SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 288
Baixar para ler offline
PROGRAMA 1
CHEGADA A PORTUGAL
Portugal é um país com uma área total de cerca de noventa e dois mil Km2.
Ocupa o extremo oeste da Europa, na zona ocidental da Península Ibérica e é
delimitado a norte e este por Espanha e a sul e oeste pelo Oceano Atlântico.
Compreende ainda os Arquipélagos dos Açores e da Madeira, no Atlântico Norte.
É um país rico pela sua história e diversidade. Independente desde 1139,
possui as fronteiras mais antigas da Europa e é a primeira nação deste continente
europeu a usar uma única língua: o português.
Podemos dizer que a diversidade de Portugal pode ser apreciada em quatro,
ou cinco, grandes blocos: o Norte, o Centro, o Sul e as Ilhas, que formam duas
regiões autónomas: a dos Açores e da Madeira.
Nesta série de programas vamos conhecer essa diversidade e também alguns
aspectos da língua portuguesa, na companhia de três amigos...
António: – Olá! Eu sou o António Silva. Estou no aeroporto à espera de um grande
amigo meu, o João Tavares. Ele vem passar as férias a Lisboa e vem com a prima, a
Ana Paula. O avião já aterrou, por isso acho que estão quase a aparecer ali ...
(...)
António: - João! Estou aqui! ...
João (para a Ana): – Olha o António! Está ali! (Para o António) – Que bom! Ainda bem
que estás aqui! Que bom voltar a ver-te! Como estás?
António: – Estou óptimo, obrigado.
1
João: – Este é o meu amigo António. (Para o António) - E tu, lembras-te da minha
prima Ana Paula? (Para os dois) Vocês já se encontraram, lembram-se?
Ana: – Claro que me lembro! (Para o António) - Que prazer em voltar a vê-lo! Como
está?
António: – Lembro-me perfeitamente. (Para a Ana) - Para mim também é um prazer
voltar a encontrá-la.
João: – Mas porque é que vocês não se tratam por tu? Deixem-se de cerimónias.
António: – Com certeza. Também concordo.
Ana: – Também acho. É muito mais prático.
António: – Então, a viagem? Foi boa?
Ana: – Boa, mas um bocado cansativa...
João: – Claro! Para a Ana todas as viagens são cansativas... É natural... Ela traz
sempre tantas malas!
António: – Bem, eu tenho ali o carro para vos levar ao hotel. Tenho pena de não vos
receber em minha casa, mas... tenho um apartamento muito pequeno...
João: – Por favor. Não tens de ter pena... nem tens de te incomodar connosco. Está
muito bem assim. Nós estamos de férias, podemos ficar no hotel, podemos passear e
fazer o que nos apetecer. Tu tens o teu trabalho. Encontramo-nos nos teus tempos
livres...
Ana: – Claro! Não tem importância. Podemos perfeitamente descobrir a cidade
sozinhos...
(...)
João: – Estou espantado! Não me lembro de nada disto! Há tanto tempo que não
venho cá!...
Ana: – Bem... está muito diferente!... É natural! Tudo muda com o tempo...
2
António: – Pois é! Há muitas coisas novas e outras antigas. Continua a ser uma
cidade de contrastes. Vocês vão gostar muito de Lisboa... e de Portugal inteiro!.
João: – Acho que sim! Quero ver tudo...
Ana: – Bom, tudo é impossível... mas eu também quero passear... Quero conhecer
um bocadinho da história portuguesa, quero fazer compras; quero comer aqueles
petiscos de que os meus pais falam tantas vezes...
António: – Ah! Isso é o mais fácil....Estou a ver... Planos não vos faltam!...
João: – Podes crer...
António: – E já cá estamos. Este é o vosso hotel.
(...)
Recepcionista: – Boa tarde. Façam favor....
João: – Boa tarde. Temos uma reserva de dois quartos individuais. Um em nome de
João Pedro Tavares ... e outro em nome de Ana Paula Martins.
Recepcionista: – Só um momento.... Ah! Exactamente. Cá está: A Sr.ª D. Ana Paula
tem o quarto n.º 806. tem uma vista muito bonita para a cidade. O Sr. Tavares tem o
quarto n.º 817 com vista para o castelo e para o rio
João: – Óptimo! Adoro ver água... e barcos... E tem varanda?
Recepcionista: – Tem, tem. Tem uma varanda. Não se importam de preencher aqui
esta ficha com os vossos dados pessoais? Depois vou precisar dos vossos
passaportes também. É só por um instante.
João: - Com certeza.
Recepcionista: – Muito obrigada. Aqui têm as chaves. O elevador fica à direita. Os
quartos ficam no 8º andar.
Ana: - Obrigada.
João: - Muito obrigado
António: – Bom. Então agora deixo-vos à vontade. Amanhã telefono, mas ficam com
o meu número de telemóvel
João: – Obrigado por tudo, António. Não te preocupes connosco.
3
Ana: – Obrigada, António. Gostei de voltar a ver-te. Até amanhã.
A Ana e o João acabam de chegar ao aeroporto de Lisboa, onde encontram o
António, um amigo do João. Os cumprimentos entre os dois rapazes surgem
naturalmente. Depois, de um modo um pouco mais formal, a Ana é apresentada ao
António.
Este programa, por ser o primeiro, alerta para convenções sociais que se
estabelecem entre falantes. São especificidades da língua que revelam adequação a
contextos e situações, ora mais informais ora mais formais, de que são bom exemplo
as formas de tratamento. Neste programa, abordamos ainda os diferentes modos
de que dispomos em português para referenciar o outro, para nos
apresentarmos ou apresentarmos alguém e ainda para agradecermos. Falaremos
também da distinção entre os verbos SER e ESTAR.
1. FORMAS DE TRATAMENTO
Terão, provavelmente, notado que no início do diálogo as formas de tratamento
usadas entre o António e o João diferem daquelas que surgem entre o António e a
Ana. É possível sentir-se que há uma maior familiaridade entre os dois rapazes porque
estes se conhecem há mais tempo e têm uma relação de amizade mais longa. Vamos
rever:
João: - Que bom! Ainda bem que estás aqui! Que bom voltar a ver-te! Como estás?
Ana: – Claro que me lembro! Que prazer em voltar a vê-lo! Como está?
João: – Mas porque é que vocês não se tratam por tu? Deixem-se de cerimónias.
4
Vemos que são usadas duas formas que diferem ligeiramente entre si e
revelam dois modos de uso de língua: um uso informal e um uso formal.
Informal Formal
“Que bom voltar a ver-te!
Como estás?”
“Que prazer em voltar a vê-lo!
Como está?”
Estruturalmente, estes dois processos mostram a utilização do verbo na 2ª
pessoa no primeiro exemplo (uso informal) e na 3ª pessoa no segundo (uso formal):
Informal Formal
Estás (tu) Está (você, o Senhor, a Senhora, ...)
Por isso, a imediata intervenção do João, perguntando naturalmente por que
razão eles não se tratam por “tu”, irá provocar uma uniformização das formas de
tratamento usadas por estes três jovens amigos. Vejamos em mais pormenor:
Informal Formal + Formal
- Como estás?
Verbo -2ª pessoa singular
(TU )
- Como estão?
verbo 3ª pessoa plural
(VOCÊS )
- Como está?
verbo - 3ª pessoa
singular
(VOCÊ)
- Como estão?
verbo 3ª pessoa plural
(VOCÊS)
- Como está, o senhor X?
verbo - 3ª pessoa singular
(O SENHOR)
- Como estão, os
senhores?
verbo 3ª pessoa plural
(OS SENHORES)
5
Na situação analisada surge a diferença entre o uso de “tu” e de “você”. De
facto, ainda que de forma breve, apercebemo-nos já de alguma diferença quanto à sua
utilização, não só pela forma verbal seleccionada, como pelo grau de formalidade que
envolve:
A segunda pessoa do singular do verbo, com ou sem explicitação do pronome
‘tu’, contém uma marca de grande familiaridade. É usada normalmente entre
amigos e entre colegas de trabalho de faixas etárias iguais ou próximas.
A terceira pessoa do singular do verbo é usada com ‘você’ e apresenta um
grau de maior formalidade em relações de trabalho entre colegas ou noutras
relações sociais entre pessoas sem proximidade familiar.
Habitualmente, no português de Portugal, “você” não é usado de forma
explícita, ao contrário do que acontece com o português brasileiro, onde o seu uso é
muito mais alargado. Contudo, não é difícil encontrar, em Portugal, situações em que
”você” é usado explicitamente. Por exemplo, pode, em muitos casos, constituir marca
de poder hierárquico, vindo do superior para o subordinado; pode também ser uma
marca de expressão de intimidade em certas camadas sociais altas.
Expressões como “o Senhor” ou “os Senhores” são formas de cortesia
bastante mais formais do que “tu” e mesmo mais formais do que “você”. Ocorrem
quando não existe qualquer grau de familiaridade entre os interlocutores.
O uso restritivo de ‘Vós’
Ainda uma nota de atenção quanto ao uso restrito do pronome “vós”. Trata-se
de um pronome de uso muito circunscrito à região norte do país. Nas restantes regiões
é habitualmente substituído por “vocês”, ou por “os Senhores”, usando a forma
verbal correspondente à 3ª pessoa do plural.
Vocês já se encontraram, lembram-se? (Vós já vos encontrastes, lembrais-vos?)
6
2. REFERENCIAR O OUTRO
Também o modo como nos apresentamos e nos dirigimos ou nos referimos ao
outro pode obedecer a recursos diversos. Observemos como os nossos jovens amigos
se referem entre si e como são referidos pela recepcionista do hotel:
Entre Amigos...
- Eu sou o António...
- Olha o António!
- Este é o meu amigo António. - E tu, lembras-te da minha prima Ana Paula? Para
a Ana todas as viagens são cansativas...
A recepcionista do hotel...
A Srª D. Ana Paula tem o quarto nº 806 (...) O Sr. Tavares tem o quarto nº 817...
Podemos verificar que, informalmente, nos dirigimos ao nosso interlocutor
usando o nome próprio precedido do artigo definido. Mas quando, em português,
os nomes próprios de indivíduos fazem parte da nossa memória histórico-cultural
colectiva, então o artigo definido é geralmente omitido (são exemplos disso “Pessoa
escreveu a Mensagem” ou “Os Maias foram escritos por Eça de Queirós”).
Quando os interlocutores têm um contacto profissional ou circunstancial, o uso
da língua torna-se formal. Recorre-se a outros processos, como, por exemplo, fazer
anteceder o nome próprio ou o apelido de expressões que indicam o género: “o
7
Senhor” e respectivo apelido (no caso masculino); “a Senhora Dona”, com nome
próprio (no caso feminino). Pode acrescentar-se ainda a indicação de algumas
profissões, como por ex.: “Senhor Dr.”, “Sr. Eng.”, com ou sem apelido:
Informal Formal
O João... a Ana ... o António...
(artigo + Nome próprio)
O Sr. Tavares.... A Sr.ª D. Ana Paula
Masc. (artigo + Senhor + Apelido)
Fem. (artigo + Senhora + Dona + Nome
próprio)
Quando alguém se apresenta, ou apresenta alguém, fá-lo frequentemente de
um modo mais informal. No entanto, também aí pode haver processos mais
elaborados em função de situações específicas, em que o artigo é omitido. Vejamos
os exemplos:
2.1 APRESENTAR-SE:
Informal Formal
- Olá. Eu sou o António. - O meu nome é António Santos.
- Chamo-me António Santos.
2.2 APRESENTAR ALGUÉM:
Informal Formal
- Este é o meu amigo António.
- E tu, lembras-te da minha prima Ana
Paula? Vocês já se encontraram,
lembram-se?
- Apresento-lhe o Sr. Dr. Mateus.
- Tenho o prazer de apresentar a Sr.ª
D. Margarida Campos.
8
3. AGRADECER
Embora nem sempre se verifique na prática, a fórmula básica de
agradecimento varia em género e número, de acordo com a pessoa que fala. Como
vemos no exemplo, o João agradece dizendo ‘obrigado’, enquanto a Ana diz
‘obrigada’:
De acordo com a pessoa que fala:
João: - Obrigado!
Ana: - Obrigada!
Apesar desta norma, constata-se uma tendência para a utilização da forma
masculina singular por parte dos falantes em geral.
4. SER - ESTAR
Quem fala português desde que nasceu, provavelmente, não se apercebe da
existência de dois verbos com significados bem distintos mas que correspondem a um
único verbo em outras línguas. É o caso dos verbos “SER” e “ESTAR”.
Vamos observar alguns exemplos retirados do diálogo ocorrido entre os nossos jovens
amigos:
Eu sou o António.
Este é o meu amigo António.
A viagem foi boa.
É natural!
Este é o vosso hotel.
Estou no aeroporto.
Olha o António! Está ali!
Como estás?
Estou óptimo!
Nós estamos de férias.
9
Partindo destes exemplos, é possível perceber a existência de uma
propriedade de carácter permanente (ex.: “Eu sou o António”, “Este é o meu
amigo”) que ocorre com o verbo “SER” e de outra propriedade transitória e
temporária que ocorre com o verbo “ESTAR” (ex.: “Estou no aeroporto”, “nós
estamos de férias”). Nestas frases, facilmente se compreende que se trata de
contextos que não permitem a troca do verbo. Seria agramatical dizer :
“*eu estou o António” ou “*Este está o meu amigo António”
Assim como também seria agramatical proferir:
“¨*eu sou no aeroporto” ou “*eu sou de férias”
No entanto, apesar da clareza destes contextos, é possível que ocorram
situações em que só pelo uso do verbo é possível interpretar a frase. Vejamos o que
acontece com os seguintes exemplos:
1. “Lisboa está muito diferente”
2. “Lisboa é muito diferente do Porto”
No primeiro exemplo, “Lisboa está muito diferente”, encontramos
propriedades transitórias ou temporárias: A cidade está diferente porque mudou, tem
prédios novos, cresceu, apresenta alterações em relação a um estado anterior.
No segundo exemplo, “Lisboa é muito diferente do Porto”, apercebemo-nos
de propriedades permanentes, contextualizadas por “ser”. Trata-se de uma
propriedade duradoura: Lisboa é diferente do Porto, é única.
10
Vamos agora saber um pouco mais sobre Portugal, o país que tem as
fronteiras mais antigas da Europa.
No Norte de Portugal localiza-se uma área de densa vegetação e com uma
profunda riqueza histórica. Com efeito, foi a partir daqui que se iniciou o processo de
reconquista cristã, no início do séc. XII, facto que deu origem à formação do reino de
Portugal.
No Centro encontram-se os contrastes do mar e da serra associados a
memórias antigas, perpetuadas em lugares e tradições. São populares muitas histórias
de feitos heróicos de resistência à dominação romana nos primeiros séculos da nossa
era, em que se destaca Viriato, bem recordado na cidade de Viseu.
A cidade de Coimbra, cidade universitária por excelência, possui uma das
universidades mais antigas da Península Ibérica e uma vida intimamente ligada aos
estudantes. Muito próximo, as ruínas romanas da cidade de Conímbriga recordam
origens bem mais antigas.
O vale do rio Tejo possui características que evidenciam uma transição para
sul do país. De facto, este rio parece dividir o território a meio: o Norte mais
montanhoso, mais húmido e mais fresco; o Sul, mais plano, mais seco e mais quente.
Na região Sul, sobressaem as vastas planícies do Alentejo. O verde das
lezírias dá lugar ao dourado das searas de trigo e a grandes extensões de terra onde
os rebanhos procuram descansar à sombras dos sobreiros.
A cidade de Évora, classificada como Património Mundial pela Unesco,
apresenta monumentos de épocas bastantes diversas, dos quais se destaca o Templo
de Diana, construção romana do séc. II.
Estendendo-se mais para sul os terrenos vão ficando mais secos e menos
povoados. Algumas formações montanhosa preparam a entrada no Algarve, região
com características marcadamente mediterrânicas, muito conhecida pelas suas praias,
11
12
mas onde se sente ainda a grande influência da cultura árabe que ali se manteve entre
os séculos VII e XIII.
A cerca de mil quilómetros para sul, em pleno Oceano Atlântico, o arquipélago
da Madeira surpreende pela beleza contrastada entre as suas principais ilhas: a de
Porto Santo e a da Madeira. Aí, é possível percorrer as estações do ano em um só dia:
Verão junto ao mar, Primavera nas encostas altas do litoral, Outono nas do interior e
Inverno nos cumes mais altos.
A cerca de 1400 quilómetros a oeste de Lisboa, fica o arquipélago dos Açores,
formado por nove ilhas, algumas delas mantendo ainda vulcanismo activo. É um
conjunto de ilhas mágicas, muito diversas entre si, e que conservam tradições que
remontam aos primeiros anos da sua colonização. Prova disto é a classificação de
Património mundial da Humanidade atribuída ao centro histórico de Angra do
Heroísmo e à Paisagem da Cultura do vinho da Ilha do Pico. São prova também as
festas já milenares da devoção ao Divino Espírito Santo, cujas raízes se perdem no
tempo...
PROGRAMA 2
TRANSPORTES URBANOS
A cidade de Lisboa é o centro de uma vasta área metropolitana, com mais de 2
milhões de habitantes e com mais de 3 mil quilómetros quadrados, abrangendo os
concelhos das duas margens do rio Tejo. Só a área urbana ocupa cerca de 84
quilómetros quadrados, aproximadamente, e tem à volta de 500 mil habitantes.
É, por isso, fácil de compreender o movimento diário de deslocações entre a
periferia e a cidade e dentro da cidade: são aproximadamente 4 milhões de pessoas
em movimento, das quais 3 milhões nos seus transportes particulares.
Com a evolução crescente dos transportes privados, regista-se um aumento dos
congestionamentos nos acessos à cidade e uma crescente dificuldade em gerir todo
este afluxo de trânsito.
Em Lisboa existem duas grandes empresas de transporte público que, ajudam
de forma decisiva nas deslocações dentro da cidade. São elas o Metropolitano de
Lisboa e a Carris.
A Ana e o João vão utilizar os transportes públicos. Querem ir para o
Cais do Sodré de Metro, porque é mais rápido e é uma maneira diferente de conhecer
a cidade...
Ana: – Ora bem, João, nós queremos ir para o Cais do Sodré, não é? Ora o Cais do
Sodré fica na linha verde, de acordo com esta planta. Em que linha é que estamos
agora?
1
João: – Deixa ver... estamos na linha amarela...a linha girassol. Bem, vamos ter de
mudar de linha em algum sítio.
Ana: – Nem queiras saber, vamos ter de mudar de linha duas vezes.
João: – Tens a certeza? Não há um percurso mais directo, Ana?
Ana: – Haver, há, mas a volta é muito longa. Vê lá se não tenho razão: implica andar
para trás até ao Campo Grande e percorrer, praticamente, toda a linha verde. A outra
hipótese é ir até ao Marquês de Pombal, são só três estações, mudar para a linha azul
até à Baixa/Chiado e, depois, passar para a linha verde. O Cais do Sodré é logo a
seguir.
João: – Estamos longe! Espero que a gente não se perca.
Ana: – Lá estás tu a ser agoirento! Não te preocupes, que deve haver indicações
claras. Se não houver, perguntamos a alguém. Quem tem boca, vai a Roma.
João: – Ah, isso perguntas tu!
Ana: – Podes ficar descansado. Olha, vamos ali à bilheteira perguntar à funcionária.
Ana: – Bom dia. Nós queríamos ir para o Cais do Sodré. Temos de mudar de linha
duas vezes, não é?
Funcionária: – Sim, é a melhor opção.
Ana: – Nós não temos nenhuma planta do Metro. Importa-se de nos dar uma?
Funcionária: – Até dou duas: uma para cada um! O percurso é mais simples do que
parece. Se, por acaso, se perderem, podem pedir ajuda um colega meu.
João: – E que tipo de bilhete é que nos aconselha?
Funcionária: – Depende. Se vão andar muito de Metro, talvez seja melhor um bilhete
de dez viagens. Se vão também andar de autocarro, podem optar por bilhetes
combinados ou pelo passe. O que é que preferem?
Ana: – O que é que achas, João?
João: – Para já, dê-nos dois bilhetes e, depois, logo vemos.
…
João: – Obrigado.
2
Ana: – Vamos andando.
Este programa reporta-se às acções da Ana e do João, quando se preparam
para apanhar um meio de transporte, neste caso o Metropolitano de Lisboa. Faremos
referência a formas de expressar dúvida e desejo/expectativa. Abordaremos, ainda,
aspectos relacionados com o verbo haver e com o uso de determinados registos de
língua. Vamos, então, prestar atenção aos excertos que se seguem:
1. EXPRESSAR DÚVIDA
“Tens a certeza? Não há um percurso mais directo, Ana?”
O João e a Ana encontram-se numa estação de metro e tentam delinear o
melhor percurso a seguir para atingirem o seu destino. No excerto que vimos, o João
duvida que a leitura que a Ana fez do mapa da rede do metro seja a correcta. Por
outras palavras, o João expressa dúvida em relação à acção da Ana. Poderia tê-lo
feito de outras maneiras; observem, agora, os exemplos que se seguem (só o primeiro
faz parte do diálogo):
EXPRESSAR DÚVIDA
1. “Tens a certeza? Não há um percurso mais directo, Ana?”
(Não+presente do indicativo – frase interrogativa)
2. “Se calhar há um percurso mais directo, Ana?”
(se calhar+indicativo)
3
3. “Possivelmente há um percurso mais directo.”
(possivelmente+indicativo)
4. “Não haverá um percurso mais directo?”
(não+futuro do indicativo – frase interrogativa)
5. “Talvez haja um percurso mais directo.”
(talvez+conjuntivo)
As primeiras três frases recorrem ao presente do indicativo e são estruturas
muito comuns em português. Convém realçar que a expressão se calhar ocorre
tendencialmente em contextos informais. A quarta frase apresenta o futuro do
indicativo, facto que lhe confere um cariz mais formal. Por fim, o quinto exemplo
recorre a outro vocábulo muito comum na língua portuguesa, talvez. Este advérbio
tem a particularidade de ser seguido por uma forma verbal conjugada no modo
conjuntivo, neste caso o presente do conjuntivo.
1.1. VERBO HAVER
Há uma forma verbal que, embora não esteja directamente relacionada com a
expressão de dúvida, ocorre em todos os exemplos que tiveram oportunidade de ver.
Já sabem qual é? Exacto, o verbo haver, conjugado no presente do indicativo (no
caso de há), no futuro do indicativo (no caso de haverá) e no presente do conjuntivo
(no caso de haja). Uma vez chegados a este ponto, há que fazer alusão a
características específicas deste verbo:
1.1.1. O verbo haver pode ser sinónimo de existir, tal como se verifica no excerto
retirado do diálogo:
4
“Tens a certeza? Não há um percurso mais directo, Ana?”
“Tens a certeza? Não existe um percurso mais directo, Ana?”
Nestas fases, há significa o mesmo que existe. Passemos, agora, as mesmas
frases para o plural:
“Tens a certeza? Não há percursos mais directos, Ana?”
“Tens a certeza? Não existem percursos mais directos, Ana?”
Tal como se pode constatar ao analisarmos estas frases, o verbo haver, quando
significa o mesmo que existir, embora se use em todos os tempos gramaticais,
apenas se utiliza na terceira pessoa do singular (é aqui o caso de há).
1.1.2. No presente do indicativo, o verbo haver, seguido da preposição de (haver
de), liga-se-lhe por um hífen nas formas monossilábicas, isto é, só com uma sílaba. É
o que podemos observar nas frases que se seguem e que não fazem parte do diálogo:
PRESENTE DO INDICATIVO DAS FORMAS MONOSSILÁBICAS DO VERBO
HAVER+HÍFEN+DE
Eu hei-de encontrar o percurso mais directo
Tu hás-de encontrar o percurso mais directo
Ele/ela há-de encontrar o percurso mais directo
A Ana e o João (eles) hão-de encontrar o percurso mais directo
5
O mesmo não se passa quando a preposição de é antecedida por uma forma
com mais de uma sílaba do verbo haver, ora vejam:
PRESENTE DO INDICATIVO DAS FORMAS COM MAIS DE UMA SÍLABA DO
VERBO HAVER +DE
Nós havemos de encontrar o percurso mais directo
Vós haveis de encontrar o percurso mais directo
Antes de continuarmos, deixem-me dizer-vos que a segunda pessoa do plural
do verbo haver (haveis de) tem uma ocorrência extremamente rara, sendo substituída
no uso pela forma da terceira pessoa do plural – hão-de.
1.1.3. Ainda no âmbito do excerto que estamos a tratar, gostaríamos de chamar a
vossa atenção para a grafia da forma flexionada há. Existem mais vocábulos na língua
portuguesa que se pronunciam da mesma maneira, mas que se escrevem de maneira
diferente e que não veiculam o mesmo significado. Conseguem lembrar-se de
exemplos? Vejamos estes outros excertos do diálogo:
1.“Ah, isso perguntas tu!”
2.“Olha, vamos ali à bilheteira.”
Ah (interjeição)
à (contracção da preposição a + o artigo definido feminino singular a)
pronunciam--se da mesma maneira que há, mas possuem significados diferentes.
6
Na primeira frase, Ah é uma interjeição. Reparem na sua grafia, o h encontra-se
em posição final e a palavra não tem qualquer acento gráfico. Na segunda frase, à
corresponde à contracção da preposição a + o artigo definido feminino singular a. O
acento gráfico desta palavra é um acento grave, ao contrário da forma verbal há que
tem um acento agudo.
2. EXPRESSAR DESEJO/EXPECTATIVA
“Espero que a gente não se perca.”
O João e a Ana estão prestes a iniciar a sua viagem de metro. Todavia, o João
continua a mostrar algum receio e dá voz ao seu desejo/à sua expectativa de não se
perderem. Reparem como o faz:
“Espero que a gente não se perca.”
Espero que… + presente do conjuntivo do verbo perder
Estamos perante uma atitude e um sentimento do João, quando este se mostra
expectante em relação à hipótese de se perderem no metropolitano. Nesta situação,
faz uso do verbo esperar seguido da conjunção que e do modo conjuntivo, neste
caso do presente do conjuntivo. Poderia ter optado por frases diferentes, para atingir a
mesma finalidade comunicativa:
7
EXPRESSAR DESEJO/EXPECTATIVA
1. “Vamos lá a ver se a gente não se perde.”
Vamos lá a ver… + presente do indicativo do verbo perder
2. “Faço votos para que a gente não se perca.”
Faço votos para que… + presente do conjuntivo do verbo perder
3. “Oxalá a gente não se perca.”
Oxalá… + presente do conjuntivo do verbo perder
A primeira frase inclui o verbo perder conjugado no presente do indicativo. As
frases número dois e três empregam o verbo perder, conjugado no presente do
conjuntivo.
No caso do diálogo entre a Ana e o João, que são duas pessoas da mesma
idade e da mesma família, que se conhecem há muito tempo, deparamos com um
registo bastante informal. Daí a utilização da expressão a gente. Esta expressão (que
corresponde à 3ª pessoa do singular) poderia ser substituída por uma outra, se o
contexto assim o exigisse. A ocorrência mais formal da mesma frase seria: “Espero
que (nós) não nos percamos.” O pronome pessoal nós pode não aparecer. É,
contudo, recuperável, devido à conjugação do verbo que se lhe segue: percamos.
Observem:
“Espero que a gente não se perca.”
“Espero que (nós) não nos percamos.”
8
Continuemos o programa de hoje com algumas breves referências lexicais
relacionadas com a temática dos transportes:
LÉXICO
Andar de metro / autocarro/ táxi / comboio /eléctrico
ir de metro / autocarro/ táxi / comboio /eléctrico
apanhar um meio de transporte = tomar um meio de transporte
a paragem do autocarro ou do eléctrico
a bilheteira, local onde se adquirem os bilhetes
Vamos terminar com uma expressão idiomática.
“Quem tem boca vai a Roma”
Certamente já terão ouvido esta expressão. Vamos passar a explicá-la. Pela
notoriedade da cidade, pela sua importância ao longo dos tempos, Roma entrou no
imaginário europeu. Daí terem resultado expressões como esta. “Quem tem boca vai
a Roma” traduz o peso histórico da Cidade Eterna, tanto como sede do Império
Romano, quanto como cidade onde se situa o Vaticano, local de residência do chefe
máximo da Igreja Católica. Refere-se ao facto de que quem sabe perguntar, chega
onde quiser ir.
Prossigamos, agora, com uma, necessariamente breve, apresentação do
sistema de transportes públicos da cidade de Lisboa.
9
As primeiras estações foram construídas nos anos cinquenta do século XX e
tinham já uma preocupação estética na construção de ambientes que diminuíssem a
sensação de se estar num espaço subterrâneo. Desse primeiro período, há dois
nomes de referência: o arquitecto Keil do Amaral, que criou o modelo de estação tipo e
a pintora Maria Keil, que assumiu os revestimentos das estações. De facto, apesar dos
recursos limitados, conseguiram colocar o Metropolitano de Lisboa como exemplo de
criação de espaços públicos. Em 1988, com o prolongamento da rede do metro, surge
uma outra geração de espaços. São inauguradas novas estações entre Sete Rios e o
Colégio Militar e entre Entrecampos e a Cidade Universitária.
A ideia original de decorar os espaços públicos dentro das estações do Metro foi
recuperada e levada mais a sério. Por isso, foram convidados quatro artistas
contemporâneos já conhecidos na área das artes plásticas para decorar os azulejos
que revestiam as estações. Rolando Sá Nogueira decorou a estação das Laranjeiras
com...laranjas, claro! Inteiras, cortadas ou em cachos realçam de forma alegre e
descontraída as paredes daquela estação associando-a ao nome do local.
Júlio Pomar encontrou nos esboços de figuras da cultura ibérica a sua forma de
se associar ao Alto dos Moinhos... D. Quixote de La Mancha estará para sempre
ligado aos moinhos... Manuel Cargaleiro foi o escolhido para a estação do Colégio
Militar e encheu-a de letras... A decoração da Cidade Universitária foi entregue a Maria
Helena Vieira da Silva que usou o seu estilo inconfundível para homenagear o local
com o seu painel «Le Métro». Manuel Cargaleiro fez a transposição desse painel para
azulejo. Nele Helena Vieira da Silva quis retratar simbolicamente a multidão anónima.
Surgem ainda duas grandes corujas e olhos que simbolizam o Conhecimento, a
Sabedoria e a Razão com uma ligação directa ao local. Em 1990, aprovado um novo
Plano de Expansão da Rede, que se desenvolveria até 1999, de novo se avançou com
a renovação de novas estações. São excelentes exemplos a estação do Campo
Pequeno, a cargo do escultor Francisco Simões, que a integrou também na linha
histórica do local, e também a estação do Martim Moniz que evoca outras memórias,
10
que foram incrustadas nas paredes recordando tempos bem mais antigos da conquista
da cidade de Lisboa.
Gracinda Candeias fez uma caracterização multicultural enquanto José João de
Brito trabalhou o tema da conquista de Lisboa realçando o episódio de Martim Moniz.
Podemos dizer, com algum orgulho, que Lisboa possui um Metropolitano muito bonito
e moderno, em que é agradável viajar e onde foram minimizados os receios e algum
possível desconforto de espaços subterrâneos.
Fundada em 1872, a Carris tem vindo a actualizar-se permitindo viagens cada
vez mais confortáveis ligando todos os pontos da cidade. Todos os que precisam de
se deslocar em Lisboa sentirão necessidade de recorrer a um autocarro, a um
eléctrico ou mesmo a um elevador da Carris. A história desta empresa está
intimamente ligada ao aparecimento dos primeiros eléctricos em Portugal. Com efeito,
a 17 de Novembro de 1873 foi inaugurada a primeira linha de «americanos» entre a
actual Estação de Santa Apolónia e a zona de Santos. Em 31 de Agosto de 1901 teve
início o serviço de Carros Eléctricos. Nos anos seguintes foi electrificada a rede
existente, apareceram mais carreiras, aumentou o número de carros, o primeiro
importado dos Estados Unidos, mas que depois de 1924 passam a ser construídos
nas oficinas da Empresa. Em 1940, a Carris comprou seis autocarros para reforçar o
transporte de visitantes para a para a Exposição do Mundo Português, que se
realizaria nesse mesmo ano em Belém. Como consequência, em 1944, foi inaugurado
oficialmente um serviço de autocarros. Com os anos, o número de autocarros superou
o dos carros eléctricos. Estes ficaram limitados a toda a área mais central e antiga da
cidade conferindo um ambiente muito genuíno a todos os bairros por onde passavam.
Entretanto os autocarros, mais fáceis de se expandir, acompanhavam o
desenvolvimento urbano atingindo facilmente novos bairros populacionais.
Gradualmente os eléctricos foram ficando reduzidos a áreas cada vez mais
restritas. Hoje, são muito poucas as linhas existentes e, por serem as que restam de
um passado recente, têm uma marca saudosista e atraente para o turismo.
11
12
No entanto, um novo dinamismo parece estar em curso tanto em eléctricos como em
autocarros. De facto, assiste-se à renovação da frota com novos eléctricos, por causa
das suas características ecológicas; há já uma nova geração de carros eléctricos, mais
confortáveis e mais rápidos, em áreas específicas da cidade. E também os novos
autocarros, bem equipados e confortáveis, facilitam a deslocação em Lisboa,
substituindo, com vantagem, os transportes particulares.
1
PROGRAMA 3
EM BELÉM
Belém é paragem obrigatória para quem passa por Lisboa. Com situação
privilegiada junto ao rio Tejo, na parte ocidental da cidade, é um local de memórias
que evoca momentos da história nacional ligada à época dos Descobrimentos e possui,
por isso, um encanto especial. Podemos chegar de autocarro, ou de eléctrico, mas
encontramos sempre um ambiente aberto que surpreende pela grandiosidade do
espaço e pela diversidade de monumentos que envolvem a grande Praça do Império.
É, de facto, um espaço de contrastes arquitectónicos onde monumentos do séc. XV se
confrontam com outros de estilos arquitectónicos muito diversos construídos mais
recentemente e se misturam com jardins, museus e parques. Entre o Mosteiro dos
Jerónimos e a Torre de Belém, construídos para recordar lugares e celebrar uma
época de expansão marítima, surge, ao longo do séc. XX, um Padrão dos
Descobrimentos, construído em 1960, e um moderno Centro Cultural, que data do
início dos anos 90.
É um desafio planear um passeio por Belém porque a quantidade de locais a
visitar é grande e diversificada. É preciso descobrir e sentir outros tempos mas, por
isso mesmo, este ambiente vai fascinar a Ana e o João.
_____________________________________________________________________
Ana: - Este passeio de autocarro foi muito agradável. O percurso é bonito... Sente-se
a ligação entre a cidade e o rio.
João:- É, não é? Também acho. De um lado, os restaurantes nas docas, os cais, os
espaços verdes, as esplanadas... e o rio, claro!
2
Ana:- E do outro lado surge a cidade! Ainda reparei nalguns edifícios grandes. Se
calhar são edifícios importantes, mas eu não sei o que são.
João:- Eu não consegui tirar os olhos do rio! Aquele longo passeio relvado parecia
estar a convidar-me para ir andar a pé, ir por ali fora, junto à água.
Ana:- Bom remédio! Podemos passar por lá na volta, no regresso para o hotel.
Fazemos o percurso a pé.
João:- Pois sim! Tu és capaz de aguentar porque estás habituada a andar a pé, mas
eu…
Ana:- Deixa-te de coisas! Andar a pé faz bem. Ainda por cima é tudo plano. É mais
fácil!
João:- De facto, também é uma forma de vermos a Ponte 25 de Abril assim, em toda
a sua extensão. Há bocado, quando por lá passámos, reparei naquelas estruturas
todas e impressiona, mesmo só vista de baixo, não achas?
Ana:- É verdade. A propósito de ponte, gostava tanto de atravessar o rio para ver
Lisboa da outra margem. Deve ser giro, sobretudo do alto do Cristo-Rei.
João:- Ai por favor!!!. Hoje não! Tem pena de mim.
Ana:- Claro que não! Para hoje já temos programa mais do que suficiente. Mas
amanhã, ou depois, podíamos ir de comboio, não? Ou de barco. Atravessar o rio num
daqueles Cacilheiros também deve ser muito giro.
João:- Agora que falas em barcos, esqueci-me de te dizer que há barcos que fazem
cruzeiros no Tejo, sabias?
Ana:- Não. Como é que soubeste?
João: - Foi há um ou dois dias. Li num folheto turístico, lá no hotel. Há uns mais
longos, outros mais curtos. Mas todos passam por baixo da Ponte 25 de Abril.
Ana:- É uma boa ideia para um destes próximos dias.
João:- Por mim, tudo bem. Se quiseres, até podemos ir “à descoberta dos mares sem
fim”!
Ana:- Com certeza! Até estamos em Belém, no sítio certo! Bom! Para já, onde é que
3
eu estou agora, exactamente?
João: - Em frente ao Palácio de Belém, a residência oficial do Presidente da
República. Não estás a ver a guarda?
Ana: - Hum! Se aqui é o Palácio, então a Praça do Império é daquele lado, à esquerda.
Olha! Já estou a ver o Mosteiro dos Jerónimos.
João: - Ah! Exactamente. Vamos embora.
******
Ana: - Espera aí! Que engraçado! Lê o que está escrito no chão, na calçada:
Pastéis de Belém, 1837.
João: - Pastéis de Belém? Já ouvi falar nisso. São aqueles que se comem ainda
quentinhos, com canela e açúcar em pó. Não olhes para mim com essa cara. Eu só
estou a reproduzir o que vem nos guias. Nunca comi nenhum.
Ana: - Quero provar... Será que nos dão a receita? Ouvi dizer que é segredo.
João: - Agora não precisas de receita: é mesmo só comer. Vamos lá ao ataque dos
pastéis de Belém!
Ana:- És tão guloso! Acho que consegues ser mais guloso do que eu.
João:- Esta Praça é mesmo muito bonita!
Ana:- Aqui estamos sempre a pensar nos Descobrimentos.
João: - E não é só isso. Impressiona-me olhar à volta e ver, quase lado a lado, estes
monumentos de épocas tão diferentes, com características tão diferentes e tão bem
enquadrados.
Ana: - É verdade! O Mosteiro dos Jerónimos é do século XVI. Repara neste
rendilhado da pedra. A minha mãe fala muitas vezes da Torre de Belém. Lá também
vamos encontrar a Cruz de Cristo e outros motivos do gótico manuelino com
representações da natureza e pormenores ligados ao mar.
João:- Pois é. E agora olha para ali, aquele edifício muito mais moderno. Tem ar de
construção militar. De repente, parece uma fortaleza.
Ana: - Só estou a vê-lo de longe mas parece um contraste muito bem conseguido.
4
Sabes o que te digo? Não saio daqui sem ver tudo ou quase tudo!
João:- Bom! Estamos agora a começar.
Ana:- Começamos pelo Mosteiro dos Jerónimos. Aqui temos a Igreja de Santa Maria
de Belém e os claustros para ver.
João: - Agora, podemos ir ao Centro Cultural de Belém. A seguir, passamos para o
outro lado da linha do comboio, pela passagem subterrânea, vemos o Padrão dos
Descobrimentos, a Rosa dos Ventos e vamos até à Torre de Belém. Concordas?
Ana: - Hum... não sei! Acho que, depois do Mosteiro, preferia ir ver primeiro o Padrão
e a Torre e guardar o CCB para o fim.
João: - Posso saber porquê?
Ana: - Por várias razões. Vamos andar imenso a pé. Quero ver o Padrão, a Rosa dos
Ventos e, sobretudo, a Torre, em pormenor. No regresso, vai saber muito bem
descansar na esplanada do CCB, virada para o rio.
João: - Está bem. Pode ser. Ficamos um pouco mais no CCB para saber que
exposições e espectáculos é que há em cartaz.
******
Ana:- Ai... que bom!! Que bem que se está aqui! Sabes? Por mim, ficava aqui o resto
do dia, até ao anoitecer.
João: - Que pena! Agora que eu estava a pensar em voltar a pé para o hotel... por
aquele passeio relvado junto ao rio, lembras-te?
Ana: - O quê?
******
Hoje, a Ana e o João foram conhecer Belém. Envolvidos pela presença histórica do
local, eles conversam sobre o que vêem à sua volta. Nos comentários que fazem
ouvimo-los algumas vezes utilizar estruturas linguísticas que merecem atenção. São
elas as construções estar a + infinitivo, algumas expressões adverbiais de
duração formadas com o verbo haver e a expressão de vontade.
5
1. O PROGRESSIVO- ESTAR A + INFINITIVO
Existem na língua portuguesa mecanismos que conferem uma perspectiva
dinâmica ao processo de transformação de um determinado tipo de situação em outro.
Por exemplo, tomemos uma frase como:
Eles comem pastéis de Belém
Faremos, naturalmente, uma interpretação de carácter mais geral,
considerando esta frase como um acto habitual. Nesta acepção, a forma verbal
“comem”, no presente do indicativo, remete para um hábito, significando que eles têm
por costume comer pastéis de Belém com alguma regularidade. Tal acontece num
número ilimitado de vezes e ao longo de um período de tempo não delimitado, mas
que inclui o tempo em que se fala.
Agora, analisemos a frase:
Eles estão a comer pastéis de Belém
Esta frase apresenta uma perspectiva dinâmica. Produz uma transformação da
anterior, Eles comem pastéis de Belém, conferindo-lhe a característica de estar a
decorrer. Estamos perante a construção estar a + infinitivo, uma das mais frequentes
6
em português. É uma construção que expressa uma progressão do que está a
acontecer no momento em que se fala.
Vamos rever e ouvir os exemplos do diálogo:
João:- Em frente ao Palácio de Belém, a residência oficial do Presidente da
República. Não estás a ver a guarda?
Ana: - Hum! Se aqui é o Palácio, então a Praça do Império é daquele lado, à
esquerda. Olha! Já estou a ver o Mosteiro dos Jerónimos.
******
Ana:- Aqui estamos sempre a pensar nos Descobrimentos
******
Ana: - Só estou a vê-lo de longe mas parece um contraste muito bem conseguido
******
João: - Que pena! Agora que eu estava a pensar em voltar a pé para o hotel... (...)
A construção em análise é formada pelo verbo estar, pela preposição a e por
um infinitivo verbal, como se pode ver nos exemplos:.
7
PROGRESSIVO: Estar a + infinitivo
• Não estás a ver a guarda?
• Já estou a ver o Mosteiro dos Jerónimos.
• Aqui estamos sempre a pensar nos Descobrimentos.
• Só estou a vê-lo de longe...
• Agora que eu estava a pensar em voltar a pé...
Trata-se, de facto, de formas de presente progressivo, que remetem para uma
acção que decorre no momento em que é referida. Tal acção caracteriza-se também
por ter uma duração no tempo e por não estar completa ou por não ter chegado ao fim.
Esta construção admite, naturalmente, a inclusão de advérbios e de locuções
adverbiais no seu interior, ou seja, entre estar e a preposição a. É o que o acontece,
por exemplo, em:
Aqui estamos sempre a pensar…
Vemos que o advérbio sempre aparece entre o verbo e a preposição. O mesmo
acontece se o substituirmos por uma locução adverbial, como, por exemplo:
Estamos neste preciso momento a pensar
É interessante observar que em algumas regiões do sul de Portugal e no Brasil,
este infinitivo é normalmente substituído pelo gerúndio, com a omissão da preposição
a:
8
Estou vendo o Mosteiro dos Jerónimos.
Aqui estamos sempre pensando nos Descobrimentos.
Surgem assim construções com estar + gerúndio do verbo principal, como
em: estou vendo, estava pensando.
2. EXPRESSÕES DE DURAÇÃO COM O VERBO HAVER
No programa anterior vimos várias especificidades do verbo haver. Hoje
encontramos este verbo, unicamente na 3ª pessoa do singular, a integrar expressões
adverbiais relacionadas com localização de tempo e simultaneamente a medir, de
forma mais precisa ou mais indefinida, o intervalo de tempo que decorre até ao
momento da enunciação, ou seja, até ao momento em que se fala.
Vejamos as ocorrências no diálogo:
João: - De facto, também é uma forma de vermos a Ponte 25 de Abril assim, em toda
a sua extensão. Há bocado, quando por lá passámos, reparei naquelas estruturas
todas e impressiona, mesmo só vista de baixo, não achas?
*******
João: - Foi há um ou dois dias. Li num folheto turístico, lá no hotel.
9
Quando o João diz “há bocado quando por lá passámos...” a expressão há
bocado remete para uma situação que ocorreu há pouco tempo atrás, mesmo que
não se saiba exactamente há quantos minutos ou há quantas horas. Esta expressão é
usada em contextos informais.
Na expressão seguinte, o João já é um pouco mais concreto ao localizar e
medir o momento, aquele momento em que leu o folheto no hotel, facto que aconteceu
há um ou dois dias. Como estas, muitas outras expressões podem ser construídas a
partir desta forma há.
Os quadros que se seguem procuram exemplificar a diversidade de expressões
temporais que podem ser formadas deste mesmo modo:
Há bocado
bocadinho
As expressões de tempo há bocado e há bocadinho são muito
frequentemente usadas para indicar um período de tempo curto mas não bem
delimitado. Pode ir de alguns minutos – bocadinho - a um período mais alargado, que
chega a atingir algumas horas – bocado.
Com a forma há é também possível construir expressões de duração
indefinidas não-contáveis, como mostram os exemplos do quadro:
Há
muito
pouco
algum
bastante
tempo
10
E também é possível construir expressões plurais de duração, contáveis e não
contáveis, associando a forma há a palavras que exprimem claramente períodos de
tempo, como podemos ver neste quadro:
Há
um(a)
uns /umas
dois /duas
três ...
cerca de + nº (1, 2,...)
muitos
poucos
alguns
bastantes
segundo(s)
minuto(s)
hora(s)
dia(s)
semana(s)
mês/meses
ano(s)
....
É perfeitamente possivel dizer, por exemplo, que um evento aconteceu há 5
minutos, ou há cerca de 2 horas, ou que a Ana esteve em Portugal há 10 anos ou há
cerca de 10 anos. Ou ainda que o João não vinha cá há muitos anos, ou há bastantes
anos.
3. EXPRESSAR VONTADE
A Ana, cheia de curiosidade sobre o que a cerca, exprime a sua vontade: ela
não quer perder a oportunidade de experimentar e de conhecer um pouco mais. Para
isso, ela manifesta a sua vontade. Vejamos como ela o faz:
11
João: - Pastéis de Belém? Já ouvi falar nisso.
Ana: - Quero provar... Será que nos dão a receita? Ouvi dizer que é segredo.
******
Ana: - Por várias razões. Vamos andar imenso a pé. Quero ver o Padrão, a Rosa dos
Ventos e, sobretudo, a Torre, em pormenor. No regresso, vai saber muito bem
descansar na esplanada do CCB, virada para o rio.
Ela usa o verbo querer e o infinitivo de outro verbo. Esta é uma das
construções seleccionadas por querer. É um verbo usado para exprimir vontade e
pode seleccionar frases completivas de infinitivo não flexionado. É o que acontece
nestes dois exemplos do diálogo. A Ana quer provar os pastéis e também quer ver o
Padrão dos Descobrimentos e a Rosa dos Ventos. Vejamos o quadro:
EXPRESSAR VONTADE
QUERER + VERBO NO INFINITIVO
• Quero provar pastèis de Belém.
• Quero ver o Padrão, a Rosa dos ventos e sobretudo a Torre.
Bom, por mim despeço- me. Até ao próximo programa. De seguida, poderá
ainda descobrir um pouco de Belém, um local carregado de história.
_______________________________________________________________
12
Quando se chega à enorme Praça do Império, o olhar incide, naturalmente,
sobre o Mosteiro dos Jerónimos. Para trás ficam muitos exemplos de épocas
passadas, dos tempos da monarquia. É o caso do Palácio de Belém, residência oficial
do Presidente da República, do Jardim Agrícola Tropical, com plantas exóticas
oriundas de África, da Praça Afonso de Albuquerque em frente do Palácio, das
casinhas coloridas dos séc. XVI e XVII, que contrastam com os edifícios mais
modernos.
No entanto, é a presença do Mosteiro que se impõe ao visitante, não só pela
beleza mas também como um símbolo da riqueza da época dos Descobrimentos e da
arquitectura manuelina. Foi mandado construir pelo rei D. Manuel I por volta de 1501,
pouco depois de Vasco da Gama ter regressado da Índia. No interior, os claustros
formam um conjunto harmonioso entre arcadas em abóbada e colunas em pedra
esculpida, sempre rendilhada, que contornam um jardim muito tranquilo. A Igreja
impressiona pela abóbada e pelos elegantes e delicados pilares que se erguem como
se fossem palmeiras criando o ambiente adequado à reflexão e à descoberta da paz
interior. A Ordem de S. Jerónimo foi responsável pelo mosteiro até 1834, ano em que
as ordens religiosas foram extintas em Portugal.
Anos depois foi acrescentada a ala moderna, em estilo neomanuelino, que é
hoje ocupada pelo Museu Nacional de Arqueologia. Um pouco mais adiante, o Museu
da Marinha, na ala oeste do Mosteiro, mostra, entre muitas e diversas colecções, a
evolução ocorrida na construção das caravelas e das naus que foram tão importantes
na travessia dos oceanos e na descoberta das rotas marítimas.
Ainda para o lado esquerdo, o Planetário procura mostrar planetas, estrelas e
outros mistérios do céu à noite.
O lado oeste da Praça do Império é ocupado pelo Centro Cultural de Belém,
cuja arquitectura bastante moderna se harmoniza em simplicidade com a imponência
do local. A sua inauguração coincidiu com a presidência portuguesa da Comunidade
Europeia em 1993. A partir de então, tornou-se um espaço muito activo dedicado às
13
artes de onde se destacam a música, o teatro, a fotografia e o design. Os seus cafés
virados para o rio são um agradável ponto de encontro para quem quer estudar ou
simplesmente encontrar amigos e conversar.
Na margem do rio Tejo ergue-se, em frente do Mosteiro, o Monumento aos
Descobrimentos, construído em 1960 para comemorar os 500 anos da morte do
Infante D. Henrique, o Navegador. Tem a forma de uma caravela e recorda todos os
que participaram no desenvolvimento dos Descobrimentos. Do alto dos seus 52
metros, para além de uma fantástica vista sobre toda a Praça do Império, estuário do
Tejo e margem sul, é possível ver uma enorme rosa-dos-ventos embutida no chão
onde estão desenhadas as rotas dos diversos caminhos percorridos pelos
descobridores portugueses durante os séc. XV e XVI. Foi uma oferta da República
Sul-Africana.
Indo ainda mais para oeste, junto ao rio, somos surpreendidos com outra
pérola da arquitectura manuelina: a Torre de Belém. Foi construída entre 1515 e 1521,
sob ordem de D. Manuel I, para funcionar como fortaleza por entre as águas do rio
Tejo. A sua beleza exterior deve-se ao conjunto de galerias abertas, às torres de vigia
em estilo árabe, às ameias em forma de escudos e, ainda, ao rendilhado das pedras
esculpidas com cordas e nós náuticos. A vista das salas existentes nos três andares
da torre é notável. No terraço, uma imagem da Senhora do Bom Regresso, virada para
o mar, constitui ainda um símbolo de protecção para os marinheiros.
Olhando para terra a partir da Torre, no sentido norte, podemos ainda ver ao
fundo, no cimo de uma colina, uma pequeníssima capela, a Ermida de S. Jerónimo,
também de estilo manuelino muito sóbrio, orientada para a foz do rio Tejo. Também
ela parece enquadrar todo este espaço rematando com simplicidade a riqueza de todo
este ambiente comemorativo de uma época de aventura e descoberta.
1
PROGRAMA 4
CONHECER A CIDADE
Lisboa fica na margem direita do Tejo, a 17 km do Oceano Atlântico. A cidade
tem cerca de 500 000 habitantes, mas a “grande Lisboa” estende-se a várias
localidades próximas, atingindo quase 2 milhões. A parte mais antiga ocupa um
espaço distribuído por sete colinas, como um anfiteatro que se abre alegre para o rio.
Na antiguidade, foi um local privilegiado no comércio entre o Mediterrâneo e o
Atlântico. Por isso, foi ocupada por diversos povos, até que, em 1147, D. Afonso
Henriques, o primeiro rei de Portugal, a conquistou aos mouros. Diz a lenda que o rei
atribuíu esta vitória ao Mártir São Vicente, cujo corpo, recolhido no Algarve, foi trazido
para Lisboa numa nau guardada por dois corvos. Ainda hoje, é o padroeiro da cidade,
encontrando-se simbolicamente perpetuado na bandeira e no logotipo da Câmara
Municipal de Lisboa.
Já recuperados da viagem, a Ana e o João têm um desafio pela frente: descobrir a
cidade...
João: – Ana, hoje temos o dia por nossa conta... O António não pode estar connosco.
O que é que vamos fazer?
Ana: – Acho que podemos ir dar uma volta. Já temos aqui um mapa da cidade,
podemos ver onde ficam as zonas mais interessantes de Lisboa.
João: – Pois é. Podemos pensar aonde queremos ir ... e planear. Para isso, vamos
ver o que fica mais perto ... o que fica mais longe.... onde podemos ir a pé... onde é
melhor ir de autocarro...
2
Ana: – ... ou de metro! Ouvi dizer que o Metropolitano de Lisboa tem estações muito
bonitas... modernas...
João: – É verdade, é... Eu sei. São decoradas por artistas portugueses muito
conhecidos.
Ana: – Há um sítio aonde eu quero ir... mas não sei se podemos ir de metro...
João: – Aonde?
Ana: – É ao Palácio de Queluz. Fica cá em Lisboa ou não?
João: – Não, tonta. O Palácio de Queluz fica em Queluz, como o próprio nome indica!
Não é longe, mas, de qualquer maneira, fica fora da cidade. Acho que ainda são aí
uns 15 quilómetros... E não podemos ir de metro. Só de comboio.
Ana: – Está bem. Antes disso ainda há muitos sítios para ver...
João: – Se há! E como não podemos ver todos, vamos escolher alguns...
Ana: – Concordo... Temos mesmo de planear. É por isso que o mapa nos vai ser útil...
Onde fica Belém?... Eu sei que há muita coisa para visitar em Belém... mas não sei se
fica para norte... se fica para esquerda... se para a direita...
João: – Tens toda a razão. Belém... Belém... Olha fica junto ao rio Tejo, fica a oeste.
Se calhar, podemos ver o pôr do sol!... É lá que fica o Mosteiro dos Jerónimos, não é?
Ana: – Exactamente. E a Torre de Belém também fica lá... e o Centro Cultural de
Belém... e o Padrão dos Descobrimentos...
João: – Estou espantado! Tu estás muito bem informada...
Ana: – Mais ou menos... Os meus pais falaram-me muito de Belém... parece que têm
muitas recordações da Torre... E eu prometi tirar fotografias. Também li algumas
coisas e tenho umas notas escritas. Gosto de saber o que há para ver... Já agora, vê
também... onde é que fica o Parque das Nações... é o sítio onde foi a Expo 98, aquela
exposição mundial, lembras-te?
João: – Sim, sim. Lembro-me de ouvir falar nisso.
Ana: – É uma zona nova, moderna. É o contrário de Belém que é uma zona antiga...
3
João: – Olha ... aqui no mapa... Expo... ... não... Parque das Nações.... aahh ... olha,
fica mesmo no outro extremo da cidade... Também fica junto ao rio, mas para oriente.
De facto, Lisboa é uma cidade virada para o rio.
Ana: – Ah! Pois é! Mas sabes o que é que eu acho?
João: – O que é?
Ana: – Belém fica longe!... O Parque das Nações também fica lá longe!... Acho que
hoje podemos dar uma volta aqui mais perto do hotel... podemos andar a pé e assim
vamos conhecer um pouco destes bairros, não achas?
João: – Concordo. Assim temos tempo de planear com calma. Até podemos pedir
ajuda ao António...
Ana: – Exactamente... Que boa ideia!
João: – O que é que há aqui mais perto para ver? Da janela do meu quarto vê-se o
Castelo... Fica lá mais acima. Se calhar; podemos lá ir, não? Não parece longe, mas
vamos ter muito que subir ...
Ana: – Não faz mal. É um bom exercício!... e da janela do meu quarto vê-se o rio...
que fica lá mais abaixo. Assim, depois descemos até ao rio... vamos percorrer as
colinas... Afinal estamos na cidade das sete colinas, não é?
João: – Ai é?
Ana: – Li isso num guia turístico... e basta olhar das janelas dos nossos quartos! Há
sítios altos e sítios baixos... Acho que hoje vamos andar a subir e a descer...
João: – É como tu dizes: é um bom exercício...
Ana: – Mas de vez em quando paramos, para descansar...
Hoje a Ana e o João estão a fazer planos para descobrir um pouco da cidade.
Com a ajuda do mapa, procuram alguns dos locais de Lisboa e pedem e fazem
sugestões para o seu primeiro passeio.
4
Neste programa, vamos observar algumas das construções usadas na língua
para pedir e dar informações sobre orientação, para pedir e fazer sugestões e
para pedir opinião.
1. PEDIR SUGESTÃO / OPINIÃO / INFORMAÇÃO
Para fazer um pedido a Ana e o João usam, naturalmente, frases
interrogativas. Observemos estes excertos do diálogo:
João: – Ana, hoje temos o dia por nossa conta. O António não pode estar connosco.
O que é que vamos fazer? Queres ir dar uma volta?
******
Ana: – Belém fica longe!... O Parque das Nações também fica lá longe!... Acho que
hoje podemos dar uma volta aqui mais perto do hotel... podemos andar a pé e
assim vamos conhecer um pouco destes bairros. O que achas?
******
João: – O que é que há aqui mais perto para ver? Da janela do meu quarto vê-se o
Castelo... Fica lá mais acima. Se calhar; podemos lá ir, não? Não parece
longe, mas vamos ter muito que subir ...
PEDIR SUGESTÃO
[O] que [é que] vamos fazer?
5
PEDIR OPINIÃO
O que achas?
PEDIR INFORMAÇÃO
[O] que [é que] há aqui mais perto para ver?
Nestes exemplos podemos, desde logo, distinguir dois tipos de estruturas
diferentes para construir frases interrogativas.
Um dos tipos caracteriza-se por ter uma estrutura sintáctica igual à da frase
declarativa que lhe corresponde. É o caso desta frase produzida pelo João: “Queres ir
dar uma volta?”. Apenas se distingue da declarativa afirmativa correspondente pela
curva entoacional:
Interrogativa Declarativa Afirmativa
“Queres ir dar uma volta?” “Queres ir dar uma volta.”
Estas frases não utilizam qualquer constituinte interrogativo e exigem uma
resposta afirmativa ou negativa. São, por isso, chamadas interrogativas totais ou de
sim, não:
INTERROGATIVAS TOTAIS OU DE SIM , NÂO
1. - Queres ir dar uma volta? - Sim.
2. - Queres ir dar uma volta? - Não.
6
Passamos agora às interrogativas parciais, que se caracterizam pela
presença de constituintes interrogativos, ou seja, de pronomes, adjectivos ou
advérbios interrogativos. É o caso das restantes frases interrogativas apresentadas
nos exemplos:
INTERROGATIVAS PARCIAIS
1. O que é que vamos fazer?
2. O que achas?
3. O que é que há aqui mais perto para ver?
Na sua construção, constatamos a presença de um constituinte interrogativo –
o primeiro “que”. Podemos verificar também que, embora estas três frases
interrogativas sejam idênticas na sua estrutura, há uma alteração de ritmo nas duas
intervenções do João. É uma alteração provocada pela sequência ou expressão “é
que”:
“O que é que vamos fazer?”
“O que é que há aqui mais perto para ver?”
As perguntas do João poderiam igualmente ser formuladas sem ser utilizada a
sequência “é que”:
“O que vamos fazer?”
“O que há aqui mais perto para ver?”
7
Do mesmo modo, a pergunta proferida pela Ana “O que achas?” seria
igualmente possível se fosse proferida “O que é que achas?”:
“O que achas?”
=
“O que é que achas?”
A expressão “é que” começou a ser usada no Português Moderno. Surge
frequentemente em situação de fala informal e espontânea, tanto em frases
interrogativas como em frases afirmativas. Esta sequência apresenta-se como uma
forma fixa e não pode ser interrompida. Ocupa uma só posição na frase: antecede
sempre o sintagma verbal. Observemos mais uma vez alguns exemplos de uso da
expressão “é que”:
O que é que vamos fazer? = O que vamos fazer?
O que é que achas? = O que achas?
O que é que há aqui...? = O que há aqui..?
Onde é que fica Belém? = Onde fica Belém?
2. PEDIR E DAR INFORMAÇÃO SOBRE LOCALIZAÇÃO ESPACIAL
A Ana está muito interessada em encontrar no mapa os locais que quer visitar.
Observemos como o João transmite à Ana a informação que esta lhe pede e que
expressões linguísticas usa para indicar a localização dos diversos sítios no mapa:
8
Ana: – Concordo. Temos mesmo de planear. É por isso que o mapa nos vai ser útil.
Onde fica Belém?... Eu sei que há muita coisa para visitar em Belém... mas
não sei se fica para norte... se fica para esquerda... se para a direita...
João: – Tens toda a razão. Belém... Belém... Olha fica junto ao rio Tejo, fica a oeste.
Se calhar, podemos ver o pôr do sol!... É lá que fica o Mosteiro dos Jerónimos,
não é?
******
Ana: – Já agora, vê também onde é que fica o Parque das Nações... é o sítio onde foi
a Expo 98, aquela exposição mundial, lembras-te?
****
João:– Olha ... aqui no mapa... Expo... ... não... Parque das Nações.... ah ... olha, fica
mesmo no outro extremo da cidade... Também fica junto ao rio, mas para
oriente. De facto, Lisboa é uma cidade virada para o rio.
******
Ana:– Belém fica longe!... O Parque das Nações também fica lá longe!... Acho que
hoje podemos dar uma volta aqui mais perto do hotel... podemos andar a pé e
assim vamos conhecer um pouco destes bairros. O que achas?
É de notar a frequência com que é usado o verbo “ficar”. Tem aqui o
significado de “estar situado” ou “localizar-se”. Trata-se de um verbo copulativo
que, em certos contextos, é equivalente a “ser”. Assim é perfeitamente possível
perguntar, em vez de “onde fica Belém aí no mapa?”, “onde é Belém aí no
mapa”.
“Onde fica Belém aí no mapa?”
=
“Onde é Belém aí no mapa”.
9
Como verbo copulativo, o verbo “ficar” é um verbo de ligação ou verbo de
significação indefinida. Isto significa que é um verbo que selecciona apenas uma
oração pequena, cujo núcleo pode ser adjectival, nominal, preposicional ou adverbial.
Nos exemplos concretos extraídos do diálogo, em que tem o significado de “localizar-
se” ou “estar situado”, encontramos núcleos adverbiais, como:
Olha... cá está! fica junto ao rio Tejo.
O Parque das Nações também fica longe.
Torre de Belém também fica lá.
O verbo “ficar” também selecciona núcleos preposicionais, como:
...mas não sei se fica para norte... se para sul
... fica no outro extremo da cidade...
... fica a oeste
3. FAZER SUGESTÕES
O João e a Ana já sabem que têm muito para ver em Lisboa, por isso a Ana apresenta
algumas sugestões ao João. Vamos rever como o faz:
Ana: – (...) Já temos um mapa da cidade. Podemos ver onde ficam as zonas mais
interessantes de Lisboa.
******
Ana: – (...) Olha! Podemos ir a Belém.
******
10
Ana: – (...) podemos ir ao Parque das Nações.
******
Ana: – (...) podemos ir ao Parque das Nações.
Nestes exemplos aparece a construção formada pelo verbo modal poder,
associado a formas infinitivas de outros verbos. Poder é usado aqui para fazer uma
sugestão, exprimindo um certo grau de probabilidade e incerteza.
PODER + INFINITIVO
podemos
podemos
podemos
podemos
ver
ir
dar
passear
Para melhor compreendermos o desafio que a Ana e o João têm pela frente,
vamos todos conhecer um pouco da cidade de Lisboa...
Lisboa, vista do Tejo, é uma cidade luminosa, alegre, com uma diversidade de
recantos bem nítidos entre as duas pontes: a mais antiga, a Ponte 25 de Abril,
construída em 1960, e a Ponte Vasco da Gama, construída aquando da Exposição
Universal de Lisboa, em 1998.
Entre colinas, a Baixa de Lisboa, constitui o centro da capital e é, quase toda,
uma reconstrução do século XVIII, como consequência do terramoto de 1755. As ruas
paralelas e perpendiculares revelam, ainda hoje, o tipo de comércio e de actividades
que nelas se desenvolvia. A Rua Augusta é a mais elegante ligação entre a Praça do
Comércio e o Rossio, através do Arco Triunfal, que comemora a reconstrução da
11
cidade depois do terramoto. Quando visto do Rossio, este arco enquadra a estátua
equestre do rei D. José I, na Praça do Comércio.
Em volta, nas colinas que rodeiam a Baixa, estendem-se os bairros mais
populares, com ruas mais estreitas, com vida própria, onde as pessoas se sentem
mais próximas e onde a cidade fica mais intimsta. Distinguem-se Alfama, a este, com
o Castelo no cimo, e o Bairro Alto, a oeste, muito conhecido pelos inúmeros pequenos
bares e restaurantes, juntamente com casas de fados. Alfama é um bairro com
características mouriscas. Conserva ainda um certo ambiente do casbá, com ruelas e
escadarias.
Por cima, bem no alto desta colina, o Castelo de S. Jorge, com os seus jardins
e a cidadela, sobressai no horizonte. É memória da conquista de Lisboa aos Mouros
em 1147 e um magnífico miradouro sobre a cidade e o rio.
Mais a baixo, a Sé, em estilo românico, é igualmente um marco que acompanha a
história da cidade até aos nossos dias. Muito perto fica a pequena igreja de Santo
António. O Santo mais popular de Lisboa é celebrado anualmente, no dia 13 de Junho,
com festas em todos os recantos. O Bairro Alto, na colina do lado oeste, é também um
local agradável, onde pequenas oficinas e tascas convivem com uma vida nocturna
activa e diversificada. Algumas casas de fados têm aí o seu lugar, assim como
algumas das salas de espectáculos mais representativas: o Teatro da Trindade, o
Teatro S. Luís e o Teatro S. Carlos, este último conhecido pelas suas épocas de
ópera.
O Chiado é uma zona de lojas elegantes, boa para compras. A Rua do Carmo
e a Rua Garrett são duas das principais artérias comerciais que sobem da Baixa até
ao Bairro Alto. Para quem não quer subir a pé pode optar por usar o elevador da
Glória, um funicular construído nos finais do século XIX (1885) ou o elevador da Santa
Justa. Este elevador é uma interessante obra neogótica, construído em 1902, por
Raoul Mesnier du Ponsard, discípulo de Gustave Eiffel, e sobe 45 metros na vertical.
No cimo, muito perto, o Convento do Carmo, monumento gótico acabado em 1423.
12
Abriga actualmente um importante museu Arqueológico. A Igreja mantém as ruínas
provocadas pelo terramoto de 1755 e são especialmente visíveis do Rossio ou do
Castelo.
A cidade prolonga-se ao longo da margem do rio Tejo, no sentido da foz até
Belém, zona intimamente ligada à época dos Descobrimentos. Dois monumentos,
pertencentes ao Património Mundial da Humanidade, merecem um destaque especial:
O Mosteiro dos Jerónimos, que comemora o regresso das naus de Vasco da Gama da
Índia e a Torre de Belém, situada à beira-rio, na área de partida das caravelas. Ambos
foram mandados construir por D. Manuel I nos inícios do século XVI. Em sentido
contrário, ao olharmos para o extremo oriental da cidade, deparamo-nos com o Parque
das Nações, local onde se realizou a Exposição Universal de Lisboa, em 1998.
Tal como em Belém, também aqui é evocada a época dos Descobrimentos,
através de uma das suas figuras mais representativas: Vasco da Gama, que passou o
cabo da Boa Esperança, em 1489, e abriu caminho para a Índia. Assim, existe a Torre
Vasco da Gama, com uma vista panorâmica única sobre Lisboa e a margem sul, e a
Ponte Vasco da Gama, a segunda ponte que liga Lisboa ao sul do país, com 18 km,
13 dos quais em tabuleiro sobre o rio.
O Parque das Nações é um espaço moderno e alegre, que contém exemplos
únicos de arquitectura contemporânea: é o caso da Gare do Oriente, com as
impressionantes abóbadas geométricas que cobrem as plataformas ferroviárias; o
Pavilhão de Portugal, com uma enorme pala em betão suspensa como se fosse uma
vela de um barco e o Oceanário, o segundo maior do mundo, localizado num cais
rodeado de água.
PROGRAMA 5
CAFÉS LITERÁRIOS
Portugal tem uma grande diversidade de cafés e de pastelarias, desde as
casas com «história» e «tradição» a locais mais recentes e descontraídos. Existem,
em frente a alguns destes estabelecimentos, agradáveis esplanadas, donde pode,
tranquilamente, admirar-se o rio enquanto se saboreia um café.
As cafetarias, comummente designadas «cafés», são um local de encontro e de
convívio social. O convite para se «ir tomar um café» é claramente um apelo ao
encontro, um pretexto para se sair de casa, ver os amigos e «dar dois dedos de
conversa».
As pastelarias são locais ideais para, a meio da tarde, se fazer um pequeno
lanche. Além de sandes e dos típicos salgados, pode deleitar-se com a deliciosa
pastelaria portuguesa, que é extremamente diversificada e sempre apetitosa.
Os primeiros cafés portugueses surgiram em Lisboa, em meados do século
XVIII – os chamados «Botequins». Ao longo da história, alguns serão local de tertúlia
literária, de discussão cultural e de debate político e ideológico. Destes «cafés
literários», outrora centros de cultura, chegaram até nós, em Lisboa, o Martinho da
Arcada, o Café Nicola e a Brasileira e no Porto, o Majestic.
João: – Onde preferes ficar? Sentamo-nos aqui ou ali, mais ao fundo?
Ana: – A mim, tanto me faz! Olha, esta mesa está livre, sentamo-nos já aqui!
Ana: – Depois desta caminhada o que me apetece mesmo é descansar...
João: – E a mim também!
1
Ana:– Apetece-me mesmo ficar aqui uns instantes... a sentir Lisboa... a “saborear”
este espaço... Já reparaste no encanto desta praça e, sobretudo, deste café?...
João: – Saborear o espaço? E um prego, não? O retorno às origens deixou-te muito
poética, primita!
Ana: – Pois tu continuas na mesma! Um bom garfo é sempre um bom garfo, a
“barriga” vem primeiro! Mas tens razão, vamos pedir! Também já vou tendo um
bocadinho de fome! Disseste que querias comer o quê, repete lá?... Um prego?...
João: – Ah! Afinal “a intelectual” precisa das explicações aqui do comilão, não é?
Podes contar comigo... sei tudo sobre comida portuguesa! Um prego é uma sandes de
bife de vaca! Às vezes a tua tia fazia lá em casa, para os lanches...Quando ficava com
saudades...!
Ana: – É verdade, já me lembro!
João: – Olha, agora ainda fiquei com mais vontade de comer um prego! Até sinto água
na boca!
Ana: – Um prego? Não sei! A mim, não me apetece nada carne de vaca... não gosto
muito... Prefiro porco! É menos rijo e mais saboroso.
João: – Então aconselho-te a pedires uma bifana - um bife de porco no pão! Ou se
quiseres algo igualmente típico mas mais ligeiro, uma empadinha de galinha ...ou um
ou dois pastéis de bacalhau, sei lá... isto para não ires para a tosta mista ou para o
cachorro-quente, que isso comes tu em qualquer lado!
Ana: – Ah, é isso mesmo! Aceito a tua sugestão: vou comer uma bifana... Olhe, por
favor! Desculpe!
Empregado: - Boa tarde!
Ana: - Boa tarde!
João: – Boa tarde!
Ana: - Era um prego e uma bifana, se faz favor!
Empregado: - Sim, senhora! E para beber?
João: - Eu queria uma imperial.
2
Empregado: - E a Senhora?
Ana: - E eu gostava de um refrigerante...oh, não, desculpe, traga-me antes um sumo
de laranja natural, se não se importa!
Empregado: - Hum...desculpe...Sumo de laranja natural não temos. Poderá ser um
sumo de máquina ou um sumo...?
Ana: - Pode ser um sumo de máquina, sem gás!
Empregado: - Sem gás...
Ana: - Olhe, de maçã...
Empregado: - Sim, senhora.
João: – Sabes, Ana, tens razão quanto a esta praça – é um local mesmo encantador!
Ana: – É! É Majestosa e imponente! Vês aquela estátua ali no centro? ... É de D.
José!... que reinava em 1755... quando foi o terramoto que praticamente arrasou
Lisboa!
João: – É um bom exemplo da Arquitectura Pombalina – repara que tem um traçado
absolutamente simétrico. Aliás, uma das estátuas ali do Arco da Rua Augusta
representa o próprio Marquês de Pombal... o que foi responsável pela reconstrução da
cidade depois do terramoto.
Empregado : – Ora aqui está! O prego, para quem é?
João : – É para mim! A bifana é para a Senhora.
Empregado: – Um prego para o Senhor e uma imperial.
João: – Obrigado.
Empregado: – Uma bifana para a Senhora e um sumo de maçã.
Ana: – Muito obrigada.
Ana: – Bom apetite!
João: – Obrigado. Igualmente.
João: – Então, que tal? Está bom?
Ana: –Hum! Esta bifana está óptima!
3
João: – Então, já podemos pedir o café? Uma bica, como se diz aqui em Lisboa! No
Norte, só se usa “café”!
Ana: – Curiosa, essa diferença regional! Mas eu não queria um café muito forte.
João: – Então pede um carioca, que é um café fraquinho - a não ser que queiras um
descafeinado ou um nescafé! Eu cá vou pedir uma bica curta escaldada (uma italiana)!
João: – Por favor, trazia-nos um café curto e um carioca?
Empregado: – Sai um carioca e uma bica bem tirada!
Ana: – Ó João...! Já viste bem onde vamos tomar café? Por este local passaram
algumas das mais importantes personalidades do mundo político, cultural e artístico
português...
João: – Sim... Eça de Queirós, Cesário Verde, Almada Negreiros, Fernando Pessoa...
E tu já pensaste nas discussões... nas ideias inovadoras que aqui terão surgido?...
exactamente neste local... à volta destas mesmas mesas de café?
Ana: – Pois! Por exemplo, Fernando Pessoa escreveu aqui a Mensagem!
João: – Sob o efeito inspirador de uma aromática chávena de café!
Bem-vindos, senhores telespectadores, a mais um FALAMOS PORTUGUÊS.
Acabámos de assistir a uma situação de comunicação num café. A Ana e o João,
sentados na esplanada do Martinho da Arcada, em Lisboa, conversam sobre comida
ligeira e ao mesmo tempo apreciam o local que os envolve.
Hoje abordamos, portanto, uma área temática fundamental na comunicação do
dia a dia: a área temática das refeições ligeiras. Vamos também aprender a fazer o
pedido da nossa refeição correctamente, segundo as convenções sociais exigidas por
esta situação.
Ora bem! Comecemos por explicar sucintamente o que se considera uma
refeição ligeira em Portugal. Uma refeição ligeira, como a própria designação indica, é
uma refeição leve, em regra cozinhada e servida rapidamente, e que pode constituir
um almoço breve ou um lanche reforçado:
4
REFEIÇÃO LIGEIRA - refeição leve, em regra confeccionada e servida rapidamente,
que pode constituir um almoço breve ou um lanche reforçado.
1. FAZER UM PEDIDO
Vamos agora ver como pode formular-se um pedido em português (por
exemplo, num estabelecimento comercial), tendo em conta as normas sociais que
devem regular este acto comunicativo. Observemos novamente a Ana e o João e
reparemos no modo como eles fazem o seu pedido ao empregado. A vossa atenção,
por favor!
Ana: - Olhe, desculpe!
Empregado: - Boa tarde!
Ana: - Boa tarde!
João: – Boa tarde!
Ana: - Era um prego e uma bifana, se faz favor!
Empregado: - Sim senhor! E para beber?
João : - Eu queria uma imperial.
Empregado: - E a Senhora?
Ana: - E eu gostava de um refrigerante...oh não, desculpe, traga-me antes
um sumo de laranja natural, se não se importa!
Empregado: - Hum...desculpe...Sumo de laranja natural não temos. Poderá
ser um sumo de máquina ou um sumo...?
Ana: - Pode ser um sumo de máquina, sem gás!
Empregado: - Sem gás.
Ana: - Olhe, de maçã
Empregado: - Sim senhor.
5
1.1 PRÍNCÍPIO DA CORTESIA E FÓRMULAS DE DELICADEZA
Gostaríamos de chamar a vossa atenção para um primeiro aspecto: como
puderam notar, a Ana e o João, ao efectuarem o pedido, dirigem-se ao empregado de
uma forma educada, delicada, segundo mandam as convenções sociais e o chamado
“princípio da cortesia”. A Ana diz:
– Era um prego e uma bifana, se faz favor!
– (...) traga-me antes um sumo de laranja natural, se não se importa!
FÓRMULAS E
EXPRESSÕES DE
DELICADEZA
Se faz favor
Se não se importa
Desculpe
“Se faz favor”; “desculpe” e “se não se importa” são fórmulas e
expressões de delicadeza. São utilizadas nestas circunstâncias para suavizar o
pedido, para o efectuar com cortesia.
1.2 FAZER UM PEDIDO – PRETÉRITO IMPERFEITO
Vamos agora dar atenção às formas verbais utilizadas pelos nossos amigos no
acto de fazer o pedido:
6
FORMAS VERBAIS/ FAZER UM PEDIDO
Pretérito Imperfeito
- Era um prego e uma bifana, se faz favor!
- Eu queria uma imperial!
- E eu gostava de um refrigerante!
São usadas formas verbais como :
- “ERA” - pretérito imperfeito do indicativo do verbo SER;
- “QUERIA” - pretérito imperfeito do indicativo do verbo QUERER;
- “GOSTAVA” - pretérito imperfeito do indicativo do verbo GOSTAR.
Em português, é extremamente frequente, em situações de comunicação como
aquela a que assistimos, usar-se o pretérito imperfeito do indicativo para formular o
pedido: como vimos, podemos utilizar o pretérito imperfeito do verbo SER (“era”), mas
também o pretérito imperfeito de outros verbos, entre eles os usados para expressar
desejo ou vontade (como é o exemplo dos verbos QUERER (“queria”) e GOSTAR
(“gostava”).
É preciso sublinhar que o pretérito imperfeito não tem aqui um valor temporal.
Por vezes, quando fazemos um pedido desta natureza e o nosso interlocutor tem
muita intimidade connosco, podemos até ouvi-lo “brincar” com a situação,
respondendo-nos, por exemplo, “- Queria uma imperial? Então agora já não a quer,
não é assim?”. Na verdade, o pretérito imperfeito nesta situação não se reporta a uma
acção do passado. Tem neste caso um valor contextual ou modal. Destina-se aqui a
modalizar o discurso de acordo com regras sociais: a atenuar o pedido, a efectuá-lo
7
com polidez e cortesia, como já explicámos. É, de facto, também expressão de
delicadeza.
1.3 FAZER UM PEDIDO – PRESENTE DO INDICATIVO
Vamos agora reparar que o pretérito imperfeito, em algumas das nossas
frases, tem um valor de presente do indicativo. Pode, com efeito, ser substituído pelo
presente no acto de fazer o pedido.
FORMAS VERBAIS/ FAZER UM PEDIDO
Pretérito Imperfeito = Presente do Indicativo
Era/ É um prego e uma bifana, se faz favor!
Eu queria /quero uma imperial!
Há que chamar a atenção, no entanto, para o seguinte: embora o presente do
indicativo também possa, com efeito, ser usado para se fazer um pedido em
português, a sua utilização pode ser sentida como menos cortês e delicada do que a
utilização do pretérito imperfeito. A utilização do presente do indicativo corresponde
também, por vezes, a um registo de menor formalidade.
1.4 FAZER UM PEDIDO – CONDICIONAL
Noutros enunciados, o pretérito imperfeito surge com um valor de condicional
de cortesia:
8
FORMAS VERBAIS/ FAZER UM PEDIDO
Pretérito Imperfeito = Condicional
E eu gostava de um refrigerante =
E eu gostaria de um refrigerante.
“Eu gostava de um refrigerante!” equivale a dizer “Eu gostaria de um
refrigerante” (é, de facto, a mesma coisa). O pedido pode ser feito, deste modo,
também com o condicional. À semelhança do imperfeito, o condicional também não
tem aqui informação temporal mas sim modal. O condicional assinala, neste último
enunciado, um desejo, manifestado com muita elegância e suavidade. Trata-se, no
fundo, de um pedido, mas feito com muito boa educação, de uma forma extremamente
delicada. A utilização do condicional corresponde a um registo mais formal e menos
coloquial do que a utilização do imperfeito.
1.5 FAZER UM PEDIDO – IMPERATIVO
Vejamos ainda a frase da Ana:
– (...) desculpe, traga-me antes um sumo de laranja natural, se não se
importa!
É possível utilizarmos o imperativo para fazermos um pedido. O modo
imperativo é realizado pelo conjuntivo na 3ª pessoa do singular (assim como na 1ª e 3ª
pessoas do plural) - esta questão será abordada detalhadamente no próximo
programa.
9
Quando usamos o imperativo e estamos a fazer um pedido, é muito importante
utilizarmos “atenuadores de ordem”, como as expressões de cortesia “desculpe”, “se
não se importa”, para evitarmos que o nosso pedido pareça rude ao destinatário.
2. ACEITAR SATISFAZER O PEDIDO
O empregado, ao espontaneamente aceitar satisfazer o pedido feito pela Ana,
usa a expressão “sim senhor”. E agora, muita atenção! Parece haver uma tendência
no português europeu para o uso de “sim senhor” eliminando a concordância de
género e número, como se esta fosse uma expressão fixa, invariável. No entanto, de
acordo com a tradição gramatical, e no contexto que vimos, tal expressão varia em
género e em número, consoante as pessoas a quem nos dirigimos.
Assim:
Resposta a um homem Sim, senhor!
Resposta a uma mulher Sim, senhora!
Resposta a vários homens Sim, senhores!
Resposta a várias mulheres Sim, senhoras!
Se nos dirigirmos a um homem usamos “sim, senhor! mas se o nosso
interlocutor for feminino usamos “sim, senhora!”
Passemos agora à descodificação de algumas expressões usadas no diálogo.
10
3. ALGUMAS EXPRESSÕES DO PORTUGUÊS:
No diálogo, a Ana, dirigindo-se ao João, utiliza expressões como “ Um bom
garfo é sempre um bom garfo” e “a barriga vem primeiro”! O que quererão dizer
estas expressões?
“ser um bom garfo”
A expressão significa “ser um grande apreciador de gastronomia, alguém que
se entrega aos prazeres da boa mesa”.
“a barriga vem primeiro”
A barriga vem primeiro é uma expressão fixa que significa que a principal
preocupação de alguém é a comida e que esse alguém pensa primeiro em comer e só
depois noutros assuntos.
Bom, pela minha parte, por hoje é tudo! Convido-os agora a conhecerem
alguns cafés onde se fez a História de Portugal – alguns cafés com história! Referimo-
nos a cafés portugueses que se inserem na tradição dos cafés-tertúlia, por onde
passaram muitas figuras importantes da cultura portuguesa. Fiquem para ver!
O Martinho da Arcada situa-se na Praça do Comércio, sob as suas elegantes
arcadas neoclássicas. Este café-restaurante foi inaugurado em 1782, no período
pombalino, pelo próprio Marquês de Pombal. É um dos mais antigos cafés lisboetas.
Junto à entrada, do lado esquerdo, no espaço revestido a azulejos brancos,
destaca-se a figura de Fernando Pessoa. O local fazia parte da vida diária deste
poeta. Aqui se entregava à inspiração, rabiscando alguns dos seus extraordinários
11
poemas; aqui se refugiava, na companhia de Almada Negreiros e de Mário de Sá
Carneiro. Quando este último morreu, Pessoa sente a sua falta. Escreve, saudoso e
inconformado:
É como se esperasse eternamente
A tua vinda certa e combinada
Aí em baixo, no Café Arcada
Quase no extremo deste continente
Três dias antes de morrer, por aqui terá passado uma última vez Fernando
Pessoa e tomado um derradeiro café.
A Brasileira é outros dos locais emblemáticos da vida do poeta. Aqui reuniam
os modernistas portugueses e entre eles, Pessoa e Sá Carneiro. Na esplanada do
café, uma estátua em bronze, da autoria de Lagoa Henriques, imortaliza os momentos
que Fernando Pessoa aí passou.
Em 1905, quando o espaço abriu, começou por ser um ponto de venda do café
proveniente do Brasil. Passou depois a casa de café, com um projecto do arquitecto
Norte Júnior. Na fachada, distinguem-se três portas envidraçadas, no cimo das quais
existe uma figura masculina a tomar café. Conta-se que neste café terá nascido a
expressão, tão lisboeta, “uma bica bem tirada”, quando um empregado pediu ao seu
colega um café servido com esmero.
O Café Nicola é também um dos primeiros cafés lisboetas, inaugurado no
século XVIII. O poeta Bocage, um dos maiores poetas portugueses do mesmo século,
ficará eternamente ligado ao seu nome. Destemido e rebelde, aí levou uma vida de
boémio, conspirando contra o despotismo do regime político da altura, defendendo os
direitos humanos, analisando os problemas do país. Do espaço original deste café,
nada resta. A sua configuração actual, de estilo déco, data dos anos 30 do séc. XX.
No entanto, no interior, uma estátua de Bocage lembra a associação eterna entre o
poeta e o café.
12
13
Em 1921, na Rua de Santa Catarina, no Porto, abre um luxuoso café
aristocrático, seguindo a tradição dos elegantes cafés parisienses. Da autoria do
arquitecto João Queirós, é inicialmente chamado Elite e é frequentado pela alta
burguesia portuense e por figuras célebres portuguesas. São exemplos o aviador
Gago Coutinho e a actriz Beatriz Costa.
Passa a chamar-se Majestic em 1922. O seu estilo Arte Nova remete-nos para
o Porto dos anos vinte, da “Belle Époque”. A sua grande sala rectangular ostenta
tectos de gesso, cuidadosamente decorados. Em ambas as paredes laterais, existem
bancos corridos, forrados a cabedal. Os espelhos de cristal de Antuérpia conferem ao
local um brilho requintado. Entre os espelhos, erguem-se colunas de capitéis
ornamentados.
Por aí passaram nomes da cultura portuguesa como Teixeira Pascoaes, José
Régio ou Amadeu Sousa Cardoso. Aí se debateram ideias literárias e artísticas.
Presentemente, continua a ser palco de acontecimentos culturais: recitais de piano e
de poesia, lançamentos de livros, exposições de pintura. Continua a ser visitado por
figuras públicas portuguesas, a par dos turistas e dos clientes habituais, muito
diversificados.
PROGRAMA 6
TERMALISMO EM PORTUGAL
Todos os que precisam de melhorar o seu estado de saúde ou forma física
podem encontrar nas águas portuguesas o alívio pretendido. Do solo português
brotam inúmeras nascentes de águas minero-medicinais, que pelas suas
características físico-químicas e temperatura são adequadas ao tratamento de uma
grande diversidade de doenças.
Em Portugal, as estâncias termais concentram-se, sobretudo, no Norte e na
região centro. Algumas têm como enquadramento cenários paisagísticos de extrema
beleza natural.
No nosso país, a tradição do termalismo remonta, pelo menos, aos romanos.
Este povo trouxe consigo o hábito de tomar águas medicinais quentes. Com o
objectivo de aproveitar as propriedades terapêuticas das águas, aqui construiu muitas
termas, em diferentes localidades. Ainda hoje, as fontes de águas termais são
designadas caldas, do latim CALIDAS, que significava “quentes”. A palavra passou a
integrar topónimos portugueses relativos a localidades onde se verifica a existência de
termas, como por exemplo: Caldas da Rainha, Caldas de Aregos, Caldas de Vizela,
Caldas do Gerês.
Também do latim provém a designação do frequentador de termas, daquele
que busca o poder curativo das águas: aquista – do latim aqua.
Este, antes de optar por uma estância termal, começa por ir ao médico...
Ana: – Boa tarde, Senhora Doutora! Dá licença?
1
Médica: – Boa tarde! Faz favor! Entre, entre!
Médica: – Faça favor de se sentar! Só um momentinho que eu já a atendo! Ana: –
Com certeza!
Médica: – Ora bem! Senhora D. Ana Paula Martins! É a primeira vez, não é? Não
tinha cá ficha!
Ana: – É sim, Senhora Doutora! É que eu não moro cá! Vim cá passar uns tempos e
olhe...
Médica: – Adoeceu...está-se mesmo a ver! Não podia ter escolhido melhor ocasião?
Não se vem de férias a Portugal para se ficar doente!
Ana: – E logo agora, que eu estava a gostar tanto de tudo!
Médica: – Ah, mas isso é mesmo assim! Estas coisas não escolhem dia nem hora!
Bom... mas diga lá, então... De que é que se queixa?
Ana: – Olhe, tenho tido uma pontinha de febre! E dores no corpo e na cabeça...
Médica : – Mas tem tirado a febre?
Ana: – Tenho sim! Até comprei um termómetro de propósito na farmácia! Tenho tido
trinta e sete e nove, trinta e oito...
Médica: – Hum...Estou a ver... Não é bem “uma pontinha de febre”... Já é mesmo
febre! E há quanto tempo está assim?
Ana: – Ora, deixe-me ver... hoje é o terceiro dia.
Médica: – Hum... tem tido dores de garganta?
Ana: – Sim, dói-me um bocadinho!
Médica: – Deixe-me ver, então! Abra a boca! Diga: “AAAAAH”...
Ana: – AAAAAH....
Médica: – Está um bocadito inflamada! Mas não tem pontos brancos! Bem, vamos
puxar a camisola para cima...para eu a poder auscultar... Respire fundo! Agora tussa!
Disse que tinha dores na cabeça...? Onde, exactamente?
Ana: – Onde, Doutora? Não sei... Acho que me dói a cabeça toda!
2
Médica: – Bem me pareceu! Não tem dores na cabeça... o que tem é dores de
cabeça! Em português, ter uma dor na cabeça é ter uma dor localizada num ponto
específico da cabeça... por exemplo, quando se bateu com a cabeça nalgum lado!
Ana: – Ah! Pois, não é esse o caso! Eu apanhei foi uma forte constipação!
Médica: – Pois... E ficou com dores de cabeça...
Ana: – Bom, estou a ver que tenho de vir mais vezes à consulta... para aprender mais
português!
Médica: – Esperemos que não! Não vai ter de ficar de cama mas vai fazer o
tratamento que lhe vou receitar! É alérgica a algum medicamento?
Ana: – Que eu saiba, não, Senhora Doutora!
Médica: – Vai tomar estes comprimidos de doze em doze horas. E tome este xarope
três vezes ao dia! Vai ficar boa num instante! Sã que nem um pero!
Ana: – Oh! Que pena! E eu a pensar que me ia mandar para as termas!
Médica: – Lamento decepcioná-la... não é caso para isso! Mas, sabe, não vamos
para as termas só quando temos uma doença! Também podemos ir por outras
razões... para fugir à agitação da cidade... para descansar, descontrair... É o chamado
“termalismo de bem estar”!
Ana: – E em Portugal, já há muita oferta desse termalismo? Por exemplo, se eu
pudesse dar um salto a umas termas... qual é que a Senhora Doutora me
recomendava?
Médica: – Bom...
Bem-vindos, Senhores Telespectadores, ao sexto programa do FALAMOS
PORTUGUÊS. Hoje assistimos a uma situação de comunicação num consultório
médico. A Ana constipou-se, adoeceu e teve de recorrer à ajuda de um médico. No
diálogo, vimos algumas estruturas linguísticas e algum vocabulário relacionados com o
corpo humano, com a doença e com o atendimento e o tratamento médico.
3
Neste programa, iremos também ver como pedir e dar autorização ou
permissão, como dar ordens ou instruções e ainda formas de tratamento
formais.
1. PEDIR/CONCEDER AUTORIZAÇÃO/PERMISSÃO
Como certamente repararam, a Ana e a médica encontram-se numa situação
de formalidade. Assim, o uso que fazem da língua é guiado, sobretudo, pelo princípio
da delicadeza, pois os dois interlocutores assumem comportamentos convencionais
de cortesia. Ao chegar à porta do consultório, a Ana empurra-a delicadamente e
cumprimenta a médica : deseja “Boa tarde” (que é uma forma de saudação para o acto
de CUMPRIMENTAR). Depois, pede a autorização da médica para entrar e esta
concede-lhe a sua permissão. Observem atentamente!
Ana: – Boa tarde, Senhora Doutora! Dá-me licença?
Médica: – Boa tarde! Faz favor! Entre, entre!
Vimos que a Ana, para pedir autorização ou permissão para entrar, usa uma
frase interrogativa, empregue com muita frequência em português nestas situações:
“Dá-me licença?”.
PEDIR AUTORIZAÇÃO/
PERMISSÃO
DAR AUTORIZAÇÃO/
PERMISSÃO
Dá-me licença [...]?
Posso entrar?
Com licença!
Faz favor!
Entre, entre.
Ora essa!
Com certeza!
Mas há outras formas de pedir permissão em português. Vejamos mais
algumas: a Ana poderia ter utilizado a frase interrogativa “Posso entrar?” Neste caso
4
utilizaria o verbo modal poder no presente do indicativo (“posso”) + o verbo
principal no infinitivo (“entrar”); Poderia também ter utilizado apenas a expressão
de cortesia “com licença”.
Para conceder autorização à Ana e dar o seu assentimento para esta entrar, a
médica utiliza a fórmula de delicadeza “faz favor”. Diz-lhe ainda “Entre, entre”.
Trata-se de uma frase imperativa realizada pelo conjuntivo. A forma verbal “entre”
está no presente do conjuntivo mas tem um valor de imperativo.
A médica poderia ainda ter respondido com a expressão interjectiva “Ora
essa!” ou com a locução adverbial “Com certeza!”. Chamamos a atenção para a
grafia da locução adverbial “com certeza” – composta pela preposição “com” + o
nome “certeza”. É um erro muito comum em português escrever-se esta expressão
como se fosse uma única palavra, o que está incorrecto. Deixamos aqui apenas a
advertência! Trata-se de duas palavras e não de uma só!
2. FORMAS DE TRATAMENTO FORMAIS
O grau de formalidade de uma situação condiciona o que dizemos e o modo
como o fazemos. Deste modo, as formas de tratamento utilizadas são determinadas
pela situação em que usamos a língua. Lembremos as formas de tratamento usadas
pela Ana e pela médica para se dirigirem uma à outra:
Médica: – Ora bem! Senhora Dona Ana Paula Martins! É a primeira
vez, não é? Não tinha cá ficha!
Ana: – É sim, Senhora Doutora!
O reconhecimento da posição ocupada pelos locutores na relação social tem
reflexo na selecção das formas de tratamento que cada um utiliza para se dirigir ao
outro. Desta forma, a Ana e a médica seleccionam formas de tratamento diferenciadas
consoante a posição que cada uma ocupa na relação social. Vemos que para se dirigir
5
à médica, a Ana usa a forma de tratamento “Senhora Doutora” e utiliza sempre o
verbo na terceira pessoa do singular. Por sua vez, a médica dirige-se-lhe como
“Senhora Dona”.
3. DAR ORDENS/INSTRUÇÕES
Vamos agora abordar algumas formas de DAR ORDENS/INSTRUÇÕES em
português. Ao realizar o atendimento médico, a médica pede informações sobre o
estado de saúde da Ana e, à medida que a consulta se vai desenrolando, vai dizendo
à Ana como esta deve proceder para que possa analisar o seu estado de saúde. No
fim, dá-lhe ainda algumas instruções sobre como deve tomar os medicamentos
prescritos/receitados. Estejam atentos ao excerto!
Médica: – Abra a boca! Diga: “AAAAAH”...
Médica: – Respire fundo!
Médica: – Agora tussa!
Médica: – (...) E tome este xarope três vezes ao dia!
Como viram, para incentivar a Ana a realizar determinadas acções, a médica dá-lhe
determinadas instruções. Usa formas verbais como “abra” (“Abra a boca”), “diga”
(Diga “AAAAH”...), “respire” (Respire fundo!), “tussa” (Agora tussa!) ou “tome” (E
tome este xarope...).
6
DAR ORDENS ORDENS/
INTRUÇÕES
Abra a boca
Diga “AHHHH”...
Respire fundo!
Agora tussa!
E tome este xarope (...)
Estas formas são formas do presente do conjuntivo que surgem em frases
imperativas. Em português, usa-se o presente do conjuntivo nestas circunstâncias
para substituir as formas que faltam ao imperativo. Expliquemos melhor este aspecto.
Vamos exemplificar com o verbo “respirar”:
IMPERATIVO – frases afirmativas
Respira! (tu)
Respirai! (vós)
O imperativo conjuga-se sem sujeito expresso e gramaticalmente só tem as
formas de segunda pessoa do singular (caso de Respira! – “tu”) e de segunda pessoa
do plural (exemplo de Respirai! – “vós”).
Devemos sublinhar dois aspectos fundamentais do uso do imperativo:
- as formas do imperativo ocorrem exclusivamente em frases afirmativas;
- actualmente, a forma de segunda pessoa do plural do imperativo, que outrora
também se aplicava a interlocutores singulares para denotar uma grande deferência
(“respirai”), já não é utilizada em grande parte de Portugal. Esta forma foi susbtituída
no uso pela terceira pessoa do presente do conjuntivo. Em vez de “respirai” diz-se hoje
“Respire” (“você”) ou “Respirem” (“vocês”).
7
DAR ORDENS/ INSTRUÇÕES (imperativo e conjuntivo)
Afirmativa Negativa
Respira! (tu) – IMPERATIVO
Respire! (você) - CONJUNTIVO
Respiremos! (nós) - CONJUNTIVO
Respirem! (vocês) - CONJUNTIVO
Não respires! (tu) - CONJUNTIVO
Não respire! (você) - CONJUNTIVO
Não respiremos! (nós) - CONJUNTIVO
Não respirem! (vocês) - CONJUNTIVO
O presente do conjuntivo com valor de imperativo emprega-se também para a
primeira pessoa do plural (“respiremos”- nós). Utiliza-se igualmente o conjuntivo
sempre que a frase é negativa.: “não respires – tu”; “não respire – você”; “não
respiremos –nós”; “não respirem – vocês”.
Gostaríamos ainda de chamar a vossa atenção para o seguinte: as frases com
uso do imperativo (frases imperativas) podem ser diferentemente interpretadas
consoante o contexto situacional e linguístico em que surjam. Assim, uma mesma
frase imperativa pode ter uma leitura de ordem, de instrução, de pedido, etc.
Devemos ter cuidado com a entoação que damos a uma frase, de acordo com o
significado que lhe queiramos imprimir. Não devemos esquecer que uma mesma frase
pronunciada com entoações diferentes pode ter em português diferentes significados.
Imaginemos os seguintes contextos:
A mãe diz para a filha - Soube que te portaste mal na escola!
Conta-me tudo imediatamente! – Ordem!
Uma amiga diz para outra - Como é que foi ontem com o João?
Conta-me tudo imediatamente! – Pedido!
8
4. ALGUMAS EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS
Para finalizarmos, vamos esclarecer o significado de algumas expressões do
texto. A médica afirma:
“Estas coisas não escolhem dia nem hora”
Quer a médica dizer com isto que há situações que não são previsíveis. Diz
ainda que a Ana vai ficar “Sã que nem um pero!”.
“ ficar ou ser sã/são que nem um pero”
Esta expressão significa ficar/ser muito saudável.
Neste momento, resta-me despedir, até ao próximo programa, mas vou ainda
convidá-lo a conhecer alguns locais termais de Portugal! Fique connosco e conheça
algumas termas portuguesas.
As Termas de S. Pedro do Sul, as mais frequentadas de Portugal, situam-se
no distrito de Viseu, no concelho de S. Pedro do Sul, povoação do Banho.
Na margem esquerda do Vouga, numa paisagem idílica, construíram os
romanos um Balneum – balneário termal constituido por diversas estruturas, como
evidenciam os presentes vestígios arqueológicos. Desta histórica denominação
provém o nome actual da vila – Banho!
Ao longo dos tempos, os seus banhos sulfurosos quentes foram ganhando
fama e atraindo gentes de todas as classes sociais, ansiosas por aliviar os seus
males.
9
Conta a lenda que D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, tendo sido
informado das propriedades terapêuticas destas águas, aqui buscou a cura para uma
fractura de uma perna, após a Batalha de Badajoz.
Também aqui passou férias a última rainha de Portugal, recebendo as termas o
seu nome: “Thermas da Rainha D. Amélia”.
As novas instalações, em funcionamento desde 2001, estão dotadas do mais
moderno equipamento e tratam, entre outras, doenças do aparelho respiratório,
reumáticas e músculo-esqueléticas.
Localizadas em Trás-os-Montes, no distrito de Vila Real, concelho de Chaves,
as Termas de Vidago encontram-se inseridas num deslumbrante cenário paisagístico,
no coração do centenário e maravilhoso Parque Natural de Vidago. Os seus lindos
edífícios “Belle Époque” merecem também ser admirados.
Do termalismo clássico ao recente conceito de termalismo de bem-estar, estas
termas oferecem uma grande diversidade de programas, direccionados quer para a
cura de doenças quer para o relaxamento e libertação do stress.
Uma completa estrutura turística, que inclui piscinas, campo de golfe, campo
de ténis, etc., proporciona ao visitante uma férias inesquecíveis.
Nas Termas de Vidago tratam-se doenças do sangue, do sistema nervoso, do
aparelho respiratório, do aparelho digestivo e da pele.
As Termas da Curia situam-se em plena região da Bairrada, envoltas por um
lindíssimo parque com uma área de 14 hectares, que contribui para o repouso e
tranquilidade dos aquistas.
No seu enquadramento, destacam-se frondosas e verdejantes matas, cujos
caminhos se podem percorrer, passeando por entre as centenárias árvores ou
andando de bicicleta.
Assume também relevo um enorme lago artificial, de cerca de 1km de
perímetro, rodeando uma Ilha que se encontra unida às margens por características
pontes.
10
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal
Chegada de João e Ana a Portugal

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Guia De Reforma OrtagráFica
Guia De Reforma OrtagráFicaGuia De Reforma OrtagráFica
Guia De Reforma OrtagráFicaguest416330
 
Guia pratico de conjugacao e concordancia dos verbos em portugues
Guia pratico de conjugacao e concordancia dos verbos em portuguesGuia pratico de conjugacao e concordancia dos verbos em portugues
Guia pratico de conjugacao e concordancia dos verbos em portuguesLuisa Cristina Rothe Mayer
 
Los falsos amigos, portugués y español
Los falsos amigos, portugués y españolLos falsos amigos, portugués y español
Los falsos amigos, portugués y españolaridyasan
 
Lusofonia
LusofoniaLusofonia
Lusofoniacepmaio
 
Novo-dicionario-libras ilustrado PDF
 Novo-dicionario-libras ilustrado PDF Novo-dicionario-libras ilustrado PDF
Novo-dicionario-libras ilustrado PDFELIAS OMEGA
 
Prova tipo1-integrado 2016-1
Prova tipo1-integrado 2016-1Prova tipo1-integrado 2016-1
Prova tipo1-integrado 2016-1Bruno Araujo Lima
 
Português para estrangeiros gramática básica para alunos que já falem e escre...
Português para estrangeiros gramática básica para alunos que já falem e escre...Português para estrangeiros gramática básica para alunos que já falem e escre...
Português para estrangeiros gramática básica para alunos que já falem e escre...Luisa Cristina Rothe Mayer
 
A INFLUÊNCIA AFRICANA NO PORTUGUÊS DO BRASIL - MUDANÇAS CONDICIONADAS POR FAT...
A INFLUÊNCIA AFRICANA NO PORTUGUÊS DO BRASIL - MUDANÇAS CONDICIONADAS POR FAT...A INFLUÊNCIA AFRICANA NO PORTUGUÊS DO BRASIL - MUDANÇAS CONDICIONADAS POR FAT...
A INFLUÊNCIA AFRICANA NO PORTUGUÊS DO BRASIL - MUDANÇAS CONDICIONADAS POR FAT...Amanda Bento
 
Influencia africana no_portugues_do_brasil - renato mendonça
Influencia africana no_portugues_do_brasil - renato mendonçaInfluencia africana no_portugues_do_brasil - renato mendonça
Influencia africana no_portugues_do_brasil - renato mendonçaDaniel Torquato
 
Emma eberlein o. f. lima, samira a. iunes portugues via brasil - 2005
Emma eberlein o. f. lima, samira a. iunes   portugues via brasil - 2005Emma eberlein o. f. lima, samira a. iunes   portugues via brasil - 2005
Emma eberlein o. f. lima, samira a. iunes portugues via brasil - 2005Elisangela Mendes
 
Pontuação
PontuaçãoPontuação
PontuaçãoDamisa
 

Mais procurados (14)

Guia De Reforma OrtagráFica
Guia De Reforma OrtagráFicaGuia De Reforma OrtagráFica
Guia De Reforma OrtagráFica
 
Guia pratico de conjugacao e concordancia dos verbos em portugues
Guia pratico de conjugacao e concordancia dos verbos em portuguesGuia pratico de conjugacao e concordancia dos verbos em portugues
Guia pratico de conjugacao e concordancia dos verbos em portugues
 
A Clave - Janeiro 2011
A Clave - Janeiro 2011A Clave - Janeiro 2011
A Clave - Janeiro 2011
 
Los falsos amigos, portugués y español
Los falsos amigos, portugués y españolLos falsos amigos, portugués y español
Los falsos amigos, portugués y español
 
Lusofonia
LusofoniaLusofonia
Lusofonia
 
Lusofonia
LusofoniaLusofonia
Lusofonia
 
Novo-dicionario-libras ilustrado PDF
 Novo-dicionario-libras ilustrado PDF Novo-dicionario-libras ilustrado PDF
Novo-dicionario-libras ilustrado PDF
 
Prova tipo1-integrado 2016-1
Prova tipo1-integrado 2016-1Prova tipo1-integrado 2016-1
Prova tipo1-integrado 2016-1
 
Português para estrangeiros gramática básica para alunos que já falem e escre...
Português para estrangeiros gramática básica para alunos que já falem e escre...Português para estrangeiros gramática básica para alunos que já falem e escre...
Português para estrangeiros gramática básica para alunos que já falem e escre...
 
Lp variação
Lp variaçãoLp variação
Lp variação
 
A INFLUÊNCIA AFRICANA NO PORTUGUÊS DO BRASIL - MUDANÇAS CONDICIONADAS POR FAT...
A INFLUÊNCIA AFRICANA NO PORTUGUÊS DO BRASIL - MUDANÇAS CONDICIONADAS POR FAT...A INFLUÊNCIA AFRICANA NO PORTUGUÊS DO BRASIL - MUDANÇAS CONDICIONADAS POR FAT...
A INFLUÊNCIA AFRICANA NO PORTUGUÊS DO BRASIL - MUDANÇAS CONDICIONADAS POR FAT...
 
Influencia africana no_portugues_do_brasil - renato mendonça
Influencia africana no_portugues_do_brasil - renato mendonçaInfluencia africana no_portugues_do_brasil - renato mendonça
Influencia africana no_portugues_do_brasil - renato mendonça
 
Emma eberlein o. f. lima, samira a. iunes portugues via brasil - 2005
Emma eberlein o. f. lima, samira a. iunes   portugues via brasil - 2005Emma eberlein o. f. lima, samira a. iunes   portugues via brasil - 2005
Emma eberlein o. f. lima, samira a. iunes portugues via brasil - 2005
 
Pontuação
PontuaçãoPontuação
Pontuação
 

Semelhante a Chegada de João e Ana a Portugal

Newsletter Gulbenkian Fevereiro 2013
Newsletter Gulbenkian Fevereiro 2013Newsletter Gulbenkian Fevereiro 2013
Newsletter Gulbenkian Fevereiro 2013Alessandra Zuliani
 
A língua portuguesa no mundo
A língua portuguesa no mundoA língua portuguesa no mundo
A língua portuguesa no mundoaDIRIANA SILVI
 
Libro virtual portugues2
Libro virtual portugues2Libro virtual portugues2
Libro virtual portugues2marco quispe
 
Textos y audiciones 2
Textos y audiciones 2Textos y audiciones 2
Textos y audiciones 2lusitan
 
Textos y audiciones 2
Textos y audiciones 2Textos y audiciones 2
Textos y audiciones 2lusitan
 
Apresentação para décimo segundo ano, aula 49
Apresentação para décimo segundo ano, aula 49Apresentação para décimo segundo ano, aula 49
Apresentação para décimo segundo ano, aula 49luisprista
 
Revista de letras up formosa do rio preto-ba
Revista de letras up formosa do rio preto-baRevista de letras up formosa do rio preto-ba
Revista de letras up formosa do rio preto-baletrasftc
 
Modulo 2015.2 revisado
Modulo 2015.2 revisadoModulo 2015.2 revisado
Modulo 2015.2 revisadopibidbar
 
Portugués brasileiro basico, pronombres, numeros
Portugués brasileiro basico, pronombres, numerosPortugués brasileiro basico, pronombres, numeros
Portugués brasileiro basico, pronombres, numerosroxanaparedes26
 
Seq. didática 3 (regina)
Seq. didática 3 (regina)Seq. didática 3 (regina)
Seq. didática 3 (regina)Mar_Siq_Lim
 
Portfólio portugues
Portfólio portuguesPortfólio portugues
Portfólio portuguesjuliaayea
 
Livro meu brasil brasileiro 1 de Cris Sousil
Livro meu brasil brasileiro 1 de Cris SousilLivro meu brasil brasileiro 1 de Cris Sousil
Livro meu brasil brasileiro 1 de Cris SousilCris Sousil
 
Portugues de portugal
Portugues de portugalPortugues de portugal
Portugues de portugalJorge Torres
 
Guia completo de francês
Guia completo de francês Guia completo de francês
Guia completo de francês Izabelle Soares
 
O Bandeirante - nº 252 - Novembro de 2013
O Bandeirante - nº 252 - Novembro de 2013O Bandeirante - nº 252 - Novembro de 2013
O Bandeirante - nº 252 - Novembro de 2013Marcos Gimenes Salun
 
Os herdeiros-da-lua-de-joana
Os herdeiros-da-lua-de-joanaOs herdeiros-da-lua-de-joana
Os herdeiros-da-lua-de-joanaanarsantos8
 

Semelhante a Chegada de João e Ana a Portugal (20)

Newsletter Gulbenkian Fevereiro 2013
Newsletter Gulbenkian Fevereiro 2013Newsletter Gulbenkian Fevereiro 2013
Newsletter Gulbenkian Fevereiro 2013
 
A língua portuguesa no mundo
A língua portuguesa no mundoA língua portuguesa no mundo
A língua portuguesa no mundo
 
Libro virtual portugues2
Libro virtual portugues2Libro virtual portugues2
Libro virtual portugues2
 
Textos y audiciones 2
Textos y audiciones 2Textos y audiciones 2
Textos y audiciones 2
 
Textos y audiciones 2
Textos y audiciones 2Textos y audiciones 2
Textos y audiciones 2
 
Apresentação para décimo segundo ano, aula 49
Apresentação para décimo segundo ano, aula 49Apresentação para décimo segundo ano, aula 49
Apresentação para décimo segundo ano, aula 49
 
Revista de letras up formosa do rio preto-ba
Revista de letras up formosa do rio preto-baRevista de letras up formosa do rio preto-ba
Revista de letras up formosa do rio preto-ba
 
1ª Parte Curso Ingles Ok
1ª Parte Curso Ingles Ok1ª Parte Curso Ingles Ok
1ª Parte Curso Ingles Ok
 
Manual PLE
Manual PLEManual PLE
Manual PLE
 
Modulo 2015.2 revisado
Modulo 2015.2 revisadoModulo 2015.2 revisado
Modulo 2015.2 revisado
 
Portugués brasileiro basico, pronombres, numeros
Portugués brasileiro basico, pronombres, numerosPortugués brasileiro basico, pronombres, numeros
Portugués brasileiro basico, pronombres, numeros
 
Variacao
VariacaoVariacao
Variacao
 
Seq. didática 3 (regina)
Seq. didática 3 (regina)Seq. didática 3 (regina)
Seq. didática 3 (regina)
 
Portfólio portugues
Portfólio portuguesPortfólio portugues
Portfólio portugues
 
Livro meu brasil brasileiro 1 de Cris Sousil
Livro meu brasil brasileiro 1 de Cris SousilLivro meu brasil brasileiro 1 de Cris Sousil
Livro meu brasil brasileiro 1 de Cris Sousil
 
Portugues de portugal
Portugues de portugalPortugues de portugal
Portugues de portugal
 
José eduardo agualusa e a lusofonia
José eduardo agualusa e a lusofoniaJosé eduardo agualusa e a lusofonia
José eduardo agualusa e a lusofonia
 
Guia completo de francês
Guia completo de francês Guia completo de francês
Guia completo de francês
 
O Bandeirante - nº 252 - Novembro de 2013
O Bandeirante - nº 252 - Novembro de 2013O Bandeirante - nº 252 - Novembro de 2013
O Bandeirante - nº 252 - Novembro de 2013
 
Os herdeiros-da-lua-de-joana
Os herdeiros-da-lua-de-joanaOs herdeiros-da-lua-de-joana
Os herdeiros-da-lua-de-joana
 

Chegada de João e Ana a Portugal

  • 1.
  • 2. PROGRAMA 1 CHEGADA A PORTUGAL Portugal é um país com uma área total de cerca de noventa e dois mil Km2. Ocupa o extremo oeste da Europa, na zona ocidental da Península Ibérica e é delimitado a norte e este por Espanha e a sul e oeste pelo Oceano Atlântico. Compreende ainda os Arquipélagos dos Açores e da Madeira, no Atlântico Norte. É um país rico pela sua história e diversidade. Independente desde 1139, possui as fronteiras mais antigas da Europa e é a primeira nação deste continente europeu a usar uma única língua: o português. Podemos dizer que a diversidade de Portugal pode ser apreciada em quatro, ou cinco, grandes blocos: o Norte, o Centro, o Sul e as Ilhas, que formam duas regiões autónomas: a dos Açores e da Madeira. Nesta série de programas vamos conhecer essa diversidade e também alguns aspectos da língua portuguesa, na companhia de três amigos... António: – Olá! Eu sou o António Silva. Estou no aeroporto à espera de um grande amigo meu, o João Tavares. Ele vem passar as férias a Lisboa e vem com a prima, a Ana Paula. O avião já aterrou, por isso acho que estão quase a aparecer ali ... (...) António: - João! Estou aqui! ... João (para a Ana): – Olha o António! Está ali! (Para o António) – Que bom! Ainda bem que estás aqui! Que bom voltar a ver-te! Como estás? António: – Estou óptimo, obrigado. 1
  • 3. João: – Este é o meu amigo António. (Para o António) - E tu, lembras-te da minha prima Ana Paula? (Para os dois) Vocês já se encontraram, lembram-se? Ana: – Claro que me lembro! (Para o António) - Que prazer em voltar a vê-lo! Como está? António: – Lembro-me perfeitamente. (Para a Ana) - Para mim também é um prazer voltar a encontrá-la. João: – Mas porque é que vocês não se tratam por tu? Deixem-se de cerimónias. António: – Com certeza. Também concordo. Ana: – Também acho. É muito mais prático. António: – Então, a viagem? Foi boa? Ana: – Boa, mas um bocado cansativa... João: – Claro! Para a Ana todas as viagens são cansativas... É natural... Ela traz sempre tantas malas! António: – Bem, eu tenho ali o carro para vos levar ao hotel. Tenho pena de não vos receber em minha casa, mas... tenho um apartamento muito pequeno... João: – Por favor. Não tens de ter pena... nem tens de te incomodar connosco. Está muito bem assim. Nós estamos de férias, podemos ficar no hotel, podemos passear e fazer o que nos apetecer. Tu tens o teu trabalho. Encontramo-nos nos teus tempos livres... Ana: – Claro! Não tem importância. Podemos perfeitamente descobrir a cidade sozinhos... (...) João: – Estou espantado! Não me lembro de nada disto! Há tanto tempo que não venho cá!... Ana: – Bem... está muito diferente!... É natural! Tudo muda com o tempo... 2
  • 4. António: – Pois é! Há muitas coisas novas e outras antigas. Continua a ser uma cidade de contrastes. Vocês vão gostar muito de Lisboa... e de Portugal inteiro!. João: – Acho que sim! Quero ver tudo... Ana: – Bom, tudo é impossível... mas eu também quero passear... Quero conhecer um bocadinho da história portuguesa, quero fazer compras; quero comer aqueles petiscos de que os meus pais falam tantas vezes... António: – Ah! Isso é o mais fácil....Estou a ver... Planos não vos faltam!... João: – Podes crer... António: – E já cá estamos. Este é o vosso hotel. (...) Recepcionista: – Boa tarde. Façam favor.... João: – Boa tarde. Temos uma reserva de dois quartos individuais. Um em nome de João Pedro Tavares ... e outro em nome de Ana Paula Martins. Recepcionista: – Só um momento.... Ah! Exactamente. Cá está: A Sr.ª D. Ana Paula tem o quarto n.º 806. tem uma vista muito bonita para a cidade. O Sr. Tavares tem o quarto n.º 817 com vista para o castelo e para o rio João: – Óptimo! Adoro ver água... e barcos... E tem varanda? Recepcionista: – Tem, tem. Tem uma varanda. Não se importam de preencher aqui esta ficha com os vossos dados pessoais? Depois vou precisar dos vossos passaportes também. É só por um instante. João: - Com certeza. Recepcionista: – Muito obrigada. Aqui têm as chaves. O elevador fica à direita. Os quartos ficam no 8º andar. Ana: - Obrigada. João: - Muito obrigado António: – Bom. Então agora deixo-vos à vontade. Amanhã telefono, mas ficam com o meu número de telemóvel João: – Obrigado por tudo, António. Não te preocupes connosco. 3
  • 5. Ana: – Obrigada, António. Gostei de voltar a ver-te. Até amanhã. A Ana e o João acabam de chegar ao aeroporto de Lisboa, onde encontram o António, um amigo do João. Os cumprimentos entre os dois rapazes surgem naturalmente. Depois, de um modo um pouco mais formal, a Ana é apresentada ao António. Este programa, por ser o primeiro, alerta para convenções sociais que se estabelecem entre falantes. São especificidades da língua que revelam adequação a contextos e situações, ora mais informais ora mais formais, de que são bom exemplo as formas de tratamento. Neste programa, abordamos ainda os diferentes modos de que dispomos em português para referenciar o outro, para nos apresentarmos ou apresentarmos alguém e ainda para agradecermos. Falaremos também da distinção entre os verbos SER e ESTAR. 1. FORMAS DE TRATAMENTO Terão, provavelmente, notado que no início do diálogo as formas de tratamento usadas entre o António e o João diferem daquelas que surgem entre o António e a Ana. É possível sentir-se que há uma maior familiaridade entre os dois rapazes porque estes se conhecem há mais tempo e têm uma relação de amizade mais longa. Vamos rever: João: - Que bom! Ainda bem que estás aqui! Que bom voltar a ver-te! Como estás? Ana: – Claro que me lembro! Que prazer em voltar a vê-lo! Como está? João: – Mas porque é que vocês não se tratam por tu? Deixem-se de cerimónias. 4
  • 6. Vemos que são usadas duas formas que diferem ligeiramente entre si e revelam dois modos de uso de língua: um uso informal e um uso formal. Informal Formal “Que bom voltar a ver-te! Como estás?” “Que prazer em voltar a vê-lo! Como está?” Estruturalmente, estes dois processos mostram a utilização do verbo na 2ª pessoa no primeiro exemplo (uso informal) e na 3ª pessoa no segundo (uso formal): Informal Formal Estás (tu) Está (você, o Senhor, a Senhora, ...) Por isso, a imediata intervenção do João, perguntando naturalmente por que razão eles não se tratam por “tu”, irá provocar uma uniformização das formas de tratamento usadas por estes três jovens amigos. Vejamos em mais pormenor: Informal Formal + Formal - Como estás? Verbo -2ª pessoa singular (TU ) - Como estão? verbo 3ª pessoa plural (VOCÊS ) - Como está? verbo - 3ª pessoa singular (VOCÊ) - Como estão? verbo 3ª pessoa plural (VOCÊS) - Como está, o senhor X? verbo - 3ª pessoa singular (O SENHOR) - Como estão, os senhores? verbo 3ª pessoa plural (OS SENHORES) 5
  • 7. Na situação analisada surge a diferença entre o uso de “tu” e de “você”. De facto, ainda que de forma breve, apercebemo-nos já de alguma diferença quanto à sua utilização, não só pela forma verbal seleccionada, como pelo grau de formalidade que envolve: A segunda pessoa do singular do verbo, com ou sem explicitação do pronome ‘tu’, contém uma marca de grande familiaridade. É usada normalmente entre amigos e entre colegas de trabalho de faixas etárias iguais ou próximas. A terceira pessoa do singular do verbo é usada com ‘você’ e apresenta um grau de maior formalidade em relações de trabalho entre colegas ou noutras relações sociais entre pessoas sem proximidade familiar. Habitualmente, no português de Portugal, “você” não é usado de forma explícita, ao contrário do que acontece com o português brasileiro, onde o seu uso é muito mais alargado. Contudo, não é difícil encontrar, em Portugal, situações em que ”você” é usado explicitamente. Por exemplo, pode, em muitos casos, constituir marca de poder hierárquico, vindo do superior para o subordinado; pode também ser uma marca de expressão de intimidade em certas camadas sociais altas. Expressões como “o Senhor” ou “os Senhores” são formas de cortesia bastante mais formais do que “tu” e mesmo mais formais do que “você”. Ocorrem quando não existe qualquer grau de familiaridade entre os interlocutores. O uso restritivo de ‘Vós’ Ainda uma nota de atenção quanto ao uso restrito do pronome “vós”. Trata-se de um pronome de uso muito circunscrito à região norte do país. Nas restantes regiões é habitualmente substituído por “vocês”, ou por “os Senhores”, usando a forma verbal correspondente à 3ª pessoa do plural. Vocês já se encontraram, lembram-se? (Vós já vos encontrastes, lembrais-vos?) 6
  • 8. 2. REFERENCIAR O OUTRO Também o modo como nos apresentamos e nos dirigimos ou nos referimos ao outro pode obedecer a recursos diversos. Observemos como os nossos jovens amigos se referem entre si e como são referidos pela recepcionista do hotel: Entre Amigos... - Eu sou o António... - Olha o António! - Este é o meu amigo António. - E tu, lembras-te da minha prima Ana Paula? Para a Ana todas as viagens são cansativas... A recepcionista do hotel... A Srª D. Ana Paula tem o quarto nº 806 (...) O Sr. Tavares tem o quarto nº 817... Podemos verificar que, informalmente, nos dirigimos ao nosso interlocutor usando o nome próprio precedido do artigo definido. Mas quando, em português, os nomes próprios de indivíduos fazem parte da nossa memória histórico-cultural colectiva, então o artigo definido é geralmente omitido (são exemplos disso “Pessoa escreveu a Mensagem” ou “Os Maias foram escritos por Eça de Queirós”). Quando os interlocutores têm um contacto profissional ou circunstancial, o uso da língua torna-se formal. Recorre-se a outros processos, como, por exemplo, fazer anteceder o nome próprio ou o apelido de expressões que indicam o género: “o 7
  • 9. Senhor” e respectivo apelido (no caso masculino); “a Senhora Dona”, com nome próprio (no caso feminino). Pode acrescentar-se ainda a indicação de algumas profissões, como por ex.: “Senhor Dr.”, “Sr. Eng.”, com ou sem apelido: Informal Formal O João... a Ana ... o António... (artigo + Nome próprio) O Sr. Tavares.... A Sr.ª D. Ana Paula Masc. (artigo + Senhor + Apelido) Fem. (artigo + Senhora + Dona + Nome próprio) Quando alguém se apresenta, ou apresenta alguém, fá-lo frequentemente de um modo mais informal. No entanto, também aí pode haver processos mais elaborados em função de situações específicas, em que o artigo é omitido. Vejamos os exemplos: 2.1 APRESENTAR-SE: Informal Formal - Olá. Eu sou o António. - O meu nome é António Santos. - Chamo-me António Santos. 2.2 APRESENTAR ALGUÉM: Informal Formal - Este é o meu amigo António. - E tu, lembras-te da minha prima Ana Paula? Vocês já se encontraram, lembram-se? - Apresento-lhe o Sr. Dr. Mateus. - Tenho o prazer de apresentar a Sr.ª D. Margarida Campos. 8
  • 10. 3. AGRADECER Embora nem sempre se verifique na prática, a fórmula básica de agradecimento varia em género e número, de acordo com a pessoa que fala. Como vemos no exemplo, o João agradece dizendo ‘obrigado’, enquanto a Ana diz ‘obrigada’: De acordo com a pessoa que fala: João: - Obrigado! Ana: - Obrigada! Apesar desta norma, constata-se uma tendência para a utilização da forma masculina singular por parte dos falantes em geral. 4. SER - ESTAR Quem fala português desde que nasceu, provavelmente, não se apercebe da existência de dois verbos com significados bem distintos mas que correspondem a um único verbo em outras línguas. É o caso dos verbos “SER” e “ESTAR”. Vamos observar alguns exemplos retirados do diálogo ocorrido entre os nossos jovens amigos: Eu sou o António. Este é o meu amigo António. A viagem foi boa. É natural! Este é o vosso hotel. Estou no aeroporto. Olha o António! Está ali! Como estás? Estou óptimo! Nós estamos de férias. 9
  • 11. Partindo destes exemplos, é possível perceber a existência de uma propriedade de carácter permanente (ex.: “Eu sou o António”, “Este é o meu amigo”) que ocorre com o verbo “SER” e de outra propriedade transitória e temporária que ocorre com o verbo “ESTAR” (ex.: “Estou no aeroporto”, “nós estamos de férias”). Nestas frases, facilmente se compreende que se trata de contextos que não permitem a troca do verbo. Seria agramatical dizer : “*eu estou o António” ou “*Este está o meu amigo António” Assim como também seria agramatical proferir: “¨*eu sou no aeroporto” ou “*eu sou de férias” No entanto, apesar da clareza destes contextos, é possível que ocorram situações em que só pelo uso do verbo é possível interpretar a frase. Vejamos o que acontece com os seguintes exemplos: 1. “Lisboa está muito diferente” 2. “Lisboa é muito diferente do Porto” No primeiro exemplo, “Lisboa está muito diferente”, encontramos propriedades transitórias ou temporárias: A cidade está diferente porque mudou, tem prédios novos, cresceu, apresenta alterações em relação a um estado anterior. No segundo exemplo, “Lisboa é muito diferente do Porto”, apercebemo-nos de propriedades permanentes, contextualizadas por “ser”. Trata-se de uma propriedade duradoura: Lisboa é diferente do Porto, é única. 10
  • 12. Vamos agora saber um pouco mais sobre Portugal, o país que tem as fronteiras mais antigas da Europa. No Norte de Portugal localiza-se uma área de densa vegetação e com uma profunda riqueza histórica. Com efeito, foi a partir daqui que se iniciou o processo de reconquista cristã, no início do séc. XII, facto que deu origem à formação do reino de Portugal. No Centro encontram-se os contrastes do mar e da serra associados a memórias antigas, perpetuadas em lugares e tradições. São populares muitas histórias de feitos heróicos de resistência à dominação romana nos primeiros séculos da nossa era, em que se destaca Viriato, bem recordado na cidade de Viseu. A cidade de Coimbra, cidade universitária por excelência, possui uma das universidades mais antigas da Península Ibérica e uma vida intimamente ligada aos estudantes. Muito próximo, as ruínas romanas da cidade de Conímbriga recordam origens bem mais antigas. O vale do rio Tejo possui características que evidenciam uma transição para sul do país. De facto, este rio parece dividir o território a meio: o Norte mais montanhoso, mais húmido e mais fresco; o Sul, mais plano, mais seco e mais quente. Na região Sul, sobressaem as vastas planícies do Alentejo. O verde das lezírias dá lugar ao dourado das searas de trigo e a grandes extensões de terra onde os rebanhos procuram descansar à sombras dos sobreiros. A cidade de Évora, classificada como Património Mundial pela Unesco, apresenta monumentos de épocas bastantes diversas, dos quais se destaca o Templo de Diana, construção romana do séc. II. Estendendo-se mais para sul os terrenos vão ficando mais secos e menos povoados. Algumas formações montanhosa preparam a entrada no Algarve, região com características marcadamente mediterrânicas, muito conhecida pelas suas praias, 11
  • 13. 12 mas onde se sente ainda a grande influência da cultura árabe que ali se manteve entre os séculos VII e XIII. A cerca de mil quilómetros para sul, em pleno Oceano Atlântico, o arquipélago da Madeira surpreende pela beleza contrastada entre as suas principais ilhas: a de Porto Santo e a da Madeira. Aí, é possível percorrer as estações do ano em um só dia: Verão junto ao mar, Primavera nas encostas altas do litoral, Outono nas do interior e Inverno nos cumes mais altos. A cerca de 1400 quilómetros a oeste de Lisboa, fica o arquipélago dos Açores, formado por nove ilhas, algumas delas mantendo ainda vulcanismo activo. É um conjunto de ilhas mágicas, muito diversas entre si, e que conservam tradições que remontam aos primeiros anos da sua colonização. Prova disto é a classificação de Património mundial da Humanidade atribuída ao centro histórico de Angra do Heroísmo e à Paisagem da Cultura do vinho da Ilha do Pico. São prova também as festas já milenares da devoção ao Divino Espírito Santo, cujas raízes se perdem no tempo...
  • 14. PROGRAMA 2 TRANSPORTES URBANOS A cidade de Lisboa é o centro de uma vasta área metropolitana, com mais de 2 milhões de habitantes e com mais de 3 mil quilómetros quadrados, abrangendo os concelhos das duas margens do rio Tejo. Só a área urbana ocupa cerca de 84 quilómetros quadrados, aproximadamente, e tem à volta de 500 mil habitantes. É, por isso, fácil de compreender o movimento diário de deslocações entre a periferia e a cidade e dentro da cidade: são aproximadamente 4 milhões de pessoas em movimento, das quais 3 milhões nos seus transportes particulares. Com a evolução crescente dos transportes privados, regista-se um aumento dos congestionamentos nos acessos à cidade e uma crescente dificuldade em gerir todo este afluxo de trânsito. Em Lisboa existem duas grandes empresas de transporte público que, ajudam de forma decisiva nas deslocações dentro da cidade. São elas o Metropolitano de Lisboa e a Carris. A Ana e o João vão utilizar os transportes públicos. Querem ir para o Cais do Sodré de Metro, porque é mais rápido e é uma maneira diferente de conhecer a cidade... Ana: – Ora bem, João, nós queremos ir para o Cais do Sodré, não é? Ora o Cais do Sodré fica na linha verde, de acordo com esta planta. Em que linha é que estamos agora? 1
  • 15. João: – Deixa ver... estamos na linha amarela...a linha girassol. Bem, vamos ter de mudar de linha em algum sítio. Ana: – Nem queiras saber, vamos ter de mudar de linha duas vezes. João: – Tens a certeza? Não há um percurso mais directo, Ana? Ana: – Haver, há, mas a volta é muito longa. Vê lá se não tenho razão: implica andar para trás até ao Campo Grande e percorrer, praticamente, toda a linha verde. A outra hipótese é ir até ao Marquês de Pombal, são só três estações, mudar para a linha azul até à Baixa/Chiado e, depois, passar para a linha verde. O Cais do Sodré é logo a seguir. João: – Estamos longe! Espero que a gente não se perca. Ana: – Lá estás tu a ser agoirento! Não te preocupes, que deve haver indicações claras. Se não houver, perguntamos a alguém. Quem tem boca, vai a Roma. João: – Ah, isso perguntas tu! Ana: – Podes ficar descansado. Olha, vamos ali à bilheteira perguntar à funcionária. Ana: – Bom dia. Nós queríamos ir para o Cais do Sodré. Temos de mudar de linha duas vezes, não é? Funcionária: – Sim, é a melhor opção. Ana: – Nós não temos nenhuma planta do Metro. Importa-se de nos dar uma? Funcionária: – Até dou duas: uma para cada um! O percurso é mais simples do que parece. Se, por acaso, se perderem, podem pedir ajuda um colega meu. João: – E que tipo de bilhete é que nos aconselha? Funcionária: – Depende. Se vão andar muito de Metro, talvez seja melhor um bilhete de dez viagens. Se vão também andar de autocarro, podem optar por bilhetes combinados ou pelo passe. O que é que preferem? Ana: – O que é que achas, João? João: – Para já, dê-nos dois bilhetes e, depois, logo vemos. … João: – Obrigado. 2
  • 16. Ana: – Vamos andando. Este programa reporta-se às acções da Ana e do João, quando se preparam para apanhar um meio de transporte, neste caso o Metropolitano de Lisboa. Faremos referência a formas de expressar dúvida e desejo/expectativa. Abordaremos, ainda, aspectos relacionados com o verbo haver e com o uso de determinados registos de língua. Vamos, então, prestar atenção aos excertos que se seguem: 1. EXPRESSAR DÚVIDA “Tens a certeza? Não há um percurso mais directo, Ana?” O João e a Ana encontram-se numa estação de metro e tentam delinear o melhor percurso a seguir para atingirem o seu destino. No excerto que vimos, o João duvida que a leitura que a Ana fez do mapa da rede do metro seja a correcta. Por outras palavras, o João expressa dúvida em relação à acção da Ana. Poderia tê-lo feito de outras maneiras; observem, agora, os exemplos que se seguem (só o primeiro faz parte do diálogo): EXPRESSAR DÚVIDA 1. “Tens a certeza? Não há um percurso mais directo, Ana?” (Não+presente do indicativo – frase interrogativa) 2. “Se calhar há um percurso mais directo, Ana?” (se calhar+indicativo) 3
  • 17. 3. “Possivelmente há um percurso mais directo.” (possivelmente+indicativo) 4. “Não haverá um percurso mais directo?” (não+futuro do indicativo – frase interrogativa) 5. “Talvez haja um percurso mais directo.” (talvez+conjuntivo) As primeiras três frases recorrem ao presente do indicativo e são estruturas muito comuns em português. Convém realçar que a expressão se calhar ocorre tendencialmente em contextos informais. A quarta frase apresenta o futuro do indicativo, facto que lhe confere um cariz mais formal. Por fim, o quinto exemplo recorre a outro vocábulo muito comum na língua portuguesa, talvez. Este advérbio tem a particularidade de ser seguido por uma forma verbal conjugada no modo conjuntivo, neste caso o presente do conjuntivo. 1.1. VERBO HAVER Há uma forma verbal que, embora não esteja directamente relacionada com a expressão de dúvida, ocorre em todos os exemplos que tiveram oportunidade de ver. Já sabem qual é? Exacto, o verbo haver, conjugado no presente do indicativo (no caso de há), no futuro do indicativo (no caso de haverá) e no presente do conjuntivo (no caso de haja). Uma vez chegados a este ponto, há que fazer alusão a características específicas deste verbo: 1.1.1. O verbo haver pode ser sinónimo de existir, tal como se verifica no excerto retirado do diálogo: 4
  • 18. “Tens a certeza? Não há um percurso mais directo, Ana?” “Tens a certeza? Não existe um percurso mais directo, Ana?” Nestas fases, há significa o mesmo que existe. Passemos, agora, as mesmas frases para o plural: “Tens a certeza? Não há percursos mais directos, Ana?” “Tens a certeza? Não existem percursos mais directos, Ana?” Tal como se pode constatar ao analisarmos estas frases, o verbo haver, quando significa o mesmo que existir, embora se use em todos os tempos gramaticais, apenas se utiliza na terceira pessoa do singular (é aqui o caso de há). 1.1.2. No presente do indicativo, o verbo haver, seguido da preposição de (haver de), liga-se-lhe por um hífen nas formas monossilábicas, isto é, só com uma sílaba. É o que podemos observar nas frases que se seguem e que não fazem parte do diálogo: PRESENTE DO INDICATIVO DAS FORMAS MONOSSILÁBICAS DO VERBO HAVER+HÍFEN+DE Eu hei-de encontrar o percurso mais directo Tu hás-de encontrar o percurso mais directo Ele/ela há-de encontrar o percurso mais directo A Ana e o João (eles) hão-de encontrar o percurso mais directo 5
  • 19. O mesmo não se passa quando a preposição de é antecedida por uma forma com mais de uma sílaba do verbo haver, ora vejam: PRESENTE DO INDICATIVO DAS FORMAS COM MAIS DE UMA SÍLABA DO VERBO HAVER +DE Nós havemos de encontrar o percurso mais directo Vós haveis de encontrar o percurso mais directo Antes de continuarmos, deixem-me dizer-vos que a segunda pessoa do plural do verbo haver (haveis de) tem uma ocorrência extremamente rara, sendo substituída no uso pela forma da terceira pessoa do plural – hão-de. 1.1.3. Ainda no âmbito do excerto que estamos a tratar, gostaríamos de chamar a vossa atenção para a grafia da forma flexionada há. Existem mais vocábulos na língua portuguesa que se pronunciam da mesma maneira, mas que se escrevem de maneira diferente e que não veiculam o mesmo significado. Conseguem lembrar-se de exemplos? Vejamos estes outros excertos do diálogo: 1.“Ah, isso perguntas tu!” 2.“Olha, vamos ali à bilheteira.” Ah (interjeição) à (contracção da preposição a + o artigo definido feminino singular a) pronunciam--se da mesma maneira que há, mas possuem significados diferentes. 6
  • 20. Na primeira frase, Ah é uma interjeição. Reparem na sua grafia, o h encontra-se em posição final e a palavra não tem qualquer acento gráfico. Na segunda frase, à corresponde à contracção da preposição a + o artigo definido feminino singular a. O acento gráfico desta palavra é um acento grave, ao contrário da forma verbal há que tem um acento agudo. 2. EXPRESSAR DESEJO/EXPECTATIVA “Espero que a gente não se perca.” O João e a Ana estão prestes a iniciar a sua viagem de metro. Todavia, o João continua a mostrar algum receio e dá voz ao seu desejo/à sua expectativa de não se perderem. Reparem como o faz: “Espero que a gente não se perca.” Espero que… + presente do conjuntivo do verbo perder Estamos perante uma atitude e um sentimento do João, quando este se mostra expectante em relação à hipótese de se perderem no metropolitano. Nesta situação, faz uso do verbo esperar seguido da conjunção que e do modo conjuntivo, neste caso do presente do conjuntivo. Poderia ter optado por frases diferentes, para atingir a mesma finalidade comunicativa: 7
  • 21. EXPRESSAR DESEJO/EXPECTATIVA 1. “Vamos lá a ver se a gente não se perde.” Vamos lá a ver… + presente do indicativo do verbo perder 2. “Faço votos para que a gente não se perca.” Faço votos para que… + presente do conjuntivo do verbo perder 3. “Oxalá a gente não se perca.” Oxalá… + presente do conjuntivo do verbo perder A primeira frase inclui o verbo perder conjugado no presente do indicativo. As frases número dois e três empregam o verbo perder, conjugado no presente do conjuntivo. No caso do diálogo entre a Ana e o João, que são duas pessoas da mesma idade e da mesma família, que se conhecem há muito tempo, deparamos com um registo bastante informal. Daí a utilização da expressão a gente. Esta expressão (que corresponde à 3ª pessoa do singular) poderia ser substituída por uma outra, se o contexto assim o exigisse. A ocorrência mais formal da mesma frase seria: “Espero que (nós) não nos percamos.” O pronome pessoal nós pode não aparecer. É, contudo, recuperável, devido à conjugação do verbo que se lhe segue: percamos. Observem: “Espero que a gente não se perca.” “Espero que (nós) não nos percamos.” 8
  • 22. Continuemos o programa de hoje com algumas breves referências lexicais relacionadas com a temática dos transportes: LÉXICO Andar de metro / autocarro/ táxi / comboio /eléctrico ir de metro / autocarro/ táxi / comboio /eléctrico apanhar um meio de transporte = tomar um meio de transporte a paragem do autocarro ou do eléctrico a bilheteira, local onde se adquirem os bilhetes Vamos terminar com uma expressão idiomática. “Quem tem boca vai a Roma” Certamente já terão ouvido esta expressão. Vamos passar a explicá-la. Pela notoriedade da cidade, pela sua importância ao longo dos tempos, Roma entrou no imaginário europeu. Daí terem resultado expressões como esta. “Quem tem boca vai a Roma” traduz o peso histórico da Cidade Eterna, tanto como sede do Império Romano, quanto como cidade onde se situa o Vaticano, local de residência do chefe máximo da Igreja Católica. Refere-se ao facto de que quem sabe perguntar, chega onde quiser ir. Prossigamos, agora, com uma, necessariamente breve, apresentação do sistema de transportes públicos da cidade de Lisboa. 9
  • 23. As primeiras estações foram construídas nos anos cinquenta do século XX e tinham já uma preocupação estética na construção de ambientes que diminuíssem a sensação de se estar num espaço subterrâneo. Desse primeiro período, há dois nomes de referência: o arquitecto Keil do Amaral, que criou o modelo de estação tipo e a pintora Maria Keil, que assumiu os revestimentos das estações. De facto, apesar dos recursos limitados, conseguiram colocar o Metropolitano de Lisboa como exemplo de criação de espaços públicos. Em 1988, com o prolongamento da rede do metro, surge uma outra geração de espaços. São inauguradas novas estações entre Sete Rios e o Colégio Militar e entre Entrecampos e a Cidade Universitária. A ideia original de decorar os espaços públicos dentro das estações do Metro foi recuperada e levada mais a sério. Por isso, foram convidados quatro artistas contemporâneos já conhecidos na área das artes plásticas para decorar os azulejos que revestiam as estações. Rolando Sá Nogueira decorou a estação das Laranjeiras com...laranjas, claro! Inteiras, cortadas ou em cachos realçam de forma alegre e descontraída as paredes daquela estação associando-a ao nome do local. Júlio Pomar encontrou nos esboços de figuras da cultura ibérica a sua forma de se associar ao Alto dos Moinhos... D. Quixote de La Mancha estará para sempre ligado aos moinhos... Manuel Cargaleiro foi o escolhido para a estação do Colégio Militar e encheu-a de letras... A decoração da Cidade Universitária foi entregue a Maria Helena Vieira da Silva que usou o seu estilo inconfundível para homenagear o local com o seu painel «Le Métro». Manuel Cargaleiro fez a transposição desse painel para azulejo. Nele Helena Vieira da Silva quis retratar simbolicamente a multidão anónima. Surgem ainda duas grandes corujas e olhos que simbolizam o Conhecimento, a Sabedoria e a Razão com uma ligação directa ao local. Em 1990, aprovado um novo Plano de Expansão da Rede, que se desenvolveria até 1999, de novo se avançou com a renovação de novas estações. São excelentes exemplos a estação do Campo Pequeno, a cargo do escultor Francisco Simões, que a integrou também na linha histórica do local, e também a estação do Martim Moniz que evoca outras memórias, 10
  • 24. que foram incrustadas nas paredes recordando tempos bem mais antigos da conquista da cidade de Lisboa. Gracinda Candeias fez uma caracterização multicultural enquanto José João de Brito trabalhou o tema da conquista de Lisboa realçando o episódio de Martim Moniz. Podemos dizer, com algum orgulho, que Lisboa possui um Metropolitano muito bonito e moderno, em que é agradável viajar e onde foram minimizados os receios e algum possível desconforto de espaços subterrâneos. Fundada em 1872, a Carris tem vindo a actualizar-se permitindo viagens cada vez mais confortáveis ligando todos os pontos da cidade. Todos os que precisam de se deslocar em Lisboa sentirão necessidade de recorrer a um autocarro, a um eléctrico ou mesmo a um elevador da Carris. A história desta empresa está intimamente ligada ao aparecimento dos primeiros eléctricos em Portugal. Com efeito, a 17 de Novembro de 1873 foi inaugurada a primeira linha de «americanos» entre a actual Estação de Santa Apolónia e a zona de Santos. Em 31 de Agosto de 1901 teve início o serviço de Carros Eléctricos. Nos anos seguintes foi electrificada a rede existente, apareceram mais carreiras, aumentou o número de carros, o primeiro importado dos Estados Unidos, mas que depois de 1924 passam a ser construídos nas oficinas da Empresa. Em 1940, a Carris comprou seis autocarros para reforçar o transporte de visitantes para a para a Exposição do Mundo Português, que se realizaria nesse mesmo ano em Belém. Como consequência, em 1944, foi inaugurado oficialmente um serviço de autocarros. Com os anos, o número de autocarros superou o dos carros eléctricos. Estes ficaram limitados a toda a área mais central e antiga da cidade conferindo um ambiente muito genuíno a todos os bairros por onde passavam. Entretanto os autocarros, mais fáceis de se expandir, acompanhavam o desenvolvimento urbano atingindo facilmente novos bairros populacionais. Gradualmente os eléctricos foram ficando reduzidos a áreas cada vez mais restritas. Hoje, são muito poucas as linhas existentes e, por serem as que restam de um passado recente, têm uma marca saudosista e atraente para o turismo. 11
  • 25. 12 No entanto, um novo dinamismo parece estar em curso tanto em eléctricos como em autocarros. De facto, assiste-se à renovação da frota com novos eléctricos, por causa das suas características ecológicas; há já uma nova geração de carros eléctricos, mais confortáveis e mais rápidos, em áreas específicas da cidade. E também os novos autocarros, bem equipados e confortáveis, facilitam a deslocação em Lisboa, substituindo, com vantagem, os transportes particulares.
  • 26. 1 PROGRAMA 3 EM BELÉM Belém é paragem obrigatória para quem passa por Lisboa. Com situação privilegiada junto ao rio Tejo, na parte ocidental da cidade, é um local de memórias que evoca momentos da história nacional ligada à época dos Descobrimentos e possui, por isso, um encanto especial. Podemos chegar de autocarro, ou de eléctrico, mas encontramos sempre um ambiente aberto que surpreende pela grandiosidade do espaço e pela diversidade de monumentos que envolvem a grande Praça do Império. É, de facto, um espaço de contrastes arquitectónicos onde monumentos do séc. XV se confrontam com outros de estilos arquitectónicos muito diversos construídos mais recentemente e se misturam com jardins, museus e parques. Entre o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém, construídos para recordar lugares e celebrar uma época de expansão marítima, surge, ao longo do séc. XX, um Padrão dos Descobrimentos, construído em 1960, e um moderno Centro Cultural, que data do início dos anos 90. É um desafio planear um passeio por Belém porque a quantidade de locais a visitar é grande e diversificada. É preciso descobrir e sentir outros tempos mas, por isso mesmo, este ambiente vai fascinar a Ana e o João. _____________________________________________________________________ Ana: - Este passeio de autocarro foi muito agradável. O percurso é bonito... Sente-se a ligação entre a cidade e o rio. João:- É, não é? Também acho. De um lado, os restaurantes nas docas, os cais, os espaços verdes, as esplanadas... e o rio, claro!
  • 27. 2 Ana:- E do outro lado surge a cidade! Ainda reparei nalguns edifícios grandes. Se calhar são edifícios importantes, mas eu não sei o que são. João:- Eu não consegui tirar os olhos do rio! Aquele longo passeio relvado parecia estar a convidar-me para ir andar a pé, ir por ali fora, junto à água. Ana:- Bom remédio! Podemos passar por lá na volta, no regresso para o hotel. Fazemos o percurso a pé. João:- Pois sim! Tu és capaz de aguentar porque estás habituada a andar a pé, mas eu… Ana:- Deixa-te de coisas! Andar a pé faz bem. Ainda por cima é tudo plano. É mais fácil! João:- De facto, também é uma forma de vermos a Ponte 25 de Abril assim, em toda a sua extensão. Há bocado, quando por lá passámos, reparei naquelas estruturas todas e impressiona, mesmo só vista de baixo, não achas? Ana:- É verdade. A propósito de ponte, gostava tanto de atravessar o rio para ver Lisboa da outra margem. Deve ser giro, sobretudo do alto do Cristo-Rei. João:- Ai por favor!!!. Hoje não! Tem pena de mim. Ana:- Claro que não! Para hoje já temos programa mais do que suficiente. Mas amanhã, ou depois, podíamos ir de comboio, não? Ou de barco. Atravessar o rio num daqueles Cacilheiros também deve ser muito giro. João:- Agora que falas em barcos, esqueci-me de te dizer que há barcos que fazem cruzeiros no Tejo, sabias? Ana:- Não. Como é que soubeste? João: - Foi há um ou dois dias. Li num folheto turístico, lá no hotel. Há uns mais longos, outros mais curtos. Mas todos passam por baixo da Ponte 25 de Abril. Ana:- É uma boa ideia para um destes próximos dias. João:- Por mim, tudo bem. Se quiseres, até podemos ir “à descoberta dos mares sem fim”! Ana:- Com certeza! Até estamos em Belém, no sítio certo! Bom! Para já, onde é que
  • 28. 3 eu estou agora, exactamente? João: - Em frente ao Palácio de Belém, a residência oficial do Presidente da República. Não estás a ver a guarda? Ana: - Hum! Se aqui é o Palácio, então a Praça do Império é daquele lado, à esquerda. Olha! Já estou a ver o Mosteiro dos Jerónimos. João: - Ah! Exactamente. Vamos embora. ****** Ana: - Espera aí! Que engraçado! Lê o que está escrito no chão, na calçada: Pastéis de Belém, 1837. João: - Pastéis de Belém? Já ouvi falar nisso. São aqueles que se comem ainda quentinhos, com canela e açúcar em pó. Não olhes para mim com essa cara. Eu só estou a reproduzir o que vem nos guias. Nunca comi nenhum. Ana: - Quero provar... Será que nos dão a receita? Ouvi dizer que é segredo. João: - Agora não precisas de receita: é mesmo só comer. Vamos lá ao ataque dos pastéis de Belém! Ana:- És tão guloso! Acho que consegues ser mais guloso do que eu. João:- Esta Praça é mesmo muito bonita! Ana:- Aqui estamos sempre a pensar nos Descobrimentos. João: - E não é só isso. Impressiona-me olhar à volta e ver, quase lado a lado, estes monumentos de épocas tão diferentes, com características tão diferentes e tão bem enquadrados. Ana: - É verdade! O Mosteiro dos Jerónimos é do século XVI. Repara neste rendilhado da pedra. A minha mãe fala muitas vezes da Torre de Belém. Lá também vamos encontrar a Cruz de Cristo e outros motivos do gótico manuelino com representações da natureza e pormenores ligados ao mar. João:- Pois é. E agora olha para ali, aquele edifício muito mais moderno. Tem ar de construção militar. De repente, parece uma fortaleza. Ana: - Só estou a vê-lo de longe mas parece um contraste muito bem conseguido.
  • 29. 4 Sabes o que te digo? Não saio daqui sem ver tudo ou quase tudo! João:- Bom! Estamos agora a começar. Ana:- Começamos pelo Mosteiro dos Jerónimos. Aqui temos a Igreja de Santa Maria de Belém e os claustros para ver. João: - Agora, podemos ir ao Centro Cultural de Belém. A seguir, passamos para o outro lado da linha do comboio, pela passagem subterrânea, vemos o Padrão dos Descobrimentos, a Rosa dos Ventos e vamos até à Torre de Belém. Concordas? Ana: - Hum... não sei! Acho que, depois do Mosteiro, preferia ir ver primeiro o Padrão e a Torre e guardar o CCB para o fim. João: - Posso saber porquê? Ana: - Por várias razões. Vamos andar imenso a pé. Quero ver o Padrão, a Rosa dos Ventos e, sobretudo, a Torre, em pormenor. No regresso, vai saber muito bem descansar na esplanada do CCB, virada para o rio. João: - Está bem. Pode ser. Ficamos um pouco mais no CCB para saber que exposições e espectáculos é que há em cartaz. ****** Ana:- Ai... que bom!! Que bem que se está aqui! Sabes? Por mim, ficava aqui o resto do dia, até ao anoitecer. João: - Que pena! Agora que eu estava a pensar em voltar a pé para o hotel... por aquele passeio relvado junto ao rio, lembras-te? Ana: - O quê? ****** Hoje, a Ana e o João foram conhecer Belém. Envolvidos pela presença histórica do local, eles conversam sobre o que vêem à sua volta. Nos comentários que fazem ouvimo-los algumas vezes utilizar estruturas linguísticas que merecem atenção. São elas as construções estar a + infinitivo, algumas expressões adverbiais de duração formadas com o verbo haver e a expressão de vontade.
  • 30. 5 1. O PROGRESSIVO- ESTAR A + INFINITIVO Existem na língua portuguesa mecanismos que conferem uma perspectiva dinâmica ao processo de transformação de um determinado tipo de situação em outro. Por exemplo, tomemos uma frase como: Eles comem pastéis de Belém Faremos, naturalmente, uma interpretação de carácter mais geral, considerando esta frase como um acto habitual. Nesta acepção, a forma verbal “comem”, no presente do indicativo, remete para um hábito, significando que eles têm por costume comer pastéis de Belém com alguma regularidade. Tal acontece num número ilimitado de vezes e ao longo de um período de tempo não delimitado, mas que inclui o tempo em que se fala. Agora, analisemos a frase: Eles estão a comer pastéis de Belém Esta frase apresenta uma perspectiva dinâmica. Produz uma transformação da anterior, Eles comem pastéis de Belém, conferindo-lhe a característica de estar a decorrer. Estamos perante a construção estar a + infinitivo, uma das mais frequentes
  • 31. 6 em português. É uma construção que expressa uma progressão do que está a acontecer no momento em que se fala. Vamos rever e ouvir os exemplos do diálogo: João:- Em frente ao Palácio de Belém, a residência oficial do Presidente da República. Não estás a ver a guarda? Ana: - Hum! Se aqui é o Palácio, então a Praça do Império é daquele lado, à esquerda. Olha! Já estou a ver o Mosteiro dos Jerónimos. ****** Ana:- Aqui estamos sempre a pensar nos Descobrimentos ****** Ana: - Só estou a vê-lo de longe mas parece um contraste muito bem conseguido ****** João: - Que pena! Agora que eu estava a pensar em voltar a pé para o hotel... (...) A construção em análise é formada pelo verbo estar, pela preposição a e por um infinitivo verbal, como se pode ver nos exemplos:.
  • 32. 7 PROGRESSIVO: Estar a + infinitivo • Não estás a ver a guarda? • Já estou a ver o Mosteiro dos Jerónimos. • Aqui estamos sempre a pensar nos Descobrimentos. • Só estou a vê-lo de longe... • Agora que eu estava a pensar em voltar a pé... Trata-se, de facto, de formas de presente progressivo, que remetem para uma acção que decorre no momento em que é referida. Tal acção caracteriza-se também por ter uma duração no tempo e por não estar completa ou por não ter chegado ao fim. Esta construção admite, naturalmente, a inclusão de advérbios e de locuções adverbiais no seu interior, ou seja, entre estar e a preposição a. É o que o acontece, por exemplo, em: Aqui estamos sempre a pensar… Vemos que o advérbio sempre aparece entre o verbo e a preposição. O mesmo acontece se o substituirmos por uma locução adverbial, como, por exemplo: Estamos neste preciso momento a pensar É interessante observar que em algumas regiões do sul de Portugal e no Brasil, este infinitivo é normalmente substituído pelo gerúndio, com a omissão da preposição a:
  • 33. 8 Estou vendo o Mosteiro dos Jerónimos. Aqui estamos sempre pensando nos Descobrimentos. Surgem assim construções com estar + gerúndio do verbo principal, como em: estou vendo, estava pensando. 2. EXPRESSÕES DE DURAÇÃO COM O VERBO HAVER No programa anterior vimos várias especificidades do verbo haver. Hoje encontramos este verbo, unicamente na 3ª pessoa do singular, a integrar expressões adverbiais relacionadas com localização de tempo e simultaneamente a medir, de forma mais precisa ou mais indefinida, o intervalo de tempo que decorre até ao momento da enunciação, ou seja, até ao momento em que se fala. Vejamos as ocorrências no diálogo: João: - De facto, também é uma forma de vermos a Ponte 25 de Abril assim, em toda a sua extensão. Há bocado, quando por lá passámos, reparei naquelas estruturas todas e impressiona, mesmo só vista de baixo, não achas? ******* João: - Foi há um ou dois dias. Li num folheto turístico, lá no hotel.
  • 34. 9 Quando o João diz “há bocado quando por lá passámos...” a expressão há bocado remete para uma situação que ocorreu há pouco tempo atrás, mesmo que não se saiba exactamente há quantos minutos ou há quantas horas. Esta expressão é usada em contextos informais. Na expressão seguinte, o João já é um pouco mais concreto ao localizar e medir o momento, aquele momento em que leu o folheto no hotel, facto que aconteceu há um ou dois dias. Como estas, muitas outras expressões podem ser construídas a partir desta forma há. Os quadros que se seguem procuram exemplificar a diversidade de expressões temporais que podem ser formadas deste mesmo modo: Há bocado bocadinho As expressões de tempo há bocado e há bocadinho são muito frequentemente usadas para indicar um período de tempo curto mas não bem delimitado. Pode ir de alguns minutos – bocadinho - a um período mais alargado, que chega a atingir algumas horas – bocado. Com a forma há é também possível construir expressões de duração indefinidas não-contáveis, como mostram os exemplos do quadro: Há muito pouco algum bastante tempo
  • 35. 10 E também é possível construir expressões plurais de duração, contáveis e não contáveis, associando a forma há a palavras que exprimem claramente períodos de tempo, como podemos ver neste quadro: Há um(a) uns /umas dois /duas três ... cerca de + nº (1, 2,...) muitos poucos alguns bastantes segundo(s) minuto(s) hora(s) dia(s) semana(s) mês/meses ano(s) .... É perfeitamente possivel dizer, por exemplo, que um evento aconteceu há 5 minutos, ou há cerca de 2 horas, ou que a Ana esteve em Portugal há 10 anos ou há cerca de 10 anos. Ou ainda que o João não vinha cá há muitos anos, ou há bastantes anos. 3. EXPRESSAR VONTADE A Ana, cheia de curiosidade sobre o que a cerca, exprime a sua vontade: ela não quer perder a oportunidade de experimentar e de conhecer um pouco mais. Para isso, ela manifesta a sua vontade. Vejamos como ela o faz:
  • 36. 11 João: - Pastéis de Belém? Já ouvi falar nisso. Ana: - Quero provar... Será que nos dão a receita? Ouvi dizer que é segredo. ****** Ana: - Por várias razões. Vamos andar imenso a pé. Quero ver o Padrão, a Rosa dos Ventos e, sobretudo, a Torre, em pormenor. No regresso, vai saber muito bem descansar na esplanada do CCB, virada para o rio. Ela usa o verbo querer e o infinitivo de outro verbo. Esta é uma das construções seleccionadas por querer. É um verbo usado para exprimir vontade e pode seleccionar frases completivas de infinitivo não flexionado. É o que acontece nestes dois exemplos do diálogo. A Ana quer provar os pastéis e também quer ver o Padrão dos Descobrimentos e a Rosa dos Ventos. Vejamos o quadro: EXPRESSAR VONTADE QUERER + VERBO NO INFINITIVO • Quero provar pastèis de Belém. • Quero ver o Padrão, a Rosa dos ventos e sobretudo a Torre. Bom, por mim despeço- me. Até ao próximo programa. De seguida, poderá ainda descobrir um pouco de Belém, um local carregado de história. _______________________________________________________________
  • 37. 12 Quando se chega à enorme Praça do Império, o olhar incide, naturalmente, sobre o Mosteiro dos Jerónimos. Para trás ficam muitos exemplos de épocas passadas, dos tempos da monarquia. É o caso do Palácio de Belém, residência oficial do Presidente da República, do Jardim Agrícola Tropical, com plantas exóticas oriundas de África, da Praça Afonso de Albuquerque em frente do Palácio, das casinhas coloridas dos séc. XVI e XVII, que contrastam com os edifícios mais modernos. No entanto, é a presença do Mosteiro que se impõe ao visitante, não só pela beleza mas também como um símbolo da riqueza da época dos Descobrimentos e da arquitectura manuelina. Foi mandado construir pelo rei D. Manuel I por volta de 1501, pouco depois de Vasco da Gama ter regressado da Índia. No interior, os claustros formam um conjunto harmonioso entre arcadas em abóbada e colunas em pedra esculpida, sempre rendilhada, que contornam um jardim muito tranquilo. A Igreja impressiona pela abóbada e pelos elegantes e delicados pilares que se erguem como se fossem palmeiras criando o ambiente adequado à reflexão e à descoberta da paz interior. A Ordem de S. Jerónimo foi responsável pelo mosteiro até 1834, ano em que as ordens religiosas foram extintas em Portugal. Anos depois foi acrescentada a ala moderna, em estilo neomanuelino, que é hoje ocupada pelo Museu Nacional de Arqueologia. Um pouco mais adiante, o Museu da Marinha, na ala oeste do Mosteiro, mostra, entre muitas e diversas colecções, a evolução ocorrida na construção das caravelas e das naus que foram tão importantes na travessia dos oceanos e na descoberta das rotas marítimas. Ainda para o lado esquerdo, o Planetário procura mostrar planetas, estrelas e outros mistérios do céu à noite. O lado oeste da Praça do Império é ocupado pelo Centro Cultural de Belém, cuja arquitectura bastante moderna se harmoniza em simplicidade com a imponência do local. A sua inauguração coincidiu com a presidência portuguesa da Comunidade Europeia em 1993. A partir de então, tornou-se um espaço muito activo dedicado às
  • 38. 13 artes de onde se destacam a música, o teatro, a fotografia e o design. Os seus cafés virados para o rio são um agradável ponto de encontro para quem quer estudar ou simplesmente encontrar amigos e conversar. Na margem do rio Tejo ergue-se, em frente do Mosteiro, o Monumento aos Descobrimentos, construído em 1960 para comemorar os 500 anos da morte do Infante D. Henrique, o Navegador. Tem a forma de uma caravela e recorda todos os que participaram no desenvolvimento dos Descobrimentos. Do alto dos seus 52 metros, para além de uma fantástica vista sobre toda a Praça do Império, estuário do Tejo e margem sul, é possível ver uma enorme rosa-dos-ventos embutida no chão onde estão desenhadas as rotas dos diversos caminhos percorridos pelos descobridores portugueses durante os séc. XV e XVI. Foi uma oferta da República Sul-Africana. Indo ainda mais para oeste, junto ao rio, somos surpreendidos com outra pérola da arquitectura manuelina: a Torre de Belém. Foi construída entre 1515 e 1521, sob ordem de D. Manuel I, para funcionar como fortaleza por entre as águas do rio Tejo. A sua beleza exterior deve-se ao conjunto de galerias abertas, às torres de vigia em estilo árabe, às ameias em forma de escudos e, ainda, ao rendilhado das pedras esculpidas com cordas e nós náuticos. A vista das salas existentes nos três andares da torre é notável. No terraço, uma imagem da Senhora do Bom Regresso, virada para o mar, constitui ainda um símbolo de protecção para os marinheiros. Olhando para terra a partir da Torre, no sentido norte, podemos ainda ver ao fundo, no cimo de uma colina, uma pequeníssima capela, a Ermida de S. Jerónimo, também de estilo manuelino muito sóbrio, orientada para a foz do rio Tejo. Também ela parece enquadrar todo este espaço rematando com simplicidade a riqueza de todo este ambiente comemorativo de uma época de aventura e descoberta.
  • 39. 1 PROGRAMA 4 CONHECER A CIDADE Lisboa fica na margem direita do Tejo, a 17 km do Oceano Atlântico. A cidade tem cerca de 500 000 habitantes, mas a “grande Lisboa” estende-se a várias localidades próximas, atingindo quase 2 milhões. A parte mais antiga ocupa um espaço distribuído por sete colinas, como um anfiteatro que se abre alegre para o rio. Na antiguidade, foi um local privilegiado no comércio entre o Mediterrâneo e o Atlântico. Por isso, foi ocupada por diversos povos, até que, em 1147, D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal, a conquistou aos mouros. Diz a lenda que o rei atribuíu esta vitória ao Mártir São Vicente, cujo corpo, recolhido no Algarve, foi trazido para Lisboa numa nau guardada por dois corvos. Ainda hoje, é o padroeiro da cidade, encontrando-se simbolicamente perpetuado na bandeira e no logotipo da Câmara Municipal de Lisboa. Já recuperados da viagem, a Ana e o João têm um desafio pela frente: descobrir a cidade... João: – Ana, hoje temos o dia por nossa conta... O António não pode estar connosco. O que é que vamos fazer? Ana: – Acho que podemos ir dar uma volta. Já temos aqui um mapa da cidade, podemos ver onde ficam as zonas mais interessantes de Lisboa. João: – Pois é. Podemos pensar aonde queremos ir ... e planear. Para isso, vamos ver o que fica mais perto ... o que fica mais longe.... onde podemos ir a pé... onde é melhor ir de autocarro...
  • 40. 2 Ana: – ... ou de metro! Ouvi dizer que o Metropolitano de Lisboa tem estações muito bonitas... modernas... João: – É verdade, é... Eu sei. São decoradas por artistas portugueses muito conhecidos. Ana: – Há um sítio aonde eu quero ir... mas não sei se podemos ir de metro... João: – Aonde? Ana: – É ao Palácio de Queluz. Fica cá em Lisboa ou não? João: – Não, tonta. O Palácio de Queluz fica em Queluz, como o próprio nome indica! Não é longe, mas, de qualquer maneira, fica fora da cidade. Acho que ainda são aí uns 15 quilómetros... E não podemos ir de metro. Só de comboio. Ana: – Está bem. Antes disso ainda há muitos sítios para ver... João: – Se há! E como não podemos ver todos, vamos escolher alguns... Ana: – Concordo... Temos mesmo de planear. É por isso que o mapa nos vai ser útil... Onde fica Belém?... Eu sei que há muita coisa para visitar em Belém... mas não sei se fica para norte... se fica para esquerda... se para a direita... João: – Tens toda a razão. Belém... Belém... Olha fica junto ao rio Tejo, fica a oeste. Se calhar, podemos ver o pôr do sol!... É lá que fica o Mosteiro dos Jerónimos, não é? Ana: – Exactamente. E a Torre de Belém também fica lá... e o Centro Cultural de Belém... e o Padrão dos Descobrimentos... João: – Estou espantado! Tu estás muito bem informada... Ana: – Mais ou menos... Os meus pais falaram-me muito de Belém... parece que têm muitas recordações da Torre... E eu prometi tirar fotografias. Também li algumas coisas e tenho umas notas escritas. Gosto de saber o que há para ver... Já agora, vê também... onde é que fica o Parque das Nações... é o sítio onde foi a Expo 98, aquela exposição mundial, lembras-te? João: – Sim, sim. Lembro-me de ouvir falar nisso. Ana: – É uma zona nova, moderna. É o contrário de Belém que é uma zona antiga...
  • 41. 3 João: – Olha ... aqui no mapa... Expo... ... não... Parque das Nações.... aahh ... olha, fica mesmo no outro extremo da cidade... Também fica junto ao rio, mas para oriente. De facto, Lisboa é uma cidade virada para o rio. Ana: – Ah! Pois é! Mas sabes o que é que eu acho? João: – O que é? Ana: – Belém fica longe!... O Parque das Nações também fica lá longe!... Acho que hoje podemos dar uma volta aqui mais perto do hotel... podemos andar a pé e assim vamos conhecer um pouco destes bairros, não achas? João: – Concordo. Assim temos tempo de planear com calma. Até podemos pedir ajuda ao António... Ana: – Exactamente... Que boa ideia! João: – O que é que há aqui mais perto para ver? Da janela do meu quarto vê-se o Castelo... Fica lá mais acima. Se calhar; podemos lá ir, não? Não parece longe, mas vamos ter muito que subir ... Ana: – Não faz mal. É um bom exercício!... e da janela do meu quarto vê-se o rio... que fica lá mais abaixo. Assim, depois descemos até ao rio... vamos percorrer as colinas... Afinal estamos na cidade das sete colinas, não é? João: – Ai é? Ana: – Li isso num guia turístico... e basta olhar das janelas dos nossos quartos! Há sítios altos e sítios baixos... Acho que hoje vamos andar a subir e a descer... João: – É como tu dizes: é um bom exercício... Ana: – Mas de vez em quando paramos, para descansar... Hoje a Ana e o João estão a fazer planos para descobrir um pouco da cidade. Com a ajuda do mapa, procuram alguns dos locais de Lisboa e pedem e fazem sugestões para o seu primeiro passeio.
  • 42. 4 Neste programa, vamos observar algumas das construções usadas na língua para pedir e dar informações sobre orientação, para pedir e fazer sugestões e para pedir opinião. 1. PEDIR SUGESTÃO / OPINIÃO / INFORMAÇÃO Para fazer um pedido a Ana e o João usam, naturalmente, frases interrogativas. Observemos estes excertos do diálogo: João: – Ana, hoje temos o dia por nossa conta. O António não pode estar connosco. O que é que vamos fazer? Queres ir dar uma volta? ****** Ana: – Belém fica longe!... O Parque das Nações também fica lá longe!... Acho que hoje podemos dar uma volta aqui mais perto do hotel... podemos andar a pé e assim vamos conhecer um pouco destes bairros. O que achas? ****** João: – O que é que há aqui mais perto para ver? Da janela do meu quarto vê-se o Castelo... Fica lá mais acima. Se calhar; podemos lá ir, não? Não parece longe, mas vamos ter muito que subir ... PEDIR SUGESTÃO [O] que [é que] vamos fazer?
  • 43. 5 PEDIR OPINIÃO O que achas? PEDIR INFORMAÇÃO [O] que [é que] há aqui mais perto para ver? Nestes exemplos podemos, desde logo, distinguir dois tipos de estruturas diferentes para construir frases interrogativas. Um dos tipos caracteriza-se por ter uma estrutura sintáctica igual à da frase declarativa que lhe corresponde. É o caso desta frase produzida pelo João: “Queres ir dar uma volta?”. Apenas se distingue da declarativa afirmativa correspondente pela curva entoacional: Interrogativa Declarativa Afirmativa “Queres ir dar uma volta?” “Queres ir dar uma volta.” Estas frases não utilizam qualquer constituinte interrogativo e exigem uma resposta afirmativa ou negativa. São, por isso, chamadas interrogativas totais ou de sim, não: INTERROGATIVAS TOTAIS OU DE SIM , NÂO 1. - Queres ir dar uma volta? - Sim. 2. - Queres ir dar uma volta? - Não.
  • 44. 6 Passamos agora às interrogativas parciais, que se caracterizam pela presença de constituintes interrogativos, ou seja, de pronomes, adjectivos ou advérbios interrogativos. É o caso das restantes frases interrogativas apresentadas nos exemplos: INTERROGATIVAS PARCIAIS 1. O que é que vamos fazer? 2. O que achas? 3. O que é que há aqui mais perto para ver? Na sua construção, constatamos a presença de um constituinte interrogativo – o primeiro “que”. Podemos verificar também que, embora estas três frases interrogativas sejam idênticas na sua estrutura, há uma alteração de ritmo nas duas intervenções do João. É uma alteração provocada pela sequência ou expressão “é que”: “O que é que vamos fazer?” “O que é que há aqui mais perto para ver?” As perguntas do João poderiam igualmente ser formuladas sem ser utilizada a sequência “é que”: “O que vamos fazer?” “O que há aqui mais perto para ver?”
  • 45. 7 Do mesmo modo, a pergunta proferida pela Ana “O que achas?” seria igualmente possível se fosse proferida “O que é que achas?”: “O que achas?” = “O que é que achas?” A expressão “é que” começou a ser usada no Português Moderno. Surge frequentemente em situação de fala informal e espontânea, tanto em frases interrogativas como em frases afirmativas. Esta sequência apresenta-se como uma forma fixa e não pode ser interrompida. Ocupa uma só posição na frase: antecede sempre o sintagma verbal. Observemos mais uma vez alguns exemplos de uso da expressão “é que”: O que é que vamos fazer? = O que vamos fazer? O que é que achas? = O que achas? O que é que há aqui...? = O que há aqui..? Onde é que fica Belém? = Onde fica Belém? 2. PEDIR E DAR INFORMAÇÃO SOBRE LOCALIZAÇÃO ESPACIAL A Ana está muito interessada em encontrar no mapa os locais que quer visitar. Observemos como o João transmite à Ana a informação que esta lhe pede e que expressões linguísticas usa para indicar a localização dos diversos sítios no mapa:
  • 46. 8 Ana: – Concordo. Temos mesmo de planear. É por isso que o mapa nos vai ser útil. Onde fica Belém?... Eu sei que há muita coisa para visitar em Belém... mas não sei se fica para norte... se fica para esquerda... se para a direita... João: – Tens toda a razão. Belém... Belém... Olha fica junto ao rio Tejo, fica a oeste. Se calhar, podemos ver o pôr do sol!... É lá que fica o Mosteiro dos Jerónimos, não é? ****** Ana: – Já agora, vê também onde é que fica o Parque das Nações... é o sítio onde foi a Expo 98, aquela exposição mundial, lembras-te? **** João:– Olha ... aqui no mapa... Expo... ... não... Parque das Nações.... ah ... olha, fica mesmo no outro extremo da cidade... Também fica junto ao rio, mas para oriente. De facto, Lisboa é uma cidade virada para o rio. ****** Ana:– Belém fica longe!... O Parque das Nações também fica lá longe!... Acho que hoje podemos dar uma volta aqui mais perto do hotel... podemos andar a pé e assim vamos conhecer um pouco destes bairros. O que achas? É de notar a frequência com que é usado o verbo “ficar”. Tem aqui o significado de “estar situado” ou “localizar-se”. Trata-se de um verbo copulativo que, em certos contextos, é equivalente a “ser”. Assim é perfeitamente possível perguntar, em vez de “onde fica Belém aí no mapa?”, “onde é Belém aí no mapa”. “Onde fica Belém aí no mapa?” = “Onde é Belém aí no mapa”.
  • 47. 9 Como verbo copulativo, o verbo “ficar” é um verbo de ligação ou verbo de significação indefinida. Isto significa que é um verbo que selecciona apenas uma oração pequena, cujo núcleo pode ser adjectival, nominal, preposicional ou adverbial. Nos exemplos concretos extraídos do diálogo, em que tem o significado de “localizar- se” ou “estar situado”, encontramos núcleos adverbiais, como: Olha... cá está! fica junto ao rio Tejo. O Parque das Nações também fica longe. Torre de Belém também fica lá. O verbo “ficar” também selecciona núcleos preposicionais, como: ...mas não sei se fica para norte... se para sul ... fica no outro extremo da cidade... ... fica a oeste 3. FAZER SUGESTÕES O João e a Ana já sabem que têm muito para ver em Lisboa, por isso a Ana apresenta algumas sugestões ao João. Vamos rever como o faz: Ana: – (...) Já temos um mapa da cidade. Podemos ver onde ficam as zonas mais interessantes de Lisboa. ****** Ana: – (...) Olha! Podemos ir a Belém. ******
  • 48. 10 Ana: – (...) podemos ir ao Parque das Nações. ****** Ana: – (...) podemos ir ao Parque das Nações. Nestes exemplos aparece a construção formada pelo verbo modal poder, associado a formas infinitivas de outros verbos. Poder é usado aqui para fazer uma sugestão, exprimindo um certo grau de probabilidade e incerteza. PODER + INFINITIVO podemos podemos podemos podemos ver ir dar passear Para melhor compreendermos o desafio que a Ana e o João têm pela frente, vamos todos conhecer um pouco da cidade de Lisboa... Lisboa, vista do Tejo, é uma cidade luminosa, alegre, com uma diversidade de recantos bem nítidos entre as duas pontes: a mais antiga, a Ponte 25 de Abril, construída em 1960, e a Ponte Vasco da Gama, construída aquando da Exposição Universal de Lisboa, em 1998. Entre colinas, a Baixa de Lisboa, constitui o centro da capital e é, quase toda, uma reconstrução do século XVIII, como consequência do terramoto de 1755. As ruas paralelas e perpendiculares revelam, ainda hoje, o tipo de comércio e de actividades que nelas se desenvolvia. A Rua Augusta é a mais elegante ligação entre a Praça do Comércio e o Rossio, através do Arco Triunfal, que comemora a reconstrução da
  • 49. 11 cidade depois do terramoto. Quando visto do Rossio, este arco enquadra a estátua equestre do rei D. José I, na Praça do Comércio. Em volta, nas colinas que rodeiam a Baixa, estendem-se os bairros mais populares, com ruas mais estreitas, com vida própria, onde as pessoas se sentem mais próximas e onde a cidade fica mais intimsta. Distinguem-se Alfama, a este, com o Castelo no cimo, e o Bairro Alto, a oeste, muito conhecido pelos inúmeros pequenos bares e restaurantes, juntamente com casas de fados. Alfama é um bairro com características mouriscas. Conserva ainda um certo ambiente do casbá, com ruelas e escadarias. Por cima, bem no alto desta colina, o Castelo de S. Jorge, com os seus jardins e a cidadela, sobressai no horizonte. É memória da conquista de Lisboa aos Mouros em 1147 e um magnífico miradouro sobre a cidade e o rio. Mais a baixo, a Sé, em estilo românico, é igualmente um marco que acompanha a história da cidade até aos nossos dias. Muito perto fica a pequena igreja de Santo António. O Santo mais popular de Lisboa é celebrado anualmente, no dia 13 de Junho, com festas em todos os recantos. O Bairro Alto, na colina do lado oeste, é também um local agradável, onde pequenas oficinas e tascas convivem com uma vida nocturna activa e diversificada. Algumas casas de fados têm aí o seu lugar, assim como algumas das salas de espectáculos mais representativas: o Teatro da Trindade, o Teatro S. Luís e o Teatro S. Carlos, este último conhecido pelas suas épocas de ópera. O Chiado é uma zona de lojas elegantes, boa para compras. A Rua do Carmo e a Rua Garrett são duas das principais artérias comerciais que sobem da Baixa até ao Bairro Alto. Para quem não quer subir a pé pode optar por usar o elevador da Glória, um funicular construído nos finais do século XIX (1885) ou o elevador da Santa Justa. Este elevador é uma interessante obra neogótica, construído em 1902, por Raoul Mesnier du Ponsard, discípulo de Gustave Eiffel, e sobe 45 metros na vertical. No cimo, muito perto, o Convento do Carmo, monumento gótico acabado em 1423.
  • 50. 12 Abriga actualmente um importante museu Arqueológico. A Igreja mantém as ruínas provocadas pelo terramoto de 1755 e são especialmente visíveis do Rossio ou do Castelo. A cidade prolonga-se ao longo da margem do rio Tejo, no sentido da foz até Belém, zona intimamente ligada à época dos Descobrimentos. Dois monumentos, pertencentes ao Património Mundial da Humanidade, merecem um destaque especial: O Mosteiro dos Jerónimos, que comemora o regresso das naus de Vasco da Gama da Índia e a Torre de Belém, situada à beira-rio, na área de partida das caravelas. Ambos foram mandados construir por D. Manuel I nos inícios do século XVI. Em sentido contrário, ao olharmos para o extremo oriental da cidade, deparamo-nos com o Parque das Nações, local onde se realizou a Exposição Universal de Lisboa, em 1998. Tal como em Belém, também aqui é evocada a época dos Descobrimentos, através de uma das suas figuras mais representativas: Vasco da Gama, que passou o cabo da Boa Esperança, em 1489, e abriu caminho para a Índia. Assim, existe a Torre Vasco da Gama, com uma vista panorâmica única sobre Lisboa e a margem sul, e a Ponte Vasco da Gama, a segunda ponte que liga Lisboa ao sul do país, com 18 km, 13 dos quais em tabuleiro sobre o rio. O Parque das Nações é um espaço moderno e alegre, que contém exemplos únicos de arquitectura contemporânea: é o caso da Gare do Oriente, com as impressionantes abóbadas geométricas que cobrem as plataformas ferroviárias; o Pavilhão de Portugal, com uma enorme pala em betão suspensa como se fosse uma vela de um barco e o Oceanário, o segundo maior do mundo, localizado num cais rodeado de água.
  • 51. PROGRAMA 5 CAFÉS LITERÁRIOS Portugal tem uma grande diversidade de cafés e de pastelarias, desde as casas com «história» e «tradição» a locais mais recentes e descontraídos. Existem, em frente a alguns destes estabelecimentos, agradáveis esplanadas, donde pode, tranquilamente, admirar-se o rio enquanto se saboreia um café. As cafetarias, comummente designadas «cafés», são um local de encontro e de convívio social. O convite para se «ir tomar um café» é claramente um apelo ao encontro, um pretexto para se sair de casa, ver os amigos e «dar dois dedos de conversa». As pastelarias são locais ideais para, a meio da tarde, se fazer um pequeno lanche. Além de sandes e dos típicos salgados, pode deleitar-se com a deliciosa pastelaria portuguesa, que é extremamente diversificada e sempre apetitosa. Os primeiros cafés portugueses surgiram em Lisboa, em meados do século XVIII – os chamados «Botequins». Ao longo da história, alguns serão local de tertúlia literária, de discussão cultural e de debate político e ideológico. Destes «cafés literários», outrora centros de cultura, chegaram até nós, em Lisboa, o Martinho da Arcada, o Café Nicola e a Brasileira e no Porto, o Majestic. João: – Onde preferes ficar? Sentamo-nos aqui ou ali, mais ao fundo? Ana: – A mim, tanto me faz! Olha, esta mesa está livre, sentamo-nos já aqui! Ana: – Depois desta caminhada o que me apetece mesmo é descansar... João: – E a mim também! 1
  • 52. Ana:– Apetece-me mesmo ficar aqui uns instantes... a sentir Lisboa... a “saborear” este espaço... Já reparaste no encanto desta praça e, sobretudo, deste café?... João: – Saborear o espaço? E um prego, não? O retorno às origens deixou-te muito poética, primita! Ana: – Pois tu continuas na mesma! Um bom garfo é sempre um bom garfo, a “barriga” vem primeiro! Mas tens razão, vamos pedir! Também já vou tendo um bocadinho de fome! Disseste que querias comer o quê, repete lá?... Um prego?... João: – Ah! Afinal “a intelectual” precisa das explicações aqui do comilão, não é? Podes contar comigo... sei tudo sobre comida portuguesa! Um prego é uma sandes de bife de vaca! Às vezes a tua tia fazia lá em casa, para os lanches...Quando ficava com saudades...! Ana: – É verdade, já me lembro! João: – Olha, agora ainda fiquei com mais vontade de comer um prego! Até sinto água na boca! Ana: – Um prego? Não sei! A mim, não me apetece nada carne de vaca... não gosto muito... Prefiro porco! É menos rijo e mais saboroso. João: – Então aconselho-te a pedires uma bifana - um bife de porco no pão! Ou se quiseres algo igualmente típico mas mais ligeiro, uma empadinha de galinha ...ou um ou dois pastéis de bacalhau, sei lá... isto para não ires para a tosta mista ou para o cachorro-quente, que isso comes tu em qualquer lado! Ana: – Ah, é isso mesmo! Aceito a tua sugestão: vou comer uma bifana... Olhe, por favor! Desculpe! Empregado: - Boa tarde! Ana: - Boa tarde! João: – Boa tarde! Ana: - Era um prego e uma bifana, se faz favor! Empregado: - Sim, senhora! E para beber? João: - Eu queria uma imperial. 2
  • 53. Empregado: - E a Senhora? Ana: - E eu gostava de um refrigerante...oh, não, desculpe, traga-me antes um sumo de laranja natural, se não se importa! Empregado: - Hum...desculpe...Sumo de laranja natural não temos. Poderá ser um sumo de máquina ou um sumo...? Ana: - Pode ser um sumo de máquina, sem gás! Empregado: - Sem gás... Ana: - Olhe, de maçã... Empregado: - Sim, senhora. João: – Sabes, Ana, tens razão quanto a esta praça – é um local mesmo encantador! Ana: – É! É Majestosa e imponente! Vês aquela estátua ali no centro? ... É de D. José!... que reinava em 1755... quando foi o terramoto que praticamente arrasou Lisboa! João: – É um bom exemplo da Arquitectura Pombalina – repara que tem um traçado absolutamente simétrico. Aliás, uma das estátuas ali do Arco da Rua Augusta representa o próprio Marquês de Pombal... o que foi responsável pela reconstrução da cidade depois do terramoto. Empregado : – Ora aqui está! O prego, para quem é? João : – É para mim! A bifana é para a Senhora. Empregado: – Um prego para o Senhor e uma imperial. João: – Obrigado. Empregado: – Uma bifana para a Senhora e um sumo de maçã. Ana: – Muito obrigada. Ana: – Bom apetite! João: – Obrigado. Igualmente. João: – Então, que tal? Está bom? Ana: –Hum! Esta bifana está óptima! 3
  • 54. João: – Então, já podemos pedir o café? Uma bica, como se diz aqui em Lisboa! No Norte, só se usa “café”! Ana: – Curiosa, essa diferença regional! Mas eu não queria um café muito forte. João: – Então pede um carioca, que é um café fraquinho - a não ser que queiras um descafeinado ou um nescafé! Eu cá vou pedir uma bica curta escaldada (uma italiana)! João: – Por favor, trazia-nos um café curto e um carioca? Empregado: – Sai um carioca e uma bica bem tirada! Ana: – Ó João...! Já viste bem onde vamos tomar café? Por este local passaram algumas das mais importantes personalidades do mundo político, cultural e artístico português... João: – Sim... Eça de Queirós, Cesário Verde, Almada Negreiros, Fernando Pessoa... E tu já pensaste nas discussões... nas ideias inovadoras que aqui terão surgido?... exactamente neste local... à volta destas mesmas mesas de café? Ana: – Pois! Por exemplo, Fernando Pessoa escreveu aqui a Mensagem! João: – Sob o efeito inspirador de uma aromática chávena de café! Bem-vindos, senhores telespectadores, a mais um FALAMOS PORTUGUÊS. Acabámos de assistir a uma situação de comunicação num café. A Ana e o João, sentados na esplanada do Martinho da Arcada, em Lisboa, conversam sobre comida ligeira e ao mesmo tempo apreciam o local que os envolve. Hoje abordamos, portanto, uma área temática fundamental na comunicação do dia a dia: a área temática das refeições ligeiras. Vamos também aprender a fazer o pedido da nossa refeição correctamente, segundo as convenções sociais exigidas por esta situação. Ora bem! Comecemos por explicar sucintamente o que se considera uma refeição ligeira em Portugal. Uma refeição ligeira, como a própria designação indica, é uma refeição leve, em regra cozinhada e servida rapidamente, e que pode constituir um almoço breve ou um lanche reforçado: 4
  • 55. REFEIÇÃO LIGEIRA - refeição leve, em regra confeccionada e servida rapidamente, que pode constituir um almoço breve ou um lanche reforçado. 1. FAZER UM PEDIDO Vamos agora ver como pode formular-se um pedido em português (por exemplo, num estabelecimento comercial), tendo em conta as normas sociais que devem regular este acto comunicativo. Observemos novamente a Ana e o João e reparemos no modo como eles fazem o seu pedido ao empregado. A vossa atenção, por favor! Ana: - Olhe, desculpe! Empregado: - Boa tarde! Ana: - Boa tarde! João: – Boa tarde! Ana: - Era um prego e uma bifana, se faz favor! Empregado: - Sim senhor! E para beber? João : - Eu queria uma imperial. Empregado: - E a Senhora? Ana: - E eu gostava de um refrigerante...oh não, desculpe, traga-me antes um sumo de laranja natural, se não se importa! Empregado: - Hum...desculpe...Sumo de laranja natural não temos. Poderá ser um sumo de máquina ou um sumo...? Ana: - Pode ser um sumo de máquina, sem gás! Empregado: - Sem gás. Ana: - Olhe, de maçã Empregado: - Sim senhor. 5
  • 56. 1.1 PRÍNCÍPIO DA CORTESIA E FÓRMULAS DE DELICADEZA Gostaríamos de chamar a vossa atenção para um primeiro aspecto: como puderam notar, a Ana e o João, ao efectuarem o pedido, dirigem-se ao empregado de uma forma educada, delicada, segundo mandam as convenções sociais e o chamado “princípio da cortesia”. A Ana diz: – Era um prego e uma bifana, se faz favor! – (...) traga-me antes um sumo de laranja natural, se não se importa! FÓRMULAS E EXPRESSÕES DE DELICADEZA Se faz favor Se não se importa Desculpe “Se faz favor”; “desculpe” e “se não se importa” são fórmulas e expressões de delicadeza. São utilizadas nestas circunstâncias para suavizar o pedido, para o efectuar com cortesia. 1.2 FAZER UM PEDIDO – PRETÉRITO IMPERFEITO Vamos agora dar atenção às formas verbais utilizadas pelos nossos amigos no acto de fazer o pedido: 6
  • 57. FORMAS VERBAIS/ FAZER UM PEDIDO Pretérito Imperfeito - Era um prego e uma bifana, se faz favor! - Eu queria uma imperial! - E eu gostava de um refrigerante! São usadas formas verbais como : - “ERA” - pretérito imperfeito do indicativo do verbo SER; - “QUERIA” - pretérito imperfeito do indicativo do verbo QUERER; - “GOSTAVA” - pretérito imperfeito do indicativo do verbo GOSTAR. Em português, é extremamente frequente, em situações de comunicação como aquela a que assistimos, usar-se o pretérito imperfeito do indicativo para formular o pedido: como vimos, podemos utilizar o pretérito imperfeito do verbo SER (“era”), mas também o pretérito imperfeito de outros verbos, entre eles os usados para expressar desejo ou vontade (como é o exemplo dos verbos QUERER (“queria”) e GOSTAR (“gostava”). É preciso sublinhar que o pretérito imperfeito não tem aqui um valor temporal. Por vezes, quando fazemos um pedido desta natureza e o nosso interlocutor tem muita intimidade connosco, podemos até ouvi-lo “brincar” com a situação, respondendo-nos, por exemplo, “- Queria uma imperial? Então agora já não a quer, não é assim?”. Na verdade, o pretérito imperfeito nesta situação não se reporta a uma acção do passado. Tem neste caso um valor contextual ou modal. Destina-se aqui a modalizar o discurso de acordo com regras sociais: a atenuar o pedido, a efectuá-lo 7
  • 58. com polidez e cortesia, como já explicámos. É, de facto, também expressão de delicadeza. 1.3 FAZER UM PEDIDO – PRESENTE DO INDICATIVO Vamos agora reparar que o pretérito imperfeito, em algumas das nossas frases, tem um valor de presente do indicativo. Pode, com efeito, ser substituído pelo presente no acto de fazer o pedido. FORMAS VERBAIS/ FAZER UM PEDIDO Pretérito Imperfeito = Presente do Indicativo Era/ É um prego e uma bifana, se faz favor! Eu queria /quero uma imperial! Há que chamar a atenção, no entanto, para o seguinte: embora o presente do indicativo também possa, com efeito, ser usado para se fazer um pedido em português, a sua utilização pode ser sentida como menos cortês e delicada do que a utilização do pretérito imperfeito. A utilização do presente do indicativo corresponde também, por vezes, a um registo de menor formalidade. 1.4 FAZER UM PEDIDO – CONDICIONAL Noutros enunciados, o pretérito imperfeito surge com um valor de condicional de cortesia: 8
  • 59. FORMAS VERBAIS/ FAZER UM PEDIDO Pretérito Imperfeito = Condicional E eu gostava de um refrigerante = E eu gostaria de um refrigerante. “Eu gostava de um refrigerante!” equivale a dizer “Eu gostaria de um refrigerante” (é, de facto, a mesma coisa). O pedido pode ser feito, deste modo, também com o condicional. À semelhança do imperfeito, o condicional também não tem aqui informação temporal mas sim modal. O condicional assinala, neste último enunciado, um desejo, manifestado com muita elegância e suavidade. Trata-se, no fundo, de um pedido, mas feito com muito boa educação, de uma forma extremamente delicada. A utilização do condicional corresponde a um registo mais formal e menos coloquial do que a utilização do imperfeito. 1.5 FAZER UM PEDIDO – IMPERATIVO Vejamos ainda a frase da Ana: – (...) desculpe, traga-me antes um sumo de laranja natural, se não se importa! É possível utilizarmos o imperativo para fazermos um pedido. O modo imperativo é realizado pelo conjuntivo na 3ª pessoa do singular (assim como na 1ª e 3ª pessoas do plural) - esta questão será abordada detalhadamente no próximo programa. 9
  • 60. Quando usamos o imperativo e estamos a fazer um pedido, é muito importante utilizarmos “atenuadores de ordem”, como as expressões de cortesia “desculpe”, “se não se importa”, para evitarmos que o nosso pedido pareça rude ao destinatário. 2. ACEITAR SATISFAZER O PEDIDO O empregado, ao espontaneamente aceitar satisfazer o pedido feito pela Ana, usa a expressão “sim senhor”. E agora, muita atenção! Parece haver uma tendência no português europeu para o uso de “sim senhor” eliminando a concordância de género e número, como se esta fosse uma expressão fixa, invariável. No entanto, de acordo com a tradição gramatical, e no contexto que vimos, tal expressão varia em género e em número, consoante as pessoas a quem nos dirigimos. Assim: Resposta a um homem Sim, senhor! Resposta a uma mulher Sim, senhora! Resposta a vários homens Sim, senhores! Resposta a várias mulheres Sim, senhoras! Se nos dirigirmos a um homem usamos “sim, senhor! mas se o nosso interlocutor for feminino usamos “sim, senhora!” Passemos agora à descodificação de algumas expressões usadas no diálogo. 10
  • 61. 3. ALGUMAS EXPRESSÕES DO PORTUGUÊS: No diálogo, a Ana, dirigindo-se ao João, utiliza expressões como “ Um bom garfo é sempre um bom garfo” e “a barriga vem primeiro”! O que quererão dizer estas expressões? “ser um bom garfo” A expressão significa “ser um grande apreciador de gastronomia, alguém que se entrega aos prazeres da boa mesa”. “a barriga vem primeiro” A barriga vem primeiro é uma expressão fixa que significa que a principal preocupação de alguém é a comida e que esse alguém pensa primeiro em comer e só depois noutros assuntos. Bom, pela minha parte, por hoje é tudo! Convido-os agora a conhecerem alguns cafés onde se fez a História de Portugal – alguns cafés com história! Referimo- nos a cafés portugueses que se inserem na tradição dos cafés-tertúlia, por onde passaram muitas figuras importantes da cultura portuguesa. Fiquem para ver! O Martinho da Arcada situa-se na Praça do Comércio, sob as suas elegantes arcadas neoclássicas. Este café-restaurante foi inaugurado em 1782, no período pombalino, pelo próprio Marquês de Pombal. É um dos mais antigos cafés lisboetas. Junto à entrada, do lado esquerdo, no espaço revestido a azulejos brancos, destaca-se a figura de Fernando Pessoa. O local fazia parte da vida diária deste poeta. Aqui se entregava à inspiração, rabiscando alguns dos seus extraordinários 11
  • 62. poemas; aqui se refugiava, na companhia de Almada Negreiros e de Mário de Sá Carneiro. Quando este último morreu, Pessoa sente a sua falta. Escreve, saudoso e inconformado: É como se esperasse eternamente A tua vinda certa e combinada Aí em baixo, no Café Arcada Quase no extremo deste continente Três dias antes de morrer, por aqui terá passado uma última vez Fernando Pessoa e tomado um derradeiro café. A Brasileira é outros dos locais emblemáticos da vida do poeta. Aqui reuniam os modernistas portugueses e entre eles, Pessoa e Sá Carneiro. Na esplanada do café, uma estátua em bronze, da autoria de Lagoa Henriques, imortaliza os momentos que Fernando Pessoa aí passou. Em 1905, quando o espaço abriu, começou por ser um ponto de venda do café proveniente do Brasil. Passou depois a casa de café, com um projecto do arquitecto Norte Júnior. Na fachada, distinguem-se três portas envidraçadas, no cimo das quais existe uma figura masculina a tomar café. Conta-se que neste café terá nascido a expressão, tão lisboeta, “uma bica bem tirada”, quando um empregado pediu ao seu colega um café servido com esmero. O Café Nicola é também um dos primeiros cafés lisboetas, inaugurado no século XVIII. O poeta Bocage, um dos maiores poetas portugueses do mesmo século, ficará eternamente ligado ao seu nome. Destemido e rebelde, aí levou uma vida de boémio, conspirando contra o despotismo do regime político da altura, defendendo os direitos humanos, analisando os problemas do país. Do espaço original deste café, nada resta. A sua configuração actual, de estilo déco, data dos anos 30 do séc. XX. No entanto, no interior, uma estátua de Bocage lembra a associação eterna entre o poeta e o café. 12
  • 63. 13 Em 1921, na Rua de Santa Catarina, no Porto, abre um luxuoso café aristocrático, seguindo a tradição dos elegantes cafés parisienses. Da autoria do arquitecto João Queirós, é inicialmente chamado Elite e é frequentado pela alta burguesia portuense e por figuras célebres portuguesas. São exemplos o aviador Gago Coutinho e a actriz Beatriz Costa. Passa a chamar-se Majestic em 1922. O seu estilo Arte Nova remete-nos para o Porto dos anos vinte, da “Belle Époque”. A sua grande sala rectangular ostenta tectos de gesso, cuidadosamente decorados. Em ambas as paredes laterais, existem bancos corridos, forrados a cabedal. Os espelhos de cristal de Antuérpia conferem ao local um brilho requintado. Entre os espelhos, erguem-se colunas de capitéis ornamentados. Por aí passaram nomes da cultura portuguesa como Teixeira Pascoaes, José Régio ou Amadeu Sousa Cardoso. Aí se debateram ideias literárias e artísticas. Presentemente, continua a ser palco de acontecimentos culturais: recitais de piano e de poesia, lançamentos de livros, exposições de pintura. Continua a ser visitado por figuras públicas portuguesas, a par dos turistas e dos clientes habituais, muito diversificados.
  • 64. PROGRAMA 6 TERMALISMO EM PORTUGAL Todos os que precisam de melhorar o seu estado de saúde ou forma física podem encontrar nas águas portuguesas o alívio pretendido. Do solo português brotam inúmeras nascentes de águas minero-medicinais, que pelas suas características físico-químicas e temperatura são adequadas ao tratamento de uma grande diversidade de doenças. Em Portugal, as estâncias termais concentram-se, sobretudo, no Norte e na região centro. Algumas têm como enquadramento cenários paisagísticos de extrema beleza natural. No nosso país, a tradição do termalismo remonta, pelo menos, aos romanos. Este povo trouxe consigo o hábito de tomar águas medicinais quentes. Com o objectivo de aproveitar as propriedades terapêuticas das águas, aqui construiu muitas termas, em diferentes localidades. Ainda hoje, as fontes de águas termais são designadas caldas, do latim CALIDAS, que significava “quentes”. A palavra passou a integrar topónimos portugueses relativos a localidades onde se verifica a existência de termas, como por exemplo: Caldas da Rainha, Caldas de Aregos, Caldas de Vizela, Caldas do Gerês. Também do latim provém a designação do frequentador de termas, daquele que busca o poder curativo das águas: aquista – do latim aqua. Este, antes de optar por uma estância termal, começa por ir ao médico... Ana: – Boa tarde, Senhora Doutora! Dá licença? 1
  • 65. Médica: – Boa tarde! Faz favor! Entre, entre! Médica: – Faça favor de se sentar! Só um momentinho que eu já a atendo! Ana: – Com certeza! Médica: – Ora bem! Senhora D. Ana Paula Martins! É a primeira vez, não é? Não tinha cá ficha! Ana: – É sim, Senhora Doutora! É que eu não moro cá! Vim cá passar uns tempos e olhe... Médica: – Adoeceu...está-se mesmo a ver! Não podia ter escolhido melhor ocasião? Não se vem de férias a Portugal para se ficar doente! Ana: – E logo agora, que eu estava a gostar tanto de tudo! Médica: – Ah, mas isso é mesmo assim! Estas coisas não escolhem dia nem hora! Bom... mas diga lá, então... De que é que se queixa? Ana: – Olhe, tenho tido uma pontinha de febre! E dores no corpo e na cabeça... Médica : – Mas tem tirado a febre? Ana: – Tenho sim! Até comprei um termómetro de propósito na farmácia! Tenho tido trinta e sete e nove, trinta e oito... Médica: – Hum...Estou a ver... Não é bem “uma pontinha de febre”... Já é mesmo febre! E há quanto tempo está assim? Ana: – Ora, deixe-me ver... hoje é o terceiro dia. Médica: – Hum... tem tido dores de garganta? Ana: – Sim, dói-me um bocadinho! Médica: – Deixe-me ver, então! Abra a boca! Diga: “AAAAAH”... Ana: – AAAAAH.... Médica: – Está um bocadito inflamada! Mas não tem pontos brancos! Bem, vamos puxar a camisola para cima...para eu a poder auscultar... Respire fundo! Agora tussa! Disse que tinha dores na cabeça...? Onde, exactamente? Ana: – Onde, Doutora? Não sei... Acho que me dói a cabeça toda! 2
  • 66. Médica: – Bem me pareceu! Não tem dores na cabeça... o que tem é dores de cabeça! Em português, ter uma dor na cabeça é ter uma dor localizada num ponto específico da cabeça... por exemplo, quando se bateu com a cabeça nalgum lado! Ana: – Ah! Pois, não é esse o caso! Eu apanhei foi uma forte constipação! Médica: – Pois... E ficou com dores de cabeça... Ana: – Bom, estou a ver que tenho de vir mais vezes à consulta... para aprender mais português! Médica: – Esperemos que não! Não vai ter de ficar de cama mas vai fazer o tratamento que lhe vou receitar! É alérgica a algum medicamento? Ana: – Que eu saiba, não, Senhora Doutora! Médica: – Vai tomar estes comprimidos de doze em doze horas. E tome este xarope três vezes ao dia! Vai ficar boa num instante! Sã que nem um pero! Ana: – Oh! Que pena! E eu a pensar que me ia mandar para as termas! Médica: – Lamento decepcioná-la... não é caso para isso! Mas, sabe, não vamos para as termas só quando temos uma doença! Também podemos ir por outras razões... para fugir à agitação da cidade... para descansar, descontrair... É o chamado “termalismo de bem estar”! Ana: – E em Portugal, já há muita oferta desse termalismo? Por exemplo, se eu pudesse dar um salto a umas termas... qual é que a Senhora Doutora me recomendava? Médica: – Bom... Bem-vindos, Senhores Telespectadores, ao sexto programa do FALAMOS PORTUGUÊS. Hoje assistimos a uma situação de comunicação num consultório médico. A Ana constipou-se, adoeceu e teve de recorrer à ajuda de um médico. No diálogo, vimos algumas estruturas linguísticas e algum vocabulário relacionados com o corpo humano, com a doença e com o atendimento e o tratamento médico. 3
  • 67. Neste programa, iremos também ver como pedir e dar autorização ou permissão, como dar ordens ou instruções e ainda formas de tratamento formais. 1. PEDIR/CONCEDER AUTORIZAÇÃO/PERMISSÃO Como certamente repararam, a Ana e a médica encontram-se numa situação de formalidade. Assim, o uso que fazem da língua é guiado, sobretudo, pelo princípio da delicadeza, pois os dois interlocutores assumem comportamentos convencionais de cortesia. Ao chegar à porta do consultório, a Ana empurra-a delicadamente e cumprimenta a médica : deseja “Boa tarde” (que é uma forma de saudação para o acto de CUMPRIMENTAR). Depois, pede a autorização da médica para entrar e esta concede-lhe a sua permissão. Observem atentamente! Ana: – Boa tarde, Senhora Doutora! Dá-me licença? Médica: – Boa tarde! Faz favor! Entre, entre! Vimos que a Ana, para pedir autorização ou permissão para entrar, usa uma frase interrogativa, empregue com muita frequência em português nestas situações: “Dá-me licença?”. PEDIR AUTORIZAÇÃO/ PERMISSÃO DAR AUTORIZAÇÃO/ PERMISSÃO Dá-me licença [...]? Posso entrar? Com licença! Faz favor! Entre, entre. Ora essa! Com certeza! Mas há outras formas de pedir permissão em português. Vejamos mais algumas: a Ana poderia ter utilizado a frase interrogativa “Posso entrar?” Neste caso 4
  • 68. utilizaria o verbo modal poder no presente do indicativo (“posso”) + o verbo principal no infinitivo (“entrar”); Poderia também ter utilizado apenas a expressão de cortesia “com licença”. Para conceder autorização à Ana e dar o seu assentimento para esta entrar, a médica utiliza a fórmula de delicadeza “faz favor”. Diz-lhe ainda “Entre, entre”. Trata-se de uma frase imperativa realizada pelo conjuntivo. A forma verbal “entre” está no presente do conjuntivo mas tem um valor de imperativo. A médica poderia ainda ter respondido com a expressão interjectiva “Ora essa!” ou com a locução adverbial “Com certeza!”. Chamamos a atenção para a grafia da locução adverbial “com certeza” – composta pela preposição “com” + o nome “certeza”. É um erro muito comum em português escrever-se esta expressão como se fosse uma única palavra, o que está incorrecto. Deixamos aqui apenas a advertência! Trata-se de duas palavras e não de uma só! 2. FORMAS DE TRATAMENTO FORMAIS O grau de formalidade de uma situação condiciona o que dizemos e o modo como o fazemos. Deste modo, as formas de tratamento utilizadas são determinadas pela situação em que usamos a língua. Lembremos as formas de tratamento usadas pela Ana e pela médica para se dirigirem uma à outra: Médica: – Ora bem! Senhora Dona Ana Paula Martins! É a primeira vez, não é? Não tinha cá ficha! Ana: – É sim, Senhora Doutora! O reconhecimento da posição ocupada pelos locutores na relação social tem reflexo na selecção das formas de tratamento que cada um utiliza para se dirigir ao outro. Desta forma, a Ana e a médica seleccionam formas de tratamento diferenciadas consoante a posição que cada uma ocupa na relação social. Vemos que para se dirigir 5
  • 69. à médica, a Ana usa a forma de tratamento “Senhora Doutora” e utiliza sempre o verbo na terceira pessoa do singular. Por sua vez, a médica dirige-se-lhe como “Senhora Dona”. 3. DAR ORDENS/INSTRUÇÕES Vamos agora abordar algumas formas de DAR ORDENS/INSTRUÇÕES em português. Ao realizar o atendimento médico, a médica pede informações sobre o estado de saúde da Ana e, à medida que a consulta se vai desenrolando, vai dizendo à Ana como esta deve proceder para que possa analisar o seu estado de saúde. No fim, dá-lhe ainda algumas instruções sobre como deve tomar os medicamentos prescritos/receitados. Estejam atentos ao excerto! Médica: – Abra a boca! Diga: “AAAAAH”... Médica: – Respire fundo! Médica: – Agora tussa! Médica: – (...) E tome este xarope três vezes ao dia! Como viram, para incentivar a Ana a realizar determinadas acções, a médica dá-lhe determinadas instruções. Usa formas verbais como “abra” (“Abra a boca”), “diga” (Diga “AAAAH”...), “respire” (Respire fundo!), “tussa” (Agora tussa!) ou “tome” (E tome este xarope...). 6
  • 70. DAR ORDENS ORDENS/ INTRUÇÕES Abra a boca Diga “AHHHH”... Respire fundo! Agora tussa! E tome este xarope (...) Estas formas são formas do presente do conjuntivo que surgem em frases imperativas. Em português, usa-se o presente do conjuntivo nestas circunstâncias para substituir as formas que faltam ao imperativo. Expliquemos melhor este aspecto. Vamos exemplificar com o verbo “respirar”: IMPERATIVO – frases afirmativas Respira! (tu) Respirai! (vós) O imperativo conjuga-se sem sujeito expresso e gramaticalmente só tem as formas de segunda pessoa do singular (caso de Respira! – “tu”) e de segunda pessoa do plural (exemplo de Respirai! – “vós”). Devemos sublinhar dois aspectos fundamentais do uso do imperativo: - as formas do imperativo ocorrem exclusivamente em frases afirmativas; - actualmente, a forma de segunda pessoa do plural do imperativo, que outrora também se aplicava a interlocutores singulares para denotar uma grande deferência (“respirai”), já não é utilizada em grande parte de Portugal. Esta forma foi susbtituída no uso pela terceira pessoa do presente do conjuntivo. Em vez de “respirai” diz-se hoje “Respire” (“você”) ou “Respirem” (“vocês”). 7
  • 71. DAR ORDENS/ INSTRUÇÕES (imperativo e conjuntivo) Afirmativa Negativa Respira! (tu) – IMPERATIVO Respire! (você) - CONJUNTIVO Respiremos! (nós) - CONJUNTIVO Respirem! (vocês) - CONJUNTIVO Não respires! (tu) - CONJUNTIVO Não respire! (você) - CONJUNTIVO Não respiremos! (nós) - CONJUNTIVO Não respirem! (vocês) - CONJUNTIVO O presente do conjuntivo com valor de imperativo emprega-se também para a primeira pessoa do plural (“respiremos”- nós). Utiliza-se igualmente o conjuntivo sempre que a frase é negativa.: “não respires – tu”; “não respire – você”; “não respiremos –nós”; “não respirem – vocês”. Gostaríamos ainda de chamar a vossa atenção para o seguinte: as frases com uso do imperativo (frases imperativas) podem ser diferentemente interpretadas consoante o contexto situacional e linguístico em que surjam. Assim, uma mesma frase imperativa pode ter uma leitura de ordem, de instrução, de pedido, etc. Devemos ter cuidado com a entoação que damos a uma frase, de acordo com o significado que lhe queiramos imprimir. Não devemos esquecer que uma mesma frase pronunciada com entoações diferentes pode ter em português diferentes significados. Imaginemos os seguintes contextos: A mãe diz para a filha - Soube que te portaste mal na escola! Conta-me tudo imediatamente! – Ordem! Uma amiga diz para outra - Como é que foi ontem com o João? Conta-me tudo imediatamente! – Pedido! 8
  • 72. 4. ALGUMAS EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS Para finalizarmos, vamos esclarecer o significado de algumas expressões do texto. A médica afirma: “Estas coisas não escolhem dia nem hora” Quer a médica dizer com isto que há situações que não são previsíveis. Diz ainda que a Ana vai ficar “Sã que nem um pero!”. “ ficar ou ser sã/são que nem um pero” Esta expressão significa ficar/ser muito saudável. Neste momento, resta-me despedir, até ao próximo programa, mas vou ainda convidá-lo a conhecer alguns locais termais de Portugal! Fique connosco e conheça algumas termas portuguesas. As Termas de S. Pedro do Sul, as mais frequentadas de Portugal, situam-se no distrito de Viseu, no concelho de S. Pedro do Sul, povoação do Banho. Na margem esquerda do Vouga, numa paisagem idílica, construíram os romanos um Balneum – balneário termal constituido por diversas estruturas, como evidenciam os presentes vestígios arqueológicos. Desta histórica denominação provém o nome actual da vila – Banho! Ao longo dos tempos, os seus banhos sulfurosos quentes foram ganhando fama e atraindo gentes de todas as classes sociais, ansiosas por aliviar os seus males. 9
  • 73. Conta a lenda que D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, tendo sido informado das propriedades terapêuticas destas águas, aqui buscou a cura para uma fractura de uma perna, após a Batalha de Badajoz. Também aqui passou férias a última rainha de Portugal, recebendo as termas o seu nome: “Thermas da Rainha D. Amélia”. As novas instalações, em funcionamento desde 2001, estão dotadas do mais moderno equipamento e tratam, entre outras, doenças do aparelho respiratório, reumáticas e músculo-esqueléticas. Localizadas em Trás-os-Montes, no distrito de Vila Real, concelho de Chaves, as Termas de Vidago encontram-se inseridas num deslumbrante cenário paisagístico, no coração do centenário e maravilhoso Parque Natural de Vidago. Os seus lindos edífícios “Belle Époque” merecem também ser admirados. Do termalismo clássico ao recente conceito de termalismo de bem-estar, estas termas oferecem uma grande diversidade de programas, direccionados quer para a cura de doenças quer para o relaxamento e libertação do stress. Uma completa estrutura turística, que inclui piscinas, campo de golfe, campo de ténis, etc., proporciona ao visitante uma férias inesquecíveis. Nas Termas de Vidago tratam-se doenças do sangue, do sistema nervoso, do aparelho respiratório, do aparelho digestivo e da pele. As Termas da Curia situam-se em plena região da Bairrada, envoltas por um lindíssimo parque com uma área de 14 hectares, que contribui para o repouso e tranquilidade dos aquistas. No seu enquadramento, destacam-se frondosas e verdejantes matas, cujos caminhos se podem percorrer, passeando por entre as centenárias árvores ou andando de bicicleta. Assume também relevo um enorme lago artificial, de cerca de 1km de perímetro, rodeando uma Ilha que se encontra unida às margens por características pontes. 10