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     (DES/RE)CONSTRUÇÃO DO TECIDO URBANO: processo de modernização e
            implosão-explosão urbana em São Luís – MA, no limiar do século XXI1


    Danniel Madson Vieira OLIVEIRA2; Tiago Silva MOREIRA3; José Arnaldo dos Santos
                   RIBEIRO JUNIOR4; Hudalet da Conceição OLIVEIRA5 ; André Luís Soares
                   RODRIGUES6; Josoaldo Lima RÊGO7; Marcelino Silva FARIAS FILHO8.
               2
                   (UFMA9/GEOTEC10/LEBAC11/GERUR12) (<dannielmadson@hotmail.com>);
                               3
                                   (UFMA/GEOTEC/NEAGH13) (<thyago_sylver@hotmail.com>);
                                    4
                                        (UFMA/GEDMMA14/NEPS15) (<aj_ramone@hotmail.com>);
                                                      5
                                                          (UFMA/GEOTEC) (<dallet@zipmail.com.br>);
                                   6
                                       (UFMA/GEOTEC/LEBAC) (<andreluis2792@hotmail.com>);
                                               7
                                                   (UFMA/DEGEO16) (<josoaldorego@yahoo.com.br>);
                                         8
                                             (UFMA/DEGEO/LEBAC) (<marcelinobrasil@msn.com>).


1 INTRODUÇÃO


             A geografia urbana se constitui numa das principais vertentes da ciência
geográfica na contemporaneidade, já que paulatinamente grande parte das sociedades mais
complexas é condicionada a se tornar preponderantemente urbana, em detrimento do modo de
vida rural. Partindo desse pressuposto que Lefebvre (2008) defende a tese da urbanização
totalizante, “hoje virtual, amanhã real”, ou seja, vivencia-se um período de franca expansão da
“sociedade urbana”, aquela “que nasce da industrialização”.
             É nesse contexto que São Luís, capital do Estado do Maranhão (Brasil), onde se
faz presente uma veemente (des/re)construção do tecido urbano atrelada à modernização
autoritária, à explosão-implosão e à multiterritorialidade urbana, é elencada como objeto de
estudo deste trabalho. Sendo assim, objetiva-se entender, refletir e interpretar os processos
recentes que dinamizaram o fluxo de pessoas, de capital e/ou de grandes empreendimentos
locais, nacionais e internacionais na supracitada cidade, oriundos da concentração e

1
  Os autores agradecem ao NAE (Núcleo de Assistência Estudantil – UFMA) pelo financiamento recebido.
9
  Universidade Federal do Maranhão.
10
   Empresa Júnior de Geografia (UFMA).
11
   Laboratório de Estudos de Bacias Hidrográficas (DEGEO/UFMA).
12
   Grupo de Estudos Rurais e Urbanos (DESOC/PPGCS/UFMA).
13
   Núcleo de Estudos Avançados em Geografia Humana (DEGEO/UFMA).
14
   Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente (DESOC/PPGCS/UFMA).
15
   Núcleo de Estudos e Pesquisas do Sindicalismo (DESOC/UFMA).
16
   Departamento de Geociências (UFMA).
2




confluência de interesses estatais e privados através da modernização forçada, que, por
conseguinte    desdobra-se   na   “cidade   frankenstein”,   que    cresce   vertiginosamente,
contraditoriamente desordenada e especializada, mutilada.
           A partir do presente estudo, constatou-se que a segregação espacial da cidade
moderna, reforçada pela especialização de diversas áreas de São Luís, não é um
acontecimento tão recente. Alguns prédios símbolos desta tentativa de modernização do
Centro da cidade e de bairros adjacentes datam da década de 1950 (LOPES, 2008)
convivendo desarmonicamente com a arquitetura colonial portuguesa dos séculos XVII,
XVIII e XIX.
           A frente pioneira em direção à Zona Norte de São Luís e dos municípios
limítrofes na Ilha do Maranhão tornou o projeto da modernização possível, com a
predominância de mansões, da verticalização com espigões e prédios multifuncionais estilo
torres de vidro, assim como o boom dos grandes centros comerciais, dos condomínios
horizontais e verticais da classe média. Grandes projetos industriais já instalados ou a serem
construídos na cidade e região metropolitana de São Luís funcionam como uma força
centrípeta para a expansão demográfica acentuada, que nos últimos cem anos (1910-2010)
cresceu em termos absolutos aproximadamente 2000% (de 50 mil para 1 milhão de habitantes
só na capital) (LOPES, 2008), produzindo a periferização e suburbanização desta cidade.
           Para melhor entendimento do assunto abordado, estruturamos o trabalho
inicialmente com os objetivos e descrição das metodologias utilizadas. Em seguida elencamos
alguns conceitos com o objetivo de entender as principais categorias de análise utilizadas para
dar prosseguimento com a discussão principal: a modernização e implosão-explosão urbana
na São Luís (MA) contemporânea, retomando e refletindo a discussão nas considerações
finais. Esta pesquisa encontra-se em estágio de andamento com conclusão prevista para o
final do ano de 2010.


2 OBJETIVOS


            Analisar as transformações recentes do urbano em São Luís, capital do Estado
do Maranhão, decorrentes dos processos de modernização e implosão-explosão urbana;
            Compreender as temáticas: modernização urbana, tecido urbano, implosão-
explosão urbana e multiterritorialidade urbana a partir da sua inserção no contexto histórico
contemporâneo do município de São Luís (principalmente) e sua hinterlândia.
3




3 METODOLOGIAS


           Para a realização deste trabalho foi utilizado o método fenomenológico-
hermenêutico e a dialética. A partir do método dialético buscou-se entender as contradições
relativas ao processo de modernização e implosão-explosão urbana na São Luís
contemporânea. Com o método fenomenológico-hermenêutico, através da percepção in loco,
objetivou-se perceber as características da dinâmica atual do tecido urbano nesta capital,
diagnosticando quais são os fatores que causam a rápida expansão urbana nesta cidade, assim
como as consequências e situações-problemas que afligem a população local em virtude da
imposição da modernização, da concentração de riquezas, dos meios técnico-científico-
informacionais e antagonicamente as excrescências urbanas, os imensos subúrbios aleijados,
desestruturados.
           No que diz respeito à fundamentação teórica sobre o tema abordado, no intuito de
pautar e corroborar as informações discutidas, foram devidamente analisadas publicações em
artigos, livros, monografias, dissertações e teses, destacando-se: Burnett (2008), Ferreira;
Silva (2005), Haesbaert (2006), Harvey (2007), Lefebvre (2008), Lopes (2008), Santos;
Silveira (2006) e Villaça (2001).


4 PROLEGÔMENOS CONCEITUAIS


           A seguir faz-se uma exposição dos principais conceitos utilizados para
compreender a realidade urbana em São Luís (MA), tendo como categorias de análise
primárias: tecido urbano, multiterritorialidade urbana, modernização urbana e implosão-
explosão urbana. Dos autores utilizados como referencial teórico foram essenciais para este
estudo Burnett (2008), Lefebvre (2008), Lopes (2008) e Santos; Silveira (2006).
           Modernização urbana
           Tomamos como base para este conceito não somente a visão esclarecedora de
modernização segundo as ciências sociais, já que a modernização aqui discutida é mais
específica, pois trata-se da modernização urbana, ou seja, uma modernização atrelada aos
valores urbanos contemporâneos, como explica Le Corbusier (1973, p. 128 apud BURNETT,
2008, p. 83):

                       Sem „condicionante ambiental ou cultural‟ e voltada para „a eficiência e a estética‟, a
                       cidade modernista disseminada em zonas funcionais, passa a ter um crescimento
4



                          individualizado de suas partes: “A cidade, definida daqui em diante como uma
                          unidade funcional, deverá crescer harmoniosamente em cada uma de suas partes,
                          dispondo dos espaços e das vinculações nos quais se poderão inscrever, de forma
                          equilibrada, as etapas de seu desenvolvimento”.

             Sendo assim, a modernização urbana é um dos valores disseminados como uma
condição sine qua non presente principalmente nas sociedades capitalistas ocidentais
contemporâneas, consistindo na especialização das zonas urbanas, interligação dos policentros
urbanos por vias de acesso rápido (estas com expansão contínua para suprir a necessidade de
mobilidade nas grandes cidades, que geralmente tem crescimento exponencial no número de
veículos individuais), arquitetura (pós)moderna 17 (na qual o monumento passou a fazer parte
do cotidiano na cidade), refuncionalização dos bairros e monumentos tradicionais/ históricos,
assim como das áreas verdes, vistas no urbano moderno como locais que, além da
preservação, tem que ter funcionalidade (geralmente áreas de escape para o lazer e descanso)
para que a população desenvolva sentimento de pertencimento e consumam a/na paisagem
urbana.
             Multiterritorialidade urbana
             A cidade é o lugar de surgimento e confluência das “tribos urbanas” – díade de
palavras que representa a heterogeneidade cultural que convive (des)harmoniosamente nas
sociedades urbanas contemporâneas, formadas por indivíduos com identidades culturais as
mais diversas, mas que procuram congregar valores afins em espaços de encontros específicos
de cada “tribo”. Haesbaert (2006, p. 338, 343-344) fala-nos a respeito de um conceito
interessante e fundamental ao urbano aqui discutido, a multiterritorialidade:

                          O que entendemos por multiterritorialidade é (...) a forma dominante,
                          contemporânea ou “pós- moderna”, da reterritorialização (...). Ela é consequência
                          direta da predominância (...) das relações sociais construídas através de territórios-
                          rede, sobrepostos e descontínuos, e não mais de territórios-zona, que marcaram
                          aquilo que podemos denominar modernidade clássica territorial-estatal. O que não
                          quer dizer, em hipótese alguma, que essas formas mais antigas de território não
                          continuem presentes, formando um amálgama complexo com as novas modalidades
                          de organização territorial.
                          (...)
                          Multiterritorialidade (ou multiterritorialização se, de forma mais coerente, quisermos
                          enfatizá-la enquanto ação ou processo) implica assim a possibilidade de acessar ou
                          conectar diversos territórios, o que pode se dar tanto através de uma “mobilidade
                          concreta”, no sentido de um deslocamento físico, quanto “virtual”, no sentido de
                          acionar diferentes territorialidades mesmo sem deslocamento físico, como nas novas
                          experiências espaço-temporais proporcionadas através do ciberespaço.




17
   David Harvey (2007, p. 69) alerta que “os pós-modernistas [vêem o espaço] como coisa independente e
autônoma a ser moldada segundo objetivos e princípios estéticos que não têm necessariamente nenhuma relação
com algum objetivo social abrangente, salvo, talvez, a consecução da intemporalidade e da beleza
„desinteressada‟ como fins em si mesmas.”
5




            Partindo desta discussão, afirma-se que a cidade pensada como o espaço do
encontro das diferenças culturais é também o lugar de concretização da multiterritorialidade,
logo, a cidade pós-moderna, como um lugar de desencontros, deve ser repensada.
            Tecido urbano
            Estas palavras, “o tecido urbano”, não designam, de maneira restrita, o domínio
edificado nas cidades, mas o conjunto das manifestações do predomínio da cidade sobre o
campo. Nessa acepção, uma segunda residência, uma rodovia, um supermercado em pleno
campo, fazem parte do tecido urbano. Mais ou menos denso, mais ou menos espesso e ativo,
ele poupa somente as regiões estagnadas ou arruinadas, devotadas à “natureza” (LEFEBVRE,
2008, p. 15).
            Implosão-explosão urbana
            Esta categoria é aqui analisada segundo os estudos lefebvrianos, que explica-a
como causa das metamorfoses intensas atinentes ao processo de urbanização:

                        “(...) a não-cidade e a anticidade vão conquistar a cidade, penetrá-la, fazê-la
                        explodir, e com isso estendê-la desmesuradamente, levando à urbanização da
                        sociedade, ao tecido urbano recobrindo as remanescências da cidade anterior à
                        indústria. Se esse extraordinário movimento escapa à atenção, se ele foi descrito
                        apenas fragmentariamente, é porque os ideólogos quiseram eliminar o pensamento
                        dialético e a análise das contradições em favor do pensamento lógico, ou seja, da
                        constatação das coerências e tão somente das coerências. Nesse movimento, a
                        realidade urbana, ao mesmo tempo amplificada e estilhaçada, perde os traços que a
                        época anterior lhe atribuía: totalidade orgânica, sentido de pertencer, imagem
                        enaltecedora, espaço demarcado e dominado pelos esplendores monumentais. Ela se
                        povoa com os signos do urbano na dissolução da urbanidade; torna-se estipulação,
                        ordem repressiva, inscrição por sinais, códigos sumários de circulação (percursos) e
                        de referência. Ela se lê ora como um rascunho, ora como uma mensagem autoritária.
                        Ela se declara mais ou menos imperiosamente. Nenhum desses termos descritivos dá
                        conta completamente do processo histórico: a implosão-explosão (metáfora
                        emprestada da física nuclear), ou seja, a enorme concentração (de pessoas, de
                        atividades, de riquezas, de coisas e de objetos, de instrumentos, de meios e de
                        pensamento) na realidade urbana, e a imensa explosão, a projeção de fragmentos
                        múltiplos e disjuntos (periferias, subúrbios, residências secundárias, satélites etc.)”.
                        (LEFEBVRE, 2008, p. 23-24).

            Zonas urbanas de fluxos centrípetos X Zonas urbanas de fluxos centrífugos
            Os fluxos urbanos são determinados de acordo com os horários de ápice (fluxos
convergentes) e de rarefação (fluxos divergentes) das atividades que especializam as diversas
partes da cidade. Villaça (2001, p. 20) ao explicar o fluxo intra-urbano afirma que ele:

                        (...) é estruturado fundamentalmente pelas condições de deslocamento do ser
                        humano, seja enquanto portador da mercadoria força de trabalho – como no
                        deslocamento casa/trabalho, deslocamento casa-compras, casa-lazer, escola, etc.
                        Exatamente daí vem, por exemplo, o enorme poder estruturador intra-urbano das
                        áreas comerciais e de serviços, a começar pelo próprio centro urbano.
6




             Dessa forma, durante o dia, o Centro da cidade e demais bairros onde
predominam atividades do setor terciário (policentros), assim como as zonas industriais (onde
predominam atividades do setor secundário), exercem maior influência atrativa gerando
fluxos centrípetos, nos quais prevalece a convergência do fluxo demográfico, de automóveis,
serviços, capital, informações..., ou seja, caracteriza-se como uma zona urbana de fluxo
centrípeto diurno. Já nas áreas residenciais predomina, durante o dia, o fluxo centrífugo, pois
há mais divergência daqueles que trabalham, estudam ou dependem de outras atividades que
se concentram, geralmente, ao entorno e no Centro urbano.
             Durante a noite, os fluxos urbanos preponderantes invertem seus sentidos: a
cidade dos serviços, que emprega, que é multifuncional, descansa (fluxos centrífugos
noturnos) para que os atores protagonistas deste movimento pendular se dirijam em direção
aos bairros dormitórios (zona urbana de fluxo centrípeto noturno).
             Próteses da modernização urbana
             Segundo o Dicionário Silveira Bueno (2000, p. 758) prótese significa a
“substituição de um órgão ou parte dele por uma peça artificial”. As próteses da modernização
urbana são construções que tem o objetivo de maximizar, melhorar, auxiliar em funções
naturais da cidade como o setor de serviços e a mobilidade (com exemplos respectivos os
centros comerciais e elevados), gerando muitas vezes paisagens com arquitetura desarmônica.
             Cidade frankenstein
             Utiliza-se este termo para designar a cidade que convive com a simultaneidade do
crescimento urbano desordenado e da modernização urbana impositiva, configurando-se num
lugar de antagonismos, de realidades sócio-espaciais, culturais e econômicas multifacetadas,
como um corpo formado por partes alheias, próteses. Daí a alusão à obra “Frankenstein ou o
moderno Prometeu” de Mary Shelley (1818).
             População precariamente incluída X População hegemônica
             Denomina-se aquela população que possui acesso, porém demasiadamente
deficiente, dos meios básicos de sobrevivência (como alimentação e moradia) e outros que o
Estado tem o dever de oferecer à sociedade (a exemplo do saneamento básico, saúde e
educação pública), de população precariamente incluída. Em contrapartida, a população
hegemônica é aquela que detém grande parte do montante da renda absoluta, assim como dos
meios de produção e apreende os melhores salários, cargos políticos, públicos e privados, ou
seja, tem total acesso aos meios básicos de sobrevivência e não depende exclusivamente dos
meios que o Estado provê, podendo usufruir do privado, e fazendo parte da elite econômica,
política e intelectual.
7




5 MODERNIZAÇÃO: expansão e proliferação dos espaços da(s) modernidade(s) em São
Luís (MA)


             Os Grandes Projetos minero-metalúrgicos instalados na Ilha do Maranhão
(ALUMAR e VALE) a partir da década de 1970 e a viabilização do Corredor Norte de
exportação pelo sistema Multimodal composto pelo Complexo Portuário de São Luís,
rodovias e ferrovias, possibilitaram a “complexificação” dos serviços oferecidos na capital,
assim como um aumento na renda mensal dos trabalhadores formando um mercado
consumidor em potencial recém-nascido (com a expansão da classe média), atraindo diversos
empreendimentos comerciais, residenciais e de lazer, antes inexistentes na cidade provinciana.
             A especulação imobiliária cresceu em torno do solo urbano. O Centro urbano,
tradicional, já não comportava as necessidades da população hegemônica local que consumia
padrões da elite do Centro-Sul que se modernizava. Áreas da Zona Norte de São Luís (figura
01), localizadas próximas às praias foram paulatinamente estruturadas com vias asfaltadas,
iluminação, saneamento básico e consequentemente loteadas. A venda da paisagem (vista
para o mar) é um dos fatores desta área ser a mais valorizada localmente (possibilitando o
projeto de verticalização e modernização urbana), somada à proximidade com os centros
comerciais, de lazer, bancos, restaurantes, trabalho, escolas e faculdades da classe média.




Figura 01. Contraste entre os modernos bairros da Zona Norte de São Luís (parte superior da foto) e bairros da
população precariamente incluída na Área Itaqui-Bacanga (parte inferior da foto), separados pelos estuários dos
rios Anil e Bacanga. Fonte: TORRES (2010).
8




           Configurou-se gradativamente esta expansão da classe média em direção ao eixo
norte do município (que acarretou na repulsão dos moradores pobres mais antigos desse eixo)
a partir da finalização das obras de construção das Pontes José Sarney (em 1970), Bandeira
Tribuzi (em 1980), Hilton Rodrigues e Governador Newton Bello (conhecida popularmente
como Ponte do Caratatiua), ambas localizadas sobre o rio Anil, permitindo a ocupação
planejada no bairro São Francisco seguida (não necessariamente nesta ordem) dos bairros
Ponta D‟Areia (parte deste bairro está sobre um pontal extremamente valorizado que
atualmente é denominado pelas imobiliárias de Península da Ponta D‟Areia) Renascença I e
II, Calhau, São Marcos, Cohama, parte do Jaracaty, Olho D‟Água, Turu, dezenas de
condomínios residenciais fechados, enfim, bairros que margeiam as avenidas Castelo Branco,
Colares Moreira, dos Holandeses, Litorânea, Jerônimo de Albuquerque, São Luís Rei de
França e Daniel de La Touche. Como afirma Ferreira; Silva:

                      (...) o eixo Renascença-Calhau é o mais valorizado dessa cidade e em 1999 possuía
                      o metro quadrado mais caro da macrorregião Nordeste (Ferreira, 1999a). A essência
                      dessa lógica é tão evidente que um edifício de 22 andares localizado no Calhau, com
                      dois apartamentos por andar (média de R$ 300.000,00/unidade) pode representar
                      para o proprietário uma lucratividade de até 13.200.000,00 (treze milhões e duzentos
                      mil reais). Isso num Estado considerado um dos mais pobres do Brasil, em que 60%
                      da PEA recebem menos que dois salários mínimos e em uma capital em que
                      somando os que não têm renda e os que ganham até um salário mínimo (...)
                      correspondem a 66,33% da PEA (BRASIL, 2000 apud FERREIRA; SILVA, 2005,
                      p. 06).


           Os shoppings mais antigos como Garden e Tropical estão em sua terceira década,
demonstrando e resistindo (com adaptações) às intensas metamorfoses urbanas desse período,
já que outros posteriores sucumbem às novas ordens econômicas locais e à desconcentração
comercial do Centro. Atualmente está sendo construída uma franquia do Carrefour e o décimo
e maior shopping da capital maranhense, o Shopping da Ilha (figura 02), numa área total de
176 mil m2, ambos nos eixos de expansão da especulação imobiliária.
                                                                          Figura    02.   Projeto do
                                                                          Shopping da Ilha: Área Bruta
                                                                          Locável de 41 mil m2, área
                                                                          construída de 82 mil m2, 16
                                                                          torres residenciais (2880
                                                                          apartamentos) e 7 comerciais
                                                                          (1600 salas comerciais), área
                                                                          principal do shopping com 4
                                                                          andares,       15        lojas
                                                                          âncoras/mega-lojas, 330 lojas
                                                                          ao total, 2 mil vagas para
                                                                          estacionamento, 1200 lugares
                                                                          na praça de alimentação.
                                                                          Fonte: Shopping da Ilha,
                                                                          2010.
9




6 IMPLOSÃO-EXPLOSÃO URBANA E CONSIDERAÇÕES FINAIS: esquadrejamento
sócio-econômico e espacial paulatino – precariedades e hegemonias em redes de influência
nas áreas/ zonas de São Luís (MA)


             A rápida expansão demográfica em São Luís a partir da década de 1970 (figura 03
A) não conseguiu ser concomitante ao planejamento urbano, gerando um tecido urbano denso,
desordenado, de antagonismos evidentes, com multiterritorialidades, várias próteses urbanas,
configurando-se na cidade frankenstein contemporânea. O aumento dos fluxos urbanos,
aeroviários (com aproximadamente 985 mil passageiros, em 2009, no Aeroporto Internacional
de São Luís, segundo a Infraero), rodoviários, ferroviários e marítimos em direção à São Luís
se dão cada vez mais pela disponibilidade e melhoria de serviços e infra-estrutura (como a
expansão da rede hoteleira internacional), aumento do mercado consumidor, dos atrativos
fiscais e turísticos, assim como pela expansão e implantação de grandes projetos comerciais e
industriais no município e sua hinterlândia (como a Refinaria Premium da PETROBRAS,
obra de 20 bilhões de dólares, que será a maior refinaria da América Latina e uma das maiores
do mundo com capacidade para produzir, em 2016, 600 mil barris/dia de derivados de
petróleo – 1/3 da produção nacional – e gerar 132 mil empregos diretos e indiretos).




Figura 03. Mosaico. A: Expansão da mancha urbana no município de São Luís de 1926 a 2004. B: Palafitas
sobre o Rio Anil no Bairro Liberdade. C: Vista das unidades localizadas à margem direita da Avenida principal
do Bairro Cidade Operária, conjunto habitacional com aproximadamente 14 mil residências no subúrbio de São
Luís. Fonte: Lopes (2008).
10




           Porém, esta concentração (implosão urbana) enquanto atrativo populacional, gera
um processo inverso, as excrescências (explosão urbana). Como já foi dito, o crescimento
demográfico acentuado e desordenado trouxe uma série de estigmas para a população
precariamente incluída: o esquadrejamento sócio-econômico e espacial na cidade é feito de
acordo com o valor de uso e troca do solo urbano, logo, a população hegemônica estabiliza-se
sobre áreas de elevada especulação financeira e pressiona os mais pobres a fixarem-se na
periferia precariamente “infraestruturada”, a exemplo dos moradores de palafitas (figura 03
B) que não têm condição sequer de ter uma propriedade sobre um terreno estável, seco.
           Os imensos conjuntos habitacionais são construídos durante o boom populacional
em São Luís, na 2ª metade do século XX, a exemplo da Cidade Operária (figura 03 C). Com a
disponibilidade de terras vazias nas adjacências deste bairro (que surge como um centro de
referência para os bairros vizinhos, já que possuía uma boa infra-estrutura viária e urbana)
elas serão ocupadas rapidamente, surgindo um complexo de vilas, dentre elas a Cidade
Olímpica com quase 100 mil habitantes (LOPES, 2008). Vários bairros surgem na cidade
como essenciais para desconcentrar os serviços do Centro como: Renascença, Cohab, Turu,
Cidade Operária e São Cristóvão, gerando novas redes de influência entre as diversas áreas de
São Luís. Apesar disso, o Centro ainda concentra o setor secundário na capital maranhense.


                                      REFERÊNCIAS

BURNETT, Frederico Lago. Urbanização e desenvolvimento sustentável: a
sustentabilidade dos tipos de urbanização na cidade de São Luís do Maranhão. São Luís:
UEMA, 2008.

DICIONÁRIO SILVEIRA BUENO. Direção editorial: Moacir da Cunha Viana. São Paulo:
Didática paulista, 2000.

FERREIRA, Antonio José de Araújo; SILVA, Cláudio Roberto Marques da. A lógica
capitalista da produção do espaço urbano de São Luís (1971 a 2003). In: Anais do IX
Simpósio Nacional de Geografia Urbana. Manaus: UFAM, 2005.

HAESBAERT, Rogério. O mito da desterritorialização: do “Fim dos Territórios” à
Multiterritorialidade. – 2ª ed. – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.

HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança
cultural. – 16ª ed. – São Paulo: Edições Loyola, 2007.

INFRAERO. Movimento Operacional Acumulado da REDE INFRAERO (janeiro até
dezembro                                      de                                  2009).
In:<http://www.infraero.gov.br/upload/arquivos/movi/mov_operac._1209_revisado.pdf>.
Acesso em 30 jun. 2010.
11




LEFEBVRE, Henri. A Revolução Urbana. – 3ª reimpr. – Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2008.

LOPES, José Antonio Viana – (org.). BRASIL; ESPAÑA. Ministério da Cultura (Brasil).
Cidade de São Luís (Maranhão). Ministerio de Assuntos Exteriores y Coperación, AECID.
Junta de Andalucia. Consejeria de Obras Públicas y Transportes. Dirección General de
Arquitectura y Vivenda. São Luís Ilha do Maranhão e Alcântara: guia de arquitetura e
paisagem = San Luis Isla de Marañon y Alcântara: guia de arquitectura y paisaje – Ed.
Bilíngüe. São Luís-Sevilha: 2008.

SANTOS, Milton; SILVEIRA, María Laura. O Brasil: Território e sociedade no início do
século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2006.

SHOPPING DA ILHA. In: <http://www.shoppingdailha.com.br>. Acesso em 30 jun. 2010.

TORRES, J. B. In: <http://jbtorres.blogspot.com/>. Acesso em 30 jun. 2010.

VILLAÇA, Flávio. Espaço intra-urbano                no    Brasil.   São      Paulo:   Studio
Nobel/FAPESP/Lincoln Institut, 2001.

  OLIVEIRA, D. M. V; MOREIRA, T. S; RIBEIRO JUNIOR, J. A. S; OLIVEIRA, H.C;
  RODRIGUES, A. L. S; RÊGO, J. L; FARIAS FILHO, M. S. (Des/Re)Construção do
  Tecido Urbano: Processo de Modernização e Implosão-Explosão Urbana em São
  Luís MA, no Limiar do Século XXI. Anais do XVI Encontro Nacional de Geógrafos -
  ENG, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 25 a 31 de julho de 2010. Disponível
  em http://www.agb.org.br/xvieng/anais/index.html

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Reconstrução urbana em São Luís: modernização e implosão-explosão no século XXI

  • 1. 1 (DES/RE)CONSTRUÇÃO DO TECIDO URBANO: processo de modernização e implosão-explosão urbana em São Luís – MA, no limiar do século XXI1 Danniel Madson Vieira OLIVEIRA2; Tiago Silva MOREIRA3; José Arnaldo dos Santos RIBEIRO JUNIOR4; Hudalet da Conceição OLIVEIRA5 ; André Luís Soares RODRIGUES6; Josoaldo Lima RÊGO7; Marcelino Silva FARIAS FILHO8. 2 (UFMA9/GEOTEC10/LEBAC11/GERUR12) (<dannielmadson@hotmail.com>); 3 (UFMA/GEOTEC/NEAGH13) (<thyago_sylver@hotmail.com>); 4 (UFMA/GEDMMA14/NEPS15) (<aj_ramone@hotmail.com>); 5 (UFMA/GEOTEC) (<dallet@zipmail.com.br>); 6 (UFMA/GEOTEC/LEBAC) (<andreluis2792@hotmail.com>); 7 (UFMA/DEGEO16) (<josoaldorego@yahoo.com.br>); 8 (UFMA/DEGEO/LEBAC) (<marcelinobrasil@msn.com>). 1 INTRODUÇÃO A geografia urbana se constitui numa das principais vertentes da ciência geográfica na contemporaneidade, já que paulatinamente grande parte das sociedades mais complexas é condicionada a se tornar preponderantemente urbana, em detrimento do modo de vida rural. Partindo desse pressuposto que Lefebvre (2008) defende a tese da urbanização totalizante, “hoje virtual, amanhã real”, ou seja, vivencia-se um período de franca expansão da “sociedade urbana”, aquela “que nasce da industrialização”. É nesse contexto que São Luís, capital do Estado do Maranhão (Brasil), onde se faz presente uma veemente (des/re)construção do tecido urbano atrelada à modernização autoritária, à explosão-implosão e à multiterritorialidade urbana, é elencada como objeto de estudo deste trabalho. Sendo assim, objetiva-se entender, refletir e interpretar os processos recentes que dinamizaram o fluxo de pessoas, de capital e/ou de grandes empreendimentos locais, nacionais e internacionais na supracitada cidade, oriundos da concentração e 1 Os autores agradecem ao NAE (Núcleo de Assistência Estudantil – UFMA) pelo financiamento recebido. 9 Universidade Federal do Maranhão. 10 Empresa Júnior de Geografia (UFMA). 11 Laboratório de Estudos de Bacias Hidrográficas (DEGEO/UFMA). 12 Grupo de Estudos Rurais e Urbanos (DESOC/PPGCS/UFMA). 13 Núcleo de Estudos Avançados em Geografia Humana (DEGEO/UFMA). 14 Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente (DESOC/PPGCS/UFMA). 15 Núcleo de Estudos e Pesquisas do Sindicalismo (DESOC/UFMA). 16 Departamento de Geociências (UFMA).
  • 2. 2 confluência de interesses estatais e privados através da modernização forçada, que, por conseguinte desdobra-se na “cidade frankenstein”, que cresce vertiginosamente, contraditoriamente desordenada e especializada, mutilada. A partir do presente estudo, constatou-se que a segregação espacial da cidade moderna, reforçada pela especialização de diversas áreas de São Luís, não é um acontecimento tão recente. Alguns prédios símbolos desta tentativa de modernização do Centro da cidade e de bairros adjacentes datam da década de 1950 (LOPES, 2008) convivendo desarmonicamente com a arquitetura colonial portuguesa dos séculos XVII, XVIII e XIX. A frente pioneira em direção à Zona Norte de São Luís e dos municípios limítrofes na Ilha do Maranhão tornou o projeto da modernização possível, com a predominância de mansões, da verticalização com espigões e prédios multifuncionais estilo torres de vidro, assim como o boom dos grandes centros comerciais, dos condomínios horizontais e verticais da classe média. Grandes projetos industriais já instalados ou a serem construídos na cidade e região metropolitana de São Luís funcionam como uma força centrípeta para a expansão demográfica acentuada, que nos últimos cem anos (1910-2010) cresceu em termos absolutos aproximadamente 2000% (de 50 mil para 1 milhão de habitantes só na capital) (LOPES, 2008), produzindo a periferização e suburbanização desta cidade. Para melhor entendimento do assunto abordado, estruturamos o trabalho inicialmente com os objetivos e descrição das metodologias utilizadas. Em seguida elencamos alguns conceitos com o objetivo de entender as principais categorias de análise utilizadas para dar prosseguimento com a discussão principal: a modernização e implosão-explosão urbana na São Luís (MA) contemporânea, retomando e refletindo a discussão nas considerações finais. Esta pesquisa encontra-se em estágio de andamento com conclusão prevista para o final do ano de 2010. 2 OBJETIVOS  Analisar as transformações recentes do urbano em São Luís, capital do Estado do Maranhão, decorrentes dos processos de modernização e implosão-explosão urbana;  Compreender as temáticas: modernização urbana, tecido urbano, implosão- explosão urbana e multiterritorialidade urbana a partir da sua inserção no contexto histórico contemporâneo do município de São Luís (principalmente) e sua hinterlândia.
  • 3. 3 3 METODOLOGIAS Para a realização deste trabalho foi utilizado o método fenomenológico- hermenêutico e a dialética. A partir do método dialético buscou-se entender as contradições relativas ao processo de modernização e implosão-explosão urbana na São Luís contemporânea. Com o método fenomenológico-hermenêutico, através da percepção in loco, objetivou-se perceber as características da dinâmica atual do tecido urbano nesta capital, diagnosticando quais são os fatores que causam a rápida expansão urbana nesta cidade, assim como as consequências e situações-problemas que afligem a população local em virtude da imposição da modernização, da concentração de riquezas, dos meios técnico-científico- informacionais e antagonicamente as excrescências urbanas, os imensos subúrbios aleijados, desestruturados. No que diz respeito à fundamentação teórica sobre o tema abordado, no intuito de pautar e corroborar as informações discutidas, foram devidamente analisadas publicações em artigos, livros, monografias, dissertações e teses, destacando-se: Burnett (2008), Ferreira; Silva (2005), Haesbaert (2006), Harvey (2007), Lefebvre (2008), Lopes (2008), Santos; Silveira (2006) e Villaça (2001). 4 PROLEGÔMENOS CONCEITUAIS A seguir faz-se uma exposição dos principais conceitos utilizados para compreender a realidade urbana em São Luís (MA), tendo como categorias de análise primárias: tecido urbano, multiterritorialidade urbana, modernização urbana e implosão- explosão urbana. Dos autores utilizados como referencial teórico foram essenciais para este estudo Burnett (2008), Lefebvre (2008), Lopes (2008) e Santos; Silveira (2006). Modernização urbana Tomamos como base para este conceito não somente a visão esclarecedora de modernização segundo as ciências sociais, já que a modernização aqui discutida é mais específica, pois trata-se da modernização urbana, ou seja, uma modernização atrelada aos valores urbanos contemporâneos, como explica Le Corbusier (1973, p. 128 apud BURNETT, 2008, p. 83): Sem „condicionante ambiental ou cultural‟ e voltada para „a eficiência e a estética‟, a cidade modernista disseminada em zonas funcionais, passa a ter um crescimento
  • 4. 4 individualizado de suas partes: “A cidade, definida daqui em diante como uma unidade funcional, deverá crescer harmoniosamente em cada uma de suas partes, dispondo dos espaços e das vinculações nos quais se poderão inscrever, de forma equilibrada, as etapas de seu desenvolvimento”. Sendo assim, a modernização urbana é um dos valores disseminados como uma condição sine qua non presente principalmente nas sociedades capitalistas ocidentais contemporâneas, consistindo na especialização das zonas urbanas, interligação dos policentros urbanos por vias de acesso rápido (estas com expansão contínua para suprir a necessidade de mobilidade nas grandes cidades, que geralmente tem crescimento exponencial no número de veículos individuais), arquitetura (pós)moderna 17 (na qual o monumento passou a fazer parte do cotidiano na cidade), refuncionalização dos bairros e monumentos tradicionais/ históricos, assim como das áreas verdes, vistas no urbano moderno como locais que, além da preservação, tem que ter funcionalidade (geralmente áreas de escape para o lazer e descanso) para que a população desenvolva sentimento de pertencimento e consumam a/na paisagem urbana. Multiterritorialidade urbana A cidade é o lugar de surgimento e confluência das “tribos urbanas” – díade de palavras que representa a heterogeneidade cultural que convive (des)harmoniosamente nas sociedades urbanas contemporâneas, formadas por indivíduos com identidades culturais as mais diversas, mas que procuram congregar valores afins em espaços de encontros específicos de cada “tribo”. Haesbaert (2006, p. 338, 343-344) fala-nos a respeito de um conceito interessante e fundamental ao urbano aqui discutido, a multiterritorialidade: O que entendemos por multiterritorialidade é (...) a forma dominante, contemporânea ou “pós- moderna”, da reterritorialização (...). Ela é consequência direta da predominância (...) das relações sociais construídas através de territórios- rede, sobrepostos e descontínuos, e não mais de territórios-zona, que marcaram aquilo que podemos denominar modernidade clássica territorial-estatal. O que não quer dizer, em hipótese alguma, que essas formas mais antigas de território não continuem presentes, formando um amálgama complexo com as novas modalidades de organização territorial. (...) Multiterritorialidade (ou multiterritorialização se, de forma mais coerente, quisermos enfatizá-la enquanto ação ou processo) implica assim a possibilidade de acessar ou conectar diversos territórios, o que pode se dar tanto através de uma “mobilidade concreta”, no sentido de um deslocamento físico, quanto “virtual”, no sentido de acionar diferentes territorialidades mesmo sem deslocamento físico, como nas novas experiências espaço-temporais proporcionadas através do ciberespaço. 17 David Harvey (2007, p. 69) alerta que “os pós-modernistas [vêem o espaço] como coisa independente e autônoma a ser moldada segundo objetivos e princípios estéticos que não têm necessariamente nenhuma relação com algum objetivo social abrangente, salvo, talvez, a consecução da intemporalidade e da beleza „desinteressada‟ como fins em si mesmas.”
  • 5. 5 Partindo desta discussão, afirma-se que a cidade pensada como o espaço do encontro das diferenças culturais é também o lugar de concretização da multiterritorialidade, logo, a cidade pós-moderna, como um lugar de desencontros, deve ser repensada. Tecido urbano Estas palavras, “o tecido urbano”, não designam, de maneira restrita, o domínio edificado nas cidades, mas o conjunto das manifestações do predomínio da cidade sobre o campo. Nessa acepção, uma segunda residência, uma rodovia, um supermercado em pleno campo, fazem parte do tecido urbano. Mais ou menos denso, mais ou menos espesso e ativo, ele poupa somente as regiões estagnadas ou arruinadas, devotadas à “natureza” (LEFEBVRE, 2008, p. 15). Implosão-explosão urbana Esta categoria é aqui analisada segundo os estudos lefebvrianos, que explica-a como causa das metamorfoses intensas atinentes ao processo de urbanização: “(...) a não-cidade e a anticidade vão conquistar a cidade, penetrá-la, fazê-la explodir, e com isso estendê-la desmesuradamente, levando à urbanização da sociedade, ao tecido urbano recobrindo as remanescências da cidade anterior à indústria. Se esse extraordinário movimento escapa à atenção, se ele foi descrito apenas fragmentariamente, é porque os ideólogos quiseram eliminar o pensamento dialético e a análise das contradições em favor do pensamento lógico, ou seja, da constatação das coerências e tão somente das coerências. Nesse movimento, a realidade urbana, ao mesmo tempo amplificada e estilhaçada, perde os traços que a época anterior lhe atribuía: totalidade orgânica, sentido de pertencer, imagem enaltecedora, espaço demarcado e dominado pelos esplendores monumentais. Ela se povoa com os signos do urbano na dissolução da urbanidade; torna-se estipulação, ordem repressiva, inscrição por sinais, códigos sumários de circulação (percursos) e de referência. Ela se lê ora como um rascunho, ora como uma mensagem autoritária. Ela se declara mais ou menos imperiosamente. Nenhum desses termos descritivos dá conta completamente do processo histórico: a implosão-explosão (metáfora emprestada da física nuclear), ou seja, a enorme concentração (de pessoas, de atividades, de riquezas, de coisas e de objetos, de instrumentos, de meios e de pensamento) na realidade urbana, e a imensa explosão, a projeção de fragmentos múltiplos e disjuntos (periferias, subúrbios, residências secundárias, satélites etc.)”. (LEFEBVRE, 2008, p. 23-24). Zonas urbanas de fluxos centrípetos X Zonas urbanas de fluxos centrífugos Os fluxos urbanos são determinados de acordo com os horários de ápice (fluxos convergentes) e de rarefação (fluxos divergentes) das atividades que especializam as diversas partes da cidade. Villaça (2001, p. 20) ao explicar o fluxo intra-urbano afirma que ele: (...) é estruturado fundamentalmente pelas condições de deslocamento do ser humano, seja enquanto portador da mercadoria força de trabalho – como no deslocamento casa/trabalho, deslocamento casa-compras, casa-lazer, escola, etc. Exatamente daí vem, por exemplo, o enorme poder estruturador intra-urbano das áreas comerciais e de serviços, a começar pelo próprio centro urbano.
  • 6. 6 Dessa forma, durante o dia, o Centro da cidade e demais bairros onde predominam atividades do setor terciário (policentros), assim como as zonas industriais (onde predominam atividades do setor secundário), exercem maior influência atrativa gerando fluxos centrípetos, nos quais prevalece a convergência do fluxo demográfico, de automóveis, serviços, capital, informações..., ou seja, caracteriza-se como uma zona urbana de fluxo centrípeto diurno. Já nas áreas residenciais predomina, durante o dia, o fluxo centrífugo, pois há mais divergência daqueles que trabalham, estudam ou dependem de outras atividades que se concentram, geralmente, ao entorno e no Centro urbano. Durante a noite, os fluxos urbanos preponderantes invertem seus sentidos: a cidade dos serviços, que emprega, que é multifuncional, descansa (fluxos centrífugos noturnos) para que os atores protagonistas deste movimento pendular se dirijam em direção aos bairros dormitórios (zona urbana de fluxo centrípeto noturno). Próteses da modernização urbana Segundo o Dicionário Silveira Bueno (2000, p. 758) prótese significa a “substituição de um órgão ou parte dele por uma peça artificial”. As próteses da modernização urbana são construções que tem o objetivo de maximizar, melhorar, auxiliar em funções naturais da cidade como o setor de serviços e a mobilidade (com exemplos respectivos os centros comerciais e elevados), gerando muitas vezes paisagens com arquitetura desarmônica. Cidade frankenstein Utiliza-se este termo para designar a cidade que convive com a simultaneidade do crescimento urbano desordenado e da modernização urbana impositiva, configurando-se num lugar de antagonismos, de realidades sócio-espaciais, culturais e econômicas multifacetadas, como um corpo formado por partes alheias, próteses. Daí a alusão à obra “Frankenstein ou o moderno Prometeu” de Mary Shelley (1818). População precariamente incluída X População hegemônica Denomina-se aquela população que possui acesso, porém demasiadamente deficiente, dos meios básicos de sobrevivência (como alimentação e moradia) e outros que o Estado tem o dever de oferecer à sociedade (a exemplo do saneamento básico, saúde e educação pública), de população precariamente incluída. Em contrapartida, a população hegemônica é aquela que detém grande parte do montante da renda absoluta, assim como dos meios de produção e apreende os melhores salários, cargos políticos, públicos e privados, ou seja, tem total acesso aos meios básicos de sobrevivência e não depende exclusivamente dos meios que o Estado provê, podendo usufruir do privado, e fazendo parte da elite econômica, política e intelectual.
  • 7. 7 5 MODERNIZAÇÃO: expansão e proliferação dos espaços da(s) modernidade(s) em São Luís (MA) Os Grandes Projetos minero-metalúrgicos instalados na Ilha do Maranhão (ALUMAR e VALE) a partir da década de 1970 e a viabilização do Corredor Norte de exportação pelo sistema Multimodal composto pelo Complexo Portuário de São Luís, rodovias e ferrovias, possibilitaram a “complexificação” dos serviços oferecidos na capital, assim como um aumento na renda mensal dos trabalhadores formando um mercado consumidor em potencial recém-nascido (com a expansão da classe média), atraindo diversos empreendimentos comerciais, residenciais e de lazer, antes inexistentes na cidade provinciana. A especulação imobiliária cresceu em torno do solo urbano. O Centro urbano, tradicional, já não comportava as necessidades da população hegemônica local que consumia padrões da elite do Centro-Sul que se modernizava. Áreas da Zona Norte de São Luís (figura 01), localizadas próximas às praias foram paulatinamente estruturadas com vias asfaltadas, iluminação, saneamento básico e consequentemente loteadas. A venda da paisagem (vista para o mar) é um dos fatores desta área ser a mais valorizada localmente (possibilitando o projeto de verticalização e modernização urbana), somada à proximidade com os centros comerciais, de lazer, bancos, restaurantes, trabalho, escolas e faculdades da classe média. Figura 01. Contraste entre os modernos bairros da Zona Norte de São Luís (parte superior da foto) e bairros da população precariamente incluída na Área Itaqui-Bacanga (parte inferior da foto), separados pelos estuários dos rios Anil e Bacanga. Fonte: TORRES (2010).
  • 8. 8 Configurou-se gradativamente esta expansão da classe média em direção ao eixo norte do município (que acarretou na repulsão dos moradores pobres mais antigos desse eixo) a partir da finalização das obras de construção das Pontes José Sarney (em 1970), Bandeira Tribuzi (em 1980), Hilton Rodrigues e Governador Newton Bello (conhecida popularmente como Ponte do Caratatiua), ambas localizadas sobre o rio Anil, permitindo a ocupação planejada no bairro São Francisco seguida (não necessariamente nesta ordem) dos bairros Ponta D‟Areia (parte deste bairro está sobre um pontal extremamente valorizado que atualmente é denominado pelas imobiliárias de Península da Ponta D‟Areia) Renascença I e II, Calhau, São Marcos, Cohama, parte do Jaracaty, Olho D‟Água, Turu, dezenas de condomínios residenciais fechados, enfim, bairros que margeiam as avenidas Castelo Branco, Colares Moreira, dos Holandeses, Litorânea, Jerônimo de Albuquerque, São Luís Rei de França e Daniel de La Touche. Como afirma Ferreira; Silva: (...) o eixo Renascença-Calhau é o mais valorizado dessa cidade e em 1999 possuía o metro quadrado mais caro da macrorregião Nordeste (Ferreira, 1999a). A essência dessa lógica é tão evidente que um edifício de 22 andares localizado no Calhau, com dois apartamentos por andar (média de R$ 300.000,00/unidade) pode representar para o proprietário uma lucratividade de até 13.200.000,00 (treze milhões e duzentos mil reais). Isso num Estado considerado um dos mais pobres do Brasil, em que 60% da PEA recebem menos que dois salários mínimos e em uma capital em que somando os que não têm renda e os que ganham até um salário mínimo (...) correspondem a 66,33% da PEA (BRASIL, 2000 apud FERREIRA; SILVA, 2005, p. 06). Os shoppings mais antigos como Garden e Tropical estão em sua terceira década, demonstrando e resistindo (com adaptações) às intensas metamorfoses urbanas desse período, já que outros posteriores sucumbem às novas ordens econômicas locais e à desconcentração comercial do Centro. Atualmente está sendo construída uma franquia do Carrefour e o décimo e maior shopping da capital maranhense, o Shopping da Ilha (figura 02), numa área total de 176 mil m2, ambos nos eixos de expansão da especulação imobiliária. Figura 02. Projeto do Shopping da Ilha: Área Bruta Locável de 41 mil m2, área construída de 82 mil m2, 16 torres residenciais (2880 apartamentos) e 7 comerciais (1600 salas comerciais), área principal do shopping com 4 andares, 15 lojas âncoras/mega-lojas, 330 lojas ao total, 2 mil vagas para estacionamento, 1200 lugares na praça de alimentação. Fonte: Shopping da Ilha, 2010.
  • 9. 9 6 IMPLOSÃO-EXPLOSÃO URBANA E CONSIDERAÇÕES FINAIS: esquadrejamento sócio-econômico e espacial paulatino – precariedades e hegemonias em redes de influência nas áreas/ zonas de São Luís (MA) A rápida expansão demográfica em São Luís a partir da década de 1970 (figura 03 A) não conseguiu ser concomitante ao planejamento urbano, gerando um tecido urbano denso, desordenado, de antagonismos evidentes, com multiterritorialidades, várias próteses urbanas, configurando-se na cidade frankenstein contemporânea. O aumento dos fluxos urbanos, aeroviários (com aproximadamente 985 mil passageiros, em 2009, no Aeroporto Internacional de São Luís, segundo a Infraero), rodoviários, ferroviários e marítimos em direção à São Luís se dão cada vez mais pela disponibilidade e melhoria de serviços e infra-estrutura (como a expansão da rede hoteleira internacional), aumento do mercado consumidor, dos atrativos fiscais e turísticos, assim como pela expansão e implantação de grandes projetos comerciais e industriais no município e sua hinterlândia (como a Refinaria Premium da PETROBRAS, obra de 20 bilhões de dólares, que será a maior refinaria da América Latina e uma das maiores do mundo com capacidade para produzir, em 2016, 600 mil barris/dia de derivados de petróleo – 1/3 da produção nacional – e gerar 132 mil empregos diretos e indiretos). Figura 03. Mosaico. A: Expansão da mancha urbana no município de São Luís de 1926 a 2004. B: Palafitas sobre o Rio Anil no Bairro Liberdade. C: Vista das unidades localizadas à margem direita da Avenida principal do Bairro Cidade Operária, conjunto habitacional com aproximadamente 14 mil residências no subúrbio de São Luís. Fonte: Lopes (2008).
  • 10. 10 Porém, esta concentração (implosão urbana) enquanto atrativo populacional, gera um processo inverso, as excrescências (explosão urbana). Como já foi dito, o crescimento demográfico acentuado e desordenado trouxe uma série de estigmas para a população precariamente incluída: o esquadrejamento sócio-econômico e espacial na cidade é feito de acordo com o valor de uso e troca do solo urbano, logo, a população hegemônica estabiliza-se sobre áreas de elevada especulação financeira e pressiona os mais pobres a fixarem-se na periferia precariamente “infraestruturada”, a exemplo dos moradores de palafitas (figura 03 B) que não têm condição sequer de ter uma propriedade sobre um terreno estável, seco. Os imensos conjuntos habitacionais são construídos durante o boom populacional em São Luís, na 2ª metade do século XX, a exemplo da Cidade Operária (figura 03 C). Com a disponibilidade de terras vazias nas adjacências deste bairro (que surge como um centro de referência para os bairros vizinhos, já que possuía uma boa infra-estrutura viária e urbana) elas serão ocupadas rapidamente, surgindo um complexo de vilas, dentre elas a Cidade Olímpica com quase 100 mil habitantes (LOPES, 2008). Vários bairros surgem na cidade como essenciais para desconcentrar os serviços do Centro como: Renascença, Cohab, Turu, Cidade Operária e São Cristóvão, gerando novas redes de influência entre as diversas áreas de São Luís. Apesar disso, o Centro ainda concentra o setor secundário na capital maranhense. REFERÊNCIAS BURNETT, Frederico Lago. Urbanização e desenvolvimento sustentável: a sustentabilidade dos tipos de urbanização na cidade de São Luís do Maranhão. São Luís: UEMA, 2008. DICIONÁRIO SILVEIRA BUENO. Direção editorial: Moacir da Cunha Viana. São Paulo: Didática paulista, 2000. FERREIRA, Antonio José de Araújo; SILVA, Cláudio Roberto Marques da. A lógica capitalista da produção do espaço urbano de São Luís (1971 a 2003). In: Anais do IX Simpósio Nacional de Geografia Urbana. Manaus: UFAM, 2005. HAESBAERT, Rogério. O mito da desterritorialização: do “Fim dos Territórios” à Multiterritorialidade. – 2ª ed. – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. – 16ª ed. – São Paulo: Edições Loyola, 2007. INFRAERO. Movimento Operacional Acumulado da REDE INFRAERO (janeiro até dezembro de 2009). In:<http://www.infraero.gov.br/upload/arquivos/movi/mov_operac._1209_revisado.pdf>. Acesso em 30 jun. 2010.
  • 11. 11 LEFEBVRE, Henri. A Revolução Urbana. – 3ª reimpr. – Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2008. LOPES, José Antonio Viana – (org.). BRASIL; ESPAÑA. Ministério da Cultura (Brasil). Cidade de São Luís (Maranhão). Ministerio de Assuntos Exteriores y Coperación, AECID. Junta de Andalucia. Consejeria de Obras Públicas y Transportes. Dirección General de Arquitectura y Vivenda. São Luís Ilha do Maranhão e Alcântara: guia de arquitetura e paisagem = San Luis Isla de Marañon y Alcântara: guia de arquitectura y paisaje – Ed. Bilíngüe. São Luís-Sevilha: 2008. SANTOS, Milton; SILVEIRA, María Laura. O Brasil: Território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2006. SHOPPING DA ILHA. In: <http://www.shoppingdailha.com.br>. Acesso em 30 jun. 2010. TORRES, J. B. In: <http://jbtorres.blogspot.com/>. Acesso em 30 jun. 2010. VILLAÇA, Flávio. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel/FAPESP/Lincoln Institut, 2001. OLIVEIRA, D. M. V; MOREIRA, T. S; RIBEIRO JUNIOR, J. A. S; OLIVEIRA, H.C; RODRIGUES, A. L. S; RÊGO, J. L; FARIAS FILHO, M. S. (Des/Re)Construção do Tecido Urbano: Processo de Modernização e Implosão-Explosão Urbana em São Luís MA, no Limiar do Século XXI. Anais do XVI Encontro Nacional de Geógrafos - ENG, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 25 a 31 de julho de 2010. Disponível em http://www.agb.org.br/xvieng/anais/index.html