O documento descreve o modelo de educação clássica cristã como uma alternativa à educação moderna. Ele discute três estágios do modelo - gramática, dialética e retórica - assim como o conteúdo do núcleo educacional, que inclui estudos bíblicos, literatura, matemática e outras matérias. O objetivo é fornecer uma educação abrangente e de alta qualidade centrada nos princípios cristãos.
5. 5
Introdução
As deficiências do experimento da educação moderna são
abordadas por todo canto. Parece que não passa um dia sequer
sem que os noticiários de TV a cabo foquem nos problemas
educacionais. As páginas de jornais com opinião de leitores estão
repletas de cartas de pais e de educadores preocupados. E à luz
dessas dificuldades bastante divulgadas, que vão da queda na taxa
de alfabetizados ao pobre desempenho em provas de ciências
ou matemática, os pais têm procurado alternativas para fugir da
educação pública moderna. Alguns pais cristãos optaram por
escolas particulares, enquanto outros
têm optado por manter os filhos
em casa para educálos. E muitos se
encontram perdidos em meio a uma
miríade de currículos e ativdades
extracurriculares. Muitos são os
pais que tem buscado uma opção
que ofereça a seus filhos um rigor
acadêmico maior que eles próprios
receberam e que se provou bem
sucedido.
Alguma coisa saiu errada, muito errada, em relação à educação.
Mas o quê? O que aconteceu? O que mudou de forma a gerar o
dilema educacional dos dias atuais? Tais perguntas precisam ser
feitas. A planta da educação moderna não está funcionando. Já
é hora de reconsiderarmos a arquitetura da educação moderna.
A próxima geração está em jogo. Se educação, conforme G. K.
Chesterton diz, “é a alma da sociedade, na medida que passa de
uma geração à outra”, então faríamos bem em avaliar com sobrie-
dade nossa abordagem e objetivos educacionais atuais. Nossos
processos presentes estão edificando uma casa que não tem uma
O que é educação?
Propriamente
falando, não existe
o que é chamado de
educação. Educação é
simplesmente a alma
da sociedade, na
medida que passa de
uma geração à outra.1
—G. K. Chesterton
6. 6 EducaçãoClássicaCristã...AccessívelaTodos
pedra angular, e por isso facilmente desaba, virando desespero.Tal
planta, se permanecer incontestada e não for reformada, transfor-
mará o que já foi pilar de uma sociedade num alicerce que ruirá. Se
Chesterton estiver correto, a civilização ocidental e a cultura cristã
correm perigo. Neste livrete, exploraremos o espectro dos modelos
educacionais que reivindicam edificar uma educação forte. Inici-
aremos pelo modelo educacional moderno e suas preocupações
com especialização e utilidade; depois, trataremos de um modelo
queseprovoubemsucedidoduranteumlongoperíododahistória
e fornece um rigor acadêmico sempre atento ao transcendente –
o modelo cristão clássico. Definiremos Educação Clássica Cristã,
a metodologia e o conteúdo a ela associados. Por fim, consider-
aremos um método comprovado de apoio aos arquitetos divina-
mente designados – os pais – que desejam dar a seus filhos uma
Educação Clássica Cristã doméstica.
7. 7
Inspecionando
osModelos
Educacionais
Comecemos olhando mais de perto para o atual modelo de
educação (dos Estados Unidos), ao qual designaremos como
educaçãomoderna.Observeocurrículoetrabalhorelativoacursos
do Ensino Médio no geral e você encontrará “matérias” conhe-
cidas. Há provas com notas que atendem ao desejo de educadores
modernos quanto a resultados quantificáveis, desejo que motiva
e permeia o aprendizado moderno. As matérias são vistas isola-
damente, como compartimentos estanques. As pressuposições
subjacentes acerca da natureza do aluno e da educação estão
impregnados da cosmovisão pós-moderna.
Educação Moderna
Economia
EMC2
Filosofia
Matemática
Belas Artes
Língua
Ciências
História
8. 8 EducaçãoClássicaCristã...AccessívelaTodos
O sucesso educacional é definido pela capacidade em regurgitar
essa informação em provas padronizadas com base em padrões
estaduais. Antes de aceitarmos tal prática, deveríamos perguntar:
“Quais são os objetivos estaduais? Como se relacionam com o
aluno? Como deveriam se relacionar com o aluno?
A natureza da educação moderna, impelida por padrões esta
duais, requer um tremendo afunilamento da educação quanto
ao empenho empregado e o foco. Como isso é feito? Afunilando
e reduzindo a educação ao que é mensurável e cognoscível pelo
estado. Dessa forma, a aplicação de provas e os históricos escolares
acabam se tornando o bezerro de ouro; o grande e poderoso
mundo de Oz se transforma na Faculdade Estadual. Pais cristãos
precisam se perguntar se é esse alicerce, de fato, que eles desejam
colocar para a alma de seus filhos. Sob um escrutínio mais crítico, o
modelo moderno parece carente, míope e de fazer arrepiar a alma.
Mas suponhamos que nós servamos ao bezerro dourado
e tremamos diante do grande e poderoso Oz. Como é que
trataríamos de conceitos como virtude e vício? Temos como
mensurar o orgulho? A integridade? A lealdade? A sabedoria? Tais
conceitos são importantes na vida de um aluno? Alguns dizem:“O
que é medido, acaba sendo realizado”. Se medidas padronizadas é
que impelem nosso sistema educacional, onde ficam os conceitos
de valor transcendente – como a verdade, a bondade, e a beleza?
O espírito humano clama“É ISSO AÍ!”- mas tristemente, o clamor do
Estado é pela avaliação do aluno.
Porissoéquepaiscristãos,naesperançadeencontraremumaalter-
nativamelhor,sevoltamparaaeducaçãocristãprivada.Entretanto,
em muitas escolas cristãs hoje, encontramos o mesmo receio de
ficar para trás quanto aos padrões estaduais de educação, o que
conduz a um estudo segmentado de matérias, com o aluno posto
decididamente no centro do aprendizado. Em algumas escolas,
oferecer uma matéria bíblica acaba justificando a classificação de
educação“cristã”.Nofundo,talmodelonãopassadeumaréplicado
pensamento moderno com um acréscimo de uma bolha “bíblica”.
Será que o acréscimo de uma matéria bíblica se constitui numa
prova dos nove para a educação cristã?
9. 9
Além do mais, deveríamos nos perguntar se o aluno pertence
adequadamente ao referido centro de educação cristã. O núcleo
unificador da educação cristã, por sua própria natureza, precisa
transcender ao entendimento limitado do aluno. À medida que
entramosmaisfundonoespectroeducacional,algunsreconhecem
que o lugar do aluno não é no coração, no centro da educação – a
Deus, o Autor da criação, pertence esse lugar ao centro. Também
percebemos a introdução do escopo mais amplo das consequên-
cias das ideias e a exploração das mesmas na busca pela sabedoria
– o estudo da Filosofia. Estamos nos movendo para mais próximo
do ideal educacional, com uma Educação Cristã de Boa Qualidade.
Inspecionando os Modelos Educacionais
Educação Cristã de Boa Qualidade
Economia
EMC
Filosofia
Matemática
Belas Artes
Língua
Ciências
As matérias
pertencem
a Deus, não
ao homem.
História
DEUS
Educação Cristã de Baixa Qualidade
Economia
EMC
Estudo Bíblico
Matemática
Belas Artes
Língua
Ciências
História
10. 10 EducaçãoClássicaCristã...AccessívelaTodos
À medida que nos movemos rumo ao ideal da educação cristã,
reconhecemos que Deus está no centro de todo conhecimento,
e procuramos conhecer como Ele é revelado em cada disciplina
acadêmica. A Educação Cristã de Boa Qualidade procurará conhecer
os planos de Deus para as belas artes e reconhecerá que Ele criou
a matemática para um universo ordenado. Mas é aí que deve parar
a educação? Deus se auto-revela através de cada uma dessas áreas
de conhecimento; contudo, educação cristã ainda acena para que
avancemosnesserelacionamento.UmaEducaçãoCristãdeExcelente
Qualidade vê as matérias refletindo e se relacionando de volta com
o Criador e Sustentador de todas as coisas. Podemos aprender mais
atributosdeDeusestudandofilosofia,históriaouquímica?Podemos
usar nosso conhecimento para fazer o louvor jorrar? Isso se constitu-
iria numa Educação Cristã de Excelente Qualidade.
A essa altura, então, teremos desenvolvido um paradigma verda-
deiramente cristão para a educação. Que elementos distintivos e
adicionais compõe uma educação clássica? Dorothy Sayers explica
as características distintivas de uma Educação Clássica Cristã:
“Quantas vezes você já topou com pessoas para
quem, uma coisa é sempre uma coisa, e outra coisa
é sempre outra, distinta de todas as demais, como se
separadas em compartimentos estanques? Possuem
esse jeitão tão acentuado que têm grande dificuldade
Educação Cristã de Excelente Qualidade
As matérias
glorificam
a Deus.
DEUS
Economia
EMC
Filosofia
Matemática
Belas Artes
Língua
Ciências
História
11. 11
de estabelecer conexão mental, suponhamos, entre
álgebra e ficção policial, entre o saneamento básico
e o preço de salmão – ou, de maneira mais genérica,
entre esferas distintas do conhecimento tais como
filosofia e economia, ou a química e as artes?”3
—Dorothy Sayers
“As Ferramentas Perdidas da Educação”
A observação de Sayers revela o dilema produto, assim como as
limitações existentes na educação moderna – nossa tendência é
ignorar causa e efeito e outros relacionamentos entre as matérias-
base. Dessa forma, explorando intencionalmente as partes das
matérias em relação ao todo, chegamos ao último paradigma
educacional – o modelo clássico cristão. Com Deus firmemente ao
centro, uma Educação Clássica Cristã se estende um passo adiante
da Educação Cristã de Excelente Qualidade, ao considerar como se
relacionam as matérias de economia, ciências e história e a interco-
nectividade da matemática, da língua e das belas artes.
Enquanto tratamos de como e porquê educamos nossos filhos,
consideremos o modelo cristão clássico como nosso modelo educa-
cional. Como tornamos uma planta dessas em realidade? Como
deixamos a Educação Clássica Cristã AccessívelaTodos?
Inspecionando os Modelos Educacionais
Educação Clássica Cristã
Asmatérias
estãounificadas
emseu
relacionamento
comDeus
(Hebreus1.3)
DEUS
Economia
EMC
Filosofia
Matemática
Belas Artes
Língua
Ciências
História
12. 12 EducaçãoClássicaCristã...AccessívelaTodos
Primeiramente, a maior parte dos pais e professores foram
instruídos via primeiro modelo considerado – o paradigma da
educação moderna; assim sendo, precisamos de uma mudança
de paradigma. Quando o assunto é educação, é preciso informar
e transformar nossa forma de pensar. Como primeiro passo,
olharemos mais atentamente para a beleza e os benefícios de uma
educaçãoclássica.Aseguir, redescobriremosaseternasferramentas
do aprendizado ao investigarmos e expormos acerca do Trivium.
O Trivium oferece um modelo tri facetado de gramática, dialética
e retórica que responde pelo “COMO” da Educação Clássica Cristã
– definindo o conhecimento nuclear de cada matéria, também
fornecendo ideias práticas pelo fincar de um bom fundamento.
Por fim, focaremos nos pais divinamente designados, e o papel dos
pais na educação dos filhos. Tal qual o ferro afia o ferro, pais que
buscam uma Educação Clássica Cristã precisam ser encorajados
por outros pais que pensam da mesma forma. Os programas e
comunidadesClassicalConversationsoferecemumarededeapoio,
enquanto protegem o papel dos pais como primeiros educadores
de seus filhos.
13. 13
Para muitos leitores, a expressão educação clássica talvez evoque
imagens de filósofos trajados em togas esvoaçantes, se reunindo
em antigas praças públicas para debater ideias. Outros talvez
pensem no estudo e nas audições de música clássica, ou em um
currículo que adota o estudo cronológico de história e litera-
tura. Outro ainda poderão associar educação clássica com a
memorização de enormes conteúdos de informação. Todas essas
definições apontam para a definição mais simples do conceito
clássica: aptidões e conhecimento que resistem ao tempo e valem
ser assimilados. Tal definição pode ser completamente desen-
volvida ao contrastarmos os valores, os métodos e os objetivos da
educação moderna4
com o modelo clássico, cristão.
A cultura pós-moderna valoriza a mudança contínua. No século
passado,atecnologiaproliferouespantosamente,resultandonuma
crença bastante difundida de que mudança equivale a melhoria
em toda e qualquer área. Sem avaliarmos tal alegação, acabaremos
nos curvando à ideia de que, adicionando tecnologia à sala de aula,
tal como laptops e tablets, isso automaticamente resultará numa
educação de maior qualidade.
Ao buscarmos melhorias na educação, nós instintivamente gravi-
tamos rumo ao “mais recente”e ao “melhor”em lugar de avaliar o
conteúdo qualitativamente.Tal propensão à mudança está profun-
damente arraigada nas nossas escolas atuais, quando trocam de
O Modelo Esquecido:
Educação
ClássicaCristã
14. 14 EducaçãoClássicaCristã...AccessívelaTodos
livrosdidáticosedemetodologiasdeensinoanualmente.Issosorra-
teiramente adentra nossa educação domiciliar, a cada mudança de
currículo. Nós nos juntamos à tendências de mudança por medo
de que, de alguma forma, acabaremos ficando para trás – quando
o que ocorre é precisamente o contrário – o permanecer em algo
constanteefixosejaexatamenteoquehaverádesermaisbenéfico
ao aluno em seu aprendizado.
Em contraste com o apego pós-moderno à mudança contínua, as
Sagradas Escrituras ensinam que o próprio Deus e, portanto, Seus
preceitos e mandamentos, são imutáveis. Como Seus seguidores,
recebemos a incumbência de lembrar de Suas verdades, Seus
mandamentos e de Sua fidelidade, em lugar de sermos movidos
pelos ventos da mudança. No Antigo Testamento, os israelitas
são reiteradamente exortados a relembrar a libertação de seus
antepassados efetuada por Deus. De igual modo, as famílias cristãs
que praticam a educação domiciliar no século XXI recebem a
incumbência de transmitir as verdades imutáveis das Escrituras e a
sabedoria do Senhor à próxima geração.
Um efeito imediato do apego à mudança na educação é que nossa
culturajánãoconsegueconcordarcomasrespostasaduasquestões
fundamentais: “Qual é a principal tarefa da educação?” e “O que as
crianças devem aprender?” Conforme David Hicks, em seu livro
Norms & Nobility (Normas & Nobreza), adverte, “nosso fascínio pelos
recursos técnicos, pela própria natureza das coisas, subverte a
principal tarefa da educação – o cultivar do espírito humano: ensinar
os jovens a saber o que é bom, servir
tal ideal mais que a si mesmo, repro-
duzir tal ideal e reconhecer que a
responsabilidade repousa no conhe-
cimento.5
É comum essa educação
moderna fascinada pelos recursos
técnicos oferecer uma gama deslum-
brante de matérias e eletivas, sepul-
tando as ferramentas de aprendizagem sob intensa burocracia e
sob os requisitos de provas padronizadas. Em contraste com isso, a
“...nossofascínio
comrecursostécnicos...
subverteaprincipal
tarefadeeducação...”
—David Hicks
Norms&Nobility
15. 15
educação clássica oferece uma missão tripla bastante clara: ajudar
os alunos a dominar um núcleo de conhecimento cuidadosamente
selecionado;ensinare usarasferramentasde aprendizagem;exortar
os alunos a que busquem o que é verdadeiro, belo e bom. Simpli-
ficando, a educação moderna valoriza a quantidade, enquanto a
educação clássica valoriza a qualidade.
Durante séculos na civilização ocidental, educadores e pais recon-
heceram universalmente uma base nuclear de conhecimento,
frequentemente chamada de “cânone educacional”. Os educa-
dores, dotados de um senso inabalável de propósito, norteavam
seus alunos rumo ao domínio desse conhecimento essencial que
incluía literatura, redação, matemática, geografia, história, ciência,
belas artes e Latim. O resultado final desse esforço conjunto de
professor e aluno era um indivíduo culto, amplamente dotado de
conhecimento e discernimento. Em anos recentes, tal base nuclear
de conhecimento foi sepultada ou removida completamente dos
currículos da moda que dificultam a aquisição de conhecimento. O
movimento de educação clássica visa resgatar tal núcleo perdido,
facilitando a descoberta de conhecimentos e competências atem-
porais por parte do aluno.
Quando imaginamos uma educação moderna, especialmente em
níveluniversitário,nósimediatamentepensamosemespecializações.
Ao procurarmos conhecer uma pessoa, perguntamos, “O que você
O Modelo Esquecido
Educação Moderna
Economia
Governo
Filosofia
Matemática
Belas Artes
Língua
Ciências
História
16. 16 EducaçãoClássicaCristã...AccessívelaTodos
cursou?”Via de regra, é a primeira pergunta que nos vem à mente. A
educação clássica resiste à especialização prematura, preparando os
alunos numa ampla gama de conhecimento de muitos assuntos, de
formaqueosalunosvenhamasercidadãosbemequilibradosebem
informados. Não é incomum chamarmos esse tipo de indivíduo de
“Homem Renascentista”, ou polímata.
Consideremos por um instante os fins
contrastantes da educação moderna
e da Educação Clássica Cristã. Focada
somente na ciência natural e no mundo
material, a educação moderna nega
qualquer realidade transcendente,
qualquer coisa que vá além dos fatos
que podem ser avaliados com nossos
cinco sentidos. Os objetivos dessa
educação, portanto, estão necessaria-
mente restritos à compreensão de
detalhes físicos e de como manipulá-
los. Tal cosmovisão naturalista se opõe
diretamente à teologia cristã ao ignorar
as partes não-físicas do ser humano – ou seja, seu coração, sua
mente e sua alma. As Sagradas Escrituras proclamam cristalina-
mentequeumapessoacompletanãoémeramenteumcorpo,mas
sim uma união de corpo, mente, coração, e alma - partes distintas
que precisam operar harmonicamente. David Hicks explica a
tragédiadaeducaçãomodernadaseguinteforma:“Quandoaceita-
mosatiraniadorealsobreoideal,nósnegamosoespíritohumano–
o melhor da aprendizagem e o melhor do homem”.6
Enquanto a
educação moderna procura apenas e tão somente impulsionar o
aluno em direção ao objetivo utilitário de uma carreira de sucesso,
a Educação Clássica Cristã visa nutrir o ser integral, preparando-o
para participar plenamente de todos os âmbitos deste mundo e do
próximo.
Uma das formas que a Educação Clássica Cristã se dirige à pessoa
integral é fazendo perguntas atemporais como“o que é o homem
Quandocontemplo
osteuscéuse
contemplo,obrade
teusdedos,aluae
asestrelasqueali
firmaste,pergunto:
Queéohomem,
paraquecomele
teimportes?Eo
filhodohomem
paraquecomelete
preocupes?
Salmo 8.3-4
17. 17
e quais os propósitos de sua existência?” Já na época do Rei Davi,
essa era a inquirição lógica do pensamento humano. No Salmo 8,
Davi pergunta “o que é o homem para que você está consciente
dele, o filho do homem que você se importa com ele?”7
Na Grécia
antiga, Platão labutou para definir o homem com precisão. Numa
tentativa humorística de aplicar classificações animais às pessoas,
ele chamou o homem de“um bípede sem plumas”.
Infelizmente, os pós-modernistas não atentam para a ironia desse
comentário em sua corrida desenfreada para aplicar a investigação
científica a todas as áreas da vida humana. A Educação Clássica
Cristã não ignora - mas restaura - essas investigações atemporais
ligadas às questões mais importantes da vida.
A maioria das pessoas reconhece que a educação moderna está
repleta de problemas. A maioria dos críticos, no entanto, enxerga
apenas os sintomas - queda nas taxas de alfabetização, baixo
desempenho em exames de ciências e matemática, e inexistência
de competência quanto à escrita e a fala. A fim de “reparar as
ruínas”8
, parece-nos mais adequado atentarmos para algumas
causas desses problemas. Devemos ir além do simples criticar o
sistema, visando oferecer uma alternativa positiva. Essa alternativa
positiva é a Educação Clássica Cristã.
A crescente frustração dos pais com a falência da educação
moderna faz com que buscassem alternativas. A educação clássica
vem ganhando força à medida que mais e mais famílias se voltam
para o ensino doméstico clássico, assim como escolas clássicas
cristãs são abertas em todo o país. O movimento de educação
clássica foi rejuvenescido pelo discurso de Dorothy Sayers aos
professores, em Oxford, 1947, intitulado “As Ferramentas Perdidas
da Aprendizagem”. Sayers lamenta, “Não é o grande defeito de
nossa educação hoje que embora muitas vezes consigamos
ensinar nossos alunos, nós falhamos lamentavelmente no objetivo
em ensiná-los a como pensar? Eles aprendem tudo, exceto a arte
de aprender”.9
Dessa forma, além de ensinar um conteúdo nuclear
de conhecimento, a educação clássica prepara os alunos para uma
aventura de aprendizado ao longo da vida, ensinando-os a pensar.
O Modelo Esquecido
18. 18 EducaçãoClássicaCristã...AccessívelaTodos
ODiferencialdaEducaçãoClássicaCristã
Pais e educadores que desejam
transmitir uma Educação
Clássica Cristã devem
treinar os alunos a
enxergar a integração
de todos os assuntos.
Os estudantes
cristãos clássicos
devem ser treinados a
perguntar como todos
os assuntos se encaixam
e para contemplar como
as conexões entre ciência e
linguagem ou história e filosofia aprofundam nosso conheci-
mento e compreensão. Um dos principais problemas dos modelos
educacionais modernos é que eles colocam o aluno no centro da
experiência de aprendizagem e o apresentam à matemática, às
ciências, às artes plásticas e à história em bolhas distintas, como se
seu raciocínio acerca de todos esses assuntos não tivesse relação
umcomooutro.Emvezdisso,umaEducaçãoClássicaCristã coloca
Deusnocentroeensinaosalunosaenxergartodooconhecimento
como proveniente e governado por Ele, sendo, portanto, relacio-
nado. Os estudantes da civilização ocidental devem ser capazes
de conectar seus conhecimentos de artes plásticas aos eventos
tratados ontem, e depois à evidência de design no universo.
A Educação Clássica Cristã reconhece que não vivemos em um
“multi-verso”, mas sim num“uni-verso”.
19. 19
“Comsabedoriaseconstróiacasa, ecom
discernimentoseconsolida.Peloconhecimento
seuscômodosseenchemdoqueépreciosoe
agradável”.Provérbios 24: 3-4
Comohaveremos,então,deestudar?
O ponto culminante de uma Educação Clássica Cristã não é
um acumular de fatos desconexos adquiridos por meio de
memorização mecânica. Em lugar disso, a educação clássica
avança firme e progressivamente rumo à aquisição de sabedoria.
O projeto para construir uma alma sábia é encontrado em Provér-
bios 24:3. Nesse texto, o escritor descreve metaforicamente a alma
como sendo uma casa. Educadores clássicos fincam as bases para
a casa na primeira infância, com histórias e fatos que satisfazem a
crescente curiosidade da criança. Em outras palavras, fincamos a
base transmitindo conhecimento de fatos e princípios. À medida
que a criança amadurece, nós a instruímos na conciliação de
ideias e na compreensão do “PORQUÊ”, bem como de “O QUÊ”.
Dessa forma, as paredes e o teto da casa são firmados através da
compreensão. Finalmente, adornamos a casa com sabedoria, que
Provérbios descreve como tesouros ricos e belos.
No passado, os educadores cristãos entenderam corretamente que
suatarefanãoeraadegerarumtrabalhadorútil,masumserhumano
virtuoso. Os alunos foram ensinados a procurar e a valorizar aquilo
que é verdadeiro, bom e belo acima do que é novo, proveitoso e útil.
O Modelo Acessível aTodos:
OTrivium
20. 20 EducaçãoClássicaCristã...AccessívelaTodos
Em lugar de concentrar todos os seus esforços em garantir uma boa
carreira para os filhos, pais e tutores deveriam projetar os materiais e
métodos educacionais de forma que se concentrem principalmente
em proteger cuidadosamente da alma da criança.
Como pode ser isto alcançado? Seguindo as tradições da Educação
ClássicaCristã.Omodelocristãoclássiconãosebaseianaeducação
de Atenas, embora os primeiros pais da Igreja tenham recuperado
alguns desses métodos para o trabalho cristão. Em vez disso,
o modelo cristão clássico que este livro procura definir é o do
Trivium medieval. O Trivium, em Latim“três estradas”, refere-se aos
três estágios do aprendizado: gramática, dialética e retórica. Esse
caminho de maturidade também corresponde ao conhecimento,
compreensão e sabedoria nas Escrituras. A mente de uma criança
progride em acumular fatos, em compreender os fatos, para fazer
escolhas sábias e virtuosas que honram a Deus.
A gramática, o primeiro estágio, corresponde basicamente
às idades iniciantes, indo até o aluno ter onze ou doze anos.
Dorothy Sayers denominou isso de estágio “Papagaio”, refletindo
a tendência natural de crianças pequenas quanto a repetirem o
que estão ouvindo e aprendendo.10
A memorização é algo natural
para esses estudantes novos em idade, sendo preparação funda-
mental para os níveis avançados de raciocínio. O educador sábio
optará por se utilizar dessas tendências naturais, fornecendo aos
alunos informações ricas e úteis para memorizar. Um estudante de
gramática, portanto, é basicamente absorvido na memorização de
fatos e princípios rudimentares de qualquer assunto.
O segundo estágio do Trivium, a dialética, aflora em crianças entre
doze e quatorze anos. Nesta idade chamada de etapa do “atrevi-
mento” por Sayers, os alunos se interessam naturalmente em
debater e a tudo questionar, desde limites políticos até às eleições
enormasestipuladaspelospais.Oqueaparentaserumatendência
nesses alunos de argumentar, ou mesmo de replicar, não passa de
umdesejodesistematizarosprópriospensamentosecompreender
os fatos acumulados durante os anos de gramática. Em vez de
reprimir o desejo de argumentar, pais e tutores devem nortear
com sabedoria, ensinando lógica e como debater, de forma que
21. 21
os alunos aprendam a raciocinar e a argumentar com clareza, de
forma respeitosa e persuasiva. Os pais podem direcionar os alunos
através da conciliação de conceitos principais, fazendo perguntas
que esclareçam e refinem os pensamentos, conversando sobre
uma ampla gama de conceitos na literatura, atualidades, política
e filosofia. O currículo clássico cristão complementa o crescente
desejo do aluno de pensar dialeticamente ao ensinar matérias
analíticas, como álgebra, lógica formal e técnicas de debate.
Gramática e dialética, as duas primeiras etapas da educação
clássica, prepararam o aluno para a fase da retórica. Sayers
chamou isso de estágio“poético”, homenageando, por assim dizer,
o profundo desejo dos alunos pela auto-expressão criativa. Ao
avançarem para a retórica, os alunos já armazenam um conheci-
mento nuclear e aprenderam a pensar de forma crítica a respeito
desses fatos e conceitos. Consequentemente, estarão prontos a
praticar a arte de comunicar suas ideias aos outros. A Educação
Clássica Cristã estimula essa prática através do estudo de técnicas
de comunicação oral e escrita. Isso inclui tanto a organização dos
pensamentos quanto o estilo de apresentar tais pensamentos. Ao
final dessa fase, os alunos deverão ser capazes de falar e escrever
persuasiva e eloquentemente sobre qualquer assunto que tenham
estudado.
Uma das premissas fundamentais da educação clássica é a
importância das palavras. Para o cristão em especial, isso é
particularmente verdadeiro. A Bíblia nos diz que Jesus é a
Palavra que se fez carne.
Durante a etapa dialética, ensinamos o aluno a não se deixar
enganar pelas palavras dos outros; durante etapa retórica, ensi-
namosoalunoacativarosoutroscomsuaspalavras.Nenhumaoutra
competência é tão fundamental para a divulgação do Evangelho
quantoacapacidadedefalarepersuadir.Nossosalunosdevemestar
sempre preparados para defender sua fé. Alunos formados pelo
ensino domiciliar clássico cristão podem usar sua mente treinada
para reaver nossa cultura e espalhar o Evangelho. Alicerçados nas
Escrituras, tais alunos, em última análise, foram aparelhados pela
sua Educação Clássica Cristã a perceber tanto as belezas.
O Modelo Acessível aTodos: OTrivium
22. 22 EducaçãoClássicaCristã...AccessívelaTodos
OTrivium
Etapa
Idades
Aproximada
Foco nas Competências
GRAMÁTICA 4-12 Memorizar e Recitar
DIALÉTICA 12-14 Raciocinar, Analisar e Debater
RETÓRICA 14-18 Discutir, Escrever, Falar
EstágioI:Gramática–LançandooAlicerce
Contrariamente à imagem mental imediata evocada pela palavra,
a gramática não é sobre ensaios recheados de círculos vermelhos
indicando vírgulas, maiúsculas e palavras com erros ortográficos. O
dicionárioWebsterde1828definegramáticacomosendo“aciência
do vocabulário”. Cada um dos temas nucleares - literatura, escrita,
matemática, geografia, história, ciências e as belas artes - possui
“gramática” própria - que precisa ser dominada para que o aluno
consiga estudar o assunto em profundidade.
O Método - Como o Aluno de Gramática Deve Aprender?
As crianças pequenas são naturalmente propensas à memorização.
Caso duvide disso, peça a seus filhos que cantem o ABC ou repro-
duzam um comercial de televisão recente. Deus projetou o cérebro
da criança com uma facilidade inata para memorizar, a fim de
prepará-lo para as próximas etapas da aprendizagem. Crianças
aprendem a falar Inglês (ou qualquer outra língua materna)
E
C
O
As
scrituras
As
ompetências
O
bjetivo
“Quetodasestaspalavrasquehojelheordeno
estejamemseucoração.Ensine-ascom
persistênciaaseusfilhos”. Dt. 6:6-7a
“Guardeinocoraçãoatuapalavraparanão
pecarcontrati”. Sl 119.11
MemorizaçãoeRecitação
Conhecimento
23. 23
ouvindo os outros e memorizando sons e palavras. Crianças em
idade pré-escolar aprendem a ler memorizando o alfabeto e os
sons a ele associados.
Mesmo antes de saberem ler, crianças pequenas costumam
memorizar um livro ilustrado inteiro que foi lido para elas, de forma
a poderem “ler” para si mesmas. Compreender essa inclinação
natural fornece o método adequado de educação para a idade
apropriada. Já que as crianças de quatro a doze anos são hábeis
no memorizar e no recitar, a educação clássica lhes fornece um rico
conteúdo para praticar nessa faixa etária.
Desde as escolas clássicas da antiguidade até as escolas de Ensino
Fundamental dos Estados Unidos do século dezenove, todas traba-
lharam com a propensão dos alunos para memorização, promov-
endo períodos diários de recitação. Os alunos soletravam palavras,
recitavam palavras em Latim, e declamavam poesias. Alunos do
que hoje seria a 8a. série ouviam as recitações dos alunos do que
seria hoje a 7a. série (revisando, assim, o que haviam aprendido
no ano anterior). Aí, depois de recitar sua própria tarefa, os alunos
da 8a. série tinham uma prévia do que seriam suas lições futuras,
ouvindo as recitações da 9a. série. Dessa forma, todos os alunos da
sala de aula passavam por uma contínua revisão.
EstágioII:Dialética-Adicionando
Paredes,oTelhadoeaPorta
O Modelo Acessível aTodos: OTrivium
E
C
O
As
scrituras
As
ompetências
O
bjetivo
“RespondeuJesus:‘AmeoSenhor,oseuDeusde
todooseucoração,detodaasuaalmaedetodo
seuentendimento”. Mt 22.37
“Entãolhesabriuoentendimento,paraque
pudessemcompreenderasEscrituras”. Lc 24.45
Pensandoequestionando
Compreendendo
24. 24 EducaçãoClássicaCristã...AccessívelaTodos
Os discípulos de Jesus eram bons alunos de gramática. Conheciam
a lei e os profetas por meio da memorização. Quando esteve com
eles, a Palavra de Deus diz que Jesus “lhes abriu o entendimento,
para que pudessem compreender”. (Veja a página anterior.) Sob a
tutela de Jesus, os discípulos avançaram para o estágio dialético de
compreenderoreinodeDeus.Semelhantemente,porvoltadosonze
ou doze anos, a criança passa do estágio gramatical do desenvolvi-
mento para o estágio dialético. Um aluno na etapa dialética não se
dáporsatisfeitoemresponderàpergunta“OQUÊ?”,acumulandoum
certo conteúdo de fatos. Em vez disso, está ansioso para entender os
fatos;daícomeçaaperguntar“PORQUÊ?”.Umalunodeestágiodialé-
ticonãosecontentamaisemouvirashistóriasdaBíbliasobreoÊxodo
e repetir os fatos. Em lugar disso, tem interesse na compreensão da
justiça da punição de Deus a Moisés, que negou-lhe a entrada na
Terra Prometida depois de quarenta anos aguentando um povo que
mais se parecia com um bando de crianças
resmunguentas.Alunosdaetapadialéticajá
conhecem os fatos. Agora, eles anelam por
um entendimento mais profundo.
O Método - Como os Alunos de Dialética
Devem Aprender?
Já que um objetivo distintivo da Educação
Clássica Cristã é abraçar a atividade de
pensar com clareza, não há como enfatizar
essa etapa dialética de forma exagerada. Hicks demonstra como a
dialéticaéprimordialàeducação:“Semdialética,ohomemsópode
se conhecer parcialmente e o universo apenas como um conjunto
de partes, mas com a dialética, ele se vê como parte do todo e
enxerga todas as partes em relação ao todo”.11
O estágio dialé-
tico desafia o aluno a correlacionar as partes - a compreensão das
mesmas, os conceitos e a experiência - a uma verdade, bondade, e
beleza completas e transcendentes. Essa atividade humilhante se
mostra fundamental na constituição da fornalha depuradora do
lar: uma atitude de compreensão. O estágio dialético desenvolve
a integridade das paredes, do teto e das porta da casa, permitindo
que ela isole e avalie adequadamente as miríades de conceitos que
baterão à porta, tentando entrar na casa“sem pedir licença”.
É comum os pais se sentirem desconcertados e contrariados
“Semdialética,o
homemsópode
seconhecercomo
umaparteeo
universoapenas
comoumconjunto
departes...”
—David Hicks
Norms&Nobility
25. 25
quandoosalunosentramnessafase,porqueatendêncianaturalde
debater pode soar como rebeldia. Em lugar de ceder a tal tentação,
devemos aprender a trabalhar com o desejo que os alunos tem
de compreender, ajudando-os a aprender a fazer boas perguntas
e responder a essas mesmas perguntas, a aplicar os conceitos da
lógica formal a seu próprio raciocínio e ao raciocínio dos outros,
e a debater de forma adequada e respeitosa. Essa fase também é
confusaparaosalunos,poisprocuramconciliarconceitos,entender
a cosmovisão de seus pais e lidar com suas próprias crenças.
Aparelhados com as ferramentas adequadas, os pais e os alunos
podem aprender a pensar os grandes conceitos e formar juízos de
valor com relação aos mesmos. Ao desenvolver a arte do pensar e
da comunicação oral e escrita desses conceitos, esses pais e alunos
encontrarão cinco tópicos comuns12
à sua disposição. Tais tópicos,
ou formas mais profundas de pensar mais sobre um assunto, são
comumente ensinados em cursos de lógica formal e relacionados a
cursosretóricosarespeitodeinvenção.Oscincotópicoscomunssão:
Definição: Um modo de desdobrar o que está contido no
assunto em discussão. Faça a pergunta:“O que é x?”Ou“O
que se quer dizer com o termo x?”Umexemploseriadefinir
o que se entende pelo termo evolução. Quem o usa tem em
menteamacroevolução(espéciesquesofremmutaçãopara
outras espécies) ou microevolução (pequenas mudanças
dentrodasespécies)?Essadefiniçãopossibilitaoprocessode
refinamentodospensamentos.
Comparação: Uma estratégia para reunir duas ou mais
coisas, visando estudá-las mais a fundo, para encontrar
semelhanças, diferenças, superioridade ou inferioridade.
Pergunte algo semelhante a:“Como é que x se compara a
y?”Umexemploseriaumprojeto emqueosalunoscompara-
riam liberdade e autoridade despreocupada, buscando
compreender como cada qual é limitada ou expandida por
umgovernodemocrático.
Relação: Uma forma de pensar relacionada a causa e
efeito, bem como de outras relações. Pergunte algo
semelhante a: “O que causou x?” Um trabalho de História,
nessecaso,poderiaserassimdescrito:Quaissãoasprincipais
causasdaIndependênciadoBrasil?
O Modelo Acessível aTodos: OTrivium
26. 26 EducaçãoClássicaCristã...AccessívelaTodos
Circunstâncias: Uma forma de pensar relacionada
ao que é possível e o que não é possível, entre outras
ideias relacionadas a ações passadas e futuras. Formule
perguntas do tipo: “Essa ideia é possível?”, e aí, “Por que
sim ou por que não?” Por exemplo, pode-se perguntar aos
alunos se seria possível inserir o modelo clássico de ensino
nosistemaescolarpúblico.Ouentão,poderiaseperguntara
eles seosistemaescolarpúblicopoderiaserbanido,eemseu
lugaroferecerapenasopçõesprivadas.
Testemunho: Buscando, a partir de fontes externas, provas
ou questionamentos a certos conceitos, e suas conclusões.
Pergunte: “O que os especialistas dizem a esse respeito?”
As fontes incluem autoridades, depoimentos, estatísticas,
máximas, leis e precedentes. No exemplo acima, do ensaio
a respeito da Independência do Brasil, os alunos teriam que
fornecer apoio à lista de causas da Independência do Brasil
comestatísticaseevidênciasvindasdeautoridadesdahistória.
Pais e alunos podem se valer desses cinco tópicos comuns para
refinar suas ideias acerca de uma ampla gama de assuntos relativos
à história, literatura, ciências, filosofia e eventos atuais. Através do
diálogo,osalunosaprenderãoquetodososconceitosnãosãoiguais
e que boa intenção não equivale a agir em conformidade com a
verdade.Paissábiosapresentarãoideiasqueconflitamdiretamente
com os valores de seus lares, de forma a forçar os alunos a refinar e
defender suas convicções. Um conceito ou princípio que contiver
verdade duradoura permanecerá firme quando contestado. Se isso
não for possível, então pais e alunos deverão refinar seu entendi-
mento do assunto e reavaliar sua posição relativa ao mesmo.
Tal estágio dialético é a etapa mais negligenciada na educação
moderna das últimas duas gerações. Por que foi tão negligen-
ciado? A educação moderna é obcecada com conteúdo que pode
ser medido, em vez de dar atenção a grandes ideias que moldam
o coração, a mente e a alma - ou seja, uma apreciação pelo que é
verdadeiro, bom e belo. Educadores modernos negligenciam a
dialética pelo simples motivo de que não se pode atribuir pontu-
ação ou nota a tal exercício acadêmico. É comum cristãos negli-
genciarem o estágio dialético por uma razão diferente: medo de
ideias questionadoras que pressupomos ser uma questão de fé.
Tal pressuposição, entretanto, reflete um entendimento parcial das
Escrituras, que contém diversos exemplos de homens levantando
questionamentos a fim de buscar a sabedoria do Senhor. Na
Educação Clássica Cristã, a chave está em procurar obter uma
27. 27
compreensão mais profunda dos princípios de nossa fé.
Pais devem buscar esse equilíbrio de forma diligente, e não negli-
genciar o aprendizado natural e importante que ocorre por meio
desse intercâmbio dialético.
Mais do que nunca, estudantes de dialética (e seus pais!) precisam
empregar tempo mergulhados em bons livros e conceitos impor-
tantes, e discuti-los com seus pais e colegas. É fundamental para os
estudantesdedialéticaesmiuçaremosgrandesconceitos-pesandoo
quedeverdadeiro,bomebeloestánelescontidos,descobrindooque
é digno de imitação, rememorando os temas universais da existência
humana e do vício e da virtude. Tais alunos devem aprimorar suas
técnicas de debate estudando lógica formal e discutindo juntos os
eventos atuais. Na ciência, precisam conhecer as grandes mentes e
as grandes descobertas, apresentando tal conteúdo a seus colegas.
Alunos também devem ser desafiados a começar a estudar a fundo
o Latim - a língua que se constitui na base do vocabulário de línguas
como o Inglês e o Português – assim como o vocabulário técnico das
ciênciaseosclássicosdaliteraturaedahistória.
FaseIII:Retórica-EnchendoaCasacomTesourosPreciosos
Para a mente pós-moderna, a palavra retórica evoca a imagem de
políticos impecavelmente trajados, manipulando uma plateia ou
simplesmente mentindo descaradamente. Na visão mais benevo-
O Modelo Acessível aTodos: OTrivium
E
C
O
As
scrituras
As
ompetências
O
bjetivo
“EnquantoesperavaporelesemAtenas,Pauloficou
profundamenteindignadoaoverqueacidade
estavacheiadeídolos”. At 17.16
“Antes,santifiquemaCristocomoSenhorem
seucoraçãoEstejamsemprepreparadospara
responderaqualquerpessoaquelhespedirarazão
daesperançaqueháemvocês”. 1 Pe 3.15
ExpressãoPoética
ePersuasiva
Sabedoria
28. 28 EducaçãoClássicaCristã...AccessívelaTodos
lente do termo, pensamos frases de impacto astutas ou comerciais
chamativos.Emlugardisso,deveríamosnosconcentraremresgatar
o sentido original da palavra retórica, que incluía 3 aptidões:
• Uma apreciação pelo verdadeiro, bom e belo
• A capacidade de falar de forma eloquente e persuasiva
• Um caráter virtuoso
Até mesmo na Grécia e Roma pagãs, o objetivo de uma educação
clássica era cultivar cidadãos virtuosos. Como cristãos, devemos
nosesforçaraindamaisparabuscaroqueéverdadeiro,bomebelo,
ondedescobrimososatributosdeDeus.Nossareaçãoseráodesejo
de viver corretamente diante de Deus e espalhar o louvor por Sua
criação e Sua história.
Na viagem de Paulo a Atenas, ele procurou os filósofos gregos que
começaram a contender com ele. Paulo conhecia a cultura deles, a
ponto de entender o sistema religioso em que viviam. Por isso, ele
foi capaz de argumentar com eles, dizendo:
Então Paulo levantou-se na reunião do Areópago e
disse:“Atenienses!Vejo que em todos os aspectos
vocês são muito religiosos, pois, andando pela cidade,
observei cuidadosamente seus objetos de culto e
encontrei até um altar com esta inscrição: AO DEUS
DESCONHECIDO. Ora, o que vocês adoram, apesar de
não conhecerem, eu lhes anuncio. Atos 17:22-23
Isto é a autêntica retórica - proclamar a verdade da melhor maneira
para que seu público seja transformado.
O Método - Como Estudantes de Retórica Devem Aprender?
Como os estudantes de dialética, os alunos de retórica precisam
investir tempo (sozinhos) encontrando importantes conceitos
e depois investir tempo juntos discutindo e conciliando essas
grandes ideias. Agora estão preparados para adentrar as grandes
conversas que têm se perpetuado através da história da humani-
dade. Em Norms & Nobility, David Hicks delineia algumas das
perguntas monumentais que moldaram tais conversas:
• Qual é o propósito e significado da existência humana?
• Quais são direitos e deveres absolutos do ser humano?
• O que é o bem? E o mal?
29. 29
• Qual o significado da vida? Da morte?
• O que é moralidade, se cada qualidade da vida é reduzida
ao que é conveniente ou ao que gera maior prazer?
• O que é verdade, se todo conhecimento brota da análise
científica de dados físicos?13
Tais perguntas haverá de nortear o estudante de retórica cada vez
mais rumo à obtenção da sabedoria. À medida que amadurece,
o aluno de retórica é capaz de se digladiar com conteúdo cada
vez mais difícil em matemática, Latim, literatura, história, ciências
e artes. Ele deverá se concentrar no expressar de suas ideias via
debates, discursos, palestras, poemas e ensaios. Já que ele domina
tais assuntos, deverá ser capaz de instruir outros.
Alunos de retórica moderna podem aprimorar tais competências prati-
candoasartesincluídasnos“CincoCânonesdaRetórica”deAristóteles.14
Os Cinco Cânones da Retórica
Inventio
(Invenção)
Decidindooquedizer,esboçandoeplanejando
Dispositio
(Arranjo)
Arranjar os pensamentos de maneira lógica e
organizada
Elocutio
(Estilo)
Expressar os pensamentos no estilo mais
persuasivo no apelar ao público
Memoria
(Memória)
Memorizar o discurso
Pronuntiato
(Entrega)
Entregar o discurso
Os Cânones da Retórica são praticados através de ensaios, debates,
palestras e discursos. O estudante cristão reconhecerá tais hábitos
mentais mais claramente observando um sermão de domingo. O
pastor primeiro escolhe uma passagem das Escrituras para ensinar e
depoisesboçaosermão(inventio).Aolongodasemana,eleorganiza
seus pontos, transformando tudo num sermão lógico e organizado,
e acrescentando sua pesquisa de outras passagens das Escrituras e
decomentáriosbíblicos(dispositio). Então, le leva emcontaomelhor
estilo para transmitir seu sermão à congregação (elocutio). Inicia sua
O Modelo Acessível aTodos: OTrivium
30. 30 EducaçãoClássicaCristã...AccessívelaTodos
pregaçãocomumahistóriaoupiada,incluiostrêspontosprincipaise
encerracomumaaplicaçãopessoalouumaexortaçãoàação.Poste-
riormente,elememorizaosermão(memoria)eoprega(pronuntiato).
Alunosderetóricapodemseguiromesmoprocessoaoescreverum
trabalho sobre a Segunda Guerra Mundial, compondo um ensaio
convincente a respeito de Jane Eyre ou fazendo uma palestra refer-
ente à arte. Precisam ser lógicos e persuasivos ao conclamar seu
público para pensar ou viver de maneira diferente. Tais trabalhos
já não são mais os relatórios de leituras feitas ou relatórios de
história factual produzidos pelo aluno de gramática que simples-
mente resume as ações das batalhas da Segunda Guerra Mundial
ou descreve o enredo do romance. Em lugar disso, são argumentos
aprimorados e persuasivos que levam a plateia a pensar e a viver
de maneira diferente. A pesquisa sobre a Segunda Guerra Mundial
poderia argumentar que os Aliados não teriam vencido a guerra
sem as táticas do Dia D ou que o uso da bomba atômica foi justa
e necessária. O ensaio persuasivo acerca de Jane Eyre poderia
compararecontrastaraéticadeJanecomadosleitoresmodernose
avaliar quais padrões geram indivíduos e uma sociedade melhores.
Conforme descrito acima, o Trivium apresenta aos educadores e
pais um caminho claro para nortear a criança rumo à maturidade
eàsabedoria.Osobjetivosecompetênciasclaramentedefinidas,
associadas a cada etapa, fornecem aos pais um modelo claro.
Durante a fase gramatical (idades de 4 a 12 anos), os pais podem
se concentrar no catecismo,
no trabalho de memória
que prepara os filhos
para futuros estudos
e nas histórias que
alimentam a imagi-
nações deles. Pais
de alunos de dialé-
tica (idades 12-14)
podem estruturar a
educação dos alunos
em torno de discussão,
31. 31
debate, lógica e raciocínio para alimentar o interesse que se
aprofunda, visando o conhecimento do mundo que os cerca.
Para alunos de retórica (idades 14-18), os pais podem orientá-
los através da auto-expressão, à medida que se comunicam com
os outros. Com tais objetivos bem delineados e uma cosmovisão
bíblica que os norteia, alunos de uma Educação Clássica Cristã
estarão preparados para a doxologia enquanto “ecoam celeb-
rando”a criação de Deus.
O Modelo Acessível aTodos: OTrivium
34. 34 EducaçãoClássicaCristã...AccessívelaTodos
Francis Schaeffer, missionário e filósofo cristão, chamou sua grande
históriadacivilizaçãoocidentaldeComoViveremos?16
Eleapresenta
aos seus leitores uma abordagem de arte e cultura desde a Grécia
antiga e Roma, até os tempos modernos. A conclusão de seu livro
e do título são um conclamar à ação. À luz da história dos seres
humanos e da essência de nossos tempos pós-modernos, qual será
nossa resposta? Como vamos viver?
Daformasemelhante,umsistemaeducacionaldevelevaremconta
duas perguntas importantes: “O que devemos estudar?” E “Como
devemos estudar tal conteúdo?” Essas duas perguntas consi-
deram o conteúdo da educação e a metodologia para comunicá-
lo. Já analisamos a metodologia da Educação Clássica Cristã, que
é oTrivium - o método de trabalhar com as inclinações naturais do
aluno em cada estágio de sua maturidade física e espiritual. Agora
precisamos pensar no conteúdo. Infelizmente, em nossas escolas
atuais, a resposta para a pergunta“O que devemos estudar?”muda
deanoparaanoedelivro-textoparalivro-texto.AEducaçãoClássica
Cristã oferece uma alternativa a essa inconsequente paixão pela
mudança, olhando para o conteúdo que tem sido digno de estudo
aolongodostemposeapresentandoummétododeestudoquese
provou bem-sucedido por milhares de anos.
Se conceituarmos a modalidade clássica como uma forma de
ensinar os alunos de acordo com suas aptidões, então pode-
remos afirmar corretamente que tal modelo pode ser usado para
estudar qualquer coisa, da carpintaria à astrofísica. Enquanto isso
se mostra verdadeiro, é igualmente verdade que os alunos bem
instruídos precisam dominar os assuntos nucleares da literatura, da
escrita, da matemática, da geografia, da história, das ciências e das
belas artes. Existem certos livros, autores, pensadores, cientistas e
artistas com quem toda pessoa educada deve estar familiarizada.
O conteúdo adequado prepara os alunos para discernir a diferença
entre verdade e mentira, bondade e maldade, beleza e feiura. Tal
material, estudado por meio da gramática, dialética e retórica do
Trivium, é o que edifica uma Educação Clássica Cristã.
35. 35
AsEscrituras
Uma educação que se propõe a ser“cristã clássica”deve promover
o estudo das Escrituras. Os alunos devem estar familiarizados com
as histórias da Bíblia, bem como com estudos mais profundos da
teologia. Pais de alunos da fase de gramática podem satisfazer a
curiosidade de seus alunos com uma Bíblia ilustrada para crianças,
de forma que estas se familiarizem com pessoas e eventos. Esses
anos também devem incluir muita memorização das Escrituras.
Os alunos da fase dialética apreciarão discutir questões teológicas
mais profundas, aplicando as verdades das Escrituras aos eventos
atuais. Os alunos de fase de retórica completarão esses anos ensin-
ando crianças mais novas ou talvez escrevendo seus próprios
cânticos de louvor.
O livro de Provérbios é repleto de exortações visando a busca da
sabedoria, e o Novo Testamento nos exorta a sermos transfor-
mados por meio de nosso sempre crescente conhecimento. Além
doconhecimentoedasabedoria,aBíbliaservecomoumexcelente
modelo de todas as formas literárias. Os Salmos fornecem belos
exemplos de poesia, o AntigoTestamento apresenta estórias narra-
tivas e história, enquanto o Novo Testamento exibe a sabedoria de
Jesus através de parábolas. Para o estudante do modelo clássico, a
Bíblia é a fonte do que é verdadeiro, bom e belo.
Literatura
Pense por um instante porque você ensina seus filhos a ler. Durante
a Reforma e os primeiros dias das colônias norte-ameri- canas, as
pessoas aprenderam a ler para que pudessem ler a Bíblia sozinhas.
A leitura é a aptidão fundamental para abrir todas as demais portas
do conhecimento. Na sociedade contemporânea, temos duas
questões de leitura a serem abordadas: uma é a alfabetização
básica (ser capaz de ler e entender as palavras contidas no texto)
e a segunda é a alfabetização cultural (ler e discutir obras de quali-
dade da literatura, história, matemática, ciências e filosofia, a fim de
compreender a própria herança cultural).
Nos primeiros anos da fase da gramática, os pais se preocupam
O Modelo Acessível aTodos: O Núcleo
36. 36 EducaçãoClássicaCristã...AccessívelaTodos
com a alfabetização básica. Esse é um assunto de acirrado debate
emcírculoseducacionaisqueincluempaiseeducadores,enquanto
analistas monitoram as taxas de alfabetização em queda em nosso
país. Os pais que educam os filhos através do ensino domiciliar
têm uma fixação - a instrução fonética. Desde os dias dos Fenícios,
as pessoas aprendiam a ler foneticamente memorizando os sons
associados às letras, combinando as letras para formar palavras
e as palavras para formar frases. Os Estados Unidos alçaram um
breve, porém desastroso vôo para longe desse método, desde
que os educadores progressistas na década de 1950 decidiram
seguir o método conhecido como“método global”, o que produziu
gerações de leitores deficientes, fracos no soletrar.
A educação clássica propõe um retorno ao método que funciona
– . . . a fonética. Em sua maioria, os educadores cristãos em escolas
particulares e em educação domiciliar têm conseguido reimple-
mentar com sucesso a instrução consistente de leitura. Este é um
bom primeiro passo, mas devemos progredir para o segundo nível
– . . . retomar da alfabetização cultural. Uma triste realidade da vida
contemporânea é que as pessoas não lêem o suficiente. Na década
de 1980, Neil Postman comentou a respeito da mudança de uma
cultura centrada em letras para uma cultura visual. Na introdução
de Amusing Ourselves to Death, ele analisa duas profecias concor-
rentesarespeitodomundomoderno,advindasdaliteratura.Umaé
o mundo de 1984, de Orwell, no qual um governo totalitário reduz
a alfabetização de forma proativa, ao vetar certos livros. A outra é
Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, no qual existem tantos
entretenimentos disponíveis que é desnecessário proibir um livro
porque ninguém quer se dar ao trabalho de ler.17
Quão mais profé-
tica esta última visão soa à luz da Internet? Uma Educação Clássica
Cristã busca resgatar o amor pela leitura dos clássicos.
Estudantes norte-americanos devidamente instruídos devem
estar familiarizados com os trabalhos – entre outros - de Shake-
speare, Jonathan Swift, Jane Austen, Charles Dickens, Ralph Waldo
Emerson, Herman Melville e C. S. Lewis. Não se trata de esnobismo
intelectual.Emlugardisso,estamosapresentandonossosfilhosaos
grandes mestres que moldaram o modo de pensar de nossa civili-
37. 37
zação. São os escritores que fizeram as melhores perguntas sobre
questões humanas e divinas, merecendo, portanto, nossa atenção.
Escrita
AssimcomoaEducaçãoClássicaCristãdefendeamplaleitura,educa-
dores clássicos também promovem a prática com a composição.
TODOS os grandes pensadores e líderes divulgam suas ideias por
escrito. A Era Digital põe em risco argumentos bem fundamentados
e eloquentes, reduzindo as nossas comunicações às elocuções
mais curtas e rápidas. Nossos alunos devem estar preparados para
contemplar conceitos difíceis, colocando-os por escrito para serem
partilhados com os outros. Como cristãos, devemos ensinar nossos
filhos a se expressarem por meio da palavra escrita. Mais uma vez,
somos relembrados de que a Bíblia chama Jesus de“a Palavra que se
fez carne”. Deus se revelou a nós e transmitiu Seu plano para nós por
escrito. Devemos influenciar as pessoas à nossa volta, tanto com a
palavra escrita, como com a palavra falada.
Alunos cristãos clássicos devem se atracar com a difícil tarefa de
colocar seus pensamentos no papel. Isso não significa que eles
pesquisamumcertoassuntonoGoogleourecortamecolamalguns
parágrafos daWikipedia. Em vez disso, eles devem ser capazes de ler
ospensamentosdosoutros,raciocinarsetaisconceitossãodignosou
não, e expressar suas conclusões em um ensaio coeso. A expressão
escritatantodesenvolve,quantoreflete,umraciocínioclaro.Aescrita
deve ser praticada com frequência, para que os alunos desenvolvam
clareza e estilo próprio. Tal qual um discurso apaixonado, a escrita
aprimorada convence os outros a buscar a verdade.
Matemática
Uma das habilidades perdidas na educação moderna é a facilidade
com números. Ironicamente, enquanto reconhecem a importância
ímpar da alfabetização, nossos sistemas educacionais modernos
não ensinam a alfabetização básica. A mesma ironia está presente
na matemática. Educadores modernos afrouxam os padrões,
enquanto,aomesmotempo,afirmamqueamatemáticaeaciência
são as aptidões necessárias para o sucesso em meio a uma nova
O Modelo Acessível aTodos: O Núcleo
38. 38 EducaçãoClássicaCristã...AccessívelaTodos
economia globalizada. Estudantes da educação clássica devem ter
que praticar diariamente o uso de números até que os cálculos e
as equações sejam concluídos sem maior esforço. Um aluno que
aprende a usar uma calculadora não domina os números como o
aluno que aprende a dominá-los com a mente. Considere esta ilus-
tração de instrução matemática de uma época passada:
A aritmética mental era ainda mais difícil. Laura não
gostava de aritmética. Seu coração disparava quando
chegava sua vez e ela tinha certeza de que falharia.
Ela ficou impressionada, ouvindo sua voz passar por
problemasdedivisão.“Divida347.264por16.Dezesseis
cabeem34duasvezes,sobram2,baixao7;16cabeem
27 uma vez, e sobram 11; baixa o 2; 16 cabem em 112
sete vezes, sobra 0; baixa o 6, que não é divisível por
dezesseis; acrescenta um 0 e baixa o 4; 16 cabe 4 vezes
em 64. Trezentos e quarenta e sete mil duzentos e
sessenta e quatro dividido por dezesseis é igual a vinte
e um mil, setecentos e quatro”.18
No século XVIII, tinha-se como certo que uma aluna de quatorze
anos poderia completar uma divisão longa de cabeça. A educação
moderna, com o acréscimo de calculadoras e atalhos de apren-
dizado, fez mais do que nos roubar essa capacidade – ensinou-nos
aacreditarnamentiradequealgodifícilé,narealidade,impossível.
A solução, assim como nas demais matérias nucleares, é resgatar
as ferramentas perdidas de aprendizagem delineadas por Sayers.19
A chave simples para dominar a matemática é cultivar a disciplina
de se exercitar diariamente com números. As crianças pequenas
devem completar uma aula de matemática, incluindo exercí-
cios de matemática, diariamente. Alunos mais velhos devem
continuar nesses hábitos e precisam aprender a trabalhar de forma
organizada e metódica, exibindo cada etapa de cada problema.
Alunos de todas as idades devem ser capazes de explicar verbal-
mente como resolver um problema de matemática, assim como
criar seus próprios problemas por escrito.
Por fim, os alunos devem aprender o vocabulário técnico de
matemática. Os alunos de educação clássica abordam matemática
39. 39
como fariam com uma língua estrangeira, e devem aprender a
definir palavras como secante, diâmetro, ângulos inscritos e polinô-
mios. Na busca desenfreada pela modernização de todos assuntos,
os educadores perderam seu senso de direção. Diane Ravitch,
analista de educação, relatou recentemente:
Em uma comparação entre um livro de álgebra de 1973
e um livro didático de“matemática contemporânea”de
1998,WilliamsonEversePaulCloptonencontraramuma
mudança nos tópicos. No livro de 1973, por exemplo,
o índice da letra “F” incluía “fatores, fatoração, falácias,
fórmulas, frações e funções”. No livro de 1998, o índice
relacionou“famílias(dadosdepobreza),fastfood(dados
de nutrição), fast food (índice de gordura), futebol, Ford
Mustang, franquias e fundos de carnaval (angariar)”.20
Livros didáticos não mais instruem os alunos na linguagem da
matemática, pois ficaram emaranhados nos problemas sociais.
Além disso, os educadores esqueceram que aprender fatos básicos
de matemática é emocionante e algo novo para as crianças
pequenas que apreciam a aquisição dessa nova língua. À luz dessa
confusão matemática, a missão dos educadores clássicos é crista-
lina: precisamos resgatar o conteúdo da matemática e treinar as
crianças para aprendê-lo completa e meticulosamente.
Deus governa o universo através da linguagem ordenada da
matemática. Encontramos os preceitos de Deus em tudo, desde
a estrutura da linguagem à teoria musical, da carpintaria à lógica
formal, de designs artísticos intrincados à incrível beleza das estru-
turas moleculares. Aprender essa linguagem, permite que nossos
filhos conheçam a Deus adequadamente, fazendo com que O
adorem com sua mente.
Geografia
Poucosassuntossãomaisnegligenciadosnaeducaçãomodernaque
ageografia.Umamatéria queantesexistiaeerarespeitada,exigindo
queosalunosmemorizassemnomesdepaíses,capitais,montanhas,
oceanos, rios e lagos, bem como termos geográficos como penín-
sula, baía e planalto - praticamente desapareceu, tendo sido substi-
O Modelo Acessível aTodos: O Núcleo
40. 40 EducaçãoClássicaCristã...AccessívelaTodos
tuídaporcursosdeestudossociaisemqueosalunosaprendemaler
legendas de mapas e criar mapas para locais de interesse. Em lugar
de ensinar as crianças acerca das maravilhas do mundo, tais estudos
as restringem à visão tacanha de seus próprios bairros.
Mais uma vez, é impossível ignorar o curioso paradoxo de que os
líderes educacionais afirmam estar preparando os alunos para uma
economia global, enquanto se recusam a ensiná-los a respeito dos
lugares no globo. Assim como os estudantes de história precisam
estar familiarizados com eventos e pessoas importantes, os alunos
com formação clássica devem estar familiarizados com os locais
em que tais eventos ocorreram e onde as pessoas envolvidas
viveram. Estudantes de eventos atuais devem ter uma imagem
mental imediata dos locais de eventos recentes, como os terre-
motos no Haiti e tsunamis na Indonésia. Estudantes de geografia
queaprenderamalocalizaçãodeOrleansterãoentendimentomais
completo de quem foi Joana D’Arc e também da Guerra dos Cem
Anos. Alunos que encontram a localização exata dos Alpes Suíços
entenderão e apreciarão mais completamente a história de Heidi.
Alunos que conhecem os países da África se conectarão com os
eventos atuais e talvez optem por um campo missionário africano.
Uma criança que não sabe muito sobre o mundo ao seu redor
terá horizontes restritos. Tal qual todas as demais nucleares, a
geografia abre portas e expande horizontes. À medida que alunos
cristãos clássicos memorizam as definições de limites geográficos,
compreendem a variedade da criação de Deus. Quando aprendem
acerca de países pequenos como a Eslovênia, desenvolvem um
coração sensível para o povo de Deus.
História
O Cristianismo oferece uma perspectiva singular a respeito da história
do homem ao enxergá-la como uma tapeçaria entrelaçada tanto pela
providência de Deus quanto pelas ações das pessoas. Como cristãos
pós-modernos, corremos o risco de perder este fio quando negligen-
ciamos o estudo da história. Em lugar de se deixarem obcecar pelo
mais recente desenvolvimento tecnológico, os alunos devem dedicar
tempo regular ao contemplar dos grandes personagens e eventos do
41. 41
passado,comoformadecompreendernossosprópriosdias.
Em seu ensaio “On the Reading of Old Books”, C. S. Lewis
recomendou que os leitores devorassem um livro antigo para cada
livro recente que lerem:
Toda idade tem sua própria perspectiva. É especial-
mente capaz de enxergar certas verdades e especial-
mente propensa a cometer certos erros. Todos nós,
portanto, precisamos dos livros que corrigirão os erros
característicos de nosso próprio período ... O único
paliativo é manter a suave brisa marítima dos séculos
soprando através de nossa mente, e isso só pode ser
feito lendo livros antigos. Não que haja qualquer
mágica ligada ao passado. As pessoas não eram mais
astutas do que são hoje; cometeram tantos erros
quanto nós cometemos. Mas não os mesmos erros.21
—C. S. Lewis
“On the Reading of Old Books”
Oestudodahistóriaaparelhafuturoslíderesparalutarerepararoserros
deseusprópriostempos.Alémdisso,ahistóriadacivilizaçãoocidental
posterior ao nascimento de Cristo, é sinônimo da história da Igreja de
Cristo. O estudo da história de forma clássica fornece aos alunos os
melhores e mais nobres modelos de comportamento, assim como as
lições mais preocupantes que dizem respeito ao que há de mais vil.
Estudarhistóriasobaóticaclássicaequivaleaanalisarejulgarasações
humanas.Formarsábiosjuízosacercadopassadoedopresenteéalgo
quecultivaavirtude.
Ciências
Ciências,maisdoquequalqueroutramatéria,poráemchequenossas
percepções pós-modernas na medida que procuramos resgatar
a Educação Clássica Cristã. Mesmo como cristãos, a maioria de nós
foi ensinada a conceber o método científico experimental como
modelo para descobrir a verdade do mundo. Essa concepção das
ciências é bem diferente da concepção clássica ou medieval. Como
resultado de nossos preconceitos pós-modernos, boa parte dos
programas modernos de educação clássica meramente reproduziu
O Modelo Acessível aTodos: O Núcleo
42. 42 EducaçãoClássicaCristã...AccessívelaTodos
as metodologias difundidas para o estudo das ciências. A maioria
dos programas inclui quatro cursos distintos das chamadas ciências
de laboratório para os anos de ensino médio. Como educadores
clássicos cristãos, devemos trabalhar arduamente para resgatar as
ferramentas perdidas do aprendizado científico.
Crianças em tenra idade devem ser treinadas para observar a
natureza de perto e registrar suas descobertas, por escrito ou em
desenhos. A curiosidade delas sobre o mundo natural pode ser
estimulada, ajudando-as a dar nomes ao que vêem. Uma coisa
é ver um pássaro no quintal de alguém e dizer à criança: “Olha,
que lindo pássaro azul e laranja”. Outra coisa é olhar pela janela
e dizer:“Olhe aquele bando de Oriolidae voando para o sul, para
passar o inverno. Estão chegando mais ao final deste ano por
causa do outono ameno que tivemos. Você se recorda das três
maneiras pelas quais os animais reagem à mudança ambiental?
É isso mesmo - adaptação, hibernação e migração”.22
As crianças mais velhas devem continuar aprendendo o vocabulário
técnico das ciências, assim como fizeram na matemática. Devem se
familiarizar com o método científico, com as principais descobertas
e com os cientistas famosos. Acima de todo esse conhecimento,
entretanto,oestudantedométodoclássicodeveráaprenderaavaliar
o impacto da ciência na humanidade e pensar a respeito dos cruza-
mentos entre ciência e religião, entre razão e revelação. Precisam,
reaprender a enxergar a ciência como um dos muitos assuntos
norteados e limitados pelo que Sayers chamou de“a ciência mestra”,
que é a teologia. Precisamos evitar que nossos alunos considerem a
ciência natural como única fonte de verdade objetiva.
Latim
Nenhum currículo clássico cristão estaria completo sem o estudo
do Latim. Infelizmente, boa parte de nossos contemporâneos foi
educada em um sistema que negligenciou ou até ridicularizou o
estudo do Latim como sendo inútil para o estudante moderno.
Felizmente, dispomos de uma abundância de recursos ao nosso
alcance para nos ajudar a aprender Latim e ensiná-lo aos nossos
alunos. Estudar Latim aprimora a disciplina mental, melhora indire-
tamente nosso uso e vocabulário de Inglês, além de abrir portas
43. 43
para a leitura de literatura clássica e técnica.
Estudar Latim melhora a disciplina mental porque é uma língua
altamente organizada, logicamente estruturada e sistematizada.
Ao traduzir o Latim para o Inglês, os alunos precisam desenvolver
um fluxo lógico para levar em conta as terminações de substan-
tivo e verbo, a ordem em que as palavras se encontram e a função
gramatical de cada palavra da frase. O exercício repetido dessa
faculdade acaba desenvolvendo naturalmente a disciplina mental.
Além disso, cinquenta por cento das palavras inglesas provém do
Latim. É provável que até 80% das palavras polissilábicas da língua
inglesa derivem do Latim, o que significa que os alunos de Latim
automaticamente expandem suas competências de comunicação
com grande precisão e estilo no Inglês. (Para maiores informações
sobre os benefícios do Latim, consulte o Apêndice D.)
Já deixamos claro que as palavras e seu uso são fundamentais
para a Educação Clássica Cristã. O Latim opera na sintonia fina as
competências linguísticas de três formas diferentes: aprimorando
o vocabulário de Inglês do aluno, reforçando sua compreensão da
gramática inglesa e aprimorando seu estilo de redação. Quando
o aluno traduz frases e passagens mais extensas do Latim para o
Inglês, também recebe, por assim dizer, um curso abrangente de
gramática inglesa à medida que aprende a considerar como as oito
partes da fala operam nos dois idiomas.
Por fim, os estudantes do Latim recebem uma excelente educação
quanto ao estilo. O Latim é uma língua mais precisa e concisa do
que o Inglês. Após estudo rigoroso do Latim, o aluno escreverá
melhornoInglês.Escritoresaolongodahistória,incluindonotáveis
como Shakespeare, creditaram a facilidade com que lidaram com
sua língua (inglesa) aos seus estudos de Latim.
Quando ensinamos Latim para nossos filhos, abrimos portas
para eles - portas para ler história, literatura, ciências, medicina e
as Escrituras. Imagine seus filhos traduzindo automaticamente
os nomes científicos de animais e insetos, ganhando uma nova
perspectivasobreademocraciaelendoJoão1emLatim.Osalunos
de Latim se reconectam, não apenas com as raízes de nossa língua,
O Modelo Acessível aTodos: O Núcleo
44. 44 EducaçãoClássicaCristã...AccessívelaTodos
mas também com as raízes de nossa cultura e nossa fé cristã.
Belas-Artes
Duas filosofias artísticas resultaram no nosso afastamento das artes
– o modernismo e o pós-modernismo. Pintores modernos criaram
telas abstratas com formas e cores confusas para muitos obser-
vadores. Compositores modernos compuseram sons titilantes
e dissonantes, agressivos à audição. Mais tarde, gravaram sons
externos, pelas janelas de suas moradias, e reivindicaram autoria
disso que chamaram de “sinfonias”. O Pós-modernismo, a essa
altura, nos ensinou que, nas artes, assim como no restante da vida,
vale tudo. Deixamos de ter um padrão para julgar o verdadeiro, o
bom e o belo.
Na ausência de padrões claros de estética, o ser humano simples-
mente abandonou qualquer participação nas belas artes. Negli-
genciamos as belas artes porque não as entendemos. David Hicks
defende eloquentemente a inclusão das artes no currículo clássico
e cristão:
Nem mesmo as belas artes são oferecidas com base no
“pegar ou largar” - na escola de artes e idiomas. - “Eu
não gosto de artes”, ou“Meu filho não é criativo”ou“A
arte não é prática”- com que frequência ouvimos esses
ataques com relação à Educação Artística! Aindaassim,
a incapacidade de ter-se prazer nas belas artes constitui-
senarazãomaisimportanteparaestudá-la,paranãoser
dispensadodaauladeartes.23
—David Hicks
NormsNobility
A verdade é que os artistas modernos não acordaram certo dia
e resolveram que era bom atirarem tinta aleatoriamente numa
tela. Eles, na realidade, estavam reagindo a seus antecessores e
se rebelando contra as antigas noções de arte. Basta olhar para os
esboços perfeitamente realistas desenhados pelo jovem Picasso
para perceber que ele aprendeu a desenhar antes de se tornar
um cubista. Isso pressupõe que ele estudou obras de artistas que
45. 45O Modelo Acessível aTodos: O Núcleo
o antecederam e entendeu suas técnicas e mensagens. Alunos
de formação clássica, para entrar nesse diálogo, precisam se fami-
liarizar com os grandes mestres e as principais épocas artísticas.
Alunos de formação clássica devem estar familiarizados com os
movimentos da história cultural, tais como o barroco, o clássico, o
movimento impressionista, o romântico e o moderno, bem como
os principais artistas e compositores.
Seacreditamosquesomosartistasporquefomoscriadosàimagem
de Deus e que o próprio Deus é um Artista, devemos trabalhar
para resgatar este campo de estudo para a glória dele. Foi comum
grandesmestresinspiraremgenuínadevoçãoaoSenhor,retratando
Sua história. Eles também expressaram, através de suas variadas
mídias, verdades profundas a respeito da natureza da humanidade
e do divino - e a respeito da relação entre os dois. Nossos alunos
podem voltar a pintar, esculpir e projetar obras sagradas que
retratam a glória de Deus, oferecendo tais obras como puros atos
de adoração.
ONúcleo-UmResumo
Desde a época dos tutores medievais, até as primeiras univer-
sidades norte-americanas, e até mesmo na escola de um único
cômodosituadanafronteiraamericana,haviaumaconfiançanessa
tradição clássica, cristã e no conhecimento central necessário a
toda pessoa instruída. No labirinto da nova teoria educacional do
século XX, perdemos nosso caminho. Um importante passo de
volta à Educação Clássica Cristã é uma séria consideração dessas
matérias nucleares a serem ensinadas.
47. 47
Edificandouma
CasaVisando
PropósitosNobres
“Oobjetivodoaprendizadoéconsertar
oestragofeitopornossosprimeirospais,
readquirindoocorretoconhecimentodeDeus,
eapartirdesseconhecimento,amá-lo,imitá-lo,
esercomoEleé”. —John Milton
“Of Education”
John Milton, poeta, pensador e estadista cristão do século XVII,
exemplifica bem o Homem Renascentista de formação clássica.
Milton escreve em seu panfleto “Of Education”, que “o objetivo do
aprendizado é consertar o estrago feito por nossos primeiros pais,
readquirindo o correto conhecimento de Deus, e a partir desse
conhecimento, amá-lo, imitá-lo, e ser como Ele é”.24
Como pais
cristãos, esta é, sem dúvida, nossa aspiração para nossos filhos. A
alma que alcança a sabedoria de forma correta é a que conhece a
Deus intimamente e age de acordo com esse conhecimento, alma
satisfeita que jorra atos de adoração, tanto em música, como no
serviço.
Uma Educação Clássica Cristã, portanto, ensina o aluno a amar a
Deus aprendendo a respeito do mundo como o universo de Deus,
projetadoporSuamentecriativa,governadoporSuasleisesusten-
tadoporSuaorientaçãoprovidencial.Ospaisdãoinícioaoprocesso
incentivando crianças de tenra idade a procurar evidências do
projeto de Deus em todas as matérias, até na matemática e na
48. 48 EducaçãoClássicaCristã...AccessívelaTodos
língua. As crianças conseguem descobrir a lógica das leis naturais e
universais de Deus à medida que estudam ciências, e o desenrolar
de Seu plano à medida que se deparam com a história. Eles encon-
tram a criatividade de Deus na música, nas artes e na literatura.
Umaabordagemsábiaàpaternidadeserialembrarnãoqueestamos
criando filhos, mas sim que estamos criando adultos. Ou seja,
precisamos concentrar nossa atenção no preparo de nossos filhos
para tomarem decisões e se comportarem como adultos maduros
e responsáveis. É para esse objetivo que transmitimos sabedoria de
geração em geração. Esse é o objetivo de uma educação clássica
- criar adultos sábios. Voltando à metáfora da alma como casa, o
modelo clássico segue o padrão bíblico encontrado em Provérbios
24.3-4: Uma progressão que vai do conhecimento para o entendi-
mento, e deste para a sabedoria. Esse padrão de maturidade espiri-
tual coincide naturalmente com a maturidade emocional e mental
dos alunos nos três estágios diferentes de aprendizado. Em outras
palavras, uma educação clássica procura trabalhar com os desejos
e aptidões naturais dos alunos à
medida que crescem. O educador
clássico apresenta o conhecimento
certo no momento certo, enquanto
os alunos têm a oportunidade de
praticar aptidões importantes bem
no momento em que seu anelo por
essas aptidões se desenvolve.
Resumindo, uma Educação Clássica
Cristã cobra um retorno a um
modelo de valor durável, uma
abordagem que produziu cristãos altamente alfabetizados durante
a Idade Média e, mais tarde, um corpo de letrados altamente
eruditos.
Cidadãos brasileiros. O véu foi retirado e o arquiteto da educação
moderna foi exposto. O grande e poderoso Oz foi desmascarado,
e seu poder cheira a impotência. A cultura fica perplexa e embas-
bacada com o produto do modelo moderno. Nós negligenciamos
“...ocultivodoespírito
humano:ensinaro
jovemasaberoqueé
bom,servi-loacimade
simesmo,reproduzi-lo
ereconhecerqueessa
responsabilidadereside
noconhecimento”.
—David Hicks
NormsNobility
49. 49
o coração e a alma do homem em favor da especialização e da utili-
dade. No fim das contas, ambos estão perdidos.
A Educação Clássica Cristã resiste à isca da mudança contínua,
restaurando um conjunto básico de aptidões e conhecimentos
dentro do contexto da educação da pessoa como um todo -
corpo, mente e alma - para nortear o progresso da criança do
conhecimento, rumo à compreensão, e desta, rumo à sabedoria.
Como Hicks expressa com propriedade, a tarefa suprema de uma
educação é“...o cultivo do espírito humano: ensinar o jovem a saber
oqueébom,servi-loacimadesimesmo,reproduzi-loereconhecer
que essa responsabilidade reside no conhecimento”.25
OsqueseguemomodelodaEducaçãoClássicaCristãatingemesses
fins. Labutam em uma casa construída para propósitos nobres.
Edificando uma CasaVisando Propósitos Nobres
52. 52 EducaçãoClássicaCristã...AccessívelaTodos
uma admoestação acoplada a encorajamento para que os pais
se saiam bem em permanecer firmes ao considerarem o modelo
apropriado para a educação de seus filhos:
“... a saber, em Cristo.... Nele estão escondidos todos
os tesouros da sabedoria e do conhecimento...assim
como vocês receberam a Cristo Jesus, o Senhor,
continuem a viver nele, enraizados e edificados nele,
firmados na fé, como foram ensinados, transbordando
de gratidão.Tenham cuidado para que ninguém os
escravize a filosofias vãs e enganosas, que se funda-
mentam nas tradições humanas e nos princípios
elementares deste mundo, e não em Cristo”.
Colossenses 2:2-8
Uma Educação Clássica Cristã edifica
uma casa nobre, lançando o alicerce
com conhecimento, construindo
as paredes e o telhado com enten-
dimento, e decorando o interior
da casa com sabedoria. Já que a
maioria dos pais não foi educada na
tradiçãoclássica cristã,elessesentem
incapazes de ministrar essa educação
a seus filhos; no entanto, os pais
dispostos a buscar o conhecimento
haverão de encontrá-lo e poderão
partilhar a alegria dessa jornada
com seus filhos. Agindo assim,
resgataremos a tradição clássica
cristã em duas gerações, em vez de
apenas uma.
6
Quetodasestas
palavrasquehojelhe
ordenoestejamem
seucoração.7
Ensine-
ascompersistênciaa
seusfilhos.Converse
sobreelasquando
estiversentado
emcasa,quando
estiverandandopelo
caminho,quandose
deitarequandose
levantar.8
Amarre-as
comoumsinalnos
braçoseprenda-asna
testa.9
Escreva-asnos
batentesdasportas
desuacasaeemseus
portões.
Deuteronômio 6:6-9
55. 55
Já exploramos o método de uma Educação Clássica Cristã, que é o
Trivium - transmitindo conhecimento, entendimento e sabedoria.
Além disso, consideramos o conteúdo nuclear que fornece o
material de estudo. Agora, devemos tratar da aplicação prática de
ambos. Como um pai/uma mãe, em casa com seus filhos, pode
colocaresseprojetoparafuncionar?Fomoscondicionadosapensar
que os alunos só podem aprender matérias importantes de um
professor “mestre” especializado. Em lugar disso, devemos consi-
derar o sucesso do professor, ou da professora, de dezesseis anos
de idade, na escola de um só cômodo, que ensinava muitos alunos
de diferentes idades todos os dias. Uma ideia um tanto estranha
para pai e mãe modernos!
O professor/a professora sabia qual era o seu trabalho:
1. Encorajar os alunos a ter objetivos elevados.
2. Demonstrar que todos os acervos de conhecimento são
possuidores de uma gramática peculiar.
Outro Modelo Revisitado:
AEscolade
SaladeAulaÚnica
“...háevidênciasuficientedequeentre
1640-1700,ataxadealfabetizaçãopara
homensemMassachusettseConnecticut
esteveentre89e95%...(Estima-sequeataxa
dealfabetizaçãodasmulherestenhachegado
a62%nosanosentre1681-1697)”.29
—Neil Postman
AmusingOurselvestoDeath
56. 56 EducaçãoClássicaCristã...AccessívelaTodos
3. Fornecer oportunidades para repetição, duração e intensidade.
4. Repetir o conhecimento nuclear de uma cultura cristã.
Como educadores domiciliares, podemos aprender muito com ele
ouela.Primeiro,devemosencorajarnossosfilhosateremobjetivos
elevados. Os alunos devem aprender a dominar não apenas o
conhecimento,mastambémasimesmos.Nãodevemossubestimar
suas aptidões dadas por Deus ou o selo da imagem divina neles
estampada. Já foi dito que superestimamos a experiência de uma
criança e subestimamos suas aptidões. Como diz o Salmo 8: 5, não
foram os nossos filhos criados à imagem divina de nosso Criador,
um pouco abaixo dos anjos? Tratemo-los de acordo, enquanto
providenciamos correção quando aspectos “menos que angel-
icais”da natureza humana se manifestarem neles.
Devemos ensinar às crianças a gramática das matérias nucleares
ou dos acervos de conhecimento, incluindo um período de revisão
e recitação em todos os dias de aula. No modelo de escola de um
só cômodo, há grandes tesouros que via de regra são negligen-
ciados pelo educador moderno. Exercícios de recitação dentro
desse ambiente de aprendizagem integrado à idade proporcionam
benefícios incalculáveis a todas as idades. Imagine os alunos mais
novos ouvindo os mais velhos declamar recitações mais longas e
complexas dia após dia, enquanto são responsáveis por apenas um
subconjuntodesseconhecimento.Osmaisjovensaprendem,então,
pelo chamado “efeito cascata”, assim como pela instrução direta às
suas aptidões daquele momento de vida. Os mais jovens têm diante
deles um exemplo, uma visão de seus objetivos futuros. E eles estão
em uma posição naturalmente humilde, pela natureza de serem
maisjovensepossuíremmenosconhecimento.Osmaisvelhosestão
em uma posição naturalmente nutridora, pelo fato de serem mais
velhos e possuírem mais conhecimento. Isso chega a ressonar com
a ideia de cultivar aspectos do estudante que não podem ser facil-
mente medidos, mas possuem valor infinito? Certamente que sim!
E por fim, se esperamos transmitir a“alma de nossa sociedade”para
a próxima geração, devemos nos disciplinar. Não podemos repetir
57. 57
e passar adiante aquilo que não sabemos. Portanto, a educação
clássicaexigemaestria–odomíniodoconhecimentoqueconduza
um entendimento abrangente e que culmina na sabedoria. Isto via
de regra é alcançado através do repasse do mesmo conhecimento
e conceitos centrais, nova e novamente, levando em conta que, à
medida que o aluno amadurece, uma maior complexidade é possi-
bilitadaeumacapacidademaiscompletadediscerniroverdadeiro,
bom e belo é obtida. Maestria do conhecimento essencial nos
capacita a transmitir apenas o que é digno de imitação.
Uma das bênçãos da Educação Clássica Cristã domiciliar é que
os pais recebam uma segunda oportunidade de educação, desta
vez, ao lado de seus filhos. Dessa forma, renovamos a mente de
duas gerações de uma só vez. Pela própria natureza da educação
domiciliar, os pais desfrutam dos benefícios e da beleza do modelo
deumaescoladesaladeaulaúnicaquenopassadoinstruiugrandes
líderes, homens piedosos e pensadores sensatos por gerações a fio.
GrandesEsperanças:OObjetivoda
EducaçãoClássicaCristã
Para voltar ao início de nossas considerações acerca da Educação
Clássica Cristã, voltemos mais uma vez para Milton, que afirmou
que o fim do aprendizado é que os alunos conheçam a Deus corre-
tamente. Esse conhecimento profundo e permanente de Deus,
manifestado na literatura, matemática, geografia, nas ciências e
artes plásticas, inspira os alunos a expressar louvor a nosso Senhor
e Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Eles se tornam cristãos maduros
que progrediram do cantar“Meu Deus é tão grande”, para o entoar
da metáfora “Castelo forte é nosso Deus, amparo e fortaleza”.
Eles satisfazem o chamado de adorar a Deus não apenas com o
coração e a alma, mas também com a mente. Saem alegremente
para impactar as nações para a glória de Deus. Armados com esse
excelente modelo clássico, quem sabe possamos alcançar as espe-
ranças de Milton quanto a uma boa educação: despertar os alunos
“com grandes esperanças de serem homens corajosos e patriotas
dignos, queridos por Deus e famosos em todas as épocas”.30
Outro Modelo Revisitado
59. 59
Notas
1
CHESTERTON, G. K., citado em TheObserver. Londres: 6 de julho
de 1924.
2
EMC – Educação Moral e Cívica ou equivalente
3
SAYERS, Dorothy:“The Lost Tools of Learning]. Curso Vocacional
em Educação. Universidade de Oxford. Oxford. 1947
4
Para fins deste livrete, utilizaremos a expressão educação
moderna para designar as práticas presentemente empregadas
no sistema de escolas públicas dos Estados Unidos. Podemos,
a grosso modo, considerar tais filosofias e suas práticas como
tendo surgido no princípio do Século XX.
5
HICKS, David, NormsNobility:ATreatiseonEducation . Lanham,
MD: University Press of America, 1999, pág. 13.
6
Hicks (xiii).
7
Textos bíblicos citados nesta obra provém da NovaVersão
Internacional.
8
MILTON, John.“Of Education”, em JohnMilton:CompletePoems
andMajorProse . Publicado por Merrott Hughes: NovaYork:
Macmillan, 1957.
Em“Of Education”, John Milton escreveu:“o fim do aprendizado
é consertar o estrago feito por nossos primeiros pais, readqui-
rindo o correto conhecimento de Deus, e a partir desse
conhecimento, amá-lo, imitá-lo, e ser como Ele é”.
9
Sayers.
10
Sayers.
11
Hicks, pág. 68.
60. 60 EducaçãoClássicaCristã...AccessívelaTodos
12
CORBETT, Edward, P. J. e CONNORS, Robert J. ClassicalRhetoricfor
theModernStudent. NovaYork: Oxford University Press, 1999,
págs. 80-120.
As definições dos cinco tópicos comuns foram obtidas direta-
mente dessa obra. Os exemplos em itálico, são nossos próprios,
tirados a partir da experiência de sala de aula.
13
Hicks, pág 103.
14
ARISTÓTELES. ARetórica. Sec. IV A.C. Disponível em muitas
traduções modernas.
15
WILSON, Douglas. TheCaseforClassicalChristianEducation .
Wheaton, IL.: Crossway Books, 2003, págs. 84-85.
16
SCHAEFFER, Francis. HowShouldWeThenLive? TheRiseand
DeclineofWesternCultureandThought.Wheaton, IL.: Crossway
Books, 2005. [Em Português: ComoViveremos?UmaCuidadosa
AnálisedasPrincipaisCaracterísticasdeNossaÉpocaemBuscade
SoluçõesparaosProblemasqueEnfrentamos - Ed. Cultura Cristã
– 2013.]
17
POSTMAN, Neil. AmusingOurselvestoDeath:PublicDiscourse
intheAgeofShowBusiness. NovaYork: Penguin Books, 1985
(vii-viii).
18
WILDER, Laura Ingalls. LittleTownonthePraire. NovaYork: Harper
Trophy, 1971, pág. 288.
19
Para maiores detalhes da palestra de Sayers, procure emWILSON,
Douglas. RecoveringtheLostToolsofLearning: AnApproachto
DistinctivelyChristianEducation.Wheaton, IL.: Crossway Books,
1991.
20
BORTINS,LeighA.TheCore:TeachingYourChildtheFoundationsof
ClassicalEducation.NovaYork:PalgraveMacmillan,2010,pág.136.
21
LEWIS, C. S.,“On the Reading of Old Books”. GodintheDock:
EssaysonTheologyandEthics. Grand Rapids, MI:William B.
Eerdmans, 2001, pág. 200.
61. 61
22
Para mais sugestões de como estudar ciências com crianças
entre 4 e 12 anos, leia o Capítulo 9 de TheCore, de Leigh A.
Bortins (veja a nota de rodapé 19).
23
Hicks , pág. 141.
24
MILTON, John, pág. 631.
25
HICKS, pág. 141.
26
WILSON, Douglas, editor de Repairing the Ruins: TheClassical
andChristianChallengetoModernEducation. Moscou: Cannon
Press, 1996.
27
DABNEY, R. L., Discussions of R. L. Dabney, ,Vol. 4,“Secular-
ized Education”. Http://www.dabneyarchive.com/Dioscus-
sions%20V4/Secularized%20Education.pdf, ... 2009. Internet, 5
de março de 2011.
28
Dabney.
29
Postman, pág. 31.
30
Milton, pág. 633.
Endnotes
66. 66 EducaçãoClássicaCristã...AccessívelaTodos
essa educação acessível desde 1997, estabelecendo comunidades
de âmbito nacional que suprem prestação de contas e apoio. Tais
comunidades, constituídas por famílias com filhos de quatro a
dezoito anos, reúnem-se semanalmente para desenvolver uma
Educação Clássica Cristã.
Nos anos de gramática, planejamos três ciclos de trabalho de
memória para auxiliar as famílias a rever o conhecimento central,
nuclear. Para os alunos do estágio de dialética, a participação
nas comunidades dos Challenge A e B oferece oportunidades
para discutir, debater e arrazoar juntos. Os alunos de retórica
no Challenge I-IV aperfeiçoam suas aptidões de falar e escrever
liderando discussões literárias, fazendo discursos persuasivos,
escrevendo ensaios e poesia.
Emcasa,paisealunosinteragem
deacordocomumpadrãoeuma
agendaqueseencaixanadinâmicafamiliar.
Ofoconesteníveléamemorização,portanto,
divirtam-senosexercíciosdiáriosevisuais,cânticosou
atividadesqueacompanhamomaterial.Otrabalhodememória
doClassicalConversationsencontra-sedisponívelemuma
variedadedeformatos,deformaaforneceràsuafamíliaopções
deaprendizagememcasaouaoexplorar,longedecasa!
Alémdisso,acomunidadeon-linedoClassicalConversations
(CCConnected)estárepletadeideiasparamantersuatarefa
revigoranteeinteressante.