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CIF-WIN-S 2017
ICF-WIN-S 2017
R e s u m o
O principal motivo para implantação da CIF num Sistema Municipal de Saúde
é a criação políticas públicas intersetoriais ou a melhoria das políticas públicas
existentes. Para isso, é necessário que indicadores de funcionalidade sejam
construídos a partir da tabulação dos códigos da CIF. Essa tabulação é possível
com o uso do aplicativo TabWin após a aplicação da CIF na Atenção Primária.
Palavras-chave: CIF, TabWin, políticas.
A b s t r a c t
The main reason for implementing the ICF into a Municipal Health System is
the creation of intersectoral public policies or the improvement of existing
public policies. For this, it is necessary that functioning indicators be
constructed from the tabulation of ICF codes. This tabulation can be done
with the use of the TabWin program, after the application of theICF in Primary
Care.
Key words: ICF, TabWin, policies.
Introdução
Muitos conhecedores da CIF no Brasil
ainda enfrentam dificuldades no processo de
implantação da ferramenta. Isso acontece,
especialmente, porque a maioria dos
profissionais apenas a encaram do ponto de
vista clínico e acaba deixando de lado o seu
principal objetivo.
A CIF, em seu escopo, estimula mais do
que o trabalho multidisciplinar,
interdisciplinar ou transdisciplinar. Na
verdade, ela faz com que os profissionais que
a utilizam reconheçam a dependência que
eles têm de outros profissionais, inclusive
daqueles que não são considerados
profissionais da área da Saúde, para garantir
a funcionalidade de alguém.
Nesse sentido, não há porque implantar a
CIF no Sistema de Saúde de um município se
o gestor principal, o Secretário de Saúde, não
tiver condições de introduzir políticas
intersetoriais, ou seja, políticas de
recuperação e de proteção da funcionalidade
humana juntamente com outras Secretarias,
como as de Promoção Social, de Transporte
Público, de Segurança, Arquitetura e
Urbanismo, Educação, Esporte, entre outras1
.
Por outro lado, tendo as políticas públicas
como principal alvo, alguns passos precisam
ser seguidos a fim de criar um arcabouço
forte e consistente para uso da CIF e
aproveitamento das suas potencialidades.
Eduardo Santana de Araujo
Doutor em Saúde Pública, USP/2012.
Mestre em Saúde Pública, USP/2008.
Secretaria de Saúde de Osasco/SP.
Email: edusantana@usp.br
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
3
Araujo ESRevista Científica CIF Brasil. 2016; 6(6):2-5.
Recomendação de passos para a implantação
da CIF
O primeiro passo para implantação da CIF
é a apresentação da ferramenta aos usuários,
qual sejam, agentes comunitários,
fisioterapeutas, fonoaudiólogos e terapeutas
ocupacionais. O uso da classificação é
multiprofissional, no entanto, um modelo de
implantação crescente pode ajudar no
sucesso do processo, sendo que, após o
primeiro passo, todos os outros profissionais
poderão fazer parte do programa de
implantação e uso da ferramenta. Muitas
vezes, parece óbvia a necessidade de um
treinamento aprofundado para que seja dado
início ao uso. Porém, o aprofundamento
sobre a CIF deve ser apenas daqueles que
tabulam e interpretam os dados coletados.
Formulários pré-definidos, curtos e de fácil
uso ajudam a transpor a barreira do uso da
CIF e mesmo assim podem garantir que
informações importantes que atualmente não
são controladas pelos sistemas de informação
em saúde passem a ser2.
Após a apresentação, o segundo passo é a
construção fichas de notificação que serão
usadas pelos agentes comunitários,
fisioterapeutas, fonoaudiólogos e terapeutas
ocupacionais. Os agentes comunitários devem
usar um formulário simples para ser aplicado
juntamente com o cadastro dos indivíduos de
sua microárea. A aplicação da CIF é universal,
portanto, todas as pessoas cadastradas
devem ter sua situação classificada pelo
agente. Já no caso dos fisioterapeutas,
fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais da
atenção primária, a classificação será usada
com maior detalhamento e apenas nos casos
nos quais há a presença de problemas de
funcionalidade, identificados na triagem feita
pelo agente.
Fica claro que o principal uso da CIF está
na atenção básica, já que ela permite que
estratégias de proteção da funcionalidade
sejam definidas, além das estratégias de
recuperação da funcionalidade e de
prevenção da incapacidade. Basicamente,
quatro formulários com cerca de 10 a 20
categorias da CIF precisam ser criados, sendo
cada um deles para uso de cada profissional
citado. No caso do agente comunitário, as
categorias da CIF utilizadas devem ser as de
primeiro nível, já que o objetivo principal é
uma triagem. Em relação aos qualificadores,
apenas o “0” e o “8” são necessários. Já no
caso dos outros profissionais, as categorias
utilizadas podem chegar até o quarto nível,
devendo ser especialmente dos componentes
“d” e “e”, com clareza na apresentação do
desempenho como qualificador principal a
ser apresentado na sua forma completa.
Todos esses formulários devem ser de fácil
uso, de forma que não exijam um
treinamento árduo e profundo da
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
4
Araujo ESRevista Científica CIF Brasil. 2016; 6(6):2-5.
classificação, e sim, tão somente uma
apresentação geral3
. O aprofundamento pode
acontecer conforme o interesse e a
necessidade pessoal dos profissionais
envolvidos.
O próximo passo é a consolidação dos
dados. Todos os casos classificados precisam
compor um banco de dados. Como são quatro
áreas utilizando a CIF, teremos quatro bancos
de dados com informações específicas em
cada caso. Esse banco pode ser construído em
formato de planilha Excel, sendo um
indivíduo por linha e uma variável por coluna.
São exemplos de variáveis: data da consulta,
data da alta, sexo, idade, bairro, códigos da
CIF no cadastro, códigos da CIF na primeira
consulta, códigos da CIF na alta, número de
atendimentos e tempo de tratamento,
quando necessário.
Os dados consolidados nessa planilha
precisam ser submetidos a um quarto passo:
a tabulação. O aplicativo de tabulação mais
comum no meio dos sistemas de saúde
brasileiros, é o Tab, chamado de TabWin ou
TabNet, dependendo do arcabouço de
funcionamento, Windows ou Internet. No
entanto, o Tab não pode ler planilhas Excel.
Para que a leitura ocorra, é necessário
converter a planilha Excel em uma planilha
Data Base File ou dbf. O arquivo dbf será
usado para configurar o Tab e permitir
tabulações com os dados coletados com os
quatro formulários. O uso do aplicativo para
tabulação de dados da CIF está sendo neste
momento intitulado como CIF-WIN-S, TabWin
para a CIF em Sistemas de informação.
Assim, chegamos ao quinto passo: a
construção de indicadores4
. A construção de
indicadores depende dos dados que foram
escolhidos para tabulação. Estudos sobre a
frequência de problemas de funcionalidade
relacionados aos fatores ambientais, ao sexo,
a idade ou a enfermidades crônicas são, em
geral, indicadores utilizados e de relevância
para a atenção primária5
.
Estando definidos os indicadores, estes
poderão auxiliar no planejamento em saúde,
no diz respeito à avaliação, ao
monitoramento e ao controle das ações de
saúde. É a partir dessa abordagem que o
sétimo e último passo se torna possível: a
criação de novas políticas públicas ou o
aprimoramento de políticas públicas
existentes dentro de uma abordagem
intersetorial6
.
Planejamento financeiro para implantação
da CIF a partir de 2017
O primeiro semestre de 2017 é o momento
no qual os municípios deverão elaborar o
Plano Plurianual de Saúde (PPA), com
duração de quatro anos, bem como a
programação de 2018, que é derivada do
plano. Segundo a legislação vigente, todas as
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
5
Araujo ESRevista Científica CIF Brasil. 2016; 6(6):2-5.
cidades brasileiras têm até o meio do ano
para terem o plano apreciado por seus
respectivos Conselhos Municipais de Saúde. A
aprovação leva o tema para a Câmara
Legislativa, que deve aprovar o orçamento do
ano seguinte.
Sendo assim, para que a CIF seja
implantada em um município, ela deve
constar no PPA. Isso garantirá os recursos
necessários para que o processo ocorra
durante os quatro anos de vigência do plano,
de janeiro de 2018 a dezembro de 2021.
O quadro abaixo recomenda uma forma de
inserção da CIF no PPA.
Quadro 1: Implantação da CIF no Sistema Municipal de
Saúde.
Diretriz Objetivo Meta Indicador
Qualificação
das
informações
em saúde
Implantar a
CIF na
Atenção
Básica /
Atenção
Primária
Instituir uso
por 100% dos
agentes
comunitários,
fisioterapeutas,
fonoaudiólogos
e terapeutas
ocupacionais
da atenção
básica.
Proporção da
população
cadastrada
com situação
classificada
pela CIF.
A implantação e uso da CIF nos sistemas
municipais de saúde podem aproximar a
abordagem de um modelo biopsicossocial e
espiritual, mais completo e consistente na
promoção, proteção e recuperação da saúde7
.
Referências
1. Araujo ES, Neves SFP. Classificação
Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e
Saúde, e-SUS e TabWin: as experiências de Barueri
e Santo André/SP. Revista Baiana de Saúde
Pública. 2015; 39(2): 470-477.
2. Araujo ES, Buchalla CM. The use of the
International Classification of Functioning,
Disability and Health in health surveys: a reflexion
on its limits and possibilities. Revista Brasileira de
Epidemiologia. 2015; 18(3):720-724.
3. Huertas F. O método PES: entrevista com
Carlos Matus. São Paulo: Fundap. 1996.
4. Araujo ES, Araujo MA. Using the ICF: A tool for
obtaining data on functionality. Ed. Lambert.
2014.
5. Kisil M. Gestão da mudança organizacional. São
Paulo: Faculdade de Saúde Pública da
Universidade de São Paulo. 1998 (série Saúde &
Cidadania).
6. Paim JS. A reforma sanitária e os modelos
assistenciais. In: Rouquayrol MA, Naomar Fº A.
Epidemiologia & saúde. 5ª ed. Rio de Janeiro:
Medsi. 1999.
7. Senge PM. A quinta disciplina - arte teoria e
prática da organização da aprendizagem. São
Paulo: Best Seller. 1995.

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  • 1. 2 CIF-WIN-S 2017 ICF-WIN-S 2017 R e s u m o O principal motivo para implantação da CIF num Sistema Municipal de Saúde é a criação políticas públicas intersetoriais ou a melhoria das políticas públicas existentes. Para isso, é necessário que indicadores de funcionalidade sejam construídos a partir da tabulação dos códigos da CIF. Essa tabulação é possível com o uso do aplicativo TabWin após a aplicação da CIF na Atenção Primária. Palavras-chave: CIF, TabWin, políticas. A b s t r a c t The main reason for implementing the ICF into a Municipal Health System is the creation of intersectoral public policies or the improvement of existing public policies. For this, it is necessary that functioning indicators be constructed from the tabulation of ICF codes. This tabulation can be done with the use of the TabWin program, after the application of theICF in Primary Care. Key words: ICF, TabWin, policies. Introdução Muitos conhecedores da CIF no Brasil ainda enfrentam dificuldades no processo de implantação da ferramenta. Isso acontece, especialmente, porque a maioria dos profissionais apenas a encaram do ponto de vista clínico e acaba deixando de lado o seu principal objetivo. A CIF, em seu escopo, estimula mais do que o trabalho multidisciplinar, interdisciplinar ou transdisciplinar. Na verdade, ela faz com que os profissionais que a utilizam reconheçam a dependência que eles têm de outros profissionais, inclusive daqueles que não são considerados profissionais da área da Saúde, para garantir a funcionalidade de alguém. Nesse sentido, não há porque implantar a CIF no Sistema de Saúde de um município se o gestor principal, o Secretário de Saúde, não tiver condições de introduzir políticas intersetoriais, ou seja, políticas de recuperação e de proteção da funcionalidade humana juntamente com outras Secretarias, como as de Promoção Social, de Transporte Público, de Segurança, Arquitetura e Urbanismo, Educação, Esporte, entre outras1 . Por outro lado, tendo as políticas públicas como principal alvo, alguns passos precisam ser seguidos a fim de criar um arcabouço forte e consistente para uso da CIF e aproveitamento das suas potencialidades. Eduardo Santana de Araujo Doutor em Saúde Pública, USP/2012. Mestre em Saúde Pública, USP/2008. Secretaria de Saúde de Osasco/SP. Email: edusantana@usp.br
  • 2. - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 3 Araujo ESRevista Científica CIF Brasil. 2016; 6(6):2-5. Recomendação de passos para a implantação da CIF O primeiro passo para implantação da CIF é a apresentação da ferramenta aos usuários, qual sejam, agentes comunitários, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais. O uso da classificação é multiprofissional, no entanto, um modelo de implantação crescente pode ajudar no sucesso do processo, sendo que, após o primeiro passo, todos os outros profissionais poderão fazer parte do programa de implantação e uso da ferramenta. Muitas vezes, parece óbvia a necessidade de um treinamento aprofundado para que seja dado início ao uso. Porém, o aprofundamento sobre a CIF deve ser apenas daqueles que tabulam e interpretam os dados coletados. Formulários pré-definidos, curtos e de fácil uso ajudam a transpor a barreira do uso da CIF e mesmo assim podem garantir que informações importantes que atualmente não são controladas pelos sistemas de informação em saúde passem a ser2. Após a apresentação, o segundo passo é a construção fichas de notificação que serão usadas pelos agentes comunitários, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais. Os agentes comunitários devem usar um formulário simples para ser aplicado juntamente com o cadastro dos indivíduos de sua microárea. A aplicação da CIF é universal, portanto, todas as pessoas cadastradas devem ter sua situação classificada pelo agente. Já no caso dos fisioterapeutas, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais da atenção primária, a classificação será usada com maior detalhamento e apenas nos casos nos quais há a presença de problemas de funcionalidade, identificados na triagem feita pelo agente. Fica claro que o principal uso da CIF está na atenção básica, já que ela permite que estratégias de proteção da funcionalidade sejam definidas, além das estratégias de recuperação da funcionalidade e de prevenção da incapacidade. Basicamente, quatro formulários com cerca de 10 a 20 categorias da CIF precisam ser criados, sendo cada um deles para uso de cada profissional citado. No caso do agente comunitário, as categorias da CIF utilizadas devem ser as de primeiro nível, já que o objetivo principal é uma triagem. Em relação aos qualificadores, apenas o “0” e o “8” são necessários. Já no caso dos outros profissionais, as categorias utilizadas podem chegar até o quarto nível, devendo ser especialmente dos componentes “d” e “e”, com clareza na apresentação do desempenho como qualificador principal a ser apresentado na sua forma completa. Todos esses formulários devem ser de fácil uso, de forma que não exijam um treinamento árduo e profundo da
  • 3. - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 4 Araujo ESRevista Científica CIF Brasil. 2016; 6(6):2-5. classificação, e sim, tão somente uma apresentação geral3 . O aprofundamento pode acontecer conforme o interesse e a necessidade pessoal dos profissionais envolvidos. O próximo passo é a consolidação dos dados. Todos os casos classificados precisam compor um banco de dados. Como são quatro áreas utilizando a CIF, teremos quatro bancos de dados com informações específicas em cada caso. Esse banco pode ser construído em formato de planilha Excel, sendo um indivíduo por linha e uma variável por coluna. São exemplos de variáveis: data da consulta, data da alta, sexo, idade, bairro, códigos da CIF no cadastro, códigos da CIF na primeira consulta, códigos da CIF na alta, número de atendimentos e tempo de tratamento, quando necessário. Os dados consolidados nessa planilha precisam ser submetidos a um quarto passo: a tabulação. O aplicativo de tabulação mais comum no meio dos sistemas de saúde brasileiros, é o Tab, chamado de TabWin ou TabNet, dependendo do arcabouço de funcionamento, Windows ou Internet. No entanto, o Tab não pode ler planilhas Excel. Para que a leitura ocorra, é necessário converter a planilha Excel em uma planilha Data Base File ou dbf. O arquivo dbf será usado para configurar o Tab e permitir tabulações com os dados coletados com os quatro formulários. O uso do aplicativo para tabulação de dados da CIF está sendo neste momento intitulado como CIF-WIN-S, TabWin para a CIF em Sistemas de informação. Assim, chegamos ao quinto passo: a construção de indicadores4 . A construção de indicadores depende dos dados que foram escolhidos para tabulação. Estudos sobre a frequência de problemas de funcionalidade relacionados aos fatores ambientais, ao sexo, a idade ou a enfermidades crônicas são, em geral, indicadores utilizados e de relevância para a atenção primária5 . Estando definidos os indicadores, estes poderão auxiliar no planejamento em saúde, no diz respeito à avaliação, ao monitoramento e ao controle das ações de saúde. É a partir dessa abordagem que o sétimo e último passo se torna possível: a criação de novas políticas públicas ou o aprimoramento de políticas públicas existentes dentro de uma abordagem intersetorial6 . Planejamento financeiro para implantação da CIF a partir de 2017 O primeiro semestre de 2017 é o momento no qual os municípios deverão elaborar o Plano Plurianual de Saúde (PPA), com duração de quatro anos, bem como a programação de 2018, que é derivada do plano. Segundo a legislação vigente, todas as
  • 4. - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 5 Araujo ESRevista Científica CIF Brasil. 2016; 6(6):2-5. cidades brasileiras têm até o meio do ano para terem o plano apreciado por seus respectivos Conselhos Municipais de Saúde. A aprovação leva o tema para a Câmara Legislativa, que deve aprovar o orçamento do ano seguinte. Sendo assim, para que a CIF seja implantada em um município, ela deve constar no PPA. Isso garantirá os recursos necessários para que o processo ocorra durante os quatro anos de vigência do plano, de janeiro de 2018 a dezembro de 2021. O quadro abaixo recomenda uma forma de inserção da CIF no PPA. Quadro 1: Implantação da CIF no Sistema Municipal de Saúde. Diretriz Objetivo Meta Indicador Qualificação das informações em saúde Implantar a CIF na Atenção Básica / Atenção Primária Instituir uso por 100% dos agentes comunitários, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais da atenção básica. Proporção da população cadastrada com situação classificada pela CIF. A implantação e uso da CIF nos sistemas municipais de saúde podem aproximar a abordagem de um modelo biopsicossocial e espiritual, mais completo e consistente na promoção, proteção e recuperação da saúde7 . Referências 1. Araujo ES, Neves SFP. Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, e-SUS e TabWin: as experiências de Barueri e Santo André/SP. Revista Baiana de Saúde Pública. 2015; 39(2): 470-477. 2. Araujo ES, Buchalla CM. The use of the International Classification of Functioning, Disability and Health in health surveys: a reflexion on its limits and possibilities. Revista Brasileira de Epidemiologia. 2015; 18(3):720-724. 3. Huertas F. O método PES: entrevista com Carlos Matus. São Paulo: Fundap. 1996. 4. Araujo ES, Araujo MA. Using the ICF: A tool for obtaining data on functionality. Ed. Lambert. 2014. 5. Kisil M. Gestão da mudança organizacional. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. 1998 (série Saúde & Cidadania). 6. Paim JS. A reforma sanitária e os modelos assistenciais. In: Rouquayrol MA, Naomar Fº A. Epidemiologia & saúde. 5ª ed. Rio de Janeiro: Medsi. 1999. 7. Senge PM. A quinta disciplina - arte teoria e prática da organização da aprendizagem. São Paulo: Best Seller. 1995.