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COVID-19
IMPACTO
FISCAL NA
EDUCAÇÃO
BÁSICA
SEGUNDO RELATÓRIO
O cenário de receitas e despesas nas redes
municipais em 2020
2
SUMÁRIO EXECUTIVO
INTRODUÇÃO
A EVOLUÇÃO DA RECEITA DOS MUNICÍPIOS DURANTE A PANDEMIA
E QUEDA NA DISPONIBILIDADE FISCAL PARA INVESTIMENTO EM
EDUCAÇÃO
Queda na arrecadação tributária e nas transferências recebidas pelos
municípios
Cenários de queda da arrecadação
Metodologia de cálculo	
Resultados de impacto fiscal no financiamento da educação	
DESPESAS COM EDUCAÇÃO NOS MUNICÍPIOS PARA O
ENFRENTAMENTO DA CRISE RESULTANTE DA PANDEMIA
Ações de enfrentamento da crise nos municípios
Baixa flexibilidade orçamentária em um cenário de redução de receitas
SÍNTESE PROPOSITIVA
03
05
09
09
11
12
13
15
16
21
23
REDAÇÃO:
Todos Pela Educação:
Lucas Fernandes Hoogerbrugge - Gerente de
Estratégia Política
Caio de Oliveira Callegari - Coordenador de
Produção Técnica
Gustavo Ho Cheng Wei - Coordenador de Relações
Federativas
APOIO TÉCNICO:
Todos Pela Educação:
Gabriel Barreto Corrêa - Gerente de Políticas
Educacionais
Felipe Poyares - Coordenador de Relações
Governamentais
Instituto Unibanco:
Rita Jobim – Coordenadora de Políticas do Ensino Médio
Marina Liberman – Analista de Pesquisa de Políticas
do Ensino Médio
COORDENAÇÃO EDITORIAL E DIAGRAMAÇÃO:
Todos Pela Educação:
Bárbara Benatti - Gerente de Comunicação
Instituto Unibanco:
José Jacinto Amaral - Coordenador de Comunicação
Fabiana Hiromi Shinkawa - Analista Comunicação
Fernanda Aoki - Analista de Comunicação
FICHA TÉCNICA
Todos Pela Educação:
Priscila Cruz - Presidente-Executiva
João Marcelo Borges - Diretor de Estratégia Política
Olavo Nogueira Filho - Diretor de Políticas
Educacionais, Comunicação e Mobilização
Instituto Unibanco:
Ricardo Henriques – Superintendente Executivo
Mirela de Carvalho – Gerente de Gestão do Conhecimento
COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA
3
COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA
3
O estudo Covid-19 - Impacto Fiscal na Educa-
ção Básica, elaborado pelo Instituto Uniban-
co e pelo movimento Todos Pela Educação,
tem o objetivo de lançar luz às dificuldades
financeiras que as redes de educação en-
frentarão em 2020 para a manutenção dos
processos de ensino-aprendizagem. Este é o
segundo relatório do estudo, focado na reali-
dade das redes municipais de educação.
A pandemia do novo coronavírus levou todas as
escolas a paralisar suas aulas presenciais, o que
exigiu novos gastos com a reorganização das
ações pedagógicas e de cuidado com crianças
e jovens, ao mesmo tempo que o cenário eco-
nômico alterou as condições de vida das famí-
lias e as possibilidades de financiamento dos
governos. No primeiro relatório, tratamos das
perspectivas fiscais dos estados. Agora, iden-
tificamos a queda de arrecadação tributária
dos municípios, com a consequente redução
da disponibilidade fiscal para investimento em
educação, e o conjunto de despesas adicionais
nesse setor para o enfrentamento da crise mul-
tidimensional (sanitária, econômica, social) e a
adequação a novos protocolos sanitários.
O estudo utiliza a base de dados do Tesouro
Nacional e informações consolidadas das re-
ceitas tributárias de março a junho, além de
estimativas de especialistas, para realizar uma
projeção dos tributos vinculados a manuten-
ção e desenvolvimento do ensino (MDE) em
2020. Segundo os cálculos aqui apresenta-
dos, o conjunto das redes municipais devem
perder entre R$ 15 bilhões e R$ 31 bilhões em
tributos vinculados a MDE, a depender do ce-
nário de crise econômica.
Paralelamente, um levantamento com 82 redes
municipais de educação (majoritariamente de
grande porte) identificou que há um conjunto
de gastos adicionais neste ano de R$ 870 por
estudante matriculado. Esse é o valor médio
per capita resultante da soma de estimativas
de despesas com ensino remoto, garantia de
alimentação dos(as) estudantes, comunicação
com as famílias, patrocínio de pacotes de dados
de internet e compra de materiais de higiene.
Não é possível extrapolar tais resultados para
o restante dos municípios brasileiros em face
da heterogeneidade federativa do país, mas o
valor serve como indicativo da magnitude das
despesas adicionais que as redes educacionais
estão realizando para enfrentar a pandemia.
O cenário torna-se ainda mais desfavorável
quando se considera que o retorno às aulas
presenciais implicará outras despesas adicio-
nais. Nesse sentido, 55% da amostra ainda
estão em fase inicial de planejamento ou se-
quer iniciaram reflexões nesse sentido. Essa
maioria de redes pode ter ônus financeiros
ampliados caso os processos de readequação
sejam realizados de maneira abrupta.
A perspectiva fiscal é de expressiva carência de
recursos nas redes municipais, assim como foi
observado com as redes estaduais no estudo
anterior. Esse subfinanciamento comprimirá
despesas educacionais de custeio e investi-
mento, tão fundamentais para garantir uma
saída sustentável da crise, com possibilidade
de afetar também a execução de despesas
obrigatórias, como o pagamento de salários. O
risco, portanto, é de significativa desorganiza-
ção das redes de educação em todo o país.
Para evitar o possível colapso financeiro e
educacional nas redes públicas, o Brasil pre-
cisará de ações legislativas e executivas que
contemplem:
Sumário executivo
TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020
44
melhoria da qualidade do gasto nas secretarias de Educação, com
base em orientação e apoio técnico aos municípios, fortalecendo o
regime de colaboração para a superação da crise;
aprovação de medidas legislativas e reforço das ações do governo
federal para garantir acesso gratuito à internet para fins educacionais;
suplementação do orçamento do Programa Nacional de Alimentação
Escolar (PNAE) e do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), além
de preservação dos demais programas do Ministério da Educação;
aprovação de socorro emergencial da União direcionado à educação
de estados e municípios (como preconizado pelo Projeto de Lei nº
3165/2020);
renovação e aprimoramento do Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação (Fundeb), evitando que grande parte das
redes do país seja subfinanciada e não tenha os recursos necessários
para ofertar uma educação de qualidade.
TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020
1.
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5.
COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA
5
Introdução
Os primeiros quatro meses da pandemia de
covid-19 no Brasil configuram um momen-
to inédito na educação do país: desde março
de 2020, todas as escolas estão com as aulas
presenciais suspensas, exigindo que as redes
de educação estruturem estratégias para
evitar o aprofundamento das desigualdades
educacionais entre estudantes de famílias
mais e menos vulneráveis e a ampliação das
taxas de abandono e evasão escolar1
. Esse
novo contexto educacional, marcado por es-
forços de adaptação de gestores(as), profis-
sionais da educação, estudantes e seus(suas)
cuidadores(as), ainda que muito desafiador,
também pode deixar legados positivos: a ela-
boração de metodologias de ensino remoto e
ensino híbrido, a criação de canais de comu-
nicação que aproximem a escola e a família,
a implementação de cuidados sanitários mais
robustos, o desenvolvimento de mecanismos
para fortalecimento da inclusão digital e a
promoção de ações equitativas de apoio aos
mais vulneráveis.
É fundamental considerar que esse conjunto
de desdobramentos positivos só acontecerá
de fato se existirem recursos técnicos e finan-
ceiros. A reorganização das ações pedagógi-
cas e de cuidado com crianças e jovens têm
um ônus financeiro expressivo para as redes
de educação. Ao mesmo tempo, o cenário
econômico alterou as condições de vida das
famílias e as possibilidades de financiamento
dos governos. Em outras palavras, o perío-
do de pandemia tem impacto fiscal duplo na
Educação Básica: por um lado, aumenta os
custos, com as despesas imediatas de reor-
1 O Todos Pela Educação publicou uma nota técnica
sobre os desafios do retorno às aulas presenciais no con-
texto da pandemia de covid-19. Disponível em: <https://
www.todospelaeducacao.org.br/_uploads/_posts/433.
pdf?1194110764>.
5
ganização; por outro, diminui a disponibilida-
de fiscal para investimento na área.
Tal cenário foi o mote para o primeiro relatório
do estudo Covid-19: impacto fiscal na Educa-
ção Básica, produzido pelo Todos Pela Edu-
cação e pelo Instituto Unibanco e divulgado
em maio de 2020. O estudo organizou dados
da Secretaria do Tesouro Nacional, projeções
tributárias e informações das secretarias esta-
duais de Educação de março a abril, revelando
os pontos a seguir.
•	 As redes estaduais de educação devem
perder até R$ 28 bilhões em tributos vin-
culados a manutenção e desenvolvimento
do ensino (MDE), a depender do cenário
de crise econômica. O cenário A, mais oti-
mista, considera queda de 8% nos tribu-
tos estaduais em 2020, o que resulta em
redução na disponibilidade de R$ 9 bi-
lhões. Já o cenário B toma como base as
projeções da Frente Nacional de Prefei-
tos (FNP), que indicam queda da ordem
de 15%, com diminuição de R$ 17 bilhões.
Por fim, o cenário C, mais pessimista, esti-
ma uma queda de 25% na carga tributária
estadual, o que significa uma perda de R$
28 bilhões no montante de tributos vincu-
lados a MDE em relação a 2019.
•	 Tomando o conjunto de 15,3 milhões de
estudantes em redes estaduais de Educa-
ção Básica, isso significaria uma redução
média no investimento anual por estu-
dante de R$ 579 no cenário A, R$ 1.086
no cenário B e R$ 1.809 no cenário C.
•	 Entre março e abril, 95% das unidades da
Federação adotaram de 5 a 15 soluções
para o enfrentamento das consequên-
cias da pandemia, gerando um custo adi-
COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA
TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020
66
cional de pelo menos R$ 2 bilhões para
2020. São sobretudo gastos com a im-
plementação do ensino remoto e com o
oferecimento de alimentação aos(às) es-
tudantes durante a suspensão das aulas
presenciais.
Apresentado no início de junho à Frente Parla-
mentar Mista de Educação, o estudo concluiu
que a carência potencial de R$ 30 bilhões só
considerando as redes estaduais – um “colapso
financeiro” – precisa ser mitigada por meio de
ações legislativas e executivas. Entre as reco-
mendações, de caráter não exaustivo, elencou
a vinculação à educação de 25% dos recursos
de socorros fiscais em razão de queda tributá-
ria, a preservação e o não contingenciamen-
to do orçamento do Ministério da Educação
(MEC), a aprovação urgente do Fundo de Ma-
nutenção e Desenvolvimento da Educação Bá-
sica e de Valorização dos Profissionais da Edu-
cação (Fundeb) e a implementação de socorro
emergencial da União direcionado à educação
de estados e municípios.
O relatório também expressou a recomen-
dação de uma estratégia coordenada de se-
gurança alimentar, em diálogo com a Lei nº
11.947/20092
, permitindo que as famílias
possam receber diretamente recursos para a
aquisição de alimentos para os(as) estudan-
tes, minimizando os riscos sanitários envolvi-
dos na distribuição de kits de alimentos.
Os resultados e as recomendações do estu-
do tiveram eco nas realizações do Congresso
Nacional ainda durante o primeiro semestre
de 2020. Diversas iniciativas legislativas fo-
ram apresentadas buscando assegurar re-
cursos adicionais para ações educacionais
no contexto da pandemia. A mudança no
Programa Nacional de Alimentação Escolar
(PNAE) para permitir a distribuição de valor
monetário às famílias foi incorporada à Medi-
da Provisória (MP) nº 934/20203
, aprovada no
Congresso Nacional e encaminhada a sanção
2 A Lei nº 11.947/2009 regulamenta o Programa Nacional
de Alimentação Escolar (PNAE), recurso distribuído pelo
governo federal para financiar parte da merenda adquiri-
da pelas redes estaduais e municipais de educação.
3 A MP nº 934/2020 foi apresentada pelo Poder Exe-
cutivo visando estabelecer normas excepcionais para
a educação em 2020. A MP foi relatada pela deputada
Luisa Canziani. O relatório está disponível em: <https://
www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarinte-
gra?codteor=1909036>.
presidencial em 29/07. O Fundeb teve avan-
ço na tramitação, sendo aprovado na Câmara
dos Deputados com vasta maioria, seguindo
agora para voto no Senado Federal; o relatório
amplia a complementação da União aos esta-
dos e municípios já a partir de 2021. Por fim,
foi apresentado na Câmara dos Deputados o
Projeto de Lei (PL) nº 3165/20204
para, em
consonância com as conclusões do estudo,
estruturar um pacote anticolapso financeiro
das redes de educação do país – com mon-
tante previsto de R$ 31 bilhões. Por fim, o PL
nº 3551/20205
foi apresentado para garantir
recursos federais, distribuídos por meio do
Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE),
para ações relacionadas à estratégia de retor-
no às aulas, utilizando como parâmetro os R$
2 bilhões de gastos extraordinários nas redes
estaduais durante o primeiro semestre.Vale
lembrar ainda que o Congresso já havia agido
para reduzir as perdas de estados e municí-
pios com o pacote de socorro (desembolsos
diretos e suspensão de pagamento de divi-
das), embora essas medidas não tenham vin-
culação expressa para a Educação.
Não há dúvidas de que também as redes mu-
nicipais estão sendo severamente impactadas
pela pandemia. Afinal, nos estados e nos mu-
nicípios o financiamento educacional é fun-
damentalmente caracterizado por ter como
fonte principal um conjunto de tributos com
vinculação constitucional. De acordo com a
Constituição Federal, em seu artigo 212, os
municípios devem aplicar na manutenção e
desenvolvimento do ensino6
pelo menos 25%
das suas receitas resultantes de impostos
e transferências. Os recursos vinculados fi-
nanciam despesas tanto na Educação Básica
quanto na Superior e representam 72% do to-
tal de investimento público em educação7
.
4 O PL nº 3165/2020 foi apresentado por um conjunto
de parlamentares. Disponível em: <https://www.camara.
leg.br/propostas-legislativas/2254734>.
5 Disponível em: <https://www.camara.leg.br/proposi-
coesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1908632&file-
name=PL+3551/2020>.
6 As despesas típicas de MDE são descritas nos artigos
70 e 71 da Lei nº 9.394/1996.
7 Estatística calculada pelo Todos Pela Educação para
o ano de 2015, com base no Estudo Técnico nº 24/2017
da Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira
da Câmara dos Deputados (Conof/CD), nos dados do
Salário-Educação da Secretaria do Tesouro Nacional
(STN) e nas estatísticas financeiras do Instituto Nacio-
nal de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
(INEP)/MEC.
TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020
COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA
77
COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA
Os municípios brasileiros correm
risco adicional com o eventual fim
do Fundeb. A política tem vigência
constitucional até 31 de dezembro
de 2020 e, caso não tenha a
renovação votada pelo Congresso
Nacional nesse ano, expirará.
Num cenário de fim do Fundeb, o
investimento por estudante cairia
mais da metade em 1.220 municípios
de todo o Brasil (cujas redes de
educação somam 7,5 milhões de
estudantes). Nesses municípios,
o pagamento dos profissionais
da educação se tornaria inviável,
bem como boa parte dos gastos
de manutenção que permitem às
escolas ficarem abertas. Além disso,
62% dos municípios brasileiros
passariam a estar em situação
de subfinanciamento crítico,
segundo classificação do Todos Pela
Educação10
.
Assim como as redes estaduais, também os
municípios têm ofertado alimentação esco-
lar aos(às) estudantes com aulas suspensas e
reorganizado o calendário letivo com ordena-
mento de atividades remotas complementa-
res. No horizonte de novos custos, que colide
fiscalmente com o cenário de queda arreca-
datória, estão despesas para operacionalizar
com segurança a volta às atividades letivas
presenciais e ações para evitar o abandono
escolar no período de retorno.
Nesse contexto, dando sequência à propos-
ta de investigação, o Instituto Unibanco e o
Todos Pela Educação seguem no trabalho em
conjunto para apresentar informações e es-
timativas robustas do impacto fiscal da pan-
demia de covid-19 na Educação Básica. Neste
estudo, o foco está na situação vivida pelas
redes municipais de educação, contando com
tou uma nota técnica sobre a adoção de estratégias de
ensino remoto frente ao cenário de suspensão provisória
das aulas presenciais. Disponível em: <https://www.
todospelaeducacao.org.br/_uploads/_posts/425.pd-
f?1730332266=&utm_source=conteudo-nota&utm_me-
dium=hiperlink-download>.
Como apresentado no último relatório, os
principais impostos e transferências vincula-
dos à educação são o Imposto sobre Circu-
lação de Mercadorias e Serviços (ICMS), de
competência estadual (com 1/4 da arrecada-
ção distribuída aos municípios), o Fundo de
Participação dos Municípios (FPM), o Fundo
de Participação dos Estados (FPE), o Imposto
sobre Serviços (ISS) – de competência munici-
pal – e o Salário-Educação (distribuído a esta-
dos e municípios).
Boa parte (49,9%) dos impostos e transferên-
cias vinculados à educação é redistribuída no
âmbito de cada unidade da Federação pelo
Fundeb8
. Cada rede de educação aporta a
um fundo estadual uma parcela da sua recei-
ta de impostos e transferências e recebe de
volta desse fundo um montante de recursos
proporcional ao seu número de estudantes
matriculados na Educação Básica. Para 1.670
municípios brasileiros, principalmente no
Norte e no Nordeste, 75% dos recursos que
custeiam a educação vêm do Fundeb, segun-
do o recém-lançado Anuário Brasileiro da Edu-
cação Básica 20209
.
Embora as receitas municipais do Fundeb
sejam mais diretamente atreladas à necessi-
dade de recursos das redes de educação (nú-
mero de matrículas) do que o restante dos
recursos vinculados a MDE, a magnitude do
fundo também depende do valor da arreca-
dação tributária. A cesta de redistribuição é
composta por subvinculações de impostos e
transferências e, ademais, a complementação
que a União realiza aos fundos estaduais mais
pobres é calculada na razão de 10% da soma
de todos os fundos estaduais.
O impacto fiscal da pandemia pelo lado da
queda de arrecadação tributária nos municí-
pios se soma aos novos custos que as redes
municipais estão tendo com as diversas estra-
tégias para oferecer oportunidades de apren-
dizagem e desenvolvimento a crianças e jo-
vens durante o período de isolamento social11
.
8 Para entender mais sobre o Fundeb, acesse: <https://
www.todospelaeducacao.org.br/conteudo/perguntas-e-
-respostas-o-que-e-e-como-funciona-o-fundeb>.
9 Disponível em: <www.todospelaeducacao.org.br/_
uploads/_posts/456.pdf>.
10 Nota técnica Análise da Relação entre Investi-
mento por Aluno e Qualidade do Ensino, de agosto de
2019. Disponível em: <www.todospelaeducacao.org.
br/_uploads/_posts/319.pdf>.
11 Em abril de 2020, o Todos Pela Educação apresen-
TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020
8
a colaboração da FNP para o levantamento
de dados e refinamento da metodologia de
cálculo, por meio de suas notas técnicas sobre
receitas municipais.
Assim como no relatório anterior, o esforço
visa identificar, por um lado, as estimativas
de variação da receita tributária durante a
pandemia e seu efeito na disponibilidade fis-
cal para investimento em educação (segun-
da seção) e, por outro, as possíveis despesas
adicionais com educação para enfrentamento
da crise atual (terceira seção). São utilizados
dados fazendários extraídos das bases oficiais
da Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e
respostas técnicas das secretarias municipais
de Educação a um questionário estruturado.
O objetivo do conjunto de relatórios sobre o
impacto fiscal da pandemia na educação é
qualificar o debate na sociedade e subsidiar
o trabalho das autoridades públicas na cons-
trução de respostas ágeis, adequadas e exe-
quíveis para remediar um eventual colapso
financeiro das redes de educação. Somente
assim será possível minimizar o potencial au-
mento das desigualdades educacionais nas
redes de educação e garantir as condições de
aprendizagem dos(as) estudantes, durante
ou após a crise.
8
TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020
COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA
9
Evolução da receita dos municípios
durante a pandemia e queda
na disponibilidade fiscal para
investimento em educação
Queda na arrecadação
tributária e nas transferências
recebidas pelos municípios
A severa retração da economia em função
da pandemia de covid-19 tem levado, nos
últimos meses, à queda na arrecadação tri-
butária e, consequentemente, à redução da
disponibilidade fiscal para investimento em
educação. O comportamento da economia
brasileira no ano de 2020, simulado pelo
Banco Mundial, é de uma retração de 8% do
Produto Interno Bruto (PIB)12
. Em 6 de julho,
o Banco Central divulgou o novo relatório de
mercado Focus, que aponta as expectativas
do mercado para queda de 6,5% no PIB de
202013
. Por sua vez, o Fundo Monetário In-
ternacional (FMI) indica queda de 9% no PIB.
Com a economia em desaceleração, menos
transações são realizadas, menos bens e
serviços são produzidos e consumidos e há
piora na situação de emprego – formal e in-
formal. Consequentemente, menos tributos
são arrecadados. No Brasil recente, há gran-
de sensibilidade da arrecadação tributária em
relação ao PIB14
, principalmente quando a re-
tração se dá mais fortemente nas vendas do
varejo e na massa salarial.
12 Estudo publicado em 8 de junho de2020. Disponível
em: <https://www.worldbank.org/en/publication/global-
-economic-prospects>.
13 Disponível em: <https://www.bcb.gov.br/publicacoes/
focus>.
14 Elasticidade receita tributária-PIB entre 1,1 e 1,3 de
2004 a 2018, com elasticidade de curto prazo de 1,36
para a receita tributária corrente, como mostra a Nota
Técnica nº 19/2018, da Instituição Fiscal Independente
(IFI). Disponível em: <https://www2.senado.leg.br/bdsf/
bitstream/handle/id/545264/NT_Elasticidade.pdf>.
9
COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA
Concretamente, as informações das recei-
tas tributárias dos meses de abril, maio e
junho refletem o impacto da retração eco-
nômica na capacidade de arrecadação. Os
dados organizados pelo Comitê Nacional de
Secretários da Fazenda, Finanças, Receitas
ou Tributação dos Estados e Distrito Federal
(Comsefaz) mostram que o ICMS – principal
imposto que financia a educação – teve que-
da de 12,8% em abril e de 22,8% em maio,
no conjunto do país. Tais informações estão
disponíveis no Boletim de Arrecadação de Tri-
butos Estaduais, do Conselho Nacional de Po-
lítica Fazendária (Confaz).
A receita líquida federal teve queda de 30%
em abril15
e de 33% em maio16
. A Instituição
Fiscal Independente (IFI) atualizou suas pro-
jeções para a queda na arrecadação do gover-
no federal em 2020, de 15% no cenário base
e de 20% no cenário pessimista17
, indicando
que também haveria uma redução similar na
distribuição do FPM e do FPE. Isso pode não
ocorrer devido à MP nº 938/2020, que estabe-
leceu a recomposição de eventuais quedas na
distribuição dos dois fundos em um valor total
de R$ 16 bilhões. No entanto, a Confederação
Nacional dos Municípios (CNM) já manifestou
que a recomposição não será suficiente para
equilibrar a queda projetada para o ano. Além
15 Relatório de Acompanhamento Fiscal (RAF) de
maio/2020. Disponível em: <https://www2.senado.
leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/571954/RAF40_
MAIO2020.pdf>.
16 Dados da Secretaria da Receita Federal. Disponível em:
<https://receita.economia.gov.br/dados/receitadata/arre-
cadacao/relatorios-do-resultado-da-arrecadacao/arreca-
dacao-2020/maio2020/analisemensal-mai-2020.pdf>.
17 RAF de junho/2020. Disponível em: <https://www2.
senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/573177/RAF41_
JUN2020.pdf?sequence=4>.
TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020
1010
disso, é importante considerar que os recursos
da recomposição dessa MP não apresentam
subvinculação para MDE, como originalmente
o FPM e o FPE apresentam.
Na análise da CNM18
, a arrecadação de Im-
posto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI)
e Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU)
deve cair em média 25%. Outra informação di-
vulgada pela entidade é que a cesta de tribu-
tos do Fundeb deve ter queda de 10% e o re-
passe da cota municipal do Salário-Educação
pode cair cerca de 11% em 202019
. Já as proje-
ções da FNP, em sua Nota Técnica nº 14/2020
(de 7 de julho)20
, traz números relativamente
diferentes para os municípios de grande porte
(mais de 100 mil habitantes). Suas projeções
apontam para queda de 25,7% na arrecadação
anual do ISS, de 15,7% na do ICMS, de 8,6%
na de IPTU e FPM, de 8,4% na do Imposto
sobre Propriedades de Veículos Automotores
(IPVA) e de 8% na do ITBI.
A IFI projeta que o segundo trimestre será o
pior em termos econômicos, com sinalização
de que a considerável queda observada em
maio continua em junho e julho, gradualmente
voltando à normalidade da arrecadação tribu-
tária nos outros meses do ano21
. O estudo da
IFI apresenta uma matriz de diversos cenários
de queda da arrecadação subnacional, varian-
do de 15% a 40% para diferentes extensões de
tempo. Para efeito de cálculos de perdas de re-
cursos em cada estado, adota como suposição
uma queda de 30% na arrecadação estadual
em junho e em julho, de 20% em agosto e se-
tembro, de 10% em outubro e novembro e de
5% em dezembro, sempre em relação a igual
mês do ano anterior.
18 Disponível em: <https://www.cnm.org.br/comunica-
cao/noticias/nota-de-esclarecimento-do-movimento-
-municipalista-a-populacao-brasileira>.
19 Apresentação realizada pela consultora da CNM
Mariza Abreu em 30 de junho de 2020. Disponível em:
<http://www.fgv.br/mailing/2020/webinar/DPGE/Webi-
narFGVDPGE_Apresentacao_Mariza%20Abreu.pdf>.
20 Disponível em: <https://multimidia.fnp.org.br/biblio-
teca/documentos/item/812-notas-tecnicas-impacto-fi-
nanceiro-da-covid-19-nos-municipios>.
21 Nota Técnica nº 43, de 26 de junho de 2020. Disponí-
vel em: <https://www12.senado.leg.br/ifi/publicacoes-1/
pasta-notas-tecnicas/2020/junho/nota-tecnica-no-
-43-perda-de-receita-dos-estados-com-o-coronavirus-
-e-a-ajuda-da-uniao-jun-2020>.
22 O segundo Relatório Bimestral da Execução Orça-
mentária do Ministério da Educação está disponível em:
<https://bit.ly/3ebXEZW>.
Transferências discricionárias
do MEC aos estados e
municípios estão com baixa
execução em 2020
Relatório do Todos Pela Educação22
revelou que a execução de despesas
do MEC em 2020 está muito aquém
do esperado, principalmente as
despesas discricionárias para
a Educação Básica (sobretudo
as transferências a estados e
municípios). O Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação
(FNDE), órgão responsável por tais
transferências, teve inclusive uma
redução de 2,5% no seu orçamento
autorizado para 2020.
Até abril, foram utilizados 26%
do limite de pagamento de 2020
do FNDE e, desse total, 90%
dos pagamentos discricionários
correspondem a despesas de anos
anteriores, o que se chama de
Restos a Pagar (RAP). Na prática,
o órgão está deixando de executar
o orçamento aprovado na Lei
Orçamentária Anual (LOA) de 2020
para pagar RAP, uma vez que o gasto
com despesas de anos anteriores
consome o mesmo limite de
pagamento das despesas do exercício
atual. Concretamente, até o final do
segundo bimestre, somente R$ 109
milhões de despesas discricionárias
constantes na LOA 2020 haviam sido
executadas pelo FNDE.
Por fim, o estudo técnico da Consultoria de
Orçamento e Fiscalização Financeira da Câ-
mara dos Deputados (Conof/CD) que acom-
panha o PL nº 3165/2020 23
, do pacote de so-
corro anticolapso financeiro, projeta quedas
23 Disponível em: <https://www.camara.leg.br/proposi-
coesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1901728&file-
name=PL+3165/2020>.
COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA
11
anuais de 15% do ICMS, 10% do FPE e FPM,
5% dos demais impostos da cesta do Fundeb,
13% da complementação da União ao Fundeb
e 10% de IPTU, ISS e ITBI.
Essas quedas arrecadatórias serão parcialmen-
te compensadas pelo socorro fiscal de R$ 60
bilhões do governo federal determinado pela
Lei Complementar nº 173/2020, sancionada
em 27 de maio24
. Contudo, diferentemente das
receitas de impostos e transferências consti-
tucionais, os recursos do socorro fiscal não têm
vinculação de 25% para a educação. O socorro,
portanto, não significará necessariamente dis-
ponibilidade fiscal para manutenção e desen-
volvimento do ensino, muito embora seja lícito
esperar que parcela significativa dos recursos
aportados pela União seja dispendida por es-
tados e municípios no pagamento das folhas
salariais de seu funcionalismo, inclusive os pro-
fissionais da educação.
Cenários de queda da
arrecadação
De modo a identificar o impacto fiscal da que-
da de arrecadação na disponibilidade de re-
cursos para investimento em educação, pro-
jetamos três cenários hipotéticos de retração
tributária dos governos municipais em 2020.
O exercício busca estimar, com base nos dados
já consolidados de arrecadação e nas estima-
tivas exibidas na última subseção, diferentes
quadros que podem ser observados em 2020
no país. Não é objetivo deste estudo apontar
qual é o cenário mais provável ou fazer uma
projeção precisa dos cenários de arrecadação,
mas sim calcular qual é a possível lacuna no
financiamento municipal da educação caso al-
gum desses cenários se concretize.
Para efeito do cálculo deste estudo, optamos
por não desagregar os cenários diferenciando
a queda de arrecadação por tipo de tributo. O
que se busca é simular a variação do somató-
rio dos tributos municipais vinculados à edu-
cação. Isso posto, considerando os dados já
consolidados e as diversas previsões de queda
tributária identificadas, são definidos os se-
guintes cenários.
24 Do montante de R$ 60 bilhões, R$ 23 bilhões serão
entregues aos municípios e R$ 37 bilhões aos estados.
CENÁRIO A: retração de 10%, no ano,
da carga tributária municipal vinculada à
educação, do que deriva igual redução da
disponibilidade mínima fiscal para investi-
mento em MDE.
CENÁRIO B: retração de 15%, no ano,
da carga tributária municipal vinculada à
educação.
CENÁRIO C: retração de 20%, no ano,
da carga tributária municipal vinculada à
educação.
O diferencial entre os três cenários é menor do
que o apresentado no estudo anterior, referente
aos estados, que indicava cenários variando en-
tre -8% e -25%.As informações e estudos recen-
temente divulgados nos permitem posicionar de
forma mais acurada o intervalo de queda arre-
cadatória, especialmente sopesando a natureza
tributária da arrecadação municipal.
O cenário A se assemelha à queda da carga
tributária municipal estimada por meio das
reduções percentuais consideradas no estudo
técnico da Conof/CD que subsidiaram o PL nº
3165/2020. A consideração de tais números
significaria retração de 11% na carga tributá-
ria municipal.
Já o cenário B se aproxima das projeções da
Nota Técnica nº 14 da FNP, cujas estimati-
vas25
significariam uma queda de 14% na car-
ga tributária municipal. Esse cenário também
é semelhante aos cenários utilizados pela IFI,
que consideram queda de 30% no ICMS e no
ISS durante seis meses.
Por sua vez, o cenário C comporta perspec-
tivas mais pessimistas quanto aos rumos da
economia brasileira em 2020, incluindo a pro-
jeção da FNP de queda de 25% na arrecada-
ção do ISS, mas com comportamento seme-
lhante aplicado ao ICMS, além das quedas
superiores a 20% do FPM vinculado à educa-
ção em maio e junho, que podem prosseguir
nos próximos meses, segundo a CNM.
25 Considerou-se, no caso dos tributos municipais sem
projeção pela FNP, a alíquota de queda de tributos de
mesma natureza. O Salário-Educação, por exemplo, tende
a apresentar um comportamento semelhante ao do Im-
posto de Renda Retido na Fonte (IRRF), por ambos serem
recolhidos na folha salarial. O mesmo vale para o ICMS e
o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), muito
dependentes do movimento de compras na economia.
TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020
12
Metodologia de cálculo
Assim como no primeiro relatório de impacto
fiscal da pandemia na Educação Básica, recor-
remos à base de dados do Tesouro Nacional,
considerada a mais robusta para análise de
natureza tributária26
, que congrega os envios
do Relatório Resumido da Execução Orça-
mentária (RREO) dos municípios. Estabele-
cido pela Constituição Federal, esse relatório
é produzido bimestralmente, segundo as re-
gras de harmonização do Tesouro Nacional.
Utilizamos o demonstrativo de Receitas Cor-
rentes Líquidas (RCL), de modo a identificar a
arrecadação pormenorizada de cada tributo e
igualmente suas eventuais deduções.
Para 2019, ano de referência das simulações, há
abrangência de 5.258 dos municípios (94,4% do
total) na declaração do RREO do sexto bimes-
tre, no qual é possível identificar as informações
acumuladas para o período completo de 12
meses. Além disso, foi possível obter o dado de
outros 107 municípios por meio das declarações
do RREO do quinto bimestre, sendo considera-
das suas informações de 12 meses anteriores
(quinto bimestre de 2018 a quinto bimestre
26 Essa opção dialoga com as conclusões das reuniões
realizadas pelo Todos Pela Educação, em janeiro e feve-
reiro de 2020, com especialistas em finanças públicas,
técnicos do governo federal e de governos subnacionais
e consultores legislativos, a fim de consolidar uma base
de dados única sobre o financiamento da educação. Sai-
ba mais em: <https://www.todospelaeducacao.org.br/
conteudo/Especialistas-debatem-base-de-dados-unifi-
cada-para-qualificar-debate-sobre-o-Novo-Fundeb->.
A base do Sistema de Informações sobre Orçamentos
Públicos em Educação (Siope), mantida por autarquia do
MEC, foi descartada em função da fragilidade dos dados
e da incompletude das informações para o ano de 2019.
de 2019). A abrangência alcançada assim foi
de 5.365 municípios, mas foram excluídos da
amostra 6 municípios com valores negativos
de arrecadação em algum dos impostos. O ta-
manho final da amostra, portanto, é de 5.359
municípios (ou 96,2% do total27
).
Todas as informações utilizadas nos cálculos são
aquelas reportadas pelos governos municipais
no RREO. Ademais, foram incluídos os recursos
transferidos do Imposto sobre Operações Fi-
nanceiras (IOF)-Ouro pela União aos municípios,
extraídos de base própria do Tesouro Nacional28
.
Para aferir a confiabilidade dos dados cole-
tados, foram realizados testes de robustez
comparando seus valores totais a outras in-
formações publicamente disponíveis, como os
valores fechados de algumas transferências do
governo federal em 2019 (FPM, IPI e Imposto
territorial Rural-ITR) e cotas-partes de impos-
tos estaduais identificados no RREO utilizado
no primeiro relatório de impacto fiscal da pan-
demia na Educação Básica. Os resultados da
tabela abaixo mostram que a base trabalhada
possui alto índice de paridade, o que caracteri-
za alto grau de confiabilidade das informações.
27 A população estimada em 2018 nos municípios da
amostra representa 96,6% do total do país, segundo os
dados da MUNIC/IBGE.
28 Disponível em: <http://sisweb.tesouro.gov.br/apex/
f?p=2600:1>.
Tributo/transferência
Valor total na base do
RREO (A) – R$
Valor total na base
auxiliar (B) – R$
A/B
IMPOSTO TERRITORIAL RURAL (ITR) 1.273.043.899,37 1.409.053.113,18 90,3%
FUNDO DE PARTICIPAÇÃO DOS MUNICÍPIOS (FPM) 105.308.063.967,50 113.011.859.723,20 93,2%
IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS
(IPI)
1.170.859.546,28 1.334.838.791,38 87,7%
COTA-PARTE DO IMPOSTO SOBRE CIRCULAÇÃO DE
MERCADORIAS E SERVIÇOS (ICMS)
120.177.631.077,60 126.530.583.488,00 95,0%
COTA-PARTE DO IMPOSTO SOBRE PROPRIEDADES
DE VEÍCULOS AUTOMOTORES (IPVA)
22.245.688.079,58 23.696.592.570,00 93,9%
TABELA 1 – PARIDADE DE VALORES TRANSFERIDOS POR ESTADOS E UNIÃO AOS MUNICÍPIOS.
Fonte: elaboração própria a partir das informações do Tesouro Nacional.
COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA
13
Para cada município, calculou-se a disponibi-
lidade fiscal mínima de recursos para inves-
timento em manutenção e desenvolvimento
do ensino nas redes estaduais, seguindo as
orientações para preenchimento do anexo X
do RREO: determinou-se o montante de 25%
da soma líquida de impostos e transferências
vinculados à educação, somaram-se a esse
montante o resultado líquido do Fundeb e
também os recursos recebidos da cota-par-
te do Salário-Educação, cuja informação para
2019 foi extraída diretamente de base oficial
de distribuição disponibilizada pelo FNDE.
Optou-se por não adicionar as receitas das
transferências dos programas universais do
MEC, uma vez que não há indício de que essas
transferências sofrerão cortes ou acréscimos
de dotação neste ano. Ao todo, a disponibi-
lidade fiscal mínima de recursos para inves-
timento em manutenção e desenvolvimento
do ensino nas redes municipais em 2019 foi
de R$ 154,2 bilhões. Esse montante se des-
tina tanto à Educação Básica quanto à Supe-
rior, mas é importante explicitar que a atua-
ção constitucional prioritária dos governos
municipais é na Educação Infantil e no Ensino
Fundamental, além de que os governos mu-
nicipais financiam apenas 1,8% das despesas
com Ensino Superior no país29
.
29 Dado apresentado em relatório de José Roberto Afon-
so e Kleber Castro, em 2018, para o Comitê de Especialis-
tas do Fundeb, coordenado pelo Todos Pela Educação e
pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Resultados de impacto fiscal
no financiamento da educação
A partir da construção de cenários hipotéti-
cos, a simulação do impacto de retração dos
recursos municipais vinculados à educação
considerou a aplicação de taxas de variação
homogêneas entre os entes federativos e en-
tre os impostos. Com essa metodologia, tam-
bém são mantidos proporcionais os resultados
líquidos do Fundeb, considerando que receitas
e deduções caem à mesma taxa30
. Os resulta-
dos das simulações são dispostos a seguir.
•	 A estimativa do cenário A, com queda de
10% nos impostos e transferências, resul-
ta em disponibilidade fiscal total mínima
de R$ 138,8 bilhões. Ou seja, há uma re-
dução de R$ 15,4 bilhões no montante
vinculado a despesas educacionais nas
redes municipais.
•	 No cenário B, a queda de 15% nos impos-
tos e transferências gera disponibilidade
fiscal total mínima de R$ 131,1 bilhões,
uma redução de R$ 23,1 bilhões no mon-
tante vinculado à educação.
•	 Por fim, o cenário C considera uma que-
da de 20% nos impostos e transferências,
resultando em montante vinculado de R$
123,4 bilhões, ou seja, R$ 30,8 bilhões
menor que o atual.
30 Considerando a diferenciação de queda nos impos-
tos, uma retração maior do ICMS em relação ao FPM
tende a fazer com que as receitas municipais para o
Fundeb caiam mais que as deduções advindas desse
fundo. Isso levaria a uma relativa piora do resultado
líquido do Fundeb para os governos municipais.
Disponibilidade fiscal total
mínima (R$)
Perda em relação ao
cenário atual (R$)
Variação em relação
ao cenário atual
CENÁRIO ATUAL 154.205.799.932,93 - -
CENÁRIO A 138.785.219.939,63 15.420.579.993,29 -10%
CENÁRIO B 131.074.929.942,99 23.130.869.989,94 -15%
CENÁRIO C 123.364.639.946,34 30.841.159.986,59 -20%
TABELA 2 - SIMULAÇÃO DA DISPONIBILIDADE FISCAL TOTAL MÍNIMA NOS GOVERNOS MUNICIPAIS (2020)
Fonte: elaboração própria a partir das informações do Tesouro Nacional.
TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020
14
Os dados acima apontam para uma redução
entre R$ 15 bilhões e R$ 31 bilhões no mon-
tante de recursos vinculados a MDE nas redes
municipais de educação, a depender da gra-
vidade da retração arrecadatória derivada da
pandemia de covid-19. Tomando o conjunto de
23 milhões de estudantes em redes municipais
de Educação Básica, isso significaria uma re-
dução média do investimento anual por estu-
dante de R$ 670 no cenário A, de R$ 1.004 no
cenário B e de R$ 1.339 no cenário C.
Espelhando a situação discutida no último re-
latório sobre os estados, a magnitude desse
impacto, se concretizado, representaria um
colapso financeiro das redes municipais do
país, uma vez que boa parte de muitas despe-
sas educacionais são com folha salarial, de na-
tureza obrigatória, e as equipes educacionais
já estão arcando com despesas adicionais para
o enfrentamento da crise. A perda fiscal será
tão maior quanto menor for a ação de União,
estados e municípios para destinar recursos de
socorro emergencial para a educação, como
abordaremos na síntese propositiva.
COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA
15
COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃO
15
Despesas com educação
nos municípios para o
enfrentamento da crise
resultante da pandemia
A queda de receita que vem sendo observa-
da nos últimos meses e, provavelmente ainda
prosseguirá, não será necessariamente acom-
panhada de uma redução no total de gastos
educacionais. Em virtude da pandemia, as re-
des municipais de educação tiveram de orga-
nizar e implementar diversas medidas para se
adequar ao fechamento das escolas e à con-
sequente interrupção do ensino presencial.
Assim como nos estados, diversos municípios
estão organizando atividades pedagógicas não
presenciais, envidando esforços para garantir
a segurança alimentar de crianças e jovens,
estabelecendo ações de comunicação com
as famílias ou ainda buscando viabilizar for-
mação de professores(as) para enfrentar os
desafios da pandemia, como apontou o posi-
cionamento público da União dos Dirigentes
Municipais de Educação (Undime)31
. Essas ini-
ciativas demandam esforço fiscal ainda maior
dos municípios.
A pesquisa A educação não pode esperar32
,
divulgada pelo Instituto Rui Barbosa e pelo
Interdisciplinaridade e Evidências no Debate
Educacional (IEDE) em junho de 2020, le-
vantou dados de 232 redes municipais sobre
as práticas da gestão municipal na educação
31 Disponível em: <https://undime.org.br/noticia/
24-03-2020-13-26-posicionamento-publico-propos-
tas-para-enfrentar-os-efeitos-da-pandemia-do-covid-
-19-na-educacao->.
32 Disponível em: <www.portaliede.com.br/wp-content/
uploads/2020/06/Estudo_A_Educação_Não_Pode_Es-
perar.pdf>.
durante o período de pandemia. O retrato ob-
tido mostra que 82% das redes municipais en-
volvidas no estudo estão oferecendo aulas ou
conteúdos pedagógicos aos(às) estudantes
nesse período e 94% das redes estão distri-
buindo merenda às famílias (sobretudo distri-
buição direta de gêneros alimentícios).
Além disso, a pesquisa ressalta uma segun-
da onda de novos custos na Educação Básica
municipal, relativa às despesas para opera-
cionalizar com segurança o retorno às ativi-
dades letivas presenciais. Cerca de 84% das
redes participantes do estudo já estão se
preparando para a “volta às aulas” e 79% têm
previstas ações para evitar o abandono es-
colar no período de retorno presencial. Con-
siderando tanto as redes que já estão mo-
bilizando esforços para garantir condições
letivas adequadas quanto aquelas que ainda
não iniciaram esses preparativos, o retor-
no às aulas presenciais significará um custo
adicional que será difícil de ser arcado com o
cenário de queda arrecadatória.
Os gastos adicionais derivados das ações ne-
cessárias para enfrentar a pandemia se dão
em um contexto em que boa parte dos mu-
nicípios tem baixa flexibilidade orçamentária,
situação que acontecia mesmo antes da pan-
demia. As principais despesas dos municípios
estão comumente vinculadas à folha de pa-
gamento, encargos sociais e demais gastos
de custeio, que são pouco adaptáveis no cur-
to prazo. Para além do desafio da diminuição
de receitas em um contexto de rigidez orça-
TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020
1616
mentária, é imprescindível que as redes muni-
cipais adotem estratégias de enfrentamento
à pandemia na educação, especialmente com
foco nos(as) estudantes em situação de vul-
nerabilidade social.
Como já exposto, além das atividades que es-
tão em curso atualmente, podemos esperar
que, ao longo dos próximos meses - quando
as aulas presenciais gradualmente se resta-
belecerem - haverá necessidade de imple-
mentar uma série de protocolos sanitários
nas escolas. As redes terão que garantir um
distanciamento seguro nas salas de aula, re-
duzindo a quantidade de estudantes por tur-
ma, bem como promover a higienização dos
ambientes, adquirir materiais adicionais para
assepsia no ambiente escolar, disponibilizar
equipamentos de proteção individual (EPIs) e
máscaras e tomar uma série de outras medi-
das que acarretarão mais custos.
Tendo esse cenário em vista e buscando me-
lhor compreender o impacto nas finanças
dos municípios, este estudo se concentrou
em se aprofundar no que os entes munici-
pais estão executando no momento e qual é
o acréscimo de gastos que essas ações estão
gerando. Com o apoio da FNP, foi elabora-
do um questionário para envio a 400 mu-
nicípios representados pela instituição. Ao
final da coleta de dados, as respostas de 82
municípios foram consideradas válidas. Es-
ses respondentes estão distribuídos por 19
estados em todas as regiões do país, com
destaque para a Sudeste e a Sul, com 41 e
17 respostas, respectivamente. Do total de
respostas, 14 são de capitais. O conjunto dos
municípios que responderam ao formulário
contempla mais de 33 milhões de habitan-
tes33
. Ainda que os dados obtidos não repre-
sentem toda a heterogeneidade da realidade
municipal, na medida em que o Brasil possui
5.570 municípios, as informações permitem
compreender as dinâmicas sobretudo dos
municípios de grande porte, além de apre-
sentar tendências e magnitude de ações
que podem dialogar com a realidade de mu-
nicípios de outros perfis. É importante res-
saltar que essa coleta é um retrato do mo-
mento da pesquisa e o quadro de despesas
pode se alterar ao longo do ano.
33 Pesquisa de Informações Básicas Municipais-MUNIC,
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
Ações de enfrentamento da
crise nos municípios
O estudo coletou informações acerca das ini-
ciativas relacionadas a ensino remoto (o que
abrange atividades de ensino de forma não
presencial), comunicação com as famílias e
provimento de pacotes de dados de internet
para o acesso dos(as) estudantes a aulas e
plataformas virtuais. Além dessas ações, foi
identificado o esforço das redes para garantir
a segurança alimentar durante a suspensão
das aulas presenciais e outros processos exe-
cutados nesse período, como ações de forma-
ção de professores(as) para o ensino remoto,
aquisição de materiais extras (itens de higie-
ne, termômetros, máscaras etc.), compra de
bens e equipamentos duráveis (mobiliário es-
colar, cabines de desinfecção etc.) e elabora-
ção de guias ou materiais informativos sobre
o enfrentamento da pandemia.
ENSINO REMOTO
O questionário buscou entender se as redes
municipais de educação estavam promovendo
ou se pretendiam realizar atividades de ensi-
no remoto. Diferentemente do estudo de im-
pactos fiscais da covid-19 na Educação Básica
realizado com os estados34
, no qual todas as
redes estaduais informaram estar se valendo
de alguma estratégia para o ensino remoto, e
aproximadamente 95% delas exploraram mais
de cinco soluções, o levantamento com os mu-
nicípios evidenciou que parte considerável das
redes ainda não conseguiu promover qualquer
ação. Dos 82 municípios que responderam ao
questionário, 22% informaram que não estão
realizando atividades educacionais de forma
remota, nem conseguindo estabelecer comu-
nicação com as famílias de forma estruturada
ou patrocinando dados de internet.
O gráfico a seguir detalha a quantidade de re-
des que estão executando as ações questio-
nadas, assim como se há custos envolvidos.
Nas ações de “Atividade educacional de forma
remota” estão inclusas aulas através de plata-
forma on-line, disseminação de conteúdo por
TV ou rádio ou outra alternativa que as redes
considerem. Em “Comunicação com as famí-
lias” estão orientações em materiais impres-
34 Disponível em: <https://www.todospelaeducacao.
org.br/conteudo/educacao-na-pandemia-como-evitar-
-o-colapso-financeiro-das-redes-de-ensino>.
COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA
17
sos, envio de mensagens de texto, tutoria,
conversas on-line, ligações telefônicas etc. O
último bloco de atividades está relacionado ao
patrocínio de pacotes de dados pela Secretaria
de Educação para professores(as) ou estudan-
tes acompanharem alguma atividade virtual.
Essas ações são essenciais para garantir a
continuidade da aprendizagem dos(as) estu-
dantes durante o período de suspensão das
aulas presenciais, ainda que com alcance e
eficácia limitados pelo formato35
. Possivel-
mente em virtude de ser uma das iniciativas
com destacada importância ou com maior
constância no debate educacional, cerca de
76% das redes municipais de educação ques-
tionadas buscaram manter as atividades pe-
dagógicas não presenciais por algum canal.
Em razão da menor disponibilidade de recur-
sos técnicos e financeiros, é provável que as
ações das redes municipais acabem tendo
menor abrangência em comparação com as
iniciativas promovidas pelos estados. Em re-
lação aos dados de internet, por exemplo, as
redes estaduais possuem maior quantidade
de estudantes e, portanto, um maior poder
35 Conforme aprofundado em nota técnica publicada
pelo Todos Pela Educação. Disponível em: <https://www.
todospelaeducacao.org.br/_uploads/_posts/425.pd-
f?1730332266=&utm_source=conteudo-nota&utm_me-
dium=hiperlink-download>.
de barganha junto às empresas de telecomu-
nicação, o que facilita a negociação e reduz
o custo per capita de execução. Nesse caso,
negociações compartilhadas entre governo
federal, estados e municípios poderiam levar a
economias de escala dariam maior amplitude
às ações. Além disso, os procedimentos licita-
tórios relacionados a infraestrutura e serviços
tecnológicos podem ser complexos e represen-
tar um entrave para sua aquisição no nível local.
A comunicação com as famílias tem sido uma
dimensão que não é tão explorada pelas re-
des municipais, com apenas 67% das redes
tendo desenvolvido algum tipo de atividade
nesse sentido. É essencial apoiar as famílias
e se aproximar ainda mais delas neste mo-
mento, provendo um espaço de acolhimento
e auxiliando-as no suporte às atividades es-
colares dos(as) estudantes, e manter esse re-
lacionamento no futuro, para reduzir o risco
de abandono e evasão escolar36
.
Com base nos dados dos municípios que in-
formaram estar desenvolvendo o conjunto
de ações com algum tipo de gasto, foi pos-
sível estimar uma média por estudante de
cada uma das categorias. É fundamental
36 Para mais detalhes, acesse publicação do Todos
Pela Educação sobre o retorno às aulas no contexto da
covid-19. Disponível em: <https://www.todospelaeduca-
cao.org.br/_uploads/_posts/433.pdf?1194110764>.
Fonte: elaboração própria, com base no levantamento realizado com a FNP, com informações disponibilizadas por 82
secretarias municipais de Educação em junho de 2020.
26
36
45
27
6
17
59
20
10
SIM, COM CUSTOS SIM, MAS SEM
CUSTOS ADICIONAIS
SIGNIFICATIVOS
NÃO
Atividade
educacional de
forma remota
Comunicação
com as famílias
Dados de internet
para professores ou
estudantes
GRÁFICO 1 – AÇÕES DE ENSINO REMOTO DESENVOLVIDAS PELOS MUNICÍPIOS
TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020
18
ressaltar que esse dado é mais bem utilizado
como uma estimativa de ordem de grandeza
dos gastos. Pelo fato de a pesquisa possuir
uma amostragem relativamente pequena e
os custos variarem nas diversas regiões e se-
gundo os perfis de municípios, os dados não
servem para uma extrapolação de quanto os
municípios brasileiros estão gastando com
essas atividades.
Somadas as ações de atividades remotas, co-
municação com as famílias e provisão de in-
ternet, o custo adicional por estudante matri-
culado foi de R$770. Os gastos levantados com
essas ações foram significativamente maiores
do que os encontrados nas redes estaduais, o
que pode indicar potenciais ganhos ao se reali-
zar, em regime de colaboração, aquisições regio-
nalizadas e de maior escala. De modo geral, os
dados apresentados demonstram a pressão pelo
aumento dos gastos municipais em virtude de
atividades de resposta à pandemia da covid-19.
SEGURANÇA ALIMENTAR
A escola, além de espaço de ensino, aprendi-
zagem, ludicidade e interação social, é tam-
bém o local onde milhões de crianças e jovens
garantem a sua segurança alimentar, um di-
reito humano básico garantido pela Consti-
tuição Federal. Por essa razão, mesmo em um
cenário de suspensão das atividades presen-
ciais é imprescindível manter a distribuição de
alimentos aos(às) estudantes, especialmente
para as famílias mais vulneráveis.
Em diálogo com essa necessidade, 96% dos
municípios envolvidos no estudo respon-
deram que estão desenvolvendo alguma
ação relacionada à segurança alimentar
durante esse período. A ação que mais re-
des estão executando é a de distribuição de
cestas básicas ou alimentos que já haviam
previamente estocado nas escolas para a
produção de merenda. Muitos entes federa-
tivos permanecem com os contratos prévios
à pandemia ativos e precisaram criar canais
para distribuir os alimentos de forma segura
e higiênica, alcançando toda a comunidade
escolar, o que em muitos casos acarretou
mais gastos imprevistos.
AÇÃO
NÚMERO DE
MUNICÍPIOS
Percentual
Distribuição de cestas básicas ou alimentos previamente estocados 74 90%
Distribuição de cestas básicas e vouchers de alimentação 4 5%
Distribuição apenas de vouchers 1 1%
Não há ação 3 4%
Total 82 100%
TABELA 4 – AÇÕES DE SEGURANÇA ALIMENTAR DESENVOLVIDAS PELOS MUNICÍPIOS
Fonte: elaboração própria, com base em levantamento realizado com a FNP, com informações disponibilizadas por 82
secretarias municipais de Educação em junho de 2020.
AÇÃO Média de gasto por estudante (R$)
Atividade educacional de forma remota 457,38
Comunicação com as famílias 142,06
Dados de internet para professores(as) ou estudantes 171,55
TABELA 3 – ESTIMATIVA MÉDIA DE GASTO POR ESTUDANTE COM AÇÕES DE ENFRENTAMENTO DA CRISE
GERADA PELA PANDEMIA
Fonte: elaboração própria com base em levantamento realizado com a FNP, com informações disponibilizadas por 82
secretarias municipais de Educação em junho de 2020.
COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA
19
FINANCIAMENTO
GASTO MÉDIO ESTIMADO
PER CAPITA
Percentual
Recursos próprios R$26,81 37,2%
Recursos do PNAE R$45,17 62,8%
Total R$71,98 100%
TABELA 5 – DISTRIBUIÇÃO DE CESTAS BÁSICAS OU ALIMENTOS PREVIAMENTE ESTOCADOS
Fonte: elaboração própria, com base em levantamento realizado com a FNP, com informações disponibilizadas por 82
secretarias municipais de Educação em junho de 2020.
Para efeitos de comparação, todas as re-
des estaduais que responderam no estu-
do anterior estavam fornecendo alimentos
aos(às) seus(suas) estudantes e 55% delas
buscaram utilizar cartões-alimentação, seja
como ação única ou como complemento à
distribuição de cestas básicas. Já entre os
municípios apenas 6% estão distribuindo
os recursos de alimentação escolar em pe-
cúnia ou cartão magnético. É importante
reforçar que a atual legislação não permite
o uso dos recursos do PNAE para tal inicia-
tiva, ao que acaba por estimular as redes de
ensino a realizar a distribuição de gêneros
alimentícios, uma vez que teriam que uti-
lizar recursos próprios para fazê-lo em for-
mato alternativo. A sanção da MP 934/20
poderá significar mudança nesse cenário de
distribuição da merenda escolar.
Para executar essa política pública, 39 das 82
redes de educação (46%) utilizam dados do
Cadastro Único para selecionar e priorizar os
mais de 2,1 milhões beneficiários do total de
municípios. Em relação ao financiamento, 58
redes (71%) afirmaram que utilizam recursos
do PNAE. Além disso, 50 municípios (61%)
também utilizam recursos próprios para ga-
rantir a alimentação dos(as) estudantes du-
rante o período de suspensão das aulas pre-
senciais. O valor médio que os municípios
gastam na ação de alimentação durante a
pandemia é de aproximadamente R$ 72 por
beneficiário, sendo R$ 26,81 financiados com
recursos próprios e R$ 45,17 com recursos do
PNAE. Trata-se, portanto, de mais um serviço
essencial que as secretarias municipais têm
realizado nos últimos meses e que pressiona
o orçamento da educação municipal.
OUTRAS AÇÕES
A fim de cobrir todas as soluções que as redes
pretendem realizar ou já estão implementan-
do, foram levantados dados sobre ações de
formação de professores(as) para atividades
remotas, elaboração de guias ou materiais in-
formativos para o enfrentamento da pande-
mia, aquisição de materiais para higienização
e segurança da comunidade escolar, além de
sobre compra de bens e equipamentos durá-
veis, como mobiliário escolar, e outras iniciati-
vas que os municípios estejam desenvolvendo,
mas não foram previamente especificadas.
O gráfico na página seguinte permite identi-
ficar que várias redes estão adquirindo – com
despesas adicionais – materiais como EPIs,
álcool, termômetros, máscaras e outros. Ati-
vidades como formação de professores(as) e
elaboração de materiais e guias informativos
sobre o enfrentamento à pandemia estão
sendo realizadas por muitos municípios, po-
rém sem custos significativos.
Em relação aos custos, o estudo trouxe apenas
o gasto per capita com a aquisição de materiais
extras, por ser esta a única ação com uma amos-
tragem mais ampla de dados consistentes. Até
o início do mês de junho, data em que os da-
dos foram coletados, o gasto médio estimado
per capita era de R$28,41. Considerando que
os gastos devem aumentar conforme as aulas
presenciais gradualmente retornem, esse é tam-
bém um componente relevante na pressão pelo
aumento de gastos na área da educação.
Ao todo, na soma dos valores identificados na
pesquisa, a realização de atividades remotas, a
comunicação com as famílias, a provisão de in-
ternet e a aquisição de materiais extras resulta
em custo adicional de R$870 para cada estu-
dante matriculado.
TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020
20
RETORNO ÀS AULAS
A previsão do retorno às aulas acentua a
tendência de aumento de gastos, sobretudo
para as redes que não conseguirem se pla-
nejar de forma adequada para esse momen-
to. Como a tabela a seguir detalha, 55% das
redes ainda não começaram a elaborar seus
planos ou estão em uma fase inicial. Apenas
15% já iniciaram ações concretas pensando
no momento de reabertura das escolas.
O cenário demonstrado é preocupante, visto
que poucas redes possuem planos para a re-
tomada das aulas, e mais uma vez aponta para
uma tendência de crescimento nos gastos,
uma vez que será essencial cumprir os proto-
colos de distanciamento, higienização e se-
gurança sanitária da comunidade escolar. Há
grandes chances de que, se os municípios não
receberem orientações, apoio técnico e finan-
ceiro para esse retorno, não tenham condições
de cumprir suas obrigações e comprometerão
a qualidade e o acesso à educação.
Fonte: elaboração própria, com base em levantamento realizado com a FNP, com informações disponibilizadas por 82
secretarias municipais de Educação em junho de 2020
HÁ ALGUM PLANEJAMENTO
DE RETORNO ÀS AULAS
PRESENCIAIS?
Percentual
de municípios
Ainda não começamos a pensar
nisso.
10%
O plano está em fase inicial de
construção.
45%
Temos um plano construído ou
próximo de ser finalizado.
28%
Foram iniciadas ações
concretas nesse sentido.
15%
Aguardando as orientações do
governo do estado.
2%
TABELA 6 – PLANEJAMENTO DAS REDES PARA O
RETORNO ÀS AULAS PRESENCIAIS
Fonte: elaboração própria, com base em levantamento rea-
lizado com a FNP, com informações disponibilizadas por 82
secretarias municipais de Educação em junho de 2020.
8
47
27
7
41
34
42
16
24
8
14
60
6
12
64
SIM, COM CUSTOS SIM, MAS SEM
CUSTOS ADICIONAIS
SIGNIFICATIVOS
NÃO
Formação de
professor para
ensino remoto
Materiais
informativos sobre o
enfrentamento à
pandemia
Aquisição de
materiais extras
Bens e
equipamentos
duráveis
Outras
despesas
GRÁFICO 2 – OUTRAS AÇÕES DESENVOLVIDAS PELOS MUNICÍPIOS
COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA
21
Baixa flexibilidade
orçamentária em um cenário
de redução de receitas
Os custos adicionais levantados anterior-
mente, combinados com uma maior deman-
da por vagas na rede pública no próximo ano
letivo37
, causada pela redução da renda das
famílias, são fatores que irão tensionar os
gastos dos municípios na Educação Básica.
O último elemento que faz com que sejam
urgentes o apoio técnico e o auxílio financei-
ro aos municípios é que, no início de 2020,
estes já possuíam pouca flexibilidade de gas-
tos na educação.
De acordo com a Federação das Indústrias do
Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e seu índi-
ce de Gestão Fiscal (IFGF 2019)38
, de 5.537
municípios analisados, quase 35% das pre-
feituras não geram receita suficiente para a
manutenção de sua estrutura administrativa
e aproximadamente 50% estão em situação
crítica, tendo mais de 54% da receita corrente
líquida comprometida com gasto com pessoal
(limite estabelecido pela Lei de Responsabili-
dade Fiscal). Adicionalmente, 47% das cida-
des brasileiras alocam em média apenas 3%
de sua receita para investimentos, grupo de
despesa que pode ser mais facilmente mane-
jado no orçamento para cobrir os gastos ex-
traordinários do período de pandemia.
No levantamento com os 54 municípios que
preencheram a seção sobre o orçamento pré
e pós-pandemia de forma completa, após a
realização de tratamentos de consistênciade
dados, o cenário constatado pela Firjan se
mostrou ainda mais rígido na área da edu-
cação, especialmente no que diz respeito às
despesas com pessoal e custeio. Nesse sen-
tido, é importante recordar que o reajuste do
piso do magistério em 2020 foi de 12,8%, se-
gundo critérios previstos em lei39
, o que ele-
37 Como já constatado na rede de São Paulo e nas redes
privadas. Informações disponíveis em: <https://www.
cnnbrasil.com.br/business/2020/06/05/transferencia-
-de-alunos-para-as-escolas-publicas-cresce-mais-de-
-10-vezes-em-sp>; <https://www1.folha.uol.com.br/
educacao/2020/07/maioria-das-escolas-particulares-
-perdeu-mais-de-10-dos-alunos-diz-pesquisa.shtml>.
38 Disponível em: <https://www.firjan.com.br/data/
files/8F/50/19/81/B2E1E610B71B21E6A8A809C2/IFGF-
2019_estudo-completo.pdf>.
39 Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/
ultimas-noticias/12-acoes-programas-e-proje-
NATUREZA
DA DESPESA
PERCENTUAL
MÉDIO NO
ORÇAMENTO
PRÉ-
PANDEMIA
PERCENTUAL
MÉDIO NO
ORÇAMENTO
PÓS-
PANDEMIA
Pessoal 67% 68,7%
Custeio 25,6% 24,3%
Investimento 7,4% 7,0%
Fonte: elaboração própria, com base em levantamento rea-
lizado com a FNP, com informações disponibilizadas por 82
secretarias municipais de Educação em junho de 2020.
TABELA 7 – ORÇAMENTO DA ÁREA DA EDUCAÇÃO
POR PERCENTUAL DE NATUREZA DA DESPESA
vou os gastos com pessoal. A tabela a seguir
mostra a média percentual das despesas com
pessoal, custeio e investimento no orçamento
da educação.
A dinâmica municipal pré-pandemia, com
elevados gastos na categoria de pessoal e en-
cargos sociais, é semelhante para as redes es-
taduais, conforme estudo realizado pelo Con-
selho Nacional dos Secretários Estaduais de
Educação (Consed) e pelo Instituto Unibanco
em 2018. A média estadual das despesas com
pessoal e encargos sociais foi de 73%40
.
A despesa com pessoal desperta atenção por
sua elevada participação no cômputo total do
orçamento já antes da pandemia e apresenta
uma tendência a crescer no período pós-pan-
demia. Somando esses gastos às despesas
de custeio, que dificilmente serão reduzidas,
dado que a maioria dos entes possui contra-
tos firmados antes da pandemia e as secreta-
rias não podem deixar de receber os serviços
prestados, 93% dos valores informados já es-
tariam comprometidos.
Pode-se ainda perceber, a partir dos dados re-
cebidos, que, até junho, os municípios tinham
previsto na média uma redução de 8% no or-
çamento para educação. Isso era esperado,
dado que a área da saúde demandou muito
mais recursos durante o primeiro semestre de
2020. Tendo em vista a ordem de grandeza
dos gastos adicionais per capita revelada por
esse estudo, é fundamental que, no mínimo,
tos-637152388/84481-mec-divulga-reajuste-do-piso-sal-
arial-de-professores-da-educacao-basica-para-2020>.
40 Ursula Peres, Bruna Mattos, Isabela Menon, Rogerio
Limonti e Marcel Felices. Disponível em: <http://www.
consed.org.br/media/download/5c1a2ea79d702.pdf>.
TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020
22
haja um movimento de reposição de recursos
para a educação.
Tal desequilíbrio orçamentário prejudicial à
educação tende a agravar a lacuna entre os
recursos necessários e os existentes, evidente
à luz do impacto fiscal e do imperativo de no-
vas despesas decorrentes da pandemia. A su-
peração dos desafios atualmente impostos à
gestão educacional, contudo, poderão esbar-
rar em um crônico problema de baixa disponi-
bilidade de recursos financeiros41
e de falta de
quadros técnicos qualificados na gestão das
redes municipais de educação42
. A despeito
do esforço dos(as) gestores(as) municipais
no sentido de realizar uma gestão eficaz e
eficiente, muitas vezes a tentativa é limitada
pela disponibilidade de pessoal com o perfil
adequado para as muitas responsabilidades
do nível municipal no provimento de serviços.
É por isso que o regime de colaboração entre
União, estados e municípios, que é vital para a
manutenção dos processos de ensino-apren-
dizagem, requer ao mesmo tendo auxílios fi-
nanceiros e apoios técnicos.
41 Índice Firjan de Gestão Fiscal 2019. Disponível em:
<https://www.firjan.com.br/data/files/8F/50/19/81/
B2E1E610B71B21E6A8A809C2/IFGF-2019_estudo-
-completo.pdf>.
42 SEGATTO, C. I.. O papel dos governos estaduais
nas políticas municipais de Educação: uma análise dos
modelos de cooperação intergovernamental. 2015. Tese
de Doutorado. Disponível em: <https://bibliotecadigital.
fgv.br/dspace/handle/10438/13542>.
22
TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020
COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA
23
A pandemia da covid-19 tem impactado o
funcionamento das escolas e a vida das co-
munidades escolares em todo o mundo. Com
estabelecimentos de ensino fechados, ou
seguindo rígidos protocolos de distancia-
mento, os sistemas educacionais vivem uma
nova realidade de cuidados sanitários, estra-
tégias de ensino remoto e relação entre edu-
cadores, educandos e suas famílias.
O futuro da educação, no curto e no longo
prazo, é objeto de amplas discussões na so-
ciedade brasileira, com poucas certezas e
muitas dúvidas e angústias. O certo é que as
equipes escolares e os governos estaduais e
municipais terão pela frente – como já vêm
tendo nos últimos meses – grandes respon-
sabilidades para garantir o desenvolvimen-
to integral de milhões de crianças e jovens
impactados pelo cotidiano de isolamento
social. Essas novas incumbências e ações de-
mandam recursos financeiros para sua exe-
cução, o que colide com o cenário atual do
orçamento público.
A crise econômica decorrente da pandemia
tem afetado substancialmente o nível de
arrecadação tributária dos governos locais,
como foi revelado no primeiro relatório de
impacto fiscal da pandemia na Educação Bá-
sica, focado nas redes estaduais. O estudo
mostrou a necessidade de, no pior cenário,
R$30 bilhões para compensar a queda de ar-
recadação estadual e o montante de novas
despesas com a situação de pandemia.
Como 72% do financiamento da educação
brasileira é composto por impostos vincu-
lados à área, a queda de receitas tributá-
rias leva consequentemente a uma redução
drástica na disponibilidade fiscal para o in-
vestimento na Educação Básica. As proje-
ções levantadas nessa pesquisa mostram
que os tributos municipais e estaduais estão
23
em queda desde abril, sem que haja sinais de
melhora nas condições de saúde da popula-
ção que possibilitem vislumbrar uma reto-
mada segura e sustentável da economia nos
próximos meses.
Levando em conta essa análise, as simu-
lações deste estudo consideram que as re-
des municipais podem ter queda de 10% a
20%, a depender do cenário, no montante
destinado a despesas educacionais – o que
significa um potencial de redução de R$ 31
bilhões, considerando uma amostra de 96%
dos municípios brasileiros. Isso significa que
a redução no investimento por estudante
nas redes municipais pode ser, em média,
de R$ 670 a R$ 1.339.
Por outro lado, o levantamento de despesas
de 82 redes municipais majoritariamente de
grande porte mostra que há um conjunto de
gastos adicionais de R$870 por estudante
durante os primeiros meses de pandemia e
suspensão das aulas presenciais (até junho).
Esse é o valor médio por estudante resultan-
te da soma de despesas com ensino remoto,
garantia de alimentação a crianças e jovens,
comunicação com as famílias, patrocínio de
pacotes de dados de internet e compra de
materiais de higiene.
A soma dos dois movimentos mostra uma
expressiva carência de recursos nas redes
municipais, assim como foi observado com
as redes estaduais no estudo anterior. Esse
subfinanciamento comprimirá as despesas
educacionais de custeio e investimento,
tão fundamentais para garantir uma saí-
da sustentável da crise, com possibilidade
de afetar também a execução de despesas
obrigatórias, como o pagamento de salá-
rios. O risco, portanto, é de significativa
desorganização das redes de educação em
todo o país.
COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA
Síntese propositiva
TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020
2424
O cenário torna-se ainda mais desfavorável
quando se considera que o retorno às au-
las presenciais implicará outras despesas
adicionais, como compra de equipamentos
de segurança sanitária, reforma ou cons-
trução de banheiros adequados, adicional
de folha salarial para garantir aulas de re-
forço e a possível abertura das escolas aos
finais de semana. Nesse sentido, 15% dos
municípios consultados já estão com ações
preparatórias para o retorno, enquanto 55%
da amostra ainda estão em fase inicial de
planejamento ou sequer iniciaram reflexões
nesse sentido. Essa maioria de redes pode
ter ônus financeiros ampliados caso os pro-
cessos de readequação sejam realizados de
maneira abrupta.
A queda de receitas e a pressão por novas
despesas tornam nítido que os(as) gesto-
res(as) devem buscar usar os recursos de
forma ainda mais eficiente e efetiva durante
o período de enfrentamento da pandemia.
Ao mesmo tempo que as respostas devem
ser rápidas e assertivas, é importante refor-
çar a necessidade de que todas as decisões
sejam sempre informadas por evidências.
Uma boa gestão orçamentária, nesse senti-
do, pode ser chave para apoiar as secretarias
de Educação nesse momento tão delicado, e
a troca de boas práticas é fundamental.
Com todos os desafios levantados por este
estudo, há uma iminente necessidade de
orientação e ajuda técnica aos municípios
para estruturarem as complexas ações lis-
tadas anteriormente e enfrentarem os enor-
mes desafios do pós-pandemia. É crucial
que governo federal, governos estaduais
e governos municipais atuem, conforme o
art. 211 da Constituição Federal, em regime
de colaboração, especialmente consideran-
do o momento complexo que o país passa.
Esse trabalho conjunto de cooperação nacio-
nal requer instâncias de diálogo e pactuação
como os que vêm sendo debatidos no âmbi-
to do PLV da MP nº 934/2020, que foi apro-
vado na Câmara dos Deputados e no Senado
Federal, aguardando sanção presidencial.
Esse PLV traz como possível componente a
permissão de estratégias para a distribui-
ção às famílias (por meio de cartões magné-
ticos) dos recursos para a aquisição direta
de alimentos para os(as) estudantes, o que
minimiza os riscos sanitários da distribuição
de kits de alimentos. A alteração da Lei nº
11.947/2009, permitindo que recursos do
PNAE pudessem ser usados com esse fim43
,
seria vantajosa para estimular a adoção
coordenada dessa estratégia de segurança
alimentar.
Paralelamente à qualidade da gestão dos re-
cursos, há um esforço fiscal que o Brasil preci-
sará fazer para salvaguardar o orçamento das
redes de educação durante a pandemia, de
modo a impedir graves desorganizações que
seriam obstáculos ao desenvolvimento so-
cioeconômico do país durante e após a crise.
Isso requererá ações legislativas e executivas
para evitar o possível colapso financeiro das
redes. Algumas delas já vem sendo considera-
das nos debates da Frente Parlamentar Mista
de Educação, que vem tendo protagonismo
na articulação de uma agenda legislativa da
educação. Em diálogo com esse processo,
concluímos este relatório com algumas das
estratégias que o Brasil deve considerar como
resposta ao impacto fiscal da pandemia no fi-
nanciamento da educação.
43 É fundamental expressar a importação da preserva-
ção das demais obrigações relativas ao PNAE, como o
percentual mínimo de recursos para aquisição de produ-
tos de agricultura familiar.
TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020
COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA
25
COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA
25
Empreender esforços de racionalização de gastos nas secretarias, bus-
cando otimizar todos os recursos existentes e economizar se e onde for
possível. O regime de colaboração, entre os municípios ou entre estados
e municípios, pode ser um dos caminhos para a coordenação conjunta
de ações e otimização dos gastos. Essa discussão se faz especialmen-
te necessária no bojo da aprovação e implementação do PLV da MP nº
934/2020, que exigirá articulação entre os diferentes níveis de governo
para o enfrentamento da pandemia e retomada das aulas presenciais.
Aprovar medidas legislativas e reforçar ações do governo federal
para garantir acesso gratuito à internet com fins educacionais, como
medida emergencial que permita aos(às) estudantes mais vulneráveis
ter condições de acompanhar as atividades letivas durante a pande-
mia, bem como poder usufruir de estratégias remotas de reforço de
aprendizagem no período de retomada controlada das aulas presen-
ciais. Três iniciativas legislativas foram apresentadas para equacionar
o desafio da conectividade e requerem urgência de apreciação e vo-
tação: o Projeto de Lei da Câmara (PLC) nº 142/2018, que visa instituir
legalmente o programa federal Educação Conectada, com diretrizes de
equidade na implementação44
; o PL nº 3462/2020, que cria um auxílio-
-conexão para custear planos de acesso à internet para as famílias de
estudantes de baixa renda, durante a pandemia, com custo estimado
de R$ 3 bilhões a R$ 6 bilhões45
; e o PL nº 3477/202046
, que estipula
que a União assegurará recursos (estimados em R$ 26,6 bilhões) para
prover o acesso gratuito à internet aos(às) estudantes e professo-
res(as) da Educação Básica Pública, por meio do Fundo de Universali-
zação dos Serviços de Telecomunicações (Fust).
Suplementar o orçamento do PDDE e do PNAE, à luz dos gastos
adicionais que as redes de educação estão tendo com as ações
para proteção dos(as) estudantes no retorno às aulas presenciais e
provisão extraordinária de alimentos. Os relatórios de impacto fiscal
da pandemia na educação revelaram gastos adicionais com alimen-
tação escolar por estudante entre R$ 52 e R$ 73, intervalo que pode
servir como referência para a suplementação do PNAE47
, a ser feita
diretamente pelo governo federal. Já as despesas das redes munici-
pais apenas com aquisição de materiais de segurança sanitária têm
valores médios de R$ 28 por estudante e poderiam ser compensadas
via suplementação do PDDE. Adicionalmente, as escolas precisarão
promover outras ações para assegurar o cumprimento dos protoco-
los sanitários na escola que certamente acarretarão custos adicio-
nais. Essa proposta está alinhada ao PL nº 3551/2020, que defende
suplementação do PDDE em R$ 2 bilhões para ações relacionadas à
estratégia para retorno às aulas48
. Além disso, é fundamental preser-
44 O projeto já foi aprovado na Câmara dos Deputados e está em tramitação no Sena-
do Federal. Disponível em: <https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/
materia/134967>.
45 Disponível em: <https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?d-
m=8124108&ts=1594026593763&disposition=inline>.
46 Disponível em: <https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarinte-
gra?codteor=1907060&filename=PL+3477/2020>.
47 Limite máximo do intervalo significa R$ 0,36 por estudante por dia letivo.
48 O governo federal precisará, adicionalmente, oferecer apoio técnico às redes de
educação e suas escolas para garantir a boa execução dos recursos distribuídos via
PDDE.
1.
2.
3.
TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020
2626
TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020
var os orçamentos do Programa Nacional de Apoio ao Transporte
Escolar (PNATE), que deverá ter custos adicionais na retomada das
aulas presenciais para cumprir as medidas de distanciamento social, e
do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), fundamental para
a qualidade do ensino no retorno presencial às escolas.
Aprovar socorro emergencial da União direcionado à educação de
estados e municípios, antes do final do exercício de 2020, visando
evitar o cenário de possível colapso educacional. Essa proposta de
recomposição das perdas dos tributos vinculados à educação está
em convergência com o PL nº 3165/2020, apresentado em junho na
Câmara dos Deputados por um grupo amplo de parlamentares. O
conteúdo do PL, em particular o montante de R$ 31 bilhões inicial-
mente proposto e a regra de distribuição de matrículas, pode ser
discutido à luz dos dados trazidos neste estudo e no relatório anterior
dedicado ao panorama das redes estaduais. Nesse sentido, é funda-
mental identificar se os estados e municípios têm destinado à educa-
ção a parcela dos recursos transferidos pela União em função da Lei
Complementar nº 173/2020.
Aprovar com urgência a renovação e o aprimoramento do Fundeb
(PEC nº 015/2015), de forma a impedir um grave subfinanciamento
adicional a uma grande parte das redes de educação. No país, 62%
dos municípios passariam a estar em situação de subfinanciamento crí-
tico com o fim do Fundeb, e cerca de mil municípios teriam perdas su-
periores a 50% do seu orçamento educacional de um ano para o outro.
A aprovação do novo Fundeb, portanto, é fundamental para dotar as
redes de educação de previsibilidade orçamentária para 2021 e balizar
as estratégias de recuperação da crise gerada pela pandemia.
4.
5.
COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA
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TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020
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COVID-19: Impacto fiscal de até R$31 bi ameaça educação básica

  • 1. COVID-19 IMPACTO FISCAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA SEGUNDO RELATÓRIO O cenário de receitas e despesas nas redes municipais em 2020
  • 2. 2 SUMÁRIO EXECUTIVO INTRODUÇÃO A EVOLUÇÃO DA RECEITA DOS MUNICÍPIOS DURANTE A PANDEMIA E QUEDA NA DISPONIBILIDADE FISCAL PARA INVESTIMENTO EM EDUCAÇÃO Queda na arrecadação tributária e nas transferências recebidas pelos municípios Cenários de queda da arrecadação Metodologia de cálculo Resultados de impacto fiscal no financiamento da educação DESPESAS COM EDUCAÇÃO NOS MUNICÍPIOS PARA O ENFRENTAMENTO DA CRISE RESULTANTE DA PANDEMIA Ações de enfrentamento da crise nos municípios Baixa flexibilidade orçamentária em um cenário de redução de receitas SÍNTESE PROPOSITIVA 03 05 09 09 11 12 13 15 16 21 23 REDAÇÃO: Todos Pela Educação: Lucas Fernandes Hoogerbrugge - Gerente de Estratégia Política Caio de Oliveira Callegari - Coordenador de Produção Técnica Gustavo Ho Cheng Wei - Coordenador de Relações Federativas APOIO TÉCNICO: Todos Pela Educação: Gabriel Barreto Corrêa - Gerente de Políticas Educacionais Felipe Poyares - Coordenador de Relações Governamentais Instituto Unibanco: Rita Jobim – Coordenadora de Políticas do Ensino Médio Marina Liberman – Analista de Pesquisa de Políticas do Ensino Médio COORDENAÇÃO EDITORIAL E DIAGRAMAÇÃO: Todos Pela Educação: Bárbara Benatti - Gerente de Comunicação Instituto Unibanco: José Jacinto Amaral - Coordenador de Comunicação Fabiana Hiromi Shinkawa - Analista Comunicação Fernanda Aoki - Analista de Comunicação FICHA TÉCNICA Todos Pela Educação: Priscila Cruz - Presidente-Executiva João Marcelo Borges - Diretor de Estratégia Política Olavo Nogueira Filho - Diretor de Políticas Educacionais, Comunicação e Mobilização Instituto Unibanco: Ricardo Henriques – Superintendente Executivo Mirela de Carvalho – Gerente de Gestão do Conhecimento
  • 3. COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA 3 COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA 3 O estudo Covid-19 - Impacto Fiscal na Educa- ção Básica, elaborado pelo Instituto Uniban- co e pelo movimento Todos Pela Educação, tem o objetivo de lançar luz às dificuldades financeiras que as redes de educação en- frentarão em 2020 para a manutenção dos processos de ensino-aprendizagem. Este é o segundo relatório do estudo, focado na reali- dade das redes municipais de educação. A pandemia do novo coronavírus levou todas as escolas a paralisar suas aulas presenciais, o que exigiu novos gastos com a reorganização das ações pedagógicas e de cuidado com crianças e jovens, ao mesmo tempo que o cenário eco- nômico alterou as condições de vida das famí- lias e as possibilidades de financiamento dos governos. No primeiro relatório, tratamos das perspectivas fiscais dos estados. Agora, iden- tificamos a queda de arrecadação tributária dos municípios, com a consequente redução da disponibilidade fiscal para investimento em educação, e o conjunto de despesas adicionais nesse setor para o enfrentamento da crise mul- tidimensional (sanitária, econômica, social) e a adequação a novos protocolos sanitários. O estudo utiliza a base de dados do Tesouro Nacional e informações consolidadas das re- ceitas tributárias de março a junho, além de estimativas de especialistas, para realizar uma projeção dos tributos vinculados a manuten- ção e desenvolvimento do ensino (MDE) em 2020. Segundo os cálculos aqui apresenta- dos, o conjunto das redes municipais devem perder entre R$ 15 bilhões e R$ 31 bilhões em tributos vinculados a MDE, a depender do ce- nário de crise econômica. Paralelamente, um levantamento com 82 redes municipais de educação (majoritariamente de grande porte) identificou que há um conjunto de gastos adicionais neste ano de R$ 870 por estudante matriculado. Esse é o valor médio per capita resultante da soma de estimativas de despesas com ensino remoto, garantia de alimentação dos(as) estudantes, comunicação com as famílias, patrocínio de pacotes de dados de internet e compra de materiais de higiene. Não é possível extrapolar tais resultados para o restante dos municípios brasileiros em face da heterogeneidade federativa do país, mas o valor serve como indicativo da magnitude das despesas adicionais que as redes educacionais estão realizando para enfrentar a pandemia. O cenário torna-se ainda mais desfavorável quando se considera que o retorno às aulas presenciais implicará outras despesas adicio- nais. Nesse sentido, 55% da amostra ainda estão em fase inicial de planejamento ou se- quer iniciaram reflexões nesse sentido. Essa maioria de redes pode ter ônus financeiros ampliados caso os processos de readequação sejam realizados de maneira abrupta. A perspectiva fiscal é de expressiva carência de recursos nas redes municipais, assim como foi observado com as redes estaduais no estudo anterior. Esse subfinanciamento comprimirá despesas educacionais de custeio e investi- mento, tão fundamentais para garantir uma saída sustentável da crise, com possibilidade de afetar também a execução de despesas obrigatórias, como o pagamento de salários. O risco, portanto, é de significativa desorganiza- ção das redes de educação em todo o país. Para evitar o possível colapso financeiro e educacional nas redes públicas, o Brasil pre- cisará de ações legislativas e executivas que contemplem: Sumário executivo
  • 4. TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020 44 melhoria da qualidade do gasto nas secretarias de Educação, com base em orientação e apoio técnico aos municípios, fortalecendo o regime de colaboração para a superação da crise; aprovação de medidas legislativas e reforço das ações do governo federal para garantir acesso gratuito à internet para fins educacionais; suplementação do orçamento do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), além de preservação dos demais programas do Ministério da Educação; aprovação de socorro emergencial da União direcionado à educação de estados e municípios (como preconizado pelo Projeto de Lei nº 3165/2020); renovação e aprimoramento do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), evitando que grande parte das redes do país seja subfinanciada e não tenha os recursos necessários para ofertar uma educação de qualidade. TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020 1. 2. 3. 4. 5.
  • 5. COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA 5 Introdução Os primeiros quatro meses da pandemia de covid-19 no Brasil configuram um momen- to inédito na educação do país: desde março de 2020, todas as escolas estão com as aulas presenciais suspensas, exigindo que as redes de educação estruturem estratégias para evitar o aprofundamento das desigualdades educacionais entre estudantes de famílias mais e menos vulneráveis e a ampliação das taxas de abandono e evasão escolar1 . Esse novo contexto educacional, marcado por es- forços de adaptação de gestores(as), profis- sionais da educação, estudantes e seus(suas) cuidadores(as), ainda que muito desafiador, também pode deixar legados positivos: a ela- boração de metodologias de ensino remoto e ensino híbrido, a criação de canais de comu- nicação que aproximem a escola e a família, a implementação de cuidados sanitários mais robustos, o desenvolvimento de mecanismos para fortalecimento da inclusão digital e a promoção de ações equitativas de apoio aos mais vulneráveis. É fundamental considerar que esse conjunto de desdobramentos positivos só acontecerá de fato se existirem recursos técnicos e finan- ceiros. A reorganização das ações pedagógi- cas e de cuidado com crianças e jovens têm um ônus financeiro expressivo para as redes de educação. Ao mesmo tempo, o cenário econômico alterou as condições de vida das famílias e as possibilidades de financiamento dos governos. Em outras palavras, o perío- do de pandemia tem impacto fiscal duplo na Educação Básica: por um lado, aumenta os custos, com as despesas imediatas de reor- 1 O Todos Pela Educação publicou uma nota técnica sobre os desafios do retorno às aulas presenciais no con- texto da pandemia de covid-19. Disponível em: <https:// www.todospelaeducacao.org.br/_uploads/_posts/433. pdf?1194110764>. 5 ganização; por outro, diminui a disponibilida- de fiscal para investimento na área. Tal cenário foi o mote para o primeiro relatório do estudo Covid-19: impacto fiscal na Educa- ção Básica, produzido pelo Todos Pela Edu- cação e pelo Instituto Unibanco e divulgado em maio de 2020. O estudo organizou dados da Secretaria do Tesouro Nacional, projeções tributárias e informações das secretarias esta- duais de Educação de março a abril, revelando os pontos a seguir. • As redes estaduais de educação devem perder até R$ 28 bilhões em tributos vin- culados a manutenção e desenvolvimento do ensino (MDE), a depender do cenário de crise econômica. O cenário A, mais oti- mista, considera queda de 8% nos tribu- tos estaduais em 2020, o que resulta em redução na disponibilidade de R$ 9 bi- lhões. Já o cenário B toma como base as projeções da Frente Nacional de Prefei- tos (FNP), que indicam queda da ordem de 15%, com diminuição de R$ 17 bilhões. Por fim, o cenário C, mais pessimista, esti- ma uma queda de 25% na carga tributária estadual, o que significa uma perda de R$ 28 bilhões no montante de tributos vincu- lados a MDE em relação a 2019. • Tomando o conjunto de 15,3 milhões de estudantes em redes estaduais de Educa- ção Básica, isso significaria uma redução média no investimento anual por estu- dante de R$ 579 no cenário A, R$ 1.086 no cenário B e R$ 1.809 no cenário C. • Entre março e abril, 95% das unidades da Federação adotaram de 5 a 15 soluções para o enfrentamento das consequên- cias da pandemia, gerando um custo adi- COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA
  • 6. TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020 66 cional de pelo menos R$ 2 bilhões para 2020. São sobretudo gastos com a im- plementação do ensino remoto e com o oferecimento de alimentação aos(às) es- tudantes durante a suspensão das aulas presenciais. Apresentado no início de junho à Frente Parla- mentar Mista de Educação, o estudo concluiu que a carência potencial de R$ 30 bilhões só considerando as redes estaduais – um “colapso financeiro” – precisa ser mitigada por meio de ações legislativas e executivas. Entre as reco- mendações, de caráter não exaustivo, elencou a vinculação à educação de 25% dos recursos de socorros fiscais em razão de queda tributá- ria, a preservação e o não contingenciamen- to do orçamento do Ministério da Educação (MEC), a aprovação urgente do Fundo de Ma- nutenção e Desenvolvimento da Educação Bá- sica e de Valorização dos Profissionais da Edu- cação (Fundeb) e a implementação de socorro emergencial da União direcionado à educação de estados e municípios. O relatório também expressou a recomen- dação de uma estratégia coordenada de se- gurança alimentar, em diálogo com a Lei nº 11.947/20092 , permitindo que as famílias possam receber diretamente recursos para a aquisição de alimentos para os(as) estudan- tes, minimizando os riscos sanitários envolvi- dos na distribuição de kits de alimentos. Os resultados e as recomendações do estu- do tiveram eco nas realizações do Congresso Nacional ainda durante o primeiro semestre de 2020. Diversas iniciativas legislativas fo- ram apresentadas buscando assegurar re- cursos adicionais para ações educacionais no contexto da pandemia. A mudança no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) para permitir a distribuição de valor monetário às famílias foi incorporada à Medi- da Provisória (MP) nº 934/20203 , aprovada no Congresso Nacional e encaminhada a sanção 2 A Lei nº 11.947/2009 regulamenta o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), recurso distribuído pelo governo federal para financiar parte da merenda adquiri- da pelas redes estaduais e municipais de educação. 3 A MP nº 934/2020 foi apresentada pelo Poder Exe- cutivo visando estabelecer normas excepcionais para a educação em 2020. A MP foi relatada pela deputada Luisa Canziani. O relatório está disponível em: <https:// www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarinte- gra?codteor=1909036>. presidencial em 29/07. O Fundeb teve avan- ço na tramitação, sendo aprovado na Câmara dos Deputados com vasta maioria, seguindo agora para voto no Senado Federal; o relatório amplia a complementação da União aos esta- dos e municípios já a partir de 2021. Por fim, foi apresentado na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei (PL) nº 3165/20204 para, em consonância com as conclusões do estudo, estruturar um pacote anticolapso financeiro das redes de educação do país – com mon- tante previsto de R$ 31 bilhões. Por fim, o PL nº 3551/20205 foi apresentado para garantir recursos federais, distribuídos por meio do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), para ações relacionadas à estratégia de retor- no às aulas, utilizando como parâmetro os R$ 2 bilhões de gastos extraordinários nas redes estaduais durante o primeiro semestre.Vale lembrar ainda que o Congresso já havia agido para reduzir as perdas de estados e municí- pios com o pacote de socorro (desembolsos diretos e suspensão de pagamento de divi- das), embora essas medidas não tenham vin- culação expressa para a Educação. Não há dúvidas de que também as redes mu- nicipais estão sendo severamente impactadas pela pandemia. Afinal, nos estados e nos mu- nicípios o financiamento educacional é fun- damentalmente caracterizado por ter como fonte principal um conjunto de tributos com vinculação constitucional. De acordo com a Constituição Federal, em seu artigo 212, os municípios devem aplicar na manutenção e desenvolvimento do ensino6 pelo menos 25% das suas receitas resultantes de impostos e transferências. Os recursos vinculados fi- nanciam despesas tanto na Educação Básica quanto na Superior e representam 72% do to- tal de investimento público em educação7 . 4 O PL nº 3165/2020 foi apresentado por um conjunto de parlamentares. Disponível em: <https://www.camara. leg.br/propostas-legislativas/2254734>. 5 Disponível em: <https://www.camara.leg.br/proposi- coesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1908632&file- name=PL+3551/2020>. 6 As despesas típicas de MDE são descritas nos artigos 70 e 71 da Lei nº 9.394/1996. 7 Estatística calculada pelo Todos Pela Educação para o ano de 2015, com base no Estudo Técnico nº 24/2017 da Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados (Conof/CD), nos dados do Salário-Educação da Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e nas estatísticas financeiras do Instituto Nacio- nal de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP)/MEC. TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020
  • 7. COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA 77 COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA Os municípios brasileiros correm risco adicional com o eventual fim do Fundeb. A política tem vigência constitucional até 31 de dezembro de 2020 e, caso não tenha a renovação votada pelo Congresso Nacional nesse ano, expirará. Num cenário de fim do Fundeb, o investimento por estudante cairia mais da metade em 1.220 municípios de todo o Brasil (cujas redes de educação somam 7,5 milhões de estudantes). Nesses municípios, o pagamento dos profissionais da educação se tornaria inviável, bem como boa parte dos gastos de manutenção que permitem às escolas ficarem abertas. Além disso, 62% dos municípios brasileiros passariam a estar em situação de subfinanciamento crítico, segundo classificação do Todos Pela Educação10 . Assim como as redes estaduais, também os municípios têm ofertado alimentação esco- lar aos(às) estudantes com aulas suspensas e reorganizado o calendário letivo com ordena- mento de atividades remotas complementa- res. No horizonte de novos custos, que colide fiscalmente com o cenário de queda arreca- datória, estão despesas para operacionalizar com segurança a volta às atividades letivas presenciais e ações para evitar o abandono escolar no período de retorno. Nesse contexto, dando sequência à propos- ta de investigação, o Instituto Unibanco e o Todos Pela Educação seguem no trabalho em conjunto para apresentar informações e es- timativas robustas do impacto fiscal da pan- demia de covid-19 na Educação Básica. Neste estudo, o foco está na situação vivida pelas redes municipais de educação, contando com tou uma nota técnica sobre a adoção de estratégias de ensino remoto frente ao cenário de suspensão provisória das aulas presenciais. Disponível em: <https://www. todospelaeducacao.org.br/_uploads/_posts/425.pd- f?1730332266=&utm_source=conteudo-nota&utm_me- dium=hiperlink-download>. Como apresentado no último relatório, os principais impostos e transferências vincula- dos à educação são o Imposto sobre Circu- lação de Mercadorias e Serviços (ICMS), de competência estadual (com 1/4 da arrecada- ção distribuída aos municípios), o Fundo de Participação dos Municípios (FPM), o Fundo de Participação dos Estados (FPE), o Imposto sobre Serviços (ISS) – de competência munici- pal – e o Salário-Educação (distribuído a esta- dos e municípios). Boa parte (49,9%) dos impostos e transferên- cias vinculados à educação é redistribuída no âmbito de cada unidade da Federação pelo Fundeb8 . Cada rede de educação aporta a um fundo estadual uma parcela da sua recei- ta de impostos e transferências e recebe de volta desse fundo um montante de recursos proporcional ao seu número de estudantes matriculados na Educação Básica. Para 1.670 municípios brasileiros, principalmente no Norte e no Nordeste, 75% dos recursos que custeiam a educação vêm do Fundeb, segun- do o recém-lançado Anuário Brasileiro da Edu- cação Básica 20209 . Embora as receitas municipais do Fundeb sejam mais diretamente atreladas à necessi- dade de recursos das redes de educação (nú- mero de matrículas) do que o restante dos recursos vinculados a MDE, a magnitude do fundo também depende do valor da arreca- dação tributária. A cesta de redistribuição é composta por subvinculações de impostos e transferências e, ademais, a complementação que a União realiza aos fundos estaduais mais pobres é calculada na razão de 10% da soma de todos os fundos estaduais. O impacto fiscal da pandemia pelo lado da queda de arrecadação tributária nos municí- pios se soma aos novos custos que as redes municipais estão tendo com as diversas estra- tégias para oferecer oportunidades de apren- dizagem e desenvolvimento a crianças e jo- vens durante o período de isolamento social11 . 8 Para entender mais sobre o Fundeb, acesse: <https:// www.todospelaeducacao.org.br/conteudo/perguntas-e- -respostas-o-que-e-e-como-funciona-o-fundeb>. 9 Disponível em: <www.todospelaeducacao.org.br/_ uploads/_posts/456.pdf>. 10 Nota técnica Análise da Relação entre Investi- mento por Aluno e Qualidade do Ensino, de agosto de 2019. Disponível em: <www.todospelaeducacao.org. br/_uploads/_posts/319.pdf>. 11 Em abril de 2020, o Todos Pela Educação apresen-
  • 8. TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020 8 a colaboração da FNP para o levantamento de dados e refinamento da metodologia de cálculo, por meio de suas notas técnicas sobre receitas municipais. Assim como no relatório anterior, o esforço visa identificar, por um lado, as estimativas de variação da receita tributária durante a pandemia e seu efeito na disponibilidade fis- cal para investimento em educação (segun- da seção) e, por outro, as possíveis despesas adicionais com educação para enfrentamento da crise atual (terceira seção). São utilizados dados fazendários extraídos das bases oficiais da Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e respostas técnicas das secretarias municipais de Educação a um questionário estruturado. O objetivo do conjunto de relatórios sobre o impacto fiscal da pandemia na educação é qualificar o debate na sociedade e subsidiar o trabalho das autoridades públicas na cons- trução de respostas ágeis, adequadas e exe- quíveis para remediar um eventual colapso financeiro das redes de educação. Somente assim será possível minimizar o potencial au- mento das desigualdades educacionais nas redes de educação e garantir as condições de aprendizagem dos(as) estudantes, durante ou após a crise. 8 TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020
  • 9. COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA 9 Evolução da receita dos municípios durante a pandemia e queda na disponibilidade fiscal para investimento em educação Queda na arrecadação tributária e nas transferências recebidas pelos municípios A severa retração da economia em função da pandemia de covid-19 tem levado, nos últimos meses, à queda na arrecadação tri- butária e, consequentemente, à redução da disponibilidade fiscal para investimento em educação. O comportamento da economia brasileira no ano de 2020, simulado pelo Banco Mundial, é de uma retração de 8% do Produto Interno Bruto (PIB)12 . Em 6 de julho, o Banco Central divulgou o novo relatório de mercado Focus, que aponta as expectativas do mercado para queda de 6,5% no PIB de 202013 . Por sua vez, o Fundo Monetário In- ternacional (FMI) indica queda de 9% no PIB. Com a economia em desaceleração, menos transações são realizadas, menos bens e serviços são produzidos e consumidos e há piora na situação de emprego – formal e in- formal. Consequentemente, menos tributos são arrecadados. No Brasil recente, há gran- de sensibilidade da arrecadação tributária em relação ao PIB14 , principalmente quando a re- tração se dá mais fortemente nas vendas do varejo e na massa salarial. 12 Estudo publicado em 8 de junho de2020. Disponível em: <https://www.worldbank.org/en/publication/global- -economic-prospects>. 13 Disponível em: <https://www.bcb.gov.br/publicacoes/ focus>. 14 Elasticidade receita tributária-PIB entre 1,1 e 1,3 de 2004 a 2018, com elasticidade de curto prazo de 1,36 para a receita tributária corrente, como mostra a Nota Técnica nº 19/2018, da Instituição Fiscal Independente (IFI). Disponível em: <https://www2.senado.leg.br/bdsf/ bitstream/handle/id/545264/NT_Elasticidade.pdf>. 9 COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA Concretamente, as informações das recei- tas tributárias dos meses de abril, maio e junho refletem o impacto da retração eco- nômica na capacidade de arrecadação. Os dados organizados pelo Comitê Nacional de Secretários da Fazenda, Finanças, Receitas ou Tributação dos Estados e Distrito Federal (Comsefaz) mostram que o ICMS – principal imposto que financia a educação – teve que- da de 12,8% em abril e de 22,8% em maio, no conjunto do país. Tais informações estão disponíveis no Boletim de Arrecadação de Tri- butos Estaduais, do Conselho Nacional de Po- lítica Fazendária (Confaz). A receita líquida federal teve queda de 30% em abril15 e de 33% em maio16 . A Instituição Fiscal Independente (IFI) atualizou suas pro- jeções para a queda na arrecadação do gover- no federal em 2020, de 15% no cenário base e de 20% no cenário pessimista17 , indicando que também haveria uma redução similar na distribuição do FPM e do FPE. Isso pode não ocorrer devido à MP nº 938/2020, que estabe- leceu a recomposição de eventuais quedas na distribuição dos dois fundos em um valor total de R$ 16 bilhões. No entanto, a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) já manifestou que a recomposição não será suficiente para equilibrar a queda projetada para o ano. Além 15 Relatório de Acompanhamento Fiscal (RAF) de maio/2020. Disponível em: <https://www2.senado. leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/571954/RAF40_ MAIO2020.pdf>. 16 Dados da Secretaria da Receita Federal. Disponível em: <https://receita.economia.gov.br/dados/receitadata/arre- cadacao/relatorios-do-resultado-da-arrecadacao/arreca- dacao-2020/maio2020/analisemensal-mai-2020.pdf>. 17 RAF de junho/2020. Disponível em: <https://www2. senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/573177/RAF41_ JUN2020.pdf?sequence=4>.
  • 10. TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020 1010 disso, é importante considerar que os recursos da recomposição dessa MP não apresentam subvinculação para MDE, como originalmente o FPM e o FPE apresentam. Na análise da CNM18 , a arrecadação de Im- posto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) e Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) deve cair em média 25%. Outra informação di- vulgada pela entidade é que a cesta de tribu- tos do Fundeb deve ter queda de 10% e o re- passe da cota municipal do Salário-Educação pode cair cerca de 11% em 202019 . Já as proje- ções da FNP, em sua Nota Técnica nº 14/2020 (de 7 de julho)20 , traz números relativamente diferentes para os municípios de grande porte (mais de 100 mil habitantes). Suas projeções apontam para queda de 25,7% na arrecadação anual do ISS, de 15,7% na do ICMS, de 8,6% na de IPTU e FPM, de 8,4% na do Imposto sobre Propriedades de Veículos Automotores (IPVA) e de 8% na do ITBI. A IFI projeta que o segundo trimestre será o pior em termos econômicos, com sinalização de que a considerável queda observada em maio continua em junho e julho, gradualmente voltando à normalidade da arrecadação tribu- tária nos outros meses do ano21 . O estudo da IFI apresenta uma matriz de diversos cenários de queda da arrecadação subnacional, varian- do de 15% a 40% para diferentes extensões de tempo. Para efeito de cálculos de perdas de re- cursos em cada estado, adota como suposição uma queda de 30% na arrecadação estadual em junho e em julho, de 20% em agosto e se- tembro, de 10% em outubro e novembro e de 5% em dezembro, sempre em relação a igual mês do ano anterior. 18 Disponível em: <https://www.cnm.org.br/comunica- cao/noticias/nota-de-esclarecimento-do-movimento- -municipalista-a-populacao-brasileira>. 19 Apresentação realizada pela consultora da CNM Mariza Abreu em 30 de junho de 2020. Disponível em: <http://www.fgv.br/mailing/2020/webinar/DPGE/Webi- narFGVDPGE_Apresentacao_Mariza%20Abreu.pdf>. 20 Disponível em: <https://multimidia.fnp.org.br/biblio- teca/documentos/item/812-notas-tecnicas-impacto-fi- nanceiro-da-covid-19-nos-municipios>. 21 Nota Técnica nº 43, de 26 de junho de 2020. Disponí- vel em: <https://www12.senado.leg.br/ifi/publicacoes-1/ pasta-notas-tecnicas/2020/junho/nota-tecnica-no- -43-perda-de-receita-dos-estados-com-o-coronavirus- -e-a-ajuda-da-uniao-jun-2020>. 22 O segundo Relatório Bimestral da Execução Orça- mentária do Ministério da Educação está disponível em: <https://bit.ly/3ebXEZW>. Transferências discricionárias do MEC aos estados e municípios estão com baixa execução em 2020 Relatório do Todos Pela Educação22 revelou que a execução de despesas do MEC em 2020 está muito aquém do esperado, principalmente as despesas discricionárias para a Educação Básica (sobretudo as transferências a estados e municípios). O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão responsável por tais transferências, teve inclusive uma redução de 2,5% no seu orçamento autorizado para 2020. Até abril, foram utilizados 26% do limite de pagamento de 2020 do FNDE e, desse total, 90% dos pagamentos discricionários correspondem a despesas de anos anteriores, o que se chama de Restos a Pagar (RAP). Na prática, o órgão está deixando de executar o orçamento aprovado na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2020 para pagar RAP, uma vez que o gasto com despesas de anos anteriores consome o mesmo limite de pagamento das despesas do exercício atual. Concretamente, até o final do segundo bimestre, somente R$ 109 milhões de despesas discricionárias constantes na LOA 2020 haviam sido executadas pelo FNDE. Por fim, o estudo técnico da Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câ- mara dos Deputados (Conof/CD) que acom- panha o PL nº 3165/2020 23 , do pacote de so- corro anticolapso financeiro, projeta quedas 23 Disponível em: <https://www.camara.leg.br/proposi- coesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1901728&file- name=PL+3165/2020>.
  • 11. COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA 11 anuais de 15% do ICMS, 10% do FPE e FPM, 5% dos demais impostos da cesta do Fundeb, 13% da complementação da União ao Fundeb e 10% de IPTU, ISS e ITBI. Essas quedas arrecadatórias serão parcialmen- te compensadas pelo socorro fiscal de R$ 60 bilhões do governo federal determinado pela Lei Complementar nº 173/2020, sancionada em 27 de maio24 . Contudo, diferentemente das receitas de impostos e transferências consti- tucionais, os recursos do socorro fiscal não têm vinculação de 25% para a educação. O socorro, portanto, não significará necessariamente dis- ponibilidade fiscal para manutenção e desen- volvimento do ensino, muito embora seja lícito esperar que parcela significativa dos recursos aportados pela União seja dispendida por es- tados e municípios no pagamento das folhas salariais de seu funcionalismo, inclusive os pro- fissionais da educação. Cenários de queda da arrecadação De modo a identificar o impacto fiscal da que- da de arrecadação na disponibilidade de re- cursos para investimento em educação, pro- jetamos três cenários hipotéticos de retração tributária dos governos municipais em 2020. O exercício busca estimar, com base nos dados já consolidados de arrecadação e nas estima- tivas exibidas na última subseção, diferentes quadros que podem ser observados em 2020 no país. Não é objetivo deste estudo apontar qual é o cenário mais provável ou fazer uma projeção precisa dos cenários de arrecadação, mas sim calcular qual é a possível lacuna no financiamento municipal da educação caso al- gum desses cenários se concretize. Para efeito do cálculo deste estudo, optamos por não desagregar os cenários diferenciando a queda de arrecadação por tipo de tributo. O que se busca é simular a variação do somató- rio dos tributos municipais vinculados à edu- cação. Isso posto, considerando os dados já consolidados e as diversas previsões de queda tributária identificadas, são definidos os se- guintes cenários. 24 Do montante de R$ 60 bilhões, R$ 23 bilhões serão entregues aos municípios e R$ 37 bilhões aos estados. CENÁRIO A: retração de 10%, no ano, da carga tributária municipal vinculada à educação, do que deriva igual redução da disponibilidade mínima fiscal para investi- mento em MDE. CENÁRIO B: retração de 15%, no ano, da carga tributária municipal vinculada à educação. CENÁRIO C: retração de 20%, no ano, da carga tributária municipal vinculada à educação. O diferencial entre os três cenários é menor do que o apresentado no estudo anterior, referente aos estados, que indicava cenários variando en- tre -8% e -25%.As informações e estudos recen- temente divulgados nos permitem posicionar de forma mais acurada o intervalo de queda arre- cadatória, especialmente sopesando a natureza tributária da arrecadação municipal. O cenário A se assemelha à queda da carga tributária municipal estimada por meio das reduções percentuais consideradas no estudo técnico da Conof/CD que subsidiaram o PL nº 3165/2020. A consideração de tais números significaria retração de 11% na carga tributá- ria municipal. Já o cenário B se aproxima das projeções da Nota Técnica nº 14 da FNP, cujas estimati- vas25 significariam uma queda de 14% na car- ga tributária municipal. Esse cenário também é semelhante aos cenários utilizados pela IFI, que consideram queda de 30% no ICMS e no ISS durante seis meses. Por sua vez, o cenário C comporta perspec- tivas mais pessimistas quanto aos rumos da economia brasileira em 2020, incluindo a pro- jeção da FNP de queda de 25% na arrecada- ção do ISS, mas com comportamento seme- lhante aplicado ao ICMS, além das quedas superiores a 20% do FPM vinculado à educa- ção em maio e junho, que podem prosseguir nos próximos meses, segundo a CNM. 25 Considerou-se, no caso dos tributos municipais sem projeção pela FNP, a alíquota de queda de tributos de mesma natureza. O Salário-Educação, por exemplo, tende a apresentar um comportamento semelhante ao do Im- posto de Renda Retido na Fonte (IRRF), por ambos serem recolhidos na folha salarial. O mesmo vale para o ICMS e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), muito dependentes do movimento de compras na economia.
  • 12. TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020 12 Metodologia de cálculo Assim como no primeiro relatório de impacto fiscal da pandemia na Educação Básica, recor- remos à base de dados do Tesouro Nacional, considerada a mais robusta para análise de natureza tributária26 , que congrega os envios do Relatório Resumido da Execução Orça- mentária (RREO) dos municípios. Estabele- cido pela Constituição Federal, esse relatório é produzido bimestralmente, segundo as re- gras de harmonização do Tesouro Nacional. Utilizamos o demonstrativo de Receitas Cor- rentes Líquidas (RCL), de modo a identificar a arrecadação pormenorizada de cada tributo e igualmente suas eventuais deduções. Para 2019, ano de referência das simulações, há abrangência de 5.258 dos municípios (94,4% do total) na declaração do RREO do sexto bimes- tre, no qual é possível identificar as informações acumuladas para o período completo de 12 meses. Além disso, foi possível obter o dado de outros 107 municípios por meio das declarações do RREO do quinto bimestre, sendo considera- das suas informações de 12 meses anteriores (quinto bimestre de 2018 a quinto bimestre 26 Essa opção dialoga com as conclusões das reuniões realizadas pelo Todos Pela Educação, em janeiro e feve- reiro de 2020, com especialistas em finanças públicas, técnicos do governo federal e de governos subnacionais e consultores legislativos, a fim de consolidar uma base de dados única sobre o financiamento da educação. Sai- ba mais em: <https://www.todospelaeducacao.org.br/ conteudo/Especialistas-debatem-base-de-dados-unifi- cada-para-qualificar-debate-sobre-o-Novo-Fundeb->. A base do Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Educação (Siope), mantida por autarquia do MEC, foi descartada em função da fragilidade dos dados e da incompletude das informações para o ano de 2019. de 2019). A abrangência alcançada assim foi de 5.365 municípios, mas foram excluídos da amostra 6 municípios com valores negativos de arrecadação em algum dos impostos. O ta- manho final da amostra, portanto, é de 5.359 municípios (ou 96,2% do total27 ). Todas as informações utilizadas nos cálculos são aquelas reportadas pelos governos municipais no RREO. Ademais, foram incluídos os recursos transferidos do Imposto sobre Operações Fi- nanceiras (IOF)-Ouro pela União aos municípios, extraídos de base própria do Tesouro Nacional28 . Para aferir a confiabilidade dos dados cole- tados, foram realizados testes de robustez comparando seus valores totais a outras in- formações publicamente disponíveis, como os valores fechados de algumas transferências do governo federal em 2019 (FPM, IPI e Imposto territorial Rural-ITR) e cotas-partes de impos- tos estaduais identificados no RREO utilizado no primeiro relatório de impacto fiscal da pan- demia na Educação Básica. Os resultados da tabela abaixo mostram que a base trabalhada possui alto índice de paridade, o que caracteri- za alto grau de confiabilidade das informações. 27 A população estimada em 2018 nos municípios da amostra representa 96,6% do total do país, segundo os dados da MUNIC/IBGE. 28 Disponível em: <http://sisweb.tesouro.gov.br/apex/ f?p=2600:1>. Tributo/transferência Valor total na base do RREO (A) – R$ Valor total na base auxiliar (B) – R$ A/B IMPOSTO TERRITORIAL RURAL (ITR) 1.273.043.899,37 1.409.053.113,18 90,3% FUNDO DE PARTICIPAÇÃO DOS MUNICÍPIOS (FPM) 105.308.063.967,50 113.011.859.723,20 93,2% IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS (IPI) 1.170.859.546,28 1.334.838.791,38 87,7% COTA-PARTE DO IMPOSTO SOBRE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS E SERVIÇOS (ICMS) 120.177.631.077,60 126.530.583.488,00 95,0% COTA-PARTE DO IMPOSTO SOBRE PROPRIEDADES DE VEÍCULOS AUTOMOTORES (IPVA) 22.245.688.079,58 23.696.592.570,00 93,9% TABELA 1 – PARIDADE DE VALORES TRANSFERIDOS POR ESTADOS E UNIÃO AOS MUNICÍPIOS. Fonte: elaboração própria a partir das informações do Tesouro Nacional.
  • 13. COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA 13 Para cada município, calculou-se a disponibi- lidade fiscal mínima de recursos para inves- timento em manutenção e desenvolvimento do ensino nas redes estaduais, seguindo as orientações para preenchimento do anexo X do RREO: determinou-se o montante de 25% da soma líquida de impostos e transferências vinculados à educação, somaram-se a esse montante o resultado líquido do Fundeb e também os recursos recebidos da cota-par- te do Salário-Educação, cuja informação para 2019 foi extraída diretamente de base oficial de distribuição disponibilizada pelo FNDE. Optou-se por não adicionar as receitas das transferências dos programas universais do MEC, uma vez que não há indício de que essas transferências sofrerão cortes ou acréscimos de dotação neste ano. Ao todo, a disponibi- lidade fiscal mínima de recursos para inves- timento em manutenção e desenvolvimento do ensino nas redes municipais em 2019 foi de R$ 154,2 bilhões. Esse montante se des- tina tanto à Educação Básica quanto à Supe- rior, mas é importante explicitar que a atua- ção constitucional prioritária dos governos municipais é na Educação Infantil e no Ensino Fundamental, além de que os governos mu- nicipais financiam apenas 1,8% das despesas com Ensino Superior no país29 . 29 Dado apresentado em relatório de José Roberto Afon- so e Kleber Castro, em 2018, para o Comitê de Especialis- tas do Fundeb, coordenado pelo Todos Pela Educação e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Resultados de impacto fiscal no financiamento da educação A partir da construção de cenários hipotéti- cos, a simulação do impacto de retração dos recursos municipais vinculados à educação considerou a aplicação de taxas de variação homogêneas entre os entes federativos e en- tre os impostos. Com essa metodologia, tam- bém são mantidos proporcionais os resultados líquidos do Fundeb, considerando que receitas e deduções caem à mesma taxa30 . Os resulta- dos das simulações são dispostos a seguir. • A estimativa do cenário A, com queda de 10% nos impostos e transferências, resul- ta em disponibilidade fiscal total mínima de R$ 138,8 bilhões. Ou seja, há uma re- dução de R$ 15,4 bilhões no montante vinculado a despesas educacionais nas redes municipais. • No cenário B, a queda de 15% nos impos- tos e transferências gera disponibilidade fiscal total mínima de R$ 131,1 bilhões, uma redução de R$ 23,1 bilhões no mon- tante vinculado à educação. • Por fim, o cenário C considera uma que- da de 20% nos impostos e transferências, resultando em montante vinculado de R$ 123,4 bilhões, ou seja, R$ 30,8 bilhões menor que o atual. 30 Considerando a diferenciação de queda nos impos- tos, uma retração maior do ICMS em relação ao FPM tende a fazer com que as receitas municipais para o Fundeb caiam mais que as deduções advindas desse fundo. Isso levaria a uma relativa piora do resultado líquido do Fundeb para os governos municipais. Disponibilidade fiscal total mínima (R$) Perda em relação ao cenário atual (R$) Variação em relação ao cenário atual CENÁRIO ATUAL 154.205.799.932,93 - - CENÁRIO A 138.785.219.939,63 15.420.579.993,29 -10% CENÁRIO B 131.074.929.942,99 23.130.869.989,94 -15% CENÁRIO C 123.364.639.946,34 30.841.159.986,59 -20% TABELA 2 - SIMULAÇÃO DA DISPONIBILIDADE FISCAL TOTAL MÍNIMA NOS GOVERNOS MUNICIPAIS (2020) Fonte: elaboração própria a partir das informações do Tesouro Nacional.
  • 14. TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020 14 Os dados acima apontam para uma redução entre R$ 15 bilhões e R$ 31 bilhões no mon- tante de recursos vinculados a MDE nas redes municipais de educação, a depender da gra- vidade da retração arrecadatória derivada da pandemia de covid-19. Tomando o conjunto de 23 milhões de estudantes em redes municipais de Educação Básica, isso significaria uma re- dução média do investimento anual por estu- dante de R$ 670 no cenário A, de R$ 1.004 no cenário B e de R$ 1.339 no cenário C. Espelhando a situação discutida no último re- latório sobre os estados, a magnitude desse impacto, se concretizado, representaria um colapso financeiro das redes municipais do país, uma vez que boa parte de muitas despe- sas educacionais são com folha salarial, de na- tureza obrigatória, e as equipes educacionais já estão arcando com despesas adicionais para o enfrentamento da crise. A perda fiscal será tão maior quanto menor for a ação de União, estados e municípios para destinar recursos de socorro emergencial para a educação, como abordaremos na síntese propositiva.
  • 15. COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA 15 COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃO 15 Despesas com educação nos municípios para o enfrentamento da crise resultante da pandemia A queda de receita que vem sendo observa- da nos últimos meses e, provavelmente ainda prosseguirá, não será necessariamente acom- panhada de uma redução no total de gastos educacionais. Em virtude da pandemia, as re- des municipais de educação tiveram de orga- nizar e implementar diversas medidas para se adequar ao fechamento das escolas e à con- sequente interrupção do ensino presencial. Assim como nos estados, diversos municípios estão organizando atividades pedagógicas não presenciais, envidando esforços para garantir a segurança alimentar de crianças e jovens, estabelecendo ações de comunicação com as famílias ou ainda buscando viabilizar for- mação de professores(as) para enfrentar os desafios da pandemia, como apontou o posi- cionamento público da União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime)31 . Essas ini- ciativas demandam esforço fiscal ainda maior dos municípios. A pesquisa A educação não pode esperar32 , divulgada pelo Instituto Rui Barbosa e pelo Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (IEDE) em junho de 2020, le- vantou dados de 232 redes municipais sobre as práticas da gestão municipal na educação 31 Disponível em: <https://undime.org.br/noticia/ 24-03-2020-13-26-posicionamento-publico-propos- tas-para-enfrentar-os-efeitos-da-pandemia-do-covid- -19-na-educacao->. 32 Disponível em: <www.portaliede.com.br/wp-content/ uploads/2020/06/Estudo_A_Educação_Não_Pode_Es- perar.pdf>. durante o período de pandemia. O retrato ob- tido mostra que 82% das redes municipais en- volvidas no estudo estão oferecendo aulas ou conteúdos pedagógicos aos(às) estudantes nesse período e 94% das redes estão distri- buindo merenda às famílias (sobretudo distri- buição direta de gêneros alimentícios). Além disso, a pesquisa ressalta uma segun- da onda de novos custos na Educação Básica municipal, relativa às despesas para opera- cionalizar com segurança o retorno às ativi- dades letivas presenciais. Cerca de 84% das redes participantes do estudo já estão se preparando para a “volta às aulas” e 79% têm previstas ações para evitar o abandono es- colar no período de retorno presencial. Con- siderando tanto as redes que já estão mo- bilizando esforços para garantir condições letivas adequadas quanto aquelas que ainda não iniciaram esses preparativos, o retor- no às aulas presenciais significará um custo adicional que será difícil de ser arcado com o cenário de queda arrecadatória. Os gastos adicionais derivados das ações ne- cessárias para enfrentar a pandemia se dão em um contexto em que boa parte dos mu- nicípios tem baixa flexibilidade orçamentária, situação que acontecia mesmo antes da pan- demia. As principais despesas dos municípios estão comumente vinculadas à folha de pa- gamento, encargos sociais e demais gastos de custeio, que são pouco adaptáveis no cur- to prazo. Para além do desafio da diminuição de receitas em um contexto de rigidez orça-
  • 16. TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020 1616 mentária, é imprescindível que as redes muni- cipais adotem estratégias de enfrentamento à pandemia na educação, especialmente com foco nos(as) estudantes em situação de vul- nerabilidade social. Como já exposto, além das atividades que es- tão em curso atualmente, podemos esperar que, ao longo dos próximos meses - quando as aulas presenciais gradualmente se resta- belecerem - haverá necessidade de imple- mentar uma série de protocolos sanitários nas escolas. As redes terão que garantir um distanciamento seguro nas salas de aula, re- duzindo a quantidade de estudantes por tur- ma, bem como promover a higienização dos ambientes, adquirir materiais adicionais para assepsia no ambiente escolar, disponibilizar equipamentos de proteção individual (EPIs) e máscaras e tomar uma série de outras medi- das que acarretarão mais custos. Tendo esse cenário em vista e buscando me- lhor compreender o impacto nas finanças dos municípios, este estudo se concentrou em se aprofundar no que os entes munici- pais estão executando no momento e qual é o acréscimo de gastos que essas ações estão gerando. Com o apoio da FNP, foi elabora- do um questionário para envio a 400 mu- nicípios representados pela instituição. Ao final da coleta de dados, as respostas de 82 municípios foram consideradas válidas. Es- ses respondentes estão distribuídos por 19 estados em todas as regiões do país, com destaque para a Sudeste e a Sul, com 41 e 17 respostas, respectivamente. Do total de respostas, 14 são de capitais. O conjunto dos municípios que responderam ao formulário contempla mais de 33 milhões de habitan- tes33 . Ainda que os dados obtidos não repre- sentem toda a heterogeneidade da realidade municipal, na medida em que o Brasil possui 5.570 municípios, as informações permitem compreender as dinâmicas sobretudo dos municípios de grande porte, além de apre- sentar tendências e magnitude de ações que podem dialogar com a realidade de mu- nicípios de outros perfis. É importante res- saltar que essa coleta é um retrato do mo- mento da pesquisa e o quadro de despesas pode se alterar ao longo do ano. 33 Pesquisa de Informações Básicas Municipais-MUNIC, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Ações de enfrentamento da crise nos municípios O estudo coletou informações acerca das ini- ciativas relacionadas a ensino remoto (o que abrange atividades de ensino de forma não presencial), comunicação com as famílias e provimento de pacotes de dados de internet para o acesso dos(as) estudantes a aulas e plataformas virtuais. Além dessas ações, foi identificado o esforço das redes para garantir a segurança alimentar durante a suspensão das aulas presenciais e outros processos exe- cutados nesse período, como ações de forma- ção de professores(as) para o ensino remoto, aquisição de materiais extras (itens de higie- ne, termômetros, máscaras etc.), compra de bens e equipamentos duráveis (mobiliário es- colar, cabines de desinfecção etc.) e elabora- ção de guias ou materiais informativos sobre o enfrentamento da pandemia. ENSINO REMOTO O questionário buscou entender se as redes municipais de educação estavam promovendo ou se pretendiam realizar atividades de ensi- no remoto. Diferentemente do estudo de im- pactos fiscais da covid-19 na Educação Básica realizado com os estados34 , no qual todas as redes estaduais informaram estar se valendo de alguma estratégia para o ensino remoto, e aproximadamente 95% delas exploraram mais de cinco soluções, o levantamento com os mu- nicípios evidenciou que parte considerável das redes ainda não conseguiu promover qualquer ação. Dos 82 municípios que responderam ao questionário, 22% informaram que não estão realizando atividades educacionais de forma remota, nem conseguindo estabelecer comu- nicação com as famílias de forma estruturada ou patrocinando dados de internet. O gráfico a seguir detalha a quantidade de re- des que estão executando as ações questio- nadas, assim como se há custos envolvidos. Nas ações de “Atividade educacional de forma remota” estão inclusas aulas através de plata- forma on-line, disseminação de conteúdo por TV ou rádio ou outra alternativa que as redes considerem. Em “Comunicação com as famí- lias” estão orientações em materiais impres- 34 Disponível em: <https://www.todospelaeducacao. org.br/conteudo/educacao-na-pandemia-como-evitar- -o-colapso-financeiro-das-redes-de-ensino>.
  • 17. COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA 17 sos, envio de mensagens de texto, tutoria, conversas on-line, ligações telefônicas etc. O último bloco de atividades está relacionado ao patrocínio de pacotes de dados pela Secretaria de Educação para professores(as) ou estudan- tes acompanharem alguma atividade virtual. Essas ações são essenciais para garantir a continuidade da aprendizagem dos(as) estu- dantes durante o período de suspensão das aulas presenciais, ainda que com alcance e eficácia limitados pelo formato35 . Possivel- mente em virtude de ser uma das iniciativas com destacada importância ou com maior constância no debate educacional, cerca de 76% das redes municipais de educação ques- tionadas buscaram manter as atividades pe- dagógicas não presenciais por algum canal. Em razão da menor disponibilidade de recur- sos técnicos e financeiros, é provável que as ações das redes municipais acabem tendo menor abrangência em comparação com as iniciativas promovidas pelos estados. Em re- lação aos dados de internet, por exemplo, as redes estaduais possuem maior quantidade de estudantes e, portanto, um maior poder 35 Conforme aprofundado em nota técnica publicada pelo Todos Pela Educação. Disponível em: <https://www. todospelaeducacao.org.br/_uploads/_posts/425.pd- f?1730332266=&utm_source=conteudo-nota&utm_me- dium=hiperlink-download>. de barganha junto às empresas de telecomu- nicação, o que facilita a negociação e reduz o custo per capita de execução. Nesse caso, negociações compartilhadas entre governo federal, estados e municípios poderiam levar a economias de escala dariam maior amplitude às ações. Além disso, os procedimentos licita- tórios relacionados a infraestrutura e serviços tecnológicos podem ser complexos e represen- tar um entrave para sua aquisição no nível local. A comunicação com as famílias tem sido uma dimensão que não é tão explorada pelas re- des municipais, com apenas 67% das redes tendo desenvolvido algum tipo de atividade nesse sentido. É essencial apoiar as famílias e se aproximar ainda mais delas neste mo- mento, provendo um espaço de acolhimento e auxiliando-as no suporte às atividades es- colares dos(as) estudantes, e manter esse re- lacionamento no futuro, para reduzir o risco de abandono e evasão escolar36 . Com base nos dados dos municípios que in- formaram estar desenvolvendo o conjunto de ações com algum tipo de gasto, foi pos- sível estimar uma média por estudante de cada uma das categorias. É fundamental 36 Para mais detalhes, acesse publicação do Todos Pela Educação sobre o retorno às aulas no contexto da covid-19. Disponível em: <https://www.todospelaeduca- cao.org.br/_uploads/_posts/433.pdf?1194110764>. Fonte: elaboração própria, com base no levantamento realizado com a FNP, com informações disponibilizadas por 82 secretarias municipais de Educação em junho de 2020. 26 36 45 27 6 17 59 20 10 SIM, COM CUSTOS SIM, MAS SEM CUSTOS ADICIONAIS SIGNIFICATIVOS NÃO Atividade educacional de forma remota Comunicação com as famílias Dados de internet para professores ou estudantes GRÁFICO 1 – AÇÕES DE ENSINO REMOTO DESENVOLVIDAS PELOS MUNICÍPIOS
  • 18. TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020 18 ressaltar que esse dado é mais bem utilizado como uma estimativa de ordem de grandeza dos gastos. Pelo fato de a pesquisa possuir uma amostragem relativamente pequena e os custos variarem nas diversas regiões e se- gundo os perfis de municípios, os dados não servem para uma extrapolação de quanto os municípios brasileiros estão gastando com essas atividades. Somadas as ações de atividades remotas, co- municação com as famílias e provisão de in- ternet, o custo adicional por estudante matri- culado foi de R$770. Os gastos levantados com essas ações foram significativamente maiores do que os encontrados nas redes estaduais, o que pode indicar potenciais ganhos ao se reali- zar, em regime de colaboração, aquisições regio- nalizadas e de maior escala. De modo geral, os dados apresentados demonstram a pressão pelo aumento dos gastos municipais em virtude de atividades de resposta à pandemia da covid-19. SEGURANÇA ALIMENTAR A escola, além de espaço de ensino, aprendi- zagem, ludicidade e interação social, é tam- bém o local onde milhões de crianças e jovens garantem a sua segurança alimentar, um di- reito humano básico garantido pela Consti- tuição Federal. Por essa razão, mesmo em um cenário de suspensão das atividades presen- ciais é imprescindível manter a distribuição de alimentos aos(às) estudantes, especialmente para as famílias mais vulneráveis. Em diálogo com essa necessidade, 96% dos municípios envolvidos no estudo respon- deram que estão desenvolvendo alguma ação relacionada à segurança alimentar durante esse período. A ação que mais re- des estão executando é a de distribuição de cestas básicas ou alimentos que já haviam previamente estocado nas escolas para a produção de merenda. Muitos entes federa- tivos permanecem com os contratos prévios à pandemia ativos e precisaram criar canais para distribuir os alimentos de forma segura e higiênica, alcançando toda a comunidade escolar, o que em muitos casos acarretou mais gastos imprevistos. AÇÃO NÚMERO DE MUNICÍPIOS Percentual Distribuição de cestas básicas ou alimentos previamente estocados 74 90% Distribuição de cestas básicas e vouchers de alimentação 4 5% Distribuição apenas de vouchers 1 1% Não há ação 3 4% Total 82 100% TABELA 4 – AÇÕES DE SEGURANÇA ALIMENTAR DESENVOLVIDAS PELOS MUNICÍPIOS Fonte: elaboração própria, com base em levantamento realizado com a FNP, com informações disponibilizadas por 82 secretarias municipais de Educação em junho de 2020. AÇÃO Média de gasto por estudante (R$) Atividade educacional de forma remota 457,38 Comunicação com as famílias 142,06 Dados de internet para professores(as) ou estudantes 171,55 TABELA 3 – ESTIMATIVA MÉDIA DE GASTO POR ESTUDANTE COM AÇÕES DE ENFRENTAMENTO DA CRISE GERADA PELA PANDEMIA Fonte: elaboração própria com base em levantamento realizado com a FNP, com informações disponibilizadas por 82 secretarias municipais de Educação em junho de 2020.
  • 19. COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA 19 FINANCIAMENTO GASTO MÉDIO ESTIMADO PER CAPITA Percentual Recursos próprios R$26,81 37,2% Recursos do PNAE R$45,17 62,8% Total R$71,98 100% TABELA 5 – DISTRIBUIÇÃO DE CESTAS BÁSICAS OU ALIMENTOS PREVIAMENTE ESTOCADOS Fonte: elaboração própria, com base em levantamento realizado com a FNP, com informações disponibilizadas por 82 secretarias municipais de Educação em junho de 2020. Para efeitos de comparação, todas as re- des estaduais que responderam no estu- do anterior estavam fornecendo alimentos aos(às) seus(suas) estudantes e 55% delas buscaram utilizar cartões-alimentação, seja como ação única ou como complemento à distribuição de cestas básicas. Já entre os municípios apenas 6% estão distribuindo os recursos de alimentação escolar em pe- cúnia ou cartão magnético. É importante reforçar que a atual legislação não permite o uso dos recursos do PNAE para tal inicia- tiva, ao que acaba por estimular as redes de ensino a realizar a distribuição de gêneros alimentícios, uma vez que teriam que uti- lizar recursos próprios para fazê-lo em for- mato alternativo. A sanção da MP 934/20 poderá significar mudança nesse cenário de distribuição da merenda escolar. Para executar essa política pública, 39 das 82 redes de educação (46%) utilizam dados do Cadastro Único para selecionar e priorizar os mais de 2,1 milhões beneficiários do total de municípios. Em relação ao financiamento, 58 redes (71%) afirmaram que utilizam recursos do PNAE. Além disso, 50 municípios (61%) também utilizam recursos próprios para ga- rantir a alimentação dos(as) estudantes du- rante o período de suspensão das aulas pre- senciais. O valor médio que os municípios gastam na ação de alimentação durante a pandemia é de aproximadamente R$ 72 por beneficiário, sendo R$ 26,81 financiados com recursos próprios e R$ 45,17 com recursos do PNAE. Trata-se, portanto, de mais um serviço essencial que as secretarias municipais têm realizado nos últimos meses e que pressiona o orçamento da educação municipal. OUTRAS AÇÕES A fim de cobrir todas as soluções que as redes pretendem realizar ou já estão implementan- do, foram levantados dados sobre ações de formação de professores(as) para atividades remotas, elaboração de guias ou materiais in- formativos para o enfrentamento da pande- mia, aquisição de materiais para higienização e segurança da comunidade escolar, além de sobre compra de bens e equipamentos durá- veis, como mobiliário escolar, e outras iniciati- vas que os municípios estejam desenvolvendo, mas não foram previamente especificadas. O gráfico na página seguinte permite identi- ficar que várias redes estão adquirindo – com despesas adicionais – materiais como EPIs, álcool, termômetros, máscaras e outros. Ati- vidades como formação de professores(as) e elaboração de materiais e guias informativos sobre o enfrentamento à pandemia estão sendo realizadas por muitos municípios, po- rém sem custos significativos. Em relação aos custos, o estudo trouxe apenas o gasto per capita com a aquisição de materiais extras, por ser esta a única ação com uma amos- tragem mais ampla de dados consistentes. Até o início do mês de junho, data em que os da- dos foram coletados, o gasto médio estimado per capita era de R$28,41. Considerando que os gastos devem aumentar conforme as aulas presenciais gradualmente retornem, esse é tam- bém um componente relevante na pressão pelo aumento de gastos na área da educação. Ao todo, na soma dos valores identificados na pesquisa, a realização de atividades remotas, a comunicação com as famílias, a provisão de in- ternet e a aquisição de materiais extras resulta em custo adicional de R$870 para cada estu- dante matriculado.
  • 20. TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020 20 RETORNO ÀS AULAS A previsão do retorno às aulas acentua a tendência de aumento de gastos, sobretudo para as redes que não conseguirem se pla- nejar de forma adequada para esse momen- to. Como a tabela a seguir detalha, 55% das redes ainda não começaram a elaborar seus planos ou estão em uma fase inicial. Apenas 15% já iniciaram ações concretas pensando no momento de reabertura das escolas. O cenário demonstrado é preocupante, visto que poucas redes possuem planos para a re- tomada das aulas, e mais uma vez aponta para uma tendência de crescimento nos gastos, uma vez que será essencial cumprir os proto- colos de distanciamento, higienização e se- gurança sanitária da comunidade escolar. Há grandes chances de que, se os municípios não receberem orientações, apoio técnico e finan- ceiro para esse retorno, não tenham condições de cumprir suas obrigações e comprometerão a qualidade e o acesso à educação. Fonte: elaboração própria, com base em levantamento realizado com a FNP, com informações disponibilizadas por 82 secretarias municipais de Educação em junho de 2020 HÁ ALGUM PLANEJAMENTO DE RETORNO ÀS AULAS PRESENCIAIS? Percentual de municípios Ainda não começamos a pensar nisso. 10% O plano está em fase inicial de construção. 45% Temos um plano construído ou próximo de ser finalizado. 28% Foram iniciadas ações concretas nesse sentido. 15% Aguardando as orientações do governo do estado. 2% TABELA 6 – PLANEJAMENTO DAS REDES PARA O RETORNO ÀS AULAS PRESENCIAIS Fonte: elaboração própria, com base em levantamento rea- lizado com a FNP, com informações disponibilizadas por 82 secretarias municipais de Educação em junho de 2020. 8 47 27 7 41 34 42 16 24 8 14 60 6 12 64 SIM, COM CUSTOS SIM, MAS SEM CUSTOS ADICIONAIS SIGNIFICATIVOS NÃO Formação de professor para ensino remoto Materiais informativos sobre o enfrentamento à pandemia Aquisição de materiais extras Bens e equipamentos duráveis Outras despesas GRÁFICO 2 – OUTRAS AÇÕES DESENVOLVIDAS PELOS MUNICÍPIOS
  • 21. COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA 21 Baixa flexibilidade orçamentária em um cenário de redução de receitas Os custos adicionais levantados anterior- mente, combinados com uma maior deman- da por vagas na rede pública no próximo ano letivo37 , causada pela redução da renda das famílias, são fatores que irão tensionar os gastos dos municípios na Educação Básica. O último elemento que faz com que sejam urgentes o apoio técnico e o auxílio financei- ro aos municípios é que, no início de 2020, estes já possuíam pouca flexibilidade de gas- tos na educação. De acordo com a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e seu índi- ce de Gestão Fiscal (IFGF 2019)38 , de 5.537 municípios analisados, quase 35% das pre- feituras não geram receita suficiente para a manutenção de sua estrutura administrativa e aproximadamente 50% estão em situação crítica, tendo mais de 54% da receita corrente líquida comprometida com gasto com pessoal (limite estabelecido pela Lei de Responsabili- dade Fiscal). Adicionalmente, 47% das cida- des brasileiras alocam em média apenas 3% de sua receita para investimentos, grupo de despesa que pode ser mais facilmente mane- jado no orçamento para cobrir os gastos ex- traordinários do período de pandemia. No levantamento com os 54 municípios que preencheram a seção sobre o orçamento pré e pós-pandemia de forma completa, após a realização de tratamentos de consistênciade dados, o cenário constatado pela Firjan se mostrou ainda mais rígido na área da edu- cação, especialmente no que diz respeito às despesas com pessoal e custeio. Nesse sen- tido, é importante recordar que o reajuste do piso do magistério em 2020 foi de 12,8%, se- gundo critérios previstos em lei39 , o que ele- 37 Como já constatado na rede de São Paulo e nas redes privadas. Informações disponíveis em: <https://www. cnnbrasil.com.br/business/2020/06/05/transferencia- -de-alunos-para-as-escolas-publicas-cresce-mais-de- -10-vezes-em-sp>; <https://www1.folha.uol.com.br/ educacao/2020/07/maioria-das-escolas-particulares- -perdeu-mais-de-10-dos-alunos-diz-pesquisa.shtml>. 38 Disponível em: <https://www.firjan.com.br/data/ files/8F/50/19/81/B2E1E610B71B21E6A8A809C2/IFGF- 2019_estudo-completo.pdf>. 39 Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/ ultimas-noticias/12-acoes-programas-e-proje- NATUREZA DA DESPESA PERCENTUAL MÉDIO NO ORÇAMENTO PRÉ- PANDEMIA PERCENTUAL MÉDIO NO ORÇAMENTO PÓS- PANDEMIA Pessoal 67% 68,7% Custeio 25,6% 24,3% Investimento 7,4% 7,0% Fonte: elaboração própria, com base em levantamento rea- lizado com a FNP, com informações disponibilizadas por 82 secretarias municipais de Educação em junho de 2020. TABELA 7 – ORÇAMENTO DA ÁREA DA EDUCAÇÃO POR PERCENTUAL DE NATUREZA DA DESPESA vou os gastos com pessoal. A tabela a seguir mostra a média percentual das despesas com pessoal, custeio e investimento no orçamento da educação. A dinâmica municipal pré-pandemia, com elevados gastos na categoria de pessoal e en- cargos sociais, é semelhante para as redes es- taduais, conforme estudo realizado pelo Con- selho Nacional dos Secretários Estaduais de Educação (Consed) e pelo Instituto Unibanco em 2018. A média estadual das despesas com pessoal e encargos sociais foi de 73%40 . A despesa com pessoal desperta atenção por sua elevada participação no cômputo total do orçamento já antes da pandemia e apresenta uma tendência a crescer no período pós-pan- demia. Somando esses gastos às despesas de custeio, que dificilmente serão reduzidas, dado que a maioria dos entes possui contra- tos firmados antes da pandemia e as secreta- rias não podem deixar de receber os serviços prestados, 93% dos valores informados já es- tariam comprometidos. Pode-se ainda perceber, a partir dos dados re- cebidos, que, até junho, os municípios tinham previsto na média uma redução de 8% no or- çamento para educação. Isso era esperado, dado que a área da saúde demandou muito mais recursos durante o primeiro semestre de 2020. Tendo em vista a ordem de grandeza dos gastos adicionais per capita revelada por esse estudo, é fundamental que, no mínimo, tos-637152388/84481-mec-divulga-reajuste-do-piso-sal- arial-de-professores-da-educacao-basica-para-2020>. 40 Ursula Peres, Bruna Mattos, Isabela Menon, Rogerio Limonti e Marcel Felices. Disponível em: <http://www. consed.org.br/media/download/5c1a2ea79d702.pdf>.
  • 22. TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020 22 haja um movimento de reposição de recursos para a educação. Tal desequilíbrio orçamentário prejudicial à educação tende a agravar a lacuna entre os recursos necessários e os existentes, evidente à luz do impacto fiscal e do imperativo de no- vas despesas decorrentes da pandemia. A su- peração dos desafios atualmente impostos à gestão educacional, contudo, poderão esbar- rar em um crônico problema de baixa disponi- bilidade de recursos financeiros41 e de falta de quadros técnicos qualificados na gestão das redes municipais de educação42 . A despeito do esforço dos(as) gestores(as) municipais no sentido de realizar uma gestão eficaz e eficiente, muitas vezes a tentativa é limitada pela disponibilidade de pessoal com o perfil adequado para as muitas responsabilidades do nível municipal no provimento de serviços. É por isso que o regime de colaboração entre União, estados e municípios, que é vital para a manutenção dos processos de ensino-apren- dizagem, requer ao mesmo tendo auxílios fi- nanceiros e apoios técnicos. 41 Índice Firjan de Gestão Fiscal 2019. Disponível em: <https://www.firjan.com.br/data/files/8F/50/19/81/ B2E1E610B71B21E6A8A809C2/IFGF-2019_estudo- -completo.pdf>. 42 SEGATTO, C. I.. O papel dos governos estaduais nas políticas municipais de Educação: uma análise dos modelos de cooperação intergovernamental. 2015. Tese de Doutorado. Disponível em: <https://bibliotecadigital. fgv.br/dspace/handle/10438/13542>. 22 TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020
  • 23. COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA 23 A pandemia da covid-19 tem impactado o funcionamento das escolas e a vida das co- munidades escolares em todo o mundo. Com estabelecimentos de ensino fechados, ou seguindo rígidos protocolos de distancia- mento, os sistemas educacionais vivem uma nova realidade de cuidados sanitários, estra- tégias de ensino remoto e relação entre edu- cadores, educandos e suas famílias. O futuro da educação, no curto e no longo prazo, é objeto de amplas discussões na so- ciedade brasileira, com poucas certezas e muitas dúvidas e angústias. O certo é que as equipes escolares e os governos estaduais e municipais terão pela frente – como já vêm tendo nos últimos meses – grandes respon- sabilidades para garantir o desenvolvimen- to integral de milhões de crianças e jovens impactados pelo cotidiano de isolamento social. Essas novas incumbências e ações de- mandam recursos financeiros para sua exe- cução, o que colide com o cenário atual do orçamento público. A crise econômica decorrente da pandemia tem afetado substancialmente o nível de arrecadação tributária dos governos locais, como foi revelado no primeiro relatório de impacto fiscal da pandemia na Educação Bá- sica, focado nas redes estaduais. O estudo mostrou a necessidade de, no pior cenário, R$30 bilhões para compensar a queda de ar- recadação estadual e o montante de novas despesas com a situação de pandemia. Como 72% do financiamento da educação brasileira é composto por impostos vincu- lados à área, a queda de receitas tributá- rias leva consequentemente a uma redução drástica na disponibilidade fiscal para o in- vestimento na Educação Básica. As proje- ções levantadas nessa pesquisa mostram que os tributos municipais e estaduais estão 23 em queda desde abril, sem que haja sinais de melhora nas condições de saúde da popula- ção que possibilitem vislumbrar uma reto- mada segura e sustentável da economia nos próximos meses. Levando em conta essa análise, as simu- lações deste estudo consideram que as re- des municipais podem ter queda de 10% a 20%, a depender do cenário, no montante destinado a despesas educacionais – o que significa um potencial de redução de R$ 31 bilhões, considerando uma amostra de 96% dos municípios brasileiros. Isso significa que a redução no investimento por estudante nas redes municipais pode ser, em média, de R$ 670 a R$ 1.339. Por outro lado, o levantamento de despesas de 82 redes municipais majoritariamente de grande porte mostra que há um conjunto de gastos adicionais de R$870 por estudante durante os primeiros meses de pandemia e suspensão das aulas presenciais (até junho). Esse é o valor médio por estudante resultan- te da soma de despesas com ensino remoto, garantia de alimentação a crianças e jovens, comunicação com as famílias, patrocínio de pacotes de dados de internet e compra de materiais de higiene. A soma dos dois movimentos mostra uma expressiva carência de recursos nas redes municipais, assim como foi observado com as redes estaduais no estudo anterior. Esse subfinanciamento comprimirá as despesas educacionais de custeio e investimento, tão fundamentais para garantir uma saí- da sustentável da crise, com possibilidade de afetar também a execução de despesas obrigatórias, como o pagamento de salá- rios. O risco, portanto, é de significativa desorganização das redes de educação em todo o país. COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA Síntese propositiva
  • 24. TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020 2424 O cenário torna-se ainda mais desfavorável quando se considera que o retorno às au- las presenciais implicará outras despesas adicionais, como compra de equipamentos de segurança sanitária, reforma ou cons- trução de banheiros adequados, adicional de folha salarial para garantir aulas de re- forço e a possível abertura das escolas aos finais de semana. Nesse sentido, 15% dos municípios consultados já estão com ações preparatórias para o retorno, enquanto 55% da amostra ainda estão em fase inicial de planejamento ou sequer iniciaram reflexões nesse sentido. Essa maioria de redes pode ter ônus financeiros ampliados caso os pro- cessos de readequação sejam realizados de maneira abrupta. A queda de receitas e a pressão por novas despesas tornam nítido que os(as) gesto- res(as) devem buscar usar os recursos de forma ainda mais eficiente e efetiva durante o período de enfrentamento da pandemia. Ao mesmo tempo que as respostas devem ser rápidas e assertivas, é importante refor- çar a necessidade de que todas as decisões sejam sempre informadas por evidências. Uma boa gestão orçamentária, nesse senti- do, pode ser chave para apoiar as secretarias de Educação nesse momento tão delicado, e a troca de boas práticas é fundamental. Com todos os desafios levantados por este estudo, há uma iminente necessidade de orientação e ajuda técnica aos municípios para estruturarem as complexas ações lis- tadas anteriormente e enfrentarem os enor- mes desafios do pós-pandemia. É crucial que governo federal, governos estaduais e governos municipais atuem, conforme o art. 211 da Constituição Federal, em regime de colaboração, especialmente consideran- do o momento complexo que o país passa. Esse trabalho conjunto de cooperação nacio- nal requer instâncias de diálogo e pactuação como os que vêm sendo debatidos no âmbi- to do PLV da MP nº 934/2020, que foi apro- vado na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, aguardando sanção presidencial. Esse PLV traz como possível componente a permissão de estratégias para a distribui- ção às famílias (por meio de cartões magné- ticos) dos recursos para a aquisição direta de alimentos para os(as) estudantes, o que minimiza os riscos sanitários da distribuição de kits de alimentos. A alteração da Lei nº 11.947/2009, permitindo que recursos do PNAE pudessem ser usados com esse fim43 , seria vantajosa para estimular a adoção coordenada dessa estratégia de segurança alimentar. Paralelamente à qualidade da gestão dos re- cursos, há um esforço fiscal que o Brasil preci- sará fazer para salvaguardar o orçamento das redes de educação durante a pandemia, de modo a impedir graves desorganizações que seriam obstáculos ao desenvolvimento so- cioeconômico do país durante e após a crise. Isso requererá ações legislativas e executivas para evitar o possível colapso financeiro das redes. Algumas delas já vem sendo considera- das nos debates da Frente Parlamentar Mista de Educação, que vem tendo protagonismo na articulação de uma agenda legislativa da educação. Em diálogo com esse processo, concluímos este relatório com algumas das estratégias que o Brasil deve considerar como resposta ao impacto fiscal da pandemia no fi- nanciamento da educação. 43 É fundamental expressar a importação da preserva- ção das demais obrigações relativas ao PNAE, como o percentual mínimo de recursos para aquisição de produ- tos de agricultura familiar. TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020
  • 25. COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA 25 COVID-19|IMPACTOFISCALNAEDUCAÇÃOBÁSICA 25 Empreender esforços de racionalização de gastos nas secretarias, bus- cando otimizar todos os recursos existentes e economizar se e onde for possível. O regime de colaboração, entre os municípios ou entre estados e municípios, pode ser um dos caminhos para a coordenação conjunta de ações e otimização dos gastos. Essa discussão se faz especialmen- te necessária no bojo da aprovação e implementação do PLV da MP nº 934/2020, que exigirá articulação entre os diferentes níveis de governo para o enfrentamento da pandemia e retomada das aulas presenciais. Aprovar medidas legislativas e reforçar ações do governo federal para garantir acesso gratuito à internet com fins educacionais, como medida emergencial que permita aos(às) estudantes mais vulneráveis ter condições de acompanhar as atividades letivas durante a pande- mia, bem como poder usufruir de estratégias remotas de reforço de aprendizagem no período de retomada controlada das aulas presen- ciais. Três iniciativas legislativas foram apresentadas para equacionar o desafio da conectividade e requerem urgência de apreciação e vo- tação: o Projeto de Lei da Câmara (PLC) nº 142/2018, que visa instituir legalmente o programa federal Educação Conectada, com diretrizes de equidade na implementação44 ; o PL nº 3462/2020, que cria um auxílio- -conexão para custear planos de acesso à internet para as famílias de estudantes de baixa renda, durante a pandemia, com custo estimado de R$ 3 bilhões a R$ 6 bilhões45 ; e o PL nº 3477/202046 , que estipula que a União assegurará recursos (estimados em R$ 26,6 bilhões) para prover o acesso gratuito à internet aos(às) estudantes e professo- res(as) da Educação Básica Pública, por meio do Fundo de Universali- zação dos Serviços de Telecomunicações (Fust). Suplementar o orçamento do PDDE e do PNAE, à luz dos gastos adicionais que as redes de educação estão tendo com as ações para proteção dos(as) estudantes no retorno às aulas presenciais e provisão extraordinária de alimentos. Os relatórios de impacto fiscal da pandemia na educação revelaram gastos adicionais com alimen- tação escolar por estudante entre R$ 52 e R$ 73, intervalo que pode servir como referência para a suplementação do PNAE47 , a ser feita diretamente pelo governo federal. Já as despesas das redes munici- pais apenas com aquisição de materiais de segurança sanitária têm valores médios de R$ 28 por estudante e poderiam ser compensadas via suplementação do PDDE. Adicionalmente, as escolas precisarão promover outras ações para assegurar o cumprimento dos protoco- los sanitários na escola que certamente acarretarão custos adicio- nais. Essa proposta está alinhada ao PL nº 3551/2020, que defende suplementação do PDDE em R$ 2 bilhões para ações relacionadas à estratégia para retorno às aulas48 . Além disso, é fundamental preser- 44 O projeto já foi aprovado na Câmara dos Deputados e está em tramitação no Sena- do Federal. Disponível em: <https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/ materia/134967>. 45 Disponível em: <https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?d- m=8124108&ts=1594026593763&disposition=inline>. 46 Disponível em: <https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarinte- gra?codteor=1907060&filename=PL+3477/2020>. 47 Limite máximo do intervalo significa R$ 0,36 por estudante por dia letivo. 48 O governo federal precisará, adicionalmente, oferecer apoio técnico às redes de educação e suas escolas para garantir a boa execução dos recursos distribuídos via PDDE. 1. 2. 3.
  • 26. TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020 2626 TODOSPELAEDUCAÇÃOEINSTITUTOUNIBANCO|JULHO2020 var os orçamentos do Programa Nacional de Apoio ao Transporte Escolar (PNATE), que deverá ter custos adicionais na retomada das aulas presenciais para cumprir as medidas de distanciamento social, e do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), fundamental para a qualidade do ensino no retorno presencial às escolas. Aprovar socorro emergencial da União direcionado à educação de estados e municípios, antes do final do exercício de 2020, visando evitar o cenário de possível colapso educacional. Essa proposta de recomposição das perdas dos tributos vinculados à educação está em convergência com o PL nº 3165/2020, apresentado em junho na Câmara dos Deputados por um grupo amplo de parlamentares. O conteúdo do PL, em particular o montante de R$ 31 bilhões inicial- mente proposto e a regra de distribuição de matrículas, pode ser discutido à luz dos dados trazidos neste estudo e no relatório anterior dedicado ao panorama das redes estaduais. Nesse sentido, é funda- mental identificar se os estados e municípios têm destinado à educa- ção a parcela dos recursos transferidos pela União em função da Lei Complementar nº 173/2020. Aprovar com urgência a renovação e o aprimoramento do Fundeb (PEC nº 015/2015), de forma a impedir um grave subfinanciamento adicional a uma grande parte das redes de educação. No país, 62% dos municípios passariam a estar em situação de subfinanciamento crí- tico com o fim do Fundeb, e cerca de mil municípios teriam perdas su- periores a 50% do seu orçamento educacional de um ano para o outro. A aprovação do novo Fundeb, portanto, é fundamental para dotar as redes de educação de previsibilidade orçamentária para 2021 e balizar as estratégias de recuperação da crise gerada pela pandemia. 4. 5.