito pelo
universidade de Bolonha" - SANTA MARIA, Francisco de, Ob. cit., p.209.
Estes três "illustres sacerdotes propunham-se fazer na ordem clerical uma reforma profunda,
acompanhando, assim, o pensamento organizador de D. João I, na ordem política" - FERREIRA, Mons.
José Augusto - Fastos Episcopaes da Igreja Primacial de Braga (século III - século XX), Tomo II, Braga,
Ed. da Mitra Bracarense, 1930, p. 266.
Cf. LANCASTRE, Maria do Carmo Henriques de - Ob. cit., pp. 170-173.
(55) SANTA MARIA, Ob. cit., p. 209.
(56) Idem, pp. 209-210.
44
géralmente cada Clerigo hum vivo escandalo dos seculares: era lastimosa em quasi todos
a ignorancia, sem reparo a devacidao, & sem freyo a soltura da vida" (57).
Foi neste contexto socio-religioso e psicológico que João Vicente se retirou do século
e vestiu o hábito dominicano no convento de Benfica, animado da vontade de reformar o
clero "em huma nova Congregação" (58).
Este ímpeto reformista encontrou eco entre os companheiros Martim Lourenço e
Afonso Nogueira, que acompanharam o mestre João Vicente, vindo a ser secundados
pelos irmãos Lourenço Anes e João Anes, por João Rodrigues e Rodrigo Amado (que
deixa o hospital de Santo Elói), Afonso Pedro e Martim João, e rapidamente surgiu a
oferta de acolhimento na igreja de Nossa Senhora dos Olivais, pelo prior dela, que cedeu
igualmente uma casa "para em huma, & outra começarem o novo modo de vida" (59).
Nesta igreja experimentaram os religiosos uma vida comunitária, mendicante e
assistencial, dando especial atenção à humildade e à pregação, à penitência e à confissão,
às rezas e orações (60), com evidentes reflexos, segundo Francisco de Santa Maria, nos
diferentes grupos sociais, incluindo a família real (61).
Entretanto, nem tudo estaria a correr bem nos Olivais já que, por obra "do espirito
maligno", o prior da igreja deu ordem de saída aos religiosos que abrigara, o que
constituiu uma ameaça aos progressos dos congregacionistas: João Anes refugia-se do
mundo na serra de Ossa, onde levará uma vida de ermitão até à morte; Lourenço Anes
regressa à sua igreja de São Julião; Rodrigo Amado volta para o hospital de Santo Elói;
Afonso Pedro e Martim João regressaram, enfim, às suas antigas ocupações (62).
Os restantes, porém, irmanados pelo mesmo espírito de reforma e sob a direcção
espiritual de João Vicente, procuram no norte do país o abrigo e a protecção que lhes
faltou no sul.
(57) Idem, p. 210.
(58) Idem, pp. 210-211.
(59) Idem, p. 213.
(60) Especialmente Martim Lourenço ter-se-á celebrado "no pulpito", sem pretensões de fama, nem
"applauso, mas só a conversão do auditorio" - Idem, p. 214.
(61) "Tambem o Mestre João vinha muitas vezes a Lisboa, e ao Palacio por ordem del-Rei, e dos
Infantes", os quais descobriam no religioso dupla utilidade - "porque se de antes era medico dos córpos,
agora com mais alta medicina, curava não menos douta, que piedosamente, as enfermidades d'alma" -
Idem, p. 214.
(62) Idem, p. 215.
45
Foi na igreja de Nossa Senhora de Campanhã, no tempo em que é bispo do Porto D.
Vasco II, entre 1421-1423 (63), que estacionaram os quatro "resistentes" dos Olivais:
Martim Lourenço, Afonso Nogueira, João Rodrigues e o mestre João Vicente (64).
Nesta igreja continuaram os religiosos a obra iniciada na capital: uma vida
comunitária e mendicante, de reza e oração, de pregação doutrinal pelas ruas e praças da
cidade do Porto, confessando os pecadores - "tudo com summo fervor" (65).
Um facto novo veio no entanto perturbar o projecto que poderia irradiar a partir da
cidade invicta. Sendo o bispo do Porto D. Vasco transferido para o bispado de Évora, os
quatro religiosos encontraram a oposição do abade que os tinha acolhido.
Consequentemente, o grupo dos quatro foi obrigado a "evacuar a Igreja de Campanhã por
ordem do Abbade, que, tendo-a cedido em attenção ao Bispo, reconsiderara depois da sua
ausencia" (66).
FOTO/GRAV. 4
Mestre João Vicente, fundador da Congregação dos Cónegos
Seculares de S. João Evangelista (futuro bispo de Lamego e
de Viseu)
2.2. DO PORTO A BRAGA, O DESTINO É VILAR DE FRADES
Acompanhado de João Rodrigues, o médico e mestre João Vicente desloca-se à cidade
de Braga onde é recebido por D. Fernando da Guerra, "o qual tambem lhe era muito
(63) FERREIRA, Mons. José Augusto - Ob. cit., p. 266.
D. Vasco "devia muito" ao mestre João Vicente, desde o tempo em que este "o havia curado de huma
enfermidade perigosa, no tempo que ambos assistião na Corte" - SANTA MARIA, Francisco de - Ob. cit.,
p. 215.
(64) SANTA MARIA, Francisco de - Ob. cit., p. 215.
(65) Idem, Ibidem.
(66) FERREIRA, Monsenhor Cónego José Augusto - Ob. cit., p. 266.
"D. Vasco offereceu-lhes agasalho em Evora; porém os padres preferiram Braga, onde o Arcebispo
D. Fernando da Guerra lhes deu Villar de Frades no concelho de Barcellos" - Idem, Ibidem.
É neste contexto que, desanimados, Martim Lourenço e Afonso Nogueira regressam a Lisboa,
deixando a promessa de voltarem quando "se achasse morada segura", enquanto o mestre João Vicente
46
obrigado, porque (da sorte que ao Bispo Dom Vasco) sobre huma grande enfermidade lhe
havia ministrado a saude" (67), prometendo ao seu ilustre hóspede a primeira igreja que
vagasse:
"Vagou pouco depoes a de S. Salvador de Villar de Frades,
mosteyro, que fora de religiosos do grande Patriarca S. Bento, &
que ao presente estava destituido de todo o genero de observancia
regular; o Arcebispo lhe mandou, que a fosse ver, segurando, que o
proveria nella, em caso que lhe contentasse. Achou o Mestre João
humas pobres casas, ou chóças, & huma pequena Igreja, tudo em
tal estado, que tinha mais de ruina, que de edificio. Não havia alli
outra renda, senão os poucos frutos, que davão os passaes visinhos,
nem havia na circunferencia (pela muita pobresa da terra) quem
pudesse dar esmola; socorro com que em outras partes supprirão a
falta da renda; tudo isto erão dificuldades, que se oppunhão, e
atravessavão aos intentos, e desejos do varão de Deos; mas elle
superiormente illustrado, entendeo, que naquelle sitio era o Senhor
servido, que a nova Congregação se fundasse, & firme neste
pensamento, declarou ao Arcebispo, que aceitava a Igreja, na qual
logo foi colado" (68).
Reportando-se a um "breve tratado" do padre Paulo (69), escrito em 1468, sobre as
origens da Ordem evangelista (70), Jorge de São Paulo relata-nos como mestre João foi a
Vilar de Frades, a mando do arcebispo D. Fernando da Guerra, "per ver se hera sitio e
conveniente pera fundar a sua nova Congregação" (71).
busca na cidade dos arcebispos o apoio indispensável à fundação da nova Congregação - Cf. SANTA
MARIA, Francisco de - Ob. cit., pp. 216-217.
(67) Idem, Ibidem.
A.D.B. - Ms. 924, fl. 331.
(68) SANTA MARIA, Francisco de - Ob. cit., pp. 217-218.
(69) Julgamos tratar-se do cónego que nos aparece como reitor entre 1472-1477 e 1480 - Cf. Lista dos
Reitores do Convento de Vilar de Frades..., no final deste Capítulo.
(70) Ver LANCASTRE, Maria do Carmo Henriques de - Ob. cit., p. 199.
(71) Idem, Ibidem.
47
João Vicente terá encontrado o antigo mosteiro bento "mui dannificado com a claustra
velhissima que servia de corte de gado [...] e as mais officinas arrazadas" (72), enquanto a
igreja funcionava como celeiro e adega, tal era o abandono em que se encontrava, pelo
que "de todo o edificio antigo nada ficou aos nossos padres para morada sua do que huas
cellas terres, e a igreja velha" (73).
2.3. A IMPORTÂNCIA DE MESTRE JOÃO VICENTE E DE D. FERNANDO DA
GUERRA, ARCEBISPO DE BRAGA
As origens deste novo instituto devem-se à vontade e à acção persistente de três
homens de elevada cultura e espírito religioso reformista: mestre João Vicente, Martim
Lourenço e Afonso Nogueira (74).
Mestre João Vicente (1380-1463), natural de Lisboa, distinguiu-se como lente de
Medicina na Universidade da capital e como médico da corte de D. João I. Tendo cursado
em Filosofia e completado o curso de Teologia, viria a ser nomeado bispo das dioceses de
Lamego e de Viseu, para além de empreender a reforma da Ordem de Cristo (75).
Martim Lourenço (1403-1446) era também natural da mesma cidade. Foi doutor pela
sua Universidade, onde se tornou amigo do mestre João Vicente. Martim Lourenço terá
acompanhado o infante D. Fernando (de quem seria confessor) e a infanta D. Isabel, na
(72) Idem, Ibidem..
(73) Idem, Ibidem
Sobre este assunto, Santa Maria escreve em 1697: "Os dormitorios, & officinas estavão no chão,
sendo agora acervo, o que fora edificio: A cerca, & horta estavão cõvertidas em mato, & finalmente a
Igreja, destinada para o culto divino, servia de abrigo ao gado, sem haver alli outra cousa boa, mais que o
sitio. Neste estado estava o convento [ou não estava, porque só se via o cadaver do que fora] quando o
Arcebispo Dom Fernando da Guerra o deu ao veneravel Mestre João" - SANTA MARIA, Francisco de -
Ob. cit., p. 369.
(74) Cf. LANCASTRE, Maria do Carmo Henriques de - Ob. cit., pp. 170-171.
Cf. FONSECA, Teotónio da - Ob. cit., pp. 30-31.
Cf. CASTRO, João Baptista de - Mappa de Potugal, Tomo III, Lisboa, 1747, pp. 145-150.
Cf. SANTA MARIA, Francisco de - Ob. cit., pp. 217-218.
(75) LANCASTRE, Maria do Carmo Henriques de - Ob. cit., pp. 170-1771.
Sobre a biografia de mestre João Vicente ver SANTA MARIA, Francisco de - Ob. cit., pp.551-611
Cf. CORREIA, Fernando da Silva - Um notável médico conselheiro do Infante D. Henrique, in
"Actas do Congresso Internacional de História dos Descobrimentos", Vol. III, Lisboa, 1961, pp. 57-58 e
64.
48
viagem à Borgonha, aquando do casamento desta princesa com o duque Filipe. Mas este
religioso ter-se-á igualmente destacado como eminente pregador (76).
Por seu lado, Afonso Nogueira doutorou-se "in utroque jure" pela Universidade de
Bolonha. Foi a este futuro prelado de Lisboa e de Coimbra que coube a tarefa de trazer a
Regra e o hábito azul dos Cónegos de S. Jorge em Alga (Veneza), que foram adoptados
pelos padres de Vilar, havendo sido o responsável pelas negociações que levaram à
confirmação da nova Congregação pela Santa Sé, através de uma bula do papa Eugénio
IV, datada de 20 de Janeiro de 1431 (77).
Mas a fundação da nova Ordem religiosa deveu-se, fundamentalmente, ao papel
desempenhado pelo mestre João Vicente, que para o efeito se dirigiu ao paço bracarense
em busca de apoios, e por D. Fernando da Guerra (arcebispo de Braga entre 1417-1467),
que acolheu o religioso e lhe entregou a igreja do mosteiro de S. Bento de Vilar de
Frades, no ano de 1425 (78).
Após a entrega desta igreja ao mestre João Vicente, e com a concordância do Cabido
da sua Sé, D. Fernando da Guerra anexou-lhe a igreja do mosteiro de S. Bento da Várzea,
sob determinadas condições, entre as quais a subordinação dos reitores aos arcebispos de
Braga, traduzida na emissão de um competente título de confirmação do cargo, após a sua
eleição pelos religiosos reunidos em Capítulo Geral (79).
Porém, na primeira oportunidade (80), os cónegos de Vilar de Frades pugnarão pela sua
autonomia, fazendo valer os seus interesses e influências: tanto em Roma, junto da Santa
Sé, como em Lisboa, junto da corte régia e junto do conde de Barcelos, vindo a enfrentar
(76) LANCASTRE, Maria do Carmo Henriques de - Ob. cit., p. 171.
Cf. SANTA MARIA, Francisco de - Ob. cit., pp. 611-638.
(77) LANCASTRE, Maria do Carmo Henriques de - Ob. cit., pp. 171 e 177.
Cf. OLIVEIRA RAMOS, Luís A. de - Uma Arcatura Historiada de Vilar de Frades, Sep. das Actas
do III Colóquio Portuense de Arqueologia, Porto, 1965, p. 8.
(78) A entrega da igreja do mosteiro beneditino de Vilar de Frades, ao mestre João Vicente, verificou-se a
28 de fevereiro de 1425, quando o arcebispo D. Fernando da Guerra "iniciou por aí a visita às paróquias
do termo de Barcelos, que se prolongou durante cerca de um mês", no quadro da reforma religiosa então
empreendida - MARQUES, José, O Estado dos Mosteiros Beneditinos da Arquidiocese de Braga, no
século XV, Separata da "Bracara Augusta", Vol. XXXV, Braga, 1981, pp. 28-29.
(79) FERREIRA, Mons. José Augusto - Fastos Episcopaes da Igreja Primacial de Braga (século III -
século XX), Tomo II, Braga, Ed. da Mitra Bracarense, 1930, p. 267.
(80) João Vicente diligenciou junto da Santa Sé o apoio indispensável à criação da nova Ordem, vindo a
obter dos papas Martinho V e Eugénio IV "a confirmação da sua Congregação ad instar da de S. Jorge de
Alga em Veneza, e os privilegios de S. Jorge e de S. Jeronimo, conferidos pela Bulla Injunctum nobis,
expedida em 18 de Maio de 1431" - Idem, p. 268.
49
o arcebispo (81), com o qual "padecerão" muitos incómodos, "com tantos litigios
teimozos induzidos mais da enveja do seu arcediago e da paixão do seu Cabido, do que
do seu benigno e pio animo" (82).
As veleidades independentistas manifestadas pelos padres constituíram uma afronta ao
prelado da Arquidiocese de Braga, pois os "Conegos azues de Villar fizeram-se
vermelhos, e enveredaram pelo caminho da ingratidão" (83), no quadro de uma luta que
ganhou contornos políticos (84), ao arrastarem para a contenda não apenas a Santa Sé (85),
mas também o monarca D. Afonso V e o duque de Bragança e conde de Barcelos D.
Afonso.
Enquanto vai favorecendo, paradoxalmente, o convento e a sua igreja (anexando-lhe
várias igrejas das redondezas), D. Fernando da Guerra recorre a demandas e ameaças
contra os padres, produz sentenças, alimentando uma longa batalha jurídica pela
manutenção dos seus poderes em toda a extensão do seu senhorio eclesiástico.
No ano de 1461 D. Fernando conseguirá, enfim, vergar os já poderosos cónegos de
Vilar de Frades:
"Afinal em 29 de Abril de 1461 lavrou-se um instrumento, pelo
qual se mostra ter sido dada posse do Mosteiro de Villar de Frades
ao Arcebispo D. Fernando da Guerra, que confirmou em Reitor
João de Nazareth, eleito pela Communidade, e absolveu os
Religiosos das censuras, em que tinham incorrido, por não
(81) "As questões não foram só com D. Fernando da Guerra e com D. Luiz Pires, mas tambem com D.
Diogo de Sousa e até com D. Fr. Bartholomeu dos Martyres" - Idem, p. 267
(82) A.D.B. - Ms. 924, fl. 350.
Reconhece o cronista que D. Fernando da Guerra foi um "mui grande bemfeitor", já que beneficiou
generosamente o convento de Vilar de Frades "primeira cabeça da Congregação unindo-lhe nove igrejas"
que, com os cerca de 10 passais do antigo mosteiro de S. Bento, "rendem hum anno por outro tres mil
cruzados" - Idem, Ibidem.
(83) "Porém tiveram de sustentar com D. Fernando da Guerra, bisneto del Rei D. Pedro I, uma lucta que
durou vinte annos, e no fim submeteram-se" - FERREIRA, Mons. José Augusto - Ob. cit., p. 269.
(84) O poderio do arcebispo chocava com o "grande potentado" do duque de Bragança, D. Afonso, cujo
domínio senhorial se estendia a todos os lugares e vilas da arquidiocese, exceptuando-se as de Ponte de
Lima e de Valença - Cf. FERREIRA, Mons. José Augusto -, ob. cit., p. 270
(85) Cf. FERREIRA, Mons. José Augusto - Ob. cit., pp. 269-270.
50
quererem obedecer á Sentença apostolica contra elles proferida"
(86).
Ficava, pois, definitivamente traçado o futuro da relação institucional de dependência
dos reitores de Vilar de Frades aos arcebispos de Braga, dependência que os reitores
tentarão mitigar ao longo dos séculos seguintes (87).
A obediência ao prelado de Braga não se revestia de um acto meramente formal, antes
devendo manifestar-se num conjunto de atitudes e comportamentos, devidamente
regulados:
"O dito senhor arcebispo, e seus sucessores visitarão a dita igreja
de Villar de Frades, e suas anexas cada ano por si ou por seus
vizitadores, como vizita todos os seos beneficios [...] e o dito reitor e
coneguos virão ao Sínodo, e guardarão, e comprirão as
Constituiçoins Sinodais e vizitaçoins que farão o senhor arcebispo,
e sucessores, e vizitadores forem feitas assi como dito he do dito
colegio, e igreja de Villar, assi tão bem pagarão as anexas [...] e se
alguma das igrejas anexas ao dito colegio, e igreja de Villar vier a
ser de todo despovoada de freguezes, os conegos da dita caza, e
colegio de Villar de Frades não serão teudos de pagar os emcargos
della" (88).
A confirmação do cargo de reitor do convento não deixava de constituir uma condição
fundamental, na medida em que o cónego escolhido para o desempenho da função, em
reunião do Capítulo Geral, tinha de aguardar pela decisão do prelado de Braga.
(86) FERREIRA, Mons. José Augusto de - Ob. cit., p. 270.
"Depois d'isto parecia estar tudo acabado; todavia os Conegos de Villar discutiram ainda as custas do
pleito, as quaes foram obrigados a pagar, em virtude da sentença executorial do Auditor apostolico, dada
em Roma aos 25 de Setembro de 1461" - Idem, Ibidem.
(87) Com efeito, a existência de uma série de documentos do século XVIII (treslados e originais), vem
demonstrar-nos a permanência, desde o século XV, de conflitos entre os padres de Vilar e os arcebispos,
relacionados com a apresentação e jurisdição de certas igrejas, como a de S. Miguel de Gemeses e a de Stª
Marinha de Rio Tinto - A.D.B. - Fundo Monástico Conventual, L 16.
(88) A.D.B. - Fundo Monástico Conventual, L 12, 110v..
51
Em 1563, o Geral dos lóios Diogo da Ressurreição, escreve a D. Frei Bartolomeu dos
Mártires (arcebispo em 1559-1590) a pedir a confirmação de Diogo da Purificação como
reitor do convento de Vilar:
"Dioguo da Resureição reitor Geral da Congregação de São
Evangelista (sic) com os padres definidores do Capitulo que se hora
celebrar na nossa casa de São João da cidade de Evora fazemos
saber a vosa reverendissima santidade como no sobredito Capitulo
foi enleito canonicamente ho padre Dioguo da Purificação em reitor
da casa de Vilar de Frades. Apresentamo-lo a vosa reverendissima
santidade pera o que conforme segundo a composição dantre vosa
reverendissima santidade e ha sobredita casa no que receberemos
merce. Noso Senhor conserve sua reverendissima pessoa pera lhe
sempre fazer muito serviço como lhe faz. Feita na sobredita casa de
São João da cidade de Evora e aselada do selo da sobredita
Congregação e asinada per mim aos doze dias de Junho de 1563
annos" (89).
Em 10 de Setembro do mesmo ano, o arcebispo responde ao Geral, investindo o reitor
eleito nas suas funções:
"Reverendissimo Senhor.
Vista a eleiçam do padre reitor Geral e mais padres da
Congregaçam de Sam Joam Evangelista, a confirmamos e
approvamos, e damos por reitor da casa de Vilar de Frades ao
padre Diogo da Purificaçam, e o investimos na dita reitoria per
imposiçam de barrete cometendo-lhe o regimento espiritual com as
mais obrigações deste officio. E pella presente avemos por
prorogada a provisão que o anno passado mandamos passar neste
caso ao dito padre Diogo da Purificaçam, e que serve della ate o
(89) A.D.B. - Fundo Monástico Conventual, L 12, fl. 106.
52
Penthecoste que bem. Dada em Sam Frutuoso aos dez de Setembro
Francisco de Faria a fez de 1563. O arcebispo primas" (90)
Não obstante as dificuldades de relacionamento motivadas pelo ideal de autonomia
dos padres de Vilar, foi a D. Fernando da Guerra que se deveu a fundação desta nova
Congregação, considerada uma "comunidade de tipo novo" (91), dada a sua natureza
secular.
Como defende o professor José Marques, a Ordem dos Lóios "só conseguiu sobreviver
na arquidiocese de Braga, após os fracassos sofridos em Lisboa e no Porto" (92). Por
conseguinte, em Areias de Vilar nasceu e sobreviveu, com dificuldades mas também com
momentos de glória, o convento de S. Salvador de Vilar de Frades – primeira casa
religiosa dos cónegos seculares evangelistas –, até à data da sua extinção em 1834.
2.4. DAS IGREJAS ANEXAS AO CONVENTO DE VILAR
Para além de entregar a igreja de Vilar de Frades, que havia sido reduzida a igreja
secular (93), D. Fernando da Guerra anexou ao seu convento várias igrejas (94), "e muitas
(90) Idem, Ibidem.
(91) MARQUES, José - D. Fernando da Guerra, Prelado Reformador do Século XV, Sep. dos «Anais», II
série, Vol. 33, Lisboa, Academia Portuguesa da História, 1993, p. 56.
(92) Idem, Ibidem.
Cf. MARQUES, José - Os Itinerários do Arcebispo de Braga D. Fernando da Guerra (1417-1467),
Porto, 1978, p. 31.
(93) FERREIRA, Monsenhor José Augusto - Ob. cit., p. 267.
A redução da igreja beneditina à condição de igreja secular integra-se no quadro de uma reforma
monástica empreendida por D. Fernando da Guerra. Neste contexto, segundo o professor José Marques,
quando o arcebispo "reconhecia que as hipóteses de recuperação" das igrejas monásticas "se tinham
esgotado, não hesitava em proceder à sua extinção canónica, convertendo-os em igrejas paroquiais [...].
Foi através deste processo que os vinte e seis mosteiros beneditinos ficaram reduzidos a treze, sendo
apenas um feminino, e os agostinhos passaram de dezoito para onze" - MARQUES, José - D. Fernando
da Guerra, Prelado Reformador do Século XV, Sep. dos «Anais», II série, Vol. 33, Lisboa, Academia
Portuguesa da História, 1993, p. 56.
(94) De imediato anexou-lhe a igreja de S. Bento da Várzea, "com certas obrigações, especialmente que
seriam os Reitores, eleitos pelos Religiosos, confirmados pelos Arcebispos, que lhes passariam titulo,
pagando de obediencia apenas um real de prata" - FERREIRA, Monsenhor José Augusto - Ob. cit., p.
267.
53
mais annexara se se não quebrara o fio da sua affeição" (95) pelos padres a quem
beneficiou, na sequência de prolongadas demandas movidas pelo arcebispo para pôr
termo ao projecto autonomista dos fundadores da nova Ordem religiosa.
Com efeito, depois de unir em 1425 a igreja e o seu mosteiro de S. Bento da Várzea
ao convento de Vilar de Frades, D. Fernando da Guerra procede a um conjunto de
anexações de igrejas, parecendo ignorar o conflito que desde cedo o opõe aos cónegos
(96).
Antes de mais anexa a igreja de Santa Maria Madalena, que estivera ligada ao antigo
mosteiro beneditino de Vilar mas que havia sido reduzida a abadia secular na sequência
do seu abandono por parte dos monges bentos (97).
Com a renovada união desta igreja ao convento de Vilar, em 1426, o arcebispo ordena
"aos moradores do dito sitio da Madalena a serem freguezes do reformado convento, e
que nelle pagassem os dizimos e primicias" (98). Mais tarde, em 1441, D. Fernando
redigirá nova carta de união, devido a ter-se perdido a de 1426 (99).
Em 1439, D. Fernando da Guerra estabelece uma concordata com o convento, para
tentar "sojeitar os nossos padres à sua obediencia renunciando os seus privilegios da
izenção dos ordinarios" (100). O cronista defende que o arcebispo tentou "contentar" os
padres, ao unir ao seu convento a igreja de S. João de Areias de Vilar "em qualquer
tempo que vagasse ou por morte, ou por rennuncia do abbade que actualmente a possuia"
(101). Acto contínuo, sendo Afonso Anes abade da igreja de Areias de Vilar, logo a ela
renunciou e "se meteo religioso" do convento (102).
Cf. SENNA FREITAS, Bernardino José de - Ob. cit., Tomo IV, pp. 207-208.
Cf. Apêndice Documental, doc. VI.
(95) A.D.B. - Ms. 924, fl. 331.
(96) Para além das 9 igrejas que o prelado anexa ao convento da nova Congregação, nele incorporou o
"mosteiro dos padres Bentos de que não tiverão os nossos padres lucro algum mais que os passaes e a
maior parte delles herão terras incultas e baldias, e por industria nossa são hoje passaes de muita
consideração em tapadas, devezas, vignago" e, num gesto de gratidão, Jorge de São Paulo acrescenta:
"ainda no tempo das controversias não reparou em annexar e consentir na permutação de tantas igrejas, e
assi podemos affirmar nos deu de renda annual hum anno por outro hum conto de reis" - A.D.B. - Ms.
924, fl. 335.
(97) Idem, fl. 333.
Sobre a dependência da Madalena ao antigo mosteiro beneditino e a sua anexação a Vilar de Frades,
ver MATOS, Sebastião - Ob. cit., p. 7.
(98) A.D.B. - Ms. 924, fl. 333.
(99) "E porque se perdeo a carta da união o dito arcebispo a annexou de novo em 4 de Setembro de 1441.
Rende 50 mil reis" - Idem, fl. 334.
(100) Idem, fl. 333.
(101) Idem, fl. 333.
(102) Idem, fl. 333.
54
Mas para que não perdesse a jurisdição eclesiástica sobre o convento, D. Fernando da
Guerra terá utilizado na carta de união a seguinte fórmula: "annexamos à nossa igreja
collegiada de Villar de Frades" (103).
A de Maio do referido ano de 1439, o mesmo arcebispo terá anexado ao convento de
Vilar "fosse per obitum ou por renuncia" (104) a igreja de S. Romão de Fonte Coberta,
com as suas duas anexas, respectivamente S. Salvador e S. João de Silveiros, que distam
duas léguas do convento (105).
No entanto, aos 20 de Dezembro de 1441, talvez porque os padres as desejariam mais
próximas, trocaram estas três igrejas por duas outras - a de S. Pedro de Adães, que fica a
sul mas junto de Areias de Vilar e a de Algoso (106). Esta, por sua vez, será permutada
com a de Santiago de Encourados (107).
Nesta mesma data terá sido igualmente anexada a igreja de Santa Maria de Moure,
na sequência do pedido dos padres "porque na troca com as duas igrejas de Adães, e de
Encourados achavão os padres ficavão lezos se permutassem quatro igrejas por duas"
(108), atendendo a que Santa Maria de Moure estava anexada à de S. Romão (109). A
posse destas igrejas ter-se-á verificado em 1442 (110).
Corria ainda o ano de 1441, D. Fernando da Guerra anexava a igreja de Santa
Leocádia da Pedra Furada, localizada a duas léguas (lado poente) do convento (111).
Esta igreja fora padroado de S. Salvador da Várzea, "insolidum sem alternativa com outro
padroado" (112) e vagou no mês de Janeiro de 1441(113). Por consequência, "como o
convento de Villar em aquelles principios tinha lemitada renda, e as igrejas annexas
estavão deminutas por falta de lavradores freguezes que as guerras e pestes tinhão
consomido" (114), os religiosos pediram ao arcebispo que "houvesse por bem annexalla",
o que terá acontecido no mesmo ano (115).
(103) Idem, fl. 333.
(104) Idem, fl. 334.
(105) Idem, fl. 334.
(106) Idem, fl. 334.
(107) Idem, fl. 334.
(108) Idem, fl. 334.
(109) Idem, fl. 334.
(110) Idem, fl. 334.
(111) Idem, fl. 335.
(112) Idem, fl. 335.
(113) Idem, fl. 335.
(114) Idem, fl. 335.
(115) Idem, fl. 335.
55
Em 1445 foi a vez da igreja de S. Jorge de Airó e a sua anexa S. Martinho serem
unidas ao convento de Vilar de Frades, pelo mesmo prelado de Braga (116).
A igreja de S. Vicente de Areias, abacial de reduzida renda, terá sido anexada em 14
de Maio de 1458, por D. Fernando da Guerra, à igreja do mosteiro de Manhente, que
havia sido reduzida a abadia secular (117), no âmbito da reforma pastoral e monástica
empreendida na Arquidiocese (118).
Por conseguinte, quando a polémica anexação da igreja de Manhente é resolvida em
1480, por D. Luís Pires, a igreja de S. Vicente passará igualmente para a posse dos padres
de Vilar.
No ano de 1466, uma nova permuta, devidamente autorizada pelo prelado bracarense,
levou os cónegos de Vilar de Frades à entrega de três igrejas - S. Romão de Fonte Coberta
e suas anexas S. Salvador e S. João de Silveiros -, enquanto tomavam definitivamente
posse das circunvizinhas igrejas de S. Pedro de Adães e Santiago de Encourados:
"Ficou o convento de Villar com as duas igrejas de S. Pedro de
Adães, e Sam Tiago de Encourados por troca de São Romão de
Fonte Cuberta e São Salvador, e São João de Silveiros suas
annexas, a qual troca e união se fez em 28 de Junho de 1466. Por
maneira que deo o convento tres igrejas por duas ficando perdendo
alguns cem mil reis; porque São Romão, e as duas anexas estão
reduzidas à huma commenda de Christo que rende 300 mil reis
alem dos 20 reis da fabrica, e 40 mil reis do reitor e 20 mil reis para
os dous curas das annexas, e assi duas igrejas rendem 231 mil reis"
(119).
D. Luís Pires (arcebispo entre 1467-1480), será o responsável pela anexação da igreja
de Santa Maria de Góis, na sequência da renúncia do seu abade, Diogo Anes que -
(116) Idem, fl. 335.
(117) Idem, fls. 355-356.
A redução a abadia secular da igreja do mosteiro beneditino de S. Martinho de Manhente data de
1403 - Cf. FONSECA, Teotónio da - Ob. cit., p. 289.
(118) Cf. MARQUES, José - D Fernando da Guerra, Prelado Reformador do Século XV, pp. 55-59.
O cronista salientou o desinteresse do arcebispo, devido a esta igreja possuir uma pequena renda, e
o facto do seu abade Vasco Lourenço necessitar de internamento em Braga, por ter sido contagiado de
lepra - A.D.B. - Ms. 924, fl. 336.
56
"como hera devotissimo dos nossos padres e desejava recolherse com elles querendo
passar o resto da vida em mais apertado serviço de Deus" (120) -, a entregou nas mãos do
arcebispo em 1480, "em favor deste convento" (121), pelo que o chefe da igreja de Braga
procedeu de imediato à sua união "e della tomou posse o padre Paulo no mesmo anno"
(122).
Quanto à igreja de Manhente, sendo a sua jurisdição aparentemente confiada ao reitor
de Vilar pelo papa Nicolau V, através de uma bula de 1448 (e outra de confirmação, em
1450), a sua tomada de posse ter-se-á verificado, efectivamente, em 1480, após o
reconhecimento do documento pontifício pelo novo arcebispo, D. Luís Pires.
Sobre a anexação da igreja de S. Melião de Mariz, vejamos como os padres de Vilar
não recusavam entrar no jogo dos negócios eclesiásticos, fazendo valer os seus interesses,
junto das mais altas instâncias.
Estando o cardeal "Alpedrinha" D. Jorge da Costa, em Roma, e tendo falecido o abade
de S. Melião de Mariz, os cónegos de Vilar propuseram ao prelado a união desta igreja ao
seu convento (123). Aparentemente, o cardeal recusou o pedido formulado e colou na
referida igreja o abade João dos Santos, pela bula de 20 de Abril de 1507 (124).
Atentos aos seus interesses, os conventuais fizeram eleger em Capítulo João dos
Santos como reitor de Vilar, que renunciará a sua igreja, logicamente, a favor do seu
convento.
Para convencer o papa, João dos Santos argumentou as constantes despesas com os
peregrinos e romeiros, que se dirigiam para Santiago de Compustela:
"Sendo este padre abbade de São Melião foi eleito em reitor de
Villar, e renunciou a igreja nas mãos do dito papa Julio 2º em favor
do convento de Villar allegando as muitas despezas que o convento
(119) A.D.B. - Ms. 924, fl. 334.
(120) Idem, fl. 340.
(121) Idem, fl. 340.
(122) Idem, fl. 340.
(123) Idem, fl. 341.
(124) Idem, fl. 341.
57
fazia com os continuos peregrinos e romeiros de Santiago de Galiza
[...] o papa a unio no anno de 1510" (125).
Em síntese, remata Jorge de São Paulo:
"Com esta ultima igreja de São Melião de Mariz dei noticia das
treze que se anexarão e unirão a este soberano convento de Villar
em varios tempos - nove pello arcebispo Dom Fernando da Guerra;
duas de Manhente e Sam Vicente, pelo Papa Nicolao 5º; huma pello
arcebispo Luis Pires; e esta ultima pello Summo Pontifice Julio 2º"
(126).
Assim, entre 1425 e 1510, os cónegos de Vilar de Frades logram a união de 13 igrejas
ao seu convento, duas delas com mosteiro (S. Bento da Várzea e S. Martinho de
Manhente), passando a beneficiar das suas rendas e da influência directa e indirecta sobre
os fregueses, por força da jurisdição temporal e espiritual, ainda que o reitor continuasse a
depender da confirmação do arcebispo de Braga.
IGREJAS ANEXADAS AO CONVENTO DE VILAR DE FRADES, SEGUNDO
JORGE DE S. PAULO (127)
DATA ARCEBISPOS E PAPAS IGREJAS
1425 D. Fernando da Guerra S. Bento da Várzea
1426 D. Fernando da Guerra Santa Maria Madalena
(125) Idem, fl. 341.
(126) Idem, fl. 341.
(127) Idem, fls. 331-341.
Cf. SANTA MARIA, Francisco de - Ob. cit., pp. 399-400.
Cf. SENNA FREITAS, Bernardino José de - Ob. cit., p. 207.
58
1439 D. Fernando da Guerra S. João de Areias de Vilar
1441 D. Fernando da Guerra Santa Leocádia de Pedra Furada
1441 D. Fernando da Guerra Santa Maria de Moure
1445 D. Fernando da Guerra S. Jorge de Airó
1445 D. Fernando da Guerra S. Martinho de Airó
1448 Papa Nicolau V S.Martinho de Manhente (128)
1458 D. Fernando da Guerra S. Vicente de Areias
1458 D. Fernando da Guerra S. Pedro de Adães
1466 D. Fernando da Guerra Santiago de Encourados
1480 D. Luís Pires Santa Maria de Góis
1510 Papa Júlio II S. Melião de Mariz
2.5. A UNIÃO DE S. MARTINHO DE MANHENTE
A insuficiência das rendas e os reduzidos proventos dos dízimos auferidos das
primeiras igrejas anexas, juntamente com o facto de aos padres de Vilar não convir o
recurso à mendicidade, por serem cónegos (129), terão feito com que a rainha D. Isabel
(mulher de D. Afonso V) dirigisse à Santa Sé uma súplica, em nome desta "rezão cabal
de pobreza do convento" (130), para que fosse incorporada na casa de Vilar de Frades
mais uma igreja do arcebispado de Braga.
D. Isabel terá alegado ainda a falta de meios materiais "para sostentarem o numero de
religiosos convenientes para o serviço do choro, e do altar" (131), em conformidade com a
grandeza e dignidade da casa evangelista.
(128) Como adiante referiremos, embora a primeira bula da união tenha sido passada em 1448, a serem
verdadeiros os factos narrados, os padres de Vilar apenas tomarão posse da igreja de S. Martinho de
Manhente e do seu mosteiro em 1480.
(129) A.D.B. - Ms. 924, fls. 336-337.
(130) Idem, fl. 337.
(131) Idem, fl. 337.
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  • 1. JOAQUIM ALVES VINHAS A IGREJA E O CONVENTO DE VILAR DE FRADES DAS ORIGENS DA CONGREGAÇÃO DOS CÓNEGOS SECULARES DE SÃO JOÃO EVANGELISTA (LÓIOS) À EXTINÇÃO DO CONVENTO. 1425-1834  Não inclui o Apêndice Documental. Barcelos 1998
  • 2. 2 JOAQUIM ALVES VINHAS A IGREJA E O CONVENTO DE VILAR DE FRADES DAS ORIGENS DA CONGREGAÇÃO DOS CÓNEGOS SECULARES DE SÃO JOÃO EVANGELISTA (LÓIOS) À EXTINÇÃO DO CONVENTO. 1425-1834 Dissertação de mestrado em História da Arte apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto, em 15 de Julho de 1996 Barcelos 1998
  • 4. 4 PREFÁCIO Ao aceitar o convite para prefaciar a obra A Igreja e o Convento de Vilar de Frades. Das origens da Congregação dos Cónegos Seculares de São João Evangelista (Lóios) à extinção do Convento 1425-1834, sinto a satisfação de ser dada à estampa uma obra de merecimento que as minhas obrigações profissionais e a estima que me merece o autor levaram que a acompanhasse passo a passo. O Convento de S. Salvador de Vilar de Frades que tinha já merecido a atenção de alguns autores, entre os quais queremos referir Manuel de Aguiar Barreiros (1919), Luís António de Oliveira Ramos (1965), Maria Teresa Calheiros Figueiredo de Oliveira Ramos (1990) e Maria do Carmo Henriques de Lancastre (1991), não havia sido objecto do estudo que merecia no contexto artístico português. Essa tarefa foi realizada por Joaquim Alves Vinhas. O Convento de S. Salvador de Vilar de Frades é um magnífico exemplo daquilo que caracteriza as grandes (e por vezes pequenas) casas monásticas: repositório de estilos como resultado da sua longa existência, do gosto e das necessidades dos que lá viveram e moldaram a sua fisionomia. Este somatório de estilos, que nos permite uma leitura e uma melhor compreensão do seu passado, conseguiu ultrapassar, ainda que com marcas profundas, todas as vicissitudes que, principalmente a partir de 1834, esses edifícios sofreram. Em poucos anos, os interesses e a ignorância levaram (e por vezes ainda levam) à delapidação de todo um património que o passado nos legou. Edifício beneditino desde a sua fundação até 1425, altura em que passaria para a Congregação dos Cónegos Seculares de São João Evangelista, vai a partir do século XVI ser alvo de profundas obras que lhe deram o aspecto que hoje apresenta e para as quais, numa fase inicial, muito contribuiu o arcebispo de Braga D. Diogo de Sousa (1505-1532).
  • 5. 5 A esta insigne figura e a duas suas familiares (D. Leonor de Lemos e D. Teresa de Mendonça) ficaram os Lóios a dever uma parte da actual igreja. Se quanto aos mecenas da nova igreja não se levantam dúvidas, o mesmo não acontece com o responsável pelo seu projecto. Dois nomes disputam essa honra: João de Castilho e o mestre pedreiro João Lopes. Como o autor nos esclarece, e com ele estamos de acordo, seria ao responsável pela nova capela-mor da Sé de Braga (1509) que D. Diogo de Sousa encomendaria o projecto da nova capela-mor da igreja do Convento de Vilar de Frades. Assim, a traça seria de João de Castilho e a execução de João Lopes, o que, como tivemos ocasião de referir, se terá passado com o Mosteiro de S. Bento da Ave Maria (1518) do Porto. Além da excelente arquitectura da igreja onde no seu interior encontramos bons exemplares da arte da talha, da azulejaria e do estuque, na sacristia, todo o conjunto conventual tem a mesma qualidade onde se pode encontrar a lição da tratadística, como acontece, a título de exemplo, na portada que dá acesso ao terreiro da igreja. Memória dos Lóios que lá viveram, memória das formas artísticas que o moldaram, o convento de S. Salvador de Vilar de Frades está mais vivo e mais presente com o trabalho de Joaquim Alves Vinhas. Joaquim Jaime B. Ferreira-Alves Faculdade de Letras. Universidade do Porto
  • 6. 6 NOTA PRELIMINAR O presente projecto de investigação, focalizado na igreja e no antigo convento de Vilar de Frades, teve o seu início no Outono de 1992, durante o primeiro curso de mestrado em História da Arte, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Ao longo dos quatro anos que se seguiram, fomos favorecidos pela colaboração de diversas personalidades, que muito contribuíram para o resultado final. Será pois de toda a justiça uma palavra de gratidão. Antes de mais, agradeçemos ao Revmº Padre Aurélio Ribeiro Soares, então pároco de S. João de Areias de Vilar e ao sacristão Sr. Manuel Pinheiro Ferreira, que nos receberam sempre de braços abertos aquando das nossas visitas à igreja e ao que resta do antigo convento; ao historiador e bibliotecário barcelense, Dr. Victor Pinho, pela disponibilidade com se sempre nos presenteou; aos funcionários dos arquivos e bibliotecas que frequentámos no âmbito deste trabalho, especialmente ao Sr. Armando Soares Araújo, à Sr.ª D. Maria da Costa Martins e à Sr.ª D. Leónida Rebelo Gomes, do Arquivo Distrital de Braga, pela simpatia e empenho profissional demonstrados. O nosso reconhecimento aos amigos e companheiros, em especial ao Luís Alexandre Rodrigues, com quem muito dialogámos sobre a matéria em estudo; à Ana Carvalheira; ao Manuel Pereira; ao João Manuel Fernandes, barcelense que sempre nos
  • 7. 7 acompanhou nas visitas a Areias de Vilar, e ao Davide Barbosa, que nos deu um apoio precioso no domínio da informática. Uma ajuda especial veio do consagrado investigador bracarense Eduardo Pires de Oliveira, que nos facultou informações importantes - das quais salientamos as referências aos contratos da construção da porta da igreja e da varanda do noviciado (1), do acrescento da capela-mor (2), do douramento do retábulo-mor e sua tribuna (3) - e da Professora Doutora Lúcia Rosas, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, que nos deu a conhecer a existência, na Torre do Tombo, do inventário de 1834 (4). Ao saudoso Professor Doutor Carlos Alberto Ferreira de Almeida, que nos orientou na escolha do tema e que muito nos ensinou, e a todos os Mestres que nos foram desbravando caminhos e abrindo horizontes, o nosso humilde agradecimento. À Professora Doutora Natália Marinho Ferreira-Alves, que sempre nos distinguiu com o saber e o estímulo, a amizade e a compreensão, não podemos deixar de aproveitar esta oportunidade para lhe prestar a nossa homenagem. Finalmente, cabe reconhecer na pessoa do nosso orientador científico, o Professor Doutor Joaquim Jaime B. Ferreira-Alves, uma bela expressão da solidariedade. Um efectivo acompanhamento do nosso trabalho, uma grande abertura de espírito e de compreensão, as sugestões metodológicas e um diálogo sempre enriquecedor, a defesa da honestidade e do rigor científicos, constituíram lições que jamais poderemos esquecer. Nas horas em que o desânimo espreitava, era um esteio do optimismo científico; nos momentos mais exaltantes da nossa investigação, era o mestre comovido. Este sentido (1) A.D.B. - Notarial de Barcelos, Lº 750, fls. 82-82v.. (2) A.D.B. - Notarial de Barcelos, Lº 760, fls. 9-10v.. (3) A.D.B. - Notarial de Barcelos, Lº 765, fls. 103v.-104v.. (4) A.N.T.T. - Arquivo Histórico do Ministério das Finanças - Cat. nº 439, Cx. 2264.
  • 8. 8 humanista da existência não deixou de marcar decisivamente o trabalho que agora se apresenta a público. A tão ilustre orientador devemos o nosso trabalho!    Finalmente, uma palavra de agradecimento à Exª Junta de Freguesia de Areias de Vilar. De facto, a publicação deste trabalho fica a dever-se ao empenho do seu presidente, Senhor Domingos Lopes, patenteado na defesa, valorização e divulgação do património arquitectónico, artístico e cultural da sua terra. O nosso muito obrigado!
  • 9. 9 SUMÁRIO FONTES MANUSCRITAS PERIÓDICOS BIBLIOGRAFIA ABREVIATURAS E SINAIS INTRODUÇÃO CATÍTULO I A CONGREGAÇÃO DOS CÓNEGOS SECULARES DE SÃO JOÃO EVANGELISTA (LÓIOS): ORIGENS E DESENVOLVIMENTO 1. O PROBLEMA DOS ANTECEDENTES MEDIEVAIS 1.1. NOTÍCIAS DO MOSTEIRO BENEDITINO 2. GÉNESE DA CONGREGAÇÃO DOS CÓNEGOS SECULARES DE S. JOÃO EVANGELISTA - LÓIOS 2.1. DO CONVENTO DOMINICANO DE BENFICA E DA IGREJA DOS OLIVAIS, EM LISBOA, A SANTA MARIA DE CAMPANHÃ, NO PORTO 2.2. DO PORTO A BRAGA, O DESTINO É VILAR DE FRADES 2.3. A IMPORTÂNCIA DE MESTRE JOÃO VICENTE E DE D. FERNANDO DA GUERRA, ARCEBISPO DE BRAGA 2.4. DAS IGREJAS ANEXAS AO CONVENTO DE VILAR 2.5. A UNIÃO DE S. MARTINHO DE MANHENTE 3. O CARÁCTER REFORMISTA DOS CÓNEGOS LÓIOS 4. CRESCIMENTO E EXPANSÃO DA CONGREGAÇÃO EVANGELISTA
  • 10. 10 4.1. IMPORTÂNCIA DOS BENFEITORES: ARCEBISPOS E PAPAS, NOBRES E MONARCAS 4.2. OS CONVENTOS DA CONGREGAÇÃO EVANGELISTA: SEU CORPO DE RELIGIOSOS 4.2.1. CONDIÇÕES DE INGRESSO NOS CONVENTOS 4.2.2. DO NOVICIADO AO SACERDÓCIO 4.2.3. AS NOVE CASAS DA CONGREGAÇÃO CAPÍTULO II A IGREJA E O CONVENTO DO SÉCULO XVI 1. AS OBRAS NA IGREJA 1.1. A CAPELA-MOR E O TRANSEPTO MANUELINOS 1.2. DA POBREZA DO CORPO QUINHENTISTA À MAJESTADE DA PORTADA MANUELINA 2. AS OBRAS NO CONVENTO 2.1. O CLAUSTRO: SUA ESTRUTURA E FUNCIONALIDADE 2.2. DO CONJUNTO CONVENTUAL DE QUINHENTOS 2.3. JOÃO COELHO LOPES, MESTRE PEDREIRO DE GUIMARÃES, NAS OBRAS DE 1593-1594 CAPÍTULO III AS OBRAS DO SÉCULO XVII 1. REFORMA E EXPANSÃO DO CONVENTO NO PRIMEIRO QUARTEL DE SEISCENTOS 2. A CAPELA DE NOSSA SENHORA DO SOCORRO 3. A IGREJA
  • 11. 11 3.1. O NOVO CORPO E SEU ABOBADAMENTO: UMA OBRA DE 1620-1658 3.2. O NOVO CADEIRAL DO CORO: UMA OBRA DE ANTÓNIO JOÃO PADILHA, MESTRE ENSAMBLADOR DO PORTO 3.3. A VARANDA DO NOVICIADO E A PORTA DA IGREJA: CONTRATO DO MESTRE CARPINTEIRO SIMÃO ANTÓNIO, DO CONCELHO DA MAIA 3.4. A OBRA DE PEDRARIA NA CAPELA-MOR: CONTRATO DE PASCOAL FERNANDES E JOÃO MOREIRA, MESTRES PEDREIROS DO PORTO 3.5. A TALHA DOURADA DOS FINAIS DO SÉCULO: OBRAS DE ANTÓNIO GOMES E DOMINGOS NUNES, MESTRES ENTALHADORES DO PORTO 3.5.1. O RETÁBULO-MOR E SUA TRIBUNA 3.5.2. OS ALTARES COLATERAIS E O REVESTIMENTO DAS PAREDES DA CAPELA-MOR CAPÍTULO IV OBRAS NO CONVENTO NOS INÍCIOS DO SÉC. XVIII 1. O DORMITÓRIO DA ALA SUL DO CONVENTO: CONTRATOS DE MANUEL FERNANDES E ANDRÉ MARTINS, MESTRES PEDREIROS DO PORTO 1.2. ASSINATURA DE NOVO CONTRATO 1.3. ENVOLVIMENTO DE DOMINGOS NUNES E MANUEL MARTINS, MESTRES DA CIDADE DO PORTO 2. A OBRA DA "EMENDA" E DA FRONTARIA CONVENTUAL 2.1. CONTRATO DE MANUEL FERNANDES DA SILVA, MESTRE PEDREIRO RESIDENTE NA CIDADE DE BRAGA 2.2. ANTÓNIO CORREIA, MESTRE PEDREIRO DE BRAGA, PRESENTE NA IMPREITADA DE MANUEL FERNANDES DA SILVA 3. A OBRA DE CARPINTARIA DO NOVO CONJUNTO CONVENTUAL: UMA EMPREITADA DOS MESTRES MIGUEL MARTINS, DO PORTO E MANUEL DE SOUSA LEMOS, DE MATOSINHOS 4. CONCLUSÃO DAS OBRAS DOS INÍCIOS DO SÉCULO XVIII
  • 12. 12 5. OS CHAFARIZES 5.1. O CHAFARIZ DO CLAUSTRO 5.2. O CHAFARIZ DO TERREIRO DOS CABEDAIS CAPÍTULO V A IGREJA DOS SÉCULOS XVIII E INÍCIOS DO SÉCULO XIX 1. A IGREJA BARROCA 1.1. O INTERIOR: REMODELAÇÃO E EMBELEZAMENTO 2. AS OBRAS DOS FINAIS DO SÉC. XVIII E INÍCIOS DO SÉC. XIX 3. REVIVALISMO MEDIEVAL NA FRONTARIA DA IGREJA 4. A IGREJA DE VILAR DE FRADES NOS FINAIS DA ÉPOCA MODERNA 4.1. A CAPELA-MOR 4.2. O CORPO DA IGREJA 4.2.1. O TRANSEPTO: ALTARES COLATERAIS E CAPELA DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO 4.2.2. CAPELAS LATERAIS: LADO DO EVANGELHO 4.2.3. CAPELAS LATERAIS: LADO DA EPÍSTOLA 4.3. OS METAIS PRECIOSOS: SUA IMPORTÂNCIA NA DECORAÇÃO DOS ALTARES E NO ENRIQUECIMENTO DO CERIMONIAL LITÚRGICO 4.4. O NARTEX INTERIOR E A PORTA PRINCIPAL 4.5. O CORO 4.6. A SACRISTIA 4.7. O CLAUSTRO 4.8. DO FRONTISPÍCIO DA IGREJA CONCLUSÃO APÊNDICE DOCUMENTAL
  • 13. 13 FONTES MANUSCRITAS 1. Arquivo Distrital de Braga 1.1. Colecção dos Manuscritos Mss. 8, 330, 924 e 1054 1.2. Fundo Monástico Conventual L 1-82 1.3. Notarial de Barcelos Livros 1-220, 650-711, 763, 771. 2. Arquivo Distrital de Bragança Edital da Junta do Crédito Público - Lista 344/4-8, de 7 de Fevereiro de 1838. 3. Arquivo da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais - Direcção Regional dos Edifícios e Monumentos do Norte Pasta I - C.D.B., of. 928 - c. do Arcebispo de 23-10-1943 - C.M.B., of. 383 - D.G.F.P./R.P., Proc. nº 3678, Lº 6, of. A-3487-43 Proc. nº 26, Lº 7, of. A-183-44
  • 14. 14 - J.P.A.M.V., c. 1931 - Ofs. nºs 11, 12, 28, 38, 61, 251, 254, 266, 297, 338, 380, 383, 388, 390, 407, 514, 568, 678, 701, 744, 769, 787, 823, 866, 898, 924, 4046 - O.S. nºs 163, 181, 258, 271, 350, 354, 380, 628, 765, 881, 1164, 1414, 2198, 2482, 2995, 3039, 3333, 3391, 3457 - P.A.P. (cinco Propostas de Ajuste Particular) - P.V., c. 1941 - Procº nº 62, est. 1937; est. 1944 - Rtº nº 1 4. Arquivo Distrital do Porto Registo Paroquial de Campanhã - Lº 3 dos Mistos 5. Arquivo Nacional da Torre do Tombo Arquivo Histórico do Ministério das Finanças - Cat. nº 439, Cx. 2264, docs. 5, 8, 10 e 2345. Índice Geographico das Cidades, Villas, e Parochias de Portugal conteudas nos 43 volumes manuscritos do Dicionário Geographico existente na Bibliotheca da Senhora das Necessidades. Lisboa, 1832 - Vol. 41, Mc. 288. Vilar de Frades, Convento de São Salvador - Lº 1, Cx. 1, Conv. Diversos-nº 25. 6. Biblioteca Pública Municipal do Porto Ms. 1272 - Henrique Duarte e Sousa Reis, Apontamentos para a Historia Antiga e Moderna da Cidade do Porto, Vol. IV, 1865.
  • 15. 15 PERIÓDICOS O Comércio de Barcelos - Ano IX, Nº 442, 21 Agosto 1898 - Ano X, Nº 509, 5 Dezembro 1899 Correio do Minho - Ano XI, nº 3777, 4 Novembro 1938 Jornal de Barcelos - Ano V, nº 205, 4 Fevereiro 1954 - Ano VI, nº 263, 17 Março 1955 - Ano VII, nº 309, 2 Fevereiro 1956 - Ano VIII, nº 364, 21 Fevereiro 1957 BIBLIOGRAFIA
  • 16. 16 ALMEIDA, Fortunato de - História da Igreja em Portugal, Vol. I, Porto, Ed. Portucalense, s/d.. ALMEIDA, Rodrigo Vicente de - História da Arte em Portugal (segundo estudo). Documentos inéditos, Porto, 1883. Barcelos-Revista - Anos I e II, 1909-1910. BARREIROS, Manuel de Aguiar - A Egreja de Villar de Frades, Braga, 1919; A Portada Românica de Vilar de Frades e o seu Simbolismo, Porto, Ed. Marques Abreu, 1920; A Catedral de Santa Maria de Braga, Braga, Edições Sólivros, 1989. BAZIN, Germain - Reflexions sur l'origine et l'évolution du baroque dans le nord du Portugal, in "Belas-Artes", II Série - Nº 2, Lisboa, 1950. BLUTEAU, Rafael - Vocalulario Portuguez e Latino, Coimbra, Tomos II e VIII, 1712- 1721. Boletim da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, Nº l, Setembro de 1935. BORGES, Nelson Correia - Do Barroco ao Rocócó, in "História da Arte em Portugal", Vol IX, Lisboa, Publ. Alfa, 1986; Cadeiral, in "Dicionário da Arte Barroca em Portugal", Editorial Presença, Lisboa, 1989. BORROMEO, Carlos - Instruccions de la Fábrica y del Ajuar Eclesiástico (Introducción, traducción y notas de Bulmaro Reys Coria e nota preliminar de Elena Isabel Estrada de Cerlero), México, Universidad Nacional Autónoma de México, 1985.
  • 17. 17 BRANDÃO, Domingos de Pinho - Obra de Talha Dourada, Ensamblagem e Pintura na Cidade e Diocese do Porto. Documentação I, séculos XV a XVII, Porto, 1984. CALADO, Margarida - Estilo Nacional, in "Dicionário da arte barroca em Portugal", Lisboa Editorial Presença, 1989. CASTRO, João Baptista de - Mapa de Portugal, Tomos I e III, Lisboa, 1745 e 1747. CHICÓ, Mário Tavares - A Arquitectura Gótica em Portugal, 2ª edição, Lisboa, Livros Horizonte, 1968. CORREIA, Fernando da Silva - Um Notável Médico Conselheiro do Infante D. Henrique, in "Actas do Congresso Internacional de História dos Descobrimentos", Vol. III, Lisboa, 1961. CORREIA, Vergílio - A Arte do Ciclo Manuelino, Obras, Vol. II, Coimbra, 1949. COSTA, Américo - Dicionário Corográfico de Portugal Continental e Insular, Vol. II, 1930. COSTA, António Carvalho da - Corografia Portugueza e Descripçam Topográfica, Vol. I, 2ª edição, Braga, 1868. COSTA, Avelino de Jesus da - D. Diogo de Sousa. Novo Fundador de Braga e Grande Mecenas da Cultura, Sep. do livro "Homenagem à Arquidiocese Primaz nos 900 anos da Dedicação da Catedral", Braga, 1993. CRESPO, José de Almeida - Roteiro do Minho, 3ª Edição, Viana do Castelo, 1984. CUNHA, D. Rodrigo da - Da História Eclesiástica dos Arcebispos de Braga, e dos Santos, e Varões Ilustres, que Floresceram neste Arcebispado, 1634. (Nota de apresentação de José Marques), Braga, 1989.
  • 18. 18 DIAS, Geraldo J. A. Coelho - Religiosidade Popular e seus Arquétipos Fundamentais no Concelho de Barcelos, in "Barcelos-Revista", II Série - Nº 5, Edição da Câmara Municipal de Barcelos, 1994. DIAS, Pedro - A Arquitectura de Coimbra na Transição do Gótico para a Renascença. 1490- 1540, Coimbra, 1982; A Arquitectura Manuelina, Livraria Civilização Editora, Porto, 1988. FERREIRA, Mons. José Augusto - Fastos Episcopais da Igreja Primacial de Braga (sécs. III-XX), Tomo I, Ed. da Mitra Bracarense, 1928; História Abreviada do Seminário Conciliar de Braga e das Escolas Eclesiásticas Precedentes (sécs. VI- XX), Braga, Ed. da Mitra Bracarense, 1937. FERREIRA-ALVES, Joaquim Jaime B. - Aspectos da Actividade Arquitectónica no Porto na Segunda Metade do Século XVII, in "Revista da Faculdade de Letras - História", Porto, II série, Vol. II, 1985; O Porto na Época dos Almadas. Arquitectura. Obras Públicas, Vols. I e II, Edição da Câmara Municipal do Porto, 1988; Pascoal Fernandes, Mestre Pedreiro de Arquitectura. Alguns Elementos para o Estudo da sua Actividade, in "IX Centenário da Dedicação da Sé de Braga", Actas do Congresso Internacional , Vol. II, Braga, 1990; As duas Igrejas do Mosteiro de São Bento da Avé-Maria do Porto, Sep. do I Congreso Internacional del Monacato Femenino en España, Portugal y America. 1492- 1992, Lion, s/d.. FERREIRA-ALVES, Natália Marinho - A Arte da Talha no Porto na Época Barroca (Artistas e Clientela. Materiais e Técnica), Documentos e Memórias para a História do Porto - XLVII, Vols. I e II, Porto,1989; Gomes, António, in "Dicionário da Arte Barroca em Portugal", Lisboa, Ed. Presença, 1989; A Actividade de Pintores e Douradores em Braga nos Séculos XVII e XVIII, in "IX Centenário da Dedicação da Sé de Braga", Actas do Congresso Internacional, Vol. II, Braga, 1990; De Arquitecto a Entalhador. Itinerário de um Artista nos
  • 19. 19 Séculos XVII e XVIII, in "Actas do I Congresso Internacional do Barroco", Porto, 1991. FERREIRA DE ALMEIDA, Carlos Alberto - A Arquitectura Românica de Entre-Douro- e-Minho, Dissertação de doutoramento na F.L.U.P, Porto, 1978; Alto Minho, Ed. Presença, Lisboa, 1987; Barcelos, Lisboa, Editorial Presença, 1990; Património- Riegl e Hoje, Sep. da «Revista da Faculdade de Letras», II série - Vol. X, Porto, 1993. FONSECA, Teotónio da - Barcelos Aquém e Além-Cávado, (Reprodução fac-similada da edição de 1948) Vols. I e II, Companhia Editora do Minho, Barcelos, 1987. FREIRE, Manuel da Rocha - Relação Historica do que fizeram os moradores de Barcellos, desde o dia em que na Villa acclamaram D. João IV, apenas sabida a Restauração da Capital em 1 de Dezembro de 1640, até o ultimo de Janeiro de 1642 (precedida d'uma noticia geral da Villa de Barcellos, escripta pelo Professor Pereira-Caldas), Braga, Livraria Internacional, 1871. FREITAS, Eugénio de Andrea da Cunha e - As Lembranças de um Padre Lóio, in "Boletim Cultural da C.M.P.", Porto, Vol. VII, 1944; O Convento Novo de Santa Maria da Consolação (padres lóios), Documentos e Memórias para a História do Porto - XVI, Publicação da Câmara Municipal do Porto, 1947; João de Castilho e a sua Obra no Além-Douro, in "Colóquio", Lisboa, nº 15, 1961; Os Mestres Biscainhos na Matriz de Vila do Conde, in "Anais da Academia Portuguesa de História", Lisboa, II série, Vol. XI, 1961; O Mosteiro da Serra do Pilar no Século XVI. Notas de História e de Arte, Separata de "O Tripeiro", Porto, 1964. Galeria das Ordens Religiosas e Militares desde a mais remota antiguidade até nossos dias, Tomo II, Porto, 1843. GAMA, Arnaldo - O Sargento-Mór de Vilar, vol. I, 2ª edição, 1885.
  • 20. 20 GODINHO, V. Magalhães - Estrutura da Antiga Sociedade Portuguesa, 4ª edição, Lisboa, Arcádia, 1980. GÓIS, Damião de - Chronica do Príncipe D. Joam, Rey que foi destes Reynos, Lisboa, 1724; Chronica do Serenissimo Senhor Rei D. Emanuel, Coimbra, 1790. GONÇALVES, A. Nogueira - O Claustro do Mosteiro da Serra do Pilar na Arquitectura Portuguesa, in "Boletim Cultural da C. M. P.", Porto, Vol. XXXI, 1968. GOUVEIA, António Camões - O Enquadramento Pós-Tridentino e as Vivências do Religioso, in "História de Portugal" (dir. José Mattoso), Vol. IV, Lisboa, Círculo de Leitores, 1993. GRAF, Gerbard N. - Portugal Roman, (tradução do alemão por G. Schecher), Paris, Zodiaque, 1987. Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira - Vols. XVIII e XXIX, Lisboa-Rio de Janeiro, s/d.. HESPANHA, António Manuel - O Poder Eclesiástico. Aspectos Institucionais, in "História de Portugal" (dir. José Mattoso), Vol. IV, Lisboa, Círculo de Leitores, 1993. História da Arte em Portugal - Vols. IV-VIII, Lisboa, Publicações Alfa, 1986. História da Arte Portuguesa (dir. Paulo Pereira), Vols. I-III, Círculo de Leitores, 1995. História de Portugal (dir. José Mattoso) - Vols. III e IV, Lisboa, Círculo de Leitores, 1993.
  • 21. 21 HOLANDA, Francisco de - Da Pintura Antiga (Introdução e notas de Angel González Garcia), Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1983. HORTA CORREIA, José Eduardo – A Arquitectura – Maneirismo e “estilo chão”, in “História da Arte em Portugal”, Vol. VII, Lisboa, Publicações Alfa, 1986. Illustração Catholica, Ano I, Nº 18, 1913. KUBLER, George e SORIA, Martin - Art and Architecture in Spain and Portugal and their American dominions. 1500-1800, Penguin Books, Harmondsworth, 1959. KUBLER, George - A Arquitectura Portuguesa Chã. Entre as Especiarias e os Diamantes. 1521-1706, Lisboa, Ed. Vega, 1988. LANCASTRE, Maria do Carmo Henriques de - A Igreja do Convento de Vilar de Frades segundo as Memórias do Padre Jorge de São Paulo (1658), Separata da Barcelos-Revista, Série II - Nº 2, Edição da Câmara Municipal de Barcelos, 1991. LOPES, Victor Sousa - O Azulejo no século XVIII, Lisboa, Direcção-Geral da Divulgação, 1983. MAGALHÃES, Joaquim Romero - Grandes, Títulos e Fidalgos, in "História de Portugal" (dir. José Mattoso), Vol. III, Lisboa, Círculo de Leitores, 1993. MAGANO, Fernando - A Respeito e em Respeito da Congregação de Vilar de Frades - O "Compêndio" do Padre Jorge de S. Paulo (manuscrito da Biblioteca de Braga), in "Boletim do Centro de Estudos Humanísticos" (Anexo à Universidade do Porto), Vol. III, Nº 1, Porto, 1956. MARQUES, José - Os Itinerários do Arcebispo de Braga D. Fernando da Guerra (1417- 1467), Porto, 1978; O Estado dos Mosteiros Beneditinos da Arquidiocese de
  • 22. 22 Braga, no Século XV, Sep. da Bracara Augusta, Vol. XXXV, Braga, 1981; A Extinção do Mosteiro de Manhente, Separata da Barcelos-Revista, Barcelos, 1985; A Arquidiocese de Braga no Século XV, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda,1988. MARTINS, Fausto Sanches - Trono Eucarístico do Retábulo Barroco Português: Origem, Função, Forma e Simbolismo, in "Actas do I Congresso Internacional do Barroco", Vol. II, Porto, 1991; A Arquitectura dos Primeiros Colégios Jesuítas de Portugal: 1542-1759. Cronologia. Artistas. Espaços, Vol. I, Dissertação de doutoramento apresentada na F.L.U.P., Porto, 1994. MATOS, Sebastião - Areias de Vilar. Das suas origens, Sep. da Barcelos-Revista, Nº 1- série II, Edição da Câmara Municipal de Barcelos,1985; Os Expostos da Roda de Barcelos (1783-1835), Barcelos, Edição da ACRAV, 1995. MONTCOLS, Jean-Marie Pérouse de - Architecture. Vocabulaire, Paris, Imprimerie National Èditions, 1993. MOREIRA, Rafael de Faria Domingues - A Arquitectura do Renascimento no Sul de Portugal. A Encomenda Régia entre o Moderno e o Romano, Dissertação de doutoramento apresentada na F.C.S.H.U.N.L., 1991. NORBERG-SCHULZ, Christian - Genius Loci. Paysage-Ambiance-Architecture, Deuxième édition, Bruxelles, Pierre Mardaga Éditeur,1989. OLIVEIRA, Eduardo Pires de - Estudos sobre o Século XVIII em Braga, Edições APPACDM distrital de Braga, 1993; O Edifício do Convento do Salvador. De Convento de Freiras ao Lar Conde de Agrolongo, Braga, Ed. Lar Conde de Agrolongo, 1994; Imagens do Minho Oitocentista, Braga, 1985. OLIVEIRA MARQUES, A. H. de - Couto, in "Dicionário da História de Portugal" (dir. Joel Serrão), Vol II, Porto, Livraria Figueirinhas, 1989.
  • 23. 23 OLIVEIRA RAMOS, Luís A. de - Uma Arcada Historiada de Vilar de Frades, Sep. das Actas do III Colóquio Portuense de Arqueologia (Lucerna - Vol. IV - 1965). OLIVEIRA RAMOS, Maria Teresa Calheiros Figueiredo de - A Igreja Manuelina de Vilar de Frades, in "Revista de Ciências Históricas", Vol. V, Porto, Universidade Portucalense, 1990. PAIS DA SILVA, Jorge Henrique - Sobre a Arquitectura Maneirista, in "Arquitectura", nºs. 59 e 62, Lisboa, 1959-60; A Arquitectura Portuguesa na Segunda Metade do Século XVI e os seus Prolongamentos, in "Aspectos da arquitectura portuguesa (1550-1950)", Catálogo da Exposição, Rio de Janeiro, 1965; Páginas de História da Arte, 2 vols., Ed. Estampa, 1986; Rotas Artísticas do Reinado de D. Manuel I, in "Panorama", Nº 32, Ano IV, Lisboa, s/d.. PEREIRA, Domingos Joaquim - Memória Histórica da Vila de Barcelos, Barcelinhos e Vila Nova de Famalicão, Viana do Castelo, 1867. PEREIRA, José Fernandes - Arquitectura e Escultura de Mafra. Retórica da Perfeição, Lisboa, Editorial Presença, 1994. PEREIRA, Paulo - A Conjuntura Artística e as Mudanças de Gosto, in "História de Portugal" (dir. José Mattoso), Vol. III, Círculo de Leitores, 1993. PINHO LEAL, Augusto Soares de Azevedo Barbosa de - Portugal Antigo e Moderno, Vol. XI, Lisboa, Livraria Editora de Mattos Moreira & Companhia,1886. REIS, António Matos - Lopes - uma família de artistas em Portugal e na Galiza, in "Revista de Guimarães", Vol. XCVI, Guimarães, 1986; A Arte na Arquidiocese de Braga, sob a Égide do Arcebispo D. Rodrigo de Moura Teles (1704-1728): o Estilo, as Obras e os Artistas, in "IX Centenário da Dedicação da Sé de Braga", Actas do Congresso Internacional, Vol. II, Braga, 1990.
  • 24. 24 RIEGL, Alois - El Culto Moderno a los Monumentos. Caracteres y Origen, Madrid, Visor, 1987. ROCHA, Manuel Joaquim Moreira da - A Capela de Santa Madalena do Monte da Falperra, de Braga, à luz da Documentação Notarial, in "Revista de Ciências Históricas", Universidade Portucalense, Vol. V, Porto,1990; Arquitectura Civil e Religiosa de Braga nos Séculos XVII e XVIII. Os Homens e as Obras, Braga, 1994; Manuel Fernandes da Silva Mestre e Arquitecto de Braga 1693-1751, Vol. I, Dissertação de mestrado em História da Arte na F.L.U.P., Porto, 1995. RODRIGUES, Luís Alexandre - O Decoro e a Representação à luz das Constituições Sinodais do Bispado de Miranda do Douro. Inventário dos bens móveis da Igreja de Santa Maria de Bragança, Sep. da Brigantia - Revista de Cultura, Vol. XV - Nº l, Bragança, 1995. SAMPAIO, J. Mancelos e SOUCASAUX, Augusto - Barcelos. Resenha Histórica- Pitoresca-Artística, Barcelos, Comp. Ed. Minho, 1927. SAMPAIO, J. Mancelos - 1640 em Barcelos, Barcelos, 1938. SANTA MARIA, Francisco de - O Ceo Aberto na Terra. História das Sagradas Congregações dos Cónegos Seculares de S. Jorge em Alga de Veneza e de S. João Evangelista em Portugal, Lisboa, 1697. SANTOS, Cândido Augusto Dias dos - Os Jerónimos em Portugal. Das Origens aos fins do Século XVII, Porto, 1980. SANTOS, Reinaldo dos - O Estilo Manuelino, Lisboa, 1952; O Azulejo em Portugal, Lisboa, Ed. Sul Limitada, 1957; Séculos de Arte Portuguesa, Lisboa, 1966.
  • 25. 25 SANTOS SIMÕES, J. M. dos – Azulejaria em Portugal no século XVIII, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1979. SÃO PAULO, Jorge de - História da Rainha D. Leonor e da fundação do Hospital das Caldas, Lisboa, Empresa Nacional de Publicidade, 1928. SÃO TOMÁS, Frei Leão de - Benedictina Lusitana, (Notas críticas de José Mattoso), Tomo II, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1974. SENNA FREITAS, Bernardino José de - Memorias de Braga Contendo Muitos e Interessantes Escriptos Extrahidos e Recopilados de Differentes Archivos, 5 tomos, Braga, Imprensa Catholica, 1890. SERRÃO, Joaquim Veríssimo - História de Portugal, Vols. III-V, Lisboa, Ed. Verbo, 1978. SILVA, Inocêncio Francisco da - Dicionário Bibliográfico Português, Tomo II, Lisboa, 1859. SMITH, Robert C. - A Casa da Câmara de Braga (1753-1756), Separata da "Bracara Augusta", Vol. XXII, Braga, 1968; A Sacristia do Tesouro da Sé Primacial, Braga, 1972; Três Estudos Bracarenses, Braga, Livraria Cruz, 1972. TAVARES, Pedro Vilas Boas - A fundação e reconstrução da Igreja da Congregação de S. João Evangelista. Humanística e Teologia, Tomo XII, Porto, 1991. VALENÇA, Manuel - O Órgão na História e na Arte, Braga, 1987. VASCONCELOS, Maria da Assunção J. e ARAÚJO, António de Sousa - Bulário Bracarense, Braga, Edição do A.D.B./U.M., 1986.
  • 26. 26 ZEVI, Bruno - Architectura in Nuce. Uma definição de Arquitectura, Lisboa, Edições 70, 1986. ABREVIATURAS E SINAIS ARQUIVOS A.D.B. - Arquivo Distrital de Braga A.D.G.E.M.N./D.R.E.M.N. - Arquivo da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais/Direcção Regional dos Edifícios e Monumentos do Norte A.D.P. - Arquivo Distrital do Porto A.H.M.F. - Arquivo Histórico do Ministério das Finanças A.N.T.T. - Arquivo Nacional da Torre do Tombo OUTRAS ABREVIATURAS E SINAIS c. - carta B.D.G.E.M.N. - Boletim da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais Cap. - Capítulo C.D.B. - Comissário de Desemprego de Braga C.E.M. - Companhia Editora do Minho Cf. - Confrontar C.M.B. - Câmara Municipal de Barcelos Conv. - Conventos C.P.V. - Carta do Pároco de Vilar Cx. - Caixa D.G.F.P./R.P. - Direcção Geral da Fazenda Pública/Repartição do Património dir. - direcção de doc. - documento docs. - documentos Ed. - Editor, edição, edições est. - estimativa
  • 27. 27 F.C.S.H.U.N.L. - Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa Fig. - Figura fl. - folio fls. - fólios F.L.U.P. - Faculdade de Letras da Universidade do Porto J.P.A.M.V. - Junta da Paróquia de Areias e Madalena de Vilar L - Lóios Lº - Livro Mc. - Maço Mc. - Microfilme Ms. - Manuscrito Mss. - Manuscritos Nº - Número nº - número nºs - números Ob. cit. - Obra citada of.(s) - ofício(s) O.S. - Ordem de Serviço p. - página pp. - páginas P.A.P. - Proposta de Ajuste Particular Procº - Processo Publ. - Publicação, publicações Rtº - Relatório Séc. - Século s/fl.(s) - sem folio(s) Seg. - Segundo Sep. - Separata v. - verso Vol. - Volume Vols. - Volumes
  • 28. 28 (...) - Omissão de palavra ou palavras ilegíveis no documento [...] - Omissão de texto numa citação documental ou bibliográfica INTRODUÇÃO O presente estudo teve como objectivo principal, desde que o iniciámos no Outono de 1992, contribuir para um melhor conhecimento da dimensão arquitectónica e artística da igreja e do antigo convento de Vilar de Frades, a primeira casa-mãe da Congregação dos Cónegos Seculares de S. João Evangelista - Lóios. As suas balizas cronológicas coincidem genericamente com a fundação e a extinção desta Ordem Religiosa: 1425-1834. Não nos foi possível encontrar todas as respostas para as perguntas que íamos formulando ao longo do percurso metodológico encetado: umas suscitadas pelo trabalho de campo realizado - foram inúmeras as visitas à igreja e ao antigo convento -, outras pelas meias-verdades contidas em fontes manuscritas e impressas, de grande valor, aliás, porque nos esclareceram sobre diversos aspectos da vida conventual e da mentalidade dos religiosos. Como base do nosso trabalho, apoiámo-nos nas fontes manuscritas do Arquivo Distrital de Braga, designadamente em livros do Notarial de Barcelos e do Fundo Monástico Conventual, bem como no parcialmente divulgado manuscrito de Jorge de São Paulo, de 1658 (5); na crónica impressa em 1697, de Francisco de Santa Maria (6), que se encontra na Biblioteca Pública Municipal do Porto; nos documentos do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, relacionados com o antigo convento de S. Salvador de Vilar de Frades, particularmente o inventário do Arquivo Histórico do Ministério das Finanças, de 1834 (7); e na existência do valioso conjunto arquitectónico - ainda que maltratado pelo tempo e pelo Homem -, tão cheio de significações históricas, religiosas e artísticas. (5) A.D.B. - Ms. 924. (6) SANTA MARIA, Francisco de - O Ceo Aberto na Terra. História das Sagradas Congregações dos Cónegos Seculares de S. Jorge em Alga de Veneza e de S. João Evangelista em Portugal, Lisboa, 1697. (7) A.N.T.T. - Arquivo Histórico do Ministério das Finanças, Cat. nº 439, Cx. 2264, doc. 8.
  • 29. 29 Das dezenas de incursões à igreja e ao convento, ficou-nos uma consciência radical da importância do diálogo directo com os edifícios (8), durante as diferentes fases do seu estudo. Da observação e análise dos vestígios materiais ao sentir o lugar da implantação do conjunto arquitectónico, emergiu uma melhor compreensão do nosso objecto de investigação e do sentido frequentemente subjectivo dos testemunhos: os cónegos que escreveram as memórias da Congregação (9) não se cansaram de proclamar a casa de Vilar de Frades como uma das mais celebres e famosas, quer da região de Entre-Douro-e- Minho quer de Portugal (10), realçando a monumentalidade arquitectónica e artística da igreja, mas também a beleza natural do sítio - um "genius loci" especial onde os primeiros padres lóios (sobre as ruínas da memória dos antigos frades bentos) exprimiram o seu desejo de independência frente aos arcebispos de Braga, a sua sede de grandeza e de glória, o seu destino de religiosos famosos, enfim a essência ideológica dos cónegos seculares evangelistas. No sopé do monte Airó, junto à margem esquerda do Cávado, o conjunto arquitectónico da igreja e do convento de Vilar de Frades marcou definitivamente S. João (8) Só a leitura visual dos edifícios, confrontada com os registos documentais e bibliográficos, nos permite uma compreensão plena de certas fissuras e cicatrizes que ocorrem no decurso das construções arquitectónicas, sobretudo nos conjuntos conventuais, cujas obras estão muitas vezes condicionadas pelo pulsar económico dos encomendadores. (9) Uma boa parte do que hoje sabemos acerca dos lóios deve-se, sem dúvida, às obras de Jorge de S. Paulo (1658) e de Francisco de Santa Maria (1697). (10) "Hum convento admiravel e magestozo mui celebre na provincia de Entre Douro e Minho, e muito mais nomeado e de maior fama em os mais de Portugal" - A.D.B. - Ms. 924, fl. 335. A duas léguas a Ocidente de Braga e a pouco mais de meia para Oriente de Barcelos, "nas fraldas da serra, ou monte de Ayrò, a pouca distancia do rio Homem, & Cavado, està fundado o convento de Villar, em sitio o mais alegre, & aprasivel, que póde formar a naturesa, & idear a imaginação. Apparecem no circuito do convento dilatados campos, nos quaes, a qualquer parte, que se lance a vista, tem muito por onde se estender, & muito em que se divertir: jà no crystallino das aguas, jà na verdura, e louçanìa das plãtas, jà no ameno, & frondoso das devesas, compostas de castanheiros, & carvalhos [...] A cerca, & tapado se dilatão na circunferencia do convento quasi huma legoa, povoada de infinitas arvores [...] Na cerca ha muitas ruas de parreiras, ciprestes, buxos, platanos, murta, & de todo o outro genero de arvores, que servem com as sombras para o fresco, com os fruttos para o gosto, com as flores para o olfato, & com a verde, & inquieta confusão das folhas, & dos ramos para o agrado, & delicia dos olhos. He aqui por extremo deliciosa em seus tempos a suave armonia dos passarinhos, a cuja musica serve de fundamento o ruìdoso susurro de huma ribeyra, que atravessa pelo meyo da cerca, com outras fontes, de cuja agua se alimenta huma dilatada, & fecundissima horta. Em differentes lugares da mesma cerca ha cappelinhas de varios Santos, cousa muy perfeita, de conchas, & pedrinhas refulgentes, dispostas com admiravel artificio, & brincadas com engenhoso primor: a do Presepio he singular entre todas pela valentia, & propriedade das figuras" - SANTA MARIA, Francisco de - Ob. cit., pp. 373-374.
  • 30. 30 de Areias, dando-lhe uma feição peculiar, histórica, estética e cultural, de inegável riqueza e que urge conservar. As qualidades do lugar são elogiadas por toda a bibliografia, depois dos relatos apaixonados dos cronistas. Ora, como é sabido, o sítio desempenha um papel fundamental na implantação da arquitectura e, "sem dúvida que um qualquer monumento arquitectónico marca o lugar onde está implantado, recriando íntimas relações com o sítio. A sua envolvência faz parte da sua memória histórica e estética" (11). Sobre a importância do lugar, escreveu Norberg-Schulz: "Depuis le début des temps, l´homme s'est rendu compte que le fait de crier un lieu signifie exprimer l'essence de l'être. L'univers artificiel dans lequel il vit n'est pas seulement un instrument pratique, ou le résultat d'événements arbitraires, mais il possède une struture et il incarne des significations qui reflètent sa manière de ressentir le milieu naturel et la situation existentielle en géneral" (12). Ao iniciarmos esta empresa, estávamos conscientes das dificuldades que poderíamos encontrar, decorrentes da falta de documentos, gerando vazios e angústias. Inevitavelmente a nossa acção foi dificultada, quer pela escassez de documentos escritos, quer pela ausência completa de traças ou plantas das obras empreendidas no quase permanente estaleiro de Vilar de Frades. Consequentemente, abundam os lapsos de tempo sem memória escrita, sem registos, sem contratos, sem os nomes dos arquitectos ou mestres pedreiros (13) e dos oficiais e aprendizes, sem as exigências dos encomendadores. (11) FERREIRA DE ALMEIDA, Carlos Alberto - Património - Riegl e Hoje, Sep. da «Revista da Faculdade de Letras», II série, Vol. X, Porto, 1993, p. 410. (12) NORBERG-SCHULZ, Christian - Genius Loci. Paysage-Ambience-Architecture, Bruxelles, Pierre Mardaga Éditeur, 1981, p. 50. (13) É nítida a desvalorização social daqueles que riscaram ou dirigiram as obras (já para não falarmos do pessoal menos qualificado), pois muito raramente os cronistas registam os nomes dos artistas nas suas crónicas, cuja finalidade da escrita é destacar a acção despesista de determinados reitores e protectores do convento e a sobrevalorização da sua igreja.
  • 31. 31 Frequentemente deparámos com os registos de uma memória fantasiada, sobretudo pela mão dos cronistas particularmente preocupados com enaltecer os feitos dos seus heróis e dos reitores que mais embelezaram a igreja e enriqueceram o seu convento (14). Acresce que nem sempre a organização e funcionamento dos arquivos foram factores facilitadores da investigação. O registo notarial de Barcelos, do Arquivo Distrital de Braga, encontrava-se deficientemente organizado... dezenas e dezenas de livros do cartório do extinto convento de Vilar de Frades estavamo espalhados entre as muitas centenas de exemplares dos vários tabeliães barcelenses. Tanto mais que o que resta do antigo cartório do convento, disseminado nos fundos notarial e monástico referidos, não nos fornece a memória completa atinente ao cabal esclarecimento do nosso objecto de estudo. Oxalá o futuro possa completar a história arquitectónica e artística da igreja e do convento de Vilar de Frades que, necessariamente, fica incompleta. (14) Tivemos sempre o cuidado de tentar distinguir quando os cronistas falavam verdade e quando se deixavam conduzir pelos esquemas mentais inerentes às suas crenças e às reminiscências da crise religiosa
  • 32. 32 CATÍTULO I A CONGREGAÇÃO DOS CÓNEGOS SECULARES DE SÃO JOÃO EVANGELISTA (LÓIOS): ORIGENS E DESENVOLVIMENTO que atravessou o século XVI e se projectou no século XVII.
  • 33. 33 FOTO 1 Pormenor do pórtico da igreja românica (adaptação dos inícios do séc. XIX) 1. O PROBLEMA DOS ANTECEDENTES MEDIEVAIS Os vestígios da igreja românica de Vilar de Frades, patentes na chamada "torre velha" (localizada no lado sul da fachada), geraram divergências entre estudiosos e historiadores de arte (15), quer porque se desconhece, com precisão, a data da sua edificação, quer porque as adaptações revivalistas dos inícios do século XIX vieram perturbar um olhar atento e sereno sobre o que resta, possivelmente, dos finais do século XII. Categórico, o cónego Aguiar Barreiros afirmava em 1919: "Do que não resta a menor dúvida é de que o portico romanico e bem assim a primeira archivolta, com as columnas correspondentes, da janella que lhe fica por cima [...] pertencem ao seculo XII (presumivelmente aos primeiros annos do reinado de D. Sancho I) e acusam um estreito parentesco com a portada principal da Sé de Braga, ficando a favor da portada romanica de Villar, se não as proporções, ao menos a execução, que pode chamar-se (15) "Les avis, il est vrai, divergent considérablement, e les dates avancées vont de 1070 au début du XIIIe siécle. Toutefois, en prenant comme point de repère l'attribution du couto par Sancho Iº (1185- 1211) et en compte des caractéristiques des éléments conservés, qui en font une oeuvre de stlyle roman avancé, on pourrait considérer le dernier quart du XIIe siècle comme période probable de sa réalisation" - GRAF, Gerard N. - Portugal Roman, (tradução do alemão por G. Schecher), Paris, Zodiaque, 1987, p. 325.
  • 34. 34 primorosa, e para a qual, apesar dos retoques posteriores, não concorreu sómente a melhor qualidade da pedra" (16). Em 1964, o professor Oliveira Ramos defendia que o que restava da primitiva igreja românica deveria datar do segundo quartel do século XII (17). Já em 1978, dizia o professor Ferreira de Almeida que o portal de Vilar de Frades, tal como pode ser observado, “constitui uma adaptação da época românica, como a sua arcada interior bem mostra [...] possivelmente não são originais algumas impostas" (18). E acrescentava: "Temos também dúvidas sobre a adaptação da janela alta que aí vemos" (19). Não estando completamente ultrapassados os problemas que impedem uma datação rigorosa, hoje é praticamente certo que, tanto o portal como a janela (20) do antigo mosteiro beneditino, foram (re)construídos nos inícios do século XIX, aquando das obras aí realizadas a partir de 1804-1805, data em que o reitor Martinho José de Almeida "deu inicio a frontaria da igreja" (21). 1.1. NOTÍCIAS DO MOSTEIRO BENEDITINO (16) BARREIROS, Manuel de Aguiar - A Egreja de Villar de Frades, Porto, Edição Marques de Abreu, 1919, p. 9. Informa este autor que, "disseminados pelas hortas e ruinas do Convento encontram-se ainda alguns capiteis e bases romanicas" - Idem, Ibidem (nota 4). (17) OLIVEIRA RAMOS, Luís A. de - Uma Arcatura Historiada de Vilar de Frades, Sep. das Actas do III Colóquio Portuense de Arqueologia, Porto, 1965, p. 6. (18) FERREIRA DE ALMEIDA, Carlos Alberto - A Arquitectura Românica de Entre-Douro-e-Minho, Vol. II, Tese de doutoramento apresentada na F.L.U.P, Porto, 1978, p. 150. (19) Idem, Ibidem. (20) Admitimos a hipótese desta janela ter como base a reutilização de pedras do possível portal lateral, que comunicava com o claustro medievo. Quanto ao antigo pórtico axial, é sabido que houve adaptações nas arquivoltas, nos inícios do século XIX. (21) A.D.B. - Ms. 924, fl. 780.
  • 35. 35 A inexistência de vestígios materiais anteriores ao período românico e a escassez de fontes escritas (22), têm impedido os investigadores de descerem às origens do mosteiro beneditino de Vilar de Frades. Data de 1059 a mais antiga referência que se conhece (23), embora tenha sido divulgada uma lendária carta do beneditino frei Drumário que, segundo frei Leão de São Tomás, teria sido escrita em 7 de Outubro de 571, missiva que dataria a fundação do mosteiro de S. Bento, por S. Martinho de Dume, em 566 (24). Ao mergulhar a fundação dos mosteiros beneditinos na conturbada Alta Idade Média, frei Leão de São Tomás põe em relevo o papel de S. Martinho de Dume, prelado da Igreja de Braga entre 570-583 (25): "Huma carta de hum Monje nosso chamado Frey Drumario escrita por nome Frey Frontano, e lançada naquelle livro antigo do Mosteyro de Pedroso, donde o nosso padre Frey João do Apocalipse per sua mão propria a copiou, cuja copia tenho em meu poder entre outras memorias suas, na qual falando o dito Monje de S. Martinho Dumiense diz assim: «Fructo ventris sui, posuerunt Deus, e Sanctissimus Pater Noster Benedictus supra sedes suas. Monasterium scilicet Dumiense, Antoniuum, Victorium, Tibanense, Villare, Vargense, Magnetense [...]» - Do fruto de S. Martinho puserão Deus e Nosso Pai Santissimo S. Bento tantos filhos seus nos mosteiros de Dume, Antonino, Vitorino, Tibanense, Vilar, Vargense, Manhetense" (26). (22) Para além de escassas, as fontes de que dispomos não nos permitem um olhar seguro sobre a fundação do antigo cenóbio de S. Bento. (23) MARQUES, José - A Arquidiocese de Braga no Século XV, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1988, p. 652. Cf. MATOS, Sebastião - Areias de Vilar. Das suas origens, Sep. da Barcelos Revista, Nº 2 - série II, Edição da Câmara Municipal de Barcelos, 1985, p. 4. (24) SÃO TOMÁS, Frei Leão de - Benedictina Lusitana, Tomo I, p. 358v.. (25) A.D.B. - Ms. 1054, fl. 21. Cf. SENNA FREITAS, Bernardino José de - Memorias de Braga Contendo Muitos e Interessantes Escriptos Extrahidos e Recopilados de Differentes Archivos, Tomo I, Braga, Imprensa Catholica, 1890, pp. 80 e 83. (26) SÃO TOMÁS, Frei Leão de - Ob. cit., p. 358v.. D. Rodrigo da Cunha (arcebispo de Braga em 1627-1635), legou-nos sobre o assunto o seguinte registo: "Vargense, Magnatense, forão a principio mosteiros, e ambos fundados por S. Martinho; o primeiro se chamou S. Bento da Varsea, uma legoa de Barcellos: he hoje Igreja parochial unida ao mosteiro de Villar de Frades, por renuncia, que delle fez o Abbade Vasco Roîz chantre desta Sé varão de muita virtude, e santos exemplos, foi dos primeiros Conegos Regulares (sic), que neste Reino florescerão,
  • 36. 36 Foi provavelmente o conhecimento que tinha desta carta (caso ela tenha realmente existido), ou seguindo a sua suposta publicação na obra de frei Leão de São Tomás, que Jorge de São Paulo (27) defendeu em 1658 (28), que o mosteiro de Vilar de Frades estivera sob a Regra de S. Bento desde 566 (29) até 714, altura em que este antigo cenóbio teria sido destruído pelas invasões muçulmanas (30). A investida destruidora dos mouros teria provocado o desaparecimento dos vestígios materiais, apagando os testemunhos da existência do mosteiro beneditino anterior aos inícios do século VIII (31). Uma vez reconstruído o velho conjunto monasterial, nele voltará a imperar a Ordem beneditina, entre 1070 e 1425 (32). A reconstrução dos séculos XI-XIII ter-se-á devido à acção de nobres locais, designadamente de D. Godinho Viegas e seus descendentes, que se destacaram na luta pela Reconquista Cristã e pela Independência de Portugal, ao lado dos primeiros viveo no reinado de Dom Affonso o Quinto, e em Villar de Frades está sepultado. São Martinho de Manhente se unio tãbem no mesmo tempo, pello mesmo Arcebispo Dom Fernando da Guerra a Villar de Frades: era então abbadia secular, e nesta fórma persevera hoje, com seu vigairo, que administra os Sacramentos aos freiguezes: dista pouco espaço do mesmo mosteiro" - CUNHA, Dom Rodrigo da - Da Historia Ecclesiastica dos Arcebispos de Braga e dos Santos Varões Ilustres, que florescerão neste Arcebispado. 1634, Braga, 1989, pp. 319-320. (27) Cronista da Congregação dos Cónegos Seculares de São João Evangelista, vulgo Lóios, Jorge de São Paulo nasceu em Lisboa, filho de Felicio Rodrigues e Catarina Carvalho e no século tinha o nome de Jorge de Carvalho - SÃO PAULO, Jorge de - História da Rainha D. Leonor e da fundação do hospital das Caldas, Lisboa, Tipografia da Empresa Nacional de Publicidade, 1928, p. 7. Jorge de Carvalho, tendo "a idade competente entrou na Congregação em 3 de Julho de 1609; e foi noviço nesta Caza de Villar de Frades. Ja contava 6 annos de habito, quando no de 1615 foi mandado para o curso de Filozofia, que na caza de Arraiolos leo o padre mestre Manoel da Ascenção" - MAGANO, Fernando - A respeito e em respeito da congregação de Vilar de Frades - O "Compêndio" do padre Jorge de S. Paulo (manuscrito da Biblioteca de Braga), in "Boletim do Centro de Estudos Humanísticos" (Anexo à Universidade do Porto), Vol. III, Nº 1, Porto, 1956, p. 10. (28) Na sua obra manuscrita, depositada no Arquivo Distrital de Braga: "Epílogo e compendio da origem da Congregação de Sam Joam Evangelista e do nacimento, vida e morte dos seus três fundadores. Da dundaçam dos nove conventos, das suas rendas; encargos; e prelados; e dos onze hospitaes da sua administração; e de outras memorias, composto e escrito pello padre mestreJorge de Sam Paulo sendo geral o reverendissimo padre Manoel da Madre de Deos, ambos naturaes da cidade de Lisboa corte del rei Dom João quarto felecissimo restaurador deste reino de Portugal. 1658" - A.D.B. - Ms. 924 . (29) Ano da suposta fundação, por S. Martinho de Dume - A.D.B. - Ms. 924, fl. 306. (30) Idem, Ibidem. (31) "Arruinado pellos mouros sem vestigios de mosteiro - 356 annos. Des o anno de 714 ate o de 1070" - Idem, Ibidem. (32) Idem, Ibidem.
  • 37. 37 monarcas, de quem recebem em troca determinados favores e privilégios, entre os quais a elevação do mosteiro a terra coutada (33). Aparentemente preocupado com a verdade histórica, mas não menos em afirmar a qualidade e a antiguidade do sítio religioso do convento de Vilar de Frades, Jorge de São Paulo, "revolvendo o cartorio deste convento de Villar" (34), encontrou uma "memoria" do (re)fundador do mosteiro beneditino (no século XII), que integrou na sua crónica, não deixando no entanto de "dar credito à carta de frei Drumario" (35), para datar a primitiva fundação na segunda metade do século VI: "Revolvendo o cartorio deste convento de Villar achei huma memoria que diz primeiro fundador, e reformador do mosteiro de São Salvador de Villar foi D. Pero Salvadores, e sua mulher Sancha Martins, o qual foi fidalgo da caza del rei D. Sancho 1º, e ahi jazem sepultados. Esta memoria devia ter fundamento em o dito rei D. Sancho na era de Cezar de 1210, e na de Christo de 1172 coutar ao convento de Villar por fazer merce a D. Pedro Salvadores e a sua mulher D. Sancha Martins pello muito serviço que fizera a el rei D. Afonso Henriques seu pai" (36). Porém, acrescenta o cronista: "Quem fez a memoria totalmente se enganou pois hemos dar credito à carta de frei Drumario na nova fundação pello bispo de (33) "As concessões de coutos, frequentes entre os séculos IX e XIII como expressão clássica do regime senhorial (e a que correspondem, além-Pirenéus, as cartas de imunidade), implicavam, como privilégio mais importante, a proibição de entrada de funcionários régios (juizes, meirinhos, mordomos, etc.) na terra coutada. Além disso, escusavam-se, em geral, os seus moradores de cumprir serviço militar no exército do rei, de solver tributos pecuniários ou braçais ao monarca, de pagar multas aplicadas ao fisco, etc." - OLIVEIRA MARQUES, A. H. de - Couto, in Dicionário da História de Portugal (dir. Joel Serrão), Vol II, Porto, Livraria Figueirinhas, 1989, p. 225. (34) A.D.B. - Ms. 924, fl. 307. (35) Idem, Ibidem. (36) Idem, Ibidem.
  • 38. 38 Dume São Martinho pellos annos de Christo de 566 (37) e ao infante D. Pedro pella reedificação por D. Godinho Viegas pellos annos de Christo de 1070 [...] o que me parece he que este convento de Villar quando hera governado pellos abbades de São Bento depois da reedificação tinhão seus padroeiros sucessivos; e o primeiro como reedificador foi D. Godinho Viegas a que socederão seus filhos no padroado e netos que seria este D. Pedro Salvadores que por seus particulares serviços feitos a el rei D. Afonso Henriques pederia em satisfação a el rei D. Sancho seu filho lhe coutasse o dito convento de Villar, como consta da carta referida" (38). A mãe deste protector, Dona Gotinha, filha de D. Nuno e Dona Adosinda (39), terá contribuída para o crescimento económico do convento, ao fazer-lhe a doação de uma propriedade rústica de Santiago de Encourados, nos inícios do séc. XII: "Attendendo à obra pia e santa que tinha feito seu filho quiz tambem accrecentar a renda do restaurado convento com lhe fazer doação de huma herdade que possuia em Encourados pellos annos de Christo de 1104" (40). A propósito da reedificação dos antigos mosteiros beneditinos medievais, havia dito frei Leão de São Tomás que: "No que toca ao de S. Bento da Varzea destruido na entrada dos Mouros em Hespanha, reedificousse pellos annos de Christo mil e tantos (sic) por hum fidalgo daquelle tempo chamado Dom Soeyro Guedes sogro de D. Godinhos Viegas o que reedificou Villar de (37) Sebastião Matos chama a atenção para o facto desta datação carecer de provas documentais, "pois nem elementos escritos, nem quaisquer outros vestígios nos permitem concluir por tal antiguidade" - MATOS, Sebastião, - Ob. cit., p. 2. (38) A.D.B. - Ms. 924, fl. 307. Cf. SÃO TOMÁS, Frei Leão de - Ob. cit., p. 406. Cf. SANTA MARIA, Francisco de - Ob. cit., pp. 362-364. (39) A.D.B. - Ms. 924, fl. 307.
  • 39. 39 Frades, e irmão de D. Troicozendo Guedes, o que fundou Paço de Sousa. E ambos elles filhos de D. Guido Arnaldes, e netos de D. Arnaldo de Bayão, segundo affirma o conde D. Pedro em seu nobiliario titulo 42" (41). Apoiados na tradição - que muito valorizamos, mas que nem sempre constitui certificado de certeza -, o manuscrito de Jorge de São Paulo e toda a bibliografia tradicional, fizeram recuar até à segunda metade do século VI a fundação do mosteiro de S. Bento. No último terço do século XIX, Arnaldo Gama reflecte na literatura o legado da tradição escrita e oral: "A primitiva fundação do mosteiro de Villar data, segundo dizem, da segunda metade do século VI; mas foi sómente desde os principios do século XV que pertenceu aos padres loyos, os quaes, apossando-se d'elle, architectaram sobre o acanhado e mesquinho cenóbio, que os beneditinos tinham abandonado, o magestoso edificio que ainda hoje se levanta n'aquelle local. D'esta epoca é que data tambem a sua celebridade. Desde então o mosteiro de Villar foi sempre tido em conta de um dos mais famosos do Minho. E com justiça o era, não só em razão da magestade do edificio e do pittoresco do sitio, mas, e sobretudo, em respeito das grandes riquezas que possuia, e dos vastos dominios que senhoreava" (42). Destinados a escrever as primeiras páginas da história multissecular da Congregação dos Cónegos Seculares de São João Evangelista, no primeiro convento sito na antiga freguesia de S. Salvador de Vilar de Frades (43), os religiosos que ali estacionaram a (40) "A qual doação refiro aqui por antiquissima, e por se considerar o latim macarronico uzado nas escrituras daquelle tempo" - Idem, fl. 306. (41) SÃO TOMÁS, Frei Leão de - Ob. cit., p. 406. (42) GAMA, Arnaldo - O Sargento-Mór de Villar, Vol. I, 2ª edição, Porto, 1885, p. 10. (43) Posteriormente, a fusão das 3 freguesias - Santa Maria Madalena de Vilar, S. João Baptista de Areias de Vilar e S. Salvador de Vilar de Frades - resultou na que mantém o nome de S. João de Areias de Vilar - Cf. FONSECA, Teotónio da - O Concelho de Barcelos Aquém e Além-Cávado, (Reprodução fac-similada da edição de 1948), Vol. II, Barcelos, Companhia Editora do Minho, 1987, pp.27-29.
  • 40. 40 partir de 1425 - no contexto da reforma pastoral e monástica de D. Fernando da Guerra -, herdaram toda a riqueza espiritual (a riqueza material, como veremos, era reduzida) do longínquo passado beneditino. Dirigimos o nosso olhar - interrogado, para não dizer desconfiado -, sobre o passado opaco do mosteiro medieval, cuja fundação pertenceria ao século de S. Martinho de Dume, pelo respeito que nos merece a tradição... que também pode falar verdade (44). O MOSTEIRO BENEDITINO DE VILAR DE FRADES: 665-1425 (45) DATA FACTOS PROTAGONISTAS 566 Fundação S. Martinho, bispo de Dume. 1070 Reconstrução D. Godinho Viegas - descendente de D. Arnaldo de Baião. 1104 Ampliação (em terras) D. Gotinha – parente de D. Godinho Viegas 1172 Carta de couto D. Sancho I - a pedido de D. Pedro Salvadores, descendente de D. Godinho Viegas. 1302 Doação do padroado e jurisdição, a D. Geraldo bispo do Porto. D. Beringeira Aires - "sendo Herdeira e padroeira de vários conventos, entre os quais o de Vilar de Frades, doou em 12 de Agosto de 1302 o padroado e jurisdição que tinha sobre este a D. Geraldo, bispo do Porto". 1400 Passagem a "abadia secular, sob o padroado do Arcebispo de Braga". Arcebispo D. Martinho Afonso Pires. Cf. MATOS, Sebastião - Ob. cit., pp. 7 e 9. (44) Não estamos em condições de provar, nem contestar, tal antiguidade. (45) Cf. FONSECA, Teotónio da - Ob. cit., pp. 29-30.
  • 41. 41 1425 Entrega do mosteiro ao mestre João Vicente. D. Fernando da Guerra, arcebispo de Braga e João Vicente, futuro bispo de Lamego e de Viseu. 2. GÉNESE DA CONGREGAÇÃO DOS CÓNEGOS SECULARES DE S. JOÃO EVANGELISTA - LÓIOS Os primitivos membros da nova instituição religiosa, bem depressa conhecidos por Bons Homens de Villar (46), baptizaram-na como Congregação dos Cónegos Seculares de S. Salvador de Vilar de Frades (47), designação que permanecerá até 1461, altura em que esta nomenclatura será alterada, devido à influência da rainha Dona Isabel e à sua particular devoção por S. João Evangelista, que fez com que o Pontífice Pio II ordenasse um novo título: Congregação dos Conegos Seculares de S. João Evangelista (48). FOTO 2 Parte superior da portada de acesso ao “terreiro dos cabedais” do convento, com a imagem de S. João Evangelista (séc. XVII). (46) "Em quanto aos nomes com que esta Congregação foi, & he conhecida em Portugal; o primeiro que teve foi o dos Bons Homens de Villar, antonomasia, a toda a luz, gloriosa, da qual se fiserão dignos os nossos Conegos, & a logràrão por muitos annos, pela virtuosa, exemplar, & santa vida, em que florecèrão nos seus principios. Achãose ainda hoje muitas doações, & testamentos, nos quaes muitas pessoas de authoridade, & supposição: Deixam [dizem] aos Bons homens de Villar, tal, ou tal propriedade" - SANTA MARIA, Francisco de - O Ceo Aberto na Terra, Lisboa, 1697, p. 235. (47) Idem, Ibidem. Ver LANCASTRE, Maria do Carmo Henriques de - A Igreja do Convento de Vilar de Frades segundo as Memórias do Padre Jorge de São Paulo (1658), Sep. da Barcelos Revista, Nº 2 - série II, Edição da Câmara Municipal de Barcelos, 1991, pp. 169-170. (48) "Depoes pela devoção, que a Rainha D. Isabel, mulher de D. Affonso V insigne protectora nossa, teve ao Evãgelista, ordenou o Põtifice Pio II à instancia del-Rey D.Affonso V [que pedio esta graça por contemplação, & respeito da Rainha sua mulher] que se chamasse de S. João Evãgelista, & este he o seu proprio nome: Congregação dos Conegos Seculares de S. João Evãgelista" - SANTA MARIA, Francisco de - Ob. cit., p. 235.
  • 42. 42 Todavia, viria a designar-se por Ordem dos Lóios, com a transferência da sede para Lisboa, em Santo Elói, vindo tal designação popular a merecer o seguinte reparo de Francisco de Santa Maria: "por abuso he chamada de S. Eloy, costume vulgar deste reyno, dar às religiões o titulo derivado de algum principal mosteyro" (49). Por outro lado, os lóios eram também conhecidos por Cónegos Azúis "derivando-se a estravagancia deste appellido, da singularidade da cor do habito" (50). Fundada em 1425 sobre as ruínas do antigo mosteiro beneditino de Vilar de Frades, a Congregação dos Cónegos Seculares de São João Evangelista viria a implantar-se em várias regiões do território nacional (51), ao longo do século XV e inícios do século XVI, sob o apoio e protecção de papas e de arcebispos bracarenses (a quem os padres se vão opor, sempre que os seus direitos e interesses estiverem ameaçados), mas também de nobres e monarcas. Como teremos ocasião de verificar, estes cónegos evangelistas, orgulhosos da sua casa-mãe sita em Vilar de Frades, contam antes de mais com a protecção da Santa Sé e a benignidade dos arcebispos de Braga, que os beneficiam através da anexação de 13 igrejas à de S. Salvador de Vilar de Frades, entre 1425 e 1510. Atente-se desde já no seguinte apontamento: "O nome de Santo Eloi lhe rezultou da caza que tem na corte de Lisboa; o de Evangelista, he por que tomarão a S. João Evangelista por seu protector, e o seu verdadeiro instituidor e fundador foi S. Lourenço Justiniano. Foi este Sancto o primeiro que se chamou patriarca de Veneza. Tambem o chamão fundador da Congregação dos conegos nominados de S. Jorge de Alga de quem somarão o nome os assima ditos. Entrarão, estes padres neste arcebispado no tempo do arcebispo D. Fernando, que lhes deu a caza e antigo mosteiro de Villar de Frades, que inda hoje possuem, e he huma respeitavel collegiada: o seu reitor (49) Idem, Ibidem. (50) Idem, p. 236. (51) Designadamente no Porto, Vila da Feira, Lamego, Coimbra, Lisboa e Évora.
  • 43. 43 elleito em capitulo geral vem colar-se pelo arcebispo bracharense, e fazer profição da fé e fica paroco de treze igrejas, cujas curas provê e lhe dá cartas annuais" (52). FOTO 3 Parte superior do portal do “terreiro da igreja”, com a imagem de S. Lourenço Justiniano (séc. XVII) 2.1. DO CONVENTO DOMINICANO DE BENFICA E DA IGREJA DOS OLIVAIS, EM LISBOA, A SANTA MARIA DE CAMPANHÃ, NO PORTO Preocupados com a "relaxação grãde a que se via lastimosamente redusida a ordem sacerdotal" (53), cerca de 1420, o mestre João Vicente e os seus companheiros Martim Lourenço e Afonso Nogueira (54) reuniam-se em casa de Lourenço Anes, prior da igreja de S. Julião, "outro sacerdote, douto, e virtuoso" (55), onde em conjunto reflectiam sobre as causas da decadência social e religiosa em geral e do clero em particular (56). As dificuldades da governação no reinado de D. Fernando, as perturbações políticas e sociais que se seguiram após a sua morte e as guerras entre Portugal e Castela, enfim a crise socio-política e militar de 1383-1385 terá estado na origem da corrupção e dissolução do clero, que deixou de respeitar as "obrigações da sua dignidade, sendo (52) A.D.B. - Ms. 340, fl. 1v.. (53) SANTA MARIA, Francisco de, Ob. cit., p.209. Ver LANCASTRE, Maria do Carmo Henriques de - Ob. cit., pp. 171-172. Ver FERREIRA, Mons. José Augusto - Ob. cit., p. 266 (54) "O primeiro catedrático de Medicina na universidade de Lisboa, o segundo doutor graduado na sagrada Teologia da mesma universidade, o terceiro graduado também em um, e outro Direito pelo universidade de Bolonha" - SANTA MARIA, Francisco de, Ob. cit., p.209. Estes três "illustres sacerdotes propunham-se fazer na ordem clerical uma reforma profunda, acompanhando, assim, o pensamento organizador de D. João I, na ordem política" - FERREIRA, Mons. José Augusto - Fastos Episcopaes da Igreja Primacial de Braga (século III - século XX), Tomo II, Braga, Ed. da Mitra Bracarense, 1930, p. 266. Cf. LANCASTRE, Maria do Carmo Henriques de - Ob. cit., pp. 170-173. (55) SANTA MARIA, Ob. cit., p. 209. (56) Idem, pp. 209-210.
  • 44. 44 géralmente cada Clerigo hum vivo escandalo dos seculares: era lastimosa em quasi todos a ignorancia, sem reparo a devacidao, & sem freyo a soltura da vida" (57). Foi neste contexto socio-religioso e psicológico que João Vicente se retirou do século e vestiu o hábito dominicano no convento de Benfica, animado da vontade de reformar o clero "em huma nova Congregação" (58). Este ímpeto reformista encontrou eco entre os companheiros Martim Lourenço e Afonso Nogueira, que acompanharam o mestre João Vicente, vindo a ser secundados pelos irmãos Lourenço Anes e João Anes, por João Rodrigues e Rodrigo Amado (que deixa o hospital de Santo Elói), Afonso Pedro e Martim João, e rapidamente surgiu a oferta de acolhimento na igreja de Nossa Senhora dos Olivais, pelo prior dela, que cedeu igualmente uma casa "para em huma, & outra começarem o novo modo de vida" (59). Nesta igreja experimentaram os religiosos uma vida comunitária, mendicante e assistencial, dando especial atenção à humildade e à pregação, à penitência e à confissão, às rezas e orações (60), com evidentes reflexos, segundo Francisco de Santa Maria, nos diferentes grupos sociais, incluindo a família real (61). Entretanto, nem tudo estaria a correr bem nos Olivais já que, por obra "do espirito maligno", o prior da igreja deu ordem de saída aos religiosos que abrigara, o que constituiu uma ameaça aos progressos dos congregacionistas: João Anes refugia-se do mundo na serra de Ossa, onde levará uma vida de ermitão até à morte; Lourenço Anes regressa à sua igreja de São Julião; Rodrigo Amado volta para o hospital de Santo Elói; Afonso Pedro e Martim João regressaram, enfim, às suas antigas ocupações (62). Os restantes, porém, irmanados pelo mesmo espírito de reforma e sob a direcção espiritual de João Vicente, procuram no norte do país o abrigo e a protecção que lhes faltou no sul. (57) Idem, p. 210. (58) Idem, pp. 210-211. (59) Idem, p. 213. (60) Especialmente Martim Lourenço ter-se-á celebrado "no pulpito", sem pretensões de fama, nem "applauso, mas só a conversão do auditorio" - Idem, p. 214. (61) "Tambem o Mestre João vinha muitas vezes a Lisboa, e ao Palacio por ordem del-Rei, e dos Infantes", os quais descobriam no religioso dupla utilidade - "porque se de antes era medico dos córpos, agora com mais alta medicina, curava não menos douta, que piedosamente, as enfermidades d'alma" - Idem, p. 214. (62) Idem, p. 215.
  • 45. 45 Foi na igreja de Nossa Senhora de Campanhã, no tempo em que é bispo do Porto D. Vasco II, entre 1421-1423 (63), que estacionaram os quatro "resistentes" dos Olivais: Martim Lourenço, Afonso Nogueira, João Rodrigues e o mestre João Vicente (64). Nesta igreja continuaram os religiosos a obra iniciada na capital: uma vida comunitária e mendicante, de reza e oração, de pregação doutrinal pelas ruas e praças da cidade do Porto, confessando os pecadores - "tudo com summo fervor" (65). Um facto novo veio no entanto perturbar o projecto que poderia irradiar a partir da cidade invicta. Sendo o bispo do Porto D. Vasco transferido para o bispado de Évora, os quatro religiosos encontraram a oposição do abade que os tinha acolhido. Consequentemente, o grupo dos quatro foi obrigado a "evacuar a Igreja de Campanhã por ordem do Abbade, que, tendo-a cedido em attenção ao Bispo, reconsiderara depois da sua ausencia" (66). FOTO/GRAV. 4 Mestre João Vicente, fundador da Congregação dos Cónegos Seculares de S. João Evangelista (futuro bispo de Lamego e de Viseu) 2.2. DO PORTO A BRAGA, O DESTINO É VILAR DE FRADES Acompanhado de João Rodrigues, o médico e mestre João Vicente desloca-se à cidade de Braga onde é recebido por D. Fernando da Guerra, "o qual tambem lhe era muito (63) FERREIRA, Mons. José Augusto - Ob. cit., p. 266. D. Vasco "devia muito" ao mestre João Vicente, desde o tempo em que este "o havia curado de huma enfermidade perigosa, no tempo que ambos assistião na Corte" - SANTA MARIA, Francisco de - Ob. cit., p. 215. (64) SANTA MARIA, Francisco de - Ob. cit., p. 215. (65) Idem, Ibidem. (66) FERREIRA, Monsenhor Cónego José Augusto - Ob. cit., p. 266. "D. Vasco offereceu-lhes agasalho em Evora; porém os padres preferiram Braga, onde o Arcebispo D. Fernando da Guerra lhes deu Villar de Frades no concelho de Barcellos" - Idem, Ibidem. É neste contexto que, desanimados, Martim Lourenço e Afonso Nogueira regressam a Lisboa, deixando a promessa de voltarem quando "se achasse morada segura", enquanto o mestre João Vicente
  • 46. 46 obrigado, porque (da sorte que ao Bispo Dom Vasco) sobre huma grande enfermidade lhe havia ministrado a saude" (67), prometendo ao seu ilustre hóspede a primeira igreja que vagasse: "Vagou pouco depoes a de S. Salvador de Villar de Frades, mosteyro, que fora de religiosos do grande Patriarca S. Bento, & que ao presente estava destituido de todo o genero de observancia regular; o Arcebispo lhe mandou, que a fosse ver, segurando, que o proveria nella, em caso que lhe contentasse. Achou o Mestre João humas pobres casas, ou chóças, & huma pequena Igreja, tudo em tal estado, que tinha mais de ruina, que de edificio. Não havia alli outra renda, senão os poucos frutos, que davão os passaes visinhos, nem havia na circunferencia (pela muita pobresa da terra) quem pudesse dar esmola; socorro com que em outras partes supprirão a falta da renda; tudo isto erão dificuldades, que se oppunhão, e atravessavão aos intentos, e desejos do varão de Deos; mas elle superiormente illustrado, entendeo, que naquelle sitio era o Senhor servido, que a nova Congregação se fundasse, & firme neste pensamento, declarou ao Arcebispo, que aceitava a Igreja, na qual logo foi colado" (68). Reportando-se a um "breve tratado" do padre Paulo (69), escrito em 1468, sobre as origens da Ordem evangelista (70), Jorge de São Paulo relata-nos como mestre João foi a Vilar de Frades, a mando do arcebispo D. Fernando da Guerra, "per ver se hera sitio e conveniente pera fundar a sua nova Congregação" (71). busca na cidade dos arcebispos o apoio indispensável à fundação da nova Congregação - Cf. SANTA MARIA, Francisco de - Ob. cit., pp. 216-217. (67) Idem, Ibidem. A.D.B. - Ms. 924, fl. 331. (68) SANTA MARIA, Francisco de - Ob. cit., pp. 217-218. (69) Julgamos tratar-se do cónego que nos aparece como reitor entre 1472-1477 e 1480 - Cf. Lista dos Reitores do Convento de Vilar de Frades..., no final deste Capítulo. (70) Ver LANCASTRE, Maria do Carmo Henriques de - Ob. cit., p. 199. (71) Idem, Ibidem.
  • 47. 47 João Vicente terá encontrado o antigo mosteiro bento "mui dannificado com a claustra velhissima que servia de corte de gado [...] e as mais officinas arrazadas" (72), enquanto a igreja funcionava como celeiro e adega, tal era o abandono em que se encontrava, pelo que "de todo o edificio antigo nada ficou aos nossos padres para morada sua do que huas cellas terres, e a igreja velha" (73). 2.3. A IMPORTÂNCIA DE MESTRE JOÃO VICENTE E DE D. FERNANDO DA GUERRA, ARCEBISPO DE BRAGA As origens deste novo instituto devem-se à vontade e à acção persistente de três homens de elevada cultura e espírito religioso reformista: mestre João Vicente, Martim Lourenço e Afonso Nogueira (74). Mestre João Vicente (1380-1463), natural de Lisboa, distinguiu-se como lente de Medicina na Universidade da capital e como médico da corte de D. João I. Tendo cursado em Filosofia e completado o curso de Teologia, viria a ser nomeado bispo das dioceses de Lamego e de Viseu, para além de empreender a reforma da Ordem de Cristo (75). Martim Lourenço (1403-1446) era também natural da mesma cidade. Foi doutor pela sua Universidade, onde se tornou amigo do mestre João Vicente. Martim Lourenço terá acompanhado o infante D. Fernando (de quem seria confessor) e a infanta D. Isabel, na (72) Idem, Ibidem.. (73) Idem, Ibidem Sobre este assunto, Santa Maria escreve em 1697: "Os dormitorios, & officinas estavão no chão, sendo agora acervo, o que fora edificio: A cerca, & horta estavão cõvertidas em mato, & finalmente a Igreja, destinada para o culto divino, servia de abrigo ao gado, sem haver alli outra cousa boa, mais que o sitio. Neste estado estava o convento [ou não estava, porque só se via o cadaver do que fora] quando o Arcebispo Dom Fernando da Guerra o deu ao veneravel Mestre João" - SANTA MARIA, Francisco de - Ob. cit., p. 369. (74) Cf. LANCASTRE, Maria do Carmo Henriques de - Ob. cit., pp. 170-171. Cf. FONSECA, Teotónio da - Ob. cit., pp. 30-31. Cf. CASTRO, João Baptista de - Mappa de Potugal, Tomo III, Lisboa, 1747, pp. 145-150. Cf. SANTA MARIA, Francisco de - Ob. cit., pp. 217-218. (75) LANCASTRE, Maria do Carmo Henriques de - Ob. cit., pp. 170-1771. Sobre a biografia de mestre João Vicente ver SANTA MARIA, Francisco de - Ob. cit., pp.551-611 Cf. CORREIA, Fernando da Silva - Um notável médico conselheiro do Infante D. Henrique, in "Actas do Congresso Internacional de História dos Descobrimentos", Vol. III, Lisboa, 1961, pp. 57-58 e 64.
  • 48. 48 viagem à Borgonha, aquando do casamento desta princesa com o duque Filipe. Mas este religioso ter-se-á igualmente destacado como eminente pregador (76). Por seu lado, Afonso Nogueira doutorou-se "in utroque jure" pela Universidade de Bolonha. Foi a este futuro prelado de Lisboa e de Coimbra que coube a tarefa de trazer a Regra e o hábito azul dos Cónegos de S. Jorge em Alga (Veneza), que foram adoptados pelos padres de Vilar, havendo sido o responsável pelas negociações que levaram à confirmação da nova Congregação pela Santa Sé, através de uma bula do papa Eugénio IV, datada de 20 de Janeiro de 1431 (77). Mas a fundação da nova Ordem religiosa deveu-se, fundamentalmente, ao papel desempenhado pelo mestre João Vicente, que para o efeito se dirigiu ao paço bracarense em busca de apoios, e por D. Fernando da Guerra (arcebispo de Braga entre 1417-1467), que acolheu o religioso e lhe entregou a igreja do mosteiro de S. Bento de Vilar de Frades, no ano de 1425 (78). Após a entrega desta igreja ao mestre João Vicente, e com a concordância do Cabido da sua Sé, D. Fernando da Guerra anexou-lhe a igreja do mosteiro de S. Bento da Várzea, sob determinadas condições, entre as quais a subordinação dos reitores aos arcebispos de Braga, traduzida na emissão de um competente título de confirmação do cargo, após a sua eleição pelos religiosos reunidos em Capítulo Geral (79). Porém, na primeira oportunidade (80), os cónegos de Vilar de Frades pugnarão pela sua autonomia, fazendo valer os seus interesses e influências: tanto em Roma, junto da Santa Sé, como em Lisboa, junto da corte régia e junto do conde de Barcelos, vindo a enfrentar (76) LANCASTRE, Maria do Carmo Henriques de - Ob. cit., p. 171. Cf. SANTA MARIA, Francisco de - Ob. cit., pp. 611-638. (77) LANCASTRE, Maria do Carmo Henriques de - Ob. cit., pp. 171 e 177. Cf. OLIVEIRA RAMOS, Luís A. de - Uma Arcatura Historiada de Vilar de Frades, Sep. das Actas do III Colóquio Portuense de Arqueologia, Porto, 1965, p. 8. (78) A entrega da igreja do mosteiro beneditino de Vilar de Frades, ao mestre João Vicente, verificou-se a 28 de fevereiro de 1425, quando o arcebispo D. Fernando da Guerra "iniciou por aí a visita às paróquias do termo de Barcelos, que se prolongou durante cerca de um mês", no quadro da reforma religiosa então empreendida - MARQUES, José, O Estado dos Mosteiros Beneditinos da Arquidiocese de Braga, no século XV, Separata da "Bracara Augusta", Vol. XXXV, Braga, 1981, pp. 28-29. (79) FERREIRA, Mons. José Augusto - Fastos Episcopaes da Igreja Primacial de Braga (século III - século XX), Tomo II, Braga, Ed. da Mitra Bracarense, 1930, p. 267. (80) João Vicente diligenciou junto da Santa Sé o apoio indispensável à criação da nova Ordem, vindo a obter dos papas Martinho V e Eugénio IV "a confirmação da sua Congregação ad instar da de S. Jorge de Alga em Veneza, e os privilegios de S. Jorge e de S. Jeronimo, conferidos pela Bulla Injunctum nobis, expedida em 18 de Maio de 1431" - Idem, p. 268.
  • 49. 49 o arcebispo (81), com o qual "padecerão" muitos incómodos, "com tantos litigios teimozos induzidos mais da enveja do seu arcediago e da paixão do seu Cabido, do que do seu benigno e pio animo" (82). As veleidades independentistas manifestadas pelos padres constituíram uma afronta ao prelado da Arquidiocese de Braga, pois os "Conegos azues de Villar fizeram-se vermelhos, e enveredaram pelo caminho da ingratidão" (83), no quadro de uma luta que ganhou contornos políticos (84), ao arrastarem para a contenda não apenas a Santa Sé (85), mas também o monarca D. Afonso V e o duque de Bragança e conde de Barcelos D. Afonso. Enquanto vai favorecendo, paradoxalmente, o convento e a sua igreja (anexando-lhe várias igrejas das redondezas), D. Fernando da Guerra recorre a demandas e ameaças contra os padres, produz sentenças, alimentando uma longa batalha jurídica pela manutenção dos seus poderes em toda a extensão do seu senhorio eclesiástico. No ano de 1461 D. Fernando conseguirá, enfim, vergar os já poderosos cónegos de Vilar de Frades: "Afinal em 29 de Abril de 1461 lavrou-se um instrumento, pelo qual se mostra ter sido dada posse do Mosteiro de Villar de Frades ao Arcebispo D. Fernando da Guerra, que confirmou em Reitor João de Nazareth, eleito pela Communidade, e absolveu os Religiosos das censuras, em que tinham incorrido, por não (81) "As questões não foram só com D. Fernando da Guerra e com D. Luiz Pires, mas tambem com D. Diogo de Sousa e até com D. Fr. Bartholomeu dos Martyres" - Idem, p. 267 (82) A.D.B. - Ms. 924, fl. 350. Reconhece o cronista que D. Fernando da Guerra foi um "mui grande bemfeitor", já que beneficiou generosamente o convento de Vilar de Frades "primeira cabeça da Congregação unindo-lhe nove igrejas" que, com os cerca de 10 passais do antigo mosteiro de S. Bento, "rendem hum anno por outro tres mil cruzados" - Idem, Ibidem. (83) "Porém tiveram de sustentar com D. Fernando da Guerra, bisneto del Rei D. Pedro I, uma lucta que durou vinte annos, e no fim submeteram-se" - FERREIRA, Mons. José Augusto - Ob. cit., p. 269. (84) O poderio do arcebispo chocava com o "grande potentado" do duque de Bragança, D. Afonso, cujo domínio senhorial se estendia a todos os lugares e vilas da arquidiocese, exceptuando-se as de Ponte de Lima e de Valença - Cf. FERREIRA, Mons. José Augusto -, ob. cit., p. 270 (85) Cf. FERREIRA, Mons. José Augusto - Ob. cit., pp. 269-270.
  • 50. 50 quererem obedecer á Sentença apostolica contra elles proferida" (86). Ficava, pois, definitivamente traçado o futuro da relação institucional de dependência dos reitores de Vilar de Frades aos arcebispos de Braga, dependência que os reitores tentarão mitigar ao longo dos séculos seguintes (87). A obediência ao prelado de Braga não se revestia de um acto meramente formal, antes devendo manifestar-se num conjunto de atitudes e comportamentos, devidamente regulados: "O dito senhor arcebispo, e seus sucessores visitarão a dita igreja de Villar de Frades, e suas anexas cada ano por si ou por seus vizitadores, como vizita todos os seos beneficios [...] e o dito reitor e coneguos virão ao Sínodo, e guardarão, e comprirão as Constituiçoins Sinodais e vizitaçoins que farão o senhor arcebispo, e sucessores, e vizitadores forem feitas assi como dito he do dito colegio, e igreja de Villar, assi tão bem pagarão as anexas [...] e se alguma das igrejas anexas ao dito colegio, e igreja de Villar vier a ser de todo despovoada de freguezes, os conegos da dita caza, e colegio de Villar de Frades não serão teudos de pagar os emcargos della" (88). A confirmação do cargo de reitor do convento não deixava de constituir uma condição fundamental, na medida em que o cónego escolhido para o desempenho da função, em reunião do Capítulo Geral, tinha de aguardar pela decisão do prelado de Braga. (86) FERREIRA, Mons. José Augusto de - Ob. cit., p. 270. "Depois d'isto parecia estar tudo acabado; todavia os Conegos de Villar discutiram ainda as custas do pleito, as quaes foram obrigados a pagar, em virtude da sentença executorial do Auditor apostolico, dada em Roma aos 25 de Setembro de 1461" - Idem, Ibidem. (87) Com efeito, a existência de uma série de documentos do século XVIII (treslados e originais), vem demonstrar-nos a permanência, desde o século XV, de conflitos entre os padres de Vilar e os arcebispos, relacionados com a apresentação e jurisdição de certas igrejas, como a de S. Miguel de Gemeses e a de Stª Marinha de Rio Tinto - A.D.B. - Fundo Monástico Conventual, L 16. (88) A.D.B. - Fundo Monástico Conventual, L 12, 110v..
  • 51. 51 Em 1563, o Geral dos lóios Diogo da Ressurreição, escreve a D. Frei Bartolomeu dos Mártires (arcebispo em 1559-1590) a pedir a confirmação de Diogo da Purificação como reitor do convento de Vilar: "Dioguo da Resureição reitor Geral da Congregação de São Evangelista (sic) com os padres definidores do Capitulo que se hora celebrar na nossa casa de São João da cidade de Evora fazemos saber a vosa reverendissima santidade como no sobredito Capitulo foi enleito canonicamente ho padre Dioguo da Purificação em reitor da casa de Vilar de Frades. Apresentamo-lo a vosa reverendissima santidade pera o que conforme segundo a composição dantre vosa reverendissima santidade e ha sobredita casa no que receberemos merce. Noso Senhor conserve sua reverendissima pessoa pera lhe sempre fazer muito serviço como lhe faz. Feita na sobredita casa de São João da cidade de Evora e aselada do selo da sobredita Congregação e asinada per mim aos doze dias de Junho de 1563 annos" (89). Em 10 de Setembro do mesmo ano, o arcebispo responde ao Geral, investindo o reitor eleito nas suas funções: "Reverendissimo Senhor. Vista a eleiçam do padre reitor Geral e mais padres da Congregaçam de Sam Joam Evangelista, a confirmamos e approvamos, e damos por reitor da casa de Vilar de Frades ao padre Diogo da Purificaçam, e o investimos na dita reitoria per imposiçam de barrete cometendo-lhe o regimento espiritual com as mais obrigações deste officio. E pella presente avemos por prorogada a provisão que o anno passado mandamos passar neste caso ao dito padre Diogo da Purificaçam, e que serve della ate o (89) A.D.B. - Fundo Monástico Conventual, L 12, fl. 106.
  • 52. 52 Penthecoste que bem. Dada em Sam Frutuoso aos dez de Setembro Francisco de Faria a fez de 1563. O arcebispo primas" (90) Não obstante as dificuldades de relacionamento motivadas pelo ideal de autonomia dos padres de Vilar, foi a D. Fernando da Guerra que se deveu a fundação desta nova Congregação, considerada uma "comunidade de tipo novo" (91), dada a sua natureza secular. Como defende o professor José Marques, a Ordem dos Lóios "só conseguiu sobreviver na arquidiocese de Braga, após os fracassos sofridos em Lisboa e no Porto" (92). Por conseguinte, em Areias de Vilar nasceu e sobreviveu, com dificuldades mas também com momentos de glória, o convento de S. Salvador de Vilar de Frades – primeira casa religiosa dos cónegos seculares evangelistas –, até à data da sua extinção em 1834. 2.4. DAS IGREJAS ANEXAS AO CONVENTO DE VILAR Para além de entregar a igreja de Vilar de Frades, que havia sido reduzida a igreja secular (93), D. Fernando da Guerra anexou ao seu convento várias igrejas (94), "e muitas (90) Idem, Ibidem. (91) MARQUES, José - D. Fernando da Guerra, Prelado Reformador do Século XV, Sep. dos «Anais», II série, Vol. 33, Lisboa, Academia Portuguesa da História, 1993, p. 56. (92) Idem, Ibidem. Cf. MARQUES, José - Os Itinerários do Arcebispo de Braga D. Fernando da Guerra (1417-1467), Porto, 1978, p. 31. (93) FERREIRA, Monsenhor José Augusto - Ob. cit., p. 267. A redução da igreja beneditina à condição de igreja secular integra-se no quadro de uma reforma monástica empreendida por D. Fernando da Guerra. Neste contexto, segundo o professor José Marques, quando o arcebispo "reconhecia que as hipóteses de recuperação" das igrejas monásticas "se tinham esgotado, não hesitava em proceder à sua extinção canónica, convertendo-os em igrejas paroquiais [...]. Foi através deste processo que os vinte e seis mosteiros beneditinos ficaram reduzidos a treze, sendo apenas um feminino, e os agostinhos passaram de dezoito para onze" - MARQUES, José - D. Fernando da Guerra, Prelado Reformador do Século XV, Sep. dos «Anais», II série, Vol. 33, Lisboa, Academia Portuguesa da História, 1993, p. 56. (94) De imediato anexou-lhe a igreja de S. Bento da Várzea, "com certas obrigações, especialmente que seriam os Reitores, eleitos pelos Religiosos, confirmados pelos Arcebispos, que lhes passariam titulo, pagando de obediencia apenas um real de prata" - FERREIRA, Monsenhor José Augusto - Ob. cit., p. 267.
  • 53. 53 mais annexara se se não quebrara o fio da sua affeição" (95) pelos padres a quem beneficiou, na sequência de prolongadas demandas movidas pelo arcebispo para pôr termo ao projecto autonomista dos fundadores da nova Ordem religiosa. Com efeito, depois de unir em 1425 a igreja e o seu mosteiro de S. Bento da Várzea ao convento de Vilar de Frades, D. Fernando da Guerra procede a um conjunto de anexações de igrejas, parecendo ignorar o conflito que desde cedo o opõe aos cónegos (96). Antes de mais anexa a igreja de Santa Maria Madalena, que estivera ligada ao antigo mosteiro beneditino de Vilar mas que havia sido reduzida a abadia secular na sequência do seu abandono por parte dos monges bentos (97). Com a renovada união desta igreja ao convento de Vilar, em 1426, o arcebispo ordena "aos moradores do dito sitio da Madalena a serem freguezes do reformado convento, e que nelle pagassem os dizimos e primicias" (98). Mais tarde, em 1441, D. Fernando redigirá nova carta de união, devido a ter-se perdido a de 1426 (99). Em 1439, D. Fernando da Guerra estabelece uma concordata com o convento, para tentar "sojeitar os nossos padres à sua obediencia renunciando os seus privilegios da izenção dos ordinarios" (100). O cronista defende que o arcebispo tentou "contentar" os padres, ao unir ao seu convento a igreja de S. João de Areias de Vilar "em qualquer tempo que vagasse ou por morte, ou por rennuncia do abbade que actualmente a possuia" (101). Acto contínuo, sendo Afonso Anes abade da igreja de Areias de Vilar, logo a ela renunciou e "se meteo religioso" do convento (102). Cf. SENNA FREITAS, Bernardino José de - Ob. cit., Tomo IV, pp. 207-208. Cf. Apêndice Documental, doc. VI. (95) A.D.B. - Ms. 924, fl. 331. (96) Para além das 9 igrejas que o prelado anexa ao convento da nova Congregação, nele incorporou o "mosteiro dos padres Bentos de que não tiverão os nossos padres lucro algum mais que os passaes e a maior parte delles herão terras incultas e baldias, e por industria nossa são hoje passaes de muita consideração em tapadas, devezas, vignago" e, num gesto de gratidão, Jorge de São Paulo acrescenta: "ainda no tempo das controversias não reparou em annexar e consentir na permutação de tantas igrejas, e assi podemos affirmar nos deu de renda annual hum anno por outro hum conto de reis" - A.D.B. - Ms. 924, fl. 335. (97) Idem, fl. 333. Sobre a dependência da Madalena ao antigo mosteiro beneditino e a sua anexação a Vilar de Frades, ver MATOS, Sebastião - Ob. cit., p. 7. (98) A.D.B. - Ms. 924, fl. 333. (99) "E porque se perdeo a carta da união o dito arcebispo a annexou de novo em 4 de Setembro de 1441. Rende 50 mil reis" - Idem, fl. 334. (100) Idem, fl. 333. (101) Idem, fl. 333. (102) Idem, fl. 333.
  • 54. 54 Mas para que não perdesse a jurisdição eclesiástica sobre o convento, D. Fernando da Guerra terá utilizado na carta de união a seguinte fórmula: "annexamos à nossa igreja collegiada de Villar de Frades" (103). A de Maio do referido ano de 1439, o mesmo arcebispo terá anexado ao convento de Vilar "fosse per obitum ou por renuncia" (104) a igreja de S. Romão de Fonte Coberta, com as suas duas anexas, respectivamente S. Salvador e S. João de Silveiros, que distam duas léguas do convento (105). No entanto, aos 20 de Dezembro de 1441, talvez porque os padres as desejariam mais próximas, trocaram estas três igrejas por duas outras - a de S. Pedro de Adães, que fica a sul mas junto de Areias de Vilar e a de Algoso (106). Esta, por sua vez, será permutada com a de Santiago de Encourados (107). Nesta mesma data terá sido igualmente anexada a igreja de Santa Maria de Moure, na sequência do pedido dos padres "porque na troca com as duas igrejas de Adães, e de Encourados achavão os padres ficavão lezos se permutassem quatro igrejas por duas" (108), atendendo a que Santa Maria de Moure estava anexada à de S. Romão (109). A posse destas igrejas ter-se-á verificado em 1442 (110). Corria ainda o ano de 1441, D. Fernando da Guerra anexava a igreja de Santa Leocádia da Pedra Furada, localizada a duas léguas (lado poente) do convento (111). Esta igreja fora padroado de S. Salvador da Várzea, "insolidum sem alternativa com outro padroado" (112) e vagou no mês de Janeiro de 1441(113). Por consequência, "como o convento de Villar em aquelles principios tinha lemitada renda, e as igrejas annexas estavão deminutas por falta de lavradores freguezes que as guerras e pestes tinhão consomido" (114), os religiosos pediram ao arcebispo que "houvesse por bem annexalla", o que terá acontecido no mesmo ano (115). (103) Idem, fl. 333. (104) Idem, fl. 334. (105) Idem, fl. 334. (106) Idem, fl. 334. (107) Idem, fl. 334. (108) Idem, fl. 334. (109) Idem, fl. 334. (110) Idem, fl. 334. (111) Idem, fl. 335. (112) Idem, fl. 335. (113) Idem, fl. 335. (114) Idem, fl. 335. (115) Idem, fl. 335.
  • 55. 55 Em 1445 foi a vez da igreja de S. Jorge de Airó e a sua anexa S. Martinho serem unidas ao convento de Vilar de Frades, pelo mesmo prelado de Braga (116). A igreja de S. Vicente de Areias, abacial de reduzida renda, terá sido anexada em 14 de Maio de 1458, por D. Fernando da Guerra, à igreja do mosteiro de Manhente, que havia sido reduzida a abadia secular (117), no âmbito da reforma pastoral e monástica empreendida na Arquidiocese (118). Por conseguinte, quando a polémica anexação da igreja de Manhente é resolvida em 1480, por D. Luís Pires, a igreja de S. Vicente passará igualmente para a posse dos padres de Vilar. No ano de 1466, uma nova permuta, devidamente autorizada pelo prelado bracarense, levou os cónegos de Vilar de Frades à entrega de três igrejas - S. Romão de Fonte Coberta e suas anexas S. Salvador e S. João de Silveiros -, enquanto tomavam definitivamente posse das circunvizinhas igrejas de S. Pedro de Adães e Santiago de Encourados: "Ficou o convento de Villar com as duas igrejas de S. Pedro de Adães, e Sam Tiago de Encourados por troca de São Romão de Fonte Cuberta e São Salvador, e São João de Silveiros suas annexas, a qual troca e união se fez em 28 de Junho de 1466. Por maneira que deo o convento tres igrejas por duas ficando perdendo alguns cem mil reis; porque São Romão, e as duas anexas estão reduzidas à huma commenda de Christo que rende 300 mil reis alem dos 20 reis da fabrica, e 40 mil reis do reitor e 20 mil reis para os dous curas das annexas, e assi duas igrejas rendem 231 mil reis" (119). D. Luís Pires (arcebispo entre 1467-1480), será o responsável pela anexação da igreja de Santa Maria de Góis, na sequência da renúncia do seu abade, Diogo Anes que - (116) Idem, fl. 335. (117) Idem, fls. 355-356. A redução a abadia secular da igreja do mosteiro beneditino de S. Martinho de Manhente data de 1403 - Cf. FONSECA, Teotónio da - Ob. cit., p. 289. (118) Cf. MARQUES, José - D Fernando da Guerra, Prelado Reformador do Século XV, pp. 55-59. O cronista salientou o desinteresse do arcebispo, devido a esta igreja possuir uma pequena renda, e o facto do seu abade Vasco Lourenço necessitar de internamento em Braga, por ter sido contagiado de lepra - A.D.B. - Ms. 924, fl. 336.
  • 56. 56 "como hera devotissimo dos nossos padres e desejava recolherse com elles querendo passar o resto da vida em mais apertado serviço de Deus" (120) -, a entregou nas mãos do arcebispo em 1480, "em favor deste convento" (121), pelo que o chefe da igreja de Braga procedeu de imediato à sua união "e della tomou posse o padre Paulo no mesmo anno" (122). Quanto à igreja de Manhente, sendo a sua jurisdição aparentemente confiada ao reitor de Vilar pelo papa Nicolau V, através de uma bula de 1448 (e outra de confirmação, em 1450), a sua tomada de posse ter-se-á verificado, efectivamente, em 1480, após o reconhecimento do documento pontifício pelo novo arcebispo, D. Luís Pires. Sobre a anexação da igreja de S. Melião de Mariz, vejamos como os padres de Vilar não recusavam entrar no jogo dos negócios eclesiásticos, fazendo valer os seus interesses, junto das mais altas instâncias. Estando o cardeal "Alpedrinha" D. Jorge da Costa, em Roma, e tendo falecido o abade de S. Melião de Mariz, os cónegos de Vilar propuseram ao prelado a união desta igreja ao seu convento (123). Aparentemente, o cardeal recusou o pedido formulado e colou na referida igreja o abade João dos Santos, pela bula de 20 de Abril de 1507 (124). Atentos aos seus interesses, os conventuais fizeram eleger em Capítulo João dos Santos como reitor de Vilar, que renunciará a sua igreja, logicamente, a favor do seu convento. Para convencer o papa, João dos Santos argumentou as constantes despesas com os peregrinos e romeiros, que se dirigiam para Santiago de Compustela: "Sendo este padre abbade de São Melião foi eleito em reitor de Villar, e renunciou a igreja nas mãos do dito papa Julio 2º em favor do convento de Villar allegando as muitas despezas que o convento (119) A.D.B. - Ms. 924, fl. 334. (120) Idem, fl. 340. (121) Idem, fl. 340. (122) Idem, fl. 340. (123) Idem, fl. 341. (124) Idem, fl. 341.
  • 57. 57 fazia com os continuos peregrinos e romeiros de Santiago de Galiza [...] o papa a unio no anno de 1510" (125). Em síntese, remata Jorge de São Paulo: "Com esta ultima igreja de São Melião de Mariz dei noticia das treze que se anexarão e unirão a este soberano convento de Villar em varios tempos - nove pello arcebispo Dom Fernando da Guerra; duas de Manhente e Sam Vicente, pelo Papa Nicolao 5º; huma pello arcebispo Luis Pires; e esta ultima pello Summo Pontifice Julio 2º" (126). Assim, entre 1425 e 1510, os cónegos de Vilar de Frades logram a união de 13 igrejas ao seu convento, duas delas com mosteiro (S. Bento da Várzea e S. Martinho de Manhente), passando a beneficiar das suas rendas e da influência directa e indirecta sobre os fregueses, por força da jurisdição temporal e espiritual, ainda que o reitor continuasse a depender da confirmação do arcebispo de Braga. IGREJAS ANEXADAS AO CONVENTO DE VILAR DE FRADES, SEGUNDO JORGE DE S. PAULO (127) DATA ARCEBISPOS E PAPAS IGREJAS 1425 D. Fernando da Guerra S. Bento da Várzea 1426 D. Fernando da Guerra Santa Maria Madalena (125) Idem, fl. 341. (126) Idem, fl. 341. (127) Idem, fls. 331-341. Cf. SANTA MARIA, Francisco de - Ob. cit., pp. 399-400. Cf. SENNA FREITAS, Bernardino José de - Ob. cit., p. 207.
  • 58. 58 1439 D. Fernando da Guerra S. João de Areias de Vilar 1441 D. Fernando da Guerra Santa Leocádia de Pedra Furada 1441 D. Fernando da Guerra Santa Maria de Moure 1445 D. Fernando da Guerra S. Jorge de Airó 1445 D. Fernando da Guerra S. Martinho de Airó 1448 Papa Nicolau V S.Martinho de Manhente (128) 1458 D. Fernando da Guerra S. Vicente de Areias 1458 D. Fernando da Guerra S. Pedro de Adães 1466 D. Fernando da Guerra Santiago de Encourados 1480 D. Luís Pires Santa Maria de Góis 1510 Papa Júlio II S. Melião de Mariz 2.5. A UNIÃO DE S. MARTINHO DE MANHENTE A insuficiência das rendas e os reduzidos proventos dos dízimos auferidos das primeiras igrejas anexas, juntamente com o facto de aos padres de Vilar não convir o recurso à mendicidade, por serem cónegos (129), terão feito com que a rainha D. Isabel (mulher de D. Afonso V) dirigisse à Santa Sé uma súplica, em nome desta "rezão cabal de pobreza do convento" (130), para que fosse incorporada na casa de Vilar de Frades mais uma igreja do arcebispado de Braga. D. Isabel terá alegado ainda a falta de meios materiais "para sostentarem o numero de religiosos convenientes para o serviço do choro, e do altar" (131), em conformidade com a grandeza e dignidade da casa evangelista. (128) Como adiante referiremos, embora a primeira bula da união tenha sido passada em 1448, a serem verdadeiros os factos narrados, os padres de Vilar apenas tomarão posse da igreja de S. Martinho de Manhente e do seu mosteiro em 1480. (129) A.D.B. - Ms. 924, fls. 336-337. (130) Idem, fl. 337. (131) Idem, fl. 337.