SlideShare uma empresa Scribd logo
Pablo Neruda
Poesia Erótica
Os teus pés

Quando não posso contemplar teu rosto,
contemplo os teus pés.

Teus pés de osso arqueado,
teus pequenos pés duros.

Eu sei que te sustentam
e que teu doce peso
sobre eles se ergue.

Tua cintura e teus seios,
a duplicada purpura
dos teus mamilos,
a caixa dos teus olhos
que há pouo levantaram voo,
a larga boca de fruta,
tua rubra cabeleira,
pequena torre minha.

Mas se amo os teus pés
é só porque andaram
sobre a terra e sobre
o vento e sobre a água,
até me encontrarem.
O insecto

Das tuas ancas aos teus pés
quero fazer uma longa viagem.

Sou mais pequeno que um insecto.

Percorro estas colinas,
são da cor da aveia,
têm trilhos estreitos
que só eu conheço,
centimetros queimados,
pálidas perspectivas.

Há aqui um monte.
Nunca dele sairei.
Oh que musgo gigante!
E uma cratera, uma rosa
de fogo humedecido!

Pelas tuas pernas desço
tecendo uma espiral
ou adormecendo na viagem
e alcanço os teus joelhos
duma dureza redonda
como os ásperos cumes
dum claro continente.

Para teus pés resvalo
para as oito aberturas
dos teus dedos agudos,
lentos, peninsulares,
e deles para o vazio
do lençol branco
caio, procurando cego
e faminto teu contorno
de vaso escaldante!




Cuerpo de mujer...

Cuerpo de mujer, blancas colinas, muslos blancos,
te pareces al mundo en tu actitud de entrega.
Mi cuerpo de labriego salvaje te socava
y hace saltar el hijo del fondo de la tierra.

Fui solo como un túnel. De mí huían los pájaros
y en mí la noche entraba su invasión poderosa.
Para sobrevivirme te forjé como un arma,
como una flecha en mi arco, como una piedra en mi honda.

Pero cae la hora de la venganza, y te amo.
Cuerpo de piel, de musgo, de leche ávida y firme.
¡Ah los vasos del pecho! ¡Ah los ojos de ausencia!
¡Ah las rosas del pubis! ¡Ah tu voz lenta y triste!

Cuerpo de mujer mía, persistiré en tu gracia.
Mi sed, mi ansia si límite, mi camino indeciso!
Oscuros cauces donde la sed eterna sigue,
y la fatiga sigue, y el dolor infinito.

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a Neruda pablo poesía_erótica

Castro alves espumas flutuantes
Castro alves   espumas flutuantesCastro alves   espumas flutuantes
Castro alves espumas flutuantes
EMSNEWS
 
Poemas
PoemasPoemas
Poemas
xyagox
 
Vinte poemas de amor e uma canção desesperada, Pablo Neruda
Vinte poemas de amor e uma canção desesperada, Pablo NerudaVinte poemas de amor e uma canção desesperada, Pablo Neruda
Vinte poemas de amor e uma canção desesperada, Pablo Neruda
Zanah
 
ApresentaçãO Uniube
ApresentaçãO UniubeApresentaçãO Uniube
ApresentaçãO Uniube
avepalavra
 
Pablo Neruda Vinte poemas de amor e uma cancao desesperada
Pablo Neruda Vinte poemas de amor e uma cancao desesperadaPablo Neruda Vinte poemas de amor e uma cancao desesperada
Pablo Neruda Vinte poemas de amor e uma cancao desesperada
Carlos Elson Cunha
 
Poetas parnasianos e simbolistas
Poetas parnasianos e simbolistasPoetas parnasianos e simbolistas
Poetas parnasianos e simbolistas
José Alexandre Dos Santos
 
Camilo pessanha poemas
Camilo pessanha poemasCamilo pessanha poemas
Camilo pessanha poemas
agnes2012
 
Alma Inquieta
Alma InquietaAlma Inquieta
Alma Inquieta
elibs_brasil
 
L'odore del mio sempre
L'odore del mio sempreL'odore del mio sempre
L'odore del mio sempre
UNED
 
Ultimos sonetos
Ultimos sonetosUltimos sonetos
Ultimos sonetos
LRede
 
olavo bilac - via láctea
 olavo bilac - via láctea olavo bilac - via láctea
olavo bilac - via láctea
José Ermida
 
2ª Geração do Romantismo
2ª Geração do Romantismo2ª Geração do Romantismo
2ª Geração do Romantismo
Gabriel Luck
 
A Segunda GeraçãO Do Romantismo
A Segunda GeraçãO Do RomantismoA Segunda GeraçãO Do Romantismo
A Segunda GeraçãO Do Romantismo
Gabriel Luck
 
Poemas da juventude de machado
Poemas da juventude de machadoPoemas da juventude de machado
Poemas da juventude de machado
Cláudio de Oliveira Martins
 
O romantismo
O romantismoO romantismo
O romantismo
Octávio Da Matta
 
A biblioteca saiu da escola 1
A biblioteca saiu da escola 1A biblioteca saiu da escola 1
A biblioteca saiu da escola 1
PeroVaz
 
Natércia Freire
Natércia FreireNatércia Freire
Natércia Freire
davidaaduarte
 
Aprofundamento aula 5_interpretação_textos_poéticos
Aprofundamento aula 5_interpretação_textos_poéticosAprofundamento aula 5_interpretação_textos_poéticos
Aprofundamento aula 5_interpretação_textos_poéticos
Cooperativa do Saber
 
Amores Possíveis
Amores PossíveisAmores Possíveis
Amores Possíveis
Poeta Jardim .
 
Poesia romântica brasileira
Poesia romântica brasileiraPoesia romântica brasileira
Poesia romântica brasileira
Seduc/AM
 

Semelhante a Neruda pablo poesía_erótica (20)

Castro alves espumas flutuantes
Castro alves   espumas flutuantesCastro alves   espumas flutuantes
Castro alves espumas flutuantes
 
Poemas
PoemasPoemas
Poemas
 
Vinte poemas de amor e uma canção desesperada, Pablo Neruda
Vinte poemas de amor e uma canção desesperada, Pablo NerudaVinte poemas de amor e uma canção desesperada, Pablo Neruda
Vinte poemas de amor e uma canção desesperada, Pablo Neruda
 
ApresentaçãO Uniube
ApresentaçãO UniubeApresentaçãO Uniube
ApresentaçãO Uniube
 
Pablo Neruda Vinte poemas de amor e uma cancao desesperada
Pablo Neruda Vinte poemas de amor e uma cancao desesperadaPablo Neruda Vinte poemas de amor e uma cancao desesperada
Pablo Neruda Vinte poemas de amor e uma cancao desesperada
 
Poetas parnasianos e simbolistas
Poetas parnasianos e simbolistasPoetas parnasianos e simbolistas
Poetas parnasianos e simbolistas
 
Camilo pessanha poemas
Camilo pessanha poemasCamilo pessanha poemas
Camilo pessanha poemas
 
Alma Inquieta
Alma InquietaAlma Inquieta
Alma Inquieta
 
L'odore del mio sempre
L'odore del mio sempreL'odore del mio sempre
L'odore del mio sempre
 
Ultimos sonetos
Ultimos sonetosUltimos sonetos
Ultimos sonetos
 
olavo bilac - via láctea
 olavo bilac - via láctea olavo bilac - via láctea
olavo bilac - via láctea
 
2ª Geração do Romantismo
2ª Geração do Romantismo2ª Geração do Romantismo
2ª Geração do Romantismo
 
A Segunda GeraçãO Do Romantismo
A Segunda GeraçãO Do RomantismoA Segunda GeraçãO Do Romantismo
A Segunda GeraçãO Do Romantismo
 
Poemas da juventude de machado
Poemas da juventude de machadoPoemas da juventude de machado
Poemas da juventude de machado
 
O romantismo
O romantismoO romantismo
O romantismo
 
A biblioteca saiu da escola 1
A biblioteca saiu da escola 1A biblioteca saiu da escola 1
A biblioteca saiu da escola 1
 
Natércia Freire
Natércia FreireNatércia Freire
Natércia Freire
 
Aprofundamento aula 5_interpretação_textos_poéticos
Aprofundamento aula 5_interpretação_textos_poéticosAprofundamento aula 5_interpretação_textos_poéticos
Aprofundamento aula 5_interpretação_textos_poéticos
 
Amores Possíveis
Amores PossíveisAmores Possíveis
Amores Possíveis
 
Poesia romântica brasileira
Poesia romântica brasileiraPoesia romântica brasileira
Poesia romântica brasileira
 

Último

PRODUÇÃO E CONSUMO DE ENERGIA DA PRÉ-HISTÓRIA À ERA CONTEMPORÂNEA E SUA EVOLU...
PRODUÇÃO E CONSUMO DE ENERGIA DA PRÉ-HISTÓRIA À ERA CONTEMPORÂNEA E SUA EVOLU...PRODUÇÃO E CONSUMO DE ENERGIA DA PRÉ-HISTÓRIA À ERA CONTEMPORÂNEA E SUA EVOLU...
PRODUÇÃO E CONSUMO DE ENERGIA DA PRÉ-HISTÓRIA À ERA CONTEMPORÂNEA E SUA EVOLU...
Faga1939
 
Logica de Progamacao - Aula (1) (1).pptx
Logica de Progamacao - Aula (1) (1).pptxLogica de Progamacao - Aula (1) (1).pptx
Logica de Progamacao - Aula (1) (1).pptx
Momento da Informática
 
Segurança Digital Pessoal e Boas Práticas
Segurança Digital Pessoal e Boas PráticasSegurança Digital Pessoal e Boas Práticas
Segurança Digital Pessoal e Boas Práticas
Danilo Pinotti
 
História da Rádio- 1936-1970 século XIX .2.pptx
História da Rádio- 1936-1970 século XIX   .2.pptxHistória da Rádio- 1936-1970 século XIX   .2.pptx
História da Rádio- 1936-1970 século XIX .2.pptx
TomasSousa7
 
Escola Virtual - Fundação Bradesco - ITIL - Gabriel Faustino.pdf
Escola Virtual - Fundação Bradesco - ITIL - Gabriel Faustino.pdfEscola Virtual - Fundação Bradesco - ITIL - Gabriel Faustino.pdf
Escola Virtual - Fundação Bradesco - ITIL - Gabriel Faustino.pdf
Gabriel de Mattos Faustino
 
Manual-de-Credenciamento ANATER 2023.pdf
Manual-de-Credenciamento ANATER 2023.pdfManual-de-Credenciamento ANATER 2023.pdf
Manual-de-Credenciamento ANATER 2023.pdf
WELITONNOGUEIRA3
 
TOO - TÉCNICAS DE ORIENTAÇÃO A OBJETOS aula 1.pdf
TOO - TÉCNICAS DE ORIENTAÇÃO A OBJETOS aula 1.pdfTOO - TÉCNICAS DE ORIENTAÇÃO A OBJETOS aula 1.pdf
TOO - TÉCNICAS DE ORIENTAÇÃO A OBJETOS aula 1.pdf
Momento da Informática
 

Último (7)

PRODUÇÃO E CONSUMO DE ENERGIA DA PRÉ-HISTÓRIA À ERA CONTEMPORÂNEA E SUA EVOLU...
PRODUÇÃO E CONSUMO DE ENERGIA DA PRÉ-HISTÓRIA À ERA CONTEMPORÂNEA E SUA EVOLU...PRODUÇÃO E CONSUMO DE ENERGIA DA PRÉ-HISTÓRIA À ERA CONTEMPORÂNEA E SUA EVOLU...
PRODUÇÃO E CONSUMO DE ENERGIA DA PRÉ-HISTÓRIA À ERA CONTEMPORÂNEA E SUA EVOLU...
 
Logica de Progamacao - Aula (1) (1).pptx
Logica de Progamacao - Aula (1) (1).pptxLogica de Progamacao - Aula (1) (1).pptx
Logica de Progamacao - Aula (1) (1).pptx
 
Segurança Digital Pessoal e Boas Práticas
Segurança Digital Pessoal e Boas PráticasSegurança Digital Pessoal e Boas Práticas
Segurança Digital Pessoal e Boas Práticas
 
História da Rádio- 1936-1970 século XIX .2.pptx
História da Rádio- 1936-1970 século XIX   .2.pptxHistória da Rádio- 1936-1970 século XIX   .2.pptx
História da Rádio- 1936-1970 século XIX .2.pptx
 
Escola Virtual - Fundação Bradesco - ITIL - Gabriel Faustino.pdf
Escola Virtual - Fundação Bradesco - ITIL - Gabriel Faustino.pdfEscola Virtual - Fundação Bradesco - ITIL - Gabriel Faustino.pdf
Escola Virtual - Fundação Bradesco - ITIL - Gabriel Faustino.pdf
 
Manual-de-Credenciamento ANATER 2023.pdf
Manual-de-Credenciamento ANATER 2023.pdfManual-de-Credenciamento ANATER 2023.pdf
Manual-de-Credenciamento ANATER 2023.pdf
 
TOO - TÉCNICAS DE ORIENTAÇÃO A OBJETOS aula 1.pdf
TOO - TÉCNICAS DE ORIENTAÇÃO A OBJETOS aula 1.pdfTOO - TÉCNICAS DE ORIENTAÇÃO A OBJETOS aula 1.pdf
TOO - TÉCNICAS DE ORIENTAÇÃO A OBJETOS aula 1.pdf
 

Neruda pablo poesía_erótica

  • 1. Pablo Neruda Poesia Erótica Os teus pés Quando não posso contemplar teu rosto, contemplo os teus pés. Teus pés de osso arqueado, teus pequenos pés duros. Eu sei que te sustentam e que teu doce peso sobre eles se ergue. Tua cintura e teus seios, a duplicada purpura dos teus mamilos, a caixa dos teus olhos que há pouo levantaram voo, a larga boca de fruta, tua rubra cabeleira, pequena torre minha. Mas se amo os teus pés é só porque andaram sobre a terra e sobre o vento e sobre a água, até me encontrarem.
  • 2. O insecto Das tuas ancas aos teus pés quero fazer uma longa viagem. Sou mais pequeno que um insecto. Percorro estas colinas, são da cor da aveia, têm trilhos estreitos que só eu conheço, centimetros queimados, pálidas perspectivas. Há aqui um monte. Nunca dele sairei. Oh que musgo gigante! E uma cratera, uma rosa de fogo humedecido! Pelas tuas pernas desço tecendo uma espiral ou adormecendo na viagem e alcanço os teus joelhos duma dureza redonda como os ásperos cumes dum claro continente. Para teus pés resvalo para as oito aberturas dos teus dedos agudos, lentos, peninsulares, e deles para o vazio do lençol branco caio, procurando cego
  • 3. e faminto teu contorno de vaso escaldante! Cuerpo de mujer... Cuerpo de mujer, blancas colinas, muslos blancos, te pareces al mundo en tu actitud de entrega. Mi cuerpo de labriego salvaje te socava y hace saltar el hijo del fondo de la tierra. Fui solo como un túnel. De mí huían los pájaros y en mí la noche entraba su invasión poderosa. Para sobrevivirme te forjé como un arma, como una flecha en mi arco, como una piedra en mi honda. Pero cae la hora de la venganza, y te amo. Cuerpo de piel, de musgo, de leche ávida y firme. ¡Ah los vasos del pecho! ¡Ah los ojos de ausencia! ¡Ah las rosas del pubis! ¡Ah tu voz lenta y triste! Cuerpo de mujer mía, persistiré en tu gracia. Mi sed, mi ansia si límite, mi camino indeciso! Oscuros cauces donde la sed eterna sigue, y la fatiga sigue, y el dolor infinito.