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ARCOS
Cláudia Cristina Silva
Especial para Revista “a par”
Brasil e Portugal: dois países inti-
mamente ligados pela história, idioma
e atualmente pelos fenômenos migra-
tórios. Estudos não-oficiais afirmam
que pode haver mais de 250 mil brasi-
leiros em Portugal (Folha On Line 26/
05/06), nação com população estima-
da em 10 milhões de habitantes. En-
quanto no Brasil, conforme a enciclo-
pédia Wikipédia vivem cerca de
500.000 pessoas com nacionalidade
portuguesa. A maioria desses imigran-
tes mudou para cá na década de 60.
A história da vinda da portuguesa
Maria Leonor e Sousa Pessanha de
Miranda aconteceu em 1986, quando
tinha 16 anos, apesar de ter morado,
antes, três anos no país: 77, 78 e 79.
Depois, retornou para Portugal para
estudar e morar com a avó, enquanto os
pais ficaram no Brasil trabalhando.
Leonor nasceu em Luanda, capital
daAngola, na costa ocidental da África.
Então, surge a pergunta: ela é portugue-
sa ou africana? A resposta correta é a
primeira opção. Isto se explica pelo fato
histórico de que esse país era colônia
de Portugal, e todos que nasceram lá
até 1975 (ano da independência) rece-
biam nacionalidade portuguesa. O pai
de Leonor, que é português, foi envi-
ado como soldado para guerrear a fa-
vor da metrópole colonizadora, resis-
tente em dominar a colônia. Ela conta
que a mãe era “madrinha de guerra”
(mulheres que se correspondiam com
soldados da guerra colonial com o pro-
pósito de transmitirem apoio emocio-
nal e manter os laços pátrios) de seu pai
e acabaram se apaixonando.
Após vários anos de conflito arma-
do de movimentos angolanos contra o
colonialismo português, a independên-
cia de Angola aconteceu depois do tér-
mino de uma ditadura de 48 anos em
Portugal. A liberdade política do país
africano em 11 de novembro de 1975
não foi o início da paz, ao contrário, foi
o começo de uma guerra civil, uma luta
de poderes pelo controle do território.
Embora, alguns portugueses tenham
ficado lá, Leonor conta que a maioria
saiu com a roupa do corpo, inclusive
sua família. Eles partiram para a Mau-
ritânia, país no noroeste da Àfrica, onde
ficaram por dois anos.
Durante o período em que Leonor
viveu em Portugal, dos nove aos 16
anos, ela residiu no Distrito de Beja, no
Baixo Alentejo. Ao chegar ao Brasil,
em Belo Horizonte, teve dificuldades
de adaptação. Segundo a imigrante, foi
necessário quase um renascimento para
que vivesse com bem-estar. Apesar de
a língua ser a mesma, ninguém enten-
dia o que ela dizia, por causa do sota-
que carregado e do linguajar diferen-
ciado. “No comércio, eu pedia leite e
eles me davam sorvete. Tive que apren-
História de imigrante
portuguesa se confunde
com a história política
de Portugal. Após 20
anos no Brasil, ela já
sente um carinho por
um país que não é o seu
revista a par 37
der a falar e a comer como os brasilei-
ros, pois a alimentação aqui é comple-
tamente diferente”.
Por causa do jeito de falar, a portu-
guesa evitava o contato interpessoal
para não provocar constrangimentos.
Quando ela queria alguma coisa, cochi-
chava com um de seus três irmãos, que
já residiam há algum tempo no Brasil
e estavam habituados à cultura do país.
Entretanto, Leonor entendia bem o que
os brasileiros falavam, com exceção
das gírias. “O modo de falar aqui é mais
calmo, em contraposição ao português
que fala mais rápido, cantado. Além
disso, utilizamos expressões e palavras
diferentes para algumas coisas. Certa
vez, uma professora pediu-me para ler
uma redação na frente da turma. Fiquei
trêmula, pensei que não ia conseguir
chegar ao final de tanta vergonha.
Achava que meus colegas não me en-
tenderiam e ficava com mal-estar”.
Como estudou em três continentes, a
imigrante também teve problemas para
aprender o ensino gramatical. De acor-
do com ela, o processo de alfabetização
em Portugal diverge do Brasil. Lá, as
letras não são tão trabalhadas como
aqui; não são escritas ligadas umas às
outras, são separadas, cursivas, uma
espécie de letra de forma.
Quanto à alimentação, Leonor
conta que em Portugal não se come
“arroz com feijão” todos os dias e,
mesmo tendo 20 anos de moradia no
Brasil, ela não consegue seguir esse
costume diariamente. O arroz só é in-
gerido em Portugal em conjunto com
algum ingrediente, como bacalhau,
tomate ou frango. “E não se acha paco-
te de arroz de cinco quilos”, ressalta.
Depois de estar cinco anos em Belo
Horizonte, Leonor conheceu o marido.
Em 1996, eles se mudaram para Arcos.
No início, ela não gostava da cidade
pela falta de opções de lazer. Hoje,
prefere Arcos à capital mineira. “O
município é acolhedor e pacato, um
bom lugar para criar meu filho”.
Desde que a portuguesa emigrou,
ela não voltou a Portugal, embora pre-
tenda levar o marido e o filho para co-
nhecerem as raízes e uma parte da his-
tória dela. Leonor mantém sua cultura
portuguesa por meio de músicas, leitu-
ras de reportagens e contatos com os
parentes e amigos que vivem lá. Na
Copa do Mundo deste ano, ela afirma
sem titubear que vai torcer pela seleção
portuguesa.
A imigrante diz ter boa relação com
o Brasil e os brasileiros . Para ela, existe
uma mágoa nacional quanto à coloni-
zação portuguesa, o que gera precon-
ceitos e piadas pejorativas tanto aqui
quanto lá. “Eu irrelevo isso. Não gosto
que falem mal do Brasil e nem que os
brasileiros falem mal de Portugal”,
comenta.
Diferença Línguística de Brasil/Portugal
Uma das grandes dificuldades que Leonor enfrentou quando veio para o Brasil foi comunicar-se
verbalmente com os brasileiros. Mas, por que isso aconteceu, já que falamos a mesma língua?Assim
como os outros idiomas, o português evoluiu historicamente, tendo sofrido influência de vários idio-
mas e dialetos até chegar ao estágio conhecido atualmente. Porém, deve-se considerar que esse idio-
ma tem dois padrões reconhecidos internacionalmente: o português brasileiro e o português europeu.
As diferenças estão no vocabulário, na pronúncia e na sintaxe. A imigrante percebeu as pequenas
divergências linguísticas no dia-a-dia e, ainda hoje, se pega descobrindo alguma palavra nova.
Exemplos dos verbetes que são diferentes nos dialetos da língua portuguesa dos dois continentes:
Portugal (Europa), Brasil (América do Sul):
Brasil Portugal
Absorvente higiênico Penso higiênico
Bacia Alguidar
Banheiro Casa de banho
Bicha Fila
Celular Telemóvel
Descarga Autoclismo
Leiteira Púcaro
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Pregador de roupa Mola
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Geladeira Frigorífico
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Maria Leonor com
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Carlos Roberto de
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Uma forma de manter
sua história, enquanto
portuguesa, é
guardando objetos e
documentos de seu
país. A carteira de
identidade é um deles
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  • 1. revista a par36 ARCOS Cláudia Cristina Silva Especial para Revista “a par” Brasil e Portugal: dois países inti- mamente ligados pela história, idioma e atualmente pelos fenômenos migra- tórios. Estudos não-oficiais afirmam que pode haver mais de 250 mil brasi- leiros em Portugal (Folha On Line 26/ 05/06), nação com população estima- da em 10 milhões de habitantes. En- quanto no Brasil, conforme a enciclo- pédia Wikipédia vivem cerca de 500.000 pessoas com nacionalidade portuguesa. A maioria desses imigran- tes mudou para cá na década de 60. A história da vinda da portuguesa Maria Leonor e Sousa Pessanha de Miranda aconteceu em 1986, quando tinha 16 anos, apesar de ter morado, antes, três anos no país: 77, 78 e 79. Depois, retornou para Portugal para estudar e morar com a avó, enquanto os pais ficaram no Brasil trabalhando. Leonor nasceu em Luanda, capital daAngola, na costa ocidental da África. Então, surge a pergunta: ela é portugue- sa ou africana? A resposta correta é a primeira opção. Isto se explica pelo fato histórico de que esse país era colônia de Portugal, e todos que nasceram lá até 1975 (ano da independência) rece- biam nacionalidade portuguesa. O pai de Leonor, que é português, foi envi- ado como soldado para guerrear a fa- vor da metrópole colonizadora, resis- tente em dominar a colônia. Ela conta que a mãe era “madrinha de guerra” (mulheres que se correspondiam com soldados da guerra colonial com o pro- pósito de transmitirem apoio emocio- nal e manter os laços pátrios) de seu pai e acabaram se apaixonando. Após vários anos de conflito arma- do de movimentos angolanos contra o colonialismo português, a independên- cia de Angola aconteceu depois do tér- mino de uma ditadura de 48 anos em Portugal. A liberdade política do país africano em 11 de novembro de 1975 não foi o início da paz, ao contrário, foi o começo de uma guerra civil, uma luta de poderes pelo controle do território. Embora, alguns portugueses tenham ficado lá, Leonor conta que a maioria saiu com a roupa do corpo, inclusive sua família. Eles partiram para a Mau- ritânia, país no noroeste da Àfrica, onde ficaram por dois anos. Durante o período em que Leonor viveu em Portugal, dos nove aos 16 anos, ela residiu no Distrito de Beja, no Baixo Alentejo. Ao chegar ao Brasil, em Belo Horizonte, teve dificuldades de adaptação. Segundo a imigrante, foi necessário quase um renascimento para que vivesse com bem-estar. Apesar de a língua ser a mesma, ninguém enten- dia o que ela dizia, por causa do sota- que carregado e do linguajar diferen- ciado. “No comércio, eu pedia leite e eles me davam sorvete. Tive que apren- História de imigrante portuguesa se confunde com a história política de Portugal. Após 20 anos no Brasil, ela já sente um carinho por um país que não é o seu
  • 2. revista a par 37 der a falar e a comer como os brasilei- ros, pois a alimentação aqui é comple- tamente diferente”. Por causa do jeito de falar, a portu- guesa evitava o contato interpessoal para não provocar constrangimentos. Quando ela queria alguma coisa, cochi- chava com um de seus três irmãos, que já residiam há algum tempo no Brasil e estavam habituados à cultura do país. Entretanto, Leonor entendia bem o que os brasileiros falavam, com exceção das gírias. “O modo de falar aqui é mais calmo, em contraposição ao português que fala mais rápido, cantado. Além disso, utilizamos expressões e palavras diferentes para algumas coisas. Certa vez, uma professora pediu-me para ler uma redação na frente da turma. Fiquei trêmula, pensei que não ia conseguir chegar ao final de tanta vergonha. Achava que meus colegas não me en- tenderiam e ficava com mal-estar”. Como estudou em três continentes, a imigrante também teve problemas para aprender o ensino gramatical. De acor- do com ela, o processo de alfabetização em Portugal diverge do Brasil. Lá, as letras não são tão trabalhadas como aqui; não são escritas ligadas umas às outras, são separadas, cursivas, uma espécie de letra de forma. Quanto à alimentação, Leonor conta que em Portugal não se come “arroz com feijão” todos os dias e, mesmo tendo 20 anos de moradia no Brasil, ela não consegue seguir esse costume diariamente. O arroz só é in- gerido em Portugal em conjunto com algum ingrediente, como bacalhau, tomate ou frango. “E não se acha paco- te de arroz de cinco quilos”, ressalta. Depois de estar cinco anos em Belo Horizonte, Leonor conheceu o marido. Em 1996, eles se mudaram para Arcos. No início, ela não gostava da cidade pela falta de opções de lazer. Hoje, prefere Arcos à capital mineira. “O município é acolhedor e pacato, um bom lugar para criar meu filho”. Desde que a portuguesa emigrou, ela não voltou a Portugal, embora pre- tenda levar o marido e o filho para co- nhecerem as raízes e uma parte da his- tória dela. Leonor mantém sua cultura portuguesa por meio de músicas, leitu- ras de reportagens e contatos com os parentes e amigos que vivem lá. Na Copa do Mundo deste ano, ela afirma sem titubear que vai torcer pela seleção portuguesa. A imigrante diz ter boa relação com o Brasil e os brasileiros . Para ela, existe uma mágoa nacional quanto à coloni- zação portuguesa, o que gera precon- ceitos e piadas pejorativas tanto aqui quanto lá. “Eu irrelevo isso. Não gosto que falem mal do Brasil e nem que os brasileiros falem mal de Portugal”, comenta. Diferença Línguística de Brasil/Portugal Uma das grandes dificuldades que Leonor enfrentou quando veio para o Brasil foi comunicar-se verbalmente com os brasileiros. Mas, por que isso aconteceu, já que falamos a mesma língua?Assim como os outros idiomas, o português evoluiu historicamente, tendo sofrido influência de vários idio- mas e dialetos até chegar ao estágio conhecido atualmente. Porém, deve-se considerar que esse idio- ma tem dois padrões reconhecidos internacionalmente: o português brasileiro e o português europeu. As diferenças estão no vocabulário, na pronúncia e na sintaxe. A imigrante percebeu as pequenas divergências linguísticas no dia-a-dia e, ainda hoje, se pega descobrindo alguma palavra nova. Exemplos dos verbetes que são diferentes nos dialetos da língua portuguesa dos dois continentes: Portugal (Europa), Brasil (América do Sul): Brasil Portugal Absorvente higiênico Penso higiênico Bacia Alguidar Banheiro Casa de banho Bicha Fila Celular Telemóvel Descarga Autoclismo Leiteira Púcaro Ônibus Autocarro Pregador de roupa Mola Trem Comboio Geladeira Frigorífico Sorvete Gelado Maria Leonor com o único filho, Carlos Roberto de Miranda Júnior Uma forma de manter sua história, enquanto portuguesa, é guardando objetos e documentos de seu país. A carteira de identidade é um deles Leonor morava no Distrito de Beja, em Portugal