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Projeto de Pesquisa –
                                                    suas funções e partes constitutivas 1
                                                                                                               José D’Assunção Barros2

                             Resumo
                             O artigo propõe-se a discutir, de modo didático, aspectos introdutórios
                             relacionados à elaboração de um Projeto de Pesquisa. Discutem-se os motivos
                             e razões para a utilização deste recurso de planejamento de pesquisa que é
                             o Projeto, e as partes que o constituem. O texto remete a um livro mais
                             aprofundado publicado pelo autor, e apresenta este livro como referência
                             única devido à singularidade do artigo, que é a de apresentar-se como
                             convite para que o leitor procure esta obra para maiores aprofundamentos.

                             Palavras-chave: projeto, pesquisa, metodologia, teoria, planejamento.


                             Abstract
                             The article proposes to discuss, in a didactic way, introductory aspects
                             pertinent to the elaboration of a Research Project. They are discussed the
                             motives and reasons for the utilization of this resource of research planning,
                             that is the Project, and they are discussed also the parts that constitute a
                             Project. The text refers to a book more developed that was published by
                             the author, and presents this books as reference, in order to attend to its
                             singularity, that is to invite the reader to search this work for more deep
                             approach.

                             Keywords: project, research, methodology, theory, planning.


1 Para que escrever um Projeto de                                            ser construídos a cada momento pelo próprio
Pesquisa?                                                                    pesquisador. Até mesmo a escolha do lugar a
                                                                             ser alcançado ou visitado não é mera questão
      Iniciar uma Pesquisa, em qualquer campo                                de apontar o dedo para um ponto do mapa,
do conhecimento humano, é partir para uma                                    pois este lugar deve ser, também ele, construído
viagem instigante e desafiadora. Mas trata-se,                               a partir da imaginação e da criatividade do
decerto, de uma viagem diferente, onde já não                                investigador.
se pode contar com um caminho preexistente                                        Delimitado o tema, o problema a ser inves-
que bastará ser percorrido após a decisão de                                 tigado, e os objetivos a serem atingidos, o
partir. Se qualquer viagem traz consigo uma                                  pesquisador deverá em seguida produzir ou
sensação de novidade e de confronto com o des-                               constituir os seus próprios materiais – pois
conhecido, a viagem do conhecimento depara-                                  não os encontrará prontos em uma agência
se adicionalmente com a inédita realidade de                                 de viagens ou em uma loja de artigos apro-
que a estrada e o percurso da Pesquisa devem                                 priados para a ocasião – e isto inclui desde




1
  O artigo aqui apresentado sintetiza o capítulo inicial de um livro publicado pelo autor: BARROS, José D’Assunção, O Projeto de Pesquisa em História
  (Petrópolis: Vozes, 2008, 4ª edição).
2
  Doutor em História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Professor visitante da Universidade Federal de Juiz de Fora (Juiz de Fora) e
  Professor Titular da Universidade Severino Sombra (USS) de Vassouras (Brasil). E-mail: jose.assun@globo.com
educação, ciência e tecnologia



     os instrumentos necessários à empreitada até os     os capítulos de sua dissertação, à medida que
     modos de utilizá-los. É assim que, se qualquer      vai levantando e analisando os seus materiais
     viagem necessita de um cuidadoso plane-             (como na História ou na Sociologia), ou à
     jamento – de um roteiro que estabeleça as           medida que vai realizando os seus experimen-
     etapas a serem cumpridas e que administre os        tos (neste último caso, considerando ciências
     recursos e o tempo disponível – mais ainda a        como a Física ou a Química). Se ele passa a ela-
     viagem da Pesquisa Científica necessitará           borar o seu Projeto, a contragosto, é porque
     deste instrumento de planejamento, que neste        se acha obrigado a isto institucionalmente, uma
     caso também será um instrumento de elabora-         vez que deverá defendê-lo a certa altura do seu
     ção dos próprios materiais de que se servirá        curso em um evento que nas universidades
     o viajante na sua aventura em busca da cons-        brasileiras chama-se “exame de qualificação”.
     trução do conhecimento. Este é o papel do                 Já com relação ao pesquisador que par-
     Projeto na Pesquisa Científica.                     ticipa de um Programa de Pós-Graduação em
           O Projeto de Pesquisa deve ser, natural-      nível de Doutorado, este, na maior parte dos
     mente, um instrumento flexível, pronto a ser        casos, já deve ter elaborado o seu Projeto antes
     ele mesmo reconstruído ao longo do próprio          de ter ingressado no Programa – e neste caso
     percurso empreendido pelo pesquisador. Se           o Projeto terá assumido para ele, para além
     o conhecimento é produto da permanente              do papel de uma exigência institucional, a
     interação entre o pesquisador e o seu objeto        função de uma “carta de intenções” a partir
     de estudo, como tende a ser considerado nos         da qual ele procurou convencer a banca exa-
     dias de hoje, as mudanças de direção podem          minadora de que era um candidato interes-
     ocorrer com alguma freqüência, à medida que         sante para o Programa.
     esta interação se processa e modifica não apenas          Por outro lado, para além dos ambientes
     o objeto de estudo, mas o próprio estudioso.        acadêmicos e universitários, com freqüência
           Ao se deparar com novas fontes, ao ima-       uma pesquisa é proposta pelo seu executante
                                                         para ser financiada por organizações nacionais
     ginar novas hipóteses, ao se confrontar com as
                                                         e internacionais, por institutos e órgãos de
     inevitáveis dificuldades, ao produzir novos
                                                         fomento à pesquisa, e também por empresas
     vislumbres de rumos possíveis, ou ao amadu-
                                                         da caráter privado ou estatal. Os professores
     recer no decorrer do próprio processo de pes-
                                                         que atuam nos meios universitários também
     quisa, o investigador deverá estar preparado
                                                         devem, na maior parte das vezes, registrar as
     para lidar com mudanças, para abandonar             pesquisas que estão realizando como parte
     roteiros, para antecipar ou retardar etapas, para   de suas atividades docentes. Em todos estes
     se desfazer de um instrumento de pesquisa           casos, a elaboração do Projeto de Pesquisa
     em favor do outro, para repensar as esquema-        se apresenta novamente como uma exigência
     tizações teóricas que até ali haviam orientado      necessária, e a incapacidade de atender a esta
     o seu pensamento. Neste sentido, todo Projeto       exigência de maneira minimamente satis-
     é provisório, sujeito a mutações, inacabado.        fatória pode implicar perda de oportunida-
           Diante deste caráter provisório e inaca-      des profissionais importantes.
     bado do Projeto, o pesquisador iniciante freqüen-         Em que pesem estes aspectos institu-
     temente se vê tentado a supor que elaborar          cionais de que se pode ver revestido, um Pro-
     um Projeto é mera perda de tempo, e que me-         jeto de Pesquisa é na verdade muito mais do
     lhor seria iniciar logo a pesquisa. Da mesma        que isto. Assim, contrariamente à falsa idéia de
     forma, o estudioso que acaba de ingressar em        que o Projeto é meramente uma exigência for-
     um Programa de Mestrado, o estudante que            mal e burocrática, ou de que se constitui apenas
     está em vias de elaborar a sua Monografia de        naquele recurso necessário para a Instituição
     final de curso ou de pós-graduação, ou o alu-       selecionar candidatos a pesquisadores ou ava-
     no envolvido em uma pesquisa de Iniciação           liar o seu desempenho, o estudioso mais ama-
     Científica, não raro se põem a perguntar se         durecido sabe que o Projeto é efetivamente
     não seria mais adequado começar já a escrever       uma necessidade da própria pesquisa. Sem o




68
LIBERATO
Projeto, ele sabe que a sua viagem se transfor-       Certamente que a principal função de um
mará em uma caminhada a ermo, que os re-              Projeto de Pesquisa é a de apresentar a sua
cursos em pouco tempo estarão esgotados por           responsabilidade social – considerando que
falta de planejamento, e que os próprios ins-         o Projeto é também um elo entre o Pesquisa-
trumentos necessários para iniciar a viagem,          dor e a sociedade que o acolhe, seja no que
para dar um passo depois do outro, sequer             se refere àqueles que possibilitarão a pro-
chegarão a ser elaborados. Ademais, sempre é          dução e desenvolvimento da pesquisa en-
bom ressaltar que uma das principais finalida-        quanto base de apoio ou mesmo como objeto
des do Projeto, além de visar a definição pre-        de análise, para o caso das Ciências Sociais e
cisa do que será pesquisado, é registrar do por-      Humanas, seja no que se refere à própria socie-
quê e do para que realizar a pesquisa (isto é, a      dade para a qual se direcionam os resultados
sua responsabilidade social), o que, via de re-       da Pesquisa. O Projeto, naturalmente, é registro
gra, conforme veremos, deverá ser esclareci-          de uma relevância social e acadêmica, de um
do em um item bastante específico do Proje-           compromisso com a sociedade e a comunidade
to que é a ‘Justificativa’.                           científica. Reconhecendo esta dimensão fun-
      Retomando a questão de que o Projeto            damental de um Projeto de Pesquisa, estare-
corresponde à própria constituição dos mate-          mos, em seguida, considerando aquelas funções
riais e rumos a serem trilhados pela Pesquisa,        do Projeto que se relacionam mais diretamente
sem o Projeto, o pesquisador mais experiente          com o próprio planejamento e desenvolvimento
sabe que não existe sequer um caminho, uma            da Pesquisa.
vez que este deve ser construído gradualmente               No esquema proposto, encontraremos
a partir de materiais elaborados pelo próprio         as já mencionadas funções formais ou buro-
pesquisador – sendo a elaboração do Projeto           cráticas, que os pesquisadores iniciantes con-
simultaneamente o primeiro passo da cami-             fundem com a única razão de ser do Projeto,
nhada e o primeiro instrumento necessário             mas também as funções operacionais, que são
para se pôr a caminho. O Projeto de Pesquisa,         inerentes à própria realização de uma Pes-
desta maneira, mostra-se a este pesquisador           quisa em si mesma. Assim, se o Projeto é uma
precisamente um ganho de tempo, um agili-             “carta de intenções” (1) onde o pesquisador
zador da pesquisa, um eficaz roteiro direcio-         exibe a sua proposta investigativa para uma
nador, um esquema prévio para a construção            instituição acadêmica ou científica, e se ele é
dos materiais e técnicas que serão necessários        um “item curricular” nas instituições de Pós-
para alcançar os objetivos pretendidos.               Graduação (2), o Projeto é também um pode-
      O “Quadro 1” procura resumir algumas das        roso instrumento que cumpre as funções de
principais funções de um Projeto de Pesquisa.         “direcionador da pesquisa” (3).




                                Quadro 1 – Funções do Projeto de Pesquisa




                                                                                                            69
educação, ciência e tecnologia



           Neste último particular, o pesquisador            Alguns destes diálogos, em se tratando
     que pretenda iniciar sem um Projeto a sua         das pesquisas de Pós-Graduação, encontram
     viagem de construção do conhecimento, cedo        precisamente o seu lugar nos momentos em
     perceberá que o próprio tema lhe parece fugir     que o pesquisador expõe o seu Projeto a pro-
     constantemente. Facilmente o pesquisador pode     fessores e colegas nos vários seminários que
     se pôr a perder em uma floresta temática, que     habitualmente constituem parte dos itens curri-
     lhe oferece mil direções e possibilidades, até    culares de um curso de Mestrado ou de Dou-
     que perceba que, dentro de um tema mais           torado. O próprio “Exame de Qualificação” é
     amplo, é preciso recortar, criar um problema,     precisamente um momento maior nesta rede
     estabelecer uma direção, e que o Projeto vai      permanente de diálogos – um momento algo
     lhe permitir precisamente a efetivação destes     ritualizado em que o pesquisador apresenta
     múltiplos recortes que tornarão a sua pesquisa    o seu trabalho a alguns professores para receber
     possível, viável e relevante.                     críticas e sugestões que o ajudarão a aperfeiçoar
           Esta constituição gradual e sistemática     o seu trabalho e a encontrar novos caminhos.
     de um objeto de pesquisa não necessita apenas           O Projeto cumpre, desta forma, oferecer
     de uma direção e de um recorte delimitador,       o “retrato de uma pesquisa em andamento”
     mas também de um planejamento. Aqui, o            (7). Neste momento, em se tratando de uma
     Projeto vem trazer outra contribuição, uma        pesquisa que visa a elaboração de uma Dis-
     vez que em uma de suas instâncias ele se          sertação de Mestrado, é lícito chamar o pro-
     constitui em um “roteiro de trabalho” ou em       jeto de “Projeto de Dissertação” (ao invés de
     um instrumento de planejamento (4) sem o          “Projeto de Pesquisa”, expressão que impli-
     qual o pesquisador desperdiçaria os seus recur-   caria uma investigação que ainda está por se
     sos, perdendo-se em uma investigação não          realizar ou que, no máximo, anunciaria pro-
     sistematizada para ficar a meio caminho dos       cedimentos ainda exploratórios). No caso
     objetivos que sequer chegou a explicitar de       de um “Projeto de Dissertação”, que o estu-
     maneira mais clara para si mesmo.                 dante de mestrado apresenta já na metade do
           Sobretudo, o Projeto é um eficaz “ins-      seu curso, a Pesquisa já deve se encontrar
     trumento para elaboração de idéias” e para        em estágio mais avançado e definido, e daí a
     auto-esclarecimento de quem o produz (5).         pertinência desta mudança de designação.
     Ao elaborar um quadro teórico ou ao pensar              Deve-se mencionar ainda que, neste e
     metodologias, ao construir hipóteses e fixar      em outros casos, é aconselhável, ou mesmo
     objetivos, ao empreender uma revisão biblio-      imprescindível, acrescentar ao Projeto um
     gráfica que colocará o pesquisador diante da      “Plano de Capítulos”, no qual devem estar
     literatura já existente sobre o assunto, o Pro-   sumariados, de modo sintético e preliminar,
     jeto vai gradualmente esclarecendo aquele         os capítulos pretendidos para o texto final da
     que o produz, dando-lhe elementos para            Dissertação de Mestrado ou Tese. Em tempo:
     articular melhor as suas idéias e confrontá-      este “plano de capítulos” é também provisório,
     las com o que já foi feito naquele campo de       sujeito a mudanças e redefinições, e as próprias
     conhecimento.                                     sugestões recebidas pela banca examinadora
           Mais ainda, o Projeto permite que a pes-    podem contribuir para este redirecionamento
     quisa em andamento seja exposta aos olhares       que poderá conduzir a uma nova organiza-
     de outros pesquisadores, sejam professores        ção de capítulos.
     e profissionais mais experientes, que incluem
     o orientador da dissertação ou da tese, sejam
                                                       2 As partes de um Projeto de Pesquisa
     os colegas de mesmo nível, também capazes
     de contribuir significativamente para uma pes-         Conforme pudemos ver, o Projeto cum-
     quisa que, sabe-se muito bem, nunca é um          pre múltiplas funções e finalidades no trabalho
     trabalho exclusivamente individual. O Projeto     de Pesquisa. Ele procura antecipar algumas
     torna-se, desta maneira, um instrumento para      perguntas fundamentais relacionadas à Pes-
     o “diálogo científico e acadêmico” (6).           quisa proposta, tanto no sentido de dar uma




70
LIBERATO
satisfação a terceiros (quando for o caso) como       delimitações, bem como integrar recortes simul-
no sentido de promover um auto-esclarecimento         tâneos que podem remeter a um tempo, a um
para o próprio pesquisador e um delineamento          espaço, a um problema investigado. Por ora,
preciso do recorte temático, de cada etapa, de        de uma maneira um tanto simplificada, dire-
cada instrumento, de cada técnica a ser abordada.     mos que é precisamente aqui que o pesqui-
Assim, ele responde de antemão às seguintes           sador deve esclarecer ao seu leitor qual é o
perguntas relacionadas à pesquisa proposta:           objeto de sua investigação ou da sua realiza-
O que se pretende fazer? Por que fazer? Para          ção científica.
que fazer? A partir de que fundamentos? Com                 “Por que fazer?” é uma pergunta impor-
o que fazer? Como fazer? Com que materiais?           tante, que interessa particularmente àqueles
A partir de que diálogos? Quando fazer?               que irão decidir se o seu projeto deve prosse-
                                                      guir, se deve ser financiado, se pode ser aceito
      Cada uma destas perguntas remete, em
                                                      em um programa de pesquisa ou de Pós-
princípio, a uma parte específica do Projeto
                                                      Graduação. O capítulo do Projeto que busca
– a uma espécie de compartimento redacional
                                                      esclarecer isto, de forma bem convincente e
onde o pesquisador procura esclarecer de ma-          argumentativa, denomina-se, habitualmente,
neira clara e precisa, para os outros ou para         ‘Justificativa’ (2). Não raro, também acrescen-
si mesmo, as várias instâncias que devem              ta-se a esta denominação as palavras ‘relevân-
alicerçar o seu trabalho (Quadro 2).                  cia’ ou ‘viabilidade’, que no fundo não são mais
      “O que fazer?”, por exemplo, é uma per-         do que aspectos específicos de uma ‘justifi-
gunta que se busca esclarecer logo de princípio,      cativa’ no seu sentido mais amplo.
na “Introdução” do Projeto e, eventualmente,                “Para que fazer?” vincula-se ao estabele-
em um capítulo denominado ‘Delimitação                cimento de objetivos a atingir – dando origem
Temática’ (1) ou ‘Exposição do Problema’ (estes       a um capítulo bastante conciso que se refere
nomes variam muito, de instituição a institui-        às finalidades a serem alcançadas, freqüen-
ção, e não devem ser tomados como parâmetros          temente enunciadas em ordem numérica e da
absolutos). Veremos mais adiante que a res-           maneira mais simples possível. Este capítulo
posta a esta pergunta deve sofrer sucessivas          recebe, normalmente, o título de “Objetivos” (3).




                              Quadro 2 – As partes de um Projeto de Pesquisa




                                                                                                             71
educação, ciência e tecnologia



           “A partir de que fundamentos?” remete        sobre os quais irá trabalhar – materiais que não
     a todo um conjunto de possibilidades teóricas      são propriamente aparelhos e ferramentas, mas
     ou mesmo de visões de mundo que, pelo              sim a matéria-prima que sofrerá a intervenção
     menos em parte, o pesquisador já deve trazer       das ferramentas e instrumentais diversos.
     consigo ao iniciar a sua viagem produtora de             No caso da História, para dar o exemplo
     conhecimento. O capítulo que busca concentrar      de uma das ciências humanas, esta espécie
     a referência a estes aspectos fundamentais,        de matéria-prima fundamental da qual preci-
     verdadeiros alicerces mentais que nortearão        sará partir o historiador que empreende a sua
     as ações e as escolhas feitas pelo pesquisador,    viagem ao passado é a “fonte” ou o “docu-
     denomina-se “Quadro Teórico” (4). Trata-se         mento histórico”. É conveniente dissertar sobre
     aqui, de definir desde as filiações mais amplas,   as “fontes” que serão utilizadas, antes de dis-
     até os conceitos, expressões e categorias que      correr sobre as metodologias que serão utili-
     serão utilizados na elaboração reflexiva e na      zadas para constituí-las em um corpus docu-
     sua exposição de resultados.                       mental definido e para interpretá-las. Daí ser
           “Com o que fazer?” e “Como fazer?” são       bastante comum a designação ‘Fontes e
     indagações que reenviam respectivamente aos        Metodologia’ em um Projeto de História
     instrumentos e às técnicas de pesquisa. De         (equivalente a ‘Materiais e Metodologia’ em
     fato, um “instrumento” é aquilo com o que se       projetos experimentais vinculados ao campo
     faz, e remete aos recursos de natureza material    das ciências exatas).
     ou mesmo abstrata que serão empregados                   Deve-se acrescentar que a Metodologia,
     como verdadeiras ferramentas para a pesquisa.      para muito além do mero registro dos materiais
     Neste caso, são ‘instrumentos’ um cronômetro e     e técnicas, deve apresentar essencialmente a
     uma balança, um tubo de ensaio (para o caso        caracterização da abordagem que a pesquisa
     de pesquisas nas áreas das ciências exatas e       pretende utilizar em seu desenvolvimento,
     biológicas) mas também um formulário, um           considerando o problema e seus objetivos.
     questionário, ou mesmo um gráfico que se           Neste sentido, a Metodologia pressupõe todo
     elabora para acondicionar os dados colhidos        um referencial ontológico, epistemológico do
     e prepará-los para a interpretação.                pesquisador.
           Já uma ‘técnica’ remete ao modo de rea-            “A partir de que diálogos?” é a pergunta
     lizar algo, e abrange procedimentos como as        que situa uma Pesquisa em uma rede de intertex-
     coletas de informações, as entrevistas, as ma-     tualidades com outros autores. Dito de outra
     neiras sistematizadas de empreender obser-         forma, indaga-se aqui pelos “interlocutores”
     vações, e também as análises de conteúdo, as       da reflexão a ser realizada. Dificilmente uma
     análises estatísticas, ou outras metodologias      pesquisa científica parte do “ponto zero” (se é
     destinadas à interpretação dos dados que foram     que já existiu alguma que o tenha feito na his-
     coletados ou captados. Enfim, as “técnicas”        tória do conhecimento humano). Nem que seja
     podem se referir tanto à coleta de dados e à       para contestar radicalmente os autores prece-
     constituição de documentação, como também          dentes que já se debruçaram sobre o mesmo
     às análises destes dados e destas fontes.          problema, o pesquisador precisa inserir a sua
           Os instrumentos e técnicas são habitual-     reflexão em um diálogo implícito ou explícito
     mente acondicionados em um capítulo bastante       com a literatura e com o conhecimento já
     importante do Projeto, e que se denomina           existente. Mais comum é que, além das even-
     “Metodologia” (5), “Métodos e Técnicas”,           tuais contestações e correções a autores prece-
     “Procedimentos Metodológicos”, ou algo do          dentes, o pesquisador também encontre autores
     gênero. Também é utilizada, talvez de ma-          e obras que lhe servirão como pontos de apoio,
     neira ainda mais apropriada, a designação          como alavancas para se impulsionar para mais
     “Materiais e Metodologia” (“Fontes e Metodo-       adiante, como inspiração para novos rumos e
     logia”, por exemplo, para o caso da História).     abordagens.
     É uma designação interessante quando o pesquisa-         É neste sentido que, em um Projeto de
     dor precisa descrever também os materiais          Pesquisa, não pode faltar o que se poderia




72
LIBERATO
chamar de uma “Revisão Bibliográfica”. Alguns      Isto seria exaustivo, quando não impossível.
modelos de Projeto atribuem um capítulo es-        Algumas obras podem apenas ser referen-
pecial a este levantamento crítico, no qual o      ciadas no compartimento final do Projeto, a
pesquisador irá apresentar e discutir algumas      “Bibliografia” ou “Referências Bibliográficas”
das obras preexistentes que serão reapropriadas    (8). Outras obras, consideradas pouco impor-
no seu trabalho, seja sob a forma de assimilação   tantes para a pesquisa, sequer precisam apa-
ou de confronto. Mas, por outro lado, o já         recer. O que não pode faltar são as fontes mais
mencionado “Quadro Teórico”, que vimos ser         diretas, que no caso de uma pesquisa
aquele capítulo em que o pesquisador expõe         historiográfica, por exemplo, são os chamados
o seu referencial teórico e os conceitos de que    “documentos” ou “fontes históricas”. Estas
irá se valer, pode também incluir como item a      “fontes primárias”, aliás, devem aparecer se-
revisão bibliográfica, já que, de algum modo,      paradas da “bibliografia geral”, precedendo-a.
esta revisão também representa uma base de         Ou seja, no caso dos projetos de História o
teoria da qual partirá o pesquisador para ela-     capítulo “Bibliografia” deve ser organizado
borar as suas próprias reflexões.                  em dois itens distintos, um relativo à docu-
      O importante é que este item (ou o seu       mentação de época ou mais diretamente assi-
conteúdo) esteja efetivamente presente, em-        milada como material primário pertinente ao
bora sem repetições. Portanto, se foi destacado    problema examinado, e outro relacionado às
um capítulo especial para a “Revisão Biblio-       obras de autores vários que refletiram sobre
gráfica” (que muitas vezes aparece logo de-        o mesmo tema, e que constituem o diálogo
pois da “Introdução” ou a da “Delimitação          intertextual estabelecido pela Pesquisa.
Temática”) as obras ali mencionadas não de-              “Quando fazer?” é a pergunta que re-
vem ser rediscutidas no “Quadro Teórico”. É        mete à temporalidade relacionada à duração
possível também discutir algumas obras na “Re-     da pesquisa, ao planejamento das suas várias
visão Bibliográfica”, mais diretamente ligadas     etapas. Toda pesquisa deve ser proposta em
ao tema, e deixar para o “Quadro Teórico” a        relação a um intervalo de tempo definido,
discussão de outras que se referem mais pro-       mesmo que passível de renovação. Freqüen-
priamente a instrumentais teóricos que serão       temente, ela será realizada por etapas, e se
utilizados, a conceitos importantes para a         abranger um período relativamente amplo
pesquisa, a categorias e abordagens.               (um ano ou mais) será necessário dar à Insti-
      Quando o Projeto de Pesquisa delimita        tuição satisfações periódicas a respeito do
um capítulo especial para a “Revisão Biblio-       andamento da Pesquisa, o que poderá ser feito
gráfica”, logo depois da apresentação do tema      com a utilização de um tipo de texto que é
e da definição da problemática, esta oportu-       chamado “Relatório de Pesquisa”.
nidade deve ser aproveitada para apresentar              Com relação ao Projeto, as várias etapas
as lacunas existentes no conhecimento sobre        previstas, as várias atividades que serão reali-
o assunto que será abordado. Tornar claras         zadas, os diferentes trabalhos que integrarão
as lacunas bibliográficas relativas ao enfoque     a pesquisa – tudo isto precisa ser referenciado
proposto, por sinal, é um excelente elo de         em um “Cronograma de Pesquisa”, normal-
ligação para o item “Justificativa”, que pode      mente sob a forma de um quadro ou tabela
principiar precisamente ressaltando que, dadas     que expõe de maneira instantânea a relação
as lacunas ainda existentes neste ou naquele       entre o conjunto de ações previstas e o tempo
aspecto, o Projeto proposto torna-se extrema-      previsto para serem realizadas. O Cronograma
mente relevante, já que poderá contribuir de       é um instrumento não apenas para o controle
alguma maneira para suprí-las. Com isto, o         da Instituição, mas principalmente para o auto-
pesquisador já parte com um excelente argu-        controle do pesquisador no que se refere ao
mento a favor da necessidade de a sua pes-         andamento do seu trabalho. Ele não é, natural-
quisa ser empreendida.                             mente, uma tábua sagrada e implacável, mas é
      Não é necessário, por outro lado, discutir   uma orientação importante para a realização do
toda a bibliografia que existe sobre o assunto.    trabalho.




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educação, ciência e tecnologia



           Será oportuno mencionar um capítulo         informações. Este tipo de pesquisa é em di-
     recorrente em Projetos que é aquele que se        versas ocasiões requerido por empresas que
     relaciona às “Hipóteses” e que, normalmente,      precisam se manter informadas para definir
     vem situado após o “Quadro Teórico” e antes       suas linhas de ação. Pode-se, por exemplo,
     do capítulo relacionado à “Metodo-logia”. De      encomendar uma “pesquisa de mercado”, ou
     certo modo, as hipóteses constituem o verda-      ainda uma “pesquisa de tendências” que vise
     deiro cerne da pesquisa do tipo “tese”. Vere-     acompanhar um processo eleitoral com tal
     mos adiante que uma hipótese corres-ponde         ou qual finalidade. Pode-se visar o levanta-
     a uma resposta (ou possibilidade de respos-       mento do perfil de determinado grupo de con-
     ta) que se relaciona ao problema formulado.       sumidores, ou empreender uma pesquisa des-
     Dependendo da intencionalidade da Pesqui-         critiva que busque levantar as características
     sa, seu problema e objetivos, pode-se ainda       de determinada localidade. Neste caso, se o
     recorrer ao uso de ‘Questões Norteadoras de       Projeto de Pesquisa do qual estamos falando
     Pesquisa’ em substituição às Hipóteses, o que,    não é um projeto problematizado no mode-
     naturalmente, também implica diferenciação        lo de tese, obviamente não tem sentido um
     de procedimentos de coleta e análise dos da-      capítulo relativo a “Hipóteses”.
     dos ou informações.                                     Em linhas gerais, as partes acima des-
           Retomando o esclarecimento relacio-         critas compõem a totalidade do Projeto de
     nado à função de hipóteses em certos tipos        Pesquisa, podendo ainda ser incluído um ca-
     de pesquisa, deve-se ressaltar que uma hipó-      pítulo relacionado a “Recursos” para o caso
     tese representa uma direção que se imprime        de serem requeridos a determinada instituição
     à Pesquisa, mesmo que seja abandonada no          financiamentos diversos, equipamentos, pas-
     decorrer do processo de investigação em favor     sagens, e também a contratação de pessoal
     de outra. Ao mesmo tempo em que deve estar        técnico. O capítulo “Recursos”, que pode abran-
     intimamente relacionada ao “Quadro Teórico”,      ger um plano de custos da pesquisa e uma
     as hipóteses também contribuem para definir       exposição de suas necessidades materiais,
     a “Metodologia” que será empregada. Desta for-    estaria respondendo a uma nova pergunta:
     ma, as hipóteses preenchem um certo espaço        “Quanto vai custar?”.
     entre a teoria e a metodologia de um Projeto            Pode-se dar, ainda, que para além dos
     de Pesquisa, razão por que se prefere             recursos econômicos e materiais seja necessá-
     localizá-la entre estes dois capítulos.           rio planejar diversificados recursos humanos.
           De certo modo, é somente quando se          Neste caso, estaremos falando de uma pes-
     consegue elaborar uma ou mais hipóteses de        quisa que não será empreendida por uma só
     trabalho que a Pesquisa começa a tomar a          pessoa, mas por uma equipe que poderá ser
     forma requerida a uma Dissertação de              coordenada pelo autor do Projeto. Trata-se,
     Mestrado ou a uma Tese de Doutorado. Caso         neste caso, de planificar a contribuição e atua-
     contrário, tem-se apenas um trabalho descri-      ção de todos os participantes, e de indicar
     tivo, que pode ser adequado a uma Monografia      eventualmente entidades que estejam atuando
     ou a um Livro que se proponha a desenvolver       em conjugação com o Projeto. Em uma pala-
     determinado assunto, mas que não corresponde      vra, trata-se de responder às perguntas “Quem
     propriamente ao modelo de tese. Uma tese          vai fazer?” e “O que cada um vai fazer?”.
     não é uma reflexão livre, descritiva ou ensaís-         Estes últimos aspectos, naturalmente,
     tica, mas sim uma reflexão sistematizada e        fogem ao caso dos Projetos de Dissertação
     orientada por um determinado problema.            ou de Tese, que implicam, necessariamente,
           Por outro lado, vale lembrar que nem        trabalhos individuais. Quanto aos demais as-
     toda Pesquisa corresponde necessariamente         pectos, correspondem ao tipo de conteúdo
     a um modelo de Tese, e pode se dar que o          que deve aparecer em qualquer espécie de
     objetivo do pesquisador seja apenas o de le-      Projeto ao qual se queira dar um tratamento
     vantar determinado conjunto de dados ou de        minimamente profissional. Para sintetizar o




74
LIBERATO
que já foi dito, o quadro 3 procura relacionar                         Outro ponto que se mostra oportuno
as várias perguntas que se faz a um Projeto                      esclarecer é a distinção entre o Projeto e a Pes-
com os seus capítulos correspondentes.                           quisa propriamente dita, ou ainda entre o Proje-
                                                                 to e a própria Tese ou Monografia que registrará
                                                                 os resultados da pesquisa. Um projeto é uma
                                                                 proposta de realizar algo, é um roteiro, um
                                                                 instrumento de planejamento. Sua linguagem,
                                                                 ou pelo menos sua intenção, está associada a
                                                                 um tempo verbal no futuro. Já a Tese, a Mono-
                                                                 grafia ou qualquer outro tipo de texto no qual
                                                                 o pesquisador registra o resultado de sua pes-
                                                                 quisa e a sua reflexão, corresponde um tra-
                                                                 balho já realizado e concluído. É a Tese, ou a
                                                                 Monografia, o que poderá se transformar
                                                                 eventualmente em livro, não o Projeto. Em
                                                                 vista disto, a linguagem da tese refere-se a
                                                                 uma pesquisa já realizada, enquanto a do Pro-
                                                                 jeto refere-se a uma Pesquisa por se realizar.
Quadro 3 – Perguntas de um projeto e capítulos correspondentes
                                                                       Desta maneira, se em algumas ocasiões
      Por outro lado, embora os vários tipos de                  é possível aproveitar para o texto da Tese ou
conteúdo atrás descritos marquem uma pre-                        Monografia trechos que haviam sido escritos
sença quase certa, deve ficar claro que não existe               originalmente para o seu Projeto de Pesquisa
um parâmetro oficial e único de Projeto de                       (um quadro teórico ou metodológico, uma
Pesquisa no que tange à sua ordem e definição                    revisão bibliográfica) deve-se ter o cuidado
de capítulos. Partindo do modelo proposto,                       de adaptar a linguagem do ‘futuro ainda não
o pesquisador pode considerar adequado su-                       realizado’ que aparece no Projeto para a lin-
primir ou acrescentar capítulos, reunir duas                     guagem do ‘passado já realizado’, da pes-
seções em uma única, modificar a ordem de                        quisa já concluída exposta na Tese.
                                                                       Por fim, acrescentaremos que o modelo
apresentação dos capítulos propostos, e assim
                                                                 de Projeto de Pesquisa atrás discutido, em
por diante – desde que isto faça algum sentido
                                                                 suas instâncias fundamentais, pode ser utili-
para a sua pesquisa ou que atenda a um padrão
                                                                 zado de maneira eficaz para a maioria dos
qualquer de lógica proposto pelo próprio                         campos de conhecimento, sejam os perten-
autor do projeto. De igual maneira, um tipo                      centes ao universo das ciências humanas, sejam
de pesquisa ou um campo de conhecimento                          os pertencentes ao universo das ciências exatas
específico pode exigir a abertura de um capí-                    e biológicas.
tulo que não seria necessário, ou mesmo perti-
                                                                 Referência
nente, em outro. Enfim, qualquer modelo de
Projeto proposto em uma obra de Metodologia
Científica não é mais que isto: um modelo,                       BARROS, José D’Assunção. O Projeto de
pronto para ser alterado e adaptado de acor-                     Pesquisa em História. 4. ed. Petrópolis: Vozes,
do com as necessidades.                                          2008.




                                                                                                                        75
Projeto de Pesquisa: funções e partes constitutivas

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Projeto de Pesquisa: funções e partes constitutivas

  • 1. Projeto de Pesquisa – suas funções e partes constitutivas 1 José D’Assunção Barros2 Resumo O artigo propõe-se a discutir, de modo didático, aspectos introdutórios relacionados à elaboração de um Projeto de Pesquisa. Discutem-se os motivos e razões para a utilização deste recurso de planejamento de pesquisa que é o Projeto, e as partes que o constituem. O texto remete a um livro mais aprofundado publicado pelo autor, e apresenta este livro como referência única devido à singularidade do artigo, que é a de apresentar-se como convite para que o leitor procure esta obra para maiores aprofundamentos. Palavras-chave: projeto, pesquisa, metodologia, teoria, planejamento. Abstract The article proposes to discuss, in a didactic way, introductory aspects pertinent to the elaboration of a Research Project. They are discussed the motives and reasons for the utilization of this resource of research planning, that is the Project, and they are discussed also the parts that constitute a Project. The text refers to a book more developed that was published by the author, and presents this books as reference, in order to attend to its singularity, that is to invite the reader to search this work for more deep approach. Keywords: project, research, methodology, theory, planning. 1 Para que escrever um Projeto de ser construídos a cada momento pelo próprio Pesquisa? pesquisador. Até mesmo a escolha do lugar a ser alcançado ou visitado não é mera questão Iniciar uma Pesquisa, em qualquer campo de apontar o dedo para um ponto do mapa, do conhecimento humano, é partir para uma pois este lugar deve ser, também ele, construído viagem instigante e desafiadora. Mas trata-se, a partir da imaginação e da criatividade do decerto, de uma viagem diferente, onde já não investigador. se pode contar com um caminho preexistente Delimitado o tema, o problema a ser inves- que bastará ser percorrido após a decisão de tigado, e os objetivos a serem atingidos, o partir. Se qualquer viagem traz consigo uma pesquisador deverá em seguida produzir ou sensação de novidade e de confronto com o des- constituir os seus próprios materiais – pois conhecido, a viagem do conhecimento depara- não os encontrará prontos em uma agência se adicionalmente com a inédita realidade de de viagens ou em uma loja de artigos apro- que a estrada e o percurso da Pesquisa devem priados para a ocasião – e isto inclui desde 1 O artigo aqui apresentado sintetiza o capítulo inicial de um livro publicado pelo autor: BARROS, José D’Assunção, O Projeto de Pesquisa em História (Petrópolis: Vozes, 2008, 4ª edição). 2 Doutor em História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Professor visitante da Universidade Federal de Juiz de Fora (Juiz de Fora) e Professor Titular da Universidade Severino Sombra (USS) de Vassouras (Brasil). E-mail: jose.assun@globo.com
  • 2. educação, ciência e tecnologia os instrumentos necessários à empreitada até os os capítulos de sua dissertação, à medida que modos de utilizá-los. É assim que, se qualquer vai levantando e analisando os seus materiais viagem necessita de um cuidadoso plane- (como na História ou na Sociologia), ou à jamento – de um roteiro que estabeleça as medida que vai realizando os seus experimen- etapas a serem cumpridas e que administre os tos (neste último caso, considerando ciências recursos e o tempo disponível – mais ainda a como a Física ou a Química). Se ele passa a ela- viagem da Pesquisa Científica necessitará borar o seu Projeto, a contragosto, é porque deste instrumento de planejamento, que neste se acha obrigado a isto institucionalmente, uma caso também será um instrumento de elabora- vez que deverá defendê-lo a certa altura do seu ção dos próprios materiais de que se servirá curso em um evento que nas universidades o viajante na sua aventura em busca da cons- brasileiras chama-se “exame de qualificação”. trução do conhecimento. Este é o papel do Já com relação ao pesquisador que par- Projeto na Pesquisa Científica. ticipa de um Programa de Pós-Graduação em O Projeto de Pesquisa deve ser, natural- nível de Doutorado, este, na maior parte dos mente, um instrumento flexível, pronto a ser casos, já deve ter elaborado o seu Projeto antes ele mesmo reconstruído ao longo do próprio de ter ingressado no Programa – e neste caso percurso empreendido pelo pesquisador. Se o Projeto terá assumido para ele, para além o conhecimento é produto da permanente do papel de uma exigência institucional, a interação entre o pesquisador e o seu objeto função de uma “carta de intenções” a partir de estudo, como tende a ser considerado nos da qual ele procurou convencer a banca exa- dias de hoje, as mudanças de direção podem minadora de que era um candidato interes- ocorrer com alguma freqüência, à medida que sante para o Programa. esta interação se processa e modifica não apenas Por outro lado, para além dos ambientes o objeto de estudo, mas o próprio estudioso. acadêmicos e universitários, com freqüência Ao se deparar com novas fontes, ao ima- uma pesquisa é proposta pelo seu executante para ser financiada por organizações nacionais ginar novas hipóteses, ao se confrontar com as e internacionais, por institutos e órgãos de inevitáveis dificuldades, ao produzir novos fomento à pesquisa, e também por empresas vislumbres de rumos possíveis, ou ao amadu- da caráter privado ou estatal. Os professores recer no decorrer do próprio processo de pes- que atuam nos meios universitários também quisa, o investigador deverá estar preparado devem, na maior parte das vezes, registrar as para lidar com mudanças, para abandonar pesquisas que estão realizando como parte roteiros, para antecipar ou retardar etapas, para de suas atividades docentes. Em todos estes se desfazer de um instrumento de pesquisa casos, a elaboração do Projeto de Pesquisa em favor do outro, para repensar as esquema- se apresenta novamente como uma exigência tizações teóricas que até ali haviam orientado necessária, e a incapacidade de atender a esta o seu pensamento. Neste sentido, todo Projeto exigência de maneira minimamente satis- é provisório, sujeito a mutações, inacabado. fatória pode implicar perda de oportunida- Diante deste caráter provisório e inaca- des profissionais importantes. bado do Projeto, o pesquisador iniciante freqüen- Em que pesem estes aspectos institu- temente se vê tentado a supor que elaborar cionais de que se pode ver revestido, um Pro- um Projeto é mera perda de tempo, e que me- jeto de Pesquisa é na verdade muito mais do lhor seria iniciar logo a pesquisa. Da mesma que isto. Assim, contrariamente à falsa idéia de forma, o estudioso que acaba de ingressar em que o Projeto é meramente uma exigência for- um Programa de Mestrado, o estudante que mal e burocrática, ou de que se constitui apenas está em vias de elaborar a sua Monografia de naquele recurso necessário para a Instituição final de curso ou de pós-graduação, ou o alu- selecionar candidatos a pesquisadores ou ava- no envolvido em uma pesquisa de Iniciação liar o seu desempenho, o estudioso mais ama- Científica, não raro se põem a perguntar se durecido sabe que o Projeto é efetivamente não seria mais adequado começar já a escrever uma necessidade da própria pesquisa. Sem o 68
  • 3. LIBERATO Projeto, ele sabe que a sua viagem se transfor- Certamente que a principal função de um mará em uma caminhada a ermo, que os re- Projeto de Pesquisa é a de apresentar a sua cursos em pouco tempo estarão esgotados por responsabilidade social – considerando que falta de planejamento, e que os próprios ins- o Projeto é também um elo entre o Pesquisa- trumentos necessários para iniciar a viagem, dor e a sociedade que o acolhe, seja no que para dar um passo depois do outro, sequer se refere àqueles que possibilitarão a pro- chegarão a ser elaborados. Ademais, sempre é dução e desenvolvimento da pesquisa en- bom ressaltar que uma das principais finalida- quanto base de apoio ou mesmo como objeto des do Projeto, além de visar a definição pre- de análise, para o caso das Ciências Sociais e cisa do que será pesquisado, é registrar do por- Humanas, seja no que se refere à própria socie- quê e do para que realizar a pesquisa (isto é, a dade para a qual se direcionam os resultados sua responsabilidade social), o que, via de re- da Pesquisa. O Projeto, naturalmente, é registro gra, conforme veremos, deverá ser esclareci- de uma relevância social e acadêmica, de um do em um item bastante específico do Proje- compromisso com a sociedade e a comunidade to que é a ‘Justificativa’. científica. Reconhecendo esta dimensão fun- Retomando a questão de que o Projeto damental de um Projeto de Pesquisa, estare- corresponde à própria constituição dos mate- mos, em seguida, considerando aquelas funções riais e rumos a serem trilhados pela Pesquisa, do Projeto que se relacionam mais diretamente sem o Projeto, o pesquisador mais experiente com o próprio planejamento e desenvolvimento sabe que não existe sequer um caminho, uma da Pesquisa. vez que este deve ser construído gradualmente No esquema proposto, encontraremos a partir de materiais elaborados pelo próprio as já mencionadas funções formais ou buro- pesquisador – sendo a elaboração do Projeto cráticas, que os pesquisadores iniciantes con- simultaneamente o primeiro passo da cami- fundem com a única razão de ser do Projeto, nhada e o primeiro instrumento necessário mas também as funções operacionais, que são para se pôr a caminho. O Projeto de Pesquisa, inerentes à própria realização de uma Pes- desta maneira, mostra-se a este pesquisador quisa em si mesma. Assim, se o Projeto é uma precisamente um ganho de tempo, um agili- “carta de intenções” (1) onde o pesquisador zador da pesquisa, um eficaz roteiro direcio- exibe a sua proposta investigativa para uma nador, um esquema prévio para a construção instituição acadêmica ou científica, e se ele é dos materiais e técnicas que serão necessários um “item curricular” nas instituições de Pós- para alcançar os objetivos pretendidos. Graduação (2), o Projeto é também um pode- O “Quadro 1” procura resumir algumas das roso instrumento que cumpre as funções de principais funções de um Projeto de Pesquisa. “direcionador da pesquisa” (3). Quadro 1 – Funções do Projeto de Pesquisa 69
  • 4. educação, ciência e tecnologia Neste último particular, o pesquisador Alguns destes diálogos, em se tratando que pretenda iniciar sem um Projeto a sua das pesquisas de Pós-Graduação, encontram viagem de construção do conhecimento, cedo precisamente o seu lugar nos momentos em perceberá que o próprio tema lhe parece fugir que o pesquisador expõe o seu Projeto a pro- constantemente. Facilmente o pesquisador pode fessores e colegas nos vários seminários que se pôr a perder em uma floresta temática, que habitualmente constituem parte dos itens curri- lhe oferece mil direções e possibilidades, até culares de um curso de Mestrado ou de Dou- que perceba que, dentro de um tema mais torado. O próprio “Exame de Qualificação” é amplo, é preciso recortar, criar um problema, precisamente um momento maior nesta rede estabelecer uma direção, e que o Projeto vai permanente de diálogos – um momento algo lhe permitir precisamente a efetivação destes ritualizado em que o pesquisador apresenta múltiplos recortes que tornarão a sua pesquisa o seu trabalho a alguns professores para receber possível, viável e relevante. críticas e sugestões que o ajudarão a aperfeiçoar Esta constituição gradual e sistemática o seu trabalho e a encontrar novos caminhos. de um objeto de pesquisa não necessita apenas O Projeto cumpre, desta forma, oferecer de uma direção e de um recorte delimitador, o “retrato de uma pesquisa em andamento” mas também de um planejamento. Aqui, o (7). Neste momento, em se tratando de uma Projeto vem trazer outra contribuição, uma pesquisa que visa a elaboração de uma Dis- vez que em uma de suas instâncias ele se sertação de Mestrado, é lícito chamar o pro- constitui em um “roteiro de trabalho” ou em jeto de “Projeto de Dissertação” (ao invés de um instrumento de planejamento (4) sem o “Projeto de Pesquisa”, expressão que impli- qual o pesquisador desperdiçaria os seus recur- caria uma investigação que ainda está por se sos, perdendo-se em uma investigação não realizar ou que, no máximo, anunciaria pro- sistematizada para ficar a meio caminho dos cedimentos ainda exploratórios). No caso objetivos que sequer chegou a explicitar de de um “Projeto de Dissertação”, que o estu- maneira mais clara para si mesmo. dante de mestrado apresenta já na metade do Sobretudo, o Projeto é um eficaz “ins- seu curso, a Pesquisa já deve se encontrar trumento para elaboração de idéias” e para em estágio mais avançado e definido, e daí a auto-esclarecimento de quem o produz (5). pertinência desta mudança de designação. Ao elaborar um quadro teórico ou ao pensar Deve-se mencionar ainda que, neste e metodologias, ao construir hipóteses e fixar em outros casos, é aconselhável, ou mesmo objetivos, ao empreender uma revisão biblio- imprescindível, acrescentar ao Projeto um gráfica que colocará o pesquisador diante da “Plano de Capítulos”, no qual devem estar literatura já existente sobre o assunto, o Pro- sumariados, de modo sintético e preliminar, jeto vai gradualmente esclarecendo aquele os capítulos pretendidos para o texto final da que o produz, dando-lhe elementos para Dissertação de Mestrado ou Tese. Em tempo: articular melhor as suas idéias e confrontá- este “plano de capítulos” é também provisório, las com o que já foi feito naquele campo de sujeito a mudanças e redefinições, e as próprias conhecimento. sugestões recebidas pela banca examinadora Mais ainda, o Projeto permite que a pes- podem contribuir para este redirecionamento quisa em andamento seja exposta aos olhares que poderá conduzir a uma nova organiza- de outros pesquisadores, sejam professores ção de capítulos. e profissionais mais experientes, que incluem o orientador da dissertação ou da tese, sejam 2 As partes de um Projeto de Pesquisa os colegas de mesmo nível, também capazes de contribuir significativamente para uma pes- Conforme pudemos ver, o Projeto cum- quisa que, sabe-se muito bem, nunca é um pre múltiplas funções e finalidades no trabalho trabalho exclusivamente individual. O Projeto de Pesquisa. Ele procura antecipar algumas torna-se, desta maneira, um instrumento para perguntas fundamentais relacionadas à Pes- o “diálogo científico e acadêmico” (6). quisa proposta, tanto no sentido de dar uma 70
  • 5. LIBERATO satisfação a terceiros (quando for o caso) como delimitações, bem como integrar recortes simul- no sentido de promover um auto-esclarecimento tâneos que podem remeter a um tempo, a um para o próprio pesquisador e um delineamento espaço, a um problema investigado. Por ora, preciso do recorte temático, de cada etapa, de de uma maneira um tanto simplificada, dire- cada instrumento, de cada técnica a ser abordada. mos que é precisamente aqui que o pesqui- Assim, ele responde de antemão às seguintes sador deve esclarecer ao seu leitor qual é o perguntas relacionadas à pesquisa proposta: objeto de sua investigação ou da sua realiza- O que se pretende fazer? Por que fazer? Para ção científica. que fazer? A partir de que fundamentos? Com “Por que fazer?” é uma pergunta impor- o que fazer? Como fazer? Com que materiais? tante, que interessa particularmente àqueles A partir de que diálogos? Quando fazer? que irão decidir se o seu projeto deve prosse- guir, se deve ser financiado, se pode ser aceito Cada uma destas perguntas remete, em em um programa de pesquisa ou de Pós- princípio, a uma parte específica do Projeto Graduação. O capítulo do Projeto que busca – a uma espécie de compartimento redacional esclarecer isto, de forma bem convincente e onde o pesquisador procura esclarecer de ma- argumentativa, denomina-se, habitualmente, neira clara e precisa, para os outros ou para ‘Justificativa’ (2). Não raro, também acrescen- si mesmo, as várias instâncias que devem ta-se a esta denominação as palavras ‘relevân- alicerçar o seu trabalho (Quadro 2). cia’ ou ‘viabilidade’, que no fundo não são mais “O que fazer?”, por exemplo, é uma per- do que aspectos específicos de uma ‘justifi- gunta que se busca esclarecer logo de princípio, cativa’ no seu sentido mais amplo. na “Introdução” do Projeto e, eventualmente, “Para que fazer?” vincula-se ao estabele- em um capítulo denominado ‘Delimitação cimento de objetivos a atingir – dando origem Temática’ (1) ou ‘Exposição do Problema’ (estes a um capítulo bastante conciso que se refere nomes variam muito, de instituição a institui- às finalidades a serem alcançadas, freqüen- ção, e não devem ser tomados como parâmetros temente enunciadas em ordem numérica e da absolutos). Veremos mais adiante que a res- maneira mais simples possível. Este capítulo posta a esta pergunta deve sofrer sucessivas recebe, normalmente, o título de “Objetivos” (3). Quadro 2 – As partes de um Projeto de Pesquisa 71
  • 6. educação, ciência e tecnologia “A partir de que fundamentos?” remete sobre os quais irá trabalhar – materiais que não a todo um conjunto de possibilidades teóricas são propriamente aparelhos e ferramentas, mas ou mesmo de visões de mundo que, pelo sim a matéria-prima que sofrerá a intervenção menos em parte, o pesquisador já deve trazer das ferramentas e instrumentais diversos. consigo ao iniciar a sua viagem produtora de No caso da História, para dar o exemplo conhecimento. O capítulo que busca concentrar de uma das ciências humanas, esta espécie a referência a estes aspectos fundamentais, de matéria-prima fundamental da qual preci- verdadeiros alicerces mentais que nortearão sará partir o historiador que empreende a sua as ações e as escolhas feitas pelo pesquisador, viagem ao passado é a “fonte” ou o “docu- denomina-se “Quadro Teórico” (4). Trata-se mento histórico”. É conveniente dissertar sobre aqui, de definir desde as filiações mais amplas, as “fontes” que serão utilizadas, antes de dis- até os conceitos, expressões e categorias que correr sobre as metodologias que serão utili- serão utilizados na elaboração reflexiva e na zadas para constituí-las em um corpus docu- sua exposição de resultados. mental definido e para interpretá-las. Daí ser “Com o que fazer?” e “Como fazer?” são bastante comum a designação ‘Fontes e indagações que reenviam respectivamente aos Metodologia’ em um Projeto de História instrumentos e às técnicas de pesquisa. De (equivalente a ‘Materiais e Metodologia’ em fato, um “instrumento” é aquilo com o que se projetos experimentais vinculados ao campo faz, e remete aos recursos de natureza material das ciências exatas). ou mesmo abstrata que serão empregados Deve-se acrescentar que a Metodologia, como verdadeiras ferramentas para a pesquisa. para muito além do mero registro dos materiais Neste caso, são ‘instrumentos’ um cronômetro e e técnicas, deve apresentar essencialmente a uma balança, um tubo de ensaio (para o caso caracterização da abordagem que a pesquisa de pesquisas nas áreas das ciências exatas e pretende utilizar em seu desenvolvimento, biológicas) mas também um formulário, um considerando o problema e seus objetivos. questionário, ou mesmo um gráfico que se Neste sentido, a Metodologia pressupõe todo elabora para acondicionar os dados colhidos um referencial ontológico, epistemológico do e prepará-los para a interpretação. pesquisador. Já uma ‘técnica’ remete ao modo de rea- “A partir de que diálogos?” é a pergunta lizar algo, e abrange procedimentos como as que situa uma Pesquisa em uma rede de intertex- coletas de informações, as entrevistas, as ma- tualidades com outros autores. Dito de outra neiras sistematizadas de empreender obser- forma, indaga-se aqui pelos “interlocutores” vações, e também as análises de conteúdo, as da reflexão a ser realizada. Dificilmente uma análises estatísticas, ou outras metodologias pesquisa científica parte do “ponto zero” (se é destinadas à interpretação dos dados que foram que já existiu alguma que o tenha feito na his- coletados ou captados. Enfim, as “técnicas” tória do conhecimento humano). Nem que seja podem se referir tanto à coleta de dados e à para contestar radicalmente os autores prece- constituição de documentação, como também dentes que já se debruçaram sobre o mesmo às análises destes dados e destas fontes. problema, o pesquisador precisa inserir a sua Os instrumentos e técnicas são habitual- reflexão em um diálogo implícito ou explícito mente acondicionados em um capítulo bastante com a literatura e com o conhecimento já importante do Projeto, e que se denomina existente. Mais comum é que, além das even- “Metodologia” (5), “Métodos e Técnicas”, tuais contestações e correções a autores prece- “Procedimentos Metodológicos”, ou algo do dentes, o pesquisador também encontre autores gênero. Também é utilizada, talvez de ma- e obras que lhe servirão como pontos de apoio, neira ainda mais apropriada, a designação como alavancas para se impulsionar para mais “Materiais e Metodologia” (“Fontes e Metodo- adiante, como inspiração para novos rumos e logia”, por exemplo, para o caso da História). abordagens. É uma designação interessante quando o pesquisa- É neste sentido que, em um Projeto de dor precisa descrever também os materiais Pesquisa, não pode faltar o que se poderia 72
  • 7. LIBERATO chamar de uma “Revisão Bibliográfica”. Alguns Isto seria exaustivo, quando não impossível. modelos de Projeto atribuem um capítulo es- Algumas obras podem apenas ser referen- pecial a este levantamento crítico, no qual o ciadas no compartimento final do Projeto, a pesquisador irá apresentar e discutir algumas “Bibliografia” ou “Referências Bibliográficas” das obras preexistentes que serão reapropriadas (8). Outras obras, consideradas pouco impor- no seu trabalho, seja sob a forma de assimilação tantes para a pesquisa, sequer precisam apa- ou de confronto. Mas, por outro lado, o já recer. O que não pode faltar são as fontes mais mencionado “Quadro Teórico”, que vimos ser diretas, que no caso de uma pesquisa aquele capítulo em que o pesquisador expõe historiográfica, por exemplo, são os chamados o seu referencial teórico e os conceitos de que “documentos” ou “fontes históricas”. Estas irá se valer, pode também incluir como item a “fontes primárias”, aliás, devem aparecer se- revisão bibliográfica, já que, de algum modo, paradas da “bibliografia geral”, precedendo-a. esta revisão também representa uma base de Ou seja, no caso dos projetos de História o teoria da qual partirá o pesquisador para ela- capítulo “Bibliografia” deve ser organizado borar as suas próprias reflexões. em dois itens distintos, um relativo à docu- O importante é que este item (ou o seu mentação de época ou mais diretamente assi- conteúdo) esteja efetivamente presente, em- milada como material primário pertinente ao bora sem repetições. Portanto, se foi destacado problema examinado, e outro relacionado às um capítulo especial para a “Revisão Biblio- obras de autores vários que refletiram sobre gráfica” (que muitas vezes aparece logo de- o mesmo tema, e que constituem o diálogo pois da “Introdução” ou a da “Delimitação intertextual estabelecido pela Pesquisa. Temática”) as obras ali mencionadas não de- “Quando fazer?” é a pergunta que re- vem ser rediscutidas no “Quadro Teórico”. É mete à temporalidade relacionada à duração possível também discutir algumas obras na “Re- da pesquisa, ao planejamento das suas várias visão Bibliográfica”, mais diretamente ligadas etapas. Toda pesquisa deve ser proposta em ao tema, e deixar para o “Quadro Teórico” a relação a um intervalo de tempo definido, discussão de outras que se referem mais pro- mesmo que passível de renovação. Freqüen- priamente a instrumentais teóricos que serão temente, ela será realizada por etapas, e se utilizados, a conceitos importantes para a abranger um período relativamente amplo pesquisa, a categorias e abordagens. (um ano ou mais) será necessário dar à Insti- Quando o Projeto de Pesquisa delimita tuição satisfações periódicas a respeito do um capítulo especial para a “Revisão Biblio- andamento da Pesquisa, o que poderá ser feito gráfica”, logo depois da apresentação do tema com a utilização de um tipo de texto que é e da definição da problemática, esta oportu- chamado “Relatório de Pesquisa”. nidade deve ser aproveitada para apresentar Com relação ao Projeto, as várias etapas as lacunas existentes no conhecimento sobre previstas, as várias atividades que serão reali- o assunto que será abordado. Tornar claras zadas, os diferentes trabalhos que integrarão as lacunas bibliográficas relativas ao enfoque a pesquisa – tudo isto precisa ser referenciado proposto, por sinal, é um excelente elo de em um “Cronograma de Pesquisa”, normal- ligação para o item “Justificativa”, que pode mente sob a forma de um quadro ou tabela principiar precisamente ressaltando que, dadas que expõe de maneira instantânea a relação as lacunas ainda existentes neste ou naquele entre o conjunto de ações previstas e o tempo aspecto, o Projeto proposto torna-se extrema- previsto para serem realizadas. O Cronograma mente relevante, já que poderá contribuir de é um instrumento não apenas para o controle alguma maneira para suprí-las. Com isto, o da Instituição, mas principalmente para o auto- pesquisador já parte com um excelente argu- controle do pesquisador no que se refere ao mento a favor da necessidade de a sua pes- andamento do seu trabalho. Ele não é, natural- quisa ser empreendida. mente, uma tábua sagrada e implacável, mas é Não é necessário, por outro lado, discutir uma orientação importante para a realização do toda a bibliografia que existe sobre o assunto. trabalho. 73
  • 8. educação, ciência e tecnologia Será oportuno mencionar um capítulo informações. Este tipo de pesquisa é em di- recorrente em Projetos que é aquele que se versas ocasiões requerido por empresas que relaciona às “Hipóteses” e que, normalmente, precisam se manter informadas para definir vem situado após o “Quadro Teórico” e antes suas linhas de ação. Pode-se, por exemplo, do capítulo relacionado à “Metodo-logia”. De encomendar uma “pesquisa de mercado”, ou certo modo, as hipóteses constituem o verda- ainda uma “pesquisa de tendências” que vise deiro cerne da pesquisa do tipo “tese”. Vere- acompanhar um processo eleitoral com tal mos adiante que uma hipótese corres-ponde ou qual finalidade. Pode-se visar o levanta- a uma resposta (ou possibilidade de respos- mento do perfil de determinado grupo de con- ta) que se relaciona ao problema formulado. sumidores, ou empreender uma pesquisa des- Dependendo da intencionalidade da Pesqui- critiva que busque levantar as características sa, seu problema e objetivos, pode-se ainda de determinada localidade. Neste caso, se o recorrer ao uso de ‘Questões Norteadoras de Projeto de Pesquisa do qual estamos falando Pesquisa’ em substituição às Hipóteses, o que, não é um projeto problematizado no mode- naturalmente, também implica diferenciação lo de tese, obviamente não tem sentido um de procedimentos de coleta e análise dos da- capítulo relativo a “Hipóteses”. dos ou informações. Em linhas gerais, as partes acima des- Retomando o esclarecimento relacio- critas compõem a totalidade do Projeto de nado à função de hipóteses em certos tipos Pesquisa, podendo ainda ser incluído um ca- de pesquisa, deve-se ressaltar que uma hipó- pítulo relacionado a “Recursos” para o caso tese representa uma direção que se imprime de serem requeridos a determinada instituição à Pesquisa, mesmo que seja abandonada no financiamentos diversos, equipamentos, pas- decorrer do processo de investigação em favor sagens, e também a contratação de pessoal de outra. Ao mesmo tempo em que deve estar técnico. O capítulo “Recursos”, que pode abran- intimamente relacionada ao “Quadro Teórico”, ger um plano de custos da pesquisa e uma as hipóteses também contribuem para definir exposição de suas necessidades materiais, a “Metodologia” que será empregada. Desta for- estaria respondendo a uma nova pergunta: ma, as hipóteses preenchem um certo espaço “Quanto vai custar?”. entre a teoria e a metodologia de um Projeto Pode-se dar, ainda, que para além dos de Pesquisa, razão por que se prefere recursos econômicos e materiais seja necessá- localizá-la entre estes dois capítulos. rio planejar diversificados recursos humanos. De certo modo, é somente quando se Neste caso, estaremos falando de uma pes- consegue elaborar uma ou mais hipóteses de quisa que não será empreendida por uma só trabalho que a Pesquisa começa a tomar a pessoa, mas por uma equipe que poderá ser forma requerida a uma Dissertação de coordenada pelo autor do Projeto. Trata-se, Mestrado ou a uma Tese de Doutorado. Caso neste caso, de planificar a contribuição e atua- contrário, tem-se apenas um trabalho descri- ção de todos os participantes, e de indicar tivo, que pode ser adequado a uma Monografia eventualmente entidades que estejam atuando ou a um Livro que se proponha a desenvolver em conjugação com o Projeto. Em uma pala- determinado assunto, mas que não corresponde vra, trata-se de responder às perguntas “Quem propriamente ao modelo de tese. Uma tese vai fazer?” e “O que cada um vai fazer?”. não é uma reflexão livre, descritiva ou ensaís- Estes últimos aspectos, naturalmente, tica, mas sim uma reflexão sistematizada e fogem ao caso dos Projetos de Dissertação orientada por um determinado problema. ou de Tese, que implicam, necessariamente, Por outro lado, vale lembrar que nem trabalhos individuais. Quanto aos demais as- toda Pesquisa corresponde necessariamente pectos, correspondem ao tipo de conteúdo a um modelo de Tese, e pode se dar que o que deve aparecer em qualquer espécie de objetivo do pesquisador seja apenas o de le- Projeto ao qual se queira dar um tratamento vantar determinado conjunto de dados ou de minimamente profissional. Para sintetizar o 74
  • 9. LIBERATO que já foi dito, o quadro 3 procura relacionar Outro ponto que se mostra oportuno as várias perguntas que se faz a um Projeto esclarecer é a distinção entre o Projeto e a Pes- com os seus capítulos correspondentes. quisa propriamente dita, ou ainda entre o Proje- to e a própria Tese ou Monografia que registrará os resultados da pesquisa. Um projeto é uma proposta de realizar algo, é um roteiro, um instrumento de planejamento. Sua linguagem, ou pelo menos sua intenção, está associada a um tempo verbal no futuro. Já a Tese, a Mono- grafia ou qualquer outro tipo de texto no qual o pesquisador registra o resultado de sua pes- quisa e a sua reflexão, corresponde um tra- balho já realizado e concluído. É a Tese, ou a Monografia, o que poderá se transformar eventualmente em livro, não o Projeto. Em vista disto, a linguagem da tese refere-se a uma pesquisa já realizada, enquanto a do Pro- jeto refere-se a uma Pesquisa por se realizar. Quadro 3 – Perguntas de um projeto e capítulos correspondentes Desta maneira, se em algumas ocasiões Por outro lado, embora os vários tipos de é possível aproveitar para o texto da Tese ou conteúdo atrás descritos marquem uma pre- Monografia trechos que haviam sido escritos sença quase certa, deve ficar claro que não existe originalmente para o seu Projeto de Pesquisa um parâmetro oficial e único de Projeto de (um quadro teórico ou metodológico, uma Pesquisa no que tange à sua ordem e definição revisão bibliográfica) deve-se ter o cuidado de capítulos. Partindo do modelo proposto, de adaptar a linguagem do ‘futuro ainda não o pesquisador pode considerar adequado su- realizado’ que aparece no Projeto para a lin- primir ou acrescentar capítulos, reunir duas guagem do ‘passado já realizado’, da pes- seções em uma única, modificar a ordem de quisa já concluída exposta na Tese. Por fim, acrescentaremos que o modelo apresentação dos capítulos propostos, e assim de Projeto de Pesquisa atrás discutido, em por diante – desde que isto faça algum sentido suas instâncias fundamentais, pode ser utili- para a sua pesquisa ou que atenda a um padrão zado de maneira eficaz para a maioria dos qualquer de lógica proposto pelo próprio campos de conhecimento, sejam os perten- autor do projeto. De igual maneira, um tipo centes ao universo das ciências humanas, sejam de pesquisa ou um campo de conhecimento os pertencentes ao universo das ciências exatas específico pode exigir a abertura de um capí- e biológicas. tulo que não seria necessário, ou mesmo perti- Referência nente, em outro. Enfim, qualquer modelo de Projeto proposto em uma obra de Metodologia Científica não é mais que isto: um modelo, BARROS, José D’Assunção. O Projeto de pronto para ser alterado e adaptado de acor- Pesquisa em História. 4. ed. Petrópolis: Vozes, do com as necessidades. 2008. 75