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O fantasma de uma linguagem pura
Maurice Merleau-Ponty
Diego Avendano
PPGF- UNIFESP
Conteúdo
1
2
3
A linguagem pura
O Algoritmo
Alteridade e Significação
Suas características e
manifestações
A revolta contra a
linguagem dada
O que encontramos
na fala dos outros?
O que é uma linguagem pura?
Na terra, já se fala há muito tempo, e a maior parte do que
se diz passa despercebido.
Casos puros de expressão:
• Uma Rosa
• Chove
• O tempo está bom
• O homem é mortal
1§
Parece-nos que ela atinge seu auge quando
assinala inequivocamente acontecimentos,
estados de coisas, ideias ou relações, porque
então não deixa mais nada a desejar, não
contém nada que não se mostre e nos faz
passar ao objeto que ela designa.
Completa determinação do sentido
A linguagem pura é construída
Exprimir não é então nada mais do que substituir uma percepção
ou uma ideia por um sinal convencionado que a anuncia, evoca ou
abrevia.
• Signos fundamentais
• Ligações arbitrárias
• Significações-Chave
1§
A linguagem pura é completa
Ela é capaz de compor qualquer significação nova a partir
daquelas, portanto de dizê-las na mesma linguagem, e finalmente
a expressão exprime porque reconduz todas as nossas experiências
ao sistema de correspondências iniciais entre tal signo e tal
significação, de que tomamos posse ao aprender a língua [...]
1§
A linguagem pura é clara
Uma língua é para nós esse aparelho fabuloso que permite
exprimir um número indefinido de pensamentos ou de coisas com
um número finito de signos, escolhidos de maneira a compor
exatamente tudo o que se pode querer dizer de novo e a
comunicar-lhe a evidência das primeiras designações de coisas.
1§
A linguagem pura determinada
Mas se a operação tem sucesso, se falamos e escrevemos, é
porque a língua, como o entendimento de Deus, contém o germe
de todas as significações possíveis, é porque todos os nossos
pensamentos estão destinados a ser ditos por ela, é porque toda
significação que aparece na experiência dos homens traz sua
fórmula no próprio cerne [...]
2§
O Algoritmo
Uma língua bem feita
Segue-se repetindo que a ciência é
uma língua bem feita. É dizer também
que a língua é o começo de ciência, e
que o algoritmo é a forma adulta da
linguagem. Ora, este vincula a sinais
escolhidos significações definidas com
um propósito determinado e sem
rebarbas.
3§
O funcionamento do algoritmo
Ele fixa um certo número de relações transparentes;
institui, para representá-las, símbolos que nada dizem
por si mesmos, que portanto jamais dirão a não ser o
que se convencionou fazê-los dizer. Subtraindo-se
assim aos deslocamentos de sentido que produzem o
erro, o algoritmo está, em princípio, seguro de poder a
cada momento justificar inteiramente seus enunciados,
recorrendo às definições iniciais.
3§
O bom algoritmo
Mas se o algoritmo cumpre seu ofício, se ele quer ser uma linguagem rigorosa e
controlar a todo momento suas operações, é preciso que nada de implícito tenha
sido introduzido, é preciso enfim que as relações novas e antigas formem juntas
uma única família, que as vejamos derivar de um único sistema de relações
possíveis, de modo que nunca haja excesso do que se quer dizer sobre o que se diz,
ou do que se diz sobre o que se quer dizer, que o signo permaneça simples
abreviação de um pensamento que poderia a todo momento explicar-se e justificar-
se por completo.
3§
A única virtude – mas decisiva – da expressão é
então substituir as alusões confusas que cada um
de nossos pensamentos faz a todos os outros por
atos de significação pelos quais somos realmente
responsáveis, porque o exato alcance deles nos
é conhecido, é recuperar para nós a vida de nosso
pensamento
Evitar confusões
A revolta contra a linguagem dada
O algoritmo, o projeto de uma língua universal, é a revolta contra a
linguagem dada. Não se quer depender de suas confusões, quer-
se refazê-la à medida da verdade, redefini-la segundo o
pensamento de Deus, recomeçar do zero a história da fala, ou
melhor, arrancar a fala à história. [...]
4§
A revolta contra a linguagem dada
No entanto, criada por Deus com o mundo, veiculada por ele e
recebida por nós como um messias, ou preparada no entendimento
de Deus pelo sistema dos possíveis que envolve eminentemente
nosso mundo confuso, e reencontrada pela reflexão do homem que
ordena em nome dessa instância interior o caos das línguas
históricas, a linguagem, em todo caso, se assemelha às coisas e
às ideias que ela exprime, é o substituto do ser, e não se concebem
coisas ou ideias que venham ao mundo sem palavras.
4§
Alteridade e
Significação
O papel do sujeito
Mas se a língua está aí como um instrumento bom para todos os
fins, se, com seu vocabulário, seus torneios e suas formas que
tanto serviram, ela responde sempre ao apelo e presta-se a
exprimir tudo, é porque a língua é o tesouro de tudo o que se pode
ter a dizer, é porque nela já está escrita toda a nossa experiência
futura, tal como o destino dos homens está escrito nos astros.
Trata-se apenas de encontrar essa frase já feita nos limbos da
linguagem, de captar as palavras secretas que o ser murmura.
5§
O mundo externo
Mostro fora de mim um mundo que já fala, assim como mostro
com o dedo um objeto que já estava no campo visual dos outros.
Diz-se que as expressões da fisionomia são por si só equívocas, e
que esse rubor da face é para mim prazer, vergonha, cólera, calor
ou rubor orgiástico segundo a situação o indique. Do mesmo modo,
a gesticulação linguística não importa ao espírito de quem a
observa: ela lhe mostra em silêncio coisas cujo nome ele já sabe,
porque é o nome delas.
6§
Aquele que fala cifra seu pensamento. Ele o substitui por um arranjo
sonoro ou visível que não é mais que sons no ar ou garatujas num
papel. O pensamento se sabe e se basta; ele se notifica
exteriormente por uma mensagem que não o contém, e que
apenas o designa sem equívoco a um outro pensamento que é capaz
de ler a mensagem porque ele atribui, pelo efeito do uso, das
convenções humanas ou de uma instituição divina, a mesma
significação aos mesmos signos.
6§
O Pensamento se basta
Em todo caso, jamais encontramos na fala dos outros senão o que nós mesmos
pusemos, a comunicação é uma aparência, ela nada nos ensina de verdadeiramente
novo. Como seria ela capaz de nos arrastar para além de nosso próprio poder
de pensar, já que os signos que ela nos apresenta nada nos diriam se já não
tivéssemos em nosso íntimo sua significação? [...] Certamente, a experiência que os
homens têm da linguagem não é essa: eles adoram conversar com um grande escritor,
visitam-no como se vai ver a estátua de São Pedro, portanto creem surdamente nas
virtudes secretas da comunicação.
6§
A comunicação é uma aparência
Dois sujeitos pensantes encerrados em suas
significações – entre eles, mensagens que circulam,
mas que nada contêm, e que apenas são a
oportunidade de cada um dar atenção ao que já sabia –
; finalmente, um fala e o outro escuta – pensamentos
que se reproduzem um ao outro, mas sem que o
saibam, e sem jamais se defrontarem – ; sim, como
diz Paulhan, essa teoria comum da linguagem teria
por consequência “que tudo se passasse no final entre
os dois como se não tivesse havido linguagem”.
6§
Características da linguagem pura
2
Algoritmo como expressão
3
A Alteridade e a Significação
1
• Construída
• Completa
• Clara
• Determinada
• O pensamento se basta
• O Sujeito tem um papel delimitado
• A comunicação é uma aparência
• Forma "madura"
• Sem excessos
• Atemporal
• Evita erros
diego.s.avendano@gmail.com
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  • 1. O fantasma de uma linguagem pura Maurice Merleau-Ponty Diego Avendano PPGF- UNIFESP
  • 2. Conteúdo 1 2 3 A linguagem pura O Algoritmo Alteridade e Significação Suas características e manifestações A revolta contra a linguagem dada O que encontramos na fala dos outros?
  • 3. O que é uma linguagem pura? Na terra, já se fala há muito tempo, e a maior parte do que se diz passa despercebido. Casos puros de expressão: • Uma Rosa • Chove • O tempo está bom • O homem é mortal 1§
  • 4. Parece-nos que ela atinge seu auge quando assinala inequivocamente acontecimentos, estados de coisas, ideias ou relações, porque então não deixa mais nada a desejar, não contém nada que não se mostre e nos faz passar ao objeto que ela designa. Completa determinação do sentido
  • 5. A linguagem pura é construída Exprimir não é então nada mais do que substituir uma percepção ou uma ideia por um sinal convencionado que a anuncia, evoca ou abrevia. • Signos fundamentais • Ligações arbitrárias • Significações-Chave 1§
  • 6. A linguagem pura é completa Ela é capaz de compor qualquer significação nova a partir daquelas, portanto de dizê-las na mesma linguagem, e finalmente a expressão exprime porque reconduz todas as nossas experiências ao sistema de correspondências iniciais entre tal signo e tal significação, de que tomamos posse ao aprender a língua [...] 1§
  • 7. A linguagem pura é clara Uma língua é para nós esse aparelho fabuloso que permite exprimir um número indefinido de pensamentos ou de coisas com um número finito de signos, escolhidos de maneira a compor exatamente tudo o que se pode querer dizer de novo e a comunicar-lhe a evidência das primeiras designações de coisas. 1§
  • 8. A linguagem pura determinada Mas se a operação tem sucesso, se falamos e escrevemos, é porque a língua, como o entendimento de Deus, contém o germe de todas as significações possíveis, é porque todos os nossos pensamentos estão destinados a ser ditos por ela, é porque toda significação que aparece na experiência dos homens traz sua fórmula no próprio cerne [...] 2§
  • 10. Uma língua bem feita Segue-se repetindo que a ciência é uma língua bem feita. É dizer também que a língua é o começo de ciência, e que o algoritmo é a forma adulta da linguagem. Ora, este vincula a sinais escolhidos significações definidas com um propósito determinado e sem rebarbas. 3§
  • 11. O funcionamento do algoritmo Ele fixa um certo número de relações transparentes; institui, para representá-las, símbolos que nada dizem por si mesmos, que portanto jamais dirão a não ser o que se convencionou fazê-los dizer. Subtraindo-se assim aos deslocamentos de sentido que produzem o erro, o algoritmo está, em princípio, seguro de poder a cada momento justificar inteiramente seus enunciados, recorrendo às definições iniciais. 3§
  • 12. O bom algoritmo Mas se o algoritmo cumpre seu ofício, se ele quer ser uma linguagem rigorosa e controlar a todo momento suas operações, é preciso que nada de implícito tenha sido introduzido, é preciso enfim que as relações novas e antigas formem juntas uma única família, que as vejamos derivar de um único sistema de relações possíveis, de modo que nunca haja excesso do que se quer dizer sobre o que se diz, ou do que se diz sobre o que se quer dizer, que o signo permaneça simples abreviação de um pensamento que poderia a todo momento explicar-se e justificar- se por completo. 3§
  • 13. A única virtude – mas decisiva – da expressão é então substituir as alusões confusas que cada um de nossos pensamentos faz a todos os outros por atos de significação pelos quais somos realmente responsáveis, porque o exato alcance deles nos é conhecido, é recuperar para nós a vida de nosso pensamento Evitar confusões
  • 14. A revolta contra a linguagem dada O algoritmo, o projeto de uma língua universal, é a revolta contra a linguagem dada. Não se quer depender de suas confusões, quer- se refazê-la à medida da verdade, redefini-la segundo o pensamento de Deus, recomeçar do zero a história da fala, ou melhor, arrancar a fala à história. [...] 4§
  • 15. A revolta contra a linguagem dada No entanto, criada por Deus com o mundo, veiculada por ele e recebida por nós como um messias, ou preparada no entendimento de Deus pelo sistema dos possíveis que envolve eminentemente nosso mundo confuso, e reencontrada pela reflexão do homem que ordena em nome dessa instância interior o caos das línguas históricas, a linguagem, em todo caso, se assemelha às coisas e às ideias que ela exprime, é o substituto do ser, e não se concebem coisas ou ideias que venham ao mundo sem palavras. 4§
  • 17. O papel do sujeito Mas se a língua está aí como um instrumento bom para todos os fins, se, com seu vocabulário, seus torneios e suas formas que tanto serviram, ela responde sempre ao apelo e presta-se a exprimir tudo, é porque a língua é o tesouro de tudo o que se pode ter a dizer, é porque nela já está escrita toda a nossa experiência futura, tal como o destino dos homens está escrito nos astros. Trata-se apenas de encontrar essa frase já feita nos limbos da linguagem, de captar as palavras secretas que o ser murmura. 5§
  • 18. O mundo externo Mostro fora de mim um mundo que já fala, assim como mostro com o dedo um objeto que já estava no campo visual dos outros. Diz-se que as expressões da fisionomia são por si só equívocas, e que esse rubor da face é para mim prazer, vergonha, cólera, calor ou rubor orgiástico segundo a situação o indique. Do mesmo modo, a gesticulação linguística não importa ao espírito de quem a observa: ela lhe mostra em silêncio coisas cujo nome ele já sabe, porque é o nome delas. 6§
  • 19. Aquele que fala cifra seu pensamento. Ele o substitui por um arranjo sonoro ou visível que não é mais que sons no ar ou garatujas num papel. O pensamento se sabe e se basta; ele se notifica exteriormente por uma mensagem que não o contém, e que apenas o designa sem equívoco a um outro pensamento que é capaz de ler a mensagem porque ele atribui, pelo efeito do uso, das convenções humanas ou de uma instituição divina, a mesma significação aos mesmos signos. 6§ O Pensamento se basta
  • 20. Em todo caso, jamais encontramos na fala dos outros senão o que nós mesmos pusemos, a comunicação é uma aparência, ela nada nos ensina de verdadeiramente novo. Como seria ela capaz de nos arrastar para além de nosso próprio poder de pensar, já que os signos que ela nos apresenta nada nos diriam se já não tivéssemos em nosso íntimo sua significação? [...] Certamente, a experiência que os homens têm da linguagem não é essa: eles adoram conversar com um grande escritor, visitam-no como se vai ver a estátua de São Pedro, portanto creem surdamente nas virtudes secretas da comunicação. 6§ A comunicação é uma aparência
  • 21. Dois sujeitos pensantes encerrados em suas significações – entre eles, mensagens que circulam, mas que nada contêm, e que apenas são a oportunidade de cada um dar atenção ao que já sabia – ; finalmente, um fala e o outro escuta – pensamentos que se reproduzem um ao outro, mas sem que o saibam, e sem jamais se defrontarem – ; sim, como diz Paulhan, essa teoria comum da linguagem teria por consequência “que tudo se passasse no final entre os dois como se não tivesse havido linguagem”. 6§
  • 22. Características da linguagem pura 2 Algoritmo como expressão 3 A Alteridade e a Significação 1 • Construída • Completa • Clara • Determinada • O pensamento se basta • O Sujeito tem um papel delimitado • A comunicação é uma aparência • Forma "madura" • Sem excessos • Atemporal • Evita erros diego.s.avendano@gmail.com https://diegoavendanofil.wordpress.com/ https://t.me/Di_Avendano