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a matéria, o aluno faz exercidos de fixação do conteúdo e repro- Sujeito age sobre o Objeto na tentativa de conhecê-lo por meio dos
duz os tópicos solicitados na avaliação. O resultado disso não pode referenciais cognitivos que..já.possiu. O Sujeito procura desvendar
ser chamado-de conhecimento, embora seja possível verificar ob- o Objeto trazendo-o para dentro desses referenciais,, chamados
jetivamente que o Sujeito tem o Objeto retido em sua memória yesquemas cognitivojs, ainda que estes sejam insuficientes para do-
- quando o estudante obtém um a boa nota na prova, por exemplo. m inar toda a complexidade do Objeto. A esse processo Piaget deu
Dizemos que esse outro processo não resulta em conheci- o nome de^assimilatiio.
mento porque ele não produz qualquer modificação no aprendiz. Tomemos o caso em que uma criança já possui a capacida-
Para haver conhecimento, devemos conceber que o Sujeito atue de de pegar algum a coisa, em que os movimentos da mão e dos
para superar o desequilíbrio existente entre ele e o Objeto, isto é, dedos foram estabelecidos com base em alguma experiência ante-
para colocar-se no nível em que ainda não está. Por meio da ação rior ou m esmo devido ao reflexo de preensão, com o qual todos os
que empreende para desvendar o Objeto, o Sujeito sofre mudan- indivíduos nascem. A criança dispõe de uma ferramenta cogniti- ças
internas, sai do estado atual - de menor conhecimento - e passa va, ainda que mal desenvolvida, que a capacita a agir sobre qual-
ao estado superior, em que domina o Objeto. Essa mudança interna quer objeto passível de ser pego por intermédio da mão. Elapode, é
conhecimento, algo que não pode ser assegurado pelo processo então, assim ilar qualquer objeto novo. Esse objeto novo, ainda
em que o Objeto é simplesmente depositado na mente do aluno. desconhecido, ultrapassa a capacidade do esquema de pegar que
A concepção epistemológica adotada por Piaget aproxima a criança possui. Uma pequena bola, por exemplo, imporá certas
suas idéias de todas as correntes pedagógicas que enfatizam a ati- dificuldades, mas será assimilada, o que basta para dar início ao
vidade do educando e a estruturação de um ambiente escolar que processo de conhecer.
corresponda às características pessoais do aluno - seus interesses, O segundo processo chama-se acomodação e consiste nas
sua personalidade, seu conhecimento cotidiano. Historicamente, modificações sofridas pelo Sujeito em função do exercício assi-
as pesquisas de Piaget vieram endossar os movimentos educacio- milador desencadeado. Agora, o Sujeito tem seus esquemas cog-
nais renovadores, contrários ao chamado ensino tradicional verba- nitivos alterados por causa da relação que mantém com o Objeto,
lista, impositor de restrições à participação do aluno, centrado no o que representa um esforço adaptativo para superar o desnível
saber supremo do professor. Voltaremos a esse tema após anali- existente entre um e outro. Feito isso, chega-se ao estado de equi-
sarmos outros tópicos do paradigma piagetiano. líbrio entre Sujeito e Objeto.
A criança de nosso exemplo terá de alterar seu esquema cog-
Assimilação, acomodação e equilibração nitivo de pegar, o que envolve novos posicionamentos da m us-
culatura da mão e dos dedos para acomodar-se às características
Vejamos agora os conceitos piagetianos que traduzem as catego- específicas da bola. Após algum tempo, dominará o objeto novo,
rias fundamentais da concepção de conhecime_nto assumida por chegando a um ponto de equilíbrio com ele. A criança que atinge
Piaget, em que o Sujeito age sobre o Objeto. Piaget considerou que esse patamar não é a m esm a que começou o processo, pois seu o
processo de conhecer tem início com o desequilíbrio estabeleci- conhecimento sobre o mundo agora é outro, maior e m ais desen-
do entre Sujeito e Objeto; porém, suas pesquisas não contempla- volvido do que quando ainda não tinha agido sobre a bola.
ram os fatores motivacionais, de natureza emocional e afetiva, ali 1 O equilíbrio a que o indivíduo chega com os objetos que o
envolvidos. Isso não significa que Piaget os tivesse negado, apenas cercam nunca é definitivo, um a vez que o mundo está sempre
que,
como epistemólogo, concentrou sua atenção nos momentos em mudança, lembra Piaget. O equilíbrio, ainda que provisório,
seguintes do processo. representa conhecimento, m as é logo seguido por novas situações
Segundo elejgara conhecer é necessário que Sujeito e Objeto em que a pessoa é novamente desafiada, o que dá início a su-
estabeleçam um a relação que envolve, na verdade, dois processos cessivas assimilações e acomodações, mais conhecimento, outros
complementares e, às vezes, sim ultâneosijp primeiro é quando o desequilíbrios e assim por diante.
PSI CO L O GI A DA E D U CA ÇÃ O P I A G E T - P S I C O L O G I A G E N É T I C A E EDU CAÇ ÃO
Biologia e ambiente é o mesmo em todas as pessoas. Se há biologismo nessa afirma-
ção, ele se deve ao fato de pertencermos todos à espécie humana.
Pensar a escola por meio dos conceitos piagetianos implica visua- Desse modo, todos nascemos também em condições de percorrer
lizado trabalho do professor como um conjunto de atividades que a m esma trajetória de desenvolvimento no tocante à capacidade
propiciam o desenvolvimento cognitivo. O professor é responsável intelectual, do estado em que nosso conhecimento possui menor
por apresentar situações desafiadoras que permitam ao aluno per- valor para o estado em que nosso pensamento elabora formula-
ceber o desequilíbrio que há entre ele e os conteúdos das matérias ções lógico-matemáticas de maior valor.
escolares. Além disso, cabe também ao professor organizar um Se determinados indivíduos exercitam adequadamente suas
ambiente de aprendizagem que favoreça a ação do aprendiz sobre potencialidades e percorrem integralmente a linha de desenvol-
esses mesmos conteúdos. vimento cognitivo para a qual estão biologicamente capacitados,
Mais adiante veremos que essa formulação é ainda muito ge- essa é um a questão que diz respeito ao ambiente em que vive a
ral, pois a transposição do paradigm a piagetiano para a educação pessoa. Condições materiais e culturais de vida poderão interferir,
escolar pode dar margem a diversas possibilidades de ação peda- positiva ou negativamente, nessa trajetória.
gógica, inclusive abolir a definição prévia do que deva ser ensina- Assim , Piaget posicionou suas idéias sobre o desenvolvimen-
do aos educandos. Por ora, analisem os outra questão tratada por to cognitivo de m aneira a considerar tanto os aspectos biológicos
Piaget e que tanto preocupa os professores. quanto os ambientais. Sem cair no extremismo das teses prede-
Não seria a capacidade intelectual definida hereditariamente? term inistas, mostrou que o indivíduo é, de certo modo, programa-
No trabalho cotidiano do professor, essa é um a pergunta que sem- do para interagir com o mundo que o cerca e percorrer o caminho
pre vem à tona, especialmente quando se depara com alunos que que leva à competência para pensar realidades situadas além dos
apresentam dificuldades de aprendizagem. Será que um ambien- dados empíricos imediatos. Sem aliar-se aos ambientalistas radi- te
bem organizado - no lar ou na escola - é suficiente para que a cais, Piaget afirmou que o meio pode ser um fator decisivo na de-
criança desenvolva competências cognitivas adequadas? terminação de como o indivíduo realiza sua inclinação biológica.
Trata-se, aqui, da antiga polêmica entre posturas teóricas pre- A escola é um dos muitos ambientes que podem favorecer ou
determ inistas e ambientalistas. Os defensores das primeiras afir- prejudicar o desenvolvimento intelectual. Por isso, cabe ao professor
m am que a inteligência é um traço que herdamos geneticamente, ao acreditar na potencialidade de seus alunos e organizar experiências
passo que os outros defendem que o ambiente exerce sempre o papel que lhes possibilitem interagir com os saberes formalizados. A esco-
m ais importante, por maior que seja o peso dos fatores biológicos. la faz o papel de abrir caminhos para que a criança e o jovem entrem
A descrição do processo de conhecer feita por Piagettraz em em contato com o mundo, de modo participativo e construtivo.
si a idéia de que todos os indivíduos conhecem por intermédio
dos mesmos processos - assimilação e acomodação. Para que haja A teoria do desenvolvimento cognitivo
conhecimento, é preciso que o indivíduo estabeleça contato ínti-
mo com o conteúdo a ser aprendido e que se posicione ativamente O desenvolvimento intelectual envolve a passagem do indivíduo por
frente a esse mesmo conteúdo, o que propiciará mudança em seus quatro grandes períodos, vivenciados necessariamente em seqüên-
esquem as cognitivos. Esse processo ocorre em todos os momen- cia, conforme determinação biológica, como já foi comentado. Cada
tos da vida da pessoa, diferentemente em cada faixa etária, mas período estabelece alicerces para o seguinte, de modo que as aquisi-
independentemente do ambiente social e cultural em que o indi- ções ocorridas em um constituem precondições para o seguinte.
víduo esteja inserido. As pesquisas de Piaget levaram-no a separar cada período por
Isso não quer dizer que Piaget tenha aderido à tese predeter- marcos cronológicos, mas é preciso ressaltar que essas idades demar-
m inista. O que ele afirm a é que todos os seres humanos nascem catórias são meramente indicativas, e não categóricas, como muitas
com um potencial que os habilita a conhecer e que esse potencial vezes se pensa. Assim, pode-se dizer, por exemplo, que as crianças
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em geral passam do primeiro período para o segundo por volta dos tações, im agens m entais dos objetos que cercam o indivíduo.
24 meses de vida, mas é impossível afirmar, sem um exame acurado, Õ conhecimento, nesse caso, é constituído por im pressões que
quando essa transição está ocorrendo em um determinado indivíduo. chegam ao organism o por meio dos órgãos dos sentidos e do
O desenvolvimento, portanto, segue uma linha predefinida, aparelho motor. Podemos dizer, então, que a criança age sobre porém
variável de indivíduo a indivíduo no tocante ao ritmo em aquilo que alcança com as mãos, aquilo que ouve e vê, aquilo
que ocorre. Variações qualitativas também podem ocorrer, eviden- que chega à sua boca, sem, contudo, formar im agens mentais
temente, de um a pessoa a outra. No tocante à educação, particu- desses objetos.
larmente a escolar, tais conceitos são relevantes porque impedem Nesse período predom ina o processo de assimilação, que co-
que o paradigma piagetiano seja tomado como um conjunto de for- meça com 0 simples exercício dos reflexos, isto é, com o aciona-
mulações aplicáveis a todos os indivíduos, indiscriminadamente. mento de ferram entas inatas que possibilitam à criança manter
Não se pode dizer que determinado aluno já é capaz de com- os prim eiros contatos com os objetos e trazê-los para dentro de
preender determinados conteúdos apenas com base na informa- seus referenciais cognitivos, ainda toscos e m al desenvolvidos.
ção de que ele já tem 8 anos, ou que não adianta ensinar certas coi- A ssim vão sendo form ados esquemas cognitivos. Do reflexo de
sas a outro, porque este ainda não tem 12 anos. A idade do aluno, preensão, por exemplo, forma-se um esquema de agarrar. Trata-se
como dado isolado, não é indicador seguro de suas competências de um a mudança cognitiva ocasionada pela experiência, o que
e limitações intelectuais. significa já estar ocorrendo 0 processo de acomodação, além da
Se a intenção do professor é adotar a teoria de desenvolvi- assim ilação.
mento do paradigma piagetiano, deve saber que ela fornece um Vale lembrar que a trajetória do desenvolvimento intelectu-
quadro da trajetória cognitiva percorrida pelos seres humanos al aqui descrita diz respeito àquela indagação de natureza epis-
em geral - o Sujeito Epistêmico. Concluir algum a coisa sobre um temológica vista no início deste capítulo, traduzida agora pelo
aluno específico - o Sujeito Psicológico - é tarefa que exige domí- percurso que leva o indivíduo do conhecimento em pírico, de
nio das habilidades de pesquisa prescritas pelo paradigma, o que menor valor, ao conhecim ento abstrato, de m aior valor. A ssim , o
implica treinamento especializado do professor, ambiente escolar período sensório-motor corresponde ao momento inicial em que
adequado e certas disposições administrativas favoráveis, o que a inteligência encontra-se presa ao plano da experiência im edia-
nem sempre é fácil encontrar. ta - nesse caso, presa à materialidade absoluta, à presença física
Em que pese essa dificuldade, inerente à transposição da dos objetos.
psicologia genética de Piaget para a pedagogia, devemos obser- Os vários esquemas constituídos nesse período são, todos eles,
var que os obstáculos mencionados tornam-se menores e superá- esquemas de ação, pois não envolvem representações. A criança de-
veis quando pensamos nas contribuições trazidas por suas teses senvolve um esquema de olhar, um esquema de agarrar, um esque-
à prática educacional. Se o professor tiver em mãos um quadro, ma de morder e assim por diante. Com o tempo, esses esquemas
ainda que meramente indicativo, do desenvolvimento intelectual vão sendo coordenados, o que permite à criança integrá-los uns
humano, poderá ajustar a metodologia de ensino e os conteúdos aos outros em determinadas seqüências - olhar um objeto, segu-
das matérias escolares às características de seus alunos, o que tra- rá-lo com a mão, levá-lo à boca emordê-lo.
rá grandes benefícios ao processo de aprendizagem e ao próprio Um dos experimentos clássicos de Piaget consiste em obser-
funcionamento da escola. var a atitude da criança quando um brinquedo cai de suas mãos e
desaparece de seu campo visual. Uma variação pode ser feita co-
O universo não representado locando-se um anteparo que oculta 0 brinquedo. O que acontece
nessa situação é que a criança não procura o objeto desaparecido,
A principal característica do prim eiro período de desenvolvi- m esm o tendo visto seu desaparecimento por trás de um a almofa-
mento, chamado jsensório-motor^ é a inexistência de represen- da, por exemplo.
P I A G E T - PS IC OL O GIA G E N É T I C A E EDUCA ÇÃ O
A conclusão é cjue o brinquedo deixa de existir quando não Representaçao, linguagem e socializaçao
é visto. Deixa de existir, obviamente, do ponto de vista da criança,
para quem a realidade depende das impressões sensoriais que re- Imaginemos agora um a criança que ainda não domine a conduta
cebe. Note-se que a inteligência, nesse período do desenvolvimen- do suporte e que, colocada diante da almofada com o brinquedo,
to, sendo limitada à experiência sensorial e motora, não é capaz de não aplique mecanicamente esquemas já conhecidos. Essa crian-
emitir juízos mais abrangentes sobrejo mando, do tipo “mesmo ça tem uma atitude de meditação, como se raciocinasse para solu- os
objetos que não vejo existem ”. cionar o problema e, em seguida, apanha a almofada e a puxa para
A inteligência sensório-motora permite aplicar os esquemas, si, obtendo acesso ao brinquedo.
então coordenados, a situações novas. Uma criança que tenha ad- O resultado desse outro experimento indica que a criança
quirido o esquema de agarrar e chacoalhar seu travesseiro poderá desenvolveu urna conduta complexa por meio da invenção. Ela
experimentá-lo com um brinquedo que faz barulho, oque signi- inventou um meio totalmente novo para obter determinado fim,
fica apenas a repetição de uma conduta habitual em que os meios, sem precisar empregar a experimentação ativa/ Inventar significa
que são os esquemas de agarrar e chacoalhar, não têm relação combinar esquemas m entais, o que quer dizer que essa criança
com os fins - no caso, produzir um som. está na última fase do período sensório-motor, já ingressando no
Um pouco m ais tarde, ainda durante o primeiro período, período seguinte.
os esquemas cognitivos articuíam -se dando mostras de serem A característica mais marcante dq’ segundo período, de de-
guiados por alguma] intencionalidade. O fato de o universo da senvolvimento é a^representação, a transform ação de esquemas
criança ser restrito às im pressões sensoriais e motoras, nesse —eesquemas combinados —de ação em esquemas representativos.
momento, impede que ela anteveja o alcance pleno de suas ações, Aquelas competências intelectuais que, no primeiro período, se
m as já existe algum a distinção entre os meios empregados e os desenvolveram como ações agora se completam por meio de cor-
fins obtidos. respondentes imagens mentais e simbólicas.
E o que Piaget denom inou ,reações circulares^ procedimentos É nesse período que ocorre o progresso mais sensível d^ Jin-
que se repetem seguidas vezes, inicialmente apenas para fazer guagem orai, Inicialmente a criança identifica certos objetos, pes-
durar um espetáculo interessante para a criança, como quando soas e ações a palavras pertencentes a um universo muito particu-
agarra um cordão que pende sobre seu berço e o puxa, fazendo lar e específico. Seu cachorrinho é totó, sua mãe é mamã e tomar
balançar um móbile que produz som. Caso esteja diante de uma a mamadeira é mamá. Com o passar do tempo, porém, começa a
situação nova e desconhecida, a criança poderá aplicar esse proce- empregar palavras que designam categorias de objetos, pessoas e
dimento aos objetos que ali se encontram para tentar resolver um ações. Todos os cachorrinhos são cachorros, todas as m am ães são
problema, ocasião em que novas condutas podem instalar-se. mães e ingerir qualquer líquido é beber.
U m experimento interessante consiste em colocar uma al- No decorrer do segundo período, que vai dos 2 aos 7 anos de
mofada próxima à criança e sobre ela um brinquedo, de modo idade, aproxim adam ente,ji linguagem vai deixando de ser com-
que este fique inacessível às suas mãos. A criança aplica à alm o- posta por expressões representativas muito particulares e passa
fada esquemas que já possui, como agarrar e puxar, ocasionan- a empregar expressões socialmente convencionadas. Enquanto
do a aproximação do brinquedo. Desse modo, firma-se um a nova totó pertence ao universo lingüístico do primeiro tipo, cachorro é
conduta, no caso, a chamada conduta do suporte, que consiste em o termo que se convencionou usar, nesta cultura, para identificar
puxar um a plataforma para obter algo que esteja sobre ela. Isso um a categoria de objetos - os cães. A comunicação deixa de ser
significa que houve acomodação dos esquemas cognitivos, provo- fundamentada nojndivíduo para ser baseada no grupo social.
cada por experimentação ativa. Nas próximas vezes em que estiver Essa transformação indica uma mudança nos esquemas re-
diante do mesmo problema, é provável que ela puxe a almofada presentativos, que se tornam cada vez mais adaptados ao meio
para alcançar o objeto distante. social em que a pessoa vive. Ao longo desse período, a criança de-
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P I A G E T - PSICOL OG IA G E N É T J C A E EDUCA ÇÃ O
senvolve a capacidade para entabular conversas, sempre mais inte- analogia, dizemos que seu pensamento funciona corno uma m á-
ligíveis, com outras pessoas, sendo possível trocar pontos de vista, quina fotográfica que registra duas situações distintas - a água
opiniões e impressões de ambas as partes, o que é um avanço na no tubo fino e alto e a água na vasilha baixa e larga e não como
socialização do indivíduo. A linguagem porfsim bõlosj expressão uma filmadora, que permite reversão das cenas gravadasTj
do vocabulário característico da criança, torna-se uma linguagem Ao término do período pré-operatório. por volta de 7 anos de
por/signos, |composta por elementos representativos típicos de idade, a criança já intui operações. É capaz de exibir reversibilida-
um a“cultura. de de pensamento na prova operatória descrita, por exemplo, mas
Além de revelar um significativo progresso na capacidade diante de outra prova, que exige a mesma competência cognitiva,
intelectual de representar o mundo, o desenvolvimento da lin- pode falhar. Isso significa que ela está em vias de ingressar no
guagem mostra o início da transição do egocentrism o para a so-  terceiro período,. cuja característica essencial é o desenvolvimento
cialização, um processo que, como veremos, não se completa ao da capacidade de realizar operações.
término desse período, por volta de 7 anos de idade. Nesse novo período, que vai dos 7 aos 12 anos, aproximada-
mente, o pensamento da criança ganha a maleabilidade que não
O universo concreto possuía até então, sendo capaz de operar mentalmente com es-
quem as de ação que até o momento eram apenas representados.
O período que acabamos de ver recebe o nome d^ pré-operatório, Com base nas aquisições sensoriais e motoras do prim eiro perí-
pois o que o caracteriza é a impossibilidade de a criança utilizar odo, a criança consegue percorrer um trajeto dentro de sua casa. seus
esquemas representativos para realizar operações mentais. Mais tarde, descreve o trajeto percorrido, dada a capacidade de
Uma operação é constituída por várias propriedades, entre as form ar a im agem mental de suas ações, capacidade esta adquirida
quais a reversibilidade, muito mencionada por Piaget e demons- no segundo período. Agora, já consegue elaborar mentalmente o
trada no experimento da água colocada em recipientes deform a- trajeto inverso, do ponto final ao ponto deinício.
tos diferentes. Ao longo do tempo, as operações vão sendo articuladas como
Im aginem os um tubo fino e alto, de um lado, euma vasilha realidades necessárias. Diante de um a prova operatória como a do
larga e baixa, de outro. Se enchermos o tubo com água e em se- líquido que flui de u m recipiente para outro, a criança afirm a com
guida despejarmos seu conteúdo na vasilha, teremos obviamente total certeza seu resultado, chegando mesmo a suspeitar de que
a mesma quantidade de líquido nas duas situações. Dizemos que se trata de algum a brincadeira - de mau gosto, aliás - que esteja
o resultado dessa operação é óbvio não só porque vemos a água sendo feita com ela. Mais ainda, a criança torna-se capaz de com-
saindo de um lugar e indo para outro, mas porque, ao vê-la no preender um a operação independentemente de esta ser realizada
segundo recipiente, somos capazes de fazer mentalmente a opera- na sua frente.
ção inversa e compreender, assim , tratar-se da m esm a quantidade Isso quer dizer que o desenvolvimento do indivíduo já está
de líquido que pouco antes ocupava o tubo. bastante adiantado, se o compararmos à incapacidade do bebê
Nessa prova operatória, é bem-sucedida a pessoa cuja capaci- para ir além do universo empiricamente dado. Entretanto, as ope: dade
cognitiva domina a reversibilidade. A criança que se encontra rações mentais que podem ser realizadas nesse momento ainda
no período pré-operatório confunde a quantidade de água, que é possuem um caráter cgncrejo, isto é, precisam já ter feito parte da a
m esm a nos dois momentos, com o formato dos recipientes. Ela experiência empírica do indivíduo. Daí esse terceiro período ser
pode responder que há m ais líquido no tubo, porque ele é mais denominado operatório-concreto.
alto, ou que tem mais água na vasilha, por causa das dimensões O caráter concreto das operações significa que os esquemas
de sua superfície. cognitivos do indivíduo são ferramentas de assimilação que ainda
Isso ocorre porque o pensamento da criança ainda não tem dependem de dados empíricos. Esses dados não precisam estar
suficiente mobilidade para reverter a operação realizada. Numa imediatamente presentes, acessíveis aos órgãos dos sentidos, mas
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devem já ter estado em algum momento anterior, possibilitando Nesse período operatório-concreto, como já dito, 0 indivíduo
a formação de esquemas representativos. Do ponto de vista epis- só opera mentalmente com dados que já tenham feito parte de
temológico, as ferramentas cognitivas ainda não funcionam em sua experiência e que possam ser mentalmente manipulados. níveis
tais que perm itam conhecimentos de valor normativo. Uma informação como “as caravelas de Cabral atravessaram o oce-
ano Atlântico em 1500” pode perfeitamente ser compreendida se o
A psicologia genética na escola professor tomar o cuidado de oferecer referenciais concretos para a
criança - uma gravura que represente a embarcação mencionada e
Sob a perspectiva do paradigma piagetiano, a educação deve con- outros materiais que lhe permitam visualizar o que é um oceano e
tribuir para desenvolver as competências cognitivas do educando. entender o marco cronológico empregado na frase, por exemplo.
Tendo em vista o que cada período de desenvolvimento requer, Caso contrário, o aluno pode decorar a informação e repeti-la
a tarefa do professor inclui organizar atividades que viabilizem quando solicitado, m as isso não será conhecimento de fato se ele
o progresso intelectual de seus alunos nas diferentes etapas da não tiver contato concreto com os vários componentes da oração.
escolarização. Se o professor não empregar procedimentos didáticos adequados
Na condição de paradigm a científico, a psicologia genética às limitações do pensamento, o processo de ensinar e aprender
não se dedica a instruir os educadores sobre a elaboração dessas restringe-se à verbalização, à audição e à reprodução de conteú-
atividades. Para serem tomadas como psicologia da educação, as dos. Os limites são sempre dados pelo desenvolvimento da crian-
idéias de Piaget necessitam ser transpostas para o terreno da prática ça, que nesse momento só é capaz de operar com realidades re-
pedagógica, o que exige seu aproveitamento em estudos e pesquisas presentadas, desde que estas estejam ancoradas em referenciais
que elaborem metodologias específicas a serem aplicadas à situação concretos.
escolar - o que não é possível analisar detidamente neste livro. Fazer abstrações, formular hipóteses, desenvolver raciocínios
No plano mais geral, no entanto, podemos dizer que o para- lógico-matemáticos, por exemplo, são habilidades ainda não adqui-
digma piagetiano sugere, para as etapas pré-escolares, que todo o ridas no período operatório-concreto. A criança é capaz de enten-
empenho deva ser voltado para possibilitar o percurso do pensa- der um a formulação genérica como “se a = b e b = c, então a = c”
mento pré-operatório ao pensamento operatório-concreto. O dile- somente quando substituímos esses termos por objetos que ela ma
entre alfabetizar ou não a criança nessa fase, por exemplo, não conheça. Ela pode, a partir daí, passar do concreto para o formal,
deve ser resolvido de modo padronizado, quer afirmativamente, evidentemente, m as isso não significa que seu pensamento já te-
quer negativamente, m as sim mediante avaliação de cada aluno, nha compreendido essa formulação lógica como necessária. As em
particular. Alfabetizar, bem como ensinar operações aritméti- expressões lógico-matemáticas ainda não constituem regras para
cas, é algo possível de ser feito com crianças que já dominam cer- o pensamento.
tas habilidades cognitivas, conclusão a que não se chega tomando-
se exclusivamente a idade cronológica de cada uma. O universoformal
O mesmo princípio deve ser seguido pelo professor que tra-
balha com crianças na faixa etária de 7 a 12 anos, aproximada- Entre os 12 e os 16 anos de idade, aproximadamente, o indivíduo
mente, em geral cursando o primeiro ciclo do ensino fundamen- vivência o desenvolvimento do jquarto período, chamado opera-
tal. Nessa etapa da escolaridade, o que se requer é que o indivíduo tório-formal Sua principal característica é a transformação dos
progrida nas habilidades operatório-concretas de pensamento. esquem as cognitivos até então organizados, capazes de realizar
Um ensino que valorize excessivamente a transmissão de conteú- operações concretas, em esquemas que operam com base em rea-
dos formalizados pode incorrer no equívoco de fazê-lo por meio lidades apenas imaginadas como possíveis.
de formulações puramente verbais, algo que a criança, em geral, Observe-se que desde o início estamos tratando de ações do
ainda não domina. Sujeito sobre o Objeto, ações em que os processos de assimilação,
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acomodação e equilibração acabam por tornar o indivíduo mais não percorridos. Abre-se. para a pessoa, todo um horizonte novo
adaptado ao mundo que o cerca. Trata-se de um a adaptação ativa, de perspectivas de vida e transform ação, de si mesmo e do mundo,
como já vimos, pois^na concepção piagetiana não existe o indiví- realidades que ela agora começa a dominar por meio de recursos
duo como mero receptáculo de influências ambientai^. A trajetó- intelectuais m ais avançados.
ria do desenvolvimento elaborada por Piaget traduz o percurso Embora não tenha dedicado suas pesquisas à temática dos
que capacita o indivíduo a compreender melhor a realidade que o afetos, Piaget chegou a dizer que as angústias desse momento, a
cerca para poder participar de sua transformação. chamada crise da adolescência, são determinadas pelo futuro, ao
Eíno último período de desenvolvimento cognitivo que essa contrário do que pensava Freud, para quem essa problemática era
capacidade de adaptação ativa atinge seu ápice.’ Esse é o ponto decorrente do retorno de desejos reprimidos na infância - como
mais
alto da trajetória, pois a competência para pensar na esfera já vimos no primeiro capítulo deste livro. Ao visualizar o futuro,
de umuniverso forma] - isto é, não hmitado_ao^existente - dota o sem ter meios para realizá-lo, o jovem muitas vezes se revolta con-
indivíduo de maior competência para entender o mundo e contri- tra autoridades e situações estabelecidas.
buir para sua mudança. Na escola, esse é o momento em quedos conteúdos das m a-
De fato, na esfera do desenvolvimento intelectual do indivíduo, térias podem finalmente ser apresentados de modo puramente
podemos verificar que o pensamento formal permite uma com- verbal, sem necessidade de parâmetros concretos para serem com-
preensão superior da realidade. Sabemos que no primeiro período preendidos! As noções matemáticas podem ser vistas por meio de
o
universo da criança limita-se às impressões sensoriais e mo- fórm ulas abstratas, demonstradas tão-somente por intermédio de
toras. Ela é capaz de pegar um brinquedo, empurrá-lo para um símbolos genéricos, como x, y , z . O raciocínio hipotético-dedutivo.,
determinado lugar e puxá-lo de volta, por exemplo, mas disso não necessário ao entendimento dos procedimentos científicos, torna-
resulta nenhum a representação mental. Há progressos cognitivos se possível, mesmo sem a demonstração empírica correspondente.
nesse período, evidentemente, m as eles traduzem uma interação Se por um lado o trabalho do professor parece assim facilita-
ainda precária com o mundo, mesmo no tocante aos fenômenos do, por outro é preciso ressaltar a necessidade de definir de que
físicos. modo os conteúdos das matérias escolares devem ser apresentados.
No segundo período, como vimos, já há representação de A seqüência ideal dos conhecimentos formalizados, respeitadas as
ações, m as a pouca maleabilidade do pensamento impede que o peculiaridades do desenvolvimento de cada aluno no decorrer do
indivíduo compreenda, por exemplo, a reversibilidade dessas mes- período operatório-formal, é um tema que abre inúm eras frentes
mas ações, o que significa um a capacidade limitada de entender o de pesquisa para os estudiosos que buscam transportar o paradig-
mundo circundante. As aquisições operatórias do terceiro período m a piagetiano para a prática pedagógica.
são significativas, porém nada se compara ao momento em que a Os resultados dessas investigações não são importantes ape-
lógica torna-se um a regra para o pensamento e a experiência em - nas para o desenvolvimento intelectual dos educandos - expres-
pírica deixa de ser necessária para a resolução de problemas. são que adquire conotação muito estreita para alguns pedagogos.
O universo concreto, até então hegemônico, éfinalmente su- O trabalho de adequação dos conteúdos escolares diz respeito ao
perado no decorrer do período ogeratório-formal. As operações as- desenvolvimento intelectual, sim, m as é preciso ver que por seu
sum em caráter proposicional, permitindo ao indivíduo raciocinar intermédio a escola auxilia na construção de ferram entas cogniti-
de m aneira totalmente abstrata e elaborar mentalmente hipóteses, vas fundam entais para a inserção ativa do indivíduo na sociedade
ou seja, possibilidades sobre eventos ainda não ocorridos. Integra em que vive, para que ele possa compreender os processos sociais
suas possibilidades de pensamento até m esm o aquilo que ele não e políticos em que está envolvido e, assim, contribuir para seu
acredita que possa existir. aperfeiçoamento.
E comum, nessa fase, o jovem im aginar sociedades alternati- Vale lembrar, ainda, que é no decorrer desse período, e não
vas, sistemas filosóficos perfeitos e caminhos profissionais ainda logo no início, que o indivíduo adquire as competências^ do pen-
P SI COL OG IA DA EDU CA ÇA O P I A G E T - PSI COLOGIA G E N E T I C A E E DU CA ÇA O
.sarnento form al. Trata-se de um a longa transição, que idealm en- aquisição da capacidade de cooperação com os outros. Ao lem brar te
ocorre durante os anos da adolescência. A ssim , entre a quinta que esse é o período em que o pensam ento torna-se capaz de ela- série
do ensino fundam ental e as prim eiras do ensino m édio, o borar form ulações abstratas sobre a realidade, com preendem os
professor deve estar atento para a gradativa inserção de conteú- que tal progresso intelectual só se torna possível por interm édio
dos que exigem tais com petências, podendo trabalhar ju stam en - da descentração do indivíduo, isto é, pelo desenvolvim ento da
te para que a m encionada transição aconteça da m elhor m aneira com petência para enxergar as coisas por m eio de diversos ângu-
possível. los, sob pontos de vista que ultrapassam o eu.
Assim , Piaget mostrou que o desenvolvimento cognitivo e o
A teoria da sociabilidade desenvolvimento da sociabilidade constituem um mesmo proces-
so, cujo ápice é a adaptação ativa do indivíduo ao mundo, o que
A trajetória do desenvolvimento intelectual, do pensamento sen- ocorre no estabelecimento de relações com a realidade material
sório-motor às operações formais, é acompanhada pelo desenvol- e social. A interação do Sujeito com o Objeto e com outros Sujei-
vimento d_ajjociabi 1idade do indivíduo. Esse tópico do paradigma, tos é a única fonte do verdadeiro conhecimento e do pleno desen-
usualmente menos comentado que os demais, é fundamental por- volvimento psicológico, 0 que quer dizer partilhar competências
que acrescenta relevantes contribuições a um a psicologia da edu- cognitivas, em condições de igualdade com o grupo social, para
cação inspirada na psicogênese piagetiana. Por seu intermédio, compreender objetivamente a realidade.
podemos entender com m aior clareza a visão educacional e social O ponto m ais alto do desenvolvimento da sociabilidade é
de Piaget. tam bém o da personalidade — atributo usualmente visto como
Segundo a concepção de Piaget, todas as crianças vivenciam exclusivamente individual. A personalidade encontra-se verdadei-
um a fase inicial em que são incapazes de distinguir o seu eu dos ramente estruturada quando se dá a plena integração do indiví-
objetos e pessoas circundantes - algo semelhante ao que vimos duo à coletividade. Para pensar, o indivíduo emprega parâmetros
na teoria freudiana, no prim eiro capítulo deste livro. Logo nos pri- que superam a visão egocentrada, chegando ao estado em que as
meiros meses de vida, entretanto, começa a formar-se a percep- norm as construídas coletivamente norteiam seus julgamentos
ção do eu, o que dá início de fato ao processo de socialização. morais. Esse estado chama-se/autonomia, e não traduz sujeição
O primeiro momento desse processo traz o predomínio absoluto pura e simples do individual ao social, como pode parecer. Logo
do eu, quando todo o universo - objetos, pessoas, fenômenos físi- m ais voltaremos a esse tópico, quando analisarm os a concepção cos
etc. - é compreendido pela criança com base em seu ponto de de sociedade adotada por Piaget.
vista exclusivo, como se tudo girasse em torno dela, o que Piaget
denominou jegocentrismo.
P Percurso da sociabilidade é a passagem desse estado ego-
cêntrico, em que o indivíduo compreende o mundo exclusivamen-
te com base em seus pontos de vista particulares, a um estado de
plena socialização, em que a pessoa interage com a realidade que a
cerca segundo categorias de julgamento elaboradas coletivamente.
No início, as ações da criança são conduzidas por esquemas sen-
sório-motores e destinadas à satisfação unicamente individual, ao
passo que m ais tarde são ações refletidas, pensadas e articuladas
por meio de parâmetros do grupo social.
Esse momento final é atingido no decorrer do período das
operações formais, teoricamente entre 12 e 16 anos, e consiste na
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Psicologia da Aprendizagem xxxxxxxxxxxxx

  • 1.
  • 2.
  • 3.
  • 4.
  • 5. « I L U L U U I A D A t U U U Ç A O PI At; ET - P S I C O L O G IA G K N É T I C A E KDU CAÇ ÃO a matéria, o aluno faz exercidos de fixação do conteúdo e repro- Sujeito age sobre o Objeto na tentativa de conhecê-lo por meio dos duz os tópicos solicitados na avaliação. O resultado disso não pode referenciais cognitivos que..já.possiu. O Sujeito procura desvendar ser chamado-de conhecimento, embora seja possível verificar ob- o Objeto trazendo-o para dentro desses referenciais,, chamados jetivamente que o Sujeito tem o Objeto retido em sua memória yesquemas cognitivojs, ainda que estes sejam insuficientes para do- - quando o estudante obtém um a boa nota na prova, por exemplo. m inar toda a complexidade do Objeto. A esse processo Piaget deu Dizemos que esse outro processo não resulta em conheci- o nome de^assimilatiio. mento porque ele não produz qualquer modificação no aprendiz. Tomemos o caso em que uma criança já possui a capacida- Para haver conhecimento, devemos conceber que o Sujeito atue de de pegar algum a coisa, em que os movimentos da mão e dos para superar o desequilíbrio existente entre ele e o Objeto, isto é, dedos foram estabelecidos com base em alguma experiência ante- para colocar-se no nível em que ainda não está. Por meio da ação rior ou m esmo devido ao reflexo de preensão, com o qual todos os que empreende para desvendar o Objeto, o Sujeito sofre mudan- indivíduos nascem. A criança dispõe de uma ferramenta cogniti- ças internas, sai do estado atual - de menor conhecimento - e passa va, ainda que mal desenvolvida, que a capacita a agir sobre qual- ao estado superior, em que domina o Objeto. Essa mudança interna quer objeto passível de ser pego por intermédio da mão. Elapode, é conhecimento, algo que não pode ser assegurado pelo processo então, assim ilar qualquer objeto novo. Esse objeto novo, ainda em que o Objeto é simplesmente depositado na mente do aluno. desconhecido, ultrapassa a capacidade do esquema de pegar que A concepção epistemológica adotada por Piaget aproxima a criança possui. Uma pequena bola, por exemplo, imporá certas suas idéias de todas as correntes pedagógicas que enfatizam a ati- dificuldades, mas será assimilada, o que basta para dar início ao vidade do educando e a estruturação de um ambiente escolar que processo de conhecer. corresponda às características pessoais do aluno - seus interesses, O segundo processo chama-se acomodação e consiste nas sua personalidade, seu conhecimento cotidiano. Historicamente, modificações sofridas pelo Sujeito em função do exercício assi- as pesquisas de Piaget vieram endossar os movimentos educacio- milador desencadeado. Agora, o Sujeito tem seus esquemas cog- nais renovadores, contrários ao chamado ensino tradicional verba- nitivos alterados por causa da relação que mantém com o Objeto, lista, impositor de restrições à participação do aluno, centrado no o que representa um esforço adaptativo para superar o desnível saber supremo do professor. Voltaremos a esse tema após anali- existente entre um e outro. Feito isso, chega-se ao estado de equi- sarmos outros tópicos do paradigma piagetiano. líbrio entre Sujeito e Objeto. A criança de nosso exemplo terá de alterar seu esquema cog- Assimilação, acomodação e equilibração nitivo de pegar, o que envolve novos posicionamentos da m us- culatura da mão e dos dedos para acomodar-se às características Vejamos agora os conceitos piagetianos que traduzem as catego- específicas da bola. Após algum tempo, dominará o objeto novo, rias fundamentais da concepção de conhecime_nto assumida por chegando a um ponto de equilíbrio com ele. A criança que atinge Piaget, em que o Sujeito age sobre o Objeto. Piaget considerou que esse patamar não é a m esm a que começou o processo, pois seu o processo de conhecer tem início com o desequilíbrio estabeleci- conhecimento sobre o mundo agora é outro, maior e m ais desen- do entre Sujeito e Objeto; porém, suas pesquisas não contempla- volvido do que quando ainda não tinha agido sobre a bola. ram os fatores motivacionais, de natureza emocional e afetiva, ali 1 O equilíbrio a que o indivíduo chega com os objetos que o envolvidos. Isso não significa que Piaget os tivesse negado, apenas cercam nunca é definitivo, um a vez que o mundo está sempre que, como epistemólogo, concentrou sua atenção nos momentos em mudança, lembra Piaget. O equilíbrio, ainda que provisório, seguintes do processo. representa conhecimento, m as é logo seguido por novas situações Segundo elejgara conhecer é necessário que Sujeito e Objeto em que a pessoa é novamente desafiada, o que dá início a su- estabeleçam um a relação que envolve, na verdade, dois processos cessivas assimilações e acomodações, mais conhecimento, outros complementares e, às vezes, sim ultâneosijp primeiro é quando o desequilíbrios e assim por diante.
  • 6. PSI CO L O GI A DA E D U CA ÇÃ O P I A G E T - P S I C O L O G I A G E N É T I C A E EDU CAÇ ÃO Biologia e ambiente é o mesmo em todas as pessoas. Se há biologismo nessa afirma- ção, ele se deve ao fato de pertencermos todos à espécie humana. Pensar a escola por meio dos conceitos piagetianos implica visua- Desse modo, todos nascemos também em condições de percorrer lizado trabalho do professor como um conjunto de atividades que a m esma trajetória de desenvolvimento no tocante à capacidade propiciam o desenvolvimento cognitivo. O professor é responsável intelectual, do estado em que nosso conhecimento possui menor por apresentar situações desafiadoras que permitam ao aluno per- valor para o estado em que nosso pensamento elabora formula- ceber o desequilíbrio que há entre ele e os conteúdos das matérias ções lógico-matemáticas de maior valor. escolares. Além disso, cabe também ao professor organizar um Se determinados indivíduos exercitam adequadamente suas ambiente de aprendizagem que favoreça a ação do aprendiz sobre potencialidades e percorrem integralmente a linha de desenvol- esses mesmos conteúdos. vimento cognitivo para a qual estão biologicamente capacitados, Mais adiante veremos que essa formulação é ainda muito ge- essa é um a questão que diz respeito ao ambiente em que vive a ral, pois a transposição do paradigm a piagetiano para a educação pessoa. Condições materiais e culturais de vida poderão interferir, escolar pode dar margem a diversas possibilidades de ação peda- positiva ou negativamente, nessa trajetória. gógica, inclusive abolir a definição prévia do que deva ser ensina- Assim , Piaget posicionou suas idéias sobre o desenvolvimen- do aos educandos. Por ora, analisem os outra questão tratada por to cognitivo de m aneira a considerar tanto os aspectos biológicos Piaget e que tanto preocupa os professores. quanto os ambientais. Sem cair no extremismo das teses prede- Não seria a capacidade intelectual definida hereditariamente? term inistas, mostrou que o indivíduo é, de certo modo, programa- No trabalho cotidiano do professor, essa é um a pergunta que sem- do para interagir com o mundo que o cerca e percorrer o caminho pre vem à tona, especialmente quando se depara com alunos que que leva à competência para pensar realidades situadas além dos apresentam dificuldades de aprendizagem. Será que um ambien- dados empíricos imediatos. Sem aliar-se aos ambientalistas radi- te bem organizado - no lar ou na escola - é suficiente para que a cais, Piaget afirmou que o meio pode ser um fator decisivo na de- criança desenvolva competências cognitivas adequadas? terminação de como o indivíduo realiza sua inclinação biológica. Trata-se, aqui, da antiga polêmica entre posturas teóricas pre- A escola é um dos muitos ambientes que podem favorecer ou determ inistas e ambientalistas. Os defensores das primeiras afir- prejudicar o desenvolvimento intelectual. Por isso, cabe ao professor m am que a inteligência é um traço que herdamos geneticamente, ao acreditar na potencialidade de seus alunos e organizar experiências passo que os outros defendem que o ambiente exerce sempre o papel que lhes possibilitem interagir com os saberes formalizados. A esco- m ais importante, por maior que seja o peso dos fatores biológicos. la faz o papel de abrir caminhos para que a criança e o jovem entrem A descrição do processo de conhecer feita por Piagettraz em em contato com o mundo, de modo participativo e construtivo. si a idéia de que todos os indivíduos conhecem por intermédio dos mesmos processos - assimilação e acomodação. Para que haja A teoria do desenvolvimento cognitivo conhecimento, é preciso que o indivíduo estabeleça contato ínti- mo com o conteúdo a ser aprendido e que se posicione ativamente O desenvolvimento intelectual envolve a passagem do indivíduo por frente a esse mesmo conteúdo, o que propiciará mudança em seus quatro grandes períodos, vivenciados necessariamente em seqüên- esquem as cognitivos. Esse processo ocorre em todos os momen- cia, conforme determinação biológica, como já foi comentado. Cada tos da vida da pessoa, diferentemente em cada faixa etária, mas período estabelece alicerces para o seguinte, de modo que as aquisi- independentemente do ambiente social e cultural em que o indi- ções ocorridas em um constituem precondições para o seguinte. víduo esteja inserido. As pesquisas de Piaget levaram-no a separar cada período por Isso não quer dizer que Piaget tenha aderido à tese predeter- marcos cronológicos, mas é preciso ressaltar que essas idades demar- m inista. O que ele afirm a é que todos os seres humanos nascem catórias são meramente indicativas, e não categóricas, como muitas com um potencial que os habilita a conhecer e que esse potencial vezes se pensa. Assim, pode-se dizer, por exemplo, que as crianças
  • 7. PSI COI -OGT A DA EDU CAÇÃO P I A G E T - PSI CO L O GI A G E N É T I C A E E DU CAÇ AO em geral passam do primeiro período para o segundo por volta dos tações, im agens m entais dos objetos que cercam o indivíduo. 24 meses de vida, mas é impossível afirmar, sem um exame acurado, Õ conhecimento, nesse caso, é constituído por im pressões que quando essa transição está ocorrendo em um determinado indivíduo. chegam ao organism o por meio dos órgãos dos sentidos e do O desenvolvimento, portanto, segue uma linha predefinida, aparelho motor. Podemos dizer, então, que a criança age sobre porém variável de indivíduo a indivíduo no tocante ao ritmo em aquilo que alcança com as mãos, aquilo que ouve e vê, aquilo que ocorre. Variações qualitativas também podem ocorrer, eviden- que chega à sua boca, sem, contudo, formar im agens mentais temente, de um a pessoa a outra. No tocante à educação, particu- desses objetos. larmente a escolar, tais conceitos são relevantes porque impedem Nesse período predom ina o processo de assimilação, que co- que o paradigma piagetiano seja tomado como um conjunto de for- meça com 0 simples exercício dos reflexos, isto é, com o aciona- mulações aplicáveis a todos os indivíduos, indiscriminadamente. mento de ferram entas inatas que possibilitam à criança manter Não se pode dizer que determinado aluno já é capaz de com- os prim eiros contatos com os objetos e trazê-los para dentro de preender determinados conteúdos apenas com base na informa- seus referenciais cognitivos, ainda toscos e m al desenvolvidos. ção de que ele já tem 8 anos, ou que não adianta ensinar certas coi- A ssim vão sendo form ados esquemas cognitivos. Do reflexo de sas a outro, porque este ainda não tem 12 anos. A idade do aluno, preensão, por exemplo, forma-se um esquema de agarrar. Trata-se como dado isolado, não é indicador seguro de suas competências de um a mudança cognitiva ocasionada pela experiência, o que e limitações intelectuais. significa já estar ocorrendo 0 processo de acomodação, além da Se a intenção do professor é adotar a teoria de desenvolvi- assim ilação. mento do paradigma piagetiano, deve saber que ela fornece um Vale lembrar que a trajetória do desenvolvimento intelectu- quadro da trajetória cognitiva percorrida pelos seres humanos al aqui descrita diz respeito àquela indagação de natureza epis- em geral - o Sujeito Epistêmico. Concluir algum a coisa sobre um temológica vista no início deste capítulo, traduzida agora pelo aluno específico - o Sujeito Psicológico - é tarefa que exige domí- percurso que leva o indivíduo do conhecimento em pírico, de nio das habilidades de pesquisa prescritas pelo paradigma, o que menor valor, ao conhecim ento abstrato, de m aior valor. A ssim , o implica treinamento especializado do professor, ambiente escolar período sensório-motor corresponde ao momento inicial em que adequado e certas disposições administrativas favoráveis, o que a inteligência encontra-se presa ao plano da experiência im edia- nem sempre é fácil encontrar. ta - nesse caso, presa à materialidade absoluta, à presença física Em que pese essa dificuldade, inerente à transposição da dos objetos. psicologia genética de Piaget para a pedagogia, devemos obser- Os vários esquemas constituídos nesse período são, todos eles, var que os obstáculos mencionados tornam-se menores e superá- esquemas de ação, pois não envolvem representações. A criança de- veis quando pensamos nas contribuições trazidas por suas teses senvolve um esquema de olhar, um esquema de agarrar, um esque- à prática educacional. Se o professor tiver em mãos um quadro, ma de morder e assim por diante. Com o tempo, esses esquemas ainda que meramente indicativo, do desenvolvimento intelectual vão sendo coordenados, o que permite à criança integrá-los uns humano, poderá ajustar a metodologia de ensino e os conteúdos aos outros em determinadas seqüências - olhar um objeto, segu- das matérias escolares às características de seus alunos, o que tra- rá-lo com a mão, levá-lo à boca emordê-lo. rá grandes benefícios ao processo de aprendizagem e ao próprio Um dos experimentos clássicos de Piaget consiste em obser- funcionamento da escola. var a atitude da criança quando um brinquedo cai de suas mãos e desaparece de seu campo visual. Uma variação pode ser feita co- O universo não representado locando-se um anteparo que oculta 0 brinquedo. O que acontece nessa situação é que a criança não procura o objeto desaparecido, A principal característica do prim eiro período de desenvolvi- m esm o tendo visto seu desaparecimento por trás de um a almofa- mento, chamado jsensório-motor^ é a inexistência de represen- da, por exemplo.
  • 8. P I A G E T - PS IC OL O GIA G E N É T I C A E EDUCA ÇÃ O A conclusão é cjue o brinquedo deixa de existir quando não Representaçao, linguagem e socializaçao é visto. Deixa de existir, obviamente, do ponto de vista da criança, para quem a realidade depende das impressões sensoriais que re- Imaginemos agora um a criança que ainda não domine a conduta cebe. Note-se que a inteligência, nesse período do desenvolvimen- do suporte e que, colocada diante da almofada com o brinquedo, to, sendo limitada à experiência sensorial e motora, não é capaz de não aplique mecanicamente esquemas já conhecidos. Essa crian- emitir juízos mais abrangentes sobrejo mando, do tipo “mesmo ça tem uma atitude de meditação, como se raciocinasse para solu- os objetos que não vejo existem ”. cionar o problema e, em seguida, apanha a almofada e a puxa para A inteligência sensório-motora permite aplicar os esquemas, si, obtendo acesso ao brinquedo. então coordenados, a situações novas. Uma criança que tenha ad- O resultado desse outro experimento indica que a criança quirido o esquema de agarrar e chacoalhar seu travesseiro poderá desenvolveu urna conduta complexa por meio da invenção. Ela experimentá-lo com um brinquedo que faz barulho, oque signi- inventou um meio totalmente novo para obter determinado fim, fica apenas a repetição de uma conduta habitual em que os meios, sem precisar empregar a experimentação ativa/ Inventar significa que são os esquemas de agarrar e chacoalhar, não têm relação combinar esquemas m entais, o que quer dizer que essa criança com os fins - no caso, produzir um som. está na última fase do período sensório-motor, já ingressando no Um pouco m ais tarde, ainda durante o primeiro período, período seguinte. os esquemas cognitivos articuíam -se dando mostras de serem A característica mais marcante dq’ segundo período, de de- guiados por alguma] intencionalidade. O fato de o universo da senvolvimento é a^representação, a transform ação de esquemas criança ser restrito às im pressões sensoriais e motoras, nesse —eesquemas combinados —de ação em esquemas representativos. momento, impede que ela anteveja o alcance pleno de suas ações, Aquelas competências intelectuais que, no primeiro período, se m as já existe algum a distinção entre os meios empregados e os desenvolveram como ações agora se completam por meio de cor- fins obtidos. respondentes imagens mentais e simbólicas. E o que Piaget denom inou ,reações circulares^ procedimentos É nesse período que ocorre o progresso mais sensível d^ Jin- que se repetem seguidas vezes, inicialmente apenas para fazer guagem orai, Inicialmente a criança identifica certos objetos, pes- durar um espetáculo interessante para a criança, como quando soas e ações a palavras pertencentes a um universo muito particu- agarra um cordão que pende sobre seu berço e o puxa, fazendo lar e específico. Seu cachorrinho é totó, sua mãe é mamã e tomar balançar um móbile que produz som. Caso esteja diante de uma a mamadeira é mamá. Com o passar do tempo, porém, começa a situação nova e desconhecida, a criança poderá aplicar esse proce- empregar palavras que designam categorias de objetos, pessoas e dimento aos objetos que ali se encontram para tentar resolver um ações. Todos os cachorrinhos são cachorros, todas as m am ães são problema, ocasião em que novas condutas podem instalar-se. mães e ingerir qualquer líquido é beber. U m experimento interessante consiste em colocar uma al- No decorrer do segundo período, que vai dos 2 aos 7 anos de mofada próxima à criança e sobre ela um brinquedo, de modo idade, aproxim adam ente,ji linguagem vai deixando de ser com- que este fique inacessível às suas mãos. A criança aplica à alm o- posta por expressões representativas muito particulares e passa fada esquemas que já possui, como agarrar e puxar, ocasionan- a empregar expressões socialmente convencionadas. Enquanto do a aproximação do brinquedo. Desse modo, firma-se um a nova totó pertence ao universo lingüístico do primeiro tipo, cachorro é conduta, no caso, a chamada conduta do suporte, que consiste em o termo que se convencionou usar, nesta cultura, para identificar puxar um a plataforma para obter algo que esteja sobre ela. Isso um a categoria de objetos - os cães. A comunicação deixa de ser significa que houve acomodação dos esquemas cognitivos, provo- fundamentada nojndivíduo para ser baseada no grupo social. cada por experimentação ativa. Nas próximas vezes em que estiver Essa transformação indica uma mudança nos esquemas re- diante do mesmo problema, é provável que ela puxe a almofada presentativos, que se tornam cada vez mais adaptados ao meio para alcançar o objeto distante. social em que a pessoa vive. Ao longo desse período, a criança de-
  • 9. P S I C O L O G I A DA EDUCAÇÃO P I A G E T - PSICOL OG IA G E N É T J C A E EDUCA ÇÃ O senvolve a capacidade para entabular conversas, sempre mais inte- analogia, dizemos que seu pensamento funciona corno uma m á- ligíveis, com outras pessoas, sendo possível trocar pontos de vista, quina fotográfica que registra duas situações distintas - a água opiniões e impressões de ambas as partes, o que é um avanço na no tubo fino e alto e a água na vasilha baixa e larga e não como socialização do indivíduo. A linguagem porfsim bõlosj expressão uma filmadora, que permite reversão das cenas gravadasTj do vocabulário característico da criança, torna-se uma linguagem Ao término do período pré-operatório. por volta de 7 anos de por/signos, |composta por elementos representativos típicos de idade, a criança já intui operações. É capaz de exibir reversibilida- um a“cultura. de de pensamento na prova operatória descrita, por exemplo, mas Além de revelar um significativo progresso na capacidade diante de outra prova, que exige a mesma competência cognitiva, intelectual de representar o mundo, o desenvolvimento da lin- pode falhar. Isso significa que ela está em vias de ingressar no guagem mostra o início da transição do egocentrism o para a so- terceiro período,. cuja característica essencial é o desenvolvimento cialização, um processo que, como veremos, não se completa ao da capacidade de realizar operações. término desse período, por volta de 7 anos de idade. Nesse novo período, que vai dos 7 aos 12 anos, aproximada- mente, o pensamento da criança ganha a maleabilidade que não O universo concreto possuía até então, sendo capaz de operar mentalmente com es- quem as de ação que até o momento eram apenas representados. O período que acabamos de ver recebe o nome d^ pré-operatório, Com base nas aquisições sensoriais e motoras do prim eiro perí- pois o que o caracteriza é a impossibilidade de a criança utilizar odo, a criança consegue percorrer um trajeto dentro de sua casa. seus esquemas representativos para realizar operações mentais. Mais tarde, descreve o trajeto percorrido, dada a capacidade de Uma operação é constituída por várias propriedades, entre as form ar a im agem mental de suas ações, capacidade esta adquirida quais a reversibilidade, muito mencionada por Piaget e demons- no segundo período. Agora, já consegue elaborar mentalmente o trada no experimento da água colocada em recipientes deform a- trajeto inverso, do ponto final ao ponto deinício. tos diferentes. Ao longo do tempo, as operações vão sendo articuladas como Im aginem os um tubo fino e alto, de um lado, euma vasilha realidades necessárias. Diante de um a prova operatória como a do larga e baixa, de outro. Se enchermos o tubo com água e em se- líquido que flui de u m recipiente para outro, a criança afirm a com guida despejarmos seu conteúdo na vasilha, teremos obviamente total certeza seu resultado, chegando mesmo a suspeitar de que a mesma quantidade de líquido nas duas situações. Dizemos que se trata de algum a brincadeira - de mau gosto, aliás - que esteja o resultado dessa operação é óbvio não só porque vemos a água sendo feita com ela. Mais ainda, a criança torna-se capaz de com- saindo de um lugar e indo para outro, mas porque, ao vê-la no preender um a operação independentemente de esta ser realizada segundo recipiente, somos capazes de fazer mentalmente a opera- na sua frente. ção inversa e compreender, assim , tratar-se da m esm a quantidade Isso quer dizer que o desenvolvimento do indivíduo já está de líquido que pouco antes ocupava o tubo. bastante adiantado, se o compararmos à incapacidade do bebê Nessa prova operatória, é bem-sucedida a pessoa cuja capaci- para ir além do universo empiricamente dado. Entretanto, as ope: dade cognitiva domina a reversibilidade. A criança que se encontra rações mentais que podem ser realizadas nesse momento ainda no período pré-operatório confunde a quantidade de água, que é possuem um caráter cgncrejo, isto é, precisam já ter feito parte da a m esm a nos dois momentos, com o formato dos recipientes. Ela experiência empírica do indivíduo. Daí esse terceiro período ser pode responder que há m ais líquido no tubo, porque ele é mais denominado operatório-concreto. alto, ou que tem mais água na vasilha, por causa das dimensões O caráter concreto das operações significa que os esquemas de sua superfície. cognitivos do indivíduo são ferramentas de assimilação que ainda Isso ocorre porque o pensamento da criança ainda não tem dependem de dados empíricos. Esses dados não precisam estar suficiente mobilidade para reverter a operação realizada. Numa imediatamente presentes, acessíveis aos órgãos dos sentidos, mas
  • 10. P S I C O L O G IA D A EDU CAÇÃO P I A G E T - PSI CO L O GI A G E N E T I C A E E DU CAÇ AO devem já ter estado em algum momento anterior, possibilitando Nesse período operatório-concreto, como já dito, 0 indivíduo a formação de esquemas representativos. Do ponto de vista epis- só opera mentalmente com dados que já tenham feito parte de temológico, as ferramentas cognitivas ainda não funcionam em sua experiência e que possam ser mentalmente manipulados. níveis tais que perm itam conhecimentos de valor normativo. Uma informação como “as caravelas de Cabral atravessaram o oce- ano Atlântico em 1500” pode perfeitamente ser compreendida se o A psicologia genética na escola professor tomar o cuidado de oferecer referenciais concretos para a criança - uma gravura que represente a embarcação mencionada e Sob a perspectiva do paradigma piagetiano, a educação deve con- outros materiais que lhe permitam visualizar o que é um oceano e tribuir para desenvolver as competências cognitivas do educando. entender o marco cronológico empregado na frase, por exemplo. Tendo em vista o que cada período de desenvolvimento requer, Caso contrário, o aluno pode decorar a informação e repeti-la a tarefa do professor inclui organizar atividades que viabilizem quando solicitado, m as isso não será conhecimento de fato se ele o progresso intelectual de seus alunos nas diferentes etapas da não tiver contato concreto com os vários componentes da oração. escolarização. Se o professor não empregar procedimentos didáticos adequados Na condição de paradigm a científico, a psicologia genética às limitações do pensamento, o processo de ensinar e aprender não se dedica a instruir os educadores sobre a elaboração dessas restringe-se à verbalização, à audição e à reprodução de conteú- atividades. Para serem tomadas como psicologia da educação, as dos. Os limites são sempre dados pelo desenvolvimento da crian- idéias de Piaget necessitam ser transpostas para o terreno da prática ça, que nesse momento só é capaz de operar com realidades re- pedagógica, o que exige seu aproveitamento em estudos e pesquisas presentadas, desde que estas estejam ancoradas em referenciais que elaborem metodologias específicas a serem aplicadas à situação concretos. escolar - o que não é possível analisar detidamente neste livro. Fazer abstrações, formular hipóteses, desenvolver raciocínios No plano mais geral, no entanto, podemos dizer que o para- lógico-matemáticos, por exemplo, são habilidades ainda não adqui- digma piagetiano sugere, para as etapas pré-escolares, que todo o ridas no período operatório-concreto. A criança é capaz de enten- empenho deva ser voltado para possibilitar o percurso do pensa- der um a formulação genérica como “se a = b e b = c, então a = c” mento pré-operatório ao pensamento operatório-concreto. O dile- somente quando substituímos esses termos por objetos que ela ma entre alfabetizar ou não a criança nessa fase, por exemplo, não conheça. Ela pode, a partir daí, passar do concreto para o formal, deve ser resolvido de modo padronizado, quer afirmativamente, evidentemente, m as isso não significa que seu pensamento já te- quer negativamente, m as sim mediante avaliação de cada aluno, nha compreendido essa formulação lógica como necessária. As em particular. Alfabetizar, bem como ensinar operações aritméti- expressões lógico-matemáticas ainda não constituem regras para cas, é algo possível de ser feito com crianças que já dominam cer- o pensamento. tas habilidades cognitivas, conclusão a que não se chega tomando- se exclusivamente a idade cronológica de cada uma. O universoformal O mesmo princípio deve ser seguido pelo professor que tra- balha com crianças na faixa etária de 7 a 12 anos, aproximada- Entre os 12 e os 16 anos de idade, aproximadamente, o indivíduo mente, em geral cursando o primeiro ciclo do ensino fundamen- vivência o desenvolvimento do jquarto período, chamado opera- tal. Nessa etapa da escolaridade, o que se requer é que o indivíduo tório-formal Sua principal característica é a transformação dos progrida nas habilidades operatório-concretas de pensamento. esquem as cognitivos até então organizados, capazes de realizar Um ensino que valorize excessivamente a transmissão de conteú- operações concretas, em esquemas que operam com base em rea- dos formalizados pode incorrer no equívoco de fazê-lo por meio lidades apenas imaginadas como possíveis. de formulações puramente verbais, algo que a criança, em geral, Observe-se que desde o início estamos tratando de ações do ainda não domina. Sujeito sobre o Objeto, ações em que os processos de assimilação,
  • 11. K ò l.U Lr iA D A h U U L A I yA O P I A G E T - PS IC OL O GI A G E N É T I C A E E DU CA ÇÃ O acomodação e equilibração acabam por tornar o indivíduo mais não percorridos. Abre-se. para a pessoa, todo um horizonte novo adaptado ao mundo que o cerca. Trata-se de um a adaptação ativa, de perspectivas de vida e transform ação, de si mesmo e do mundo, como já vimos, pois^na concepção piagetiana não existe o indiví- realidades que ela agora começa a dominar por meio de recursos duo como mero receptáculo de influências ambientai^. A trajetó- intelectuais m ais avançados. ria do desenvolvimento elaborada por Piaget traduz o percurso Embora não tenha dedicado suas pesquisas à temática dos que capacita o indivíduo a compreender melhor a realidade que o afetos, Piaget chegou a dizer que as angústias desse momento, a cerca para poder participar de sua transformação. chamada crise da adolescência, são determinadas pelo futuro, ao Eíno último período de desenvolvimento cognitivo que essa contrário do que pensava Freud, para quem essa problemática era capacidade de adaptação ativa atinge seu ápice.’ Esse é o ponto decorrente do retorno de desejos reprimidos na infância - como mais alto da trajetória, pois a competência para pensar na esfera já vimos no primeiro capítulo deste livro. Ao visualizar o futuro, de umuniverso forma] - isto é, não hmitado_ao^existente - dota o sem ter meios para realizá-lo, o jovem muitas vezes se revolta con- indivíduo de maior competência para entender o mundo e contri- tra autoridades e situações estabelecidas. buir para sua mudança. Na escola, esse é o momento em quedos conteúdos das m a- De fato, na esfera do desenvolvimento intelectual do indivíduo, térias podem finalmente ser apresentados de modo puramente podemos verificar que o pensamento formal permite uma com- verbal, sem necessidade de parâmetros concretos para serem com- preensão superior da realidade. Sabemos que no primeiro período preendidos! As noções matemáticas podem ser vistas por meio de o universo da criança limita-se às impressões sensoriais e mo- fórm ulas abstratas, demonstradas tão-somente por intermédio de toras. Ela é capaz de pegar um brinquedo, empurrá-lo para um símbolos genéricos, como x, y , z . O raciocínio hipotético-dedutivo., determinado lugar e puxá-lo de volta, por exemplo, mas disso não necessário ao entendimento dos procedimentos científicos, torna- resulta nenhum a representação mental. Há progressos cognitivos se possível, mesmo sem a demonstração empírica correspondente. nesse período, evidentemente, m as eles traduzem uma interação Se por um lado o trabalho do professor parece assim facilita- ainda precária com o mundo, mesmo no tocante aos fenômenos do, por outro é preciso ressaltar a necessidade de definir de que físicos. modo os conteúdos das matérias escolares devem ser apresentados. No segundo período, como vimos, já há representação de A seqüência ideal dos conhecimentos formalizados, respeitadas as ações, m as a pouca maleabilidade do pensamento impede que o peculiaridades do desenvolvimento de cada aluno no decorrer do indivíduo compreenda, por exemplo, a reversibilidade dessas mes- período operatório-formal, é um tema que abre inúm eras frentes mas ações, o que significa um a capacidade limitada de entender o de pesquisa para os estudiosos que buscam transportar o paradig- mundo circundante. As aquisições operatórias do terceiro período m a piagetiano para a prática pedagógica. são significativas, porém nada se compara ao momento em que a Os resultados dessas investigações não são importantes ape- lógica torna-se um a regra para o pensamento e a experiência em - nas para o desenvolvimento intelectual dos educandos - expres- pírica deixa de ser necessária para a resolução de problemas. são que adquire conotação muito estreita para alguns pedagogos. O universo concreto, até então hegemônico, éfinalmente su- O trabalho de adequação dos conteúdos escolares diz respeito ao perado no decorrer do período ogeratório-formal. As operações as- desenvolvimento intelectual, sim, m as é preciso ver que por seu sum em caráter proposicional, permitindo ao indivíduo raciocinar intermédio a escola auxilia na construção de ferram entas cogniti- de m aneira totalmente abstrata e elaborar mentalmente hipóteses, vas fundam entais para a inserção ativa do indivíduo na sociedade ou seja, possibilidades sobre eventos ainda não ocorridos. Integra em que vive, para que ele possa compreender os processos sociais suas possibilidades de pensamento até m esm o aquilo que ele não e políticos em que está envolvido e, assim, contribuir para seu acredita que possa existir. aperfeiçoamento. E comum, nessa fase, o jovem im aginar sociedades alternati- Vale lembrar, ainda, que é no decorrer desse período, e não vas, sistemas filosóficos perfeitos e caminhos profissionais ainda logo no início, que o indivíduo adquire as competências^ do pen-
  • 12. P SI COL OG IA DA EDU CA ÇA O P I A G E T - PSI COLOGIA G E N E T I C A E E DU CA ÇA O .sarnento form al. Trata-se de um a longa transição, que idealm en- aquisição da capacidade de cooperação com os outros. Ao lem brar te ocorre durante os anos da adolescência. A ssim , entre a quinta que esse é o período em que o pensam ento torna-se capaz de ela- série do ensino fundam ental e as prim eiras do ensino m édio, o borar form ulações abstratas sobre a realidade, com preendem os professor deve estar atento para a gradativa inserção de conteú- que tal progresso intelectual só se torna possível por interm édio dos que exigem tais com petências, podendo trabalhar ju stam en - da descentração do indivíduo, isto é, pelo desenvolvim ento da te para que a m encionada transição aconteça da m elhor m aneira com petência para enxergar as coisas por m eio de diversos ângu- possível. los, sob pontos de vista que ultrapassam o eu. Assim , Piaget mostrou que o desenvolvimento cognitivo e o A teoria da sociabilidade desenvolvimento da sociabilidade constituem um mesmo proces- so, cujo ápice é a adaptação ativa do indivíduo ao mundo, o que A trajetória do desenvolvimento intelectual, do pensamento sen- ocorre no estabelecimento de relações com a realidade material sório-motor às operações formais, é acompanhada pelo desenvol- e social. A interação do Sujeito com o Objeto e com outros Sujei- vimento d_ajjociabi 1idade do indivíduo. Esse tópico do paradigma, tos é a única fonte do verdadeiro conhecimento e do pleno desen- usualmente menos comentado que os demais, é fundamental por- volvimento psicológico, 0 que quer dizer partilhar competências que acrescenta relevantes contribuições a um a psicologia da edu- cognitivas, em condições de igualdade com o grupo social, para cação inspirada na psicogênese piagetiana. Por seu intermédio, compreender objetivamente a realidade. podemos entender com m aior clareza a visão educacional e social O ponto m ais alto do desenvolvimento da sociabilidade é de Piaget. tam bém o da personalidade — atributo usualmente visto como Segundo a concepção de Piaget, todas as crianças vivenciam exclusivamente individual. A personalidade encontra-se verdadei- um a fase inicial em que são incapazes de distinguir o seu eu dos ramente estruturada quando se dá a plena integração do indiví- objetos e pessoas circundantes - algo semelhante ao que vimos duo à coletividade. Para pensar, o indivíduo emprega parâmetros na teoria freudiana, no prim eiro capítulo deste livro. Logo nos pri- que superam a visão egocentrada, chegando ao estado em que as meiros meses de vida, entretanto, começa a formar-se a percep- norm as construídas coletivamente norteiam seus julgamentos ção do eu, o que dá início de fato ao processo de socialização. morais. Esse estado chama-se/autonomia, e não traduz sujeição O primeiro momento desse processo traz o predomínio absoluto pura e simples do individual ao social, como pode parecer. Logo do eu, quando todo o universo - objetos, pessoas, fenômenos físi- m ais voltaremos a esse tópico, quando analisarm os a concepção cos etc. - é compreendido pela criança com base em seu ponto de de sociedade adotada por Piaget. vista exclusivo, como se tudo girasse em torno dela, o que Piaget denominou jegocentrismo. P Percurso da sociabilidade é a passagem desse estado ego- cêntrico, em que o indivíduo compreende o mundo exclusivamen- te com base em seus pontos de vista particulares, a um estado de plena socialização, em que a pessoa interage com a realidade que a cerca segundo categorias de julgamento elaboradas coletivamente. No início, as ações da criança são conduzidas por esquemas sen- sório-motores e destinadas à satisfação unicamente individual, ao passo que m ais tarde são ações refletidas, pensadas e articuladas por meio de parâmetros do grupo social. Esse momento final é atingido no decorrer do período das operações formais, teoricamente entre 12 e 16 anos, e consiste na