O documento discute a história da música litúrgica no povo de Israel e nos primeiros cristãos. A música sempre teve um papel importante na liturgia, ajudando a conduzir os fiéis à comunhão com Deus. Ao longo dos séculos, diferentes estilos musicais e práticas surgiram e evoluíram na Igreja.
2. “Quanto eu chorei por teus hinos e
cânticos, aos suaves acentos das vozes
de tua Igreja, que me penetravam de vivas
emoções”
(Santo Agostinho, Confissões)
3. A música, pela suavidade da melodia, pela
harmonia dos acordes e dos arranjos
instrumentais, pela beleza dos solos, pelo
empolgamento dos coros, encanta. (...)
Por força dos sons e do ritmo, ela provoca
a participação, ao mesmo tempo, em
termos de emoção, de animação e de
unanimidade, ajustando-nos e nos
projetando na imensidão do mistério de
Deus, no seio da Trindade-comunhão, em
Jesus Cristo, cuja presença evoca com
peculiar eficácia”
(Doc. 43, sobre a animação da Música Litúrgica
no Brasil)
4. De origem nômade o povo de Israel é resultado de
uma encruzilhada de culturas e civilizações. Os
primeiros patriarcas conviveram desde a Babilônia –
hoje região correspondente ao Iraque – ao Egito. Em
seguida experimentaram a terra prometida, pouco
maior que o atual Estado de Israel, perpassando pelo
exílio de babilônico de Nabucodonosor até
reingressar a terra atual.
5. Neste longo espaço de tempo muitas culturas
influenciaram o povo de Israel: babilônicos, assírios,
egípcios, persas, fenícios, gregos e romanos. E foi em
meio a esse entrelaçamento cultural que este povo teve
seu desenvolvimento litúrgico, formando uma
identidade musical que tem nos Salmos e Cânticos a
maior representatividade.
6. Na tradição litúrgica do povo de
Israel, os músicos são
descendentes da tribo de Levi.
Os levitas músicos eram
encarregados do canto e de
tocar os instrumentos. Para
serem admitidos a esse ofício
litúrgico, os candidatos
passavam por uma dupla prova
acerca de suas aptidões
musicais e sobre a pureza de
origem, embora, na prática,
fossem considerados como
classe inferior. Os grupos eram
tradicionalmente constituídos
por famílias. Tinham um
primeiro chefe de música que
organizava o serviço de sua
secção no culto e um mestre
do coro que dirigia a salmodia e
dava a entrada aos
7. Cântico de Moisés e Miriam
(Ex 15);
o livro do Cântico dos
Cânticos;
os Salmos de Davi e
Salomão;
Magnificat;
o Benedictus;
Nunc Dimittis;
os hinos apostólicos cuja
centralidade é o Cristo.
8. O canto torna-se um instrumento que
conduz uma intercomunicação do fiel
com o transcendente.
9. O surgimento do canto litúrgico
na época dos Santos Padres
Para os Santos Padres o canto
contribui pedagogicamente tanto para o
processo de conversão quanto à cura
física e espiritual.
10. Esta práxis pedagógica foi relevante para o
surgimento do primeiro ensaio de pastoral
da música litúrgica, efetuado já nos
séculos IV-V por Ambrósio de Milão e seu
discípulo Agostinho de Hipona. O primeiro,
após uma rica experiência espiritual no
Oriente, introduziu no Ocidente um novo
estilo de entoação dos salmos, mais vivo e
dinâmico, feito alternadamente por versos
entre os dois coros da assembleia.
11. Entretanto, foi o
próprio Agostinho o
propagador do canto
litúrgico popular. Ele
não apenas
incentivou o povo a
cantar, mas também
sabia escutar e
apreciar, fazendo
inúmeros
comentários a
respeito dos Salmos
nos quais enfatizava
o canto como uma
via para a edificação
12. Neste período em que viveu Agostinho
(séc. IV e V) a comunidade cristã alcançou
o ápice da organização ministerial em
relação às assembleias, brotando o
chamado pluralismo litúrgico-musical e,
provavelmente, as Scholae Cantorum .
Surgem ainda nesta diversidade os rituais
dos Sacramentos, o Ofício Divino, o Ano
Litúrgico e, consequentemente, a introdução
13. O que foi a Scholae
Cantorum?
Foi uma Escola
inicialmente formada por
clérigos, incluindo em suas
fileiras o “cantor” e um ou
mais solistas. Foi fundada
por Gregório Magno na
Basílica de São Pedro, em
Roma, no século VI. Além
do canto e da música, os
cantores estudavam a
gramática e outras artes
necessárias à
compreensão do texto
14. O canto na época Medieval
A romanização da Igreja e da Liturgia
trouxe grande organização e
aperfeiçoamento tanto no rito como no
espaço litúrgico.
15. Na época de Gregório Magno, as Scholae
Cantorum tornaram-se mais aprimoradas,
alcançando o seu ápice. Situadas entre o povo
e o presbitério eram formadas de mestres
altamente capacitados na área do canto que
executavam melodias ricas e complexas. Era o
surgimento do canto gregoriano ou “canto
chão”, também denominado de monódico. Este
era o canto da Urbe, próprio dos ambientes
romanos e seus especialistas comumente eram
monges e clérigos.
16. Curiosamente, entre os
séculos V-VIII onde o
canto gregoriano
adquiriu maior relevo,
gradativamente os
demais estilos foram
perdendo sua força, com
exceção do canto
ambrosiano, que
permaneceu vivo na
tradição. O canto chão
tornou-se oficial no
âmbito eclesial, sendo
considerado o modelo
supremo da música
sacra, ou o mais perfeito
grau na expressão da
17. Posteriormente, surge a
Polifonia ou canto polifônico.
Ao contrário do canto chão,
esta “privilegia uma arte
refinada na mistura dos
timbres e harmonias,
tornando as músicas mais
estéticas que litúrgicas”
(CNBB, 2002, p. 60). Foi
neste contexto que no
século XI apareceu à figura
do monge Guido d’Arezzo.
Homem de espetacular
inteligência, a partir de um
hino dedicado a São João
Batista, elaborou as escalas,
a tonalização e as pautas
musicais, tais como temos
hoje.
18. O Concílio de Trento em
detrimento do perigo da
Reforma Protestante
buscou salvaguardar a
tradição litúrgica, fazendo
as devidas reformas,
especialmente, no que diz
respeito à doutrina dos
Sacramentos.
19. No campo da música
ritual, constata-se
uma forte influência
da arte barroca como
uma atmosfera de
triunfo e de festa,
com exuberância
pontifical de chefes
de coro e organistas,
destacando-se mais
que o próprio
presidente da
celebração. O órgão
torna-se um
instrumento rei,
sendo concorrente
até mesmo do altar
(cf. CNBB, 2002, p. 61).
20. no século XVIII a Igreja começa a sentir
um anseio de maior participação
comunitária. Grande era a insatisfação.
Surge então o Sínodo de Pistóia (1786)
com o propósito de reformar alguns
pontos, dentre os quais a participação dos
fiéis e no referente a música, melodias
mais simples e adequadas à linguagem
popular.
21. O Movimento Litúrgico
A reforma de Guéranger na abadia
beneditina de Solesmes fez eclodir o
Movimento Litúrgico, fundamentalmente
importante para uma abertura litúrgica
mais eficaz e participativa, levando os fiéis
a alimentarem melhor a própria vida
espiritual.
22. No Brasil este
movimento
chegou através de
grupos
provenientes da
Ação Católica em
1933. Contudo,
não teve êxito
entre as camadas
populares,
restringindo-se
aos seminários,
mosteiros e à
própria Ação
católica.
23. Se o movimento litúrgico foi
a febre eclesial, o Vaticano II
foi a grande revolução.
A constituição dogmática
Sacrossanctum Concílium
não apenas renovou a
liturgia, mas também tornou
dinâmica e participativa,
especialmente em relação
ao rito que ao ser traduzido
para a língua vernácula, fez
da assembléia não uma
mera espectadora, mas
também parte integrante e
essencial da celebração do
Mistério Pascal.
24. Outro aspecto relevante foi a compreensão
do canto e da música como uma vivência
simbólica da experiência da fé do Povo de
Deus. Ambos são símbolos importantes do
mistério de Cristo e da Igreja e não meros
ornamentos exteriores.