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Se um jornalista deseja entrevistar uma personalidade, em geral é preciso insistir, persistir, esperar
bastante tempo e dispor de apenas alguns minutos na agenda do entrevistado. Não foi assim com o
esperantista alemão Reinhard Selten, prêmio Nobel de Economia de 1994 por sua teoria dos jogos:
apesar de sua falta de tempo premente, ele recebeu de bom grado alguns jornalistas do movimento
esperantista, entre eles Ulrich Lins, vice-presidente da Associação Universal de Esperanto (UEA) e o
redatorIstvánErtl,comosquaisfalounumEsperantofluente,em10denovembrode94,emBonn.
Revista Esperanto - O senhor é pelo menos o quarto esperantista na história do
Prêmio Nobel. Parece que os esperantistas recebem esse prêmio com bastante
frequência, em proporção ao número de falantes de Esperanto. Então, para receber
umPrêmioNobel,ateoriadosjogosaconselhariaoaprendizadodeEsperanto?
Reinhard Selten - Aprender Esperanto talvez não ajude nisso, mas em geral faz evoluir
a vida intelectual de uma pessoa. O Esperanto aprendido na juventude traz grande
vantagem para o aprendizado de outras línguas. A teoria dos jogos é uma teoria
matemática sobre conflito e colaboração, de situações nas quais se pode favorecer ou
contrariar um ao outro, ou ambos ao mesmo tempo. Ela mal pode fazer
recomendações diretas, mas apenas fornecer um conhecimento de fundo. Porém ela
nos dá uma melhor compreensão em situações complicadas. E ainda ajuda a
compreendermaisrápidonovassituaçõesdeummesmotipo.Equemtemummelhor
entendimentopodeagirmelhor.
E - No trabalho "Devo aprender Esperanto?" (1982), que o senhor publicou com
Jonathan Pool, através da teoria dos jogos o senhor deu uma resposta encorajadora a
essa pergunta, mas apenas no âmbito de um modelo muito limitado, não tão
semelhanteàrealidade.
Não apenas para ver a vitória
Entrevista publicada originalmente no número 1065, dezembro de 94, pág. 202-3
da revista Esperanto, da Associação Universal de Esperanto e traduzida pelo KCE.
RS - Pool e eu generalizamos esse modelo de decisões pelo aprendizado de línguas
para a língua que se desejar, não apenas Esperanto, no artigo "A distribuição de
proficiências em língua estrangeira como equilíbrio dos jogos" (1991). Se
dispuséssemos de estatísticas suficientes sobre os falantes de diversas línguas, nós
poderíamos aperfeiçoar nosso modelo. Ele também deveria considerar os diversos
graus de domínio de uma língua, ao invés de contar apenas com respostas do tipo
"sim" e "não". Mas sempre faltou tempo para esse aperfeiçoamento. Além disso, os
modelos de teoria dos jogos não podem deixar de ser limitados, porque as situações
reaissãotãocomplexasquenósnãopodemosnemsonharemanalisá-las.
E - Outros teóricos de sua especialidade se ocuparam com estratégias de aprendizado
delínguas?
RS - Não, ninguém além de nós, apesar de que existem inúmeras aplicações da teoria
dos jogos aos mais diversos temas. Por exemplo na evolução biológica, que tem
fatores facilmente quantificáveis. Especificamente, a seleção natural leva os seres
vivos a um comportamento que otimiza seu sucesso reprodutivo; calculando a
descendência,pode-semediressesucessoemnúmeros.
E - Poderia-se quantificar fatores históricos, como a mudança de prestígio ou a
utilidadedeumalínguainfluiemseu"sucessoreprodutivo".
RS - Sim. O sociolinguista William Labov descobriu por exemplo que às vezes os
dialetos evoluem muito rapidamente, sob influência de fatores sociais. Numa ilha da
costa leste dos Estados Unidos, Martha's Vineyard, os habitantes desenvolveram um
dialeto especial quando quiseram diferenciar-se dos ricaços que começaram a vir e
comprar casas de veraneio. Os dialetos são úteis para sinalizar que se pertence ou não
aumdeterminadogrupo.
E - Também esse fator de pertinência o senhor poderia colocar em seu modelo? Afinal
esse modelo tem como premissa que as pessoas querem comunicar-se com o maior
número possível – enquanto que neste caso trata-se da vontade de não se comunicar
comalguns.
RS - A língua tem não apenas uma função comunicativa, mas também de distinção
social. Esta última também pode ser útil ao falante: se você se comunica em dialeto,
você está mais próximo aos demais falantes, e eles então tendem mais a ajudá-lo do
queapessoasquenãofalamodialeto.
E - Parece que a teoria dos jogos encontrou sua melhor aplicação até agora na
economia.
RS - Sim, mas também nesse campo ela ajuda mais a melhorar a compreensão do que
fazerrecomendaçõesdiretas.Quemelaborouaestruturaàqualarecomendaçãodeve
se aplicar é que pode recomendar alguma coisa. Por isso agora, quando acontecem
leilões de frequências de rádio e televisão nos Estados Unidos, com regras definidas
porteóricosdejogo,oscompradoresestãobuscandoaconsultoriadeoutrosteóricos.
E-Assimseenriquececomateoriadosjogos?
RS - Não, não se enriquece... Meu objetivo nunca foi este. Eu quero entender como a
economiafunciona–nãoparaganharriqueza,maspelacompreensãoemsi.
E - Em outra entrevista o senhor mencionou que sua prioridade científica de fato não é
maisateoriadosjogos.
RS - Eu ainda me ocupo dela, mas eu me interesso mais pelo campo chamado
"racionalidade limitada", que é importante também para a teoria dos jogos. Quero
dizer que a teoria dos jogos supõe em geral que toda pessoa é capaz de agir o mais
racionalmente possível em seu próprio interesse. Mas a capacidade humana de
cálculo e pensamento é muito limitada na realidade. E mesmo com essa limitação nós
todos devemos agir num mundo extremamente complexo. Então o problema é: com
que teoria se poderia descrever a ação de pessoas com capacidades limitadas que
tomam decisões em situações econômicas muito complexas? Já há muitas décadas eu
creio que se deva evoluir uma teoria sobre isso. Eu comecei a fazer experimentos
nessa área já no final dos anos 50. Eu posso dar um exemplo de racionalidade limitada
com relação ao Esperanto. Todo mundo sabe que é melhor exigir pagamento por um
curso de Esperanto, porque se o aluno paga é mais provável que ele fique até o fim do
curso.Ofatodepagarnãodeveriainfluirsuadecisãodeficar,porqueemtodocasoseu
dinheiro já foi dado. A utilidade de continuar ou não continuar independe totalmente
dofatodehaverpagoounão.
E - A racionalidade limitada com certeza influi nas decisões de aprendizado de línguas!
Umberto Eco disse numa entrevista que se se fizesse uma decisão racional de Estado,
por exemplo na França 2% da população deveria aprender o búlgaro, tal a proporção
desuaimportânciaparaosfranceses.
RS - Mas não deixe de considerar que com o inglês você pode no entanto atingir os
búlgaros que falam inglês. E justamente esses você mais quer atingir, porque
provavelmente eles é que têm mais dólares! (risos) Como o inglês tem um papel
internacional,muitosoescolhemcomoprimeiralínguaestrangeira.
E-Osenhormesmopareceterescritomaiseminglêsdoqueemalemão.
RS - Na juventude eu escrevia muito também em alemão – mas hoje até para uma
edição na Alemanha é melhor escrever em inglês. De outro modo os alemães acham
que você não tem nada de importante para dizer! Isso certamente não agrada a um
esperantista como eu, mas eu acho que até esse tipo de internacionalidade é melhor
do que nenhuma internacionalidade. Eu de fato preferiria que todos os trabalhos
científicosfossememEsperanto,masissonãosepodeatingirdeumdiaparaooutro.
E - A internacionalidade do inglês já atingiu o ponto de não ter mais volta, a massa
crítica?
RS - Não, e os esperantistas com certeza têm uma esperança: parece que o
aprendizado de Esperanto facilita o aprendizado posterior de línguas estrangeiras. O
Esperanto deveria ser bem sucedido mesmo apenas por esse único motivo. Mas para
realizarissoénecessárioumnúmerosuficientedepessoasquejásaibamEsperanto...
E - ... e que possam ensinar. Voltando ao aluno de seu exemplo: será que as pessoas
que já estão no movimento esperantista não agem de forma semelhante? Elas
pensariam: "Eu investi muito no Esperanto, seria uma pena abandoná-lo, ainda que
elenãosetorneumasegundalínguadivulgada".
RS - No meu entender, alguém é esperantista não apenas para ver a vitória de sua
ideia; é importante apoiar também tais ideias cuja vitória fácil não se pode esperar. Se
algoémoralmentebom,permanecebommesmosenãoobtémsucesso.Ofatodenão
sepodervera"vitóriafinal"nãoémotivoparaabandonaroideal.
E - Além disso, a comunidade esperantista tem em si mesma muitas características
atraentes.
RS - Com certeza! Infelizmente, quanto mais envelheço mais difícil está sendo para eu
desfrutar desses atrativos, por falta de tempo. Em minha juventude era mais fácil para
mim.
E-Nãopodemosdeixardeperguntarsobrecomosetornouesperantista...
RS - Eu comecei a aprender Esperanto aos 17 anos, em 1946 ou 47, como autodidata.
DefatoeujáhavialidoantesumlivroemBreslau[atualWroclaw,Polônia],ondeeuvivi
até fevereiro de 1945. Meu pai era esperantista, bastante ativo no movimento dos
cegos esperantistas. No entanto eu não aprendi a língua por influência direta dele, só
bemdepoisdesuamorte.
Em 1960 em Frankfurt eu fui vice-presidente do clube local de Esperanto. Fiz até um
exame para professor, mesmo se você pensar que meu conhecimento lingüístico não
merecesseessadistinção(risos).Nocomeçodos anos 60eurealmentedeiumcurso,e
o grupo de diplomados encontrava-se toda quinta-feira em minha casa. Eu conheci
minha esposa graças ao Esperanto. Quando meu filho caçula tinha 14 anos, eu o
incentivei a participar de um congresso em Frankfurt, e o ensinei pelo livro Petro, da
SAT (SennaciecaAsocioTutmonda-AssociaçãoMundialsemNacionalidade).
E-Osseuscolegas–eagoraosjornalistas–sabemqueosenhoréesperantista?Como
elesreagem?
RS - Eu não pretendo me tornar uma figura pública. Eu quero viver minha vida mais ou
menos como antes. Mas eu nunca escondi que sou esperantista, e não esconderei.; eu
até procuro a oportunidade de falar sobre o Esperanto em entrevistas. Por exemplo
num programa de televisão pediram que eu dissesse algo em Esperanto e eu
cumprimentei todos os espectadores esperantistas. Já escrevi ao embaixador alemão
na Suécia, que dará um almoço em minha homenagem, para que ele convide alguns
esperantistas.AssimeutereiaoportunidadedefalaremEsperanto.Vãonotar,porque
eusereiocentrodasatenções.(risos)
E - Obrigado pela entrevista. Eu jamais esperava entrevistar um Prêmio Nobel para a
revistaEsperanto.
RS -EeununcapenseiqueumdiaaEsperantofariaumaentrevistacomigo.
www.intraespo.org/brasil
www.falesperanto.com.br
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Entrevista revela como Reinhard Selten se tornou esperantista e defende a língua

  • 1. Se um jornalista deseja entrevistar uma personalidade, em geral é preciso insistir, persistir, esperar bastante tempo e dispor de apenas alguns minutos na agenda do entrevistado. Não foi assim com o esperantista alemão Reinhard Selten, prêmio Nobel de Economia de 1994 por sua teoria dos jogos: apesar de sua falta de tempo premente, ele recebeu de bom grado alguns jornalistas do movimento esperantista, entre eles Ulrich Lins, vice-presidente da Associação Universal de Esperanto (UEA) e o redatorIstvánErtl,comosquaisfalounumEsperantofluente,em10denovembrode94,emBonn. Revista Esperanto - O senhor é pelo menos o quarto esperantista na história do Prêmio Nobel. Parece que os esperantistas recebem esse prêmio com bastante frequência, em proporção ao número de falantes de Esperanto. Então, para receber umPrêmioNobel,ateoriadosjogosaconselhariaoaprendizadodeEsperanto? Reinhard Selten - Aprender Esperanto talvez não ajude nisso, mas em geral faz evoluir a vida intelectual de uma pessoa. O Esperanto aprendido na juventude traz grande vantagem para o aprendizado de outras línguas. A teoria dos jogos é uma teoria matemática sobre conflito e colaboração, de situações nas quais se pode favorecer ou contrariar um ao outro, ou ambos ao mesmo tempo. Ela mal pode fazer recomendações diretas, mas apenas fornecer um conhecimento de fundo. Porém ela nos dá uma melhor compreensão em situações complicadas. E ainda ajuda a compreendermaisrápidonovassituaçõesdeummesmotipo.Equemtemummelhor entendimentopodeagirmelhor. E - No trabalho "Devo aprender Esperanto?" (1982), que o senhor publicou com Jonathan Pool, através da teoria dos jogos o senhor deu uma resposta encorajadora a essa pergunta, mas apenas no âmbito de um modelo muito limitado, não tão semelhanteàrealidade. Não apenas para ver a vitória Entrevista publicada originalmente no número 1065, dezembro de 94, pág. 202-3 da revista Esperanto, da Associação Universal de Esperanto e traduzida pelo KCE.
  • 2. RS - Pool e eu generalizamos esse modelo de decisões pelo aprendizado de línguas para a língua que se desejar, não apenas Esperanto, no artigo "A distribuição de proficiências em língua estrangeira como equilíbrio dos jogos" (1991). Se dispuséssemos de estatísticas suficientes sobre os falantes de diversas línguas, nós poderíamos aperfeiçoar nosso modelo. Ele também deveria considerar os diversos graus de domínio de uma língua, ao invés de contar apenas com respostas do tipo "sim" e "não". Mas sempre faltou tempo para esse aperfeiçoamento. Além disso, os modelos de teoria dos jogos não podem deixar de ser limitados, porque as situações reaissãotãocomplexasquenósnãopodemosnemsonharemanalisá-las. E - Outros teóricos de sua especialidade se ocuparam com estratégias de aprendizado delínguas? RS - Não, ninguém além de nós, apesar de que existem inúmeras aplicações da teoria dos jogos aos mais diversos temas. Por exemplo na evolução biológica, que tem fatores facilmente quantificáveis. Especificamente, a seleção natural leva os seres vivos a um comportamento que otimiza seu sucesso reprodutivo; calculando a descendência,pode-semediressesucessoemnúmeros. E - Poderia-se quantificar fatores históricos, como a mudança de prestígio ou a utilidadedeumalínguainfluiemseu"sucessoreprodutivo". RS - Sim. O sociolinguista William Labov descobriu por exemplo que às vezes os dialetos evoluem muito rapidamente, sob influência de fatores sociais. Numa ilha da costa leste dos Estados Unidos, Martha's Vineyard, os habitantes desenvolveram um dialeto especial quando quiseram diferenciar-se dos ricaços que começaram a vir e comprar casas de veraneio. Os dialetos são úteis para sinalizar que se pertence ou não aumdeterminadogrupo. E - Também esse fator de pertinência o senhor poderia colocar em seu modelo? Afinal esse modelo tem como premissa que as pessoas querem comunicar-se com o maior número possível – enquanto que neste caso trata-se da vontade de não se comunicar comalguns. RS - A língua tem não apenas uma função comunicativa, mas também de distinção social. Esta última também pode ser útil ao falante: se você se comunica em dialeto, você está mais próximo aos demais falantes, e eles então tendem mais a ajudá-lo do queapessoasquenãofalamodialeto.
  • 3. E - Parece que a teoria dos jogos encontrou sua melhor aplicação até agora na economia. RS - Sim, mas também nesse campo ela ajuda mais a melhorar a compreensão do que fazerrecomendaçõesdiretas.Quemelaborouaestruturaàqualarecomendaçãodeve se aplicar é que pode recomendar alguma coisa. Por isso agora, quando acontecem leilões de frequências de rádio e televisão nos Estados Unidos, com regras definidas porteóricosdejogo,oscompradoresestãobuscandoaconsultoriadeoutrosteóricos. E-Assimseenriquececomateoriadosjogos? RS - Não, não se enriquece... Meu objetivo nunca foi este. Eu quero entender como a economiafunciona–nãoparaganharriqueza,maspelacompreensãoemsi. E - Em outra entrevista o senhor mencionou que sua prioridade científica de fato não é maisateoriadosjogos. RS - Eu ainda me ocupo dela, mas eu me interesso mais pelo campo chamado "racionalidade limitada", que é importante também para a teoria dos jogos. Quero dizer que a teoria dos jogos supõe em geral que toda pessoa é capaz de agir o mais racionalmente possível em seu próprio interesse. Mas a capacidade humana de cálculo e pensamento é muito limitada na realidade. E mesmo com essa limitação nós todos devemos agir num mundo extremamente complexo. Então o problema é: com que teoria se poderia descrever a ação de pessoas com capacidades limitadas que tomam decisões em situações econômicas muito complexas? Já há muitas décadas eu creio que se deva evoluir uma teoria sobre isso. Eu comecei a fazer experimentos nessa área já no final dos anos 50. Eu posso dar um exemplo de racionalidade limitada com relação ao Esperanto. Todo mundo sabe que é melhor exigir pagamento por um curso de Esperanto, porque se o aluno paga é mais provável que ele fique até o fim do curso.Ofatodepagarnãodeveriainfluirsuadecisãodeficar,porqueemtodocasoseu dinheiro já foi dado. A utilidade de continuar ou não continuar independe totalmente dofatodehaverpagoounão. E - A racionalidade limitada com certeza influi nas decisões de aprendizado de línguas! Umberto Eco disse numa entrevista que se se fizesse uma decisão racional de Estado, por exemplo na França 2% da população deveria aprender o búlgaro, tal a proporção desuaimportânciaparaosfranceses. RS - Mas não deixe de considerar que com o inglês você pode no entanto atingir os
  • 4. búlgaros que falam inglês. E justamente esses você mais quer atingir, porque provavelmente eles é que têm mais dólares! (risos) Como o inglês tem um papel internacional,muitosoescolhemcomoprimeiralínguaestrangeira. E-Osenhormesmopareceterescritomaiseminglêsdoqueemalemão. RS - Na juventude eu escrevia muito também em alemão – mas hoje até para uma edição na Alemanha é melhor escrever em inglês. De outro modo os alemães acham que você não tem nada de importante para dizer! Isso certamente não agrada a um esperantista como eu, mas eu acho que até esse tipo de internacionalidade é melhor do que nenhuma internacionalidade. Eu de fato preferiria que todos os trabalhos científicosfossememEsperanto,masissonãosepodeatingirdeumdiaparaooutro. E - A internacionalidade do inglês já atingiu o ponto de não ter mais volta, a massa crítica? RS - Não, e os esperantistas com certeza têm uma esperança: parece que o aprendizado de Esperanto facilita o aprendizado posterior de línguas estrangeiras. O Esperanto deveria ser bem sucedido mesmo apenas por esse único motivo. Mas para realizarissoénecessárioumnúmerosuficientedepessoasquejásaibamEsperanto... E - ... e que possam ensinar. Voltando ao aluno de seu exemplo: será que as pessoas que já estão no movimento esperantista não agem de forma semelhante? Elas pensariam: "Eu investi muito no Esperanto, seria uma pena abandoná-lo, ainda que elenãosetorneumasegundalínguadivulgada". RS - No meu entender, alguém é esperantista não apenas para ver a vitória de sua ideia; é importante apoiar também tais ideias cuja vitória fácil não se pode esperar. Se algoémoralmentebom,permanecebommesmosenãoobtémsucesso.Ofatodenão sepodervera"vitóriafinal"nãoémotivoparaabandonaroideal. E - Além disso, a comunidade esperantista tem em si mesma muitas características atraentes. RS - Com certeza! Infelizmente, quanto mais envelheço mais difícil está sendo para eu desfrutar desses atrativos, por falta de tempo. Em minha juventude era mais fácil para mim. E-Nãopodemosdeixardeperguntarsobrecomosetornouesperantista...
  • 5. RS - Eu comecei a aprender Esperanto aos 17 anos, em 1946 ou 47, como autodidata. DefatoeujáhavialidoantesumlivroemBreslau[atualWroclaw,Polônia],ondeeuvivi até fevereiro de 1945. Meu pai era esperantista, bastante ativo no movimento dos cegos esperantistas. No entanto eu não aprendi a língua por influência direta dele, só bemdepoisdesuamorte. Em 1960 em Frankfurt eu fui vice-presidente do clube local de Esperanto. Fiz até um exame para professor, mesmo se você pensar que meu conhecimento lingüístico não merecesseessadistinção(risos).Nocomeçodos anos 60eurealmentedeiumcurso,e o grupo de diplomados encontrava-se toda quinta-feira em minha casa. Eu conheci minha esposa graças ao Esperanto. Quando meu filho caçula tinha 14 anos, eu o incentivei a participar de um congresso em Frankfurt, e o ensinei pelo livro Petro, da SAT (SennaciecaAsocioTutmonda-AssociaçãoMundialsemNacionalidade). E-Osseuscolegas–eagoraosjornalistas–sabemqueosenhoréesperantista?Como elesreagem? RS - Eu não pretendo me tornar uma figura pública. Eu quero viver minha vida mais ou menos como antes. Mas eu nunca escondi que sou esperantista, e não esconderei.; eu até procuro a oportunidade de falar sobre o Esperanto em entrevistas. Por exemplo num programa de televisão pediram que eu dissesse algo em Esperanto e eu cumprimentei todos os espectadores esperantistas. Já escrevi ao embaixador alemão na Suécia, que dará um almoço em minha homenagem, para que ele convide alguns esperantistas.AssimeutereiaoportunidadedefalaremEsperanto.Vãonotar,porque eusereiocentrodasatenções.(risos) E - Obrigado pela entrevista. Eu jamais esperava entrevistar um Prêmio Nobel para a revistaEsperanto. RS -EeununcapenseiqueumdiaaEsperantofariaumaentrevistacomigo. www.intraespo.org/brasil www.falesperanto.com.br Organização Mundial para o Desenvolvimento da Economia Esperantista