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CENTRO UNIVERSITÁRIO MAURÍCIO DE NASSAU
CURSO DE GRADUAÇÃO DE ARQUITETURA
THIAGO ANTÔNIO MAGALHÃES BENTINHO
MERCADO JANGADEIRO : PROJETO DE UM MERCADO PÚBLICO
PARA A CIDADE DO PAULISTA-PE
RECIFE
2021
2
THIAGO ANTÔNIO MAGALHÃES BENTINHO
MERCADO JANGADEIRO : PROJETO DE UM MERCADO PÚBLICO
PARA A CIDADE DO PAULISTA-PE
Projeto apresentado ao Curso de Graduação de
Arquitetura do Centro Universitário Maurício de
Nassau do estado de Pernambuco, como pré-
requisito para obtenção de nota da disciplina
Trabalho de Graduação II, sob orientação da
Mestra Mary da Silva Rached.
RECIFE
2021
3
Dedico este trabalho de conclusão do curso a minha avó
Nair Magalhães (in memoriam) por ter participado da
formação da minha vida e que hoje ilumina o meu caminho
em meio a tantas adversidades e conquistas.
Dedico este trabalho aos meus pais pela formação do meu
caráter e valores e por sempre terem me incentivado ao
longo do curso e formação profissional.
4
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus pela vida, pela luz de viver cada dia de estudo com
bastante força e ânimo em passar por desafios e por me permitir a continuar esse
caminho de trabalho com bastante saúde em meio a uma fase pandêmica.
Aos meus pais, Adriana e Jailson, por terem me incentivado ao longo do curso e me
ajudado em todas as etapas do trabalho e que foram essenciais na formação do meu
atual caráter e busca incessante pelo conhecimento.
Aos meus amigos da faculdade, Alice, Evellyn, Williane, Rafaella, Julianne entre
outros que sempre estiveram juntos comigo em todos os momentos do curso e que
sempre compartilharam experiências e troca de conhecimento e são pessoas que
tenho um amor imenso e as levarei para a vida toda.
A minha professora orientadora Mary Rached, por ser uma pessoa incrível e que me
proporcionou material para pesquisa dos mercados públicos no Recife.
Aos meus professores que foram essenciais para minha formação profissional e
responsáveis pelo meu primeiro contato na área de arquitetura.
5
“Acredito que as coisas podem ser feitas de outra maneira e que vale a pena tentar”
Zaha Hadid
6
RESUMO
O seguinte trabalho tem como objetivo a elaboração do projeto de um mercado
público para a cidade do Paulista-PE, mais especificamente no bairro do Janga, local
de maior densidade demográfica do município. O mercado público em um edifício
para comercialização de produtos e possibilita o encontro de pessoas, bem como
grandes valores culturais. Para a elaboração desse trabalho, foram elaboradas duas
etapas. Na primeira etapa foram realizadas pesquisas bibliográficas para produção de
referencial teórico, relacionado ao comércio, tipologias de mercados públicos
existentes e vitalidade urbana. Na segunda etapa foram levantados dados
demográficos e urbanísticos do local, bem como suas necessidades comerciais,
necessários para dar início ao projeto. A diversidade de tipologias comerciais e
conceitos relacionados a vitalidade urbana foram fatores norteadores para o
desenvolvimento do tema. Por fim, teve como resultado o projeto de um mercado
público que possa suprir as demandas populacionais e econômicas locais e que tenha
um partido diversificado em conjunto com o potencial natural da região. A realização
do projeto teve sucesso por obter e levantar informações urbanísticas e populacionais
do local afim de realizar um diagnóstico para implantação do projeto, o que também
levou em consideração todos os aspectos socioculturais da cidade.
Palavras Chave: Arquitetura comercial, Cultura, Sustentabilidade ambiental,
Centralidade urbana, Turismo, Dinamização
7
ABSTRACT
The following work has as its objective to elaborate the project of a public market for
the city of Paulista-PE, more specifically in the neighborhood of Janga, place of
greatest demographic density of the municipality. The public market in a building for
the commercialization of products and allows people to meet, as well as great cultural
values. For the elaboration of this work, two stages were elaborated. In the first stage,
bibliographical research was carried out to produce a theoretical referential, related to
commerce, typologies of existing public markets, and urban vitality. In the second
stage, demographic and urbanistic data of the place were collected, as well as its
commercial needs, necessary to start the project. The diversity of commercial
typologies and concepts related to urban vitality were guiding factors for the
development of the theme. Finally, the result was the design of a public market that
can supply the local population and economic demands and that has a diversified party
in conjunction with the natural potential of the region. The project was successful
because it obtained and collected urban and population information from the local
population in order to make a diagnosis for project implementation, which also took
into consideration all the socio-cultural aspects of the city.
Key-words: Commercial architecture, Culture, Environmental sustainability, Urban
centrality, Tourism, Dynamization
8
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Feira livre em espaço público ...................................................................23
Figura 2 - Atividades comerciais na Idade Média......................................................24
Figura 3 - Acesso do Grand Bazaar em Istanbul - Turquia .......................................25
Figura 4 - Planta baixa do Grand Bazaar em Istanbul - Turquia ...............................27
Figura 5 - Interior do Grand Bazaar em Istanbul - Turquia........................................27
Figura 6 - Interior da Galeria Colbert.........................................................................29
Figura 7 - Planta baixa das galerias Colbert e Vivienne............................................30
Figura 8 - Interior do Burlington Arcade ....................................................................30
Figura 9 - Interior do Grand Magasin Bon Marché - França......................................31
Figura 10 - Vista do Grand Magasin Bon Marché - França .......................................32
Figura 11 - Áreas de venda no Grand Magasin Bon Marché – França .....................33
Figura 12 – Mercado da Candelária, no Rio de Janeiro ............................................34
Figura 13 – Acesso principal do Mercado de São José em Recife/PE......................36
Figura 14 – Planta baixa do mercado de São José em Recife/PE............................37
Figura 15 – Pavilhão de frutos do mar do Mercado de São José..............................37
Figura 16 – Área externa do Mercado Ver-o-Peso em Belém/PA.............................39
Figura 17 – Planta baixa do mercado Ver-o-Peso em Belém/PA..............................39
Figura 18 – Mercado da Encruzilhada em Recife/PE................................................41
Figura 19 – Praça de alimentação do Mercado da Encruzilhada ..............................41
Figura 20 – Porta do tipo Vai e Vem .........................................................................43
Figura 21 – Espaço de uma cozinha industrial de acordo com as normas da ANVISA
..................................................................................................................................44
Figura 22 - Vista do Shopping Iguatemi, em São Paulo............................................49
Figura 23 - Grande concentração de pessoas no Shopping Riomar - Recife ...........51
Figura 24 - Circulação interna da Galerie Colbert - Paris..........................................52
Figura 25 - Corredor principal do Shopping Tacaruna - Recife .................................53
Figura 26 - Vista do Mercado de Areias, em Recife..................................................54
9
Figura 27 - Área externa do Mercado de Abastos de Curacautín .............................57
Figura 28 - Planta baixa do pavimento térreo............................................................58
Figura 29 - Circulação interna do mercado de Abastos ............................................58
Figura 30 - Área das cozinhas do mercado...............................................................59
Figura 31 - Volumetria dos pilares da área externa..................................................60
Figura 32 - Acesso principal do Mercado Estação Báltica ........................................61
Figura 33 - Área interna do mercado.........................................................................62
Figura 34 - Planta baixa do pavimento térreo............................................................63
Figura 35 - Planta baixa do pavimento superior........................................................63
Figura 36 - Espaço de circulação com pé direito alto................................................64
Figura 37 - Quiosques em madeira...........................................................................65
Figura 38 - Boxes comerciais com formato retangular ..............................................66
Figura 39 - Fachada principal do Mercado da Encruzilhada .....................................68
Figura 40 - Planta esquemática do Mercado da Encruzilhada ..................................69
Figura 41 - Fachada principal do Mercado da Boa Vista...........................................71
Figura 42 - Bicicletário e painel de informações no Mercado da Boa Vista...............72
Figura 43 - Pátio interno do Mercado da Boa Vista...................................................73
Figura 44 - Circulação frontal no Mercado da Boa Vista ...........................................73
Figura 45 - Planta esquemática do Mercado da Boa Vista .......................................74
Figura 46 - Madeiramento do telhado do Mercado da Boa Vista ..............................75
Figura 47 - Vista de situação do lote.........................................................................76
Figura 48 - Vista frontal do lote do TCC ....................................................................79
Figura 49 - Vista aérea do bairro do Janga ...............................................................80
Figura 50 - Calçadão da Praia do Janga...................................................................80
Figura 51 - Vista da Av. Dr. José Cláudio Gueiros Leite, lote do TCC ao lado .........81
Figura 52 - Vista lateral do lote do TCC (R. de Belém Maria) ...................................82
Figura 53 - Vista frontal do lote (Beira mar)...............................................................82
Figura 54 - Uso do calçadão pela população ............................................................83
Figura 55 - Presença do comércio ambulante no calçadão do Janga.......................84
10
Figura 56 - Feira de artesanato no calçadão do Janga .............................................84
Figura 57 - Bar na faixa do calçadão.........................................................................85
Figura 58 - Degradação do mobiliário urbano no calçadão.......................................86
Figura 59 - Degradação do passeio público no calçadão..........................................86
Figura 60 - Vista superior do bairro. Grandes condomínios residenciais ao fundo ..88
Figura 61 - Estabelecimentos comerciais na Av. Cláudio José Gueiros Leite...........90
Figura 62 - Av. Dr. Cláudio José Gueiros Leite .........................................................93
Figura 63 - Ônibus circulando na avenida principal...................................................93
Figura 64 - Vista da mata do Janga ..........................................................................95
Figura 65 - Presença de arborização em trecho próximo ao lote..............................96
Figura 66 - Edifícios de grande porte no bairro .........................................................98
Figura 67 - Edifício de grande porte no bairro...........................................................98
Figura 68 - Croqui para desenvolvimento do projeto...............................................103
Figura 69 - Croqui para desenvolvimento da implantação ......................................104
Figura 70 - Moodboard produzido a partir de imagens de referência para o projeto
................................................................................................................................104
Figura 71 - Vista isométrica do mercado.................................................................105
Figura 72 - Circulação principal do mercado...........................................................106
Figura 73 - Circulação interna do mercado .............................................................107
Figura 74 - Setor de hortifruti...................................................................................108
Figura 75 - Setor de frios.........................................................................................109
Figura 76 - Vista interna da praça de alimentação..................................................110
Figura 77 - Espaço externo do bar..........................................................................111
Figura 78 - Vista frontal do bar................................................................................112
Figura 79 - Croqui para desenvolvimento do mobiliário externo .............................112
Figura 80 - Área dos bancos e canteiros.................................................................113
Figura 81 - Iluminação noturna dos bancos e canteiros..........................................114
Figura 82 - Obra de arte aplicada na parede...........................................................115
Figura 83 - Croqui do zoneamento preliminar .........................................................118
11
Figura 84 - Fluxograma do zoneamento final do mercado ......................................119
Figura 85 - Zoneamento final do pavimento térreo..................................................120
Figura 86 - Zoneamento final do 1º pavimento........................................................121
Figura 87 - Diagrama de implantação do projeto ....................................................122
Figura 88 - Acesso do mercado pela beira mar.......................................................123
Figura 89 – Pergolado de madeira sobre acesso a beira mar.................................123
Figura 90 - Acesso do mercado pela Av. Dr. Cláudio Gueiros Leite .......................124
Figura 91 - Acesso lateral do mercado (R. De Belém Maria) ..................................125
Figura 92 - Elevações humanizadas do projeto ......................................................126
Figura 93 - Corte humanizado do projeto................................................................126
12
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Tipologia de plantas de mercados no mundo
Tabela 2 - Parâmetros de uso de acordo com as normas sanitárias
Tabela 3 - Dados técnicos do Mercado de Abastos de Curacautín
Tabela 4 - Dados técnicos do Mercado Estação Báltica
Tabela 5 - Dados técnicos do Mercado da Encruzilhada
Tabela 6 - Dados técnicos do Mercado da Boa Vista
Tabela 7 - Quadro de parâmetros urbanísticos da área
Tabela 8 - Tipologia de boxes comerciais
Tabela 9 - Programa de necessidades do projeto
13
LISTA DE MAPAS
Mapa 1 - Área de situação do estado de Pernambuco
Mapa 2 - Área de situação da Região Metropolitana do Recife
Mapa 3 - Delimitação da cidade do Paulista e demarcação do bairro do Janga
Mapa 4 - Cheios e vazios
Mapa 5 - Usos
Mapa 6 - Vias
Mapa 7 - Massas vegetativas
Mapa 8 - Gabarito
Mapa 9 - Mapa de condicionantes climáticos
Mapa 10 - Zoneamento do Plano Diretor
14
LISTA DE SIGLAS/ABREVIATURAS
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
ANVISA – Associação Nacional de Vigilância Sanitária
NBR – Norma Brasileira
VISA – Vigilância Sanitária da cidade do Paulista
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ZAD – Zona de Alta Densidade
15
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO....................................................................................................18
2.REFERENCIAL TEÓRICO...................................................................................22
2.1 ATIVIDADE E ESPAÇO COMERCIAL..............................................................22
2.2 MERCADOS NO MUNDO.................................................................................25
2.2.1 Bazaar Árabe .................................................................................................25
2.2.2 Feiras .............................................................................................................28
2.2.3 Galerias..........................................................................................................28
2.2.4 Lojas de departamento..................................................................................31
2.3 MERCADOS PÚBLICOS NO BRASIL...............................................................34
2.3.1 Mercado de São José.....................................................................................35
2.3.2 Mercado Ver-o-Peso ......................................................................................38
2.3.3 Mercado da Encruzilhada...............................................................................40
2.4 NORMAS SANITÁRIAS E LEGISLATIVAS.......................................................42
2.4.1 Nacional ........................................................................................................42
2.4.2 Estadual ........................................................................................................45
2.4.3 Municipal .......................................................................................................47
2.5 CONFLITOS E SEMELHANÇAS ENTRE MERCADOS PÚBLICOS E GRANDES
CENTROS COMERCIAIS .......................................................................................49
3. REFERÊNCIAS PROJETUAIS...........................................................................56
3.1 MERCADO DE ABASTOS DE CURACAUTÍN..................................................56
3.2 MERCADO ESTAÇÃO BÁLTICA ......................................................................61
3.3 MERCADO DA ENCRUZILHADA .....................................................................67
3.4 MERCADO DA BOA VISTA ..............................................................................71
4. APRESENTAÇÃO DA ÁREA.............................................................................76
4.1 ÁREA DE ESTUDO...........................................................................................76
5. ANÁLISE DO TERRENO E DO ENTORNO .......................................................81
16
5.2 Mapa de Nolli (Cheios e vazios)........................................................................87
5.3 Mapa de uso......................................................................................................89
5.4 Mapa de vias.....................................................................................................91
5.5 Mapa de massas vegetativas............................................................................94
5.6 Análise de gabarito............................................................................................97
5.7 Mapa de condicionantes climáticos...................................................................99
5.8 Zoneamento do Plano Diretor ...........................................................................101
6. ANTEPROJETO .................................................................................................103
6.1 Conceito Projetual.............................................................................................103
6.2 Partido Arquitetônico .........................................................................................105
6.3 Diretrizes Projetuais ..........................................................................................106
6.3.1 Boxes comerciais ...........................................................................................106
6.3.2 Boxes de hortifruti ..........................................................................................107
6.3.3 Boxes de frios.................................................................................................109
6.3.4 Praça de alimentação.....................................................................................109
6.3.5 Bares..............................................................................................................110
6.3.6 Banco com canteiros......................................................................................112
6.3.7 Cobertura .......................................................................................................114
6.3.8 Estacionamento..............................................................................................114
6.3.9 Obra de arte ...................................................................................................115
6.4 Programa de Necessidades ..............................................................................116
6.5 Zoneamento ......................................................................................................118
6.6 Implantação e Acessos .....................................................................................121
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................127
8. REFERÊNCIAS...................................................................................................129
APÊNDICE – PRANCHAS DO PROJETO .............................................................135
Prancha de situação e locação e coberta ...............................................................135
Planta baixa - pavimento semi enterrado ................................................................135
Planta baixa humanizada – pavimento térreo .........................................................135
17
Planta baixa - pavimento térreo...............................................................................135
Planta baixa humanizada – 1º pavimento ...............................................................135
Planta baixa – 1º pavimento....................................................................................135
Cortes......................................................................................................................135
Fachadas.................................................................................................................135
Detalhe – Banco com canteiros...............................................................................135
Detalhe – Brise........................................................................................................135
Especificação das fachadas....................................................................................135
Detalhe – Boxe de comércio geral ..........................................................................135
Detalhe – Boxe de hortifruti.....................................................................................135
Perspectivas............................................................................................................135
18
1. INTRODUÇÃO
O comércio é uma das atividades fundamentais dos primórdios humanos. É toda a
forma de troca de produtos entre as relações humanas, seguido de valor econômico.
Outros processos são intimamente interligados com a atividade comercial, entre elas
valores históricos e culturais que foram transmitidos entre as civilizações. De acordo
com Vargas (2012) O caráter social da atividade comercial surge quando existe a
necessidade do encontro e troca de ideias, palavras e sensações que fazem parte do
ato de comercialização de um produto. Dessa maneira o comércio depende de
aspectos sociais e subjetivos que vão além da mercadoria a ser negociada.
As atividades comerciais eram realizadas sem espaço definido, ocorrendo em locais
públicos da cidade. Antes do mercado público se consolidar de forma sólida, ele era
realizado em praças, no mesmo local de outras atividades corriqueiras (PINTAUDI,
2006). A necessidade do mercado enquanto local surgiu após necessidade de
ordenação e maior suprimento de alimentos diante do crescimento das cidades.
Pintaudi (2006) também menciona que o mercado como edificação surgiu após a
separação de suas atividades, instalando uma concepção burguesa de espaço.
Romano (2004) ressalta sobre o mercado como estrutura física que abrange vitalidade
de pessoas das mais diversas classes sociais e proporciona a diversidade dos
sentidos :
“Um mercado público pode ser um edifício em planta basilical, dividido
em naves, encimado por lanternins, ou igualmente um edifício que
concentra um espaçoso átrio geralmente quadrado, circundado por
galerias. Pode ser um ponto de encontro sem comparação, o coração
da cidade, onde se reúnem executivos, operários, donas-de-casa,
cortesãs, desocupados, estudantes e empregadas domésticas, bem
como uma lembrança impregnada de cheiros entrelaçados de peixes,
legumes, carnes, frutas, especiarias, grãos, queijos, flores, vinhos,
pastéis, fumos, incensos... “ (ROMANO, 2004, p. 16).
O Mercado público é uma instalação que abriga diversas atividades comerciais e
sociais nas cidades. A temática foi escolhida por ser um equipamento que reúne
19
elementos culturais e comerciais, além de gerar centralidades na malha urbana.
Danielli e Mackmillan (2018) mencionam que os mercado públicos são locais que
reúnem pessoas das mais diversas classes sociais com infinitas finalidades, sendo
legitimador de coletividades. Se torna evidente que os mercados são espaços públicos
que possibilitam o uso coletivo, permitindo diversas formas de usos. Estes espaços
propiciam vitalidade nas cidades. Os mesmos autores também abordam os mercados
públicos como papel essencial como integrador da sociedade e vitalidade urbana.
Vale lembrar que a diversidade e sociabilidade são valores marcantes de um mercado
público, elementos que são atrelados com a atividade comercial. Essa condição de
atividade social e abastecimento permite relacionar a atividade comercial do o
cotidiano das pessoas (VARGAS, 2012). Dessa forma, os mercados estão
relacionados com as atividades rotineiras da cidade, reunindo o fervor da sociabilidade
e comércio.
As cidades dependem de suprimentos, seja alimentares ou não para seu
funcionamento e suprimento da população. Em boa parte essas mercadorias são
comercializadas por meio dos mercados públicos que estão localizados nas regiões
centrais das cidades. Oliveira Júnior (2006) menciona que os mercados públicos e
feiras livres formam um dos principais tentáculos do sistema de abastecimento
urbano, em principal na distribuição de alimentos.
A demanda por suprimentos alimentícios nas cidades aumentou diante do aumento
populacional, o que obrigou os mercados a acompanharem seu crescimento por meio
da expansão de suas estruturas. Em contrapartida, a remoção dos mercados das ruas
e formações de redes de mercados tinham como intuito garantir o abastecimento
alimentar pleno (SILVA, 2017). A partir dessa necessidade, os mercados públicos
passaram a se materializar como edifício comercial que foi aplicado em diversos
países do mundo, inclusive no Brasil.
Os mercados públicos no Brasil surgiram em meados do século XIX como solução
para a crise sanitária na época, pois as atividades comerciais eram realizadas nas
ruas, envolta de todo o cotidiano da cidade. Além disso, havia uma demanda muito
maior por suprimentos diante do crescimento populacional nas áreas urbanas o que
exigiu um novo olhar sobre a contextualização dos equipamentos de varejo nas
cidades (OLIVEIRA JÚNIOR, 2006) .
20
Quanto ao material desses mercados, Murilha e Salgado (2011) mencionam que o
ferro foi responsável pelo surgimento de uma nova tipologia de mercados. Em geral
os espaços foram projetados com moldes dos mercados europeus, principalmente
marcados pelo uso do ferro.
Entretanto, foram encontradas falhas no funcionamento dos mercados públicos no
Brasil. Por mais que existam novas tecnologias e protocolos de higienização e
organização, os mercados públicos não vêm seguindo essa mesma linha, básica para
seu funcionamento de forma regular. Chaves e Gonçalves (2013) mencionam que as
tecnologias de higienização dos espaços e acondicionamento de alimentos não foram
acompanhadas nos mercados públicos, tornando pouco atraentes para o consumidor.
Desta forma é possível encontrar essa realidade em vários mercados do Brasil, sendo
marcado pela ineficiência do poder público em promover a estrutura adequada para
higienização e disposição dos boxes.
A função de um mercado depende em sua maioria das vezes por comércio de
mercadorias, sejam elas artesanais ou não. O mal funcionamento dos mercados por
ausência de estrutura e higiene adequada acaba por ocasionar na evasão de usuários
do mercado. Quando a vitalidade no acesso e troca de produtos deixa de existir, se
torna impossível manter a função do mercado (PINTAUDI,2006). Desta forma, são
observadas ausências de novas formas e funções para o mercado público,
necessitando atrair novos perfis de usuários e diferentes formas de sustento financeiro
para o local.
Em relação a infraestrutura, os mercados públicos entraram em processo de
sucateamento, sem condições para enfrentar a forte concorrência dos
supermercados, tornando reféns da própria ineficácia (OLIVEIRA JÚNIOR, 2006). O
autor também menciona que estes mercados possuem dificuldade para atender as
novas expectativas populacionais.
Os mercados de grande porte, como atacados e hipermercados vêm se tornando
equipamentos de maior acessibilidade e melhor estrutura para realizar suas compras
em detrimento das péssimas condições dos mercados públicos, resultante do descaso
do poder público.
O trabalho tem como objetivo geral elaborar o projeto um mercado público na cidade
do Paulista para o bairro do Janga com o intuito de dinamizar a economia e suas
relações urbanas.
21
Serão analisadas como as formas tipológicas de mercados públicos existentes podem
contribuir no desenvolvimento da cultura local e diversidade comercial do bairro. Além
disso, serão compreendidos os valores construtivos e características de ocupação do
local.
O projeto deverá trazer conforto térmico, lumínico e visual para os usuários do
mercado afim de gerar maior atratividade e potencializar as atividades comerciais e
de lazer.
O mercado público será consolidado como uma centralidade urbana que propõe
vitalidade para a interação social e gerar relações de troca e mobilidade para o bairro.
Serão propostos ambientes dimensionados e funcionais de forma a suprir as
necessidades e trocas comerciais.
O potencial ambiental existente no local será evidenciado para que esses elementos
sejam fatores norteadores do projeto.
Para o desenvolvimento da proposta, a metodologia consiste na pesquisa bibliográfica
sobre temas e conceitos relacionados ao comércio e levantamento dos dados
relacionados ao bairro e município e análise do local, sendo utilizado como estudo os
elementos urbanos e populacionais a fim de obter um entendimento da dinâmica do
local de estudo.
22
2.REFERENCIAL TEÓRICO
Para o desenvolvimento do trabalho, o referencial teórico foi estruturado em tópicos
relacionados ao comércio e respectivos mercados públicos como objeto de estudo
bem como as demais condicionantes para o projeto, como normas técnicas e
sanitárias.
2.1 Atividade e espaço comercial
A atividade comercial é considerada uma prática tradicional e está vinculada com o
caráter de troca, seja de mercadorias ou serviços que geram retorno econômico, ou
seja, a realização da compra entre o vendedor e cliente. E essa efetivação comercial
se torna bastante expressiva, pois depende da comunicação e outras atividades
sociais que permitem a difusão da prática comercial como o cruzamento do fluxo de
pessoas, estes geralmente em conjunto com outras atividades sociais (VARGAS,
2018).
A relação comercial com outras atividades urbanas políticas, religiosas e de lazer
permite que o comércio seja agente social e responsável pelo abastecimento
alimentício das cidades, no qual se estabelece o espaço físico do mercado. A origem
do mercado está no ponto de encontro de indivíduos que trazem seus produtos para
troca, geralmente localizados em pontos equidistantes dos pontos de produção
(VARGAS,2012).
Desta forma, se observa que o espaço do comércio irá depender da proximidade e
centralidade com as demais cidades para que a comercialização seja feita com
facilidade. O local do mercado também pode proporcionar uma centralidade para a
região, característica frequente no centro das cidades.
O espaço físico pode ser estabelecido em diversos locais, seja na esfera pública ou
privada (shoppings, centros comerciais). O comércio público se torna frequente em
praças e vias públicas (Figura 1). Em alguns casos a atividade não possui autorização
regular de funcionamento, do qual é chamado de comércio informal. Se trata de uma
prática antiga, pois se deve levar em consideração que antes do mercado se
consolidar de forma sólida, ele era realizado em praças e outros locais onde eram
23
desenroladas outras atividades corriqueiras (PINTAUDI, 2006). O espaço público
também pode interferir nas atividades comerciais, bem como a relação entre o
indivíduo comerciante e a cidade. Os espaços de troca, compra e venda de
mercadorias conseguem mostrar que a ocupação do espaço público demonstra a
forma que o indivíduo atua e mantém a relação de suas atividades (MORAES, 2017).
Desta forma, o espaço urbano se torna um agente condicionante da atividade
comercial, possibilitando identificar os seus valores socioculturais e o pertencimento
do indivíduo com a cidade.
Figura 1 - Feira livre em espaço público
Fonte : Prefeitura de Campo Grande/MS, 2020.
Quanto ao aspecto cronológico, as atividades comerciais eram realizadas nos
espaços abertos até o período da Idade Média conforme a Figura 2:
24
Figura 2 - Atividades comerciais na Idade Média
Fonte : CulturaMix, s/d.
O mercado público se tornou consolidado como espaço físico após a separação das
atividades urbanas, conforme Danielly e Mackmillan (2018) :
“A consolidação dos mercados da forma que se entende hoje,
cobertos, para uso cotidiano e como parte de um sistema de
abastecimento, está diretamente ligada à separação das atividades
que antes aconteciam simultaneamente na praça do mercado. Pois
além do comércio, esses eram os espaços fundamentais de
sociabilidade, agregando diversas formas de manifestações culturais
e da vida cívica.”
(DANIELLY, MACKMILLAN , 2018, p. 1108).
O processo de evolução do mercado também esteve relacionado por alguns fatores
como a crescimento das cidades, o que necessitou de maior demanda de suprimento
alimentício e bens de uso comum, além de políticas sanitaristas que promoveram
modificações no espaço urbano, o que também interferiu nas atividades comerciais e
na maneira que as mercadorias eram manipuladas.
25
2.2 Mercados no mundo
Serão abordadas as definições e características das edificações comerciais no âmbito
internacional, bem como suas origens (história, cronologia, análise arquitetônica) a fim
de obter exemplares dos locais destinados ao comércio.
2.2.1 Bazaar Árabe
O Bazaar é considerado um dos espaços comerciais mais tradicionais de origem
árabe, com primeiros registros encontrados no século IV a.C. Possui origem no
Oriente Médio e surgiu diante do alto fluxo de pessoas das mais variadas classes
sociais nas cidades de Meca e Medina. Os artesãos e comerciantes locais ocupavam
uma posição privilegiada pela localização de encontro com as rotas de comércio entre
a Europa, Índia e norte de África.
Figura 3 - Acesso do Grand Bazaar em Istanbul - Turquia
Fonte : Casal Wanderlust, s/d.
De acordo com Vargas (2018) a atmosfera do bazaar induz a um universo de
sensações com cores, sabores e odores onde a experiência faz parte do processo de
troca.(Figura 3) A atividade comercial de venda e troca de mercadorias também
26
dependia de diversos fatores para ser efetivada, como o diálogo e auxílio dos órgãos
sensoriais, como o olfato e tato. Machado (2008) aborda que o bazaar constituia as
atividades essenciais da sociedade islâmica e era retratado como espaço público, pois
diferentes grupos sociais conviviam harmonicamente. Desta forma, é possível
evidenciar que esses locais tinham a característica principal de ser um espaço
democrático e agente potencializador da interação social e demais atividades que
eram realizadas nas cidades do Oriente Médio.
Arquitetonicamente. o bazaar é formado por pequenos vãos fechados do espaço
externo, geralmente aberto para um pátio interno por motivos ambientais, pois são
locais áridos com tempestades de areia frequentes. As construções tinham poucas e
elevadas aberturas que demonstravam a busca por privacidade e contraste do
domínio interno e externo. O interior aparenta ser bastante decorado, seguido da
composição das mercadorias e outros elementos que proporcionavam toda a
diversidade do local.
O edifício era formado por vários pavimentos e dividido por estreitas lojas medindo
aproximadamente dois metros quadrados e eram elevadas do nível da rua. Seu
acesso se dava por uma única entrada e os pavimentos superiores eram formados
por estabelecimentos de menor fluxo de pessoas, em principal salas de escritório,
cambistas e negociadores.
Quanto ao seu planejamento, a setorização do bazaar e o espaço urbano nas cidades
árabes era feita conforme o tipo de atividade a ser realizada, conforme menciona
Vargas (2018) :
“A localização dos diversos tipos de mercadorias tinha suas razões
funcionais. Era desejável que atividades incômodas, como as de
tintureiros, coureiros, açougueiros, ceramistas, serralheiros e
vendedores de pólvora, permanecessem na periferia. Não apenas por
causa do cheiro, barulho e sujeira, mas também pelo risco de incêndio
ou necessidade de espaços maiores.”
(VARGAS, 2018, p. 85).
Logo, é possível encontrar as primeiras formas de planejamento urbano e setorização
na civilização árabe, levando em consideração seu uso e geração de incômodo para
a vizinhança e frequentadores do bazaar, além da expectativa pela expansão
comercial.
27
Figura 4 - Planta baixa do Grand Bazaar em Istanbul - Turquia
Fonte : Archnet, s/d.
Figura 5 - Interior do Grand Bazaar em Istanbul - Turquia
Fonte : Serif Yenen, s/d.
28
2.2.2 Feiras
As feiras eram instalações itinerantes situadas em locais abertos ao público. Em geral
as mercadorias eram oriundas de locais distantes, na maioria das vezes eram
aplicadas taxas e pedágios para a realização das feiras em algumas cidades da
Europa.
Eram especializadas em vender alguns tipos de mercadorias, o que atraía muitas
pessoas na procuradora de itens e suprimentos com maior exclusividade. A intensa
atividade das feiras provocava um alto fluxo de pessoas que vinham de diversos locais
apenas para apreciá-las (VARGAS, 2018)
2.2.3 Galerias
As galerias, também conhecida como passagens, são edificações que surgiram no
começo do século XIX em Paris e conectam o espaço público e privado de forma que
o espaço interior é aberto e conectado ao meio externo. Sua tipologia foi impulsionada
pelo positivo cenário econômico e oportunidade de negócios em Paris. De acordo com
Rossi (2015) as galerias foram disseminadas na Europa como reflexo da inovação,
refletindo a descoberta dos prazeres de consumo pelas novas elites que se formavam.
Desta forma, se tornaram um emblema da ascenção da burguesia em conjunto com
a descoberta do desejo pelo consumo na época.
As galerias são formadas por corredores de lojas entre uma ou mais edificações. O
acesso é restrito para pedestres, o que proporcionou a expansão da vida pública e
comodidade, pois era possível transitar entre quadras nos corredores internos da
galeria. A nova malha urbana existente e a evolução do ferro e do vidro foram
importantes para o sucesso do padrão arquitetônico das galerias (VARGAS, 2018). O
vidro e ferro foi um dos materiais mais utilizados, permitindo amplos corredores e luz
natural que adentrava as passagens. Hertzberger (1996) menciona sobre a amplitude
das galerias e sua fluidez entre o espaço interno e externo :
29
“As passagens altas e compridas, iluminadas de cima graças ao
telhado de vidro, nos dão a sensação de um interior : deste modo,
estão do lado de “dentro” e de “fora” ao mesmo tempo. O lado de
dentro e o de fora acham-se tão fortemente relativizados um em
relação ao outro que não se pode dizer quando estamos dentro de um
edifício ou quando estamos no espaço que liga dois edifícios
separados.”
(HERTZBERGER, 1996, p. 77).
Também foram construídas em parceria das autoridades com a iniciativa privada no
intuito de embelezar a cidade e se tornar um símbolo do comércio parisiense
(MACHADO, 2008)
Para Machado (2008), as passagens serviram para maior utilização dos espaços
interiores abertos e seu surgimento possibilitou o aumento das áreas comerciais
centrais sem a necessidade de expandir o perímetro central. As galerias
proporcionaram uma notória e fundamental expansão do mundo público (MACHADO,
2008).
Figura 6 - Interior da Galeria Colbert
Fonte : TimeOut
30
Fonte : Wikipédia
Fonte : WorthPoint
Figura 7 - Planta baixa das galerias Colbert e Vivienne
Figura 8 - Interior do Burlington Arcade
31
2.2.4 Lojas de departamento
As lojas de departamento surgiram na segunda metade do século XIX após o processo
revolucionário de transformação urbanística nas cidades europeias, em principal pela
intervenção de Haussmann na cidade de Paris, o que permitiu melhor controle no
espaço público e maior velocidade de circulação das mercadorias. O setor industrial
também foi beneficiado e o comportamento impulsivo pelo luxo e vaidade se tornou
frequente na alta sociedade e no setor comercial. O comércio de produtos supérfluos
alimentava a cultura do consumo e conduzia as normas das relações sociais na época
(MACHADO, 2008). As lojas passaram a ter maior apego estético e preocupação em
promover a boa aparência dos negócios comerciais. (Figura 9).
Figura 9 - Interior do Grand Magasin Bon Marché - França
Fonte : LAPS
As grandes magazines eclodiram com formas inovadoras de comercialização dos
produtos, em principal pela exibição e valor fixo do preço dos produtos e maior
espontaneidade de acesso aos consumidores, dispensando a obrigação social de
efetuar alguma compra ao entrar na loja. Conforme menciona Rossi (2015) as grandes
lojas encorajavam os consumidores a passear pelos corredores contemplando os
cenários de bens de consumo exóticos, de forma que poderiam participar desse
ambiente dispensados de qualquer obrigação.
32
As lojas eram compostas por elementos que seduziam os consumidores, assumindo
artifícios estéticos na publicidade e da qualidade arquitetônica. Eram edificações de
dois ou mais pavimentos formadas por grandes vãos e iluminação artificial em
abundância, além das luzes pelos vitrais brancos. Sua arquitetura era leve, tornando-
se uma realização moderna e sofisticada de um palácio dos sonhos (VARGAS, 2018)
A grandiosidade e verticalidade das grandes magazines gerou a necessidade em
facilitar o acesso aos pavimentos superiores, o que levou a surgir os elevadores e
escadas rolantes, invenções inéditas que possibilitaram a construção de edificações
comerciais com múltiplos pavimentos.
Figura 10 - Vista do Grand Magasin Bon Marché - França
Fonte : Les Cartes Postales
33
Figura 11 - Áreas de venda no Grand Magasin Bon Marché – França
Fonte : iartnouveau.co
Tabela 1 - Tipologia de plantas de mercados no mundo
TIPOLOGIA DAS PLANTAS BAIXAS DE MERCADOS
Tipo Características
Baazar Árabe Pequenos compartimentos
Poucas aberturas
Pátio interno
Acesso das lojas conectado por galerias abertas
Feiras Realizadas em espaços abertos
Locais itinerários
Galerias Grandes corredores
Repetição dos módulos comerciais
Circulação interna com iluminação natural
Ritmo
Lojas de departamento Grandes vãos
Verticalidade
Múltiplos pavimentos
Edifício fechado para o interior
Fonte : Autor
34
2.3 Mercados públicos no Brasil
Os mercados públicos surgiram a partir da metade do século XIX diante do
crescimento das cidades que necessitou de maior demanda no suprimento
alimentício. Também decorre da crise sanitária que ocorria na época e de propostas
higienistas. Esse discurso higienista surgiu diante do contexto do crescimento do
capitalismo fomentado pela industrialização nas grandes cidades europeias,
ocasionando um espaço de insalubridade e pobreza diante do avanço industrial
(MORAES, 2017).
Os ideais higienistas refletiram no contexto brasileiro, da mesma forma que foram
difundidos os materiais e tipologias construtivas dos mercados europeus. De acordo
com Vargas (2018), o sistema varejista no Brasil foi fortemente influenciado pelo
modelo europeu e em seguida pelo modelo americano.
No período da última década do século XIX até o início do XXI foram construídos
mercados públicos nas cidades brasileiras utilizando como modelo o Grande Mercado
de Paris projetado por Félix-Emmanuel Callet (MURILHA, SALGADO, 2011). Em sua
grande maioria, os mercados públicos foram projetados aos moldes dos mercados
europeus, em principal pelo uso do ferro.
O Mercado da Candelária foi o primeiro mercado público no Brasil, construído em
1841 no Rio de Janeiro. Porém, foi sua demolição ocorreu em 1911 após a
inauguração de um novo mercado municipal no local.
Figura 12 – Mercado da Candelária, no Rio de Janeiro
Fonte : Diário do Rio
35
Oliveira Júnior (2006) destaca sobre a demasiada expansão populacional das cidades
que obrigou a criação de uma nova infraestrutura comercial :
“Devido ao vertiginoso crescimento populacional e ao intenso
processo de urbanização, as cidades adquiriram novas feições e a
sociedade novas aspirações , exigindo um outro olhar sobre a
contextualização e inserção dos equipamentos de varejo na malha
urbana.”
(OLIVEIRA JÚNIOR , 2006, p. 14).
2.3.1 Mercado de São José
O Mercado de São José está situado na cidade do Recife, mais especificamente no
tradicional bairro de São José. Se trata de um bairro formado por estreitos sobrados
de porta e janela que sofreu diversas modificações com o intuito de torna-lo moderno
e salubre conforme os padrões da modernidade europeia (GUILLEN, 2009). Foi
inaugurado em setembro de 1875 e possui uma sistema estrutural de ferro típica dos
moldes europeus, inspirada no mercado parisiense de Grenelle. Sua execução foi
realizada pelo engenheiro Louis Vauthier, que também foi responsável por outros
mercados públicos cobertos na França.
O mercado é dividido por dois pavilhões que abrangem uma área de 3.541m², dos
quais possui dimensões de 48.88m X 75.44m (Frente e fundo), constituído por 377
boxes que vendem produtos variados, como suprimento alimentício, comércio de
pescado e artesanato em geral. Possui grande atração turística, em principal pelo
artesanato regional. (Figura 13)
36
Figura 13 – Acesso principal do Mercado de São José em Recife/PE
Fonte : Gabriel Melo / Diário de Pernambuco
Algumas modificações foram realizadas no mercado para se adequar aos serviços
prestados. Uma câmera frigorífica foi instalada no ano de 1941 para armazenamento
dos pescados e frios. Nos anos 50, as venezianas de vidro e madeira foram trocadas
por cobogós de cimento na justificativa de ter maior durabilidade e segurança para os
frequentadores do mercado, ainda que sua estrutura de ferro tenha sido mantida. Em
1989, uma parte do mercado foi destruída por um incêndio que atingiu o pavilhão
norte. O acidente ocasionou no prejuízo dos comerciantes que viram a perda do seu
patrimônio e da lentidão do processo de restauração do mercado de São José,
conforme menciona Guillen (2009) :
“Apesar da decisão política dos administradores municipais de
reerguer o mercado, retirando das cinzas todo o material que pudesse
ser reaproveitado, a sua restauração foi um processo lento e
tecnicamente complicado. O Mercado de São José ficaria anos
fechado (em alguns momentos parcialmente), para ser reaberto em 12
de março de 1994. Muitos locatários lembram-se desse período com
amargura, anos das vacas magras, de muito trabalho e pouco lucro..”
(GUILLEN , 2009, p. 6).
37
O mercado foi restaurado e reaberto em 1992, desta vez aos padrões originais e as
venezianas de madeira e vidro foram recolocadas.
Figura 14 – Planta baixa do mercado de São José em Recife/PE
Fonte : Oliveira Júnior (2006, p.42)
Figura 15 – Pavilhão de frutos do mar do Mercado de São José
Fonte : Ricardo Costa / TripAdvisor
38
2.3.2 Mercado Ver-o-Peso
Foi inaugurado em 1625 no antigo porto do Pirí em Belém. Seu nome originou pela
Casa de “Haver o Peso” que havia função semelhante a uma alfândega na qual se
calculava e arredava os impostos dos produtos que chegavam à cidade por
embarcações. Inicialmente era constituído por um grande mercado aberto situado na
área central da cidade de Belém que havia uma grande relevância como centro de
comércio de produtos oriundos da região Norte destinados ao mercado nacional e
internacional, o que proporcionava um movimento intenso, o que acarretou na criação
do Ver-o-Peso. Houve necesidade de organização do espaço ao longo do tempo, pois
a comercialização de produtos era intensa, cabendo ao poder público em promover
ações na estrutura urbana e propor espaços para atender a alta demanda de
abastecimento alimentício (MORAES, 2017).
O Mercado foi resultado da demanda comercial e da ausência de infraestrutura na
cidade de Belém, o que conseguiu cumprir todas as necessidades comerciais e
logísticas da época. Moraes (2017) descreveu sobre o espaço de chegada das
mercadorias e transformações na esfera urbana :
“Era um posto de fiscalização portuguesa, pois a Província era uma
importante sede das capitanias, onde chegavam as mercadorias para
haver o peso e controle da quantidade e distribuição de produtos. No
entanto, esta área passou por diversas mudanças físicas e sociais
que, no futuro, teve sua função acentuada e um novo mercado foi
edificado.”
(MORAES , 2017, p. 41).
O Ver-o-Peso passou por grandes modificações de razão funcional e estética para o
molde dos gostos da época e para ampliação do abastecimento alimentício de Belém
A partir do século XIX o mercado passou por ampliações, o que deu início a
construção do Mercado Francisco Bolonha (Mercado de carne) e ao Mercado de
Ferro (Mercado de Peixe) (Figura 16).
39
Figura 16 – Área externa do Mercado Ver-o-Peso em Belém/PA
Fonte : Todos os rumos
Moraes (2017) aborda que o Mercado do Ver o Peso foi responsável por ser um dos
propagadores do ideal de modernidade, do qual se justificava a chegada de uma nova
tecnologia e uma arquitetura inédita para a cidade de Belém.
Figura 17 – Planta baixa do mercado Ver-o-Peso em Belém/PA
Fonte : Oliveira Júnior (2006, p.44)
40
2.3.3 Mercado da Encruzilhada
Localizado em tradicional bairro da cidade do Recife, foi inaugurado em 18 de outubro
de 1924 pelo governador de Pernambuco Sérgio Loreto. Apresentava uma estrutura
pequena que passou a não suprir toda a demanda da cidade, além de condições
precárias de higiene. Todas essas insatisfações acarretaram na construção de uma
nova edificação que foi inaugurada no em dezembro de 1950. O novo mercado
abrange uma área de 2.800m² e 150 boxes com identificação clara dos produtos a
serem comercializados além de 200m² de área contemplada por jardins. A volumetria
do mercado remete a um avião, segmentado por alas onde se encontram os mais
variados tipos de mercadorias, das quais variam de suprimentos alimentícios até
mesmo utensílios domésticos e serviços em geral (GOMES,2019)
Possui sistema estrutural de concreto armado com paredes revestidas de azulejos, o
que resolveu alguns problemas anteriores de higienização. Gomes (2019) aborda
sobre o processo evolutivo do Mercado da Encruzilhada e o processo de
transformação do bairro como centralidade :
“O mercado, nos moldes preestabelecidos até hoje, foi construído
apenas na década de 1950. Ao longo das décadas, com a
implementação de diferentes atividades tais como instituições,
habitações e uma vasta disponibilidade de estabelecimentos no ramo
do setor terciário, o bairro se firmou como centralidade secundária na
cidade e o Mercado da Encruzilhada como o mais importante
equipamento comercial da localidade.”
(GOMES , 2019, p. 29).
41
Figura 18 – Mercado da Encruzilhada em Recife/PE
Fonte : Arquivo/G1, 2017.
Figura 19 – Praça de alimentação do Mercado da Encruzilhada
Fonte : Cecília de Sá Pereira/AQUIPE, s/d.
42
2.4 Normas sanitárias e legislativas
As normas sanitárias municipais e estaduais são necessárias para o funcionamento
de um mercado público, bem como a legislação da cidade que diz a respeito dos
estabelecimentos comerciais. Moraes (2017) aborda sobre a transformação da
conduta da salubridade nas cidades brasileiras, a partir do momento em que foram
estabelecidas normas para a construção de mercados e outros estabelecimentos
comerciais :
“Intervenções como a higienização das ruas, do ar e dos
estabelecimentos, como os mercados públicos, constituíram lugares
em potencial para retirada do acúmulo de material em decomposição,
pois eram, e ainda hoje continuam sendo, responsáveis pelas
atividades de abastecimento e comercialização de alimentos,
provocando a construção de novos mercados que atendessem as
diretrizes higienistas. Assim o poder público estabelece normas para
a construção de edifícios comerciais apropriados para as atividades
de comercialização de alimentos”
(MORAES , 2017, p. 74).
As cidades passaram a ter uma nova visão sobre o manejo dos alimentos e a
estruturação dos espaços comerciais que refletiam na higiene, e sobretudo na saúde
da população. Várias doenças eram acometidas em detrimento da insalubridade do
espaço urbano e do tratamento inadequado aos mercados e locais que produziam
bens alimentícios.
2.4.1 Nacional
A ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária estabelece o RDC 216/04
(2004), correspondente ao Regimento de Boas Práticas para Serviços de
Alimentação. Responsável por normas quanto a edificação comercial e suas
43
respectivas instalações e equipamentos de trabalho. Aplicada aos serviços que
realizam a manipulação, armazenamento, distribuição, transporte, exposição e venda
de alimentos, como lanchonetes, padarias, mercados públicos e demais
estabelecimentos que realizam a venda de produtos alimentícios.
De acordo com a RDC 216/04 (2004), o artigo 4 estabelece os protocolos relacionados
a edificação, instalações, equipamentos, móveis e utensílios. A norma estabelece os
principais parâmetros, dos quais correspondem com o objeto de estudo do trabalho :
A edificação deve ser projetada para possibilitar a organização e divisão dos fluxos de
pessoas de acordo com as etapas de produção e facilitar a manutenção e limpeza dos
setores. O acesso deve ser controlado e separado de acordo com os usos . O local
deve ser bem dimensionado e compatível com as atividades a serem desenvolvidas,
além de separar as atividades para impedir a contaminação cruzada.
Quanto ao acesso aos ambientes, não deve haver comunicação direta no acesso
entre os sanitários e vestiários com a área de armazenamento e preparo de alimentos
e as portas devem ser de preferência fechamento automático, como por exemplo do
tipo Vai e Vem. As áreas de manipulação de alimento necessitam de lavatórios de uso
exclusivo, de preferência em locais estratégicos para atender toda a área de
preparação.
Figura 20 – Porta do tipo Vai e Vem
Fonte : Rebiplast, s/d.
44
Quanto ao material do edifício, os espaços físicos como piso, parede e teto devem ter
revestimento liso e lavável, sendo mantidos de rachaduras, vazamentos e
deterioração do material de forma a impedir a contaminação dos alimentos. Os móveis
e revestimentos de contato com os alimentos devem ser de material que não
transmitam odores, sabores ou quaisquer substâncias que possam afetar a
composição do alimento. Os materiais também devem ter manutenção e limpeza
frequente, sendo resistentes à corrosão e limpeza constante.
Todos os estabelecimentos devem ser abastecidos de água e dispor de tubulação
com material e conexões de acordo com a norma técnica responsável. As tampas e
caixas de inspeção devem estar situadas fora da área de produção e armazenamento
de alimentos.
Figura 21 – Espaço de uma cozinha industrial de acordo com as normas da ANVISA
Fonte : Nutrimix, s/d.
A iluminação deve ser adequada para a visualização dos alimentos e suas
características no momento de produção e manejo. As fontes de luz (lâmpadas)
devem ser protegidas do risco de queda e contato com os alimentos, sendo
recomendadas luminárias embutidas. A ventilação do local deve proporcionar a
renovação do ar e manter o ambiente livre de fumaça, gases e quaisquer partículas
que comprometam a higiene e características do alimento.
45
2.4.2 Estadual
No âmbito estadual, está regulamentado o Código Sanitário de Pernambuco,
correspondente ao decreto estadual nº 20.786/98 (1998) da secretaria estadual de
saúde. O código está atrelado em manter a vigilância em saúde, responsável pelo
compromisso do setor público e privado na garantia de proteção e defesa da qualidade
de vida. Estabelece vigilância e parâmetros em estabelecimentos de saúde e
comerciais, como bares, restaurantes, lanchonetes, pousadas e mercados públicos.
A norma aborda critérios como uso e qualidade da água, aparelhos sanitários e
acondicionamento dos produtos, levando em consideração aspectos de higienização
do estabelecimento e exigências técnicas no edifício comercial, no qual corresponde
ao objeto de estudo do trabalho.
Quanto ao uso da água, a norma estabelece que todas as edificações deverão ter
abastecimento direto da rede pública, sendo obrigatória a construção de reservatórios
em edificações de mais de dois pavimentos e em escolas, motéis, internatos,
hospitais, pensões e edificações similares.
O reservatório e as instalações relacionadas (casa de bombas, tubulações) devem ser
protegidas contra respingos, infiltrações e demais materiais estranhos que possam
comprometer a qualidade da água. As tubulações devem atender as exigências da
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT e o projeto hidráulico deve ser
realizado por um profissional na área. Quanto a capacidade do reservatório, deverá
ter um armazenamento que atenda no mínimo as necessidades do consumo diário da
edificação, o que varia bastante de acordo com o uso do prédio.
Quanto ao sistema de esgotamento sanitário, a edificação deverá ter um conjunto de
aparelhos sanitários e as correspondentes tubulações destinadas a coletar todos os
dejetos e conduzir ao local adequado. Os despejos oriundos das pias de cozinhas de
restaurantes e estabelecimentos relacionados devem passar por uma caixa de
gordura antes da sua destinação final. O ramal principal de esgoto deverá ter um
diâmetro mínimo de 10cm da tubulação, não sendo permitida sua ligação com a rede
de águas pluviais.
Os aparelhos sanitários, bem como bacias e demais locais de despejo deverão ser
em louça, ferro ou outro material que obedeça as normas técnicas. A norma proíbe a
46
instalação de aparelhos sanitários de cimento. Nas cozinhas, lavanderias e demais
ambientes sanitários deverão ter pelo menos um ralo, sendo proibida a instalação de
caixas de gordura e de passagem no interior desses espaços.
Em relação a coleta do lixo, as edificações deverão ter compartimento próprio para
armazenamento com área útil de acordo com o volume calculado e os resíduos devem
ser coletados em até 24 horas desde o despejo. A norma estipula que o cálculo diário
de lixo corresponde a 2,5 litros por pessoa. O espaço deve ser feito em alvenaria e
deve ser revestido de material liso, lavável e resistente, além de ter um ralo para
limpeza e ocasionais vazamentos de líquido provenientes do lixo.
A comercialização e o manejo dos alimentos deverão ser feitos em boas condições
sanitárias, garantindo a conservação e acondicionamento da forma correta. As feiras
e espaços abertos similares devem obedecer as mesmas exigências e ter bancas
padronizadas e aprovadas pela autoridade sanitária. A venda de carnes, frios,
laticínios e pescados é permitida em feiras, desde que tenha condicionamento em
expositor protegido de poeiras, moscas e sol, mantendo livre de contato direto com o
consumidor. O transporte dos frios poderão ser feitos em caixas fechadas em plástico
transparente, permitindo a visualização com nitidez do produto. A mesa de
manipulação e cortes de carne deverá ter superfície em material liso e lavável.
Quanto aos estabelecimentos comerciais destinados a produção e venda de
alimentos, deverão ser projetados de forma a setorizar o edifício de acordo com as
atividades a serem desenvolvidas, bem como o fluxo de alimentos e de pessoas. Não
é permitido ter comunicação direta entre compartimentos sanitários, como vestiários
e toaletes com os locais de produção e armazenamento de produtos. Devem ter
sanitários de uso exclusivo aos operadores do estabelecimento, evitando a
contaminação cruzada.
As áreas de manipulação e venda de mercadorias devem ter piso e parede revestidos
em material liso e lavável, impedindo o acúmulo de sujeira e sedimentos. As cores
dos revestimentos devem ser claras para facilitar a visualização e limpeza das
superfícies.
A iluminação do local poderá ser natural ou artificial, a depender da disposição do
edifício. Ambas poderão ser utilizadas, desde que permitam a realização dos trabalhos
sem comprometer a higiene e nem alterar as cores dos alimentos. As luminárias
devem ter sua fonte de luz revestida para proteção de eventuais quedas. Podem estar
47
instaladas na parede ou teto, não sendo permitido fiações expostas nos locais de
produção e venda de produtos.
Quanto ao armazenamento de frios, a norma estabelece que as câmaras frigoríficas
deverão ser separadas de acordo com o gênero alimentício (carnes, laticínios,
pescados) e deverão ter acesso por ante-câmara. Os açougues e peixarias devem ter
uma área mínima de 15m², sendo sua largura mínima de 3 metros. O balcão deve ter
revestimento liso e de fácil limpeza.
2.4.3 Municipal
A superintendência da vigilância em saúde – VISA da prefeitura do Paulista dispõe de
uma documentação para licenciamento dos estabelecimentos comerciais de acordo
com a sua função. Para o objeto de estudo do trabalho, o mercado público está
enquadrado como “Açougues, restaurantes, padarias, supermercado, cozinha
industrial/refeitório, e padaria com delicatessen” e estabelece as seguintes
documentações :
“ 1. Declaração de Responsabilidade Técnica – RT (Modelo padronizado)
assinada pelo proprietário e por profissional habilitado, com o número do
respectivo Conselho Regional;
2. Cópia do Diploma do Responsável Técnico, emitido por instituição de ensino
técnico e/ou da Certidão de Regularidade Técnica (CRT) expedida pelo
Conselho de Classe dos responsáveis;
3. Declaração com relação nominal de Recursos Humanos com as respectivas
funções, e comprovações, assinada pelo responsável técnico;
Base legal:
✓ Dec. Estadual 20.786/98 – SES;
✓ RDC 216/04 – ANVISA;
✓ Portaria 2914/2011 – MS; “
(Documentação para licenciamento VISA – Paulista).
A documentação possui uma base legal nas normas nacionais e estaduais. Portanto,
deverá cumprir as demais legislações para o funcionamento do local. Quanto a
normas de edificações, a lei nº 3.772/2003 estabelece a Lei de Uso e Ocupação da
cidade do Paulista.
48
Tabela 2 – Parâmetros de uso de acordo com as normas sanitárias
PARÂMETROS DE USO DE ACORDO COM AS NORMAS SANITÁRIAS
Atividade Parâmetro
Uso da água •Abastecimento da rede pública
•Uso de reservatórios
•Tubulações de acordo com a NBR 5626
Esgotamento sanitário •Tampas e caixas de gordura fora das áreas de
produção e venda de alimentos
Coleta de lixo •Espaço de armazenamento em alvenaria com
material lavável
Iluminação •Instalações elétricas devem atender a NBR 5410
•Iluminância adequada para atividade de trabalho e
uso geral
•Fonte de luz revestida para evitar quedas
•Índice de reprodução de cor alto, sem deformar as
cores dos alimentos
Material •Revestimento liso e lavável
•Cores claras
•Sem transmitir odores e sabores para o alimento
•Livre de rachaduras
Venda de frios •Balcão com revestimento liso
•Pia de uso exclusivo para limpeza e manipulação
dos frios
Armazenamento de frios •Separação de acordo com o gênero alimentício
•Acesso por ante-câmara
Área de produção •Revestimento liso e lavável
•Livre de rachaduras
Circulação •Sem comunicação direta de sanitários e áreas de
manipulação de alimentos
Fonte : Autor
49
2.5 Conflitos e semelhanças entre mercados públicos e
grandes centros comerciais
Os grandes centros comerciais e shoppings vêm se tornando cada vez mais
frequentes nas cidades, sendo o principal agente no espaço urbano que promove a
alta comercialização e fluxo de pessoas todos os dias. A criação das grandes lojas de
departamento e sua chegada ao Brasil no século XX se tornou um marco para a
modernização do comércio varejista, proporcionando mudanças na exposição dos
produtos e do ato de comercializar de forma a garantir rapidez e eficiência, atraindo
os consumidores para os novos hipermercados e grandes centros comerciais. Os
primeiros shoppings centers no Brasil surgiram a partir dos anos 60 e tem como
localização os espaços mais centrais das cidades, ao contrário do modelo americano
que ocupam os espaços do subúrbio (VARGAS, 2018). O Iguatemi foi o primeiro
shopping center do Brasil, inaugurado em São Paulo no ano de 1966.
Figura 22 - Vista do Shopping Iguatemi, em São Paulo
Fonte : São Paulo In Foco, 1966.
Na maneira que os grandes centros comerciais passaram a ter maior atratividade, os
mercados públicos passaram a ter uma redução na quantidade de público, diminuindo
a quantidade de frequentadores e consequentemente a renda dos comerciantes foi
prejudicada, bem como o investimento e capital nos mercados, geridos pelo poder
público. No período anterior aos grandes centros comerciais, compras cotidianas eram
realizadas em feiras livres e mercados públicos, no qual havia a troca e interação entre
50
o cliente e comerciante. Nos hipermercados, a relação comercial se torna cada vez
mais mecanizada, levando como prioridade o lucro de grandes empresas e apelo pela
publicidade.
Os shoppings se tornaram equipamentos que tomaram o protagonismo do espaço
urbano, sendo considerados espaços privativos de maior qualidade, conforto e
segurança em detrimento dos mercados públicos que se tornaram sucateados e vistos
como sujos e inseguros pela população. Gomes (2019) menciona sobre os artifícios
de atração utilizados pelos shoppings centers, além da imagem negativa dos
mercados públicos formada pela sociedade :
“A eliminação de aspectos considerados malvistos ou sujos e a
adaptação de seus ambientes internos a espaços tais como praças de
alimentação, como as encontradas nos shopping centers, contribuem
para o apagamento de suas particularidades e são algumas das
características impostas a estes equipamentos para a sua entrada no
rol dos mercados públicos reconhecidos internacionalmente..”
(GOMES , 2019, p. 151).
Se torna evidente que os shoppings buscam por espaços cada vez mais atraentes na
contrapartida de espaços insalubres de mercados públicos. A imagem negativa dos
mercados públicos na sociedade ocorre por algumas características, como falta de
limpeza, organização e insegurança nos espaços comerciais públicos.
O fator da insegurança é bastante presente pela evasão dos mercados e demais locais
públicos. De acordo com Machado (2008) o mercado mobiliário e agentes do espaço
privado propagam a ideia que viver em ambiente fechado e distante da esfera pública
é mais seguro, proporcionando espaços que funcionam como barreiras do contato
social. A sensação de insegurança passa a ter mais efeito quando os espaços públicos
passam a ser cada vez menos ocupados, tornando-os apenas como local de
passagem e com menos vigilância social. O predomínio das atividades em locais
privados acaba por negligenciar o caráter de uso e demais atividades nos espaços
públicos.
No quesito arquitetônico, os espaços privados apresentam uma tipologia predatória
que dificulta a interação do meio interno com o entorno do local. Os grandes centros
comerciais e redes de hipermercados adotaram artifícios físicos no objetivo de
51
promover a segregação do edifício com o entorno e seus pedestres, tornando claro
que essas formas de distanciamento são cúmplices com a arquitetura (GOMES, 2019)
Entretanto, podem ser encontradas similaridades tipológicas e arquitetônicas entre
shoppings centers e mercados públicos. Existem algumas semelhanças na
dinamização interna desses equipamentos urbanos, pois ambos os espaços são
divididos em ruas internas repletas de estabelecimentos comerciais, além de uma
praça central (CORDEIRO, 2015).
Logo, é possível encontrar uma reprodução de elementos urbanos dentro desses
espaços comerciais privados que de certa forma promovem uma dinamização no
acesso e trajeto até as lojas e restaurantes, bem como pontos de encontro e
alimentação no interior dos shoppings. Os corredores são conectados entre si e são
encontrados elementos semelhantes ao mobiliário urbano encontrado nas ruas e
avenidas. Quiosques situados na parte central dos corredores chamam a atenção dos
visitantes e se tornam espaços de consumo rápido, se assemelhando a bancas que
vendem jornais, flores e frutas no espaço público.O mobiliário urbano aparenta
semelhança com os bancos e cadeiras, destinados ao conforto e consumo de
alimentos pelos frequentadores dos shoppings.
Figura 23 - Grande concentração de pessoas no Shopping Riomar - Recife
Fonte : Bobby Fabisak/ JC Imagem
No aspecto cronológico, as arcadas e galerias parisienses foram edificações que
serviram como base arquitetônica para os surgimentos dos shoppings centers. Em
52
sua estrutura, se encontravam largos vãos e corredores formados por uma série de
boxes comerciais que muitas vezes eram dispostos por telhados de vidro que
forneciam iluminação natural. As mesmas características são encontradas nos
equipamentos comerciais da atualidade, porém em ambientes fechados desprovidos
de interação com a rua e o entorno urbano (Figura 24). Os grand magasins também
se firmaram como uma base para o surgimento dos shoppings, destacando pela
presença de grandes vãos compostos por múltiplos pavimentos, além do apelo
comercial pela publicidade. As figuras 24 e 25 permitem a observação das
semelhanças arquitetônicas entre esses centros comerciais.
Figura 24 - Circulação interna da Galerie Colbert - Paris
Fonte : Pierrot Heritier Photos
53
Figura 25 - Corredor principal do Shopping Tacaruna - Recife
Fonte : Shopping Tacaruna
Também são encontradas semelhanças no contexto de ambas as edificações. Os
mercados públicos no Brasil surgiram na metade do século XIX com objetivo de
melhorar as condições de comércio e fornecer boa infraestrutura e higiene para esses
locais com o ideal de modernização utilizando materiais sofisticados, como o aço e
vidro, que permitiam um maior número de boxes e vãos maiores. As cidades
brasileiras estavam se expandindo em um cenário de insalubridade e o comércio
aberto e não planejado era mal visto. Na atualidade, os shoppings centers surgem no
mesmo pretexto de modernidade e reinvenção na maneira de comercialização,
fornecendo qualidade em espaços sofisticados que seduzem os frequentadores ao
consumo e permanência nos grandes espaços comerciais, entretanto, gerido pelo
poder privado. Cordeiro (2015) menciona sobre a importância de ambos os
equipamentos urbanos para a sociedade, destacando a busca pelo desenvolvimento
e modernidade :
“No século XXI, o Shopping agrega, mais e mais, os desejos da
sociedade no contexto urbano, com suas lojas, cinemas, teatros e
restaurantes. É importante ressaltar a importância desses
empreendimentos para a cidade e é notável o desenvolvimento e a
valorização existente em torno destes equipamentos urbanos, bem
como ocorreu no passado com o Mercado Público”
(CORDEIRO , 2015, p. 150).
54
Em contrapartida, os mercados públicos conseguem sobreviver em meio a estrutura
precária e evasão de frequentadores. Por mais que os shoppings e hipermercados
tenham domínio na comercialização e atividades nas cidades, alguns mercados
públicos conseguem manter sua notoriedade e valorização como equipamento cultural
e histórico. Os mercados da Encruzilhada e São José atraem diversas pessoas todos
os dias, atraídos pela tradição e venda de produtos artesanais, impulsionados pelo
turismo local. Além do comércio, são realizadas outras atividades como o lazer, em
que existe um palco para apresentação de músicos e bandas no pátio interno do
mercado da Encruzilhada.
Os mercados situados em regiões periféricas da cidade não apresentam a mesma
dinâmica devido à ausência de valorização histórica e cultural. São equipamentos
sucateados e na maioria das vezes a estrutura não proporciona a higiene e segurança
adequada. Existem poucas propostas de requalificação e incentivo a atividades
culturais e de lazer em mercados públicos periféricos, tornando-os diferente dos
mercados históricos situados em áreas centrais da cidade. O mercado de Areias,
situado no bairro de Areias em Recife pode ser considerado como exemplo. Foi
destinado para ter apenas boxes comerciais, dificultando as demais atividades
relacionadas a lazer e cultura. Atualmente, sua estrutura apresenta péssimas
condições e número de frequentadores vem diminuindo drasticamente por condições
precárias de uso.
Figura 26 - Vista do Mercado de Areias, em Recife
Fonte : Hesíodo Goes/ Diário de Pernambuco
55
Cordeiro (2015) expõe que é muito importante entender as reinvindicações do
mercado público como desejo de não consumir apenas a mercadoria, como também
o espaço. Esse desejo é responsável por alavancar o desenvolvimento desses
espaços multifuncionais e com diversidade de atividades e frequentadores e sua
ausência é responsável pela decadência dos mercados públicos.
56
3. REFERÊNCIAS PROJETUAIS
Para o desenvolvimento do projeto, foram selecionados quatro projetos de mercados
públicos, sendo dois internacionais e dois localizados na cidade do Recife. O critério
foi realizado para ter maior diversidade em edifícios comerciais e ao mesmo tempo se
adequar ao contexto construtivo e arquitetônico local.
3.1 Mercado de Abastos de Curacautín
Tabela 3 - Dados técnicos do Mercado de Abastos de Curacautín
DADOS TÉCNICOS – MERCADO DE ABASTOS DE CURACAUTÍN
País Chile
Arquitetos Taller Viga Maestra
Ano 2021
Área 848m²
Número de pavimentos 2
Número de boxes 32 lojas e 4 cozinhas
Sistema estrutural Madeira com treliças em aço
O Mercado de Abastos de Curacautín está inserido na região de Araucanía, província
de Malleco no Chile. O local é formado por zonas montanhosas com cachoeiras e
lagos que promove o turismo como atividade de maior importância para a economia
local. Curacautín dá o acesso a zona da Araucanía Andina onde se encontra o
geoparque Kütralkura que faz parte da rede global de geoparques da UNESCO. Logo.
O mercado de Abastos possui um contexto de polo articulador do turismo com
comércio e serviços, em geral destinado ao viajante que deslumbra as paisagens
Andinas do Chile.
O projeto faz parte do novo contexto local em que visa a minimizar a exploração de
recursos florestais e assumir um novo objetivo de valorização turística do local em que
foram realizadas uma série de melhorias na infraestrutura pública e fortalecimento dos
57
estabelecimentos locais. O mercado está situado em conjunto com dois equipamentos
urbanos : O novo terminal ferroviário, que foi reconstruída da antiga estação ferroviária
de Púa e a tradicional praça da estação que funciona como ponto de encontro dos
usuários e habitantes de Curacautín.
Figura 27 - Área externa do Mercado de Abastos de Curacautín
Fonte : Archdaily, 2021.
Desta forma, o projeto tem o objetivo principal de difundir o tradicional comércio local
e se tornar um ponto turístico para fortalecimento da economia local e sustentável,
reforçando a presença dos elementos naturais presentes na região, como o uso da
madeira e pedra.
A edificação comercial possui 848m² de área construída que conta com 32 boxes
comerciais, praça de alimentação com refeitórios, 4 cozinhas de culinária típica da
região além dos demais ambientes destinados a serviço.
58
Figura 28 - Planta baixa do pavimento térreo
Fonte : Archdaily, 2021.
O partido foi obtido a partir de dois volumes que contém um espaço central em que
são realizadas as atividades rotineiras de comércio e cultura. Também existe um
volume interior destinado as cozinhas, que foram projetadas seguindo o conceito de
fogão nas tradicionais tipologias das rukas (casas andinas).
Figura 29 - Circulação interna do mercado de Abastos
Fonte : Archdaily, 2021.
59
Em aspectos bioclimáticos, o mercado possui uma película climática formada por
treliças de madeira que são totalmente ajustáveis, permitindo o controle da
luminosidade e fluxo dos ventos.
Quanto ao seu partido arquitetônico, é possível identificar o uso de materiais como a
madeira e pedra vulcânica, que resgata ao contexto geográfico do local.
No aspecto viário, o projeto está amplamente conectado à avenida principal da
comunidade, considerada uma rota que conecta os pontos turísticos e a estação
ferroviária local. Logo, o projeto é um dos formadores do nó urbano que permitem a
inclusão da comunidade local aos espaços públicos, incluindo o mercado.
A estrutura é constituída por madeira de pinus com principais elementos de madeira
laminada.
Figura 30 - Área das cozinhas do mercado
Fonte : Archdaily, 2021.
O projeto foi escolhido por se tratar de um mercado inserido no contexto de um
ambiente natural em que o turismo é uma atividade predominante, pois o trabalho
pretende desenvolver o projeto baseado nos elementos naturais do entorno.
Além disso, o mercado de Abastos visa fortalecer a economia local dos habitantes por
meio dos estabelecimentos comerciais, o que foi um ponto principal para a escolha do
projeto. O uso dos materiais também foi bastante favorável e se relaciona
harmonicamente com a paisagem natural do entorno.
60
Em se tratando de pontos positivos, foram encontrados o uso da madeira, pele
climática, alusão a elementos naturais, fortalecimento do comércio local. Em seu
interior a articulação dos pilares que se remetem a copa de árvores foi bastante
proveitoso, seguido do uso da iluminação natural.
Figura 31 - Volumetria dos pilares da área externa
Fonte : Archdaily, 2021.
Em pontos negativos, foram encontradas áreas livres estáticas e pouca possibilidade
de personalização dos boxes. O uso excessivo de madeira e pedra provocou certa
monotonia. O uso da chaminé apresenta pouca compatibilidade para o projeto a ser
desenvolvido.
61
3.2 Mercado Estação Báltica
Tabela 4 - Dados técnicos do Mercado Estação Báltica
DADOS TÉCNICOS – MERCADO ESTAÇÃO BÁLTICA
País Estônia
Arquitetos KOKO Architects
Ano 2017
Área 16.300m²
Número de pavimentos 3
Número de boxes -
Sistema estrutural Aço e alvenaria
O mercado está situado na cidade de Tallinn, na Estônia. Localiza-se entre a estação
ferroviária da cidade e um bairro com grande adensamento populacional.
Figura 32 - Acesso principal do Mercado Estação Báltica
Fonte : Archdaily, 2017.
62
O Mercado da Estação Báltica teve como proposta a criação de um mercado
diversificado e contemporâneo, seguido da preservação da história da essência do
mercado como local de natureza movimentada e caótica. Por ser um espaço próximo
a uma estação ferroviária, foram adicionados artifícios para atrair os passageiros que
viajam de trem, seja os residentes locais, turistas ou quaisquer pessoas que realizem
a passagem pela cidade.
O projeto reutilizou a estrutura de três armazéns de pedra do século XIX, composto
por dois pavimentos. Foi adicionado um telhado de formato inclinado que segue a
forma das edificações originais, além de um subsolo para abrigar as novas instalações
comerciais.
Figura 33 - Área interna do mercado
Fonte : Archdaily, 2017.
Três pavimentos distribuem todo o projeto dentro da composição de edificações
existentes e novos espaços construídos entre eles. Uma parte da coberta foi deixada
aberta para a criação de um mercado ao ar livre, bem como quiosques de madeira
que comercializam produtos alimentícios de diversos segmentos, como padarias,
lanchonetes, doces etc.
63
Figura 34 - Planta baixa do pavimento térreo
Fonte Archdaily, 2017.
Figura 35 - Planta baixa do pavimento superior
Fonte : Archdaily, 2017.
64
Figura 36 - Espaço de circulação com pé direito alto
Fonte : Archdaily, 2017.
O pavimento térreo foi projetado com a proposta de transmitir a agitação e demais
elementos de mercado tradicionais. Isso foi conseguido através da criação de
diferentes formas de boxes e espaços de comércio. São encontradas seções de carne,
peixe e frios, seguidos do mercado de orgânicos e um corredor de comida situado no
bloco central. Portanto, o projeto teve como objetivo a combinação de diferentes
funções e produtos a serem comercializados como reprodução da essência de
mercado.
65
Figura 37 - Quiosques em madeira
Fonte : Archdaily, 2017.
O projeto foi escolhido por se tratar de um equipamento que potencializa a
centralidade em um bairro de grande densidade populacional. O mercado Estação
Báltica surgiu em uma localidade próxima a uma estação ferroviária, o que atrai um
público-alvo de usuários do transporte público ao mesmo tempo em que frequentam
a população do bairro local.
66
Figura 38 - Boxes comerciais com formato retangular
Fonte : Archdaily, 2017.
A dinamicidade das cobertas também foi um fator predominante para o projeto. O uso
da madeira e iluminação natural compõem com a declividade das cobertas, o que
proporciona um local acolhedor e ao mesmo tempo dinâmico. Os caimentos da
coberta na fachada frontal são elementos de força e demarcam o acesso principal do
mercado.
Em se tratando de pontos positivos, foram encontradas a formação da centralidade
local, o uso da madeira, dinamicidade das cobertas e iluminação natural. O pé direito
alto e diversidade nos boxes e quiosques comerciais também foi bastante positivo.
Em se tratando de pontos negativos, a área externa apresenta ser bastante
impermeabilizada, o que deixou a desejar no paisagismo e arborização do local.
67
3.3 Mercado da Encruzilhada
Tabela 5 - Dados técnicos do Mercado da Encruzilhada
DADOS TÉCNICOS – MERCADO DA ENCRUZILHADA
Cidade Recife
Arquitetos Não há informações
Ano 1950
Área 3.858m²
Número de pavimentos 2
Número de boxes 214
Sistema estrutural Concreto armado
O mercado surgiu no local onde existia a estação da Encruzilhada por onde passavam
os bondes que conectavam o centro do Recife até diversos locais da cidade. Os
primórdios do mercado da encruzilhada foram a concentração de feiras que existiam
ao redor da estação de bondes. Era uma localidade privilegiada, pois a circulação de
pessoas era intensa em vários horários do dia (GOMES, 2019). De acordo com Lins
(2007), o surgimento do Mercado da Encruzilhada teve sua origem popular, ao
contrário dos demais mercados do Recife.
68
Figura 39 - Fachada principal do Mercado da Encruzilhada
Fonte : Robson Vasconcelos/ Itinari, 2019.
Foi em 1924 que o Mercado da Encruzilhada teve a sua primeira instalação física
quando o governador da época, Sérgio Loreto desapropriou a estação da Companhia
de Trilhos Urbanos do Recife para a construção do primeiro mercado, diferente do
comércio que era realizado em feiras livres nas ruas do entorno. O objetivo era instalar
um mercado que tenha higiene, estética e comodidade, pois os feirantes atrapalhavam
o acesso à estação dos bondes da Encruzilhada.
A primeira edificação do mercado foi construída em alvenaria e abrigava 162 boxes,
dos quais obedeciam as normas mais recentes de higiene e acomodação. Os
materiais utilizados eram mais duráveis, como o passeio interno em paralelepípedo
de granito e uso de azulejos até meia parede em boxes de frios e carnes.
Duas décadas após sua construção, o mercado apresentava péssimas condições em
sua estrutura e a demanda comercial cresceu no bairro, o que foi necessário propor
um novo mercado que possa suprir uma melhor infraestrutura e maior número de
boxes. Em 1949, o mercado foi demolido e passou a ser construído uma nova
instalação em um terreno próximo ao mercado antigo.
O atual Mercado da Encruzilhada foi inaugurado em 9 de dezembro de 1950, tendo
como construtor o engenheiro Edgar dos Santos. O projeto arquitetônico tem estilo
69
dos anos 50, o que constituiu como orgulho da engenharia pernambucana da época
(LINS, 2007)
A nova edificação contempla 156 boxes bem arejados e com maior espaço em
comparação ao mercado antigo. Foram utilizados materiais duráveis, como granito,
cerâmica e azulejo revestido nas paredes para facilitar a higienização dos
compartimentos. O mercado foi construído em concreto armado e foram instaladas
câmeras frigoríficas para melhorar a durabilidade dos alimentos a serem
comercializados.
Atualmente, o Mercado da Encruzilhada possui uma área coberta de 3.858m² e
formada por 214 boxes . Sua volumetria é semelhante a um avião por ser formado por
dois segmentos em formato simétrico (GOMES,2019). O mercado é formado por duas
alas : Sul e Norte, que possuem pátios internos. Os boxes possuem uma área que
varia entre 7 a 6m² de área utilizável.
Figura 40 - Planta esquemática do Mercado da Encruzilhada
Fonte : Gomes (2019,p.61), modificado pelo autor
70
Em sua locação, o mercado se encontra centralizado no lote com formato poligonal
que ocupa todo o quarteirão. Ao redor do edifício, massas vegetativas são
encontradas em grande quantidade em consequência do bom planejamento
paisagístico do projeto original, onde foram implantados diversos canteiros e
palmeiras imperiais. Entretanto, houve uma descaracterização nesses jardins.
As fachadas do mercado são compostas por cobogós compostos por um ritmo
contínuo de aberturas quadradas e esquadrias basculantes que seguem uma
repetição semelhante, sendo acompanhado por uma marquise que rodeia todo o
edifício. As paredes externas são revestidas por alvenaria com reboco e tinta, contudo
não há registros das cores originais do mercado (GOMES, 2019)
A cobertura do projeto é formada por telhas francesas que são estruturadas da
maneira tradicional, composta por tesouras e terças de madeira (GOMES, 2019). O
madeiramento da coberta é aparente em todas as instalações do mercado, o que
remete a aparência interna de um mercado tradicional, enquanto as fachadas
demonstram uma edificação de alvenaria mais recente. Em alguns trechos, são
encontradas telhas transparentes que permitem a iluminação natural nos corredores
e nos pátios internos. O piso é composto por ladrilhos cerâmicos na cor terracota.
Em se tratando de pontos positivos, foram encontradas a setorização espacial bem
definida, sendo encontrados acessos de serviço em cada lado do mercado. Todo o
zoneamento se organiza de acordo com a linha de eixo que corta o Mercado da
Encruzilhada, definindo uma simetria. O uso dos materiais e dimensionamento
apresenta ser bastante favorável e bastante atual.
Em pontos negativos, foram encontradas a descaracterização do paisagismo proposto
na construção original do mercado.
71
3.4 Mercado da Boa Vista
Tabela 6 - Dados técnicos do Mercado da Boa Vista
DADOS TÉCNICOS – MERCADO DA BOA VISTA
Cidade Recife
Arquitetos Não há informações
Ano 1822
Área 3.858m²
Número de pavimentos 1
Número de boxes 63 (Atual)
Sistema estrutural Alvenaria
O Mercado da Boa Vista está situado na Rua de Santa Cruz, tradicional localidade do
bairro da Boa Vista. Foi construído na primeira metade do século XIX, em 1822. Surgiu
a partir da demanda da população local que necessitava se deslocar até a Mercado
da Praça da Polé, atual Praça do Diário, para compra e venda de mercadorias.
Figura 41 - Fachada principal do Mercado da Boa Vista
Fonte : Autor, 2021.
72
Em seu interior, são comercializados legumes, frutas, carnes e cereais, além de bares
dispostos em um pátio interno. Parte dos boxes se abrem para o lado externo. O uso
do mercado é formado em sua grande maioria por bares e restaurantes, seguido de
mercearias e boxes que vendem frutas e legumes. Apresenta ser bastante
democrático, reunindo diversos perfis de usuários das mais variadas faixas etárias,
atraídos na maioria das vezes pelos tradicionais e movimentados bares.
Figura 42 - Bicicletário e painel de informações no Mercado da Boa Vista
Fonte : Autor, 2021.
Quanto ao partido arquitetônico, o Mercado da Boa Vista é formado por uma
edificação que mede aproximadamente 45 metros de frente X 60 metros de
profundidade. Em seu centro, possui um pátio interno de forma quadrada coberto por
árvores onde se encontram as mesas dos bares e restaurantes do mercado. Com seu
pátio central interno, sua arquitetura remete aos claustros de conventos (LINS, 2007).
A disposição dos boxes é organizada seguindo o contorno do pátio interno e no acesso
para a rua, além de uma pequena circulação na área de trás do mercado, onde se
concentram depósitos a instalações de serviço na área dos fundos.
73
Figura 43 - Pátio interno do Mercado da Boa Vista
Fonte : Autor, 2021.
Figura 44 - Circulação frontal no Mercado da Boa Vista
Fonte : Autor, 2021.
74
Figura 45 - Planta esquemática do Mercado da Boa Vista
Fonte : Melo (2011,p.106), modificado pelo autor
A fachada principal é formada por arcos que remetem ao antigo Mercado da Ribeira,
tendo o arco mais alto demarcando o acesso ao mercado.
O mercado passou por uma reforma recente. Foi realizada a requalificação da
pavimentação e canteiros do pátio central, além da implantação de um bicicletário e
mural artístico.
75
Figura 46 - Madeiramento do telhado do Mercado da Boa Vista
Fonte : Autor, 2021.
Em se tratando de pontos positivos, se destaca a implantação do mercado em forma
de pátio interno, o que permitiu a concentração de restaurantes e estabelecimentos
comerciais de grande movimentação em meio a arborização no seu interior. O uso da
telha aparente também foi um fator decisivo para melhor conforto térmico do local.
Em pontos negativos, foram encontradas a ausência de estacionamento e sub
utilização dos boxes na circulação de trás do mercado. Atualmente, boa parte desses
boxes periféricos possuem a função de depósito, o que não corresponde com o uso
original do mercado.
76
4. APRESENTAÇÃO DA ÁREA
4.1 Área de estudo
A área de estudo corresponde a um lote de 4.760m² situado na Av. Dr. Cláudio
Gueiros Leite e delimitado pela R. Belém de Maria e R. Arcoverde no bairro do Janga,
localizado na cidade do Paulista-PE (Figura 47). Se trata de uma região litorânea
adjacente a reserva florestal do Parque do Janga delimitada por 654 hectares de mata
atlântica, colinas e manguezais. Possui uso predominantemente residencial com
edificações comerciais ao longo da avenida principal (PE-001) e da praia. A faixa
litorânea é composta por comércio formal e informal com barracas e outros
vendedores itinerantes ao longo da orla.
Figura 47 - Vista de situação do lote
Fonte : Google Earth, 2021.
77
A cidade do Paulista está localizada no litoral do estado de Pernambuco e está
inserida na Região Metropolitana do Recife. De acordo com os dados do IBGE, possui
300.466 habitantes, sendo colocada como a 5º cidade mais populosa da Região
Metropolitana. O território ocupa uma área de 96,93km², tendo seu bioma principal a
Mata Atlântica. A cidade apresenta uma economia com um PIB de R$12.731.32 e um
salário mensal médio de 1,8 salários mínimos.
Mapa 1 - Área de situação do estado de Pernambuco
Fonte : Autor, 2021.
O Janga está localizado na região de Administração Regional IV, delimitado na faixa
litorânea em divisa com a cidade de Olinda. Seu acesso principal se dá pela Av. Doutor
José Cláudio Gueiros Leite (PE-01) que também conecta os bairros de Pau Amarelo
e Maria Farinha.
78
Mapa 2 - Área de situação da Região Metropolitana do Recife
Fonte : Autor, 2021.
79
Mapa 3 - Delimitação da cidade do Paulista e demarcação do bairro do Janga
Fonte : Autor, 2021.
Figura 48 - Vista frontal do lote do TCC
Fonte : Autor, 2021.
80
Figura 49 - Vista aérea do bairro do Janga
Fonte : Wikipedia
Figura 50 - Calçadão da Praia do Janga
Fonte : Autor, 2021.
81
5. ANÁLISE DO TERRENO E DO ENTORNO
A acessibilidade nas proximidades do lote do TCC apresenta ter estrutura favorável a
partir da calçada na Av. Dr. Cláudio Gueiros Leite, porém não foram encontradas
rampas e acessos nivelados de acordo com a NBR 9050. Possui fácil acesso a partir
do transporte público com disponibilidade de 7 linhas de ônibus que trafegam na
avenida. A parada de ônibus mais próxima se encontra aproximadamente a 150
metros de distância do lote.
A calçada situada na R. Belém de Maria possui uma largura estreita e impede o pleno
acesso pela microacessibilidade.
A face voltada para a beira mar apresenta ter passeio de pedestres e acesso de
automóveis, entretanto não há a completa infraestrutura do calçadão em frente ao
lote, sendo encontrada a faixa de areia logo em seguida. O passeio público se inicia
logo após a quadra do projeto.
Figura 51 - Vista da Av. Dr. José Cláudio Gueiros Leite, lote do TCC ao lado
82
Fonte : Autor, 2021.
Figura 52 - Vista lateral do lote do TCC (R. de Belém Maria)
Fonte : Autor, 2021.
Figura 53 - Vista frontal do lote (Beira mar)
Fonte : Autor, 2021.
83
O calçadão da beira mar do Janga possui uma extensão de aproximadamente 2,1km,
tendo seu início próximo ao lote do projeto. O passeio público abrange diversas
atividades, como convivência, prática de esportes, manifestações culturais e
comércio, em principal pela forma itinerante.
Desta forma, o calçadão pode ser considerado o principal equipamento urbano do
bairro, visto que não são encontradas praças e outros espaços públicos de grande
uso pela população.
Figura 54 - Uso do calçadão pela população
Fonte : Autor, 2021.
As atividades comerciais apresentam ser bastante diversificadas, sendo possível
encontrar bares, restaurantes, comércio ambulante e feiras que são realizadas em
determinados dias da semana, sendo comercializados desde produtos alimentícios ao
artesanato local. Portanto, o bairro apresenta uma demanda por um equipamento
comercial público que possa reunir estabelecimentos comerciais fixos e itinerários e
ao mesmo tempo proporcionar uma integração com a praia do Janga.
84
Figura 55 - Presença do comércio ambulante no calçadão do Janga
Fonte : Autor, 2021.
Figura 56 - Feira de artesanato no calçadão do Janga
Fonte : Autor, 2021.
85
Figura 57 - Bar na faixa do calçadão
Fonte : Autor, 2021.
Entretanto, foram encontradas algumas fraquezas no calçadão. O mobiliário urbano,
composto por bancos e equipamentos de musculação de concreto apresentam ter
baixa qualidade, sendo possível encontrar o mobiliário danificado com frequência.
Também foi encontrada a degradação do passeio público em decorrência do avanço
do mar, além de peças soltas do piso intertravado.
86
Figura 58 - Degradação do mobiliário urbano no calçadão
Fonte : Autor, 2021.
Figura 59 - Degradação do passeio público no calçadão
Fonte : Autor, 2021.
87
5.2 Mapa de Nolli (Cheios e vazios)
Mapa 4 - Cheios e vazios
88
Fonte : Autor, 2021.
O bairro apresenta alta densidade de edificações distribuídas de forma bastante
uniforme. A região de menor densidade só é encontrada na área próxima a
comunidade Jardim Justiça e Paz.
O Janga apresenta domínio da especulação imobiliária, motivada pelo baixo custo de
lotes e alta disponibilidade de terrenos vagos, conforme mostra a figura 60. Áreas de
menor densidade são encontradas em loteamentos mais distantes da avenida
principal, entretanto vêm sendo cada vez mais ocupados por privês, edificações
multifamiliares de baixo custo que permitem até 10 unidades residenciais em um lote
de tamanho médio.
Figura 60 - Vista superior do bairro. Grandes condomínios residenciais ao fundo
Fonte : Autor, 2021.
89
5.3 Mapa de uso
Mapa 5 - Usos
Fonte : Autor
Mercado público para Paulista-PE
Mercado público para Paulista-PE
Mercado público para Paulista-PE
Mercado público para Paulista-PE
Mercado público para Paulista-PE
Mercado público para Paulista-PE
Mercado público para Paulista-PE
Mercado público para Paulista-PE
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Mercado público para Paulista-PE

  • 1. CENTRO UNIVERSITÁRIO MAURÍCIO DE NASSAU CURSO DE GRADUAÇÃO DE ARQUITETURA THIAGO ANTÔNIO MAGALHÃES BENTINHO MERCADO JANGADEIRO : PROJETO DE UM MERCADO PÚBLICO PARA A CIDADE DO PAULISTA-PE RECIFE 2021
  • 2. 2 THIAGO ANTÔNIO MAGALHÃES BENTINHO MERCADO JANGADEIRO : PROJETO DE UM MERCADO PÚBLICO PARA A CIDADE DO PAULISTA-PE Projeto apresentado ao Curso de Graduação de Arquitetura do Centro Universitário Maurício de Nassau do estado de Pernambuco, como pré- requisito para obtenção de nota da disciplina Trabalho de Graduação II, sob orientação da Mestra Mary da Silva Rached. RECIFE 2021
  • 3. 3 Dedico este trabalho de conclusão do curso a minha avó Nair Magalhães (in memoriam) por ter participado da formação da minha vida e que hoje ilumina o meu caminho em meio a tantas adversidades e conquistas. Dedico este trabalho aos meus pais pela formação do meu caráter e valores e por sempre terem me incentivado ao longo do curso e formação profissional.
  • 4. 4 AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço a Deus pela vida, pela luz de viver cada dia de estudo com bastante força e ânimo em passar por desafios e por me permitir a continuar esse caminho de trabalho com bastante saúde em meio a uma fase pandêmica. Aos meus pais, Adriana e Jailson, por terem me incentivado ao longo do curso e me ajudado em todas as etapas do trabalho e que foram essenciais na formação do meu atual caráter e busca incessante pelo conhecimento. Aos meus amigos da faculdade, Alice, Evellyn, Williane, Rafaella, Julianne entre outros que sempre estiveram juntos comigo em todos os momentos do curso e que sempre compartilharam experiências e troca de conhecimento e são pessoas que tenho um amor imenso e as levarei para a vida toda. A minha professora orientadora Mary Rached, por ser uma pessoa incrível e que me proporcionou material para pesquisa dos mercados públicos no Recife. Aos meus professores que foram essenciais para minha formação profissional e responsáveis pelo meu primeiro contato na área de arquitetura.
  • 5. 5 “Acredito que as coisas podem ser feitas de outra maneira e que vale a pena tentar” Zaha Hadid
  • 6. 6 RESUMO O seguinte trabalho tem como objetivo a elaboração do projeto de um mercado público para a cidade do Paulista-PE, mais especificamente no bairro do Janga, local de maior densidade demográfica do município. O mercado público em um edifício para comercialização de produtos e possibilita o encontro de pessoas, bem como grandes valores culturais. Para a elaboração desse trabalho, foram elaboradas duas etapas. Na primeira etapa foram realizadas pesquisas bibliográficas para produção de referencial teórico, relacionado ao comércio, tipologias de mercados públicos existentes e vitalidade urbana. Na segunda etapa foram levantados dados demográficos e urbanísticos do local, bem como suas necessidades comerciais, necessários para dar início ao projeto. A diversidade de tipologias comerciais e conceitos relacionados a vitalidade urbana foram fatores norteadores para o desenvolvimento do tema. Por fim, teve como resultado o projeto de um mercado público que possa suprir as demandas populacionais e econômicas locais e que tenha um partido diversificado em conjunto com o potencial natural da região. A realização do projeto teve sucesso por obter e levantar informações urbanísticas e populacionais do local afim de realizar um diagnóstico para implantação do projeto, o que também levou em consideração todos os aspectos socioculturais da cidade. Palavras Chave: Arquitetura comercial, Cultura, Sustentabilidade ambiental, Centralidade urbana, Turismo, Dinamização
  • 7. 7 ABSTRACT The following work has as its objective to elaborate the project of a public market for the city of Paulista-PE, more specifically in the neighborhood of Janga, place of greatest demographic density of the municipality. The public market in a building for the commercialization of products and allows people to meet, as well as great cultural values. For the elaboration of this work, two stages were elaborated. In the first stage, bibliographical research was carried out to produce a theoretical referential, related to commerce, typologies of existing public markets, and urban vitality. In the second stage, demographic and urbanistic data of the place were collected, as well as its commercial needs, necessary to start the project. The diversity of commercial typologies and concepts related to urban vitality were guiding factors for the development of the theme. Finally, the result was the design of a public market that can supply the local population and economic demands and that has a diversified party in conjunction with the natural potential of the region. The project was successful because it obtained and collected urban and population information from the local population in order to make a diagnosis for project implementation, which also took into consideration all the socio-cultural aspects of the city. Key-words: Commercial architecture, Culture, Environmental sustainability, Urban centrality, Tourism, Dynamization
  • 8. 8 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Feira livre em espaço público ...................................................................23 Figura 2 - Atividades comerciais na Idade Média......................................................24 Figura 3 - Acesso do Grand Bazaar em Istanbul - Turquia .......................................25 Figura 4 - Planta baixa do Grand Bazaar em Istanbul - Turquia ...............................27 Figura 5 - Interior do Grand Bazaar em Istanbul - Turquia........................................27 Figura 6 - Interior da Galeria Colbert.........................................................................29 Figura 7 - Planta baixa das galerias Colbert e Vivienne............................................30 Figura 8 - Interior do Burlington Arcade ....................................................................30 Figura 9 - Interior do Grand Magasin Bon Marché - França......................................31 Figura 10 - Vista do Grand Magasin Bon Marché - França .......................................32 Figura 11 - Áreas de venda no Grand Magasin Bon Marché – França .....................33 Figura 12 – Mercado da Candelária, no Rio de Janeiro ............................................34 Figura 13 – Acesso principal do Mercado de São José em Recife/PE......................36 Figura 14 – Planta baixa do mercado de São José em Recife/PE............................37 Figura 15 – Pavilhão de frutos do mar do Mercado de São José..............................37 Figura 16 – Área externa do Mercado Ver-o-Peso em Belém/PA.............................39 Figura 17 – Planta baixa do mercado Ver-o-Peso em Belém/PA..............................39 Figura 18 – Mercado da Encruzilhada em Recife/PE................................................41 Figura 19 – Praça de alimentação do Mercado da Encruzilhada ..............................41 Figura 20 – Porta do tipo Vai e Vem .........................................................................43 Figura 21 – Espaço de uma cozinha industrial de acordo com as normas da ANVISA ..................................................................................................................................44 Figura 22 - Vista do Shopping Iguatemi, em São Paulo............................................49 Figura 23 - Grande concentração de pessoas no Shopping Riomar - Recife ...........51 Figura 24 - Circulação interna da Galerie Colbert - Paris..........................................52 Figura 25 - Corredor principal do Shopping Tacaruna - Recife .................................53 Figura 26 - Vista do Mercado de Areias, em Recife..................................................54
  • 9. 9 Figura 27 - Área externa do Mercado de Abastos de Curacautín .............................57 Figura 28 - Planta baixa do pavimento térreo............................................................58 Figura 29 - Circulação interna do mercado de Abastos ............................................58 Figura 30 - Área das cozinhas do mercado...............................................................59 Figura 31 - Volumetria dos pilares da área externa..................................................60 Figura 32 - Acesso principal do Mercado Estação Báltica ........................................61 Figura 33 - Área interna do mercado.........................................................................62 Figura 34 - Planta baixa do pavimento térreo............................................................63 Figura 35 - Planta baixa do pavimento superior........................................................63 Figura 36 - Espaço de circulação com pé direito alto................................................64 Figura 37 - Quiosques em madeira...........................................................................65 Figura 38 - Boxes comerciais com formato retangular ..............................................66 Figura 39 - Fachada principal do Mercado da Encruzilhada .....................................68 Figura 40 - Planta esquemática do Mercado da Encruzilhada ..................................69 Figura 41 - Fachada principal do Mercado da Boa Vista...........................................71 Figura 42 - Bicicletário e painel de informações no Mercado da Boa Vista...............72 Figura 43 - Pátio interno do Mercado da Boa Vista...................................................73 Figura 44 - Circulação frontal no Mercado da Boa Vista ...........................................73 Figura 45 - Planta esquemática do Mercado da Boa Vista .......................................74 Figura 46 - Madeiramento do telhado do Mercado da Boa Vista ..............................75 Figura 47 - Vista de situação do lote.........................................................................76 Figura 48 - Vista frontal do lote do TCC ....................................................................79 Figura 49 - Vista aérea do bairro do Janga ...............................................................80 Figura 50 - Calçadão da Praia do Janga...................................................................80 Figura 51 - Vista da Av. Dr. José Cláudio Gueiros Leite, lote do TCC ao lado .........81 Figura 52 - Vista lateral do lote do TCC (R. de Belém Maria) ...................................82 Figura 53 - Vista frontal do lote (Beira mar)...............................................................82 Figura 54 - Uso do calçadão pela população ............................................................83 Figura 55 - Presença do comércio ambulante no calçadão do Janga.......................84
  • 10. 10 Figura 56 - Feira de artesanato no calçadão do Janga .............................................84 Figura 57 - Bar na faixa do calçadão.........................................................................85 Figura 58 - Degradação do mobiliário urbano no calçadão.......................................86 Figura 59 - Degradação do passeio público no calçadão..........................................86 Figura 60 - Vista superior do bairro. Grandes condomínios residenciais ao fundo ..88 Figura 61 - Estabelecimentos comerciais na Av. Cláudio José Gueiros Leite...........90 Figura 62 - Av. Dr. Cláudio José Gueiros Leite .........................................................93 Figura 63 - Ônibus circulando na avenida principal...................................................93 Figura 64 - Vista da mata do Janga ..........................................................................95 Figura 65 - Presença de arborização em trecho próximo ao lote..............................96 Figura 66 - Edifícios de grande porte no bairro .........................................................98 Figura 67 - Edifício de grande porte no bairro...........................................................98 Figura 68 - Croqui para desenvolvimento do projeto...............................................103 Figura 69 - Croqui para desenvolvimento da implantação ......................................104 Figura 70 - Moodboard produzido a partir de imagens de referência para o projeto ................................................................................................................................104 Figura 71 - Vista isométrica do mercado.................................................................105 Figura 72 - Circulação principal do mercado...........................................................106 Figura 73 - Circulação interna do mercado .............................................................107 Figura 74 - Setor de hortifruti...................................................................................108 Figura 75 - Setor de frios.........................................................................................109 Figura 76 - Vista interna da praça de alimentação..................................................110 Figura 77 - Espaço externo do bar..........................................................................111 Figura 78 - Vista frontal do bar................................................................................112 Figura 79 - Croqui para desenvolvimento do mobiliário externo .............................112 Figura 80 - Área dos bancos e canteiros.................................................................113 Figura 81 - Iluminação noturna dos bancos e canteiros..........................................114 Figura 82 - Obra de arte aplicada na parede...........................................................115 Figura 83 - Croqui do zoneamento preliminar .........................................................118
  • 11. 11 Figura 84 - Fluxograma do zoneamento final do mercado ......................................119 Figura 85 - Zoneamento final do pavimento térreo..................................................120 Figura 86 - Zoneamento final do 1º pavimento........................................................121 Figura 87 - Diagrama de implantação do projeto ....................................................122 Figura 88 - Acesso do mercado pela beira mar.......................................................123 Figura 89 – Pergolado de madeira sobre acesso a beira mar.................................123 Figura 90 - Acesso do mercado pela Av. Dr. Cláudio Gueiros Leite .......................124 Figura 91 - Acesso lateral do mercado (R. De Belém Maria) ..................................125 Figura 92 - Elevações humanizadas do projeto ......................................................126 Figura 93 - Corte humanizado do projeto................................................................126
  • 12. 12 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Tipologia de plantas de mercados no mundo Tabela 2 - Parâmetros de uso de acordo com as normas sanitárias Tabela 3 - Dados técnicos do Mercado de Abastos de Curacautín Tabela 4 - Dados técnicos do Mercado Estação Báltica Tabela 5 - Dados técnicos do Mercado da Encruzilhada Tabela 6 - Dados técnicos do Mercado da Boa Vista Tabela 7 - Quadro de parâmetros urbanísticos da área Tabela 8 - Tipologia de boxes comerciais Tabela 9 - Programa de necessidades do projeto
  • 13. 13 LISTA DE MAPAS Mapa 1 - Área de situação do estado de Pernambuco Mapa 2 - Área de situação da Região Metropolitana do Recife Mapa 3 - Delimitação da cidade do Paulista e demarcação do bairro do Janga Mapa 4 - Cheios e vazios Mapa 5 - Usos Mapa 6 - Vias Mapa 7 - Massas vegetativas Mapa 8 - Gabarito Mapa 9 - Mapa de condicionantes climáticos Mapa 10 - Zoneamento do Plano Diretor
  • 14. 14 LISTA DE SIGLAS/ABREVIATURAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas ANVISA – Associação Nacional de Vigilância Sanitária NBR – Norma Brasileira VISA – Vigilância Sanitária da cidade do Paulista IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ZAD – Zona de Alta Densidade
  • 15. 15 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO....................................................................................................18 2.REFERENCIAL TEÓRICO...................................................................................22 2.1 ATIVIDADE E ESPAÇO COMERCIAL..............................................................22 2.2 MERCADOS NO MUNDO.................................................................................25 2.2.1 Bazaar Árabe .................................................................................................25 2.2.2 Feiras .............................................................................................................28 2.2.3 Galerias..........................................................................................................28 2.2.4 Lojas de departamento..................................................................................31 2.3 MERCADOS PÚBLICOS NO BRASIL...............................................................34 2.3.1 Mercado de São José.....................................................................................35 2.3.2 Mercado Ver-o-Peso ......................................................................................38 2.3.3 Mercado da Encruzilhada...............................................................................40 2.4 NORMAS SANITÁRIAS E LEGISLATIVAS.......................................................42 2.4.1 Nacional ........................................................................................................42 2.4.2 Estadual ........................................................................................................45 2.4.3 Municipal .......................................................................................................47 2.5 CONFLITOS E SEMELHANÇAS ENTRE MERCADOS PÚBLICOS E GRANDES CENTROS COMERCIAIS .......................................................................................49 3. REFERÊNCIAS PROJETUAIS...........................................................................56 3.1 MERCADO DE ABASTOS DE CURACAUTÍN..................................................56 3.2 MERCADO ESTAÇÃO BÁLTICA ......................................................................61 3.3 MERCADO DA ENCRUZILHADA .....................................................................67 3.4 MERCADO DA BOA VISTA ..............................................................................71 4. APRESENTAÇÃO DA ÁREA.............................................................................76 4.1 ÁREA DE ESTUDO...........................................................................................76 5. ANÁLISE DO TERRENO E DO ENTORNO .......................................................81
  • 16. 16 5.2 Mapa de Nolli (Cheios e vazios)........................................................................87 5.3 Mapa de uso......................................................................................................89 5.4 Mapa de vias.....................................................................................................91 5.5 Mapa de massas vegetativas............................................................................94 5.6 Análise de gabarito............................................................................................97 5.7 Mapa de condicionantes climáticos...................................................................99 5.8 Zoneamento do Plano Diretor ...........................................................................101 6. ANTEPROJETO .................................................................................................103 6.1 Conceito Projetual.............................................................................................103 6.2 Partido Arquitetônico .........................................................................................105 6.3 Diretrizes Projetuais ..........................................................................................106 6.3.1 Boxes comerciais ...........................................................................................106 6.3.2 Boxes de hortifruti ..........................................................................................107 6.3.3 Boxes de frios.................................................................................................109 6.3.4 Praça de alimentação.....................................................................................109 6.3.5 Bares..............................................................................................................110 6.3.6 Banco com canteiros......................................................................................112 6.3.7 Cobertura .......................................................................................................114 6.3.8 Estacionamento..............................................................................................114 6.3.9 Obra de arte ...................................................................................................115 6.4 Programa de Necessidades ..............................................................................116 6.5 Zoneamento ......................................................................................................118 6.6 Implantação e Acessos .....................................................................................121 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................127 8. REFERÊNCIAS...................................................................................................129 APÊNDICE – PRANCHAS DO PROJETO .............................................................135 Prancha de situação e locação e coberta ...............................................................135 Planta baixa - pavimento semi enterrado ................................................................135 Planta baixa humanizada – pavimento térreo .........................................................135
  • 17. 17 Planta baixa - pavimento térreo...............................................................................135 Planta baixa humanizada – 1º pavimento ...............................................................135 Planta baixa – 1º pavimento....................................................................................135 Cortes......................................................................................................................135 Fachadas.................................................................................................................135 Detalhe – Banco com canteiros...............................................................................135 Detalhe – Brise........................................................................................................135 Especificação das fachadas....................................................................................135 Detalhe – Boxe de comércio geral ..........................................................................135 Detalhe – Boxe de hortifruti.....................................................................................135 Perspectivas............................................................................................................135
  • 18. 18 1. INTRODUÇÃO O comércio é uma das atividades fundamentais dos primórdios humanos. É toda a forma de troca de produtos entre as relações humanas, seguido de valor econômico. Outros processos são intimamente interligados com a atividade comercial, entre elas valores históricos e culturais que foram transmitidos entre as civilizações. De acordo com Vargas (2012) O caráter social da atividade comercial surge quando existe a necessidade do encontro e troca de ideias, palavras e sensações que fazem parte do ato de comercialização de um produto. Dessa maneira o comércio depende de aspectos sociais e subjetivos que vão além da mercadoria a ser negociada. As atividades comerciais eram realizadas sem espaço definido, ocorrendo em locais públicos da cidade. Antes do mercado público se consolidar de forma sólida, ele era realizado em praças, no mesmo local de outras atividades corriqueiras (PINTAUDI, 2006). A necessidade do mercado enquanto local surgiu após necessidade de ordenação e maior suprimento de alimentos diante do crescimento das cidades. Pintaudi (2006) também menciona que o mercado como edificação surgiu após a separação de suas atividades, instalando uma concepção burguesa de espaço. Romano (2004) ressalta sobre o mercado como estrutura física que abrange vitalidade de pessoas das mais diversas classes sociais e proporciona a diversidade dos sentidos : “Um mercado público pode ser um edifício em planta basilical, dividido em naves, encimado por lanternins, ou igualmente um edifício que concentra um espaçoso átrio geralmente quadrado, circundado por galerias. Pode ser um ponto de encontro sem comparação, o coração da cidade, onde se reúnem executivos, operários, donas-de-casa, cortesãs, desocupados, estudantes e empregadas domésticas, bem como uma lembrança impregnada de cheiros entrelaçados de peixes, legumes, carnes, frutas, especiarias, grãos, queijos, flores, vinhos, pastéis, fumos, incensos... “ (ROMANO, 2004, p. 16). O Mercado público é uma instalação que abriga diversas atividades comerciais e sociais nas cidades. A temática foi escolhida por ser um equipamento que reúne
  • 19. 19 elementos culturais e comerciais, além de gerar centralidades na malha urbana. Danielli e Mackmillan (2018) mencionam que os mercado públicos são locais que reúnem pessoas das mais diversas classes sociais com infinitas finalidades, sendo legitimador de coletividades. Se torna evidente que os mercados são espaços públicos que possibilitam o uso coletivo, permitindo diversas formas de usos. Estes espaços propiciam vitalidade nas cidades. Os mesmos autores também abordam os mercados públicos como papel essencial como integrador da sociedade e vitalidade urbana. Vale lembrar que a diversidade e sociabilidade são valores marcantes de um mercado público, elementos que são atrelados com a atividade comercial. Essa condição de atividade social e abastecimento permite relacionar a atividade comercial do o cotidiano das pessoas (VARGAS, 2012). Dessa forma, os mercados estão relacionados com as atividades rotineiras da cidade, reunindo o fervor da sociabilidade e comércio. As cidades dependem de suprimentos, seja alimentares ou não para seu funcionamento e suprimento da população. Em boa parte essas mercadorias são comercializadas por meio dos mercados públicos que estão localizados nas regiões centrais das cidades. Oliveira Júnior (2006) menciona que os mercados públicos e feiras livres formam um dos principais tentáculos do sistema de abastecimento urbano, em principal na distribuição de alimentos. A demanda por suprimentos alimentícios nas cidades aumentou diante do aumento populacional, o que obrigou os mercados a acompanharem seu crescimento por meio da expansão de suas estruturas. Em contrapartida, a remoção dos mercados das ruas e formações de redes de mercados tinham como intuito garantir o abastecimento alimentar pleno (SILVA, 2017). A partir dessa necessidade, os mercados públicos passaram a se materializar como edifício comercial que foi aplicado em diversos países do mundo, inclusive no Brasil. Os mercados públicos no Brasil surgiram em meados do século XIX como solução para a crise sanitária na época, pois as atividades comerciais eram realizadas nas ruas, envolta de todo o cotidiano da cidade. Além disso, havia uma demanda muito maior por suprimentos diante do crescimento populacional nas áreas urbanas o que exigiu um novo olhar sobre a contextualização dos equipamentos de varejo nas cidades (OLIVEIRA JÚNIOR, 2006) .
  • 20. 20 Quanto ao material desses mercados, Murilha e Salgado (2011) mencionam que o ferro foi responsável pelo surgimento de uma nova tipologia de mercados. Em geral os espaços foram projetados com moldes dos mercados europeus, principalmente marcados pelo uso do ferro. Entretanto, foram encontradas falhas no funcionamento dos mercados públicos no Brasil. Por mais que existam novas tecnologias e protocolos de higienização e organização, os mercados públicos não vêm seguindo essa mesma linha, básica para seu funcionamento de forma regular. Chaves e Gonçalves (2013) mencionam que as tecnologias de higienização dos espaços e acondicionamento de alimentos não foram acompanhadas nos mercados públicos, tornando pouco atraentes para o consumidor. Desta forma é possível encontrar essa realidade em vários mercados do Brasil, sendo marcado pela ineficiência do poder público em promover a estrutura adequada para higienização e disposição dos boxes. A função de um mercado depende em sua maioria das vezes por comércio de mercadorias, sejam elas artesanais ou não. O mal funcionamento dos mercados por ausência de estrutura e higiene adequada acaba por ocasionar na evasão de usuários do mercado. Quando a vitalidade no acesso e troca de produtos deixa de existir, se torna impossível manter a função do mercado (PINTAUDI,2006). Desta forma, são observadas ausências de novas formas e funções para o mercado público, necessitando atrair novos perfis de usuários e diferentes formas de sustento financeiro para o local. Em relação a infraestrutura, os mercados públicos entraram em processo de sucateamento, sem condições para enfrentar a forte concorrência dos supermercados, tornando reféns da própria ineficácia (OLIVEIRA JÚNIOR, 2006). O autor também menciona que estes mercados possuem dificuldade para atender as novas expectativas populacionais. Os mercados de grande porte, como atacados e hipermercados vêm se tornando equipamentos de maior acessibilidade e melhor estrutura para realizar suas compras em detrimento das péssimas condições dos mercados públicos, resultante do descaso do poder público. O trabalho tem como objetivo geral elaborar o projeto um mercado público na cidade do Paulista para o bairro do Janga com o intuito de dinamizar a economia e suas relações urbanas.
  • 21. 21 Serão analisadas como as formas tipológicas de mercados públicos existentes podem contribuir no desenvolvimento da cultura local e diversidade comercial do bairro. Além disso, serão compreendidos os valores construtivos e características de ocupação do local. O projeto deverá trazer conforto térmico, lumínico e visual para os usuários do mercado afim de gerar maior atratividade e potencializar as atividades comerciais e de lazer. O mercado público será consolidado como uma centralidade urbana que propõe vitalidade para a interação social e gerar relações de troca e mobilidade para o bairro. Serão propostos ambientes dimensionados e funcionais de forma a suprir as necessidades e trocas comerciais. O potencial ambiental existente no local será evidenciado para que esses elementos sejam fatores norteadores do projeto. Para o desenvolvimento da proposta, a metodologia consiste na pesquisa bibliográfica sobre temas e conceitos relacionados ao comércio e levantamento dos dados relacionados ao bairro e município e análise do local, sendo utilizado como estudo os elementos urbanos e populacionais a fim de obter um entendimento da dinâmica do local de estudo.
  • 22. 22 2.REFERENCIAL TEÓRICO Para o desenvolvimento do trabalho, o referencial teórico foi estruturado em tópicos relacionados ao comércio e respectivos mercados públicos como objeto de estudo bem como as demais condicionantes para o projeto, como normas técnicas e sanitárias. 2.1 Atividade e espaço comercial A atividade comercial é considerada uma prática tradicional e está vinculada com o caráter de troca, seja de mercadorias ou serviços que geram retorno econômico, ou seja, a realização da compra entre o vendedor e cliente. E essa efetivação comercial se torna bastante expressiva, pois depende da comunicação e outras atividades sociais que permitem a difusão da prática comercial como o cruzamento do fluxo de pessoas, estes geralmente em conjunto com outras atividades sociais (VARGAS, 2018). A relação comercial com outras atividades urbanas políticas, religiosas e de lazer permite que o comércio seja agente social e responsável pelo abastecimento alimentício das cidades, no qual se estabelece o espaço físico do mercado. A origem do mercado está no ponto de encontro de indivíduos que trazem seus produtos para troca, geralmente localizados em pontos equidistantes dos pontos de produção (VARGAS,2012). Desta forma, se observa que o espaço do comércio irá depender da proximidade e centralidade com as demais cidades para que a comercialização seja feita com facilidade. O local do mercado também pode proporcionar uma centralidade para a região, característica frequente no centro das cidades. O espaço físico pode ser estabelecido em diversos locais, seja na esfera pública ou privada (shoppings, centros comerciais). O comércio público se torna frequente em praças e vias públicas (Figura 1). Em alguns casos a atividade não possui autorização regular de funcionamento, do qual é chamado de comércio informal. Se trata de uma prática antiga, pois se deve levar em consideração que antes do mercado se consolidar de forma sólida, ele era realizado em praças e outros locais onde eram
  • 23. 23 desenroladas outras atividades corriqueiras (PINTAUDI, 2006). O espaço público também pode interferir nas atividades comerciais, bem como a relação entre o indivíduo comerciante e a cidade. Os espaços de troca, compra e venda de mercadorias conseguem mostrar que a ocupação do espaço público demonstra a forma que o indivíduo atua e mantém a relação de suas atividades (MORAES, 2017). Desta forma, o espaço urbano se torna um agente condicionante da atividade comercial, possibilitando identificar os seus valores socioculturais e o pertencimento do indivíduo com a cidade. Figura 1 - Feira livre em espaço público Fonte : Prefeitura de Campo Grande/MS, 2020. Quanto ao aspecto cronológico, as atividades comerciais eram realizadas nos espaços abertos até o período da Idade Média conforme a Figura 2:
  • 24. 24 Figura 2 - Atividades comerciais na Idade Média Fonte : CulturaMix, s/d. O mercado público se tornou consolidado como espaço físico após a separação das atividades urbanas, conforme Danielly e Mackmillan (2018) : “A consolidação dos mercados da forma que se entende hoje, cobertos, para uso cotidiano e como parte de um sistema de abastecimento, está diretamente ligada à separação das atividades que antes aconteciam simultaneamente na praça do mercado. Pois além do comércio, esses eram os espaços fundamentais de sociabilidade, agregando diversas formas de manifestações culturais e da vida cívica.” (DANIELLY, MACKMILLAN , 2018, p. 1108). O processo de evolução do mercado também esteve relacionado por alguns fatores como a crescimento das cidades, o que necessitou de maior demanda de suprimento alimentício e bens de uso comum, além de políticas sanitaristas que promoveram modificações no espaço urbano, o que também interferiu nas atividades comerciais e na maneira que as mercadorias eram manipuladas.
  • 25. 25 2.2 Mercados no mundo Serão abordadas as definições e características das edificações comerciais no âmbito internacional, bem como suas origens (história, cronologia, análise arquitetônica) a fim de obter exemplares dos locais destinados ao comércio. 2.2.1 Bazaar Árabe O Bazaar é considerado um dos espaços comerciais mais tradicionais de origem árabe, com primeiros registros encontrados no século IV a.C. Possui origem no Oriente Médio e surgiu diante do alto fluxo de pessoas das mais variadas classes sociais nas cidades de Meca e Medina. Os artesãos e comerciantes locais ocupavam uma posição privilegiada pela localização de encontro com as rotas de comércio entre a Europa, Índia e norte de África. Figura 3 - Acesso do Grand Bazaar em Istanbul - Turquia Fonte : Casal Wanderlust, s/d. De acordo com Vargas (2018) a atmosfera do bazaar induz a um universo de sensações com cores, sabores e odores onde a experiência faz parte do processo de troca.(Figura 3) A atividade comercial de venda e troca de mercadorias também
  • 26. 26 dependia de diversos fatores para ser efetivada, como o diálogo e auxílio dos órgãos sensoriais, como o olfato e tato. Machado (2008) aborda que o bazaar constituia as atividades essenciais da sociedade islâmica e era retratado como espaço público, pois diferentes grupos sociais conviviam harmonicamente. Desta forma, é possível evidenciar que esses locais tinham a característica principal de ser um espaço democrático e agente potencializador da interação social e demais atividades que eram realizadas nas cidades do Oriente Médio. Arquitetonicamente. o bazaar é formado por pequenos vãos fechados do espaço externo, geralmente aberto para um pátio interno por motivos ambientais, pois são locais áridos com tempestades de areia frequentes. As construções tinham poucas e elevadas aberturas que demonstravam a busca por privacidade e contraste do domínio interno e externo. O interior aparenta ser bastante decorado, seguido da composição das mercadorias e outros elementos que proporcionavam toda a diversidade do local. O edifício era formado por vários pavimentos e dividido por estreitas lojas medindo aproximadamente dois metros quadrados e eram elevadas do nível da rua. Seu acesso se dava por uma única entrada e os pavimentos superiores eram formados por estabelecimentos de menor fluxo de pessoas, em principal salas de escritório, cambistas e negociadores. Quanto ao seu planejamento, a setorização do bazaar e o espaço urbano nas cidades árabes era feita conforme o tipo de atividade a ser realizada, conforme menciona Vargas (2018) : “A localização dos diversos tipos de mercadorias tinha suas razões funcionais. Era desejável que atividades incômodas, como as de tintureiros, coureiros, açougueiros, ceramistas, serralheiros e vendedores de pólvora, permanecessem na periferia. Não apenas por causa do cheiro, barulho e sujeira, mas também pelo risco de incêndio ou necessidade de espaços maiores.” (VARGAS, 2018, p. 85). Logo, é possível encontrar as primeiras formas de planejamento urbano e setorização na civilização árabe, levando em consideração seu uso e geração de incômodo para a vizinhança e frequentadores do bazaar, além da expectativa pela expansão comercial.
  • 27. 27 Figura 4 - Planta baixa do Grand Bazaar em Istanbul - Turquia Fonte : Archnet, s/d. Figura 5 - Interior do Grand Bazaar em Istanbul - Turquia Fonte : Serif Yenen, s/d.
  • 28. 28 2.2.2 Feiras As feiras eram instalações itinerantes situadas em locais abertos ao público. Em geral as mercadorias eram oriundas de locais distantes, na maioria das vezes eram aplicadas taxas e pedágios para a realização das feiras em algumas cidades da Europa. Eram especializadas em vender alguns tipos de mercadorias, o que atraía muitas pessoas na procuradora de itens e suprimentos com maior exclusividade. A intensa atividade das feiras provocava um alto fluxo de pessoas que vinham de diversos locais apenas para apreciá-las (VARGAS, 2018) 2.2.3 Galerias As galerias, também conhecida como passagens, são edificações que surgiram no começo do século XIX em Paris e conectam o espaço público e privado de forma que o espaço interior é aberto e conectado ao meio externo. Sua tipologia foi impulsionada pelo positivo cenário econômico e oportunidade de negócios em Paris. De acordo com Rossi (2015) as galerias foram disseminadas na Europa como reflexo da inovação, refletindo a descoberta dos prazeres de consumo pelas novas elites que se formavam. Desta forma, se tornaram um emblema da ascenção da burguesia em conjunto com a descoberta do desejo pelo consumo na época. As galerias são formadas por corredores de lojas entre uma ou mais edificações. O acesso é restrito para pedestres, o que proporcionou a expansão da vida pública e comodidade, pois era possível transitar entre quadras nos corredores internos da galeria. A nova malha urbana existente e a evolução do ferro e do vidro foram importantes para o sucesso do padrão arquitetônico das galerias (VARGAS, 2018). O vidro e ferro foi um dos materiais mais utilizados, permitindo amplos corredores e luz natural que adentrava as passagens. Hertzberger (1996) menciona sobre a amplitude das galerias e sua fluidez entre o espaço interno e externo :
  • 29. 29 “As passagens altas e compridas, iluminadas de cima graças ao telhado de vidro, nos dão a sensação de um interior : deste modo, estão do lado de “dentro” e de “fora” ao mesmo tempo. O lado de dentro e o de fora acham-se tão fortemente relativizados um em relação ao outro que não se pode dizer quando estamos dentro de um edifício ou quando estamos no espaço que liga dois edifícios separados.” (HERTZBERGER, 1996, p. 77). Também foram construídas em parceria das autoridades com a iniciativa privada no intuito de embelezar a cidade e se tornar um símbolo do comércio parisiense (MACHADO, 2008) Para Machado (2008), as passagens serviram para maior utilização dos espaços interiores abertos e seu surgimento possibilitou o aumento das áreas comerciais centrais sem a necessidade de expandir o perímetro central. As galerias proporcionaram uma notória e fundamental expansão do mundo público (MACHADO, 2008). Figura 6 - Interior da Galeria Colbert Fonte : TimeOut
  • 30. 30 Fonte : Wikipédia Fonte : WorthPoint Figura 7 - Planta baixa das galerias Colbert e Vivienne Figura 8 - Interior do Burlington Arcade
  • 31. 31 2.2.4 Lojas de departamento As lojas de departamento surgiram na segunda metade do século XIX após o processo revolucionário de transformação urbanística nas cidades europeias, em principal pela intervenção de Haussmann na cidade de Paris, o que permitiu melhor controle no espaço público e maior velocidade de circulação das mercadorias. O setor industrial também foi beneficiado e o comportamento impulsivo pelo luxo e vaidade se tornou frequente na alta sociedade e no setor comercial. O comércio de produtos supérfluos alimentava a cultura do consumo e conduzia as normas das relações sociais na época (MACHADO, 2008). As lojas passaram a ter maior apego estético e preocupação em promover a boa aparência dos negócios comerciais. (Figura 9). Figura 9 - Interior do Grand Magasin Bon Marché - França Fonte : LAPS As grandes magazines eclodiram com formas inovadoras de comercialização dos produtos, em principal pela exibição e valor fixo do preço dos produtos e maior espontaneidade de acesso aos consumidores, dispensando a obrigação social de efetuar alguma compra ao entrar na loja. Conforme menciona Rossi (2015) as grandes lojas encorajavam os consumidores a passear pelos corredores contemplando os cenários de bens de consumo exóticos, de forma que poderiam participar desse ambiente dispensados de qualquer obrigação.
  • 32. 32 As lojas eram compostas por elementos que seduziam os consumidores, assumindo artifícios estéticos na publicidade e da qualidade arquitetônica. Eram edificações de dois ou mais pavimentos formadas por grandes vãos e iluminação artificial em abundância, além das luzes pelos vitrais brancos. Sua arquitetura era leve, tornando- se uma realização moderna e sofisticada de um palácio dos sonhos (VARGAS, 2018) A grandiosidade e verticalidade das grandes magazines gerou a necessidade em facilitar o acesso aos pavimentos superiores, o que levou a surgir os elevadores e escadas rolantes, invenções inéditas que possibilitaram a construção de edificações comerciais com múltiplos pavimentos. Figura 10 - Vista do Grand Magasin Bon Marché - França Fonte : Les Cartes Postales
  • 33. 33 Figura 11 - Áreas de venda no Grand Magasin Bon Marché – França Fonte : iartnouveau.co Tabela 1 - Tipologia de plantas de mercados no mundo TIPOLOGIA DAS PLANTAS BAIXAS DE MERCADOS Tipo Características Baazar Árabe Pequenos compartimentos Poucas aberturas Pátio interno Acesso das lojas conectado por galerias abertas Feiras Realizadas em espaços abertos Locais itinerários Galerias Grandes corredores Repetição dos módulos comerciais Circulação interna com iluminação natural Ritmo Lojas de departamento Grandes vãos Verticalidade Múltiplos pavimentos Edifício fechado para o interior Fonte : Autor
  • 34. 34 2.3 Mercados públicos no Brasil Os mercados públicos surgiram a partir da metade do século XIX diante do crescimento das cidades que necessitou de maior demanda no suprimento alimentício. Também decorre da crise sanitária que ocorria na época e de propostas higienistas. Esse discurso higienista surgiu diante do contexto do crescimento do capitalismo fomentado pela industrialização nas grandes cidades europeias, ocasionando um espaço de insalubridade e pobreza diante do avanço industrial (MORAES, 2017). Os ideais higienistas refletiram no contexto brasileiro, da mesma forma que foram difundidos os materiais e tipologias construtivas dos mercados europeus. De acordo com Vargas (2018), o sistema varejista no Brasil foi fortemente influenciado pelo modelo europeu e em seguida pelo modelo americano. No período da última década do século XIX até o início do XXI foram construídos mercados públicos nas cidades brasileiras utilizando como modelo o Grande Mercado de Paris projetado por Félix-Emmanuel Callet (MURILHA, SALGADO, 2011). Em sua grande maioria, os mercados públicos foram projetados aos moldes dos mercados europeus, em principal pelo uso do ferro. O Mercado da Candelária foi o primeiro mercado público no Brasil, construído em 1841 no Rio de Janeiro. Porém, foi sua demolição ocorreu em 1911 após a inauguração de um novo mercado municipal no local. Figura 12 – Mercado da Candelária, no Rio de Janeiro Fonte : Diário do Rio
  • 35. 35 Oliveira Júnior (2006) destaca sobre a demasiada expansão populacional das cidades que obrigou a criação de uma nova infraestrutura comercial : “Devido ao vertiginoso crescimento populacional e ao intenso processo de urbanização, as cidades adquiriram novas feições e a sociedade novas aspirações , exigindo um outro olhar sobre a contextualização e inserção dos equipamentos de varejo na malha urbana.” (OLIVEIRA JÚNIOR , 2006, p. 14). 2.3.1 Mercado de São José O Mercado de São José está situado na cidade do Recife, mais especificamente no tradicional bairro de São José. Se trata de um bairro formado por estreitos sobrados de porta e janela que sofreu diversas modificações com o intuito de torna-lo moderno e salubre conforme os padrões da modernidade europeia (GUILLEN, 2009). Foi inaugurado em setembro de 1875 e possui uma sistema estrutural de ferro típica dos moldes europeus, inspirada no mercado parisiense de Grenelle. Sua execução foi realizada pelo engenheiro Louis Vauthier, que também foi responsável por outros mercados públicos cobertos na França. O mercado é dividido por dois pavilhões que abrangem uma área de 3.541m², dos quais possui dimensões de 48.88m X 75.44m (Frente e fundo), constituído por 377 boxes que vendem produtos variados, como suprimento alimentício, comércio de pescado e artesanato em geral. Possui grande atração turística, em principal pelo artesanato regional. (Figura 13)
  • 36. 36 Figura 13 – Acesso principal do Mercado de São José em Recife/PE Fonte : Gabriel Melo / Diário de Pernambuco Algumas modificações foram realizadas no mercado para se adequar aos serviços prestados. Uma câmera frigorífica foi instalada no ano de 1941 para armazenamento dos pescados e frios. Nos anos 50, as venezianas de vidro e madeira foram trocadas por cobogós de cimento na justificativa de ter maior durabilidade e segurança para os frequentadores do mercado, ainda que sua estrutura de ferro tenha sido mantida. Em 1989, uma parte do mercado foi destruída por um incêndio que atingiu o pavilhão norte. O acidente ocasionou no prejuízo dos comerciantes que viram a perda do seu patrimônio e da lentidão do processo de restauração do mercado de São José, conforme menciona Guillen (2009) : “Apesar da decisão política dos administradores municipais de reerguer o mercado, retirando das cinzas todo o material que pudesse ser reaproveitado, a sua restauração foi um processo lento e tecnicamente complicado. O Mercado de São José ficaria anos fechado (em alguns momentos parcialmente), para ser reaberto em 12 de março de 1994. Muitos locatários lembram-se desse período com amargura, anos das vacas magras, de muito trabalho e pouco lucro..” (GUILLEN , 2009, p. 6).
  • 37. 37 O mercado foi restaurado e reaberto em 1992, desta vez aos padrões originais e as venezianas de madeira e vidro foram recolocadas. Figura 14 – Planta baixa do mercado de São José em Recife/PE Fonte : Oliveira Júnior (2006, p.42) Figura 15 – Pavilhão de frutos do mar do Mercado de São José Fonte : Ricardo Costa / TripAdvisor
  • 38. 38 2.3.2 Mercado Ver-o-Peso Foi inaugurado em 1625 no antigo porto do Pirí em Belém. Seu nome originou pela Casa de “Haver o Peso” que havia função semelhante a uma alfândega na qual se calculava e arredava os impostos dos produtos que chegavam à cidade por embarcações. Inicialmente era constituído por um grande mercado aberto situado na área central da cidade de Belém que havia uma grande relevância como centro de comércio de produtos oriundos da região Norte destinados ao mercado nacional e internacional, o que proporcionava um movimento intenso, o que acarretou na criação do Ver-o-Peso. Houve necesidade de organização do espaço ao longo do tempo, pois a comercialização de produtos era intensa, cabendo ao poder público em promover ações na estrutura urbana e propor espaços para atender a alta demanda de abastecimento alimentício (MORAES, 2017). O Mercado foi resultado da demanda comercial e da ausência de infraestrutura na cidade de Belém, o que conseguiu cumprir todas as necessidades comerciais e logísticas da época. Moraes (2017) descreveu sobre o espaço de chegada das mercadorias e transformações na esfera urbana : “Era um posto de fiscalização portuguesa, pois a Província era uma importante sede das capitanias, onde chegavam as mercadorias para haver o peso e controle da quantidade e distribuição de produtos. No entanto, esta área passou por diversas mudanças físicas e sociais que, no futuro, teve sua função acentuada e um novo mercado foi edificado.” (MORAES , 2017, p. 41). O Ver-o-Peso passou por grandes modificações de razão funcional e estética para o molde dos gostos da época e para ampliação do abastecimento alimentício de Belém A partir do século XIX o mercado passou por ampliações, o que deu início a construção do Mercado Francisco Bolonha (Mercado de carne) e ao Mercado de Ferro (Mercado de Peixe) (Figura 16).
  • 39. 39 Figura 16 – Área externa do Mercado Ver-o-Peso em Belém/PA Fonte : Todos os rumos Moraes (2017) aborda que o Mercado do Ver o Peso foi responsável por ser um dos propagadores do ideal de modernidade, do qual se justificava a chegada de uma nova tecnologia e uma arquitetura inédita para a cidade de Belém. Figura 17 – Planta baixa do mercado Ver-o-Peso em Belém/PA Fonte : Oliveira Júnior (2006, p.44)
  • 40. 40 2.3.3 Mercado da Encruzilhada Localizado em tradicional bairro da cidade do Recife, foi inaugurado em 18 de outubro de 1924 pelo governador de Pernambuco Sérgio Loreto. Apresentava uma estrutura pequena que passou a não suprir toda a demanda da cidade, além de condições precárias de higiene. Todas essas insatisfações acarretaram na construção de uma nova edificação que foi inaugurada no em dezembro de 1950. O novo mercado abrange uma área de 2.800m² e 150 boxes com identificação clara dos produtos a serem comercializados além de 200m² de área contemplada por jardins. A volumetria do mercado remete a um avião, segmentado por alas onde se encontram os mais variados tipos de mercadorias, das quais variam de suprimentos alimentícios até mesmo utensílios domésticos e serviços em geral (GOMES,2019) Possui sistema estrutural de concreto armado com paredes revestidas de azulejos, o que resolveu alguns problemas anteriores de higienização. Gomes (2019) aborda sobre o processo evolutivo do Mercado da Encruzilhada e o processo de transformação do bairro como centralidade : “O mercado, nos moldes preestabelecidos até hoje, foi construído apenas na década de 1950. Ao longo das décadas, com a implementação de diferentes atividades tais como instituições, habitações e uma vasta disponibilidade de estabelecimentos no ramo do setor terciário, o bairro se firmou como centralidade secundária na cidade e o Mercado da Encruzilhada como o mais importante equipamento comercial da localidade.” (GOMES , 2019, p. 29).
  • 41. 41 Figura 18 – Mercado da Encruzilhada em Recife/PE Fonte : Arquivo/G1, 2017. Figura 19 – Praça de alimentação do Mercado da Encruzilhada Fonte : Cecília de Sá Pereira/AQUIPE, s/d.
  • 42. 42 2.4 Normas sanitárias e legislativas As normas sanitárias municipais e estaduais são necessárias para o funcionamento de um mercado público, bem como a legislação da cidade que diz a respeito dos estabelecimentos comerciais. Moraes (2017) aborda sobre a transformação da conduta da salubridade nas cidades brasileiras, a partir do momento em que foram estabelecidas normas para a construção de mercados e outros estabelecimentos comerciais : “Intervenções como a higienização das ruas, do ar e dos estabelecimentos, como os mercados públicos, constituíram lugares em potencial para retirada do acúmulo de material em decomposição, pois eram, e ainda hoje continuam sendo, responsáveis pelas atividades de abastecimento e comercialização de alimentos, provocando a construção de novos mercados que atendessem as diretrizes higienistas. Assim o poder público estabelece normas para a construção de edifícios comerciais apropriados para as atividades de comercialização de alimentos” (MORAES , 2017, p. 74). As cidades passaram a ter uma nova visão sobre o manejo dos alimentos e a estruturação dos espaços comerciais que refletiam na higiene, e sobretudo na saúde da população. Várias doenças eram acometidas em detrimento da insalubridade do espaço urbano e do tratamento inadequado aos mercados e locais que produziam bens alimentícios. 2.4.1 Nacional A ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária estabelece o RDC 216/04 (2004), correspondente ao Regimento de Boas Práticas para Serviços de Alimentação. Responsável por normas quanto a edificação comercial e suas
  • 43. 43 respectivas instalações e equipamentos de trabalho. Aplicada aos serviços que realizam a manipulação, armazenamento, distribuição, transporte, exposição e venda de alimentos, como lanchonetes, padarias, mercados públicos e demais estabelecimentos que realizam a venda de produtos alimentícios. De acordo com a RDC 216/04 (2004), o artigo 4 estabelece os protocolos relacionados a edificação, instalações, equipamentos, móveis e utensílios. A norma estabelece os principais parâmetros, dos quais correspondem com o objeto de estudo do trabalho : A edificação deve ser projetada para possibilitar a organização e divisão dos fluxos de pessoas de acordo com as etapas de produção e facilitar a manutenção e limpeza dos setores. O acesso deve ser controlado e separado de acordo com os usos . O local deve ser bem dimensionado e compatível com as atividades a serem desenvolvidas, além de separar as atividades para impedir a contaminação cruzada. Quanto ao acesso aos ambientes, não deve haver comunicação direta no acesso entre os sanitários e vestiários com a área de armazenamento e preparo de alimentos e as portas devem ser de preferência fechamento automático, como por exemplo do tipo Vai e Vem. As áreas de manipulação de alimento necessitam de lavatórios de uso exclusivo, de preferência em locais estratégicos para atender toda a área de preparação. Figura 20 – Porta do tipo Vai e Vem Fonte : Rebiplast, s/d.
  • 44. 44 Quanto ao material do edifício, os espaços físicos como piso, parede e teto devem ter revestimento liso e lavável, sendo mantidos de rachaduras, vazamentos e deterioração do material de forma a impedir a contaminação dos alimentos. Os móveis e revestimentos de contato com os alimentos devem ser de material que não transmitam odores, sabores ou quaisquer substâncias que possam afetar a composição do alimento. Os materiais também devem ter manutenção e limpeza frequente, sendo resistentes à corrosão e limpeza constante. Todos os estabelecimentos devem ser abastecidos de água e dispor de tubulação com material e conexões de acordo com a norma técnica responsável. As tampas e caixas de inspeção devem estar situadas fora da área de produção e armazenamento de alimentos. Figura 21 – Espaço de uma cozinha industrial de acordo com as normas da ANVISA Fonte : Nutrimix, s/d. A iluminação deve ser adequada para a visualização dos alimentos e suas características no momento de produção e manejo. As fontes de luz (lâmpadas) devem ser protegidas do risco de queda e contato com os alimentos, sendo recomendadas luminárias embutidas. A ventilação do local deve proporcionar a renovação do ar e manter o ambiente livre de fumaça, gases e quaisquer partículas que comprometam a higiene e características do alimento.
  • 45. 45 2.4.2 Estadual No âmbito estadual, está regulamentado o Código Sanitário de Pernambuco, correspondente ao decreto estadual nº 20.786/98 (1998) da secretaria estadual de saúde. O código está atrelado em manter a vigilância em saúde, responsável pelo compromisso do setor público e privado na garantia de proteção e defesa da qualidade de vida. Estabelece vigilância e parâmetros em estabelecimentos de saúde e comerciais, como bares, restaurantes, lanchonetes, pousadas e mercados públicos. A norma aborda critérios como uso e qualidade da água, aparelhos sanitários e acondicionamento dos produtos, levando em consideração aspectos de higienização do estabelecimento e exigências técnicas no edifício comercial, no qual corresponde ao objeto de estudo do trabalho. Quanto ao uso da água, a norma estabelece que todas as edificações deverão ter abastecimento direto da rede pública, sendo obrigatória a construção de reservatórios em edificações de mais de dois pavimentos e em escolas, motéis, internatos, hospitais, pensões e edificações similares. O reservatório e as instalações relacionadas (casa de bombas, tubulações) devem ser protegidas contra respingos, infiltrações e demais materiais estranhos que possam comprometer a qualidade da água. As tubulações devem atender as exigências da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT e o projeto hidráulico deve ser realizado por um profissional na área. Quanto a capacidade do reservatório, deverá ter um armazenamento que atenda no mínimo as necessidades do consumo diário da edificação, o que varia bastante de acordo com o uso do prédio. Quanto ao sistema de esgotamento sanitário, a edificação deverá ter um conjunto de aparelhos sanitários e as correspondentes tubulações destinadas a coletar todos os dejetos e conduzir ao local adequado. Os despejos oriundos das pias de cozinhas de restaurantes e estabelecimentos relacionados devem passar por uma caixa de gordura antes da sua destinação final. O ramal principal de esgoto deverá ter um diâmetro mínimo de 10cm da tubulação, não sendo permitida sua ligação com a rede de águas pluviais. Os aparelhos sanitários, bem como bacias e demais locais de despejo deverão ser em louça, ferro ou outro material que obedeça as normas técnicas. A norma proíbe a
  • 46. 46 instalação de aparelhos sanitários de cimento. Nas cozinhas, lavanderias e demais ambientes sanitários deverão ter pelo menos um ralo, sendo proibida a instalação de caixas de gordura e de passagem no interior desses espaços. Em relação a coleta do lixo, as edificações deverão ter compartimento próprio para armazenamento com área útil de acordo com o volume calculado e os resíduos devem ser coletados em até 24 horas desde o despejo. A norma estipula que o cálculo diário de lixo corresponde a 2,5 litros por pessoa. O espaço deve ser feito em alvenaria e deve ser revestido de material liso, lavável e resistente, além de ter um ralo para limpeza e ocasionais vazamentos de líquido provenientes do lixo. A comercialização e o manejo dos alimentos deverão ser feitos em boas condições sanitárias, garantindo a conservação e acondicionamento da forma correta. As feiras e espaços abertos similares devem obedecer as mesmas exigências e ter bancas padronizadas e aprovadas pela autoridade sanitária. A venda de carnes, frios, laticínios e pescados é permitida em feiras, desde que tenha condicionamento em expositor protegido de poeiras, moscas e sol, mantendo livre de contato direto com o consumidor. O transporte dos frios poderão ser feitos em caixas fechadas em plástico transparente, permitindo a visualização com nitidez do produto. A mesa de manipulação e cortes de carne deverá ter superfície em material liso e lavável. Quanto aos estabelecimentos comerciais destinados a produção e venda de alimentos, deverão ser projetados de forma a setorizar o edifício de acordo com as atividades a serem desenvolvidas, bem como o fluxo de alimentos e de pessoas. Não é permitido ter comunicação direta entre compartimentos sanitários, como vestiários e toaletes com os locais de produção e armazenamento de produtos. Devem ter sanitários de uso exclusivo aos operadores do estabelecimento, evitando a contaminação cruzada. As áreas de manipulação e venda de mercadorias devem ter piso e parede revestidos em material liso e lavável, impedindo o acúmulo de sujeira e sedimentos. As cores dos revestimentos devem ser claras para facilitar a visualização e limpeza das superfícies. A iluminação do local poderá ser natural ou artificial, a depender da disposição do edifício. Ambas poderão ser utilizadas, desde que permitam a realização dos trabalhos sem comprometer a higiene e nem alterar as cores dos alimentos. As luminárias devem ter sua fonte de luz revestida para proteção de eventuais quedas. Podem estar
  • 47. 47 instaladas na parede ou teto, não sendo permitido fiações expostas nos locais de produção e venda de produtos. Quanto ao armazenamento de frios, a norma estabelece que as câmaras frigoríficas deverão ser separadas de acordo com o gênero alimentício (carnes, laticínios, pescados) e deverão ter acesso por ante-câmara. Os açougues e peixarias devem ter uma área mínima de 15m², sendo sua largura mínima de 3 metros. O balcão deve ter revestimento liso e de fácil limpeza. 2.4.3 Municipal A superintendência da vigilância em saúde – VISA da prefeitura do Paulista dispõe de uma documentação para licenciamento dos estabelecimentos comerciais de acordo com a sua função. Para o objeto de estudo do trabalho, o mercado público está enquadrado como “Açougues, restaurantes, padarias, supermercado, cozinha industrial/refeitório, e padaria com delicatessen” e estabelece as seguintes documentações : “ 1. Declaração de Responsabilidade Técnica – RT (Modelo padronizado) assinada pelo proprietário e por profissional habilitado, com o número do respectivo Conselho Regional; 2. Cópia do Diploma do Responsável Técnico, emitido por instituição de ensino técnico e/ou da Certidão de Regularidade Técnica (CRT) expedida pelo Conselho de Classe dos responsáveis; 3. Declaração com relação nominal de Recursos Humanos com as respectivas funções, e comprovações, assinada pelo responsável técnico; Base legal: ✓ Dec. Estadual 20.786/98 – SES; ✓ RDC 216/04 – ANVISA; ✓ Portaria 2914/2011 – MS; “ (Documentação para licenciamento VISA – Paulista). A documentação possui uma base legal nas normas nacionais e estaduais. Portanto, deverá cumprir as demais legislações para o funcionamento do local. Quanto a normas de edificações, a lei nº 3.772/2003 estabelece a Lei de Uso e Ocupação da cidade do Paulista.
  • 48. 48 Tabela 2 – Parâmetros de uso de acordo com as normas sanitárias PARÂMETROS DE USO DE ACORDO COM AS NORMAS SANITÁRIAS Atividade Parâmetro Uso da água •Abastecimento da rede pública •Uso de reservatórios •Tubulações de acordo com a NBR 5626 Esgotamento sanitário •Tampas e caixas de gordura fora das áreas de produção e venda de alimentos Coleta de lixo •Espaço de armazenamento em alvenaria com material lavável Iluminação •Instalações elétricas devem atender a NBR 5410 •Iluminância adequada para atividade de trabalho e uso geral •Fonte de luz revestida para evitar quedas •Índice de reprodução de cor alto, sem deformar as cores dos alimentos Material •Revestimento liso e lavável •Cores claras •Sem transmitir odores e sabores para o alimento •Livre de rachaduras Venda de frios •Balcão com revestimento liso •Pia de uso exclusivo para limpeza e manipulação dos frios Armazenamento de frios •Separação de acordo com o gênero alimentício •Acesso por ante-câmara Área de produção •Revestimento liso e lavável •Livre de rachaduras Circulação •Sem comunicação direta de sanitários e áreas de manipulação de alimentos Fonte : Autor
  • 49. 49 2.5 Conflitos e semelhanças entre mercados públicos e grandes centros comerciais Os grandes centros comerciais e shoppings vêm se tornando cada vez mais frequentes nas cidades, sendo o principal agente no espaço urbano que promove a alta comercialização e fluxo de pessoas todos os dias. A criação das grandes lojas de departamento e sua chegada ao Brasil no século XX se tornou um marco para a modernização do comércio varejista, proporcionando mudanças na exposição dos produtos e do ato de comercializar de forma a garantir rapidez e eficiência, atraindo os consumidores para os novos hipermercados e grandes centros comerciais. Os primeiros shoppings centers no Brasil surgiram a partir dos anos 60 e tem como localização os espaços mais centrais das cidades, ao contrário do modelo americano que ocupam os espaços do subúrbio (VARGAS, 2018). O Iguatemi foi o primeiro shopping center do Brasil, inaugurado em São Paulo no ano de 1966. Figura 22 - Vista do Shopping Iguatemi, em São Paulo Fonte : São Paulo In Foco, 1966. Na maneira que os grandes centros comerciais passaram a ter maior atratividade, os mercados públicos passaram a ter uma redução na quantidade de público, diminuindo a quantidade de frequentadores e consequentemente a renda dos comerciantes foi prejudicada, bem como o investimento e capital nos mercados, geridos pelo poder público. No período anterior aos grandes centros comerciais, compras cotidianas eram realizadas em feiras livres e mercados públicos, no qual havia a troca e interação entre
  • 50. 50 o cliente e comerciante. Nos hipermercados, a relação comercial se torna cada vez mais mecanizada, levando como prioridade o lucro de grandes empresas e apelo pela publicidade. Os shoppings se tornaram equipamentos que tomaram o protagonismo do espaço urbano, sendo considerados espaços privativos de maior qualidade, conforto e segurança em detrimento dos mercados públicos que se tornaram sucateados e vistos como sujos e inseguros pela população. Gomes (2019) menciona sobre os artifícios de atração utilizados pelos shoppings centers, além da imagem negativa dos mercados públicos formada pela sociedade : “A eliminação de aspectos considerados malvistos ou sujos e a adaptação de seus ambientes internos a espaços tais como praças de alimentação, como as encontradas nos shopping centers, contribuem para o apagamento de suas particularidades e são algumas das características impostas a estes equipamentos para a sua entrada no rol dos mercados públicos reconhecidos internacionalmente..” (GOMES , 2019, p. 151). Se torna evidente que os shoppings buscam por espaços cada vez mais atraentes na contrapartida de espaços insalubres de mercados públicos. A imagem negativa dos mercados públicos na sociedade ocorre por algumas características, como falta de limpeza, organização e insegurança nos espaços comerciais públicos. O fator da insegurança é bastante presente pela evasão dos mercados e demais locais públicos. De acordo com Machado (2008) o mercado mobiliário e agentes do espaço privado propagam a ideia que viver em ambiente fechado e distante da esfera pública é mais seguro, proporcionando espaços que funcionam como barreiras do contato social. A sensação de insegurança passa a ter mais efeito quando os espaços públicos passam a ser cada vez menos ocupados, tornando-os apenas como local de passagem e com menos vigilância social. O predomínio das atividades em locais privados acaba por negligenciar o caráter de uso e demais atividades nos espaços públicos. No quesito arquitetônico, os espaços privados apresentam uma tipologia predatória que dificulta a interação do meio interno com o entorno do local. Os grandes centros comerciais e redes de hipermercados adotaram artifícios físicos no objetivo de
  • 51. 51 promover a segregação do edifício com o entorno e seus pedestres, tornando claro que essas formas de distanciamento são cúmplices com a arquitetura (GOMES, 2019) Entretanto, podem ser encontradas similaridades tipológicas e arquitetônicas entre shoppings centers e mercados públicos. Existem algumas semelhanças na dinamização interna desses equipamentos urbanos, pois ambos os espaços são divididos em ruas internas repletas de estabelecimentos comerciais, além de uma praça central (CORDEIRO, 2015). Logo, é possível encontrar uma reprodução de elementos urbanos dentro desses espaços comerciais privados que de certa forma promovem uma dinamização no acesso e trajeto até as lojas e restaurantes, bem como pontos de encontro e alimentação no interior dos shoppings. Os corredores são conectados entre si e são encontrados elementos semelhantes ao mobiliário urbano encontrado nas ruas e avenidas. Quiosques situados na parte central dos corredores chamam a atenção dos visitantes e se tornam espaços de consumo rápido, se assemelhando a bancas que vendem jornais, flores e frutas no espaço público.O mobiliário urbano aparenta semelhança com os bancos e cadeiras, destinados ao conforto e consumo de alimentos pelos frequentadores dos shoppings. Figura 23 - Grande concentração de pessoas no Shopping Riomar - Recife Fonte : Bobby Fabisak/ JC Imagem No aspecto cronológico, as arcadas e galerias parisienses foram edificações que serviram como base arquitetônica para os surgimentos dos shoppings centers. Em
  • 52. 52 sua estrutura, se encontravam largos vãos e corredores formados por uma série de boxes comerciais que muitas vezes eram dispostos por telhados de vidro que forneciam iluminação natural. As mesmas características são encontradas nos equipamentos comerciais da atualidade, porém em ambientes fechados desprovidos de interação com a rua e o entorno urbano (Figura 24). Os grand magasins também se firmaram como uma base para o surgimento dos shoppings, destacando pela presença de grandes vãos compostos por múltiplos pavimentos, além do apelo comercial pela publicidade. As figuras 24 e 25 permitem a observação das semelhanças arquitetônicas entre esses centros comerciais. Figura 24 - Circulação interna da Galerie Colbert - Paris Fonte : Pierrot Heritier Photos
  • 53. 53 Figura 25 - Corredor principal do Shopping Tacaruna - Recife Fonte : Shopping Tacaruna Também são encontradas semelhanças no contexto de ambas as edificações. Os mercados públicos no Brasil surgiram na metade do século XIX com objetivo de melhorar as condições de comércio e fornecer boa infraestrutura e higiene para esses locais com o ideal de modernização utilizando materiais sofisticados, como o aço e vidro, que permitiam um maior número de boxes e vãos maiores. As cidades brasileiras estavam se expandindo em um cenário de insalubridade e o comércio aberto e não planejado era mal visto. Na atualidade, os shoppings centers surgem no mesmo pretexto de modernidade e reinvenção na maneira de comercialização, fornecendo qualidade em espaços sofisticados que seduzem os frequentadores ao consumo e permanência nos grandes espaços comerciais, entretanto, gerido pelo poder privado. Cordeiro (2015) menciona sobre a importância de ambos os equipamentos urbanos para a sociedade, destacando a busca pelo desenvolvimento e modernidade : “No século XXI, o Shopping agrega, mais e mais, os desejos da sociedade no contexto urbano, com suas lojas, cinemas, teatros e restaurantes. É importante ressaltar a importância desses empreendimentos para a cidade e é notável o desenvolvimento e a valorização existente em torno destes equipamentos urbanos, bem como ocorreu no passado com o Mercado Público” (CORDEIRO , 2015, p. 150).
  • 54. 54 Em contrapartida, os mercados públicos conseguem sobreviver em meio a estrutura precária e evasão de frequentadores. Por mais que os shoppings e hipermercados tenham domínio na comercialização e atividades nas cidades, alguns mercados públicos conseguem manter sua notoriedade e valorização como equipamento cultural e histórico. Os mercados da Encruzilhada e São José atraem diversas pessoas todos os dias, atraídos pela tradição e venda de produtos artesanais, impulsionados pelo turismo local. Além do comércio, são realizadas outras atividades como o lazer, em que existe um palco para apresentação de músicos e bandas no pátio interno do mercado da Encruzilhada. Os mercados situados em regiões periféricas da cidade não apresentam a mesma dinâmica devido à ausência de valorização histórica e cultural. São equipamentos sucateados e na maioria das vezes a estrutura não proporciona a higiene e segurança adequada. Existem poucas propostas de requalificação e incentivo a atividades culturais e de lazer em mercados públicos periféricos, tornando-os diferente dos mercados históricos situados em áreas centrais da cidade. O mercado de Areias, situado no bairro de Areias em Recife pode ser considerado como exemplo. Foi destinado para ter apenas boxes comerciais, dificultando as demais atividades relacionadas a lazer e cultura. Atualmente, sua estrutura apresenta péssimas condições e número de frequentadores vem diminuindo drasticamente por condições precárias de uso. Figura 26 - Vista do Mercado de Areias, em Recife Fonte : Hesíodo Goes/ Diário de Pernambuco
  • 55. 55 Cordeiro (2015) expõe que é muito importante entender as reinvindicações do mercado público como desejo de não consumir apenas a mercadoria, como também o espaço. Esse desejo é responsável por alavancar o desenvolvimento desses espaços multifuncionais e com diversidade de atividades e frequentadores e sua ausência é responsável pela decadência dos mercados públicos.
  • 56. 56 3. REFERÊNCIAS PROJETUAIS Para o desenvolvimento do projeto, foram selecionados quatro projetos de mercados públicos, sendo dois internacionais e dois localizados na cidade do Recife. O critério foi realizado para ter maior diversidade em edifícios comerciais e ao mesmo tempo se adequar ao contexto construtivo e arquitetônico local. 3.1 Mercado de Abastos de Curacautín Tabela 3 - Dados técnicos do Mercado de Abastos de Curacautín DADOS TÉCNICOS – MERCADO DE ABASTOS DE CURACAUTÍN País Chile Arquitetos Taller Viga Maestra Ano 2021 Área 848m² Número de pavimentos 2 Número de boxes 32 lojas e 4 cozinhas Sistema estrutural Madeira com treliças em aço O Mercado de Abastos de Curacautín está inserido na região de Araucanía, província de Malleco no Chile. O local é formado por zonas montanhosas com cachoeiras e lagos que promove o turismo como atividade de maior importância para a economia local. Curacautín dá o acesso a zona da Araucanía Andina onde se encontra o geoparque Kütralkura que faz parte da rede global de geoparques da UNESCO. Logo. O mercado de Abastos possui um contexto de polo articulador do turismo com comércio e serviços, em geral destinado ao viajante que deslumbra as paisagens Andinas do Chile. O projeto faz parte do novo contexto local em que visa a minimizar a exploração de recursos florestais e assumir um novo objetivo de valorização turística do local em que foram realizadas uma série de melhorias na infraestrutura pública e fortalecimento dos
  • 57. 57 estabelecimentos locais. O mercado está situado em conjunto com dois equipamentos urbanos : O novo terminal ferroviário, que foi reconstruída da antiga estação ferroviária de Púa e a tradicional praça da estação que funciona como ponto de encontro dos usuários e habitantes de Curacautín. Figura 27 - Área externa do Mercado de Abastos de Curacautín Fonte : Archdaily, 2021. Desta forma, o projeto tem o objetivo principal de difundir o tradicional comércio local e se tornar um ponto turístico para fortalecimento da economia local e sustentável, reforçando a presença dos elementos naturais presentes na região, como o uso da madeira e pedra. A edificação comercial possui 848m² de área construída que conta com 32 boxes comerciais, praça de alimentação com refeitórios, 4 cozinhas de culinária típica da região além dos demais ambientes destinados a serviço.
  • 58. 58 Figura 28 - Planta baixa do pavimento térreo Fonte : Archdaily, 2021. O partido foi obtido a partir de dois volumes que contém um espaço central em que são realizadas as atividades rotineiras de comércio e cultura. Também existe um volume interior destinado as cozinhas, que foram projetadas seguindo o conceito de fogão nas tradicionais tipologias das rukas (casas andinas). Figura 29 - Circulação interna do mercado de Abastos Fonte : Archdaily, 2021.
  • 59. 59 Em aspectos bioclimáticos, o mercado possui uma película climática formada por treliças de madeira que são totalmente ajustáveis, permitindo o controle da luminosidade e fluxo dos ventos. Quanto ao seu partido arquitetônico, é possível identificar o uso de materiais como a madeira e pedra vulcânica, que resgata ao contexto geográfico do local. No aspecto viário, o projeto está amplamente conectado à avenida principal da comunidade, considerada uma rota que conecta os pontos turísticos e a estação ferroviária local. Logo, o projeto é um dos formadores do nó urbano que permitem a inclusão da comunidade local aos espaços públicos, incluindo o mercado. A estrutura é constituída por madeira de pinus com principais elementos de madeira laminada. Figura 30 - Área das cozinhas do mercado Fonte : Archdaily, 2021. O projeto foi escolhido por se tratar de um mercado inserido no contexto de um ambiente natural em que o turismo é uma atividade predominante, pois o trabalho pretende desenvolver o projeto baseado nos elementos naturais do entorno. Além disso, o mercado de Abastos visa fortalecer a economia local dos habitantes por meio dos estabelecimentos comerciais, o que foi um ponto principal para a escolha do projeto. O uso dos materiais também foi bastante favorável e se relaciona harmonicamente com a paisagem natural do entorno.
  • 60. 60 Em se tratando de pontos positivos, foram encontrados o uso da madeira, pele climática, alusão a elementos naturais, fortalecimento do comércio local. Em seu interior a articulação dos pilares que se remetem a copa de árvores foi bastante proveitoso, seguido do uso da iluminação natural. Figura 31 - Volumetria dos pilares da área externa Fonte : Archdaily, 2021. Em pontos negativos, foram encontradas áreas livres estáticas e pouca possibilidade de personalização dos boxes. O uso excessivo de madeira e pedra provocou certa monotonia. O uso da chaminé apresenta pouca compatibilidade para o projeto a ser desenvolvido.
  • 61. 61 3.2 Mercado Estação Báltica Tabela 4 - Dados técnicos do Mercado Estação Báltica DADOS TÉCNICOS – MERCADO ESTAÇÃO BÁLTICA País Estônia Arquitetos KOKO Architects Ano 2017 Área 16.300m² Número de pavimentos 3 Número de boxes - Sistema estrutural Aço e alvenaria O mercado está situado na cidade de Tallinn, na Estônia. Localiza-se entre a estação ferroviária da cidade e um bairro com grande adensamento populacional. Figura 32 - Acesso principal do Mercado Estação Báltica Fonte : Archdaily, 2017.
  • 62. 62 O Mercado da Estação Báltica teve como proposta a criação de um mercado diversificado e contemporâneo, seguido da preservação da história da essência do mercado como local de natureza movimentada e caótica. Por ser um espaço próximo a uma estação ferroviária, foram adicionados artifícios para atrair os passageiros que viajam de trem, seja os residentes locais, turistas ou quaisquer pessoas que realizem a passagem pela cidade. O projeto reutilizou a estrutura de três armazéns de pedra do século XIX, composto por dois pavimentos. Foi adicionado um telhado de formato inclinado que segue a forma das edificações originais, além de um subsolo para abrigar as novas instalações comerciais. Figura 33 - Área interna do mercado Fonte : Archdaily, 2017. Três pavimentos distribuem todo o projeto dentro da composição de edificações existentes e novos espaços construídos entre eles. Uma parte da coberta foi deixada aberta para a criação de um mercado ao ar livre, bem como quiosques de madeira que comercializam produtos alimentícios de diversos segmentos, como padarias, lanchonetes, doces etc.
  • 63. 63 Figura 34 - Planta baixa do pavimento térreo Fonte Archdaily, 2017. Figura 35 - Planta baixa do pavimento superior Fonte : Archdaily, 2017.
  • 64. 64 Figura 36 - Espaço de circulação com pé direito alto Fonte : Archdaily, 2017. O pavimento térreo foi projetado com a proposta de transmitir a agitação e demais elementos de mercado tradicionais. Isso foi conseguido através da criação de diferentes formas de boxes e espaços de comércio. São encontradas seções de carne, peixe e frios, seguidos do mercado de orgânicos e um corredor de comida situado no bloco central. Portanto, o projeto teve como objetivo a combinação de diferentes funções e produtos a serem comercializados como reprodução da essência de mercado.
  • 65. 65 Figura 37 - Quiosques em madeira Fonte : Archdaily, 2017. O projeto foi escolhido por se tratar de um equipamento que potencializa a centralidade em um bairro de grande densidade populacional. O mercado Estação Báltica surgiu em uma localidade próxima a uma estação ferroviária, o que atrai um público-alvo de usuários do transporte público ao mesmo tempo em que frequentam a população do bairro local.
  • 66. 66 Figura 38 - Boxes comerciais com formato retangular Fonte : Archdaily, 2017. A dinamicidade das cobertas também foi um fator predominante para o projeto. O uso da madeira e iluminação natural compõem com a declividade das cobertas, o que proporciona um local acolhedor e ao mesmo tempo dinâmico. Os caimentos da coberta na fachada frontal são elementos de força e demarcam o acesso principal do mercado. Em se tratando de pontos positivos, foram encontradas a formação da centralidade local, o uso da madeira, dinamicidade das cobertas e iluminação natural. O pé direito alto e diversidade nos boxes e quiosques comerciais também foi bastante positivo. Em se tratando de pontos negativos, a área externa apresenta ser bastante impermeabilizada, o que deixou a desejar no paisagismo e arborização do local.
  • 67. 67 3.3 Mercado da Encruzilhada Tabela 5 - Dados técnicos do Mercado da Encruzilhada DADOS TÉCNICOS – MERCADO DA ENCRUZILHADA Cidade Recife Arquitetos Não há informações Ano 1950 Área 3.858m² Número de pavimentos 2 Número de boxes 214 Sistema estrutural Concreto armado O mercado surgiu no local onde existia a estação da Encruzilhada por onde passavam os bondes que conectavam o centro do Recife até diversos locais da cidade. Os primórdios do mercado da encruzilhada foram a concentração de feiras que existiam ao redor da estação de bondes. Era uma localidade privilegiada, pois a circulação de pessoas era intensa em vários horários do dia (GOMES, 2019). De acordo com Lins (2007), o surgimento do Mercado da Encruzilhada teve sua origem popular, ao contrário dos demais mercados do Recife.
  • 68. 68 Figura 39 - Fachada principal do Mercado da Encruzilhada Fonte : Robson Vasconcelos/ Itinari, 2019. Foi em 1924 que o Mercado da Encruzilhada teve a sua primeira instalação física quando o governador da época, Sérgio Loreto desapropriou a estação da Companhia de Trilhos Urbanos do Recife para a construção do primeiro mercado, diferente do comércio que era realizado em feiras livres nas ruas do entorno. O objetivo era instalar um mercado que tenha higiene, estética e comodidade, pois os feirantes atrapalhavam o acesso à estação dos bondes da Encruzilhada. A primeira edificação do mercado foi construída em alvenaria e abrigava 162 boxes, dos quais obedeciam as normas mais recentes de higiene e acomodação. Os materiais utilizados eram mais duráveis, como o passeio interno em paralelepípedo de granito e uso de azulejos até meia parede em boxes de frios e carnes. Duas décadas após sua construção, o mercado apresentava péssimas condições em sua estrutura e a demanda comercial cresceu no bairro, o que foi necessário propor um novo mercado que possa suprir uma melhor infraestrutura e maior número de boxes. Em 1949, o mercado foi demolido e passou a ser construído uma nova instalação em um terreno próximo ao mercado antigo. O atual Mercado da Encruzilhada foi inaugurado em 9 de dezembro de 1950, tendo como construtor o engenheiro Edgar dos Santos. O projeto arquitetônico tem estilo
  • 69. 69 dos anos 50, o que constituiu como orgulho da engenharia pernambucana da época (LINS, 2007) A nova edificação contempla 156 boxes bem arejados e com maior espaço em comparação ao mercado antigo. Foram utilizados materiais duráveis, como granito, cerâmica e azulejo revestido nas paredes para facilitar a higienização dos compartimentos. O mercado foi construído em concreto armado e foram instaladas câmeras frigoríficas para melhorar a durabilidade dos alimentos a serem comercializados. Atualmente, o Mercado da Encruzilhada possui uma área coberta de 3.858m² e formada por 214 boxes . Sua volumetria é semelhante a um avião por ser formado por dois segmentos em formato simétrico (GOMES,2019). O mercado é formado por duas alas : Sul e Norte, que possuem pátios internos. Os boxes possuem uma área que varia entre 7 a 6m² de área utilizável. Figura 40 - Planta esquemática do Mercado da Encruzilhada Fonte : Gomes (2019,p.61), modificado pelo autor
  • 70. 70 Em sua locação, o mercado se encontra centralizado no lote com formato poligonal que ocupa todo o quarteirão. Ao redor do edifício, massas vegetativas são encontradas em grande quantidade em consequência do bom planejamento paisagístico do projeto original, onde foram implantados diversos canteiros e palmeiras imperiais. Entretanto, houve uma descaracterização nesses jardins. As fachadas do mercado são compostas por cobogós compostos por um ritmo contínuo de aberturas quadradas e esquadrias basculantes que seguem uma repetição semelhante, sendo acompanhado por uma marquise que rodeia todo o edifício. As paredes externas são revestidas por alvenaria com reboco e tinta, contudo não há registros das cores originais do mercado (GOMES, 2019) A cobertura do projeto é formada por telhas francesas que são estruturadas da maneira tradicional, composta por tesouras e terças de madeira (GOMES, 2019). O madeiramento da coberta é aparente em todas as instalações do mercado, o que remete a aparência interna de um mercado tradicional, enquanto as fachadas demonstram uma edificação de alvenaria mais recente. Em alguns trechos, são encontradas telhas transparentes que permitem a iluminação natural nos corredores e nos pátios internos. O piso é composto por ladrilhos cerâmicos na cor terracota. Em se tratando de pontos positivos, foram encontradas a setorização espacial bem definida, sendo encontrados acessos de serviço em cada lado do mercado. Todo o zoneamento se organiza de acordo com a linha de eixo que corta o Mercado da Encruzilhada, definindo uma simetria. O uso dos materiais e dimensionamento apresenta ser bastante favorável e bastante atual. Em pontos negativos, foram encontradas a descaracterização do paisagismo proposto na construção original do mercado.
  • 71. 71 3.4 Mercado da Boa Vista Tabela 6 - Dados técnicos do Mercado da Boa Vista DADOS TÉCNICOS – MERCADO DA BOA VISTA Cidade Recife Arquitetos Não há informações Ano 1822 Área 3.858m² Número de pavimentos 1 Número de boxes 63 (Atual) Sistema estrutural Alvenaria O Mercado da Boa Vista está situado na Rua de Santa Cruz, tradicional localidade do bairro da Boa Vista. Foi construído na primeira metade do século XIX, em 1822. Surgiu a partir da demanda da população local que necessitava se deslocar até a Mercado da Praça da Polé, atual Praça do Diário, para compra e venda de mercadorias. Figura 41 - Fachada principal do Mercado da Boa Vista Fonte : Autor, 2021.
  • 72. 72 Em seu interior, são comercializados legumes, frutas, carnes e cereais, além de bares dispostos em um pátio interno. Parte dos boxes se abrem para o lado externo. O uso do mercado é formado em sua grande maioria por bares e restaurantes, seguido de mercearias e boxes que vendem frutas e legumes. Apresenta ser bastante democrático, reunindo diversos perfis de usuários das mais variadas faixas etárias, atraídos na maioria das vezes pelos tradicionais e movimentados bares. Figura 42 - Bicicletário e painel de informações no Mercado da Boa Vista Fonte : Autor, 2021. Quanto ao partido arquitetônico, o Mercado da Boa Vista é formado por uma edificação que mede aproximadamente 45 metros de frente X 60 metros de profundidade. Em seu centro, possui um pátio interno de forma quadrada coberto por árvores onde se encontram as mesas dos bares e restaurantes do mercado. Com seu pátio central interno, sua arquitetura remete aos claustros de conventos (LINS, 2007). A disposição dos boxes é organizada seguindo o contorno do pátio interno e no acesso para a rua, além de uma pequena circulação na área de trás do mercado, onde se concentram depósitos a instalações de serviço na área dos fundos.
  • 73. 73 Figura 43 - Pátio interno do Mercado da Boa Vista Fonte : Autor, 2021. Figura 44 - Circulação frontal no Mercado da Boa Vista Fonte : Autor, 2021.
  • 74. 74 Figura 45 - Planta esquemática do Mercado da Boa Vista Fonte : Melo (2011,p.106), modificado pelo autor A fachada principal é formada por arcos que remetem ao antigo Mercado da Ribeira, tendo o arco mais alto demarcando o acesso ao mercado. O mercado passou por uma reforma recente. Foi realizada a requalificação da pavimentação e canteiros do pátio central, além da implantação de um bicicletário e mural artístico.
  • 75. 75 Figura 46 - Madeiramento do telhado do Mercado da Boa Vista Fonte : Autor, 2021. Em se tratando de pontos positivos, se destaca a implantação do mercado em forma de pátio interno, o que permitiu a concentração de restaurantes e estabelecimentos comerciais de grande movimentação em meio a arborização no seu interior. O uso da telha aparente também foi um fator decisivo para melhor conforto térmico do local. Em pontos negativos, foram encontradas a ausência de estacionamento e sub utilização dos boxes na circulação de trás do mercado. Atualmente, boa parte desses boxes periféricos possuem a função de depósito, o que não corresponde com o uso original do mercado.
  • 76. 76 4. APRESENTAÇÃO DA ÁREA 4.1 Área de estudo A área de estudo corresponde a um lote de 4.760m² situado na Av. Dr. Cláudio Gueiros Leite e delimitado pela R. Belém de Maria e R. Arcoverde no bairro do Janga, localizado na cidade do Paulista-PE (Figura 47). Se trata de uma região litorânea adjacente a reserva florestal do Parque do Janga delimitada por 654 hectares de mata atlântica, colinas e manguezais. Possui uso predominantemente residencial com edificações comerciais ao longo da avenida principal (PE-001) e da praia. A faixa litorânea é composta por comércio formal e informal com barracas e outros vendedores itinerantes ao longo da orla. Figura 47 - Vista de situação do lote Fonte : Google Earth, 2021.
  • 77. 77 A cidade do Paulista está localizada no litoral do estado de Pernambuco e está inserida na Região Metropolitana do Recife. De acordo com os dados do IBGE, possui 300.466 habitantes, sendo colocada como a 5º cidade mais populosa da Região Metropolitana. O território ocupa uma área de 96,93km², tendo seu bioma principal a Mata Atlântica. A cidade apresenta uma economia com um PIB de R$12.731.32 e um salário mensal médio de 1,8 salários mínimos. Mapa 1 - Área de situação do estado de Pernambuco Fonte : Autor, 2021. O Janga está localizado na região de Administração Regional IV, delimitado na faixa litorânea em divisa com a cidade de Olinda. Seu acesso principal se dá pela Av. Doutor José Cláudio Gueiros Leite (PE-01) que também conecta os bairros de Pau Amarelo e Maria Farinha.
  • 78. 78 Mapa 2 - Área de situação da Região Metropolitana do Recife Fonte : Autor, 2021.
  • 79. 79 Mapa 3 - Delimitação da cidade do Paulista e demarcação do bairro do Janga Fonte : Autor, 2021. Figura 48 - Vista frontal do lote do TCC Fonte : Autor, 2021.
  • 80. 80 Figura 49 - Vista aérea do bairro do Janga Fonte : Wikipedia Figura 50 - Calçadão da Praia do Janga Fonte : Autor, 2021.
  • 81. 81 5. ANÁLISE DO TERRENO E DO ENTORNO A acessibilidade nas proximidades do lote do TCC apresenta ter estrutura favorável a partir da calçada na Av. Dr. Cláudio Gueiros Leite, porém não foram encontradas rampas e acessos nivelados de acordo com a NBR 9050. Possui fácil acesso a partir do transporte público com disponibilidade de 7 linhas de ônibus que trafegam na avenida. A parada de ônibus mais próxima se encontra aproximadamente a 150 metros de distância do lote. A calçada situada na R. Belém de Maria possui uma largura estreita e impede o pleno acesso pela microacessibilidade. A face voltada para a beira mar apresenta ter passeio de pedestres e acesso de automóveis, entretanto não há a completa infraestrutura do calçadão em frente ao lote, sendo encontrada a faixa de areia logo em seguida. O passeio público se inicia logo após a quadra do projeto. Figura 51 - Vista da Av. Dr. José Cláudio Gueiros Leite, lote do TCC ao lado
  • 82. 82 Fonte : Autor, 2021. Figura 52 - Vista lateral do lote do TCC (R. de Belém Maria) Fonte : Autor, 2021. Figura 53 - Vista frontal do lote (Beira mar) Fonte : Autor, 2021.
  • 83. 83 O calçadão da beira mar do Janga possui uma extensão de aproximadamente 2,1km, tendo seu início próximo ao lote do projeto. O passeio público abrange diversas atividades, como convivência, prática de esportes, manifestações culturais e comércio, em principal pela forma itinerante. Desta forma, o calçadão pode ser considerado o principal equipamento urbano do bairro, visto que não são encontradas praças e outros espaços públicos de grande uso pela população. Figura 54 - Uso do calçadão pela população Fonte : Autor, 2021. As atividades comerciais apresentam ser bastante diversificadas, sendo possível encontrar bares, restaurantes, comércio ambulante e feiras que são realizadas em determinados dias da semana, sendo comercializados desde produtos alimentícios ao artesanato local. Portanto, o bairro apresenta uma demanda por um equipamento comercial público que possa reunir estabelecimentos comerciais fixos e itinerários e ao mesmo tempo proporcionar uma integração com a praia do Janga.
  • 84. 84 Figura 55 - Presença do comércio ambulante no calçadão do Janga Fonte : Autor, 2021. Figura 56 - Feira de artesanato no calçadão do Janga Fonte : Autor, 2021.
  • 85. 85 Figura 57 - Bar na faixa do calçadão Fonte : Autor, 2021. Entretanto, foram encontradas algumas fraquezas no calçadão. O mobiliário urbano, composto por bancos e equipamentos de musculação de concreto apresentam ter baixa qualidade, sendo possível encontrar o mobiliário danificado com frequência. Também foi encontrada a degradação do passeio público em decorrência do avanço do mar, além de peças soltas do piso intertravado.
  • 86. 86 Figura 58 - Degradação do mobiliário urbano no calçadão Fonte : Autor, 2021. Figura 59 - Degradação do passeio público no calçadão Fonte : Autor, 2021.
  • 87. 87 5.2 Mapa de Nolli (Cheios e vazios) Mapa 4 - Cheios e vazios
  • 88. 88 Fonte : Autor, 2021. O bairro apresenta alta densidade de edificações distribuídas de forma bastante uniforme. A região de menor densidade só é encontrada na área próxima a comunidade Jardim Justiça e Paz. O Janga apresenta domínio da especulação imobiliária, motivada pelo baixo custo de lotes e alta disponibilidade de terrenos vagos, conforme mostra a figura 60. Áreas de menor densidade são encontradas em loteamentos mais distantes da avenida principal, entretanto vêm sendo cada vez mais ocupados por privês, edificações multifamiliares de baixo custo que permitem até 10 unidades residenciais em um lote de tamanho médio. Figura 60 - Vista superior do bairro. Grandes condomínios residenciais ao fundo Fonte : Autor, 2021.
  • 89. 89 5.3 Mapa de uso Mapa 5 - Usos Fonte : Autor