1. FLUXOS, FRONTEIRAS, HÍBRIDOS:
PALAVRAS – CHAVE DA
ANTROPOLOGIA TRANSNACIONAL
Ulf Hannerz
Universidade Federal do Espírito Santo
Evelyn Pinheiro
Márcia Gonçalves
Tânia dos Santos
2. FONTE: en.wikipedia.org/wiki/Ulf_Hannerz
Bibliografia
Ulf Hannerz, (nascido em 09 de junho de 1942 em Malmo,
Suécia), é professor emérito de antropologia social na
Universidade de Estocolmo. Sua pesquisa inclui as sociedades
urbanas, culturas da mídia local, processos culturais
transnacionais e globalização. Suas obras Soulside e explorar a
cidade são livros clássicos na área de antropologia urbana.
Hannerz é o autor de "cosmopolitas e Locals na cultura mundial" (1990). Sua teoria explora
essencialmente cosmopolitismo a partir da análise de expatriados.
Em 2000, Hannerz proferiu palestras sobre Lewis Henry Morgan na Universidade de Rochester
considerado por muitos como a mais importante série de conferências anuais na área de
Antropologia. Em 2005, ele recebeu um doutorado honorário da Faculdade de Ciências Sociais,
Universidade de Oslo.
3. Fluxo, como várias outras palavras-chave examinadas no artigo
aponta para uma macroantropologia um ponto de vista bastante
abrangente da coerência (relativa) e da dinâmica de identidades
sociais e territoriais maiores do que aquelas convencionalmente
abordadas pela disciplina.
4. Ao examinar palavras-chave para uma antropologia transnacional,
Hannerz aponta a noção de fluxo, em sua dimensão temporal, como
valiosa para uma compreensão da cultura como processo. Destaca a
multicentralidade, os fluxos entrecruzados e os contrafluxos uma nova
organização global da “cultura em movimento” (Hannerz,1997).O termo
fluxo visto como metáfora geradora que suscita múltiplos
desdobramentos.
5. Segundo Kroeber, a noção de fluxo pode ser usada de duas
maneiras .
Primeira - se relaciona com o uso corrente, referindo-se ao
deslocamento de uma coisa no tempo, de um lugar para o outro,
uma redistribuição territorial.
Segunda - é essencialmente temporal, sem implicações
espaciais necessárias.
6. O autor observa que se “fluxo” sugere continuidade e passagem, “limites”
tem relação com descontinuidades e obstáculos, com a demarcação das
identidades sociais. Entretanto, concorda com Barth na formulação do
pluralismo cultural em termos de correntes simultâneas e não de
etnicidade e com sua concepção de limites como “algo através do que se
dão contatos e interações”. [...] deveria examinar as civilizações não como
objetos estáticos , mas como processos limitados de fluxo no tempo.
(KROEBER, 1952)
7. Concebendo “fluxos culturais através das distâncias” cada vez mais
numerosos, em que a cultura se move por correntes mais específicas do
fluxo migratório, fluxo de mercadorias e fluxo da mídia, ou de suas
combinações, Hannerz observa que ela (a cultura) introduz uma categoria
de modalidades perceptivas e comunicativas que diferem na maneira de
fixar seus próprios limites, em uma distribuição descontínua entre pessoas
e pelas relações.
9. Limites (margens, fronteiras, praias)
Para o autor “fluxo” sugere uma espécie de continuidade e
passagem, contrário a “limites” que têm a ver com
descontinuidades e obstáculos.
Barth mantém uma distinção entra social e cultural. Para ele
pertencer a um grupo étnico poderia significar uma coisa ou
outra, estar dentro ou fora, porém ressalta que a distribuição de
culturas entre pessoas não corresponde a uma linha exata e
coerente.
10. O social e o cultural
Através dos estudos de Barth na década de 60 foi possível uma
compreensão dos limites como algo através das relações havendo
contatos e interações entre si.
A popularização da cultura como amplos círculos traz consigo o
entendimento da mesma como de um marcador de grupos.
O autor aponta que em alguns momentos pode ser atribuído a
cultura um fator excludente criando grupos de maiorias e
minorias, sendo preciso ficar atento com as associações e ligações
do cultural ao social.
11. Descontinuidade de transmissão do
significado
Jorge Amado: Pedro Arcanjo e Kirki gesticulando e tentando
adivinhar o que cada um dizia em sua própria língua. O autor
utiliza esse exemplo para mostrar quem em algumas situações os
limites são visíveis, porém isso não ocorre em todas elas.
Em 1954 os teóricos da aculturação não aceitavam outra
formulação se não a cultura como um conceito altamente
inclusivo, como a sociedade, e alegavam que de outro modo o
analista teria que avaliar cada cultura e sua singularidade indo da
família até seus participantes como indivíduos.
12. Contato Cultural
Para Bateson, com uma posição mais flexível, retoma a ideia de
“contato social” como algo mais flexível. Uma maneira mais
fecunda das relações: velhos e jovens, aristocratas e plebe, e
utiliza também do exemplo de uma criança que nasce e é
educada e criada para adaptar-se a cultura em que nasceu.
Bateson é contraditório ao usar menores dimensões no quesito
social, porém quanto a cultura ele posiciona-se juntamente com
os discípulos de Malinowsky, sendo contra a fragmentação.
13. “À medida que a cultura se move por entre correntes mais
específicas, como fluxo migratório, o fluxo de mercadorias, e o
fluxo da mídia e combinações entre estes introduz toda uma gama
de modalidades perceptivas e comunicativas que provavelmente
diferem muito na maneira de fixar seus próprios limites; ou seja,
em suas distribuições descontínuas entre pessoas e pelas relações.
Em parte, elas impõem línguas estrangeiras ou algo parecido, no
sentido de que a mera exposição não é o mesmo que compreender
valorizar ou qualquer outro tipo de apropriação.” Pg. 18
14. Fronteira
Para Turner, a definição de fronteira se dá em uma linha
fortificada cortando populações densas.
Na América Latina, Austrália, África do Sul e outros países, a
fronteira servia para separar o que tinha importância e o que não
tinha, este chamado de “terra selvagem” e se lá houvessem índios
esses também seriam chamados de “selvagens”.
Quando abordado o termo “fronteira do conhecimento” é
também, segundo o autor a proximidade com a “terra selvagem”
que toma conta da nossa imaginação. Pg. 21
15. Ilhas
O autor utiliza o estudo de Dening (1980) sobre sua formulação
da ideia de “ilhas” culturais e das praias que se formam ao seu
redor através das definições de “nós” e “eles”, porém ao compará-
los com as fronteiras, Dening admite uma diferença ao cruzá-
los, onde ao cruzar as fronteiras se chegava a uma “terra
selvagem”, e ao atravessar as ilhas e praias se chega a “outros
mundos bem estabelecidos e autossuficientes”. Pg. 23
16. Conceito: “homem marginal”.
Livro The Souls of Black Folk, do escritor afro-americano W. E. B.
DuBois (1961[1903]:16-17). O tom dominante tende ao trágico. Um
pouco desse tom perdurou como tema durante pelo menos a
primeira metade deste século em muitas análises da sociedade e da
cultura.
Híbridos e outras palavras que expressam
mistura
17. O criador do conceito, Robert E. Park (1964[1928]:356), figura
ancestral da sociologia de Chicago, mais interessado do que a maior
parte dos acadêmicos de seu tempo no que hoje se denomina de
sociologia da globalização, escreveu, vinte anos depois de DuBois, que
“é na mente do homem marginal que a confusão moral ocasionada
pelos novos contatos culturais se manifesta sob formas mais patentes”.
Pg. 24
18. Margens – combina com o vocabulário dos limites, fronteiras e
interstícios. Pg. 25
Comparando com Salman Rushdie (1991:394) - Houve uma mudança
de ethos, do silencioso sofrimento ou da com- paixão para a afirmação
confiante e, até mesmo, a celebração. Impureza e mistura oferecem
agora não só uma saída para a “duplicidade” de que fala DuBois, uma
possibilidade de reconciliação, mas é uma fonte — talvez a mais
importante — de uma desejável renovação cultural.
pg. 25
19. Hibridez, colagem, mélange, miscelânea, montagem, sinergia,
bricolagem, criolização, mestiçagem, miscigenação, sincretismo,
transculturação, terceiras culturas, e outros termos; uns são
usados só de passagem, como metáforas sintéticas, outros
reclamam um status analítico maior, outros, ainda, têm uma
importância apenas regional ou temática. pg. 26
Hibridez parece ser atualmente o termo genérico preferido,
talvez por derivar sua força, como “fluxo”, de uma fácil
mobilidade entre disciplinas (mas muitos dos outros termos
também têm a mesma flexibilidade). Pg. 26
20. Criolização
O autor destaca esse conceito a partir das origens da noção de
“crioulo” que qualifica pessoas e fenômenos culturais no contexto
histórico-cultural das sociedades de plantation do Novo Mundo. Ele
afirma que pode discutir esse conceito tanto quanto todos os
demais. pg. 27
“Apesar de origens e ênfases um pouco diferentes, não importa muito
qual desses conceitos se escolhe, mas aquele que mais me chamou a
atenção, especialmente por minha experiência de campo na Nigéria,
foi o de “criolização” (Hannerz 1987; 1996:65 e ss.).”pg.27
21. A identificação de culturas crioulas chama a atenção para o fato
de que algumas culturas não são visivelmente tão “limitadas”,
“puras”, “homogêneas” e “atemporais” quanto a tradição
antropológica muitas vezes as retrata; e na medida em que
também nesse caso há uma postura de exaltação da hibridez,
pode-se pensar que uma parte da vitalidade e criatividade dessas
culturas tem origem exatamente na dinâmica da mistura (se bem
que a exaltação possa ser moderada pelo reconhecimento de que
as culturas também são construídas em torno de estruturas de
desigualdade). Pg. 28
22. Conclusão: “os mundos e o mundo”
O autor conclui trazendo a importância da dimensão reflexiva que
a relação, ao mesmo tempo problemática e enriquecedora, entre
conceitos acadêmicos e nativos vem imprimindo à antropologia,
particularmente através dos estudos sobre a globalização e mostra
que as interconexões culturais nunca estiveram ausentes das
preocupações da antropologia, ainda que tratadas sob os mais
diversos modelos conceituais e este é um campo vasto, como bem
conclui: “[...]há mais trabalho por fazer.” Pg. 30.