SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 19
Escola Secundária Artística António Arroio  “Se Conhecerdesa Verdade, ela vos libertará?" Unidade 731 Elaborado pela aluna Ângela Gil Fachadas  11M
A descoberta de corpos sob as ruas de Tóquio obrigou o Japão a admitir que seres humanos foram usados em experiências de armas biológicas.
"Cortei abrindo-o do peito ao estômago enquanto ele gritava terrivelmente. Para os cirurgiões, isto era o trabalho rotineiro"  Legista anónimo, UNIDADE 731  Sob o asfalto das ruas de Tóquio existe um depósito de restos humanos. Os operários que trabalhavam em Shinjuku, um movimentado e famoso bairro de Tóquio, em plena urbanização, ficaram horrorizados. A notícia dessa descoberta, ocorrida em 1989, varreu toda a cidade de Tóquio, como uma grande onda. Incapaz de ocultar a verdade por mais tempo, o governo japonês viu-se obrigado a reconhecer o mais terrível segredo da Segunda Guerra Mundial. A poucos metros das obras, esteve localizado o laboratório do tenente-coronel ShirôIshii, pai do programa de guerra biológica do Japão: a Unidade 731.
As cobaias humanas utilizadas nassuas experiências foram transferidas da base da Manchúria para  o seu laboratório. No término da guerra, os restos mortais destas pessoas foram enterradas numa fossa comum e lá permaneceram até esta ser descoberta em 1989. Durante 40 anos, as actividades da Unidade 731 foram o segredo mais bem guardado do Japão.  Foto tirada durante uma dissecação a um homem ainda vivo , sem anestesia.
Os trabalhos da unidade permaneceram inéditos até àdescoberta,  numa loja de livros usados, de anotações feitas por um oficial da Unidade 731. Os documentos descreviam detalhadamente as experiências biológicas e demonstravam que as cobaias das experiências de ShiroIshii e sua equipa eram seres humanos. O jovem Ishii era um brilhante microbiólogo do exército. Com  a sua carismática personalidade,  atraiu logo a atenção dos oficiais veteranos e conseguiu uma rápida promoção de posto. Aliando-se com ultranacionalistas do Ministério da Guerra do Japão, Ishii fez uma forte pressão a favor do desenvolvimento das armas biológicas.  Várias vítimas  foram usadas para experiências de guerra  ShiroIShii
Quando o Japão invadiu a Manchúria, em 1931, Ishii vislumbrou sua oportunidade. Com uma grande verba anual e 300 homens, a sua primeira missão recebeu o nome secreto de "Unidade Togo".  	Conhecidas como "Campo de Prisão Zhong Ma", as instalações da Unidade 731 foram construídas com mão-de-obra forçada chinesa. No centro, existia um edifício , o 'Castelo Zhong Ma', que mantinha os prisioneiros num laboratório .
Os escolhidos para os testes humanos era chamados 'marutas', que significa troncos. Numerados em ordem crescente até ao número 500, os prisioneiros eram desde 'bandidos' e 'criminosos' até 'pessoas suspeitas'. Eram bem alimentados e faziam exercícios regularmente, somente porque a sua saúde era vital para a obtenção de bons resultados científicos.  Quando Ishii necessitava de um cérebro humano para uma experiência, ordenava que os guardas obtivessem o órgão. Enquanto o prisioneiro era preso por um dos guardas, que segurava o seu rosto contra o chão, o outro quebrava-lhe o crânio com um machado. O órgão era retirado grosseiramente e levado rapidamente ao laboratório de Ishii. Os restos mortais do prisioneiro sacrificado eram lançados no crematório do campo.  Unidade 731
As primeiras experiências centraram-se nas doenças contagiosas, como o antraz e a peste. Num dos testes, guerrilheiros chineses foram infectados com bactérias da peste. Doze dias depois, os infectados contorciam-se com febres de 40 graus célsius. Um desses guerrilheiros conseguiu sobreviver 19 dias antes de lhe fazerem uma autópsia enquanto ainda estava vivo.  Alguns prisioneiros foram envenenados com gás fosfina e  noutros foi aplicado cianeto de potássio. Alguns prisioneiros foram submetidos a descargas eléctricas de 20.000 volts. Os prisioneiros que sobreviveram ficavam à disposição para receberem injecções letais ou para serem dissecados vivos. Cada morte era registada por membros da unidade.  Jaulas  humanas para experiências  Vítimas  infectadas para estudo de doenças
Em seguida, militares, disfarçados de funcionários da saúde pública, realizaram testes médicos nos infectados. Ainda que os detalhes dessa experiência continuem sendo secretos, acredita-se que os mosquitos eram portadores da febre amarela, um vírus que provoca febres altas e vómitos e causa a morte de um em cada três infectados.Outros testes realizados para comprovar a vulnerabilidade das cidades aos ataques biológicos foram realizados no Reino Unido, Canadá e EUA, culminando com um ataque à cidade de Nova Iorque em 1966. Agentes do ChemicalCorpsSpecialOperationsDivisionborrifaram, através das grades de ventilação das estações de metro, a bactéria Bacillus nas horas de maior movimento. As turbulências criadas pela passagem dos vagões, demonstrou que esse era um meio perfeito para propagar as bactérias por toda a cidade. Experiências humanas
A qualidade do trabalho, assim como a sua personalidade, garantiram a ShirôIshii um crescente poder. Em 1939, pôde mudar-se para instalações tão grandes quanto o campo de concentração de Auschwitz-Birkenau da Alemanha nazi. O novo quartel general da unidade 731 situava-se em Pingfan, Manchúria.  O complexo de Pingfan possuía 6 km2 e abrigava edifícios administrativos, laboratórios, armazéns, uma prisão para indivíduos submetidos aos testes, um edifício de autópsias e dissecação e três fornos crematórios. Um campo localizado em Mukden, detinha os prisioneiros de guerra americanos, britânicos e australianos, que também eram usados nas experiências.
Os conhecimentos adquiridos não foram utilizados para fins militares até a guerra da Coreia. Uma noite, os habitantes do povoado de Min-Chung ouviram um avião sobrevoar os seus telhados. Quando acordaram descobriram um grande número de ratos-do-mato, a maioria deles mortos e muitos com as patas fracturadas.
As baixas temperaturas diminuíram o rendimento militar durante os rigorosos invernos da Manchúria. Por esse motivo, as experiências sobre o congelamento foram especialmente desenvolvidas. Alguns prisioneiros eram deixados nus, ficando submetidos a temperaturas abaixo de zero e os seus membros eram golpeados com paus até que se produzissem sons secos e metálicos indicando que o processo de congelamento estava terminado. Em seguida, os corpos eram "descongelados" através de técnicas experimentais.  Noseu livro FactoriesofDeath (Fábricas da Morte), SheldonHarris, professor de História da Universidade da Califórnia, descreve outras experiências, como a suspensão de indivíduos de cabeça para baixo, para determinar quando morreriam asfixiados. É quase indescritível a prática de injectar ar nos prisioneiros para acompanhar a evolução das embolias. Noutros indivíduos, era injectada urina de cavalo nosrins.
Sem nenhum sentimento de culpa, Ishii redigia regularmente documentos nos quais descrevia os resultados das suas experiências. Nestes relatórios, dizia que os teste eram realizados em macacos. O uso de seres humanos como cobaias era mantido em segredo.  Até o fim da segunda guerra mundial, Ishii, então tenente-coronel, fez um pacto de juramento com os seus subordinados para manter as experiências em segredo. Pingfan e outros lugares foram destruídos, e Ishiie os seus homens regressaram para casa no anonimato. As atividades da unidade 731 permaneceram ocultas.
De Ishii, os aliados possuíam inúmeros dossiês sobre os principais microbiólogos japoneses. Os estrategas dos Estados Unidos apreciavam as vantagens tácticas da guerra biológica, pois os agentes biológicos podem ser introduzidos inadvertidamente nos campos de guerra, e sabiam que Ishii havia realizado tais práticas em diversas ocasiões na China e noutros lugares.  Os aliados estavam ansiosos para obter detalhes das experiências e das técnicas utilizadas por Ishii. Em particular, procuravam os relatórios das experiências com seres humanos, aos quais atribuíam um grande valor. No final da guerra, os cientistas de FortDetrick, Maryland onde ficavam as instalações de guerra biológica dos Estados Unidos , iniciaram uma série de entrevistas com os técnicos japoneses. Nenhum deles chegou a considerar as implicações éticas que o assunto envolvia.
Uma vez constatados os factos, um cabo informou ao Departamento de Guerra de Washington que "informações posteriores reforçavam a conclusão de que o grupo dirigido por Ishii violou as normas de guerra". O relatório informava ainda: "esta opinião não é recomendação para que o grupo seja acusado".  Desejando impedir que os soviéticos obtivessem as informações de Ishii, os Estados Unidos fizeram um pacto com o próprio. Porém, era necessário vencer um importante obstáculo. As experiências deviam ser ocultadas, deveriam ser o "maior dos segredos", o mais obscuro deles. Os prisioneiros de guerra que regressavam, davam terríveis depoimentos sobre as experiências que tinham sido realizadas neles. Se estes depoimentos se tornassem conhecidos, a opinião pública ficaria indignada e exigiria medidas drásticas. Portanto, havia apenas uma saída: o encobrimento dos factos.
Os procuradores do tribunal de crimes de guerra de Tóquio foram orientados para que investigassem superficialmente os factos. Os prisioneiros de guerra foram coagidos a guardar segredo. Foi oferecida imunidade a todos os membros da unidade de Ishii, em troca de informações e cooperação. Iniciava-se o maior encobrimento dos factos de guerra. Com a descoberta, em 1989, dos corpos enterrados nos subterrâneos de Tóquio, a história veio à tona e os ex-combatentes começaram a relatar as suas experiências.  “O que me mantém é a verdade, pois jamais esquecerei", declarou furiosamente JosephGozzo, antigo engenheiro de aviação, que actualmente vive em San José, Califórnia. Enquanto esteve preso, foi usado em experiências onde teve bastões de vidro introduzidos no reto. "Não posso acreditar que o nosso governo os tenha deixado livres", disse.
Em 1986, o ex-prisioneiro de guerra Frank Jamesrelatou as suas lembranças a um comité do congresso dos Estados Unidos. "Éramos apenas pequenas peças de um jogo, sempre soubemos que existia um encobrimento", disse James.  Outro ex-prisioneiro, Max McClain, lembra que, com seu companheiro de cela, George Hayes, eram colocados em filas para receberem injecções. Dois dias depois, Hayes lamentava-se: "Mac, não sei o que esses desgraçados me deram, mas sinto-me muito mal". Naquela mesma noite, dissecaram Hayes.
A audiência durou apenas metade de um dia e somente um dos 200 sobreviventes foi convocado. O responsável pelos arquivos do exército declarou que os documentos obtidos de Ishii haviam sido devolvidos ao Japão, ainda na década de cinquenta. Surpreendentemente, não se tinha preocupado em fazer fotocópias dos documentos.  Na intenção de ocultar a verdade, os governos dos Estados Unidos e do Japão negaram que tais atrocidades tivessem ocorrido. Apesar disso, uma série de relatórios oficiais tornaram-se públicos. Num arquivo do quartel-general de McArthur, consta que a investigação da Unidade 731 foi realizada sob ordens da junta de Chefes do Estado Maior e "é essencial guardar segredo absoluto na intenção de proteger os interesses dos Estados Unidos e salvá-los do escândalo". Finalmente, em 1993, o segredo oficial tornou-se público com a abertura dos relatórios das experiências biológicas da Segunda Guerra Mundial.
Depois da guerra, muitos dos responsáveis pelas experiências japonesas tiveram muita sorte. Vários deles graduaram-se em medicina e um deles chegou a dirigir uma companhia farmacêutica japonesa. Outros ocuparam cargos que foram desde a presidência da Associação Médica japonesa até àvice-presidência da GreenRedCrossCorporatino. Um membro da equipa de congelamento chegou a tornar-se um importante empresário da indústria frigorífica japonesa. ShirôIshii morreu em 1959 sem mostrar nenhum sinal de arrependimento.  Antes de cessar as suas actividades, Ishii ainda iria influenciar mais profundamente os aliados. A aceitação de seu trabalho significou que havia sido ignorado o termo que impedia a utilização de seres humanos como cobaias de experiências científicas, estabelecido no acordo de 1925, na Convenção de Genebra. Os cidadãos dos Estados Unidos e do Reino Unido serviram de cobaias, desta vez nas cínicas mãos de seus próprios governos

Mais conteúdo relacionado

Mais de complementoindirecto (20)

O Estudante do Ensino Secundário
O Estudante do Ensino SecundárioO Estudante do Ensino Secundário
O Estudante do Ensino Secundário
 
O Espectador
O EspectadorO Espectador
O Espectador
 
O riso
O risoO riso
O riso
 
Cindy Sherman
Cindy ShermanCindy Sherman
Cindy Sherman
 
flávia
fláviaflávia
flávia
 
A Pantera Cor-de-Rosa
A Pantera Cor-de-RosaA Pantera Cor-de-Rosa
A Pantera Cor-de-Rosa
 
Árvore Prometeu
Árvore PrometeuÁrvore Prometeu
Árvore Prometeu
 
Robert Mapplethorpe
Robert MapplethorpeRobert Mapplethorpe
Robert Mapplethorpe
 
Pink Slime
Pink SlimePink Slime
Pink Slime
 
BrickArt
BrickArtBrickArt
BrickArt
 
Big Brother
Big BrotherBig Brother
Big Brother
 
Testes em Animais
Testes em AnimaisTestes em Animais
Testes em Animais
 
Body Art
Body ArtBody Art
Body Art
 
Charles Manson
Charles MansonCharles Manson
Charles Manson
 
12 k erica-
12 k erica-12 k erica-
12 k erica-
 
Wearable Art
Wearable ArtWearable Art
Wearable Art
 
História da Tatuagem
História da Tatuagem História da Tatuagem
História da Tatuagem
 
Escova de dentes
Escova de dentesEscova de dentes
Escova de dentes
 
Aldous Huxley
Aldous HuxleyAldous Huxley
Aldous Huxley
 
Volkswagen
VolkswagenVolkswagen
Volkswagen
 

Último

Slides sobre as Funções da Linguagem.pptx
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptxSlides sobre as Funções da Linguagem.pptx
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptxMauricioOliveira258223
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxferreirapriscilla84
 
ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇ
ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇ
ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇJaineCarolaineLima
 
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfLeloIurk1
 
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...azulassessoria9
 
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdfProjeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdfHELENO FAVACHO
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfCamillaBrito19
 
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdfLeloIurk1
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia TecnologiaPROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia TecnologiaHELENO FAVACHO
 
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?AnabelaGuerreiro7
 
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãConstrução (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãIlda Bicacro
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Ilda Bicacro
 
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de ProfessorINTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de ProfessorEdvanirCosta
 
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de HotéisAbout Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéisines09cachapa
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...IsabelPereira2010
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...Rosalina Simão Nunes
 
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSOLeloIurk1
 
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdfplanejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdfmaurocesarpaesalmeid
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdfLeloIurk1
 
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxSlides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 

Último (20)

Slides sobre as Funções da Linguagem.pptx
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptxSlides sobre as Funções da Linguagem.pptx
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptx
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
 
ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇ
ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇ
ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇ
 
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
 
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
 
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdfProjeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
 
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia TecnologiaPROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
 
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
 
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãConstrução (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
 
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de ProfessorINTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
 
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de HotéisAbout Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
 
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
 
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdfplanejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
 
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxSlides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
 

Se Conhecerdes a Verdade...

  • 1. Escola Secundária Artística António Arroio “Se Conhecerdesa Verdade, ela vos libertará?" Unidade 731 Elaborado pela aluna Ângela Gil Fachadas 11M
  • 2. A descoberta de corpos sob as ruas de Tóquio obrigou o Japão a admitir que seres humanos foram usados em experiências de armas biológicas.
  • 3. "Cortei abrindo-o do peito ao estômago enquanto ele gritava terrivelmente. Para os cirurgiões, isto era o trabalho rotineiro" Legista anónimo, UNIDADE 731 Sob o asfalto das ruas de Tóquio existe um depósito de restos humanos. Os operários que trabalhavam em Shinjuku, um movimentado e famoso bairro de Tóquio, em plena urbanização, ficaram horrorizados. A notícia dessa descoberta, ocorrida em 1989, varreu toda a cidade de Tóquio, como uma grande onda. Incapaz de ocultar a verdade por mais tempo, o governo japonês viu-se obrigado a reconhecer o mais terrível segredo da Segunda Guerra Mundial. A poucos metros das obras, esteve localizado o laboratório do tenente-coronel ShirôIshii, pai do programa de guerra biológica do Japão: a Unidade 731.
  • 4. As cobaias humanas utilizadas nassuas experiências foram transferidas da base da Manchúria para o seu laboratório. No término da guerra, os restos mortais destas pessoas foram enterradas numa fossa comum e lá permaneceram até esta ser descoberta em 1989. Durante 40 anos, as actividades da Unidade 731 foram o segredo mais bem guardado do Japão. Foto tirada durante uma dissecação a um homem ainda vivo , sem anestesia.
  • 5. Os trabalhos da unidade permaneceram inéditos até àdescoberta, numa loja de livros usados, de anotações feitas por um oficial da Unidade 731. Os documentos descreviam detalhadamente as experiências biológicas e demonstravam que as cobaias das experiências de ShiroIshii e sua equipa eram seres humanos. O jovem Ishii era um brilhante microbiólogo do exército. Com a sua carismática personalidade, atraiu logo a atenção dos oficiais veteranos e conseguiu uma rápida promoção de posto. Aliando-se com ultranacionalistas do Ministério da Guerra do Japão, Ishii fez uma forte pressão a favor do desenvolvimento das armas biológicas. Várias vítimas foram usadas para experiências de guerra ShiroIShii
  • 6. Quando o Japão invadiu a Manchúria, em 1931, Ishii vislumbrou sua oportunidade. Com uma grande verba anual e 300 homens, a sua primeira missão recebeu o nome secreto de "Unidade Togo". Conhecidas como "Campo de Prisão Zhong Ma", as instalações da Unidade 731 foram construídas com mão-de-obra forçada chinesa. No centro, existia um edifício , o 'Castelo Zhong Ma', que mantinha os prisioneiros num laboratório .
  • 7. Os escolhidos para os testes humanos era chamados 'marutas', que significa troncos. Numerados em ordem crescente até ao número 500, os prisioneiros eram desde 'bandidos' e 'criminosos' até 'pessoas suspeitas'. Eram bem alimentados e faziam exercícios regularmente, somente porque a sua saúde era vital para a obtenção de bons resultados científicos. Quando Ishii necessitava de um cérebro humano para uma experiência, ordenava que os guardas obtivessem o órgão. Enquanto o prisioneiro era preso por um dos guardas, que segurava o seu rosto contra o chão, o outro quebrava-lhe o crânio com um machado. O órgão era retirado grosseiramente e levado rapidamente ao laboratório de Ishii. Os restos mortais do prisioneiro sacrificado eram lançados no crematório do campo. Unidade 731
  • 8. As primeiras experiências centraram-se nas doenças contagiosas, como o antraz e a peste. Num dos testes, guerrilheiros chineses foram infectados com bactérias da peste. Doze dias depois, os infectados contorciam-se com febres de 40 graus célsius. Um desses guerrilheiros conseguiu sobreviver 19 dias antes de lhe fazerem uma autópsia enquanto ainda estava vivo. Alguns prisioneiros foram envenenados com gás fosfina e noutros foi aplicado cianeto de potássio. Alguns prisioneiros foram submetidos a descargas eléctricas de 20.000 volts. Os prisioneiros que sobreviveram ficavam à disposição para receberem injecções letais ou para serem dissecados vivos. Cada morte era registada por membros da unidade. Jaulas humanas para experiências Vítimas infectadas para estudo de doenças
  • 9. Em seguida, militares, disfarçados de funcionários da saúde pública, realizaram testes médicos nos infectados. Ainda que os detalhes dessa experiência continuem sendo secretos, acredita-se que os mosquitos eram portadores da febre amarela, um vírus que provoca febres altas e vómitos e causa a morte de um em cada três infectados.Outros testes realizados para comprovar a vulnerabilidade das cidades aos ataques biológicos foram realizados no Reino Unido, Canadá e EUA, culminando com um ataque à cidade de Nova Iorque em 1966. Agentes do ChemicalCorpsSpecialOperationsDivisionborrifaram, através das grades de ventilação das estações de metro, a bactéria Bacillus nas horas de maior movimento. As turbulências criadas pela passagem dos vagões, demonstrou que esse era um meio perfeito para propagar as bactérias por toda a cidade. Experiências humanas
  • 10. A qualidade do trabalho, assim como a sua personalidade, garantiram a ShirôIshii um crescente poder. Em 1939, pôde mudar-se para instalações tão grandes quanto o campo de concentração de Auschwitz-Birkenau da Alemanha nazi. O novo quartel general da unidade 731 situava-se em Pingfan, Manchúria. O complexo de Pingfan possuía 6 km2 e abrigava edifícios administrativos, laboratórios, armazéns, uma prisão para indivíduos submetidos aos testes, um edifício de autópsias e dissecação e três fornos crematórios. Um campo localizado em Mukden, detinha os prisioneiros de guerra americanos, britânicos e australianos, que também eram usados nas experiências.
  • 11. Os conhecimentos adquiridos não foram utilizados para fins militares até a guerra da Coreia. Uma noite, os habitantes do povoado de Min-Chung ouviram um avião sobrevoar os seus telhados. Quando acordaram descobriram um grande número de ratos-do-mato, a maioria deles mortos e muitos com as patas fracturadas.
  • 12. As baixas temperaturas diminuíram o rendimento militar durante os rigorosos invernos da Manchúria. Por esse motivo, as experiências sobre o congelamento foram especialmente desenvolvidas. Alguns prisioneiros eram deixados nus, ficando submetidos a temperaturas abaixo de zero e os seus membros eram golpeados com paus até que se produzissem sons secos e metálicos indicando que o processo de congelamento estava terminado. Em seguida, os corpos eram "descongelados" através de técnicas experimentais. Noseu livro FactoriesofDeath (Fábricas da Morte), SheldonHarris, professor de História da Universidade da Califórnia, descreve outras experiências, como a suspensão de indivíduos de cabeça para baixo, para determinar quando morreriam asfixiados. É quase indescritível a prática de injectar ar nos prisioneiros para acompanhar a evolução das embolias. Noutros indivíduos, era injectada urina de cavalo nosrins.
  • 13. Sem nenhum sentimento de culpa, Ishii redigia regularmente documentos nos quais descrevia os resultados das suas experiências. Nestes relatórios, dizia que os teste eram realizados em macacos. O uso de seres humanos como cobaias era mantido em segredo. Até o fim da segunda guerra mundial, Ishii, então tenente-coronel, fez um pacto de juramento com os seus subordinados para manter as experiências em segredo. Pingfan e outros lugares foram destruídos, e Ishiie os seus homens regressaram para casa no anonimato. As atividades da unidade 731 permaneceram ocultas.
  • 14. De Ishii, os aliados possuíam inúmeros dossiês sobre os principais microbiólogos japoneses. Os estrategas dos Estados Unidos apreciavam as vantagens tácticas da guerra biológica, pois os agentes biológicos podem ser introduzidos inadvertidamente nos campos de guerra, e sabiam que Ishii havia realizado tais práticas em diversas ocasiões na China e noutros lugares. Os aliados estavam ansiosos para obter detalhes das experiências e das técnicas utilizadas por Ishii. Em particular, procuravam os relatórios das experiências com seres humanos, aos quais atribuíam um grande valor. No final da guerra, os cientistas de FortDetrick, Maryland onde ficavam as instalações de guerra biológica dos Estados Unidos , iniciaram uma série de entrevistas com os técnicos japoneses. Nenhum deles chegou a considerar as implicações éticas que o assunto envolvia.
  • 15. Uma vez constatados os factos, um cabo informou ao Departamento de Guerra de Washington que "informações posteriores reforçavam a conclusão de que o grupo dirigido por Ishii violou as normas de guerra". O relatório informava ainda: "esta opinião não é recomendação para que o grupo seja acusado". Desejando impedir que os soviéticos obtivessem as informações de Ishii, os Estados Unidos fizeram um pacto com o próprio. Porém, era necessário vencer um importante obstáculo. As experiências deviam ser ocultadas, deveriam ser o "maior dos segredos", o mais obscuro deles. Os prisioneiros de guerra que regressavam, davam terríveis depoimentos sobre as experiências que tinham sido realizadas neles. Se estes depoimentos se tornassem conhecidos, a opinião pública ficaria indignada e exigiria medidas drásticas. Portanto, havia apenas uma saída: o encobrimento dos factos.
  • 16. Os procuradores do tribunal de crimes de guerra de Tóquio foram orientados para que investigassem superficialmente os factos. Os prisioneiros de guerra foram coagidos a guardar segredo. Foi oferecida imunidade a todos os membros da unidade de Ishii, em troca de informações e cooperação. Iniciava-se o maior encobrimento dos factos de guerra. Com a descoberta, em 1989, dos corpos enterrados nos subterrâneos de Tóquio, a história veio à tona e os ex-combatentes começaram a relatar as suas experiências. “O que me mantém é a verdade, pois jamais esquecerei", declarou furiosamente JosephGozzo, antigo engenheiro de aviação, que actualmente vive em San José, Califórnia. Enquanto esteve preso, foi usado em experiências onde teve bastões de vidro introduzidos no reto. "Não posso acreditar que o nosso governo os tenha deixado livres", disse.
  • 17. Em 1986, o ex-prisioneiro de guerra Frank Jamesrelatou as suas lembranças a um comité do congresso dos Estados Unidos. "Éramos apenas pequenas peças de um jogo, sempre soubemos que existia um encobrimento", disse James. Outro ex-prisioneiro, Max McClain, lembra que, com seu companheiro de cela, George Hayes, eram colocados em filas para receberem injecções. Dois dias depois, Hayes lamentava-se: "Mac, não sei o que esses desgraçados me deram, mas sinto-me muito mal". Naquela mesma noite, dissecaram Hayes.
  • 18. A audiência durou apenas metade de um dia e somente um dos 200 sobreviventes foi convocado. O responsável pelos arquivos do exército declarou que os documentos obtidos de Ishii haviam sido devolvidos ao Japão, ainda na década de cinquenta. Surpreendentemente, não se tinha preocupado em fazer fotocópias dos documentos. Na intenção de ocultar a verdade, os governos dos Estados Unidos e do Japão negaram que tais atrocidades tivessem ocorrido. Apesar disso, uma série de relatórios oficiais tornaram-se públicos. Num arquivo do quartel-general de McArthur, consta que a investigação da Unidade 731 foi realizada sob ordens da junta de Chefes do Estado Maior e "é essencial guardar segredo absoluto na intenção de proteger os interesses dos Estados Unidos e salvá-los do escândalo". Finalmente, em 1993, o segredo oficial tornou-se público com a abertura dos relatórios das experiências biológicas da Segunda Guerra Mundial.
  • 19. Depois da guerra, muitos dos responsáveis pelas experiências japonesas tiveram muita sorte. Vários deles graduaram-se em medicina e um deles chegou a dirigir uma companhia farmacêutica japonesa. Outros ocuparam cargos que foram desde a presidência da Associação Médica japonesa até àvice-presidência da GreenRedCrossCorporatino. Um membro da equipa de congelamento chegou a tornar-se um importante empresário da indústria frigorífica japonesa. ShirôIshii morreu em 1959 sem mostrar nenhum sinal de arrependimento. Antes de cessar as suas actividades, Ishii ainda iria influenciar mais profundamente os aliados. A aceitação de seu trabalho significou que havia sido ignorado o termo que impedia a utilização de seres humanos como cobaias de experiências científicas, estabelecido no acordo de 1925, na Convenção de Genebra. Os cidadãos dos Estados Unidos e do Reino Unido serviram de cobaias, desta vez nas cínicas mãos de seus próprios governos