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comunidade
UFG
ASCOM
identidade fraca
monótono
6 Jornal UFG Goiânia, setembro de 2014MESA-REDONDA MESA-REDONDAJornal UFG Goiânia, setembro de 2014 7
Parto humanizado retoma
protagonismo da mulher
O Brasil é recordista mundial em partos por cesarianas. No País, 52% das mulheres são
submetidas a esse tipo de procedimento. Quando consideramos os números da rede privada, os
índices chegam até a 90% em algumas maternidades. O índice indicado pela Organização Mundial
de Saúde (OMS) é de 15% de cesarianas. Por causa desses números alarmantes, o Jornal UFG
em parceria com o programa Conexões da TV UFG convidou dois profissionais para discutir as
diferentes formas de parto e como torná-lo mais humanizado, a enfermeira obstetra Cristiane Vieira
e o ginecologista obstetra Luiz Carlos Pinheiro. Também conversamos com uma doula, Aline Willik,
que viveu a experiência de uma cesárea e um parto em casa.
TV UFG e Ascom
Por que o Brasil é recordis-
ta mundial em parto por ce-
sariana?
Luiz Carlos Pinheiro –
Creio que esse recorde é devi-
do a dois fatores: o tipo de for-
mação do médico e a desinfor-
mação da gestante. Nós, mé-
dicos, somos treinados a tra-
tar emergências e não a pro-
moção da saúde. A tendência
é ver o parto como uma doen-
ça, um problema. Outro fator
é o próprio sistema brasileiro,
em que a mulher é ligada a
um médico, diferente de ou-
tros países, em que é ligada a
uma equipe de saúde ou ins-
tituição. Para se desvencilhar
em ficar 24 horas disponíveis,
os médicos criaram mecanis-
mos para induzir a cesariana,
uma vez que esse tipo de par-
to pode ser agendado e é mais
rápido. O médico também se
sente mais seguro, devido ao
seu tipo de formação. Além
disso, há a cultura do medo,
como o medo da circular de
cordão umbilical, e os discur-
sos que diminuem a mulher
como “você não dá conta, você
é fraca”, sendo que o parto é
um evento natural.
Cristiane Vieira –
Acredito que a medicalização
e a hospitalização são fato-
res que contribuem para esse
panorama. Antes o parto era
feito em casa, com poucos re-
cursos. Isso aumentou a mor-
talidade materna e neonatal.
Com o surgimento das tecno-
logias, principalmente o da
anestesia, foi sendo facilitada
a hospitalização. Apareceram
meios julgados mais seguros
para o parto, em instituição
hospitalar. Contudo, isso
trouxe também condutas in-
tervencionistas e o uso exage-
rado de medicamentos. A mu-
lher pensa que ir ao hospital
ter um parto cesariano, com
anestesia em que ela não sen-
tirá dor, é mais seguro. Existe
muito medo da dor. A mulher
é levada a pensar que o parto
é doloroso e que está colocan-
do o bebê em risco, porque
existe um falso discurso que
o parto pode passar da hora
e o bebê ter problemas. Esses
também são fatores que indu-
zem a mulher a decidir pela
cesariana.
Quais as vantagens do parto
normal? Quando uma cesá-
rea é realmente indicada?
Luiz Carlos Pinheiro –
A mulher nasce preparada
para o parto normal ou natu-
ral. Entretanto, a cesariana
não foi criada porque alguém
queria marcar uma cesárea,
mas devido a complicações
de alguns partos em que mu-
lheres morriam em trabalho
de parto e crianças também.
Existem casos em que não fa-
zer uma cesariana é desuma-
nizar o parto. As vantagens
do parto normal são que ele é
mais fisiológico, o bebê nas-
ce sem influência de medica-
mentos, na maioria das ve-
zes, e na hora certa. Um dos
grandes problemas das cesa-
rianas é que as crianças nas-
cem antes da hora e precisam
ser conduzidas para a UTI ao
nascer. O parto cesariano,
no entanto, é necessário em
alguns casos, como exemplo,
os de placenta prévia, gêmeos
em que o primeiro não está
cefálico (de cabeça para bai-
xo), sofrimento fetal agudo e
mecônio (primeiras fezes do
bebê) espesso em começo de
trabalho de parto. Nesses ca-
sos, não é tão seguro nascer
de parto normal. No Brasil,
o alto índice de cesarianas
também ocorre pelo fato das
mulheres desconhecerem
os riscos em longo prazo da
cesariana e pensarem só no
parto sem dor e rápido. Para
a criança, os riscos de uma
cesariana marcada podem
ser: ir para a UTI por dificul-
dade respiratória, problemas
psicológicos no futuro por
não ter completado o desen-
volvimento e riscos de diabe-
tes na infância. Para a mãe,
risco oito a nove vezes maior
de infecção e risco de rein-
ternação, devido à dor. Para
a próxima gravidez, ainda há
o risco de placenta prévia,
romper o útero, dor pélvi-
ca crônica, situações que as
mães não se lembram ou não
são alertadas ao marcar uma
cesariana.
Cristiane Vieira – O
parto cesariano tem seus be-
nefícios e é uma necessida-
de em alguns casos. O parto
humanizado não tem nada a
ver com o fato de ser normal
ou cesárea. A cesariana tam-
bém pode ser humanizada.
Com certeza terão mulheres
que vão precisar da cesaria-
na, nem por isso elas serão
menos mães. Porém, o parto
normal sendo possível traz
benefícios para a recupe-
ração da mulher e do bebê.
Desencadeado naturalmente
e acompanhado com o míni-
mo de intervenções possíveis,
ele traz mais segurança para
a mãe e o bebê, pois a recu-
peração da mulher é muito
mais rápida, o bebê respira
melhor e tem menos necessi-
dade de usar medicamentos
que podem atrapalhar a ama-
mentação.
Qual o conceito de parto
humanizado? Qual a dife-
rença dele para o parto tra-
dicional?
Cristiane Vieira – Parto
humanizado é o parto feito com
respeito às decisões da mãe,
de como ela escolheu ter o seu
filho, mas de forma esclareci-
da sobre os benefícios de cada
parto. Um parto respeitoso
evita condutas que tragam so-
frimento para o bebê ou para
a mãe e respeita o tempo dos
dois. Se o profissional tem se-
gurança de que a criança está
bem, o bebê pode demorar um
pouco mais a nascer e sem
necessidade de intervenções,
como empurrar a barriga da
paciente (kristeller), usar me-
dicamentos como a ocitocina,
que provoca muitas dores e
acelera o trabalho de parto, ou
usar técnicas de instrumentos
para tirar o bebê, que podem
ser necessários, mas não é re-
gra para toda mulher, que são
o vácuo extrator e o fórceps. O
parto respeitoso é aquele que
procura trazer para o momen-
to do nascimento condições de
conforto, de alívio da dor, pois
não há como dizer que não há
dor na contração, apesar de
ter pacientes que dizem não
sentir. O parto humanizado é
aquele que respeita a mulher
e o bebê, independente de ser
normal ou cesárea.
O parto humanizado come-
ça então com o pré-natal,
com as informações sobre o
parto?
Luiz Carlos Pinheiro –
Ahumanizaçãocomeçanapré-
concepção, na orientação da
mulher, no respeito ao pré-
natal. A humanização do par-
to devolve o protagonismo da
mulher no parto. Quando os
partos passaram a ser reali-
zados nos hospitais, a mulher
passou a ser colocada deitada,
a usar um tecido para separá-
la do médico e a ser depilada,
além de ser submetida a lava-
gem intestinal. O bebê nascia
e era observado, aspirado, fi-
cava até oito horas longe da
mãe. Percebeu-se, porém, que
isso trazia mais malefícios
do que benefícios. Em 1963,
o francês Frederick Leboyer
lançou um livro que horrori-
zou a classe médica, porque
ele insinuou que o bebê tinha
direitos sendo desrespeitados
na sala de parto. Ao nascer, o
bebê precisa apenas do conta-
to com a mãe.
No início do ano, houve um
caso no Rio Grande do Sul
em que uma mulher foi obri-
gada a fazer um parto cesa-
riano por ordem judicial. Até
que ponto a mulher tem au-
tonomia para decidir sobre
seu parto e até que ponto o
médico pode intervir?
Luiz Carlos Pinhei-
ro – Esse caso foi polêmico e
não tenho uma opinião for-
mada sobre ele. Atualmente,
no Brasil, há duas correntes
perigosas: a do médico que
acha que todo parto tem de
ser cesárea ou um parto nor-
mal com muitas intervenções
e uma linha muito radical
que acha que qualquer in-
tervenção é desnecessária.
Não pode haver radicalismos.
Já acompanhei partos do-
miciliares, mas fico preocu-
pado quando eles são feitos
fora dos níveis de seguran-
ça, como os estabelecidos na
Europa. Lá, as mulheres só
têm parto domiciliar quando
são gestantes de baixo risco.
Mas, atualmente, há quem
acompanhe parto pélvico
em casa, com gestante que
já fez duas cesarianas ante-
riores. Na maioria das vezes
dá certo, mas o bebê estará
submetido a um risco maior.
Parece-me que esse foi o caso
dessa mulher. Acredito que
houve falha na comunicação.
Quando a pessoa é bem trata-
da e quando o médico explica
sobre os riscos, ela entende.
O problema da saúde é que,
quando procuramos os servi-
ços, até a voz de quem trata
é autoritária, de quem sabe
mais, e isso tinha de acabar.
Cristiane Vieira – Para
o parto acontecer de acordo
com a escolha da mulher, te-
mos que avaliá-la também.
Nesse caso, a paciente apre-
sentava critérios que traziam
riscos para a vida dela. Al-
guns deles tiram a possibili-
dade do parto normal. Os ex-
tremismos não devem existir.
Há a linha completamente
extremista, que acha que ne-
nhuma intervenção deve ser
feita, mas não é toda mulher
que terá um parto normal
sem a mínima intervenção.
Outro tema bastante debati-
do é a violência obstétrica,
como o uso de procedimen-
tos não acordados, a exem-
plo da episiotomia (corte
da vagina). Como a senhora
percebe essa relação confli-
tuosa que envolve, às vezes,
até ofensa moral?
Cristiane Vieira – A
violência aumentou pela ne-
cessidade de abreviar o par-
to. É a falsa impressão de
que se nascer rápido, será
mais seguro. O uso de oci-
tócitos, a episiotomia, em-
purrar a barriga para forçar
que o bebê desça de forma
mais rápida são condutas in-
tervencionistas que causam
trauma e sofrimento para a
mulher. Temos de respeitar
o tempo de desencadeamento
do parto. Quando há muitas
interferências, nós, médicos
e enfermeiros, causamos so-
frimento para a mãe e para o
bebê. Uma assistência apa-
rentemente segura para a
mulher pode trazer trauma
para ela. Muitas mulheres
optam por não ter mais filhos
ou não ter um parto normal,
devido ao sofrimento que o
parto anterior lhe causou.
Quais tipos de parto a ges-
tante pode optar? Quais são
mais indicados? Como ava-
liar onde a mulher deve ter
o bebê?
Luiz Carlos Pinheiro –
O conceito de humanização
de parto tenta dar à mulher
e ao bebê condições mais se-
guras para o parto. O parto
humanizado não é apenas o
parto de cócoras, mas esse é
o mais fisiológico. Pode-se ter
também o parto sentado em
uma banqueta de parto. Se
a paciente quiser ter o parto
deitada, que fique deitada. A
cesárea quando necessária e
não é feita também desuma-
niza. O parto cesariano pode
ser feito de forma menos
traumática, dando o bebê à
mãe ao nascer, para a ama-
mentação na sala de parto.
Agora o parto doméstico já
é controverso. Na Europa, é
estimulado, mas na América
do Norte há pesquisas que
mostram índice de mortali-
dade 10,5% maior em partos
domiciliares. Cada mulher
deve pesar os riscos e bene-
fícios de um parto domiciliar
e estar o mais próximo pos-
sível de socorro. Só mulheres
com gestações consideradas
de baixo risco podem tentar o
parto domiciliar.
Cristiane Vieira – In-
dependente de ser cesárea
ou parto normal, ele deve ser
humanizado. O Ministério da
Saúde tem investido em con-
dutas para que isso aconteça.
A humanização não depende
só da posição do parto. O lo-
cal precisa permitir que a mu-
lher ande durante o trabalho
de parto, que ela tome banho
e que tenha controle de luz.
As instituições não estão pre-
paradas para isso. Hoje não
há esse espaço, nós, médicos
e enfermeiros, improvisamos.
O parto humanizado dá liber-
dade para a mulher em vários
aspectos. Ela deve ser respei-
tada quando diz que não quer
episiotomia ou que não quer
ficar sem comer durante o
trabalho de parto.
A rede pública oferece uma
estrutura básica para o parto
humanizado?
Cristiane Vieira –
Essa estrutura hoje é mais
ampliada no SUS do que na
rede privada. Existe o proje-
to Rede Cegonha que prioriza
várias questões sobre ges-
tação e parto. Algumas leis
já foram criadas para que
isso funcione, como a Lei do
Acompanhante. A Rede Ce-
gonha propõe a construção
de centros de parto normal,
ambientes preparados, em
que a mulher pode andar,
o acompanhante pode es-
tar presente, além de ela ter
um espaço individualizado e
não de enfermaria, equipado
com banheiras para parto na
água, banquetas e cavalinhos
para fazer exercício. Tudo
para acelerar o processo de
trabalho de parto, aliviando a
dor sem medicamentos e in-
tervenções.
Muitas pessoas não conhe-
cem o trabalho da doula.
Como ela é treinada e como
ela atua?
Luiz Carlos Pinheiro –
Doula é a pessoa que ajuda a
mulher no parto. O trabalho
da doula começa no pré-na-
tal. Ela fica próxima à mulher
para fazer massagens, levá-
la ao chuveiro, auxiliá-la na
respiração. Quando a mulher
tem a doula no pré-natal,
percebo que o parto é mais
fácil. Quando a mulher con-
sente o parto, relaxa e deixa
acontecer, ele é prazeroso. Se
ela está com medo e trava,
cada contração é traumática.
Cristiane Vieira – A
doula recebe um curso e é
preparada para cuidar da
gestante. É importante que
a doula estabeleça vínculo
com a mulher durante toda
a gestação, para orientá-la.
Falo muito para amigas que
engravidam: não busquem
experiências ruins, busquem
alternativas para estarem
preparadas para o parto. É
muito diferente quando o mé-
dico ou o enfermeiro recebe
uma paciente que foi bem
preparada para o parto, da-
quela que não teve preparo.
Kharen Stecca
E
xiste uma cultura no Brasil de que o
parto é sinônimo de dor e deve ser rá-
pido. No entanto, para algumas mu-
lheres, que conseguem informações e apoio,
parto não precisa ser sinônimo de problema,
mas um rito de passagem, uma experiência
sublime que muda completamente sua visão
de mundo.
Aline Willik, jornalista, é uma dessas
mães que por meio do parto se transformou.
Antes de engravidar de sua primeira filha, hoje
com sete anos, a jornalista já tinha certeza
que queria ter seus filhos por parto na água:
“Li um livro sobre o parto na água e a ideia de
meu filho não sofrer, não chorar no parto pas-
sou a ser prioridade para mim”. Porém, suas
expectativas não se concretizaram no primei-
ro parto. Com 40 semanas, após um exame
que avalia a vitalidade do bebê, Aline Willik foi
levada a uma cesárea que, após muitos anos,
entendeu não ter sido necessária, mas con-
veniente ao sistema. “Confiei na médica. Em
geral, todos confiamos tanto nos médicos, que
duvidar parece estranho”, relatou.
Cinco anos depois, na gestação do se-
gundo filho, ao se consultar com a mesma
obstetra, percebeu que poderia ser levada no-
vamente a uma cesárea. Então, ela começou
a buscar por um parto natural: “Queria uma
médica, que atendesse por plano de saúde e
fizesse parto humanizado e na água. Quan-
do disse isso na internet, as pessoas riram.
Porque isso não existe”. Quando conheceu um
médico indicado nos grupos das redes sociais,
Aline Willik fez uma sabatina e percebeu que
havia encontrado um aliado. Descobriu tam-
bém que o parto na água em Goiânia é clan-
destino. “As maternidades de Goiânia não têm
local próprio para isso e, formalmente, tam-
bém não é possível ter um bebê fora do centro
cirúrgico. O parto na água acontece na sur-
dina nas maternidades”, explicou. O medo de
que essa clandestinidade não permitisse que
tivesse o parto na água fez com que ela deci-
disse ter seu parto em casa.
Com a ajuda de uma enfermeira obste-
triz e uma doula voluntária, que só conheceu
no trabalho de parto, Aline Willik teve seu se-
gundo filho em casa, na água, com marido e
filha presentes. Foi a partir dessa experiência
e também da relação estabelecida com a dou-
la que a atendeu voluntariamente, que ela
decidiu ajudar mulheres a terem seu parto
humanizado.
“É um trabalho de formiguinha. Cada
mulher que se empodera e tem o seu parto
respeitado é uma vitória para o movimento do
parto humanizado. Foi pela vontade de aju-
dar mais mulheres a ter essa experiência que
decidi ser doula”, relatou a jornalista, mãe e,
atualmente, doula.
Para se capacitar, Aline Willik fez um
curso em uma empresa de Brasília ligada à
Rede pela Humanização do Parto e do Nas-
cimento (Rehuna). Ela conta que em Goiânia
existem apenas os cursos das maternidades
e que as doulas são formadas para atender
dentro delas. No entanto, Aline Willik, que
conhece diversas doulas que trabalham em
maternidades, explica que elas acabam vendo
determinadas condutas que caracterizam vio-
lência obstétrica e por isso, optou pelo curso
fora das maternidades.
Momentos marcantes como doula
Para Aline Willik, um dos primeiros
partos na água, acompanhado por ela, foi a
experiência que mais lhe marcou: “Encontrei
a Natália no Facebook, querendo um médico
humanizado pelo Ipasgo. Expliquei a ela que
não existia esse médico e como ela poderia fa-
zer para ter um parto humanizado. Ela tro-
cou de médico com 38 semanas de gestação,
pagou o parto particular com dificuldades e
eu fui sua doula voluntariamente. Como não
tive tempo de trabalhar alguns conceitos com
ela durante a gestação, o que chamamos de
empoderamento, a Natália me chamou muito
cedo. Estava com a bolsa rompida, o que faz
com que as contrações sejam mais fortes. Ela
começou a sentir contrações a uma hora da
manhã, chamou-me às oito da manhã e eu
fiquei com ela até seu bebê nascer. A bebê só
encaixou no final, depois da dilatação total. A
cada contração ela vocalizava e não gritava. A
bebê dela, como o meu, não chorou ao nascer.
Ver a emoção dela ao ver que a bebê não havia
chorado me marcou”.
Aline Willik, como jornalista, protago-
nizou uma série sobre o parto humanizado
na TV Brasil Central. “Para a série, acom-
panhei um parto normal e uma cesárea. Na
cesárea, a mãe não vê o que acontece com
o bebê depois que ele nasce. A equipe colo-
ca uma cânula no bebê, a criança, que está
sem ar, é chacoalhada, sacudida. A mãe só
vê o bebê quando ele chora e não todo esse
procedimento. Porém, não há interesse em
desmistificar isso. O parto cesariano é inte-
ressante para o sistema – médico, plano de
saúde, hospital – só não é interessante para
a mãe e o bebê,” disse.
O caminho entre uma cesárea, um
parto em casa e o trabalho de doula
Cristiane Vieira Luiz Carlos Pinheiro
Fotos:JúliaMariano
SílviaHelenaFerreira
4
Novo campo para
pesquisa e prática
Todo mês, a maternidade rece-
be cerca de 60 estagiários dos cursos
de Medicina, Enfermagem, Biomedi-
cina, Nutrição e Farmácia, além de
estudantes dos cursos de residência
em UTI Neonatal e em Ginecologia e
Obstetrícia, que realizam atividades
no Centro de Estudos, Ensino e Pes-
quisa do HMDI. De acordo com Ma-
ria Auxiliadora Gomes, estudantes de
outros cursos relacionados à área de
saúde também podem solicitar a rea-
lização de estágio na maternidade,
que recebe exclusivamente estudan-
tes da UFG, como foi estabelecido no
convênio de gestão.
Esse número deve ser amplia-
do com a criação de duas novas resi-
dências: uma em Mastologia e a outra
Multiprofissional. Também está em
planejamento, junto à Faculdade de
Enfermagem (FEN), a criação do cur-
so de especialização de Enfermagem
em Obstetrícia.
O Centro de Estudos, Ensino
e Pesquisa é subordinado à Diretoria
SOCIEDADEJornal UFG Goiânia, setembro de 2014
Hospital e Maternidade Dona Íris amplia campo prático
para alunos da área de saúde
Estudantes de graduação, pós-graduação e residentes vivenciam a rotina de atendimento de um hospital
e são incentivados a desenvolver pesquisas
Serena Veloso
O
estudante Jyun Hishino cursa
o sexto ano do curso de Medi-
cina da UFG. Para alunos como
ele, que estão prestes a ingressar na
carreira profissional, a prática é es-
sencial para o desenvolvimento das
habilidades e competências aprendi-
das ao longo dos anos na academia.
Foi no Hospital e Maternidade Dona
Íris (HMDI) que o estudante teve a
oportunidade de atuar dentro de um
hospital frente a frente com os mais
diferentes casos de pacientes na área
de Ginecologia e Obstetrícia. Essa
possibilidade foi alcançada em virtu-
de do convênio firmado em 2012 entre
UFG, Secretaria Municipal de Saúde
de Goiânia (SMS) e Fundação de Apoio
ao Hospital das Clínicas (FUNDAHC)
para a gestão compartilhada do HMDI.
O objetivo do convênio é promo-
ver uma gestão diferenciada, a partir
do modelo tripartite. Segundo a enfer-
meira da maternidade, Maria Auxilia-
dora Gomes de Mello Brito, diferente-
mente dos contratos estabelecidos com
as Organizações Sociais (OS), esse tipo
de gestão prioriza a construção coletiva
das políticas internas, por meio de um
plano de trabalho, além das ações de
intervenção do hospital.
O modelo de gestão foi inspirado
no do Hospital Risoleta Tolentino Ne-
ves, em Belo Horizonte/MG, onde foi
firmado um convênio entre a Universi-
dade Federal de Minas Gerais (UFMG)
e a prefeitura da cidade. Já o modelo
assistencial de atendimento foi orien-
tado pelo trabalho do Hospital Sofia
Feldman, também da capital mineira,
referência nacional na assistência ao
parto humanizado.
No caso goiano, cada uma das
partes tem responsabilidades defini-
das no convênio. A Secretaria de Saú-
de é encarregada de fazer o repasse de
recursos financeiros que são geridos
pela FUNDAHC. Tal verba é destinada
à contratação de pessoal, à compra de
insumos, equipamentos e medicamen-
tos, ao pagamento de serviços contra-
tados e a outras despesas para manu-
tenção da maternidade, estimadas em
um plano anual de trabalho.
“A Secretaria determina a políti-
ca de atendimento. Também estabelece-
mos as metas de atendimento e há uma
negociação periódica com a SMS para
ver se essas metas estão dentro do es-
perado”, explicou o diretor-executivo da
FUNDAHC, José Antônio de Morais. Se-
gundo ele, a previsão de gastos até maio
de 2015 é de cerca de R$ 56 milhões.
Por sua vez, a UFG é responsável
pelas atividades de ensino, pesquisa e
extensão. Sob orientação de professo-
res e profissionais, alunos da área de
saúde da universidade podem vivenciar
a rotina médica no atendimento ambu-
latorial, de urgência e emergência.
CarlosSiqueira
Em dois anos
de gestão
compartilhada, a
unidade de saúde
realizou cinco mil
partos, mais de 63
mil atendimentos
ambulatoriais e
cerca de oito mil
internações
Humanização no
atendimento às
gestantes
Todas as instalações, equipe
profissional e práticas médicas do
Hospital e Maternidade Dona Íris,
levam em consideração as decisões
da mãe e a fisiologia do processo
do parto, evidenciando e valorizan-
do a humanização do parto, com
foco na redução da mortalidade
materna e infantil. As principais
ações promovidas são:
- Orientação das doulas, pessoas
que dão suporte físico e emocional à
gestante antes, durante e após o parto;
- Incentivo ao parto normal;
- Estimulação de exercícios e
massagens para alongar o períneo
(músculo que contribui para a pas-
sagem do bebê durante o parto) e
aliviar as dores da paciente;
- Realização do parto na água;
- Evitar o uso do fórceps, ins-
trumento para retirada do bebê no
parto normal;
- Somente em casos com extre-
ma necessidade, realização da epi-
siotomia (corte do períneo para a
passagem do bebê);
- Utilização do colírio de nitrato
de prata nos olhos do bebê apenas
nos partos vaginais, como preven-
ção à oftalmia gonocócica;
- Sala de parto com redução de
barulho e da quantidade de luz do
ambiente;
- Corte do cordão umbilical ape-
nas após parar de pulsar;
- Não realização da manobra de
kristeller, técnica que pressiona a
parte superior da barriga da mu-
lher para forçar a saída do bebê;
- Incentivo ao aleitamento ma-
terno na sala de parto;
- Incentivo ao contato pele a
pele da mãe com o bebê nos pri-
meiros momentos de vida e banho
apenas após seis horas depois do
nascimento;
- Estímulo à presença do acom-
panhante, escolhido pela própria
parturiente, durante todo o proce-
dimento do parto, ação garantida
pela Lei 11.108, de 2005.
Sob a orientação do professor Waldemar Naves (à direita), estudantes
da área de saúde assistem a aulas teóricas, podendo colocar o
conhecimento em prática com atividades na maternidade
Acadêmica do hospital, dirigida pelo
professor da Faculdade de Medicina
(FM), Waldemar Naves do Amaral. A
unidade é responsável por coordenar
as atividades acadêmicas e científicas,
oferecendo aos alunos o acompanha-
mento de professores e profissionais.
Para Waldemar Naves, “o Cen-
tro de Estudos traz aquilo que é so-
nho de todo indivíduo que trabalha
com saúde, que é realizar o atendi-
mento à população, sem deixar de fa-
zer ciência”.
Segundo o professor, alunos de
pós-graduação já têm desenvolvido
pesquisas nas áreas de Odontologia
e Neonatologia, além de monografias
da graduação. Para regulamentar as
pesquisas do hospital, está em fase de
criação o Comitê de Ética em Pesquisa.
Assistência ao parto
humanizado
Referência na assistência ao
parto humanizado e na atenção hu-
manizada em Ginecologia, Obstetrícia
e Neonatologia, a maternidade teve a
experiência dos trabalhos desenvolvi-
dos por médicos da área relatada no
livro Assistência ao parto humanizado.
A publicação foi lançada ano passado
pelo professor Waldemar Naves, junto
ao também professor da FM e diretor-
-geral da maternidade, Maurício Gui-
lherme de Campos Viggiano, e ao di-
retor da Maternidade Nascer Cidadão,
Sebastião Fernandes Moreira.
“A humanização é a alma dessa
maternidade. O livro norteia esse cami-
nhar da parte técnica e da humaniza-
ção do atendimento de saúde”, relatou
Waldemar Naves. O livro ganhará uma
segunda edição, com o título Assistên-
cia ao parto humanizado e neonatal, e
aprofundará nos diversos campos de
atendimento da maternidade.
erros de
diagramação
primeira página
fraca
PUBLICAÇÃO DA ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
ANO III Nº 26 ABRIL 2009
Impresso
Especial
9912229887/DR/GO
UFG
CORREIOS
Acesso ilimitado pela internet
motiva discussão
informAção
Até que ponto convém o
compartilhamento sem
barreiras de conteúdos
e produtos no mundo
virtual? mais do que
nunca, a capacidade
de penetração das
tecnologias da informação
na vida das pessoas
instiga o debate em todas
as esferas da sociedade.
Págs. 8 e 9
A UfG lança seu
vestibular semestral.
São oferecidas vagas
em 15 cursos de
Goiânia e as inscrições
estarão abertas até o
dia 6 de maio
Pág. 5
Pesquisas apontam
soluções para o controle
de qualidade dos
resultados dos exames
citopatológicos cervicais,
importantes para a saúde
da mulher
Pág. 10
não atrái
atenção
sobreposição de
cores erradas
perfil do usuário
comunidade
UFG
jovem / aluno
equipe docente
entre
18 e 25 anos
DIGITAL
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Parto humanizado retoma protagonismo da mulher

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  • 9. 6 Jornal UFG Goiânia, setembro de 2014MESA-REDONDA MESA-REDONDAJornal UFG Goiânia, setembro de 2014 7 Parto humanizado retoma protagonismo da mulher O Brasil é recordista mundial em partos por cesarianas. No País, 52% das mulheres são submetidas a esse tipo de procedimento. Quando consideramos os números da rede privada, os índices chegam até a 90% em algumas maternidades. O índice indicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é de 15% de cesarianas. Por causa desses números alarmantes, o Jornal UFG em parceria com o programa Conexões da TV UFG convidou dois profissionais para discutir as diferentes formas de parto e como torná-lo mais humanizado, a enfermeira obstetra Cristiane Vieira e o ginecologista obstetra Luiz Carlos Pinheiro. Também conversamos com uma doula, Aline Willik, que viveu a experiência de uma cesárea e um parto em casa. TV UFG e Ascom Por que o Brasil é recordis- ta mundial em parto por ce- sariana? Luiz Carlos Pinheiro – Creio que esse recorde é devi- do a dois fatores: o tipo de for- mação do médico e a desinfor- mação da gestante. Nós, mé- dicos, somos treinados a tra- tar emergências e não a pro- moção da saúde. A tendência é ver o parto como uma doen- ça, um problema. Outro fator é o próprio sistema brasileiro, em que a mulher é ligada a um médico, diferente de ou- tros países, em que é ligada a uma equipe de saúde ou ins- tituição. Para se desvencilhar em ficar 24 horas disponíveis, os médicos criaram mecanis- mos para induzir a cesariana, uma vez que esse tipo de par- to pode ser agendado e é mais rápido. O médico também se sente mais seguro, devido ao seu tipo de formação. Além disso, há a cultura do medo, como o medo da circular de cordão umbilical, e os discur- sos que diminuem a mulher como “você não dá conta, você é fraca”, sendo que o parto é um evento natural. Cristiane Vieira – Acredito que a medicalização e a hospitalização são fato- res que contribuem para esse panorama. Antes o parto era feito em casa, com poucos re- cursos. Isso aumentou a mor- talidade materna e neonatal. Com o surgimento das tecno- logias, principalmente o da anestesia, foi sendo facilitada a hospitalização. Apareceram meios julgados mais seguros para o parto, em instituição hospitalar. Contudo, isso trouxe também condutas in- tervencionistas e o uso exage- rado de medicamentos. A mu- lher pensa que ir ao hospital ter um parto cesariano, com anestesia em que ela não sen- tirá dor, é mais seguro. Existe muito medo da dor. A mulher é levada a pensar que o parto é doloroso e que está colocan- do o bebê em risco, porque existe um falso discurso que o parto pode passar da hora e o bebê ter problemas. Esses também são fatores que indu- zem a mulher a decidir pela cesariana. Quais as vantagens do parto normal? Quando uma cesá- rea é realmente indicada? Luiz Carlos Pinheiro – A mulher nasce preparada para o parto normal ou natu- ral. Entretanto, a cesariana não foi criada porque alguém queria marcar uma cesárea, mas devido a complicações de alguns partos em que mu- lheres morriam em trabalho de parto e crianças também. Existem casos em que não fa- zer uma cesariana é desuma- nizar o parto. As vantagens do parto normal são que ele é mais fisiológico, o bebê nas- ce sem influência de medica- mentos, na maioria das ve- zes, e na hora certa. Um dos grandes problemas das cesa- rianas é que as crianças nas- cem antes da hora e precisam ser conduzidas para a UTI ao nascer. O parto cesariano, no entanto, é necessário em alguns casos, como exemplo, os de placenta prévia, gêmeos em que o primeiro não está cefálico (de cabeça para bai- xo), sofrimento fetal agudo e mecônio (primeiras fezes do bebê) espesso em começo de trabalho de parto. Nesses ca- sos, não é tão seguro nascer de parto normal. No Brasil, o alto índice de cesarianas também ocorre pelo fato das mulheres desconhecerem os riscos em longo prazo da cesariana e pensarem só no parto sem dor e rápido. Para a criança, os riscos de uma cesariana marcada podem ser: ir para a UTI por dificul- dade respiratória, problemas psicológicos no futuro por não ter completado o desen- volvimento e riscos de diabe- tes na infância. Para a mãe, risco oito a nove vezes maior de infecção e risco de rein- ternação, devido à dor. Para a próxima gravidez, ainda há o risco de placenta prévia, romper o útero, dor pélvi- ca crônica, situações que as mães não se lembram ou não são alertadas ao marcar uma cesariana. Cristiane Vieira – O parto cesariano tem seus be- nefícios e é uma necessida- de em alguns casos. O parto humanizado não tem nada a ver com o fato de ser normal ou cesárea. A cesariana tam- bém pode ser humanizada. Com certeza terão mulheres que vão precisar da cesaria- na, nem por isso elas serão menos mães. Porém, o parto normal sendo possível traz benefícios para a recupe- ração da mulher e do bebê. Desencadeado naturalmente e acompanhado com o míni- mo de intervenções possíveis, ele traz mais segurança para a mãe e o bebê, pois a recu- peração da mulher é muito mais rápida, o bebê respira melhor e tem menos necessi- dade de usar medicamentos que podem atrapalhar a ama- mentação. Qual o conceito de parto humanizado? Qual a dife- rença dele para o parto tra- dicional? Cristiane Vieira – Parto humanizado é o parto feito com respeito às decisões da mãe, de como ela escolheu ter o seu filho, mas de forma esclareci- da sobre os benefícios de cada parto. Um parto respeitoso evita condutas que tragam so- frimento para o bebê ou para a mãe e respeita o tempo dos dois. Se o profissional tem se- gurança de que a criança está bem, o bebê pode demorar um pouco mais a nascer e sem necessidade de intervenções, como empurrar a barriga da paciente (kristeller), usar me- dicamentos como a ocitocina, que provoca muitas dores e acelera o trabalho de parto, ou usar técnicas de instrumentos para tirar o bebê, que podem ser necessários, mas não é re- gra para toda mulher, que são o vácuo extrator e o fórceps. O parto respeitoso é aquele que procura trazer para o momen- to do nascimento condições de conforto, de alívio da dor, pois não há como dizer que não há dor na contração, apesar de ter pacientes que dizem não sentir. O parto humanizado é aquele que respeita a mulher e o bebê, independente de ser normal ou cesárea. O parto humanizado come- ça então com o pré-natal, com as informações sobre o parto? Luiz Carlos Pinheiro – Ahumanizaçãocomeçanapré- concepção, na orientação da mulher, no respeito ao pré- natal. A humanização do par- to devolve o protagonismo da mulher no parto. Quando os partos passaram a ser reali- zados nos hospitais, a mulher passou a ser colocada deitada, a usar um tecido para separá- la do médico e a ser depilada, além de ser submetida a lava- gem intestinal. O bebê nascia e era observado, aspirado, fi- cava até oito horas longe da mãe. Percebeu-se, porém, que isso trazia mais malefícios do que benefícios. Em 1963, o francês Frederick Leboyer lançou um livro que horrori- zou a classe médica, porque ele insinuou que o bebê tinha direitos sendo desrespeitados na sala de parto. Ao nascer, o bebê precisa apenas do conta- to com a mãe. No início do ano, houve um caso no Rio Grande do Sul em que uma mulher foi obri- gada a fazer um parto cesa- riano por ordem judicial. Até que ponto a mulher tem au- tonomia para decidir sobre seu parto e até que ponto o médico pode intervir? Luiz Carlos Pinhei- ro – Esse caso foi polêmico e não tenho uma opinião for- mada sobre ele. Atualmente, no Brasil, há duas correntes perigosas: a do médico que acha que todo parto tem de ser cesárea ou um parto nor- mal com muitas intervenções e uma linha muito radical que acha que qualquer in- tervenção é desnecessária. Não pode haver radicalismos. Já acompanhei partos do- miciliares, mas fico preocu- pado quando eles são feitos fora dos níveis de seguran- ça, como os estabelecidos na Europa. Lá, as mulheres só têm parto domiciliar quando são gestantes de baixo risco. Mas, atualmente, há quem acompanhe parto pélvico em casa, com gestante que já fez duas cesarianas ante- riores. Na maioria das vezes dá certo, mas o bebê estará submetido a um risco maior. Parece-me que esse foi o caso dessa mulher. Acredito que houve falha na comunicação. Quando a pessoa é bem trata- da e quando o médico explica sobre os riscos, ela entende. O problema da saúde é que, quando procuramos os servi- ços, até a voz de quem trata é autoritária, de quem sabe mais, e isso tinha de acabar. Cristiane Vieira – Para o parto acontecer de acordo com a escolha da mulher, te- mos que avaliá-la também. Nesse caso, a paciente apre- sentava critérios que traziam riscos para a vida dela. Al- guns deles tiram a possibili- dade do parto normal. Os ex- tremismos não devem existir. Há a linha completamente extremista, que acha que ne- nhuma intervenção deve ser feita, mas não é toda mulher que terá um parto normal sem a mínima intervenção. Outro tema bastante debati- do é a violência obstétrica, como o uso de procedimen- tos não acordados, a exem- plo da episiotomia (corte da vagina). Como a senhora percebe essa relação confli- tuosa que envolve, às vezes, até ofensa moral? Cristiane Vieira – A violência aumentou pela ne- cessidade de abreviar o par- to. É a falsa impressão de que se nascer rápido, será mais seguro. O uso de oci- tócitos, a episiotomia, em- purrar a barriga para forçar que o bebê desça de forma mais rápida são condutas in- tervencionistas que causam trauma e sofrimento para a mulher. Temos de respeitar o tempo de desencadeamento do parto. Quando há muitas interferências, nós, médicos e enfermeiros, causamos so- frimento para a mãe e para o bebê. Uma assistência apa- rentemente segura para a mulher pode trazer trauma para ela. Muitas mulheres optam por não ter mais filhos ou não ter um parto normal, devido ao sofrimento que o parto anterior lhe causou. Quais tipos de parto a ges- tante pode optar? Quais são mais indicados? Como ava- liar onde a mulher deve ter o bebê? Luiz Carlos Pinheiro – O conceito de humanização de parto tenta dar à mulher e ao bebê condições mais se- guras para o parto. O parto humanizado não é apenas o parto de cócoras, mas esse é o mais fisiológico. Pode-se ter também o parto sentado em uma banqueta de parto. Se a paciente quiser ter o parto deitada, que fique deitada. A cesárea quando necessária e não é feita também desuma- niza. O parto cesariano pode ser feito de forma menos traumática, dando o bebê à mãe ao nascer, para a ama- mentação na sala de parto. Agora o parto doméstico já é controverso. Na Europa, é estimulado, mas na América do Norte há pesquisas que mostram índice de mortali- dade 10,5% maior em partos domiciliares. Cada mulher deve pesar os riscos e bene- fícios de um parto domiciliar e estar o mais próximo pos- sível de socorro. Só mulheres com gestações consideradas de baixo risco podem tentar o parto domiciliar. Cristiane Vieira – In- dependente de ser cesárea ou parto normal, ele deve ser humanizado. O Ministério da Saúde tem investido em con- dutas para que isso aconteça. A humanização não depende só da posição do parto. O lo- cal precisa permitir que a mu- lher ande durante o trabalho de parto, que ela tome banho e que tenha controle de luz. As instituições não estão pre- paradas para isso. Hoje não há esse espaço, nós, médicos e enfermeiros, improvisamos. O parto humanizado dá liber- dade para a mulher em vários aspectos. Ela deve ser respei- tada quando diz que não quer episiotomia ou que não quer ficar sem comer durante o trabalho de parto. A rede pública oferece uma estrutura básica para o parto humanizado? Cristiane Vieira – Essa estrutura hoje é mais ampliada no SUS do que na rede privada. Existe o proje- to Rede Cegonha que prioriza várias questões sobre ges- tação e parto. Algumas leis já foram criadas para que isso funcione, como a Lei do Acompanhante. A Rede Ce- gonha propõe a construção de centros de parto normal, ambientes preparados, em que a mulher pode andar, o acompanhante pode es- tar presente, além de ela ter um espaço individualizado e não de enfermaria, equipado com banheiras para parto na água, banquetas e cavalinhos para fazer exercício. Tudo para acelerar o processo de trabalho de parto, aliviando a dor sem medicamentos e in- tervenções. Muitas pessoas não conhe- cem o trabalho da doula. Como ela é treinada e como ela atua? Luiz Carlos Pinheiro – Doula é a pessoa que ajuda a mulher no parto. O trabalho da doula começa no pré-na- tal. Ela fica próxima à mulher para fazer massagens, levá- la ao chuveiro, auxiliá-la na respiração. Quando a mulher tem a doula no pré-natal, percebo que o parto é mais fácil. Quando a mulher con- sente o parto, relaxa e deixa acontecer, ele é prazeroso. Se ela está com medo e trava, cada contração é traumática. Cristiane Vieira – A doula recebe um curso e é preparada para cuidar da gestante. É importante que a doula estabeleça vínculo com a mulher durante toda a gestação, para orientá-la. Falo muito para amigas que engravidam: não busquem experiências ruins, busquem alternativas para estarem preparadas para o parto. É muito diferente quando o mé- dico ou o enfermeiro recebe uma paciente que foi bem preparada para o parto, da- quela que não teve preparo. Kharen Stecca E xiste uma cultura no Brasil de que o parto é sinônimo de dor e deve ser rá- pido. No entanto, para algumas mu- lheres, que conseguem informações e apoio, parto não precisa ser sinônimo de problema, mas um rito de passagem, uma experiência sublime que muda completamente sua visão de mundo. Aline Willik, jornalista, é uma dessas mães que por meio do parto se transformou. Antes de engravidar de sua primeira filha, hoje com sete anos, a jornalista já tinha certeza que queria ter seus filhos por parto na água: “Li um livro sobre o parto na água e a ideia de meu filho não sofrer, não chorar no parto pas- sou a ser prioridade para mim”. Porém, suas expectativas não se concretizaram no primei- ro parto. Com 40 semanas, após um exame que avalia a vitalidade do bebê, Aline Willik foi levada a uma cesárea que, após muitos anos, entendeu não ter sido necessária, mas con- veniente ao sistema. “Confiei na médica. Em geral, todos confiamos tanto nos médicos, que duvidar parece estranho”, relatou. Cinco anos depois, na gestação do se- gundo filho, ao se consultar com a mesma obstetra, percebeu que poderia ser levada no- vamente a uma cesárea. Então, ela começou a buscar por um parto natural: “Queria uma médica, que atendesse por plano de saúde e fizesse parto humanizado e na água. Quan- do disse isso na internet, as pessoas riram. Porque isso não existe”. Quando conheceu um médico indicado nos grupos das redes sociais, Aline Willik fez uma sabatina e percebeu que havia encontrado um aliado. Descobriu tam- bém que o parto na água em Goiânia é clan- destino. “As maternidades de Goiânia não têm local próprio para isso e, formalmente, tam- bém não é possível ter um bebê fora do centro cirúrgico. O parto na água acontece na sur- dina nas maternidades”, explicou. O medo de que essa clandestinidade não permitisse que tivesse o parto na água fez com que ela deci- disse ter seu parto em casa. Com a ajuda de uma enfermeira obste- triz e uma doula voluntária, que só conheceu no trabalho de parto, Aline Willik teve seu se- gundo filho em casa, na água, com marido e filha presentes. Foi a partir dessa experiência e também da relação estabelecida com a dou- la que a atendeu voluntariamente, que ela decidiu ajudar mulheres a terem seu parto humanizado. “É um trabalho de formiguinha. Cada mulher que se empodera e tem o seu parto respeitado é uma vitória para o movimento do parto humanizado. Foi pela vontade de aju- dar mais mulheres a ter essa experiência que decidi ser doula”, relatou a jornalista, mãe e, atualmente, doula. Para se capacitar, Aline Willik fez um curso em uma empresa de Brasília ligada à Rede pela Humanização do Parto e do Nas- cimento (Rehuna). Ela conta que em Goiânia existem apenas os cursos das maternidades e que as doulas são formadas para atender dentro delas. No entanto, Aline Willik, que conhece diversas doulas que trabalham em maternidades, explica que elas acabam vendo determinadas condutas que caracterizam vio- lência obstétrica e por isso, optou pelo curso fora das maternidades. Momentos marcantes como doula Para Aline Willik, um dos primeiros partos na água, acompanhado por ela, foi a experiência que mais lhe marcou: “Encontrei a Natália no Facebook, querendo um médico humanizado pelo Ipasgo. Expliquei a ela que não existia esse médico e como ela poderia fa- zer para ter um parto humanizado. Ela tro- cou de médico com 38 semanas de gestação, pagou o parto particular com dificuldades e eu fui sua doula voluntariamente. Como não tive tempo de trabalhar alguns conceitos com ela durante a gestação, o que chamamos de empoderamento, a Natália me chamou muito cedo. Estava com a bolsa rompida, o que faz com que as contrações sejam mais fortes. Ela começou a sentir contrações a uma hora da manhã, chamou-me às oito da manhã e eu fiquei com ela até seu bebê nascer. A bebê só encaixou no final, depois da dilatação total. A cada contração ela vocalizava e não gritava. A bebê dela, como o meu, não chorou ao nascer. Ver a emoção dela ao ver que a bebê não havia chorado me marcou”. Aline Willik, como jornalista, protago- nizou uma série sobre o parto humanizado na TV Brasil Central. “Para a série, acom- panhei um parto normal e uma cesárea. Na cesárea, a mãe não vê o que acontece com o bebê depois que ele nasce. A equipe colo- ca uma cânula no bebê, a criança, que está sem ar, é chacoalhada, sacudida. A mãe só vê o bebê quando ele chora e não todo esse procedimento. Porém, não há interesse em desmistificar isso. O parto cesariano é inte- ressante para o sistema – médico, plano de saúde, hospital – só não é interessante para a mãe e o bebê,” disse. O caminho entre uma cesárea, um parto em casa e o trabalho de doula Cristiane Vieira Luiz Carlos Pinheiro Fotos:JúliaMariano SílviaHelenaFerreira
  • 10. 4 Novo campo para pesquisa e prática Todo mês, a maternidade rece- be cerca de 60 estagiários dos cursos de Medicina, Enfermagem, Biomedi- cina, Nutrição e Farmácia, além de estudantes dos cursos de residência em UTI Neonatal e em Ginecologia e Obstetrícia, que realizam atividades no Centro de Estudos, Ensino e Pes- quisa do HMDI. De acordo com Ma- ria Auxiliadora Gomes, estudantes de outros cursos relacionados à área de saúde também podem solicitar a rea- lização de estágio na maternidade, que recebe exclusivamente estudan- tes da UFG, como foi estabelecido no convênio de gestão. Esse número deve ser amplia- do com a criação de duas novas resi- dências: uma em Mastologia e a outra Multiprofissional. Também está em planejamento, junto à Faculdade de Enfermagem (FEN), a criação do cur- so de especialização de Enfermagem em Obstetrícia. O Centro de Estudos, Ensino e Pesquisa é subordinado à Diretoria SOCIEDADEJornal UFG Goiânia, setembro de 2014 Hospital e Maternidade Dona Íris amplia campo prático para alunos da área de saúde Estudantes de graduação, pós-graduação e residentes vivenciam a rotina de atendimento de um hospital e são incentivados a desenvolver pesquisas Serena Veloso O estudante Jyun Hishino cursa o sexto ano do curso de Medi- cina da UFG. Para alunos como ele, que estão prestes a ingressar na carreira profissional, a prática é es- sencial para o desenvolvimento das habilidades e competências aprendi- das ao longo dos anos na academia. Foi no Hospital e Maternidade Dona Íris (HMDI) que o estudante teve a oportunidade de atuar dentro de um hospital frente a frente com os mais diferentes casos de pacientes na área de Ginecologia e Obstetrícia. Essa possibilidade foi alcançada em virtu- de do convênio firmado em 2012 entre UFG, Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS) e Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas (FUNDAHC) para a gestão compartilhada do HMDI. O objetivo do convênio é promo- ver uma gestão diferenciada, a partir do modelo tripartite. Segundo a enfer- meira da maternidade, Maria Auxilia- dora Gomes de Mello Brito, diferente- mente dos contratos estabelecidos com as Organizações Sociais (OS), esse tipo de gestão prioriza a construção coletiva das políticas internas, por meio de um plano de trabalho, além das ações de intervenção do hospital. O modelo de gestão foi inspirado no do Hospital Risoleta Tolentino Ne- ves, em Belo Horizonte/MG, onde foi firmado um convênio entre a Universi- dade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a prefeitura da cidade. Já o modelo assistencial de atendimento foi orien- tado pelo trabalho do Hospital Sofia Feldman, também da capital mineira, referência nacional na assistência ao parto humanizado. No caso goiano, cada uma das partes tem responsabilidades defini- das no convênio. A Secretaria de Saú- de é encarregada de fazer o repasse de recursos financeiros que são geridos pela FUNDAHC. Tal verba é destinada à contratação de pessoal, à compra de insumos, equipamentos e medicamen- tos, ao pagamento de serviços contra- tados e a outras despesas para manu- tenção da maternidade, estimadas em um plano anual de trabalho. “A Secretaria determina a políti- ca de atendimento. Também estabelece- mos as metas de atendimento e há uma negociação periódica com a SMS para ver se essas metas estão dentro do es- perado”, explicou o diretor-executivo da FUNDAHC, José Antônio de Morais. Se- gundo ele, a previsão de gastos até maio de 2015 é de cerca de R$ 56 milhões. Por sua vez, a UFG é responsável pelas atividades de ensino, pesquisa e extensão. Sob orientação de professo- res e profissionais, alunos da área de saúde da universidade podem vivenciar a rotina médica no atendimento ambu- latorial, de urgência e emergência. CarlosSiqueira Em dois anos de gestão compartilhada, a unidade de saúde realizou cinco mil partos, mais de 63 mil atendimentos ambulatoriais e cerca de oito mil internações Humanização no atendimento às gestantes Todas as instalações, equipe profissional e práticas médicas do Hospital e Maternidade Dona Íris, levam em consideração as decisões da mãe e a fisiologia do processo do parto, evidenciando e valorizan- do a humanização do parto, com foco na redução da mortalidade materna e infantil. As principais ações promovidas são: - Orientação das doulas, pessoas que dão suporte físico e emocional à gestante antes, durante e após o parto; - Incentivo ao parto normal; - Estimulação de exercícios e massagens para alongar o períneo (músculo que contribui para a pas- sagem do bebê durante o parto) e aliviar as dores da paciente; - Realização do parto na água; - Evitar o uso do fórceps, ins- trumento para retirada do bebê no parto normal; - Somente em casos com extre- ma necessidade, realização da epi- siotomia (corte do períneo para a passagem do bebê); - Utilização do colírio de nitrato de prata nos olhos do bebê apenas nos partos vaginais, como preven- ção à oftalmia gonocócica; - Sala de parto com redução de barulho e da quantidade de luz do ambiente; - Corte do cordão umbilical ape- nas após parar de pulsar; - Não realização da manobra de kristeller, técnica que pressiona a parte superior da barriga da mu- lher para forçar a saída do bebê; - Incentivo ao aleitamento ma- terno na sala de parto; - Incentivo ao contato pele a pele da mãe com o bebê nos pri- meiros momentos de vida e banho apenas após seis horas depois do nascimento; - Estímulo à presença do acom- panhante, escolhido pela própria parturiente, durante todo o proce- dimento do parto, ação garantida pela Lei 11.108, de 2005. Sob a orientação do professor Waldemar Naves (à direita), estudantes da área de saúde assistem a aulas teóricas, podendo colocar o conhecimento em prática com atividades na maternidade Acadêmica do hospital, dirigida pelo professor da Faculdade de Medicina (FM), Waldemar Naves do Amaral. A unidade é responsável por coordenar as atividades acadêmicas e científicas, oferecendo aos alunos o acompanha- mento de professores e profissionais. Para Waldemar Naves, “o Cen- tro de Estudos traz aquilo que é so- nho de todo indivíduo que trabalha com saúde, que é realizar o atendi- mento à população, sem deixar de fa- zer ciência”. Segundo o professor, alunos de pós-graduação já têm desenvolvido pesquisas nas áreas de Odontologia e Neonatologia, além de monografias da graduação. Para regulamentar as pesquisas do hospital, está em fase de criação o Comitê de Ética em Pesquisa. Assistência ao parto humanizado Referência na assistência ao parto humanizado e na atenção hu- manizada em Ginecologia, Obstetrícia e Neonatologia, a maternidade teve a experiência dos trabalhos desenvolvi- dos por médicos da área relatada no livro Assistência ao parto humanizado. A publicação foi lançada ano passado pelo professor Waldemar Naves, junto ao também professor da FM e diretor- -geral da maternidade, Maurício Gui- lherme de Campos Viggiano, e ao di- retor da Maternidade Nascer Cidadão, Sebastião Fernandes Moreira. “A humanização é a alma dessa maternidade. O livro norteia esse cami- nhar da parte técnica e da humaniza- ção do atendimento de saúde”, relatou Waldemar Naves. O livro ganhará uma segunda edição, com o título Assistên- cia ao parto humanizado e neonatal, e aprofundará nos diversos campos de atendimento da maternidade.
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  • 14. PUBLICAÇÃO DA ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ANO III Nº 26 ABRIL 2009 Impresso Especial 9912229887/DR/GO UFG CORREIOS Acesso ilimitado pela internet motiva discussão informAção Até que ponto convém o compartilhamento sem barreiras de conteúdos e produtos no mundo virtual? mais do que nunca, a capacidade de penetração das tecnologias da informação na vida das pessoas instiga o debate em todas as esferas da sociedade. Págs. 8 e 9 A UfG lança seu vestibular semestral. São oferecidas vagas em 15 cursos de Goiânia e as inscrições estarão abertas até o dia 6 de maio Pág. 5 Pesquisas apontam soluções para o controle de qualidade dos resultados dos exames citopatológicos cervicais, importantes para a saúde da mulher Pág. 10
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  • 26. pra quem é o jornal?
  • 27. NÃO É PARA O ESTUDANDE
  • 29. NÃO
  • 30. -linguagem jovem -propósta gráfica -identidade visual/editorial -diagramação
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  • 42. liberdade - esbilidade flexibilidade - organização exagero - limites
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  • 54. COR
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