Este documento apresenta um estudo prévio para a execução da escavação de rocha com recurso a explosivos no rebaixamento da via férrea na cidade de Espinho. O estudo caracteriza a geologia e estruturas próximas, seleciona o explosivo mais adequado considerando a impedância da rocha e explosivo, e propõe um diagrama de fogo para maximizar a fragmentação e produtividade respeitando limites de vibração.
Se presentan los principales sistemas de clasificación del macizo rocoso dentro de la construcción de túneles y un esquema de voladuras para la solución encontrada.
Se presentan los principales sistemas de clasificación del macizo rocoso dentro de la construcción de túneles y un esquema de voladuras para la solución encontrada.
ESCAVAÇÃO SUBTERRÂNEA DA ESTAÇÃO DE FARIA GUIMARÃES - METRO DO PORTOJosé Pinto
Em 30 de Junho de 2006, o autor proferiu uma palestra no 1º Congresso da Secção Regional Norte da ANET, intitulada – Escavação Subterrânea da Estação de Faria Guimarães – Metro do Porto, obra na qual foi director de obra representando a empresa EXPLO, LDA. O texto que se apresenta traduz o que foi transmitido nessa palestra.
ESCAVAÇÃO SUBTERRÂNEA DA ESTAÇÃO DE FARIA GUIMARÃES - METRO DO PORTO
ESCAVAÇÃO COM RECURSO A EXPLOSIVOS NO REBAIXAMENTO DA VIA FÉRREA NO ATRAVE…
1. REBAIXAMENTO DA VIA FÉRREA NO ATRAVESSAMENTO DA
CIDADE DE ESPINHO
ESTUDO PRÉVIO PARA A EXECUÇÃO DA ESCAVAÇÃO
COM RECURSO A EXPLOSIVOS
Por
José Pinto
Eng.º Geotécnico
Fevereiro 2007
2. REBAIXAMENTO DA VIA FÉRREA NO ATRAVESSAMENTO DA
CIDADE DE ESPINHO
ESTUDO PRÉVIO PARA A EXECUÇÃO DA ESCAVAÇÃO
COM RECURSO A EXPLOSIVOS
Índice
1. INTRODUÇÃO ……………………………………………………………………………………… 3
2. BREVE DESCRIÇÃO DO PROJECTO …………………………………………………………. 3
3. CARACTERIZAÇÃO GENÉRICA DA GEOLOGIA-GEOTÉCNIA DO MACIÇO ROCHOSO. 4
4. OBJECTIVO GERAL DA INTERVENÇÃO DA EXPLO, LDA. ………………………………... 4
5. CONDICIONANTES ……………………………………………………………………................ 4
5.1 Identificação das edificações e das estruturas envolventes …………………………………... 4
5.2 Determinação do valor limite para a velocidade de vibração…………………………………. 5
6. SELECÇÃO DO EXPLOSIVO…………………………………………………………................ 6
6.1 Impedância do explosivo e da rocha……………………………………………………………… 7
6.2 Desacoplamento……………………………………………………………………………………. 7
7. MÉTODO DE ESCAVAÇÃO………………………………………………………………………. 7
8. ESTIMATIVA DA CARGA MÁXIMA POR RETARDO…………………………………………. 7
9. DIMENSIONAMENTO TEÓRICO DO DIAGRAMA DE FOGO………………………………... 8
9.1 Desmonte em bancada……………………………………………………………………………. 8
9.2 Pré-corte……………………………………………………………………………………………... 9
10. METODOLOGIA DO TRABALHO………………………………………………………………… 9
11. PROCEDIMENTOS PREVENTIVOS……………………………………………………………. 10
11.1 Medidas para controlo dos efeitos secundários…………………………………………………. 10
11.1.1 Controlo e monitorização das vibrações…………………………………………………………. 10
11.1.2 Controlo das projecções……………………………………………………………………………. 11
11.2 Medidas que antecedem o rebentamento das pegas de fogo…………………………………. 11
11.2.1 Aviso sonoro das pegas de fogo…………………………………………………………………. 11
11.2.2 Área de segurança…………………………………………………………………………………. 12
11.2.3 Agrupamento dos trabalhadores…………………………………………………………………... 12
11.2.4 Colocação de vigilantes …. ………………………………………………………………………. 12
11.2.5 Horário do rebentamento…………………………………………………………………………. 13
11.3 Formação sobre medidas preventivas……………………………………………………………. 13
11.3.1 Acção de sensibilização/formação geral…………………………………………………………. 13
11.3.2 Acção de sensibilização específica………………………………………………………………. 13
11.3.3 Cédula de operador de explosivos………………………………………………………………. 13
11.3.4 Equipamento de protecção individual (EPI) …………………………...………………………... 13
11.4 Precauções no emprego de produtos explosivos………………………………………………. 13
11.4.1 Precauções específicas……………………………………………………………………………. 13
11.4.2 Actuação perante tiros falhados…………………………………………………………………… 15
11.4.3 Transporte do explosivo……………………………………………………………………………. 15
12. ORGANOGRAMA DA EXPLO, LDA……………………………………………………………… 15
13. ORGANOGRAMA DE COMPETÊNCIAS E RESPONSABILIDADES………………………... 16
14. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS………………………………………………………………. 17
ANEXOS
ANEXO I – LOCALIZAÇÃO DOS OBSERVADORES
ANEXO II – DIAGRAMA DE FOGO TIPO
ANEXO III – SEQUÊNCIA E SENTIDO DA ESCAVAÇÃO
2
3. REBAIXAMENTO DA VIA FÉRREA NO ATRAVESSAMENTO DA
CIDADE DE ESPINHO
ESTUDO PARA A EXECUÇÃO DA ESCAVAÇÃO
COM RECURSO A EXPLOSIVOS
Fevereiro 2007
1. INTRODUÇÃO.
A EXPLO – Empresa de Demolições, Lda., subcontratada do CONSÓRCIO
SOPOL/DRAGADOS/TECSA vai executar a actividade de escavação de rocha com recurso a
explosivos, englobada na Empreitada Geral das Obras de Rebaixamento da Via férrea no
Atravessamento da Cidade de Espinho.
Para fazer face à existência de um horizonte rochoso que ocorre em certas zonas do traçado
da futura linha de caminho-de-ferro, torna-se indispensável, para prosseguimento dos
trabalhos, utilizar um método de escavação que recorra ao emprego de explosivos.
A presente memória, propõem a possibilidade de aplicação de um diagrama de fogo, com
base numa caracterização prévia do maciço rochoso, de modo a obter melhores resultados,
traduzidos numa adequada fragmentação e maior rendimento de avanço dos trabalhos sem
ultrapassar os limites legais de vibração.
O objectivo deste estudo não é apresentar soluções definitivas, mas descrever, da melhor
forma possível, aquilo que será a intervenção. Efectivamente, serão os primeiros desmontes
os melhores aferidores para as afinações do(s) diagrama(s) de fogo aplicado(s).
2. BREVE DESCRIÇÃO DO PROJECTO.
A obra em apreço está integrada no âmbito do rebaixamento da actual linha de caminho-de-
ferro da CP que atravessa a cidade de Espinho e da construção de uma nova estação
enterrada. O projecto prevê o rebaixamento de cerca de 2.000 metros de Via férrea através
de segmentos em vala aberta e outros em túnel. De ambos os lados da escavação haverá
paredes moldadas encastradas na rocha de base do local.
De acordo o com projecto de execução, a secção tipo prevista para a zona a intervir é a G1:1,
correspondendo a uma largura de 14,20 metros e profundidade de escavação total de cerca
de 10 metros.
3
4. 3. CARACTERIZAÇÃO GENÉRICA DA GEOLOGIA-GEOTECNIA DO MACIÇO ROCHOSO.
Tendo por base o Estudo Geológico-Geotécnico complementar elaborado pela CENORGEO
(Maio 2004), na zona interessada para a intervenção da EXPLO, prevê-se a ocorrência de um
horizonte rochoso formado por xistos biotíticos, essencialmente micaxistos de cor cinzenta
clara e escura, com alguns profiroblastos de granada e de estaurolite.
Do ponto de vista geotécnico, o horizonte é constituído por rochas compactas e resistentes,
medianamente a pouco alteradas (W 3-2), com fracturas medianamente afastadas a próximas
(F3-4) e RQD entre a 30 a 90%. As fracturas encontram-se geralmente fechadas e sem
vestígios de preenchimentos indiciadores de circulação de águas.
Em termos de classificação geomecânica, a experiência adquirida durante a execução da
obra, tem remetido para uma qualidade do maciço de elevada resistência e baixa
deformabilidade.
4. OBJECTIVO GERAL DA INTERVENÇÃO DA EXPLO.
Correspondendo aos mais elevados interesses de execução da subempreitada segundo as
melhores regras de arte na actividade que nos especializa, a EXPLO planeou a sua actividade
e dimensionou os seus diagramas de fogo tendo em linha de conta os seguintes requisitos
que privilegiou:
- Boa execução técnica;
- Elevada produtividade.
Neste sentido, a intervenção da EXPLO, necessária na zona do horizonte rochoso entre o
ESP54 e o ESP59, consiste na demolição do maciço anteriormente referido, recorrendo à
técnica de desmonte de rocha em bancada; para definição do plano e inclinação dos taludes,
à técnica de pré-corte como forma de minimizar o efeito perturbador na periferia do maciço
rochoso, pela acção do método de desmonte com recurso a explosivos.
5. CONDICIONANTES.
5.1 Identificação das edificações e estruturas envolventes.
Pela circunstância de a obra estar localizada no meio de um tecido urbano composto por
prédios de construção antiga e recente para uso habitacional e comercial, estádio de futebol,
linha férrea, etc., constituem, à partida, as condicionantes que importam cuidados acrescidos.
Estas estruturas encontram-se a várias distâncias da zona da intervenção, estando descritas
na tabela 1 e localizadas na figura 1.
4
5. Fig. 1 – Fotografia aérea da zona a intervir.
Edifício CP
Edifício Progresso
Linha do caminho-de-ferro
Estaleiro do Consórcio Soc.
Recreativa
Edifício Av.8/Rua 35
Estádio Comendador
Manuel de Oliveira
Tabela 1. Distâncias às estruturas existentes.
Estruturas Localização Distâncias
1. - Estádio Comendador M. Oliveira A Oeste 41,0 m
2. - Sociedade Recreativa A Sueste 12,0 m
3. - Linha do caminho-de-ferro A Este 8,0 m
4. - Edifício Progresso A Nordeste 35,0 m
5. - Edifício CP A Este 39,0 m
6. - Edifício Av. 8/Rua 35 A Oeste 31,0 m
5.2 Determinação do valor limite para a velocidade de vibração.
A utilização de explosivos pode, eventualmente, produzir efeitos secundários que é preciso
controlar/minimizar para que deste modo não ocasionem nenhum dano.
Um dos efeitos produzidos pelas pegas de fogo na escavação em zonas urbanas é a
vibração, consequência da detonação do explosivo confinado num furo(s), que se transmite
ao longo de um determinado meio.
Estando as estruturas sujeitas a solicitações dinâmicas originadas pela propagação de
vibrações no maciço rochoso, torna-se necessário minimizar as vibrações induzidas pela
detonação.
5
6. Em Portugal vigora desde 1983 a NP-2074, destinada a fixar um critério limite de valores de
parâmetros característicos das vibrações, produzidas por explosões e solicitações similares,
tendo em vista os danos subsequentes.
A norma estabelece, de acordo com a equação abaixo, um limite para a velocidade de
vibração, função do tipo de construção (), terreno de fundação () e número de solicitações
diárias (), que é posteriormente comparado com a velocidade de vibração medida.
VL = x x x 10-2 (m/s)
Assim, a partir desta equação, a referida NP permite construir a tabela 2 dentro da gama
possível das constantes e , estabelecendo-se para um número máximo de três pegas por
dia.
Tabela 2. Limites da velocidade de vibração de pico (mm/s) (M. Esteves, 1993)
Características do terreno ()
Solos coerentes muito duros,
Solos incoerentes soltos, areias
duros e de consistência média,
e misturas areia-seixo bem
solos incoerentes compactos; Rocha e solos coerentes
Tipo de construção () graduadas, areias uniformes,
areias e misturas areia-seixo rijos
solos coerentes moles e muito
bem graduadas, areias
moles
uniformes
C < 1000 m/s 1000 m/s < C < 2000 m/s C > 2000 m/s
Construções que exigem
2,5 5 10
cuidados especiais
Construções correntes 5 10 20
Construções reforçadas 15 30 60
Face à qualidade das estruturas envolventes é de considerar, como valor crítico da velocidade
de vibração de pico, o valor de 10 mm/s para as construções correntes e de 30 mm/s para as
construções reforçadas.
A Norma portuguesa não contempla outro tipo de estruturas, como sejam, as redes públicas
enterradas e linhas de caminho-de-ferro. Sendo omissa, é comummente aceite adoptar a
especificação disponível na bibliografia da especialidade e regulamentações existentes
noutros países. Assim, entendemos adoptar a velocidade de vibração de 25,4 mm/s para
redes públicas enterradas, de acordo com a regulamentação do Estado do Kansas, EUA, e
22,3 mm/s para linhas de caminho-de-ferro, de acordo com os dados da Engenharia Sísmica
(Kramer, Geotechnical Earthquake Engineering, 1996).
Tendo em linha de conta as grandes distâncias da zona dos trabalhos às estruturas 1, 2, 4, 5
e 6 (Quadro 2), bem como as acentuadas diferenças de cotas a que se encontram, é da
nossa convicção, pela experiência adquirida em obras similares, que a vibração resultante,
pela aplicação das pequenas cargas momentâneas dimensionadas, não terá expressão,
limitando-se a nossa atenção ao controle das projecções.
6. SELECÇÃO DO EXPLOSIVO.
Para seleccionar o explosivo mais adequado, de maneira a haver uma boa transferência de
energia do explosivo para a rocha, tivemos que ter em linha de conta dois requisitos: a
6
7. impedância acústica do explosivo deverá ser próxima à impedância da rocha, e o
desacoplamento mínimo entre o explosivo e as paredes do furo.
6.1 Impedâncias do explosivo e da rocha.
A impedância característica de um explosivo é o produto da sua massa volúmica pela
velocidade de detonação, ao passo que a das rochas resulta do produto da massa volúmica
pela velocidade sísmica.
Para determinar o valor das impedâncias, extraímos do estudo geológico-geotécnico e do
boletim do fornecedor de explosivos as propriedades da rocha e do explosivo,
respectivamente. Na ausência do valor para a velocidade da propagação das ondas
longitudinais do maciço, adoptamos o valor médio de 3.000 m/s característico para maciços
xistentos.
Tabela 3. Propriedades da rocha e do explosivo
Massa Veloc. Veloc.
específica Sónicas Detonação Impedância
Ton/m3 (m/s) (m/s)
Xisto 2,95 3.000 - 8.850
Gelamonite 1,40 - 5.300 7.420
Visto que a impedância do explosivo escolhido está próxima da impedância da rocha, verifica-
se o atendimento ao requisito referido.
6.2 Desacoplamento.
Pretende-se executar uma furação com diâmetro de 45 mm pelo que a escolha do diâmetro
da carga recaiu no cartucho de 32 mm para a dinamite. Dados os diâmetros disponíveis pelos
fornecedores a escolha garante uma situação segura de introdução dos cartuchos nos furos e
uma boa transferência da energia do explosivo para a rocha.
7. MÉTODO DE ESCAVAÇÃO.
A abertura da escavação no sentido Norte→Sul da via, permitirá criar frentes livres com
alturas sucessivamente mais elevadas, validando o método escolhido de desmonte em
bancada. Este método permite reduzir as quantidades de explosivo a aplicar, bem como, as
vibrações produzidas pelo desmonte.
8. ESTIMATIVA DA CARGA MÁXIMA POR RETARDO.
É desconhecida, à partida, uma caracterização dinâmica adequada à directriz da obra em
apreço, pela ausência de qualquer lei de propagação de vibrações específica para o maciço
rochoso interessado.
Assim, no sentido de estimar a carga máxima a utilizar por retardo, consideramos aplicável a
expressão matemática para desmontes em maciços de rocha xisto-grauváquica (Gama,
1997), obtida na bibliografia da especialidade. Considerando-se semelhantes as condições
geológicas e o método do desmonte, a relação que se propõe é:
= 1600 Q0,8 D-2,06
7
8. onde (mm/s), Q (kg) e D (m) são, respectivamente, a velocidade vibratória, a carga e a
distância.
Estabelecida a lei de atenuação de vibrações no maciço rochoso através da equação anterior,
o critério de dano pela Norma Portuguesa e outros critérios adoptados para estruturas
específicas, pode-se determinar a relação carga – distância conforme se apresenta no gráfico
seguinte.
10,00
Carga por retardo - Q (kg)
1,00
0,10
1,0 10,0 100,0
Distância - D (m)
Gráfico 1. Relação carga-distância para diferentes velocidades
vibratórias admissíveis.
Sendo necessário efectuar o desmonte de rocha com explosivos a cerca de 8,0 m de
distância da linha-férrea, a carga máxima momentânea será de 1,0 kg.
9. DIMENSIONAMENTO TEÓRICO DO DIAGRAMA DE FOGO.
9.1 Desmonte em bancada.
Para o dimensionamento do diagrama de fogo tivemos que ter em conta todos os factores
anteriormente mencionados nas diferentes alíneas, admitindo uma altura média de 3,28
metros de bancada tipo, simulando um carregamento com dinamite.
Altura bancada (K) m 3,28
Diâmetro furo () mm 45
Inclinação furacão graus 13
Explosivo Gela
Diâmetro cartucho (f) mm 32
Comprimento do cartucho mm 400
Peso cartucho kg 0,47
Subfuração m 0,41
Compri./ furo (H) m 3,71
Atacamento (At) m 1,53
Afasta/ (V) m 1,26
Espaça/ (E) m 1,26
Vol./furo m3 5,34
Perfuração específica m/m3 0,70
Carga esp. kg/m3 0,38
Carga/furo kg 2,00
Tabela 4. Parâmetros do diagrama de fogo
8
9. Como a carga total por furo é superior à carga máxima admissível, vamos seccionar a carga
em dois segmentos com microretardos distintos. Desta forma, a carga será distribuída com
separadores de inertes intercalados de 50 cm, e a sua detonação temporizada com um
microretardo não eléctrico incrementado por um ligador, à superfície, de 25 ms de intervalo,
um para a carga de fundo e outro para a carga de coluna, isto é, a carga de um furo detonará
em dois tempos. Fica assim assegurada uma carga detonada por tempo inferior à carga
máxima estimada.
b
V E
a
K
h
H
Fig.2 – Desmonte em bancada
Fig.3 – Pré-corte
9.2 Pré-corte.
Para o carregamento dos furos do pré-corte iremos aplicar uma carga máxima por retardo
idêntica ao do desmonte em bancada, distribuindo um cartucho de gelamonite 32x400 como
carga de fundo e cartuchos de gelamonite 26x200 espaçados ao longo da coluna, interligados
por cordão detonante. A iniciação e temporização da carga serão efectuadas com
microretardo não eléctrico aplicado na carga de fundo e incrementado por um ligador, à
superfície, de 25 ms de intervalo. Estas cargas serão pré-preparadas na zona de obra para
posterior introdução dentro dos furos.
10. METODOLOGIA DO TRABALHO.
A actividade da EXPLO iniciar-se-á a partir do local onde surgir o horizonte rochoso. O
trabalho de escavação decorre sempre no sentido das frentes livres já existentes, elegendo-
se o sentido Norte→Sul. A máquina de perfuração hidráulica efectuará os furos de acordo
com malha determinada e o comprimento será conforme a inclinação e as marcações
topográficas pré-estabelecidas.
Após concluída a perfuração e carregamento, a máquina e os homens deslocar-se-ão para
uma zona de segurança, de forma a proceder-se ao rebentamento da pega de fogo.
9
10. A operação seguinte consiste na deslocação do equipamento de perfuração para nova
posição, repetindo as operações já referidas. Simultaneamente, deverá ter lugar o
carregamento e transporte do material demolido.
A colocação dos detonadores nas pegas de fogo será efectuada conforme esquemas tipo (fig.
4 e 5), tendo como objectivo efectuar uma boa fragmentação, controlar eventuais projecções
e reduzir a indução de vibrações no maciço.
42ms
534/559 584/609 634/659 684/709 734/759 784/809 834/859 884/909 934/959 984/1009 1034/1059
42ms 467/492 517/542 567/592 617/642 667/692 717/742 767/792 817/842 867/892 917/942
350/375 400/425 450/475 500/525 550/575 600/625 650/675 700/725 750/775 800/825 850/875
Fig. 4 – Posicionamento da furação (planta) e temporização do desmonte do caixão central.
475 475
450 450
425 425
400 400
375 375
350 350
Fig. 5 – Posicionamento da furação (planta) e temporização do pré-corte.
11. PROCEDIMENTOS PREVENTIVOS.
11.1 Medidas para controlo dos efeitos secundários.
Atendendo aos condicionalismos já descritos iremos adoptar as seguintes medidas especiais
de segurança:
11.1.1 Controlo e monitorização das vibrações.
Para controlo e monitorização das vibrações, deverão ser colocados, em obra, aparelhos de
10
11. medida a instalar pelo Consórcio SOPOL/DRAGADOS/TECSA, em locais conforme
assinalado na figura 6, identificados por S1, S2 e S3, de forma a correlacionar a velocidade
vibratória resultante com a carga momentânea detonada. As leituras das medições
efectuadas deverão ser registadas após as pegas de fogo.
11.1.2 Controlo das projecções.
As recomendações básicas a seguir para minimizar as projecções são as seguintes:
- Comprimento adequado do atacamento;
- Controle da profundidade do furo e inclinação do furo;
- Controle da carga do explosivo e sua distribuição no furo;
- Realização cuidada do atacamento;
- Correcta implantação do diagrama de fogo;
- Cuidado especial na sequência da detonação;
- Uso de mantas em tela de borracha. A EXPLO colocará em obra 4 mantas de
borracha que serão colocadas e posicionadas por cima da pega carregada com a
ajuda de uma escavadora giratória, disponibilizada pelo Consórcio.
11.2 Medidas que antecedem o rebentamento das pegas de fogo.
11.2.1 Aviso sonoro das pegas de fogo.
Deverá ser implementado um aviso sonoro do rebentamento das pegas de fogo através de
uma sirene com os seguintes toques:
- 1º toque 10 minutos antes do rebentamento;
- 2º toque 3 minutos antes do rebentamento;
- 3º toque 10 segundos antes do rebentamento;
- 4º toque indicando conclusão dos trabalhos após verificação da pega rebentada
pelo carregador de fogo.
- No caso de durante os procedimentos anteriores decorrer algo anómalo efectuar
dois toques seguidos para suspensão da sequência.
11
12. S1
V1 V4
Sentido da escavação V5
V2
S3
V3
S2
Fig. 6 – Posicionamento dos vigilantes e sismógrafos.
11.2.2 Área de segurança.
Definição de uma área de segurança com um raio a partir da zona intervencionada. Nesta
empreitada convencionaremos o limite vedado existente na obra, embora entendamos que se
deva acautelar eventuais presenças de pessoas próximas da linha-férrea. Não é
recomendado a permanência de veículos estacionados no estaleiro durante o período de
interdição. Assim sendo, após o primeiro toque, os trabalhadores afectados existentes na
zona reunir-se-ão em local a definir, até ser dado o toque de regresso aos trabalhos (4º
toque).
11.2.3 Agrupamento dos trabalhadores.
O agrupamento dos trabalhadores deverá ser efectuado pelo Encarregado do Consórcio da
respectiva frente de trabalho.
11.2.4 Colocação de vigilantes.
Propõe-se o posicionamento de vigilantes conforme assinalado na figura 6, identificado por
V1, V2, V3, V4 e V5, com o objectivo de impedir o acesso de pessoas pela envolvente da
zona intervencionada a partir do 2º aviso sonoro:
- Os vigilantes V1 e V2 têm como função controlar a passagem de veículos e pessoas na
passagem de nível e zonas próximas;
- O vigilante V3 controlará o acesso de veículos e pessoas ao estaleiro, e na zona envolvente
à portaria;
- Especial cuidado, vai para a colocação de um observador, V4, junto à linha-férrea para
garantir que a linha se encontra desimpedida, imediatamente antes da detonação dos
explosivos. Este vigilante situar-se-á de forma a verificar visualmente o desimpedimento da
linha nos dois sentidos, devendo ter na sua posse o horário dos comboios da Linha do Norte,
12
13. de forma a poder coordenar a passagem destes com as pegas de fogo. Após a confirmação
por meio de uma bandeirola ou rádio intercomunicador, será dado o último aviso sonoro antes
do rebentamento (10 segundos antes, de acordo com a sequência de avisos sonoros
descritos em 11.2.1);
- O vigilante V5 terá como função vigiar o acesso de pessoas pelo lado Sul da zona
intervencionada e imediações.
11.2.5 Horário do rebentamento.
O carregamento da pega de fogo decorrerá sem qualquer interdição embora esteja vedado o
acesso a qualquer pessoa não envolvida na operação.
Propomo-nos a efectuar um a dois rebentamentos por dia, entre as 12 e as 18 horas, com um
período de interdição da via de 30 minutos conforme disponibilidade a acordar com a REFER.
11.3 Formação sobre medidas preventivas.
11.3.1 Acção de sensibilização/formação geral.
Todos os trabalhadores envolvidos nas operações deverão ser alvo de uma acção de
sensibilização/formação antes do início da actividade, tendo por base os princípios aqui
definidos.
11.3.2 Acção de sensibilização específica.
Deverão ser dadas acções de sensibilização/formação específicas aos encarregados
responsáveis pela evacuação e agrupamento dos trabalhadores e aos vigilantes, antes do
início da actividade.
11.3.3 Cédula de operador de explosivos.
O emprego de explosivos só pode ser feito por pessoa devidamente habilitada, possuindo
cédula de operador de explosivos válida e passada por entidade autorizada. A EXPLO irá
mobilizar para a obra um técnico especialista em escavações com recurso a explosivos e
encarregado(s) devidamente encartado.
11.3.4 Equipamento de protecção individual (EPI).
Será obrigatório a utilização dos equipamentos de protecção individual: capacete de
protecção, botas de segurança e colete de alta visibilidade.
11.4 Precauções no emprego de produtos explosivos.
11.4.1 Precauções específicas.
Tendo em conta a natureza e programação dos trabalhos, o fornecedor do material
explosivo entregará em obra, apenas, a quantidade suficiente para a utilização no
próprio dia.
Evitar submeter os explosivos a choques, fogo ou temperaturas extremas.
Os detonadores deverão permanecer na sua embalagem original até à altura da sua
13
14. utilização. Admite-se, no entanto, a sua transferência para outro tipo de embalagem de
transporte, desde que, não seja metálica e que garanta a protecção mecânica
adequada.
No caso de uso de detonadores eléctricos os fios condutores (reófagos) devem estar
unidos em curto-circuito, até ao momento da ligação à linha de tiro.
A zona onde se vão utilizar substâncias explosivas deverá estar particularmente
arrumada e livre de todo o material ou equipamento desnecessário.
As varas de atacamento do explosivo deverão ser em madeira, PVC ou outro material
não ferroso e electricamente neutro.
O explosivo deverá ser do tipo “encartuchado” em embalagem de diâmetro compatível
com o diâmetro dos furos.
Em furos com água ou com probabilidade de esta ocorrer, utilizar substâncias
explosivas resistentes à humidade ou embaladas de tal modo que garantam o não
contacto com a água circundante.
Se, em casos excepcionais, se tornar necessário manusear directamente o explosivo,
tal só deverá ser feito em locais muito bem arejados e com recurso a luvas de
borracha. O contacto da pele com explosivos contendo nitroglicerina ou derivados está
formalmente interdito.
Os trabalhos de marcação de uma malha de tiro deverão decorrer organizadamente,
respeitando-se toda a sequência de operações, quer de cada furo em si quer do seu
conjunto.
No fim da operação de carregamento, proceder a uma revisão meticulosa do trabalho,
no sentido de detectar e corrigir qualquer defeito ou omissão que possa pôr em causa
a explosão total ou parcial da malha de tiro.
Testar o(s) circuito(s) de disparo eléctrico obrigatoriamente com o auxilio de ohmímetro
próprio. Em nenhum caso recorrer a outro equipamento para executar tal operação.
No caso de se prever a ocorrência de trovoada não iniciar a operação de
carregamento. Se a trovoada se formar durante a operação de carregamento deve-se
suspender os trabalhos, recolher, se possível, os detonadores e abandonar o local
para distância segura.
A ligação nua entre reófagos deverá ficar afastada do solo ou, deverá ser isolada com
terminal isolante próprio ou outro material que garanta o mesmo efeito.
Caso se torne necessário proceder a tiro secundário (ou de taqueio), antes de iniciar a
furacão, verificar se na zona a furar não existem restos de explosivo que possam
detonar.
O explosor deverá permanecer sempre sob o controlo do operador de explosivos. A
chave de disparo deverá acompanhar o referido operador.
As eventuais sobras de cada pega serão devolvidas, no próprio dia, ao fornecedor de
explosivos, que as transportará em viatura autorizada até ao seu paiol.
14
15. 11.4.2 Actuação perante tiros falhados.
A realização de boas ligações e correcta colocação dos detonadores, assim como, a utilização
do explosor mais adequado, são factores que minimizam ou evitam a existência de falhas.
Mas se por qualquer motivo se verificar alguma, deve-se proceder conforme o regulamento
(R.G.S.H.T.M.P. – capitulo XII Artº 103). Como complemento podemos implementar as
seguintes soluções habituais:
- Se um furo falhou (ou furos falharam) e o(s) condutor(es) do detonador está(ão) intacto(s) e
acessível(is), procederemos ao seu rebentamento restabelecendo nova ligação;
- Se um furo falhou (ou furos falharam) e o(s) condutor(es) não está(ão) acessível(is),
procederemos à limpeza do furo com ar comprimido, recorrendo à utilização de uma agulheta
específica presente em obra. De seguida, carregaremos novamente o furo com uma pequena
carga escorvada que permitirá rebentar por simpatia a carga falhada;
- Se um furo falhou (ou furos falharam) e não houver possibilidade de contacto directo com a
carga devido à deslocação do bloco rochoso, procederemos primeiro à remoção cuidadosa,
com a escavadora, do material demolido existente na envolvente, vigiando o aparecimento da
carga falhada até estar ao alcance de um braço.
11.4.3 Transporte do explosivo.
O explosivo transitará do paiol do fornecedor, localizado na Maia, para a obra, de acordo com
as necessidades pretendidas. Se houver sobras, estas serão devolvidas no próprio dia.
12. ORGANOGRAMA DA EXPLO.
DIRECTOR TÉCNICO/DIRECTOR
DE OBRA
Eng.º José Pinto
CHEFE DE
EQUIPA/CARREGADOR DE
FOGO
OPER. DE MÁQUINA DE AJUDANTE DO CARREGADOR
PERFURAÇÃO DE FOGO
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16. 13. ORGANOGRAMA DE COMPETÊNCIAS E RESPONSABILIDADES.
Director
técnico/DO
(EXPLO)
Encarregado
(EXPLO)
1º TOQUE (10 MIN 2º TOQUE (3 MIN ANTES 3º TOQUE (10 SEG
ANTES DISPARO DISPARO ANTES DISPARO
RESPONSÁVEL DO CORTE DE VIAS
CONSÓRCIO
FRENTE 1
AGRUPAMENTO DE FRENTE 2
TRABALHADORES
FRENTE 3
S1
SISMÓGRAFOS S2
S3
V1 (OK? SIM/NÃO)
V2 (OK? SIM/NÃO)
VIGILANTES
V3 (OK? SIM/NÃO)
V4 (OK? SIM - DISPARO/NÃO)
V5 (OK? SIM/NÃO)
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17. 14. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
CENERGEO (2004) Estudo geológico-geotécnico complementar – Obras de rebaixamento
da via no atravessamento da cidade de Espinho.
ESTEVES, J. MOURA (1970) Nota sobre a influência nas construções das vibrações dos
terrenos provocadas por explosões. LNEC. Lisboa.
ESTEVES, J. MOURA (1993) Controlo de vibrações provocadas por explosões na indústria
da construção. LNEC. Lisboa.
GAMA, C. DINIS. (1996) Um modelo para a fragmentação de rochas sob a acção de
explosivos. Revista Geotecnia nº 76, pp. 41-51.
GAMA, C. DINIS. (1999) Ruídos e vibrações ligados à utilização dos explosivos e
equipamentos. Revista Rochas & Equipamentos nº 53, pp.8-36.
GAMA, C. DINIS (2002) Relatórios Técnicos – Ensaios com explosivo convencional
realizados na Estação do Marquês. CEGEO-IST.
GEOCONTROL (1998) Estudo Geológico-Geotécnico - Passagem Inferior do Papel.
LÓPEZ JIMENO, C. (1998) Manual de áridos prospección, explotación y aplicaciones.
Entorno Gráfico, S. L. Madrid.
PASCUAL, J. BALSA (1989) - Leyes estadísticas de transmisividad en distintos tipos de
rocas. Revista Canteras y Explotaciones, pp 61-73.
PINTO, J.M. SANTOS (1994) Desmonte de Rocha entre os Km 113+500 e 114+125 –
Modernização da Linha da Beira Alta, Troço Carregal do Sal/Mangualde.
PINTO, J.M. SANTOS (2003) Execução do Poço Elíptico da Estação do Marquês. Boletim
da ANET, secção regional norte, p. 4.
PINTO, J.M. SANTOS (2004) Estudo para a escavação com recurso a explosivos – Metro
do Porto – Estação de Faria Guimarães.
PINTO, J.M. SANTOS (2005) Estudo para a escavação com recurso a explosivos –
Construção da passagem inferior do Papel, linha de Sintra.
TAMROCK (1999) Rock Excavation Handbook for Civil Engineering.
TECNOVIA (2005) Procedimento específico de segurança. Desmonte de rocha com
recurso a explosivos. Empreitada de construção da passagem inferior do Papel, linha de
Sintra. Anexo 18.
Albergaria-a-Velha, 05 de Fevereiro de 2006
Por
José Pinto
(Eng.º Geotécnico)
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