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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

                   Instituto de Geociências

                  Departamento de Geografia

               Curso de Graduação em Turismo




               GABRIELA CARNEIRO REIS




 Negócios de Moda sob a perspectiva do Turismo de Negócios




                       Belo Horizonte

Bacharelado em Turismo da Universidade Federal de Minas Gerais

                            2011
Gabriela Carneiro Reis




 Negócios de Moda sob a perspectiva do Turismo de Negócios




                       Belo Horizonte

Bacharelado em Turismo da Universidade Federal de Minas Gerais

                      Dezembro de 2011




                                                                 2
Gabriela Carneiro Reis




 Negócios de Moda sob a perspectiva do Turismo de Negócios




                                        Monografia apresentada ao Curso
                                        de Turismo da Universidade
                                        Federal de Minas Gerais (UFMG)
                                        como requisito parcial para a
                                        obtenção do título de turismólogo.
                                        Área de concentração: Turismo
                                        Orientador: Prof. Allaoua Saadi
                                        Universidade Federal de Minas
                                        Gerais (UFMG)




                       Belo Horizonte

Bacharelado em Turismo da Universidade Federal de Minas Gerais

                      Dezembro de 2011
                                                                        3
BANCA EXAMINADORA




                           Allaoua Saadi




                    Márcia Maria Lousada




                                       4
AGRADECIMENTOS

 Agradeço em primeiro lugar a Deus pela oportunidade de concluir o meu trabalho e
   por atender às minhas orações me dando força, esclarecimentos e concentração.

  À minha família, vó, vô, Edmar, tios, tias e primos, pela compreensão por eu não
participar dos momentos de confraternização familiar. Em especial, à minha mãe pelos
incentivos, mesmo que em excesso, e por toda a paciência do mundo por me aturar nos
momentos de estresse. À minha irmã, por conseguir ser privada por alguns dias do uso
do computador e por tornar o meu texto mais claro, coeso e menos repetitivo. Ao meu
 tio Márcio por dispor de horas do seu tempo me ajudando a encontrar os caminhos a
                                  serem seguidos.

Agradeço ao Leo por aceitar a minha ausência e o meu egoísmo durante esses meses e
                  à sua família pela paciência e carinho constantes.

  A todos os Consultores que responderam ao questionário e, em especial, a Dauro
  Andrade por sempre me atender. A Angela Sampaio por me receber e ao Wagner
  Vinício pela disponibilidade. As informações que vocês forneceram foram cruciais
                        para a concretização desse trabalho.

  À Patrícia Apê Las-Cazas pela oportunidade de assistir ao meu primeiro desfile de
                moda e à sua família pela ótima manhã de conversa.

Ao professor Allaoua Saadi pela confiança e pela “liberdade” oferecida com que pude
                              conduzir o meu trabalho.

    E aos meus amigos cujos encontros foram mais virtuais do que pessoais e por
entenderem isso! Aos novos amigos do curso de Design de Moda. Adorei conhecê-los!

E aos meus companheiros de monografia do turismo por compartilharem e tornarem os
           momentos de angústia mais engraçados e menos perturbadores!




                                                                                      5
“Considero mais corajoso aquele que supera seus próprios
desejos do que aquele que conquista seus inimigos, porque a
                    vitória mais dura é sobre nós mesmos.”

                                                Aristóteles




                                                         6
SUMÁRIO


1) INTRODUÇÃO..........................................................................................................9
1.1) Turismo, uma atividade de alcance..........................................................................9
1.2) O Turismo de Negócios..........................................................................................13
1.3) Os Negócios de Moda............................................................................................16
2) UM POUCO SOBRE MODA..................................................................................17
2.1) Antes da moda, o Vestuário...................................................................................17

2.2) A Moda...................................................................................................................22
2.2.1) A Moda e seus desdobramentos..........................................................................25
2.2.2) Termos que devem ser esclarecidos....................................................................31
2.3) A Moda em Belo Horizonte, passado e presente...................................................34
3) O TURISMO DE NEGÓCIOS COM FOCO NOS NEGÓCIOS DE MODA:
configuração, investimentos e negócios........................................................................41
3.1) A Indústria Têxtil no Brasil....................................................................................41
3.2) O contexto mineiro.................................................................................................43
3.2.1) Minas Trend Preview..........................................................................................50
4) METODOLOGIA....................................................................................................54
4.1) Esclarecimentos acerca dos caminhos da pesquisa.............................................54

4.1.2) Esclarecimentos acerca da análise dos dados obtidos através dos
questionários..................................................................................................................59
5) OS CONSULTORES E O PRADO.........................................................................60
5.1) Os Consultores em Negócios de Moda..................................................................60

5.1.2) O bairro Prado.....................................................................................................62
6) AS ORGANIZAÇÕES............................................................................................64
6.1) As organizações de BH.........................................................................................64
6.1.1) Dauro Andrade e Equipe – Consultores em Negócios de Moda.......................65
6.1.2) Associação dos Consultores em Negócio de Moda (ACNM)...........................67
6.1.3) Cooperativa de Trabalho dos Profissionais em Negócios de Moda do Estado de
Minas Gerais – Coopermoda.........................................................................................68
                                                                                                                               7
6.2) Uma rede que se forma..........................................................................................69
7) POR QUE E COMO O TURISMO DE NEGÓCIOS RELACIONADO À MODA
EM BELO HORIZONTE SE CONFIGURA?............................................................72
7.1) Análise dos questionários......................................................................................72
8) O TURISMO DE NEGÓCIOS DE MODA: reflexões e considerações.................82
8.1) O Turismo de Negócios de Moda..........................................................................82

8.1.2) Reflexões sobre o Turismo de Negócios de Moda.............................................83
8.1.3)    Considerações                 finais          sobre          o       Turismo             de        Negócios             de
Moda..............................................................................................................................85
9) BIBLIOGRAFIA......................................................................................................88
9.1) Sites Consultados...................................................................................................90

ANEXOS.......................................................................................................................92




                                                                                                                                  8
1)     INTRODUÇÃO

1.1)   Turismo, uma atividade de alcance

       O turismo é uma atividade que apresenta diferentes formas e meios de ser
realizada, além dos diversos desdobramentos que pode gerar. Nesse sentido, se renova
ou se re-adapta em função do contexto em que se insere, seja no âmbito local ou global,
sob aspectos econômicos, sociais, ambientais e culturais. Movimenta a economia,
pessoas e uma estrutura que envolve meios de transportes, serviços de alimentação,
hospedagens, atrativos, iniciativa pública e privada, dentre outros. É capaz de gerar
empregos, renda, oportunidades de educação, contato com diferentes culturas e com a
natureza. E pode provocar, também, impactos negativos. As motivações dos viajantes
determinam o destino escolhido, os serviços e os equipamentos turísticos a serem
utilizados, os custos e os possíveis gastos. Assim, o turismo oferece inúmeras
possibilidades de interpretações, de estudos, de práticas, e a possibilidade de associá-lo
a outras atividades que podem envolvê-lo diretamente.
       A partir do século XX, o turismo passa a ser reconhecido como uma próspera
atividade socioeconômica, capaz de movimentar diversos setores da economia e criar
novos mercados. Após a Segunda Guerra, apresenta expressivo crescimento num
contexto cada vez mais globalizado. Sob esse aspecto, no que se refere à globalização
na sociedade e as especificações do turismo, essa pode ser considerada como um
fenômeno de “convulsão mundial”, como um “feixe intricado de elementos que mantêm
relações dinâmicas entre si nas esferas política, social, econômica e cultural da
sociedade contemporânea” RODRIGUES (1999, apud Pimentel, 2005, p. 9).
                       Nesse contexto, as empresas surgem como centros de poder cujas influências
                       podem ir além daquelas exercidas pelo poder dos Estados-nação. Esses novos
                       centros de poder surgem devido a fatores como a descontinuidade territorial
                       expressa nas relações econômicas de tais empresas, bem como a evolução da
                       ciência, tecnologia e da informação – ingredientes chave na manutenção do
                       funcionamento da máquina global capitalista. (RODRIGUES, 1999 apud
                       PIMENTEL, 2005, p. 9).



       A globalização, desse modo, desencadeou tal “convulsão mundial” representada
pela pluralidade e complexidade das relações que se desencadearam até os dias atuais.
Os “novos centros de poder” surgiram, e ainda surgem, configurando e re-configurando
o panorama atual estabelecendo e criando novos elementos do “feixe”, ampliando e
                                                                                               9
‘complexificando’ as “relações dinâmicas”. Desde modo, Pimentel (2005), a partir das
contribuições de Rodrigues (1999), apresenta considerações relevantes a respeito da
atividade turística nesse contexto:
                              Tal fenômeno tem se desdobrado e servido de catalisador a uma pluralidade
                              de relações socioeconômicas e culturais nas sociedades contemporâneas,
                              dentre elas, o surgimento de novos produtos, de novas práticas socioculturais
                              econômicas, novas formas de produção e consumo, etc. Conseqüentemente
                              surgem novos profissionais habilitados a desempenharem a função de
                              desenvolverem tais produtos e serviços, como por exemplo, os turismólogos
                              desenvolvendo funções da atividade turística. (PIMENTEL, 2005, p. 10).



          A respeito da análise de Pimentel (2005) é possível refletir sobre o contexto em
que a atividade turística teve seu maior crescimento (após a Segunda Guerra). Deste
modo, o turismo pode ser entendido como prática econômica e social na sociedade
atual, sob circunstâncias em que a abrangência dos mercados levou às especificações da
atividade turística, dos serviços e equipamentos a ela relacionados. Igualmente, percebe-
se sua complexidade e abrangência. Ao evidenciá-las, é possível o melhor entendimento
das abordagens possíveis, isto é, pode-se explicitar algumas das atividades econômicas
e serviços que o turismo envolve, a fim de perceber sua amplitude.
          Para tanto, Beni (2001) analisa o turismo sob uma perspectiva sistêmica. Antes,
porém, cabe esclarecer que a abordagem sobre sistemas, neste momento do trabalho, é
empregada para demonstrar a complexidade do turismo, suas relações com outros
setores e atividades. Não será realizada nenhuma discussão a respeito dessa definição,
nem se pretende questionar o turismo concebido como um sistema. Deste modo, o autor
define sistema como:
                              (...) um conjunto de partes que interagem de modo a atingir um determinado
                              fim, de acordo com um plano ou princípio; ou conjunto de procedimentos,
                              doutrinas, idéias ou princípios, logicamente ordenados e coesos com intenção
                              de descrever, explicar ou dirigir o funcionamento de um todo. (BENI, 2001,
                              p. 23)



          Beni (2001), sobre esse assunto, apresenta a conceituação de sistemas na
perspectiva de Miller1 que o define como “(...) um conjunto de unidades com relações
entre si”, e, neste conjunto “(...) as unidades possuem propriedades comuns”, sendo que
“o estado de cada unidade é controlado, condicionado ou dependente do estado das
outras unidades”. Segundo as considerações de Miller, Beni (2001, p. 23) reflete que “o
1
    J.G. Miller, “Living systems: basic concepts”, Behavioral Science, 10, 1965.
                                                                                                       10
conjunto encontra-se organizado em virtude das inter-relações entre as unidades, e seu
grau de organização permite que assuma a função de um todo que é maior que a soma
de suas partes”.
       Assim, a partir da contribuição dos autores a respeito de sistemas, pode-se
pensar o turismo como um conjunto de partes que, ao se unirem, interagirem e
funcionarem em conjunto gera, dentre outras finalidades, a viagem, que será definida e
acontecerá conforme as motivações e interesses que movem o indivíduo. Entretanto,
para que a viagem ocorra, são necessários serviços e equipamentos que permitam o
deslocamento do indivíduo e sua permanência em outro local diferente de onde reside.
Para Beni (2001, p. 38) os serviços turísticos “são destinados à satisfação das
motivações, necessidades e preferências do turista”. Podem ser classificados da seguinte
forma, conforme o autor:
                         1 – receptivos (atividades hoteleiras e extra-hoteleiras);

                         2 – de alimentação;

                         3 – de transporte (da residência à destinação turística e no centro receptor);

                         4 – públicos (administração turística, postos de informações, etc.);

                         5 – de recreação e entretenimento na área receptora. (BENI, 2001, p. 38)



       Nesse sentido, os serviços de transportes estão associados a outros serviços e
envolvem infra-estrutura, políticas e incentivos para sua constante melhoria e
desenvolvimento. Os serviços de alimentação e de hotelaria possuem dinâmicas
próprias. Ou seja, cada estabelecimento possui seu sistema de funcionamento que pode
se relacionar a outros sistemas, como os transportes, por exemplo. Estes, por sua vez, se
relacionam aos serviços públicos que provêm subsídios para seu funcionamento. Logo,
podem existir partes, sistemas que possuem dinâmicas próprias, coexistem e se
relacionam de forma independente ou não, o que evidencia a complexidade das relações
inerentes às atividades turísticas.
       Sob esse enfoque, essa atividade utiliza equipamentos e serviços “turísticos”
que, por sua vez, necessitam de vários outros serviços e equipamentos, sendo que a
motivação da viagem irá interferir na escolha dos mesmos, assim como dos destinos.
Cabe ressaltar a importância dos transportes (que implicam em deslocamento) para o
turismo. Nesse sentido, Beni (2001) conceitua o Turismo da seguinte forma:

                                                                                                      11
Tenho conceituado Turismo como um elaborado e complexo processo de
                       decisão sobre o que visitar, onde, como e a que preço. Nesse processo
                       intervêm inúmeros fatores de realização pessoal e social, de natureza
                       motivacional, econômica, cultural, ecológica e científica que ditam a escolha
                       dos destinos, a permanência, os meios de transporte e o alojamento, bem
                       como o objetivo da viagem em si para a fruição tanto material como subjetiva
                       dos conteúdos de sonhos, desejos, de imaginação projetiva, de
                       enriquecimento existencial histórico-humanístico, profissional, e de expansão
                       de negócios. Esse consumo é feito por meio de roteiros interativos
                       espontâneos ou dirigidos, compreendendo a compra de bens e serviços da
                       oferta original e diferencial das atrações e dos equipamentos a ela agregados
                       em mercados globais com produtos de qualidade e competitivos. (BENI,
                       2001, p. 37)



       A definição proposta por Beni (2001) considera desde a motivação à forma
como a viagem será concebida, a “globalidade dos mercados” em relação aos produtos
ofertados, os serviços e equipamentos, além de considerar outras atividades associadas
ao turismo. Nesse sentido, destaca sua complexidade e amplitude no que diz respeito a
toda a estrutura utilizada, e à possibilidade de ser realizado por variadas motivações,
assim como de se associar a outros setores da economia. O autor também contempla os
negócios, uma das diversas motivações para que uma viagem aconteça, cujos objetivos
podem variar entre fechar um negócio, conquistar novos mercados, estabelecer
parcerias, dentre outros. Sob esse aspecto, o ato de se fazer negócios, ou realizar um
negócio, pode se relacionar com o turismo e configurar-se no “Turismo de Negócios”.
       Assim exposto e evidenciado o caráter dinâmico e abrangente do turismo, é
natural surgirem motivações específicas que impulsionam determinadas práticas e
atividades, como o Turismo de Negócios. No que concerne às motivações que levam à
“realização do Turismo de Negócios” no contexto de Belo Horizonte e do presente
trabalho, a moda mineira é responsável pela entrada e permanência de lojistas na cidade.
Dessa forma, o Turismo de Negócios será analisado com foco nos Negócio de Moda
recorrentes, os quais mobilizam os serviços e equipamentos turísticos a partir da entrada
e permanência de compradores lojistas de outras cidades, estados e países na cidade e
contribuem para a capital e para o estado, no que se refere à visibilidade e à
movimentação das economias da moda e do turismo.
       Para tanto, uma abordagem a respeito do Turismo de Negócios se faz relevante
para o balizamento dos temas aqui tratados. O objetivo desta revisão é esclarecer sobre
esse segmento do turismo, no sentido em que pode oferecer suporte para os assuntos
relacionados aos Negócios de Moda no contexto de Belo Horizonte.
                                                                                                12
1.2) O Turismo de Negócios

       Conforme Silva e Freitas (2003), o turismo baseado no deslocamento espaço
temporal surgiu e sempre esteve associado à necessidade de comércio com outros
povos. Dessa forma, conforme as duas primeiras autoras, os fenícios teriam sido os que
desenvolveram o turismo baseado no conceito moderno de viagem, já que a Fenícia era
uma região pobre para a agricultura, fazendo as pessoas partirem em busca de meios de
subsistência, através do comércio internacional com a China, Índia e a Pérsia, por volta
de 1000 anos (a.C). Sob tais fatos históricos, essas autoras consideram que o turismo de
negócios poderia ter antecedido o turismo de lazer.
       Segundo a contribuição das mesmas, observa-se nesses deslocamentos a busca
pela sobrevivência que, ao mesmo tempo, co-existe com um comércio internacional,
estruturado na medida em que gera movimentação de pessoas e mercadorias articuladas
por diversos interesses, como a sobrevivência e o acesso a artigos procedentes, apenas
de determinados locais, além das fronteiras nacionais. Nesse sentido, as motivações
comerciais sempre foram razões de deslocamentos, mesmo que, em alguns momentos
históricos, não tenham sido o principal objetivo de viagem.
       Parte-se, então, do pressuposto de que os deslocamentos eram condicionados
pelos contextos e conjunturas locais. No percurso do tempo o que mudou, ou pelo
menos foi evidenciado ou ampliado, foram as motivações pelas quais as viagens
ocorrem. O desenvolvimento dos transportes, sob esse contexto, modifica a intensidade
e a agilidade desses deslocamentos, da mesma forma que o incremento da tecnologia e
a expansão dos mercados os influenciam.
       Sobre a história da evolução do turismo segundo Ruschmann (2001), a OMT
(Organização Mundial de Turismo) considera que a evolução do turismo é condicionada
por forças de mercado como demanda, oferta, distribuição e variáveis exógenas. Tais
forças podem interferir de uma maneira ou de outra nos fluxos turísticos. A mesma
autora destaca as variáveis mais importantes: as demográficas, a evolução
socioeconômica, as oscilações políticas e de legislação de cada país ou governo, o
progresso tecnológico, evolução comercial; a infra-estrutura de transportes e a
segurança das viagens. Dessa forma, “as variáveis econômicas seriam suficientes para
interpretar e explicar o surgimento e a mudança de fluxos turísticos entre as diversas


                                                                                     13
regiões ao longo do tempo, servindo inclusive para determinar possíveis cenários de
configuração da atividade para o futuro” PIMENTEL (2005, p. 43).
       A consideração feita por essa autora se torna relevante no que toca o objeto de
estudo desta pesquisa e no entendimento do turismo como uma atividade complexa,
cujas motivações que levam à realização de uma viagem estão relacionadas aos
contextos pela oferta de produtos e serviços. Essa consideração é importante na medida
em que o Turismo de Negócios acontece a partir da entrada e permanência de lojistas
em Belo Horizonte para comprar roupas fabricadas pelas grifes mineiras (uma variável
de cunho econômico e comercial) o que configura essa modalidade de turismo na
capital e alimenta projetos e investimentos relacionados ao ramo da moda. Tais projetos
e investimentos incentivam essas viagens possibilitando futuros cenários, tanto para a
atividade turística quanto para a moda.
       Relativo às segmentações de mercado, essas ocorreram, e ainda ocorrem, num
contexto globalizado e favorável para o surgimento de novas profissões e demandas de
mercado. O turismo não ficou de fora, já que atualmente (séc. XXI) existem inúmeras
especificações para essa atividade como: Ecoturismo, Turismo Religioso, Turismo GLS,
etc. Distinguir uma forma da outra no turismo se torna útil para fins comerciais, para o
direcionamento do produto final turístico a um público específico, juntamente com a
contribuição do marketing, para fins estatísticos, de pesquisas, dentre outros.
       Nesse sentido, o Turismo de Negócios tem na sua essência o deslocamento
realizado para a concretização de transações comerciais que acontecem sob diferentes
contextos e interesses, fazendo com que os empresários e os envolvidos nessa atividade,
busquem por produtos, serviços e acordos, os quais possam acrescentar valor, tanto
financeiro quanto simbólico, ao seu negócio ou à entidade pra qual trabalha.
       Ruschmann (2001) por sua vez, aborda uma perspectiva positiva em relação ao
segmento Turismo de Negócios. A autora afirma que para o turismo mundial, esse
segmento encontra-se em ampla expansão e tem superado os índices de crescimento em
relação a outros mais tradicionais, como o ecoturismo. Nesse sentido, o turismo de
negócios revela-se uma das áreas mais promissoras do turismo no futuro, pois analistas
consideram que com o estreitamento das distâncias e a diminuição do tempo gasto nos
deslocamentos existe a tendência na intensificação do fluxo de negócios e das atividades
comerciais em âmbito mundial, levando ao aumento do turismo de um modo geral.

                                                                                     14
Sob esse aspecto, é valido, então, abordar uma definição a respeito do segmento
do turismo de negócios de modo a delinear o assunto aqui tratado. Para tanto será
utilizada a definição proposta por BENI (2001, p. 423):

                       Deslocamentos de executivos e homens de negócio, portanto turistas
                       potenciais, que afluem aos grandes centros empresariais e cosmopolitas a fim
                       de efetuarem transações e atividades profissionais, comerciais, e industriais,
                       empregando seu tempo livre no consumo de recreação e entretenimento
                       típicos desses grandes centros, incluindo-se também a freqüência a
                       restaurantes com gastronomia típica e internacional.



       Essa definição, no contexto deste trabalho, sugere que os “homens de negócio”
após a realização das atividades relacionadas ao seu negócio podem e utilizam os
serviços, equipamentos e atrativos do local onde se encontram temporariamente. É uma
definição ampla, pois possibilita o olhar sobre o “homem de negócio” como potencial
turista e amplia as perspectivas sobre o lugar visitado na medida em que os serviços,
equipamentos e atrativos podem ser estruturados e trabalhados para atender a todos os
tipos de turistas. Contudo, cabe ressaltar que os atrativos, serviços e equipamentos não
devem ser melhorados somente para aqueles que vêm de fora, mas também para os
moradores do local, pois a valorização do turismo deve acontecer de dentro para fora.
Proporcionar melhorias visando apenas o turismo é desvalorizar o que o local oferece.
Faz-se referência a esse aspecto, pois a forma como o próprio belo-horizontino vê a
capital foi alvo de questionamentos em algumas entrevistas realizadas para esse
trabalho.
       Transferindo essa modalidade para contexto do Brasil e de Minas Gerais, Lamos
(2003), em conformidade com os dados apresentados por Boiteux e Werner (2002),
evidencia que o que motiva os estrangeiros a visitar o país é, em primeiro lugar, a busca
por oportunidades de lazer – o Turismo de Lazer - com 50,01% das intenções. Na
segunda posição, estão as motivações decorrentes das possibilidades para realização de
negócios - o Turismo de Negócios - com 23,40% do total.
       Assim, o Turismo de Negócios se manifesta bastante representativo entre as
motivações      de      deslocamento          das        pessoas        em        direção         ao
Brasil. Para Lamos (2003), esta percepção evidencia, sobretudo, uma falta de
perspectiva econômica e visão empreendedora de alguns estados da Federação, em que


                                                                                                 15
o turismo poderia ser vinculado a atrativos naturais e pouco se faz no sentido da
promoção dos mesmos.
           Este mesmo autor, ainda a respeito dessa falta de empreendedorismo, pontua o
que ele mesmo chama de “oportunismo mineiro” (LAMOS, 2003, p. 27), onde Minas
Gerais apresenta maior participação no turismo de negócios, se comparado ao Espírito
Santo e ao sul (exceto pelo Estado do Paraná). Tal oportunismo refere-se ao caráter
empresarial, principalmente em Belo Horizonte, “e a não utilização dos recursos
potencialmente turísticos de forma ampla”. Dessa forma, evidenciado o aspecto
empresarial de Belo Horizonte para o Turismo de Negócios, a modalidade será
analisada com foco nos Negócios de Moda.

1.3)       Os Negócios de Moda

           Os Negócios de Moda em Belo Horizonte consistem nas compras realizadas por
lojistas de outras localidades para adquirirem peças do vestuário das confecções das
marcas mineiras. Devido a esse movimento, surgiram associações, escritórios e
cooperativas que dispõem de Consultores em Negócios de Moda. Esses recebem os
lojistas, providenciam os serviços de reserva de hospedagem e passagens, traslados,
oferecem atendimento especializado durante a realização das compras, selecionam,
embalam e despacham mercadorias.
           Pode-se observar a expansão do leque de motivos relacionados aos
deslocamentos originados pelos negócios de moda ao longo do tempo. Tal alargamento
provocou a expansão dos serviços turísticos apropriados e arranjados para receber esse
movimento. Os hotéis, por exemplo, estabelecem parcerias com as diversas
organizações de consultores, demonstrando a postura desse serviço em relação a essa
atividade. Fica, então, evidente que, no caso de Belo Horizonte, existe o Turismo de
Negócios relacionado à moda, originado pelos produtos e serviços que são ofertados na
capital.




                                                                                    16
2)     UM POUCO SOBRE MODA
2.1)   Antes da moda, o Vestuário


       Os deslocamentos ocorriam por diferentes interesses em que a necessidade de
sobrevivência era um dos motivos da realização das viagens. A utilização de
vestimentas também foi resultado da necessidade de adaptação na evolução do homem.
Ambos os setores sofreram influências diante das transformações ocorridas na
sociedade no percurso histórico, até se configurarem nas concepções atuais de moda e
turismo, os quais abrangem e movimentam diversos setores.
       Apresentadas considerações importantes a respeito do turismo e da modalidade
de Turismo de Negócios sob a ótica dos Negócios de Moda, nesse capítulo evidenciam-
se alguns aspectos sobre o vestuário e a moda, com o intuito de esclarecer suas
implicações na história das sociedades, já que a concepção atual de “moda” foi
construída no percurso do tempo conforme as transformações e evoluções do vestuário e
dos modos de vida.
       É válido destacar que não se pretende expor a história completa do vestuário
tanto no que se refere às suas transformações quanto de todos os processos de
construção da concepção atual sobre “moda”, mesmo porque não é o objetivo da
pesquisa e seria necessário despender de muito tempo, haja vista a quantidade de
material disponível sobre o assunto. Entretanto, selecionar e evidenciar alguns traços
dessa evolução permite entender um pouco mais sobre o desenvolvimento da
indumentária, uma vez que reflete as características sociais, econômicas e culturais de
determinada época, além de fornecer subsídios que esclarecem a relação entre homem e
vestes, logo, homem e moda, e todas as implicações que provocam no que tange às
esferas do consumo e das indústrias aos estudos e cursos acadêmicos de moda.
       Sob uma perspectiva histórica, Braudel (1995) aborda a “vasta trama das
civilizações” e o que está inserido nela, desde a alimentação, passando pelo vestuário à
organização das cidades, entre os séculos XV e XVIII. Sobre o vestuário o autor inicia
sua discussão afirmando que a história das roupas “levanta todos os problemas, os das
matérias-primas, dos processos de fabrico, dos custos de produção, da fixidez cultural,
das moedas, das hierarquias sociais”, BRAUDEL (1995, p. 281). Nesse sentido,
assevera que o traje denuncia posições sociais, pois “ninguém resistia ao desejo de usar

                                                                                     17
a roupa, que no Ocidente, é sinônimo de promoção social, em que os governos nunca
impediram a ostentação do luxo pelos abastados da nobreza”.
       Dessa maneira, tem-se o vestuário, entre os séculos XV e XVIII, como a
principal afirmação social, distinguindo aqueles que pertencem a classes sociais nobres,
possuidores de riqueza e prestígio social, dos mais pobres. A roupa pode denunciar
poder, superioridade e o pertencimento a uma classe social prestigiada. O luxo e a
ostentação são observados nos trajes, nos sapatos, perucas, jóias, dentre outros artefatos.
Como resultado, “até mesmo no mercado de uma cidade basta uma olhadela para
distinguir burgueses de gente do povo”, BRAUDEL (1995, p. 281).
        Em contrapartida, Braudel (1995) expõe que se a sociedade fosse estável
haveria poucas mudanças no vestuário ao longo dos anos. É o caso da China, cujo traje
típico mandarim, pouco antes do século XV, permanece igual no século XVIII. No
Oriente, as variações e modificações nos trajes são quase que imperceptíveis como
relatado pelo mesmo autor:
                          Na China, a forma da roupa raramente muda por moda ou por capricho. O
                          vestuário que convém ao estado de um homem e à estação do ano em que o
                          usa é sempre feito da mesma maneira. As próprias mulheres não têm modas
                          novas, a não ser no arranjo das flores e outros ornamentos que põem na
                          cabeça. Também o Japão é conservador [...]. Ei-lo durante séculos fiel ao
                          quimono, roupa de vestir em casa pouco diferente do atual. (BRAUDEL,
                          1995, p. 282)



       As roupas das classes mais baixas não possuem muitas variedades. A roupa
cotidiana, para o trabalho, não tem beleza, mas a de festa sim. Muitas vezes é
transmitida de pai para filho. No contexto do Oriente, da África e das Américas, onde as
roupas não apresentaram modificações constantes no decorrer dos séculos, os trajes de
camponeses, índios, das classes menos abastadas em geral, eram simples e a matéria-
prima utilizada era o algodão, na maioria dos casos. Na Europa, os pobres não contam
com variações nas vestimentas no decorrer dos anos, se comparados às vestimentas
burguesas.
       A partir da observação de quadros na pinacoteca de Munique, Braudel (1995)
conclui que os trajes diferenciam humildes vendedores ou pescadores dos grupos de
burgueses, visitantes e transeuntes. Referindo-se ao traje camponês BRAUDEL (1995,
p. 284) acrescenta que:


                                                                                               18
É certo que, semelhante na sua aparência, o traje camponês, no entanto, muda
                       em certos pormenores importantes. No século XIII começa a usar-se roupa
                       interior, na França e em outros países. Na Sardenha, no século XVIII, é de
                       regra, em sinal de luto, conservar a mesma camisa durante um ano: quer pelo
                       menos dizer que o camponês usa a camisa e que deixar de trocá-la é um
                       sacrifício. Ora, sabemos que outrora, no século XVI, segundo tantos quadros
                       conhecidos, ricos e pobres dormiam nus nas suas camas.




       Esse trecho demonstra a relação entre a sociedade e seus estilos de vida e as
vestimentas. São importantes, pois evidenciam o papel do vestuário no decorrer dos
anos: como era empregado e atribuído, tanto no meio social quanto no íntimo do lar.
       Em contraste ao mundo dos pobres, a Europa dos ricos e das modas, segundo
Braudel (1995), é permeada por caprichos responsáveis por uma pequena parcela da
sociedade. A “loucura das mudanças” tardou a se instalar. Contudo, BRAUDEL (1995,
p. 286) assevera que a moda “não é apenas abundância, quantidade e profusão. Consiste
em mudar tudo a qualquer momento, uma questão de estação, de dia e de hora.” O
“império” da moda aplica sua severidade após 1700, em que seu sentido é atribuído
àquilo que está na atualidade, ou seja, seguir o que é considerado atual, novo. Logo, a
partir de 1700 pode-se inferir que a moda, tal como hoje é atribuída de seu aspecto
efêmero, revelador de tendências e de consumo, começa a delinear-se.
       Ainda hoje (Séc. XXI) artigos do vestuário, sejam roupas, calçados, bolsas, etc.,
de determinadas marcas são consumidos e, muitas vezes, utilizados para indicar a
capacidade de compra, ou seja, o quanto o indivíduo pode gastar. Isso lhe confere certo
poder e “superioridade” perante o outro e ao círculo social de convivência, além de
poder servir de subsídio para alimentar a auto-estima. Há também aqueles que
consomem artigos de luxo, de marcas consagradas no mercado devido à qualidade que
apresentam no acabamento, qualidade do tecido, exclusividade, durabilidade e
caimento.
       Retomando o contexto europeu, BRAUDEL (1995, p. 288) revela que
“preponderante desde o século XVII a moda francesa só se afirma soberana no século
XVIII. Nos quatro cantos da Europa das Luzes, a moda é lançada, a partir de Paris, por
bonecas manequins que cedo aparecem”. Em contrapartida ao glamour da moda, essa
“apresenta suas reticências” conforme o autor, pois “à margem, fica a imensa inércia
dos pobres”.


                                                                                               19
Boucher (2010) por sua vez, aborda a evolução do vestuário a partir das suas
funções, mas sem considerá-lo isoladamente das condições materiais, dos aspectos
culturais, políticos, de religião, econômicos, sociais e ambientais. Segundo o autor, “é
indubitável que, desde a origem, a roupa deve ter correspondido a outras funções que
não à simples utilidade, particularmente no que se refere ao seu papel mágico”,
BOUCHER (2010, p. 13). Dessa forma, inicia sua análise desde o homem pré-histórico,
em que o mesmo, sob o papel mágico da indumentária, utiliza de atributos que o
cobrissem de um poder confiscado de outras criaturas e o defendessem de influências
maléficas. Nesse sentido, além de proteção aos seus órgãos genitais e contra o clima
severo de determinadas regiões, as vestes também satisfaziam um desejo de
representação. “Enfeitar-se com adornos era identificar-se a outra criatura: animal, deus,
herói ou homem”, BOUCHER (2010, p. 13).
       Assim como Braudel (1995), Boucher (2010, p. 14) corrobora com a concepção
de que as roupas correspondem também a um desejo de exprimir autoridade, sendo que
para um chefe, são atributos que lhe conferem poder; para um guerreiro é obter um
elemento que beneficiará e exaltará seu corpo. Boucher (2010) afirma que as funções do
vestuário acompanharam a evolução das civilizações, que por sua vez determinava a do
vestuário. O aparecimento dessas funções acontece devido aos elementos essenciais das
civilizações, surgidos por meio de forças sejam elas por ação da vanguarda, por reação a
essa ou até mesmo pela estabilidade.
        A respeito da consideração anterior, ao traduzi-la para o contexto atual, nota-se
seu valor já que, atualmente a tecnologia tem possibilitado o desenvolvimento de roupas
provenientes de materiais recicláveis como a garrafa pet. Esse fato demonstra a
exigência da sociedade pela utilização de produtos desenvolvidos a partir de um
processo que contribua de forma positiva com o meio natural, em vista das discussões a
respeito da sustentabilidade, reciclagem e preservação do meio ambiente, que por sua
vez, envolvem as esferas políticas, econômicas e culturais.
       Dessa forma, BOUCHER (2010, p. 15) contribui afirmando que:
                        A evolução do vestuário deve ser associada ao conjunto dos fenômenos
                        paralelos de cada época, em que as “dominantes” diferem no tempo e no
                        espaço. Esse exame comprova que não é nem a raça nem o tipo étnico nem o
                        regime político nem o talento artístico que, isoladamente, acarretam as
                        diferenças no vestuário, mas sim a natureza da civilização e o estilo de vida.




                                                                                                  20
Sob essa perspectiva, o autor ainda afirma que se a evolução do vestuário tivesse
de ser simplificada, seria dividida em três partes. A primeira fase corresponderia ao
período da Antiguidade ao século XIV, em que a roupa, em grande parte das
civilizações não sofre muitas mudanças, não há caráter nacional e é uniforme em todas
as classes. A segunda fase estender-se-ia do século XIV, quando as roupas tornam-se
ajustadas e mais curtas devido, ao intenso desenvolvimento industrial no século XIX.
Nessa fase, o vestuário adquire aspectos pessoais e nacionais, passa por constantes
modificações e destaca-se o surgimento inédito da moda, no sentido moderno da
palavra. Além disso, passa a depender cada vez mais do contexto no que se refere à
organização política e comercial, desvincula-se completamente de qualquer vestígio
religioso e cada nação forma seu estilo de roupa, sendo que o indivíduo a adapta ao seu
gosto. Por fim, a terceira fase, que tem início em meados do século XIX com o
desenvolvimento da civilização moderna até os dias atuais. Tal fase é marcada por um
vestuário cada vez menos pessoal e mais internacional, influenciado pelo maquinismo
gerador da confecção e do expansionismo europeu. Ocorre o surgimento da alta-costura
e os “imperativos de uma moda cada vez mais efêmera ao privilégio de uma classe em
que o senso do luxo tradicional e o poder do dinheiro dominam as diferenças sociais”,
BOUCHER (2010, p. 17). Desse modo, o mesmo autor conclui a respeito dessas fases
que:
                       É a sucessão dessas predominâncias – inicialmente, a das influencias
                       religiosas e místicas, depois, a dos esforços de liberação espiritual e social e,
                       por fim, a das concentrações de interesses econômicos – que deve constituir o
                       arcabouço de todo estudo histórico do vestuário. (BOUCHER, 2010, p. 17).




       Calanca (2008), por sua vez, descreve a evolução da moda pelo viés da história
social. No que concerne aos aspectos que remetem à sexualidade e a aparência
relacionadas às vestes, revela que as modificações das estruturas das vestimentas
masculinas e femininas se fixam a partir do século XIV, o que representa traços da
estética e da sedução, pois a roupa feminina, diferente da masculina, sexualiza a
aparência.
       Com efeito, nota-se que, desde o século XIV, as roupas passam a ter uma
conotação sexual que perdura até os dias de hoje. A respeito dessa característica
atribuída às vestimentas, pode-se considerar que nela se desdobram aspectos

                                                                                                    21
psicológicos, na medida em que incita os imaginários masculinos e femininos e
estimulam a auto-estima dos indivíduos.
        Dessa maneira, tem-se nas transformações e na evolução do vestuário aspectos
da sociedade e dos modos de vida no percurso do tempo, em que a roupas inicialmente
de aspecto utilitário, passam a representar status, luxo e sexualidade, em contraste ao
período em que não havia distinções entre as roupas femininas e masculinas. Logo, a
moda passa a compor uma indústria que movimenta a economia em âmbito global, gera
empregos, dita tendências e é alimentada pela Indústria Cultural. É a partir da evolução
da indumentária que são observadas características de determinada época e a
importância que as contribuições de autores, como os citados acima, trazem acerca
sobre o que realmente significa “moda” e o seu principal instrumento, o vestuário.
Novamente tem-se a evidência de um setor complexo e amplo.

2.2) A Moda

       Calanca (2008) analisa a moda pelo viés da história social, o que permite maior
assimilação dos contextos histórico-sociais e sua influência na construção da concepção
de moda atual. Nesse sentido, para a autora alguns termos da linguagem corrente
elucidam realidades sociais difusas que, por sua visibilidade e dimensão de massa,
contribuem para o entendimento das “experiências de sociedade no seu conjunto”. O
termo “moda”, “usado em múltiplos contextos, oferece um quadro comum de referência
e de reflexão para uma série de aspectos da vida social”. Evoca, em primeiro caso, “uma
dicotomia entre o velho e o novo, entre o passado e o presente, imobilidade e
mobilidade. É a experiência das aparências que pressupõe objetos nos quais se
manifestar; é função e conteúdo estético”, CALANCA (2008, p. 11).
        Similarmente a essa perspectiva, VOLLI 2 (1988, apud Calanca, 2008, p. 11)
afirma que moda entende-se especificamente como “o fenômeno social da mudança
cíclica dos costumes e dos hábitos, das escolhas e dos gostos, coletivamente validado e
tornado quase obrigatório”. Os desfiles, as revistas e os meios de comunicação em geral
contribuem para a validação dos gostos e a aprovação das vestimentas, além de
influenciar sobre o que deve ser usado.


2
 U. Volli, Contro La moda (Milão: Feltrinelli, 1988), p.50. Cf. Grande dizionario della língua italiana
moderna, vol. III (Milão: Garzanti, 1999).
                                                                                                    22
De acordo com Calanca (2008), reportando ao termo “costume”, embutido no
contexto de uma sociedade e relacionado à moda, representando um hábito recorrente e
permanente determinante de comportamentos e modos de ser de um grupo social, este é
remetido ao conceito de sistema. Representa um conjunto de vários elementos
relacionados entre si, sendo que, apreciados isoladamente, estão privados de valor, mas
no momento em que são conectados por um conjunto de normas e valores coletivos,
assumem um significado:
                       Nesse sentido, o costume é essencialmente um fenômeno de caráter
                       axiológico, isto é, refere-se a uma escala de valores ideais aos quais os
                       membros de um determinado contexto histórico-social e cultural tendem a
                       assemelhar-se ao máximo. Ora, quando a “paixão” pelo novo, pelo recente,
                       pelo requinte, pela elegância, etc., e a renovação das formas tornam-se um
                       valor, quando a mutabilidade dos feitios e dos ornamentos não constitui mais
                       uma exceção, mas se torna uma regra estável, um hábito e uma norma
                       coletiva – isto é, um costume – então se pode falar em moda. Desse ponto de
                       vista, a moda é sempre um fenômeno de costume. (CALANCA, 2008, p. 11)




       Sob esse ponto de vista, evidencia-se o aspecto efêmero da moda, na medida em
que a “paixão” pelo novo, pelo recente, se transforma em hábito, um costume agregado
de significados e de valores. Segundo a autora supracitada, desde que se pôde
reconhecer a ordem típica da moda como um sistema, que inclui suas “metamorfoses e
inflexões”, a moda conquistou todas as esferas da vida social, influenciando ideias,
gostos, artes, comportamentos e linguagem.
       No que diz respeito ao termo “moda”, sua etimologia é latina: vem de modus
(modo, maneira), logo, entra no italiano com empréstimo do tremo francês “mode”, em
meados do século XVII, Calanca (2008, p. 13). O uso do termo foi amplo na Itália do
século XVII, pois remete ao aspecto mutável, da busca pela elegância por uma classe
privilegiada, em relação às roupas, convenções sociais, decoração, modos de pensar,
escrever e agir, ditados, também, pela literatura da época. Já na França, o termo
representa um conjunto de atividades humanas, relacionadas entre si, cuja essência é a
reprodução de um ser que muda freqüentemente de aparência.
       Decerto a moda na modernidade passa a ser expressa largamente sobre os
diferentes objetos, comportamentos e pensamentos utilizados e expostos publicamente,
o que remete à ideia de afirmação de identidade, de status e de poder perante o outro.
Embora os diversos âmbitos da sociedade estivessem envolvidos, as roupas,

                                                                                               23
historicamente, puderam exprimir e traduzir o proceder da moda. De acordo com
Calanca (2008) o vestuário se apresenta como:
                              Um fenômeno completo porque, além de propiciar um discurso histórico,
                              econômico, etnológico e tecnológico, também, tem valência de linguagem, na
                              acepção de sistema de comunicação, isto é, um sistema de signos por meio do
                              qual os seres humanos delineiam a sua posição no mundo e a sua relação com
                              ele. (CALANCA, 2008, p. 16)



          Logo, a veste torna o “corpo significante”, em que o “ato de vestir transforma o
corpo, e essa transformação não se refere a um único significado biológico, fisiológico,
mas a múltiplos significados, que vão daquele religioso, estético, àquele psicológico”
CALANCA (2008, p. 17).
          Ademais, torna-se quase impossível pensar em moda sem, em seguida, vir à
mente o consumo. ROCHE3 (1995, apud Calanca, 2008, p. 102) observa que a “história
dos comportamentos em relação aos objetos e às mercadorias na nossa sociedade
aparece como fundamental”. Logo, CALANCA (2008, p.102) complementa que a
“relação entre o indivíduo e o ambiente social passa pela reificação. Nesse sentido, a
história do consumo permite evidenciar a correspondência entre material e simbólico, o
nexo entre representações simbólicas e a realidade concreta”. Sob essa perspectiva, Karl
Marx (1996) já afirmava a respeito do aspecto fetichista da mercadoria, ou seja, o poder
de “encanto” que a mercadoria exerce sobre o indivíduo fazendo-o ignorar as relações
de trabalho que estão por trás da produção da mercadoria.
                              O consumo nunca está desvinculado da profunda ligação que se estabelece
                              entre o mundo e a pessoa, é um fato social de comunicação, que traduz
                              também as transformações da cultura, da sensibilidade, das técnicas, as
                              capacidades dos produtores e as respostas dos consumidores, (CALANCA,
                              2008, p. 107).




          Assim, a autora conclui a respeito do consumo, no que tange à relação entre os
indivíduos e os objetos, que se configura numa relação de satisfação das necessidades,
sejam elas naturais, de luxo, de opinião, de ostentação e comodidade e que, assim,
estruturam-se grande parte das relações socioeconômicas e culturais, Calanca (2008, p.
115).


3
    D.ROCHE, Storia delle cose banali (Bolonha: Clueb, 1995), p. 13.

                                                                                                     24
2.2.1) A Moda e seus desdobramentos


          Expostas as considerações no que se refere à sua magnitude e alcance da moda,
tanto nas implicações que geram sobre um indivíduo quanto num contexto mais amplo,
nacional ou internacional, é importante esclarecer sobre outros aspectos que compõem a
sua atual configuração. Para tanto, Calanca (2008, p.130) contribui afirmando que, a
respeito de sua concretização particular, a moda, num período de duzentos anos,
transforma-se de um fenômeno sociocultural de elite em um fenômeno comercial de
massa e complementa com a seguinte passagem de Puglisi 4:
                              A sua dimensão massificada, a capitalização de suas riquezas, a globalização
                              de seu sistema produtivo e comercial transformaram o que para Voltaire era
                              apenas um luxo e um prazer em um dos mais prósperos impérios financeiros
                              de dimensão planetária, de Milão a Tóquio, de Nova York a Roma, de Paris a
                              Los Angeles (CALANCA, 2008, p. 130).




          A partir da Revolução Industrial mudanças decisivas ocorrem na sociedade.
Transformações de cunho social, econômico, ambiental e cultural, as quais foram
aceleradas pelo desenvolvimento da tecnologia e dos transportes, fundamentais para o
seu avanço.
          Dessa maneira, a Revolução Industrial foi um marco na história da humanidade,
transformando as relações sociais em todos os seus aspectos: a relação do indivíduo
com o mundo, a forma como passa a conceber o ambiente à sua volta; as relações de
trabalho, produção e poder, pois o trabalho passa a ser assalariado e há um aumento na
mobilidade social. Ocorre a “divisão do trabalho” e as relações entre indivíduo e objeto
perpassam pela reificação da mercadoria. O setor têxtil, neste contexto, é onde se
verifica primeiro as transformações. CALANCA (2008, p. 137) afirma que:
                              Há uma mudança nos modelos de consumo induzidos tanto pelos hábitos de
                              vida urbana como pela introdução de novos métodos de distribuição de
                              mercadorias no varejo. Nesses decênios se desenvolvem as grandes lojas de
                              departamento e as redes de lojas com todas as estratégias para atrair os
                              consumidores, das confecções estandalizardas aos descontos, das exposições
                              à publicidade.




4
    G. Puglisi, I modi della moda (Palermo: Sellerio, 2001), p. 26. apud Calanca (2008, p.130)

                                                                                                      25
A partir do século XIX, as novas máquinas como cinema, rádio, fotografia e
mais tarde a televisão, foram responsáveis por mudanças nas convenções que
predominavam pela exaltação da expressividade e beleza do corpo, Calanca (2008,
p.138). No século XX, o cinema revela estrelas símbolos de sensualidade, erotismo,
transgressão e fascínio. É o caso de Greta Garbo, Marlene Dietrch e Bette Davis. Nessa
situação o vestuário é crucial. A partir da década de 1920, saem dos estúdios de
Hollywood as grandes estrelas produtos da convergência de fenômenos diversos como a
visão de mundo sexista e o desejo de afirmação de muitas mulheres, configurando o
papel relevante do vestuário, como pode ser observado a seguir:
                          É esse o período no qual foram realizados, pela primeira vez, os figurinos
                          cinematográficos. Os vestidos tornam as atrizes parte integrante da narrativa,
                          de um conjunto no qual vestuário e linguagem do corpo estão em harmonia.
                          Os figurinos enfatizam o caráter, o comportamento e as emoções que o autor
                          ou a atriz devem comunicar. A filmadora torna-se cada vez mais uma
                          máquina que impõe novos tipos e novos rostos. Os filmes oferecem lições
                          “práticas” de moda, maquiagem e comportamento, o cinema reforça a
                          cultura-mercado da beleza. O que se oferece aos olhos de todos é o modelo
                          da mulher moderna “estilo americano”. (CALANCA, 2008, p. 148)



       No que se refere à era pós-industrial, Calanca (2008) corrobora com a concepção
de que abordar a moda sob um único ponto de vista é uma missão difícil e complementa
com a seguinte passagem:
                          Nos deparamos com um quadro geral da moda que perdeu a sua imagem de
                          sistema unitário e circunscrito, para se despedaçar em pequenos fragmentos.
                          Um fenômeno que já tinha começado na primeira metade dos anos 1980, mas
                          que agora parece ter sido elevado à enésima potencia, com um crescimento
                          exponencial de trends, na maioria das vezes, em declarada antítese entre si,
                          que produzem um clima de incerteza geral, no qual fica realmente difícil se
                          orientar e distinguir um fio condutor comum5.



       Sob essa perspectiva a moda perde sua capacidade de ser medida mediante as
inúmeras formas de moda. A fragmentação dos padrões e estilos exprime valores como:
“ironia, juventude, cosmopolitismo, etc.” e com a tendência de que tudo é positivo, não
tem-se apenas uma moda, mas sim modas, Calanca (2008, p. 190). Nesse contexto, a
arte e a moda estão mais livres. “O excesso, a desmedida quantitativa e qualitativa, o


5
 S. Grandi, A. Vaccari & S. Zannier, La moda nel secondo dopoguerra (Bolonha: Clueb, 1992), p. 164.
Ver também, A. Grassi, “Moda frantumata, em Gap, março de 1988, p. 77; G. Borioli, “10 annidi moda.
1980 -1990. Cronache-tendenze-protagonisti”, suplemento de revista Donna, abril de 1990, apud
Calanca (2008, p.189);
                                                                                                    26
virtuosismo, a transgressão presentes em muitas tendências da moda são hoje aceitas
tanto esteticamente como socialmente e, por isso, tornam pouco claros os limites que
hoje determinam o gosto”, CALANCA (2008, p.190).
       A fragmentação da moda relaciona-se a um fenômeno histórico, o pós Segunda
Guerra. Logo, as “antimodas” surgem contrariando o contexto que se dá após os dois
grandes conflitos. A recessão e a escassez de matérias primas são realidades nesse
momento. Dessa maneira, a “antimoda” tem na sua essência a referência a ideais e
valores. São movimentos identitários que se opõem aos padrões vigentes, reivindicando
uma identidade que se expressa em estilos de vida, de música, de comportamento e,
claro, nas roupas. Dentre esses movimentos, também chamados de movimentos de
contracultura, que marcaram o pós-guerra, modificaram valores e padrões antes
vigentes, estão: os Rockers, os Mods, Hippies e os Punks.


                                  Imagem I - Rockers




   Fonte: Disciplina - Panorama do Vestuário Moderno e Contemporâneo (2011/2) – Professor
                                     Augustin de Tugny.



                                                                                            27
Imagem II - Mods




Fonte: Disciplina - Panorama do Vestuário Moderno e Contemporâneo (2011/2) – Professor
                                  Augustin de Tugny




                                                                                         28
Imagem III – Hippies 6




6
  Imagens, de autoria desconhecida, retiradas dos sites, na ordem em que aparecem, da esquerda para a direita.:
Fashion Bubbles. Disponível em: <http://www.fashionbubbles.com/historia-da-moda/tribos-urbanas-movimento-
hippie>. Acesso: 20/10/2011;
Muito tudo Blog. Disponível em: <http://fabyandrade.spaceblog.com.br/1360731/Hippies/> Acesso: 20/10/2011;
Acesso Jovem. Disponível em: <http://www.acessojovem.com.br/hippies.html > Acesso: 20/10/2011;
Inspire Bohemia. Disponível em: <http://inspirebohemia.blogspot.com/2010/01/hippies-bohemians-gypsies-and-
fashion.html> Acesso: 20/10/2011.
                                                                                                            29
Imagem IV – Punks




Fonte: Sharemyplaylists. Disponível em: <http://sharemyplaylists.com/playlist-reviews-subculture-
                                   punks> Acesso: 20/10/2011


       Como pode ser observado nas imagens I, II, III e IV as roupas são totalmente
diferentes das comumente usadas na época. No caso dos punks, as vestes, os acessórios,
a maquiagem e o cabelo, são, de certa forma, agressivos, utilizados para chocar a
sociedade. O comportamento, ou seja, os modos de agir, os etilos e as músicas
compõem esses movimentos de identidade, de contracultura, onde a vestimenta tem
papel fundamental na diferenciação do indivíduo que reivindica outros valores e
compactua com ideais diversos.
       Dessa forma, o pós guerra foi um período de transformações em todas as esferas
da sociedade e, claro, a moda expressara tais transformações, empregada para impor
novas identidades, valores e conceitos, os quais questionavam os padrões e a ordem
vigente. A globalização nesse período começa a adquirir suas proporções atuais.
       A fragmentação dos estilos e a inexistência de regras estéticas que caracterizam
a moda atual, segundo Calanca (2008, pgs. 203 e 204) tem sua máxima expressão com o
surgimento do prêt-à-porter que unifica as indústrias e a moda, dissemina pelas ruas
estilos e gostos, “estetizando a moda industrial e massificando a grife.” Com a
estilização, a roupa industrial de massa adquire novo status, torna-se um produto de
moda. Nos atuais dias, segundo Calanca (2008, p. 205) a tendência é considerar as
criações do prêt-à-porter “como a parte mais viva da moda”.
       Logo, as contribuições a respeito dessas transformações que influenciaram
diretamente na criação e na comercialização da moda são importantes, pois oferecem
                                                                                              30
esclarecimentos que possibilitam visualizar a moda na atualidade e todas as implicações
e setores afetados. Antes os artigos da moda eram adquiridos apenas pela elite social.
Hoje as roupas são produzidas em larga escala e podem ser adquiridas por todas as
classes sociais devido ao mercado globalizado, a importação de artigos de baixo custo,
as facilidades de compra, como o crediário, e o surgimento do micro-empresário que
movimenta a economia e encontra “espaço” no mercado pela oferta de produtos, na
maioria das vezes, diferenciados. A moda acompanha essas transformações e firma-se
no mercado.


2.2.2) Termos que devem ser esclarecidos


       Para melhor entendimento acerca dos assuntos tratados nesse trabalho, alguns
termos e abordagens utilizados ao se referir a moda serão apresentados. Isso se deve ao
fato de que o presente trabalho é pré-requisito para a formação no Curso de Turismo da
Universidade Federal de Minas Gerais, cujo tema aborda o setor de moda. Pelo fato dos
assuntos relacionados a esse setor não serem do domínio do pesquisador, recorreu-se a
referências bibliográficas para esclarecimentos, no intuito de realizar análises mais
precisas sobre o tema.
       Dessa forma, Treptow (2007) colabora com a elucidação de alguns tópicos da
moda e inicia sua discussão abordando os “ciclos da moda”, o qual compreende as
seguintes fases: lançamento, cuja origem pode estar na coleção de um estilista, num
grupo de jovens ou em um detalhe expresso por um figurinista numa novela ou filme; a
aceitação, que corresponde à aceitação do público em geral que irá ‘seguir a moda’,
pois a “moda é um fenômeno sociológico”; o consumo e a massificação correspondem
desde a divulgação da imprensa e a reprodução de marcas independentes, à valorização
do estilo pela mídia, o qual será copiado pelas redes de lojas e marcas que atuam em
mercados mais populares, com preços mais acessíveis. Por fim, o desgaste que, ao
assumir altos níveis de consumo, a moda perde seu diferencial, já que todos vestem o
mesmo estilo que logo passa a ser considerado obsoleto, Treptow (2007, p. 29).
       A autora também diferencia tendência de moda e estilo. O primeiro, segundo
Carol Garcia, citada por Treptow (2007, p. 29), refere-se a “um conjunto de itens do
vestuário considerados como conceito de bem vestir. A tendência de moda é
caracterizada pela temporalidade e pela massificação”. Já o ‘estilo’ esse “não rompe
                                                                                    31
abruptamente com o passado, antes, busca ali, referências que legitimem o novo como
continuidade e identidade”, o estilo, então, se torna algo pessoal.
       A produção e comercialização de moda, segundo a autora supracitada, podem
ser feitas de duas maneiras: a alta costura, que se caracteriza por ser uma confecção
artesanal e o prêt-à-porter, em que as roupas são produzidas em escala industrial, cuja
quantidade varia conforme o tipo de mercado para o qual a peça será distribuída. Há,
também, o prêt-à-porter de luxo, “com tiragens mínimas e limitadas por modelo e o
extremo, de produção em massa para a distribuição nacional ou mundial”, TREPTOW
(2007, p. 38). Assim, a produção prêt-à-porter pode ser classificada em três categorias:
fabricantes, atacadistas e faccionistas.
                         O confeccionista fabricante é aquele que coordena todas as operações, como
                         a compra de matéria-prima, criação ou compra de desenhos para os modelos,
                         manufatura das peças e venda [...]. Os confeccionistas atacadistas realizam as
                         operações de criação, compra de matéria-prima, modelagem e planejamento
                         de corte, vendas e distribuição. Todavia a etapa de costura das peças é feita
                         em empresas menores subcontratadas: as facções. [...] A terceira categoria
                         são os faccionistas, e esses podem ser divididos ainda em dois grupos: o
                         primeiro, apenas realiza as operações de costura, acabamento e embalagem a
                         partir dos cortes recebidos de confecções atacadistas. Este tipo de indústria
                         muitas vezes utiliza de mão-de-obra familiar e depende das vendas de
                         clientes para ter o que produzir. [...] O segundo tipo são as confecções que
                         possuem uma equipe de criação que desenvolve modelos para diversas
                         marcas. Quando um modelo é aprovado, o faccionista o produzirá com a
                         etiqueta da marca cliente. [...] Nesse caso não são desenvolvidas coleções,
                         mas peças avulsas ou famílias de produtos conforme o perfil da marca que as
                         irá distribuir. (TREPTOW, 2007, pgs. 39 e 40)




A maioria das confecções de Belo Horizonte abordadas nesse trabalho caracterizam-se
como confeccionistas fabricantes.
       A definição de coleção, para GOMES (1992, apud Treptow, 2007, p. 43)
corresponde à “reunião ou conjunto de peças de roupas e/ou acessórios que possuam
alguma relação entre si”, sendo que “a relação normalmente está centrada no tema
escolhido para a coleção, que deve ser condizente com o estilo do consumidor e com a
imagem da marca”, complementa Treptow (2007). O tamanho de uma coleção
dependerá da estratégia de comercialização da empresa, em que uma confecção que
vende para lojas multimarcas poderá trabalhar com poucas peças se comparada a uma
empresa que possui lojas próprias.
       Em relação às vendas dos produtos essas podem ser feitas por atacado ou
varejo. Conforme a mesma autora, as vendas por atacado de uma coleção podem ser
                                                                                                   32
realizadas por pedidos ou pelo sistema de pronta entrega. Por pedidos, “as vendas são
feitas a partir do mostruário completo e as peças serão produzidas e entregues conforme
a solicitação do comprador”. Já pelo sistema de pronta-entrega, “as vendas podem ser
realizadas a partir de um mostruário parcial, composto pelas peças disponíveis em
estoque”. Dessa forma, tem-se que as vendas de pedidos acontecem na seguinte
dinâmica:
                       O cliente é informado sobre as opções de cores e tamanhos de cada
                       referência, preço e prazo de entrega. O pedido é anotado em um formulário
                       que indica a referência do modelo, cor (ou cores) escolhida, quantidade de
                       peças por tamanho, preço unitário por referência e condições negociadas
                       (prazo de entrega, prazo de pagamento, descontos, forma de transporte da
                       mercadoria, e observações). A venda por pedido é realizada no show room da
                       fábrica (sala destinada a demonstração de produtos e atendimento), nos
                       stands de feiras, escritório de representação, ou através da visita do
                       representante comercial. (TREPTOW, 2007, p.195)




       Para as vendas de pronta-entrega, o cliente é informado sobre as cores e
tamanhos das peças disponíveis no estoque. Ele pode observar as referências das peças
que estão no mostruário, porém levará outras, de embalagens fechadas e com as mesmas
referências. Esse tipo de venda é efetuado na fábrica, em lojas de fábrica ou feiras de
pronta entrega, Treptow (2007, p. 195).
       As vendas a varejo, por sua vez, são realizadas no sistema de pronta-entrega,
exceto por empresas que atuam como atelier, as quais confeccionam, sob medida, um ou
mais modelos escolhidos pelo cliente. Esse tipo de venda acontece nas lojas das
empresas, feiras com venda direta ao consumidor e em franquias.
       Os desfiles de moda também são relevantes no segmento de moda. Segundo
Coutinh (2009, apud Piroutek, 2010, p.12) correspondem ao momento mais importante
de todo o processo de criação da coleção, em que o estilista apresenta ao público suas
ideias. São os desfiles que geram os grandes eventos de moda, tanto internacionais,
como as semanas de moda em Milão, quanto eventos nacionais como o Fashion Rio,
Dragão Fashion, em Fortaleza e o São Paulo Fashion Week. São nos desfiles que as
tendências de moda para a próxima estação são apresentadas.




                                                                                             33
2.3) A Moda em Belo Horizonte: passado e presente

    Pode-se iniciar tal discussão a respeito da moda mineira com a seguinte passagem
de Fernando Sabino7:

“...mineiro não dá ponto sem nó. Ser mineiro é ser diferente, é ter marca registrada, é
ter história.”

       Não é difícil de entender a citação já que o mineiro possui características
peculiares na hospitalidade e no artesanato, ao mesmo tempo, que é moderno e
tradicional, aprecia valores de família e aquilo que é de qualidade. Há quem diga que
“se a moda pegou em Minas Gerais, irá pegar no resto do Brasil”! Se “pegou” então,
provavelmente porque é “coisa boa”, já que mineiro “não dá ponto sem nó”.
       É por esses aspectos que Minas Gerais é reconhecida, não só pelo “jeito
característico do mineiro”, mas, pela cultura, pela gastronomia, arquitetura e pela
moda. Evidenciar informações sobre a história da moda mineira com a finalidade de
esclarecer sobre as particularidades adquiridas no decorrer do tempo até o destaque no
mercado atual de moda torna-se, então, apropriado.
       A moda em Belo Horizonte teve início nos primórdios da fundação da capital.
Segundo NOUVEAU (1997, apud Silveira, 2002, p. 17), conforme um anúncio
extraído do jornal a Gazeta de 1905, a produção de moda é expressa da seguinte forma:
                        Um hábil contra-mestre com longa prática de diversos ateliers não só na
                        Europa como no Rio de Janeiro, que se acha habilitado a satisfazer a maior
                        exigência de sua arte, desde o mais simples paletó à mais fina e elegante
                        casaca, para o que disponho de colossal sortimento de casemiras, flanelas,
                        brins de todas as qualidades...a roupa feita é cortada pelos melhores e mais
                        elegantes figurinos. (NOUVEAU, 1997, p. 2)



       Este trecho permite perceber a técnica da mão de obra existente em Belo
Horizonte no início do século XX e a influência da moda do Rio de Janeiro, já que a
experiência do contra-mestre não foi adquirida somente na Europa, berço da moda
como visto anteriormente, mas também nessa outra cidade. Essa passagem pode ilustrar
como o público da capital exige qualidade na confecção de suas roupas, “desde o mais
simples paletó à mais fina casaca”.


7
 Citação extraída do site: SpicyBh. Disponível em:
http://www.spicybh.com.br/2010/09/09/modamineira/. Acesso: 10/10/2011.
                                                                                                34
Em 1897 (fundação de Belo Horizonte) e com bases nos jornais da época
NOUVEAU (1997, apud Silveira, 2002, p. 17) relata que haviam 500 casas dentre elas
residenciais, comerciais e industriais. Logo, após 50 anos, em 1947, segundo a Revista
Social Trabalhista, “sabe-se que, dos seus dois mil estabelecimentos industriais, mais
de 10% deles eram diretamente ligados à moda: alfaiatarias e ateliers, bolsas, cintos,
luvas, peles, chapéus, sombrinhas, bengalas, guarda-chuvas, ourivesarias, relojoarias,
perfumarias, sabonetes, sapatos, óculos e pince-nez”.
       Em 1920 o Parc Royal, localizado na Rua da Bahia no número 894, demonstra
aspectos do comércio de moda na cidade. Esse estabelecimento contava somente com
outra filial no Rio de Janeiro e comercializava artigos provenientes de Paris, para um
público de senhoras, homens e crianças além de artigos para a casa, Silveira (2002, p.
17). Conforme o depoimento colhido de D. Yedda, 8 o Parc Royal era uma espécie de
galeria onde as pessoas freqüentavam, não só para compras, realizadas por
consumidores com boas condições financeiras, era, também, um local onde as pessoas
“mostravam-se” umas para as outras. Nouveau (1997, apud Silveira, 2002, p. 17)
complementa que além dos artigos de luxo vendidos no Parc Royal, a decoração e o
arrojo das vitrines atraiam os consumidores de Belo Horizonte.
       Durand (1988) afirma que o progresso e a urbanização nessa época contribuíram
para o crescimento do número de costureiras. Nouveau (1997, apud Silveira, 2002, p.
18) por sua vez, acrescenta afirmando a existência da representação da Singer Sewing
Machine, desde 1912, em Belo Horizonte.




8
 Informações cedidas por Yedda Terezinha Carneiro, avó da presente pesquisadora, a qual freqüentou
o Parc Royal, foi costureira nessa época e presenciou o desenvolvimento da moda na capital.
                                                                                               35
Imagem V – Máquina de costura Singer Sewing Machine - Século XIX




                                   Fonte: Acervo pessoal



      O comércio de moda foi sendo definido em alguns espaços na capital como pode
ser observado a partir da contribuição de Nouveau (1997, apud Silveira, 2002, p. 18):
                       A dispersão das casas de moda nos primeiros anos da Capital Mineira foi se
                       seguindo a definição dos espaços públicos pela espacialidade do seu
                       comércio: os armarinhos e lojas de tecidos na Rua Caethés e Avenida do
                       Commércio (hoje, Avenida Santos Dumont); a Avenida Affonso Penna com
                       suas relojoarias sapatarias; as toilettes masculinas e femininas
                       comercializadas na Rua da Bahia. (NOUVEAU, 1997, p. 1):




      Os jornais da época anunciavam as casas que ofereciam cursos de corte e costura
como observa Nouveau (1997, apud Silveira, 2002, p. 18) na Folha Pequena de 1904:
“D. Altina Dollabela Teixeira ensina desenho, trabalhos em lã, bordados, flores e bem
assim cortar vestidos sob figurino”. Porém, com as restrições impostas pela crise
econômica da década de 30 e pela Segunda Guerra Mundial as importações de artigos e
roupas de luxo foram bloqueadas, o que forçou a reprodução local dos vestidos de luxo
contribuindo para o desenvolvimento do mercado nacional têxtil e de confecção,
Durand (1988, p.71).
      Conforme Silveira (2002), já na década de cinqüenta existiam na cidade lojas
como a Sibéria, localizada na esquina da Av. Afonso Pena e Rua Espírito Santo, A
Vantajosa – Modas e peles na Carijós, Antonieta Modas na Rua da Bahia e a Sloper na
Av. Afonso Pena. Todas ofereciam ao consumidor roupas prontas do Rio de Janeiro e

                                                                                             36
de São Paulo e atendiam a uma clientela específica, representada pelas mulheres da alta
sociedade da capital, em vista dos altos preços das peças.
       Contudo, segundo Guerra (1997, apud Silveira, 2002, p. 19) a existência dessas
lojas em Belo Horizonte não significou a desvalorização das costureiras. Em
decorrência dos vários eventos que movimentavam a sociedade, realizados no
Automóvel Club, Iate Clube Pampulha e no Minas Tênis Clube, as mulheres que
participavam dos mesmos tinham o hábito de encomendar os vestidos às costureiras
mais renomadas e informadas sobre as últimas tendências. Logo, GUERRA (1997,
apud Silveira, 2002, p. 19) completa afirmando que:
                          É nesse contexto que a moda dos anos 50 se enquadra. A confecção
                          doméstica de roupas era uma prática comum e as mulheres não estavam
                          habituadas a comprar roupas prontas. A maioria do vestuário era assim
                          concebido – quando não copiado, pelo menos inspirado – baseado nas
                          tendências ditadas pela Alta Costura Francesa. (GUERRA, 1997, p. 171)




       No que concerne à essa passagem as roupas produzidas em Belo Horizonte
atualmente são, constantemente, consideradas como peças artesanais, conferindo
exclusividade à moda mineira. Pode-se dizer então, que essa característica é observada
nas casas de costura existentes na capital na década de 50 e que, desde essa época, a
sociedade mineira valoriza a confecção das roupas produzidas artesanalmente pelas
costureiras de outrora.
       Já na década de sessenta Nouveau (1997, apud Silveira, 2002, p. 20) assevera
que a reformulação do centro da cidade e o surgimento das galerias dão início a outra
concepção de comércio da moda a partir da “conveniência de diferentes serviços em
um mesmo espaço respondendo às novas necessidades de consumo e comportamento
dos belo-horizontinos”.
       Segundo Guerra (1997, apud Silveira, 2002, p. 20) no jornal Estado de Minas de
1964 aparecem reportagens que ensinavam como fazer compras nas boutiques cariocas,
já que com o desenvolvimento da classe média houve significativo aumento nas
compras das roupas confeccionadas no Rio de Janeiro. Tais reportagens evidenciam o
surgimento, no cenário de moda na capital, de mulheres que importam roupas prontas
de grife. O interesse das mineiras pela moda carioca pode ser explicado, segundo
Durand (1988, apud Silveira, 2002, p.20) pelo estilo despojado condizente com o perfil
da carioca o que, de certa forma, simboliza essa década, marcada pela emancipação da
                                                                                           37
mulher. Contudo, somente em 1968 e 1969 é que surgem as primeiras boutiques, as
quais copiavam a moda do Rio de Janeiro, Guerra (1997, apud Silveira, 2002, p. 20).
          Primeiramente as boutiques localizavam-se no centro da cidade. Logo,
transferem-se para a Savassi. Nesse sentido, “a Savassi torna-se lócus da moda belo-
horizontina, perdendo a denominação de bairro residencial”, Nouveau (1997, apud
Silveira, 2002, p. 20). Segundo LEMOS (1988, p. 339) nos anos setenta e oitenta na
Av. Getulio Vargas encontram-se as boutiques sofisticadas:
                            Nessa avenida, ficam algumas das boutiques mais sofisticadas da Savassi,
                            acompanhadas de famosas lojas de calçados. Tanto umas quanto as outras são
                            conhecidas pelo nome e se instalaram na Savassi, ainda nos anos setenta.
                            Quem, na Zona Sul, não conhece a Via Láctea, a Pecado Original, a Z 14, a
                            Chicletes com Banana, a Betina, o Foto Elias, a Isnard, etc...? Nos anos 80,
                            vieram a Zak, a Marco Aurélio, a Equipage, a Yes Brasil, a República dos
                            Gatos, a Zoomp e muitas outras. Circular pela avenida, para os consumidores
                            do lugar, é viver em estado de deslumbramento com as vitrines de neon, que
                            atingem o máximo de sedução na exposição da moda, nos mais variados
                            estilos up-to-date. Por sua vez, o ir e vir dos nobres consumidores representa
                            uma outra exibição de moda, ‘bom gosto’, ‘estilo’, reforçado pelo estatuto
                            das grifes famosas. O percurso destes freqüentadores converte o lugar numa
                            ‘passagem’ a céu aberto, uma vez que eles mesmos se transformam em
                            vitrines, regidos pela magia do fetiche.



          A contribuição desse autor demonstra o comportamento dos belo-horizontinos
em relação à moda. Desde o Parc Royal as pessoas transitam nesses espaços de
compras exibindo as roupas e os acessórios que, conforme a citação, remetem às
‘passagens’ de Paris descritas por Walter Benjamin, as quais eram galerias comerciais
cobertas onde os parisienses realizavam compras e exibiam os artefatos da última
moda.
          De acordo com Silveira (2002) o surgimento das boutiques mineiras surtiu
efeitos sob as roupas feitas sob medida. Há um declínio na confecção das roupas
encomendadas às costureiras e aumento nas vendas de peças prontas.
          Uma curiosidade é que a Betina, citada no trecho acima e fundada em 19649,
atualmente possui lojas além da Savassi, nos bairros: Caiçara, Cidade Jardim e na Rua
Espírito Santo no centro da cidade.
          Anos depois, em 1978, a criação da Amicon (Associação Mineira dos
Confeccionistas) confirma a iniciativa dos confeccionistas mineiros em se unir em prol

9
    Informação extraída no site Betina. Disponível em: http://www.betina.com.br/. Acesso: 25/10/2011

                                                                                                      38
do desenvolvimento da moda em Minas Gerais, tendo Belo Horizonte como centro
regional e um dos pólos da moda nacional. A criação da Amicon demonstra a
existência e a relevância das confecções na capital, assim como a demanda por seus
serviços. GUERRA (1997, apud Silveira, 2002, p. 21) afirma que “este é, portanto um
momento para a consolidação do campo da moda em Minas Gerais. Momento em que
os produtores e criadores de vestuário começavam a investir em moda, a levá-la a
sério”.
          Segundo Nouveau (1997, apud Silveira, 2002, p. 22) em virtude da consolidação
de um mercado competitivo de moda no Brasil, cria-se em 1982, em Belo Horizonte, o
Grupo Mineiro de Moda cujos objetivos são: “atrair para Minas os compradores,
profissionalizar a indústria de roupas com estilo, conseguir melhores condições na
compra de matéria-prima e conquistar espaço na mídia especializada”. Conforme o site
UOL Estilo, entre os integrantes do Grupo Mineiro de Moda está o estilista, hoje
reconhecido nacionalmente, Renato Loureiro, o qual apresenta em suas criações traços
do artesanato regional. É nessa mesma década que a cidade começa a receber lojistas
de outras localidades para a realização de compras nas lojas de Belo Horizonte.
          Ainda na década de 1980 “realiza-se no Hotel Brasilton a primeira feira
relacionada ao setor de confecções a FITEC”, GUERRA (1997, apud Silveira, 2002, p.
22). DURAND (1988, p.76) complementa afirmando que a presença de feiras
financiadas por expositores “atesta que o setor atingiu um mínimo de diferenciação
interna e que existem condições mínimas para certo padrão de cooperação entre
empresas concorrentes e/ou complementares”.
          Para Silveira (2002) a consolidação da capital como centro de referência da
moda nacional tornou-se realidade com a inauguração em 1987 do Curso de Extensão
de Estilismo e Modelagem do Vestuário na Escola de Belas Artes na Universidade
Federal de Minas Gerais. A partir dos anos 90 Belo Horizonte se integra no circuito da
moda nacional. A participação dos estilistas Ronaldo Fraga e Renato Loureiro, as
coleções da grife mineira Patachou no evento de moda São Paulo Fashion Week em
2002 e as constantes exposições à mídia especializada transportam Belo Horizonte para
o cenário da moda nacional. Logo, os shoppings se instalaram na capital fomentando o
mercado do consumo de moda.
          Conforme PIROUTEK (2010, p. 4) no século XXI a moda já fazia parte do dia-
a-dia dos mineiros. “No Festival Minas Cult, em 2005, estilistas mineiros provaram que
                                                                                    39
a moda no Estado era uma das que não copiava o exterior, Rio de Janeiro e São Paulo”.
Em 2007 ocorreu a primeira edição do Minas Trend Preview, o primeiro evento que
antecipa as coleções a serem lançadas que, conforme o site Sistema FIEMG 10 atraiu,
nos três dias de evento, 3,5 mil pessoas dentre elas compradores nacionais e
internacionais que circularam entre os desfiles, debates e as 90 grifes participantes nos
6,5 mil metros quadrados montados para o evento. O evento foi realizado pelo Sistema
FIEMG e teve como patrocinadores da primeira edição a empresa de telecomunicações
Oi, o SEBRAE, o SENAI Nacional, a AngloGold Ashanti e Codemig – Governo do
Estado de Minas Gerais; e o apoio de Abicalçados, Apex (Agencia Brasileira de
Promoção de Exportações e Investimentos) e Abit (Associação Brasileira da Industria
Têxtil). Segundo o mesmo site:
                         O evento alcançou resultados significativos, confirmando a vocação do
                         Estado para o negócio da moda. Segundo os expositores, o crescimento de
                         aproximadamente 30% em relação aos negócios gerados na última coleção
                         trouxe novo ânimo ao setor. Com a estratégica de antecipar tendências e gerar
                         oportunidades de negócios, a primeira edição do Minas Trend Preview deu
                         uma nova cara à moda.



       Segundo Piroutek (2010) o evento introduziu Minas Gerais no Calendário
Brasileiro da Moda além de evidenciar a valorização da cultura mineira nos desfiles
promovidos pelas grifes participantes. Atualmente o evento acontece duas vezes por
ano antecipando as coleções de outono/inverno e primavera/verão.




10
  Informações extraídas do site Sistema FIEMG. Disponível em:
<http://www.fiemg.org.br/Default.aspx?tabid=7198> Acesso: 10/10/2011.
                                                                                                  40
3) O TURISMO DE NEGÓCIOS COM FOCO NOS NEGÓCIOS DE MODA:
  configuração, investimentos e negócios

  3.1) A Indústria Têxtil no Brasil

         A indústria têxtil corresponde à transformação de fibras como o algodão em
  linho, depois em fios e finalmente em tecidos. Esses por sua vez poderão resultar em
  peças do vestuário, de cama, mesa ou banho. Segundo informações extraídas do site do
  Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior11, “a cadeia produtiva
  têxtil e de confecções inicia-se na agropecuária (fibras naturais) ou na indústria química
  (fibras manufaturadas), passando pelo fio, tecidos, beneficiamento, confecção e termina
  no consumidor final”. Essa cadeia é heterogênea no que se refere às matérias-primas
  utilizadas, os processos produtivos e estratégias empresariais.
         O setor têxtil se torna representativo para a economia nacional, pois, conforme o
  site, é o segundo maior gerador do primeiro emprego e o segundo maior empregador da
  indústria de transformação. No ano de 2010 foram registrados 1,7 milhões de
  empregados, dos quais 75% são constituídos pela mão de obra feminina, representa
  3,5% do PIB total do Brasil, além de possuir um volume de produção com a confecção
  de 9,8 bilhões de peças.
         De acordo com o site da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de
  Confecção (ABIT) 12, fundada em 1957 e uma das mais importantes entidades do setor
  econômico do país, o Brasil possui auto-suficiência na produção de algodão e está entre
  os 10 mercados mundiais da indústria têxtil. Devido à sua diversidade cultural e
  extensão territorial, cada região do país atua de forma diferenciada, inovando os meios
  de produção e o tratamento dos tecidos. Dessa forma, a ABIT em parceria com a
  ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) criaram o
  programa Texbrasil (Programa de Exportação da Indústria da Moda Brasileira) em
  2001, com intuito de ajudar as empresas nacionais a se desenvolverem nacionalmente e
  internacionalmente.


  11
       Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Disponível em: <
  http://www.mdic.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=2&menu=316>. Acesso: 20/10/11;
  12
     Representa a força produtiva de 30 mil empresas instaladas por todo o território nacional, empresas
  de todos os portes que empregam mais de 1,7 milhão de trabalhadores e geram, juntas, um
  faturamento      anual     de     US$      47    bilhões.     Fonte:     ABIT.      Disponível    em:
  <http://www.abit.org.br/site/navegacao.asp?id_menu=1&id_sub=3&idioma=PT>. Acesso: 20/10/11
                                                                                                     41
A missão do programa é apoiar e preparar as empresas do setor para
                       apresentar, de maneira organizada, os produtos brasileiros no mercado
                       internacional. Utilizando diversas ferramentas e ações, o Texbrasil objetiva o
                       aumento da plataforma de empresas brasileiras exportadoras, incentivando a
                       inserção das mesmas no mercado globalizado. (ABIT. Disponível em:
                       <http://www.abit.org.br/site/navegacao.asp?id_menu=1&id_sub=3&idioma=
                       PT>. Acesso: 20/10/11)




       Em 23 de junho de 2009 foi criado o Sistema Moda Brasil (SMB) durante o
evento de moda São Paulo Fashion Week, com a coordenação da Secretaria de
Desenvolvimento da Produção (SDP), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior (MDIC) e em parceria com diversas associações ligadas à moda e
design. O SMB é instrumento de articulação entre as cadeias produtivas relacionadas ao
setor da moda: têxtil e de confecções, gemas, jóias, couro, calçados e artefatos,
conforme o site Comunidade Design Brasil. Os objetivos do SMB têm foco no
desenvolvimento de projetos que valorizem a indústria da moda, busquem a solução
conjunta dos problemas, do incentivo ao cooperativismo e associativismo, além de
fomentar a inteligência competitiva.
       O Sistema Moda Brasil faz parte da Política de Desenvolvimento Produtivo
(PDP), lançada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 12 de maio de 2008 e tem
como integrantes os ministérios da Cultura, Ciência e Tecnologia e Relações
Exteriores, a ApexBrasil, a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI),
BNDES, SENAI, SENAC e SEBRAE, segundo o site Comunidade Design Brasil.
       A partir dessas informações observam-se os esforços, a nível nacional, para o
desenvolvimento da cadeia produtiva de moda através de iniciativas e projetos com
adesão de entidades de expressão política e nacional como os Ministérios. Esses, por
sua vez, representam as empresas que compõem o setor, as quais são responsáveis por
gerar empregos e divisas para o país.
       A realização de eventos que fomentam e valorizam a produção da moda nacional
e promovem a divulgação internacional, a fim de atrair investimentos e favorecer a
economia são realizados em todo o país, além de contarem com o apoio do governo.
Nesse contexto, os meios de comunicação como as revistas de moda, os jornais e a
televisão, auxiliam na divulgação e promoção da moda nacional. A expansão desse
setor num mercado competitivo demanda, cada vez mais, a profissionalização que, por
sua vez, incentiva a criação de novos cursos superiores e/ ou técnicos, assim como
                                                                                                 42
estimula o profissional a recorrer aos mesmos. Os eventos, as feiras, as confecções de
estilistas renomados atraem investidores e demandam serviços e equipamentos de
outros setores, como o turismo.

3.2) O contexto mineiro

       O contexto de Belo Horizonte demonstra que existe Turismo de Negócios
relacionados à moda. Todavia, torna-se pertinente averiguar as razões pelas quais Belo
Horizonte vêm sendo escolhida por lojistas de todo o Brasil e do mundo, para
“levarem” peças do vestuário produzidas em solo mineiro, haja vista a proximidade
com as capitais paulistas e cariocas, as quais possuem pólos industriais têxteis, Pereira
(2010).
       Segundo o Censo 2010 (IBGE) Belo Horizonte possui uma população de
2.375.151 de habitantes. O PIB do Estado de Minas Gerais, no ano de 2008, foi de R$
282.522 milhões, sendo que o Estado mineiro possui uma participação na estrutura
industrial brasileira de 10, 96%, o Rio de Janeiro, 12,72% e o estado de São Paulo,
33,89%, segundo dados apresentados no Painel Regional da Indústria Mineira
elaborado pelo Sistema FIEMG13.
       Boriello e Martorelli (2011), em matéria publicada no portal eletrônico Revista
Costura Perfeita, em conformidade com os dados de 2010 apresentados pelo Ministério
do Trabalho e Emprego (MTE) e pelo Instituto de Estudos de Marketing Industrial
(IEMI) num estudo feito pelo Departamento de Economia da Associação Brasileira da
Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT), o Estado de Minas Gerais ocupa o terceiro
lugar no PIB da Cadeia Têxtil e de Confecção, o equivalente a 11,741% da
representação nacional, sendo que no ano de 2011 foram criados 2.084 empregos
formais. Olavo Machado Junior, presidente da Federação das Indústrias do Estado de
Minas Gerais (FIEMG) diz que:




13
  O caderno Painel Regional da Indústria Mineira – Outubro 2011 foi adquirido pelo portal eletrônico
FIEMG. Disponível em: <http://www5.fiemg.com.br/Default.aspx?tabid=13427> Acesso: 05/10/11;

                                                                                                 43
O mercado de confecção é de extrema relevância para a geração de riquezas,
                        emprego e renda. Em Minas Gerais, essa indústria conta com mais de 76 mil
                        trabalhadores. Isso representa pouco mais de 12% dos empregos gerados no
                        setor em todo o Brasil. Dentro do nosso estado, ele é responsável por 18%
                        dos empregos industriais, com produção anual de R$ 1,7 bilhão. Esses
                        números não deixam dúvidas sobre a importância que o segmento possui.
                        (Revista       Costura       Perfeita,     2011.       Disponível      em:
                        http://www.costuraperfeita.com.br/secoes/mostrar_noticia.php?id=1245.
                        Acesso: 20/10/11)




       Além disso, o presidente da FIEMG ressalta que atualmente o mercado mineiro
de confecção procura pela inserção no mercado nacional e internacional, em vista da
qualidade dos produtos e profissionais que trabalham nesse setor atraindo compradores
de grandes pólos de moda. O crescimento do evento Minas Trend Preview comprova a
atratividade   pelos   produtos    mineiros.     Ronaldo     Fraga,    estilista   mineiro     de
reconhecimento internacional e curador do evento, reafirma as declarações de Olavo
complementando que o Salão de Negócios Minas Trend atrai compradores e a atenção
da imprensa para o estado e para a moda mineira.
       Segundo Boriello e Martorelli (2011), de acordo com as informações do
Sindicato das Indústrias do Vestuário de Minas Gerais (Sindivest/MG), existem
atualmente no estado cerca de 6 mil confecções, sem contar as informais, das quais não
há estatística. Michel Aburachid, presidente do sindicato, afirma que são produzidos em
torno de 30 milhões de peças de vestuário ao ano, e revela que os segmentos mais
expressivos são os de casualwear e uniformes profissionais e industriais. Mas, também,
há destaque para as marcas de linhas de festa.
       Exemplo de referência de roupas para festas, conforme as autoras, é a grife
Vivaz, de que, a partir da declaração da diretora da marca Elizabeth Faria, é possível
perceber alguns aspectos da elaboração das peças, os quais constituem no diferencial da
moda mineira. A diretora explica que “a mulher mineira é requintada e se preocupa
demais em estar bem-vestida, com a roupa correta para cada ocasião. Além disso, o
mineiro tem o cuidado e o preciosismo tão importantes para o desenvolvimento da
moda festa, o que faz com que sua mão de obra desenvolva bem esse tipo de produto".
Direcionada ao público AA, A e B a grife surgiu em 1998 no intuito de atender a uma
demanda que busca ter peças exclusivas desenvolvidas para festas. Atualmente a marca
possui duas lojas próprias em Belo Horizonte e está presente em 170 multimarcas pelo

                                                                                              44
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Negócios de Moda e Turismo de Negócios em BH

  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Instituto de Geociências Departamento de Geografia Curso de Graduação em Turismo GABRIELA CARNEIRO REIS Negócios de Moda sob a perspectiva do Turismo de Negócios Belo Horizonte Bacharelado em Turismo da Universidade Federal de Minas Gerais 2011
  • 2. Gabriela Carneiro Reis Negócios de Moda sob a perspectiva do Turismo de Negócios Belo Horizonte Bacharelado em Turismo da Universidade Federal de Minas Gerais Dezembro de 2011 2
  • 3. Gabriela Carneiro Reis Negócios de Moda sob a perspectiva do Turismo de Negócios Monografia apresentada ao Curso de Turismo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) como requisito parcial para a obtenção do título de turismólogo. Área de concentração: Turismo Orientador: Prof. Allaoua Saadi Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Belo Horizonte Bacharelado em Turismo da Universidade Federal de Minas Gerais Dezembro de 2011 3
  • 4. BANCA EXAMINADORA Allaoua Saadi Márcia Maria Lousada 4
  • 5. AGRADECIMENTOS Agradeço em primeiro lugar a Deus pela oportunidade de concluir o meu trabalho e por atender às minhas orações me dando força, esclarecimentos e concentração. À minha família, vó, vô, Edmar, tios, tias e primos, pela compreensão por eu não participar dos momentos de confraternização familiar. Em especial, à minha mãe pelos incentivos, mesmo que em excesso, e por toda a paciência do mundo por me aturar nos momentos de estresse. À minha irmã, por conseguir ser privada por alguns dias do uso do computador e por tornar o meu texto mais claro, coeso e menos repetitivo. Ao meu tio Márcio por dispor de horas do seu tempo me ajudando a encontrar os caminhos a serem seguidos. Agradeço ao Leo por aceitar a minha ausência e o meu egoísmo durante esses meses e à sua família pela paciência e carinho constantes. A todos os Consultores que responderam ao questionário e, em especial, a Dauro Andrade por sempre me atender. A Angela Sampaio por me receber e ao Wagner Vinício pela disponibilidade. As informações que vocês forneceram foram cruciais para a concretização desse trabalho. À Patrícia Apê Las-Cazas pela oportunidade de assistir ao meu primeiro desfile de moda e à sua família pela ótima manhã de conversa. Ao professor Allaoua Saadi pela confiança e pela “liberdade” oferecida com que pude conduzir o meu trabalho. E aos meus amigos cujos encontros foram mais virtuais do que pessoais e por entenderem isso! Aos novos amigos do curso de Design de Moda. Adorei conhecê-los! E aos meus companheiros de monografia do turismo por compartilharem e tornarem os momentos de angústia mais engraçados e menos perturbadores! 5
  • 6. “Considero mais corajoso aquele que supera seus próprios desejos do que aquele que conquista seus inimigos, porque a vitória mais dura é sobre nós mesmos.” Aristóteles 6
  • 7. SUMÁRIO 1) INTRODUÇÃO..........................................................................................................9 1.1) Turismo, uma atividade de alcance..........................................................................9 1.2) O Turismo de Negócios..........................................................................................13 1.3) Os Negócios de Moda............................................................................................16 2) UM POUCO SOBRE MODA..................................................................................17 2.1) Antes da moda, o Vestuário...................................................................................17 2.2) A Moda...................................................................................................................22 2.2.1) A Moda e seus desdobramentos..........................................................................25 2.2.2) Termos que devem ser esclarecidos....................................................................31 2.3) A Moda em Belo Horizonte, passado e presente...................................................34 3) O TURISMO DE NEGÓCIOS COM FOCO NOS NEGÓCIOS DE MODA: configuração, investimentos e negócios........................................................................41 3.1) A Indústria Têxtil no Brasil....................................................................................41 3.2) O contexto mineiro.................................................................................................43 3.2.1) Minas Trend Preview..........................................................................................50 4) METODOLOGIA....................................................................................................54 4.1) Esclarecimentos acerca dos caminhos da pesquisa.............................................54 4.1.2) Esclarecimentos acerca da análise dos dados obtidos através dos questionários..................................................................................................................59 5) OS CONSULTORES E O PRADO.........................................................................60 5.1) Os Consultores em Negócios de Moda..................................................................60 5.1.2) O bairro Prado.....................................................................................................62 6) AS ORGANIZAÇÕES............................................................................................64 6.1) As organizações de BH.........................................................................................64 6.1.1) Dauro Andrade e Equipe – Consultores em Negócios de Moda.......................65 6.1.2) Associação dos Consultores em Negócio de Moda (ACNM)...........................67 6.1.3) Cooperativa de Trabalho dos Profissionais em Negócios de Moda do Estado de Minas Gerais – Coopermoda.........................................................................................68 7
  • 8. 6.2) Uma rede que se forma..........................................................................................69 7) POR QUE E COMO O TURISMO DE NEGÓCIOS RELACIONADO À MODA EM BELO HORIZONTE SE CONFIGURA?............................................................72 7.1) Análise dos questionários......................................................................................72 8) O TURISMO DE NEGÓCIOS DE MODA: reflexões e considerações.................82 8.1) O Turismo de Negócios de Moda..........................................................................82 8.1.2) Reflexões sobre o Turismo de Negócios de Moda.............................................83 8.1.3) Considerações finais sobre o Turismo de Negócios de Moda..............................................................................................................................85 9) BIBLIOGRAFIA......................................................................................................88 9.1) Sites Consultados...................................................................................................90 ANEXOS.......................................................................................................................92 8
  • 9. 1) INTRODUÇÃO 1.1) Turismo, uma atividade de alcance O turismo é uma atividade que apresenta diferentes formas e meios de ser realizada, além dos diversos desdobramentos que pode gerar. Nesse sentido, se renova ou se re-adapta em função do contexto em que se insere, seja no âmbito local ou global, sob aspectos econômicos, sociais, ambientais e culturais. Movimenta a economia, pessoas e uma estrutura que envolve meios de transportes, serviços de alimentação, hospedagens, atrativos, iniciativa pública e privada, dentre outros. É capaz de gerar empregos, renda, oportunidades de educação, contato com diferentes culturas e com a natureza. E pode provocar, também, impactos negativos. As motivações dos viajantes determinam o destino escolhido, os serviços e os equipamentos turísticos a serem utilizados, os custos e os possíveis gastos. Assim, o turismo oferece inúmeras possibilidades de interpretações, de estudos, de práticas, e a possibilidade de associá-lo a outras atividades que podem envolvê-lo diretamente. A partir do século XX, o turismo passa a ser reconhecido como uma próspera atividade socioeconômica, capaz de movimentar diversos setores da economia e criar novos mercados. Após a Segunda Guerra, apresenta expressivo crescimento num contexto cada vez mais globalizado. Sob esse aspecto, no que se refere à globalização na sociedade e as especificações do turismo, essa pode ser considerada como um fenômeno de “convulsão mundial”, como um “feixe intricado de elementos que mantêm relações dinâmicas entre si nas esferas política, social, econômica e cultural da sociedade contemporânea” RODRIGUES (1999, apud Pimentel, 2005, p. 9). Nesse contexto, as empresas surgem como centros de poder cujas influências podem ir além daquelas exercidas pelo poder dos Estados-nação. Esses novos centros de poder surgem devido a fatores como a descontinuidade territorial expressa nas relações econômicas de tais empresas, bem como a evolução da ciência, tecnologia e da informação – ingredientes chave na manutenção do funcionamento da máquina global capitalista. (RODRIGUES, 1999 apud PIMENTEL, 2005, p. 9). A globalização, desse modo, desencadeou tal “convulsão mundial” representada pela pluralidade e complexidade das relações que se desencadearam até os dias atuais. Os “novos centros de poder” surgiram, e ainda surgem, configurando e re-configurando o panorama atual estabelecendo e criando novos elementos do “feixe”, ampliando e 9
  • 10. ‘complexificando’ as “relações dinâmicas”. Desde modo, Pimentel (2005), a partir das contribuições de Rodrigues (1999), apresenta considerações relevantes a respeito da atividade turística nesse contexto: Tal fenômeno tem se desdobrado e servido de catalisador a uma pluralidade de relações socioeconômicas e culturais nas sociedades contemporâneas, dentre elas, o surgimento de novos produtos, de novas práticas socioculturais econômicas, novas formas de produção e consumo, etc. Conseqüentemente surgem novos profissionais habilitados a desempenharem a função de desenvolverem tais produtos e serviços, como por exemplo, os turismólogos desenvolvendo funções da atividade turística. (PIMENTEL, 2005, p. 10). A respeito da análise de Pimentel (2005) é possível refletir sobre o contexto em que a atividade turística teve seu maior crescimento (após a Segunda Guerra). Deste modo, o turismo pode ser entendido como prática econômica e social na sociedade atual, sob circunstâncias em que a abrangência dos mercados levou às especificações da atividade turística, dos serviços e equipamentos a ela relacionados. Igualmente, percebe- se sua complexidade e abrangência. Ao evidenciá-las, é possível o melhor entendimento das abordagens possíveis, isto é, pode-se explicitar algumas das atividades econômicas e serviços que o turismo envolve, a fim de perceber sua amplitude. Para tanto, Beni (2001) analisa o turismo sob uma perspectiva sistêmica. Antes, porém, cabe esclarecer que a abordagem sobre sistemas, neste momento do trabalho, é empregada para demonstrar a complexidade do turismo, suas relações com outros setores e atividades. Não será realizada nenhuma discussão a respeito dessa definição, nem se pretende questionar o turismo concebido como um sistema. Deste modo, o autor define sistema como: (...) um conjunto de partes que interagem de modo a atingir um determinado fim, de acordo com um plano ou princípio; ou conjunto de procedimentos, doutrinas, idéias ou princípios, logicamente ordenados e coesos com intenção de descrever, explicar ou dirigir o funcionamento de um todo. (BENI, 2001, p. 23) Beni (2001), sobre esse assunto, apresenta a conceituação de sistemas na perspectiva de Miller1 que o define como “(...) um conjunto de unidades com relações entre si”, e, neste conjunto “(...) as unidades possuem propriedades comuns”, sendo que “o estado de cada unidade é controlado, condicionado ou dependente do estado das outras unidades”. Segundo as considerações de Miller, Beni (2001, p. 23) reflete que “o 1 J.G. Miller, “Living systems: basic concepts”, Behavioral Science, 10, 1965. 10
  • 11. conjunto encontra-se organizado em virtude das inter-relações entre as unidades, e seu grau de organização permite que assuma a função de um todo que é maior que a soma de suas partes”. Assim, a partir da contribuição dos autores a respeito de sistemas, pode-se pensar o turismo como um conjunto de partes que, ao se unirem, interagirem e funcionarem em conjunto gera, dentre outras finalidades, a viagem, que será definida e acontecerá conforme as motivações e interesses que movem o indivíduo. Entretanto, para que a viagem ocorra, são necessários serviços e equipamentos que permitam o deslocamento do indivíduo e sua permanência em outro local diferente de onde reside. Para Beni (2001, p. 38) os serviços turísticos “são destinados à satisfação das motivações, necessidades e preferências do turista”. Podem ser classificados da seguinte forma, conforme o autor: 1 – receptivos (atividades hoteleiras e extra-hoteleiras); 2 – de alimentação; 3 – de transporte (da residência à destinação turística e no centro receptor); 4 – públicos (administração turística, postos de informações, etc.); 5 – de recreação e entretenimento na área receptora. (BENI, 2001, p. 38) Nesse sentido, os serviços de transportes estão associados a outros serviços e envolvem infra-estrutura, políticas e incentivos para sua constante melhoria e desenvolvimento. Os serviços de alimentação e de hotelaria possuem dinâmicas próprias. Ou seja, cada estabelecimento possui seu sistema de funcionamento que pode se relacionar a outros sistemas, como os transportes, por exemplo. Estes, por sua vez, se relacionam aos serviços públicos que provêm subsídios para seu funcionamento. Logo, podem existir partes, sistemas que possuem dinâmicas próprias, coexistem e se relacionam de forma independente ou não, o que evidencia a complexidade das relações inerentes às atividades turísticas. Sob esse enfoque, essa atividade utiliza equipamentos e serviços “turísticos” que, por sua vez, necessitam de vários outros serviços e equipamentos, sendo que a motivação da viagem irá interferir na escolha dos mesmos, assim como dos destinos. Cabe ressaltar a importância dos transportes (que implicam em deslocamento) para o turismo. Nesse sentido, Beni (2001) conceitua o Turismo da seguinte forma: 11
  • 12. Tenho conceituado Turismo como um elaborado e complexo processo de decisão sobre o que visitar, onde, como e a que preço. Nesse processo intervêm inúmeros fatores de realização pessoal e social, de natureza motivacional, econômica, cultural, ecológica e científica que ditam a escolha dos destinos, a permanência, os meios de transporte e o alojamento, bem como o objetivo da viagem em si para a fruição tanto material como subjetiva dos conteúdos de sonhos, desejos, de imaginação projetiva, de enriquecimento existencial histórico-humanístico, profissional, e de expansão de negócios. Esse consumo é feito por meio de roteiros interativos espontâneos ou dirigidos, compreendendo a compra de bens e serviços da oferta original e diferencial das atrações e dos equipamentos a ela agregados em mercados globais com produtos de qualidade e competitivos. (BENI, 2001, p. 37) A definição proposta por Beni (2001) considera desde a motivação à forma como a viagem será concebida, a “globalidade dos mercados” em relação aos produtos ofertados, os serviços e equipamentos, além de considerar outras atividades associadas ao turismo. Nesse sentido, destaca sua complexidade e amplitude no que diz respeito a toda a estrutura utilizada, e à possibilidade de ser realizado por variadas motivações, assim como de se associar a outros setores da economia. O autor também contempla os negócios, uma das diversas motivações para que uma viagem aconteça, cujos objetivos podem variar entre fechar um negócio, conquistar novos mercados, estabelecer parcerias, dentre outros. Sob esse aspecto, o ato de se fazer negócios, ou realizar um negócio, pode se relacionar com o turismo e configurar-se no “Turismo de Negócios”. Assim exposto e evidenciado o caráter dinâmico e abrangente do turismo, é natural surgirem motivações específicas que impulsionam determinadas práticas e atividades, como o Turismo de Negócios. No que concerne às motivações que levam à “realização do Turismo de Negócios” no contexto de Belo Horizonte e do presente trabalho, a moda mineira é responsável pela entrada e permanência de lojistas na cidade. Dessa forma, o Turismo de Negócios será analisado com foco nos Negócio de Moda recorrentes, os quais mobilizam os serviços e equipamentos turísticos a partir da entrada e permanência de compradores lojistas de outras cidades, estados e países na cidade e contribuem para a capital e para o estado, no que se refere à visibilidade e à movimentação das economias da moda e do turismo. Para tanto, uma abordagem a respeito do Turismo de Negócios se faz relevante para o balizamento dos temas aqui tratados. O objetivo desta revisão é esclarecer sobre esse segmento do turismo, no sentido em que pode oferecer suporte para os assuntos relacionados aos Negócios de Moda no contexto de Belo Horizonte. 12
  • 13. 1.2) O Turismo de Negócios Conforme Silva e Freitas (2003), o turismo baseado no deslocamento espaço temporal surgiu e sempre esteve associado à necessidade de comércio com outros povos. Dessa forma, conforme as duas primeiras autoras, os fenícios teriam sido os que desenvolveram o turismo baseado no conceito moderno de viagem, já que a Fenícia era uma região pobre para a agricultura, fazendo as pessoas partirem em busca de meios de subsistência, através do comércio internacional com a China, Índia e a Pérsia, por volta de 1000 anos (a.C). Sob tais fatos históricos, essas autoras consideram que o turismo de negócios poderia ter antecedido o turismo de lazer. Segundo a contribuição das mesmas, observa-se nesses deslocamentos a busca pela sobrevivência que, ao mesmo tempo, co-existe com um comércio internacional, estruturado na medida em que gera movimentação de pessoas e mercadorias articuladas por diversos interesses, como a sobrevivência e o acesso a artigos procedentes, apenas de determinados locais, além das fronteiras nacionais. Nesse sentido, as motivações comerciais sempre foram razões de deslocamentos, mesmo que, em alguns momentos históricos, não tenham sido o principal objetivo de viagem. Parte-se, então, do pressuposto de que os deslocamentos eram condicionados pelos contextos e conjunturas locais. No percurso do tempo o que mudou, ou pelo menos foi evidenciado ou ampliado, foram as motivações pelas quais as viagens ocorrem. O desenvolvimento dos transportes, sob esse contexto, modifica a intensidade e a agilidade desses deslocamentos, da mesma forma que o incremento da tecnologia e a expansão dos mercados os influenciam. Sobre a história da evolução do turismo segundo Ruschmann (2001), a OMT (Organização Mundial de Turismo) considera que a evolução do turismo é condicionada por forças de mercado como demanda, oferta, distribuição e variáveis exógenas. Tais forças podem interferir de uma maneira ou de outra nos fluxos turísticos. A mesma autora destaca as variáveis mais importantes: as demográficas, a evolução socioeconômica, as oscilações políticas e de legislação de cada país ou governo, o progresso tecnológico, evolução comercial; a infra-estrutura de transportes e a segurança das viagens. Dessa forma, “as variáveis econômicas seriam suficientes para interpretar e explicar o surgimento e a mudança de fluxos turísticos entre as diversas 13
  • 14. regiões ao longo do tempo, servindo inclusive para determinar possíveis cenários de configuração da atividade para o futuro” PIMENTEL (2005, p. 43). A consideração feita por essa autora se torna relevante no que toca o objeto de estudo desta pesquisa e no entendimento do turismo como uma atividade complexa, cujas motivações que levam à realização de uma viagem estão relacionadas aos contextos pela oferta de produtos e serviços. Essa consideração é importante na medida em que o Turismo de Negócios acontece a partir da entrada e permanência de lojistas em Belo Horizonte para comprar roupas fabricadas pelas grifes mineiras (uma variável de cunho econômico e comercial) o que configura essa modalidade de turismo na capital e alimenta projetos e investimentos relacionados ao ramo da moda. Tais projetos e investimentos incentivam essas viagens possibilitando futuros cenários, tanto para a atividade turística quanto para a moda. Relativo às segmentações de mercado, essas ocorreram, e ainda ocorrem, num contexto globalizado e favorável para o surgimento de novas profissões e demandas de mercado. O turismo não ficou de fora, já que atualmente (séc. XXI) existem inúmeras especificações para essa atividade como: Ecoturismo, Turismo Religioso, Turismo GLS, etc. Distinguir uma forma da outra no turismo se torna útil para fins comerciais, para o direcionamento do produto final turístico a um público específico, juntamente com a contribuição do marketing, para fins estatísticos, de pesquisas, dentre outros. Nesse sentido, o Turismo de Negócios tem na sua essência o deslocamento realizado para a concretização de transações comerciais que acontecem sob diferentes contextos e interesses, fazendo com que os empresários e os envolvidos nessa atividade, busquem por produtos, serviços e acordos, os quais possam acrescentar valor, tanto financeiro quanto simbólico, ao seu negócio ou à entidade pra qual trabalha. Ruschmann (2001) por sua vez, aborda uma perspectiva positiva em relação ao segmento Turismo de Negócios. A autora afirma que para o turismo mundial, esse segmento encontra-se em ampla expansão e tem superado os índices de crescimento em relação a outros mais tradicionais, como o ecoturismo. Nesse sentido, o turismo de negócios revela-se uma das áreas mais promissoras do turismo no futuro, pois analistas consideram que com o estreitamento das distâncias e a diminuição do tempo gasto nos deslocamentos existe a tendência na intensificação do fluxo de negócios e das atividades comerciais em âmbito mundial, levando ao aumento do turismo de um modo geral. 14
  • 15. Sob esse aspecto, é valido, então, abordar uma definição a respeito do segmento do turismo de negócios de modo a delinear o assunto aqui tratado. Para tanto será utilizada a definição proposta por BENI (2001, p. 423): Deslocamentos de executivos e homens de negócio, portanto turistas potenciais, que afluem aos grandes centros empresariais e cosmopolitas a fim de efetuarem transações e atividades profissionais, comerciais, e industriais, empregando seu tempo livre no consumo de recreação e entretenimento típicos desses grandes centros, incluindo-se também a freqüência a restaurantes com gastronomia típica e internacional. Essa definição, no contexto deste trabalho, sugere que os “homens de negócio” após a realização das atividades relacionadas ao seu negócio podem e utilizam os serviços, equipamentos e atrativos do local onde se encontram temporariamente. É uma definição ampla, pois possibilita o olhar sobre o “homem de negócio” como potencial turista e amplia as perspectivas sobre o lugar visitado na medida em que os serviços, equipamentos e atrativos podem ser estruturados e trabalhados para atender a todos os tipos de turistas. Contudo, cabe ressaltar que os atrativos, serviços e equipamentos não devem ser melhorados somente para aqueles que vêm de fora, mas também para os moradores do local, pois a valorização do turismo deve acontecer de dentro para fora. Proporcionar melhorias visando apenas o turismo é desvalorizar o que o local oferece. Faz-se referência a esse aspecto, pois a forma como o próprio belo-horizontino vê a capital foi alvo de questionamentos em algumas entrevistas realizadas para esse trabalho. Transferindo essa modalidade para contexto do Brasil e de Minas Gerais, Lamos (2003), em conformidade com os dados apresentados por Boiteux e Werner (2002), evidencia que o que motiva os estrangeiros a visitar o país é, em primeiro lugar, a busca por oportunidades de lazer – o Turismo de Lazer - com 50,01% das intenções. Na segunda posição, estão as motivações decorrentes das possibilidades para realização de negócios - o Turismo de Negócios - com 23,40% do total. Assim, o Turismo de Negócios se manifesta bastante representativo entre as motivações de deslocamento das pessoas em direção ao Brasil. Para Lamos (2003), esta percepção evidencia, sobretudo, uma falta de perspectiva econômica e visão empreendedora de alguns estados da Federação, em que 15
  • 16. o turismo poderia ser vinculado a atrativos naturais e pouco se faz no sentido da promoção dos mesmos. Este mesmo autor, ainda a respeito dessa falta de empreendedorismo, pontua o que ele mesmo chama de “oportunismo mineiro” (LAMOS, 2003, p. 27), onde Minas Gerais apresenta maior participação no turismo de negócios, se comparado ao Espírito Santo e ao sul (exceto pelo Estado do Paraná). Tal oportunismo refere-se ao caráter empresarial, principalmente em Belo Horizonte, “e a não utilização dos recursos potencialmente turísticos de forma ampla”. Dessa forma, evidenciado o aspecto empresarial de Belo Horizonte para o Turismo de Negócios, a modalidade será analisada com foco nos Negócios de Moda. 1.3) Os Negócios de Moda Os Negócios de Moda em Belo Horizonte consistem nas compras realizadas por lojistas de outras localidades para adquirirem peças do vestuário das confecções das marcas mineiras. Devido a esse movimento, surgiram associações, escritórios e cooperativas que dispõem de Consultores em Negócios de Moda. Esses recebem os lojistas, providenciam os serviços de reserva de hospedagem e passagens, traslados, oferecem atendimento especializado durante a realização das compras, selecionam, embalam e despacham mercadorias. Pode-se observar a expansão do leque de motivos relacionados aos deslocamentos originados pelos negócios de moda ao longo do tempo. Tal alargamento provocou a expansão dos serviços turísticos apropriados e arranjados para receber esse movimento. Os hotéis, por exemplo, estabelecem parcerias com as diversas organizações de consultores, demonstrando a postura desse serviço em relação a essa atividade. Fica, então, evidente que, no caso de Belo Horizonte, existe o Turismo de Negócios relacionado à moda, originado pelos produtos e serviços que são ofertados na capital. 16
  • 17. 2) UM POUCO SOBRE MODA 2.1) Antes da moda, o Vestuário Os deslocamentos ocorriam por diferentes interesses em que a necessidade de sobrevivência era um dos motivos da realização das viagens. A utilização de vestimentas também foi resultado da necessidade de adaptação na evolução do homem. Ambos os setores sofreram influências diante das transformações ocorridas na sociedade no percurso histórico, até se configurarem nas concepções atuais de moda e turismo, os quais abrangem e movimentam diversos setores. Apresentadas considerações importantes a respeito do turismo e da modalidade de Turismo de Negócios sob a ótica dos Negócios de Moda, nesse capítulo evidenciam- se alguns aspectos sobre o vestuário e a moda, com o intuito de esclarecer suas implicações na história das sociedades, já que a concepção atual de “moda” foi construída no percurso do tempo conforme as transformações e evoluções do vestuário e dos modos de vida. É válido destacar que não se pretende expor a história completa do vestuário tanto no que se refere às suas transformações quanto de todos os processos de construção da concepção atual sobre “moda”, mesmo porque não é o objetivo da pesquisa e seria necessário despender de muito tempo, haja vista a quantidade de material disponível sobre o assunto. Entretanto, selecionar e evidenciar alguns traços dessa evolução permite entender um pouco mais sobre o desenvolvimento da indumentária, uma vez que reflete as características sociais, econômicas e culturais de determinada época, além de fornecer subsídios que esclarecem a relação entre homem e vestes, logo, homem e moda, e todas as implicações que provocam no que tange às esferas do consumo e das indústrias aos estudos e cursos acadêmicos de moda. Sob uma perspectiva histórica, Braudel (1995) aborda a “vasta trama das civilizações” e o que está inserido nela, desde a alimentação, passando pelo vestuário à organização das cidades, entre os séculos XV e XVIII. Sobre o vestuário o autor inicia sua discussão afirmando que a história das roupas “levanta todos os problemas, os das matérias-primas, dos processos de fabrico, dos custos de produção, da fixidez cultural, das moedas, das hierarquias sociais”, BRAUDEL (1995, p. 281). Nesse sentido, assevera que o traje denuncia posições sociais, pois “ninguém resistia ao desejo de usar 17
  • 18. a roupa, que no Ocidente, é sinônimo de promoção social, em que os governos nunca impediram a ostentação do luxo pelos abastados da nobreza”. Dessa maneira, tem-se o vestuário, entre os séculos XV e XVIII, como a principal afirmação social, distinguindo aqueles que pertencem a classes sociais nobres, possuidores de riqueza e prestígio social, dos mais pobres. A roupa pode denunciar poder, superioridade e o pertencimento a uma classe social prestigiada. O luxo e a ostentação são observados nos trajes, nos sapatos, perucas, jóias, dentre outros artefatos. Como resultado, “até mesmo no mercado de uma cidade basta uma olhadela para distinguir burgueses de gente do povo”, BRAUDEL (1995, p. 281). Em contrapartida, Braudel (1995) expõe que se a sociedade fosse estável haveria poucas mudanças no vestuário ao longo dos anos. É o caso da China, cujo traje típico mandarim, pouco antes do século XV, permanece igual no século XVIII. No Oriente, as variações e modificações nos trajes são quase que imperceptíveis como relatado pelo mesmo autor: Na China, a forma da roupa raramente muda por moda ou por capricho. O vestuário que convém ao estado de um homem e à estação do ano em que o usa é sempre feito da mesma maneira. As próprias mulheres não têm modas novas, a não ser no arranjo das flores e outros ornamentos que põem na cabeça. Também o Japão é conservador [...]. Ei-lo durante séculos fiel ao quimono, roupa de vestir em casa pouco diferente do atual. (BRAUDEL, 1995, p. 282) As roupas das classes mais baixas não possuem muitas variedades. A roupa cotidiana, para o trabalho, não tem beleza, mas a de festa sim. Muitas vezes é transmitida de pai para filho. No contexto do Oriente, da África e das Américas, onde as roupas não apresentaram modificações constantes no decorrer dos séculos, os trajes de camponeses, índios, das classes menos abastadas em geral, eram simples e a matéria- prima utilizada era o algodão, na maioria dos casos. Na Europa, os pobres não contam com variações nas vestimentas no decorrer dos anos, se comparados às vestimentas burguesas. A partir da observação de quadros na pinacoteca de Munique, Braudel (1995) conclui que os trajes diferenciam humildes vendedores ou pescadores dos grupos de burgueses, visitantes e transeuntes. Referindo-se ao traje camponês BRAUDEL (1995, p. 284) acrescenta que: 18
  • 19. É certo que, semelhante na sua aparência, o traje camponês, no entanto, muda em certos pormenores importantes. No século XIII começa a usar-se roupa interior, na França e em outros países. Na Sardenha, no século XVIII, é de regra, em sinal de luto, conservar a mesma camisa durante um ano: quer pelo menos dizer que o camponês usa a camisa e que deixar de trocá-la é um sacrifício. Ora, sabemos que outrora, no século XVI, segundo tantos quadros conhecidos, ricos e pobres dormiam nus nas suas camas. Esse trecho demonstra a relação entre a sociedade e seus estilos de vida e as vestimentas. São importantes, pois evidenciam o papel do vestuário no decorrer dos anos: como era empregado e atribuído, tanto no meio social quanto no íntimo do lar. Em contraste ao mundo dos pobres, a Europa dos ricos e das modas, segundo Braudel (1995), é permeada por caprichos responsáveis por uma pequena parcela da sociedade. A “loucura das mudanças” tardou a se instalar. Contudo, BRAUDEL (1995, p. 286) assevera que a moda “não é apenas abundância, quantidade e profusão. Consiste em mudar tudo a qualquer momento, uma questão de estação, de dia e de hora.” O “império” da moda aplica sua severidade após 1700, em que seu sentido é atribuído àquilo que está na atualidade, ou seja, seguir o que é considerado atual, novo. Logo, a partir de 1700 pode-se inferir que a moda, tal como hoje é atribuída de seu aspecto efêmero, revelador de tendências e de consumo, começa a delinear-se. Ainda hoje (Séc. XXI) artigos do vestuário, sejam roupas, calçados, bolsas, etc., de determinadas marcas são consumidos e, muitas vezes, utilizados para indicar a capacidade de compra, ou seja, o quanto o indivíduo pode gastar. Isso lhe confere certo poder e “superioridade” perante o outro e ao círculo social de convivência, além de poder servir de subsídio para alimentar a auto-estima. Há também aqueles que consomem artigos de luxo, de marcas consagradas no mercado devido à qualidade que apresentam no acabamento, qualidade do tecido, exclusividade, durabilidade e caimento. Retomando o contexto europeu, BRAUDEL (1995, p. 288) revela que “preponderante desde o século XVII a moda francesa só se afirma soberana no século XVIII. Nos quatro cantos da Europa das Luzes, a moda é lançada, a partir de Paris, por bonecas manequins que cedo aparecem”. Em contrapartida ao glamour da moda, essa “apresenta suas reticências” conforme o autor, pois “à margem, fica a imensa inércia dos pobres”. 19
  • 20. Boucher (2010) por sua vez, aborda a evolução do vestuário a partir das suas funções, mas sem considerá-lo isoladamente das condições materiais, dos aspectos culturais, políticos, de religião, econômicos, sociais e ambientais. Segundo o autor, “é indubitável que, desde a origem, a roupa deve ter correspondido a outras funções que não à simples utilidade, particularmente no que se refere ao seu papel mágico”, BOUCHER (2010, p. 13). Dessa forma, inicia sua análise desde o homem pré-histórico, em que o mesmo, sob o papel mágico da indumentária, utiliza de atributos que o cobrissem de um poder confiscado de outras criaturas e o defendessem de influências maléficas. Nesse sentido, além de proteção aos seus órgãos genitais e contra o clima severo de determinadas regiões, as vestes também satisfaziam um desejo de representação. “Enfeitar-se com adornos era identificar-se a outra criatura: animal, deus, herói ou homem”, BOUCHER (2010, p. 13). Assim como Braudel (1995), Boucher (2010, p. 14) corrobora com a concepção de que as roupas correspondem também a um desejo de exprimir autoridade, sendo que para um chefe, são atributos que lhe conferem poder; para um guerreiro é obter um elemento que beneficiará e exaltará seu corpo. Boucher (2010) afirma que as funções do vestuário acompanharam a evolução das civilizações, que por sua vez determinava a do vestuário. O aparecimento dessas funções acontece devido aos elementos essenciais das civilizações, surgidos por meio de forças sejam elas por ação da vanguarda, por reação a essa ou até mesmo pela estabilidade. A respeito da consideração anterior, ao traduzi-la para o contexto atual, nota-se seu valor já que, atualmente a tecnologia tem possibilitado o desenvolvimento de roupas provenientes de materiais recicláveis como a garrafa pet. Esse fato demonstra a exigência da sociedade pela utilização de produtos desenvolvidos a partir de um processo que contribua de forma positiva com o meio natural, em vista das discussões a respeito da sustentabilidade, reciclagem e preservação do meio ambiente, que por sua vez, envolvem as esferas políticas, econômicas e culturais. Dessa forma, BOUCHER (2010, p. 15) contribui afirmando que: A evolução do vestuário deve ser associada ao conjunto dos fenômenos paralelos de cada época, em que as “dominantes” diferem no tempo e no espaço. Esse exame comprova que não é nem a raça nem o tipo étnico nem o regime político nem o talento artístico que, isoladamente, acarretam as diferenças no vestuário, mas sim a natureza da civilização e o estilo de vida. 20
  • 21. Sob essa perspectiva, o autor ainda afirma que se a evolução do vestuário tivesse de ser simplificada, seria dividida em três partes. A primeira fase corresponderia ao período da Antiguidade ao século XIV, em que a roupa, em grande parte das civilizações não sofre muitas mudanças, não há caráter nacional e é uniforme em todas as classes. A segunda fase estender-se-ia do século XIV, quando as roupas tornam-se ajustadas e mais curtas devido, ao intenso desenvolvimento industrial no século XIX. Nessa fase, o vestuário adquire aspectos pessoais e nacionais, passa por constantes modificações e destaca-se o surgimento inédito da moda, no sentido moderno da palavra. Além disso, passa a depender cada vez mais do contexto no que se refere à organização política e comercial, desvincula-se completamente de qualquer vestígio religioso e cada nação forma seu estilo de roupa, sendo que o indivíduo a adapta ao seu gosto. Por fim, a terceira fase, que tem início em meados do século XIX com o desenvolvimento da civilização moderna até os dias atuais. Tal fase é marcada por um vestuário cada vez menos pessoal e mais internacional, influenciado pelo maquinismo gerador da confecção e do expansionismo europeu. Ocorre o surgimento da alta-costura e os “imperativos de uma moda cada vez mais efêmera ao privilégio de uma classe em que o senso do luxo tradicional e o poder do dinheiro dominam as diferenças sociais”, BOUCHER (2010, p. 17). Desse modo, o mesmo autor conclui a respeito dessas fases que: É a sucessão dessas predominâncias – inicialmente, a das influencias religiosas e místicas, depois, a dos esforços de liberação espiritual e social e, por fim, a das concentrações de interesses econômicos – que deve constituir o arcabouço de todo estudo histórico do vestuário. (BOUCHER, 2010, p. 17). Calanca (2008), por sua vez, descreve a evolução da moda pelo viés da história social. No que concerne aos aspectos que remetem à sexualidade e a aparência relacionadas às vestes, revela que as modificações das estruturas das vestimentas masculinas e femininas se fixam a partir do século XIV, o que representa traços da estética e da sedução, pois a roupa feminina, diferente da masculina, sexualiza a aparência. Com efeito, nota-se que, desde o século XIV, as roupas passam a ter uma conotação sexual que perdura até os dias de hoje. A respeito dessa característica atribuída às vestimentas, pode-se considerar que nela se desdobram aspectos 21
  • 22. psicológicos, na medida em que incita os imaginários masculinos e femininos e estimulam a auto-estima dos indivíduos. Dessa maneira, tem-se nas transformações e na evolução do vestuário aspectos da sociedade e dos modos de vida no percurso do tempo, em que a roupas inicialmente de aspecto utilitário, passam a representar status, luxo e sexualidade, em contraste ao período em que não havia distinções entre as roupas femininas e masculinas. Logo, a moda passa a compor uma indústria que movimenta a economia em âmbito global, gera empregos, dita tendências e é alimentada pela Indústria Cultural. É a partir da evolução da indumentária que são observadas características de determinada época e a importância que as contribuições de autores, como os citados acima, trazem acerca sobre o que realmente significa “moda” e o seu principal instrumento, o vestuário. Novamente tem-se a evidência de um setor complexo e amplo. 2.2) A Moda Calanca (2008) analisa a moda pelo viés da história social, o que permite maior assimilação dos contextos histórico-sociais e sua influência na construção da concepção de moda atual. Nesse sentido, para a autora alguns termos da linguagem corrente elucidam realidades sociais difusas que, por sua visibilidade e dimensão de massa, contribuem para o entendimento das “experiências de sociedade no seu conjunto”. O termo “moda”, “usado em múltiplos contextos, oferece um quadro comum de referência e de reflexão para uma série de aspectos da vida social”. Evoca, em primeiro caso, “uma dicotomia entre o velho e o novo, entre o passado e o presente, imobilidade e mobilidade. É a experiência das aparências que pressupõe objetos nos quais se manifestar; é função e conteúdo estético”, CALANCA (2008, p. 11). Similarmente a essa perspectiva, VOLLI 2 (1988, apud Calanca, 2008, p. 11) afirma que moda entende-se especificamente como “o fenômeno social da mudança cíclica dos costumes e dos hábitos, das escolhas e dos gostos, coletivamente validado e tornado quase obrigatório”. Os desfiles, as revistas e os meios de comunicação em geral contribuem para a validação dos gostos e a aprovação das vestimentas, além de influenciar sobre o que deve ser usado. 2 U. Volli, Contro La moda (Milão: Feltrinelli, 1988), p.50. Cf. Grande dizionario della língua italiana moderna, vol. III (Milão: Garzanti, 1999). 22
  • 23. De acordo com Calanca (2008), reportando ao termo “costume”, embutido no contexto de uma sociedade e relacionado à moda, representando um hábito recorrente e permanente determinante de comportamentos e modos de ser de um grupo social, este é remetido ao conceito de sistema. Representa um conjunto de vários elementos relacionados entre si, sendo que, apreciados isoladamente, estão privados de valor, mas no momento em que são conectados por um conjunto de normas e valores coletivos, assumem um significado: Nesse sentido, o costume é essencialmente um fenômeno de caráter axiológico, isto é, refere-se a uma escala de valores ideais aos quais os membros de um determinado contexto histórico-social e cultural tendem a assemelhar-se ao máximo. Ora, quando a “paixão” pelo novo, pelo recente, pelo requinte, pela elegância, etc., e a renovação das formas tornam-se um valor, quando a mutabilidade dos feitios e dos ornamentos não constitui mais uma exceção, mas se torna uma regra estável, um hábito e uma norma coletiva – isto é, um costume – então se pode falar em moda. Desse ponto de vista, a moda é sempre um fenômeno de costume. (CALANCA, 2008, p. 11) Sob esse ponto de vista, evidencia-se o aspecto efêmero da moda, na medida em que a “paixão” pelo novo, pelo recente, se transforma em hábito, um costume agregado de significados e de valores. Segundo a autora supracitada, desde que se pôde reconhecer a ordem típica da moda como um sistema, que inclui suas “metamorfoses e inflexões”, a moda conquistou todas as esferas da vida social, influenciando ideias, gostos, artes, comportamentos e linguagem. No que diz respeito ao termo “moda”, sua etimologia é latina: vem de modus (modo, maneira), logo, entra no italiano com empréstimo do tremo francês “mode”, em meados do século XVII, Calanca (2008, p. 13). O uso do termo foi amplo na Itália do século XVII, pois remete ao aspecto mutável, da busca pela elegância por uma classe privilegiada, em relação às roupas, convenções sociais, decoração, modos de pensar, escrever e agir, ditados, também, pela literatura da época. Já na França, o termo representa um conjunto de atividades humanas, relacionadas entre si, cuja essência é a reprodução de um ser que muda freqüentemente de aparência. Decerto a moda na modernidade passa a ser expressa largamente sobre os diferentes objetos, comportamentos e pensamentos utilizados e expostos publicamente, o que remete à ideia de afirmação de identidade, de status e de poder perante o outro. Embora os diversos âmbitos da sociedade estivessem envolvidos, as roupas, 23
  • 24. historicamente, puderam exprimir e traduzir o proceder da moda. De acordo com Calanca (2008) o vestuário se apresenta como: Um fenômeno completo porque, além de propiciar um discurso histórico, econômico, etnológico e tecnológico, também, tem valência de linguagem, na acepção de sistema de comunicação, isto é, um sistema de signos por meio do qual os seres humanos delineiam a sua posição no mundo e a sua relação com ele. (CALANCA, 2008, p. 16) Logo, a veste torna o “corpo significante”, em que o “ato de vestir transforma o corpo, e essa transformação não se refere a um único significado biológico, fisiológico, mas a múltiplos significados, que vão daquele religioso, estético, àquele psicológico” CALANCA (2008, p. 17). Ademais, torna-se quase impossível pensar em moda sem, em seguida, vir à mente o consumo. ROCHE3 (1995, apud Calanca, 2008, p. 102) observa que a “história dos comportamentos em relação aos objetos e às mercadorias na nossa sociedade aparece como fundamental”. Logo, CALANCA (2008, p.102) complementa que a “relação entre o indivíduo e o ambiente social passa pela reificação. Nesse sentido, a história do consumo permite evidenciar a correspondência entre material e simbólico, o nexo entre representações simbólicas e a realidade concreta”. Sob essa perspectiva, Karl Marx (1996) já afirmava a respeito do aspecto fetichista da mercadoria, ou seja, o poder de “encanto” que a mercadoria exerce sobre o indivíduo fazendo-o ignorar as relações de trabalho que estão por trás da produção da mercadoria. O consumo nunca está desvinculado da profunda ligação que se estabelece entre o mundo e a pessoa, é um fato social de comunicação, que traduz também as transformações da cultura, da sensibilidade, das técnicas, as capacidades dos produtores e as respostas dos consumidores, (CALANCA, 2008, p. 107). Assim, a autora conclui a respeito do consumo, no que tange à relação entre os indivíduos e os objetos, que se configura numa relação de satisfação das necessidades, sejam elas naturais, de luxo, de opinião, de ostentação e comodidade e que, assim, estruturam-se grande parte das relações socioeconômicas e culturais, Calanca (2008, p. 115). 3 D.ROCHE, Storia delle cose banali (Bolonha: Clueb, 1995), p. 13. 24
  • 25. 2.2.1) A Moda e seus desdobramentos Expostas as considerações no que se refere à sua magnitude e alcance da moda, tanto nas implicações que geram sobre um indivíduo quanto num contexto mais amplo, nacional ou internacional, é importante esclarecer sobre outros aspectos que compõem a sua atual configuração. Para tanto, Calanca (2008, p.130) contribui afirmando que, a respeito de sua concretização particular, a moda, num período de duzentos anos, transforma-se de um fenômeno sociocultural de elite em um fenômeno comercial de massa e complementa com a seguinte passagem de Puglisi 4: A sua dimensão massificada, a capitalização de suas riquezas, a globalização de seu sistema produtivo e comercial transformaram o que para Voltaire era apenas um luxo e um prazer em um dos mais prósperos impérios financeiros de dimensão planetária, de Milão a Tóquio, de Nova York a Roma, de Paris a Los Angeles (CALANCA, 2008, p. 130). A partir da Revolução Industrial mudanças decisivas ocorrem na sociedade. Transformações de cunho social, econômico, ambiental e cultural, as quais foram aceleradas pelo desenvolvimento da tecnologia e dos transportes, fundamentais para o seu avanço. Dessa maneira, a Revolução Industrial foi um marco na história da humanidade, transformando as relações sociais em todos os seus aspectos: a relação do indivíduo com o mundo, a forma como passa a conceber o ambiente à sua volta; as relações de trabalho, produção e poder, pois o trabalho passa a ser assalariado e há um aumento na mobilidade social. Ocorre a “divisão do trabalho” e as relações entre indivíduo e objeto perpassam pela reificação da mercadoria. O setor têxtil, neste contexto, é onde se verifica primeiro as transformações. CALANCA (2008, p. 137) afirma que: Há uma mudança nos modelos de consumo induzidos tanto pelos hábitos de vida urbana como pela introdução de novos métodos de distribuição de mercadorias no varejo. Nesses decênios se desenvolvem as grandes lojas de departamento e as redes de lojas com todas as estratégias para atrair os consumidores, das confecções estandalizardas aos descontos, das exposições à publicidade. 4 G. Puglisi, I modi della moda (Palermo: Sellerio, 2001), p. 26. apud Calanca (2008, p.130) 25
  • 26. A partir do século XIX, as novas máquinas como cinema, rádio, fotografia e mais tarde a televisão, foram responsáveis por mudanças nas convenções que predominavam pela exaltação da expressividade e beleza do corpo, Calanca (2008, p.138). No século XX, o cinema revela estrelas símbolos de sensualidade, erotismo, transgressão e fascínio. É o caso de Greta Garbo, Marlene Dietrch e Bette Davis. Nessa situação o vestuário é crucial. A partir da década de 1920, saem dos estúdios de Hollywood as grandes estrelas produtos da convergência de fenômenos diversos como a visão de mundo sexista e o desejo de afirmação de muitas mulheres, configurando o papel relevante do vestuário, como pode ser observado a seguir: É esse o período no qual foram realizados, pela primeira vez, os figurinos cinematográficos. Os vestidos tornam as atrizes parte integrante da narrativa, de um conjunto no qual vestuário e linguagem do corpo estão em harmonia. Os figurinos enfatizam o caráter, o comportamento e as emoções que o autor ou a atriz devem comunicar. A filmadora torna-se cada vez mais uma máquina que impõe novos tipos e novos rostos. Os filmes oferecem lições “práticas” de moda, maquiagem e comportamento, o cinema reforça a cultura-mercado da beleza. O que se oferece aos olhos de todos é o modelo da mulher moderna “estilo americano”. (CALANCA, 2008, p. 148) No que se refere à era pós-industrial, Calanca (2008) corrobora com a concepção de que abordar a moda sob um único ponto de vista é uma missão difícil e complementa com a seguinte passagem: Nos deparamos com um quadro geral da moda que perdeu a sua imagem de sistema unitário e circunscrito, para se despedaçar em pequenos fragmentos. Um fenômeno que já tinha começado na primeira metade dos anos 1980, mas que agora parece ter sido elevado à enésima potencia, com um crescimento exponencial de trends, na maioria das vezes, em declarada antítese entre si, que produzem um clima de incerteza geral, no qual fica realmente difícil se orientar e distinguir um fio condutor comum5. Sob essa perspectiva a moda perde sua capacidade de ser medida mediante as inúmeras formas de moda. A fragmentação dos padrões e estilos exprime valores como: “ironia, juventude, cosmopolitismo, etc.” e com a tendência de que tudo é positivo, não tem-se apenas uma moda, mas sim modas, Calanca (2008, p. 190). Nesse contexto, a arte e a moda estão mais livres. “O excesso, a desmedida quantitativa e qualitativa, o 5 S. Grandi, A. Vaccari & S. Zannier, La moda nel secondo dopoguerra (Bolonha: Clueb, 1992), p. 164. Ver também, A. Grassi, “Moda frantumata, em Gap, março de 1988, p. 77; G. Borioli, “10 annidi moda. 1980 -1990. Cronache-tendenze-protagonisti”, suplemento de revista Donna, abril de 1990, apud Calanca (2008, p.189); 26
  • 27. virtuosismo, a transgressão presentes em muitas tendências da moda são hoje aceitas tanto esteticamente como socialmente e, por isso, tornam pouco claros os limites que hoje determinam o gosto”, CALANCA (2008, p.190). A fragmentação da moda relaciona-se a um fenômeno histórico, o pós Segunda Guerra. Logo, as “antimodas” surgem contrariando o contexto que se dá após os dois grandes conflitos. A recessão e a escassez de matérias primas são realidades nesse momento. Dessa maneira, a “antimoda” tem na sua essência a referência a ideais e valores. São movimentos identitários que se opõem aos padrões vigentes, reivindicando uma identidade que se expressa em estilos de vida, de música, de comportamento e, claro, nas roupas. Dentre esses movimentos, também chamados de movimentos de contracultura, que marcaram o pós-guerra, modificaram valores e padrões antes vigentes, estão: os Rockers, os Mods, Hippies e os Punks. Imagem I - Rockers Fonte: Disciplina - Panorama do Vestuário Moderno e Contemporâneo (2011/2) – Professor Augustin de Tugny. 27
  • 28. Imagem II - Mods Fonte: Disciplina - Panorama do Vestuário Moderno e Contemporâneo (2011/2) – Professor Augustin de Tugny 28
  • 29. Imagem III – Hippies 6 6 Imagens, de autoria desconhecida, retiradas dos sites, na ordem em que aparecem, da esquerda para a direita.: Fashion Bubbles. Disponível em: <http://www.fashionbubbles.com/historia-da-moda/tribos-urbanas-movimento- hippie>. Acesso: 20/10/2011; Muito tudo Blog. Disponível em: <http://fabyandrade.spaceblog.com.br/1360731/Hippies/> Acesso: 20/10/2011; Acesso Jovem. Disponível em: <http://www.acessojovem.com.br/hippies.html > Acesso: 20/10/2011; Inspire Bohemia. Disponível em: <http://inspirebohemia.blogspot.com/2010/01/hippies-bohemians-gypsies-and- fashion.html> Acesso: 20/10/2011. 29
  • 30. Imagem IV – Punks Fonte: Sharemyplaylists. Disponível em: <http://sharemyplaylists.com/playlist-reviews-subculture- punks> Acesso: 20/10/2011 Como pode ser observado nas imagens I, II, III e IV as roupas são totalmente diferentes das comumente usadas na época. No caso dos punks, as vestes, os acessórios, a maquiagem e o cabelo, são, de certa forma, agressivos, utilizados para chocar a sociedade. O comportamento, ou seja, os modos de agir, os etilos e as músicas compõem esses movimentos de identidade, de contracultura, onde a vestimenta tem papel fundamental na diferenciação do indivíduo que reivindica outros valores e compactua com ideais diversos. Dessa forma, o pós guerra foi um período de transformações em todas as esferas da sociedade e, claro, a moda expressara tais transformações, empregada para impor novas identidades, valores e conceitos, os quais questionavam os padrões e a ordem vigente. A globalização nesse período começa a adquirir suas proporções atuais. A fragmentação dos estilos e a inexistência de regras estéticas que caracterizam a moda atual, segundo Calanca (2008, pgs. 203 e 204) tem sua máxima expressão com o surgimento do prêt-à-porter que unifica as indústrias e a moda, dissemina pelas ruas estilos e gostos, “estetizando a moda industrial e massificando a grife.” Com a estilização, a roupa industrial de massa adquire novo status, torna-se um produto de moda. Nos atuais dias, segundo Calanca (2008, p. 205) a tendência é considerar as criações do prêt-à-porter “como a parte mais viva da moda”. Logo, as contribuições a respeito dessas transformações que influenciaram diretamente na criação e na comercialização da moda são importantes, pois oferecem 30
  • 31. esclarecimentos que possibilitam visualizar a moda na atualidade e todas as implicações e setores afetados. Antes os artigos da moda eram adquiridos apenas pela elite social. Hoje as roupas são produzidas em larga escala e podem ser adquiridas por todas as classes sociais devido ao mercado globalizado, a importação de artigos de baixo custo, as facilidades de compra, como o crediário, e o surgimento do micro-empresário que movimenta a economia e encontra “espaço” no mercado pela oferta de produtos, na maioria das vezes, diferenciados. A moda acompanha essas transformações e firma-se no mercado. 2.2.2) Termos que devem ser esclarecidos Para melhor entendimento acerca dos assuntos tratados nesse trabalho, alguns termos e abordagens utilizados ao se referir a moda serão apresentados. Isso se deve ao fato de que o presente trabalho é pré-requisito para a formação no Curso de Turismo da Universidade Federal de Minas Gerais, cujo tema aborda o setor de moda. Pelo fato dos assuntos relacionados a esse setor não serem do domínio do pesquisador, recorreu-se a referências bibliográficas para esclarecimentos, no intuito de realizar análises mais precisas sobre o tema. Dessa forma, Treptow (2007) colabora com a elucidação de alguns tópicos da moda e inicia sua discussão abordando os “ciclos da moda”, o qual compreende as seguintes fases: lançamento, cuja origem pode estar na coleção de um estilista, num grupo de jovens ou em um detalhe expresso por um figurinista numa novela ou filme; a aceitação, que corresponde à aceitação do público em geral que irá ‘seguir a moda’, pois a “moda é um fenômeno sociológico”; o consumo e a massificação correspondem desde a divulgação da imprensa e a reprodução de marcas independentes, à valorização do estilo pela mídia, o qual será copiado pelas redes de lojas e marcas que atuam em mercados mais populares, com preços mais acessíveis. Por fim, o desgaste que, ao assumir altos níveis de consumo, a moda perde seu diferencial, já que todos vestem o mesmo estilo que logo passa a ser considerado obsoleto, Treptow (2007, p. 29). A autora também diferencia tendência de moda e estilo. O primeiro, segundo Carol Garcia, citada por Treptow (2007, p. 29), refere-se a “um conjunto de itens do vestuário considerados como conceito de bem vestir. A tendência de moda é caracterizada pela temporalidade e pela massificação”. Já o ‘estilo’ esse “não rompe 31
  • 32. abruptamente com o passado, antes, busca ali, referências que legitimem o novo como continuidade e identidade”, o estilo, então, se torna algo pessoal. A produção e comercialização de moda, segundo a autora supracitada, podem ser feitas de duas maneiras: a alta costura, que se caracteriza por ser uma confecção artesanal e o prêt-à-porter, em que as roupas são produzidas em escala industrial, cuja quantidade varia conforme o tipo de mercado para o qual a peça será distribuída. Há, também, o prêt-à-porter de luxo, “com tiragens mínimas e limitadas por modelo e o extremo, de produção em massa para a distribuição nacional ou mundial”, TREPTOW (2007, p. 38). Assim, a produção prêt-à-porter pode ser classificada em três categorias: fabricantes, atacadistas e faccionistas. O confeccionista fabricante é aquele que coordena todas as operações, como a compra de matéria-prima, criação ou compra de desenhos para os modelos, manufatura das peças e venda [...]. Os confeccionistas atacadistas realizam as operações de criação, compra de matéria-prima, modelagem e planejamento de corte, vendas e distribuição. Todavia a etapa de costura das peças é feita em empresas menores subcontratadas: as facções. [...] A terceira categoria são os faccionistas, e esses podem ser divididos ainda em dois grupos: o primeiro, apenas realiza as operações de costura, acabamento e embalagem a partir dos cortes recebidos de confecções atacadistas. Este tipo de indústria muitas vezes utiliza de mão-de-obra familiar e depende das vendas de clientes para ter o que produzir. [...] O segundo tipo são as confecções que possuem uma equipe de criação que desenvolve modelos para diversas marcas. Quando um modelo é aprovado, o faccionista o produzirá com a etiqueta da marca cliente. [...] Nesse caso não são desenvolvidas coleções, mas peças avulsas ou famílias de produtos conforme o perfil da marca que as irá distribuir. (TREPTOW, 2007, pgs. 39 e 40) A maioria das confecções de Belo Horizonte abordadas nesse trabalho caracterizam-se como confeccionistas fabricantes. A definição de coleção, para GOMES (1992, apud Treptow, 2007, p. 43) corresponde à “reunião ou conjunto de peças de roupas e/ou acessórios que possuam alguma relação entre si”, sendo que “a relação normalmente está centrada no tema escolhido para a coleção, que deve ser condizente com o estilo do consumidor e com a imagem da marca”, complementa Treptow (2007). O tamanho de uma coleção dependerá da estratégia de comercialização da empresa, em que uma confecção que vende para lojas multimarcas poderá trabalhar com poucas peças se comparada a uma empresa que possui lojas próprias. Em relação às vendas dos produtos essas podem ser feitas por atacado ou varejo. Conforme a mesma autora, as vendas por atacado de uma coleção podem ser 32
  • 33. realizadas por pedidos ou pelo sistema de pronta entrega. Por pedidos, “as vendas são feitas a partir do mostruário completo e as peças serão produzidas e entregues conforme a solicitação do comprador”. Já pelo sistema de pronta-entrega, “as vendas podem ser realizadas a partir de um mostruário parcial, composto pelas peças disponíveis em estoque”. Dessa forma, tem-se que as vendas de pedidos acontecem na seguinte dinâmica: O cliente é informado sobre as opções de cores e tamanhos de cada referência, preço e prazo de entrega. O pedido é anotado em um formulário que indica a referência do modelo, cor (ou cores) escolhida, quantidade de peças por tamanho, preço unitário por referência e condições negociadas (prazo de entrega, prazo de pagamento, descontos, forma de transporte da mercadoria, e observações). A venda por pedido é realizada no show room da fábrica (sala destinada a demonstração de produtos e atendimento), nos stands de feiras, escritório de representação, ou através da visita do representante comercial. (TREPTOW, 2007, p.195) Para as vendas de pronta-entrega, o cliente é informado sobre as cores e tamanhos das peças disponíveis no estoque. Ele pode observar as referências das peças que estão no mostruário, porém levará outras, de embalagens fechadas e com as mesmas referências. Esse tipo de venda é efetuado na fábrica, em lojas de fábrica ou feiras de pronta entrega, Treptow (2007, p. 195). As vendas a varejo, por sua vez, são realizadas no sistema de pronta-entrega, exceto por empresas que atuam como atelier, as quais confeccionam, sob medida, um ou mais modelos escolhidos pelo cliente. Esse tipo de venda acontece nas lojas das empresas, feiras com venda direta ao consumidor e em franquias. Os desfiles de moda também são relevantes no segmento de moda. Segundo Coutinh (2009, apud Piroutek, 2010, p.12) correspondem ao momento mais importante de todo o processo de criação da coleção, em que o estilista apresenta ao público suas ideias. São os desfiles que geram os grandes eventos de moda, tanto internacionais, como as semanas de moda em Milão, quanto eventos nacionais como o Fashion Rio, Dragão Fashion, em Fortaleza e o São Paulo Fashion Week. São nos desfiles que as tendências de moda para a próxima estação são apresentadas. 33
  • 34. 2.3) A Moda em Belo Horizonte: passado e presente Pode-se iniciar tal discussão a respeito da moda mineira com a seguinte passagem de Fernando Sabino7: “...mineiro não dá ponto sem nó. Ser mineiro é ser diferente, é ter marca registrada, é ter história.” Não é difícil de entender a citação já que o mineiro possui características peculiares na hospitalidade e no artesanato, ao mesmo tempo, que é moderno e tradicional, aprecia valores de família e aquilo que é de qualidade. Há quem diga que “se a moda pegou em Minas Gerais, irá pegar no resto do Brasil”! Se “pegou” então, provavelmente porque é “coisa boa”, já que mineiro “não dá ponto sem nó”. É por esses aspectos que Minas Gerais é reconhecida, não só pelo “jeito característico do mineiro”, mas, pela cultura, pela gastronomia, arquitetura e pela moda. Evidenciar informações sobre a história da moda mineira com a finalidade de esclarecer sobre as particularidades adquiridas no decorrer do tempo até o destaque no mercado atual de moda torna-se, então, apropriado. A moda em Belo Horizonte teve início nos primórdios da fundação da capital. Segundo NOUVEAU (1997, apud Silveira, 2002, p. 17), conforme um anúncio extraído do jornal a Gazeta de 1905, a produção de moda é expressa da seguinte forma: Um hábil contra-mestre com longa prática de diversos ateliers não só na Europa como no Rio de Janeiro, que se acha habilitado a satisfazer a maior exigência de sua arte, desde o mais simples paletó à mais fina e elegante casaca, para o que disponho de colossal sortimento de casemiras, flanelas, brins de todas as qualidades...a roupa feita é cortada pelos melhores e mais elegantes figurinos. (NOUVEAU, 1997, p. 2) Este trecho permite perceber a técnica da mão de obra existente em Belo Horizonte no início do século XX e a influência da moda do Rio de Janeiro, já que a experiência do contra-mestre não foi adquirida somente na Europa, berço da moda como visto anteriormente, mas também nessa outra cidade. Essa passagem pode ilustrar como o público da capital exige qualidade na confecção de suas roupas, “desde o mais simples paletó à mais fina casaca”. 7 Citação extraída do site: SpicyBh. Disponível em: http://www.spicybh.com.br/2010/09/09/modamineira/. Acesso: 10/10/2011. 34
  • 35. Em 1897 (fundação de Belo Horizonte) e com bases nos jornais da época NOUVEAU (1997, apud Silveira, 2002, p. 17) relata que haviam 500 casas dentre elas residenciais, comerciais e industriais. Logo, após 50 anos, em 1947, segundo a Revista Social Trabalhista, “sabe-se que, dos seus dois mil estabelecimentos industriais, mais de 10% deles eram diretamente ligados à moda: alfaiatarias e ateliers, bolsas, cintos, luvas, peles, chapéus, sombrinhas, bengalas, guarda-chuvas, ourivesarias, relojoarias, perfumarias, sabonetes, sapatos, óculos e pince-nez”. Em 1920 o Parc Royal, localizado na Rua da Bahia no número 894, demonstra aspectos do comércio de moda na cidade. Esse estabelecimento contava somente com outra filial no Rio de Janeiro e comercializava artigos provenientes de Paris, para um público de senhoras, homens e crianças além de artigos para a casa, Silveira (2002, p. 17). Conforme o depoimento colhido de D. Yedda, 8 o Parc Royal era uma espécie de galeria onde as pessoas freqüentavam, não só para compras, realizadas por consumidores com boas condições financeiras, era, também, um local onde as pessoas “mostravam-se” umas para as outras. Nouveau (1997, apud Silveira, 2002, p. 17) complementa que além dos artigos de luxo vendidos no Parc Royal, a decoração e o arrojo das vitrines atraiam os consumidores de Belo Horizonte. Durand (1988) afirma que o progresso e a urbanização nessa época contribuíram para o crescimento do número de costureiras. Nouveau (1997, apud Silveira, 2002, p. 18) por sua vez, acrescenta afirmando a existência da representação da Singer Sewing Machine, desde 1912, em Belo Horizonte. 8 Informações cedidas por Yedda Terezinha Carneiro, avó da presente pesquisadora, a qual freqüentou o Parc Royal, foi costureira nessa época e presenciou o desenvolvimento da moda na capital. 35
  • 36. Imagem V – Máquina de costura Singer Sewing Machine - Século XIX Fonte: Acervo pessoal O comércio de moda foi sendo definido em alguns espaços na capital como pode ser observado a partir da contribuição de Nouveau (1997, apud Silveira, 2002, p. 18): A dispersão das casas de moda nos primeiros anos da Capital Mineira foi se seguindo a definição dos espaços públicos pela espacialidade do seu comércio: os armarinhos e lojas de tecidos na Rua Caethés e Avenida do Commércio (hoje, Avenida Santos Dumont); a Avenida Affonso Penna com suas relojoarias sapatarias; as toilettes masculinas e femininas comercializadas na Rua da Bahia. (NOUVEAU, 1997, p. 1): Os jornais da época anunciavam as casas que ofereciam cursos de corte e costura como observa Nouveau (1997, apud Silveira, 2002, p. 18) na Folha Pequena de 1904: “D. Altina Dollabela Teixeira ensina desenho, trabalhos em lã, bordados, flores e bem assim cortar vestidos sob figurino”. Porém, com as restrições impostas pela crise econômica da década de 30 e pela Segunda Guerra Mundial as importações de artigos e roupas de luxo foram bloqueadas, o que forçou a reprodução local dos vestidos de luxo contribuindo para o desenvolvimento do mercado nacional têxtil e de confecção, Durand (1988, p.71). Conforme Silveira (2002), já na década de cinqüenta existiam na cidade lojas como a Sibéria, localizada na esquina da Av. Afonso Pena e Rua Espírito Santo, A Vantajosa – Modas e peles na Carijós, Antonieta Modas na Rua da Bahia e a Sloper na Av. Afonso Pena. Todas ofereciam ao consumidor roupas prontas do Rio de Janeiro e 36
  • 37. de São Paulo e atendiam a uma clientela específica, representada pelas mulheres da alta sociedade da capital, em vista dos altos preços das peças. Contudo, segundo Guerra (1997, apud Silveira, 2002, p. 19) a existência dessas lojas em Belo Horizonte não significou a desvalorização das costureiras. Em decorrência dos vários eventos que movimentavam a sociedade, realizados no Automóvel Club, Iate Clube Pampulha e no Minas Tênis Clube, as mulheres que participavam dos mesmos tinham o hábito de encomendar os vestidos às costureiras mais renomadas e informadas sobre as últimas tendências. Logo, GUERRA (1997, apud Silveira, 2002, p. 19) completa afirmando que: É nesse contexto que a moda dos anos 50 se enquadra. A confecção doméstica de roupas era uma prática comum e as mulheres não estavam habituadas a comprar roupas prontas. A maioria do vestuário era assim concebido – quando não copiado, pelo menos inspirado – baseado nas tendências ditadas pela Alta Costura Francesa. (GUERRA, 1997, p. 171) No que concerne à essa passagem as roupas produzidas em Belo Horizonte atualmente são, constantemente, consideradas como peças artesanais, conferindo exclusividade à moda mineira. Pode-se dizer então, que essa característica é observada nas casas de costura existentes na capital na década de 50 e que, desde essa época, a sociedade mineira valoriza a confecção das roupas produzidas artesanalmente pelas costureiras de outrora. Já na década de sessenta Nouveau (1997, apud Silveira, 2002, p. 20) assevera que a reformulação do centro da cidade e o surgimento das galerias dão início a outra concepção de comércio da moda a partir da “conveniência de diferentes serviços em um mesmo espaço respondendo às novas necessidades de consumo e comportamento dos belo-horizontinos”. Segundo Guerra (1997, apud Silveira, 2002, p. 20) no jornal Estado de Minas de 1964 aparecem reportagens que ensinavam como fazer compras nas boutiques cariocas, já que com o desenvolvimento da classe média houve significativo aumento nas compras das roupas confeccionadas no Rio de Janeiro. Tais reportagens evidenciam o surgimento, no cenário de moda na capital, de mulheres que importam roupas prontas de grife. O interesse das mineiras pela moda carioca pode ser explicado, segundo Durand (1988, apud Silveira, 2002, p.20) pelo estilo despojado condizente com o perfil da carioca o que, de certa forma, simboliza essa década, marcada pela emancipação da 37
  • 38. mulher. Contudo, somente em 1968 e 1969 é que surgem as primeiras boutiques, as quais copiavam a moda do Rio de Janeiro, Guerra (1997, apud Silveira, 2002, p. 20). Primeiramente as boutiques localizavam-se no centro da cidade. Logo, transferem-se para a Savassi. Nesse sentido, “a Savassi torna-se lócus da moda belo- horizontina, perdendo a denominação de bairro residencial”, Nouveau (1997, apud Silveira, 2002, p. 20). Segundo LEMOS (1988, p. 339) nos anos setenta e oitenta na Av. Getulio Vargas encontram-se as boutiques sofisticadas: Nessa avenida, ficam algumas das boutiques mais sofisticadas da Savassi, acompanhadas de famosas lojas de calçados. Tanto umas quanto as outras são conhecidas pelo nome e se instalaram na Savassi, ainda nos anos setenta. Quem, na Zona Sul, não conhece a Via Láctea, a Pecado Original, a Z 14, a Chicletes com Banana, a Betina, o Foto Elias, a Isnard, etc...? Nos anos 80, vieram a Zak, a Marco Aurélio, a Equipage, a Yes Brasil, a República dos Gatos, a Zoomp e muitas outras. Circular pela avenida, para os consumidores do lugar, é viver em estado de deslumbramento com as vitrines de neon, que atingem o máximo de sedução na exposição da moda, nos mais variados estilos up-to-date. Por sua vez, o ir e vir dos nobres consumidores representa uma outra exibição de moda, ‘bom gosto’, ‘estilo’, reforçado pelo estatuto das grifes famosas. O percurso destes freqüentadores converte o lugar numa ‘passagem’ a céu aberto, uma vez que eles mesmos se transformam em vitrines, regidos pela magia do fetiche. A contribuição desse autor demonstra o comportamento dos belo-horizontinos em relação à moda. Desde o Parc Royal as pessoas transitam nesses espaços de compras exibindo as roupas e os acessórios que, conforme a citação, remetem às ‘passagens’ de Paris descritas por Walter Benjamin, as quais eram galerias comerciais cobertas onde os parisienses realizavam compras e exibiam os artefatos da última moda. De acordo com Silveira (2002) o surgimento das boutiques mineiras surtiu efeitos sob as roupas feitas sob medida. Há um declínio na confecção das roupas encomendadas às costureiras e aumento nas vendas de peças prontas. Uma curiosidade é que a Betina, citada no trecho acima e fundada em 19649, atualmente possui lojas além da Savassi, nos bairros: Caiçara, Cidade Jardim e na Rua Espírito Santo no centro da cidade. Anos depois, em 1978, a criação da Amicon (Associação Mineira dos Confeccionistas) confirma a iniciativa dos confeccionistas mineiros em se unir em prol 9 Informação extraída no site Betina. Disponível em: http://www.betina.com.br/. Acesso: 25/10/2011 38
  • 39. do desenvolvimento da moda em Minas Gerais, tendo Belo Horizonte como centro regional e um dos pólos da moda nacional. A criação da Amicon demonstra a existência e a relevância das confecções na capital, assim como a demanda por seus serviços. GUERRA (1997, apud Silveira, 2002, p. 21) afirma que “este é, portanto um momento para a consolidação do campo da moda em Minas Gerais. Momento em que os produtores e criadores de vestuário começavam a investir em moda, a levá-la a sério”. Segundo Nouveau (1997, apud Silveira, 2002, p. 22) em virtude da consolidação de um mercado competitivo de moda no Brasil, cria-se em 1982, em Belo Horizonte, o Grupo Mineiro de Moda cujos objetivos são: “atrair para Minas os compradores, profissionalizar a indústria de roupas com estilo, conseguir melhores condições na compra de matéria-prima e conquistar espaço na mídia especializada”. Conforme o site UOL Estilo, entre os integrantes do Grupo Mineiro de Moda está o estilista, hoje reconhecido nacionalmente, Renato Loureiro, o qual apresenta em suas criações traços do artesanato regional. É nessa mesma década que a cidade começa a receber lojistas de outras localidades para a realização de compras nas lojas de Belo Horizonte. Ainda na década de 1980 “realiza-se no Hotel Brasilton a primeira feira relacionada ao setor de confecções a FITEC”, GUERRA (1997, apud Silveira, 2002, p. 22). DURAND (1988, p.76) complementa afirmando que a presença de feiras financiadas por expositores “atesta que o setor atingiu um mínimo de diferenciação interna e que existem condições mínimas para certo padrão de cooperação entre empresas concorrentes e/ou complementares”. Para Silveira (2002) a consolidação da capital como centro de referência da moda nacional tornou-se realidade com a inauguração em 1987 do Curso de Extensão de Estilismo e Modelagem do Vestuário na Escola de Belas Artes na Universidade Federal de Minas Gerais. A partir dos anos 90 Belo Horizonte se integra no circuito da moda nacional. A participação dos estilistas Ronaldo Fraga e Renato Loureiro, as coleções da grife mineira Patachou no evento de moda São Paulo Fashion Week em 2002 e as constantes exposições à mídia especializada transportam Belo Horizonte para o cenário da moda nacional. Logo, os shoppings se instalaram na capital fomentando o mercado do consumo de moda. Conforme PIROUTEK (2010, p. 4) no século XXI a moda já fazia parte do dia- a-dia dos mineiros. “No Festival Minas Cult, em 2005, estilistas mineiros provaram que 39
  • 40. a moda no Estado era uma das que não copiava o exterior, Rio de Janeiro e São Paulo”. Em 2007 ocorreu a primeira edição do Minas Trend Preview, o primeiro evento que antecipa as coleções a serem lançadas que, conforme o site Sistema FIEMG 10 atraiu, nos três dias de evento, 3,5 mil pessoas dentre elas compradores nacionais e internacionais que circularam entre os desfiles, debates e as 90 grifes participantes nos 6,5 mil metros quadrados montados para o evento. O evento foi realizado pelo Sistema FIEMG e teve como patrocinadores da primeira edição a empresa de telecomunicações Oi, o SEBRAE, o SENAI Nacional, a AngloGold Ashanti e Codemig – Governo do Estado de Minas Gerais; e o apoio de Abicalçados, Apex (Agencia Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) e Abit (Associação Brasileira da Industria Têxtil). Segundo o mesmo site: O evento alcançou resultados significativos, confirmando a vocação do Estado para o negócio da moda. Segundo os expositores, o crescimento de aproximadamente 30% em relação aos negócios gerados na última coleção trouxe novo ânimo ao setor. Com a estratégica de antecipar tendências e gerar oportunidades de negócios, a primeira edição do Minas Trend Preview deu uma nova cara à moda. Segundo Piroutek (2010) o evento introduziu Minas Gerais no Calendário Brasileiro da Moda além de evidenciar a valorização da cultura mineira nos desfiles promovidos pelas grifes participantes. Atualmente o evento acontece duas vezes por ano antecipando as coleções de outono/inverno e primavera/verão. 10 Informações extraídas do site Sistema FIEMG. Disponível em: <http://www.fiemg.org.br/Default.aspx?tabid=7198> Acesso: 10/10/2011. 40
  • 41. 3) O TURISMO DE NEGÓCIOS COM FOCO NOS NEGÓCIOS DE MODA: configuração, investimentos e negócios 3.1) A Indústria Têxtil no Brasil A indústria têxtil corresponde à transformação de fibras como o algodão em linho, depois em fios e finalmente em tecidos. Esses por sua vez poderão resultar em peças do vestuário, de cama, mesa ou banho. Segundo informações extraídas do site do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior11, “a cadeia produtiva têxtil e de confecções inicia-se na agropecuária (fibras naturais) ou na indústria química (fibras manufaturadas), passando pelo fio, tecidos, beneficiamento, confecção e termina no consumidor final”. Essa cadeia é heterogênea no que se refere às matérias-primas utilizadas, os processos produtivos e estratégias empresariais. O setor têxtil se torna representativo para a economia nacional, pois, conforme o site, é o segundo maior gerador do primeiro emprego e o segundo maior empregador da indústria de transformação. No ano de 2010 foram registrados 1,7 milhões de empregados, dos quais 75% são constituídos pela mão de obra feminina, representa 3,5% do PIB total do Brasil, além de possuir um volume de produção com a confecção de 9,8 bilhões de peças. De acordo com o site da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT) 12, fundada em 1957 e uma das mais importantes entidades do setor econômico do país, o Brasil possui auto-suficiência na produção de algodão e está entre os 10 mercados mundiais da indústria têxtil. Devido à sua diversidade cultural e extensão territorial, cada região do país atua de forma diferenciada, inovando os meios de produção e o tratamento dos tecidos. Dessa forma, a ABIT em parceria com a ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) criaram o programa Texbrasil (Programa de Exportação da Indústria da Moda Brasileira) em 2001, com intuito de ajudar as empresas nacionais a se desenvolverem nacionalmente e internacionalmente. 11 Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Disponível em: < http://www.mdic.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=2&menu=316>. Acesso: 20/10/11; 12 Representa a força produtiva de 30 mil empresas instaladas por todo o território nacional, empresas de todos os portes que empregam mais de 1,7 milhão de trabalhadores e geram, juntas, um faturamento anual de US$ 47 bilhões. Fonte: ABIT. Disponível em: <http://www.abit.org.br/site/navegacao.asp?id_menu=1&id_sub=3&idioma=PT>. Acesso: 20/10/11 41
  • 42. A missão do programa é apoiar e preparar as empresas do setor para apresentar, de maneira organizada, os produtos brasileiros no mercado internacional. Utilizando diversas ferramentas e ações, o Texbrasil objetiva o aumento da plataforma de empresas brasileiras exportadoras, incentivando a inserção das mesmas no mercado globalizado. (ABIT. Disponível em: <http://www.abit.org.br/site/navegacao.asp?id_menu=1&id_sub=3&idioma= PT>. Acesso: 20/10/11) Em 23 de junho de 2009 foi criado o Sistema Moda Brasil (SMB) durante o evento de moda São Paulo Fashion Week, com a coordenação da Secretaria de Desenvolvimento da Produção (SDP), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e em parceria com diversas associações ligadas à moda e design. O SMB é instrumento de articulação entre as cadeias produtivas relacionadas ao setor da moda: têxtil e de confecções, gemas, jóias, couro, calçados e artefatos, conforme o site Comunidade Design Brasil. Os objetivos do SMB têm foco no desenvolvimento de projetos que valorizem a indústria da moda, busquem a solução conjunta dos problemas, do incentivo ao cooperativismo e associativismo, além de fomentar a inteligência competitiva. O Sistema Moda Brasil faz parte da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), lançada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 12 de maio de 2008 e tem como integrantes os ministérios da Cultura, Ciência e Tecnologia e Relações Exteriores, a ApexBrasil, a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), BNDES, SENAI, SENAC e SEBRAE, segundo o site Comunidade Design Brasil. A partir dessas informações observam-se os esforços, a nível nacional, para o desenvolvimento da cadeia produtiva de moda através de iniciativas e projetos com adesão de entidades de expressão política e nacional como os Ministérios. Esses, por sua vez, representam as empresas que compõem o setor, as quais são responsáveis por gerar empregos e divisas para o país. A realização de eventos que fomentam e valorizam a produção da moda nacional e promovem a divulgação internacional, a fim de atrair investimentos e favorecer a economia são realizados em todo o país, além de contarem com o apoio do governo. Nesse contexto, os meios de comunicação como as revistas de moda, os jornais e a televisão, auxiliam na divulgação e promoção da moda nacional. A expansão desse setor num mercado competitivo demanda, cada vez mais, a profissionalização que, por sua vez, incentiva a criação de novos cursos superiores e/ ou técnicos, assim como 42
  • 43. estimula o profissional a recorrer aos mesmos. Os eventos, as feiras, as confecções de estilistas renomados atraem investidores e demandam serviços e equipamentos de outros setores, como o turismo. 3.2) O contexto mineiro O contexto de Belo Horizonte demonstra que existe Turismo de Negócios relacionados à moda. Todavia, torna-se pertinente averiguar as razões pelas quais Belo Horizonte vêm sendo escolhida por lojistas de todo o Brasil e do mundo, para “levarem” peças do vestuário produzidas em solo mineiro, haja vista a proximidade com as capitais paulistas e cariocas, as quais possuem pólos industriais têxteis, Pereira (2010). Segundo o Censo 2010 (IBGE) Belo Horizonte possui uma população de 2.375.151 de habitantes. O PIB do Estado de Minas Gerais, no ano de 2008, foi de R$ 282.522 milhões, sendo que o Estado mineiro possui uma participação na estrutura industrial brasileira de 10, 96%, o Rio de Janeiro, 12,72% e o estado de São Paulo, 33,89%, segundo dados apresentados no Painel Regional da Indústria Mineira elaborado pelo Sistema FIEMG13. Boriello e Martorelli (2011), em matéria publicada no portal eletrônico Revista Costura Perfeita, em conformidade com os dados de 2010 apresentados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e pelo Instituto de Estudos de Marketing Industrial (IEMI) num estudo feito pelo Departamento de Economia da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT), o Estado de Minas Gerais ocupa o terceiro lugar no PIB da Cadeia Têxtil e de Confecção, o equivalente a 11,741% da representação nacional, sendo que no ano de 2011 foram criados 2.084 empregos formais. Olavo Machado Junior, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) diz que: 13 O caderno Painel Regional da Indústria Mineira – Outubro 2011 foi adquirido pelo portal eletrônico FIEMG. Disponível em: <http://www5.fiemg.com.br/Default.aspx?tabid=13427> Acesso: 05/10/11; 43
  • 44. O mercado de confecção é de extrema relevância para a geração de riquezas, emprego e renda. Em Minas Gerais, essa indústria conta com mais de 76 mil trabalhadores. Isso representa pouco mais de 12% dos empregos gerados no setor em todo o Brasil. Dentro do nosso estado, ele é responsável por 18% dos empregos industriais, com produção anual de R$ 1,7 bilhão. Esses números não deixam dúvidas sobre a importância que o segmento possui. (Revista Costura Perfeita, 2011. Disponível em: http://www.costuraperfeita.com.br/secoes/mostrar_noticia.php?id=1245. Acesso: 20/10/11) Além disso, o presidente da FIEMG ressalta que atualmente o mercado mineiro de confecção procura pela inserção no mercado nacional e internacional, em vista da qualidade dos produtos e profissionais que trabalham nesse setor atraindo compradores de grandes pólos de moda. O crescimento do evento Minas Trend Preview comprova a atratividade pelos produtos mineiros. Ronaldo Fraga, estilista mineiro de reconhecimento internacional e curador do evento, reafirma as declarações de Olavo complementando que o Salão de Negócios Minas Trend atrai compradores e a atenção da imprensa para o estado e para a moda mineira. Segundo Boriello e Martorelli (2011), de acordo com as informações do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Minas Gerais (Sindivest/MG), existem atualmente no estado cerca de 6 mil confecções, sem contar as informais, das quais não há estatística. Michel Aburachid, presidente do sindicato, afirma que são produzidos em torno de 30 milhões de peças de vestuário ao ano, e revela que os segmentos mais expressivos são os de casualwear e uniformes profissionais e industriais. Mas, também, há destaque para as marcas de linhas de festa. Exemplo de referência de roupas para festas, conforme as autoras, é a grife Vivaz, de que, a partir da declaração da diretora da marca Elizabeth Faria, é possível perceber alguns aspectos da elaboração das peças, os quais constituem no diferencial da moda mineira. A diretora explica que “a mulher mineira é requintada e se preocupa demais em estar bem-vestida, com a roupa correta para cada ocasião. Além disso, o mineiro tem o cuidado e o preciosismo tão importantes para o desenvolvimento da moda festa, o que faz com que sua mão de obra desenvolva bem esse tipo de produto". Direcionada ao público AA, A e B a grife surgiu em 1998 no intuito de atender a uma demanda que busca ter peças exclusivas desenvolvidas para festas. Atualmente a marca possui duas lojas próprias em Belo Horizonte e está presente em 170 multimarcas pelo 44