3. A coesão textual é a conexão linguística que permite a união das ideias dentro do texto.
Permite a eficiência na transmissão da mensagem ao leitor.
Pode ser compreendida pelas relações linguísticas, como os advérbios, pronomes, o
emprego de conectivos, sinônimos, dentre outros.
O seu emprego necessita de recursos, como palavras e expressões que têm como
objetivo estabelecer a interligação entre os segmentos do texto.
Esses são chamados de elementos de coesão.
Quando o texto não possui coesão prejudica o processo de comunicação.
Coesão textual
4. A coesão referencial é um mecanismo realizado através do uso de elementos
coesivos.
Ocorre quando um termo ou expressão que já foi citado no texto é retomado por
meio de outro que o substitui.
O que foi mencionado é chamado de referente textual, e o termo que o remete a
ele denominado e correferente.
Exemplo: Sara saiu essa manhã de casa. Ela foi trabalhar na loja e mais tarde
foi ao curso de dança.
De acordo com o exemplo, o termo "ela" retoma o sujeito "Sara", evitando
assim, a repetição desnecessária.
Coesão referencial
5. A anáfora retoma o referente por meio de um elemento coesivo que pode ser: artigos,
advérbios, pronomes e numerais.
Nesse caso, o referente textual já foi mencionado anteriormente no texto.
Exemplo
"De uma coisa tenho certeza: essa narrativa mexerá com uma coisa delicada: a criação de
uma pessoa inteira que na certa está tão viva quanto eu. Cuidai dela porque meu poder é só
mostrá-la para que vós a reconheçais na rua, andando de leve por causa da esvoaçada
magreza."
(A hora da estrela (2008) de Clarice Lispector)
Os termos destacados retomam o referente que foi citado anteriormente no texto:
"pessoa inteira".
Classificação - anáfora
6. A catáfora, diferente da anáfora, antecipa o referente, ou seja, o referente textual
surge após o elemento coesivo.
Geralmente, ela é empregada por meio de pronomes demonstrativos e
indefinidos.
Exemplo
"Há três coisas que não podem ser escondidas por muito tempo: o sol, a lua e a
verdade". (Buda)
No exemplo acima, o correferente antecede o referente por meio da expressão "três
coisas".
Classificação - catáfora
7. A elipse é a omissão de um ou mais termos da frase, no entanto, que são
facilmente identificáveis pelo leitor. Ela é bastante utilizada para evitar a repetição
desnecessária.
Exemplo
"Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste: (omissão do pronome – eu)
sou poeta."
(Trecho do poema Motivo (1983) de Cecília Meireles)
No exemplo acima temos a omissão do pronome “Eu” na terceira linha do poema:
(Eu) Não sou alegre nem sou triste.
Classificação - elipse
8. A reiteração corresponde a repetição de elementos referenciais no texto.
Ela pode ocorrer por meio da repetição do mesmo item lexical, por termos
sinônimos ou mesmo por nomes genéricos (coisa, gente, negócio, etc.)
Exemplos
“Cada um é responsável por todos. Cada um é o único responsável. Cada um é o
único responsável por todos.” (Antoine de Saint-Exupéry)
Continua a falta de decoro parlamentar no Senado. Recentemente, voltaram a
trocar ofensas naquela casa de leis.
Classificação - reiteração
9. A coesão sequencial é um recurso que colabora com a evolução textual
apontando a passagem do tempo.
Ocorre por meio de marcadores verbais e conectivos os quais indicam
essa progressão ao longo do texto.
Dessa maneira, a coesão sequencial colabora com a estrutura textual uma
vez que auxilia na articulação das palavras e frases dentro de um texto.
Por sua vez, se não for utilizada de maneira correta, prejudicará o
entendimento do texto.
Coesão sequencial
10. Para compreender melhor o conceito de coesão sequencial, leia o trecho abaixo
extraído da obra O Cortiço (1997) de Aluísio Azevedo.
"João Romão foi, dos treze aos vinte e cinco anos, empregado de um vendeiro que
enriqueceu entre as quatro paredes de uma suja e obscura taverna nos refolhos do bairro
do Botafogo; e tanto economizou do pouco que ganhara nessa dúzia de anos, que, ao
retirar-se o patrão para a terra, lhe deixou, em pagamento de ordenados vencidos, nem só a
venda com o que estava dentro, como ainda um conto e quinhentos em dinheiro.
Proprietário e estabelecido por sua conta, o rapaz atirou-se à labutação ainda com mais
ardor, possuindo-se de tal delírio de enriquecer, que afrontava resignado as mais duras
privações. Dormia sobre o balcão da própria venda, em cima de uma esteira, fazendo
travesseiro de um saco de estopa cheio de palha."
Nesse caso, essa evolução na narrativa é caracterizada por marcadores verbais que
determinam a passagem do tempo no texto.
Coesão sequencial
11. ANALIZANDO
João Romão foi... enriqueceu... economizou... ganhara... retirar-se...
estava... estabelecido... atirou-se... possuindo-se... afrontava... dormia...
Por esse motivo, a coesão sequencial é o elemento que organiza os fatos
do tempo no texto.
E, como é feita por marcadores verbais, é estabelecida pelas conjugações
no pretérito perfeito, pretérito mais-que-perfeito e o pretérito imperfeito
do indicativo.
Coesão sequencial
12. A coesão sequencial também atua com o uso de conectivos. Sem ela, o texto não é
linear e a mensagem pode não ser compreendida.
Veja exemplo o em Crime Castigo (2007) de Fiódor Dostoiévski.
“Raskólhnikov não estava acostumado às pessoas e, como dissemos já, evitava todo
convívio, sobretudo nos últimos tempos. Mas, agora, qualquer coisa o impelia
para as pessoas. Algo de novo se passava nele e, ao mesmo tempo, despertava-se nele
também uma sede de convívio. Estava cansado de todo aquele mês de tristeza
solitária e de sombria expectativa, e por isso ansiava por respirar outro ambiente,
ainda que só por um momento, fosse qual fosse; e, apesar de toda a sujidade daquele
lugar, continuava muito satisfeito na taberna.”
Coesão sequencial
13. Nos trechos acima, também extraídos da obra Crime Castigo, nota-se a
presença de diversos conectivos que permitem a sequência de ideias no
texto. Essa ligação ocorre por meio do uso de conjunções.
Os termos "mas" e “ainda que" estabelecem respectivamente uma relação
de oposição e concessão.
Já o "e" estabelece uma relação de adição uma vez que acrescenta algo ao
texto.
Coesão sequencial
15. Um texto é coerente quando é possível interpretá-lo.
A coerência é um princípio de textualidade ligado à possibilidade de
o texto funcionar em sua comunicabilidade.
Não se prende apenas às determinações gramaticais da língua, mas
que as supõe.
A coerência não depende só de conhecimentos linguísticos.
Tem como limite a funcionalidade do que é dito.
Coerência
16. Fatores de coerência
O conhecimento linguístico: é o conhecimento das estruturas
gramaticais e do significado das palavras.
O conhecimento do mundo: é a soma de todos os nossos conhecimentos
adquiridos à medida que vivemos.
O conhecimento partilhado: para ser coerente é necessário que se
fundamente numa base sólida.
As inferências: referem-se aos conhecimentos que não estavam
expressos, mas que podem ser deduzidos a partir do que é dito.
Situacionalidade: refere-se ao conjunto de elementos situacionais que
servem para dar coerência ao texto.
17. Fatores de coerência
Os fatores de contextualização: são todos aqueles que relacionam o
texto a uma situação comunicativa determinada.
Informatividade: diz respeito à quantidade de informações presentes
num texto.
Focalização: refere-se ao modo de ver específico de determinado
conhecimento.
A intertextualidade: prende-se ao conhecimento prévio de outros
textos, tanto no que diz respeito à forma, quanto ao conteúdo.
18. Fatores de coerência
A intencionalidade: está ligada, por parte do emissor, a todos os meios
de que ele lança mão no sentido de atingir seus objetivos.
A aceitabilidade: está ligada ao receptor à sua capacidade de atribuir
coerência ao texto.
A consistência: se prende ao fato de que todos os dados textuais
devem estar relacionados de forma consistente entre si, de modo a não
haver contradição possível;
Relevância: se liga ao fato de que os enunciados devem estar ligados ao
mesmo tema.
19. Metarregras de Michel Charolles
Repetição: elementos de recorrência do tema em referência.
EXEMPLO
Por um momento a moça achou que estava sendo seguida. Assustada,
ela apertou o passo esperando chegar a um ponto mais iluminado da rua.
Era noite alta e a mulher sentia-se ameaçada.
a moça ela a mulher
20. Metarregras de Michel Charolles
Errado
Hoje em dia, no mundo em que vivemos, nós, os seres
humanos, estamos cada vez mais preocupados e pensando
sobre as trágicas e desastrosas consequências maléficas que
podem advir da utilização inadequada e incorreta dos
recursos naturais de que dispomos neste nosso planeta e
que são acessíveis a nós.
Correto
Atualmente, estamos cada vez mais preocupados com as
trágicas consequências que podem advir da utilização
inadequada dos recursos naturais.
Observe que os
termos destacados
não progridem o
texto e sim são
circulares, isto é,
deixando texto
incoerente. Apesar
dos elementos de
coesão estarem bem
empregados.
Progressão: o texto deve apresentar informações novas à medida que vai sendo
escrito.
21. Metarregras de Michel Charolles
Não contradição: na introdução de elemento que contradiga o
que já foi enunciado anteriormente.
Errado
A grande imprensa veicula informações que suprem muitas
carências dos indivíduos. Ela é responsável pela grande
confusão em que a sociedade vive.
Correto
Se, por um lado, a grande imprensa é importante, porque
veicula informações, que suprem muitas carências dos
indivíduos, por outro lado ela é, às vezes, responsável pela
grande confusão em que a sociedade vive. Isso porque os fatos
são veiculados, em muitos casos, de forma superficial.
Observe que o
trecho destacado
diverge do
anterior, pois se a
impressa supre
como ao mesmo
tempo pode causar
confusão.
22. Metarregras de Michel Charolles
Exemplo do que não se deve fazer.
O município de São José do Rio Preto abrange uma
região imensa que é composta por vários Estados
limítrofes que ocupam uma área respeitável [...] Conta
ainda com uma superpopulação, com uma maioria de
pessoas e uma juventude com grandes recursos
educacionais, cursando as várias escolas e faculdades.
Isto posto, nossa cidade sente falta urgente de uma
Capela Crematória. Para os leigos é preciso esclarecer
que, para um corpo ser exumado através do forno
crematório, há necessidade que ele registre esta vontade
em duas testemunhas. Somente o interessado poderá usar
esta forma de suprir seu desejo, caso contrário, a
exumação seria da forma natural, ou seja: o sepultamento.
Relação: um texto coerente, seu conteúdo, deve estar adequado a um estado de
coisas do mundo real ou em mundos possíveis.
O texto contraria de
vária formas com o
mundo real.
São José do Rio
Preto não se limita
com vários Estados.
Um corpo (uma
pessoa morta) não
pode mais registrar
vontade alguma.
A palavra exumar não
é o mesmo que
cremar e sepultar.
23. AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. 30. ed. São Paulo: Ática, 1997.
Charolles, M. 1978. Introdução aos problemas da coerência dos textos (Abordagem teórica e estudo das
práticas pedagógicas). Trad.: Paulo Otoni. Langue Française, Paris, nº 38, 1978.
DOSTOÏEVSKI, Crime e castigo. Coleção LESTE. Tradução, prefácio e notas de Paulo Bezerra. 5ª. ed. São
Paulo: 34, 2007. 568 p.
KOCH, Ingedore Vilaça & Vanda Maria Elias. Ler e escrever. Estratégias de produção textual. São Paulo:
Editora Contexto. 220p.
MEIRELES, Cecília. Flor de poemas. 8. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983.
LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998. 87 p.
MARCUSHI, I, A. Produção textual: análise de gêneros e compressão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.
p. 74 – 77.
REFERÊNCIAS