SlideShare uma empresa Scribd logo
nos como se adaptou ao di-
agnóstico de DC e o que faz
para congregar os celíacos
madeirenses. Sara Gon-
çalves, mãe de menino
celíaco e residente na Ma-
deira, fala-nos de como
soube que seu filho é celíaco
e como gere o seu dia-a-dia.
Quando vai à farmácia
pensa no glúten? Relembre
algumas noções sobre a
segurança na utilização de
produtos farmacêuticos por
portadores de doença
celíaca com o Dr. Rui Neto
Fernandes.
Novembro à porta…”Em dia
de São Martinho, lume, cas-
tanhas e vinho”...que mara-
vilha, tudo gluten free!
ANA PIMENTA
“Um presente
de cores. Uma
ilha de verti-
gens. Segredos
de buganvília.
No soluçar das vagas. No
subir da maré. Navega meu
coração. Nas nuvens. Sub-
mergem os montes. Nos ma-
tizes esmaecidos dos borda-
dos. Está a raiz do meu
sonho” (1). Onde?! Na ilha
da Madeira. Lugar insólito,
hospitaleiro, propício a ficar
e deixar-se ficar. A baixa
variabilidade genética
característica de uma ilha
pode ser responsável por um
ligeiro aumento da
prevalência de algumas
doenças, tal como a doença
celíaca (DC). A pediatra
madeirense Rute Gonçalves
explica-nos como se estudou
a população pediátrica da
Madeira e os seus familiares
diretos em relação à
prevalência daquela doença.
Salienta ainda a importância
do despiste aos familiares
diretos de celíacos.
Um dos frutos característicos
da ilha da Madeira é a ba-
nana. A batata-doce é igual-
mente muito usada na cu-
linária tradicional. Que
benefícios podem trazer ao
celíaco? Descubra as van-
tagens da biomassa da ba-
nana verde e da batata-
doce com a nutricionista
Noadia Lobão.
Para os madeirenses, as
malassadas estão para o
Carnaval, como o bolo-rei
está para o Natal dos conti-
nentais. Não podem faltar!
Rute Freitas deixa-nos com
água na boca com a sua
receita tradicional e relata-
EDITORIAL
ENTREVISTA
A entrevistada deste mês é
Rute Freitas, celíaca e ad-
ministradora do grupo de
Facebook Celíacos da Ma-
deira.
Rute como soube que é
celíaca? E o que mudou na
sua vida?
Descobri há 3 anos que sou
celíaca. Quando soube
chorei! Mas afinal todo este
sofrimento tinha um nome!
Sentimento de alívio. O meu
dia-a-dia mudou muito. Em
casa foi mais fácil, todos
contribuíram para que não
houvesse contaminação. Nos
restaurantes não foi fácil,
pelo que passei a frequentá
-los menos. No trabalho tam-
bém não foi fácil, mas expli-
cando e em luta constante,
deixei de ter problemas.
Inscrevi-me na APC o que foi
uma mais valia.
Como é ser celíaco na Ma-
deira?
Vivendo numa ilha temos
pouca quantidade e
variedade de produtos ali-
mentares específicos. Tem
sido uma luta constante para
o mesmo aumentar. Porque
senti muita dificuldade como
celíaca e, com o desconheci-
mento da sociedade desta
condição, decidi abrir um
grupo e conhecer outras
pessoas com a mesma
doença. Perceber os seus
problemas, divulgar ao
máximo na comunicação
social, criar eventos com o
objetivo de sensibilizar para
esta temática. Sempre com
um grande apoio, da APC,
da nutricionista Dra. Amélia
Teixeira, da Pediatra Dra.
Rute Gonçalves, da Enfª
Fernanda Vilha e Enfº Mi-
caela, dos elementos do
grupo de Celíacos da Ma-
deira e um enorme apoio
familiar. Mantenho também
contacto com outros grupos
orientados para esta
temática como o grupo Viva
sem glúten Portugal.
Agradecimentos:
 ANA PIMENTA– Redacção
 ANTÓNIO JOÃO PEREIRA –
Revisão clínica
 AVELINO GUERREIRO – Apoio
técnico e informático
 CLÁUDIA MACEDO – Revisão
ortográfica e tipográfica/ layout
 NOADIA LOBÃO– Nutrição e
Receita do Mês
 RUI NETO FERNANDES– Info &
Dicas
 RUTE FREITAS E SARA GONÇAL-
VES– Entrevistadas/ Receita do
mês
 RUTE GONÇALVES- O Estado da
Arte
EDITORIAL 1
ENTREVISTA 1
ESTADO DA ARTE 2
INFO & DICAS 3,4
TESTEMUNHO 4
NUTRIÇÃO 5
RECEITAS DO MÊS 5
Neste número:
Novembro 2014Edição 1, Nº 11
G R UP O V I VA S E M G LÚT E N
P OR T U GA L
Newsletter
Contacto:
vivasemglutenportugal@outlook.pt
2
A relação entre alimentação
e a doença celíaca (DC) foi
estabelecida desde finais do
século XIX mas a relação
directa com o glúten só foi
descoberta mais tarde, já em
meados do século XX.
Os critérios de diagnóstico
têm vindo a ser simplificados
ao longo dos anos pela ESP-
GHAN (European Society of
Gastrenterology, Hepatology
and Nutrition), passando da
necessidade de três endosco-
pias com biópsia e prova de
provocação com glúten, para
apenas uma endoscopia ini-
cial, pela evidência de que
os anticorpos anti-
transglutaminase tecidular e
anti-endomísio apresentam
sensibilidade e especifici-
dade na ordem dos 95%.
As recentes guidelines da
ESPGHAN salientam a
grande sensibilidade dos
testes acima referidos, asso-
ciados ao estudo da suscepti-
bilidade genética (presença
HLA DQ2 e DQ8), como fac-
tores muito importantes no
diagnóstico. Nas crianças, em
alguns casos, o diagnóstico
pode até ser estabelecido
sem o recurso à biopsia duo-
denal: sintomas clínicos
sugestivos, anticorpo anti-
transglutaminase 10 vezes o
normal e anti-endomísio posi-
tivo, HLA concordante e, por
fim, resposta positiva à dieta
sem glúten são suficientes.
Os pediatras devem estar
sensibilizados para as mani-
festações menos típicas da
doença. A forma clássica, do
lactente com 7-10 meses que
apresenta diarreia crónica,
distensão abdominal e má
progressão ponderal, já não
é a forma de apresentação
mais comum. A doença
celíaca não é exclusiva da
idade pediátrica e muito
menos da faixa etária até
aos 12 meses. Em qualquer
idade, a existência de vómi-
tos recorrentes, obstipação
de difícil resolução, invagina-
ção intestinal, aumento das
enzimas hepáticas, entre
outras, pode orientar para o
diagnóstico de doença
celíaca.
Recentemente, o serviço de
pediatria do Hospital Central
do Funchal, (representativo
da população pediátrica da
ilha), publicou um estudo
realizado na população
pediátrica com doença
celíaca (39 doentes), resi-
dente na ilha da Madeira e
rastreio aos seus familiares
de 1º grau, estando estes
incluídos nos grupos de risco
de doença celíaca (assim
como doentes com diabetes,
síndrome de Down, síndrome
de Turner, entre outros).
O estudo pretendia determi-
nar a prevalência de DC no
grupo de familiares diretos
destas crianças e a frequên-
cia de HLA-DQ2 e DQ8 nas
crianças celíacas e seus fa-
miliares afetados. O objetivo
deste estudo, para além de
conhecer a realidade da
população local, era também
o de puder informar ade-
quadamente os doentes e
seus familiares de forma a
prevenir complicações e mel-
horar a sua qualidade de
vida.
Foi realizada tipagem gené-
tica a ambas as populações
e o estudo serológico sob
dieta com glúten aos famil-
iares diretos. Os familiares
diretos foram questionados
também sobre a presença de
doenças associadas à DC
(tiroidite auto-imune, diabe-
tes melitus, síndrome de
Down), e presença de sin-
tomas relacionados com
doença celíaca. Nos famil-
iares seropositivos (com anti-
corpos positivos para a DC)
foi recomendada a realiza-
ção de biopsia do intestino
delgado.
Quanto ao diagnóstico
48,7% das crianças obtiv-
eram-no entre o 1-2 anos de
idade, 28,2% entre 7-12
meses e 18% após os 2 anos.
Desde o final do estudo
(Outubro 2011) foram acre-
scidos à nossa casuística 15
doentes. Todas as crianças
apresentavam sintomas gas-
trintestinais e em 69,2% dos
casos verificaram-se sintomas
extraintestinais (atraso de
crescimento, anemia e sin-
tomas neurológicos).
Foram estudados 95 famil-
iares diretos, dos quais 5
eram seropositivos com
estudo genético compatível
com DC. Destes últimos, 4
tinham alterações histológicas
a favor de DC (biópsia posi-
tiva). A prevalência nos fa-
miliares de 1º grau foi de
3,15% (aproximadamente
1:31 familiares), 4.5 vezes
mais elevada que a
prevalência proposta para a
população portuguesa no
geral1 (0,7%) e o que re-
força a importância do
despiste de DC nos famil-
iares diretos. Um outro estu-
do2 levado a cabo por An-
dreia Oliveira no Porto
revelou uma prevalência de
2.6% entre 268 familiares
diretos. A baixa variabili-
dade genética característica
da ilha da Madeira pode ser
responsável pelo ligeiro au-
mento da prevalência encon-
trada no nosso estudo.
O estudo HLA mostrou que
74% dos indivíduos são
DQ2, 24% têm DQ2 incom-
pleto e 2% são DQ8.
Um dos três familiares com
exames positivos tinha
doença celíaca silenciosa, o
que chama a atenção para a
importância do rastreio de
todos os familiares diretos
mesmo na ausência de sin-
tomas.
A deteção de uma criança
com imunodeficiência de IgA
não é surpreendente e cor-
robora a importância de
dosear esta imunoglobulina
O ESTADO DA ARTE-
DOENÇA CELÍACA EM CRIANÇAS MADEIRENSES E A SUA PREVALÊNCIA NOS FAMILIARES DIRETOS
Newsletter
aquando da realização dos
exames serológicos para
diagnóstico (pesquisa de
anticorpos específicos da
DC).
Qual a importância da reali-
zação da tipagem genética?
O estudo de susceptibilidade
genética é útil para excluir a
doença nos familiares de 1º
grau, ou nos grupos de risco
assintomáticos pois se for
negativo para DQ2 e/ou
DQ8 permite excluir a
doença em 99% dos casos.
Diminui assim a necessidade
de determinações seriadas
de anticorpos anti-
transglutaminase tecidular e
anti-endomísio naqueles
casos sendo considerado por
alguns autores custo efectivo.
Pode ainda ser usado
quando a suspeita clínica é
forte, mas os anticorpos
referidos ou a biópsia duo-
denal, não são esclarecedo-
ras.
O estudo dos familiares dire-
tos é importante uma vez
que estudos populacionais
sugerem que os doentes
celíacos têm risco aumentado
de mortalidade, de linfoma e
cancro gastrintestinal. Assim,
o reconhecimento dos famil-
iares diretos como população
de risco e a necessidade de
rastreio nestes pode prevenir
complicações e melhorar a
qualidade de vida destes
indivíduos.
DRA. RUTE GONÇALVES
Pediatra
Hospital Dr. Nélio Mendonça,
Funchal
1- Antunes H. First study on the
prevalence of celiac disease in a
Portuguese population. J Pediatr
Gastroenterol Nutr. 2002;34:240.
2- Joana Raquel Henriques Oliveira,
António Jorge Cabral, Elena Ferreira,
Filipa Capelinha, Hélder Spínola e
Rute Gonçalves. Celiac disease in
children from Madeira Island and its
prevalence in first degree relatives.
Arq Gastroenterol. abr./jun. 2014. v.
51 no. 2.
3
Edição 1, Nº 11
GLUTEN EM PRODUTOS FAR-
MACÊUTICOS
A doença celíaca é definida
como uma reação in-
flamatória auto-imune da
mucosa intestinal, induzida
pela ingestão de glúten. A
quantidade desta proteína
necessária para desencadear
uma resposta imunológica é
pequena e variável de
doente para doente, sendo a
evicção completa de glúten
da dieta o único tratamento
comprovadamente eficaz.
A legislação em vigor para
produtos alimentares esta-
belece a obrigatoriedade de
ser feita referência no rótulo
à presença de cereais que
contêm glúten. Subsistem, no
entanto, algumas dúvidas
relativamente à segurança na
utilização de produtos far-
macêuticos por portadores de
doença celíaca.
Com efeito, produtos consid-
erados fontes potenciais de
glúten são utilizados pela
indústria farmacêutica na
produção de fármacos, so-
bretudo como excipientes.
Define-se excipiente como
uma substância que se adi-
ciona a um medicamento de
modo a conferir a forma ou
eficiência farmacológica ne-
cessária, mas que não desem-
penha uma acção medica-
mentosa directa. Os excipi-
entes são utilizados para as
mais diversas funções
nomeadamente conservantes,
corantes, antioxidantes, cor-
retores de acidez, entre
outras. Por não apresentarem
propriedades curativas ou
preventivas de doenças, os
excipientes são assumidos
como inativos e generica-
mente considerados inofen-
sivos. No entanto, e em par-
ticular para portadores de
doença celíaca, os excipi-
entes podem não ser comple-
tamente inertes e apresentar
riscos potenciais.
A principal substância utili-
zada como excipiente e que
pode actuar como fonte de
glúten é o amido. O amido
utilizado na preparação de
fármacos provém de diversas
fontes vegetais nomeada-
mente milho, arroz, batata e
trigo. Apenas este último rep-
resenta uma potencial fonte
de glúten. O amido, inde-
pendentemente da fonte, é
utilizado pela indústria far-
macêutica como aglutinante e
diluente em formulações sóli-
das orais (comprimidos e cáp-
sulas), ou seja, é adicionado
ao princípio activo do
medicamento para permitir a
moldagem da forma far-
macêutica. Paralelamente,
pode ser utilizado como
agente desagregante, pro-
movendo a absorção de água
pelo comprimido, a sua
desagregação no estômago
ou intestino e facilitando a
absorção da substância ativa.
O amido de trigo é produzido
a partir de farinha do mesmo
cereal que é submetida a um
processo de remoção de pro-
teínas, incluindo o glúten, pelo
que apresenta apenas quanti-
dades vestigiais do mesmo.
Dependendo da qualidade
da matéria-prima utilizada, o
amido de trigo pode conter
maior ou menor quantidade
de glúten. De um modo geral,
apenas uma reduzida fração
de produtos farmacêuticos
utilizam esta substância como
excipiente, tendo sido generi-
camente substituído por amido
de outra fonte.
Na preparação de produtos
farmacêuticos são igualmente
utilizados como excipientes
derivados do amido de trigo,
nomeadamente dextrinas,
dextratos, amido modificado
ou amido pré-gelatinizado.
Estes derivados são consider-
ados seguros para portadores
de doença celíaca por con-
terem quantidades apenas
muito vestigiais desta pro-
teína. A maltodextrina, por
exemplo, é utilizada como
aglutinante, desagregante e
desumidificante. Por ser alta-
mente processada e purifi-
cada, está comprovado que a
percentagem de glúten pre-
sente é tão baixa, ou ausente,
que não é detetável analitica-
mente, sendo portanto consid-
erada isenta de glúten.
Também os álcoois de origem
vegetal utilizados na indústria
farmacêutica, como o manitol
e o xilitol, são considerados
seguros na doença celíaca,
mesmo quando produzidos a
partir de cereais como trigo
ou cevada. Também neste
caso, o processo de refinação
do álcool durante a sua pro-
dução elimina o glúten pre-
sente nos cereais.
Numa pesquisa realizada no
Reino Unido, verificou-se que
apenas 20 produtos dis-
poníveis no mercado utilizam
amido de trigo, não existindo
dados disponíveis sobre a sua
utilização em Portugal.
Apesar disso, a legislação em
vigor referente a produtos
farmacêuticos determina que
no Resumo de Características
do Medicamento (RCM) e na
bula incluída na embalagem
externa seja feita referência
à presença deste componente
no fármaco, independente-
mente da quantidade utili-
zada. Apesar desta recomen-
dação, mesmo em produtos
que utilizam amido de trigo
como excipiente, a quanti-
dade de glúten presente é
considerada vestigial sendo
aqueles considerados como
seguros para portadores de
doença celíaca.
Outros estudos sobre a pre-
sença de glúten em produtos
farmacêuticos foram divul-
gados a partir da década de
90, com resultados muito
díspares. Um estudo efec-
tuado nos EUA referente à
presença de gliadina - a
fracção proteica do glúten
proveniente do trigo, prejudi-
cial aos portadores de
doença celíaca – em produtos
farmacêuticos, determinou a
presença desta substância em
71,2% dos produtos analisa-
dos. Por outro lado, uma
análise realizada no Brasil,
detectou a presença de gli-
adina em apenas 1,3% dos
78 produtos investigados.
Está actualmente em fase de
discussão pública, uma pro-
posta de regulamentação da
Agência Europeia do Medica-
mento que pretende esta-
belecer a obrigatoriedade
em classificar os medicamen-
tos de acordo com a quanti-
dade de glúten presente. Este
projeto, que aguarda ainda
aprovação, determina que os
produtos farmacêuticos que
utilizam amido de trigo como
excipiente sejam classificados
consoante a quantidade de
glúten presente no referido
composto, à semelhança do
que já acontece com os ali-
mentos. Assim, se o amido de
trigo utilizado tiver até 20
ppm de glúten poderá ser
considerado como “isento de
glúten”, enquanto se o mesmo
apresentar uma quantidade
de glúten entre 20 e 100
ppm deve ser considerado
como contendo “quantidades
muito baixas de glúten”.
De um modo geral, considera
-se que, mesmo em fármacos
que utilizam potenciais fontes
de glúten como excipiente, a
quantidade presente será tão
reduzida que os mesmos são
seguros na doença celíaca.
No entanto, dado que a
evicção total de glúten da
dieta é a única forma eficaz
de tratar esta doença, a utili-
zação de excipiente que
contêm esta proteína na for-
mulação de medicamentos
pode condicionar o pleno
cumprimento de uma dieta
isenta de glúten. Por outro
lado, a quantidade minima
(continua na página seguinte)
capaz de induzir uma re-
sposta imunitária varia de
INFO & DICAS
4
substituídos, e oferecemos
tudo o que tinha glúten, pois
eu e o meu marido decidimos
que iríamos sempre fazer as
refeições iguais para os três.
A primeira ida ao super-
mercado foi uma aventura
demorada, pois demorávamos
para ler tanto rótulo. Mas com
o tempo foi mais fácil fazer o
trabalho de pesquisa em casa
e passar a ir ao super-
mercado com a lista já feita.
Neste momento, cozinhamos
em casa com grande naturali-
dade e os que lá vão não
notam qualquer diferença.
O meu filho teve uma adap-
tação fantástica à dieta sem
glúten e hoje em dia, com
apenas seis anos, tem o cui-
dado de perguntar a quem
lhe oferece alguma coisa “Isso
tem glúten?”. Percebe que
não pode comer e aceitou
com grande naturalidade.
Acho que isto é muito impor-
tante, nós - pais de crianças
celíacas - lidarmos com natu-
ralidade com a doença e com
Sara Gonçalves, mãe de
celíaco, fala-nos de como
gere o seu dia-a-dia. O di-
agnóstico do meu filho, então
com cinco anos, surgiu em
Março deste ano entrando na
Urgência com queixa de
dores abdominais severas.
Tinha invaginações intestinais
recorrentes que se dissi-
pavam sem se perceber a
razão. O excelente trabalho
desenvolvido em conjunto
entre a Cirurgia Pediátrica e
da Pediatria, na pessoa da
Dra. Rute Gonçalves, levaram
a que o diagnóstico fosse
rápido – Doença Celíaca.
Tivemos um misto de sensa-
ções: felicidade e alívio por
não se confirmarem os piores
diagnósticos mas também
apreensão com esta doença
que desconhecíamos.
Primeira reação: fazer muitas
perguntas à pediatra e ler
muito para me inteirar dos
conceitos, ainda confusos.
Com a vinda para casa,
houve uma grande limpeza
na cozinha, com utensílios
os constrangimentos da
mesma, isto é, sem dramas,
sem “Coitadinho!!! Não pode
comer!!!”. Com certeza que
não pode comer algumas
coisas, mas, em compensação,
há tanta coisa que pode
comer.
Na escola, falámos com a
direção e com a empresa de
catering que, felizmente, es-
tava perfeitamente pre-
parada para confecionar
refeições sem glúten, pois tal
já acontecia noutras escolas.
Foram incansáveis, respon-
dendo a todas as minhas
questões.
Confesso que a vida social foi
um pouco beliscada, mas
começamos gradualmente a
recuperar. Primeiro, apenas
restaurantes em que os donos
eram nossos amigos e que
tínhamos a certeza que cum-
pririam os nossos pedidos, por
vezes, longos, pois a dieta
inicial (primeiros seis meses)
também foi isenta de lactose.
Depois, fomos variando um ou
Newsletter
outro restaurante em que já
eramos clientes conhecidos.
Relativamente às festas de
aniversário dos amiguinhos,
ainda acompanho o meu filho.
Indico o que pode e o que
não pode comer e ele cumpre
pois não quer arriscar.
Relativamente à compra de
produtos isentos de glúten,
ainda que a variedade não
seja a mesma do continente,
temos um sortido bastante
interessante. Claro que nas
idas ao continente, encho sem-
pre a mala de algumas
iguarias sem glúten que não
existem cá. Mas sempre va-
mos tendo as marcas general-
istas que também têm lançado
cada vez mais referências
sem glúten.
O que posso garantir a quem
ler estas minhas palavras é
que, primeiro ESTRANHAMOS
mas depois ENTRANHAMOS,
pelo que o meu filho tem uma
vida absolutamente normal e
saudável como todas as
outras crianças da sua idade!
TESTEMUNHO
doente para doente e nal-
guns casos pode ser de ap-
enas 10 mg diários, pelo que
os portadores de doença
celíaca deverão estar corre-
tamente informados sobre a
composição de produtos far-
macêuticos que utilizam de
forma continuada.
Importa ainda salientar que
os medicamentos genéricos
apesar de terem uma
eficácia e biodisponibilidade
idêntica ao medicamento de
marca equivalente no que se
refere ao principio ativo de
um fármaco, não são obri-
gados a utilizar na sua pro-
dução os mesmos excipientes
que o medicamento original.
Por esta razão, o facto de um
medicamento de marca ser
considerado isento de glúten
não determina automatica-
mente que o equivalente
genérico também o seja.
Recomenda-se assim que por-
tadores de doença celíaca
procurem informação actuali-
zada e detalhada sobre a
composição de todos os pro-
dutos farmacêuticos que utili-
zam.
As três formas mais rápidas e
seguras de conseguir essa
informação são:
1 – Pesquisa do RCM do
medicamento na base de
dados INFOMED, disponível
para consulta pública no sítio
da Autoridade Nacional do
Medicamento e Produtos de
Saúde (INFARMED) em
www.infarmed.pt/infomed/
inicio.php – o ponto 6
“Informações Farmacêuticas”
de cada RCM aprovado em
Portugal inclui obrigatoria-
mente uma lista dos excipi-
entes utilizados;
2 – Questionar directamente
o farmacêutico na altura da
dispensa do medicamento – a
farmácia comunitária tem
acesso informático a informa-
ção segura sobre os medica-
mentos e consultável de
forma rápida;
3 – Contactar directamente o
laboratório farmacêutico
responsável pela produção
do medicamento, que deverá
ter informação detalhada
sobre os produtos utilizados
no seu fabrico e as suas ori-
gens.
Estas informações são válidas
para a medicação regulada
pelo INFARMED. Suplementos
vitamínicos e outros poderão
não ser regulados por esta
entidade, logo a consulta do
rótulo ou, em caso de dúvida,
impõe-se o pedido de es-
clarecimento ao fabricante.
Discuta sempre com o seu
médico, se a sua medicação
contiver excipientes à base
de trigo, se existem alternati-
vas terapêuticas igualmente
eficazes. Mais vale prevenir
que remediar. Celíaco infor-
mado é celíaco saudável!
DR. RUI NETO FERNANDES
Farmacêutico. Médico do ano
comum
Serviço de medicina, CHLO
INFO & DICAS (cont.)
5
NUTRIÇÃO
BIOMASSA DA BANANA
VERDE E BATATA DOCE
A banana ainda verde é con-
siderada um alimento fun-
cional. Quando cozida apre-
senta alto conteúdo de amido
resistente presente na polpa.
Ela favorece a colonização da
flora intestinal saudável e
melhora a absorção de nutri-
entes como, por exemplo, o
cálcio.
O amido resistente é fermen-
tado seletivamente no colón,
possui efeito bifidogénico,
(contribui para o crescimento
intestinal das bifidobactérias),
e produz AGCC (ácidos gor-
dos de cadeia curta), acetato,
propionato, butirato, promove
a redução de substâncias tóxi-
cas, diminui o risco de doen-
ças inflamatórias intestinais e
possui efeito anti carcinogé-
nico.
O amido resistente possui
ação no organismo semel-
hante ao da fibra alimentar.
Não é digerido e absorvido
no intestino delgado sendo
então fermentado no intestino
grosso. Serve assim como
fonte de energia para a pro-
dução das bactérias benéfi-
cas do nosso intestino, aju-
dando a manter a integri-
dade da mucosa intestinal
responsável pela absorção
adequada dos nutrientes e
pela barreira à entrada de
substâncias nocivas.
Desta forma, o consumo de
banana verde auxilia a um
trânsito intestinal adequado,
além de prevenir o desen-
volvimento de doenças do
intestino.
A banana verde exerce
outros efeitos benéficos ao
organismo. Ela é considerada
um alimento de baixo índice
glicémico. Sua digestão e
absorção são mais lentas e
assim a quantidade de glicose
libertada no sangue ocorre
mais lentamente, mantendo os
níveis desta sob controlo e
reduzindo a necessidade de
libertação de insulina para a
entrada daquela na célula.
Contribuiu então para a pre-
venção do desenvolvimento
de diabetes e acumulação de
gordura corporal ao aumen-
tar a saciedade promovida
pelo amido resistente.
Na forma cozida a banana
verde é apropriada ao pre-
paro de subprodutos como a
biomassa e a farinha de ba-
nana verde. Estas são utili-
zadas para a confeção de
bolos, biscoitos e outras mas-
sas, substituindo a farinha de
trigo. Podemos ainda adi-
cionar a biomassa da banana
verde em sucos de frutas e
vitaminas.
Quanto à batata-doce esta é
uma fonte de hidratos de car-
bono complexos e tem tam-
bém baixo índice glicémico,
com isso, ajuda a controlar a
diabetes e é uma ótima fonte
de energia, tanto para treino
desportivo como para controlo
de peso. Ela é digerida lenta-
mente, principalmente se for
consumida junto com sua
casca. Essa propriedade con-
fere saciedade e, como a sua
digestão liberta glicose
gradualmente, leva a que,
por sua vez, a libertação de
insulina seja também mais
lenta. Evita assim a acumula-
ção de gorduras. Possui alto
teor de fibras, logo ajuda a
controlar o colesterol e tam-
bém na manutenção do sis-
tema digestivo. É fonte de
antioxidantes pois fornece
vitaminas A, C e E.
Banana e batata-doce ótimos
recursos “Madeirenses” para
o celíaco. Disfrute do regular
funcionamento do sistema di-
gestivo usando-os nas suas
receitas.
NOADIA LOBÃO
BIOMASSA
DE BANANA
VERDE
Ingredientes:
Cerca de meia panela de
água (a quantidade suficiente
para cobrir as bananas)
12 bananas verdes imediata-
mente após colheita
Preparação:
Lave as bananas sem tirar o
cabo da fruta. Encha a panela
de pressão com metade de
água e leve ao lume. Quando
a água estiver a ferver, colo-
que as bananas e tape a
panela. Coza durante 10
minutos e deixe a pressão sair
naturalmente. Depois disso,
escorra a água. Tenha cui-
dado ao abrir as bananas
para não se queimar. Se
preferir, utilize um garfo.
Coloque a polpa da fruta sem
casca no liquidificador (pode
ser necessário um pouco de
água quente) e triture. De
seguida coloque a mistura em
formas de gelo e a outra
metade num frasco de vidro
(guarde até sete dias).
Descongelação:
No micro-ondas ou à tem-
peratura ambiente. De se-
guida, aqueça junto com a
água do descongelamento e
uma xícara (café) de água.
Mexa a biomassa sem parar
até que se desmanche total-
mente. Se quiser apurar o
ponto, deixe-a ferver mais,
mexendo sem parar. Só nes-
sas condições poderá ser le-
vada ao liquidificador com 1
xícara (café) de água fer-
vente, ou então ao proces-
samento sem a água, até virar
uma pasta homogênea.
Modo de utilização: batida
em vitaminas, sumos, caldo de
feijão, sopa, patês, massa de
pão e bolo, tortas e biscoitos.
RECEITAS DO MÊS
MASSALADAS
DE BATATA-
DOCE
Ingredientes:
1 quilo de batata doce
1 quilo de farinha (Doves
Farm self raising)
Fermento de padeiro sem
glúten (quantidade para 1
quilo de farinha)
1 litro de leite
6 ovos
Sal q.b.
Açúcar e canela, mel de cana
ou simples q.b. e opcional
Preparação:
Coze-se a batata-doce com
sal. Reserva-se a água da
cozedura e rala-se a batata.
Num alguidar, deitamos a
farinha, a batata cozida, os
ovos, o leite e o fermento
(desfeito em pouca água da
batata). Amassamos tudo
muito bem. Tapamos o algui-
dar com papel de alumínio e
colocamos uma manta por
cima. Fica reservado durante
45 minutos.
Colocamos uma panela com
óleo bem quente para a
fritura. Com uma colher de
sopa retiramos massa do al-
guidar e com ajuda de outra
colher deitamos na panela
para fritar. Colocam-se as
malassadas em cima de papel
de cozinha para que a gor-
dura excedente seja absor-
vida pelo papel. Pode en-
costar as malassadas umas às
outras, ao alto. Assim ficam
sequinhas.
No caso de ser principiante a
fazer esta receita, convém
fritar apenas uma malassada,
verificar se o seu interior está
cozido e depois monitorizar a
fritura a partir daí, conferindo
mais ou menos tempo a cada
face. Isto evita que o interior
da malassada fique cru e que
o produto final não seja o
desejado. Podem servir-se
polvilhadas de açúcar e ca-
nela, mel de cana ou simples.
Bom apetite!

Mais conteúdo relacionado

Destaque

Modelling agencies mumbai
Modelling agencies mumbaiModelling agencies mumbai
Modelling agencies mumbai
Modelling Agencies
 
01 metodología
01 metodología01 metodología
01 metodología
hectortorreslima
 
dataLayer - stvaranje objekata u industriji merenja i marketingu
dataLayer - stvaranje objekata u industriji merenja i marketingudataLayer - stvaranje objekata u industriji merenja i marketingu
dataLayer - stvaranje objekata u industriji merenja i marketingu
Ivan Rečević
 
La ecología como fuente del derecho ecológico
La ecología como fuente del derecho ecológicoLa ecología como fuente del derecho ecológico
La ecología como fuente del derecho ecológico
María Teresa Herrera Aponte
 
EXPO
EXPOEXPO
2 rudimentos de la conducta
2 rudimentos de la conducta2 rudimentos de la conducta
2 rudimentos de la conducta
hectortorreslima
 
A Revolução Soviética
A Revolução SoviéticaA Revolução Soviética
A Revolução Soviética
Paulo Martins
 
Ignou University Distance MBA Programme Admission 2017
Ignou University Distance MBA Programme Admission 2017Ignou University Distance MBA Programme Admission 2017
Ignou University Distance MBA Programme Admission 2017
Dial You
 
Complejidad de los algoritmos
Complejidad de los algoritmosComplejidad de los algoritmos
Complejidad de los algoritmos
Daniel Roa
 

Destaque (9)

Modelling agencies mumbai
Modelling agencies mumbaiModelling agencies mumbai
Modelling agencies mumbai
 
01 metodología
01 metodología01 metodología
01 metodología
 
dataLayer - stvaranje objekata u industriji merenja i marketingu
dataLayer - stvaranje objekata u industriji merenja i marketingudataLayer - stvaranje objekata u industriji merenja i marketingu
dataLayer - stvaranje objekata u industriji merenja i marketingu
 
La ecología como fuente del derecho ecológico
La ecología como fuente del derecho ecológicoLa ecología como fuente del derecho ecológico
La ecología como fuente del derecho ecológico
 
EXPO
EXPOEXPO
EXPO
 
2 rudimentos de la conducta
2 rudimentos de la conducta2 rudimentos de la conducta
2 rudimentos de la conducta
 
A Revolução Soviética
A Revolução SoviéticaA Revolução Soviética
A Revolução Soviética
 
Ignou University Distance MBA Programme Admission 2017
Ignou University Distance MBA Programme Admission 2017Ignou University Distance MBA Programme Admission 2017
Ignou University Distance MBA Programme Admission 2017
 
Complejidad de los algoritmos
Complejidad de los algoritmosComplejidad de los algoritmos
Complejidad de los algoritmos
 

Semelhante a Newsletter Grupo Viva sem glúten portugal ed 1 nr 11 nov 2014

Monografia doença celíaca
Monografia doença celíacaMonografia doença celíaca
Monografia doença celíaca
Jane Saint
 
Pcdt doenca celiaca_livro_2010
Pcdt doenca celiaca_livro_2010Pcdt doenca celiaca_livro_2010
Pcdt doenca celiaca_livro_2010
Arquivo-FClinico
 
Consenso Doença celíaca 2005
Consenso Doença celíaca 2005Consenso Doença celíaca 2005
Consenso Doença celíaca 2005
Saionara Bennemann
 
Guia orientador para Celiacos 2010
Guia orientador para Celiacos 2010Guia orientador para Celiacos 2010
Guia orientador para Celiacos 2010
Dr. Benevenuto
 
Celiaco
CeliacoCeliaco
V33n5a12
V33n5a12V33n5a12
RELATO_DE_CASO_CLINICO_E_REVISAO_DE_LITERATURA_DE_PACIENTE_PEDIATRICO_COM_CET...
RELATO_DE_CASO_CLINICO_E_REVISAO_DE_LITERATURA_DE_PACIENTE_PEDIATRICO_COM_CET...RELATO_DE_CASO_CLINICO_E_REVISAO_DE_LITERATURA_DE_PACIENTE_PEDIATRICO_COM_CET...
RELATO_DE_CASO_CLINICO_E_REVISAO_DE_LITERATURA_DE_PACIENTE_PEDIATRICO_COM_CET...
Dalila677702
 
Doença celíaca
 Doença celíaca Doença celíaca
Doença celíaca
Raquelrenno
 
Rastreamento e Diagnóstico DMG Megale 10 10 2008
Rastreamento e  Diagnóstico DMG Megale 10 10 2008Rastreamento e  Diagnóstico DMG Megale 10 10 2008
Rastreamento e Diagnóstico DMG Megale 10 10 2008
Alexandre Megale
 
DIABETES MELLITUS TIPO 2, ENDOCRINOLOGIA, RESUMO RELEVANTE ATUALIZADO
DIABETES MELLITUS TIPO 2, ENDOCRINOLOGIA, RESUMO RELEVANTE ATUALIZADODIABETES MELLITUS TIPO 2, ENDOCRINOLOGIA, RESUMO RELEVANTE ATUALIZADO
DIABETES MELLITUS TIPO 2, ENDOCRINOLOGIA, RESUMO RELEVANTE ATUALIZADO
Van Der Häägen Brazil
 
Intolerância ao glúten
Intolerância ao glútenIntolerância ao glúten
Intolerância ao glúten
Aline Maria Sá Nascimento
 
Diabetes gestacional
Diabetes gestacionalDiabetes gestacional
Diabetes gestacional
Bruna Toledo
 
Doença celíaca
Doença celíacaDoença celíaca
Doença celíaca
Raquelrenno
 
Doença de chagas
Doença de chagas   Doença de chagas
Doença de chagas
Sheyla Amorim
 
Prevenção do câncer de colo uterino e mama e prevenção dos excessos de preven...
Prevenção do câncer de colo uterino e mama e prevenção dos excessos de preven...Prevenção do câncer de colo uterino e mama e prevenção dos excessos de preven...
Prevenção do câncer de colo uterino e mama e prevenção dos excessos de preven...
Eno Filho
 
Boletim consea 27[1]
Boletim consea 27[1]Boletim consea 27[1]
Boletim consea 27[1]
Kamilly Moreira Bicalho
 
Sem gluten, com saude_e-book
Sem gluten, com saude_e-bookSem gluten, com saude_e-book
Sem gluten, com saude_e-book
Pimenta Ana
 
Banner rastreio cbc 2016
Banner rastreio cbc 2016Banner rastreio cbc 2016
Banner rastreio cbc 2016
gisa_legal
 
Pancreatite Aguda_ap hospital_final.pdf
Pancreatite Aguda_ap hospital_final.pdfPancreatite Aguda_ap hospital_final.pdf
Pancreatite Aguda_ap hospital_final.pdf
EmanuelJulioMiguel
 
Obesidade é Multifatorial
Obesidade é MultifatorialObesidade é Multifatorial
Obesidade é Multifatorial
Van Der Häägen Brazil
 

Semelhante a Newsletter Grupo Viva sem glúten portugal ed 1 nr 11 nov 2014 (20)

Monografia doença celíaca
Monografia doença celíacaMonografia doença celíaca
Monografia doença celíaca
 
Pcdt doenca celiaca_livro_2010
Pcdt doenca celiaca_livro_2010Pcdt doenca celiaca_livro_2010
Pcdt doenca celiaca_livro_2010
 
Consenso Doença celíaca 2005
Consenso Doença celíaca 2005Consenso Doença celíaca 2005
Consenso Doença celíaca 2005
 
Guia orientador para Celiacos 2010
Guia orientador para Celiacos 2010Guia orientador para Celiacos 2010
Guia orientador para Celiacos 2010
 
Celiaco
CeliacoCeliaco
Celiaco
 
V33n5a12
V33n5a12V33n5a12
V33n5a12
 
RELATO_DE_CASO_CLINICO_E_REVISAO_DE_LITERATURA_DE_PACIENTE_PEDIATRICO_COM_CET...
RELATO_DE_CASO_CLINICO_E_REVISAO_DE_LITERATURA_DE_PACIENTE_PEDIATRICO_COM_CET...RELATO_DE_CASO_CLINICO_E_REVISAO_DE_LITERATURA_DE_PACIENTE_PEDIATRICO_COM_CET...
RELATO_DE_CASO_CLINICO_E_REVISAO_DE_LITERATURA_DE_PACIENTE_PEDIATRICO_COM_CET...
 
Doença celíaca
 Doença celíaca Doença celíaca
Doença celíaca
 
Rastreamento e Diagnóstico DMG Megale 10 10 2008
Rastreamento e  Diagnóstico DMG Megale 10 10 2008Rastreamento e  Diagnóstico DMG Megale 10 10 2008
Rastreamento e Diagnóstico DMG Megale 10 10 2008
 
DIABETES MELLITUS TIPO 2, ENDOCRINOLOGIA, RESUMO RELEVANTE ATUALIZADO
DIABETES MELLITUS TIPO 2, ENDOCRINOLOGIA, RESUMO RELEVANTE ATUALIZADODIABETES MELLITUS TIPO 2, ENDOCRINOLOGIA, RESUMO RELEVANTE ATUALIZADO
DIABETES MELLITUS TIPO 2, ENDOCRINOLOGIA, RESUMO RELEVANTE ATUALIZADO
 
Intolerância ao glúten
Intolerância ao glútenIntolerância ao glúten
Intolerância ao glúten
 
Diabetes gestacional
Diabetes gestacionalDiabetes gestacional
Diabetes gestacional
 
Doença celíaca
Doença celíacaDoença celíaca
Doença celíaca
 
Doença de chagas
Doença de chagas   Doença de chagas
Doença de chagas
 
Prevenção do câncer de colo uterino e mama e prevenção dos excessos de preven...
Prevenção do câncer de colo uterino e mama e prevenção dos excessos de preven...Prevenção do câncer de colo uterino e mama e prevenção dos excessos de preven...
Prevenção do câncer de colo uterino e mama e prevenção dos excessos de preven...
 
Boletim consea 27[1]
Boletim consea 27[1]Boletim consea 27[1]
Boletim consea 27[1]
 
Sem gluten, com saude_e-book
Sem gluten, com saude_e-bookSem gluten, com saude_e-book
Sem gluten, com saude_e-book
 
Banner rastreio cbc 2016
Banner rastreio cbc 2016Banner rastreio cbc 2016
Banner rastreio cbc 2016
 
Pancreatite Aguda_ap hospital_final.pdf
Pancreatite Aguda_ap hospital_final.pdfPancreatite Aguda_ap hospital_final.pdf
Pancreatite Aguda_ap hospital_final.pdf
 
Obesidade é Multifatorial
Obesidade é MultifatorialObesidade é Multifatorial
Obesidade é Multifatorial
 

Último

História da Enfermagem-Enfermagem 2024.pdf
História da Enfermagem-Enfermagem 2024.pdfHistória da Enfermagem-Enfermagem 2024.pdf
História da Enfermagem-Enfermagem 2024.pdf
JandersonGeorgeGuima
 
Livro do Instituto da Saúde: amplia visões e direitos no ciclo gravídico-puer...
Livro do Instituto da Saúde: amplia visões e direitos no ciclo gravídico-puer...Livro do Instituto da Saúde: amplia visões e direitos no ciclo gravídico-puer...
Livro do Instituto da Saúde: amplia visões e direitos no ciclo gravídico-puer...
Prof. Marcus Renato de Carvalho
 
DESVIOS POSTURAIS DA COLUNA VERTEBRAL 0001.pptx
DESVIOS POSTURAIS DA COLUNA VERTEBRAL 0001.pptxDESVIOS POSTURAIS DA COLUNA VERTEBRAL 0001.pptx
DESVIOS POSTURAIS DA COLUNA VERTEBRAL 0001.pptx
Klaisn
 
Programa de Saúde do Adolescente( PROSAD)
Programa de Saúde do Adolescente( PROSAD)Programa de Saúde do Adolescente( PROSAD)
Programa de Saúde do Adolescente( PROSAD)
sula31
 
A DISSOLUÇÃO DO COMPLEXO DE ÉDIPO (1924)
A DISSOLUÇÃO DO COMPLEXO DE ÉDIPO (1924)A DISSOLUÇÃO DO COMPLEXO DE ÉDIPO (1924)
A DISSOLUÇÃO DO COMPLEXO DE ÉDIPO (1924)
Luiz Henrique Pimentel Novais Silva
 
4.Tecidos Excitáveis - Tecido Nervoso.pptx
4.Tecidos Excitáveis - Tecido Nervoso.pptx4.Tecidos Excitáveis - Tecido Nervoso.pptx
4.Tecidos Excitáveis - Tecido Nervoso.pptx
AmaroAlmeidaChimbala
 
Apostila Gerência de Riscos PDF voltado para Segurança do Trabalho
Apostila Gerência de Riscos PDF   voltado para Segurança do TrabalhoApostila Gerência de Riscos PDF   voltado para Segurança do Trabalho
Apostila Gerência de Riscos PDF voltado para Segurança do Trabalho
CatieleAlmeida1
 
Síndrome do Desconforto Respiratório do Recém-Nascido (SDR).pptx
Síndrome do Desconforto Respiratório do Recém-Nascido (SDR).pptxSíndrome do Desconforto Respiratório do Recém-Nascido (SDR).pptx
Síndrome do Desconforto Respiratório do Recém-Nascido (SDR).pptx
marjoguedes1
 

Último (8)

História da Enfermagem-Enfermagem 2024.pdf
História da Enfermagem-Enfermagem 2024.pdfHistória da Enfermagem-Enfermagem 2024.pdf
História da Enfermagem-Enfermagem 2024.pdf
 
Livro do Instituto da Saúde: amplia visões e direitos no ciclo gravídico-puer...
Livro do Instituto da Saúde: amplia visões e direitos no ciclo gravídico-puer...Livro do Instituto da Saúde: amplia visões e direitos no ciclo gravídico-puer...
Livro do Instituto da Saúde: amplia visões e direitos no ciclo gravídico-puer...
 
DESVIOS POSTURAIS DA COLUNA VERTEBRAL 0001.pptx
DESVIOS POSTURAIS DA COLUNA VERTEBRAL 0001.pptxDESVIOS POSTURAIS DA COLUNA VERTEBRAL 0001.pptx
DESVIOS POSTURAIS DA COLUNA VERTEBRAL 0001.pptx
 
Programa de Saúde do Adolescente( PROSAD)
Programa de Saúde do Adolescente( PROSAD)Programa de Saúde do Adolescente( PROSAD)
Programa de Saúde do Adolescente( PROSAD)
 
A DISSOLUÇÃO DO COMPLEXO DE ÉDIPO (1924)
A DISSOLUÇÃO DO COMPLEXO DE ÉDIPO (1924)A DISSOLUÇÃO DO COMPLEXO DE ÉDIPO (1924)
A DISSOLUÇÃO DO COMPLEXO DE ÉDIPO (1924)
 
4.Tecidos Excitáveis - Tecido Nervoso.pptx
4.Tecidos Excitáveis - Tecido Nervoso.pptx4.Tecidos Excitáveis - Tecido Nervoso.pptx
4.Tecidos Excitáveis - Tecido Nervoso.pptx
 
Apostila Gerência de Riscos PDF voltado para Segurança do Trabalho
Apostila Gerência de Riscos PDF   voltado para Segurança do TrabalhoApostila Gerência de Riscos PDF   voltado para Segurança do Trabalho
Apostila Gerência de Riscos PDF voltado para Segurança do Trabalho
 
Síndrome do Desconforto Respiratório do Recém-Nascido (SDR).pptx
Síndrome do Desconforto Respiratório do Recém-Nascido (SDR).pptxSíndrome do Desconforto Respiratório do Recém-Nascido (SDR).pptx
Síndrome do Desconforto Respiratório do Recém-Nascido (SDR).pptx
 

Newsletter Grupo Viva sem glúten portugal ed 1 nr 11 nov 2014

  • 1. nos como se adaptou ao di- agnóstico de DC e o que faz para congregar os celíacos madeirenses. Sara Gon- çalves, mãe de menino celíaco e residente na Ma- deira, fala-nos de como soube que seu filho é celíaco e como gere o seu dia-a-dia. Quando vai à farmácia pensa no glúten? Relembre algumas noções sobre a segurança na utilização de produtos farmacêuticos por portadores de doença celíaca com o Dr. Rui Neto Fernandes. Novembro à porta…”Em dia de São Martinho, lume, cas- tanhas e vinho”...que mara- vilha, tudo gluten free! ANA PIMENTA “Um presente de cores. Uma ilha de verti- gens. Segredos de buganvília. No soluçar das vagas. No subir da maré. Navega meu coração. Nas nuvens. Sub- mergem os montes. Nos ma- tizes esmaecidos dos borda- dos. Está a raiz do meu sonho” (1). Onde?! Na ilha da Madeira. Lugar insólito, hospitaleiro, propício a ficar e deixar-se ficar. A baixa variabilidade genética característica de uma ilha pode ser responsável por um ligeiro aumento da prevalência de algumas doenças, tal como a doença celíaca (DC). A pediatra madeirense Rute Gonçalves explica-nos como se estudou a população pediátrica da Madeira e os seus familiares diretos em relação à prevalência daquela doença. Salienta ainda a importância do despiste aos familiares diretos de celíacos. Um dos frutos característicos da ilha da Madeira é a ba- nana. A batata-doce é igual- mente muito usada na cu- linária tradicional. Que benefícios podem trazer ao celíaco? Descubra as van- tagens da biomassa da ba- nana verde e da batata- doce com a nutricionista Noadia Lobão. Para os madeirenses, as malassadas estão para o Carnaval, como o bolo-rei está para o Natal dos conti- nentais. Não podem faltar! Rute Freitas deixa-nos com água na boca com a sua receita tradicional e relata- EDITORIAL ENTREVISTA A entrevistada deste mês é Rute Freitas, celíaca e ad- ministradora do grupo de Facebook Celíacos da Ma- deira. Rute como soube que é celíaca? E o que mudou na sua vida? Descobri há 3 anos que sou celíaca. Quando soube chorei! Mas afinal todo este sofrimento tinha um nome! Sentimento de alívio. O meu dia-a-dia mudou muito. Em casa foi mais fácil, todos contribuíram para que não houvesse contaminação. Nos restaurantes não foi fácil, pelo que passei a frequentá -los menos. No trabalho tam- bém não foi fácil, mas expli- cando e em luta constante, deixei de ter problemas. Inscrevi-me na APC o que foi uma mais valia. Como é ser celíaco na Ma- deira? Vivendo numa ilha temos pouca quantidade e variedade de produtos ali- mentares específicos. Tem sido uma luta constante para o mesmo aumentar. Porque senti muita dificuldade como celíaca e, com o desconheci- mento da sociedade desta condição, decidi abrir um grupo e conhecer outras pessoas com a mesma doença. Perceber os seus problemas, divulgar ao máximo na comunicação social, criar eventos com o objetivo de sensibilizar para esta temática. Sempre com um grande apoio, da APC, da nutricionista Dra. Amélia Teixeira, da Pediatra Dra. Rute Gonçalves, da Enfª Fernanda Vilha e Enfº Mi- caela, dos elementos do grupo de Celíacos da Ma- deira e um enorme apoio familiar. Mantenho também contacto com outros grupos orientados para esta temática como o grupo Viva sem glúten Portugal. Agradecimentos:  ANA PIMENTA– Redacção  ANTÓNIO JOÃO PEREIRA – Revisão clínica  AVELINO GUERREIRO – Apoio técnico e informático  CLÁUDIA MACEDO – Revisão ortográfica e tipográfica/ layout  NOADIA LOBÃO– Nutrição e Receita do Mês  RUI NETO FERNANDES– Info & Dicas  RUTE FREITAS E SARA GONÇAL- VES– Entrevistadas/ Receita do mês  RUTE GONÇALVES- O Estado da Arte EDITORIAL 1 ENTREVISTA 1 ESTADO DA ARTE 2 INFO & DICAS 3,4 TESTEMUNHO 4 NUTRIÇÃO 5 RECEITAS DO MÊS 5 Neste número: Novembro 2014Edição 1, Nº 11 G R UP O V I VA S E M G LÚT E N P OR T U GA L Newsletter Contacto: vivasemglutenportugal@outlook.pt
  • 2. 2 A relação entre alimentação e a doença celíaca (DC) foi estabelecida desde finais do século XIX mas a relação directa com o glúten só foi descoberta mais tarde, já em meados do século XX. Os critérios de diagnóstico têm vindo a ser simplificados ao longo dos anos pela ESP- GHAN (European Society of Gastrenterology, Hepatology and Nutrition), passando da necessidade de três endosco- pias com biópsia e prova de provocação com glúten, para apenas uma endoscopia ini- cial, pela evidência de que os anticorpos anti- transglutaminase tecidular e anti-endomísio apresentam sensibilidade e especifici- dade na ordem dos 95%. As recentes guidelines da ESPGHAN salientam a grande sensibilidade dos testes acima referidos, asso- ciados ao estudo da suscepti- bilidade genética (presença HLA DQ2 e DQ8), como fac- tores muito importantes no diagnóstico. Nas crianças, em alguns casos, o diagnóstico pode até ser estabelecido sem o recurso à biopsia duo- denal: sintomas clínicos sugestivos, anticorpo anti- transglutaminase 10 vezes o normal e anti-endomísio posi- tivo, HLA concordante e, por fim, resposta positiva à dieta sem glúten são suficientes. Os pediatras devem estar sensibilizados para as mani- festações menos típicas da doença. A forma clássica, do lactente com 7-10 meses que apresenta diarreia crónica, distensão abdominal e má progressão ponderal, já não é a forma de apresentação mais comum. A doença celíaca não é exclusiva da idade pediátrica e muito menos da faixa etária até aos 12 meses. Em qualquer idade, a existência de vómi- tos recorrentes, obstipação de difícil resolução, invagina- ção intestinal, aumento das enzimas hepáticas, entre outras, pode orientar para o diagnóstico de doença celíaca. Recentemente, o serviço de pediatria do Hospital Central do Funchal, (representativo da população pediátrica da ilha), publicou um estudo realizado na população pediátrica com doença celíaca (39 doentes), resi- dente na ilha da Madeira e rastreio aos seus familiares de 1º grau, estando estes incluídos nos grupos de risco de doença celíaca (assim como doentes com diabetes, síndrome de Down, síndrome de Turner, entre outros). O estudo pretendia determi- nar a prevalência de DC no grupo de familiares diretos destas crianças e a frequên- cia de HLA-DQ2 e DQ8 nas crianças celíacas e seus fa- miliares afetados. O objetivo deste estudo, para além de conhecer a realidade da população local, era também o de puder informar ade- quadamente os doentes e seus familiares de forma a prevenir complicações e mel- horar a sua qualidade de vida. Foi realizada tipagem gené- tica a ambas as populações e o estudo serológico sob dieta com glúten aos famil- iares diretos. Os familiares diretos foram questionados também sobre a presença de doenças associadas à DC (tiroidite auto-imune, diabe- tes melitus, síndrome de Down), e presença de sin- tomas relacionados com doença celíaca. Nos famil- iares seropositivos (com anti- corpos positivos para a DC) foi recomendada a realiza- ção de biopsia do intestino delgado. Quanto ao diagnóstico 48,7% das crianças obtiv- eram-no entre o 1-2 anos de idade, 28,2% entre 7-12 meses e 18% após os 2 anos. Desde o final do estudo (Outubro 2011) foram acre- scidos à nossa casuística 15 doentes. Todas as crianças apresentavam sintomas gas- trintestinais e em 69,2% dos casos verificaram-se sintomas extraintestinais (atraso de crescimento, anemia e sin- tomas neurológicos). Foram estudados 95 famil- iares diretos, dos quais 5 eram seropositivos com estudo genético compatível com DC. Destes últimos, 4 tinham alterações histológicas a favor de DC (biópsia posi- tiva). A prevalência nos fa- miliares de 1º grau foi de 3,15% (aproximadamente 1:31 familiares), 4.5 vezes mais elevada que a prevalência proposta para a população portuguesa no geral1 (0,7%) e o que re- força a importância do despiste de DC nos famil- iares diretos. Um outro estu- do2 levado a cabo por An- dreia Oliveira no Porto revelou uma prevalência de 2.6% entre 268 familiares diretos. A baixa variabili- dade genética característica da ilha da Madeira pode ser responsável pelo ligeiro au- mento da prevalência encon- trada no nosso estudo. O estudo HLA mostrou que 74% dos indivíduos são DQ2, 24% têm DQ2 incom- pleto e 2% são DQ8. Um dos três familiares com exames positivos tinha doença celíaca silenciosa, o que chama a atenção para a importância do rastreio de todos os familiares diretos mesmo na ausência de sin- tomas. A deteção de uma criança com imunodeficiência de IgA não é surpreendente e cor- robora a importância de dosear esta imunoglobulina O ESTADO DA ARTE- DOENÇA CELÍACA EM CRIANÇAS MADEIRENSES E A SUA PREVALÊNCIA NOS FAMILIARES DIRETOS Newsletter aquando da realização dos exames serológicos para diagnóstico (pesquisa de anticorpos específicos da DC). Qual a importância da reali- zação da tipagem genética? O estudo de susceptibilidade genética é útil para excluir a doença nos familiares de 1º grau, ou nos grupos de risco assintomáticos pois se for negativo para DQ2 e/ou DQ8 permite excluir a doença em 99% dos casos. Diminui assim a necessidade de determinações seriadas de anticorpos anti- transglutaminase tecidular e anti-endomísio naqueles casos sendo considerado por alguns autores custo efectivo. Pode ainda ser usado quando a suspeita clínica é forte, mas os anticorpos referidos ou a biópsia duo- denal, não são esclarecedo- ras. O estudo dos familiares dire- tos é importante uma vez que estudos populacionais sugerem que os doentes celíacos têm risco aumentado de mortalidade, de linfoma e cancro gastrintestinal. Assim, o reconhecimento dos famil- iares diretos como população de risco e a necessidade de rastreio nestes pode prevenir complicações e melhorar a qualidade de vida destes indivíduos. DRA. RUTE GONÇALVES Pediatra Hospital Dr. Nélio Mendonça, Funchal 1- Antunes H. First study on the prevalence of celiac disease in a Portuguese population. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2002;34:240. 2- Joana Raquel Henriques Oliveira, António Jorge Cabral, Elena Ferreira, Filipa Capelinha, Hélder Spínola e Rute Gonçalves. Celiac disease in children from Madeira Island and its prevalence in first degree relatives. Arq Gastroenterol. abr./jun. 2014. v. 51 no. 2.
  • 3. 3 Edição 1, Nº 11 GLUTEN EM PRODUTOS FAR- MACÊUTICOS A doença celíaca é definida como uma reação in- flamatória auto-imune da mucosa intestinal, induzida pela ingestão de glúten. A quantidade desta proteína necessária para desencadear uma resposta imunológica é pequena e variável de doente para doente, sendo a evicção completa de glúten da dieta o único tratamento comprovadamente eficaz. A legislação em vigor para produtos alimentares esta- belece a obrigatoriedade de ser feita referência no rótulo à presença de cereais que contêm glúten. Subsistem, no entanto, algumas dúvidas relativamente à segurança na utilização de produtos far- macêuticos por portadores de doença celíaca. Com efeito, produtos consid- erados fontes potenciais de glúten são utilizados pela indústria farmacêutica na produção de fármacos, so- bretudo como excipientes. Define-se excipiente como uma substância que se adi- ciona a um medicamento de modo a conferir a forma ou eficiência farmacológica ne- cessária, mas que não desem- penha uma acção medica- mentosa directa. Os excipi- entes são utilizados para as mais diversas funções nomeadamente conservantes, corantes, antioxidantes, cor- retores de acidez, entre outras. Por não apresentarem propriedades curativas ou preventivas de doenças, os excipientes são assumidos como inativos e generica- mente considerados inofen- sivos. No entanto, e em par- ticular para portadores de doença celíaca, os excipi- entes podem não ser comple- tamente inertes e apresentar riscos potenciais. A principal substância utili- zada como excipiente e que pode actuar como fonte de glúten é o amido. O amido utilizado na preparação de fármacos provém de diversas fontes vegetais nomeada- mente milho, arroz, batata e trigo. Apenas este último rep- resenta uma potencial fonte de glúten. O amido, inde- pendentemente da fonte, é utilizado pela indústria far- macêutica como aglutinante e diluente em formulações sóli- das orais (comprimidos e cáp- sulas), ou seja, é adicionado ao princípio activo do medicamento para permitir a moldagem da forma far- macêutica. Paralelamente, pode ser utilizado como agente desagregante, pro- movendo a absorção de água pelo comprimido, a sua desagregação no estômago ou intestino e facilitando a absorção da substância ativa. O amido de trigo é produzido a partir de farinha do mesmo cereal que é submetida a um processo de remoção de pro- teínas, incluindo o glúten, pelo que apresenta apenas quanti- dades vestigiais do mesmo. Dependendo da qualidade da matéria-prima utilizada, o amido de trigo pode conter maior ou menor quantidade de glúten. De um modo geral, apenas uma reduzida fração de produtos farmacêuticos utilizam esta substância como excipiente, tendo sido generi- camente substituído por amido de outra fonte. Na preparação de produtos farmacêuticos são igualmente utilizados como excipientes derivados do amido de trigo, nomeadamente dextrinas, dextratos, amido modificado ou amido pré-gelatinizado. Estes derivados são consider- ados seguros para portadores de doença celíaca por con- terem quantidades apenas muito vestigiais desta pro- teína. A maltodextrina, por exemplo, é utilizada como aglutinante, desagregante e desumidificante. Por ser alta- mente processada e purifi- cada, está comprovado que a percentagem de glúten pre- sente é tão baixa, ou ausente, que não é detetável analitica- mente, sendo portanto consid- erada isenta de glúten. Também os álcoois de origem vegetal utilizados na indústria farmacêutica, como o manitol e o xilitol, são considerados seguros na doença celíaca, mesmo quando produzidos a partir de cereais como trigo ou cevada. Também neste caso, o processo de refinação do álcool durante a sua pro- dução elimina o glúten pre- sente nos cereais. Numa pesquisa realizada no Reino Unido, verificou-se que apenas 20 produtos dis- poníveis no mercado utilizam amido de trigo, não existindo dados disponíveis sobre a sua utilização em Portugal. Apesar disso, a legislação em vigor referente a produtos farmacêuticos determina que no Resumo de Características do Medicamento (RCM) e na bula incluída na embalagem externa seja feita referência à presença deste componente no fármaco, independente- mente da quantidade utili- zada. Apesar desta recomen- dação, mesmo em produtos que utilizam amido de trigo como excipiente, a quanti- dade de glúten presente é considerada vestigial sendo aqueles considerados como seguros para portadores de doença celíaca. Outros estudos sobre a pre- sença de glúten em produtos farmacêuticos foram divul- gados a partir da década de 90, com resultados muito díspares. Um estudo efec- tuado nos EUA referente à presença de gliadina - a fracção proteica do glúten proveniente do trigo, prejudi- cial aos portadores de doença celíaca – em produtos farmacêuticos, determinou a presença desta substância em 71,2% dos produtos analisa- dos. Por outro lado, uma análise realizada no Brasil, detectou a presença de gli- adina em apenas 1,3% dos 78 produtos investigados. Está actualmente em fase de discussão pública, uma pro- posta de regulamentação da Agência Europeia do Medica- mento que pretende esta- belecer a obrigatoriedade em classificar os medicamen- tos de acordo com a quanti- dade de glúten presente. Este projeto, que aguarda ainda aprovação, determina que os produtos farmacêuticos que utilizam amido de trigo como excipiente sejam classificados consoante a quantidade de glúten presente no referido composto, à semelhança do que já acontece com os ali- mentos. Assim, se o amido de trigo utilizado tiver até 20 ppm de glúten poderá ser considerado como “isento de glúten”, enquanto se o mesmo apresentar uma quantidade de glúten entre 20 e 100 ppm deve ser considerado como contendo “quantidades muito baixas de glúten”. De um modo geral, considera -se que, mesmo em fármacos que utilizam potenciais fontes de glúten como excipiente, a quantidade presente será tão reduzida que os mesmos são seguros na doença celíaca. No entanto, dado que a evicção total de glúten da dieta é a única forma eficaz de tratar esta doença, a utili- zação de excipiente que contêm esta proteína na for- mulação de medicamentos pode condicionar o pleno cumprimento de uma dieta isenta de glúten. Por outro lado, a quantidade minima (continua na página seguinte) capaz de induzir uma re- sposta imunitária varia de INFO & DICAS
  • 4. 4 substituídos, e oferecemos tudo o que tinha glúten, pois eu e o meu marido decidimos que iríamos sempre fazer as refeições iguais para os três. A primeira ida ao super- mercado foi uma aventura demorada, pois demorávamos para ler tanto rótulo. Mas com o tempo foi mais fácil fazer o trabalho de pesquisa em casa e passar a ir ao super- mercado com a lista já feita. Neste momento, cozinhamos em casa com grande naturali- dade e os que lá vão não notam qualquer diferença. O meu filho teve uma adap- tação fantástica à dieta sem glúten e hoje em dia, com apenas seis anos, tem o cui- dado de perguntar a quem lhe oferece alguma coisa “Isso tem glúten?”. Percebe que não pode comer e aceitou com grande naturalidade. Acho que isto é muito impor- tante, nós - pais de crianças celíacas - lidarmos com natu- ralidade com a doença e com Sara Gonçalves, mãe de celíaco, fala-nos de como gere o seu dia-a-dia. O di- agnóstico do meu filho, então com cinco anos, surgiu em Março deste ano entrando na Urgência com queixa de dores abdominais severas. Tinha invaginações intestinais recorrentes que se dissi- pavam sem se perceber a razão. O excelente trabalho desenvolvido em conjunto entre a Cirurgia Pediátrica e da Pediatria, na pessoa da Dra. Rute Gonçalves, levaram a que o diagnóstico fosse rápido – Doença Celíaca. Tivemos um misto de sensa- ções: felicidade e alívio por não se confirmarem os piores diagnósticos mas também apreensão com esta doença que desconhecíamos. Primeira reação: fazer muitas perguntas à pediatra e ler muito para me inteirar dos conceitos, ainda confusos. Com a vinda para casa, houve uma grande limpeza na cozinha, com utensílios os constrangimentos da mesma, isto é, sem dramas, sem “Coitadinho!!! Não pode comer!!!”. Com certeza que não pode comer algumas coisas, mas, em compensação, há tanta coisa que pode comer. Na escola, falámos com a direção e com a empresa de catering que, felizmente, es- tava perfeitamente pre- parada para confecionar refeições sem glúten, pois tal já acontecia noutras escolas. Foram incansáveis, respon- dendo a todas as minhas questões. Confesso que a vida social foi um pouco beliscada, mas começamos gradualmente a recuperar. Primeiro, apenas restaurantes em que os donos eram nossos amigos e que tínhamos a certeza que cum- pririam os nossos pedidos, por vezes, longos, pois a dieta inicial (primeiros seis meses) também foi isenta de lactose. Depois, fomos variando um ou Newsletter outro restaurante em que já eramos clientes conhecidos. Relativamente às festas de aniversário dos amiguinhos, ainda acompanho o meu filho. Indico o que pode e o que não pode comer e ele cumpre pois não quer arriscar. Relativamente à compra de produtos isentos de glúten, ainda que a variedade não seja a mesma do continente, temos um sortido bastante interessante. Claro que nas idas ao continente, encho sem- pre a mala de algumas iguarias sem glúten que não existem cá. Mas sempre va- mos tendo as marcas general- istas que também têm lançado cada vez mais referências sem glúten. O que posso garantir a quem ler estas minhas palavras é que, primeiro ESTRANHAMOS mas depois ENTRANHAMOS, pelo que o meu filho tem uma vida absolutamente normal e saudável como todas as outras crianças da sua idade! TESTEMUNHO doente para doente e nal- guns casos pode ser de ap- enas 10 mg diários, pelo que os portadores de doença celíaca deverão estar corre- tamente informados sobre a composição de produtos far- macêuticos que utilizam de forma continuada. Importa ainda salientar que os medicamentos genéricos apesar de terem uma eficácia e biodisponibilidade idêntica ao medicamento de marca equivalente no que se refere ao principio ativo de um fármaco, não são obri- gados a utilizar na sua pro- dução os mesmos excipientes que o medicamento original. Por esta razão, o facto de um medicamento de marca ser considerado isento de glúten não determina automatica- mente que o equivalente genérico também o seja. Recomenda-se assim que por- tadores de doença celíaca procurem informação actuali- zada e detalhada sobre a composição de todos os pro- dutos farmacêuticos que utili- zam. As três formas mais rápidas e seguras de conseguir essa informação são: 1 – Pesquisa do RCM do medicamento na base de dados INFOMED, disponível para consulta pública no sítio da Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (INFARMED) em www.infarmed.pt/infomed/ inicio.php – o ponto 6 “Informações Farmacêuticas” de cada RCM aprovado em Portugal inclui obrigatoria- mente uma lista dos excipi- entes utilizados; 2 – Questionar directamente o farmacêutico na altura da dispensa do medicamento – a farmácia comunitária tem acesso informático a informa- ção segura sobre os medica- mentos e consultável de forma rápida; 3 – Contactar directamente o laboratório farmacêutico responsável pela produção do medicamento, que deverá ter informação detalhada sobre os produtos utilizados no seu fabrico e as suas ori- gens. Estas informações são válidas para a medicação regulada pelo INFARMED. Suplementos vitamínicos e outros poderão não ser regulados por esta entidade, logo a consulta do rótulo ou, em caso de dúvida, impõe-se o pedido de es- clarecimento ao fabricante. Discuta sempre com o seu médico, se a sua medicação contiver excipientes à base de trigo, se existem alternati- vas terapêuticas igualmente eficazes. Mais vale prevenir que remediar. Celíaco infor- mado é celíaco saudável! DR. RUI NETO FERNANDES Farmacêutico. Médico do ano comum Serviço de medicina, CHLO INFO & DICAS (cont.)
  • 5. 5 NUTRIÇÃO BIOMASSA DA BANANA VERDE E BATATA DOCE A banana ainda verde é con- siderada um alimento fun- cional. Quando cozida apre- senta alto conteúdo de amido resistente presente na polpa. Ela favorece a colonização da flora intestinal saudável e melhora a absorção de nutri- entes como, por exemplo, o cálcio. O amido resistente é fermen- tado seletivamente no colón, possui efeito bifidogénico, (contribui para o crescimento intestinal das bifidobactérias), e produz AGCC (ácidos gor- dos de cadeia curta), acetato, propionato, butirato, promove a redução de substâncias tóxi- cas, diminui o risco de doen- ças inflamatórias intestinais e possui efeito anti carcinogé- nico. O amido resistente possui ação no organismo semel- hante ao da fibra alimentar. Não é digerido e absorvido no intestino delgado sendo então fermentado no intestino grosso. Serve assim como fonte de energia para a pro- dução das bactérias benéfi- cas do nosso intestino, aju- dando a manter a integri- dade da mucosa intestinal responsável pela absorção adequada dos nutrientes e pela barreira à entrada de substâncias nocivas. Desta forma, o consumo de banana verde auxilia a um trânsito intestinal adequado, além de prevenir o desen- volvimento de doenças do intestino. A banana verde exerce outros efeitos benéficos ao organismo. Ela é considerada um alimento de baixo índice glicémico. Sua digestão e absorção são mais lentas e assim a quantidade de glicose libertada no sangue ocorre mais lentamente, mantendo os níveis desta sob controlo e reduzindo a necessidade de libertação de insulina para a entrada daquela na célula. Contribuiu então para a pre- venção do desenvolvimento de diabetes e acumulação de gordura corporal ao aumen- tar a saciedade promovida pelo amido resistente. Na forma cozida a banana verde é apropriada ao pre- paro de subprodutos como a biomassa e a farinha de ba- nana verde. Estas são utili- zadas para a confeção de bolos, biscoitos e outras mas- sas, substituindo a farinha de trigo. Podemos ainda adi- cionar a biomassa da banana verde em sucos de frutas e vitaminas. Quanto à batata-doce esta é uma fonte de hidratos de car- bono complexos e tem tam- bém baixo índice glicémico, com isso, ajuda a controlar a diabetes e é uma ótima fonte de energia, tanto para treino desportivo como para controlo de peso. Ela é digerida lenta- mente, principalmente se for consumida junto com sua casca. Essa propriedade con- fere saciedade e, como a sua digestão liberta glicose gradualmente, leva a que, por sua vez, a libertação de insulina seja também mais lenta. Evita assim a acumula- ção de gorduras. Possui alto teor de fibras, logo ajuda a controlar o colesterol e tam- bém na manutenção do sis- tema digestivo. É fonte de antioxidantes pois fornece vitaminas A, C e E. Banana e batata-doce ótimos recursos “Madeirenses” para o celíaco. Disfrute do regular funcionamento do sistema di- gestivo usando-os nas suas receitas. NOADIA LOBÃO BIOMASSA DE BANANA VERDE Ingredientes: Cerca de meia panela de água (a quantidade suficiente para cobrir as bananas) 12 bananas verdes imediata- mente após colheita Preparação: Lave as bananas sem tirar o cabo da fruta. Encha a panela de pressão com metade de água e leve ao lume. Quando a água estiver a ferver, colo- que as bananas e tape a panela. Coza durante 10 minutos e deixe a pressão sair naturalmente. Depois disso, escorra a água. Tenha cui- dado ao abrir as bananas para não se queimar. Se preferir, utilize um garfo. Coloque a polpa da fruta sem casca no liquidificador (pode ser necessário um pouco de água quente) e triture. De seguida coloque a mistura em formas de gelo e a outra metade num frasco de vidro (guarde até sete dias). Descongelação: No micro-ondas ou à tem- peratura ambiente. De se- guida, aqueça junto com a água do descongelamento e uma xícara (café) de água. Mexa a biomassa sem parar até que se desmanche total- mente. Se quiser apurar o ponto, deixe-a ferver mais, mexendo sem parar. Só nes- sas condições poderá ser le- vada ao liquidificador com 1 xícara (café) de água fer- vente, ou então ao proces- samento sem a água, até virar uma pasta homogênea. Modo de utilização: batida em vitaminas, sumos, caldo de feijão, sopa, patês, massa de pão e bolo, tortas e biscoitos. RECEITAS DO MÊS MASSALADAS DE BATATA- DOCE Ingredientes: 1 quilo de batata doce 1 quilo de farinha (Doves Farm self raising) Fermento de padeiro sem glúten (quantidade para 1 quilo de farinha) 1 litro de leite 6 ovos Sal q.b. Açúcar e canela, mel de cana ou simples q.b. e opcional Preparação: Coze-se a batata-doce com sal. Reserva-se a água da cozedura e rala-se a batata. Num alguidar, deitamos a farinha, a batata cozida, os ovos, o leite e o fermento (desfeito em pouca água da batata). Amassamos tudo muito bem. Tapamos o algui- dar com papel de alumínio e colocamos uma manta por cima. Fica reservado durante 45 minutos. Colocamos uma panela com óleo bem quente para a fritura. Com uma colher de sopa retiramos massa do al- guidar e com ajuda de outra colher deitamos na panela para fritar. Colocam-se as malassadas em cima de papel de cozinha para que a gor- dura excedente seja absor- vida pelo papel. Pode en- costar as malassadas umas às outras, ao alto. Assim ficam sequinhas. No caso de ser principiante a fazer esta receita, convém fritar apenas uma malassada, verificar se o seu interior está cozido e depois monitorizar a fritura a partir daí, conferindo mais ou menos tempo a cada face. Isto evita que o interior da malassada fique cru e que o produto final não seja o desejado. Podem servir-se polvilhadas de açúcar e ca- nela, mel de cana ou simples. Bom apetite!