2. Introdução:
As lesões do periápice desenvolvem-se a partir da inflamação direta da polpa
(pulpite) e/ou a partir do periodonto. Em outros tecidos do organismo,
quando ocorrem lesões, mediadores inflamatórios são liberados na corrente
sanguínea para que ocorra vasodilatação, o que aumenta o fluxo sanguíneo e
o extravasamento linfático, causando o edema. A resposta inicial da polpa
difere-se porque ela está circundada por tecido mineralizado com pouca ou
nenhuma elasticidade; consequentemente, a vasodilatação impede o fluxo
de retorno sanguíneo, o que aumenta a pressão intracanal, podendo causar
sua necrose e estender-se para a região apical do dente envolvido.
A ocorrência da necrose pulpar depende, principalmente, da natureza da
agressão (lesão física, química, térmica ou bacteriana) e da intensidade e da
capacidade orgânica de defesa. Pode ocorrer apenas em função da
inflamação, mesmo que não haja infecção (bactérias). As características
radiográficas das lesões periapicais variam conforme o tempo de progressão
e a sua natureza.
3. Abcesso periapical agudo:
O estágio inicial do processo pode ser caracterizado por inflamação do ligamento periodontal de origem
séptica ou mesmo asséptica, provocada, por exemplo, pelo excesso de forças mastigatórias sobre o
dente, sendo, nesse caso, reversível. Na região apical, como resposta vascular é provocado um edema,
que preenche todo o espaço periodontal. Não há evidências radiográficas nessa lesão, a não ser
aumento do espaço periodontal, embora clinicamente haja acentuadas evidências do processo, como os
sinais de Celsius, com aumento do volume da face e dor intensa. O abscesso também pode ocorrer por
agudização de um processo crônico preexistente e tem duração de até 72 horas. O tratamento do tipo
agudo deve ser por drenagem do material purulento associada a antibioticoterapia e tratamento
endodôntico.
4. Abscesso periapical crônico:
O abscesso periapical crônico caracteriza-se por exibir infiltrado inflamatório crônico com linfócitos e
plasmócitos e apresentar um equilíbrio entre o hospedeiro e os agentes microbianos de baixa
intensidade, com coleção purulenta presente e que drena na forma branda de uma fístula.
Radiograficamente apresenta aspecto de rarefação óssea periapical difusa.
5. Abscesso fênix
• Quando o abscesso alveolar agudo se desenvolve a partir da exacerbação de um granuloma apical ou
de um abscesso apical crônico, recebe o nome de Abscesso Fênix (o que ressurgiu).
6. Caso clínico:
Paciente M.A.O., sexo feminino, 49 anos chegou à Clínica Odontológica com a queixa
principal de “meu dente da frente quebrou”. Durante a anamnese a mesma relatou
que a fratura ocorreu em 3 dentes enquanto ela comia carne há quatro 4 meses atrás, mas
apresentava-se assintomático. O exame clínico intraoral da paciente apresentou uma fístula na mucosa
vestibular na região do ápice do dente 21 (FIGURA 01), seus tecidos duros estavam normais. A coroa
do dente estava fraturada até a dentina. Nos exames radiográficos foi possível notar uma câmara
pulpar atresiada, com canal radicular atresiado e imagem radiolúcida circunscrita no ápice radicular
com descontinuidade da lâmina dura (FIGURA 02).
Quanto às características da dor, seu aparecimento era provocado, de curta duração, com frequência
intermitente, localizada e de intensidade leve. Aos testes térmicos de sensibilidade pulpar a paciente
apresentou resposta negativa. A hipótese diagnóstica frente ao quadro foi de abscesso
periapical crônico. O tratamento escolhido para o dente 21
foi o endodôntico com esvaziamento, seguido por pulpectomia, preparo do canal radicular,
obturação, selamento provisório e o uso de medicação intracanal com Ca(OH)2+ soro por 15 dias. Na
segunda sessão notou-se o desaparecimento da fístula devido a medicação intracanal (FIGURA 03)