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DOI: 10.5102/un.gti.v6i2.4139
Dirceu Teixeira Polacchini1
*	
Recebido em: 05/07/2016.
	
Aprovadoem: 20/09/2016.
1	
Atuou durante 38 anos frente ao Sistema de
Gerenciamento de Rede de TELECOM. Ge-
rente de projetos na Telecomunicações do
Paraná - TELEPAR e posteriormente com
a privatização dei continuidade na Brasil
Telecom inicialmente como Coordenador
de Sistemas de Mediação e posteriormente
como Coordenador de Projetos e Sistemas
pela Diretoria de Operações. Atualmente
é Chefe de Serviço na Coordenação-Geral
de Tecnologia da Informação no Conselho
Administrativo de Defesa Econômica –
CADE. E-mail: dpolacchini@gmail.com.
Uma análise da mudança de paradigma na
gestão para os stakeholders aplicada ao
Conselho Administrativo de Defesa Econômica
(CADE), na implantação do projeto: CADE sem
papel (Sistema Eletrônico de Informações (SEI))*
A paradigm shift in stakeholders management
applied in project implementation at the
Administrative Council for Economic Defense
(CADE): CADE sem papel (Electronic Information
System (SEI))
Resumo
O presente artigo faz uma análise do impacto da sinergia na ges-
tão de stakeholders em projetos complexos, tomando por base o projeto
“CADE sem Papel” do Conselho Administrativo de Defesa Econômica
(CADE), cujo objetivo principal é a implantação do processo eletrônico
por meio da adoção do Sistema Eletrônico de Informação (SEI). O estudo
se baseia nos fundamentos estabelecidos no Project Managment Institute
(PMI) para o gerenciamento dos interessados seguindo o modelo tradi-
cional e considera a análise da sinergia na governança do projeto com
a aplicação da retroalimentação sistêmica e dinâmica (em tempo real)
visando minimizar os efeitos da entropia. O estudo parte de uma aná-
lise descritiva do caso por meio de pesquisa documental e participativa,
com resultados que evidenciam as integrações da metodologia do Guia do
Conhecimento em Gerenciamento de Projetos (PMBOK). Os processos
sinérgicos foram efetivos a ponto de possibilitar a implantação da solução
em curto intervalo de tempo, gerando um processo global de mudança
nas áreas fim e meio, bem como para toda a sociedade. O marco tempo-
ral dessa mudança foi o dia 1º de janeiro de 2015, data a partir da qual o
CADE passou a utilizar. unicamente. processos eletrônicos. Para o suces-
so nas alterações dos procedimentos operacionais da autarquia, adota-se
um modelo efetivo de endomarketing que capacitou os 320 servidores,
incluindo os ocupantes de cargos mais elevados. O reconhecimento social
pode ser expresso por meio do prêmio da Transparência Ativa alcançado
por uma entrega do projeto em concurso promovido pela Controladoria-
-Geral da União (CGU).
Palavras-chave: Stakeholders. Sinergia. Entropia. PMBOK. Retroalimen-
tação.
Abstract
This manuscript analyzes the impact of synergy in stakeholder
management in complex projects, based on the project “CADE sem Pa-
pel”, implemented at the Administrative Council for Economic Defense
(CADE), whose main objective is the implementation of the electronic
process by adopting Electronic Information System (SEI) platform. The
study is based on the premises set forth in the Project Management Insti-
tute guide for stakeholder management, and considers synergy analysis in
54
UniversitasGestãoeTI,Brasília,v.6,n.2,p.53-65,jul./Dez.2016 Dirceu Teixeira Polacchini
project governance, with the implementation of systemic
and dynamic (real-time) feedback, in order to minimize
entropy effects. The manuscript starts from a descriptive
analysis of the case through documental and participatory
research, with results that demonstrate the integration of
Knowledge Guide methodology in Project Management
(PMBOK). Synergistic processes were effective enough to
enable solution implementation in a short time, creating
an expansive change process at core and support areas
and delivering a relevant impact for society. In order to
guarantee the success of the project, an effective model
of internal marketing was adopted, training 320 servers,
including those occupying higher positions. The social
recognition can be expressed through the Active Trans-
parency award achieved by a project delivery in competi-
tion sponsored by the Comptroller General (CGU).
Keywords: Stakeholders. Sinergy. Entropy. PMBOK. Fe-
edback .
1 Introdução
Considerando a necessidade de as organizações
públicas prestarem serviços de qualidade, é fundamental
o alinhamento das expectativas dos usuários, sociedade e
demais partes interessadas para a otimização dos resulta-
dos. Uma das ferramentas para alcançar esse objetivo de
melhoria é a adoção de metodologias de gerenciamento
de projetos pela esfera pública.
Algumas particularidades do setor público podem
ensejar que o gerenciamento de projetos esteja mais sen-
sível às influências de interesses pontuais, tanto internos
como externos, e ocasionar mudanças de escopo e cená-
rios de incertezas no planejamento, gerando, na maioria
das vezes, interrupção, atraso ou até mesmo o cancela-
mento de projetos.
Nessa linha, o gerenciamento das partes inte-
ressadas (stakeholders) tem sido o foco dos gerentes
de projetos pelo seu alto grau de influência, pois essas
partes compõem o universo de pessoas que podem tan-
to impactar ou serem impactadas de forma positiva ou
negativa as expectativas com relação aos resultados do
projeto. Essa preocupação, também, se faz presente no
setor privado.
Então, o que são stakeholders? A palavra inglesa
stakeholders é formada pela junção da palavra stake com
a palavra holder. A palavra stake pode ter a conotação de
prêmio, risco, interesse, parte. Já a palavra holder pode
significar proprietário, dono. A expressão “parte interes-
sada” é uma das possíveis traduções para a palavra sta-
keholder em português, sendo essa a expressão adotada
no guia PMBOK, um Guia do Conhecimento em Geren-
ciamento de Projeto (PROJECT MANAGMENT INSTI-
TUTE, 2013). Doravante, ao longo deste trabalho, será
adotada a palavra “stakeholder” ao se fazer referência à
parte interessada.
Ressalta-se que a equipe de projeto e os stakehol-
ders são fortemente impactados em todas as ações dos
projetos, seja no planejamento, na execução ou no con-
trole. Tudo depende do grau de comprometimento, de
cooperação e de coesão dos agentes. O PMBOK dedica
um capítulo exclusivo ao gerenciamento dos stakeholders
que participam do projeto (PMBOK, 2013).
O nível de complexidade de um projeto cresce
conforme o número de variáveis ou dimensões envolvi-
das, sejam as pessoas, organizações ou atividades, o que
ocasiona proporcionalmente maiores dificuldades em sua
gestão (PMBOK, 2013).
Um projeto só será exequível e gerará os resulta-
dos desejados se houver coesão e apoio suficientemente
fortes. Sem isso, qualquer projeto estará fadado ao in-
sucesso. Por outro lado, se for bem-sucedido, algo novo
deve surgir. Mudanças podem agradar ou desagradar, em
maior ou menor grau, àqueles a quem afeta. Contudo, há
que se ter em mente que a novidade é uma mudança que
interfere no estado anterior das coisas.
Assim, a adequada gestão e a busca sistêmica pelo
comprometimento dos stakeholders tendem a levar ao su-
cesso os projetos (BOUTILLIER, 2012).
Nesse contexto estabelece-se a seguinte problemá-
tica: qual a influência da sinergia na gestão dos stakehol-
ders no desenvolvimento de projetos complexos?
Este artigo tem como objetivo geral analisar o im-
pacto da sinergia entre os stakeholders no desenvolvimen-
to de projetos por meio do Estudo de Caso do Projeto
CADE sem Papel.
A consecução do objetivo se dará pelo alcance dos
seguintes específicos:
• Identificar e analisar os fatores que influenciam
os processos de sinergia em gerenciamento de
projetos tradicionais e de alta complexidade;
• Comparar as práticas de gestão de stakeholders
no modelo tradicional com as utilizadas no
projeto SEI;
• Avaliar os resultados obtidos na gestão das par-
55
UniversitasGestãoeTI,Brasília,v.6,n.2,p.53-65,jul./Dez.2016
Uma análise da mudança de paradigma na gestão para os stakeholders aplicada ao Conselho Administrativo
de Defesa Econômica (CADE), na implantação do projeto: CADE sem papel (Sistema Eletrônico de Informações (SEI))
tes interessadas durante a implantação do pro-
jeto SEI.
As falhas em projetos podem decorrer de questões
de interação humana, baixo entendimento na definição
do escopo, elevado número de solicitações de mudanças,
patrocínio com baixo índice de poder, estimativas subdi-
mensionadas, falhas de comunicação, entre outras. Outro
ponto crucial diz respeito à sistematização do gerencia-
mento dos stakeholders no projeto.
Na ausência de um modelo genérico que possa
atender a todos os projetos no que tange à questão das
relações humanas, criou-se uma série de ferramentas e
instrumentos para controlar a duração, os resultados e os
riscos. Entretanto, essas ferramentas não medem o com-
prometimento ou motivação da equipe dentro do projeto.
Este estudo evidencia que a análise dessa intera-
ção é denominada sinergia, sendo esta acompanhada de
leis físicas que esclarecem o momento ideal para as ações
de retomada ou retroalimentação para fins de ajustes no
projeto. Essas ações são originárias de entropias negativas
que poderão ser representadas por essa sinergia, e atuam
diretamente nas relações humanas levando em conside-
ração os três pilares: Coesão, Colaboração e Convergên-
cia (CCC).
2 Referencial teórico
2.1 O Fator Humano na gestão de stakeholders
Segundo o PMBOK (2013), identificar os sta-
keholders é o processo de reconhecer as pessoas, grupos
ou organizações que podem afetar ou serem afetadas por
uma decisão, atividade ou resultado do projeto. Busca
analisar e documentar informações relevantes relativas a
seus interesses, nível de engajamento, interdependências,
influência e seu possível impacto no sucesso do projeto.
O principal objetivo desse processo é possibilitar que o
gerente de projetos identifique o direcionamento apro-
priado para cada stakeholder ou grupo de stakeholders.
O gerenciamento dos stakeholders é composto por
quatro processos:
• Identificar os stakeholders – o processo de iden-
tificar pessoas, grupos ou organizações que po-
dem afetar ou serem afetados por uma decisão,
atividade ou resultado do projeto. Analisar e
documentar informações relevantes aos seus
interesses, nível de engajamento, interdepen-
dências, influência e seu impacto no projeto;
• Planejar o gerenciamento dos stakeholders – o
processo de desenvolver estratégias apropria-
das de gerenciamento para engajar os stakehol-
ders de maneira eficaz no decorrer de todo o
ciclo do projeto com base na análise das suas
necessidades, interesses e impacto potencial no
sucesso do projeto;
• Gerenciar o engajamento dos stakeholders – o
processo de se comunicar e trabalhar com os
stakeholders para atender às suas necessidades/
expectativas, abordar as questões à medida que
elas ocorrem e incentivar o engajamento apro-
priado dos stakeholders nas atividades do pro-
jeto em todo o ciclo de vida deste.
• Controlar o engajamento dos stakeholders – o
processo de monitorar os relacionamentos dos
stakeholders no projeto em geral e ajustar as es-
tratégias e planos para o engajamento destes.
A Figura 1 ilustra uma visão geral dos processos
que compõem o gerenciamento dos stakeholders.
Figura 1 – Visão geral do gerenciamento dos stakeholders.
Fonte: PMBOK, 2013.
Tendo como premissa que o termo stakeholders
envolve pessoas e organizações tais como clientes, patro-
cinadores, a organização executora e o público ativamen-
te envolvido, suas ações podem exercer influência sobre
as entradas e saídas do projeto. Os stakeholders podem
estar em diversos níveis da organização e ter diferentes
graus de autoridade, ou estar fora da organização execu-
tora do projeto. É fundamental para o sucesso do projeto
identificá-los desde o início do planejamento e analisar
seus níveis de interesse e expectativas individuais, assim
como sua importância e influência. Considerando-se o
tamanho, tipo e grau de complexidade, o processo de ge-
renciamento de stakeholders deve ser interativo e ocorrer
ao longo de todo o projeto.
O gerenciamento dinâmico (em tempo real) e sis-
têmico dos stakeholders se justifica em função da necessi-
dade da interação destes com as fases do projeto. As fases
56
UniversitasGestãoeTI,Brasília,v.6,n.2,p.53-65,jul./Dez.2016 Dirceu Teixeira Polacchini
de um projeto são compostas por processos. São definidas
como uma série de ações que geram produtos ou serviços
(BRASIL, 2014a). Esse conjunto de processos, ilustrado
na Figura 2, mostra o importante papel que os diversos
agentes exercem em todos os aspectos do projeto:
a) Grupo de processos de Iniciação – define e au-
toriza o projeto ou uma fase do projeto;
b) Grupo de processos de planejamento – define
e refina os objetivos e planeja a ação necessária
para alcançar os objetivos e o escopo para os
quais o projeto foi realizado;
c) Grupo de processos de execução – integra pes-
soas e outros recursos para realizar o plano de
gerenciamento do projeto;
d) Grupo de processos de monitoramento e
controle – mede e monitora regularmente o
processo de identificar variações em relação
ao plano de gerenciamento do projeto de for-
ma que possam ser tomadas ações corretivas,
quando necessário, para atender aos objetivos
do projeto;
e) Grupo de processos de encerramento – forma-
liza a aceitação do produto, serviço ou resulta-
do e conduz o projeto ou uma fase do projeto a
um final ordenado.
Figura 2 - Fases do Projeto.
Fonte: BRASIL, 2014a.
Sternberg (1999) define stakeholder como uma
pessoa que tem participação em algo que é desenvolvido
por outros. Essa visão está relacionada com o fato de que
algo está “em jogo, em processo de mudança”.
Existe, portanto, um risco de ganho ou de perda
de algo pelo stakeholder. Com base nessa premissa, repor-
tamos alguns conceitos segundo Sternberg (1999):
(ι) Interesse – é mais provável que as pessoas
deem maior importância a um processo
quando possuem interesse em seu resultado.
Considera-se inclusive que o interesse não
necessariamente é de ordem financeira;
(ιι) Complexidade da realidade – a realidade é
complexa. Diversos atores estão envolvidos e
podem exercer influência sobre determinado
projeto. Até quem não tem interesse direto
num projeto pode prejudicar o andamento
em função de suas ações ou falta de ações; e
(ιιι) Stakeholders são detentores de direitos – esse
conceito não está relacionado com a motivação
financeira ou relações funcionais com o projeto.
O conceito de stakeholders existe em função da
existência de direitos destes em receber algo que esteja
em conformidade com a sustentabilidade das gerações
futuras, ou seja, as gerações futuras merecem herdar um
mundo ambientalmente preservado, por essa razão, há o
entendimento de que há legitimidade da intervenção do
estado em qualquer tipo de projeto (STERNBERG, 1999).
Rita Mulcahy (2013) preconiza a importância de se
verificar pontos fundamentais quando do gerenciamento
dos stakeholders ao longo dos projetos. O produto final os
identifica nominalmente: seu cargo, papel no projeto, in-
formações para contato, principais requisitos e expectati-
vas, impacto e influência, atitude em relação ao projeto e as
classificações em que o indivíduo se enquadra. A Figura 3
ilustra um modelo de registro de stakeholders.
Figura 3 – Modelo de Registro de Stakeholders.
Fonte: Mulcahy, 2013.
57
UniversitasGestãoeTI,Brasília,v.6,n.2,p.53-65,jul./Dez.2016
Uma análise da mudança de paradigma na gestão para os stakeholders aplicada ao Conselho Administrativo
de Defesa Econômica (CADE), na implantação do projeto: CADE sem papel (Sistema Eletrônico de Informações (SEI))
Nessa linha, o conceito de gerenciamento dos
stakeholders torna-se problemático e complexo. Esse ge-
renciamento aborda processos que não são incorporados
pelo gerenciamento dos stakeholders, como coletar requi-
sitos, planejar o gerenciamento das comunicações, ge-
renciar as comunicações e planejar o gerenciamento dos
recursos humanos, entre outros. No entanto, ele retrata o
importante papel dos stakeholders em todos os aspectos
do projeto.
A Figura 4 apresenta um mapa mental que destaca
pontos fundamentais no gerenciamento de stakeholders.
Figura 4 – Pontos fundamentais no gerenciamento de Stakehol-
ders.
Fonte: Mulcahy, 2013 (com adaptações).
2.2 A sinergia, a entropia e a retroalimentação em
projetos complexos
Entende-se como sinergia o efeito multiplicador
das partes de um sistema que o leva a um resultado final
maior do que seria a soma dos resultados parciais dessas
partes, se acontecessem isoladamente (CHIAVENATO,
2004).
Quando uma equipe atua de forma sinérgica, fo-
cada no resultado comum e compartilhado, a tendência é
que os resultados sejam positivos e os objetivos atingidos.
Isso se deve à convergência de interesses e esforços. Des-
sa forma, os membros da equipe passam a fazer parte de
algo maior e a compartilhar do objetivo comum, que é
alcançar o bom para todos.
Evidencia-se, assim, um convívio mais agradável,
pois os desafios colocados são sempre encarados como
uma tarefa em equipe, de modo que as pessoas passam a se
sentir parte de algo que está acima dos seus interesses indi-
viduais (soma do todo). Isso gera identidade para a equipe
e tende a ser uma referência para futuros trabalhos.
Outro aspecto importante diz respeito ao fato de
que todo projeto tende à entropia (caos), que é a principal
causa de falhas em projetos. Entende-se como entropia
a desordem ou “bagunça” que pode resultar em perdas
de energia (comunicação, informação, motivação etc.) e,
consequentemente, degradação do sistema (CHIAVEN-
NATO, 2004).
Se a entropia é um processo pelo qual um sis-
tema tende à exaustão, à desorganização, à de-
sintegração e, por fim à morte, para sobreviver
o sistema precisa abrir-se e reabastecer-se de
energia e de informação para manter a sua es-
trutura. Sabe-se que para evitar os efeitos e im-
pactos da entropia os processos de retroalimen-
tação são fundamentais para manter a sinergia
ao longo da realização dos projetos (ALVARES,
[2016], p.).
A retroalimentação é uma parte da energia de saí-
da de um sistema que retorna à sua entrada. Esse processo
serve para comparar de alguma forma como o sistema se
comporta em relação ao padrão estabelecido. Se ocorrer
algum desvio ou discrepância, a retroalimentação se en-
carrega de alertar o sistema, viabilizando com que ajustes
ou melhorias sejam realizadas.
Para que ocorra a efetiva retroalimentação, é
imperativo que haja um processo sistêmico de coleta
de informações ao longo de todos os processos de de-
senvolvimento do projeto. Um sistema retroalimentado
é, necessariamente, um sistema dinâmico, ou seja, uma
saída é capaz de alterar a entrada que a gerou, e, conse-
quentemente, a si própria. Sendo assim, a interação com
o ambiente no sistema aberto gera retroalimentações que
podem ser positivas ou negativas, criando, dessa forma, a
autorregulação regenerativa, que, por sua vez, cria novas
propriedades que podem ser benéficas ou maléficas para
o todo, independente das partes. (ALVARES, [2016]). A
Figura 5 ilustra de forma simplificada o processo de re-
troalimentação.
Figura 5 – Processo de Retroalimentação.
Fonte: Alvares, [2016].
Os sistemas são conjuntos de elementos dinami-
camente relacionados para atingir um objetivo. Os prin-
cipais conceitos relacionados com os sistemas são:
58
UniversitasGestãoeTI,Brasília,v.6,n.2,p.53-65,jul./Dez.2016 Dirceu Teixeira Polacchini
• Entradas (inputs): o que alimenta o sistema
para que ele possa operar. Constitui tudo o que
o sistema recebe de seu mundo exterior (am-
biente) e, genericamente, pode ser: materiais,
informação e energia;
• Saídas (output): tudo o que o sistema produz é
informação que serve como entrada para ou-
tros processos ou para a própria retroalimen-
tação. Neste estudo de caso, a informação é
subsídio para a redução de incerteza, pois é o
conhecimento utilizado para orientar a ação e
reduzir o grau de dúvida ou insegurança que
cercam as decisões cotidianas;
• Processamento: é um conceito que exprime
todo o trabalho (processo) que o sistema exe-
cuta internamente para produzir suas saídas
a partir das entradas que recebe, mas que não
pode ser desvendado, pois os elementos inter-
nos são desconhecidos. Ele (o interno ao siste-
ma) se dá a conhecer, apenas, mostrando como
as manipulações e as entradas levam a tais ou
quais resultados; e
• Retroalimentação: também denominado como
feedback ou retro informação, constitui-se no
retorno de uma parcela da energia de saída de
um sistema à entrada para informar e promo-
ver mudanças necessárias.
Bertalanffy (1975), por meio da Teoria Geral
dos Sistemas, demonstra o isomorfismo das várias
ciências. Essa teoria é, essencialmente, totalizante: os
sistemas não podem ser plenamente compreendidos
apenas pela análise separada e exclusiva de cada uma
de suas partes. Ela se baseia na compreensão da depen-
dência de todos os processos e da necessidade de sua
integração.
Então, o processo de retroalimentação é, na ver-
dade, uma ação homeostática, ou seja, a busca constante
do equilíbrio dinâmico, traduzindo-se em novos procedi-
mentos de reconstrução, desconstrução e autorregulação.
3 Método de pesquisa
No que se refere à metodologia científica, a presen-
te pesquisa pode ser definida como aplicada e descritiva.
Segundo Vergara (2000), a pesquisa descritiva expõe as
características de determinada população ou fenômeno,
estabelece correlações entre variáveis e define sua natureza.
O delineamento da pesquisa é qualitativo na me-
dida em que o estudo de caso possui como fontes os da-
dos primários do Projeto CADE sem Papel, como rela-
tórios, fluxos processuais e atas de reunião. A pesquisa
documental é bastante utilizada em trabalhos puramente
teóricos e naqueles em que o delineamento principal é o
estudo de caso, pois exigem, em boa parte dos casos, a
coleta de documentos para análise (MARCONI; LAKA-
TOS, 1996).
Esta pesquisa considera a observação participativa
que é uma coleta de dados para conseguir informações
sob determinados aspectos da realidade. Visa identificar
as inferências das relações causais tendo contato direto
com a realidade, como cita Marconi e Lakatos (1996, p.
42): “[...] identificar e obter provas a respeito de objetivos
sobre os quais os indivíduos não têm consciência, mas
que orientam seu comportamento”.
Para observar os processos sinérgicos e os fatores
que influenciam o desempenho de um projeto com a ade-
quada gestão para os stakeholders, escolheu-se o projeto
CADE sem Papel, cuja principal entrega foi a implanta-
ção do processo eletrônico no órgão por meio da adoção
do Sistema Eletrônico de Informações (SEI), cedido sem
ônus pelo Tribunal da 4ª Região da Justiça Federal (que
inclui os três estados da região sul do Brasil - PR, RS, SC),
a partir da celebração de Acordo de Cooperação Técnica
(ACT).2
4 Desenvolvimento
4.1 Análise comparativa no modelo tradicional de
gestão e o modelo adotado no projeto SEI
A demanda que ensejou os trabalhos do Projeto
CADE sem Papel originou-se em 2009, em razão da ne-
cessidade identificada pelo Conselho de tornar mais efi-
ciente a troca de processos e informações entre os três
órgãos do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência
(SBDC) existente na época, a saber: CADE, Secretaria de
Direito Econômico (SDE/MJ) e Secretaria de Acompa-
nhamento Econômico (Seae/MF).
Com a aprovação da Nova Lei da Concorrência
(Lei n. 12.529/11, de 30 de novembro de 2011), que rees-
truturou o SBDC e centralizou no CADE as atividades
2  
Minuta de Acordo de Cooperação Técnica – ACT. Disponí-
vel em: <https://softwarepublico.gov.br/social/sei/arquivos/
minuta.act.pen.sei.docx>. Acesso em: 08 maio 2016.
59
UniversitasGestãoeTI,Brasília,v.6,n.2,p.53-65,jul./Dez.2016
Uma análise da mudança de paradigma na gestão para os stakeholders aplicada ao Conselho Administrativo
de Defesa Econômica (CADE), na implantação do projeto: CADE sem papel (Sistema Eletrônico de Informações (SEI))
de instrução e julgamento de processos (de condutas
anticoncorrenciais e de controle de concentrações), bem
como instituiu novo procedimento de notificação prévia
de Atos de Concentração (AC), o plano do projeto CADE
sem Papel precisou ser alterado para se ajustar ao novo
arranjo institucional e às novas competências da autar-
quia (CADE, 2015).
Tendo como premissa que o ponto essencial para
qualquer projeto é a conformação entre as necessidades
dos stakeholders ou a busca pela harmonia entre as neces-
sidades dos stakeholders e os objetivos do projeto, de nada
adianta desenvolver um projeto se, ao final, o produto en-
tregue não corresponde às expectativas e/ou necessidades
destes.
Para além dos diversos agentes de um projeto, as
entregas pretendidas devem focar no cliente. O atendi-
mento das expectativas do cliente passa pelo conceito de
valor. Valor é algo que é reconhecido quando os clien-
tes enxergam algum benefício. (JAYASWAL; PATTON;
ZULTNER, 2007).
A forma adotada na condução do projeto com
foco na mudança de paradigma fez com que o CADE se
tornasse referência na implantação do SEI. Esse desafio
pode ser traduzido pela busca em gerenciar o projeto
para os stakeholders em vez de haver preocupação em
realizar o gerenciamento dos stakeholders do projeto.3
As
pessoas entendem, erroneamente, que gerenciar stakehol-
ders envolvem processos formais e burocráticos para ge-
rir suas expectativas. Isso é mais ou menos como planejar
um projeto e depois definir estratégias de maneira a evitar
interferências dos stakeholders em sua execução. Na reali-
dade estudada, a estratégia foi gerenciar o projeto para os
stakeholders. Não se trata de um simples jogo de palavras,
mas de uma grande mudança de paradigma (TRENTIM,
2013).
Portanto, o gerenciamento para os stakeholders
deve estar fundamentado em sólida base de identificação
dos benefícios desejados, definição e criação de valor e
relacionamentos, em um processo de retroalimentação
contínuo. A Figura 6 ilustra o gerenciamento dos sta-
keholders focado em valor (TRENTIM, 2013).
3  
O SEI foi adotado por 25 instituições do Executivo Federal
desde 2014, e outras 119 manifestaram interesse em ade-
rir. O Cade tornou-se referência nessa implantação, sendo
requerido para disseminar a sua metodologia de gerencia-
mento de projeto, o que deu ensejo a várias apresentações do
projeto para os mais diversos órgãos do governo.
Figura 6 – Gerenciamento dos stakeholders focados em valor.
Fonte: Trentim, 2013.
É fundamental identificar e listar os stakeholders
desde o início da concepção do projeto. Essa lista tende a
crescer ao longo do planejamento como forma de garan-
tir que as áreas internas e externas da organização sejam
contempladas. Deve-se considerar a premissa de que os
stakeholders têm o poder de influenciar os destinos do
projeto.
É essencial identificar, de forma clara, a relação
entre o poder e o interesse no projeto em desenvolvimen-
to como forma de minimizar o impacto sobre os resulta-
dos esperados.
A matriz da Figura 7 ilustra a identificação do
grau de poder versus o nível de interesse, tendo como re-
ferência a seguinte análise:
• Grade de poder/interesse: agrupar os stakehol-
ders nos seus níveis de autoridade [“PODER”]
e nos seus níveis de preocupações [“INTERES-
SE”] a respeito das entregas do projeto.
• Grade de poder/influência: agrupar os sta-
keholders com base nos seus níveis de autori-
dade [“PODER”] e nos seus envolvimentos ati-
vos [INFLUÊNCIA”] no projeto.
• Grade de influência/impacto: agrupar os sta-
keholders com base nos seus níveis de envolvi-
mento ativo [“INFLUÊNCIA”] no projeto e nas
suas capacidades de efetuar mudanças no plano
de projeto ou na execução [“IMPACTO”].
• Grade de importância: classificar os stakehol-
ders com base nos seus poderes [“CAPACIDA-
DE DE IMPOR A SUA VONTADE”], urgência
[“NECESSIDADE DE ATENÇÃO IMEDIA-
TA”] e legitimidade [“SEU ENVOLVIMENTO
É APROPRIADO”].
60
UniversitasGestãoeTI,Brasília,v.6,n.2,p.53-65,jul./Dez.2016 Dirceu Teixeira Polacchini
Figura 7 – Matriz de Relacionamento: poder versus interesse.
Fonte: Do Autor
Recursos humanos são ativos fundamentais no
desenvolvimento de projetos. Daí a necessidade de sele-
cioná-los de maneira tal que todas as áreas em que o pro-
jeto poderá impactar ou ser afetado tenham stakeholders
participativos. Essa seleção deve ser quantitativa e qua-
litativa, como forma de minimizar os riscos do projeto.
Devem ser identificados claramente seus papéis, habili-
dades necessárias, níveis de conhecimento e relaciona-
mento. O projeto CADE sem Papel atendeu à premissa
de identificação da relação “Poder versus Interesse” com
a instalação dos diversos perfis demandados em um local
específico para o trabalho, por meio da instalação do que
foi intitulado “Sala de Guerra” do projeto.
4.2 Aplicação da sinergia no desenvolvimento do
projeto sei
Segundo Bertalanffy (1975), uma organização
retroalimentada e autogerenciada gera um sistema cujo
funcionamento é dinâmico e independente, ou seja, au-
torregulado, no qual o todo assume as tarefas da parte que
falhou. A equipe do projeto CADE sem Papel, responsá-
vel por instituir o SEI na autarquia, utilizou procedimen-
tos que estão alinhados com essa visão e corroboram o
entendimento de que o organismo é um todo maior que a
soma das partes – o que chamamos de sinergia.
Para manter a sinergia, o processo de comunica-
ção efetiva entre os agentes, é essencial. Segundo Kro-
gh, Ichiro e Nonaka (2001), as conversas que inspiram
a criação do conhecimento exigem abertura, paciência,
capacidade de ouvir, experimentação de novos termos e
conceitos, polidez, formação de argumentos convincen-
tes e coragem. O gerente de projeto é como um diretor
de cinema.
Este quer que cada um dos atores seja tão cria-
tivo e capaz quanto possível os estimula a de-
sempenhar seu papel com o máximo de foco e
energia. A primeira tarefa é definir o papel dos
atores e para o gerente de projeto é encorajar
a participação ativa nas conversas, ajudando
a formar micro comunidades, onde e quando
necessário. O diretor por vezes efetua cortes
para assegurar a qualidade do filme e também
intervém quando a integração entre atores é
deficiente. Do mesmo modo, os bons gerentes
de projeto interferirão nas conversas quando a
qualidade dos conceitos discutidos for inacei-
tável, quando se abordarem ao mesmo tempo
muitas ideias ou quando a compreensão entre
os participantes parecer inadequada. Infeliz-
mente gerentes de projeto, ao contrário dos
diretores de cinema, não dispõe de roteiros em
que se basear as intervenções (KROGH; ICHI-
RO; NONAKA, 2001, p. 95).
Para que se tenha, plenas, condições de man-
ter a sinergia na gestão dos stakeholders, é fundamental
atentar-se para a entropia natural que ocorre ao longo
do desenvolvimento dos projetos, independentemente
do porte e, para tanto, a ferramenta de retroalimentação
deve ser um processo vivo e interativo, visando garantir a
visão compartilhada do todo. Do ponto de vista de Senge
(1990, p. 30):
Uma visão compartilhada é uma força no cora-
ção das pessoas, uma força de impressionante
poder. Pode ser inspirada por uma ideia, mas
quando evolui deixa de ser abstração. Torna-se
palpável. Os stakeholders passam a vê-la como
se existisse. Poucas forças, se é que existe uma,
nas questões humanas são tão poderosas quan-
to uma visão compartilhada.
O desenvolvimento de projetos complexos, por
si só, representa grandes desafios. Para que a equipe de
projeto tenha sucesso, é crítico selecionar pessoas que te-
nham o desejo de solucionar problemas, para que a siner-
gia se mantenha viva. É fundamental que essas pessoas se
sintam parte integrante da solução e tenham o sentimen-
to claro da responsabilidade pela transformação da visão
em realidade.
Senge (1990, p. 30) enfatiza que “não se pode fazer
coisa alguma para impor a participação ou o comprome-
timento de outra pessoa. Participação e comprometimen-
to exigem liberdade de escolha”. E sugere três regras para
o desafio:
1ª regra: Participe. Não há motivo para tentar
encorajar a participação de uma outra pessoa se
você não participa. Isso seria venda e não par-
ticipação. Na melhor das hipóteses, produzirá
uma forma superficial de acordo ou aceitação.
Pior, espalhará as sementes de futuros ressen-
timentos.
2ª regra: Fale sempre a verdade. Não aumente
os benefícios e não esconda os problemas. Des-
creva a visão de forma mais simples e honesta
possível.
3ª regra: Dê aos colaboradores o direito da es-
61
UniversitasGestãoeTI,Brasília,v.6,n.2,p.53-65,jul./Dez.2016
Uma análise da mudança de paradigma na gestão para os stakeholders aplicada ao Conselho Administrativo
de Defesa Econômica (CADE), na implantação do projeto: CADE sem papel (Sistema Eletrônico de Informações (SEI))
colha. Não é necessário convencê-los dos be-
nefícios da visão. Quanto mais disposto você
estiver ao dar o direito da escolha, mais livre
ele se sentirá. Isto pode ser difícil no relaciona-
mento com subordinados que frequentemente
estão condicionados a se sentir na obrigação de
segui-lo. Mesmo assim você pode ajudar, dan-
do-lhes tempo e segurança para que possam
desenvolver sua própria interpretação da visão,
participação e comprometimento exigem liber-
dade de escolha.
Dentre as possíveis estratégias para manter viva a
integração entre todos os stakeholders, o endomarketing
foi adotado como campanha que contemplava a gestão
de mudanças. A equipe de projeto transitava livremente
pelas diversas áreas da organização buscando identificar
potenciais restrições ao projeto, tendo como missão levar
esclarecimentos sobre sua importância para a organiza-
ção. De maneira simétrica, a equipe ouvia todas as críti-
cas e sugestões apresentadas pelos integrantes do órgão,
as analisava e avaliava a possibilidade de sua incorpora-
ção ao projeto por meio do comitê de mudanças.
Para que o SEI entrasse em produção de forma
segura, estável e atendendo aos anseios do órgão e da so-
ciedade, foi implementado um plano de capacitação dos
usuários. O plano englobou a totalidade dos 320 colabo-
radores, em suas áreas e atividades específicas. Também
foi realizada capacitação pontual para as autoridades da
autarquia. A tabela 1 ilustra o plano de capacitação apli-
cado. Segundo Krogh, Ichiro e Nonaka (2001), promover
o conhecimento estimula a inovação. Essa técnica de in-
tervenção e moderação inspira as conversas que surgem
a partir de ferramentas de comunicação. A exemplo dos
“banners” distribuídos ao longo das dependências da au-
tarquia com palavras relacionadas aos objetivos do pro-
jeto, os “broches” utilizados pelos integrantes da equipe
após os treinamentos, com os dizeres “Eu SEI, pergunte-
-me como” garantiam seu fácil reconhecimento.
Para o processo de capacitação, foram identifica-
dos três tipos de perfis básicos:
• Alta direção: são os ocupantes de cargos de Di-
reção e Assessoramento Superiores - DAS 4, 5,
6 e Natureza Especial - NE. Precisam de conhe-
cimentos básicos do sistema em suas rotinas
de trabalho. Não serão operadores frequentes
do sistema, pois muitas rotinas não são de suas
responsabilidades, mas precisam entender pro-
cedimentos básicos do SEI e algumas de suas
aplicações às dinâmicas específicas do CADE;
• Usuário padrão: todos aqueles que operam o
sistema, elaboram documentos e buscam infor-
mações. É a grande maioria dos colaboradores
do CADE;
• Coordenação-Geral Processual - CGP: usuá-
rios cujas rotinas serão alteradas de maneira
mais contundente, exigindo maior esforço para
a organização da equipe e redesenho de tarefas.
A partir dos tipos de perfis, foram caracterizados
os seguintes tipos de treinamentos:
• Básico: é o treinamento padrão mínimo para
todos os colaboradores. Inclui sensibilização
sobre o SEI, panorama do sistema e funciona-
lidades básicas. Ministrado no espaço do ple-
nário do CADE sem necessidade de suporte do
computador;
• Específico: envolve sugestões de processos de
trabalho para as rotinas e uso mais avançado
das ferramentas do sistema. Exige a utilização
de computador o que torna as turmas menores.
Constitui-se de três blocos: área meio, área-fim
e CGP;
• Sensibilização: reunião com todas as chefias do
CADE para ressaltar a importância do uso do
módulo de treinamento do sistema e da utiliza-
ção de suas funcionalidades.
Com esse plano de capacitação, o CADE garan-
tiu que todas as unidades onde estão distribuídos seus
colaboradores estariam em plenas condições de enfren-
tar o grande desafio de uma mudança de paradigma nas
suas rotinas diárias. Tratava-se de uma virada total nos
seus métodos de trabalho - até 31 de dezembro de 2014
trabalhava-se com processos em papel e, a partir de 2 de
janeiro de 2015, todos os processos passaram a ser 100%
digitais, tanto para a área meio como a área-fim.
62
UniversitasGestãoeTI,Brasília,v.6,n.2,p.53-65,jul./Dez.2016 Dirceu Teixeira Polacchini
Tabela 1 – Plano de capacitação.
Título Descrição Quem? Objetivos de Instrução
Módulo Básico
Apresentação geral do SEI e regras
de funcionamento do CADE a partir
de 2015, e apresentar os impactos
de implementação para a unidade
interna e externa (máx. 70 pessoas)
TODOS: Servidores, estagiários,
apoio administrativos e secretárias
de todos os setores do CADE (área
meio e fim)
Conhecimentos:
Compreender as premissas do SEI (navegação por unidade, níveis de acesso
Reconhecer as funcionalidades no menu do SEI
Identificar as principais ferramentas do sistema
Identificar os impactos da implantação do SEI nas rotinas internas e externas de
trabalho.
Habilidades: uso das funcionalidades do SEI (link de documentos) necessárias.
Atitudes: explorar o ambiente de treinamento
Módulo 1
Principais comandos para criar
e movimentar processos e
documentos, relacionamento entre
processos, funcionalidades de gestão
interna (máx. 36 pessoas)
TODOS: Servidores, estagiários,
apoio administrativos e secretárias
de todos os setores do CADE (área
meio e fim)
Conhecimentos:
Iniciar um processo e incluir documentos (interno e externo)
Habilidades: uso das funcionalidades do SEI (link de documentos) necessárias
Atitudes: Utilizar o editor do SEI para elaborar documentos
Propor soluções para as rotinas das áreas.
Módulo 2
Acesso externo e Avocação (máx. 36
pessoas)
Tribunal e Superintendência:
servidores e secretários
Coordenação-Geral Processual:
servidores e apoios administrativos
Conhecimentos: compreender a dinâmica de concessão de acesso externo
(sistema e processo interno) e avocação de processos. Apresentar a rotina de
acesso.
Diferenciar Usuário Externo X Acesso Externo.
Habilidades: uso das funcionalidades do SEI (link de documentos) necessárias
Atitudes: explorar o ambiente de treinamento.
Módulo 3
Sessão de julgamento (máx. 36
pessoas)
Tribunal e Superintendência:
servidores e secretários
Coordenação-Geral Processual:
servidores e apoios administrativos.
Conhecimentos: compreender a dinâmica de criação dos documentos da pauta
e ata de julgamento
Habilidades: uso das funcionalidades do SEI (link de documentos) necessárias.
Atitudes: explorar o ambiente de treinamento.
Módulo 4
Botão CADE para coleta de dados
para estatísticas (máx. 36 pessoas)
Servidores da Superintendência-
Geral, Departamento de Estudos
Econômicos e Procuradoria
Federal
- Servidores e apoios administrativos
da Coordenação-Geral Processual
Conhecimentos: informações contidas nos botões e momento de
preenchimento;
Compreender como gerar relatórios usando o BI
Habilidades: uso das funcionalidades do SEI (link de documentos) necessárias.
Atitudes: atenção a detalhes, para auditorias no sistema
Módulo 5
Arquivamento no SEI (máx. 36
pessoas)
Coordenação-Geral Processual:
servidores e colaboradores do
Arquivo e Biblioteca.
Conhecimentos: conhecer o módulo de arquivamento.
Habilidades: uso das funcionalidades do SEI (link de documentos) necessárias.
Atitudes: Organizar a estrutura de funcionamento do arquivo do CADE
Workshop 1 Gestão Processual (máx. 36 pessoas)
Coordenação-Geral Processual
Servidores e apoios administrativos
da
Conhecimentos: Revisar a dinâmica de criação dos documentos da pauta e ata
de julgamento
Habilidades: utilizar as ferramentas de gerenciamento.
Atitudes: abertura para utilizar o SEI como ferramenta de gestão.
Workshop 2
Workshop de controles internos de
processos e bases de conhecimento
(máx. 36 pessoas)
Chefias de todas as áreas do CADE
(área meio e fim).
 - Núcleo Gestor do SEI
Conhecimentos: revisar as funcionalidades de blocos, atribuição de processos e
retorno programado
Habilidades: utilizar as ferramentas para gerenciamento
Atitudes: abertura para utilizar o SEI como ferramenta de gestão
Fonte: Brasil, 2014b.
63
UniversitasGestãoeTI,Brasília,v.6,n.2,p.53-65,jul./Dez.2016
Uma análise da mudança de paradigma na gestão para os stakeholders aplicada ao Conselho Administrativo
de Defesa Econômica (CADE), na implantação do projeto: CADE sem papel (Sistema Eletrônico de Informações (SEI))
4.3 SEI – resultados obtidos – aplicação da sinergia
Observa-se que a sinergia existe quando duas ou
mais causas produzem, agindo conjuntamente, um efeito
maior do que a soma dos efeitos que produziriam quan-
do atuando individualmente. Assim, a sinergia consis-
te no efeito multiplicador das partes de um sistema em
alavancar seu resultado global. Enfatiza-se que a base de
referência para o sucesso do projeto teve como pilares:
Coesão, Colaboração e Convergência (CCC). O segredo
para evitar os efeitos e impactos da entropia ao longo do
desenvolvimento do projeto foi a retroalimentação apli-
cada de forma integrada, em tempo real, a todos os pro-
cessos em andamento.
Dessa forma, o Projeto CADE sem Papel contri-
buiu para a atuação mais eficiente da autarquia, na me-
dida em que otimizou as rotinas de trabalho, disponibili-
zou instrumentos de gestão de processos e das equipes e
possibilitou a organização do conhecimento. Ademais, a
eliminação de papel com a adoção do processo eletrônico
promove a sustentabilidade econômica e ambiental, além
de gerar redução dos custos de transação para os admi-
nistrados.
Essa solução permite ao CADE concentrar seus
esforços na construção da capacidade de detecção proa-
tiva de problemas concorrenciais e focar nos elementos
essenciais para a consecução da política pública de defesa
da concorrência no Brasil.
Vale ressaltar que a atuação mais eficiente do
CADE produz efeitos em curto e em longo prazo para
o ambiente econômico e sociedade como um todo, tais
como: (i) reduz pressões para aumentos de preços pelo
exercício de poder de mercado; (ii) favorece o investi-
mento em pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias;
(iii) incentiva o aumento de produtividade; e (iv) cria
uma atmosfera mais favorável e menos incerta ao inves-
timento.
4.4 Impactos na instituição e na sociedade: promo-
ção da transparência ativa e/ou passiva – ino-
vação
Em 2015, a Controladoria Geral da União - CGU
instituiu o 3º Concurso de Boas Práticas da CGU. O con-
curso foi realizado em cinco etapas e distribuído em ca-
tegorias: (i) Aprimoramento das Auditorias Internas; (ii)
Aprimoramento dos Controles Internos; (III) Aprimora-
mento das Apurações Disciplinares e de Responsabiliza-
ção de Entes Privados; (IV) Aprimoramento das Ativi-
dades de Ouvidoria; e (V) Promoção da Transparência
Ativa e/ou Passiva.
O CADE foi o vencedor da categoria Promoção da
Transparência Ativa e/ou Passiva com uma das entregas
do Projeto CADE sem Papel, a Pesquisa Pública de Pro-
cessos Administrativos. Trata-se de módulo desenvolvido
internamente que funciona acoplado ao SEI.
No sistema SEI, o acesso aos processos pelo pú-
blico externo era limitado às pessoas previamente cadas-
tradas como usuárias externas, o que possibilitava, ainda,
a liberação dos processos eletrônicos para a assinatura
virtual de documentos, tais como contratos e convênios.
Para tanto, era necessário o credenciamento do interes-
sado por obtenção de login e senha de acesso ao sistema.
Assim, o sistema estava apto a atender a transpa-
rência passiva, ou seja, disponibilizar informações públi-
cas em atendimento a demandas específicas. Contudo,
havia uma lacuna, ou seja, o CADE não atendia à trans-
parência ativa nas questões referentes a Lei de Acesso à
Informação (LAI) (Lei n. 12.527/2011, de 18 de novem-
bro de 2011), que regulamenta o direito constitucional de
acesso às informações públicas (BRASIL, 2011).
O CADE tem como preocupação a divulgação
do andamento de seus processos classificados como pú-
blicos e o acompanhamento pelas partes e advogados
como garantia do devido processo legal. O andamento
dos processos deve ser uma fonte fiável de informações
em tempo real, permitindo visualizar o estágio em que se
encontra e sua composição, com acesso integral às peças
processuais públicas.
No que diz respeito à transparência ativa, a Reso-
lução n. 11/2014, de 24 de novembro de 2014 instituiu o
SEI como sistema de processo eletrônico do CADE. Tam-
bém determinou que qualquer pessoa pode ter acesso aos
processos e documentos no SEI, bem como acompanhar
o trâmite processual, independentemente de credencia-
mento prévio, ressalvadas as hipóteses legais de restrição
de acesso.
A Pesquisa Pública de Processos Administrativos
(disponível pelo sítio web www.cade.gov.br, com acesso
pelo botão “Pesquisa Processual”) eliminou a necessidade
de deslocamento ao CADE para a consulta de processos
públicos e mereceu elogios do público externo ante a di-
vulgação proativa, em local de fácil acesso, no âmbito de
sua competência, de informação geral de interesse coleti-
vo por si produzida ou custodiada.
Dentro da busca pela celeridade e transparência
64
UniversitasGestãoeTI,Brasília,v.6,n.2,p.53-65,jul./Dez.2016 Dirceu Teixeira Polacchini
na gestão pública, em 7 de outubro de 2015, foi publica-
do o Decreto nº 8.539, que dispõe sobre o uso do meio
eletrônico para a realização do processo administrativo
no âmbito dos órgãos e das entidades da administração
pública federal direta, autárquica e fundacional. A expec-
tativa é de que até outubro de 2017 todos os processos em
papel da esfera do executivo federal migrem para o meio
eletrônico (BRASIL, 2015).
Atualmente, 25 órgãos entre ministérios e autar-
quias já implantaram o sistema e extinguiram os proces-
sos em papel. Dos 224 órgãos federais, 119 já estão en-
volvidos de alguma maneira com o projeto, seja em fase
de análise de viabilidade ou em fase de implantação do
sistema.
5 Considerações finais
O contexto apresentado por este estudo baseia-se,
principalmente, na problemática da influência da siner-
gia na gestão para os stakeholders em projetos de grande
magnitude e impacto nas organizações. Por meio de aná-
lise comparativa das melhores práticas de gestão de pro-
jetos na sua forma tradicional com o modelo adotado no
SEI, constatou-se a mudança de paradigma desse modelo
para uma forma mais dinâmica de gestão, tornando-se
intuitiva e, principalmente, autogerenciável.
Em relação a essa nova perspectiva, ao modelo
tradicional são adicionadas novas práticas que interfe-
rem, diretamente, na forma como a equipe se relaciona
no desenvolvimento e implantação de um projeto. Por
exemplo, pensar na organização como um ser vivo que
atua diariamente e interage como um sistema biológico,
ao fazer com que a integração entre conhecimento e si-
nergia seja um processo sistêmico.
Como fatores que foram identificados e estudados
como influenciadores da sinergia dentro da gestão para
os stakeholders neste artigo, destacam-se a Autogestão;
Modelo de Gestão Compartilhada; Endomarketing; e Ca-
pacitação.
Ressaltam-se, de forma complementar, algumas
regras aplicadas neste artigo como boas práticas:
Analisar segundo as melhores práticas de geren-
ciamento de projeto a identificação dos stakeholders;
a. Apresentar como a integração da gestão do co-
nhecimento com retroalimentação ativa gera a
sinergia;
b. Utilizar projetos de sucesso dentro da orga-
nização como modelo de referência e cultura,
promovendo melhorias;
c. Quebrar o paradigma com a participação ati-
va de toda a organização convergindo para o
atingimento das metas e resultados esperados;
d. Adequar a identificação da relação de satisfa-
ção x benefícios;
e. Motivar e criar o ambiente de projeto para o
processo de sinergia ser sistêmico;
f. Gerar o endomarketing da organização (ven-
der seu produto);
g. Capacitar de forma direcionada às necessida-
des reais de cada público;
h. Aplicar os 3Cs - Coesão, Colaboração e Con-
vergência;
i. Promover reconhecimento dos participantes e
do próprio projeto.
Dentre os principais fatores limitantes, pode-se
destacar as bibliografias disponíveis, uma vez que tratam,
isoladamente, da importância da gestão dos stakeholders,
sem que considerem claramente a integração ativa da ges-
tão do conhecimento com as ferramentas e técnicas da
gestão de projetos. Entretanto, para o desenvolvimento
deste estudo de caso, não se considerou que essa dissocia-
ção tenha causado restrições aos seus resultados.
Como este estudo de caso não teve como foco a
integração dos stakeholders com a totalidade de processos
adotados no âmbito de gerenciamento de projetos, suge-
re-se que seja aprofundado o estudo do tema sinergia em
Gerenciamento de Projetos como uma agenda futura de
estudo.
Referências
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terial de aula da disciplina Planejamento e Gestão de
Unidades Arquivísticas, do curso de Arquivologia da
Universidade de Brasília. Disponível em: <http://lillian.
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18 mar. 2016.
65
UniversitasGestãoeTI,Brasília,v.6,n.2,p.53-65,jul./Dez.2016
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BRASIL. Conselho Administrativo de Defesa Econômica.
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BRASIL. Conselho Administrativo de Defesa Econômi-
ca. Resolução n. 11, de 24 de novembro de 2014b. Insti-
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<http://www.cade.gov.br/upload/Despacho%20339%20
-%20Resolu%C3%A7%C3%A3o%20n%C2%BA%20
11%20de%202014.pdf>. Acesso em: 23 mar. 2016.
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põe sobre o uso do meio eletrônico para a realização do
processo administrativo no âmbito dos órgãos e das enti-
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br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Decreto/D8539.htm>.
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  • 1. DOI: 10.5102/un.gti.v6i2.4139 Dirceu Teixeira Polacchini1 * Recebido em: 05/07/2016. Aprovadoem: 20/09/2016. 1 Atuou durante 38 anos frente ao Sistema de Gerenciamento de Rede de TELECOM. Ge- rente de projetos na Telecomunicações do Paraná - TELEPAR e posteriormente com a privatização dei continuidade na Brasil Telecom inicialmente como Coordenador de Sistemas de Mediação e posteriormente como Coordenador de Projetos e Sistemas pela Diretoria de Operações. Atualmente é Chefe de Serviço na Coordenação-Geral de Tecnologia da Informação no Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE. E-mail: dpolacchini@gmail.com. Uma análise da mudança de paradigma na gestão para os stakeholders aplicada ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), na implantação do projeto: CADE sem papel (Sistema Eletrônico de Informações (SEI))* A paradigm shift in stakeholders management applied in project implementation at the Administrative Council for Economic Defense (CADE): CADE sem papel (Electronic Information System (SEI)) Resumo O presente artigo faz uma análise do impacto da sinergia na ges- tão de stakeholders em projetos complexos, tomando por base o projeto “CADE sem Papel” do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), cujo objetivo principal é a implantação do processo eletrônico por meio da adoção do Sistema Eletrônico de Informação (SEI). O estudo se baseia nos fundamentos estabelecidos no Project Managment Institute (PMI) para o gerenciamento dos interessados seguindo o modelo tradi- cional e considera a análise da sinergia na governança do projeto com a aplicação da retroalimentação sistêmica e dinâmica (em tempo real) visando minimizar os efeitos da entropia. O estudo parte de uma aná- lise descritiva do caso por meio de pesquisa documental e participativa, com resultados que evidenciam as integrações da metodologia do Guia do Conhecimento em Gerenciamento de Projetos (PMBOK). Os processos sinérgicos foram efetivos a ponto de possibilitar a implantação da solução em curto intervalo de tempo, gerando um processo global de mudança nas áreas fim e meio, bem como para toda a sociedade. O marco tempo- ral dessa mudança foi o dia 1º de janeiro de 2015, data a partir da qual o CADE passou a utilizar. unicamente. processos eletrônicos. Para o suces- so nas alterações dos procedimentos operacionais da autarquia, adota-se um modelo efetivo de endomarketing que capacitou os 320 servidores, incluindo os ocupantes de cargos mais elevados. O reconhecimento social pode ser expresso por meio do prêmio da Transparência Ativa alcançado por uma entrega do projeto em concurso promovido pela Controladoria- -Geral da União (CGU). Palavras-chave: Stakeholders. Sinergia. Entropia. PMBOK. Retroalimen- tação. Abstract This manuscript analyzes the impact of synergy in stakeholder management in complex projects, based on the project “CADE sem Pa- pel”, implemented at the Administrative Council for Economic Defense (CADE), whose main objective is the implementation of the electronic process by adopting Electronic Information System (SEI) platform. The study is based on the premises set forth in the Project Management Insti- tute guide for stakeholder management, and considers synergy analysis in
  • 2. 54 UniversitasGestãoeTI,Brasília,v.6,n.2,p.53-65,jul./Dez.2016 Dirceu Teixeira Polacchini project governance, with the implementation of systemic and dynamic (real-time) feedback, in order to minimize entropy effects. The manuscript starts from a descriptive analysis of the case through documental and participatory research, with results that demonstrate the integration of Knowledge Guide methodology in Project Management (PMBOK). Synergistic processes were effective enough to enable solution implementation in a short time, creating an expansive change process at core and support areas and delivering a relevant impact for society. In order to guarantee the success of the project, an effective model of internal marketing was adopted, training 320 servers, including those occupying higher positions. The social recognition can be expressed through the Active Trans- parency award achieved by a project delivery in competi- tion sponsored by the Comptroller General (CGU). Keywords: Stakeholders. Sinergy. Entropy. PMBOK. Fe- edback . 1 Introdução Considerando a necessidade de as organizações públicas prestarem serviços de qualidade, é fundamental o alinhamento das expectativas dos usuários, sociedade e demais partes interessadas para a otimização dos resulta- dos. Uma das ferramentas para alcançar esse objetivo de melhoria é a adoção de metodologias de gerenciamento de projetos pela esfera pública. Algumas particularidades do setor público podem ensejar que o gerenciamento de projetos esteja mais sen- sível às influências de interesses pontuais, tanto internos como externos, e ocasionar mudanças de escopo e cená- rios de incertezas no planejamento, gerando, na maioria das vezes, interrupção, atraso ou até mesmo o cancela- mento de projetos. Nessa linha, o gerenciamento das partes inte- ressadas (stakeholders) tem sido o foco dos gerentes de projetos pelo seu alto grau de influência, pois essas partes compõem o universo de pessoas que podem tan- to impactar ou serem impactadas de forma positiva ou negativa as expectativas com relação aos resultados do projeto. Essa preocupação, também, se faz presente no setor privado. Então, o que são stakeholders? A palavra inglesa stakeholders é formada pela junção da palavra stake com a palavra holder. A palavra stake pode ter a conotação de prêmio, risco, interesse, parte. Já a palavra holder pode significar proprietário, dono. A expressão “parte interes- sada” é uma das possíveis traduções para a palavra sta- keholder em português, sendo essa a expressão adotada no guia PMBOK, um Guia do Conhecimento em Geren- ciamento de Projeto (PROJECT MANAGMENT INSTI- TUTE, 2013). Doravante, ao longo deste trabalho, será adotada a palavra “stakeholder” ao se fazer referência à parte interessada. Ressalta-se que a equipe de projeto e os stakehol- ders são fortemente impactados em todas as ações dos projetos, seja no planejamento, na execução ou no con- trole. Tudo depende do grau de comprometimento, de cooperação e de coesão dos agentes. O PMBOK dedica um capítulo exclusivo ao gerenciamento dos stakeholders que participam do projeto (PMBOK, 2013). O nível de complexidade de um projeto cresce conforme o número de variáveis ou dimensões envolvi- das, sejam as pessoas, organizações ou atividades, o que ocasiona proporcionalmente maiores dificuldades em sua gestão (PMBOK, 2013). Um projeto só será exequível e gerará os resulta- dos desejados se houver coesão e apoio suficientemente fortes. Sem isso, qualquer projeto estará fadado ao in- sucesso. Por outro lado, se for bem-sucedido, algo novo deve surgir. Mudanças podem agradar ou desagradar, em maior ou menor grau, àqueles a quem afeta. Contudo, há que se ter em mente que a novidade é uma mudança que interfere no estado anterior das coisas. Assim, a adequada gestão e a busca sistêmica pelo comprometimento dos stakeholders tendem a levar ao su- cesso os projetos (BOUTILLIER, 2012). Nesse contexto estabelece-se a seguinte problemá- tica: qual a influência da sinergia na gestão dos stakehol- ders no desenvolvimento de projetos complexos? Este artigo tem como objetivo geral analisar o im- pacto da sinergia entre os stakeholders no desenvolvimen- to de projetos por meio do Estudo de Caso do Projeto CADE sem Papel. A consecução do objetivo se dará pelo alcance dos seguintes específicos: • Identificar e analisar os fatores que influenciam os processos de sinergia em gerenciamento de projetos tradicionais e de alta complexidade; • Comparar as práticas de gestão de stakeholders no modelo tradicional com as utilizadas no projeto SEI; • Avaliar os resultados obtidos na gestão das par-
  • 3. 55 UniversitasGestãoeTI,Brasília,v.6,n.2,p.53-65,jul./Dez.2016 Uma análise da mudança de paradigma na gestão para os stakeholders aplicada ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), na implantação do projeto: CADE sem papel (Sistema Eletrônico de Informações (SEI)) tes interessadas durante a implantação do pro- jeto SEI. As falhas em projetos podem decorrer de questões de interação humana, baixo entendimento na definição do escopo, elevado número de solicitações de mudanças, patrocínio com baixo índice de poder, estimativas subdi- mensionadas, falhas de comunicação, entre outras. Outro ponto crucial diz respeito à sistematização do gerencia- mento dos stakeholders no projeto. Na ausência de um modelo genérico que possa atender a todos os projetos no que tange à questão das relações humanas, criou-se uma série de ferramentas e instrumentos para controlar a duração, os resultados e os riscos. Entretanto, essas ferramentas não medem o com- prometimento ou motivação da equipe dentro do projeto. Este estudo evidencia que a análise dessa intera- ção é denominada sinergia, sendo esta acompanhada de leis físicas que esclarecem o momento ideal para as ações de retomada ou retroalimentação para fins de ajustes no projeto. Essas ações são originárias de entropias negativas que poderão ser representadas por essa sinergia, e atuam diretamente nas relações humanas levando em conside- ração os três pilares: Coesão, Colaboração e Convergên- cia (CCC). 2 Referencial teórico 2.1 O Fator Humano na gestão de stakeholders Segundo o PMBOK (2013), identificar os sta- keholders é o processo de reconhecer as pessoas, grupos ou organizações que podem afetar ou serem afetadas por uma decisão, atividade ou resultado do projeto. Busca analisar e documentar informações relevantes relativas a seus interesses, nível de engajamento, interdependências, influência e seu possível impacto no sucesso do projeto. O principal objetivo desse processo é possibilitar que o gerente de projetos identifique o direcionamento apro- priado para cada stakeholder ou grupo de stakeholders. O gerenciamento dos stakeholders é composto por quatro processos: • Identificar os stakeholders – o processo de iden- tificar pessoas, grupos ou organizações que po- dem afetar ou serem afetados por uma decisão, atividade ou resultado do projeto. Analisar e documentar informações relevantes aos seus interesses, nível de engajamento, interdepen- dências, influência e seu impacto no projeto; • Planejar o gerenciamento dos stakeholders – o processo de desenvolver estratégias apropria- das de gerenciamento para engajar os stakehol- ders de maneira eficaz no decorrer de todo o ciclo do projeto com base na análise das suas necessidades, interesses e impacto potencial no sucesso do projeto; • Gerenciar o engajamento dos stakeholders – o processo de se comunicar e trabalhar com os stakeholders para atender às suas necessidades/ expectativas, abordar as questões à medida que elas ocorrem e incentivar o engajamento apro- priado dos stakeholders nas atividades do pro- jeto em todo o ciclo de vida deste. • Controlar o engajamento dos stakeholders – o processo de monitorar os relacionamentos dos stakeholders no projeto em geral e ajustar as es- tratégias e planos para o engajamento destes. A Figura 1 ilustra uma visão geral dos processos que compõem o gerenciamento dos stakeholders. Figura 1 – Visão geral do gerenciamento dos stakeholders. Fonte: PMBOK, 2013. Tendo como premissa que o termo stakeholders envolve pessoas e organizações tais como clientes, patro- cinadores, a organização executora e o público ativamen- te envolvido, suas ações podem exercer influência sobre as entradas e saídas do projeto. Os stakeholders podem estar em diversos níveis da organização e ter diferentes graus de autoridade, ou estar fora da organização execu- tora do projeto. É fundamental para o sucesso do projeto identificá-los desde o início do planejamento e analisar seus níveis de interesse e expectativas individuais, assim como sua importância e influência. Considerando-se o tamanho, tipo e grau de complexidade, o processo de ge- renciamento de stakeholders deve ser interativo e ocorrer ao longo de todo o projeto. O gerenciamento dinâmico (em tempo real) e sis- têmico dos stakeholders se justifica em função da necessi- dade da interação destes com as fases do projeto. As fases
  • 4. 56 UniversitasGestãoeTI,Brasília,v.6,n.2,p.53-65,jul./Dez.2016 Dirceu Teixeira Polacchini de um projeto são compostas por processos. São definidas como uma série de ações que geram produtos ou serviços (BRASIL, 2014a). Esse conjunto de processos, ilustrado na Figura 2, mostra o importante papel que os diversos agentes exercem em todos os aspectos do projeto: a) Grupo de processos de Iniciação – define e au- toriza o projeto ou uma fase do projeto; b) Grupo de processos de planejamento – define e refina os objetivos e planeja a ação necessária para alcançar os objetivos e o escopo para os quais o projeto foi realizado; c) Grupo de processos de execução – integra pes- soas e outros recursos para realizar o plano de gerenciamento do projeto; d) Grupo de processos de monitoramento e controle – mede e monitora regularmente o processo de identificar variações em relação ao plano de gerenciamento do projeto de for- ma que possam ser tomadas ações corretivas, quando necessário, para atender aos objetivos do projeto; e) Grupo de processos de encerramento – forma- liza a aceitação do produto, serviço ou resulta- do e conduz o projeto ou uma fase do projeto a um final ordenado. Figura 2 - Fases do Projeto. Fonte: BRASIL, 2014a. Sternberg (1999) define stakeholder como uma pessoa que tem participação em algo que é desenvolvido por outros. Essa visão está relacionada com o fato de que algo está “em jogo, em processo de mudança”. Existe, portanto, um risco de ganho ou de perda de algo pelo stakeholder. Com base nessa premissa, repor- tamos alguns conceitos segundo Sternberg (1999): (ι) Interesse – é mais provável que as pessoas deem maior importância a um processo quando possuem interesse em seu resultado. Considera-se inclusive que o interesse não necessariamente é de ordem financeira; (ιι) Complexidade da realidade – a realidade é complexa. Diversos atores estão envolvidos e podem exercer influência sobre determinado projeto. Até quem não tem interesse direto num projeto pode prejudicar o andamento em função de suas ações ou falta de ações; e (ιιι) Stakeholders são detentores de direitos – esse conceito não está relacionado com a motivação financeira ou relações funcionais com o projeto. O conceito de stakeholders existe em função da existência de direitos destes em receber algo que esteja em conformidade com a sustentabilidade das gerações futuras, ou seja, as gerações futuras merecem herdar um mundo ambientalmente preservado, por essa razão, há o entendimento de que há legitimidade da intervenção do estado em qualquer tipo de projeto (STERNBERG, 1999). Rita Mulcahy (2013) preconiza a importância de se verificar pontos fundamentais quando do gerenciamento dos stakeholders ao longo dos projetos. O produto final os identifica nominalmente: seu cargo, papel no projeto, in- formações para contato, principais requisitos e expectati- vas, impacto e influência, atitude em relação ao projeto e as classificações em que o indivíduo se enquadra. A Figura 3 ilustra um modelo de registro de stakeholders. Figura 3 – Modelo de Registro de Stakeholders. Fonte: Mulcahy, 2013.
  • 5. 57 UniversitasGestãoeTI,Brasília,v.6,n.2,p.53-65,jul./Dez.2016 Uma análise da mudança de paradigma na gestão para os stakeholders aplicada ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), na implantação do projeto: CADE sem papel (Sistema Eletrônico de Informações (SEI)) Nessa linha, o conceito de gerenciamento dos stakeholders torna-se problemático e complexo. Esse ge- renciamento aborda processos que não são incorporados pelo gerenciamento dos stakeholders, como coletar requi- sitos, planejar o gerenciamento das comunicações, ge- renciar as comunicações e planejar o gerenciamento dos recursos humanos, entre outros. No entanto, ele retrata o importante papel dos stakeholders em todos os aspectos do projeto. A Figura 4 apresenta um mapa mental que destaca pontos fundamentais no gerenciamento de stakeholders. Figura 4 – Pontos fundamentais no gerenciamento de Stakehol- ders. Fonte: Mulcahy, 2013 (com adaptações). 2.2 A sinergia, a entropia e a retroalimentação em projetos complexos Entende-se como sinergia o efeito multiplicador das partes de um sistema que o leva a um resultado final maior do que seria a soma dos resultados parciais dessas partes, se acontecessem isoladamente (CHIAVENATO, 2004). Quando uma equipe atua de forma sinérgica, fo- cada no resultado comum e compartilhado, a tendência é que os resultados sejam positivos e os objetivos atingidos. Isso se deve à convergência de interesses e esforços. Des- sa forma, os membros da equipe passam a fazer parte de algo maior e a compartilhar do objetivo comum, que é alcançar o bom para todos. Evidencia-se, assim, um convívio mais agradável, pois os desafios colocados são sempre encarados como uma tarefa em equipe, de modo que as pessoas passam a se sentir parte de algo que está acima dos seus interesses indi- viduais (soma do todo). Isso gera identidade para a equipe e tende a ser uma referência para futuros trabalhos. Outro aspecto importante diz respeito ao fato de que todo projeto tende à entropia (caos), que é a principal causa de falhas em projetos. Entende-se como entropia a desordem ou “bagunça” que pode resultar em perdas de energia (comunicação, informação, motivação etc.) e, consequentemente, degradação do sistema (CHIAVEN- NATO, 2004). Se a entropia é um processo pelo qual um sis- tema tende à exaustão, à desorganização, à de- sintegração e, por fim à morte, para sobreviver o sistema precisa abrir-se e reabastecer-se de energia e de informação para manter a sua es- trutura. Sabe-se que para evitar os efeitos e im- pactos da entropia os processos de retroalimen- tação são fundamentais para manter a sinergia ao longo da realização dos projetos (ALVARES, [2016], p.). A retroalimentação é uma parte da energia de saí- da de um sistema que retorna à sua entrada. Esse processo serve para comparar de alguma forma como o sistema se comporta em relação ao padrão estabelecido. Se ocorrer algum desvio ou discrepância, a retroalimentação se en- carrega de alertar o sistema, viabilizando com que ajustes ou melhorias sejam realizadas. Para que ocorra a efetiva retroalimentação, é imperativo que haja um processo sistêmico de coleta de informações ao longo de todos os processos de de- senvolvimento do projeto. Um sistema retroalimentado é, necessariamente, um sistema dinâmico, ou seja, uma saída é capaz de alterar a entrada que a gerou, e, conse- quentemente, a si própria. Sendo assim, a interação com o ambiente no sistema aberto gera retroalimentações que podem ser positivas ou negativas, criando, dessa forma, a autorregulação regenerativa, que, por sua vez, cria novas propriedades que podem ser benéficas ou maléficas para o todo, independente das partes. (ALVARES, [2016]). A Figura 5 ilustra de forma simplificada o processo de re- troalimentação. Figura 5 – Processo de Retroalimentação. Fonte: Alvares, [2016]. Os sistemas são conjuntos de elementos dinami- camente relacionados para atingir um objetivo. Os prin- cipais conceitos relacionados com os sistemas são:
  • 6. 58 UniversitasGestãoeTI,Brasília,v.6,n.2,p.53-65,jul./Dez.2016 Dirceu Teixeira Polacchini • Entradas (inputs): o que alimenta o sistema para que ele possa operar. Constitui tudo o que o sistema recebe de seu mundo exterior (am- biente) e, genericamente, pode ser: materiais, informação e energia; • Saídas (output): tudo o que o sistema produz é informação que serve como entrada para ou- tros processos ou para a própria retroalimen- tação. Neste estudo de caso, a informação é subsídio para a redução de incerteza, pois é o conhecimento utilizado para orientar a ação e reduzir o grau de dúvida ou insegurança que cercam as decisões cotidianas; • Processamento: é um conceito que exprime todo o trabalho (processo) que o sistema exe- cuta internamente para produzir suas saídas a partir das entradas que recebe, mas que não pode ser desvendado, pois os elementos inter- nos são desconhecidos. Ele (o interno ao siste- ma) se dá a conhecer, apenas, mostrando como as manipulações e as entradas levam a tais ou quais resultados; e • Retroalimentação: também denominado como feedback ou retro informação, constitui-se no retorno de uma parcela da energia de saída de um sistema à entrada para informar e promo- ver mudanças necessárias. Bertalanffy (1975), por meio da Teoria Geral dos Sistemas, demonstra o isomorfismo das várias ciências. Essa teoria é, essencialmente, totalizante: os sistemas não podem ser plenamente compreendidos apenas pela análise separada e exclusiva de cada uma de suas partes. Ela se baseia na compreensão da depen- dência de todos os processos e da necessidade de sua integração. Então, o processo de retroalimentação é, na ver- dade, uma ação homeostática, ou seja, a busca constante do equilíbrio dinâmico, traduzindo-se em novos procedi- mentos de reconstrução, desconstrução e autorregulação. 3 Método de pesquisa No que se refere à metodologia científica, a presen- te pesquisa pode ser definida como aplicada e descritiva. Segundo Vergara (2000), a pesquisa descritiva expõe as características de determinada população ou fenômeno, estabelece correlações entre variáveis e define sua natureza. O delineamento da pesquisa é qualitativo na me- dida em que o estudo de caso possui como fontes os da- dos primários do Projeto CADE sem Papel, como rela- tórios, fluxos processuais e atas de reunião. A pesquisa documental é bastante utilizada em trabalhos puramente teóricos e naqueles em que o delineamento principal é o estudo de caso, pois exigem, em boa parte dos casos, a coleta de documentos para análise (MARCONI; LAKA- TOS, 1996). Esta pesquisa considera a observação participativa que é uma coleta de dados para conseguir informações sob determinados aspectos da realidade. Visa identificar as inferências das relações causais tendo contato direto com a realidade, como cita Marconi e Lakatos (1996, p. 42): “[...] identificar e obter provas a respeito de objetivos sobre os quais os indivíduos não têm consciência, mas que orientam seu comportamento”. Para observar os processos sinérgicos e os fatores que influenciam o desempenho de um projeto com a ade- quada gestão para os stakeholders, escolheu-se o projeto CADE sem Papel, cuja principal entrega foi a implanta- ção do processo eletrônico no órgão por meio da adoção do Sistema Eletrônico de Informações (SEI), cedido sem ônus pelo Tribunal da 4ª Região da Justiça Federal (que inclui os três estados da região sul do Brasil - PR, RS, SC), a partir da celebração de Acordo de Cooperação Técnica (ACT).2 4 Desenvolvimento 4.1 Análise comparativa no modelo tradicional de gestão e o modelo adotado no projeto SEI A demanda que ensejou os trabalhos do Projeto CADE sem Papel originou-se em 2009, em razão da ne- cessidade identificada pelo Conselho de tornar mais efi- ciente a troca de processos e informações entre os três órgãos do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC) existente na época, a saber: CADE, Secretaria de Direito Econômico (SDE/MJ) e Secretaria de Acompa- nhamento Econômico (Seae/MF). Com a aprovação da Nova Lei da Concorrência (Lei n. 12.529/11, de 30 de novembro de 2011), que rees- truturou o SBDC e centralizou no CADE as atividades 2   Minuta de Acordo de Cooperação Técnica – ACT. Disponí- vel em: <https://softwarepublico.gov.br/social/sei/arquivos/ minuta.act.pen.sei.docx>. Acesso em: 08 maio 2016.
  • 7. 59 UniversitasGestãoeTI,Brasília,v.6,n.2,p.53-65,jul./Dez.2016 Uma análise da mudança de paradigma na gestão para os stakeholders aplicada ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), na implantação do projeto: CADE sem papel (Sistema Eletrônico de Informações (SEI)) de instrução e julgamento de processos (de condutas anticoncorrenciais e de controle de concentrações), bem como instituiu novo procedimento de notificação prévia de Atos de Concentração (AC), o plano do projeto CADE sem Papel precisou ser alterado para se ajustar ao novo arranjo institucional e às novas competências da autar- quia (CADE, 2015). Tendo como premissa que o ponto essencial para qualquer projeto é a conformação entre as necessidades dos stakeholders ou a busca pela harmonia entre as neces- sidades dos stakeholders e os objetivos do projeto, de nada adianta desenvolver um projeto se, ao final, o produto en- tregue não corresponde às expectativas e/ou necessidades destes. Para além dos diversos agentes de um projeto, as entregas pretendidas devem focar no cliente. O atendi- mento das expectativas do cliente passa pelo conceito de valor. Valor é algo que é reconhecido quando os clien- tes enxergam algum benefício. (JAYASWAL; PATTON; ZULTNER, 2007). A forma adotada na condução do projeto com foco na mudança de paradigma fez com que o CADE se tornasse referência na implantação do SEI. Esse desafio pode ser traduzido pela busca em gerenciar o projeto para os stakeholders em vez de haver preocupação em realizar o gerenciamento dos stakeholders do projeto.3 As pessoas entendem, erroneamente, que gerenciar stakehol- ders envolvem processos formais e burocráticos para ge- rir suas expectativas. Isso é mais ou menos como planejar um projeto e depois definir estratégias de maneira a evitar interferências dos stakeholders em sua execução. Na reali- dade estudada, a estratégia foi gerenciar o projeto para os stakeholders. Não se trata de um simples jogo de palavras, mas de uma grande mudança de paradigma (TRENTIM, 2013). Portanto, o gerenciamento para os stakeholders deve estar fundamentado em sólida base de identificação dos benefícios desejados, definição e criação de valor e relacionamentos, em um processo de retroalimentação contínuo. A Figura 6 ilustra o gerenciamento dos sta- keholders focado em valor (TRENTIM, 2013). 3   O SEI foi adotado por 25 instituições do Executivo Federal desde 2014, e outras 119 manifestaram interesse em ade- rir. O Cade tornou-se referência nessa implantação, sendo requerido para disseminar a sua metodologia de gerencia- mento de projeto, o que deu ensejo a várias apresentações do projeto para os mais diversos órgãos do governo. Figura 6 – Gerenciamento dos stakeholders focados em valor. Fonte: Trentim, 2013. É fundamental identificar e listar os stakeholders desde o início da concepção do projeto. Essa lista tende a crescer ao longo do planejamento como forma de garan- tir que as áreas internas e externas da organização sejam contempladas. Deve-se considerar a premissa de que os stakeholders têm o poder de influenciar os destinos do projeto. É essencial identificar, de forma clara, a relação entre o poder e o interesse no projeto em desenvolvimen- to como forma de minimizar o impacto sobre os resulta- dos esperados. A matriz da Figura 7 ilustra a identificação do grau de poder versus o nível de interesse, tendo como re- ferência a seguinte análise: • Grade de poder/interesse: agrupar os stakehol- ders nos seus níveis de autoridade [“PODER”] e nos seus níveis de preocupações [“INTERES- SE”] a respeito das entregas do projeto. • Grade de poder/influência: agrupar os sta- keholders com base nos seus níveis de autori- dade [“PODER”] e nos seus envolvimentos ati- vos [INFLUÊNCIA”] no projeto. • Grade de influência/impacto: agrupar os sta- keholders com base nos seus níveis de envolvi- mento ativo [“INFLUÊNCIA”] no projeto e nas suas capacidades de efetuar mudanças no plano de projeto ou na execução [“IMPACTO”]. • Grade de importância: classificar os stakehol- ders com base nos seus poderes [“CAPACIDA- DE DE IMPOR A SUA VONTADE”], urgência [“NECESSIDADE DE ATENÇÃO IMEDIA- TA”] e legitimidade [“SEU ENVOLVIMENTO É APROPRIADO”].
  • 8. 60 UniversitasGestãoeTI,Brasília,v.6,n.2,p.53-65,jul./Dez.2016 Dirceu Teixeira Polacchini Figura 7 – Matriz de Relacionamento: poder versus interesse. Fonte: Do Autor Recursos humanos são ativos fundamentais no desenvolvimento de projetos. Daí a necessidade de sele- cioná-los de maneira tal que todas as áreas em que o pro- jeto poderá impactar ou ser afetado tenham stakeholders participativos. Essa seleção deve ser quantitativa e qua- litativa, como forma de minimizar os riscos do projeto. Devem ser identificados claramente seus papéis, habili- dades necessárias, níveis de conhecimento e relaciona- mento. O projeto CADE sem Papel atendeu à premissa de identificação da relação “Poder versus Interesse” com a instalação dos diversos perfis demandados em um local específico para o trabalho, por meio da instalação do que foi intitulado “Sala de Guerra” do projeto. 4.2 Aplicação da sinergia no desenvolvimento do projeto sei Segundo Bertalanffy (1975), uma organização retroalimentada e autogerenciada gera um sistema cujo funcionamento é dinâmico e independente, ou seja, au- torregulado, no qual o todo assume as tarefas da parte que falhou. A equipe do projeto CADE sem Papel, responsá- vel por instituir o SEI na autarquia, utilizou procedimen- tos que estão alinhados com essa visão e corroboram o entendimento de que o organismo é um todo maior que a soma das partes – o que chamamos de sinergia. Para manter a sinergia, o processo de comunica- ção efetiva entre os agentes, é essencial. Segundo Kro- gh, Ichiro e Nonaka (2001), as conversas que inspiram a criação do conhecimento exigem abertura, paciência, capacidade de ouvir, experimentação de novos termos e conceitos, polidez, formação de argumentos convincen- tes e coragem. O gerente de projeto é como um diretor de cinema. Este quer que cada um dos atores seja tão cria- tivo e capaz quanto possível os estimula a de- sempenhar seu papel com o máximo de foco e energia. A primeira tarefa é definir o papel dos atores e para o gerente de projeto é encorajar a participação ativa nas conversas, ajudando a formar micro comunidades, onde e quando necessário. O diretor por vezes efetua cortes para assegurar a qualidade do filme e também intervém quando a integração entre atores é deficiente. Do mesmo modo, os bons gerentes de projeto interferirão nas conversas quando a qualidade dos conceitos discutidos for inacei- tável, quando se abordarem ao mesmo tempo muitas ideias ou quando a compreensão entre os participantes parecer inadequada. Infeliz- mente gerentes de projeto, ao contrário dos diretores de cinema, não dispõe de roteiros em que se basear as intervenções (KROGH; ICHI- RO; NONAKA, 2001, p. 95). Para que se tenha, plenas, condições de man- ter a sinergia na gestão dos stakeholders, é fundamental atentar-se para a entropia natural que ocorre ao longo do desenvolvimento dos projetos, independentemente do porte e, para tanto, a ferramenta de retroalimentação deve ser um processo vivo e interativo, visando garantir a visão compartilhada do todo. Do ponto de vista de Senge (1990, p. 30): Uma visão compartilhada é uma força no cora- ção das pessoas, uma força de impressionante poder. Pode ser inspirada por uma ideia, mas quando evolui deixa de ser abstração. Torna-se palpável. Os stakeholders passam a vê-la como se existisse. Poucas forças, se é que existe uma, nas questões humanas são tão poderosas quan- to uma visão compartilhada. O desenvolvimento de projetos complexos, por si só, representa grandes desafios. Para que a equipe de projeto tenha sucesso, é crítico selecionar pessoas que te- nham o desejo de solucionar problemas, para que a siner- gia se mantenha viva. É fundamental que essas pessoas se sintam parte integrante da solução e tenham o sentimen- to claro da responsabilidade pela transformação da visão em realidade. Senge (1990, p. 30) enfatiza que “não se pode fazer coisa alguma para impor a participação ou o comprome- timento de outra pessoa. Participação e comprometimen- to exigem liberdade de escolha”. E sugere três regras para o desafio: 1ª regra: Participe. Não há motivo para tentar encorajar a participação de uma outra pessoa se você não participa. Isso seria venda e não par- ticipação. Na melhor das hipóteses, produzirá uma forma superficial de acordo ou aceitação. Pior, espalhará as sementes de futuros ressen- timentos. 2ª regra: Fale sempre a verdade. Não aumente os benefícios e não esconda os problemas. Des- creva a visão de forma mais simples e honesta possível. 3ª regra: Dê aos colaboradores o direito da es-
  • 9. 61 UniversitasGestãoeTI,Brasília,v.6,n.2,p.53-65,jul./Dez.2016 Uma análise da mudança de paradigma na gestão para os stakeholders aplicada ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), na implantação do projeto: CADE sem papel (Sistema Eletrônico de Informações (SEI)) colha. Não é necessário convencê-los dos be- nefícios da visão. Quanto mais disposto você estiver ao dar o direito da escolha, mais livre ele se sentirá. Isto pode ser difícil no relaciona- mento com subordinados que frequentemente estão condicionados a se sentir na obrigação de segui-lo. Mesmo assim você pode ajudar, dan- do-lhes tempo e segurança para que possam desenvolver sua própria interpretação da visão, participação e comprometimento exigem liber- dade de escolha. Dentre as possíveis estratégias para manter viva a integração entre todos os stakeholders, o endomarketing foi adotado como campanha que contemplava a gestão de mudanças. A equipe de projeto transitava livremente pelas diversas áreas da organização buscando identificar potenciais restrições ao projeto, tendo como missão levar esclarecimentos sobre sua importância para a organiza- ção. De maneira simétrica, a equipe ouvia todas as críti- cas e sugestões apresentadas pelos integrantes do órgão, as analisava e avaliava a possibilidade de sua incorpora- ção ao projeto por meio do comitê de mudanças. Para que o SEI entrasse em produção de forma segura, estável e atendendo aos anseios do órgão e da so- ciedade, foi implementado um plano de capacitação dos usuários. O plano englobou a totalidade dos 320 colabo- radores, em suas áreas e atividades específicas. Também foi realizada capacitação pontual para as autoridades da autarquia. A tabela 1 ilustra o plano de capacitação apli- cado. Segundo Krogh, Ichiro e Nonaka (2001), promover o conhecimento estimula a inovação. Essa técnica de in- tervenção e moderação inspira as conversas que surgem a partir de ferramentas de comunicação. A exemplo dos “banners” distribuídos ao longo das dependências da au- tarquia com palavras relacionadas aos objetivos do pro- jeto, os “broches” utilizados pelos integrantes da equipe após os treinamentos, com os dizeres “Eu SEI, pergunte- -me como” garantiam seu fácil reconhecimento. Para o processo de capacitação, foram identifica- dos três tipos de perfis básicos: • Alta direção: são os ocupantes de cargos de Di- reção e Assessoramento Superiores - DAS 4, 5, 6 e Natureza Especial - NE. Precisam de conhe- cimentos básicos do sistema em suas rotinas de trabalho. Não serão operadores frequentes do sistema, pois muitas rotinas não são de suas responsabilidades, mas precisam entender pro- cedimentos básicos do SEI e algumas de suas aplicações às dinâmicas específicas do CADE; • Usuário padrão: todos aqueles que operam o sistema, elaboram documentos e buscam infor- mações. É a grande maioria dos colaboradores do CADE; • Coordenação-Geral Processual - CGP: usuá- rios cujas rotinas serão alteradas de maneira mais contundente, exigindo maior esforço para a organização da equipe e redesenho de tarefas. A partir dos tipos de perfis, foram caracterizados os seguintes tipos de treinamentos: • Básico: é o treinamento padrão mínimo para todos os colaboradores. Inclui sensibilização sobre o SEI, panorama do sistema e funciona- lidades básicas. Ministrado no espaço do ple- nário do CADE sem necessidade de suporte do computador; • Específico: envolve sugestões de processos de trabalho para as rotinas e uso mais avançado das ferramentas do sistema. Exige a utilização de computador o que torna as turmas menores. Constitui-se de três blocos: área meio, área-fim e CGP; • Sensibilização: reunião com todas as chefias do CADE para ressaltar a importância do uso do módulo de treinamento do sistema e da utiliza- ção de suas funcionalidades. Com esse plano de capacitação, o CADE garan- tiu que todas as unidades onde estão distribuídos seus colaboradores estariam em plenas condições de enfren- tar o grande desafio de uma mudança de paradigma nas suas rotinas diárias. Tratava-se de uma virada total nos seus métodos de trabalho - até 31 de dezembro de 2014 trabalhava-se com processos em papel e, a partir de 2 de janeiro de 2015, todos os processos passaram a ser 100% digitais, tanto para a área meio como a área-fim.
  • 10. 62 UniversitasGestãoeTI,Brasília,v.6,n.2,p.53-65,jul./Dez.2016 Dirceu Teixeira Polacchini Tabela 1 – Plano de capacitação. Título Descrição Quem? Objetivos de Instrução Módulo Básico Apresentação geral do SEI e regras de funcionamento do CADE a partir de 2015, e apresentar os impactos de implementação para a unidade interna e externa (máx. 70 pessoas) TODOS: Servidores, estagiários, apoio administrativos e secretárias de todos os setores do CADE (área meio e fim) Conhecimentos: Compreender as premissas do SEI (navegação por unidade, níveis de acesso Reconhecer as funcionalidades no menu do SEI Identificar as principais ferramentas do sistema Identificar os impactos da implantação do SEI nas rotinas internas e externas de trabalho. Habilidades: uso das funcionalidades do SEI (link de documentos) necessárias. Atitudes: explorar o ambiente de treinamento Módulo 1 Principais comandos para criar e movimentar processos e documentos, relacionamento entre processos, funcionalidades de gestão interna (máx. 36 pessoas) TODOS: Servidores, estagiários, apoio administrativos e secretárias de todos os setores do CADE (área meio e fim) Conhecimentos: Iniciar um processo e incluir documentos (interno e externo) Habilidades: uso das funcionalidades do SEI (link de documentos) necessárias Atitudes: Utilizar o editor do SEI para elaborar documentos Propor soluções para as rotinas das áreas. Módulo 2 Acesso externo e Avocação (máx. 36 pessoas) Tribunal e Superintendência: servidores e secretários Coordenação-Geral Processual: servidores e apoios administrativos Conhecimentos: compreender a dinâmica de concessão de acesso externo (sistema e processo interno) e avocação de processos. Apresentar a rotina de acesso. Diferenciar Usuário Externo X Acesso Externo. Habilidades: uso das funcionalidades do SEI (link de documentos) necessárias Atitudes: explorar o ambiente de treinamento. Módulo 3 Sessão de julgamento (máx. 36 pessoas) Tribunal e Superintendência: servidores e secretários Coordenação-Geral Processual: servidores e apoios administrativos. Conhecimentos: compreender a dinâmica de criação dos documentos da pauta e ata de julgamento Habilidades: uso das funcionalidades do SEI (link de documentos) necessárias. Atitudes: explorar o ambiente de treinamento. Módulo 4 Botão CADE para coleta de dados para estatísticas (máx. 36 pessoas) Servidores da Superintendência- Geral, Departamento de Estudos Econômicos e Procuradoria Federal - Servidores e apoios administrativos da Coordenação-Geral Processual Conhecimentos: informações contidas nos botões e momento de preenchimento; Compreender como gerar relatórios usando o BI Habilidades: uso das funcionalidades do SEI (link de documentos) necessárias. Atitudes: atenção a detalhes, para auditorias no sistema Módulo 5 Arquivamento no SEI (máx. 36 pessoas) Coordenação-Geral Processual: servidores e colaboradores do Arquivo e Biblioteca. Conhecimentos: conhecer o módulo de arquivamento. Habilidades: uso das funcionalidades do SEI (link de documentos) necessárias. Atitudes: Organizar a estrutura de funcionamento do arquivo do CADE Workshop 1 Gestão Processual (máx. 36 pessoas) Coordenação-Geral Processual Servidores e apoios administrativos da Conhecimentos: Revisar a dinâmica de criação dos documentos da pauta e ata de julgamento Habilidades: utilizar as ferramentas de gerenciamento. Atitudes: abertura para utilizar o SEI como ferramenta de gestão. Workshop 2 Workshop de controles internos de processos e bases de conhecimento (máx. 36 pessoas) Chefias de todas as áreas do CADE (área meio e fim).  - Núcleo Gestor do SEI Conhecimentos: revisar as funcionalidades de blocos, atribuição de processos e retorno programado Habilidades: utilizar as ferramentas para gerenciamento Atitudes: abertura para utilizar o SEI como ferramenta de gestão Fonte: Brasil, 2014b.
  • 11. 63 UniversitasGestãoeTI,Brasília,v.6,n.2,p.53-65,jul./Dez.2016 Uma análise da mudança de paradigma na gestão para os stakeholders aplicada ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), na implantação do projeto: CADE sem papel (Sistema Eletrônico de Informações (SEI)) 4.3 SEI – resultados obtidos – aplicação da sinergia Observa-se que a sinergia existe quando duas ou mais causas produzem, agindo conjuntamente, um efeito maior do que a soma dos efeitos que produziriam quan- do atuando individualmente. Assim, a sinergia consis- te no efeito multiplicador das partes de um sistema em alavancar seu resultado global. Enfatiza-se que a base de referência para o sucesso do projeto teve como pilares: Coesão, Colaboração e Convergência (CCC). O segredo para evitar os efeitos e impactos da entropia ao longo do desenvolvimento do projeto foi a retroalimentação apli- cada de forma integrada, em tempo real, a todos os pro- cessos em andamento. Dessa forma, o Projeto CADE sem Papel contri- buiu para a atuação mais eficiente da autarquia, na me- dida em que otimizou as rotinas de trabalho, disponibili- zou instrumentos de gestão de processos e das equipes e possibilitou a organização do conhecimento. Ademais, a eliminação de papel com a adoção do processo eletrônico promove a sustentabilidade econômica e ambiental, além de gerar redução dos custos de transação para os admi- nistrados. Essa solução permite ao CADE concentrar seus esforços na construção da capacidade de detecção proa- tiva de problemas concorrenciais e focar nos elementos essenciais para a consecução da política pública de defesa da concorrência no Brasil. Vale ressaltar que a atuação mais eficiente do CADE produz efeitos em curto e em longo prazo para o ambiente econômico e sociedade como um todo, tais como: (i) reduz pressões para aumentos de preços pelo exercício de poder de mercado; (ii) favorece o investi- mento em pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias; (iii) incentiva o aumento de produtividade; e (iv) cria uma atmosfera mais favorável e menos incerta ao inves- timento. 4.4 Impactos na instituição e na sociedade: promo- ção da transparência ativa e/ou passiva – ino- vação Em 2015, a Controladoria Geral da União - CGU instituiu o 3º Concurso de Boas Práticas da CGU. O con- curso foi realizado em cinco etapas e distribuído em ca- tegorias: (i) Aprimoramento das Auditorias Internas; (ii) Aprimoramento dos Controles Internos; (III) Aprimora- mento das Apurações Disciplinares e de Responsabiliza- ção de Entes Privados; (IV) Aprimoramento das Ativi- dades de Ouvidoria; e (V) Promoção da Transparência Ativa e/ou Passiva. O CADE foi o vencedor da categoria Promoção da Transparência Ativa e/ou Passiva com uma das entregas do Projeto CADE sem Papel, a Pesquisa Pública de Pro- cessos Administrativos. Trata-se de módulo desenvolvido internamente que funciona acoplado ao SEI. No sistema SEI, o acesso aos processos pelo pú- blico externo era limitado às pessoas previamente cadas- tradas como usuárias externas, o que possibilitava, ainda, a liberação dos processos eletrônicos para a assinatura virtual de documentos, tais como contratos e convênios. Para tanto, era necessário o credenciamento do interes- sado por obtenção de login e senha de acesso ao sistema. Assim, o sistema estava apto a atender a transpa- rência passiva, ou seja, disponibilizar informações públi- cas em atendimento a demandas específicas. Contudo, havia uma lacuna, ou seja, o CADE não atendia à trans- parência ativa nas questões referentes a Lei de Acesso à Informação (LAI) (Lei n. 12.527/2011, de 18 de novem- bro de 2011), que regulamenta o direito constitucional de acesso às informações públicas (BRASIL, 2011). O CADE tem como preocupação a divulgação do andamento de seus processos classificados como pú- blicos e o acompanhamento pelas partes e advogados como garantia do devido processo legal. O andamento dos processos deve ser uma fonte fiável de informações em tempo real, permitindo visualizar o estágio em que se encontra e sua composição, com acesso integral às peças processuais públicas. No que diz respeito à transparência ativa, a Reso- lução n. 11/2014, de 24 de novembro de 2014 instituiu o SEI como sistema de processo eletrônico do CADE. Tam- bém determinou que qualquer pessoa pode ter acesso aos processos e documentos no SEI, bem como acompanhar o trâmite processual, independentemente de credencia- mento prévio, ressalvadas as hipóteses legais de restrição de acesso. A Pesquisa Pública de Processos Administrativos (disponível pelo sítio web www.cade.gov.br, com acesso pelo botão “Pesquisa Processual”) eliminou a necessidade de deslocamento ao CADE para a consulta de processos públicos e mereceu elogios do público externo ante a di- vulgação proativa, em local de fácil acesso, no âmbito de sua competência, de informação geral de interesse coleti- vo por si produzida ou custodiada. Dentro da busca pela celeridade e transparência
  • 12. 64 UniversitasGestãoeTI,Brasília,v.6,n.2,p.53-65,jul./Dez.2016 Dirceu Teixeira Polacchini na gestão pública, em 7 de outubro de 2015, foi publica- do o Decreto nº 8.539, que dispõe sobre o uso do meio eletrônico para a realização do processo administrativo no âmbito dos órgãos e das entidades da administração pública federal direta, autárquica e fundacional. A expec- tativa é de que até outubro de 2017 todos os processos em papel da esfera do executivo federal migrem para o meio eletrônico (BRASIL, 2015). Atualmente, 25 órgãos entre ministérios e autar- quias já implantaram o sistema e extinguiram os proces- sos em papel. Dos 224 órgãos federais, 119 já estão en- volvidos de alguma maneira com o projeto, seja em fase de análise de viabilidade ou em fase de implantação do sistema. 5 Considerações finais O contexto apresentado por este estudo baseia-se, principalmente, na problemática da influência da siner- gia na gestão para os stakeholders em projetos de grande magnitude e impacto nas organizações. Por meio de aná- lise comparativa das melhores práticas de gestão de pro- jetos na sua forma tradicional com o modelo adotado no SEI, constatou-se a mudança de paradigma desse modelo para uma forma mais dinâmica de gestão, tornando-se intuitiva e, principalmente, autogerenciável. Em relação a essa nova perspectiva, ao modelo tradicional são adicionadas novas práticas que interfe- rem, diretamente, na forma como a equipe se relaciona no desenvolvimento e implantação de um projeto. Por exemplo, pensar na organização como um ser vivo que atua diariamente e interage como um sistema biológico, ao fazer com que a integração entre conhecimento e si- nergia seja um processo sistêmico. Como fatores que foram identificados e estudados como influenciadores da sinergia dentro da gestão para os stakeholders neste artigo, destacam-se a Autogestão; Modelo de Gestão Compartilhada; Endomarketing; e Ca- pacitação. Ressaltam-se, de forma complementar, algumas regras aplicadas neste artigo como boas práticas: Analisar segundo as melhores práticas de geren- ciamento de projeto a identificação dos stakeholders; a. Apresentar como a integração da gestão do co- nhecimento com retroalimentação ativa gera a sinergia; b. Utilizar projetos de sucesso dentro da orga- nização como modelo de referência e cultura, promovendo melhorias; c. Quebrar o paradigma com a participação ati- va de toda a organização convergindo para o atingimento das metas e resultados esperados; d. Adequar a identificação da relação de satisfa- ção x benefícios; e. Motivar e criar o ambiente de projeto para o processo de sinergia ser sistêmico; f. Gerar o endomarketing da organização (ven- der seu produto); g. Capacitar de forma direcionada às necessida- des reais de cada público; h. Aplicar os 3Cs - Coesão, Colaboração e Con- vergência; i. Promover reconhecimento dos participantes e do próprio projeto. Dentre os principais fatores limitantes, pode-se destacar as bibliografias disponíveis, uma vez que tratam, isoladamente, da importância da gestão dos stakeholders, sem que considerem claramente a integração ativa da ges- tão do conhecimento com as ferramentas e técnicas da gestão de projetos. Entretanto, para o desenvolvimento deste estudo de caso, não se considerou que essa dissocia- ção tenha causado restrições aos seus resultados. Como este estudo de caso não teve como foco a integração dos stakeholders com a totalidade de processos adotados no âmbito de gerenciamento de projetos, suge- re-se que seja aprofundado o estudo do tema sinergia em Gerenciamento de Projetos como uma agenda futura de estudo. Referências ALVARES, Lilian. Teoria geral dos sistemas, [2016]. Ma- terial de aula da disciplina Planejamento e Gestão de Unidades Arquivísticas, do curso de Arquivologia da Universidade de Brasília. Disponível em: <http://lillian. alvarestech.com/Planejamento/Modulo1/Aula11TGS. pdf>. Acesso em: 06 mar. 2016. BERTALANFFY, Ludwig Von. Teoria geral dos sis- temas. São Paulo: Vozes, 1975. Disponível em: <https://www.google.com.br/webhp?sourceid=- chrome-instant&ion=1&espv=2&ie=UTF-8#q=Te- oria+Geral+dos+Sistemas%3B+BERTALANFFY%- 2C+Ludwig+Von.%3B+Ed.+Vozes%3B197>. Acesso em: 18 mar. 2016.
  • 13. 65 UniversitasGestãoeTI,Brasília,v.6,n.2,p.53-65,jul./Dez.2016 Uma análise da mudança de paradigma na gestão para os stakeholders aplicada ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), na implantação do projeto: CADE sem papel (Sistema Eletrônico de Informações (SEI)) BOUTILLIER, R. A stakeholder approach to issues man- agement. Nova York: Business Expert, 2012. BRASIL. Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Projeto Cade sem papel. Sitio com informações detalha- das sobre o projeto Cade sem papel. 2016. Disponível em: <http://sempapel.cade.gov.br/>. Acesso em: 23 mar. 2016. BRASIL. Conselho Administrativo de Defesa Econômi- ca. Resolução n. 11, de 24 de novembro de 2014b. Insti- tui o sistema eletrônico de informações. Disponível em: <http://www.cade.gov.br/upload/Despacho%20339%20 -%20Resolu%C3%A7%C3%A3o%20n%C2%BA%20 11%20de%202014.pdf>. Acesso em: 23 mar. 2016. BRASIL. Decreto n. 8.539, de 8 de outubro de 2015. Dis- põe sobre o uso do meio eletrônico para a realização do processo administrativo no âmbito dos órgãos e das enti- dades da administração pública federal direta, autárquica e fundacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Decreto/D8539.htm>. Acesso em: 24 mar. 2016. BRASIL. Escola Nacional de Administração Pública. Ge- rência de projetos: teoria e prática: módulo 1: introdução ao gerenciamento de projetos. Brasília: ENAP, 2014a. BRASIL. Lei n. 12.527, de 18 de novembro de 2011. Regu- lamenta o direito constitucional de acesso às informações públicas. Disponível em: <http://www.acessoainforma- cao.gov.br/assuntos/conheca-seu-direito/a-lei-de-aces- so-a-informacao>. Acesso em: 23 mar. 2016. CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. 7. ed. São Paulo: Campus, 2004. JAYASWAL, B. K.; PATTON, P. C.; ZULTENER, R. E. Understanding customer needs: software QFD and voice of the customer. Upper Saddle River: Prentice Hall, 2007. KROGH, G. V.; ICHIRO, K.; NONAKA, I. Facilitando a criação do conhecimento: reinventando a empresa com o poder da inovação contínua. Rio de Janeiro: Campus, 2001. MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de pesqui- sa: planejamento e execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisas, elaboração e interpretação de da- dos. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1996. MULCAHY, Rita. Preparatório para o exame de PMP. 8. ed. Rio de Janeiro: RMC Publications, 2013. PROJECT MANAGMENT INSTITUTE. Um guia do co- nhecimento em gerenciamento de projetos. 5. ed. Newton Square: PMBOK, 2013. STERNBERG, E. The stakeholder concept: a mistaken doctrine. Leeds: Foundation for Business Responsibili- ties, 1999. TRENTIM, Mário Henrique. Managing Stakeholders as Clients. Newtown Square: Project Management Institute, 2013. VERGARA, Sylvia C. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2000.