SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 22
FLUXOS, FRONTEIRAS, HÍBRIDOS:
PALAVRAS – CHAVE DA
ANTROPOLOGIA TRANSNACIONAL
Ulf Hannerz
Universidade Federal do Espírito Santo
Evelyn Pinheiro
Márcia Gonçalves
Tânia dos Santos
FONTE: en.wikipedia.org/wiki/Ulf_Hannerz
Bibliografia
Ulf Hannerz, (nascido em 09 de junho de 1942 em Malmo,
Suécia), é professor emérito de antropologia social na
Universidade de Estocolmo. Sua pesquisa inclui as sociedades
urbanas, culturas da mídia local, processos culturais
transnacionais e globalização. Suas obras Soulside e explorar a
cidade são livros clássicos na área de antropologia urbana.
Hannerz é o autor de "cosmopolitas e Locals na cultura mundial" (1990). Sua teoria explora
essencialmente cosmopolitismo a partir da análise de expatriados.
Em 2000, Hannerz proferiu palestras sobre Lewis Henry Morgan na Universidade de Rochester
considerado por muitos como a mais importante série de conferências anuais na área de
Antropologia. Em 2005, ele recebeu um doutorado honorário da Faculdade de Ciências Sociais,
Universidade de Oslo.
Fluxo, como várias outras palavras-chave examinadas no artigo
aponta para uma macroantropologia um ponto de vista bastante
abrangente da coerência (relativa) e da dinâmica de identidades
sociais e territoriais maiores do que aquelas convencionalmente
abordadas pela disciplina.
Ao examinar palavras-chave para uma antropologia transnacional,
Hannerz aponta a noção de fluxo, em sua dimensão temporal, como
valiosa para uma compreensão da cultura como processo. Destaca a
multicentralidade, os fluxos entrecruzados e os contrafluxos uma nova
organização global da “cultura em movimento” (Hannerz,1997).O termo
fluxo visto como metáfora geradora que suscita múltiplos
desdobramentos.
Segundo Kroeber, a noção de fluxo pode ser usada de duas
maneiras .
 Primeira - se relaciona com o uso corrente, referindo-se ao
deslocamento de uma coisa no tempo, de um lugar para o outro,
uma redistribuição territorial.
 Segunda - é essencialmente temporal, sem implicações
espaciais necessárias.
O autor observa que se “fluxo” sugere continuidade e passagem, “limites”
tem relação com descontinuidades e obstáculos, com a demarcação das
identidades sociais. Entretanto, concorda com Barth na formulação do
pluralismo cultural em termos de correntes simultâneas e não de
etnicidade e com sua concepção de limites como “algo através do que se
dão contatos e interações”. [...] deveria examinar as civilizações não como
objetos estáticos , mas como processos limitados de fluxo no tempo.
(KROEBER, 1952)
Concebendo “fluxos culturais através das distâncias” cada vez mais
numerosos, em que a cultura se move por correntes mais específicas do
fluxo migratório, fluxo de mercadorias e fluxo da mídia, ou de suas
combinações, Hannerz observa que ela (a cultura) introduz uma categoria
de modalidades perceptivas e comunicativas que diferem na maneira de
fixar seus próprios limites, em uma distribuição descontínua entre pessoas
e pelas relações.
Fluxo de Culturas
Limites (margens, fronteiras, praias)
 Para o autor “fluxo” sugere uma espécie de continuidade e
passagem, contrário a “limites” que têm a ver com
descontinuidades e obstáculos.
 Barth mantém uma distinção entra social e cultural. Para ele
pertencer a um grupo étnico poderia significar uma coisa ou
outra, estar dentro ou fora, porém ressalta que a distribuição de
culturas entre pessoas não corresponde a uma linha exata e
coerente.
O social e o cultural
 Através dos estudos de Barth na década de 60 foi possível uma
compreensão dos limites como algo através das relações havendo
contatos e interações entre si.
 A popularização da cultura como amplos círculos traz consigo o
entendimento da mesma como de um marcador de grupos.
 O autor aponta que em alguns momentos pode ser atribuído a
cultura um fator excludente criando grupos de maiorias e
minorias, sendo preciso ficar atento com as associações e ligações
do cultural ao social.
Descontinuidade de transmissão do
significado
 Jorge Amado: Pedro Arcanjo e Kirki gesticulando e tentando
adivinhar o que cada um dizia em sua própria língua. O autor
utiliza esse exemplo para mostrar quem em algumas situações os
limites são visíveis, porém isso não ocorre em todas elas.
 Em 1954 os teóricos da aculturação não aceitavam outra
formulação se não a cultura como um conceito altamente
inclusivo, como a sociedade, e alegavam que de outro modo o
analista teria que avaliar cada cultura e sua singularidade indo da
família até seus participantes como indivíduos.
Contato Cultural
 Para Bateson, com uma posição mais flexível, retoma a ideia de
“contato social” como algo mais flexível. Uma maneira mais
fecunda das relações: velhos e jovens, aristocratas e plebe, e
utiliza também do exemplo de uma criança que nasce e é
educada e criada para adaptar-se a cultura em que nasceu.
 Bateson é contraditório ao usar menores dimensões no quesito
social, porém quanto a cultura ele posiciona-se juntamente com
os discípulos de Malinowsky, sendo contra a fragmentação.
“À medida que a cultura se move por entre correntes mais
específicas, como fluxo migratório, o fluxo de mercadorias, e o
fluxo da mídia e combinações entre estes introduz toda uma gama
de modalidades perceptivas e comunicativas que provavelmente
diferem muito na maneira de fixar seus próprios limites; ou seja,
em suas distribuições descontínuas entre pessoas e pelas relações.
Em parte, elas impõem línguas estrangeiras ou algo parecido, no
sentido de que a mera exposição não é o mesmo que compreender
valorizar ou qualquer outro tipo de apropriação.” Pg. 18
Fronteira
 Para Turner, a definição de fronteira se dá em uma linha
fortificada cortando populações densas.
 Na América Latina, Austrália, África do Sul e outros países, a
fronteira servia para separar o que tinha importância e o que não
tinha, este chamado de “terra selvagem” e se lá houvessem índios
esses também seriam chamados de “selvagens”.
 Quando abordado o termo “fronteira do conhecimento” é
também, segundo o autor a proximidade com a “terra selvagem”
que toma conta da nossa imaginação. Pg. 21
Ilhas
O autor utiliza o estudo de Dening (1980) sobre sua formulação
da ideia de “ilhas” culturais e das praias que se formam ao seu
redor através das definições de “nós” e “eles”, porém ao compará-
los com as fronteiras, Dening admite uma diferença ao cruzá-
los, onde ao cruzar as fronteiras se chegava a uma “terra
selvagem”, e ao atravessar as ilhas e praias se chega a “outros
mundos bem estabelecidos e autossuficientes”. Pg. 23
Conceito: “homem marginal”.
Livro The Souls of Black Folk, do escritor afro-americano W. E. B.
DuBois (1961[1903]:16-17). O tom dominante tende ao trágico. Um
pouco desse tom perdurou como tema durante pelo menos a
primeira metade deste século em muitas análises da sociedade e da
cultura.
Híbridos e outras palavras que expressam
mistura
O criador do conceito, Robert E. Park (1964[1928]:356), figura
ancestral da sociologia de Chicago, mais interessado do que a maior
parte dos acadêmicos de seu tempo no que hoje se denomina de
sociologia da globalização, escreveu, vinte anos depois de DuBois, que
“é na mente do homem marginal que a confusão moral ocasionada
pelos novos contatos culturais se manifesta sob formas mais patentes”.
Pg. 24
 Margens – combina com o vocabulário dos limites, fronteiras e
interstícios. Pg. 25
Comparando com Salman Rushdie (1991:394) - Houve uma mudança
de ethos, do silencioso sofrimento ou da com- paixão para a afirmação
confiante e, até mesmo, a celebração. Impureza e mistura oferecem
agora não só uma saída para a “duplicidade” de que fala DuBois, uma
possibilidade de reconciliação, mas é uma fonte — talvez a mais
importante — de uma desejável renovação cultural.
pg. 25
 Hibridez, colagem, mélange, miscelânea, montagem, sinergia,
bricolagem, criolização, mestiçagem, miscigenação, sincretismo,
transculturação, terceiras culturas, e outros termos; uns são
usados só de passagem, como metáforas sintéticas, outros
reclamam um status analítico maior, outros, ainda, têm uma
importância apenas regional ou temática. pg. 26
 Hibridez parece ser atualmente o termo genérico preferido,
talvez por derivar sua força, como “fluxo”, de uma fácil
mobilidade entre disciplinas (mas muitos dos outros termos
também têm a mesma flexibilidade). Pg. 26
Criolização
 O autor destaca esse conceito a partir das origens da noção de
“crioulo” que qualifica pessoas e fenômenos culturais no contexto
histórico-cultural das sociedades de plantation do Novo Mundo. Ele
afirma que pode discutir esse conceito tanto quanto todos os
demais. pg. 27
“Apesar de origens e ênfases um pouco diferentes, não importa muito
qual desses conceitos se escolhe, mas aquele que mais me chamou a
atenção, especialmente por minha experiência de campo na Nigéria,
foi o de “criolização” (Hannerz 1987; 1996:65 e ss.).”pg.27
 A identificação de culturas crioulas chama a atenção para o fato
de que algumas culturas não são visivelmente tão “limitadas”,
“puras”, “homogêneas” e “atemporais” quanto a tradição
antropológica muitas vezes as retrata; e na medida em que
também nesse caso há uma postura de exaltação da hibridez,
pode-se pensar que uma parte da vitalidade e criatividade dessas
culturas tem origem exatamente na dinâmica da mistura (se bem
que a exaltação possa ser moderada pelo reconhecimento de que
as culturas também são construídas em torno de estruturas de
desigualdade). Pg. 28
Conclusão: “os mundos e o mundo”
O autor conclui trazendo a importância da dimensão reflexiva que
a relação, ao mesmo tempo problemática e enriquecedora, entre
conceitos acadêmicos e nativos vem imprimindo à antropologia,
particularmente através dos estudos sobre a globalização e mostra
que as interconexões culturais nunca estiveram ausentes das
preocupações da antropologia, ainda que tratadas sob os mais
diversos modelos conceituais e este é um campo vasto, como bem
conclui: “[...]há mais trabalho por fazer.” Pg. 30.

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a Fluxos Culturais e Limites Híbridos

Surdez Um Território De Fronteiras
Surdez Um Território De FronteirasSurdez Um Território De Fronteiras
Surdez Um Território De Fronteirasasustecnologia
 
ATIVIDADE - CONCEITO DE CULTURA COM JOGO DA CRUZADINHA
ATIVIDADE - CONCEITO DE CULTURA COM JOGO DA CRUZADINHAATIVIDADE - CONCEITO DE CULTURA COM JOGO DA CRUZADINHA
ATIVIDADE - CONCEITO DE CULTURA COM JOGO DA CRUZADINHAProf. Noe Assunção
 
Pós-modernismo e a arte de definir a contemporaneidade
Pós-modernismo e a arte de definir a contemporaneidadePós-modernismo e a arte de definir a contemporaneidade
Pós-modernismo e a arte de definir a contemporaneidadeAmanda Guerra
 
Cultura popular uma reflexão necessária
Cultura popular uma reflexão necessáriaCultura popular uma reflexão necessária
Cultura popular uma reflexão necessáriaHENRIQUE GOMES DE LIMA
 
Literatura Popular Regional - Alessandra Favero
Literatura Popular Regional  - Alessandra FaveroLiteratura Popular Regional  - Alessandra Favero
Literatura Popular Regional - Alessandra FaveroLisvaldo Azevedo
 
Multiculturalismo (1)
Multiculturalismo (1)Multiculturalismo (1)
Multiculturalismo (1)Luiz Dias
 
O Espetaculo das Racas - Cienti - Lilia Moritz Schwarcz capítulo 2.pdf
O Espetaculo das Racas - Cienti - Lilia Moritz Schwarcz capítulo 2.pdfO Espetaculo das Racas - Cienti - Lilia Moritz Schwarcz capítulo 2.pdf
O Espetaculo das Racas - Cienti - Lilia Moritz Schwarcz capítulo 2.pdfQueleLiberato
 
Reflexões sobre a resistência indígena
Reflexões sobre a resistência indígenaReflexões sobre a resistência indígena
Reflexões sobre a resistência indígenaDaniel Silva
 
Breve trajetória da antropologia &
Breve trajetória  da antropologia                 &Breve trajetória  da antropologia                 &
Breve trajetória da antropologia &Marcello Lemanski
 

Semelhante a Fluxos Culturais e Limites Híbridos (20)

Surdez Um Território De Fronteiras
Surdez Um Território De FronteirasSurdez Um Território De Fronteiras
Surdez Um Território De Fronteiras
 
ATIVIDADE - CONCEITO DE CULTURA COM JOGO DA CRUZADINHA
ATIVIDADE - CONCEITO DE CULTURA COM JOGO DA CRUZADINHAATIVIDADE - CONCEITO DE CULTURA COM JOGO DA CRUZADINHA
ATIVIDADE - CONCEITO DE CULTURA COM JOGO DA CRUZADINHA
 
Pós-modernismo e a arte de definir a contemporaneidade
Pós-modernismo e a arte de definir a contemporaneidadePós-modernismo e a arte de definir a contemporaneidade
Pós-modernismo e a arte de definir a contemporaneidade
 
Cultura popular uma reflexão necessária
Cultura popular uma reflexão necessáriaCultura popular uma reflexão necessária
Cultura popular uma reflexão necessária
 
Nova história cultural
Nova história culturalNova história cultural
Nova história cultural
 
Literatura Popular Regional - Alessandra Favero
Literatura Popular Regional  - Alessandra FaveroLiteratura Popular Regional  - Alessandra Favero
Literatura Popular Regional - Alessandra Favero
 
8444 29800-1-sm (1)
8444 29800-1-sm (1)8444 29800-1-sm (1)
8444 29800-1-sm (1)
 
Multiculturalismo (1)
Multiculturalismo (1)Multiculturalismo (1)
Multiculturalismo (1)
 
Circularidade Cultural
Circularidade CulturalCircularidade Cultural
Circularidade Cultural
 
Terry eagleton cultura
Terry eagleton   culturaTerry eagleton   cultura
Terry eagleton cultura
 
O Espetaculo das Racas - Cienti - Lilia Moritz Schwarcz capítulo 2.pdf
O Espetaculo das Racas - Cienti - Lilia Moritz Schwarcz capítulo 2.pdfO Espetaculo das Racas - Cienti - Lilia Moritz Schwarcz capítulo 2.pdf
O Espetaculo das Racas - Cienti - Lilia Moritz Schwarcz capítulo 2.pdf
 
Concepções de Cultura
Concepções de CulturaConcepções de Cultura
Concepções de Cultura
 
Aula diversidade diferença identidade
Aula diversidade diferença identidadeAula diversidade diferença identidade
Aula diversidade diferença identidade
 
Eti cid sus_09_pdf
Eti cid sus_09_pdfEti cid sus_09_pdf
Eti cid sus_09_pdf
 
CULTURA, DOMINAÇÃO E IDEOLOGIA
CULTURA, DOMINAÇÃO E IDEOLOGIACULTURA, DOMINAÇÃO E IDEOLOGIA
CULTURA, DOMINAÇÃO E IDEOLOGIA
 
Reflexões sobre a resistência indígena
Reflexões sobre a resistência indígenaReflexões sobre a resistência indígena
Reflexões sobre a resistência indígena
 
987 10794-1-pb historia social
987 10794-1-pb historia social987 10794-1-pb historia social
987 10794-1-pb historia social
 
Indio nat
Indio natIndio nat
Indio nat
 
Breve trajetória da antropologia &
Breve trajetória  da antropologia                 &Breve trajetória  da antropologia                 &
Breve trajetória da antropologia &
 
Capítulo 2 - Padrões, Normas e Culturas
Capítulo 2 - Padrões, Normas e CulturasCapítulo 2 - Padrões, Normas e Culturas
Capítulo 2 - Padrões, Normas e Culturas
 

Fluxos Culturais e Limites Híbridos

  • 1. FLUXOS, FRONTEIRAS, HÍBRIDOS: PALAVRAS – CHAVE DA ANTROPOLOGIA TRANSNACIONAL Ulf Hannerz Universidade Federal do Espírito Santo Evelyn Pinheiro Márcia Gonçalves Tânia dos Santos
  • 2. FONTE: en.wikipedia.org/wiki/Ulf_Hannerz Bibliografia Ulf Hannerz, (nascido em 09 de junho de 1942 em Malmo, Suécia), é professor emérito de antropologia social na Universidade de Estocolmo. Sua pesquisa inclui as sociedades urbanas, culturas da mídia local, processos culturais transnacionais e globalização. Suas obras Soulside e explorar a cidade são livros clássicos na área de antropologia urbana. Hannerz é o autor de "cosmopolitas e Locals na cultura mundial" (1990). Sua teoria explora essencialmente cosmopolitismo a partir da análise de expatriados. Em 2000, Hannerz proferiu palestras sobre Lewis Henry Morgan na Universidade de Rochester considerado por muitos como a mais importante série de conferências anuais na área de Antropologia. Em 2005, ele recebeu um doutorado honorário da Faculdade de Ciências Sociais, Universidade de Oslo.
  • 3. Fluxo, como várias outras palavras-chave examinadas no artigo aponta para uma macroantropologia um ponto de vista bastante abrangente da coerência (relativa) e da dinâmica de identidades sociais e territoriais maiores do que aquelas convencionalmente abordadas pela disciplina.
  • 4. Ao examinar palavras-chave para uma antropologia transnacional, Hannerz aponta a noção de fluxo, em sua dimensão temporal, como valiosa para uma compreensão da cultura como processo. Destaca a multicentralidade, os fluxos entrecruzados e os contrafluxos uma nova organização global da “cultura em movimento” (Hannerz,1997).O termo fluxo visto como metáfora geradora que suscita múltiplos desdobramentos.
  • 5. Segundo Kroeber, a noção de fluxo pode ser usada de duas maneiras .  Primeira - se relaciona com o uso corrente, referindo-se ao deslocamento de uma coisa no tempo, de um lugar para o outro, uma redistribuição territorial.  Segunda - é essencialmente temporal, sem implicações espaciais necessárias.
  • 6. O autor observa que se “fluxo” sugere continuidade e passagem, “limites” tem relação com descontinuidades e obstáculos, com a demarcação das identidades sociais. Entretanto, concorda com Barth na formulação do pluralismo cultural em termos de correntes simultâneas e não de etnicidade e com sua concepção de limites como “algo através do que se dão contatos e interações”. [...] deveria examinar as civilizações não como objetos estáticos , mas como processos limitados de fluxo no tempo. (KROEBER, 1952)
  • 7. Concebendo “fluxos culturais através das distâncias” cada vez mais numerosos, em que a cultura se move por correntes mais específicas do fluxo migratório, fluxo de mercadorias e fluxo da mídia, ou de suas combinações, Hannerz observa que ela (a cultura) introduz uma categoria de modalidades perceptivas e comunicativas que diferem na maneira de fixar seus próprios limites, em uma distribuição descontínua entre pessoas e pelas relações.
  • 9. Limites (margens, fronteiras, praias)  Para o autor “fluxo” sugere uma espécie de continuidade e passagem, contrário a “limites” que têm a ver com descontinuidades e obstáculos.  Barth mantém uma distinção entra social e cultural. Para ele pertencer a um grupo étnico poderia significar uma coisa ou outra, estar dentro ou fora, porém ressalta que a distribuição de culturas entre pessoas não corresponde a uma linha exata e coerente.
  • 10. O social e o cultural  Através dos estudos de Barth na década de 60 foi possível uma compreensão dos limites como algo através das relações havendo contatos e interações entre si.  A popularização da cultura como amplos círculos traz consigo o entendimento da mesma como de um marcador de grupos.  O autor aponta que em alguns momentos pode ser atribuído a cultura um fator excludente criando grupos de maiorias e minorias, sendo preciso ficar atento com as associações e ligações do cultural ao social.
  • 11. Descontinuidade de transmissão do significado  Jorge Amado: Pedro Arcanjo e Kirki gesticulando e tentando adivinhar o que cada um dizia em sua própria língua. O autor utiliza esse exemplo para mostrar quem em algumas situações os limites são visíveis, porém isso não ocorre em todas elas.  Em 1954 os teóricos da aculturação não aceitavam outra formulação se não a cultura como um conceito altamente inclusivo, como a sociedade, e alegavam que de outro modo o analista teria que avaliar cada cultura e sua singularidade indo da família até seus participantes como indivíduos.
  • 12. Contato Cultural  Para Bateson, com uma posição mais flexível, retoma a ideia de “contato social” como algo mais flexível. Uma maneira mais fecunda das relações: velhos e jovens, aristocratas e plebe, e utiliza também do exemplo de uma criança que nasce e é educada e criada para adaptar-se a cultura em que nasceu.  Bateson é contraditório ao usar menores dimensões no quesito social, porém quanto a cultura ele posiciona-se juntamente com os discípulos de Malinowsky, sendo contra a fragmentação.
  • 13. “À medida que a cultura se move por entre correntes mais específicas, como fluxo migratório, o fluxo de mercadorias, e o fluxo da mídia e combinações entre estes introduz toda uma gama de modalidades perceptivas e comunicativas que provavelmente diferem muito na maneira de fixar seus próprios limites; ou seja, em suas distribuições descontínuas entre pessoas e pelas relações. Em parte, elas impõem línguas estrangeiras ou algo parecido, no sentido de que a mera exposição não é o mesmo que compreender valorizar ou qualquer outro tipo de apropriação.” Pg. 18
  • 14. Fronteira  Para Turner, a definição de fronteira se dá em uma linha fortificada cortando populações densas.  Na América Latina, Austrália, África do Sul e outros países, a fronteira servia para separar o que tinha importância e o que não tinha, este chamado de “terra selvagem” e se lá houvessem índios esses também seriam chamados de “selvagens”.  Quando abordado o termo “fronteira do conhecimento” é também, segundo o autor a proximidade com a “terra selvagem” que toma conta da nossa imaginação. Pg. 21
  • 15. Ilhas O autor utiliza o estudo de Dening (1980) sobre sua formulação da ideia de “ilhas” culturais e das praias que se formam ao seu redor através das definições de “nós” e “eles”, porém ao compará- los com as fronteiras, Dening admite uma diferença ao cruzá- los, onde ao cruzar as fronteiras se chegava a uma “terra selvagem”, e ao atravessar as ilhas e praias se chega a “outros mundos bem estabelecidos e autossuficientes”. Pg. 23
  • 16. Conceito: “homem marginal”. Livro The Souls of Black Folk, do escritor afro-americano W. E. B. DuBois (1961[1903]:16-17). O tom dominante tende ao trágico. Um pouco desse tom perdurou como tema durante pelo menos a primeira metade deste século em muitas análises da sociedade e da cultura. Híbridos e outras palavras que expressam mistura
  • 17. O criador do conceito, Robert E. Park (1964[1928]:356), figura ancestral da sociologia de Chicago, mais interessado do que a maior parte dos acadêmicos de seu tempo no que hoje se denomina de sociologia da globalização, escreveu, vinte anos depois de DuBois, que “é na mente do homem marginal que a confusão moral ocasionada pelos novos contatos culturais se manifesta sob formas mais patentes”. Pg. 24
  • 18.  Margens – combina com o vocabulário dos limites, fronteiras e interstícios. Pg. 25 Comparando com Salman Rushdie (1991:394) - Houve uma mudança de ethos, do silencioso sofrimento ou da com- paixão para a afirmação confiante e, até mesmo, a celebração. Impureza e mistura oferecem agora não só uma saída para a “duplicidade” de que fala DuBois, uma possibilidade de reconciliação, mas é uma fonte — talvez a mais importante — de uma desejável renovação cultural. pg. 25
  • 19.  Hibridez, colagem, mélange, miscelânea, montagem, sinergia, bricolagem, criolização, mestiçagem, miscigenação, sincretismo, transculturação, terceiras culturas, e outros termos; uns são usados só de passagem, como metáforas sintéticas, outros reclamam um status analítico maior, outros, ainda, têm uma importância apenas regional ou temática. pg. 26  Hibridez parece ser atualmente o termo genérico preferido, talvez por derivar sua força, como “fluxo”, de uma fácil mobilidade entre disciplinas (mas muitos dos outros termos também têm a mesma flexibilidade). Pg. 26
  • 20. Criolização  O autor destaca esse conceito a partir das origens da noção de “crioulo” que qualifica pessoas e fenômenos culturais no contexto histórico-cultural das sociedades de plantation do Novo Mundo. Ele afirma que pode discutir esse conceito tanto quanto todos os demais. pg. 27 “Apesar de origens e ênfases um pouco diferentes, não importa muito qual desses conceitos se escolhe, mas aquele que mais me chamou a atenção, especialmente por minha experiência de campo na Nigéria, foi o de “criolização” (Hannerz 1987; 1996:65 e ss.).”pg.27
  • 21.  A identificação de culturas crioulas chama a atenção para o fato de que algumas culturas não são visivelmente tão “limitadas”, “puras”, “homogêneas” e “atemporais” quanto a tradição antropológica muitas vezes as retrata; e na medida em que também nesse caso há uma postura de exaltação da hibridez, pode-se pensar que uma parte da vitalidade e criatividade dessas culturas tem origem exatamente na dinâmica da mistura (se bem que a exaltação possa ser moderada pelo reconhecimento de que as culturas também são construídas em torno de estruturas de desigualdade). Pg. 28
  • 22. Conclusão: “os mundos e o mundo” O autor conclui trazendo a importância da dimensão reflexiva que a relação, ao mesmo tempo problemática e enriquecedora, entre conceitos acadêmicos e nativos vem imprimindo à antropologia, particularmente através dos estudos sobre a globalização e mostra que as interconexões culturais nunca estiveram ausentes das preocupações da antropologia, ainda que tratadas sob os mais diversos modelos conceituais e este é um campo vasto, como bem conclui: “[...]há mais trabalho por fazer.” Pg. 30.