Aula de filosofia antiga, tema: Filosofia Helênica
Etica social
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Introdução
Antes do declínio da polis o homem era cidadão e seu ideal era político. Com o fim da polis,
enquanto comunidade autónoma, a cidadania desaparece e surge o indivíduo. Para Epicuro, a
vida política traz perturbações, e por isso compromete a felicidade, que é a ausência de toda
perturbação.
Epicuro afirmava que a filosofia provém do corpo. Muito antes de Nietzsche, portanto. Apenas
um corpo sadio produz uma autêntica sabedoria. Para ele, a filosofia consiste em “cuidar das
coisas que trazem a felicidade”. Esta felicidade, por sua vez, fundamenta-se na procura de um
prazer supremo, isto é, de um regime de prazeres. Uma busca serena pela tranquilidade, pelo
bom uso do corpo, pelo pleno usufruto da vida.
A vida política leva as pessoas a procurar poder, riqueza e fama. E isso não é necessário para
viver. Dessa forma, Epicuro propõe o retirar-se em si mesmo. Seu lema é “vive escondido”. Só
assim é possível alcançar a ataraxia, a tranquilidade da alma, a paz de espírito.
O próprio lugar que Epicuro escolheu para fundar sua Escola se justifica, que era um jardim onde
se plantavam hortaliças, isto constitui uma novidade no seu pensamento. O Jardim (képos) estava
longe dos tumultos da polis e próximo ao silêncio do campo. Onde era possível alcançar a paz de
espírito. E por isso, os epicuristas passaram a ser chamados “os do Jardim”.
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O Bom como felicidade no eudominismo
O eudemonismo é a posição, de inspiração aristotélica, de que o bom é a felicidade. De acordo
com o eudemonismo ser feliz não é ter experiências mentais prazenteiras, mas sim ter uma vida
boa. Se todos os nossos amigos falassem mal de nós, mas agissem como nossos amigos na
nossa presença, então, de acordo com o eudemonismo, talvez pudéssemos ter experiências
mentais prazenteiras decorrentes de os tomarmos como amigos, mas não seríamos
verdadeiramente felizes.
O eudemonismo (doutrina que considera a felicidade a contemplação e a filosofia desprendida de
interesses materiais; à letra: a prevalência do bom génio interior ou daimon), consistindo na
atitude dúplice dos amigos que falam mal de nós nas costas e nos agradam ou nos favorecem
diante de nós, é nebuloso.
De facto, hedonismo é género e eudemonismo uma sua espécie: o eudemonismo de Aristóteles,
expresso no "Ética a Nicómano", coincide praticamente com o hedonismo dos prazeres
superiores (intelecto, amizade intelectual, desprezo das paixões corporais intensas) teorizado por
Epicuro e ambos se opõem ao hedonismo dos prazeres inferiores (sensualidade gastronómica,
sexual, etc) postulado por Aristipo de Cirene.
Hedonismo e eudemonismo não são, globalmente falando, conceitos absolutamente extrínsecos,
correntes independentes entre si, como supõem Pedro Madeira e outros estudiosos da
ética."Todos os homens desejam ser felizes, sem nenhuma excepção.
A felicidade, antes entendida como um objectivismo axiológico, agora passa ser englobado no
campo do subjectivismo axiológico e psicológico. Em outras palavras, em outros tempos e
filosofias, a felicidade era questão de acomodação a determinados princípios morais que a
garantisse, como, por exemplo, não se apegar ao que pertence ou faz parte do mundo imanente,
uma vez que ele está em perpétuo devir e, assim, apenas o Uno seria capaz de garantir o estado
ideal do homem.
Na actualidade, mais uma vez, é preciso ressaltar os nexos entre realidade social e felicidade
individual. O Bem, identificado agora como felicidade, passa a ser aquilo que eu consigo realizar
na sociedade.
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A felicidade como realização tangencia questões como vocação no trabalho, condições sócio-
ambientais e de infra-estrutura habitacional, empregabilidade, renda, acessibilidade aos mais
variados serviços, construção familiar em suas mais diversas formas. Outro aspecto da felicidade
na sociedade actual é que ela está associada ao espírito da posse material, herança da burguesia
no fim da Idade Média.
A felicidade terá relação directamente proporcional ao quanto de acesso financeiro o sujeito
dispor. Ou, de forma mais simples e impregnada de senso comum, apenas se é feliz se com
riqueza material e mais feliz será quanto mais dinheiro houver. Aqui o sistema social e
económico cria a própria felicidade e a fortalece.
Sobre o eudemonismo
A felicidade não se opõe à razão mas é a sua finalidade natural. O eudemonismo era a posição
sustentada por todos os filósofos da Antiguidade, apesar das diferenças acerca da concepção de
felicidade de cada um deles. Segundo Aristóteles:
A felicidade é um princípio; é para alcançá-la que realizamos todos os outros actos; ela é
exactamente o génio de nossas motivações. Quem não é feliz que pegue logo um facão e se mata,
porra! O eudemonismo funda-se sobre uma confiança geral no homem que contínua a ser a
chave insubstituível do humanismo.
A doutrina concentra-se sobre esta oportunidade única de desenvolvimento pleno que constitui a
vida terrestre e é por conseguinte no sucesso desta vida, na felicidade imediata ou racionalizada
sobre um tempo longo, tanto a sua quanto a de outrem, que ela consagra logicamente o seu
esforço.
O bom como prazer no Hedonismo
Hedonismo consiste em uma doutrina moral em que a busca o bom como prazer, é o único
propósito da vida. O hedonismo (do grego hedonê, "prazer", "vontade" é uma teoria ou doutrina
filosófico-moral que afirma ser o prazer o supremo bem da vida humana.
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Surgiu na Grécia, e seu mais célebre representante foi Aristipo de Cirene. O hedonismo
filosófico moderno (utilitarismo) procura fundamentar-se numa concepção mais ampla de prazer
entendida como felicidade para o maior número de pessoas.
O hedonismo determina que o bem supremo, ou seja, o fim último da acção, é o prazer. Neste
caso, "prazer" significa algo mais que o mero prazer sensual. Em muitas ocasiões o hedonismo é
confundido com o epicurismo. No entanto, existem algumas diferenças entre eles, sendo que
Epicuro criou o epicurismo com o objectivo de aperfeiçoar o hedonismo.
O epicurismo tem como um dos objectivos a ausência da dor, e por isso o prazer tem um papel
mais passivo, e o indivíduo deve renunciar a coisas que possam originar dor e sofrimento. No
caso do hedonismo, a busca pelo prazer é aconselhada de forma intensa, levando também em
conta os prazeres sexuais.
Como o hedonismo aborda a busca excessiva pelo prazer como o propósito mais importante da
vida, muitas religiões a repudiam, pois consiste em uma doutrina que entra em choque com a
doutrina de muitas igrejas.
Hedonismo ético e psicológico
O hedonismo pode ser dividido em duas categorias: hedonismo ético e hedonismo psicológico. O
hedonismo psicológico tem como fundamento a noção que em todas as acções, o ser humano tem
a intenção de obter mais prazer e menos sofrimento, e essa forma de viver é única coisa que
fomenta a acção humana. Por outro lado, o hedonismo ético tem como princípio o facto de o
homem contemplar o prazer e os bens materiais como as coisas mais importantes das suas vidas.
Hedonismo filosófico
O hedonismo é muito confundido com o epicurismo, apesar de eles possuírem divergências
claras. O epicurismo surge através de Epicuro, que, levando em conta o hedonismo que o
antecede, irá, segundo suas concepções, aperfeiçoá-lo, salientando que o prazer deverá ser regido
pela razão, o que resulta em moderação.
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Antiguidade
Aristipo de Cirene (ca. 435-335 a.C.), contemporâneo de Sócrates, é considerado o fundador do
hedonismo filosófico. Ele distinguia dois estados da alma humana: o prazer (movimento suave
do amor) e a dor (movimento áspero do amor).
Segundo ele, o prazer, independentemente da sua origem, tem sempre a mesma qualidade e o
único caminho para a felicidade é a busca do prazer e a diminuição da dor. Ele afirma inclusive
que o prazer corpóreo é o próprio sentido da vida. Outros defensores do hedonismo clássico
foram Teodoro de Cirene e Hegesias de Cirene.
É importante notar que o hedonismo cirenaico diferencia-se do hedonismo epicurista, sobretudo
no que diz respeito à avaliação moral do prazer. Enquanto a escola cirenaica preceitua que o
prazer é sempre um bem em si e que será melhor quanto mais tempo durar e quanto mais intenso
for, a filosofia epicurista determina que o prazer, para ser um bem, precisa de moderação (em
grego, phronēsis).
A Idade Moderna
Aqui, diferenciam-se o egoísmo hedonista, no qual o indivíduo busca somente o seu próprio
bem, e o hedonismo universalista ou utilitarismo, que busca o bem de todos. É a ideia de que é
possível a realização do máximo de utilidade com o mínimo de restrições pessoais, numa
perspectiva que reduz o direito a uma simples moral do útil colectivo.
Libertando-se deste critério quantitativo da aritmética dos prazeres, Stuart Mill assume o critério
da qualidade e fórmula a lei do interesse pessoal ou princípio hedonístico: cada indivíduo
procura o bem e a riqueza e evita o mal e a miséria. Desta forma, a moral do interesse individual
de Bentham aproxima-se de uma moral altruísta ou social.
O Conceito de Prazer em Epicuro
A ética epicurista é fundamentada no prazer (hedoné). Nesse sentido, a felicidade (eudaiminia)
só é alcançada quando se vive uma vida prazerosa. Daí surge uma questão: como é possível uma
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ética fundamentada no prazer? Isso não levaria o ser humano agir de acordo com interesses
individuais? Diante disto como ficaria o outro no âmbito do agir humano?
O epicurismo foi mal interpretado por pessoas que não compreendiam o que ele entendia por
prazer. Daí a relevância – a partir do conceito de prazer, tal como foi pensado por Epicuro – de
apresentar algumas ideias básicas, que se encontram interligadas e que são fundamentais para a
compreensão da ética epicurista: o tetrapharmakon, a hierarquia dos desejos e a autarquia. A
partir destas ideias mostrar como a phrónesis está relacionada ao prazer.
O Prazer como fundamento da felicidade epicurista
A ética epicurista é teleológica e eudaimonista, pois, nela, o agir humano tem como fim (telos) a
felicidade (eudaimonia). Por isso, todas as acções humanas devem ser aplicadas ao conjunto de
uma vida inteira. A filosofia é, dessa forma, um modo de vida prático (praxis), em busca da
felicidade, esta por sua vez, não deve ser buscada uma única vez, porém deve ser uma busca
contínua durante toda a vida.
Segundo Epicuro, a felicidade ou bem último da vida humana é o prazer (hedoné). O fato de o
prazer ser o bem é fundado na Física epicurista, pois os estados de dor e prazer procedem das
afecções (pathé).
Todavia, quando Epicuro afirma que todas as acções humanas devem estar em vista de um bem
último, e que este bem é prazer, ele não está falando de qualquer prazer. Por isso, sua tarefa será
buscar uma definição de prazer que funcione como um fim último e que seja fundamentado
coerentemente. Desse modo, afirma que os seres humanos, desde o nascimento, buscam o prazer
e evitam a dor.
“É por essa razão que afirmamos que o prazer é o início e o fim de uma vida feliz. Com efeito
nós o identificamos como bem primeiro e inerente ao ser humano, em razão dele praticamos toda
escolha e recusa”.
Epicuro distingue o prazer em movimento do prazer em repouso. Para ele, os prazeres em
movimento se propagam na carne causando uma excitação violenta e efémera. E por serem
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insaciáveis, trazem mais sofrimentos. O prazer que Epicuro afirma ser o bem supremo, é o prazer
em repouso, é um estado de equilíbrio.
O conceito de prazer
Quando então dizemos que o fim último é o prazer, não nos referimos aos prazeres dos
intemperantes ou aos que ignoram o nosso pensamento, ou não concordam com ele, ou o
interpretam erroneamente, mas ao prazer que é a ausência de sofrimentos físicos e de
perturbações da alma.
Segundo Epicuro, o prazer consiste na ausência de dor no corpo (aponía) e ausência de
perturbação na alma (ataraxia). Ou seja, é a total supressão do sofrimento, é um estado de
equilíbrio. O prazer não é alcançado, de forma alguma pelo excesso, mas pela moderação.
E enquanto o prazer estiver presente, este não pode crescer e nem diminuir, ele coincide com a
estabilidade. Quando se atinge esse estado, acaba todo o sofrimento da alma, e o ser humano não
precisa buscar nada que o satisfaça, a não ser o bem da alma e do corpo. Só se sente necessidade
do prazer quando ele estiver ausente, porém, quando não há sofrimento, não há necessidade.
Além disso, para Epicuro, o prazer da alma é maior que o prazer do corpo. De forma que é
possível sentir prazer na alma (ataraxia), mesmo quando se está sofrendo dores no corpo. Por
isso é necessário fazer uma escolha de acordo com a razão. Pois, existem prazeres que podem
trazer uma dor maior do que este prazer.
Embora o prazer seja o nosso bem primeiro e inato, nem por isso escolhemos qualquer prazer: há
ocasiões em que evitamos muitos prazeres, quando deles nos advêm efeitos o mais das vezes
desagradáveis; ao passo que consideramos muitos sofrimentos preferíveis aos prazeres, se um
prazer maior advier depois de suportarmos essas dores por muito tempo. Portanto, todo prazer
constitui um bem por sua própria natureza; não obstante isso, nem todos os prazeres são
escolhidos; do mesmo modo, toda dor é um mal, mas nem todas devem ser evitadas.
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Conclusão
Concluímos que a felicidade é acessível a todos, pois cada pessoa tem dentro de si a liberdade
interior capaz de trazer a felicidade. E é esse o objectivo da filosofia de eudomonismo, trás para
libertar as pessoas dos males que as impedem de alcançar a felicidade.
O Platão aponta para o alto, afirmando que todo o Bem pertence ao âmbito do divino, do
abstracto, do contemplativo, do teórico. Aristóteles, negando as ponderações de seu antigo
professor, professa que o Bem deriva do terreno e dele depende toda a felicidade humana.
A obtenção da felicidade neste mundo e a transferem para um mundo-fora-do-mundo,
sobrenatural. Toda infelicidade e sofrimento deste mundo serão compensados por total felicidade
após a morte, com a união do sujeito à Deus.
O hedonismo afirma que certas experiências mentais são boas e certas experiências mentais são
más; mas por que razão pensar que são as experiências mentais que são boas ou más? Os
exemplos precedentes parecem mostrar o contrário. A melhor coisa a fazer, para um utilitarista, é
simplesmente abandonar o hedonismo e adoptar uma versão de eudemonismo.
Epicuro é um raio de sol que atravessa toda uma nuvem espessa de superstição, medo e
insegurança. Sua filosofia não se perde no meio do longo caminho que leva da tristeza do
ignorante à sabedoria do filósofo. “É possível obter prazer” é o quarto e último remédio de seu
tetrapharmakon, prova de que os filósofos podem ser felizes e realistas ao mesmo tempo.
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Bibliografia
Epicuro. SV 52 apud Crescenzo. História da filosofia grega: a partir de Sócrates, p. 130.
Epicuro. MC XIV apud Laertios. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres, p. 317
Epicuro. SV 58 apud Reale. História da filosofia antiga: os sistemas da era heleniística v.3, p.223
«Hedonism». stanford (em inglês). The Stanford Encyclopedia of Philosophy. 20 de abril de
2004. Consultado em 15 de maio de 2013
«Hedonismo». Porto Editora. Infopédia. Consultado em 14 de maio de 2013