2. Pâmela Scarlatt D. Oliveira
Doutora em Ciências da Saúde/UNIMONTES
Mestre em Ciências da Saúde/UNIMONTES
Especialista em Preceptoria no SUS/Sírio-libanês
Especialista em Saúde da Família/UNIMONTES
Especialista em Saúde da Mulher/UNIMONTES
- Preceptora no Departamento de medicina/UNIMONTES
- Professora no Departamento de enfermagem FASI/FUNORTE
3. Objetivos
Discutir sobre a aplicação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da
Mulher (PNAISM) na população quilombola;
Ressaltar a importância do Planejamento Familiar e o
acesso da mulher quilombola ao mesmo;
Discutir sobre algumas patologias pertinentes ao trato feminino e a situação da
mulher quilombola no cuidado e prevenção destas;
Relatar sobre a situação de saúde e acompanhamento da mulher quilombola na
gestação, parto e puerpério.
4.
5. Mulher negra no Brasil
Mulher negra traz um história de luta por seus direitos;
A mulher negra traz marcas de uma construção social do que é ser mulher, como
sendo alguém subordinado e inferiorizado, associado ao mito da inferioridade de sua
raça, o que se intensifica devido à sua condição econômica vulnerável;
Nessa perspectiva, ser mulher e ser negra, no Brasil, significa estar inserida em um
ciclo de preconceito e discriminação, resultante de uma construção social, histórica e
cultural.
COIMBRA et al., (2013)
6. Mulher negra no Brasil
A mulher negra tradicionalmente encontra-se abaixo da linha da pobreza, com
dificuldades de inserção no mercado de trabalho, em situação de analfabetismo,
chefiando famílias sem cônjuge e com muitos filhos.
Elas também têm menor acesso aos serviços de saúde de boa qualidade, à atenção
ginecológica e à assistência no período gravídico-puerperal, apresentando, assim,
maior vulnerabilidade a determinadas doenças, entre as quais, destacam-se o diabetes
do tipo II, hipertensão arterial, miomas uterinos, anemia falciforme, deficiência de
glicose-6-fosfato desidrogenase, síndromes hipertensivas na gravidez; câncer
cérvico-uterino e infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (BRASIL, 2005).
7. Mulher negra no Brasil
Destaca-se que a mortalidade materna, que representa um indicador de
saúde que retrata fidedignamente as condições de saúde e a qualidade de
vida, e que poderia ser modificado a partir do acesso ao cuidado pré-
natal e/ou um cuidado pré-natal de melhor qualidade (MARTINS, 2006),
entre as mulheres negras, apresenta um índice superior quando
comparado aos valores encontrados entre as mulheres brancas
(MARTINS, 2006;ALEXANDRE, 2007; DOMINGUES et al, 2013).
8. Mulher negra no Brasil
Nesse contexto, aspectos como a precariedade das condições de vida
das mulheres negras, a dificuldade de acesso aos serviços de saúde, a
baixa qualidade do atendimento prestado, a diferença no tratamento
recebido, a ausência de ações e/ou de capacitação de profissionais de
saúde voltadas para os riscos específicos aos quais essas mulheres estão
expostas são elencados como causas para a alta incidência de óbito nesse
segmento populacional (BRASIL, 2005; SACRAMENTO;
NASCIMENTO, 2011).
9. Mulher negra no Brasil
Quando estas mulheres pertencem a grupos que residem em
localidades de difícil acesso aos serviços de saúde, como as
comunidades quilombolas, as desigualdades intensificam-se,
evidenciando a complexidade e a gravidade das condições de vida e de
saúde desses indivíduos (BRASIL, 2010).
Embora muitos associem as comunidades quilombolas a algo restrito
ao passado, durante o período da escravidão, estas vêm acompanhando a
história brasileira (CALHEIROS; STADTLER, 2010).
10.
11. Quilombos no Brasil
O termo quilombo deriva da palavra kilombo, que, no passado, consistia em um
acampamento guerreiro na floresta (REIS, 1996), o qual resultou de um movimento
de escravos. Naquele período, o quilombo era composto por escravos refugiados e
indivíduos de outros grupos étnicos desenraizados de suas comunidades (FREITAS
et al, 2013).
Os quilombolas, nome designado àqueles que residiam nesses locais, ocuparam áreas
rurais isoladas no Brasil e formaram sistemas paralelos de poder, produção e
organização social (CALHEIROS; STADTLER, 2010).
12.
13.
14.
15. Quilombos no Brasil
De acordo com Sampaio (2012), as populações quilombolas são categorizadas como
comunidade e população tradicional. Essas comunidades rurais negras têm seus
modos de vida, produção e reprodução social relacionados predominantemente com
a terra e vem lutando permanentemente pala conquista de direitos constitucionais.
Algumas dessas comunidades quilombolas não possuem acesso aos bens coletivos,
como escolas, estradas, sistemas simplificados de abastecimento de água e
assistência a saúde, que impõe condições de vida com baixíssimo índice qualidade e
de desenvolvimento humano.
16.
17. Quilombos no Brasil
Essas comunidades resultam de um processo histórico de formação da nação
brasileira. Contudo, hoje, vivenciam o isolamento físico e social, além de
desigualdades sociais e de saúde, e disputas agrárias envolvendo as áreas ocupadas
(BRASIL, 2003; SILVA; LIMA; HAMANN, 2010).
Apesar disso, nesse contexto, ainda perpetuam-se manifestações culturais fortemente
vinculadas ao passado desses sujeitos, as quais influenciam o seu cotidiano e,
sobretudo, o processo de saúde e doença.
18.
19. Quilombos no Brasil
Por meio da cultura, os quilombolas transformaram-se em um grupo e aprenderam a
viver juntos. A cultura também lhes forneceu valores, regras e os comportamentos
socialmente aceitos (MATTA, 2010).
O cuidado à saúde é um destes aspectos, capaz de ser modificado e moldado pela
cultura, pois tradicionalmente envolve valores, costumes, crenças e tradições que
auxiliam os indivíduos, e neste caso, os quilombolas, na manutenção de seu bem-
estar, assim como no enfrentamento de doenças, incapacidades ou da morte (REIS;
SANTOS; PASCHOAL JÚNIOR, 2012).
20. “Nós somos descendentes né do quilombo, trabalhamos em
grupo, vivemos em grupo, desenvolvemos em grupo”.
“A diferença das outras, é uma parte cultural, os seus
ancestrais, a sua cultura, o seu modo de vida, como que foi
anteriormente, como que foi a vivência com a nossa família,
pra que se chegue hoje, na vida atual.”
A mulher quilombola
Portanto, ao considerar o cuidado cultural é preciso levar em conta
as questões de gênero, pois estas compõem um sistema de
significados simbólicos, que correlacionam o sexo aos conteúdos
culturais, conforme os valores e hierarquias sociais (MAYORGA,
2013).
21. “A mulher é a base da família, ela tem que estar boa pra
cuidar dos outros”.
“É uma mulher sofredora”.
“ É mulher trabalhadora, mas batalhada que as outra,
pessoa que batalha, guerreira”.
A mulher quilombola
Nestas comunidades, as mulheres assumiram atividades que social,
cultural e economicamente as associaram ao papel de cuidadoras da
família e de si próprias. Nessa direção, o cuidado é percebido como
um ato tradicionalmente feminizado, atribuído à mulher mediante uma
herança patriarcal (FERREIRA, 2015).
22. Políticas Públicas voltadas para a Saúde da Mulher no Brasil
Visam diminuir as desigualdades sociais, econômicas e culturais, essas
desigualdades colaboram para os processos de adoecer e morrer das
populações e de cada pessoa em particular.
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM)
foi elaborada em 2004, a partir de diagnóstico epidemiológico da
situação da saúde da mulher no Brasil e do reconhecimento da
importância de se contar com diretrizes que orientassem as políticas de
Saúde da Mulher.
23. Objetivos gerais da PNAISM
Promover melhoria
das condições de
vida e saúde das
mulheres
brasileiras,
garantindo e
fazendo valer seus
direitos.
Propor medidas e
ações que reduzam
a morbidade e
mortalidade
femininas por
causas preveníveis
e evitáveis.
Visa diminuir as
desigualdades,
principalmente, a
desigualdade de
gênero.
BRASIL, (2004)
24. Programa saúde da mulher
As mulheres quilombolas se encaixam nesse grupo de minorias negras, sendo que a
literatura nacional e internacional, tem mostrado que a raça continua a impedir
acesso a serviços de saúde, com os brancos os usando mais, e por mais tempo,
mesmo quando todas as variáveis socioeconômicas pertinentes são mantidas
constantes (FERREIRA, 2015).
A mulher quilombola assim como todas as outras mulheres, também adoece, carece
de cuidados de planejamento sexual e reprodutivo, cuidados gestacionais, exames
preventivos ofertados pelas equipes de atenção primária a saúde (PERPETUO,
2016; FOLCONE, BROYLES, 1994).
25.
26. Programa saúde da mulher
REALIDADE BRASILEIRA:
Segundo dados do UNICEF (fundo das nações unidas para a infância), quase 1/3
das mulheres brasileiras vivendo nas áreas rurais não consultam médico durante
toda gravidez.
Mesmo nas áreas urbanas, o índice espanta: uma em cada 11 sem assistência.
A falta de informação das futuras mães tem sido uma das vilãs na história da
mulher.
O planejamento familiar, que permite programar a vida da família, e gravidez
com saúde são exemplos do que pode ocorrer quando temos mulheres recebendo
boa assistência.
BRASIL, (2017)
27. Quanto à violência, as estatísticas não são confiáveis, já que poucas vítimas do
abuso têm coragem para denunciar.
Algumas propostas do programa saúde da mulher visam dar melhor assistência à
mulher durante a gravidez, no parto e após o nascimento do bebê e já apresentam
resultados muito importantes, como redução da morbi-mortalidade infantil e
materna.
Disponibilização de leitos obstétricos em hospitais e maternidades.
O programa também tem ações para a prevenção e o tratamento de doenças
sexualmente transmissíveis, cancer cérvico-uterino e de mama, ampliou-se o
acesso ao atendimento, ao diagnóstico e ao tratamento.
BRASIL, (2004)
28. PLANEJAMENTO FAMILIAR
Trata-se do conjunto de ações que auxiliam mulheres e
homens a planejar a chegada dos filhos, e também a
prevenir gravidez indesejada.
O direito
Planejamento
ao
Familiar
está garantido na
Constituição Brasileira
e na Lei 9.263 de 12 de
janeiro de 1996.
BRASIL, (1996)
29. PLANEJAMENTO FAMILIAR
“Não tinha jeito de prevenir “pra” ter a quantidade de filhos que dava pra
criar, então todo mundo passava fome”.
Sorte (2015) afirma que as mulheres negras, com baixa condição
socioeconômica tem menor acesso aos serviços de saúde e também os piores
indicadores de saúde. A autora ainda diz que, o acesso universal e igualitário
está intimamente correlacionado ao racismo, sexismo, cultura e sobretudo
condições socioeconômicas.
30. PLANEJAMENTO FAMILIAR
Na atualidade, apesar da maior liberdade para escolha de se ter ou não filhos,
o acesso a tais métodos ainda é dificultado, principalmente em grupos
considerados vulneráveis, o caso dos quilombos. Diante disso, a mulher
desprovida de acesso e conhecimento dos MACs é vista como máquina de
gerar e criar filho (FIUZA et al., 2015).
“ Aqui nunca teve isso de planejamento de família não, pra que que é isso
mesmo?”.
“Não dava pra evitar, ia tendo menino todo ano até quando Deus deixasse
vir no mundo”.
31. PLANEJAMENTO FAMILIAR
“ A gente não aprende sobre remédio em reunião não, a gente só recebe a
receita pra não ter fio e toma certinho”.
O conhecimento inadequado sobre qualquer método anticoncepcional pode
ser um fator de resistência à aceitabilidade e uso do método. Do mesmo
modo, o alto nível de conhecimento sobre os métodos anticoncepcionais
(MAC) não determinará nenhuma mudança de comportamento se estes não
estiverem acessíveis à livre escolha da população (MARTINS et al., 2006).
32. PLANEJAMENTO FAMILIAR
“ eu só uso quando o home quer”.
É possível destacar a submissão feminina e a consequente dificuldade em
relação à prática do uso do preservativo, face à resistência masculina quanto
o uso do mesmo (DAVIS et al., 2016).
33. PLANEJAMENTO FAMILIAR
“Eu não quero ter mais filho não, já tenho sete. Eu tomo medicamento, um
anticoncepcional”.
De acordo com Oliveira et al. (2017) a saúde reprodutiva das mulheres
quilombolas é praticamente sem visibilidade na atualidade e resulta na
realidade desafiadora de ser quilombola. Nesse cenário, compreende-se que
os contraceptivos são aliados da sobrevivência e de melhores condições de
vida nos quilombos.
35. Câncer de colo de útero
É responsável pela morte de milhares de mulheres em todo o mundo,
devendo ser devidamente prevenido e controlado.
É comprovado que 99% das mulheres que
têm câncer do colo uterino, foram antes
infectadas pelo vírus HPV. No Brasil, cerca
de 7.000 mulheres morrem anualmente por
esse tipo de tumor (INCA, 2023).
36. FATORES DE RISCO DO CÂNCER DE COLO UTERINO:
Tabagismo,
Baixa ingestão de vitaminas,
Multiplicidade de parceiros sexuais,
Iniciação sexual precoce e o uso de contraceptivos orais.
Estima-se uma redução de até 80% na mortalidade por este câncer a partir do
rastreamento de mulheres na faixa etária de 25 a 65 anos com o teste de
Papanicolau e tratamento das lesões precursoras com alto potencial de
malignidade ou carcinoma "in situ". Para tanto é necessário garantir a
organização, a integralidade e a qualidade do programa de rastreamento, bem
como do tratamento das pacientes (BRASIL, 2015).
37. Tratamento e prevenção
“Eu fiz todos os exames de prevenção, não tinha
no posto aí dei um jeito e paguei”.
“Fiz exame de prevenção tem muitos ano,
porque é muito difícil conseguir marcar”.
Entre as quilombolas, a realização de exames preventivos
representava uma prática variável, existindo àquelas que se
preocupavam em desenvolvê-los periodicamente e outras
que, embora reconhecessem a importância, não os
realizavam. Estas, por sua vez, consideravam-se negligentes
em relação à própria saúde (CORDEIRO, FERREIRA, 2009).
38. Tratamento e prevenção
“Antigamente a gente ia de pé, mais agora que a
idade chegou as perna não aguenta mais ir.”
“ Já fiz exame de prevenção só o resultado que
demora muito, isso quando pega”.
Assim como em outras comunidades quilombolas, uma
das maiores problemáticas enfrentadas neste cenário se
refere à ausência de um serviço de saúde local que assista
integralmente os moradores (WERNECK J, 2015).
39. Tratamento e prevenção
De uma maneira geral, as mulheres negras, e nestas
incluem-se também as quilombolas, vivenciam a
exclusão e a restrição ao acesso nos serviços de
saúde, os quais fornecem um tratamento
diferenciado, conduzido por ações preconceituosas
que, muitas vezes, encontra-se veladas (CORDEIRO,
FERREIRA, 2009).
41. Câncer de mama
O câncer de mama é o segundo tipo de câncer mais frequente no mundo e o mais
comum entre as mulheres, respondendo por 22% dos casos novos nesse grupo. No
Brasil, são esperados 49.400 novos casos em 2024, com risco estimado de 49 casos a
cada 100 mil mulheres.
Embora seja considerado um câncer de bom prognóstico, trata-se da maior causa de
morte entre as mulheres brasileiras, principalmente na faixa entre 40 e 69 anos, com
mais de 11 mil mortes/ano (INCA, 2023). Isso porque na maioria dos casos a doença é
diagnosticada em estádios avançados.
42. Prevenção do Câncer de mama
“A Mamografia eu fiz em Montes Claros e no
hospital eu fiz, eu consegui pelo posto”.
O acesso desigual nos serviços de saúde provoca
sequelas gravíssimas na vida das mulheres
quilombolas. Werneck (2005) alerta sobre o
acesso desigual entre mulheres negras e brancas
nos serviços de saúde, pontuando que isto ocorre
por que há uma desigualdade étnica, racial e de
gênero no acesso aos serviços de saúde.
43. “A gente não cuida da saúde nem é pela culpa da
gente mesmo é por causa que não consegue”.
“Só faço exame de prevenção se o povo vier aqui
já marcado e me dar, eu ir atrás pra marcar eu não
vou, é difícil, demora”.
Os estudos reafirmam a situação de vulnerabilidade da população negra na questão do acesso e da
utilização dos serviços de saúde. Autores reafirmam a necessidade de políticas públicas específicas
voltadas aos segmentos mais vulneráveis, levando-se em conta a tendência da epidemia (CORDEIRO,
FERREIRA, 2009).
Prevenção do Câncer de mama
44. “Eu tenho medo do resultado, não é da hora do exame nem de doer”.
“Os exame de mulher eu nunca fiz, eu não sinto nada então nunca precisou”.
A falta de conhecimento da importância do exame também pode ser visto como fator
dificultador na realização do mesmo. Os quilombos carecem de grupos educativos e
orientações em saúde nas mais diversas áreas.
O déficit na atenção à saúde das mulheres negras no atual sistema de saúde provoca
iniquidades sociais que acometem o seu estado de saúde (TRAVASSOS e CASTRO,
2012).
Prevenção do Câncer de mama
45. • Captação da gestante para o
acompanhamento pré-natal;
• Solicitação de exames e medicações;
• Preenchimento do cartão da gestante;
• Calendário de vacinas e orientações;
• Atividades educativas.
Pré-natal, parto e puerpério
46. Pré-natal, parto e puerpério
“Fazer uns exames, eu fazia consulta de pré-
natal só de vez em quando, porque era difícil de
ir na cidade”.
“Fazia os exame né quando conseguia ir na cidade
fazer alguma consulta, agente ia mais quando estava
sentindo alguma dor, tomava as vacina que pedia pra
tomar”.
A falta do exame ou consulta de forma gratuita pode
impedir que a mulher monitore o andamento da sua
gestação. Distância mais uma vez, como fator dificultador
de acesso (SILVA, 2014).
47. Pré-natal, parto e puerpério
“Os filhos nascia tudo no mato, eu mesma nasci
na casa, a parteira que me aparou”.
“As duas mais nova que foi no hospital sabe as
sotra foi tudo em casa, foi tudo com saúde, tudo
bem”.
O nascimento é visto como um momento natural da vida
da mulher, faz parte do curso da vida. Parto como
corriqueiro, se possível no hospital, porém distância é
fator dificultador (MENDES, 2012).
Parto em casa também é valioso.
48. Pré-natal, parto e puerpério
Os tempos modernos transferem os partos das casas
para os hospitais, porém a tecnologia não chega de
forma satisfatória aos quilombos ao ponto de
resolver o problema das dificuldades de acesso
(HEITZEL, 2015).
“Os parto foram em Montes Claros, dois, e os
outros três foi aqui. Foi tudo normal”.
“ Teve que atravessa o rio de canoa e ir ganhar
na cidade, quase não dava era tempo”.
49. Pré-natal, parto e puerpério
“Azeite de mamona, caseiro, feito aqui. Dá o
menino pra tomar e saí as sujeiras tudo de parto
de dentro dele. Passa no umbigo também”.
“ Todo mundo ajuda a criar o menino novo, é
uma apoiando a outra”.
A cultura influencia nos cuidados a criança desde as
primeiras horas de vida, e o sentimento de vida em
comunidade oferece amparo e segurança para a
puérpera e seu filho (HEITZEL, 2015).
50. As parteiras quilombolas
“... foi minha mãe foi que me ensinou... ela foi que me
ensinou, ela e minha sogra”.
“não pode ficar tocando na mulher, que não tem preparo
nem nada esterilizado então não pode ficar tocando na
mulher” (M10)
“Eu usava era tesoura, a gazinha, eu usava um pano aqui
e fazia a gazinha, mas era limpinha; o azeite, tesoura a
gazinha...colocar no umbigo do menino, no passado não
tinha álcool aqui não, aí era azeite que colocava” (M8)
51. As parteiras quilombolas
Segundo Gomes et al.(2012), em algumas regiões do Brasil, o parto era realizado pelas
próprias mulheres da comunidade e a técnica utilizada era adquirida através do acúmulo
de conhecimento. Dessa forma, não sendo diferente nas comunidades quilombolas, as
parteiras eram mulheres que possuíam conhecimentos pertinentes a prática de partejar,
prestavam serviços de qualidade e residiam próximo das parturientes.
52. As parteiras quilombolas
“Não é uma situação de brincar não,
ali é duas vidas que tá em jogo, e o ce
tem que ter muito cuidado... A gente
fica com medo da mãe perde a vida
nas mão da gente, ou de uma criança
perder a vida nas mão da gente”.
53. Pré-natal, parto e puerpério
“Agora todo mundo ganha as criança no
hospital. Não é porque elas não sabiam fazer os
partos, é porque as coisas mudaram, agora o
povo fala que e mais seguro ganhar no hospital,
pra se alguma coisa der errado”.
Ao longo dos anos, diante das mudanças no contexto social,
as parteiras tiveram ressignificação do seu papel, pois como
ocorreu alterações na sociedade, os partos foram adquirindo
características diferentes.
54. Pré-natal, parto e puerpério
Segundo Acker et al (2010) “as crenças relacionadas
principalmente à gestação e ao parto têm sofrido
modificações ao longo dos séculos, acompanhando a
evolução tecnológica na área da saúde. O parto passou de
uma atividade empírica, realizada por pessoas leigas, a uma
prática institucional, realizada dentro dos hospitais pelos
médicos”.
55. As práticas culturais na Saúde
“Não gosto de farmácia, o meu é todo na
base da erva, do mato mesmo, porque além
de’u ser quilombola...”.
“Os nossos antepassados sempre falava né
das verdura sem agrotóxicos são aquelas que
a gente produz em casa, na horta”.
Faz-se necessário reconhecer, compreender,
Interpretar e trabalhar com a influência exercida
pelas diferentes culturas sob o cuidado. Além disso, é fundamental a compreensão dos
significados culturais imbricados nos diversos contextos sociais, como as comunidades
quilombolas (XAVIER, 2012).
56. As práticas culturais na Saúde
“Tem as comida também pra deixar a gente e os menino mais
forte, pra aguentar trabaiar”.
“Da vez que perdi um menino fiquei enfraquecendo quase um mês
ai minha mãe só fazendo chá pra mim, os sumo de folha e fazendo
comida forte, era muito caldo, feijoada, bucho e eu melhorei”.
O cuidado à saúde e o trabalho mostraram-se estritamente
ligados, sendo que, no quilombo, o primeiro é valorizado em
função do segundo. Ao mesmo tempo, considera-se que as
atividades laborais contribuem para o empoderamento e a
valorização das mulheres quilombolas, proporcionando a
sensação de igualdade de gênero (ALVES, 2010).
57. As práticas culturais na Saúde
“As benzeção também é bom demais, eu acredito
muito sabe”.
“É a fé da gente que cura, quem é benzido tem
que ter fé pra ser curado”.
“ Deus dá saúde e cuida da vida”.
A religiosidade é fortemente presente em todas as
comunidades quilombolas, e a saúde é vista como
presente divino que deve ser buscado através de ações de
fé, como festejos, rezas (WERNECK, 2011).
58. As práticas culturais na Saúde
“A cultura foi perdendo aos poucos, mas hoje
ainda usa ervas medicinais para fazer chá,
passar em ferimento”.
“ Os jovens não querem aprender as coisas
antigas”.
59. Referências
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2015;44:199-228.
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• Cordeiro RC, Ferreira SL. Discriminação racial e de gênero em discursos de mulheres negras com anemia falciforme. Esc Anna
Nery Rev Enferm. 2009;13(2):352-8.
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Nery Rev. Enferm. [Internet]. 2009 [acesso em 2018 jan 24]; 13(2): 352-358.
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Bioética de Intervenção. Saúde debate. 2013;37(99):610-8.
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• Pedraza DF, Costa GMC. Acessibilidade aos serviços públicos de saúde: a visão dos usuários da Estratégia Saúde da Família.
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