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Idade versus Tamanho, e Startups Enxutas
Ruy José Guerra Barretto de Queiroz, Professor Associado, Centro de Informática da UFPE

É quase uma verdade inquestionável nos meios econômicos: a pequena empresa é o grande
motor da criação de empregos. No caso dos Estados Unidos, no entanto, essa verdade
universal pode estar perdendo seu posto. Embora o olhar tradicional sobre os números nos
permita concluir que dois terços dos novos empregos são criados por empresas com menos de
500 empregados, que é a definição de pequena empresa para o governo americano, num
artigo intitulado “Who Creates Jobs? Small vs. Large vs. Young”, por John C. Haltiwanger, Ron
S. Jarmin e Javier Miranda (Working Paper 16300, National Bureau of Economic Research,
Agosto 2010), os autores demonstram, utilizando dados de 1976 a 2005 do Census Bureau
Business Dynamics Statistics e do Longitudinal Business Database, que, quando a idade das
empresas é levada em conta, não há diferença entre o desempenho de empresas grandes e
pequenas no que diz respeito à geração de empregos. “Tamanho quase não tem qualquer
influência. É tudo idade – startups são onde a criação de empregos realmente ocorre”,
declarou John Haltiwanger, co-autor e professor de economia da University of Maryland, numa
matéria recente de Steve Lohr no New York Times (“To Create Jobs, Nurture Start-Ups”,
11/09/10).

Em poucas palavras, o artigo de Haltiwanger e seus colaboradores demonstra que os dados
utilizados tradicionalmente na interpretação das análises do relacionamento entre o tamanho
da empresa e o crescimento de empregos contêm pouca ou nenhuma informação sobre a
idade da empresa. Ao introduzir controle sobre os efeitos do tipo de indústria e do ano, surge
um relacionamento inverso entre as taxas líquidas de crescimento e o tamanho da empresa.
Uma vez adicionado o controle sobre a idade da empresa, deixa de existir um relacionamento
sistemático entre as taxas líquidas de crescimento e o tamanho da empresa. Isso significa que
o ano de fundação contribui substancialmente tanto para a criação de empregos bruta quanto
líquida. É importante lembrar, no entanto, que, em razão do fato de que empresas jovens
tendem a ser pequenas, a descoberta de um relacionamento inverso sistemático entre o
tamanho da empresa e as taxas líquidas de crescimento em análises anteriores pode ser
inteiramente atribuída ao fato de que a maioria das novas empresas são classificadas como
pequenas.

A um veredito semelhante chegaram Dane Stangler e Paul Kedrosky em relatório
recentemente publicado pela Kauffman Foundation, intitulado “Neutralism and
Entrepreneurship: The Structural Dynamics of Startups, Young Firms, and Job Creation”
(Setembro 2010): startups e empresas jovens (i.e., aquelas com menos de 5 anos de sua
fundação) são responsáveis por toda a criação líquida de empregos nos Estados Unidos.
Segundo os autores, embora tenha se firmado como um consenso entre os especialistas em
política econômica, essa idéia continua a surpreender, e, até certo ponto, desapontar, muitos
analistas. Afinal de contas, como se explica o fato de que as startups e as empresas jovens,
geralmente entendidas como constituindo a parte mais volátil da economia, continuam
aparecendo como a principal fonte de novos empregos? Não seria o caso de todos os
empregos criados por tais empresas desaparecerem logo em seguida? Mesmo que essas
empresas sejam responsáveis pela maior parte do resultado positivo no que diz respeito à
criação de empregos, o que dizer de seu efeito no emprego em empresas existentes: seria o
caso de que elas destruiriam simultaneamente os empregos em outras partes da economia,
portanto anulando o efeito de sua própria criação de empregos?

Com vistas a contribuir para um melhor entendimento da dinâmica de criação de empresas e
geração de empregos nos Estados Unidos, Stangler e Kedrosky se propõem a responder à
seguinte questão: por que empresas novas e empresas jovens criam (ou parecem criar) quase
todos os novos empregos líquidos? Sem diminuir a contribuição das startups e das empresas
jovens na criação de empregos, a conclusão é a de que são muitas as razões por trás dos
padrões que se observam em termos da relação entre a idade da empresa e a taxa líquida de
criação de empregos, pois, na medida em que a economia evolui, a quantidade de empresas
acumula ao longo do tempo, e, com os níveis de entrada e saída na economia permanecendo
relativamente estáveis, as empresas novas e as jovens deverão continuar a constituir a maior
categoria na economia como um todo, e as maiores responsáveis pelos novos empregos
líquidos. Com efeito, desde 1977 o nível e a taxa de criação de empresas nos EUA têm
permanecido praticamente os mesmos, e em artigo anterior (“Exploring Firm Formation: Why
is the Number of New Firms Constant?”, Jan 2010), Stangler e Kedrosky já sugeriam uma
semelhança entre esse estado de coisas e a teoria neutra da evolução proposta pelo biólogo
Motoo Kimura no final da década de 1960: “A seleção natural é uma força conservadora. Passa
a maior parte do seu tempo mantendo as espécies as mesmas do que mudando-as.” Dessa
forma, defendem os autores, tal qual o que Kimura fez com mudança molecular e seleção
natural, podemos ver a relação entre criação de empresas e geração de empregos como uma
força em favor da estabilidade.

Os dados mostram que, em qualquer dos últimos trinta anos, empresas novas e jovens
constituem o maior bloco nos EUA, o que leva a uma expectativa no sentido de que serão elas
as maiores geradoras de novos empregos. E um resultado dessa dinâmica de acumulação de
empresas é a importância da criação de empresas para o crescimento econômico, pelo menos
no sentido neutralista de se ter uma base de criação e destruição de empresas a partir da qual
a seleção natural opera como força conservadora. É natural indagar como e quando essa base
de níveis relativamente estáveis pode mudar. Um fator crucial a se considerar é o custo de
criação de empresas, e nesse sentido é importante observar a tendência para a sua
diminuição. No setor de tecnologia da informação, por exemplo, a conjunção da redução de
custos de infraestrutura e de distribuição, com a disponibilidade de software de código aberto,
significa que algo que custava entre 2 e 3 milhões de dólares há 10 anos pode estar custando
hoje em torno dos 100 mil dólares. E isso pode representar uma redução significativa das
barreiras de entrada no mercado sobretudo para os jovens empreendedores com pouco ou
nenhum acesso a capital.

Paralelamente, observa-se uma tendência de reestruturação nos mercados de capital de risco,
sobretudo no setor de empresas de tecnologia da informação. O surgimento e a consolidação
de programas de aceleração baseadas em capital semente tais como TechStars, Y Combinator,
e Betaworks, tem estimulado e facilitado a adoção de abordagens tais como “Startup Enxuta”
(em inglês, “Lean Startup”), popularizada por Eric Ries, autor do blog “Startups Lessons
Learned”. Em entrevista ao portal Vator.com (“Eric Ries and his 'lean startup' awakening. It's
not about cost, it's about speed - rapid hypothesis testing and validated learning”, Abril 2010),
Ries explica que, com o declínio econômico recente, juntamente com um declínio em custos
de tecnologia, a idéia de se tomar menos dinheiro emprestado inicialmente e gastar
sabiamente para atingir uma maior probabilidade de sucesso está se consolidando como uma
nova abordagem à criação de startup. Se por um lado já havia proponentes de tais
metodologias, tais como Steve Blank, empreendedor em série, professor em Stanford e
Berkeley, e autor de “The Four Steps to the Epiphany” (Cafepress.com, 2006), assim como
Donald Reinertsten, que escreveu “The Principles of Product Development Flow”, Ries expõe
sua abordagem experimental ao desenvolvimento de produtos baseada na iteração “construa,
meça, aprenda”. E a abordagem transborda ao universo dos investidores. Em palestra na
conferência GROW (Vancouver, Ago 2010) intitulada “The Lean VC: a Silicon Valley story about
Innovation, Incubation, & Iteration”, Dave McClure define o modelo do “investidor enxuto”:
“invista em muitas startups usando investimento incremental, desenvolvimento iterativo.
Comece com muitos experimentos pequenos, filtre os fracassos, e expanda o investmento
sobre os sucessos… (Enxágue & Repita).”

Como bem observam Stangler e Kedrosky, se, por um lado, as empresas de tecnologia da
informação representam apenas uma pequena parcela do universo das startups, os efeitos
sentidos ali já se fazem sentir em outros setores. Por exemplo, novas empresas de serviços
cada vez mais encontram clientes através de serviços online de reputação, o que significa que
seus custos de marketing tendem a diminuir ao mesmo tempo em que seu alcance aumenta.
Igualmente, tem se tornado cada vez mais fácil para pesquisadores compartilharem
informações sobre problemas difíceis em áreas como biologia e tecnologia limpa (sem
esquecer o caso recente do problema mais fundamental da ciência da computação “P=NP?”),
possivelmente com um impacto correspondente nos custos e nas chances de comercialização.

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  • 1. Idade versus Tamanho, e Startups Enxutas Ruy José Guerra Barretto de Queiroz, Professor Associado, Centro de Informática da UFPE É quase uma verdade inquestionável nos meios econômicos: a pequena empresa é o grande motor da criação de empregos. No caso dos Estados Unidos, no entanto, essa verdade universal pode estar perdendo seu posto. Embora o olhar tradicional sobre os números nos permita concluir que dois terços dos novos empregos são criados por empresas com menos de 500 empregados, que é a definição de pequena empresa para o governo americano, num artigo intitulado “Who Creates Jobs? Small vs. Large vs. Young”, por John C. Haltiwanger, Ron S. Jarmin e Javier Miranda (Working Paper 16300, National Bureau of Economic Research, Agosto 2010), os autores demonstram, utilizando dados de 1976 a 2005 do Census Bureau Business Dynamics Statistics e do Longitudinal Business Database, que, quando a idade das empresas é levada em conta, não há diferença entre o desempenho de empresas grandes e pequenas no que diz respeito à geração de empregos. “Tamanho quase não tem qualquer influência. É tudo idade – startups são onde a criação de empregos realmente ocorre”, declarou John Haltiwanger, co-autor e professor de economia da University of Maryland, numa matéria recente de Steve Lohr no New York Times (“To Create Jobs, Nurture Start-Ups”, 11/09/10). Em poucas palavras, o artigo de Haltiwanger e seus colaboradores demonstra que os dados utilizados tradicionalmente na interpretação das análises do relacionamento entre o tamanho da empresa e o crescimento de empregos contêm pouca ou nenhuma informação sobre a idade da empresa. Ao introduzir controle sobre os efeitos do tipo de indústria e do ano, surge um relacionamento inverso entre as taxas líquidas de crescimento e o tamanho da empresa. Uma vez adicionado o controle sobre a idade da empresa, deixa de existir um relacionamento sistemático entre as taxas líquidas de crescimento e o tamanho da empresa. Isso significa que o ano de fundação contribui substancialmente tanto para a criação de empregos bruta quanto líquida. É importante lembrar, no entanto, que, em razão do fato de que empresas jovens tendem a ser pequenas, a descoberta de um relacionamento inverso sistemático entre o tamanho da empresa e as taxas líquidas de crescimento em análises anteriores pode ser inteiramente atribuída ao fato de que a maioria das novas empresas são classificadas como pequenas. A um veredito semelhante chegaram Dane Stangler e Paul Kedrosky em relatório recentemente publicado pela Kauffman Foundation, intitulado “Neutralism and Entrepreneurship: The Structural Dynamics of Startups, Young Firms, and Job Creation” (Setembro 2010): startups e empresas jovens (i.e., aquelas com menos de 5 anos de sua fundação) são responsáveis por toda a criação líquida de empregos nos Estados Unidos. Segundo os autores, embora tenha se firmado como um consenso entre os especialistas em política econômica, essa idéia continua a surpreender, e, até certo ponto, desapontar, muitos analistas. Afinal de contas, como se explica o fato de que as startups e as empresas jovens, geralmente entendidas como constituindo a parte mais volátil da economia, continuam aparecendo como a principal fonte de novos empregos? Não seria o caso de todos os empregos criados por tais empresas desaparecerem logo em seguida? Mesmo que essas
  • 2. empresas sejam responsáveis pela maior parte do resultado positivo no que diz respeito à criação de empregos, o que dizer de seu efeito no emprego em empresas existentes: seria o caso de que elas destruiriam simultaneamente os empregos em outras partes da economia, portanto anulando o efeito de sua própria criação de empregos? Com vistas a contribuir para um melhor entendimento da dinâmica de criação de empresas e geração de empregos nos Estados Unidos, Stangler e Kedrosky se propõem a responder à seguinte questão: por que empresas novas e empresas jovens criam (ou parecem criar) quase todos os novos empregos líquidos? Sem diminuir a contribuição das startups e das empresas jovens na criação de empregos, a conclusão é a de que são muitas as razões por trás dos padrões que se observam em termos da relação entre a idade da empresa e a taxa líquida de criação de empregos, pois, na medida em que a economia evolui, a quantidade de empresas acumula ao longo do tempo, e, com os níveis de entrada e saída na economia permanecendo relativamente estáveis, as empresas novas e as jovens deverão continuar a constituir a maior categoria na economia como um todo, e as maiores responsáveis pelos novos empregos líquidos. Com efeito, desde 1977 o nível e a taxa de criação de empresas nos EUA têm permanecido praticamente os mesmos, e em artigo anterior (“Exploring Firm Formation: Why is the Number of New Firms Constant?”, Jan 2010), Stangler e Kedrosky já sugeriam uma semelhança entre esse estado de coisas e a teoria neutra da evolução proposta pelo biólogo Motoo Kimura no final da década de 1960: “A seleção natural é uma força conservadora. Passa a maior parte do seu tempo mantendo as espécies as mesmas do que mudando-as.” Dessa forma, defendem os autores, tal qual o que Kimura fez com mudança molecular e seleção natural, podemos ver a relação entre criação de empresas e geração de empregos como uma força em favor da estabilidade. Os dados mostram que, em qualquer dos últimos trinta anos, empresas novas e jovens constituem o maior bloco nos EUA, o que leva a uma expectativa no sentido de que serão elas as maiores geradoras de novos empregos. E um resultado dessa dinâmica de acumulação de empresas é a importância da criação de empresas para o crescimento econômico, pelo menos no sentido neutralista de se ter uma base de criação e destruição de empresas a partir da qual a seleção natural opera como força conservadora. É natural indagar como e quando essa base de níveis relativamente estáveis pode mudar. Um fator crucial a se considerar é o custo de criação de empresas, e nesse sentido é importante observar a tendência para a sua diminuição. No setor de tecnologia da informação, por exemplo, a conjunção da redução de custos de infraestrutura e de distribuição, com a disponibilidade de software de código aberto, significa que algo que custava entre 2 e 3 milhões de dólares há 10 anos pode estar custando hoje em torno dos 100 mil dólares. E isso pode representar uma redução significativa das barreiras de entrada no mercado sobretudo para os jovens empreendedores com pouco ou nenhum acesso a capital. Paralelamente, observa-se uma tendência de reestruturação nos mercados de capital de risco, sobretudo no setor de empresas de tecnologia da informação. O surgimento e a consolidação de programas de aceleração baseadas em capital semente tais como TechStars, Y Combinator, e Betaworks, tem estimulado e facilitado a adoção de abordagens tais como “Startup Enxuta” (em inglês, “Lean Startup”), popularizada por Eric Ries, autor do blog “Startups Lessons Learned”. Em entrevista ao portal Vator.com (“Eric Ries and his 'lean startup' awakening. It's
  • 3. not about cost, it's about speed - rapid hypothesis testing and validated learning”, Abril 2010), Ries explica que, com o declínio econômico recente, juntamente com um declínio em custos de tecnologia, a idéia de se tomar menos dinheiro emprestado inicialmente e gastar sabiamente para atingir uma maior probabilidade de sucesso está se consolidando como uma nova abordagem à criação de startup. Se por um lado já havia proponentes de tais metodologias, tais como Steve Blank, empreendedor em série, professor em Stanford e Berkeley, e autor de “The Four Steps to the Epiphany” (Cafepress.com, 2006), assim como Donald Reinertsten, que escreveu “The Principles of Product Development Flow”, Ries expõe sua abordagem experimental ao desenvolvimento de produtos baseada na iteração “construa, meça, aprenda”. E a abordagem transborda ao universo dos investidores. Em palestra na conferência GROW (Vancouver, Ago 2010) intitulada “The Lean VC: a Silicon Valley story about Innovation, Incubation, & Iteration”, Dave McClure define o modelo do “investidor enxuto”: “invista em muitas startups usando investimento incremental, desenvolvimento iterativo. Comece com muitos experimentos pequenos, filtre os fracassos, e expanda o investmento sobre os sucessos… (Enxágue & Repita).” Como bem observam Stangler e Kedrosky, se, por um lado, as empresas de tecnologia da informação representam apenas uma pequena parcela do universo das startups, os efeitos sentidos ali já se fazem sentir em outros setores. Por exemplo, novas empresas de serviços cada vez mais encontram clientes através de serviços online de reputação, o que significa que seus custos de marketing tendem a diminuir ao mesmo tempo em que seu alcance aumenta. Igualmente, tem se tornado cada vez mais fácil para pesquisadores compartilharem informações sobre problemas difíceis em áreas como biologia e tecnologia limpa (sem esquecer o caso recente do problema mais fundamental da ciência da computação “P=NP?”), possivelmente com um impacto correspondente nos custos e nas chances de comercialização.