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Gentil, o iconoclasta
Pelo que temos constatado não é difícil encontrar
alunos que tenham cursado a disciplina álgebra linear e que,
ao término, não sabem o que é um vetor.
Dentre algumas possíveis explicações para este
paradoxo gostaria de destacar uma em especial: o
condicionamento. Com efeito, muitos alunos chegam nesta
disciplina condicionados, por seus estudos anteriores, a
imaginar que um vetor é um ente que possui módulo, direção e
sentido. Se isto é verdade na física na matemática é
integralmente falso.
Insistimos: na matemática um vetor não possui
módulo, não possui direção, não possui sentido.
Isto se deve a que as definições deste ente (vetor) são distintas
nestas duas disciplinas. Embora, através de um malabarismo os
vetores da física possam ser incluídos entre os vetores da
matemática (como um caso especial), os vetores desta última vão
muito mais além.Aprincípio são “pontos” em um espaço abstrato; e
pontos não possuem nem módulo (comprimento), nem direção e
nem sentido.
Alguns vetores da matemática:
Para estes vetores não existe módulo, direção e sentido.
Gentil, o iconoclasta
Contracapa
´ALGEBRA LINEAR
(COMENTADO)
Gentil, o iconoclasta
1a
edi¸c˜ao
Boa Vista-RR
Edi¸c˜ao do autor
2016
gentil.iconoclasta@gmail.com
Pref´acio
Via de regra o que se faz em um pref´acio ´e discorrer sobre o conte´udo
da obra. Nos dispensamos deste of´ıcio em raz˜ao de que o leitor, se assim o
desejar, pode apreciar o conte´udo deste livro a partir do (extenso) sum´ario,
dado logo a seguir. Aproveito este pref´acio para fazer algumas elucubra¸c˜oes
incluindo a Matem´atica em si, as quais julgo de alguma relevˆancia.
Este livro n˜ao nasceu de notas de sala de aula; ´e um livro de “fundo de
quintal”, escrito em minha pr´opria casa (a “uma m˜aos”, isto ´e, “eu e eu”),
confesso que uma das motiva¸c˜oes para escrevˆe-lo foi meu v´ıcio em rela¸c˜ao
ao processador de texto LATEX 2ε e, em especial, pelo ambiente de figuras
pspicture o qual utilizo como uma verdadeira terapia − em raz˜ao disto
existe neste livro um n´umero excessivo de figuras.
Resumindo: pode-se dizer que tomei a decis˜ao de escrever este livro como
um pretexto para desenhar figuras no LATEX 2ε.
Por outro lado, existem dezenas e dezenas de livros de ´Algebra Linear
em portuguˆes (sem falar nos estrangeiros) dispon´ıveis para alunos e inte-
ressados nesse importante ramo da matem´atica, sendo assim uma pergunta
pertinente seria: por que mais um?
Respondo invocando uma analogia com a impress˜ao
digital. Assim como a impress˜ao digital ´e ´unica os in-
div´ıduos s˜ao ´unicos, em particular os autores s˜ao ´unicos,
o que implica dizer que suas obras s˜ao ´unicas; isto ´e, den-
tre as centenas de livros de ´Algebra Linear n˜ao existem
dois iguais − ou ainda: todos os livros s˜ao distintos dois
a dois; portanto o presente livro ´e ´unico no sentido em
que reflete minha individualidade.
Ademais, acreditamos − por v´arias raz˜oes − que o aluno de matem´atica
deva ter `a sua disposi¸c˜ao mais que um livro da disciplina que esteja apren-
dendo. ´E dentro deste contexto que situa-se esta obra, ou seja: nela o aluno
ter´a mais uma op¸c˜ao para auxili´a-lo no seu aprendizado.
Por outro lado, acontece com as v´arias obras (livros) sobre um mesmo
assunto o mesmo que acontece no universo da m´usica; para uma mesma
can¸c˜ao podem existir dezenas de interpreta¸c˜oes diferentes executadas por
m´usicos distintos, n˜ao vejo nenhum mal nisto, pelo contr´ario ´e at´e salutar
no sentido de nos disponibilizar um maior n´umero de op¸c˜oes.
Um aspecto relevante a ser ressaltado ´e quanto as demonstra¸c˜oes matem´a-
ticas. Existem autores que preferem as demonstra¸c˜oes mais curtas e ele-
gantes; n˜ao ´e o meu caso, explico: para minha aprecia¸c˜ao particular prefiro
as mais curtas e elegantes, n˜ao obstante, como autor, digo, quando estou
transmitindo uma ideia ao estudante a´ı ´e diferente no sentido de que a
demonstra¸c˜ao mais curta nem sempre ´e a mais did´atica e compreens´ıvel ao
aluno.
3
Ademais, uma demonstra¸c˜ao compacta n˜ao raro esconde (camufla) a
interrela¸c˜ao dos conceitos envolvidos, muitas vezes n˜ao mostra como as
ideias est˜ao interconectadas (imbrincadas); assim ´e que, por exemplo, uma
demonstra¸c˜ao de apenas trˆes linhas em livros congˆeneres, aqui deliberada-
mente a fazemos at´e em uma p´agina inteira − dando ˆenfase `a articula¸c˜ao
dos conceitos envolvidos. Concordo integralmente com o pensamento do
matem´atico Chaitin, expresso a seguir
Se uma prova ´e “elegante” , se for o resultado de duzentos anos de
enjoado polimento, ela ser´a t˜ao inescrut´avel como uma direta revela¸c˜ao
divina, e ser´a imposs´ıvel adivinhar como algu´em poderia tˆe-la descoberto
ou inventado. Ela n˜ao lhe fornecer´a nenhum insight, nada, provavel-
mente nada em absoluto. (Gregory Chaitin/Metamat!)
Ainda com respeito `a filosofia adotada neste livro, despendemos um es-
for¸co consider´avel no sentido de conduzir o aluno `a compreens˜ao das sutilezas
(imbrica¸c˜oes) envolvidas num assunto abstrato como a ´Algebra Linear −
da´ı o subt´ıtulo do livro “Comentado”−; existe uma grande diferen¸ca entre
operar e compreender; por exemplo, o fato de algu´em operar um controle
remoto, celular ou software computacional, n˜ao significa que este algu´em
tenha compreens˜ao dos mecanismos subjacentes `a sua opera¸c˜ao, exatamente
da mesma forma muitas vezes acontece no que diz respeito `a pr´atica da
matem´atica. ´Obvio, ningu´em precisa saber como funciona internamente um
celular para usufruir de seus benef´ıcio; penso que ´e diferente para um estu-
dante de matem´atica, qui¸c´a futuro professor, ´e a este que esta observa¸c˜ao
se destina.
Alguns pr´e-requisitos ao estudo deste livro, como por exemplo, matrizes,
corpos e t´ecnicas de demonstra¸c˜oes matem´aticas, foram reunidos em um
cap´ıtulo − o ´ultimo do livro − denominado de “Consultas”, para consultas
e referˆencias.
Uma justificativa: Fazer a diagrama¸c˜ao de um livro com textos ape-
nas n˜ao ´e dif´ıcil, bastante dif´ıcil ´e a diagrama¸c˜ao de um livro com muitas
f´ormulas e figuras, como ´e o caso do presente. Como se n˜ao bastasse, por
raz˜oes did´aticas, muitas vezes mi vi na situa¸c˜ao de for¸car a que a explica¸c˜ao
de um determinado contexto ficasse em uma ´unica p´agina, ao inv´es de em
duas p´aginas separadas; assim ´e que, para n˜ao desperdi¸car espa¸cos em
branco, em algumas p´aginas tomei a decis˜ao de colocar (registrar) algu-
mas informa¸c˜oes (“pensamentos”) notadamente nas ´areas da matem´atica,
f´ısica e filosofia − a escolha destes pensamentos reflete de certo modo min-
has inclina¸c˜oes metaf´ısicas atuais, assim ´e que as julgo de alguma relevˆancia.
Gentil, o iconoclasta
Boa Vista-RR, 20 de fevereiro de 2016.
4
Sum´ario
1 ESPAC¸ OS VETORIAIS 9
1.1 Introdu¸c˜ao: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.2 Espa¸cos Vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.2.1 Produto de Vetores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
1.2.2 Primeiras Propriedades num Espa¸co Vetorial . . . . . 43
1.2.3 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
1.2.4 Subespa¸cos Vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
1.2.5 Soma de Subespa¸cos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
1.2.6 Combina¸c˜oes Lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
1.2.7 Espa¸cos Vetoriais Finitamente Gerados . . . . . . . . 72
1.2.8 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
2 BASE E DIMENS˜AO 79
2.1 Dependˆencia Linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
2.1.1 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
2.1.2 Propriedades da Dependˆencia Linear . . . . . . . . . . 89
2.2 Base de um Espa¸co Vetorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
2.3 Dimens˜ao de um Espa¸co Vetorial . . . . . . . . . . . . . . . . 97
2.3.1 Dimens˜ao da Soma de dois Subespa¸cos . . . . . . . . . 102
2.3.2 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
2.4 Coordenadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
2.5 Mudan¸ca de Base . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
2.5.1 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122
• Apˆendice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125
3 TRANSFORMAC¸ ˜OES LINEARES 127
3.1 No¸c˜oes sobre Transforma¸c˜oes, Fun¸c˜oes . . . . . . . . . . . . . 127
3.2 Transforma¸c˜oes Lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134
Uma transforma¸c˜ao linear especial . . . . . . . . . . . . . . 141
3.2.1 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153
5
3.3 N´ucleo e Imagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155
3.4 Isomorfismo entre espa¸cos vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . 168
3.4.1 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181
4 MATRIZ DE UMA TRANSFORMAC¸ ˜AO LINEAR 185
4.1 Matriz de uma Transforma¸c˜ao Linear . . . . . . . . . . . . . . 185
4.1.1 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 198
4.2 Opera¸c˜oes com Transforma¸c˜oes Lineares . . . . . . . . . . . . 203
4.3 Matriz da Transforma¸c˜ao Composta . . . . . . . . . . . . . . 208
4.3.1 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 222
4.4 Espa¸co Dual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 224
4.4.1 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 230
4.5 Matrizes Semelhantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 231
4.6 Transforma¸c˜oes do Plano no Plano . . . . . . . . . . . . . . . 237
5 ESPAC¸ OS COM PRODUTO INTERNO 257
5.1 Produto Interno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 257
5.2 Produto Interno e Norma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 263
5.3 Normas e Distˆancias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 270
5.4 ˆAngulo entre vetores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 283
5.5 Ortogonaliza¸c˜ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 287
5.6 Isometrias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 301
5.6.1 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 307
5.7 Operadores Autoadjuntos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 311
5.7.1 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 315
5.8 Espa¸cos Vetoriais Complexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 317
5.8.1 Espa¸cos Hermitinianos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 318
6 AUTOVALORES E AUTOVETORES 321
6.1 Vetor Pr´oprio e Valor Pr´oprio . . . . . . . . . . . . . . . . . . 321
6.1.1 Propriedades dos vetores pr´oprios e valores pr´oprios . 326
6.1.2 Polinˆomio Caracter´ıstico . . . . . . . . . . . . . . . . . 329
6.1.3 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 339
6.2 Diagonaliza¸c˜ao de matrizes e operadores . . . . . . . . . . . . 341
6.2.1 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 348
6.2.2 Diagonaliza¸c˜ao de operadores autoadjuntos . . . . . . 349
6.2.3 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 358
6.3 Aplica¸c˜oes da Diagonaliza¸c˜ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . 359
6.3.1 Potˆencias de uma matriz . . . . . . . . . . . . . . . . . 359
6.3.2 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 362
6.3.3 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 369
6
7 FORMAS BILINEARES E QUADR´ATICAS 371
7.1 Formas Bilineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 371
7.1.1 Matriz de uma forma bilinear . . . . . . . . . . . . . . 374
7.1.2 Formas bilineares sim´etricas . . . . . . . . . . . . . . . 379
7.1.3 Formas bilineares antissim´etricas . . . . . . . . . . . . 383
7.1.4 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 388
7.2 Formas Quadr´aticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 391
7.2.1 Diagonaliza¸c˜ao de formas quadr´aticas . . . . . . . . . 393
7.2.2 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 394
7.2.3 Redu¸c˜ao de formas quadr´aticas . . . . . . . . . . . . . 395
7.3 Classifica¸c˜ao de Cˆonicas e Qu´adricas . . . . . . . . . . . . . . 398
7.3.1 Se¸c˜oes cˆonicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 398
7.3.2 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 415
7.3.3 Qu´adricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 416
8 CONSULTAS 419
8.1 Opera¸c˜oes em um Conjunto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 419
8.2 Corpos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 420
8.3 Matrizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 424
8.3.1 Matrizes Invers´ıveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 428
8.4 Elementos de L´ogica & Demonstra¸c˜oes . . . . . . . . . . . . . 429
8.4.1 Opera¸c˜oes L´ogicas sobre Proposi¸c˜oes . . . . . . . . . . 430
8.4.2 T´ecnicas (Engenharia) de Demonstra¸c˜ao . . . . . . . . 434
∗ ∗ ∗
Gentil, O Iconoclasta, Nasceu em Boa Vista-RR, em 1960,
´e graduado em engenharia eletrˆonica (UFPA/1986) e ´e mestre
em matem´atica (UFSC/1997). Atualmente ´e professor do de-
partamento de matem´atica da Universidade Federal de Ro-
raima. At´e o presente momento conta com oito livros publi-
cados.
7
Livros Publicados (Enderˆe¸cos de acesso)
1- Novas Seq¨u^encias Aritm´eticas e Geom´etricas
Bras´ılia-DF: Thesaurus, 2000; 448 p. ISBN: 85-7062-200-X
Nota: N˜ao temos o arquivo eletrˆonico deste livro, apenas impresso.
Visite nosso site: www.profgentil.com.br
2- O TAO DA MATEM´ATICA (Uma Constru¸c~ao Matem´atica de Deus)
Rio de Janeiro: LetraCapital, 2011; 500 p. ISBN: 978-85-7785-096-9
ebah
https://goo.gl/2nRS8x
slideshare
https://goo.gl/FbuJHV
scribd
https://goo.gl/0HDswb
3- Exuma¸c~ao e Julgamento de Deus
Taguatinga-DF: Editora Kiron, 2012; 197 p. ISBN: 978-85-8113-054-5
ebah
https://goo.gl/sTLFvv
slideshare
https://goo.gl/ppNBaE
scribd
https://goo.gl/JbUw6h
4- Espa¸cos M´etricos (com aplica¸c~oes)
Taguatinga-DF: Editora Kiron, 2013; 628 p. ISBN: 978-85-8113-125-2
ebah
https://goo.gl/OOaBBk
slideshare
https://goo.gl/R6MfVj
scribd
https://goo.gl/yfqclG
5- O DEUS QU^ANTICO (Um Deus pra homem nenhum botar defeito,
mesmo que esse homem seja um ateu)
Manaus-AM: Grafisa, 2014; 235 p. ISBN: 978-85-99122-40-2
ebah
https://goo.gl/Gj36Wj
slideshare
https://goo.gl/JoPzzX
scribd
https://goo.gl/A0Pnbc
6- Programando a HP 50g (Com Programa¸c~ao Simb´olica) 2.a Edi¸c˜ao
Manaus-AM: Grafisa, 2015; 364 p. ISBN: 978-85-99122-41-9
ebah
https://goo.gl/M9zz9u
slideshare
https://goo.gl/lr8k0a
scribd
https://goo.gl/nUCVW7
7- Fundamentos dos N´umeros (Tudo o que voc^e gostaria de saber
sobre os n´umeros mas n~ao tinha a quem perguntar)
Publica¸c˜ao Eletrˆonica, 2016; 514 p. ISBN: 978-85-63979-08-7
ebah
https://goo.gl/8YVCPB
slideshare
https://goo.gl/Ah5m0g
scribd
https://goo.gl/mkl0PG
8
Cap´ıtulo 1
ESPAC¸OS VETORIAIS
Quando o esp´ırito se apresenta `a cul-
tura cient´ıfica, nunca ´e jovem. Ali´as ´e
bem velho, porque tem a idade de seus
preconceitos. Aceder `a ciˆencia ´e reju-
venescer espiritualmente, ´e aceitar uma
brusca muta¸c˜ao que contradiz o passado.
(Gaston Bachelard)
1.1 Introdu¸c˜ao:
Pelo que tenho constatado n˜ao ´e dif´ıcil encontrar alunos que tenham
cursado a disciplina ´algebra linear e que, ao t´ermino, n˜ao sabem o que ´e um
vetor.
Dentre algumas poss´ıveis explica¸c˜oes para este paradoxo gostaria de
destacar uma em especial: o condicionamento∗. Com efeito, muitos alunos
chegam nesta disciplina condicionados, por seus estudos anteriores, a imagi-
nar que um vetor ´e um ente que possui m´odulo, dire¸c˜ao e sentido. Se
isto ´e verdade na f´ısica na matem´atica ´e integralmente falso. Reitero: na
matem´atica um vetor n˜ao possui m´odulo, n˜ao possui dire¸c˜ao, n˜ao possui
sentido.
Isto se deve a que as defini¸c˜oes deste ente (vetor) s˜ao distintas nestas duas
disciplinas. Embora, atrav´es de um malabarismo os vetores da f´ısica possam
ser incluidos entre os vetores da matem´atica (como um caso especial), os
vetores desta ´ultima v˜ao muito mais al´em. A princ´ıpio s˜ao “pontos” em um
espa¸co abstrato; e pontos n˜ao possuem nem m´odulo (comprimento), nem
dire¸c˜ao e nem sentido.
∗
Ou os preconceitos, da cita¸c˜ao em ep´ıgrafe.
9
Esta abstra¸c˜ao na defini¸c˜ao matem´atica (de vetor) implica numa maior
flexibilidade e, por conseguinte, os vetores da matem´atica resultam de uma
potˆencia − em termos de aplicabilidade − muito maior que os da f´ısica.
Pouco a pouco, procuro liberar suavemente o
esp´ırito dos alunos de seu apego a imagens privile-
giadas. Eu os encaminho para as vias da abstra¸c˜ao,
esfor¸cando-me para despertar o gosto pela abstra¸c˜ao.
Enfim, acho que o primeiro princ´ıpio da educa¸c˜ao
cient´ıfica ´e, no reino intelectual, esse ascetismo que
´e o pensamento abstrato. S´o ele pode levar-nos a dominar o conhecimento
experimental. (Bachelard/A forma¸c˜ao do esp´ırito cient´ıfico)
Creio mesmo que muitos autores de livros de ´Algebra Linear contribuem
para refor¸car o condicionamento (adestramento) dos alunos em verem um
vetor com os atributos citados. Mesmo no “plano” e no “espa¸co” (R2 e R3)
n˜ao ´e necess´ario que se veja um vetor com m´odulo, dire¸c˜ao e sentido; estes
atributos s˜ao perfeitamente dispens´aveis, tanto isto ´e verdade que escreve-
mos o presente livro sobre vetores sem utilizar uma ´unica “seta vetorial”.
Claro, poderia-se argumentar: usa-se setinhas para facilitar o entendimento
do aluno, para tornar algo abstrato em algo concreto, etc. Mesmo assim cre-
mos que os malef´ıcios desta postura s˜ao maiores que os benef´ıcios, mesmo
porque ´e precisamente a capacidade de abstra¸c˜ao que deve ser desenvolvida
no aluno e n˜ao seus sentidos: vis˜ao, tato, audi¸c˜ao, etc.
Estamos integralmente de acordo com o eminente Bachelard.
Enfatizamos:
θ
Os vetores da f´ısica pos-
suem m´odulo, dire¸c˜ao e sentido.
Os vetores da matem´atica n˜ao
possuem m´odulo, n˜ao possuem
dire¸c˜ao, n˜ao possuem sentido.
Por exemplo, como veremos, s˜ao vetores da matem´atica:
(3, 2) ,
Ponto do R2
1 0 0
1 0 3
,
Matriz
p(x) = 2 + 3 x − x2 ,
Polin^omio
00110100
C´odigo bin´ario
10
Processar s´ımbolos n˜ao ´e o mesmo que processar significado
Um outro aspecto relevante que o aluno deve se dar conta ´e o de que, em
matem´atica, processar s´ımbolos n˜ao ´e o mesmo que processar significados.
´E o que se d´a com um n´umero significativo de estudantes: processam
(manipulam) s´ımbolos, mas n˜ao os significados por tr´as dos s´ımbolos.
Uma analogia: o fato de algu´em usar (operar) um controle remoto ou
um celular n˜ao significa que este algu´em compreenda como estes objetos
funcionam, entre operar e compreender existe uma enorme distˆancia.
Um desafio a engenheiros e f´ısicos
Apenas para contextualizar, sinceramente creio que nenhum engenheiro,
ou f´ısico, ´e capaz de resolver a seguinte equa¸c˜ao do primeiro grau:
2 x + 1 = 7 (1.1)
tomando-se como conjunto universo os naturais, isto ´e, N = { 0, 1, 2, 3, . . . }.
Claro, at´e por inspe¸c˜ao chega-se `a solu¸c˜ao correta: x = 3. Entretanto,
quando digo resolver significa que, partindo-se da equa¸c˜ao, deve-se chegar
ao resultado x = 3.
2 x + 1 = 7 ⇒ · · · ⇒ x = 3 (?)
E n˜ao apenas isto, mas tamb´em justificar (provar) todos os passos inter-
medi´arios.
Neste conjunto n˜ao contamos com oposto aditivo e inverso multiplicativo.
Os iniciantes n˜ao est˜ao preparados para o verdadeiro rigor
matem´atico; s´o veriam nisso v˜as e fastidiosas sutilezas, perder´ıamos
nosso tempo se quis´essemos, cedo demais, torn´a-los mais exigentes.
(Poincar´e/A Ciˆencia e a Hip´otese)
2 x+1=7
x = 3
A calculadora HP50g resolve a equa¸c˜ao 2 x + 1 = 7 em
fra¸c˜oes de segundos − Por sinal, equa¸c˜oes muito mais com-
plexas que esta. Um computador processa s´ımbolos mas
n˜ao significado. O c´erebro da maioria de indiv´ıduos que
lida com a matem´atica apenas processa (manusea) s´ımbolos
− tal como a HP50g.
Quando, no ensino fundamental, o professor afirma, por exemplo, que
“mais vezes menos d´a menos” e que “sinais diferentes, subtrai e d´a-se o sinal
do maior ” ele est´a simplesmente dando um comando de programa¸c˜ao aos
alunos; programando-os, tal qual um engenheiro programou a calculadora
HP.
11
1.2 Espa¸cos Vetoriais
A abstra¸c˜ao desobstrui o esp´ırito, o
torna mais leve e dinˆamico.
(Gaston Bachelard)
Assim como um engenheiro, ou um arquiteto, constr´oi suas estruturas,
igualmente os matem´aticos constroem as suas. Daremos in´ıcio agora ao
estudo de uma das estruturas mais importantes da matem´atica: Espa¸co
Vetorial.
Os espa¸cos vetoriais constituem os objetos de estudo da ´algebra linear.
Um espa¸co vetorial n˜ao ´e um conjunto mas sim uma estrutura (p. 19),
e, para construirmos uma de tais estruturas, iremos necessitar de algumas
ferramentas; mais precisamente de quatro ferramentas, quais sejam:
1a ) Um conjunto V ;
2a ) Um corpo K; (p. 420)
3a ) Uma opera¸c˜ao sobre os elementos de V , a qual chamaremos de adi¸c˜ao
e denotaremos por + ; assim:
+ : V × V −→ V
(u, v) −→ u + v
4a ) Uma opera¸c˜ao entre um n´umero de K e um elemento de V , a qual
chamaremos de multiplica¸c˜ao por escalar e denotaremos por · ; assim:
· : K × V −→ V
(λ, u) −→ λ · u
Este ´e apenas o primeiro passo para a constru¸c˜ao da nossa estrutura. Um
segundo passo ´e que estas opera¸c˜oes satisfa¸cam alguns requisitos, a saber:
− Exigˆencias (axiomas) para a adi¸c˜ao:
Para quaisquer u, v e w, elementos de V , devemos ter:
A1) u + v = v + u (Comutativa)
A2) (u + v) + w = u + (v + w) (Associativa)
A3) Existe em V um elemento, denotado por 0, detentor da seguinte
propriedade: ∗
u + 0 = u; ∀ u ∈ V. (Elemento neutro)
(Elemento oposto)
A4) Para todo elemento u de V existe um outro elemento de V , denotado
por −u, detentor da seguinte propriedade:
u + (−u) = 0
∗
Importante: Escolhemos o “zero em negrito” para representar o vetor nulo (que
est´a em V ), com o objetivo de distingui-lo do n´umero 0 (que est´a em K).
12
− Exigˆencias (axiomas) para a multiplica¸c˜ao:
Para quaisquer u e v em V e quaisquer λ e µ em K, devemos ter:
M1) λ · ( µ · u ) = (λ · µ) · u (Associativa)
M2) ( λ + µ ) · u = λ · u + µ · u (Distributiva)
M3) λ · ( u + v ) = λ · u + λ · v (Distributiva)
M4) 1 · u = u (elemento neutro)
∗ ∗ ∗
O matem´atico alem˜ao Hermann Grassmann (1809 − 1877) ´e geralmente
creditado como o primeiro a introduzir a id´eia de um espa¸co vetorial (apesar
de n˜ao o ter chamado assim), em 1844. Infelizmente, seu trabalho era muito
dif´ıcil de ler e n˜ao recebeu a aten¸c˜ao que merecia. Uma pessoa que realmente
o estudou foi o matem´atico italiano Giuseppe Peano (1858 − 1932). Em seu
livro Calcolo geometrico, de 1888, Peano tornou claro o trabalho anterior
de Grassmann e descreveu os axiomas para um espa¸co vetorial da maneira
como hoje os conhecemos. A defini¸c˜ao axiom´atica de um espa¸co vetorial
feita por Peano tamb´em teve pouca influˆencia por muitos anos. A aceita¸c˜ao
s´o veio em 1918, depois que Hermann Weyl (1885 − 1955) a repetiu em seu
livro Space, time, matter, uma introdu¸c˜ao `a teoria da relatividade geral
de Einstein.
Uma exegese da defini¸c˜ao de Espa¸co Vetorial
A tripla (V, +, · ) ´e o que entendemos por um espa¸co vetorial. Ao constru-
irmos uma estrutura de espa¸co vetorial sobre um conjunto V , seus elementos
adquirem o status de vetores, independentemente de suas naturezas. Por
uma quest˜ao de conveniˆencia (simplifica¸c˜ao) usaremos da seguinte nota¸c˜ao:
V = (V, +, ·)
Com isto queremos evocar na mente do aluno que V ´e o espa¸co vetorial
(estrutura) que foi construido (erigido) sobre o conjunto V .
Nota: Na verdade, ao longo deste livro, ami´ude estaremos utilizando
(indistintamente) a mesma nota¸c˜ao V tanto para o espa¸co vetorial quanto
para o conjunto subjacente `a estrutura; entretanto, para que n˜ao se perca
de vista a diferen¸ca entre ambos ´e que ocasionalmente voltaremos − a nosso
crit´erio − com a nota¸c˜ao V para o espa¸co vetorial.
Estaremos, ademais, omitindo o “ponto” na multiplica¸c˜ao por escalar;
digo, escreveremos λ u ao inv´es de λ · u.
− Os axiomas para espa¸co vetorial naturalmente se dividem em dois grupos;
os quatro primeiros dizem respeito somente `a estrutura aditiva de V, os
quatro ´ultimos referem-se `a a¸c˜ao do corpo de escalares sobre o espa¸co V.
13
Observe que no axioma M4) 1 ´e o elemento neutro da multiplica¸c˜ao no
corpo, a multiplica¸c˜ao de espa¸co vetorial ´e uma outra multiplica¸c˜ao − no
mais das vezes n˜ao tem nada a ver com a primeira −, portanto este elemento
n˜ao teria a obriga¸c˜ao de continuar sendo o elemento neutro de uma outra
opera¸c˜ao, se isto acontece deve ser por decreto (axioma).
Quando K = R (resp.: K = Q, K = C), o espa¸co vetorial diz-se real
(resp.: racional, complexo).
O quadro amarelo a seguir resume o essencial da defini¸c˜ao de espa¸co
vetorial.
A1) u + v = v + u
A2) (u + v) + w = u + (v + w)
A3) u + 0 = u; ∀ u ∈ V.
A4) ∀ u ∈ V, ∃ − u ∈ V : u + (−u) = 0
M1) λ · ( µ · u ) = (λ · µ) · u
M2) ( λ + µ ) · u = λ · u + µ · u
M3) λ · ( u + v ) = λ · u + λ · v
M4) 1 · u = u
V = (V, +, ·)
Uma observa¸c˜ao importante ´e a de que n˜ao devemos colocar o “carro
na frente dos bois ” e chamar os elementos de um conjunto de vetores antes
de construirmos − sobre este conjunto − a estrutura de espa¸co vetorial.
Oportunamente estaremos exemplificando este aspecto.
Adendo: Podemos dizer que um espa¸co vetorial ´e uma obra (estrutura)
de “engenharia matem´atica” cuja planta esbo¸camos assim:
V
V ×V
V
V
K×V
K V
(u, v) r
ru+v
+
·(λ, u) r
rλu
V = (V, +, ·)
14
Adendo: Antes de prosseguir em nossos estudos, uma observa¸c˜ao que jul-
gamos de alguma relevˆancia: Em matem´atica existe uma conven¸c˜ao t´acita
de que s´o devemos criar novos s´ımbolos em casos estritamente necess´arios.
Em consequˆencia deste acordo ´e que em muitos contextos matem´aticos um
mesmo s´ımbolo pode ter significados distintos. Por exemplo, na exigˆencia
M1), isto ´e:
M1) λ · ( µ · u ) = (λ · µ) · u
Estes trˆes s´ımbolos dizem respeito `a mesma
multiplica¸c˜ao (escalar por vetor).
Este s´ımbolo diz respeito a uma outra multiplica¸c˜ao
(entre escalares e d´a-se no corpo K)
Na exigˆencia,
M2) ( λ + µ ) · u = λ · u + µ · u
Estes dois s´ımbolos dizem respeito a adi¸c˜oes
distintas. A primeira adi¸c˜ao se d´a entre nu-
meros, a segunda se d´a entre vetores.
∗ ∗ ∗
Uma das contribui¸c˜oes definitivas do s´eculo dezenove foi o recon-
hecimento de que a matem´atica n˜ao ´e uma ciˆencia natural, mas uma
cria¸c˜ao intelectual do homem. Bertrand Russel escreveu no Interna-
tional Monthly em 1901: ‘O s´eculo dezenove, que se orgulha da inven¸c˜ao
do vapor e da evolu¸c˜ao, poderia derivar um t´ıtulo mais leg´ıtimo `a fama
da descoberta da matem´atica pura.’
Pelo fim do s´eculo era geralmente reconhecido mesmo por n˜ao-
matem´aticos que a matem´atica ´e pensamento postulacional, em que de
premissas arbitr´arias s˜ao tiradas conclus˜oes v´alidas. Que os postulados
sejam ou n˜ao verdadeiros num sentido cient´ıfico ´e indiferente.
(Curso Moderno de Filosofia/Denis Huisman e Andr´e Vergez)
Nem vocˆe nem eu nem ningu´em sabemos o que faz um matem´atico
vingar. N˜ao ´e uma quest˜ao de inteligˆencia. Conhe¸co matem´aticos mais
h´abeis que eu, mas que n˜ao tiveram sorte. Considere dois mineiros: um
talvez seja perito em geologia, mas ´e o mineiro ignorante quem acha as
pepitas douradas. (Louis J. Mordell/matem´atico britˆanico)
15
− Exemplos de Espa¸cos Vetoriais
Exemplo 1: O espa¸co vetorial R2.
Para a constru¸c˜ao do nosso primeiro exemplo de espa¸co vetorial tomare-
mos como conjunto V o conjunto de pares ordenados de n´umeros reais:
R2
= (x, y): x, y ∈ R
cuja vers˜ao geom´etrica ´e vista a seguir:
R
R
0
s(x, y)
Observe que, at´e o presente momento, n˜ao podemos dizer que um par
ordenado (a, b) seja um vetor; n˜ao, n˜ao ´e! (a, b) ´e apenas − e t˜ao somente
− um elemento do conjunto R2; ou, se preferirmos, um ponto do plano.
Precisamos trabalhar um pouco mais para conferir a este ponto o status de
vetor. Com este desiderato em mente, tomemos para o corpo de escalares
os n´umeros reais, isto ´e, fa¸camos K = R.
Tomemos dois elementos u = (a, b) e v = (c, d) em R2 e um escalar
(n´umero) λ em R e vamos definir a soma de pares ordenados e a multiplica¸c˜ao
por escalar do seguinte modo:
u + v = (a, b) + (c, d) = (a + c, b + d) (1.2)
λ u = λ (a, b) = (λa, λb) (1.3)
Observe que em (1.2) o mesmo s´ımbolo “+” representa duas opera¸c˜oes dis-
tintas: o “+” que comparece entre os pares ordenados ´e a adi¸c˜ao em R2
que estamos definindo, por outro lado, o “+” que comparece mais ´a direita
− dentro dos parentesis − ´e a “velha” e conhecida opera¸c˜ao de adi¸c˜ao entre
n´umeros reais. Observa¸c˜ao an´aloga vale em (1.3).
16
Esta ´e a primeira etapa em nossa constru¸c˜ao. A segunda etapa con-
siste em mostrar que estas opera¸c˜oes, assim definidas, satisfazem a todas as
exigˆencias listadas na defini¸c˜ao de espa¸co vetorial. Sen˜ao, vejamos:
A1) u + v = (a, b) + (c, d)
= (a + c, b + d) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao)
= (c + a, d + b) (comutatividade nos reais)
= (c, d) + (a, b) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao)
= v + u
A2) (u + v) + w = (a, b) + (c, d) + (e, f)
= (a + c, b + d) + (e, f) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao)
= (a + c) + e, (b + d) + f (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao)
= a + (c + e), b + (d + f) (associatividade nos reais)
= (a, b) + (c + e, d + f) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao)
= (a, b) + (c, d) + (e, f) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao)
= u + (v + w)
A3) ∃ 0 = (0, 0) ∈ R2 : ∀ u = (a, b) ∈ R2, se verifica,
u + 0 = (a, b) + (0, 0)
= (a + 0, b + 0) (adi¸c˜ao)
= (a, b) (elemento neutro nos reais)
= u
A4) ∀ u = (a, b) ∈ R2, ∃ − u = (−a, −b) ∈ R2 :
u + (−u) = (a, b) + (−a, −b)
= a + (−a), b + (−b) (adi¸c˜ao)
= (0, 0) (oposto aditivo nos reais)
= 0
M1) λ ( µ u ) = λ ( µ (a, b) )
= λ ( µa, µb ) (defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao)
= λ ( µa, µb )
= λ(µa), λ(µb) (defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao)
= (λµ)a, (λµ)b (associatividade nos reais)
= (λµ) (a, b ) (defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao)
= (λµ) u
17
M2) (λ + µ) u = (λ + µ) (a, b)
= (λ + µ) a, (λ + µ) b (defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao)
= ( λa + µa, λb + µb ) (distributividade nos reais)
= (λa, λb) + (µa, µb) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao)
= λ (a, b) + µ (a, b) (defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao)
= λ u + µ u
M3) λ(u + v) = λ (a, b) + (c, d)
= λ (a + c, b + d) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao)
= λ (a + c, b + d)
= λ(a + c), λ(b + d) (defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao)
= ( λa + λc, λb + λd ) (distributividade nos reais)
= ( λa, λb ) + ( λc, λd ) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao)
= λ(a, b) + λ(c, d) (defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao)
= λu + λv
M4) 1 u = 1 (a, b)
= ( 1 a, 1 b ) (defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao)
= (a, b) (elemento neutro nos reais)
= u
Nota¸c˜ao: ( R2, +, · ) = R2 ´e o espa¸co vetorial R2.
Nota: Somente agora, ap´os termos provado que a adi¸c˜ao definida em
(1.2) satisfaz as exigˆencias A1), . . . , A4), e que a multiplica¸c˜ao, definida em
(1.3) satisfaz as exigˆencias M1), . . . , M4) ´e que podemos chamar os pontos
(a, b), do plano, de vetores.
De outro modo: somente agora os pontos (a, b) do plano cartesiano fazem
parte de uma estrutura de espa¸co vetorial, isto ´e, deixaram de ser “meros
pontos” e adquiriram o status de vetores.
18
O que ´e um vetor em matem´atica?
Conjuntos × Estruturas
O entendimento do que seja um vetor inicia-se com a distin¸c˜ao entre
conjunto e estrutura.
Em matem´atica s˜ao frequentes conjuntos munidos de uma ou mais opera-
¸c˜oes, que gozam de certas propriedades. Esses conjuntos com tais opera¸c˜oes
e respectivas propriedades constituem aquilo que denominamos estruturas
alg´ebricas. Um espa¸co vetorial ´e um exemplo de estrutura alg´ebrica.
Para nos auxiliar em nosso objetivo (deixar claro a diferen¸ca entre con-
junto e estrutura) vamos recorrer a uma analogia: Suponhamos um conjunto
M cujos elementos s˜ao materiais de constru¸c˜ao, assim:
M = {tijolo, cimento, seixo, pedra, areia, . . .}
“sobre” este conjunto podemos construir diversas estruturas, por exemplo:
M
− Edif´ıcio
− Casa
− Ponte
Conjunto
Estruturas
N˜ao devemos confundir o conjunto M com a “estrutura” edif´ıcio, por
exemplo.
Entendemos que esta mesma distin¸c˜ao deve ser feita entre conjuntos e
estruturas na matem´atica.
Vejamos um exemplo retirado da matem´atica. Considere o conjunto de
pontos R2 = (x, y): x, y ∈ R , cuja vers˜ao geom´etrica ´e vista a seguir:
R2
0
r(x, y)
sobre este conjunto podemos construir, por exemplo, trˆes estruturas, assim:
19
- Espa¸co vetorial:
(a, b) + (c, d) = (a + c, b + d)
λ(a, b) = (λa, λb)
- N´umeros C:
(a, b) + (c, d) = (a + c, b + d)
(a, b) · (c, d) = (ac − bd, ad + bc)
- N´umeros H:
(a, b) + (c, d) = (a + c, b + d)
(a, b) · (c, d) = (ac ∓ bd, |a|d + b|c|)
R2
0
q(x, y)
Assim o n´umero de estruturas que podemos construir sobre um mesmo
conjunto estar´a limitado apenas por nossa criatividade∗.
A Identidade de um Elemento
Uma outra distin¸c˜ao que se faz necess´aria ´e quanto a natureza (identi-
dade) de um elemento.
Perguntamos: afinal de contas o par ordenado (3, 2) ´e um vetor ou um
n´umero complexo?
Respondemos: o par ordenado (3, 2), por si s´o, n˜ao ´e nem uma coisa
nem outra, ´e apenas um elemento do conjunto R2. Agora dependendo do
contexto em que nos situamos, este elemento pode ser um vetor, um n´umero
complexo, ou ainda um n´umero hipercomplexo.
Se, por exemplo, o par ordenado (3, 2) estiver inserido na estrutura de
espa¸co vetorial − primeira das alternativas na figura anterior − ele ser´a
um vetor, se estiver sendo manipulado na estrutura n´umeros complexos −
segunda das alternativas na figura anterior − ele ser´a um n´umero com-
plexo, e se estiver sendo manipulado dentro da estrutura “Hipercomplexa”
− terceira das alternativas na figura anterior − ele ser´a um n´umero hiper-
complexo.
Portanto, enfatizamos, ´e a estrutura que confere “dignidade” (identi-
dade) a um elemento.
´E a estrutura (“jogo”) quem vai determinar o que um elemento (s´ımbolo)
seja.
Vejamos mais duas analogias:
1a ) Suponhamos que desejamos jogar xadrez mas n˜ao dispomos das pe¸cas,
apenas do tabuleiro. N˜ao h´a o menor problema: podemos substituir as pe¸cas
por cereais. Por exemplo, um caro¸co de feij˜ao far´a o papel de rei, os pe˜oes
ser˜ao substituidos por gr˜aos de arroz, as torres por caro¸cos de milho, etc.
∗
C : N´umeros complexos. Os n´umeros Hipercomplexos ´e um novo sistema num´erico
que construimos sobre o R2
, ´e tamb´em uma generaliza¸c˜ao dos n´umeros reais.
Na abscissa do produto, tomamos − se a c ≥ 0, tomamos + caso contr´ario. Ver [10]
20
feij˜ao → Rei
arroz → pe˜oes
milho → torres
...
...
...
Observe mais uma vez que ´e a estrutura que confere a “dignidade” (iden-
tidade) de um elemento: um mero caro¸co de feij˜ao de repente vˆe-se pro-
movido a “rei”, ao participar da estrutura xadrez.
2a ) Como mais um exemplo da “metamorfose” conferida pela estrutura,
o Brasil est´a empestado de ratazanas (bandidos) que, ao ingressarem na
estrutura pol´ıtica, tornam-se “vossa excelˆencia”:
Assim como um mero caro¸co de feij˜ao torna-se um “rei” ao ingressar
na estrutura xadrez, bandidos tornam-se “vossa excelˆencia” ao ingressar na
estrutura pol´ıtica brasileira.
21
Uma cr´ıtica `a defini¸c˜ao de Espa¸co Vetorial em livros did´aticos
Em fun¸c˜ao do exposto anteriormente desejamos fazer uma breve exegese
sobre a defini¸c˜ao de espa¸cos vetoriais constante na literatura matem´atica.
Uma defini¸c˜ao padr˜ao nos livros did´aticos ´e:
Um espa¸co vetorial E ´e um conjunto, cujos elementos s˜ao chamados ve-
tores, no qual est˜ao definidas duas opera¸c˜oes: a adi¸c˜ao, que a cada par de
vetores u, v ∈ E faz corresponder um novo vetor u+v ∈ E, chamado a soma
de u e v, e a multiplica¸c˜ao por um n´umero real, que a cada n´umero α ∈ R e a
cada vetor v ∈ E faz corresponder um vetor α·v, ou αv, chamado o produto
de α por v. Essas opera¸c˜oes devem satisfazer, para quaisquer α, β ∈ R e
u, v, w ∈ E, as condi¸c˜oes abaixo, chamadas os axiomas de espa¸co vetorial:
comutatividade: u + v = v + u;
associatividade: (u + v) + w = u + (v + w) e (αβ)v = α(βv);
vetor nulo: existe um vetor 0 ∈ E, chamado vetor nulo, ou vetor zero,
tal que v + 0 = 0 + v = v para todo v ∈ E;
inverso aditivo: para cada vetor v ∈ E existe um vetor −v ∈ E,
chamado o inverso aditivo, ou o sim´etrico de v, tal que −v+v = v+(−v) = 0;
distributividade: (α + β)v = αv + βv e α(u + v) = αu + αv;
multiplica¸c˜ao por 1: 1 · v = v.
Ent˜ao, vejamos alguns poucos coment´arios sobre esta defini¸c˜ao padr˜ao:
Primeiro que um espa¸co vetorial n˜ao ´e um conjunto. Segundo, n˜ao conhe¸co
nenhum conjunto “cujos elementos s˜ao chamados vetores ”. O leitor conhece
algum? − O que vem depois na defini¸c˜ao anterior n˜ao muda em nada.
A verdadeira natureza de um espa¸co vetorial ´e a de uma estrutura − tanto
´e que ´e conhecido como uma estrutura alg´ebrica −, por exemplo, assim:
V
R
V × V
R × E
V
V
+
·
V = (V, +, ·)
(aqui temos escalares)
(aqui temos meros elementos)
Estrutura
Espa¸co Vetorial
(aqui temos vetores)
N˜ao existe nenhum conjunto “cujos elementos s˜ao chamados vetores ”
posto que em qualquer conjunto temos meros elementos, agora ao constru-
irmos uma estrutura de espa¸co vetorial sobre um tal conjunto ent˜ao seus
elementos adquirem o status de vetores.
22
Assim como um mero caro¸co de feij˜ao torna-se um rei ao participar da
estrutura xadrez − ou qualquer bandido torna-se “vossa excelˆencia”, ao
ingressar na estrutura pol´ıtica brasileira − objetos de naturezas diversas
tornam-se vetores ao participarem da estrutura espa¸co vetorial. Por exem-
plo, s˜ao vetores:
(3, 2) ,
Ponto do R2
1 0 0
1 0 3
,
Matriz
p(x) = 2 + 3 x − x2 ,
Polin^omio
00110100
C´odigo bin´ario
Exemplo 2: O espa¸co vetorial R3.
Para a constru¸c˜ao do nosso segundo exemplo de espa¸co vetorial tomare-
mos como conjunto V o conjunto de ternos ordenados de n´umeros reais:
R3
= (x, y, z): x, y, z ∈ R
cuja vers˜ao geom´etrica ´e vista a seguir:
Y
Z
X
(x, y, z)
Tomemos dois elementos u = (a, b, c) e v = (d, e, f) em R3 e um escalar
(n´umero) λ em R e vamos definir a soma de ternos ordenados e a multi-
plica¸c˜ao por escalar do seguinte modo:
u + v = (a, b, c) + (d, e, f) = (a + d, b + e, c + f)
λ u = λ (a, b, c) = (λa, λb, λc)
Estas duas defini¸c˜oes conferem aos pontos do espa¸co R3 o status de vetores,
conforme pode ser provado de modo an´alogo ao que foi feito no exemplo
anterior.
Apenas informamos que aqui o vetor nulo passa a ser 0 = (0, 0, 0) e o
oposto do vetor u = (a, b, c) ´e o vetor −u = (−a, −b, −c).
Exemplo 3: O espa¸co vetorial Rn.
Os dois exemplos anteriores podem ser generalizados ao “hiperespa¸co”
Rn, que ´e o conjunto de n−uplas,
Rn
= (x1 , x2 , . . . , xn ): xi ∈ R
23
cuja vers˜ao geom´etrica infelizmente por uma limita¸c˜ao de “hardware” (c´ere-
bro) n˜ao podemos visualizar quando n > 3.
Dados dois pontos u = (x1 , x2 , . . . , xn ) e v = (y1 , y2 , . . . , yn ) neste
conjunto, definimos igualdade, assim:
(x1 , x2 , . . . , xn ) = (y1 , y2 , . . . , yn ) ⇔ x1 = y1 , x2 = y2 , . . . , xn = yn
Adi¸c˜ao entre pontos e multiplica¸c˜ao por escalar (n´umero real), assim:
u + v = (x1 , x2 , . . . , xn ) + (y1 , y2 , . . . , yn ) = (x1 + y1 , x2 + y2 , . . . , xn + yn )
λu = (λ x1 , λ x2 , . . . , λ xn )
Estas opera¸c˜oes conferem aos pontos do “hiperespa¸co” o status de vetores,
como pode facilmente ser provado.
Apenas informamos que aqui o vetor nulo passa a ser 0 = (0, 0, . . . , 0)
e o oposto do vetor u = (x1 , x2 , . . . , xn ) ´e o vetor −u = (−x1 , −x2 , . . . , −xn ).
O exemplo dado anteriormente possui uma importante generaliza¸c˜ao dada
a seguir.
Exemplo 4: O espa¸co vetorial Kn.
Vamos generalizar ainda mais o exemplo anterior. Seja K um corpo
arbitr´ario. A nota¸c˜ao Kn ´e ami´ude utilizada para denotar o conjunto de
todas as n-uplas de elementos de K:
Kn
= (x1 , x2 , . . . , xn ): xi ∈ K
Dados dois pontos u = (x1 , x2 , . . . , xn ) e v = (y1 , y2 , . . . , yn ) neste con-
junto podemos tornar Kn um espa¸co vetorial sobre K com as seguintes
defini¸c˜oes:
(x1 , x2 , . . . , xn ) = (y1 , y2 , . . . , yn ) ⇔ x1 = y1 , x2 = y2 , . . . , xn = yn
Adi¸c˜ao entre pontos e multiplica¸c˜ao por escalar, assim:
u + v = (x1 , x2 , . . . , xn ) + (y1 , y2 , . . . , yn ) = (x1 + y1 , x2 + y2 , . . . , xn + yn )
λu = (λ x1 , λ x2 , . . . , λ xn )
Estas opera¸c˜oes s˜ao ditas “ponto a ponto” e conferem aos pontos do
“hiperespa¸co” o status de vetores. Por exemplo, o vetor nulo em Kn ´e uma
n-upla de zeros,
0 = (0, 0, . . . , 0)
e o oposto do vetor u = (x1 , x2 , . . . , xn ) ´e o vetor −u = (−x1 , −x2 , . . . , −xn ).
Das exigˆencias (axiomas) para espa¸co vetorial vamos provar A2 e M3 (as
outras s˜ao demonstradas de forma an´aloga). Ent˜ao:
24
A2) (u + v) + w = u + (v + w) (Associativa)
Suponha que u = ( xi ), v = ( yi ) e w = ( zi ). A demonstra¸c˜ao ser´a feita
mostrando que as entradas (coordenadas nas n-uplas) correspondentes em
cada lado de A2 s˜ao iguais.
Com efeito, a entrada i de u+v ´e xi +yi , ent˜ao a entrada i de (u+v)+w
´e (xi + yi ) + zi . Por outro lado, a entrada i de v + w ´e yi + zi e assim a
entrada i de u+(v +w) ´e xi +(yi +zi ). Por´em, para escalares em K (corpo)
temos
(xi + yi ) + zi = xi + (yi + zi )
Portanto (u + v) + w e u + (v + w) possuem entradas i iguais, logo, pela
defini¸c˜ao de igualdade de n-uplas, temos que (u + v) + w = u + (v + w).
M3) λ ( u + v ) = λ u + λ v (Distributiva)
A entrada i de u+v ´e xi +yi, ent˜ao λ (xi +yi ) ´e a entrada i de λ ( u+v ).
Por outro lado, as entradas i de λ u e λ v s˜ao respectivamente λ xi e λ yi .
Por´em, para escalares em K temos
λ (xi + yi ) = λ xi + λ yi
Assim λ ( u + v ) e λ u + λ v possuem entradas i iguais, logo, pela defini¸c˜ao
de igualdade de n-uplas, temos que λ ( u + v ) = λ u + λ v.
Publica¸c˜ao Eletrˆonica, 2016; 514 p. ISBN: 978-85-63979-08-7
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scribd
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25
Exemplo 5: Espa¸co de C´odigos
Agora daremos um importante exemplo de espa¸co vetorial cujo corpo de
escalares n˜ao ´e R.
C´odigos que contˆem tanto caracteres alfab´eticos como num´ericos s˜ao
necess´arios quando microcomputadores se comunicam com dispositivos como
fax ou um terminal de v´ıdeo, ou ainda para transformar os caracteres de um
teclado em linguagem de computador. Esses c´odigos s˜ao chamados c´odigos
alfanum´ericos.
O c´odigo alfanum´erico mais comumente usado em sistemas de microcom-
putador ´e o
AMERICAN STANDARD Code for Information Interchange
(C´odigo Americano Padr˜ao para Troca de Informa¸c˜oes)
Uma listagem parcial do c´odigo ASCII ´e mostrada na tabela a seguir
Caracter ASCII Caracter ASCII
< 00111100
> 00111110
! 00100001
11100100
# 00100011
$ 00100100
% 00100101
& 00100110
( 00101000
) 00101001
∗ 00101010
[ 01011011
] 01011101
+ 00101011
− 00101101
/ 00101111
0 00110000
1 00110001
2 00110010
3 00110011
4 00110100
5 00110101
6 00110110
7 00110111
8 00111000
9 00111001
A 01000001
B 01000010
C 01000011
D 00100100
E 01000101
F 01000110
G 01000111
H 01001000
I 01001001
J 01001010
K 01001011
L 01001100
M 01001101
N 01001110
O 01001111
P 01010000
Q 01010001
R 01010010
S 01010011
T 01010100
U 01010101
V 01010110
W 01010111
X 01011000
Y 01011001
Z 01011010
− TABELA ASCII
26
A seguir vemos o diagrama de blocos de uma calculadora.
Teclado
Entrada
Display
Saida
+ 0 −
1 2 3
4 5 6
7 8 9
Codificador
ր
00110001
00101011
00110010
CPU
ր
00110011
Decodificador
Na figura estamos simulando a soma 1+2 = 3. Ao digitarmos no teclado
1+2 existe um circuito codificador que codifica estas informa¸c˜oes em bin´ario
de acordo com a TABELA ASCII vista anteriormente, ou seja,
1 ↔ 00110001 ; + ↔ 00101011 ; 2 ↔ 00110010
Estas sequˆencias bin´arias (c´odigos) s˜ao entregues `a CPU (unidade central
de processamento) que executa a soma pedida, o resultado ´e colocado na
entrada de um circuito decodificador que decodifica, ainda de acordo com
a TABELA ASCII, a sequˆencia bin´aria em sua entrada e na saida (display)
temos o resultado na base decimal.
Defini¸c˜ao 1 (C´odigo). Um c´odigo bin´ario ´e um conjunto de vetores bin´arios
(de mesmo comprimento) chamados vetores de c´odigo. O processo de con-
vers˜ao de uma mensagem em vetores de c´odigo ´e chamado codifica¸c˜ao, e o
processo inverso ´e chamado decodifica¸c˜ao.
A transmiss˜ao de dados codificados − via ondas eletromagn´eticas, pode
ser − est´a sujeita a v´arias fontes de erros, desde erros de digita¸c˜ao at´e
interferˆencias eletromagn´eticas; os poss´ıveis erros s˜ao chamados de ru´ıdos.
A teoria dos c´odigos corretores de erro ´e um campo de pesquisa muito
ativo atualmente, com aplica¸c˜oes em diversas ´areas tais como: matem´atica,
engenharia, computa¸c˜ao e estat´ıstica.
Sinal Sinal
Novo
Informa¸c˜ao
de
Fonte
Codifica¸c˜ao Canal
Ru´ıdo
Decodifica¸c˜ao Destinat´ario
27
Nosso objetivo agora ser´a construir uma fam´ılia (cole¸c˜ao) de espa¸cos
vetoriais os quais s˜ao bastante utilizados no projeto de c´odigos bin´arios
para transmiss˜ao de dados entre computadores, inclusive.
Sequˆencias bin´arias de qualquer tamanho podem ser obtidas tomando-se
o produto cartesiano do conjunto (com dois s´ımbolos):
0 1Z2 = { 0, 1 }
Por exemplo:
Z2
2
= { 0, 1 } × { 0, 1 } = { 00, 10, 01, 11 }
Ou ainda:
Z3
2
= { 0, 1 } × { 0, 1 } × { 0, 1 }
= { 000, 100, 010, 110, 001, 101, 011, 111 }
Como o leitor certamente j´a se deu conta, via produto cartesiano pode-
mos obter sequˆencias bin´arias de qualquer tamanho.
O n´umero de sequˆencias bin´arias no conjunto Zn
2
´e 2n.
Observe que os c´odigos (sequˆencias) do teclado de um computador (Tabela
ASCII) pertencem todos ao conjunto Z8
2
, neste conjunto podemos codificar
at´e 28 = 256 caracteres.
Opera¸c˜oes em Z2
Inicialmente vamos construir uma estrutura de corpo sobre o conjunto Z2 .
Nesse conjunto vamos definir duas opera¸c˜oes: a uma delas chamaremos de
adi¸c˜ao e a outra chamaremos de multiplica¸c˜ao − dadas nas seguintes t´abuas:
+ 0 1
0
1
0 1
1 0
· 0 1
0
1
0 0
0 1
A isto se acrescenta que todo s´ımbolo
´e ambivalente e at´e mesmo polivalente,
no sentido de que ele pode significar
uma pluralidade de realidades diversas e
mesmo contradit´orias.
(L´eon Bonaventure)
´E f´acil, n˜ao obstante trabalhoso, provar que o sistema alg´ebrico resul-
tante Z2 = (Z2 , +, ·) ´e um corpo. (p. 420)
28
Desde j´a enfatizamos que no presente contexto 0 e 1 n˜ao s˜ao n´umeros
naturais, isto ´e, n´umeros do conjunto
N = { 0, 1, 2, 3, . . . }
De fato, como dissemos anteriormente, o que confere a identidade de um
elemento ´e a estrutura (“jogo”) do qual ele faz parte.
Embora os s´ımbolos 0 e 1 sejam os mesmos do conjunto dos n´umeros
naturais no entanto como n´umeros s˜ao distintos daqueles. Observe:
N = ( { 0, 1, 2, 3, . . . }, +, · )
− Nesta estrutura 0 e 1 s˜ao
n´umeros naturais.
Z2 = ({ 0, 1 }, +, ·)
− Nesta estrutura 0 e 1 s˜ao
n´umeros, mas n˜ao naturais.
Pois bem, retomando a estrutura Z2 acima definida, o elemento neutro da
adi¸c˜ao ´e 0. O sim´etrico (oposto) de cada elemento encontramos na pr´opria
tabela de adi¸c˜ao. Veja:
0 + 0 = 0 ⇒ −0 = 0 e 1 + 1 = 0 ⇒ −1 = 1
Isto ´e, o oposto aditivo de cada elemento ´e o pr´oprio.
Ademais, o leitor n˜ao se escandalize com a opera¸c˜ao 1 + 1 = 0, posto
que, se servir de consolo, mesmo na f´ısica − supostamente mais aderente `a
realidade − nem sempre 1 + 1 = 2. Por exemplo, se adicionarmos duas ve-
locidades iguais a 1, na f´ısica de Galileu teremos 1+1 = 2, j´a na de Einstein
teremos 1 + 1 = 2. (Ver p. 77)
Aceder `a ciˆencia ´e rejuvenescer espiri-
tualmente, ´e aceitar uma brusca muta¸c˜ao
que contradiz o passado.
(Gaston Bachelard)
O mundo ´e construido como uma es-
trutura matem´atica, e n˜ao material.
(Werner Heisenberg)
A isto se acrescenta que todo s´ımbolo ´e ambivalente e at´e mesmo
polivalente, no sentido de que ele pode significar uma pluralidade de rea-
lidades diversas e mesmo contradit´orias. (L´eon Bonaventure)
29
Os espa¸cos vetoriais Zn
2
Tendo em conta o exemplo 4 (p. 24) resulta que, para cada n ≥ 1, os
sistemas Zn
2
s˜ao espa¸cos vetorias com as opera¸c˜oes “ponto a ponto”. Por-
tanto, no presente contexto uma sequˆencia bin´aria (c´odigo) adquire status
de vetor. Observe que n˜ao cabe − n˜ao tem sentido − para estes vetores os
atributos (simultˆaneos) de m´odulo, dire¸c˜ao e sentido.
Por exemplo, veja alguns exemplos de adi¸c˜ao:
Z2
2
10
01
11+ :
Z3
2
101
011
110+ :
Z4
2
1010
1010
0000+ :
feitas com o aux´ılio da t´abua de adi¸c˜ao para Z2 . (p. 28)
Veja alguns exemplos de multiplica¸c˜ao por escalar:
Z2
2
u → 10
λ → 1
10λ u →
Z3
2
u → 101
λ → 0
000λ u →
Z4
2
u → 1010
λ → 1
1010λ u →
feitas com o aux´ılio da t´abua de multiplica¸c˜ao para Z2 .
O elemento neutro da adi¸c˜ao em Zn
2
´e a “sequˆencia nula”, 0 = 00 . . . 0,
com n entradas. Ademais, observe que todo elemento em Zn
2
possui oposto
aditivo no caso “ele pr´oprio”. Isto se deve a que, na t´abua da adi¸c˜ao em Z2
temos que 0 + 0 = 0 e 1 + 1 = 0.
Apenas a t´ıtulo de informa¸c˜ao, a quem interessar possa, no livro Funda-
mentos dos N´umeros (p. 25) criamos uma estrutura na qual as sequˆencias
bin´arias infinitas tornam-se n´umeros; digo, novos modelos para os naturais,
inteiros, etc. Por exemplo, veja os “inteiros azuis”:
Z
−1−2−3−4−5 0 1 2 3 4 5. . . . . .
Z
0
1
0
1
1
1
1
1
...
0
0
1
1
1
1
1
1
...
1
0
1
1
1
1
1
1
...
0
1
1
1
1
1
1
1
...
1
1
1
1
1
1
1
1
...
0
0
0
0
0
0
0
0
...
1
0
0
0
0
0
0
0
...
0
1
0
0
0
0
0
0
...
1
1
0
0
0
0
0
0
...
0
0
1
0
0
0
0
0
...
1
0
1
0
0
0
0
0
...
. . . . . .
30
Uma f´ormula para gerar os c´odigos em Zn
2
´E um prazer puro da alma espalhar pelo mundo o fruto de seus es-
tudos e medita¸c˜oes, ainda sem outra remunera¸c˜ao que a consciˆencia de
fazer bem. (Jos´e Bonif´acio)
J´a n˜ao conto mais o n´umero de f´ormulas que deduzi (e/ou demonstrei)
na matem´atica, confesso que, pela f´ormula a seguir, tenho um carinho todo
especial∗.
xij =



1, se i−1
2
j−1 ´e ´ımpar;
0, se i−1
2
j−1 ´e par.
(1.4)
Esta f´ormula nos permite gerar os c´odigos bin´arios, onde: xij ´e o j−´esimo
bit do c´odigo i de Zn
2
. ⌊ x ⌋ ´e o maior inteiro que n˜ao supera x.
Fixado n fazemos
i = 1, 2, . . . , 2n
e j = 1, 2, . . . , n
Por exemplo, para n = 2, temos: i = 1, 2, 3, 4 e j = 1, 2. Ent˜ao
i = 1, j = 1 ⇒ 1−1
21−1 = 0 ⇒ x11 = 0
i = 1, j = 2 ⇒ 1−1
22−1 = 0 ⇒ x12 = 0
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
i = 2, j = 1 ⇒ 2−1
2
1−1 = 1 ⇒ x11 = 1
i = 2, j = 2 ⇒ 2−1
22−1 = 0 ⇒ x12 = 0
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
i = 3, j = 1 ⇒ 3−1
21−1 = 2 ⇒ x11 = 0
i = 3, j = 2 ⇒ 3−1
22−1 = 1 ⇒ x12 = 1
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
i = 4, j = 1 ⇒ 4−1
21−1 = 3 ⇒ x11 = 1
i = 4, j = 2 ⇒ 4−1
22−1 = 1 ⇒ x12 = 1
Sendo assim, temos:
Z2
2
= { 00
i = 1
, 10
i = 2
, 01
i = 3
, 11
i = 4
}
∗
Precisamente pelos detalhes t´ecnicos envolvidos em sua dedu¸c˜ao e demonstra¸c˜ao.
31
Exemplo 6: O espa¸co vetorial Pn (R).
Para a constru¸c˜ao do nosso pr´oximo exemplo de espa¸co vetorial tomare-
mos como conjunto V o conjunto,
Pn (R) = a0 + a1 x + a2 x2
+ · · · + an xn
: ai ∈ R
dos polinˆomios com coeficientes reais de grau ≤ n (n ´e um inteiro n˜ao-
negativo).
Para conferir aos elementos deste conjunto o status de vetores, tomemos
dois elementos arbitr´arios
p(x) = a0 + a1 x + a2 x2
+ · · · + an xn
q(x) = b0 + b1 x + b2 x2
+ · · · + bn xn
e vamos definir duas opera¸c˜oes:
p(x) + q(x) = (a0 + b0 ) + (a1 + b1 )x + (a2 + b2 )x2
+ · · · + (an + bn )xn
Tomemos para o corpo de escalares os n´umeros reais, vamos definir,
λ p(x) = λ b0 + (λ b1 ) x + (λ b2 ) x2
+ · · · + (λ bn ) xn
Pode ser mostrado que todas as exigˆencias sobre as opera¸c˜oes de adi¸c˜ao e
multiplica¸c˜ao por escalar s˜ao satisfeitas; portanto Pn (R) ´e o espa¸co vetorial
dos polinˆomios (de grau ≤ n) com coeficientes reais.
O vetor nulo deste espa¸co ´e dado por,
0(x) = 0 + 0x + 0x2
+ · · · + 0xn
O oposto aditivo do vetor p(x) = a0 + a1 x + a2 x2 + · · · + an xn ´e o vetor,
−p(x) = (−a0 ) + (−a1 ) x + (−a2 ) x2
+ · · · + (−an ) xn
Isto se deve a que, p + (−p) = 0, veja:
p + (−p) (x) = a0 + (−a0 ) + a1 + (−a1 ) x + · · · + an + (−an ) xn
= 0 + 0x + 0x2
+ · · · + 0xn
= 0(x)
Exemplo 7: O espa¸co vetorial Mm×n(R).
Sobre o conjunto Mm×n(R), das matrizes de ordem m × n, com entradas
reais podemos construir um espa¸co vetorial tomando como corpo K = R
e as opera¸c˜oes usuais de adi¸c˜ao de matrizes e multiplica¸c˜ao de matriz por
escalar. (p. 424 e p. 425)
No caso particular das matrizes de ordem 2 × 3, por exemplo, o vetor
nulo ´e dado por:
0 =
0 0 0
0 0 0
32
Para um vetor arbitr´ario,
u =
a11 a12 a13
a21 a22 a23
seu oposto aditivo ´e dado por,
−u =
−a11 −a12 −a13
−a21 −a22 −a23
Para provar esta assertiva basta ter em conta que,
u + (−u) =
a11 a12 a13
a21 a22 a23
+
−a11 −a12 −a13
−a21 −a22 −a23
Ou ainda,
u + (−u) =
a11 − a11 a12 − a12 a13 − a13
a21 − a21 a22 − a22 a23 − a23
=
0 0 0
0 0 0
= 0
Exemplo 8: Espa¸cos Funcionais. Consideremos o conjunto,
F = { f : R → R }
das fun¸c˜oes reais definidas em toda a reta. O nosso objetivo ser´a construir
sobre este conjunto um espa¸co vetorial:
F = F, +, · (1.5)
Dados dois elementos∗ f e g em F, vamos definir a adi¸c˜ao f + g como sendo
a fun¸c˜ao dada pela seguinte “ lei ” (regra):
(f + g)(x) = f(x) + g(x) (1.6)
Esta adi¸c˜ao ´e conhecida como adi¸c˜ao ponto a ponto e existe uma inter-
preta¸c˜ao geom´etrica para a mesma. Por exemplo, consideremos as fun¸c˜oes
dadas por f(x) = x2 e g(x) = x + 1; pela defini¸c˜ao de adi¸c˜ao em F, temos:
(f + g)(x) = f(x) + g(x) = ( x2
) + (x + 1) = x2
+ x + 1
Geometricamente, tudo se passa assim:
∗
Para o que se segue ser´a importante que o leitor tenha em mente a distin¸c˜ao entre
os s´ımbolos f e f(x); o primeiro se refere `a pr´opria fun¸c˜ao, o segundo se refere ao valor
num´erico que a fun¸c˜ao assume no ponto x (imagem de x pela fun¸c˜ao f).
33
0
R
R
r
r
x
f(x)
g(x)
f
g
0 R
R
r
x
f(x)+g(x)
f+g
Pois bem, dados um escalar λ ∈ R e uma fun¸c˜ao f ∈ F, vamos definir
a multiplica¸c˜ao por escalar, λ f, como sendo a fun¸c˜ao dada pela seguinte
regra:
(λ f)(x) = λ f(x) (1.7)
Como na adi¸c˜ao, existe uma interpreta¸c˜ao geom´etrica para o produto de um
escalar por uma fun¸c˜ao. Tomemos, por exemplo, f e g como anteriormente,
e o escalar λ = 1
2, a seguir vemos as multiplica¸c˜oes por escalar 1
2 f e 1
2 g :
0
R
R
r
r
x
f
1
2
f
0 R
R
r
r
x
g
1
2
g
Para conferir o status de vetor a uma fun¸c˜ao s´o nos resta agora mostrar
que todas as exigˆencias para espa¸co vetorial s˜ao satisfeitas pelas opera¸c˜oes
definidas acima.
Antes, recordamos o que significa dizer que duas fun¸c˜oes (ou aplica¸c˜oes)
s˜ao iguais:
Defini¸c˜ao 2 (Igualdade entre aplica¸c˜oes). Dizemos que as aplica¸c˜oes
f : A −→ B
x −→ f(x)
e
g: C −→ D
x −→ g(x)
s˜ao iguais se, e somente se, A = C, B = D e f(x) = g(x) para todo x ∈ A.
34
Para duas fun¸c˜oes no conjunto F escrevemos,
f : R −→ R
x −→ f(x)
e
g: R −→ R
x −→ g(x)
De sorte que, por exemplo,
f + g = g + f ⇔ (f + g)(x) = (g + f)(x), ∀ x ∈ R.
Ent˜ao,
A1) (f + g)(x) = f(x) + g(x) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao)
= g(x) + f(x) (comutatividade nos reais)
= (g + f)(x) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao)
⇓
f + g = g + f
A2) (f + g) + h (x) = ( f + g )(x) + h(x) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao)
= f(x) + g(x) + h(x) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao)
= f(x) + g(x) + h(x) (associatividade nos reais)
= f(x) + ( g + h )(x) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao)
= f + ( g + h ) (x) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao)
⇓
(f + g) + h = f + (g + h)
O nosso candidato natural a vetor nulo, 0, ´e a fun¸c˜ao nula, assim
definida:
0: R −→ R
x −→ 0
´E a fun¸c˜ao que associa a todo n´umero real, no dom´ınio, o n´umero 0, no
contradom´ınio, isto ´e,
0(x) = 0, ∀ x ∈ R
e cujo gr´afico coincide com o eixo ox, veja:
0
R
R
35
Posto isto, temos,
A3) (f + 0)(x) = f(x) + 0(x) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao)
= f(x) + 0 (defini¸c˜ao de fun¸c˜ao nula)
= f(x) (elemento neutro nos reais)
⇓
f + 0 = f
− Dada qualquer fun¸c˜ao f ∈ F, vamos definir como −f a fun¸c˜ao cujos
valores s˜ao os opostos (negativos) dos valores de f, isto ´e,
(−f)(x) = −f(x)
Vamos agora mostrar que f + (−f) = 0. De fato, temos que,
A4) f + (−f) (x) = f(x) + (−f)(x) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao)
= f(x) + − f(x) (defini¸c˜ao de fun¸c˜ao oposta)
= 0 (oposto nos reais)
⇓
f + (−f) = 0
Existe uma interpreta¸c˜ao geometrica para a oposta, −f, de uma fun¸c˜ao
f; o seu gr´afico ´e sim´etrico − em rela¸c˜ao ao eixo x − ao gr´afico de f; por
exemplo, para as fun¸c˜oes f e g que vˆem nos acompanhando, temos:
R
R
f
−f
x
r
r
f(x)
−f(x)
f+(−f)= 0 g+(−g)= 0
R
R
r
r
x
g
−g
g(x)
−g(x)
M1) λ ( µ f ) (x) = λ ( µf)(x) (defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao por escalar)
= λ µ f(x) (defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao por escalar)
= (λ µ)f(x) (associatividade nos reais)
= (λ µ)f (x) (defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao por escalar)
⇓
λ (µ f) = (λ µ)f
36
M2) (λ + µ) f (x) = (λ + µ)f(x) (defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao por escalar)
= λ f(x) + µ f(x) (distributividade nos reais)
= (λ f)(x) + (µ f)(x) (multiplica¸c˜ao por escalar)
= (λ f + µ f)(x) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao)
⇓
(λ + µ) f = λ f + µ f
M3) λ (f + g) (x) = λ (f + g)(x) (multiplica¸c˜ao por escalar)
= λ f(x) + g(x) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao)
= λ f(x) + λ g(x) (distributividade nos reais)
= (λ f + λ g)(x) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao)
⇓
λ (f + g) = λ f + λ g
M4) (1 f)(x) = 1 f(x) (multiplica¸c˜ao por escalar)
= f(x) (elemento neutro nos reais)
⇓
1 f = f
• Observe que somente agora − e dentro do presente contexto − uma
fun¸c˜ao adquire o status de vetor. Este vetor n˜ao tem m´odulo, n˜ao tem
dire¸c˜ao, n˜ao tem sentido.
Nota: Podemos considerar ao inv´es do conjunto,
F = { f : R → R }
o conjunto,
F = { f : X → R } (1.8)
onde X ´e um conjunto n˜ao-vazio qualquer, e ainda aqui, como anterior-
mente, obtemos um espa¸co vetorial: F(X, R).
Matem´atica: Esta “ciˆencia vazia” que − espantosamente − se
aplica a todas as contingˆencias fenomenol´ogicas, apesar de ser um puro
formalismo reflexivo.
37
Um exemplo patol´ogico
Importante: Na defini¸c˜ao de espa¸co vetorial fizemos referˆencia a uma opera¸c˜ao,
+ : V × V −→ V
a qual foi chamada de adi¸c~ao e cujo s´ımbolo adotado foi o usual: +. A
escolha para este nome (adi¸c˜ao) e para este s´ımbolo ( + ) ´e meramente uma
quest˜ao de conveniˆencia; a princ´ıpio esta opera¸c˜ao pode n˜ao ter nada a ver
com a “adi¸c˜ao usual” , o que realmente importa ´e que a mesma satisfa¸ca a
todas as exigˆencias para a estrutura espa¸co vetorial. Para contextualizar a
que estamos nos referindo meditemos sobre os dois exemplos a seguir.
Exemplo 9: Consideremos o seguinte subconjunto V = { x ∈ R: x > 0 }
dos reais, cuja vers˜ao geometrica ´e vista a seguir:
0 1 2 3
R+
∗
O nosso objetivo agora ser´a conferir aos elementos deste conjunto o status
de vetores.
O nosso intuito estar´a fadado ao fracasso se definirmos a adi¸c˜ao como
sendo a usual, n˜ao obstante este conjunto ser fechado para esta opera¸c˜ao.
Este insucesso se dever´a a que n˜ao conseguiremos um elemento neutro para
a referida opera¸c˜ao (j´a que o 0 foi excluido do conjunto V ); e nem um oposto
para cada u ∈ V .
Observamos que este conjunto ´e fechado para a multiplica¸c˜ao. Vamos
definir as duas seguintes opera¸c˜oes:



u + v = u v, ∀ u, v ∈ V
λ · u = uλ, ∀ u ∈ V e ∀ λ ∈ R.
Ou seja, a nossa opera¸c˜ao candidata a adi¸c˜ao vetorial nada mais ´e que a
multiplica¸c˜ao num´erica usual e a nossa opera¸c˜ao candidata a multiplica¸c˜ao
por escalar nada mais ´e que a exponencia¸c˜ao num´erica.
Nesta nossa adi¸c˜ao esdr´uxula observe que:
1 + 1 = 1 · 1 ⇒ 1 + 1 = 1
2 +
1
2
= 2 ·
1
2
⇒ 2 +
1
2
= 1
Nesta nossa multiplica¸c˜ao esdr´uxula observe que:
2 · 1 = 12 ⇒ 2 · 1 = 1
1
2 · 2 = 2
1
2 ⇒ 1
2 · 2 =
√
2
2 · 1
2 = 1
2
2
⇒ 2 · 1
2 = 1
4
38
Ser´a que funciona? Vejamos:
A1) u + v = u v (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao)
= v u (comutatividade da multiplica¸c˜ao em R)
= v + u (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao)
A2) (u + v) + w = (u v) + w (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao)
= (u v) w (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao)
= u (v w) (associatividade em R)
= u (v + w) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao)
= u + (v + w) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao)
A3) Devemos agora exibir um elemento neutro para a nossa adi¸c˜ao; ou
ainda, devemos exibir 0 ∈ V satisfazendo 0 + u = u, ∀ u ∈ V . Sendo assim
devemos ter
0 + u = 0 u = u = 1 u ⇒ 0 u = 1 u
Esta igualdade nos sugere tomar como candidato a vetor nulo 0 = 1, e de
fato funciona, como ´e f´acil constatar.
A4) Para todo elemento u de V devemos exibir um outro elemento de V ,
denotado por −u, detentor da seguinte propriedade:
u + (−u) = 0
Sendo assim, temos:
u + (−u) = u (−u) = 0 = 1 ⇒ u (−u) = 1
Esta ´ultima equa¸c˜ao nos sugere tomar −u = u−1 = 1
u, e de fato funciona,
como ´e f´acil constatar. Observe que,
−1 = 1−1
⇒ −1 = 1 (1.9)
Interregno cultural:
Uma observa¸c˜ao trivial, no entanto pertinente, ´e que o sinal “−”, acima,
n˜ao significa “negativo”, significa apenas oposto (aditivo).
Por oportuno, em matem´atica um vetor n˜ao possui “negativo”. Com
efeito, o conceito de negativo em um conjunto ´e definido em fun¸c˜ao de uma
rela¸c˜ao de ordem∗, num espa¸co vetorial n˜ao contamos com uma tal rela¸c˜ao.
∗
Positivo ´e maior que zero e negativo ´e menor que zero.
39
Observemos, novamente, a exigˆencia A4) na defini¸c˜ao de espa¸co vetorial:
“A4) Para todo elemento u de V existe um outro elemento de V , denotado
por −u, detentor da seguinte propriedade:
u + (−u) = 0 ” (Elemento oposto)
Duas observa¸c˜oes: ( i ) −u ´e apenas, e t˜ao somente, uma nota¸c˜ao ( ii ) o
que ´e essencial ´e que aqui temos a defini¸c˜ao (caracteriza¸c˜ao) do que seja o
elemento −u, o oposto de u; ´e aquele que quando adicionado com u repro-
duz o elemento neutro da “adi¸c˜ao”. ´E isto o que importa, o que existe de
essencial, n˜ao a nota¸c˜ao (s´ımbolo) adotada para o elemento oposto.
N˜ao haveria nenhuma mudan¸ca estrutural se tivessemos enunciado a
exigˆencia A4) do seguinte modo:
“A4) Para todo elemento u de V existe um outro elemento de V , denotado
por ¯u, detentor da seguinte propriedade:
u + ¯u = 0 ” (Elemento oposto)
Neste caso a igualdade (1.9) (p. 39) se tornaria,
¯1 =
1
1
⇒ ¯1 = 1
Um raciocinio an´alogo se aplica ao caso do vetor nulo 0.
Em um contexto correlato a este observamos que nos n´umeros inteiros
o sinal “−” tem dois significados distintos. Quando aparece em, por exem-
plo, −3, este sinal significa tomar o oposto; ou ainda, podemos dizer que
se trata de uma opera¸c˜ao un´aria; ao passo que este mesmo sinal em, por
exemplo, 2 − 3, tem um significado distinto do primeiro, aqui temos uma
opera¸c˜ao bin´aria (diferen¸ca entre dois inteiros).
Continuando:
M1) λ (µ u) = λ ( uµ ) (defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao por escalar)
= ( uµ )λ (defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao por escalar)
= u(µ λ) (potˆencia nos reais)
= (µ λ)u (defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao por escalar)
M2) (λ + µ) u = uλ+µ (defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao por escalar)
= uλ · uµ (potˆencia nos reais)
= λ u · µ u (multiplica¸c˜ao por escalar)
= λ u + µ u (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao)
40
M3) λ (u + v) = λ (u v) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao)
= (u v)λ (multiplica¸c˜ao por escalar)
= uλ · vλ (potˆencia nos reais)
= λ u · µ u (multiplica¸c˜ao por escalar)
= λ u + µ u (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao)
M4) 1 u = u1 (multiplica¸c˜ao por escalar)
= u (potˆencia nos reais)
Interregno cultural: Fa¸camos uma pequena exegese sobre a (leg´ıtima)
igualdade:
1
2
· 2 = 2
1
2
=
√
2
Esta igualdade bizarra nos d´a raz˜ao quando afirmamos que a identidade de
um elemento ´e conferida pela estrutura em que ele est´a inserido. Com efeito,
na multiplica¸c˜ao acima o primeiro fator, 1
2, ´e um n´umero real (no caso um
escalar), ao passo que o segundo, 2, n˜ao ´e mais um n´umero real, mas sim
um vetor.
Deixamos ao leitor a incumbˆencia de justificar as seguintes igualdades:
−1 + (−2) =
1
2
= −1 · (−2)
Observe que o −1 `a esquerda ´e um vetor enquanto o mesmo −1 `a direita
n˜ao ´e mais um vetor, mas sim um escalar. O que confere a identidade de
um elemento ´e a regra (opera¸c˜ao) com a qual ele est´a sendo manipulado.
O pr´oximo exemplo de espa¸co vetorial ´e a generaliza¸c˜ao do exemplo
anterior para duas “dimens˜oes”.
Exemplo 10: Consideremos o conjunto V = { (x, y) ∈ R2 : x, y > 0 }, cuja
vers˜ao geom´etrica ´e vista a seguir:
1
2
3
0 1 2 3
R+
∗
R+
∗
r0=(1, 1)
41
com as opera¸c˜aoes de adi¸c˜ao e multiplica¸c˜ao por escalar definidas assim:
(a, b) + (c, d) = ( a c, b d )
λ (a, b) = ( aλ , bλ )
Deixamos ao leitor a incumbˆencia de provar que V ´e um espa¸co vetorial.
1.2.1 Produto de Vetores
Uma pergunta pertinente seria: Existem produtos de vetores?
Um produto em um espa¸co vetorial V seria, segundo a defini¸c˜ao 55 (p. 419),
qualquer aplica¸c˜ao
· : V × V → V
(u, v) → u·v
Sendo assim estamos livres para definir produto de vetores em muitos (qui¸c´a
em todos) espa¸cos vetoriais, por exemplo
( I ) Em Rn, um produto poderia ser:
(x1 , x2 , . . . , xn ) · (y1 , y2 , . . . , yn ) → (x1 y1 , x2 y2 , . . . , xn yn )
( II ) Em Zn
2
, um produto poderia ser:
x1 x2 . . . xn · y1 y2 . . . yn → (x1 y1 )(x2 y2 ) . . . (xn yn )
( III) No espa¸co F das fun¸c˜oes reais podemos definir o produto f · g de
dois vetores f e g assim:
(f · g)(x) → f(x) · g(x)
Deste modo podemos considerar que existem sim produto de vetores. A
quest˜ao, n˜ao apenas no presente contexto − como tamb´em em muitos outros
na matem´atica − n˜ao ´e se existe ou n˜ao um produto (ou outra opera¸c˜ao
qualquer) mas sim se o produto definido vai resultar “interessante” do ponto
de vista alg´ebrico (estrutural) ou de aplica¸c˜oes.
Por exemplo, no espa¸co vetorial R2, o produto definido acima, isto ´e:
(a, b) · (c, d) → (ac, bd)
resultaria desinteressante sob os dois aspectos referidos; n˜ao obstante, pode-
mos definir sobre este espa¸co um outro produto, qual seja∗:
(a, b) · (c, d) → (ac − bd, ad + bc)
∗
Esta multiplica¸c˜ao, juntamente com a adi¸c˜ao usual, resulta na estrutura conhecida
como n´umeros complexos (p. 20). Observe que n˜ao estamos “misturando” as estruturas,
estamos afirmando que esse produto poderia ser acrescido `a estrutura de espa¸co vetorial.
42
Este, ao contr´ario do produto anterior, j´a resulta bem interessante sob qual-
quer dos crit´erios mencionados. Por exemplo, o espa¸co vetorial R2 “enrique-
cido” com esse produto nos permitiria gerar as belas figuras conhecidas como
fractais, como as vistas a seguir:
1.2.2 Primeiras Propriedades num Espa¸co Vetorial
Os iniciantes n˜ao est˜ao preparados
para o verdadeiro rigor matem´atico; s´o
veriam nisso v˜as e fastidiosas sutilezas,
perder´ıamos nosso tempo se quis´essemos,
cedo demais, torn´a-los mais exigentes.
(Poincar´e)
Observe que algumas proposi¸c˜oes matem´aticas, at´e mesmo nos inteiros
(para n˜ao falar nos reais), tais como
0 x = 0 ou 2 · (−1) = −2 ou − 3 + 2 = −1
tidas por muitos como “´obvias”, n˜ao tˆem nada de triviais, a bem da ver-
dade a maioria das pessoas com esse sentimento foram apenas condicionadas
(adestradas) a pensar assim. Por exemplo, vocˆe saberia demonstrar as igual-
dades acima a partir das opera¸c˜oes de adi¸c˜ao e multiplica¸c˜ao nos inteiros?
Lembre-se: “O acaso pode fazer com que uma opini˜ao seja verdadeira,
mas nem por isso ela deixa de ser uma opini˜ao, isto ´e, uma cren¸ca e n˜ao
um saber.” (Simone Manon)
43
Pois bem, em matem´atica prova-se algumas proposi¸c˜oes “intuitivamente
´obvias” tais como: 0 x = 0 ou, o que ´e “pior” , 1 > 0.
Perguntamos: afinal de contas o que deve ser provado e o que n˜ao deve
ser provado, em uma dada teoria?
Esta pergunta fica f´acil de responder no caso das teorias desenvolvi-
das axiomaticamente, como ´e o caso dos espa¸cos vetoriais. Respondemos:
assumimos, axiomaticamente, que todo espa¸co vetorial; digo, todos os ve-
tores, satisfazem as oito propriedades A1), . . . , A4); M1), . . . , M4) listadas
na defini¸c˜ao de espa¸co vetorial (p. 14); qualquer afirmativa sobre vetores,
por mais “´obvia” que seja e que n˜ao consta naquela lista, deve ser provada,
como por exemplo, as listadas a seguir.
Seja V um espa¸co vetorial com escalares em R. As propriedades provadas
a seguir s˜ao consequˆencias da defini¸c˜ao de espa¸co vetorial. (p. 12)
P1 ) Para todo λ ∈ R, temos
λ 0 = 0
Prova:
λ 0 = λ 0 + 0 [ Exigˆencia A3) ]
= λ 0 + [ λ 0 + − (λ 0) ] [ Exigˆencia A4) ]
= (λ 0 + λ 0) + − (λ 0) [ Exigˆencia A2) ]
= λ ( 0 + 0) + − (λ 0) [ Exigˆencia M3) ]
= λ 0 + − (λ 0) [ Exigˆencia A3) ]
= 0 [ Exigˆencia A4) ]
P2 ) Para todo u ∈ V , temos
0 u = 0
Note a diferen¸ca entre esta propriedade e a anterior. Em P1 provamos que
qualquer escalar (n´umero) multiplicado pelo vetor nulo resulta no vetor nulo;
em P2 devemos provar que o n´umero 0 multiplicado por qualquer vetor deve
resultar no vetor nulo.
Prova:
0 u = (0 + 0) u [ Neutro em R ]
0 u = 0 u + 0 u [ Exigˆencia M2) ]
−(0 u) + 0 u = −(0 u) + (0 u + 0 u) [ Somando o oposto de 0 u ]
0 = − (0 u) + 0 u + 0 u [ Exigˆencias A3) e A2) ]
0 = 0 + 0 u [ Exigˆencia A4) ]
0 = 0 u [ Exigˆencia A3) ]
44
P3 ) Para λ ∈ R e u ∈ V , temos
Se λ u = 0, ent˜ao λ = 0 ou u = 0. (1.10)
Na prova desta simples proposi¸c˜ao temos a oportunidade de ilustrar
v´arias das t´ecnicas de demonstra¸c˜oes matem´aticas vistas no cap´ıtulo para
consultas (´ultimo). Vamos prov´a-la utilizando trˆes t´ecnicas distintas:
1a ) Prova: Utilizaremos a t´ecnica de demonstra¸c˜ao (T − 3) (p. 436):
H =⇒ T ⇐⇒ H ∧ ¯T =⇒ f
Destacando a hip´otese e a tese em nossa proposi¸c˜ao, temos:
H : λ u = 0, T : λ = 0 ou u = 0.
Sendo assim, temos:
H ∧ ¯T : λ u = 0 ∧ ( λ = 0 e u = 0 ) (1.11)
Se λ = 0 ent˜ao existe o n´umero real n˜ao-nulo λ−1. Sendo assim vamos
multiplicar λ u = 0 por λ−1, obtendo:
λ−1
( λ u ) = λ−1
0
Aplicando a exigˆencia M1) (p. 13) e a propriedade P1 chegamos a,
( λ−1
λ ) u = 0
Ou ainda,
1 u = 0
Aplicando agora a exigˆencia M4), temos: u = 0. Invocando a hip´otese
(1.11), exibimos o seguinte absurdo:
u = 0 e u = 0.
2a ) Prova: Utilizaremos a t´ecnica de demonstra¸c˜ao (T − 4): (p. 436)
H1 ∧ H2 =⇒ T ⇐⇒ H1 ∧ ¯T =⇒ ¯H2
Para utilizar esta t´ecnica vamos provar a contrapositiva∗ da proposi¸c˜ao
(1.10), isto ´e, vamos provar:
Se λ = 0
H1
e u = 0
H2
ent˜ao λ u = 0
T
.
∗
T´ecnica (T − 1) (p. 435).
45
Sendo assim, temos, H1 ∧ ¯T : λ = 0 e λ u = 0.
Se λ = 0 ent˜ao existe o n´umero real n˜ao-nulo λ−1. Sendo assim vamos
multiplicar λ u = 0 por λ−1, obtendo:
λ−1
( λ u ) = λ−1
0
Aplicando a exigˆencia M1) (p. 13) e a propriedade P1 chegamos a,
( λ−1
λ ) u = 0
Ou ainda,
1 u = 0
Aplicando agora a exigˆencia M4), temos: u = 0.
3a ) Prova: Utilizaremos a t´ecnica de demonstra¸c˜ao (T − 7): (p. 439)
H =⇒ T1 ∨ T2 ⇐⇒ H ∧ ¯T1 =⇒ T2
Inicialmente vamos reescrever a proposi¸c˜ao da seguinte forma:
H : λ u = 0 ⇒



T1 : λ = 0
ou
T2 : u = 0
Temos,
H ∧ ¯T1 : λ u = 0 e λ = 0.
Sendo assim existe o n´umero real λ−1, multiplicando λ u = 0 por λ−1,
obtemos
λ−1
( λ u ) = λ−1
0 ⇒ ( λ−1
· λ )u = 0 ⇒ 1 u = 0 ⇒ u = 0
Interregno cultural: Na pr´oxima proposi¸c˜ao deveremos provar as
seguintes igualdades,
(−λ) u = −(λ u) = λ (−u) (1.12)
Em um espa¸co vetorial arbitr´ario isto n˜ao chega a ser t˜ao ´obvio quanto `a
primeira vista poderia parecer a um leitor desatento. Com efeito, `a esquerda
o sinal “−” se refere ao oposto de um escalar no corpo R; no centro o sinal
“−” se refere ao oposto do produto do escalar λ pelo vetor u em V e, na
direita, o sinal “−” se refere ao oposto de um vetor no espa¸co arbitr´ario
V . Tendo em conta que a defini¸c˜ao de oposto est´a amarrado (conexo) `a
opera¸c˜ao de “adi¸c˜ao” em V (como tamb´em em R), conforme defini¸c˜ao de
oposto em A4) (p. 13), ´e f´acil concluir que o primeiro “−” n˜ao tem nada a
ver com os outros dois e, portanto, as igualdades (1.12) nada tˆem de triviais.
46
Por exemplo, tomemos, no espa¸co vetorial do exemplo 9 (p. 38), λ = 2 e
u = 3, neste caso as igualdades (1.12), se traduzem assim:
(−2) 3 = −(2 · 3) = 2 (−3)
ou ainda,
(−2) 3 = −( 32
) = 2 ·
1
3
O que n˜ao chega a ser t˜ao “evidente” quanto a rela¸c˜ao hom´ologa nos reais.
P4 ) Para λ ∈ R e todo u ∈ V , temos
(−λ) u = −(λ u) = λ (−u)
Prova:
(−λ) u + λ u = (−λ) + λ u [ Exigˆencia M2) ]
= 0 u [ Defini¸c˜ao de oposto em R ]
= 0 [ Propriedade P2 ]
⇓
−(λ u) + [ (−λ) u + λ u ] = −(λ u) + 0 [ Somando −(λ u) ]
−(λ u) + [ λ u + (−λ) u ] = −(λ u) [ Exigˆencias A1) e A3) ]
[ −(λ u) + λ u ] + (−λ) u = −(λ u) [ Exigˆencia A2) ]
(−λ) u = −(λ u) [ Exigˆencias A4) e A3) ]
Por outro lado,
λ (−u) + λ u = λ (−u + u) [ Exigˆencia M3) ]
= λ 0 [ Exigˆencia A4) ]
= 0 [ Propriedade P1 ]
⇓
−(λ u) + [ λ (−u) + λ u ] = −(λ u) + 0 [ Somando −(λ u) ]
−(λ u) + [ λ u + λ (−u) ] = −(λ u) [ Exigˆencias A1) e A3) ]
[ −(λ u) + λ u ] + λ (−u) = −(λ u) [ Exigˆencia A2) ]
λ (−u) = −(λ u) [ Exigˆencias A4) e A3) ]
Corol´ario 1. Em todo espa¸co vetorial V , temos: (−1) u = −u.
Prova: Substituindo λ = 1, na propriedade anterior temos:
(−λ) u = −(λ u)
(−1) u = −(1 u)
= −u
47
Nota: Na estrutura dos n´umeros Hipercomplexos (p. 20) temos −1·u = −u.
Por exemplo, tome u = (0, 1) e −1 = (−1, 0).
Diferen¸ca entre vetores: Em um espa¸co vetorial V define-se diferen¸ca
entre dois vetores u e v assim:
u − v = u + (−v)
P5 ) Quaisquer que sejam λ, µ ∈ R e u ∈ V , temos
(λ − µ) u = λ u − µ u
Prova:
(λ − µ) u = λ + (−µ) u [ Diferen¸ca em R ]
= λ u + (−µ) u [ Exigˆencia M2) ]
= λ u + − (µ u) [ Propriedade P4 ]
= λ u − µ u [ Diferen¸ca em V ]
P6 ) Quaisquer que sejam λ ∈ R, u e v em V , temos
λ (u − v) = λ u − λ v
Prova: An´aloga `a anterior (exerc´ıcio).
P7 ) O vetor nulo de um espa¸co vetorial ´e ´unico.
Ou seja, existe um ´unico vetor 0 que satisfaz a exigˆencia A3). (p. 12)
Prova: Com efeito, suponhamos que ¯0 seja um outro vetor satisfazendo
aquela exigˆencia. Ent˜ao,
0 + ¯0 = 0 [ ¯0 ´e vetor nulo ]
¯0 + 0 = ¯0 [ 0 ´e vetor nulo ]
⇓
0 = ¯0 [ Comutatividade da adi¸c˜ao ]
48
P8 ) Para cada vetor u de um espa¸co vetorial V existe um ´unico vetor −u,
oposto de u.
Prova: Suponhamos que ¯u seja um outro vetor oposto de u; ent˜ao, pela
defini¸c˜ao de oposto podemos escrever u + ¯u = 0.
−u = −u + 0 [ Exigˆencia A3) ]
= −u + (u + ¯u) [ ¯u ´e oposto de u ]
= (−u + u) + ¯u [ Exigˆencia A2) ]
= 0 + ¯u [ −u ´e oposto de u ]
= ¯u [ Exigˆencia A3) ]
P9 ) Se u, v e w ∈ V e u + v = u + w, ent˜ao v = w (Num espa¸co vetorial
vale a lei do cancelamento na adi¸c˜ao).
Prova:
(−u) + (u + v) = (−u) + (u + w) [ Somando (−u) `a hip´otese ]
(−u + u) + v = (−u + u) + w [ Exigˆencia A2) ]
0 + v = 0 + w [ Exigˆencia A4) ]
v = w [ Exigˆencia A3) ]
P10 ) Se u, w ∈ V , ent˜ao existe um ´unico vetor v tal que u + v = w.
Prova: Inicialmente observemos que w+(−u) satisfaz a equa¸c˜ao dada. Com
efeito,
u + w + (−u) = u + (−u) + w
= u + (−u) + w
= 0 + w = w
Suponhamos agora que existam dois vetores, ¯v e v′, satisfazendo a equa¸c˜ao
dada. Logo,
u + ¯v = w
u + v′ = w
⇒ u + ¯v = u + v′
pela lei do cancelamento da adi¸c˜ao resulta ¯v = u′.
49
1.2.3 Exerc´ıcios
1) Seja V = (x, y): x, y ∈ R o conjunto de pares ordenados de n´umeros
reais, tome dois elementos neste conjunto, u = (a, b) e v = (c, d), e considere
as seguintes opera¸c˜oes de adi¸c˜ao e multiplica¸c˜ao por escalar:
u + v = ( a + b, c + d ), λ u = ( λ a, |λ| b )
( a ) Para u = (2, −1), v = (4, 3) e λ = −1, calcule u + v, λ u e λ v.
( b ) Perguntamos se V ´e um espa¸co vetorial.
2) Seja V = (x, y, z): x, y, z ∈ R o conjunto de ternos ordenados de
n´umeros reais, tome dois elementos neste conjunto, u = (a, b, c) e v =
(d, e, f), e considere as seguintes opera¸c˜oes de adi¸c˜ao e multiplica¸c˜ao por
escalar:
u + v = ( a + d + 1, b + e + 1, c + f + 1 ), λ u = ( λ a, λ b, λ c )
( a ) Para u = (1, 1, 1), v = (−1, 0, 1) e λ = 2, calcule u + v, λ u e λ v.
( b ) Quem seria, 0, o candidato a vetor nulo?
( c ) Quem seria, −u, o oposto de u?
( d ) Perguntamos se V ´e um espa¸co vetorial.
3) No exemplo 9, p. 38, se incluirmos o 0 no conjunto V ainda assim teremos
um espa¸co vetorial?
4) Ainda com respeito ao espa¸co vetorial do exemplo 9, considerando que
todos os vetores s˜ao positivos, isto ´e, V = { x ∈ R: x > 0 }, perguntamos se
faz sentido a seguinte adi¸c˜ao: −1 + (−2), caso sim, qual o seu valor?
5) Considere o exemplo 10, p. 41; dados os vetores u = (2, 1), v = (1, 2) e
w = −(2, 1); encontre o seguinte vetor: 2 u + (−1 v) + w.
6) Considere no espa¸co vetorial R3 os vetores u = (1, 1, 1), v = (−1, −1, 1)
e w = (1, −1, −1).
( a ) Localize-os geometricamente.
( b ) Calcule o vetor 3 u − 2 v + 1
2 w.
( c ) Resolva a equa¸c˜ao 2 u + 1
3 x = w − v.
7) No espa¸co vetorial M2×3 (R), considere os vetores:
u =
1 0 0
1 0 0
, v =
0 2 1
1 1 1
, w =
2 −6 −3
−1 −3 −3
( a ) Calcule o vetor 2u − 3v − w.
( b ) Existem λ, µ ∈ R tais que w = λ u + µ v ?
50
8) Considere o espa¸co vetorial F, onde,
F = f : [ −1, 1 ] → R
com as opera¸c˜oes usuais (ponto a ponto) − ver p. 33. Neste espa¸co considere
os vetores f, g e h dados assim:
f(x) = |x|, g(x) = x e h(x) = x2
( a ) Fa¸ca um esbo¸co geometrico destes vetores (plote seus gr´aficos).
( b ) Esboce o gr´afico dos vetores −f, −g e −h.
( c ) Esboce o gr´afico dos vetores f + g e f + h.
( d ) Encontre o vetor 2f + 3g − h.
9) No espa¸co vetorial P3 (R) considere os vetores f, g e h dados assim:
f(x) = x − 1, g(x) = 3x2
− 2x + 1 e h(x) = x3
− 1
( a ) Calcule o vetor 2f − 3g + 2h.
( b ) Calcule o vetor f · g + 2h.
( c ) Existem λ, µ ∈ R tais que h = λ f + µ g ?
( d ) Existem λ, µ ∈ R tais que h = λ ( f · g ) + µ f ?
10) Mostre que, num espa¸co arbitr´ario, −(−u) = u.
11) Sejam s1 , s2 , . . . , sn s´ımbolos e seja K um corpo qualquer. Seja V o
conjunto das express˜oes do tipo abaixo
λ1 s1 + λ2 s2 + · · · + λn sn
onde λi ∈ K. Definimos a adi¸c˜ao e a multiplica¸c˜ao por escalar em V por
(λ1 s1 + · · · + λn sn ) + (γ1 s1 + · · · + γn sn ) = (λ1 + γ1 ) s1 + · · · + (λn + γn ) sn
µ (λ1 s1 + λ2 s2 + · · · + λn sn ) = µ λ1 s1 + µ λ2 s2 + · · · + µ λn sn
Mostre que V ´e um espa¸co vetorial sobre K com as opera¸c˜oes acima.
12) Mostre que no espa¸co de c´odigos Z2
2
as opera¸c˜oes de adi¸c˜ao e subtra¸c˜ao
coincidem, isto ´e
u − v = u + (−v) = u + v, ∀ u, v ∈ Z2
2
13) Prove que a equa¸c˜ao (1.4) (p. 31) efetivamente gera os vetores do espa¸co
de c´odigos Zn
2
.
14) Fixado arbitrariamente um n´umero primo p considere o seguinte sub-
conjunto Zp dos inteiros dado por
Zp = { 0, 1, 2, . . . , p − 1 }
51
Tomemos dois elementos arbitr´arios x e y em Zp e vamos definir sobre
este conjunto duas opera¸c˜oes; a uma delas chamaremos de adi¸c˜ao e a outra
chamaremos de multiplica¸c˜ao, assim definidas:
x + y = resto da divis˜ao de x + y por p;
x · y = resto da divis˜ao de x · y por p.
Em ´Algebra Moderna (ver por exemplo [11]) prova-se que o sistema alg´ebrico
Zp = (Zp , +, ·) ´e um corpo (quando p ´e um n´umero primo). Ent˜ao, pelo
exemplo 4 (p. 24) resulta que Zn
p
s˜ao espa¸cos vetoriais.
Construa as t´abuas das opera¸c˜oes em Z3 . Encontre o conjunto Z2
3
. No
espa¸co Z2
3
encontre as seguintes somas de vetores:
( a ) 11+ 22 ( b ) 10+ 01 ( c ) 21+ 12 ( d ) 11− 22 ( e ) 10− 01.
Neste mesmo espa¸co execute as seguintes opera¸c˜oes:
( a ) 2 · 22 ( b ) 2 [ −(01) ] ( c ) 2 [ −(10) ] ( d ) 2 [ 11 − 22 ]
( e ) 2 [ −(11) + 22 ].
15) Mostre que a f´ormula para gerar os c´odigos bin´arios tamb´em pode ser
escrita assim: (eq. (1.4), p. 31)
xij =



1, se
i−1
2
j−1 ´e ´ımpar;
0, se
i−1
2
j−1 ´e par.
Estamos assumindo que
m
n
=



m!
n! (m − n)!
, se m ≥ n;
0 , se m < n.
16) A conhecida f´ormula da an´alise combinat´oria n
r = n !
r! (n−r)! nos fornece
o n´umero de combina¸c˜oes dos n elementos de um conjunto A, tomados r a
r. Mas esta f´ormula n˜ao nos fornece as tais combina¸c˜oes.
Prove que a f´ormula (1.4) serve a esse prop´osito. (p. 31)
Sugest˜ao: Para n = 4, por exemplo, considere A = { a1 , a2 , a3 , a4 }, disponha
os elementos de Z4
2
segundo uma tabela (matriz) de 4 linhas por 24 colunas
− cada coluna correspondendo a um elemento do conjunto. Convencione
que onde ocorre 1 o elemento entra na combina¸c˜ao e que onde ocorre 0, n˜ao
entra. A prova dever´a ser feita para n arbitr´ario.
52
1.2.4 Subespa¸cos Vetoriais
Defini¸c˜ao 3 (Subespa¸co vetorial). Sejam V um espa¸co vetorial e U ⊂ V
um subconjunto n˜ao vazio de V . O subconjunto U ´e um subespa¸co vetorial
de V se U ´e um espa¸co vetorial em rela¸c˜ao `a adi¸c˜ao e `a multiplica¸c˜ao por
escalar definidas em V .
Para mostrar que U ´e um subespa¸co vetorial de V devemos, a princ´ıpio,
verificar as oito exigˆencias de espa¸co vetorial relativas `a adi¸c˜ao e `a multi-
plica¸c˜ao por escalar (quadro amarelo, p. 14). Entretanto, como U ´e sub-
conjunto de V , e sendo V − por hip´otese − um espa¸co vetorial, resulta que
n˜ao h´a necessidade da verifica¸c˜ao de certas exigˆencias em U. Por exemplo,
a exigˆencia A1) diz que u + v = v + u, ∀ u, v ∈ V . Ora, se a comutativi-
dade da adi¸c˜ao vale para todos os elementos de V em particular tamb´em
vale para todos os elementos de U. O mesmo raciocinio podemos aplicar a
outras exigˆencias para espa¸co vetorial.
A proposi¸c˜ao seguinte facilita bastante quando devemos mostrar que
dado subconjunto ´e um subespa¸co vetorial.
Proposi¸c˜ao 1 (Subespa¸co Vetorial). Seja V um espa¸co vetorial. Um sub-
conjunto U ⊂ V , n˜ao vazio, ´e um subespa¸co vetorial de V se, e somente se,
´e fechado para as opera¸c˜oes de adi¸c˜ao e multiplica¸c˜ao por escalar de V ; ou
seja, se
I ) Para quaisquer u, v ∈ U, tem-se: u + v ∈ U;
II ) Para quaisquer λ ∈ R, u ∈ U, tem-se: λ u ∈ U.
Prova: (⇒) H : U ⊂ V ´e subespa¸co vetorial de V ;
T : U ´e fechado para as opera¸c˜oes de espa¸co vetorial.
Se U ´e um subespa¸co, ent˜ao obviamente as condi¸c˜oes I ) e II ) s˜ao satis-
feitas. Reciprocamente,
(⇐) H : U ´e fechado para as opera¸c˜oes de espa¸co vetorial;
T : U ⊂ V ´e subespa¸co vetorial de V .
Suponha que as condi¸c˜oes I ) e II ) s˜ao satisfeitas para U. Vamos
mostrar que as oito exigˆencias de espa¸co vetorial tamb´em s˜ao satisfeitas
em U. De fato, tomemos u ∈ U. Pela condi¸c˜ao II ), λ u ∈ U para todo
λ ∈ R; sendo assim, tomemos λ = 0, logo 0 u ∈ U, ou seja, 0 ∈ U. Tomando
agora λ = −1, segue que (−1) u = −u ∈ U.
As demais exigˆencias A1), A2), M1), M2), M3) e M4) de espa¸co vetorial
s˜ao verificadas em U pelo fato de U ser um subconjunto n˜ao-vazio de V .
Observe, por II ) acima, que se U ´e um subespa¸co de V ent˜ao U deve
necess´ariamente conter o vetor nulo 0 de V . Com efeito, tomando λ = 0 ∈ R
e u ∈ U arbitr´ario, resulta 0 u = 0 ∈ U. Podemos registrar este achado na
forma de uma proposi¸c˜ao.
53
Proposi¸c˜ao 2. Todo subespa¸co U de um espa¸co vetorial V deve conter o
vetor 0 de V . Assim um subconjunto U que n˜ao contenha o vetor 0 n˜ao ´e
um subespa¸co.
Nota: Todo espa¸co vetorial V admite pelo ao menos dois subespa¸cos:
{ 0 }, chamado subespa¸co nulo, e o pr´oprio espa¸co vetorial V . Esses dois
subespa¸cos s˜ao conhecidos como subespa¸cos triviais.
Exemplos:
1) Consideremos o espa¸co vetorial R2 e o subconjunto,
U = { (x, y) ∈ R2
: x + y = 0 }
dos pontos cuja soma das coordenadas ´e nula. Vamos mostrar que U ´e um
subespa¸co de R2.
Prova: De fato, de acordo com a Proposi¸c˜ao 1 devemos inicialmente
mostrar que U = ∅; mas isto ´e f´acil porquanto 0 = (0, 0) ∈ U, uma vez que:
0 = (0, 0)
↓ ↓
x + y = 0
Para provar a condi¸c˜ao, I ), isto ´e, que U ´e fechado para a opera¸c˜ao de
adi¸c˜ao, tomemos dois elementos arbitr´arios em U: u = (a, b) e v = (c, d).
Devemos provar que
u + v = (a, b) + (c, d) = (a + c, b + d) ∈ U
para isto ´e suficiente mostrar que:
(a + c) + (b + d) = 0 (1.13)
A nosso favor contamos com a hip´otese de que u = (a, b) e v = (c, d) est˜ao
em U, o que se traduz nas seguintes equa¸c˜oes:
a + b = 0
c + d = 0
somando-as obtemos,
(a + b) + (c + d) = 0 ⇒ (a + c) + (b + d) = 0
o que prova (1.13). Agora s´o nos resta mostrar que U ´e tamb´em fechado para
a multiplica¸c˜ao por escalar. Para isto, pela condi¸c˜ao II )(da Proposi¸c˜ao
1), devemos fixar λ ∈ R e u = (a, b) ∈ U arbitr´ariamente, e mostrar que
λ u = (λ a, λ b) ∈ U, para isto ´e suficiente mostrar que:
(λ a) + (λ b) = 0 (1.14)
54
A nosso favor contamos com a hip´otese de que u = (a, b) est´a em U, o que
se traduz na seguinte equa¸c˜ao:
a + b = 0
multiplicando esta equa¸c˜ao por λ, obtemos
λ (a + b) = 0 ⇒ (λ a) + (λ b) = 0
o que prova (1.14).
Os vetores em U s˜ao os pontos (x, y), do plano, cujas coordenadas satis-
fazem a equa¸c˜ao x + y = 0, ou ainda, y = −x. S˜ao os pontos da bissetriz
dos quadrantes ´ımpares. Podemos visualizar geometricamente o subespa¸co
U deste exemplo, assim:
1
2
3
−1−2 0 1 2 3
x
y
U
x+y = 0
Nota: Para que U ⊂ V seja um subespa¸co ´e uma condi¸c˜ao necess´aria,
mas n˜ao suficiente, que 0 ∈ U. Em outras palavras: o vetor nulo obrigato-
riamente est´a em todo subespa¸co. Ou ainda, se 0 ∈ U j´a podemos descarta
U como subespa¸co. Entretanto, se o vetor nulo est´a em U, isto por si s´o
n˜ao ´e suficiente para garantir que U seja um espa¸co vetorial. No exemplo
seguinte mostramos um contraexemplo,
2) Consideremos o espa¸co vetorial R2 e o subconjunto,
U = { (x, y) ∈ R2
: y = |x| }
dos pontos cuja ordenada ´e o valor absoluto da abscissa.
Inicialmente observamos que 0 = (0, 0) ∈ U uma vez que:
0 = (0, 0) y = |0|
55
− Para mostrar que um dado U ⊂ V ´e um subespa¸co de V devemos mostrar
que o mesmo satisfaz as condi¸c˜oes I ) e II ) da Proposi¸c˜ao 1; agora para
mostrar que que U n˜ao ´e um subespa¸co a´ı fica mais f´acil, basta exibir um
contra-exemplo. Digo, basta exibir dois pontos u e v em U, cuja soma u + v
n˜ao pertence a U; ou ainda, basta exibir um ponto u em U e um escalar
λ ∈ R de modo que o produto λ u ∈ U.
No caso em quest˜ao tomemos u = (−1, 1) e v = (2, 2) pontos de U,
temos que,
u + v = (−1, 1) + (2, 2) = (−1 + 2, 1 + 2)
= (1, 3) ∈ U (devido a que 3 = |1| )
Alternativamente, poderiamos ter provado que U n˜ao ´e um subespa¸co
vetorial de R2 tomando, por exemplo, u = (−1, 1) ∈ U e λ = −1 ∈ R. De
fato,
λ u = −1 (−1, 1) = (−1 · (−1), −1 · 1)
= (1, −1) ∈ U (devido a que −1 = |1| )
Geometricamente tudo se passa assim:
1
2
3
−1
−1−2 0 1 2 3
x
y
t
t
t
t
u
v
λ u ∈ U
u + v ∈ U
U U
3) R2 n˜ao ´e um subespa¸co de R3 , pois R2 n˜ao ´e um subconjunto de R3.
4) Seja V um espa¸co vetorial. Seja u um vetor arbitrariamente fixado
em V . Vamos mostrar que o conjunto,
U = { λ u: λ ∈ R }
dos m´ultiplos escalares de u, ´e um subespa¸co vetorial de V .
Prova: Antes de mais nada observe que no conjunto U acima temos in-
finitos elementos; digo, a cada n´umero real corresponde um elemento neste
conjunto, assim:
56
0 1 2 3−3 −2 −1
R
· · ·· · ·
s
λ
λ u ∈ U
↔
I ) Inicialmente vamos mostrar que U ´e fechado para a adi¸c˜ao. Para
tanto tomemos dois elementos arbitr´arios v e w em U e mostremos que
v + w ∈ U.
Se v e w est˜ao em U ent˜ao, pela defini¸c˜ao de U, existem dois escalares
µ e ν em R tais que:
v = µ u e w = ν u
logo,
v + w = µ u + ν u
Como, por hip´otese, u est´a em V que ´e um espa¸co vetorial, segue que pode-
mos aplicar o axioma M2) (p. 13) para concluir que v + w = (µ + ν) u. Como
µ + ν ∈ R segue que v + w ∈ U.
II ) Agora mostremos que U ´e fechado para a multiplica¸c˜ao por escalar.
Para tanto fixemos, arbitrariamente, um ponto v em U e um escalar λ em R
e mostremos que λ v ∈ U. Com efeito, como v est´a em U, existe um escalar
µ em R tal que: v = µ u; logo,
λ v = λ (µ u)
Como, por hip´otese, u est´a em V que ´e um espa¸co vetorial, segue que pode-
mos aplicar o axioma M1) para concluir que λ v = (λ µ) u. Como λ µ ∈ R
segue que λ v ∈ U.
O subespa¸co,
U = { λ u: λ ∈ R }
pode ser apelidado de “a reta que passa pela origem e cont´em u”. Este
poss´ıvel apelido se deve a que nos espa¸cos vetoriais V = R2 e V = R3 ´e
precisamente isto que acontece. Para contextualizar vejamos dois exemplos:
1o ) Fixemos V = R2 e u = (2, 1). Sendo assim, temos:
U = { λ (2, 1): λ ∈ R } = { (2λ, λ): λ ∈ R }
Por exemplo,
λ = −1 ⇒ λ u = (2 · (−1), −1) = (−2, −1)
λ = −1
2 ⇒ λ u = (2 · −1
2 , −1
2) = (−1, −1
2)
λ = 0 ⇒ λ u = (2 · 0, 0) = (0, 0)
λ = 1
2 ⇒ λ u = (2 · 1
2, 1
2) = (1, 1
2)
λ = 1 ⇒ λ u = (2 · 1, 1) = (2, 1)
57
Geometricamente, temos,
t
t
t
t
t
U
u
−1 u
− 1
2
u
1
2
3
−1−2−3 0 1 2 3
x
y
2o ) Fixemos V = R3 e u = (1, 2, 1). Sendo assim, temos:
U = { λ (1, 2, 1): λ ∈ R } = { (λ, 2λ, λ): λ ∈ R }
Por exemplo,
λ = −1 ⇒ λ u = (−1, 2 · (−1), −1) = (−1, −2, −1)
λ = −1
2 ⇒ λ u = (−1
2, 2 · −1
2 , −1
2) = (−1
2, −1, −1
2)
λ = 0 ⇒ λ u = (0, 2 · 0, 0) = (0, 0, 0)
λ = 1
2 ⇒ λ u = (1
2, 2 · 1
2, 1
2) = (1
2 , 1, 1
2 )
λ = 1 ⇒ λ u = (1, 2 · 1, 1) = (1, 2, 1)
Geometricamente, temos,
x
y
z
u U
−1 u
5) Sejam o espa¸co vetorial V = M2×2(R) das matrizes de ordem 2 × 2,
com entradas reais; ou ainda,
V =
a b
c d
: a, b, c, d ∈ R
58
e,
U =
a b
0 0
: a, b ∈ R
isto ´e, U ´e o conjunto das matrizes quadradas, de ordem 2, cujos elementos
da segunda linha s˜ao nulos. Vamos provar que U ´e um subespa¸co vetorial
de V .
Prova: Com efeito, fixemos u, v ∈ U arbitr´arios, assim:
u =
a b
0 0
, v =
c d
0 0
.
Ent˜ao,
u + v =
a b
0 0
+
c d
0 0
=
a + c b + d
0 0
∈ U.
Agora tomemos λ ∈ R arbitr´ario, ent˜ao
λ u = λ
a b
0 0
=
λ a λ b
λ 0 λ 0
=
λ a λ b
0 0
∈ U.
Portanto, U ´e subespa¸co vetorial de M2×2(R).
6) Considere o espa¸co vetorial F de fun¸c˜oes (p. 33). Considere, ademais o
conjunto
Up = f ∈ F: f(−x) = f(x), para todo x ∈ R
das fun¸c˜oes, f : R → R pares, e o conjunto
UI = f ∈ F: f(−x) = −f(x), para todo x ∈ R
das fun¸c˜oes, f : R → R ´ımpares.
Afirmamos que Up e UI s˜ao, ambos, subespa¸cos vetoriais de F.
Faremos a prova para Up e deixaremos a outra como exerc´ıcio. Com
efeito, fixemos g, h ∈ Up e provemos que g +h ainda ´e uma fun¸c˜ao par. Isto
´e, devemos mostrar que,
(g + h)(−x) = (g + h)(x), ∀ x ∈ R
A nosso favor contamos com a hip´otese de que g e h s˜ao fun¸c˜oes pares, logo
g(−x) = g(x), ∀ x ∈ R
h(−x) = h(x), ∀ x ∈ R
somando estas duas equa¸c˜oes obtemos,
g(−x) + h(−x) = g(x) + h(x), ∀ x ∈ R
59
Agora aplicamos a defini¸c˜ao de adi¸c˜ao (eq. (1.6), p. 33) em ambos os membros
desta equa¸c˜ao para obter,
(g + h)(−x) = (g + h)(x), ∀ x ∈ R.
Agora seja λ ∈ R um escalar arbitrariamente fixado. Provemos que λ g ´e
uma fun¸c˜ao par, isto ´e, que
(λ g)(−x) = (λ g)(x), ∀ x ∈ R
Com efeito, sendo g, por hip´otese, uma fun¸c˜ao par, temos
g(−x) = g(x), ∀ x ∈ R
multiplicando esta equa¸c˜ao por λ, obtemos:
λ g(−x) = λ g(x), ∀ x ∈ R
Agora aplicamos a defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao por escalar (eq. (1.7), p. 34) em
ambos os membros desta equa¸c˜ao para obter,
(λ g)(−x) = (λ g)(x), ∀ x ∈ R.
7) O conjunto C(X, R) das fun¸c˜oes reais cont´ınuas, com dom´ınio no
conjunto X, ´e um subespa¸co do espa¸co F(X, R) (ver eq. (1.8), p. 37). De fato,
sabe-se do C´alculo que a soma de fun¸c˜oes cont´ınuas ´e ainda uma fun¸c˜ao
cont´ınua e o mesmo acontece com a multiplica¸c˜ao de uma fun¸c˜ao cont´ınua
por um escalar.
8) O espa¸co Pn ( R ) ´e, por sua vez, um subespa¸co de C(X, R), porquanto
um polinˆomio,
p(x) = a0 + a1 x + a2 x2
+ · · · + an xn
pode ser visto como uma fun¸c˜ao cont´ınua e, ademais, a soma de dois polinˆomios
´e um polinˆomio e o produto de um n´umero real por um polinˆomio ´e um
polinˆomio.
Podemos escrever,
Pn ( R ) ⊂ C(X, R) ⊂ F(X, R)
9) Um outro exemplo de subespa¸co ´e o de todos os polinˆomios que se
anulam no 0. Com efeito, se p e q s˜ao dois de tais polinˆomios, ent˜ao a soma
p + q e o m´ultiplo por escalar λ p tamb´em se anulam em 0 pois,
( p + q )(0) = p(0) + q(0) = 0 + 0 = 0;
(λ p)(0) = λ p(0) = λ 0 = 0.
10) Considere o seguinte conjunto de c´odigos:
Z3
2
= { 000, 100, 010, 110, 001, 101, 011, 111 }
O subconjunto U = { 000, 110, 011, 101 } ´e um subespa¸co de Z3
2
. Prove isto.
60
Interse¸c˜ao de subespa¸cos
No exemplo 4) vimos que o conjunto,
U = { λ u: λ ∈ R }
´e um subespa¸co. Fazendo u variar obtemos uma fam´ılia de subespa¸cos. Ape-
nas para ilustrar consideremos, novamente, V = R2. Observe, graficamente,
alguns membros da fam´ılia,
t
u=(2, 1)
u=(2, 1
2
)
u=(1, 2)u=(−1,
√
3
3
)
1
2
3
−1−2−3 1 2 3
x
y
Observe que a interse¸c˜ao de todos estes subespa¸cos ´e a “origem”: { 0 },
que, por sua vez, ´e tamb´em um subespa¸co.
Esta observa¸c˜ao pode ser generalizada dizendo-se que a interse¸c˜ao de
qualquer fam´ılia (cole¸c˜ao) de subespa¸cos continua sendo um subespa¸co.
Mais formalmente,
11) Seja V um espa¸co vetorial e L um conjunto de ´ındices. Se, para
cada µ ∈ L, Uµ ´e um subespa¸co vetorial de V , ent˜ao a interse¸c˜ao
µ∈L
Uµ = U
´e ainda um subespa¸co vetorial de V .
Apenas por curiosidade, o conjunto de´ındices L, da fam´ılia de subespa¸cos
plotada anteriormente, pode ser considerado como os reais, digo, L = R
onde o ´ındice que fixa cada subespa¸co ´e a inclina¸c˜ao (tangente) da reta, por
exemplo,
61
t
µ= 1
2
µ= 1
4
µ=2µ=−
√
3
3
1
2
3
−1−2−3 1 2 3
x
y
Neste caso, temos
µ∈R
Uµ = { 0}
1.2.5 Soma de Subespa¸cos
Sejam U e V dois subespa¸cos vetoriais de um espa¸co vetorial W.
Defini¸c˜ao 4 (Soma de subespa¸cos). Indicaremos por U + V e chamaremos
de soma de U com V o seguinte subconjunto de W:
U + V = { u + v: u ∈ U e v ∈ V }
Observe que um vetor w pertence a U + V se, e somente se, ele puder
ser escrito na forma de uma soma w = u + v, com u ∈ U e v ∈ V .
Exemplos:
a ) U + { 0} = U. De fato, tomando V = { 0}, na defini¸c˜ao de soma, temos
U + { 0} = { u + v: u ∈ U e v ∈ { 0} }
= { u + 0: u ∈ U }
= { u: u ∈ U } = U
b ) U ⊂ U + V . De fato, seja u ∈ U um elemento arbitr´ario, queremos
provar que,
u ∈ U + V = { u + v: u ∈ U e v ∈ V },
como, por hip´otese, V ´e um subespa¸co temos que 0 ∈ V , logo, tomando
v = 0, temos que u pode ser escrito como,
u = u + 0, com u ∈ U e 0 ∈ V
62
portanto, desta forma, todo elemento de U tem livre acesso ao conjunto
U + V .
De modo an´alogo provamos que V ⊂ U + V .
Proposi¸c˜ao 3. Se U e V s˜ao subespa¸cos vetoriais de W, ent˜ao U + V ´e
tamb´em um subespa¸co vetorial de W.
Prova: Como U e V s˜ao subespa¸cos segue-se que 0 ∈ U e 0 ∈ V ; como,
0 + 0 = 0
↓ ↓
U V
isto significa que conseguimos escrever o vetor nulo como soma de dois ele-
mentos, um de U e outro de V , portanto 0 ∈ U + V .
Agora, sejam w1 e w2 dois elementos arbitr´arios de U + V , desejamos
mostrar que w1 +w2 ∈ U +V . Com efeito, pelo fato de w1 e w2 estarem em
U + V isto implica em que estes dois elementos podem ser escritos assim:
w1 = u1 + v1
↓ ↓
U V
e w2 = u2 + v2
↓ ↓
U V
para algum u1 ∈ U e para algum v1 ∈ V , bem como para algum u2 ∈ U e
para algum v2 ∈ V . Sendo assim, temos
w1 + w2 = (u1 + v1 ) + (u2 + v2 )
↓ ↓
U V
↓ ↓
U V
Como u1 , v1 , u2 , v2 s˜ao vetores em W, podemos aplicar as propriedades
comutativa e associativa, assim:
w1 + w2 = (u1 + u2 ) + (v1 + v2 )
↓ ↓
U U
↓ ↓
V V
Como, por hip´otese, U e V s˜ao subespa¸cos segue-se que (u1 + u2 ) ∈ U e
(v1 + v2 ) ∈ V , isto ´e,
w1 + w2 = (u1 + u2 ) + (v1 + v2 )
↓
U
↓
V
Resumindo, mostramos que w1 + w2 pode ser escrito como soma de dois
elementos, um de U e outro de V , portanto, w1 + w2 ∈ U + V .
Finalmente, seja w ∈ U + V , um elemento arbitr´ario e λ ∈ R tamb´em
arbitrariamente fixado. Devemos mostrar que λ w ∈ U + V .
Como, por hip´otese, w ∈ U + V ent˜ao podemos escrever,
w = u + v
↓ ↓
U V
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O que é um vetor na matemática segundo Gentil, o iconoclasta

  • 2. Pelo que temos constatado não é difícil encontrar alunos que tenham cursado a disciplina álgebra linear e que, ao término, não sabem o que é um vetor. Dentre algumas possíveis explicações para este paradoxo gostaria de destacar uma em especial: o condicionamento. Com efeito, muitos alunos chegam nesta disciplina condicionados, por seus estudos anteriores, a imaginar que um vetor é um ente que possui módulo, direção e sentido. Se isto é verdade na física na matemática é integralmente falso. Insistimos: na matemática um vetor não possui módulo, não possui direção, não possui sentido. Isto se deve a que as definições deste ente (vetor) são distintas nestas duas disciplinas. Embora, através de um malabarismo os vetores da física possam ser incluídos entre os vetores da matemática (como um caso especial), os vetores desta última vão muito mais além.Aprincípio são “pontos” em um espaço abstrato; e pontos não possuem nem módulo (comprimento), nem direção e nem sentido. Alguns vetores da matemática: Para estes vetores não existe módulo, direção e sentido. Gentil, o iconoclasta Contracapa
  • 3. ´ALGEBRA LINEAR (COMENTADO) Gentil, o iconoclasta 1a edi¸c˜ao Boa Vista-RR Edi¸c˜ao do autor 2016
  • 5. Pref´acio Via de regra o que se faz em um pref´acio ´e discorrer sobre o conte´udo da obra. Nos dispensamos deste of´ıcio em raz˜ao de que o leitor, se assim o desejar, pode apreciar o conte´udo deste livro a partir do (extenso) sum´ario, dado logo a seguir. Aproveito este pref´acio para fazer algumas elucubra¸c˜oes incluindo a Matem´atica em si, as quais julgo de alguma relevˆancia. Este livro n˜ao nasceu de notas de sala de aula; ´e um livro de “fundo de quintal”, escrito em minha pr´opria casa (a “uma m˜aos”, isto ´e, “eu e eu”), confesso que uma das motiva¸c˜oes para escrevˆe-lo foi meu v´ıcio em rela¸c˜ao ao processador de texto LATEX 2ε e, em especial, pelo ambiente de figuras pspicture o qual utilizo como uma verdadeira terapia − em raz˜ao disto existe neste livro um n´umero excessivo de figuras. Resumindo: pode-se dizer que tomei a decis˜ao de escrever este livro como um pretexto para desenhar figuras no LATEX 2ε. Por outro lado, existem dezenas e dezenas de livros de ´Algebra Linear em portuguˆes (sem falar nos estrangeiros) dispon´ıveis para alunos e inte- ressados nesse importante ramo da matem´atica, sendo assim uma pergunta pertinente seria: por que mais um? Respondo invocando uma analogia com a impress˜ao digital. Assim como a impress˜ao digital ´e ´unica os in- div´ıduos s˜ao ´unicos, em particular os autores s˜ao ´unicos, o que implica dizer que suas obras s˜ao ´unicas; isto ´e, den- tre as centenas de livros de ´Algebra Linear n˜ao existem dois iguais − ou ainda: todos os livros s˜ao distintos dois a dois; portanto o presente livro ´e ´unico no sentido em que reflete minha individualidade. Ademais, acreditamos − por v´arias raz˜oes − que o aluno de matem´atica deva ter `a sua disposi¸c˜ao mais que um livro da disciplina que esteja apren- dendo. ´E dentro deste contexto que situa-se esta obra, ou seja: nela o aluno ter´a mais uma op¸c˜ao para auxili´a-lo no seu aprendizado. Por outro lado, acontece com as v´arias obras (livros) sobre um mesmo assunto o mesmo que acontece no universo da m´usica; para uma mesma can¸c˜ao podem existir dezenas de interpreta¸c˜oes diferentes executadas por m´usicos distintos, n˜ao vejo nenhum mal nisto, pelo contr´ario ´e at´e salutar no sentido de nos disponibilizar um maior n´umero de op¸c˜oes. Um aspecto relevante a ser ressaltado ´e quanto as demonstra¸c˜oes matem´a- ticas. Existem autores que preferem as demonstra¸c˜oes mais curtas e ele- gantes; n˜ao ´e o meu caso, explico: para minha aprecia¸c˜ao particular prefiro as mais curtas e elegantes, n˜ao obstante, como autor, digo, quando estou transmitindo uma ideia ao estudante a´ı ´e diferente no sentido de que a demonstra¸c˜ao mais curta nem sempre ´e a mais did´atica e compreens´ıvel ao aluno. 3
  • 6. Ademais, uma demonstra¸c˜ao compacta n˜ao raro esconde (camufla) a interrela¸c˜ao dos conceitos envolvidos, muitas vezes n˜ao mostra como as ideias est˜ao interconectadas (imbrincadas); assim ´e que, por exemplo, uma demonstra¸c˜ao de apenas trˆes linhas em livros congˆeneres, aqui deliberada- mente a fazemos at´e em uma p´agina inteira − dando ˆenfase `a articula¸c˜ao dos conceitos envolvidos. Concordo integralmente com o pensamento do matem´atico Chaitin, expresso a seguir Se uma prova ´e “elegante” , se for o resultado de duzentos anos de enjoado polimento, ela ser´a t˜ao inescrut´avel como uma direta revela¸c˜ao divina, e ser´a imposs´ıvel adivinhar como algu´em poderia tˆe-la descoberto ou inventado. Ela n˜ao lhe fornecer´a nenhum insight, nada, provavel- mente nada em absoluto. (Gregory Chaitin/Metamat!) Ainda com respeito `a filosofia adotada neste livro, despendemos um es- for¸co consider´avel no sentido de conduzir o aluno `a compreens˜ao das sutilezas (imbrica¸c˜oes) envolvidas num assunto abstrato como a ´Algebra Linear − da´ı o subt´ıtulo do livro “Comentado”−; existe uma grande diferen¸ca entre operar e compreender; por exemplo, o fato de algu´em operar um controle remoto, celular ou software computacional, n˜ao significa que este algu´em tenha compreens˜ao dos mecanismos subjacentes `a sua opera¸c˜ao, exatamente da mesma forma muitas vezes acontece no que diz respeito `a pr´atica da matem´atica. ´Obvio, ningu´em precisa saber como funciona internamente um celular para usufruir de seus benef´ıcio; penso que ´e diferente para um estu- dante de matem´atica, qui¸c´a futuro professor, ´e a este que esta observa¸c˜ao se destina. Alguns pr´e-requisitos ao estudo deste livro, como por exemplo, matrizes, corpos e t´ecnicas de demonstra¸c˜oes matem´aticas, foram reunidos em um cap´ıtulo − o ´ultimo do livro − denominado de “Consultas”, para consultas e referˆencias. Uma justificativa: Fazer a diagrama¸c˜ao de um livro com textos ape- nas n˜ao ´e dif´ıcil, bastante dif´ıcil ´e a diagrama¸c˜ao de um livro com muitas f´ormulas e figuras, como ´e o caso do presente. Como se n˜ao bastasse, por raz˜oes did´aticas, muitas vezes mi vi na situa¸c˜ao de for¸car a que a explica¸c˜ao de um determinado contexto ficasse em uma ´unica p´agina, ao inv´es de em duas p´aginas separadas; assim ´e que, para n˜ao desperdi¸car espa¸cos em branco, em algumas p´aginas tomei a decis˜ao de colocar (registrar) algu- mas informa¸c˜oes (“pensamentos”) notadamente nas ´areas da matem´atica, f´ısica e filosofia − a escolha destes pensamentos reflete de certo modo min- has inclina¸c˜oes metaf´ısicas atuais, assim ´e que as julgo de alguma relevˆancia. Gentil, o iconoclasta Boa Vista-RR, 20 de fevereiro de 2016. 4
  • 7. Sum´ario 1 ESPAC¸ OS VETORIAIS 9 1.1 Introdu¸c˜ao: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 1.2 Espa¸cos Vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 1.2.1 Produto de Vetores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 1.2.2 Primeiras Propriedades num Espa¸co Vetorial . . . . . 43 1.2.3 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 1.2.4 Subespa¸cos Vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 1.2.5 Soma de Subespa¸cos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 1.2.6 Combina¸c˜oes Lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 1.2.7 Espa¸cos Vetoriais Finitamente Gerados . . . . . . . . 72 1.2.8 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74 2 BASE E DIMENS˜AO 79 2.1 Dependˆencia Linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 2.1.1 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 2.1.2 Propriedades da Dependˆencia Linear . . . . . . . . . . 89 2.2 Base de um Espa¸co Vetorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92 2.3 Dimens˜ao de um Espa¸co Vetorial . . . . . . . . . . . . . . . . 97 2.3.1 Dimens˜ao da Soma de dois Subespa¸cos . . . . . . . . . 102 2.3.2 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105 2.4 Coordenadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109 2.5 Mudan¸ca de Base . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112 2.5.1 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122 • Apˆendice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125 3 TRANSFORMAC¸ ˜OES LINEARES 127 3.1 No¸c˜oes sobre Transforma¸c˜oes, Fun¸c˜oes . . . . . . . . . . . . . 127 3.2 Transforma¸c˜oes Lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134 Uma transforma¸c˜ao linear especial . . . . . . . . . . . . . . 141 3.2.1 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153 5
  • 8. 3.3 N´ucleo e Imagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155 3.4 Isomorfismo entre espa¸cos vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . 168 3.4.1 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181 4 MATRIZ DE UMA TRANSFORMAC¸ ˜AO LINEAR 185 4.1 Matriz de uma Transforma¸c˜ao Linear . . . . . . . . . . . . . . 185 4.1.1 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 198 4.2 Opera¸c˜oes com Transforma¸c˜oes Lineares . . . . . . . . . . . . 203 4.3 Matriz da Transforma¸c˜ao Composta . . . . . . . . . . . . . . 208 4.3.1 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 222 4.4 Espa¸co Dual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 224 4.4.1 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 230 4.5 Matrizes Semelhantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 231 4.6 Transforma¸c˜oes do Plano no Plano . . . . . . . . . . . . . . . 237 5 ESPAC¸ OS COM PRODUTO INTERNO 257 5.1 Produto Interno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 257 5.2 Produto Interno e Norma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 263 5.3 Normas e Distˆancias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 270 5.4 ˆAngulo entre vetores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 283 5.5 Ortogonaliza¸c˜ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 287 5.6 Isometrias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 301 5.6.1 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 307 5.7 Operadores Autoadjuntos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 311 5.7.1 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 315 5.8 Espa¸cos Vetoriais Complexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 317 5.8.1 Espa¸cos Hermitinianos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 318 6 AUTOVALORES E AUTOVETORES 321 6.1 Vetor Pr´oprio e Valor Pr´oprio . . . . . . . . . . . . . . . . . . 321 6.1.1 Propriedades dos vetores pr´oprios e valores pr´oprios . 326 6.1.2 Polinˆomio Caracter´ıstico . . . . . . . . . . . . . . . . . 329 6.1.3 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 339 6.2 Diagonaliza¸c˜ao de matrizes e operadores . . . . . . . . . . . . 341 6.2.1 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 348 6.2.2 Diagonaliza¸c˜ao de operadores autoadjuntos . . . . . . 349 6.2.3 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 358 6.3 Aplica¸c˜oes da Diagonaliza¸c˜ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . 359 6.3.1 Potˆencias de uma matriz . . . . . . . . . . . . . . . . . 359 6.3.2 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 362 6.3.3 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 369 6
  • 9. 7 FORMAS BILINEARES E QUADR´ATICAS 371 7.1 Formas Bilineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 371 7.1.1 Matriz de uma forma bilinear . . . . . . . . . . . . . . 374 7.1.2 Formas bilineares sim´etricas . . . . . . . . . . . . . . . 379 7.1.3 Formas bilineares antissim´etricas . . . . . . . . . . . . 383 7.1.4 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 388 7.2 Formas Quadr´aticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 391 7.2.1 Diagonaliza¸c˜ao de formas quadr´aticas . . . . . . . . . 393 7.2.2 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 394 7.2.3 Redu¸c˜ao de formas quadr´aticas . . . . . . . . . . . . . 395 7.3 Classifica¸c˜ao de Cˆonicas e Qu´adricas . . . . . . . . . . . . . . 398 7.3.1 Se¸c˜oes cˆonicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 398 7.3.2 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 415 7.3.3 Qu´adricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 416 8 CONSULTAS 419 8.1 Opera¸c˜oes em um Conjunto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 419 8.2 Corpos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 420 8.3 Matrizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 424 8.3.1 Matrizes Invers´ıveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 428 8.4 Elementos de L´ogica & Demonstra¸c˜oes . . . . . . . . . . . . . 429 8.4.1 Opera¸c˜oes L´ogicas sobre Proposi¸c˜oes . . . . . . . . . . 430 8.4.2 T´ecnicas (Engenharia) de Demonstra¸c˜ao . . . . . . . . 434 ∗ ∗ ∗ Gentil, O Iconoclasta, Nasceu em Boa Vista-RR, em 1960, ´e graduado em engenharia eletrˆonica (UFPA/1986) e ´e mestre em matem´atica (UFSC/1997). Atualmente ´e professor do de- partamento de matem´atica da Universidade Federal de Ro- raima. At´e o presente momento conta com oito livros publi- cados. 7
  • 10. Livros Publicados (Enderˆe¸cos de acesso) 1- Novas Seq¨u^encias Aritm´eticas e Geom´etricas Bras´ılia-DF: Thesaurus, 2000; 448 p. ISBN: 85-7062-200-X Nota: N˜ao temos o arquivo eletrˆonico deste livro, apenas impresso. Visite nosso site: www.profgentil.com.br 2- O TAO DA MATEM´ATICA (Uma Constru¸c~ao Matem´atica de Deus) Rio de Janeiro: LetraCapital, 2011; 500 p. ISBN: 978-85-7785-096-9 ebah https://goo.gl/2nRS8x slideshare https://goo.gl/FbuJHV scribd https://goo.gl/0HDswb 3- Exuma¸c~ao e Julgamento de Deus Taguatinga-DF: Editora Kiron, 2012; 197 p. ISBN: 978-85-8113-054-5 ebah https://goo.gl/sTLFvv slideshare https://goo.gl/ppNBaE scribd https://goo.gl/JbUw6h 4- Espa¸cos M´etricos (com aplica¸c~oes) Taguatinga-DF: Editora Kiron, 2013; 628 p. ISBN: 978-85-8113-125-2 ebah https://goo.gl/OOaBBk slideshare https://goo.gl/R6MfVj scribd https://goo.gl/yfqclG 5- O DEUS QU^ANTICO (Um Deus pra homem nenhum botar defeito, mesmo que esse homem seja um ateu) Manaus-AM: Grafisa, 2014; 235 p. ISBN: 978-85-99122-40-2 ebah https://goo.gl/Gj36Wj slideshare https://goo.gl/JoPzzX scribd https://goo.gl/A0Pnbc 6- Programando a HP 50g (Com Programa¸c~ao Simb´olica) 2.a Edi¸c˜ao Manaus-AM: Grafisa, 2015; 364 p. ISBN: 978-85-99122-41-9 ebah https://goo.gl/M9zz9u slideshare https://goo.gl/lr8k0a scribd https://goo.gl/nUCVW7 7- Fundamentos dos N´umeros (Tudo o que voc^e gostaria de saber sobre os n´umeros mas n~ao tinha a quem perguntar) Publica¸c˜ao Eletrˆonica, 2016; 514 p. ISBN: 978-85-63979-08-7 ebah https://goo.gl/8YVCPB slideshare https://goo.gl/Ah5m0g scribd https://goo.gl/mkl0PG 8
  • 11. Cap´ıtulo 1 ESPAC¸OS VETORIAIS Quando o esp´ırito se apresenta `a cul- tura cient´ıfica, nunca ´e jovem. Ali´as ´e bem velho, porque tem a idade de seus preconceitos. Aceder `a ciˆencia ´e reju- venescer espiritualmente, ´e aceitar uma brusca muta¸c˜ao que contradiz o passado. (Gaston Bachelard) 1.1 Introdu¸c˜ao: Pelo que tenho constatado n˜ao ´e dif´ıcil encontrar alunos que tenham cursado a disciplina ´algebra linear e que, ao t´ermino, n˜ao sabem o que ´e um vetor. Dentre algumas poss´ıveis explica¸c˜oes para este paradoxo gostaria de destacar uma em especial: o condicionamento∗. Com efeito, muitos alunos chegam nesta disciplina condicionados, por seus estudos anteriores, a imagi- nar que um vetor ´e um ente que possui m´odulo, dire¸c˜ao e sentido. Se isto ´e verdade na f´ısica na matem´atica ´e integralmente falso. Reitero: na matem´atica um vetor n˜ao possui m´odulo, n˜ao possui dire¸c˜ao, n˜ao possui sentido. Isto se deve a que as defini¸c˜oes deste ente (vetor) s˜ao distintas nestas duas disciplinas. Embora, atrav´es de um malabarismo os vetores da f´ısica possam ser incluidos entre os vetores da matem´atica (como um caso especial), os vetores desta ´ultima v˜ao muito mais al´em. A princ´ıpio s˜ao “pontos” em um espa¸co abstrato; e pontos n˜ao possuem nem m´odulo (comprimento), nem dire¸c˜ao e nem sentido. ∗ Ou os preconceitos, da cita¸c˜ao em ep´ıgrafe. 9
  • 12. Esta abstra¸c˜ao na defini¸c˜ao matem´atica (de vetor) implica numa maior flexibilidade e, por conseguinte, os vetores da matem´atica resultam de uma potˆencia − em termos de aplicabilidade − muito maior que os da f´ısica. Pouco a pouco, procuro liberar suavemente o esp´ırito dos alunos de seu apego a imagens privile- giadas. Eu os encaminho para as vias da abstra¸c˜ao, esfor¸cando-me para despertar o gosto pela abstra¸c˜ao. Enfim, acho que o primeiro princ´ıpio da educa¸c˜ao cient´ıfica ´e, no reino intelectual, esse ascetismo que ´e o pensamento abstrato. S´o ele pode levar-nos a dominar o conhecimento experimental. (Bachelard/A forma¸c˜ao do esp´ırito cient´ıfico) Creio mesmo que muitos autores de livros de ´Algebra Linear contribuem para refor¸car o condicionamento (adestramento) dos alunos em verem um vetor com os atributos citados. Mesmo no “plano” e no “espa¸co” (R2 e R3) n˜ao ´e necess´ario que se veja um vetor com m´odulo, dire¸c˜ao e sentido; estes atributos s˜ao perfeitamente dispens´aveis, tanto isto ´e verdade que escreve- mos o presente livro sobre vetores sem utilizar uma ´unica “seta vetorial”. Claro, poderia-se argumentar: usa-se setinhas para facilitar o entendimento do aluno, para tornar algo abstrato em algo concreto, etc. Mesmo assim cre- mos que os malef´ıcios desta postura s˜ao maiores que os benef´ıcios, mesmo porque ´e precisamente a capacidade de abstra¸c˜ao que deve ser desenvolvida no aluno e n˜ao seus sentidos: vis˜ao, tato, audi¸c˜ao, etc. Estamos integralmente de acordo com o eminente Bachelard. Enfatizamos: θ Os vetores da f´ısica pos- suem m´odulo, dire¸c˜ao e sentido. Os vetores da matem´atica n˜ao possuem m´odulo, n˜ao possuem dire¸c˜ao, n˜ao possuem sentido. Por exemplo, como veremos, s˜ao vetores da matem´atica: (3, 2) , Ponto do R2 1 0 0 1 0 3 , Matriz p(x) = 2 + 3 x − x2 , Polin^omio 00110100 C´odigo bin´ario 10
  • 13. Processar s´ımbolos n˜ao ´e o mesmo que processar significado Um outro aspecto relevante que o aluno deve se dar conta ´e o de que, em matem´atica, processar s´ımbolos n˜ao ´e o mesmo que processar significados. ´E o que se d´a com um n´umero significativo de estudantes: processam (manipulam) s´ımbolos, mas n˜ao os significados por tr´as dos s´ımbolos. Uma analogia: o fato de algu´em usar (operar) um controle remoto ou um celular n˜ao significa que este algu´em compreenda como estes objetos funcionam, entre operar e compreender existe uma enorme distˆancia. Um desafio a engenheiros e f´ısicos Apenas para contextualizar, sinceramente creio que nenhum engenheiro, ou f´ısico, ´e capaz de resolver a seguinte equa¸c˜ao do primeiro grau: 2 x + 1 = 7 (1.1) tomando-se como conjunto universo os naturais, isto ´e, N = { 0, 1, 2, 3, . . . }. Claro, at´e por inspe¸c˜ao chega-se `a solu¸c˜ao correta: x = 3. Entretanto, quando digo resolver significa que, partindo-se da equa¸c˜ao, deve-se chegar ao resultado x = 3. 2 x + 1 = 7 ⇒ · · · ⇒ x = 3 (?) E n˜ao apenas isto, mas tamb´em justificar (provar) todos os passos inter- medi´arios. Neste conjunto n˜ao contamos com oposto aditivo e inverso multiplicativo. Os iniciantes n˜ao est˜ao preparados para o verdadeiro rigor matem´atico; s´o veriam nisso v˜as e fastidiosas sutilezas, perder´ıamos nosso tempo se quis´essemos, cedo demais, torn´a-los mais exigentes. (Poincar´e/A Ciˆencia e a Hip´otese) 2 x+1=7 x = 3 A calculadora HP50g resolve a equa¸c˜ao 2 x + 1 = 7 em fra¸c˜oes de segundos − Por sinal, equa¸c˜oes muito mais com- plexas que esta. Um computador processa s´ımbolos mas n˜ao significado. O c´erebro da maioria de indiv´ıduos que lida com a matem´atica apenas processa (manusea) s´ımbolos − tal como a HP50g. Quando, no ensino fundamental, o professor afirma, por exemplo, que “mais vezes menos d´a menos” e que “sinais diferentes, subtrai e d´a-se o sinal do maior ” ele est´a simplesmente dando um comando de programa¸c˜ao aos alunos; programando-os, tal qual um engenheiro programou a calculadora HP. 11
  • 14. 1.2 Espa¸cos Vetoriais A abstra¸c˜ao desobstrui o esp´ırito, o torna mais leve e dinˆamico. (Gaston Bachelard) Assim como um engenheiro, ou um arquiteto, constr´oi suas estruturas, igualmente os matem´aticos constroem as suas. Daremos in´ıcio agora ao estudo de uma das estruturas mais importantes da matem´atica: Espa¸co Vetorial. Os espa¸cos vetoriais constituem os objetos de estudo da ´algebra linear. Um espa¸co vetorial n˜ao ´e um conjunto mas sim uma estrutura (p. 19), e, para construirmos uma de tais estruturas, iremos necessitar de algumas ferramentas; mais precisamente de quatro ferramentas, quais sejam: 1a ) Um conjunto V ; 2a ) Um corpo K; (p. 420) 3a ) Uma opera¸c˜ao sobre os elementos de V , a qual chamaremos de adi¸c˜ao e denotaremos por + ; assim: + : V × V −→ V (u, v) −→ u + v 4a ) Uma opera¸c˜ao entre um n´umero de K e um elemento de V , a qual chamaremos de multiplica¸c˜ao por escalar e denotaremos por · ; assim: · : K × V −→ V (λ, u) −→ λ · u Este ´e apenas o primeiro passo para a constru¸c˜ao da nossa estrutura. Um segundo passo ´e que estas opera¸c˜oes satisfa¸cam alguns requisitos, a saber: − Exigˆencias (axiomas) para a adi¸c˜ao: Para quaisquer u, v e w, elementos de V , devemos ter: A1) u + v = v + u (Comutativa) A2) (u + v) + w = u + (v + w) (Associativa) A3) Existe em V um elemento, denotado por 0, detentor da seguinte propriedade: ∗ u + 0 = u; ∀ u ∈ V. (Elemento neutro) (Elemento oposto) A4) Para todo elemento u de V existe um outro elemento de V , denotado por −u, detentor da seguinte propriedade: u + (−u) = 0 ∗ Importante: Escolhemos o “zero em negrito” para representar o vetor nulo (que est´a em V ), com o objetivo de distingui-lo do n´umero 0 (que est´a em K). 12
  • 15. − Exigˆencias (axiomas) para a multiplica¸c˜ao: Para quaisquer u e v em V e quaisquer λ e µ em K, devemos ter: M1) λ · ( µ · u ) = (λ · µ) · u (Associativa) M2) ( λ + µ ) · u = λ · u + µ · u (Distributiva) M3) λ · ( u + v ) = λ · u + λ · v (Distributiva) M4) 1 · u = u (elemento neutro) ∗ ∗ ∗ O matem´atico alem˜ao Hermann Grassmann (1809 − 1877) ´e geralmente creditado como o primeiro a introduzir a id´eia de um espa¸co vetorial (apesar de n˜ao o ter chamado assim), em 1844. Infelizmente, seu trabalho era muito dif´ıcil de ler e n˜ao recebeu a aten¸c˜ao que merecia. Uma pessoa que realmente o estudou foi o matem´atico italiano Giuseppe Peano (1858 − 1932). Em seu livro Calcolo geometrico, de 1888, Peano tornou claro o trabalho anterior de Grassmann e descreveu os axiomas para um espa¸co vetorial da maneira como hoje os conhecemos. A defini¸c˜ao axiom´atica de um espa¸co vetorial feita por Peano tamb´em teve pouca influˆencia por muitos anos. A aceita¸c˜ao s´o veio em 1918, depois que Hermann Weyl (1885 − 1955) a repetiu em seu livro Space, time, matter, uma introdu¸c˜ao `a teoria da relatividade geral de Einstein. Uma exegese da defini¸c˜ao de Espa¸co Vetorial A tripla (V, +, · ) ´e o que entendemos por um espa¸co vetorial. Ao constru- irmos uma estrutura de espa¸co vetorial sobre um conjunto V , seus elementos adquirem o status de vetores, independentemente de suas naturezas. Por uma quest˜ao de conveniˆencia (simplifica¸c˜ao) usaremos da seguinte nota¸c˜ao: V = (V, +, ·) Com isto queremos evocar na mente do aluno que V ´e o espa¸co vetorial (estrutura) que foi construido (erigido) sobre o conjunto V . Nota: Na verdade, ao longo deste livro, ami´ude estaremos utilizando (indistintamente) a mesma nota¸c˜ao V tanto para o espa¸co vetorial quanto para o conjunto subjacente `a estrutura; entretanto, para que n˜ao se perca de vista a diferen¸ca entre ambos ´e que ocasionalmente voltaremos − a nosso crit´erio − com a nota¸c˜ao V para o espa¸co vetorial. Estaremos, ademais, omitindo o “ponto” na multiplica¸c˜ao por escalar; digo, escreveremos λ u ao inv´es de λ · u. − Os axiomas para espa¸co vetorial naturalmente se dividem em dois grupos; os quatro primeiros dizem respeito somente `a estrutura aditiva de V, os quatro ´ultimos referem-se `a a¸c˜ao do corpo de escalares sobre o espa¸co V. 13
  • 16. Observe que no axioma M4) 1 ´e o elemento neutro da multiplica¸c˜ao no corpo, a multiplica¸c˜ao de espa¸co vetorial ´e uma outra multiplica¸c˜ao − no mais das vezes n˜ao tem nada a ver com a primeira −, portanto este elemento n˜ao teria a obriga¸c˜ao de continuar sendo o elemento neutro de uma outra opera¸c˜ao, se isto acontece deve ser por decreto (axioma). Quando K = R (resp.: K = Q, K = C), o espa¸co vetorial diz-se real (resp.: racional, complexo). O quadro amarelo a seguir resume o essencial da defini¸c˜ao de espa¸co vetorial. A1) u + v = v + u A2) (u + v) + w = u + (v + w) A3) u + 0 = u; ∀ u ∈ V. A4) ∀ u ∈ V, ∃ − u ∈ V : u + (−u) = 0 M1) λ · ( µ · u ) = (λ · µ) · u M2) ( λ + µ ) · u = λ · u + µ · u M3) λ · ( u + v ) = λ · u + λ · v M4) 1 · u = u V = (V, +, ·) Uma observa¸c˜ao importante ´e a de que n˜ao devemos colocar o “carro na frente dos bois ” e chamar os elementos de um conjunto de vetores antes de construirmos − sobre este conjunto − a estrutura de espa¸co vetorial. Oportunamente estaremos exemplificando este aspecto. Adendo: Podemos dizer que um espa¸co vetorial ´e uma obra (estrutura) de “engenharia matem´atica” cuja planta esbo¸camos assim: V V ×V V V K×V K V (u, v) r ru+v + ·(λ, u) r rλu V = (V, +, ·) 14
  • 17. Adendo: Antes de prosseguir em nossos estudos, uma observa¸c˜ao que jul- gamos de alguma relevˆancia: Em matem´atica existe uma conven¸c˜ao t´acita de que s´o devemos criar novos s´ımbolos em casos estritamente necess´arios. Em consequˆencia deste acordo ´e que em muitos contextos matem´aticos um mesmo s´ımbolo pode ter significados distintos. Por exemplo, na exigˆencia M1), isto ´e: M1) λ · ( µ · u ) = (λ · µ) · u Estes trˆes s´ımbolos dizem respeito `a mesma multiplica¸c˜ao (escalar por vetor). Este s´ımbolo diz respeito a uma outra multiplica¸c˜ao (entre escalares e d´a-se no corpo K) Na exigˆencia, M2) ( λ + µ ) · u = λ · u + µ · u Estes dois s´ımbolos dizem respeito a adi¸c˜oes distintas. A primeira adi¸c˜ao se d´a entre nu- meros, a segunda se d´a entre vetores. ∗ ∗ ∗ Uma das contribui¸c˜oes definitivas do s´eculo dezenove foi o recon- hecimento de que a matem´atica n˜ao ´e uma ciˆencia natural, mas uma cria¸c˜ao intelectual do homem. Bertrand Russel escreveu no Interna- tional Monthly em 1901: ‘O s´eculo dezenove, que se orgulha da inven¸c˜ao do vapor e da evolu¸c˜ao, poderia derivar um t´ıtulo mais leg´ıtimo `a fama da descoberta da matem´atica pura.’ Pelo fim do s´eculo era geralmente reconhecido mesmo por n˜ao- matem´aticos que a matem´atica ´e pensamento postulacional, em que de premissas arbitr´arias s˜ao tiradas conclus˜oes v´alidas. Que os postulados sejam ou n˜ao verdadeiros num sentido cient´ıfico ´e indiferente. (Curso Moderno de Filosofia/Denis Huisman e Andr´e Vergez) Nem vocˆe nem eu nem ningu´em sabemos o que faz um matem´atico vingar. N˜ao ´e uma quest˜ao de inteligˆencia. Conhe¸co matem´aticos mais h´abeis que eu, mas que n˜ao tiveram sorte. Considere dois mineiros: um talvez seja perito em geologia, mas ´e o mineiro ignorante quem acha as pepitas douradas. (Louis J. Mordell/matem´atico britˆanico) 15
  • 18. − Exemplos de Espa¸cos Vetoriais Exemplo 1: O espa¸co vetorial R2. Para a constru¸c˜ao do nosso primeiro exemplo de espa¸co vetorial tomare- mos como conjunto V o conjunto de pares ordenados de n´umeros reais: R2 = (x, y): x, y ∈ R cuja vers˜ao geom´etrica ´e vista a seguir: R R 0 s(x, y) Observe que, at´e o presente momento, n˜ao podemos dizer que um par ordenado (a, b) seja um vetor; n˜ao, n˜ao ´e! (a, b) ´e apenas − e t˜ao somente − um elemento do conjunto R2; ou, se preferirmos, um ponto do plano. Precisamos trabalhar um pouco mais para conferir a este ponto o status de vetor. Com este desiderato em mente, tomemos para o corpo de escalares os n´umeros reais, isto ´e, fa¸camos K = R. Tomemos dois elementos u = (a, b) e v = (c, d) em R2 e um escalar (n´umero) λ em R e vamos definir a soma de pares ordenados e a multiplica¸c˜ao por escalar do seguinte modo: u + v = (a, b) + (c, d) = (a + c, b + d) (1.2) λ u = λ (a, b) = (λa, λb) (1.3) Observe que em (1.2) o mesmo s´ımbolo “+” representa duas opera¸c˜oes dis- tintas: o “+” que comparece entre os pares ordenados ´e a adi¸c˜ao em R2 que estamos definindo, por outro lado, o “+” que comparece mais ´a direita − dentro dos parentesis − ´e a “velha” e conhecida opera¸c˜ao de adi¸c˜ao entre n´umeros reais. Observa¸c˜ao an´aloga vale em (1.3). 16
  • 19. Esta ´e a primeira etapa em nossa constru¸c˜ao. A segunda etapa con- siste em mostrar que estas opera¸c˜oes, assim definidas, satisfazem a todas as exigˆencias listadas na defini¸c˜ao de espa¸co vetorial. Sen˜ao, vejamos: A1) u + v = (a, b) + (c, d) = (a + c, b + d) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao) = (c + a, d + b) (comutatividade nos reais) = (c, d) + (a, b) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao) = v + u A2) (u + v) + w = (a, b) + (c, d) + (e, f) = (a + c, b + d) + (e, f) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao) = (a + c) + e, (b + d) + f (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao) = a + (c + e), b + (d + f) (associatividade nos reais) = (a, b) + (c + e, d + f) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao) = (a, b) + (c, d) + (e, f) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao) = u + (v + w) A3) ∃ 0 = (0, 0) ∈ R2 : ∀ u = (a, b) ∈ R2, se verifica, u + 0 = (a, b) + (0, 0) = (a + 0, b + 0) (adi¸c˜ao) = (a, b) (elemento neutro nos reais) = u A4) ∀ u = (a, b) ∈ R2, ∃ − u = (−a, −b) ∈ R2 : u + (−u) = (a, b) + (−a, −b) = a + (−a), b + (−b) (adi¸c˜ao) = (0, 0) (oposto aditivo nos reais) = 0 M1) λ ( µ u ) = λ ( µ (a, b) ) = λ ( µa, µb ) (defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao) = λ ( µa, µb ) = λ(µa), λ(µb) (defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao) = (λµ)a, (λµ)b (associatividade nos reais) = (λµ) (a, b ) (defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao) = (λµ) u 17
  • 20. M2) (λ + µ) u = (λ + µ) (a, b) = (λ + µ) a, (λ + µ) b (defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao) = ( λa + µa, λb + µb ) (distributividade nos reais) = (λa, λb) + (µa, µb) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao) = λ (a, b) + µ (a, b) (defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao) = λ u + µ u M3) λ(u + v) = λ (a, b) + (c, d) = λ (a + c, b + d) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao) = λ (a + c, b + d) = λ(a + c), λ(b + d) (defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao) = ( λa + λc, λb + λd ) (distributividade nos reais) = ( λa, λb ) + ( λc, λd ) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao) = λ(a, b) + λ(c, d) (defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao) = λu + λv M4) 1 u = 1 (a, b) = ( 1 a, 1 b ) (defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao) = (a, b) (elemento neutro nos reais) = u Nota¸c˜ao: ( R2, +, · ) = R2 ´e o espa¸co vetorial R2. Nota: Somente agora, ap´os termos provado que a adi¸c˜ao definida em (1.2) satisfaz as exigˆencias A1), . . . , A4), e que a multiplica¸c˜ao, definida em (1.3) satisfaz as exigˆencias M1), . . . , M4) ´e que podemos chamar os pontos (a, b), do plano, de vetores. De outro modo: somente agora os pontos (a, b) do plano cartesiano fazem parte de uma estrutura de espa¸co vetorial, isto ´e, deixaram de ser “meros pontos” e adquiriram o status de vetores. 18
  • 21. O que ´e um vetor em matem´atica? Conjuntos × Estruturas O entendimento do que seja um vetor inicia-se com a distin¸c˜ao entre conjunto e estrutura. Em matem´atica s˜ao frequentes conjuntos munidos de uma ou mais opera- ¸c˜oes, que gozam de certas propriedades. Esses conjuntos com tais opera¸c˜oes e respectivas propriedades constituem aquilo que denominamos estruturas alg´ebricas. Um espa¸co vetorial ´e um exemplo de estrutura alg´ebrica. Para nos auxiliar em nosso objetivo (deixar claro a diferen¸ca entre con- junto e estrutura) vamos recorrer a uma analogia: Suponhamos um conjunto M cujos elementos s˜ao materiais de constru¸c˜ao, assim: M = {tijolo, cimento, seixo, pedra, areia, . . .} “sobre” este conjunto podemos construir diversas estruturas, por exemplo: M − Edif´ıcio − Casa − Ponte Conjunto Estruturas N˜ao devemos confundir o conjunto M com a “estrutura” edif´ıcio, por exemplo. Entendemos que esta mesma distin¸c˜ao deve ser feita entre conjuntos e estruturas na matem´atica. Vejamos um exemplo retirado da matem´atica. Considere o conjunto de pontos R2 = (x, y): x, y ∈ R , cuja vers˜ao geom´etrica ´e vista a seguir: R2 0 r(x, y) sobre este conjunto podemos construir, por exemplo, trˆes estruturas, assim: 19
  • 22. - Espa¸co vetorial: (a, b) + (c, d) = (a + c, b + d) λ(a, b) = (λa, λb) - N´umeros C: (a, b) + (c, d) = (a + c, b + d) (a, b) · (c, d) = (ac − bd, ad + bc) - N´umeros H: (a, b) + (c, d) = (a + c, b + d) (a, b) · (c, d) = (ac ∓ bd, |a|d + b|c|) R2 0 q(x, y) Assim o n´umero de estruturas que podemos construir sobre um mesmo conjunto estar´a limitado apenas por nossa criatividade∗. A Identidade de um Elemento Uma outra distin¸c˜ao que se faz necess´aria ´e quanto a natureza (identi- dade) de um elemento. Perguntamos: afinal de contas o par ordenado (3, 2) ´e um vetor ou um n´umero complexo? Respondemos: o par ordenado (3, 2), por si s´o, n˜ao ´e nem uma coisa nem outra, ´e apenas um elemento do conjunto R2. Agora dependendo do contexto em que nos situamos, este elemento pode ser um vetor, um n´umero complexo, ou ainda um n´umero hipercomplexo. Se, por exemplo, o par ordenado (3, 2) estiver inserido na estrutura de espa¸co vetorial − primeira das alternativas na figura anterior − ele ser´a um vetor, se estiver sendo manipulado na estrutura n´umeros complexos − segunda das alternativas na figura anterior − ele ser´a um n´umero com- plexo, e se estiver sendo manipulado dentro da estrutura “Hipercomplexa” − terceira das alternativas na figura anterior − ele ser´a um n´umero hiper- complexo. Portanto, enfatizamos, ´e a estrutura que confere “dignidade” (identi- dade) a um elemento. ´E a estrutura (“jogo”) quem vai determinar o que um elemento (s´ımbolo) seja. Vejamos mais duas analogias: 1a ) Suponhamos que desejamos jogar xadrez mas n˜ao dispomos das pe¸cas, apenas do tabuleiro. N˜ao h´a o menor problema: podemos substituir as pe¸cas por cereais. Por exemplo, um caro¸co de feij˜ao far´a o papel de rei, os pe˜oes ser˜ao substituidos por gr˜aos de arroz, as torres por caro¸cos de milho, etc. ∗ C : N´umeros complexos. Os n´umeros Hipercomplexos ´e um novo sistema num´erico que construimos sobre o R2 , ´e tamb´em uma generaliza¸c˜ao dos n´umeros reais. Na abscissa do produto, tomamos − se a c ≥ 0, tomamos + caso contr´ario. Ver [10] 20
  • 23. feij˜ao → Rei arroz → pe˜oes milho → torres ... ... ... Observe mais uma vez que ´e a estrutura que confere a “dignidade” (iden- tidade) de um elemento: um mero caro¸co de feij˜ao de repente vˆe-se pro- movido a “rei”, ao participar da estrutura xadrez. 2a ) Como mais um exemplo da “metamorfose” conferida pela estrutura, o Brasil est´a empestado de ratazanas (bandidos) que, ao ingressarem na estrutura pol´ıtica, tornam-se “vossa excelˆencia”: Assim como um mero caro¸co de feij˜ao torna-se um “rei” ao ingressar na estrutura xadrez, bandidos tornam-se “vossa excelˆencia” ao ingressar na estrutura pol´ıtica brasileira. 21
  • 24. Uma cr´ıtica `a defini¸c˜ao de Espa¸co Vetorial em livros did´aticos Em fun¸c˜ao do exposto anteriormente desejamos fazer uma breve exegese sobre a defini¸c˜ao de espa¸cos vetoriais constante na literatura matem´atica. Uma defini¸c˜ao padr˜ao nos livros did´aticos ´e: Um espa¸co vetorial E ´e um conjunto, cujos elementos s˜ao chamados ve- tores, no qual est˜ao definidas duas opera¸c˜oes: a adi¸c˜ao, que a cada par de vetores u, v ∈ E faz corresponder um novo vetor u+v ∈ E, chamado a soma de u e v, e a multiplica¸c˜ao por um n´umero real, que a cada n´umero α ∈ R e a cada vetor v ∈ E faz corresponder um vetor α·v, ou αv, chamado o produto de α por v. Essas opera¸c˜oes devem satisfazer, para quaisquer α, β ∈ R e u, v, w ∈ E, as condi¸c˜oes abaixo, chamadas os axiomas de espa¸co vetorial: comutatividade: u + v = v + u; associatividade: (u + v) + w = u + (v + w) e (αβ)v = α(βv); vetor nulo: existe um vetor 0 ∈ E, chamado vetor nulo, ou vetor zero, tal que v + 0 = 0 + v = v para todo v ∈ E; inverso aditivo: para cada vetor v ∈ E existe um vetor −v ∈ E, chamado o inverso aditivo, ou o sim´etrico de v, tal que −v+v = v+(−v) = 0; distributividade: (α + β)v = αv + βv e α(u + v) = αu + αv; multiplica¸c˜ao por 1: 1 · v = v. Ent˜ao, vejamos alguns poucos coment´arios sobre esta defini¸c˜ao padr˜ao: Primeiro que um espa¸co vetorial n˜ao ´e um conjunto. Segundo, n˜ao conhe¸co nenhum conjunto “cujos elementos s˜ao chamados vetores ”. O leitor conhece algum? − O que vem depois na defini¸c˜ao anterior n˜ao muda em nada. A verdadeira natureza de um espa¸co vetorial ´e a de uma estrutura − tanto ´e que ´e conhecido como uma estrutura alg´ebrica −, por exemplo, assim: V R V × V R × E V V + · V = (V, +, ·) (aqui temos escalares) (aqui temos meros elementos) Estrutura Espa¸co Vetorial (aqui temos vetores) N˜ao existe nenhum conjunto “cujos elementos s˜ao chamados vetores ” posto que em qualquer conjunto temos meros elementos, agora ao constru- irmos uma estrutura de espa¸co vetorial sobre um tal conjunto ent˜ao seus elementos adquirem o status de vetores. 22
  • 25. Assim como um mero caro¸co de feij˜ao torna-se um rei ao participar da estrutura xadrez − ou qualquer bandido torna-se “vossa excelˆencia”, ao ingressar na estrutura pol´ıtica brasileira − objetos de naturezas diversas tornam-se vetores ao participarem da estrutura espa¸co vetorial. Por exem- plo, s˜ao vetores: (3, 2) , Ponto do R2 1 0 0 1 0 3 , Matriz p(x) = 2 + 3 x − x2 , Polin^omio 00110100 C´odigo bin´ario Exemplo 2: O espa¸co vetorial R3. Para a constru¸c˜ao do nosso segundo exemplo de espa¸co vetorial tomare- mos como conjunto V o conjunto de ternos ordenados de n´umeros reais: R3 = (x, y, z): x, y, z ∈ R cuja vers˜ao geom´etrica ´e vista a seguir: Y Z X (x, y, z) Tomemos dois elementos u = (a, b, c) e v = (d, e, f) em R3 e um escalar (n´umero) λ em R e vamos definir a soma de ternos ordenados e a multi- plica¸c˜ao por escalar do seguinte modo: u + v = (a, b, c) + (d, e, f) = (a + d, b + e, c + f) λ u = λ (a, b, c) = (λa, λb, λc) Estas duas defini¸c˜oes conferem aos pontos do espa¸co R3 o status de vetores, conforme pode ser provado de modo an´alogo ao que foi feito no exemplo anterior. Apenas informamos que aqui o vetor nulo passa a ser 0 = (0, 0, 0) e o oposto do vetor u = (a, b, c) ´e o vetor −u = (−a, −b, −c). Exemplo 3: O espa¸co vetorial Rn. Os dois exemplos anteriores podem ser generalizados ao “hiperespa¸co” Rn, que ´e o conjunto de n−uplas, Rn = (x1 , x2 , . . . , xn ): xi ∈ R 23
  • 26. cuja vers˜ao geom´etrica infelizmente por uma limita¸c˜ao de “hardware” (c´ere- bro) n˜ao podemos visualizar quando n > 3. Dados dois pontos u = (x1 , x2 , . . . , xn ) e v = (y1 , y2 , . . . , yn ) neste conjunto, definimos igualdade, assim: (x1 , x2 , . . . , xn ) = (y1 , y2 , . . . , yn ) ⇔ x1 = y1 , x2 = y2 , . . . , xn = yn Adi¸c˜ao entre pontos e multiplica¸c˜ao por escalar (n´umero real), assim: u + v = (x1 , x2 , . . . , xn ) + (y1 , y2 , . . . , yn ) = (x1 + y1 , x2 + y2 , . . . , xn + yn ) λu = (λ x1 , λ x2 , . . . , λ xn ) Estas opera¸c˜oes conferem aos pontos do “hiperespa¸co” o status de vetores, como pode facilmente ser provado. Apenas informamos que aqui o vetor nulo passa a ser 0 = (0, 0, . . . , 0) e o oposto do vetor u = (x1 , x2 , . . . , xn ) ´e o vetor −u = (−x1 , −x2 , . . . , −xn ). O exemplo dado anteriormente possui uma importante generaliza¸c˜ao dada a seguir. Exemplo 4: O espa¸co vetorial Kn. Vamos generalizar ainda mais o exemplo anterior. Seja K um corpo arbitr´ario. A nota¸c˜ao Kn ´e ami´ude utilizada para denotar o conjunto de todas as n-uplas de elementos de K: Kn = (x1 , x2 , . . . , xn ): xi ∈ K Dados dois pontos u = (x1 , x2 , . . . , xn ) e v = (y1 , y2 , . . . , yn ) neste con- junto podemos tornar Kn um espa¸co vetorial sobre K com as seguintes defini¸c˜oes: (x1 , x2 , . . . , xn ) = (y1 , y2 , . . . , yn ) ⇔ x1 = y1 , x2 = y2 , . . . , xn = yn Adi¸c˜ao entre pontos e multiplica¸c˜ao por escalar, assim: u + v = (x1 , x2 , . . . , xn ) + (y1 , y2 , . . . , yn ) = (x1 + y1 , x2 + y2 , . . . , xn + yn ) λu = (λ x1 , λ x2 , . . . , λ xn ) Estas opera¸c˜oes s˜ao ditas “ponto a ponto” e conferem aos pontos do “hiperespa¸co” o status de vetores. Por exemplo, o vetor nulo em Kn ´e uma n-upla de zeros, 0 = (0, 0, . . . , 0) e o oposto do vetor u = (x1 , x2 , . . . , xn ) ´e o vetor −u = (−x1 , −x2 , . . . , −xn ). Das exigˆencias (axiomas) para espa¸co vetorial vamos provar A2 e M3 (as outras s˜ao demonstradas de forma an´aloga). Ent˜ao: 24
  • 27. A2) (u + v) + w = u + (v + w) (Associativa) Suponha que u = ( xi ), v = ( yi ) e w = ( zi ). A demonstra¸c˜ao ser´a feita mostrando que as entradas (coordenadas nas n-uplas) correspondentes em cada lado de A2 s˜ao iguais. Com efeito, a entrada i de u+v ´e xi +yi , ent˜ao a entrada i de (u+v)+w ´e (xi + yi ) + zi . Por outro lado, a entrada i de v + w ´e yi + zi e assim a entrada i de u+(v +w) ´e xi +(yi +zi ). Por´em, para escalares em K (corpo) temos (xi + yi ) + zi = xi + (yi + zi ) Portanto (u + v) + w e u + (v + w) possuem entradas i iguais, logo, pela defini¸c˜ao de igualdade de n-uplas, temos que (u + v) + w = u + (v + w). M3) λ ( u + v ) = λ u + λ v (Distributiva) A entrada i de u+v ´e xi +yi, ent˜ao λ (xi +yi ) ´e a entrada i de λ ( u+v ). Por outro lado, as entradas i de λ u e λ v s˜ao respectivamente λ xi e λ yi . Por´em, para escalares em K temos λ (xi + yi ) = λ xi + λ yi Assim λ ( u + v ) e λ u + λ v possuem entradas i iguais, logo, pela defini¸c˜ao de igualdade de n-uplas, temos que λ ( u + v ) = λ u + λ v. Publica¸c˜ao Eletrˆonica, 2016; 514 p. ISBN: 978-85-63979-08-7 ebah https://goo.gl/8YVCPB slideshare https://goo.gl/Ah5m0g scribd https://goo.gl/mkl0PG 25
  • 28. Exemplo 5: Espa¸co de C´odigos Agora daremos um importante exemplo de espa¸co vetorial cujo corpo de escalares n˜ao ´e R. C´odigos que contˆem tanto caracteres alfab´eticos como num´ericos s˜ao necess´arios quando microcomputadores se comunicam com dispositivos como fax ou um terminal de v´ıdeo, ou ainda para transformar os caracteres de um teclado em linguagem de computador. Esses c´odigos s˜ao chamados c´odigos alfanum´ericos. O c´odigo alfanum´erico mais comumente usado em sistemas de microcom- putador ´e o AMERICAN STANDARD Code for Information Interchange (C´odigo Americano Padr˜ao para Troca de Informa¸c˜oes) Uma listagem parcial do c´odigo ASCII ´e mostrada na tabela a seguir Caracter ASCII Caracter ASCII < 00111100 > 00111110 ! 00100001 11100100 # 00100011 $ 00100100 % 00100101 & 00100110 ( 00101000 ) 00101001 ∗ 00101010 [ 01011011 ] 01011101 + 00101011 − 00101101 / 00101111 0 00110000 1 00110001 2 00110010 3 00110011 4 00110100 5 00110101 6 00110110 7 00110111 8 00111000 9 00111001 A 01000001 B 01000010 C 01000011 D 00100100 E 01000101 F 01000110 G 01000111 H 01001000 I 01001001 J 01001010 K 01001011 L 01001100 M 01001101 N 01001110 O 01001111 P 01010000 Q 01010001 R 01010010 S 01010011 T 01010100 U 01010101 V 01010110 W 01010111 X 01011000 Y 01011001 Z 01011010 − TABELA ASCII 26
  • 29. A seguir vemos o diagrama de blocos de uma calculadora. Teclado Entrada Display Saida + 0 − 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Codificador ր 00110001 00101011 00110010 CPU ր 00110011 Decodificador Na figura estamos simulando a soma 1+2 = 3. Ao digitarmos no teclado 1+2 existe um circuito codificador que codifica estas informa¸c˜oes em bin´ario de acordo com a TABELA ASCII vista anteriormente, ou seja, 1 ↔ 00110001 ; + ↔ 00101011 ; 2 ↔ 00110010 Estas sequˆencias bin´arias (c´odigos) s˜ao entregues `a CPU (unidade central de processamento) que executa a soma pedida, o resultado ´e colocado na entrada de um circuito decodificador que decodifica, ainda de acordo com a TABELA ASCII, a sequˆencia bin´aria em sua entrada e na saida (display) temos o resultado na base decimal. Defini¸c˜ao 1 (C´odigo). Um c´odigo bin´ario ´e um conjunto de vetores bin´arios (de mesmo comprimento) chamados vetores de c´odigo. O processo de con- vers˜ao de uma mensagem em vetores de c´odigo ´e chamado codifica¸c˜ao, e o processo inverso ´e chamado decodifica¸c˜ao. A transmiss˜ao de dados codificados − via ondas eletromagn´eticas, pode ser − est´a sujeita a v´arias fontes de erros, desde erros de digita¸c˜ao at´e interferˆencias eletromagn´eticas; os poss´ıveis erros s˜ao chamados de ru´ıdos. A teoria dos c´odigos corretores de erro ´e um campo de pesquisa muito ativo atualmente, com aplica¸c˜oes em diversas ´areas tais como: matem´atica, engenharia, computa¸c˜ao e estat´ıstica. Sinal Sinal Novo Informa¸c˜ao de Fonte Codifica¸c˜ao Canal Ru´ıdo Decodifica¸c˜ao Destinat´ario 27
  • 30. Nosso objetivo agora ser´a construir uma fam´ılia (cole¸c˜ao) de espa¸cos vetoriais os quais s˜ao bastante utilizados no projeto de c´odigos bin´arios para transmiss˜ao de dados entre computadores, inclusive. Sequˆencias bin´arias de qualquer tamanho podem ser obtidas tomando-se o produto cartesiano do conjunto (com dois s´ımbolos): 0 1Z2 = { 0, 1 } Por exemplo: Z2 2 = { 0, 1 } × { 0, 1 } = { 00, 10, 01, 11 } Ou ainda: Z3 2 = { 0, 1 } × { 0, 1 } × { 0, 1 } = { 000, 100, 010, 110, 001, 101, 011, 111 } Como o leitor certamente j´a se deu conta, via produto cartesiano pode- mos obter sequˆencias bin´arias de qualquer tamanho. O n´umero de sequˆencias bin´arias no conjunto Zn 2 ´e 2n. Observe que os c´odigos (sequˆencias) do teclado de um computador (Tabela ASCII) pertencem todos ao conjunto Z8 2 , neste conjunto podemos codificar at´e 28 = 256 caracteres. Opera¸c˜oes em Z2 Inicialmente vamos construir uma estrutura de corpo sobre o conjunto Z2 . Nesse conjunto vamos definir duas opera¸c˜oes: a uma delas chamaremos de adi¸c˜ao e a outra chamaremos de multiplica¸c˜ao − dadas nas seguintes t´abuas: + 0 1 0 1 0 1 1 0 · 0 1 0 1 0 0 0 1 A isto se acrescenta que todo s´ımbolo ´e ambivalente e at´e mesmo polivalente, no sentido de que ele pode significar uma pluralidade de realidades diversas e mesmo contradit´orias. (L´eon Bonaventure) ´E f´acil, n˜ao obstante trabalhoso, provar que o sistema alg´ebrico resul- tante Z2 = (Z2 , +, ·) ´e um corpo. (p. 420) 28
  • 31. Desde j´a enfatizamos que no presente contexto 0 e 1 n˜ao s˜ao n´umeros naturais, isto ´e, n´umeros do conjunto N = { 0, 1, 2, 3, . . . } De fato, como dissemos anteriormente, o que confere a identidade de um elemento ´e a estrutura (“jogo”) do qual ele faz parte. Embora os s´ımbolos 0 e 1 sejam os mesmos do conjunto dos n´umeros naturais no entanto como n´umeros s˜ao distintos daqueles. Observe: N = ( { 0, 1, 2, 3, . . . }, +, · ) − Nesta estrutura 0 e 1 s˜ao n´umeros naturais. Z2 = ({ 0, 1 }, +, ·) − Nesta estrutura 0 e 1 s˜ao n´umeros, mas n˜ao naturais. Pois bem, retomando a estrutura Z2 acima definida, o elemento neutro da adi¸c˜ao ´e 0. O sim´etrico (oposto) de cada elemento encontramos na pr´opria tabela de adi¸c˜ao. Veja: 0 + 0 = 0 ⇒ −0 = 0 e 1 + 1 = 0 ⇒ −1 = 1 Isto ´e, o oposto aditivo de cada elemento ´e o pr´oprio. Ademais, o leitor n˜ao se escandalize com a opera¸c˜ao 1 + 1 = 0, posto que, se servir de consolo, mesmo na f´ısica − supostamente mais aderente `a realidade − nem sempre 1 + 1 = 2. Por exemplo, se adicionarmos duas ve- locidades iguais a 1, na f´ısica de Galileu teremos 1+1 = 2, j´a na de Einstein teremos 1 + 1 = 2. (Ver p. 77) Aceder `a ciˆencia ´e rejuvenescer espiri- tualmente, ´e aceitar uma brusca muta¸c˜ao que contradiz o passado. (Gaston Bachelard) O mundo ´e construido como uma es- trutura matem´atica, e n˜ao material. (Werner Heisenberg) A isto se acrescenta que todo s´ımbolo ´e ambivalente e at´e mesmo polivalente, no sentido de que ele pode significar uma pluralidade de rea- lidades diversas e mesmo contradit´orias. (L´eon Bonaventure) 29
  • 32. Os espa¸cos vetoriais Zn 2 Tendo em conta o exemplo 4 (p. 24) resulta que, para cada n ≥ 1, os sistemas Zn 2 s˜ao espa¸cos vetorias com as opera¸c˜oes “ponto a ponto”. Por- tanto, no presente contexto uma sequˆencia bin´aria (c´odigo) adquire status de vetor. Observe que n˜ao cabe − n˜ao tem sentido − para estes vetores os atributos (simultˆaneos) de m´odulo, dire¸c˜ao e sentido. Por exemplo, veja alguns exemplos de adi¸c˜ao: Z2 2 10 01 11+ : Z3 2 101 011 110+ : Z4 2 1010 1010 0000+ : feitas com o aux´ılio da t´abua de adi¸c˜ao para Z2 . (p. 28) Veja alguns exemplos de multiplica¸c˜ao por escalar: Z2 2 u → 10 λ → 1 10λ u → Z3 2 u → 101 λ → 0 000λ u → Z4 2 u → 1010 λ → 1 1010λ u → feitas com o aux´ılio da t´abua de multiplica¸c˜ao para Z2 . O elemento neutro da adi¸c˜ao em Zn 2 ´e a “sequˆencia nula”, 0 = 00 . . . 0, com n entradas. Ademais, observe que todo elemento em Zn 2 possui oposto aditivo no caso “ele pr´oprio”. Isto se deve a que, na t´abua da adi¸c˜ao em Z2 temos que 0 + 0 = 0 e 1 + 1 = 0. Apenas a t´ıtulo de informa¸c˜ao, a quem interessar possa, no livro Funda- mentos dos N´umeros (p. 25) criamos uma estrutura na qual as sequˆencias bin´arias infinitas tornam-se n´umeros; digo, novos modelos para os naturais, inteiros, etc. Por exemplo, veja os “inteiros azuis”: Z −1−2−3−4−5 0 1 2 3 4 5. . . . . . Z 0 1 0 1 1 1 1 1 ... 0 0 1 1 1 1 1 1 ... 1 0 1 1 1 1 1 1 ... 0 1 1 1 1 1 1 1 ... 1 1 1 1 1 1 1 1 ... 0 0 0 0 0 0 0 0 ... 1 0 0 0 0 0 0 0 ... 0 1 0 0 0 0 0 0 ... 1 1 0 0 0 0 0 0 ... 0 0 1 0 0 0 0 0 ... 1 0 1 0 0 0 0 0 ... . . . . . . 30
  • 33. Uma f´ormula para gerar os c´odigos em Zn 2 ´E um prazer puro da alma espalhar pelo mundo o fruto de seus es- tudos e medita¸c˜oes, ainda sem outra remunera¸c˜ao que a consciˆencia de fazer bem. (Jos´e Bonif´acio) J´a n˜ao conto mais o n´umero de f´ormulas que deduzi (e/ou demonstrei) na matem´atica, confesso que, pela f´ormula a seguir, tenho um carinho todo especial∗. xij =    1, se i−1 2 j−1 ´e ´ımpar; 0, se i−1 2 j−1 ´e par. (1.4) Esta f´ormula nos permite gerar os c´odigos bin´arios, onde: xij ´e o j−´esimo bit do c´odigo i de Zn 2 . ⌊ x ⌋ ´e o maior inteiro que n˜ao supera x. Fixado n fazemos i = 1, 2, . . . , 2n e j = 1, 2, . . . , n Por exemplo, para n = 2, temos: i = 1, 2, 3, 4 e j = 1, 2. Ent˜ao i = 1, j = 1 ⇒ 1−1 21−1 = 0 ⇒ x11 = 0 i = 1, j = 2 ⇒ 1−1 22−1 = 0 ⇒ x12 = 0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . i = 2, j = 1 ⇒ 2−1 2 1−1 = 1 ⇒ x11 = 1 i = 2, j = 2 ⇒ 2−1 22−1 = 0 ⇒ x12 = 0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . i = 3, j = 1 ⇒ 3−1 21−1 = 2 ⇒ x11 = 0 i = 3, j = 2 ⇒ 3−1 22−1 = 1 ⇒ x12 = 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . i = 4, j = 1 ⇒ 4−1 21−1 = 3 ⇒ x11 = 1 i = 4, j = 2 ⇒ 4−1 22−1 = 1 ⇒ x12 = 1 Sendo assim, temos: Z2 2 = { 00 i = 1 , 10 i = 2 , 01 i = 3 , 11 i = 4 } ∗ Precisamente pelos detalhes t´ecnicos envolvidos em sua dedu¸c˜ao e demonstra¸c˜ao. 31
  • 34. Exemplo 6: O espa¸co vetorial Pn (R). Para a constru¸c˜ao do nosso pr´oximo exemplo de espa¸co vetorial tomare- mos como conjunto V o conjunto, Pn (R) = a0 + a1 x + a2 x2 + · · · + an xn : ai ∈ R dos polinˆomios com coeficientes reais de grau ≤ n (n ´e um inteiro n˜ao- negativo). Para conferir aos elementos deste conjunto o status de vetores, tomemos dois elementos arbitr´arios p(x) = a0 + a1 x + a2 x2 + · · · + an xn q(x) = b0 + b1 x + b2 x2 + · · · + bn xn e vamos definir duas opera¸c˜oes: p(x) + q(x) = (a0 + b0 ) + (a1 + b1 )x + (a2 + b2 )x2 + · · · + (an + bn )xn Tomemos para o corpo de escalares os n´umeros reais, vamos definir, λ p(x) = λ b0 + (λ b1 ) x + (λ b2 ) x2 + · · · + (λ bn ) xn Pode ser mostrado que todas as exigˆencias sobre as opera¸c˜oes de adi¸c˜ao e multiplica¸c˜ao por escalar s˜ao satisfeitas; portanto Pn (R) ´e o espa¸co vetorial dos polinˆomios (de grau ≤ n) com coeficientes reais. O vetor nulo deste espa¸co ´e dado por, 0(x) = 0 + 0x + 0x2 + · · · + 0xn O oposto aditivo do vetor p(x) = a0 + a1 x + a2 x2 + · · · + an xn ´e o vetor, −p(x) = (−a0 ) + (−a1 ) x + (−a2 ) x2 + · · · + (−an ) xn Isto se deve a que, p + (−p) = 0, veja: p + (−p) (x) = a0 + (−a0 ) + a1 + (−a1 ) x + · · · + an + (−an ) xn = 0 + 0x + 0x2 + · · · + 0xn = 0(x) Exemplo 7: O espa¸co vetorial Mm×n(R). Sobre o conjunto Mm×n(R), das matrizes de ordem m × n, com entradas reais podemos construir um espa¸co vetorial tomando como corpo K = R e as opera¸c˜oes usuais de adi¸c˜ao de matrizes e multiplica¸c˜ao de matriz por escalar. (p. 424 e p. 425) No caso particular das matrizes de ordem 2 × 3, por exemplo, o vetor nulo ´e dado por: 0 = 0 0 0 0 0 0 32
  • 35. Para um vetor arbitr´ario, u = a11 a12 a13 a21 a22 a23 seu oposto aditivo ´e dado por, −u = −a11 −a12 −a13 −a21 −a22 −a23 Para provar esta assertiva basta ter em conta que, u + (−u) = a11 a12 a13 a21 a22 a23 + −a11 −a12 −a13 −a21 −a22 −a23 Ou ainda, u + (−u) = a11 − a11 a12 − a12 a13 − a13 a21 − a21 a22 − a22 a23 − a23 = 0 0 0 0 0 0 = 0 Exemplo 8: Espa¸cos Funcionais. Consideremos o conjunto, F = { f : R → R } das fun¸c˜oes reais definidas em toda a reta. O nosso objetivo ser´a construir sobre este conjunto um espa¸co vetorial: F = F, +, · (1.5) Dados dois elementos∗ f e g em F, vamos definir a adi¸c˜ao f + g como sendo a fun¸c˜ao dada pela seguinte “ lei ” (regra): (f + g)(x) = f(x) + g(x) (1.6) Esta adi¸c˜ao ´e conhecida como adi¸c˜ao ponto a ponto e existe uma inter- preta¸c˜ao geom´etrica para a mesma. Por exemplo, consideremos as fun¸c˜oes dadas por f(x) = x2 e g(x) = x + 1; pela defini¸c˜ao de adi¸c˜ao em F, temos: (f + g)(x) = f(x) + g(x) = ( x2 ) + (x + 1) = x2 + x + 1 Geometricamente, tudo se passa assim: ∗ Para o que se segue ser´a importante que o leitor tenha em mente a distin¸c˜ao entre os s´ımbolos f e f(x); o primeiro se refere `a pr´opria fun¸c˜ao, o segundo se refere ao valor num´erico que a fun¸c˜ao assume no ponto x (imagem de x pela fun¸c˜ao f). 33
  • 36. 0 R R r r x f(x) g(x) f g 0 R R r x f(x)+g(x) f+g Pois bem, dados um escalar λ ∈ R e uma fun¸c˜ao f ∈ F, vamos definir a multiplica¸c˜ao por escalar, λ f, como sendo a fun¸c˜ao dada pela seguinte regra: (λ f)(x) = λ f(x) (1.7) Como na adi¸c˜ao, existe uma interpreta¸c˜ao geom´etrica para o produto de um escalar por uma fun¸c˜ao. Tomemos, por exemplo, f e g como anteriormente, e o escalar λ = 1 2, a seguir vemos as multiplica¸c˜oes por escalar 1 2 f e 1 2 g : 0 R R r r x f 1 2 f 0 R R r r x g 1 2 g Para conferir o status de vetor a uma fun¸c˜ao s´o nos resta agora mostrar que todas as exigˆencias para espa¸co vetorial s˜ao satisfeitas pelas opera¸c˜oes definidas acima. Antes, recordamos o que significa dizer que duas fun¸c˜oes (ou aplica¸c˜oes) s˜ao iguais: Defini¸c˜ao 2 (Igualdade entre aplica¸c˜oes). Dizemos que as aplica¸c˜oes f : A −→ B x −→ f(x) e g: C −→ D x −→ g(x) s˜ao iguais se, e somente se, A = C, B = D e f(x) = g(x) para todo x ∈ A. 34
  • 37. Para duas fun¸c˜oes no conjunto F escrevemos, f : R −→ R x −→ f(x) e g: R −→ R x −→ g(x) De sorte que, por exemplo, f + g = g + f ⇔ (f + g)(x) = (g + f)(x), ∀ x ∈ R. Ent˜ao, A1) (f + g)(x) = f(x) + g(x) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao) = g(x) + f(x) (comutatividade nos reais) = (g + f)(x) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao) ⇓ f + g = g + f A2) (f + g) + h (x) = ( f + g )(x) + h(x) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao) = f(x) + g(x) + h(x) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao) = f(x) + g(x) + h(x) (associatividade nos reais) = f(x) + ( g + h )(x) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao) = f + ( g + h ) (x) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao) ⇓ (f + g) + h = f + (g + h) O nosso candidato natural a vetor nulo, 0, ´e a fun¸c˜ao nula, assim definida: 0: R −→ R x −→ 0 ´E a fun¸c˜ao que associa a todo n´umero real, no dom´ınio, o n´umero 0, no contradom´ınio, isto ´e, 0(x) = 0, ∀ x ∈ R e cujo gr´afico coincide com o eixo ox, veja: 0 R R 35
  • 38. Posto isto, temos, A3) (f + 0)(x) = f(x) + 0(x) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao) = f(x) + 0 (defini¸c˜ao de fun¸c˜ao nula) = f(x) (elemento neutro nos reais) ⇓ f + 0 = f − Dada qualquer fun¸c˜ao f ∈ F, vamos definir como −f a fun¸c˜ao cujos valores s˜ao os opostos (negativos) dos valores de f, isto ´e, (−f)(x) = −f(x) Vamos agora mostrar que f + (−f) = 0. De fato, temos que, A4) f + (−f) (x) = f(x) + (−f)(x) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao) = f(x) + − f(x) (defini¸c˜ao de fun¸c˜ao oposta) = 0 (oposto nos reais) ⇓ f + (−f) = 0 Existe uma interpreta¸c˜ao geometrica para a oposta, −f, de uma fun¸c˜ao f; o seu gr´afico ´e sim´etrico − em rela¸c˜ao ao eixo x − ao gr´afico de f; por exemplo, para as fun¸c˜oes f e g que vˆem nos acompanhando, temos: R R f −f x r r f(x) −f(x) f+(−f)= 0 g+(−g)= 0 R R r r x g −g g(x) −g(x) M1) λ ( µ f ) (x) = λ ( µf)(x) (defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao por escalar) = λ µ f(x) (defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao por escalar) = (λ µ)f(x) (associatividade nos reais) = (λ µ)f (x) (defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao por escalar) ⇓ λ (µ f) = (λ µ)f 36
  • 39. M2) (λ + µ) f (x) = (λ + µ)f(x) (defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao por escalar) = λ f(x) + µ f(x) (distributividade nos reais) = (λ f)(x) + (µ f)(x) (multiplica¸c˜ao por escalar) = (λ f + µ f)(x) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao) ⇓ (λ + µ) f = λ f + µ f M3) λ (f + g) (x) = λ (f + g)(x) (multiplica¸c˜ao por escalar) = λ f(x) + g(x) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao) = λ f(x) + λ g(x) (distributividade nos reais) = (λ f + λ g)(x) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao) ⇓ λ (f + g) = λ f + λ g M4) (1 f)(x) = 1 f(x) (multiplica¸c˜ao por escalar) = f(x) (elemento neutro nos reais) ⇓ 1 f = f • Observe que somente agora − e dentro do presente contexto − uma fun¸c˜ao adquire o status de vetor. Este vetor n˜ao tem m´odulo, n˜ao tem dire¸c˜ao, n˜ao tem sentido. Nota: Podemos considerar ao inv´es do conjunto, F = { f : R → R } o conjunto, F = { f : X → R } (1.8) onde X ´e um conjunto n˜ao-vazio qualquer, e ainda aqui, como anterior- mente, obtemos um espa¸co vetorial: F(X, R). Matem´atica: Esta “ciˆencia vazia” que − espantosamente − se aplica a todas as contingˆencias fenomenol´ogicas, apesar de ser um puro formalismo reflexivo. 37
  • 40. Um exemplo patol´ogico Importante: Na defini¸c˜ao de espa¸co vetorial fizemos referˆencia a uma opera¸c˜ao, + : V × V −→ V a qual foi chamada de adi¸c~ao e cujo s´ımbolo adotado foi o usual: +. A escolha para este nome (adi¸c˜ao) e para este s´ımbolo ( + ) ´e meramente uma quest˜ao de conveniˆencia; a princ´ıpio esta opera¸c˜ao pode n˜ao ter nada a ver com a “adi¸c˜ao usual” , o que realmente importa ´e que a mesma satisfa¸ca a todas as exigˆencias para a estrutura espa¸co vetorial. Para contextualizar a que estamos nos referindo meditemos sobre os dois exemplos a seguir. Exemplo 9: Consideremos o seguinte subconjunto V = { x ∈ R: x > 0 } dos reais, cuja vers˜ao geometrica ´e vista a seguir: 0 1 2 3 R+ ∗ O nosso objetivo agora ser´a conferir aos elementos deste conjunto o status de vetores. O nosso intuito estar´a fadado ao fracasso se definirmos a adi¸c˜ao como sendo a usual, n˜ao obstante este conjunto ser fechado para esta opera¸c˜ao. Este insucesso se dever´a a que n˜ao conseguiremos um elemento neutro para a referida opera¸c˜ao (j´a que o 0 foi excluido do conjunto V ); e nem um oposto para cada u ∈ V . Observamos que este conjunto ´e fechado para a multiplica¸c˜ao. Vamos definir as duas seguintes opera¸c˜oes:    u + v = u v, ∀ u, v ∈ V λ · u = uλ, ∀ u ∈ V e ∀ λ ∈ R. Ou seja, a nossa opera¸c˜ao candidata a adi¸c˜ao vetorial nada mais ´e que a multiplica¸c˜ao num´erica usual e a nossa opera¸c˜ao candidata a multiplica¸c˜ao por escalar nada mais ´e que a exponencia¸c˜ao num´erica. Nesta nossa adi¸c˜ao esdr´uxula observe que: 1 + 1 = 1 · 1 ⇒ 1 + 1 = 1 2 + 1 2 = 2 · 1 2 ⇒ 2 + 1 2 = 1 Nesta nossa multiplica¸c˜ao esdr´uxula observe que: 2 · 1 = 12 ⇒ 2 · 1 = 1 1 2 · 2 = 2 1 2 ⇒ 1 2 · 2 = √ 2 2 · 1 2 = 1 2 2 ⇒ 2 · 1 2 = 1 4 38
  • 41. Ser´a que funciona? Vejamos: A1) u + v = u v (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao) = v u (comutatividade da multiplica¸c˜ao em R) = v + u (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao) A2) (u + v) + w = (u v) + w (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao) = (u v) w (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao) = u (v w) (associatividade em R) = u (v + w) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao) = u + (v + w) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao) A3) Devemos agora exibir um elemento neutro para a nossa adi¸c˜ao; ou ainda, devemos exibir 0 ∈ V satisfazendo 0 + u = u, ∀ u ∈ V . Sendo assim devemos ter 0 + u = 0 u = u = 1 u ⇒ 0 u = 1 u Esta igualdade nos sugere tomar como candidato a vetor nulo 0 = 1, e de fato funciona, como ´e f´acil constatar. A4) Para todo elemento u de V devemos exibir um outro elemento de V , denotado por −u, detentor da seguinte propriedade: u + (−u) = 0 Sendo assim, temos: u + (−u) = u (−u) = 0 = 1 ⇒ u (−u) = 1 Esta ´ultima equa¸c˜ao nos sugere tomar −u = u−1 = 1 u, e de fato funciona, como ´e f´acil constatar. Observe que, −1 = 1−1 ⇒ −1 = 1 (1.9) Interregno cultural: Uma observa¸c˜ao trivial, no entanto pertinente, ´e que o sinal “−”, acima, n˜ao significa “negativo”, significa apenas oposto (aditivo). Por oportuno, em matem´atica um vetor n˜ao possui “negativo”. Com efeito, o conceito de negativo em um conjunto ´e definido em fun¸c˜ao de uma rela¸c˜ao de ordem∗, num espa¸co vetorial n˜ao contamos com uma tal rela¸c˜ao. ∗ Positivo ´e maior que zero e negativo ´e menor que zero. 39
  • 42. Observemos, novamente, a exigˆencia A4) na defini¸c˜ao de espa¸co vetorial: “A4) Para todo elemento u de V existe um outro elemento de V , denotado por −u, detentor da seguinte propriedade: u + (−u) = 0 ” (Elemento oposto) Duas observa¸c˜oes: ( i ) −u ´e apenas, e t˜ao somente, uma nota¸c˜ao ( ii ) o que ´e essencial ´e que aqui temos a defini¸c˜ao (caracteriza¸c˜ao) do que seja o elemento −u, o oposto de u; ´e aquele que quando adicionado com u repro- duz o elemento neutro da “adi¸c˜ao”. ´E isto o que importa, o que existe de essencial, n˜ao a nota¸c˜ao (s´ımbolo) adotada para o elemento oposto. N˜ao haveria nenhuma mudan¸ca estrutural se tivessemos enunciado a exigˆencia A4) do seguinte modo: “A4) Para todo elemento u de V existe um outro elemento de V , denotado por ¯u, detentor da seguinte propriedade: u + ¯u = 0 ” (Elemento oposto) Neste caso a igualdade (1.9) (p. 39) se tornaria, ¯1 = 1 1 ⇒ ¯1 = 1 Um raciocinio an´alogo se aplica ao caso do vetor nulo 0. Em um contexto correlato a este observamos que nos n´umeros inteiros o sinal “−” tem dois significados distintos. Quando aparece em, por exem- plo, −3, este sinal significa tomar o oposto; ou ainda, podemos dizer que se trata de uma opera¸c˜ao un´aria; ao passo que este mesmo sinal em, por exemplo, 2 − 3, tem um significado distinto do primeiro, aqui temos uma opera¸c˜ao bin´aria (diferen¸ca entre dois inteiros). Continuando: M1) λ (µ u) = λ ( uµ ) (defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao por escalar) = ( uµ )λ (defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao por escalar) = u(µ λ) (potˆencia nos reais) = (µ λ)u (defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao por escalar) M2) (λ + µ) u = uλ+µ (defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao por escalar) = uλ · uµ (potˆencia nos reais) = λ u · µ u (multiplica¸c˜ao por escalar) = λ u + µ u (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao) 40
  • 43. M3) λ (u + v) = λ (u v) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao) = (u v)λ (multiplica¸c˜ao por escalar) = uλ · vλ (potˆencia nos reais) = λ u · µ u (multiplica¸c˜ao por escalar) = λ u + µ u (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao) M4) 1 u = u1 (multiplica¸c˜ao por escalar) = u (potˆencia nos reais) Interregno cultural: Fa¸camos uma pequena exegese sobre a (leg´ıtima) igualdade: 1 2 · 2 = 2 1 2 = √ 2 Esta igualdade bizarra nos d´a raz˜ao quando afirmamos que a identidade de um elemento ´e conferida pela estrutura em que ele est´a inserido. Com efeito, na multiplica¸c˜ao acima o primeiro fator, 1 2, ´e um n´umero real (no caso um escalar), ao passo que o segundo, 2, n˜ao ´e mais um n´umero real, mas sim um vetor. Deixamos ao leitor a incumbˆencia de justificar as seguintes igualdades: −1 + (−2) = 1 2 = −1 · (−2) Observe que o −1 `a esquerda ´e um vetor enquanto o mesmo −1 `a direita n˜ao ´e mais um vetor, mas sim um escalar. O que confere a identidade de um elemento ´e a regra (opera¸c˜ao) com a qual ele est´a sendo manipulado. O pr´oximo exemplo de espa¸co vetorial ´e a generaliza¸c˜ao do exemplo anterior para duas “dimens˜oes”. Exemplo 10: Consideremos o conjunto V = { (x, y) ∈ R2 : x, y > 0 }, cuja vers˜ao geom´etrica ´e vista a seguir: 1 2 3 0 1 2 3 R+ ∗ R+ ∗ r0=(1, 1) 41
  • 44. com as opera¸c˜aoes de adi¸c˜ao e multiplica¸c˜ao por escalar definidas assim: (a, b) + (c, d) = ( a c, b d ) λ (a, b) = ( aλ , bλ ) Deixamos ao leitor a incumbˆencia de provar que V ´e um espa¸co vetorial. 1.2.1 Produto de Vetores Uma pergunta pertinente seria: Existem produtos de vetores? Um produto em um espa¸co vetorial V seria, segundo a defini¸c˜ao 55 (p. 419), qualquer aplica¸c˜ao · : V × V → V (u, v) → u·v Sendo assim estamos livres para definir produto de vetores em muitos (qui¸c´a em todos) espa¸cos vetoriais, por exemplo ( I ) Em Rn, um produto poderia ser: (x1 , x2 , . . . , xn ) · (y1 , y2 , . . . , yn ) → (x1 y1 , x2 y2 , . . . , xn yn ) ( II ) Em Zn 2 , um produto poderia ser: x1 x2 . . . xn · y1 y2 . . . yn → (x1 y1 )(x2 y2 ) . . . (xn yn ) ( III) No espa¸co F das fun¸c˜oes reais podemos definir o produto f · g de dois vetores f e g assim: (f · g)(x) → f(x) · g(x) Deste modo podemos considerar que existem sim produto de vetores. A quest˜ao, n˜ao apenas no presente contexto − como tamb´em em muitos outros na matem´atica − n˜ao ´e se existe ou n˜ao um produto (ou outra opera¸c˜ao qualquer) mas sim se o produto definido vai resultar “interessante” do ponto de vista alg´ebrico (estrutural) ou de aplica¸c˜oes. Por exemplo, no espa¸co vetorial R2, o produto definido acima, isto ´e: (a, b) · (c, d) → (ac, bd) resultaria desinteressante sob os dois aspectos referidos; n˜ao obstante, pode- mos definir sobre este espa¸co um outro produto, qual seja∗: (a, b) · (c, d) → (ac − bd, ad + bc) ∗ Esta multiplica¸c˜ao, juntamente com a adi¸c˜ao usual, resulta na estrutura conhecida como n´umeros complexos (p. 20). Observe que n˜ao estamos “misturando” as estruturas, estamos afirmando que esse produto poderia ser acrescido `a estrutura de espa¸co vetorial. 42
  • 45. Este, ao contr´ario do produto anterior, j´a resulta bem interessante sob qual- quer dos crit´erios mencionados. Por exemplo, o espa¸co vetorial R2 “enrique- cido” com esse produto nos permitiria gerar as belas figuras conhecidas como fractais, como as vistas a seguir: 1.2.2 Primeiras Propriedades num Espa¸co Vetorial Os iniciantes n˜ao est˜ao preparados para o verdadeiro rigor matem´atico; s´o veriam nisso v˜as e fastidiosas sutilezas, perder´ıamos nosso tempo se quis´essemos, cedo demais, torn´a-los mais exigentes. (Poincar´e) Observe que algumas proposi¸c˜oes matem´aticas, at´e mesmo nos inteiros (para n˜ao falar nos reais), tais como 0 x = 0 ou 2 · (−1) = −2 ou − 3 + 2 = −1 tidas por muitos como “´obvias”, n˜ao tˆem nada de triviais, a bem da ver- dade a maioria das pessoas com esse sentimento foram apenas condicionadas (adestradas) a pensar assim. Por exemplo, vocˆe saberia demonstrar as igual- dades acima a partir das opera¸c˜oes de adi¸c˜ao e multiplica¸c˜ao nos inteiros? Lembre-se: “O acaso pode fazer com que uma opini˜ao seja verdadeira, mas nem por isso ela deixa de ser uma opini˜ao, isto ´e, uma cren¸ca e n˜ao um saber.” (Simone Manon) 43
  • 46. Pois bem, em matem´atica prova-se algumas proposi¸c˜oes “intuitivamente ´obvias” tais como: 0 x = 0 ou, o que ´e “pior” , 1 > 0. Perguntamos: afinal de contas o que deve ser provado e o que n˜ao deve ser provado, em uma dada teoria? Esta pergunta fica f´acil de responder no caso das teorias desenvolvi- das axiomaticamente, como ´e o caso dos espa¸cos vetoriais. Respondemos: assumimos, axiomaticamente, que todo espa¸co vetorial; digo, todos os ve- tores, satisfazem as oito propriedades A1), . . . , A4); M1), . . . , M4) listadas na defini¸c˜ao de espa¸co vetorial (p. 14); qualquer afirmativa sobre vetores, por mais “´obvia” que seja e que n˜ao consta naquela lista, deve ser provada, como por exemplo, as listadas a seguir. Seja V um espa¸co vetorial com escalares em R. As propriedades provadas a seguir s˜ao consequˆencias da defini¸c˜ao de espa¸co vetorial. (p. 12) P1 ) Para todo λ ∈ R, temos λ 0 = 0 Prova: λ 0 = λ 0 + 0 [ Exigˆencia A3) ] = λ 0 + [ λ 0 + − (λ 0) ] [ Exigˆencia A4) ] = (λ 0 + λ 0) + − (λ 0) [ Exigˆencia A2) ] = λ ( 0 + 0) + − (λ 0) [ Exigˆencia M3) ] = λ 0 + − (λ 0) [ Exigˆencia A3) ] = 0 [ Exigˆencia A4) ] P2 ) Para todo u ∈ V , temos 0 u = 0 Note a diferen¸ca entre esta propriedade e a anterior. Em P1 provamos que qualquer escalar (n´umero) multiplicado pelo vetor nulo resulta no vetor nulo; em P2 devemos provar que o n´umero 0 multiplicado por qualquer vetor deve resultar no vetor nulo. Prova: 0 u = (0 + 0) u [ Neutro em R ] 0 u = 0 u + 0 u [ Exigˆencia M2) ] −(0 u) + 0 u = −(0 u) + (0 u + 0 u) [ Somando o oposto de 0 u ] 0 = − (0 u) + 0 u + 0 u [ Exigˆencias A3) e A2) ] 0 = 0 + 0 u [ Exigˆencia A4) ] 0 = 0 u [ Exigˆencia A3) ] 44
  • 47. P3 ) Para λ ∈ R e u ∈ V , temos Se λ u = 0, ent˜ao λ = 0 ou u = 0. (1.10) Na prova desta simples proposi¸c˜ao temos a oportunidade de ilustrar v´arias das t´ecnicas de demonstra¸c˜oes matem´aticas vistas no cap´ıtulo para consultas (´ultimo). Vamos prov´a-la utilizando trˆes t´ecnicas distintas: 1a ) Prova: Utilizaremos a t´ecnica de demonstra¸c˜ao (T − 3) (p. 436): H =⇒ T ⇐⇒ H ∧ ¯T =⇒ f Destacando a hip´otese e a tese em nossa proposi¸c˜ao, temos: H : λ u = 0, T : λ = 0 ou u = 0. Sendo assim, temos: H ∧ ¯T : λ u = 0 ∧ ( λ = 0 e u = 0 ) (1.11) Se λ = 0 ent˜ao existe o n´umero real n˜ao-nulo λ−1. Sendo assim vamos multiplicar λ u = 0 por λ−1, obtendo: λ−1 ( λ u ) = λ−1 0 Aplicando a exigˆencia M1) (p. 13) e a propriedade P1 chegamos a, ( λ−1 λ ) u = 0 Ou ainda, 1 u = 0 Aplicando agora a exigˆencia M4), temos: u = 0. Invocando a hip´otese (1.11), exibimos o seguinte absurdo: u = 0 e u = 0. 2a ) Prova: Utilizaremos a t´ecnica de demonstra¸c˜ao (T − 4): (p. 436) H1 ∧ H2 =⇒ T ⇐⇒ H1 ∧ ¯T =⇒ ¯H2 Para utilizar esta t´ecnica vamos provar a contrapositiva∗ da proposi¸c˜ao (1.10), isto ´e, vamos provar: Se λ = 0 H1 e u = 0 H2 ent˜ao λ u = 0 T . ∗ T´ecnica (T − 1) (p. 435). 45
  • 48. Sendo assim, temos, H1 ∧ ¯T : λ = 0 e λ u = 0. Se λ = 0 ent˜ao existe o n´umero real n˜ao-nulo λ−1. Sendo assim vamos multiplicar λ u = 0 por λ−1, obtendo: λ−1 ( λ u ) = λ−1 0 Aplicando a exigˆencia M1) (p. 13) e a propriedade P1 chegamos a, ( λ−1 λ ) u = 0 Ou ainda, 1 u = 0 Aplicando agora a exigˆencia M4), temos: u = 0. 3a ) Prova: Utilizaremos a t´ecnica de demonstra¸c˜ao (T − 7): (p. 439) H =⇒ T1 ∨ T2 ⇐⇒ H ∧ ¯T1 =⇒ T2 Inicialmente vamos reescrever a proposi¸c˜ao da seguinte forma: H : λ u = 0 ⇒    T1 : λ = 0 ou T2 : u = 0 Temos, H ∧ ¯T1 : λ u = 0 e λ = 0. Sendo assim existe o n´umero real λ−1, multiplicando λ u = 0 por λ−1, obtemos λ−1 ( λ u ) = λ−1 0 ⇒ ( λ−1 · λ )u = 0 ⇒ 1 u = 0 ⇒ u = 0 Interregno cultural: Na pr´oxima proposi¸c˜ao deveremos provar as seguintes igualdades, (−λ) u = −(λ u) = λ (−u) (1.12) Em um espa¸co vetorial arbitr´ario isto n˜ao chega a ser t˜ao ´obvio quanto `a primeira vista poderia parecer a um leitor desatento. Com efeito, `a esquerda o sinal “−” se refere ao oposto de um escalar no corpo R; no centro o sinal “−” se refere ao oposto do produto do escalar λ pelo vetor u em V e, na direita, o sinal “−” se refere ao oposto de um vetor no espa¸co arbitr´ario V . Tendo em conta que a defini¸c˜ao de oposto est´a amarrado (conexo) `a opera¸c˜ao de “adi¸c˜ao” em V (como tamb´em em R), conforme defini¸c˜ao de oposto em A4) (p. 13), ´e f´acil concluir que o primeiro “−” n˜ao tem nada a ver com os outros dois e, portanto, as igualdades (1.12) nada tˆem de triviais. 46
  • 49. Por exemplo, tomemos, no espa¸co vetorial do exemplo 9 (p. 38), λ = 2 e u = 3, neste caso as igualdades (1.12), se traduzem assim: (−2) 3 = −(2 · 3) = 2 (−3) ou ainda, (−2) 3 = −( 32 ) = 2 · 1 3 O que n˜ao chega a ser t˜ao “evidente” quanto a rela¸c˜ao hom´ologa nos reais. P4 ) Para λ ∈ R e todo u ∈ V , temos (−λ) u = −(λ u) = λ (−u) Prova: (−λ) u + λ u = (−λ) + λ u [ Exigˆencia M2) ] = 0 u [ Defini¸c˜ao de oposto em R ] = 0 [ Propriedade P2 ] ⇓ −(λ u) + [ (−λ) u + λ u ] = −(λ u) + 0 [ Somando −(λ u) ] −(λ u) + [ λ u + (−λ) u ] = −(λ u) [ Exigˆencias A1) e A3) ] [ −(λ u) + λ u ] + (−λ) u = −(λ u) [ Exigˆencia A2) ] (−λ) u = −(λ u) [ Exigˆencias A4) e A3) ] Por outro lado, λ (−u) + λ u = λ (−u + u) [ Exigˆencia M3) ] = λ 0 [ Exigˆencia A4) ] = 0 [ Propriedade P1 ] ⇓ −(λ u) + [ λ (−u) + λ u ] = −(λ u) + 0 [ Somando −(λ u) ] −(λ u) + [ λ u + λ (−u) ] = −(λ u) [ Exigˆencias A1) e A3) ] [ −(λ u) + λ u ] + λ (−u) = −(λ u) [ Exigˆencia A2) ] λ (−u) = −(λ u) [ Exigˆencias A4) e A3) ] Corol´ario 1. Em todo espa¸co vetorial V , temos: (−1) u = −u. Prova: Substituindo λ = 1, na propriedade anterior temos: (−λ) u = −(λ u) (−1) u = −(1 u) = −u 47
  • 50. Nota: Na estrutura dos n´umeros Hipercomplexos (p. 20) temos −1·u = −u. Por exemplo, tome u = (0, 1) e −1 = (−1, 0). Diferen¸ca entre vetores: Em um espa¸co vetorial V define-se diferen¸ca entre dois vetores u e v assim: u − v = u + (−v) P5 ) Quaisquer que sejam λ, µ ∈ R e u ∈ V , temos (λ − µ) u = λ u − µ u Prova: (λ − µ) u = λ + (−µ) u [ Diferen¸ca em R ] = λ u + (−µ) u [ Exigˆencia M2) ] = λ u + − (µ u) [ Propriedade P4 ] = λ u − µ u [ Diferen¸ca em V ] P6 ) Quaisquer que sejam λ ∈ R, u e v em V , temos λ (u − v) = λ u − λ v Prova: An´aloga `a anterior (exerc´ıcio). P7 ) O vetor nulo de um espa¸co vetorial ´e ´unico. Ou seja, existe um ´unico vetor 0 que satisfaz a exigˆencia A3). (p. 12) Prova: Com efeito, suponhamos que ¯0 seja um outro vetor satisfazendo aquela exigˆencia. Ent˜ao, 0 + ¯0 = 0 [ ¯0 ´e vetor nulo ] ¯0 + 0 = ¯0 [ 0 ´e vetor nulo ] ⇓ 0 = ¯0 [ Comutatividade da adi¸c˜ao ] 48
  • 51. P8 ) Para cada vetor u de um espa¸co vetorial V existe um ´unico vetor −u, oposto de u. Prova: Suponhamos que ¯u seja um outro vetor oposto de u; ent˜ao, pela defini¸c˜ao de oposto podemos escrever u + ¯u = 0. −u = −u + 0 [ Exigˆencia A3) ] = −u + (u + ¯u) [ ¯u ´e oposto de u ] = (−u + u) + ¯u [ Exigˆencia A2) ] = 0 + ¯u [ −u ´e oposto de u ] = ¯u [ Exigˆencia A3) ] P9 ) Se u, v e w ∈ V e u + v = u + w, ent˜ao v = w (Num espa¸co vetorial vale a lei do cancelamento na adi¸c˜ao). Prova: (−u) + (u + v) = (−u) + (u + w) [ Somando (−u) `a hip´otese ] (−u + u) + v = (−u + u) + w [ Exigˆencia A2) ] 0 + v = 0 + w [ Exigˆencia A4) ] v = w [ Exigˆencia A3) ] P10 ) Se u, w ∈ V , ent˜ao existe um ´unico vetor v tal que u + v = w. Prova: Inicialmente observemos que w+(−u) satisfaz a equa¸c˜ao dada. Com efeito, u + w + (−u) = u + (−u) + w = u + (−u) + w = 0 + w = w Suponhamos agora que existam dois vetores, ¯v e v′, satisfazendo a equa¸c˜ao dada. Logo, u + ¯v = w u + v′ = w ⇒ u + ¯v = u + v′ pela lei do cancelamento da adi¸c˜ao resulta ¯v = u′. 49
  • 52. 1.2.3 Exerc´ıcios 1) Seja V = (x, y): x, y ∈ R o conjunto de pares ordenados de n´umeros reais, tome dois elementos neste conjunto, u = (a, b) e v = (c, d), e considere as seguintes opera¸c˜oes de adi¸c˜ao e multiplica¸c˜ao por escalar: u + v = ( a + b, c + d ), λ u = ( λ a, |λ| b ) ( a ) Para u = (2, −1), v = (4, 3) e λ = −1, calcule u + v, λ u e λ v. ( b ) Perguntamos se V ´e um espa¸co vetorial. 2) Seja V = (x, y, z): x, y, z ∈ R o conjunto de ternos ordenados de n´umeros reais, tome dois elementos neste conjunto, u = (a, b, c) e v = (d, e, f), e considere as seguintes opera¸c˜oes de adi¸c˜ao e multiplica¸c˜ao por escalar: u + v = ( a + d + 1, b + e + 1, c + f + 1 ), λ u = ( λ a, λ b, λ c ) ( a ) Para u = (1, 1, 1), v = (−1, 0, 1) e λ = 2, calcule u + v, λ u e λ v. ( b ) Quem seria, 0, o candidato a vetor nulo? ( c ) Quem seria, −u, o oposto de u? ( d ) Perguntamos se V ´e um espa¸co vetorial. 3) No exemplo 9, p. 38, se incluirmos o 0 no conjunto V ainda assim teremos um espa¸co vetorial? 4) Ainda com respeito ao espa¸co vetorial do exemplo 9, considerando que todos os vetores s˜ao positivos, isto ´e, V = { x ∈ R: x > 0 }, perguntamos se faz sentido a seguinte adi¸c˜ao: −1 + (−2), caso sim, qual o seu valor? 5) Considere o exemplo 10, p. 41; dados os vetores u = (2, 1), v = (1, 2) e w = −(2, 1); encontre o seguinte vetor: 2 u + (−1 v) + w. 6) Considere no espa¸co vetorial R3 os vetores u = (1, 1, 1), v = (−1, −1, 1) e w = (1, −1, −1). ( a ) Localize-os geometricamente. ( b ) Calcule o vetor 3 u − 2 v + 1 2 w. ( c ) Resolva a equa¸c˜ao 2 u + 1 3 x = w − v. 7) No espa¸co vetorial M2×3 (R), considere os vetores: u = 1 0 0 1 0 0 , v = 0 2 1 1 1 1 , w = 2 −6 −3 −1 −3 −3 ( a ) Calcule o vetor 2u − 3v − w. ( b ) Existem λ, µ ∈ R tais que w = λ u + µ v ? 50
  • 53. 8) Considere o espa¸co vetorial F, onde, F = f : [ −1, 1 ] → R com as opera¸c˜oes usuais (ponto a ponto) − ver p. 33. Neste espa¸co considere os vetores f, g e h dados assim: f(x) = |x|, g(x) = x e h(x) = x2 ( a ) Fa¸ca um esbo¸co geometrico destes vetores (plote seus gr´aficos). ( b ) Esboce o gr´afico dos vetores −f, −g e −h. ( c ) Esboce o gr´afico dos vetores f + g e f + h. ( d ) Encontre o vetor 2f + 3g − h. 9) No espa¸co vetorial P3 (R) considere os vetores f, g e h dados assim: f(x) = x − 1, g(x) = 3x2 − 2x + 1 e h(x) = x3 − 1 ( a ) Calcule o vetor 2f − 3g + 2h. ( b ) Calcule o vetor f · g + 2h. ( c ) Existem λ, µ ∈ R tais que h = λ f + µ g ? ( d ) Existem λ, µ ∈ R tais que h = λ ( f · g ) + µ f ? 10) Mostre que, num espa¸co arbitr´ario, −(−u) = u. 11) Sejam s1 , s2 , . . . , sn s´ımbolos e seja K um corpo qualquer. Seja V o conjunto das express˜oes do tipo abaixo λ1 s1 + λ2 s2 + · · · + λn sn onde λi ∈ K. Definimos a adi¸c˜ao e a multiplica¸c˜ao por escalar em V por (λ1 s1 + · · · + λn sn ) + (γ1 s1 + · · · + γn sn ) = (λ1 + γ1 ) s1 + · · · + (λn + γn ) sn µ (λ1 s1 + λ2 s2 + · · · + λn sn ) = µ λ1 s1 + µ λ2 s2 + · · · + µ λn sn Mostre que V ´e um espa¸co vetorial sobre K com as opera¸c˜oes acima. 12) Mostre que no espa¸co de c´odigos Z2 2 as opera¸c˜oes de adi¸c˜ao e subtra¸c˜ao coincidem, isto ´e u − v = u + (−v) = u + v, ∀ u, v ∈ Z2 2 13) Prove que a equa¸c˜ao (1.4) (p. 31) efetivamente gera os vetores do espa¸co de c´odigos Zn 2 . 14) Fixado arbitrariamente um n´umero primo p considere o seguinte sub- conjunto Zp dos inteiros dado por Zp = { 0, 1, 2, . . . , p − 1 } 51
  • 54. Tomemos dois elementos arbitr´arios x e y em Zp e vamos definir sobre este conjunto duas opera¸c˜oes; a uma delas chamaremos de adi¸c˜ao e a outra chamaremos de multiplica¸c˜ao, assim definidas: x + y = resto da divis˜ao de x + y por p; x · y = resto da divis˜ao de x · y por p. Em ´Algebra Moderna (ver por exemplo [11]) prova-se que o sistema alg´ebrico Zp = (Zp , +, ·) ´e um corpo (quando p ´e um n´umero primo). Ent˜ao, pelo exemplo 4 (p. 24) resulta que Zn p s˜ao espa¸cos vetoriais. Construa as t´abuas das opera¸c˜oes em Z3 . Encontre o conjunto Z2 3 . No espa¸co Z2 3 encontre as seguintes somas de vetores: ( a ) 11+ 22 ( b ) 10+ 01 ( c ) 21+ 12 ( d ) 11− 22 ( e ) 10− 01. Neste mesmo espa¸co execute as seguintes opera¸c˜oes: ( a ) 2 · 22 ( b ) 2 [ −(01) ] ( c ) 2 [ −(10) ] ( d ) 2 [ 11 − 22 ] ( e ) 2 [ −(11) + 22 ]. 15) Mostre que a f´ormula para gerar os c´odigos bin´arios tamb´em pode ser escrita assim: (eq. (1.4), p. 31) xij =    1, se i−1 2 j−1 ´e ´ımpar; 0, se i−1 2 j−1 ´e par. Estamos assumindo que m n =    m! n! (m − n)! , se m ≥ n; 0 , se m < n. 16) A conhecida f´ormula da an´alise combinat´oria n r = n ! r! (n−r)! nos fornece o n´umero de combina¸c˜oes dos n elementos de um conjunto A, tomados r a r. Mas esta f´ormula n˜ao nos fornece as tais combina¸c˜oes. Prove que a f´ormula (1.4) serve a esse prop´osito. (p. 31) Sugest˜ao: Para n = 4, por exemplo, considere A = { a1 , a2 , a3 , a4 }, disponha os elementos de Z4 2 segundo uma tabela (matriz) de 4 linhas por 24 colunas − cada coluna correspondendo a um elemento do conjunto. Convencione que onde ocorre 1 o elemento entra na combina¸c˜ao e que onde ocorre 0, n˜ao entra. A prova dever´a ser feita para n arbitr´ario. 52
  • 55. 1.2.4 Subespa¸cos Vetoriais Defini¸c˜ao 3 (Subespa¸co vetorial). Sejam V um espa¸co vetorial e U ⊂ V um subconjunto n˜ao vazio de V . O subconjunto U ´e um subespa¸co vetorial de V se U ´e um espa¸co vetorial em rela¸c˜ao `a adi¸c˜ao e `a multiplica¸c˜ao por escalar definidas em V . Para mostrar que U ´e um subespa¸co vetorial de V devemos, a princ´ıpio, verificar as oito exigˆencias de espa¸co vetorial relativas `a adi¸c˜ao e `a multi- plica¸c˜ao por escalar (quadro amarelo, p. 14). Entretanto, como U ´e sub- conjunto de V , e sendo V − por hip´otese − um espa¸co vetorial, resulta que n˜ao h´a necessidade da verifica¸c˜ao de certas exigˆencias em U. Por exemplo, a exigˆencia A1) diz que u + v = v + u, ∀ u, v ∈ V . Ora, se a comutativi- dade da adi¸c˜ao vale para todos os elementos de V em particular tamb´em vale para todos os elementos de U. O mesmo raciocinio podemos aplicar a outras exigˆencias para espa¸co vetorial. A proposi¸c˜ao seguinte facilita bastante quando devemos mostrar que dado subconjunto ´e um subespa¸co vetorial. Proposi¸c˜ao 1 (Subespa¸co Vetorial). Seja V um espa¸co vetorial. Um sub- conjunto U ⊂ V , n˜ao vazio, ´e um subespa¸co vetorial de V se, e somente se, ´e fechado para as opera¸c˜oes de adi¸c˜ao e multiplica¸c˜ao por escalar de V ; ou seja, se I ) Para quaisquer u, v ∈ U, tem-se: u + v ∈ U; II ) Para quaisquer λ ∈ R, u ∈ U, tem-se: λ u ∈ U. Prova: (⇒) H : U ⊂ V ´e subespa¸co vetorial de V ; T : U ´e fechado para as opera¸c˜oes de espa¸co vetorial. Se U ´e um subespa¸co, ent˜ao obviamente as condi¸c˜oes I ) e II ) s˜ao satis- feitas. Reciprocamente, (⇐) H : U ´e fechado para as opera¸c˜oes de espa¸co vetorial; T : U ⊂ V ´e subespa¸co vetorial de V . Suponha que as condi¸c˜oes I ) e II ) s˜ao satisfeitas para U. Vamos mostrar que as oito exigˆencias de espa¸co vetorial tamb´em s˜ao satisfeitas em U. De fato, tomemos u ∈ U. Pela condi¸c˜ao II ), λ u ∈ U para todo λ ∈ R; sendo assim, tomemos λ = 0, logo 0 u ∈ U, ou seja, 0 ∈ U. Tomando agora λ = −1, segue que (−1) u = −u ∈ U. As demais exigˆencias A1), A2), M1), M2), M3) e M4) de espa¸co vetorial s˜ao verificadas em U pelo fato de U ser um subconjunto n˜ao-vazio de V . Observe, por II ) acima, que se U ´e um subespa¸co de V ent˜ao U deve necess´ariamente conter o vetor nulo 0 de V . Com efeito, tomando λ = 0 ∈ R e u ∈ U arbitr´ario, resulta 0 u = 0 ∈ U. Podemos registrar este achado na forma de uma proposi¸c˜ao. 53
  • 56. Proposi¸c˜ao 2. Todo subespa¸co U de um espa¸co vetorial V deve conter o vetor 0 de V . Assim um subconjunto U que n˜ao contenha o vetor 0 n˜ao ´e um subespa¸co. Nota: Todo espa¸co vetorial V admite pelo ao menos dois subespa¸cos: { 0 }, chamado subespa¸co nulo, e o pr´oprio espa¸co vetorial V . Esses dois subespa¸cos s˜ao conhecidos como subespa¸cos triviais. Exemplos: 1) Consideremos o espa¸co vetorial R2 e o subconjunto, U = { (x, y) ∈ R2 : x + y = 0 } dos pontos cuja soma das coordenadas ´e nula. Vamos mostrar que U ´e um subespa¸co de R2. Prova: De fato, de acordo com a Proposi¸c˜ao 1 devemos inicialmente mostrar que U = ∅; mas isto ´e f´acil porquanto 0 = (0, 0) ∈ U, uma vez que: 0 = (0, 0) ↓ ↓ x + y = 0 Para provar a condi¸c˜ao, I ), isto ´e, que U ´e fechado para a opera¸c˜ao de adi¸c˜ao, tomemos dois elementos arbitr´arios em U: u = (a, b) e v = (c, d). Devemos provar que u + v = (a, b) + (c, d) = (a + c, b + d) ∈ U para isto ´e suficiente mostrar que: (a + c) + (b + d) = 0 (1.13) A nosso favor contamos com a hip´otese de que u = (a, b) e v = (c, d) est˜ao em U, o que se traduz nas seguintes equa¸c˜oes: a + b = 0 c + d = 0 somando-as obtemos, (a + b) + (c + d) = 0 ⇒ (a + c) + (b + d) = 0 o que prova (1.13). Agora s´o nos resta mostrar que U ´e tamb´em fechado para a multiplica¸c˜ao por escalar. Para isto, pela condi¸c˜ao II )(da Proposi¸c˜ao 1), devemos fixar λ ∈ R e u = (a, b) ∈ U arbitr´ariamente, e mostrar que λ u = (λ a, λ b) ∈ U, para isto ´e suficiente mostrar que: (λ a) + (λ b) = 0 (1.14) 54
  • 57. A nosso favor contamos com a hip´otese de que u = (a, b) est´a em U, o que se traduz na seguinte equa¸c˜ao: a + b = 0 multiplicando esta equa¸c˜ao por λ, obtemos λ (a + b) = 0 ⇒ (λ a) + (λ b) = 0 o que prova (1.14). Os vetores em U s˜ao os pontos (x, y), do plano, cujas coordenadas satis- fazem a equa¸c˜ao x + y = 0, ou ainda, y = −x. S˜ao os pontos da bissetriz dos quadrantes ´ımpares. Podemos visualizar geometricamente o subespa¸co U deste exemplo, assim: 1 2 3 −1−2 0 1 2 3 x y U x+y = 0 Nota: Para que U ⊂ V seja um subespa¸co ´e uma condi¸c˜ao necess´aria, mas n˜ao suficiente, que 0 ∈ U. Em outras palavras: o vetor nulo obrigato- riamente est´a em todo subespa¸co. Ou ainda, se 0 ∈ U j´a podemos descarta U como subespa¸co. Entretanto, se o vetor nulo est´a em U, isto por si s´o n˜ao ´e suficiente para garantir que U seja um espa¸co vetorial. No exemplo seguinte mostramos um contraexemplo, 2) Consideremos o espa¸co vetorial R2 e o subconjunto, U = { (x, y) ∈ R2 : y = |x| } dos pontos cuja ordenada ´e o valor absoluto da abscissa. Inicialmente observamos que 0 = (0, 0) ∈ U uma vez que: 0 = (0, 0) y = |0| 55
  • 58. − Para mostrar que um dado U ⊂ V ´e um subespa¸co de V devemos mostrar que o mesmo satisfaz as condi¸c˜oes I ) e II ) da Proposi¸c˜ao 1; agora para mostrar que que U n˜ao ´e um subespa¸co a´ı fica mais f´acil, basta exibir um contra-exemplo. Digo, basta exibir dois pontos u e v em U, cuja soma u + v n˜ao pertence a U; ou ainda, basta exibir um ponto u em U e um escalar λ ∈ R de modo que o produto λ u ∈ U. No caso em quest˜ao tomemos u = (−1, 1) e v = (2, 2) pontos de U, temos que, u + v = (−1, 1) + (2, 2) = (−1 + 2, 1 + 2) = (1, 3) ∈ U (devido a que 3 = |1| ) Alternativamente, poderiamos ter provado que U n˜ao ´e um subespa¸co vetorial de R2 tomando, por exemplo, u = (−1, 1) ∈ U e λ = −1 ∈ R. De fato, λ u = −1 (−1, 1) = (−1 · (−1), −1 · 1) = (1, −1) ∈ U (devido a que −1 = |1| ) Geometricamente tudo se passa assim: 1 2 3 −1 −1−2 0 1 2 3 x y t t t t u v λ u ∈ U u + v ∈ U U U 3) R2 n˜ao ´e um subespa¸co de R3 , pois R2 n˜ao ´e um subconjunto de R3. 4) Seja V um espa¸co vetorial. Seja u um vetor arbitrariamente fixado em V . Vamos mostrar que o conjunto, U = { λ u: λ ∈ R } dos m´ultiplos escalares de u, ´e um subespa¸co vetorial de V . Prova: Antes de mais nada observe que no conjunto U acima temos in- finitos elementos; digo, a cada n´umero real corresponde um elemento neste conjunto, assim: 56
  • 59. 0 1 2 3−3 −2 −1 R · · ·· · · s λ λ u ∈ U ↔ I ) Inicialmente vamos mostrar que U ´e fechado para a adi¸c˜ao. Para tanto tomemos dois elementos arbitr´arios v e w em U e mostremos que v + w ∈ U. Se v e w est˜ao em U ent˜ao, pela defini¸c˜ao de U, existem dois escalares µ e ν em R tais que: v = µ u e w = ν u logo, v + w = µ u + ν u Como, por hip´otese, u est´a em V que ´e um espa¸co vetorial, segue que pode- mos aplicar o axioma M2) (p. 13) para concluir que v + w = (µ + ν) u. Como µ + ν ∈ R segue que v + w ∈ U. II ) Agora mostremos que U ´e fechado para a multiplica¸c˜ao por escalar. Para tanto fixemos, arbitrariamente, um ponto v em U e um escalar λ em R e mostremos que λ v ∈ U. Com efeito, como v est´a em U, existe um escalar µ em R tal que: v = µ u; logo, λ v = λ (µ u) Como, por hip´otese, u est´a em V que ´e um espa¸co vetorial, segue que pode- mos aplicar o axioma M1) para concluir que λ v = (λ µ) u. Como λ µ ∈ R segue que λ v ∈ U. O subespa¸co, U = { λ u: λ ∈ R } pode ser apelidado de “a reta que passa pela origem e cont´em u”. Este poss´ıvel apelido se deve a que nos espa¸cos vetoriais V = R2 e V = R3 ´e precisamente isto que acontece. Para contextualizar vejamos dois exemplos: 1o ) Fixemos V = R2 e u = (2, 1). Sendo assim, temos: U = { λ (2, 1): λ ∈ R } = { (2λ, λ): λ ∈ R } Por exemplo, λ = −1 ⇒ λ u = (2 · (−1), −1) = (−2, −1) λ = −1 2 ⇒ λ u = (2 · −1 2 , −1 2) = (−1, −1 2) λ = 0 ⇒ λ u = (2 · 0, 0) = (0, 0) λ = 1 2 ⇒ λ u = (2 · 1 2, 1 2) = (1, 1 2) λ = 1 ⇒ λ u = (2 · 1, 1) = (2, 1) 57
  • 60. Geometricamente, temos, t t t t t U u −1 u − 1 2 u 1 2 3 −1−2−3 0 1 2 3 x y 2o ) Fixemos V = R3 e u = (1, 2, 1). Sendo assim, temos: U = { λ (1, 2, 1): λ ∈ R } = { (λ, 2λ, λ): λ ∈ R } Por exemplo, λ = −1 ⇒ λ u = (−1, 2 · (−1), −1) = (−1, −2, −1) λ = −1 2 ⇒ λ u = (−1 2, 2 · −1 2 , −1 2) = (−1 2, −1, −1 2) λ = 0 ⇒ λ u = (0, 2 · 0, 0) = (0, 0, 0) λ = 1 2 ⇒ λ u = (1 2, 2 · 1 2, 1 2) = (1 2 , 1, 1 2 ) λ = 1 ⇒ λ u = (1, 2 · 1, 1) = (1, 2, 1) Geometricamente, temos, x y z u U −1 u 5) Sejam o espa¸co vetorial V = M2×2(R) das matrizes de ordem 2 × 2, com entradas reais; ou ainda, V = a b c d : a, b, c, d ∈ R 58
  • 61. e, U = a b 0 0 : a, b ∈ R isto ´e, U ´e o conjunto das matrizes quadradas, de ordem 2, cujos elementos da segunda linha s˜ao nulos. Vamos provar que U ´e um subespa¸co vetorial de V . Prova: Com efeito, fixemos u, v ∈ U arbitr´arios, assim: u = a b 0 0 , v = c d 0 0 . Ent˜ao, u + v = a b 0 0 + c d 0 0 = a + c b + d 0 0 ∈ U. Agora tomemos λ ∈ R arbitr´ario, ent˜ao λ u = λ a b 0 0 = λ a λ b λ 0 λ 0 = λ a λ b 0 0 ∈ U. Portanto, U ´e subespa¸co vetorial de M2×2(R). 6) Considere o espa¸co vetorial F de fun¸c˜oes (p. 33). Considere, ademais o conjunto Up = f ∈ F: f(−x) = f(x), para todo x ∈ R das fun¸c˜oes, f : R → R pares, e o conjunto UI = f ∈ F: f(−x) = −f(x), para todo x ∈ R das fun¸c˜oes, f : R → R ´ımpares. Afirmamos que Up e UI s˜ao, ambos, subespa¸cos vetoriais de F. Faremos a prova para Up e deixaremos a outra como exerc´ıcio. Com efeito, fixemos g, h ∈ Up e provemos que g +h ainda ´e uma fun¸c˜ao par. Isto ´e, devemos mostrar que, (g + h)(−x) = (g + h)(x), ∀ x ∈ R A nosso favor contamos com a hip´otese de que g e h s˜ao fun¸c˜oes pares, logo g(−x) = g(x), ∀ x ∈ R h(−x) = h(x), ∀ x ∈ R somando estas duas equa¸c˜oes obtemos, g(−x) + h(−x) = g(x) + h(x), ∀ x ∈ R 59
  • 62. Agora aplicamos a defini¸c˜ao de adi¸c˜ao (eq. (1.6), p. 33) em ambos os membros desta equa¸c˜ao para obter, (g + h)(−x) = (g + h)(x), ∀ x ∈ R. Agora seja λ ∈ R um escalar arbitrariamente fixado. Provemos que λ g ´e uma fun¸c˜ao par, isto ´e, que (λ g)(−x) = (λ g)(x), ∀ x ∈ R Com efeito, sendo g, por hip´otese, uma fun¸c˜ao par, temos g(−x) = g(x), ∀ x ∈ R multiplicando esta equa¸c˜ao por λ, obtemos: λ g(−x) = λ g(x), ∀ x ∈ R Agora aplicamos a defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao por escalar (eq. (1.7), p. 34) em ambos os membros desta equa¸c˜ao para obter, (λ g)(−x) = (λ g)(x), ∀ x ∈ R. 7) O conjunto C(X, R) das fun¸c˜oes reais cont´ınuas, com dom´ınio no conjunto X, ´e um subespa¸co do espa¸co F(X, R) (ver eq. (1.8), p. 37). De fato, sabe-se do C´alculo que a soma de fun¸c˜oes cont´ınuas ´e ainda uma fun¸c˜ao cont´ınua e o mesmo acontece com a multiplica¸c˜ao de uma fun¸c˜ao cont´ınua por um escalar. 8) O espa¸co Pn ( R ) ´e, por sua vez, um subespa¸co de C(X, R), porquanto um polinˆomio, p(x) = a0 + a1 x + a2 x2 + · · · + an xn pode ser visto como uma fun¸c˜ao cont´ınua e, ademais, a soma de dois polinˆomios ´e um polinˆomio e o produto de um n´umero real por um polinˆomio ´e um polinˆomio. Podemos escrever, Pn ( R ) ⊂ C(X, R) ⊂ F(X, R) 9) Um outro exemplo de subespa¸co ´e o de todos os polinˆomios que se anulam no 0. Com efeito, se p e q s˜ao dois de tais polinˆomios, ent˜ao a soma p + q e o m´ultiplo por escalar λ p tamb´em se anulam em 0 pois, ( p + q )(0) = p(0) + q(0) = 0 + 0 = 0; (λ p)(0) = λ p(0) = λ 0 = 0. 10) Considere o seguinte conjunto de c´odigos: Z3 2 = { 000, 100, 010, 110, 001, 101, 011, 111 } O subconjunto U = { 000, 110, 011, 101 } ´e um subespa¸co de Z3 2 . Prove isto. 60
  • 63. Interse¸c˜ao de subespa¸cos No exemplo 4) vimos que o conjunto, U = { λ u: λ ∈ R } ´e um subespa¸co. Fazendo u variar obtemos uma fam´ılia de subespa¸cos. Ape- nas para ilustrar consideremos, novamente, V = R2. Observe, graficamente, alguns membros da fam´ılia, t u=(2, 1) u=(2, 1 2 ) u=(1, 2)u=(−1, √ 3 3 ) 1 2 3 −1−2−3 1 2 3 x y Observe que a interse¸c˜ao de todos estes subespa¸cos ´e a “origem”: { 0 }, que, por sua vez, ´e tamb´em um subespa¸co. Esta observa¸c˜ao pode ser generalizada dizendo-se que a interse¸c˜ao de qualquer fam´ılia (cole¸c˜ao) de subespa¸cos continua sendo um subespa¸co. Mais formalmente, 11) Seja V um espa¸co vetorial e L um conjunto de ´ındices. Se, para cada µ ∈ L, Uµ ´e um subespa¸co vetorial de V , ent˜ao a interse¸c˜ao µ∈L Uµ = U ´e ainda um subespa¸co vetorial de V . Apenas por curiosidade, o conjunto de´ındices L, da fam´ılia de subespa¸cos plotada anteriormente, pode ser considerado como os reais, digo, L = R onde o ´ındice que fixa cada subespa¸co ´e a inclina¸c˜ao (tangente) da reta, por exemplo, 61
  • 64. t µ= 1 2 µ= 1 4 µ=2µ=− √ 3 3 1 2 3 −1−2−3 1 2 3 x y Neste caso, temos µ∈R Uµ = { 0} 1.2.5 Soma de Subespa¸cos Sejam U e V dois subespa¸cos vetoriais de um espa¸co vetorial W. Defini¸c˜ao 4 (Soma de subespa¸cos). Indicaremos por U + V e chamaremos de soma de U com V o seguinte subconjunto de W: U + V = { u + v: u ∈ U e v ∈ V } Observe que um vetor w pertence a U + V se, e somente se, ele puder ser escrito na forma de uma soma w = u + v, com u ∈ U e v ∈ V . Exemplos: a ) U + { 0} = U. De fato, tomando V = { 0}, na defini¸c˜ao de soma, temos U + { 0} = { u + v: u ∈ U e v ∈ { 0} } = { u + 0: u ∈ U } = { u: u ∈ U } = U b ) U ⊂ U + V . De fato, seja u ∈ U um elemento arbitr´ario, queremos provar que, u ∈ U + V = { u + v: u ∈ U e v ∈ V }, como, por hip´otese, V ´e um subespa¸co temos que 0 ∈ V , logo, tomando v = 0, temos que u pode ser escrito como, u = u + 0, com u ∈ U e 0 ∈ V 62
  • 65. portanto, desta forma, todo elemento de U tem livre acesso ao conjunto U + V . De modo an´alogo provamos que V ⊂ U + V . Proposi¸c˜ao 3. Se U e V s˜ao subespa¸cos vetoriais de W, ent˜ao U + V ´e tamb´em um subespa¸co vetorial de W. Prova: Como U e V s˜ao subespa¸cos segue-se que 0 ∈ U e 0 ∈ V ; como, 0 + 0 = 0 ↓ ↓ U V isto significa que conseguimos escrever o vetor nulo como soma de dois ele- mentos, um de U e outro de V , portanto 0 ∈ U + V . Agora, sejam w1 e w2 dois elementos arbitr´arios de U + V , desejamos mostrar que w1 +w2 ∈ U +V . Com efeito, pelo fato de w1 e w2 estarem em U + V isto implica em que estes dois elementos podem ser escritos assim: w1 = u1 + v1 ↓ ↓ U V e w2 = u2 + v2 ↓ ↓ U V para algum u1 ∈ U e para algum v1 ∈ V , bem como para algum u2 ∈ U e para algum v2 ∈ V . Sendo assim, temos w1 + w2 = (u1 + v1 ) + (u2 + v2 ) ↓ ↓ U V ↓ ↓ U V Como u1 , v1 , u2 , v2 s˜ao vetores em W, podemos aplicar as propriedades comutativa e associativa, assim: w1 + w2 = (u1 + u2 ) + (v1 + v2 ) ↓ ↓ U U ↓ ↓ V V Como, por hip´otese, U e V s˜ao subespa¸cos segue-se que (u1 + u2 ) ∈ U e (v1 + v2 ) ∈ V , isto ´e, w1 + w2 = (u1 + u2 ) + (v1 + v2 ) ↓ U ↓ V Resumindo, mostramos que w1 + w2 pode ser escrito como soma de dois elementos, um de U e outro de V , portanto, w1 + w2 ∈ U + V . Finalmente, seja w ∈ U + V , um elemento arbitr´ario e λ ∈ R tamb´em arbitrariamente fixado. Devemos mostrar que λ w ∈ U + V . Como, por hip´otese, w ∈ U + V ent˜ao podemos escrever, w = u + v ↓ ↓ U V 63