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quando a natureza e a verdade se renegam
João Aníbal Henriques
A China é o maior e o mais populoso País do Mundo. Com os seus perto de um bilião e
meio de habitantes, ocupando uma imensidão de mais de nove milhões de quilómetros
quadrados, a República Popular da China conjuga uma história milenar, patente em cada
canto e recanto e sensível em milhares de pequenos laivos da vivência cultural do seu povo,
com uma espécie de história nova, de pouco de setenta anos, que acompanha algo a que
por lá se chama “revolução cultural” e que ditou os destinos do controle do Partido
Comunista Chinês desde o fim da guerra civil que aconteceu em meados do Século XX.
CHINAquando a natureza e a verdade se renegam
Quando se chega à China tudo é inesperado e a sensação que perdura, mais do que os sons marcantes e
os cheiros que preenchem todos os detalhes da sua paisagem marcante, é uma sensação de choque
cultural que se traduz num impacto muito grande.
Com um regime político muito marcado pelo totalitarismo político do Partido Comunista, bem visível nos
símbolos, nas cores e na profusa presença de militares nas ruas das cidades, a China empreendeu um
esforço hérculeo ao longo das últimas décadas para literalmente apagar das memórias dos seus
habitantes os ensinamentos antigos que haviam dado corpo à identidade nacional. Quem hoje visita a
China, e salvo as raríssimas excepções de monumentos ancestrais que não foi possível demolir pelo
impacto que tiveram e continuam a ter um pouco por todo o Mundo, como a Cidade Proibida, a Grande
Muralha da China, etc. vê um país marcadamente ocidentalizado, com avenidas largas repletos de
milhões de carros em engarrafamentos constantes, enormes arranha-céus ao jeito do que se faz na
Alemanha e na América e centenas de gigantescos centros comerciais, copiados dos que existem no
Ocidente mas agigantados ao gosto chinês, nos quais se encontram as marcas e as lojas mais
importantes da Europa actual.
É por isso um banho de água fria, para quem lá chega à espera de encontrar os vestígios da cultura
milenar chinesa, da sua forma de vestir e de estar, bem como os retorcidos telhados dos pagodes
ancestrais. Tudo isso desapareceu mercê da revolução dita cultural que o regime empreendeu, e foi
paulatinamente substituído por uma espécie de grande cenário Ocidental onde se tenta copiar de forma
espampanante o que se faz por cá.
Mas tenta-se somente. Porque por detrás das fachadas de vidro, dos carros alemães e das lojas mais
requintadas de Paris, sobressaem ainda os gestos antigos que os Chineses teimam em perder… os
arrotos sonoros em plena rua, a preparação de comida à porta de casa, as cuspidelas para o chão e o
lixo que esvoaça por todo o lado, contrastam de sobremaneira com aquilo que imaginamos para um
lugar assim. E depois a desordem ordenada e controlada que existe por todo o lado. Num País onde não
é possível navegar livremente na internet, as ruas estão cheias de prostitutas e chulos que perseguem
os poucos turistas ocidentais que por ali andam, oferecendo o seu produto e tentando levar os mais
incautos para aventuras estranhas e muitos caras das quais poucos têm a coragem de voltar a falar mais
tarde.
E o engano é palavra de ordem que não deixa ninguém indiferente. À sombra da sua incapacidade de falar
outra qualquer língua para além do Chinês e da natural dificuldade de comunicação que daí advém,
qualquer ocidental que entre num táxi, que tente comprar o que quer que seja e que não esteja habituado
aos usos e costumes daquela gente, será enganado com toda a certeza.
Apesar de tudo isso, da falta que fazem as memórias antigas de um País antiquíssimo e que tanta
importância teve na nossa forma de estar e de ser, o impacto de uma visita à China traduz-se numa
experiência de vida, provavelmente mais impactante do que qualquer outra viagem que alguém possa
tentar fazer.
Vale a pena? Vale certamente!
Existem elementos incontornáveis numa visita a Pequim. Para além
da sua imponência e antiguidade, são marcos fulgurantes na
imaginação de qualquer um e definem com rigor aquilo que um
turista Ocidental pensa antes de chegar a um destino tão
impactante. A Cidade Proibida, a Praça de Tian’anmen, a Grande
Muralha ou o Templo do Céus, são parte da paisagem e da aura de
mistério que acompanha esta enorme metrópole asiática.
Tendo anteriormente designações diferentes, como Zhongdu, Dadu
ou Cambuluc, Pequim (ou Beijing na ortografia local) é a actual
capital da China. Com uma imensa população de quase 24 milhões
de habitantes, é a segunda cidade chinesa depois de Shanghai e
aquela que conjuga maior simbolismo no contexto da ditadura
comunista que actualmente se está ali a viver.
Fundada originalmente no Século XIII, quando Genghis Khan unificou
um conjunto de pequenos povoados ali existentes, Pequim (ou
Capital do Norte) foi crescendo ao sabor das muitas vicissitudes que
deram forma à sua História. Ali residiram as principais figuras da
História da China e ali se centralizam as estruturas de poder ao longo
dos últimos séculos.
Pequim vs Beijing
Tian’amnen
A Praça da Paz Celestial, como optou por chamar-lhe o regime comunista que controla o País,
também conhecida por Praça de Tian’amnen, é a maior do Mundo e foi inaugurada em 1651 às
portas da Cidade Proibida. Por ali se representaram as encenações das grandes paradas e dos
espectáculos com maior impacto políticos da Ásia e nela se desencadearam acontecimentos
políticos que mudaram para sempre a percepção do Mundo em relação a este país tão marcante.
Foi ali, em 1989, que centenas de estudantes foram massacrados pelo regime depois de tentaram
mostrar a sua insatisfação pelo que estava a acontecer.
Hoje, rodeada de enormes medidas de segurança muito visíveis (e também de outras que ninguém
vê mas que se sentem), alberga o monumento de memória ao antigo líder comunista Mao Tsé-
Tung (1893-1976) e a tumba onde se encontra exposto o seu corpo embalsamado e está
permanentemente cheia com centenas de milhares de visitantes maioritariamente chineses que,
com um permanente sorriso nos lábios, por ali deambulam horas e horas a fio para poderem ver
de perto o corpo daquele a quem, por medo ou respeito, continuam a chamar o “Grande
Timoneiro”. E quase faz impressão olhar para aquele mar de gente, ali às portas da antiquíssima
Cidade Proibida, gesticulando de satisfação em filas intermináveis que rodeiam o monumento
várias vezes e onde passam horas após horas só para comprar o bilhete.
E se a cidade tem uma história ancestral, marcante principalmente no Século XV
quando a Cidade Proibida foi construída, o certo é que a sua importância foi
reforçada no dia 1 de Outubro de 1949 quando Mao Tsé-Tung (1893-1976) ali
proclama o nascimento da actual República Popular da China. Tendo sido
conquistada pelo poder Nipónico em 1937, que manteve o controle sobre a
cidade até à sua derrota na II Guerra Mundial em 1945, Pequim foi libertada pelo
exército liderado por Mao e posteriormente reconquistada pelo poder comunista
após a Guerra Civil que impôs o actual regime político.
E foi precisamente o auto-designado Grande Líder que, com a ajuda de uma das
suas mulheres, empreende entre 1966 e 1969 aquilo a que optou designar por
Revolução Cultural que literalmente deu forma à China actual e que tanta
influência tem ainda hoje na formulação plástica e social o povo Chinês.
Tendo reformulado praticamente todos os aspectos da via quotidiana no seu
País, o regime comunista optou por uma solução final que pusesse cobro a toda
e qualquer possibilidade de protesto ou de sublevação. Para além de destruir
grande parte do património histórico e cultural do País, que associava à
possibilidade de descentrar as atenções do povo das inovações e do progresso
que o regime comunista pretendia impor, a revolução cultural foi palco de
grandes perseguições a oposicionistas, artistas e a todos os que ousassem
pensar de maneira diferente. A autêntica lavagem cerebral levada a cabo por
Mao Tsé-Tung, apagando os vestígios da milenar história chinesa e reforçando os
laços com o movimento comunista, estendeu-se a escolas, empresas e às suas,
que se encheram de simbologia do regime e apagaram por completo tudo aquilo
que dissesse respeito a outros tempos.
Ainda hoje, na fachada principal da entrada da Cidade Proibida, se ostenta a
fotografia do líder revolucionário, literalmente vigiando o seu povo e
reverenciado como se de uma divindade se tratasse…
Mao
Tsé
Tung
E o maior choque para quem visita a China pela primeira vez será possivelmente a Cidade Proibida. Conjunto
monumental de templos e palácios utilizados pelos vários imperadores chineses desde 1420, quando foi
construído, a Cidade Proibida é possivelmente o monumento chinês que transversalmente acompanha o
imaginário de todos aqueles que já pensaram estar neste lugar tão diferente.
Palco de filmes e de dramas imperiais, vedada ao acesso do cidadão comum, a Cidade Proibida é um autêntico
e maravilhoso palco onde se recriavam os espectáculos que sustentavam a magnificência do poder político
Chinês.
Actualmente, depois da revolução cultural de Mao Tsé-Tung, franquearam-se os portões antigamente sempre
fechados e o povo literalmente tomou conta do espaço. Perdendo grande parte da sua mística e o antigo
silêncio que dava corpo à apreciação do lugar e que é contado e recontado por todos os viajantes antigos que
tiveram a sorte de lá entrar, a Cidade Proibida está sempre literalmente a abarrotar de milhares e milhares de
visitantes, maioritariamente chineses, que entram aos gritos, preenchem cada recanto e vão (literalmente)
arrancando bocados dos adornos existentes no local.
A Cidade Proibida
Sem qualquer outra espécie de orientação para
além de umas ténues informações muitos
genéricas acerca dos nomes ancestrais daquelas
vastas praças e terraços, os visitantes seguem ao
ritmo da curiosidade, espreitando aqui e além as
muitas salas que enchem o lugar e ouvindo aqui e
ali algumas palavras ditas por algum guia mais
descuidado. Não existe informação escrita, placas
indicativas ou sequer livros à venda com notas
sobre o lugar (o único sítio onde encontrámos um
livro em inglês sobre a história da Cidade Proibida
foi na área de embarque do Aeroporto), tudo
acontecendo ao sabor do nada que tudo enche!
Perde-se a simbologia, o significado profundo e a
magnificência milenar de uma história que
importava recordar.
A Cidade Proibida
SHANGHAI
SHANGHAI
Situada junto à foz do Rio Yangtze, importante empório comercial
durante muitos séculos, a Cidade de Shanghai é actualmente a
maior cidade da China e possivelmente uma das maiores
metrópoles do Mundo.
Considerada como “Cidade Mercado” em 1074, foi sempre ponto
central na distribuição das riquezas produzidas no vastíssimo
território Chinês e um porto da maior importância. De tal forma
assim foi que, em 1842, quando a revolução industrial
simplesmente começava na Europa, Shanghai se tornou no ponto-
angular do comércio asiático, facto que ficou consubstanciado no
Tratado de Nangum.
Profundamente ocidentalizada, com a sua estrutura urbana
marcada por alguns dos maiores arranha-céus do mundo,
Shanghai consubstancia o seu impacto na linha costeira do Rio
Huangpo e no magnífico cenário do Pudong e a Torre Pérola
Oriental, visto a partir do Bund.
A torre, construída entre 1991 e 1995, foi desenhada por Jia Huan Cheng e, com os
seus 468 metros de altura, é actualmente uma das mais altas torres de televisão do
Mundo, tendo-se assumido como ex-libris da cidade. O seu traço, baseado num
poemos da Dinastia Tang, procura recriar a linha de paisagem com os traços de um
alaúde…
Do outro lado, causando estranheza por ter sobrevivido ao surto implacavelmente
destruir da revolução comunista, sobrevive um antigo palacete colonial
actualmente utilizado como Embaixada da Rússia na China.
GUANGZHOU
De todas as cidades Chinesas, Guangzhou é possivelmente aquela que melhor traduz o estado
em que se encontra China actual. Empório comercial antiquíssimo, fundada no Século II a.C. e
com mais de dois milénios de História, Guangzhou ou Cantão, como é conhecida no Ocidente, é
a capital da província de Guangdong, um dos mais prósperos territórios do País.
E se o Cantão é bem conhecido dos Portugueses, existindo centenas de relatos e descrições de
viagens feitas à cidade ao longo de muitos séculos, até porque um tratado de 1511 atribui a
Portugal o monopólio do comércio em Guangzhou, já pouco resta da magnificência de outrora.
Os antigos bairros, as casas típicas, os templos e as ruelas estreitas, foram progressivamente
substituídos por enormes arranha-céus com dezenas e nalguns casos centenas de andares de
altura, muitas vezes pintados de dourado e verdadeiramente resplandescentes, num processo
de descaracterização total que cumpre os objectivos ditados pela dita revolução cultural
comunista. Sendo actualmente a terceira metrópole da China continental, com mais de 13
milhões de habitantes, Guangzhou é uma espécie de enorme centro comercial, cruzando vários
centros comerciais entre si e que se estende por cima e por baixo da terra.
CANTÃO
Da sua história mais rocambolesca, subsiste o velho
abrigo anti-bombardeamentos, resquício da pressão
japonesa durante a II Grande Guerra, mas que se
encontra literalmente perdido debaixo de uns quantos
arranha-céus e de uma amálgama de centenas e
centenas de lojas aglomeradas em vários centros
comerciais subterrâneos.
O que sobrevive da antiquíssima cultura Chinesa? Pouco
mais de nada. Os maus hábitos arreigados por práticas
de sucessivas gerações, a sujidade que
permanentemente vai enchendo as ruas das suas
cidades, alguns hábitos alimentares também eles
associados a práticas de pouca higiene e… nada mais.
Uma pena.
João Aníbal Henriques
joao_henriques@yahoo.com
Tel. +351 96 251 95 14

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A China – Quando a Natureza e a Verdade se Renegam a Cada Esquina…

  • 1. quando a natureza e a verdade se renegam João Aníbal Henriques
  • 2. A China é o maior e o mais populoso País do Mundo. Com os seus perto de um bilião e meio de habitantes, ocupando uma imensidão de mais de nove milhões de quilómetros quadrados, a República Popular da China conjuga uma história milenar, patente em cada canto e recanto e sensível em milhares de pequenos laivos da vivência cultural do seu povo, com uma espécie de história nova, de pouco de setenta anos, que acompanha algo a que por lá se chama “revolução cultural” e que ditou os destinos do controle do Partido Comunista Chinês desde o fim da guerra civil que aconteceu em meados do Século XX. CHINAquando a natureza e a verdade se renegam
  • 3. Quando se chega à China tudo é inesperado e a sensação que perdura, mais do que os sons marcantes e os cheiros que preenchem todos os detalhes da sua paisagem marcante, é uma sensação de choque cultural que se traduz num impacto muito grande. Com um regime político muito marcado pelo totalitarismo político do Partido Comunista, bem visível nos símbolos, nas cores e na profusa presença de militares nas ruas das cidades, a China empreendeu um esforço hérculeo ao longo das últimas décadas para literalmente apagar das memórias dos seus habitantes os ensinamentos antigos que haviam dado corpo à identidade nacional. Quem hoje visita a China, e salvo as raríssimas excepções de monumentos ancestrais que não foi possível demolir pelo impacto que tiveram e continuam a ter um pouco por todo o Mundo, como a Cidade Proibida, a Grande Muralha da China, etc. vê um país marcadamente ocidentalizado, com avenidas largas repletos de milhões de carros em engarrafamentos constantes, enormes arranha-céus ao jeito do que se faz na Alemanha e na América e centenas de gigantescos centros comerciais, copiados dos que existem no Ocidente mas agigantados ao gosto chinês, nos quais se encontram as marcas e as lojas mais importantes da Europa actual.
  • 4. É por isso um banho de água fria, para quem lá chega à espera de encontrar os vestígios da cultura milenar chinesa, da sua forma de vestir e de estar, bem como os retorcidos telhados dos pagodes ancestrais. Tudo isso desapareceu mercê da revolução dita cultural que o regime empreendeu, e foi paulatinamente substituído por uma espécie de grande cenário Ocidental onde se tenta copiar de forma espampanante o que se faz por cá. Mas tenta-se somente. Porque por detrás das fachadas de vidro, dos carros alemães e das lojas mais requintadas de Paris, sobressaem ainda os gestos antigos que os Chineses teimam em perder… os arrotos sonoros em plena rua, a preparação de comida à porta de casa, as cuspidelas para o chão e o lixo que esvoaça por todo o lado, contrastam de sobremaneira com aquilo que imaginamos para um lugar assim. E depois a desordem ordenada e controlada que existe por todo o lado. Num País onde não é possível navegar livremente na internet, as ruas estão cheias de prostitutas e chulos que perseguem os poucos turistas ocidentais que por ali andam, oferecendo o seu produto e tentando levar os mais incautos para aventuras estranhas e muitos caras das quais poucos têm a coragem de voltar a falar mais tarde.
  • 5. E o engano é palavra de ordem que não deixa ninguém indiferente. À sombra da sua incapacidade de falar outra qualquer língua para além do Chinês e da natural dificuldade de comunicação que daí advém, qualquer ocidental que entre num táxi, que tente comprar o que quer que seja e que não esteja habituado aos usos e costumes daquela gente, será enganado com toda a certeza. Apesar de tudo isso, da falta que fazem as memórias antigas de um País antiquíssimo e que tanta importância teve na nossa forma de estar e de ser, o impacto de uma visita à China traduz-se numa experiência de vida, provavelmente mais impactante do que qualquer outra viagem que alguém possa tentar fazer. Vale a pena? Vale certamente!
  • 6. Existem elementos incontornáveis numa visita a Pequim. Para além da sua imponência e antiguidade, são marcos fulgurantes na imaginação de qualquer um e definem com rigor aquilo que um turista Ocidental pensa antes de chegar a um destino tão impactante. A Cidade Proibida, a Praça de Tian’anmen, a Grande Muralha ou o Templo do Céus, são parte da paisagem e da aura de mistério que acompanha esta enorme metrópole asiática. Tendo anteriormente designações diferentes, como Zhongdu, Dadu ou Cambuluc, Pequim (ou Beijing na ortografia local) é a actual capital da China. Com uma imensa população de quase 24 milhões de habitantes, é a segunda cidade chinesa depois de Shanghai e aquela que conjuga maior simbolismo no contexto da ditadura comunista que actualmente se está ali a viver. Fundada originalmente no Século XIII, quando Genghis Khan unificou um conjunto de pequenos povoados ali existentes, Pequim (ou Capital do Norte) foi crescendo ao sabor das muitas vicissitudes que deram forma à sua História. Ali residiram as principais figuras da História da China e ali se centralizam as estruturas de poder ao longo dos últimos séculos. Pequim vs Beijing
  • 7. Tian’amnen A Praça da Paz Celestial, como optou por chamar-lhe o regime comunista que controla o País, também conhecida por Praça de Tian’amnen, é a maior do Mundo e foi inaugurada em 1651 às portas da Cidade Proibida. Por ali se representaram as encenações das grandes paradas e dos espectáculos com maior impacto políticos da Ásia e nela se desencadearam acontecimentos políticos que mudaram para sempre a percepção do Mundo em relação a este país tão marcante. Foi ali, em 1989, que centenas de estudantes foram massacrados pelo regime depois de tentaram mostrar a sua insatisfação pelo que estava a acontecer. Hoje, rodeada de enormes medidas de segurança muito visíveis (e também de outras que ninguém vê mas que se sentem), alberga o monumento de memória ao antigo líder comunista Mao Tsé- Tung (1893-1976) e a tumba onde se encontra exposto o seu corpo embalsamado e está permanentemente cheia com centenas de milhares de visitantes maioritariamente chineses que, com um permanente sorriso nos lábios, por ali deambulam horas e horas a fio para poderem ver de perto o corpo daquele a quem, por medo ou respeito, continuam a chamar o “Grande Timoneiro”. E quase faz impressão olhar para aquele mar de gente, ali às portas da antiquíssima Cidade Proibida, gesticulando de satisfação em filas intermináveis que rodeiam o monumento várias vezes e onde passam horas após horas só para comprar o bilhete.
  • 8. E se a cidade tem uma história ancestral, marcante principalmente no Século XV quando a Cidade Proibida foi construída, o certo é que a sua importância foi reforçada no dia 1 de Outubro de 1949 quando Mao Tsé-Tung (1893-1976) ali proclama o nascimento da actual República Popular da China. Tendo sido conquistada pelo poder Nipónico em 1937, que manteve o controle sobre a cidade até à sua derrota na II Guerra Mundial em 1945, Pequim foi libertada pelo exército liderado por Mao e posteriormente reconquistada pelo poder comunista após a Guerra Civil que impôs o actual regime político. E foi precisamente o auto-designado Grande Líder que, com a ajuda de uma das suas mulheres, empreende entre 1966 e 1969 aquilo a que optou designar por Revolução Cultural que literalmente deu forma à China actual e que tanta influência tem ainda hoje na formulação plástica e social o povo Chinês. Tendo reformulado praticamente todos os aspectos da via quotidiana no seu País, o regime comunista optou por uma solução final que pusesse cobro a toda e qualquer possibilidade de protesto ou de sublevação. Para além de destruir grande parte do património histórico e cultural do País, que associava à possibilidade de descentrar as atenções do povo das inovações e do progresso que o regime comunista pretendia impor, a revolução cultural foi palco de grandes perseguições a oposicionistas, artistas e a todos os que ousassem pensar de maneira diferente. A autêntica lavagem cerebral levada a cabo por Mao Tsé-Tung, apagando os vestígios da milenar história chinesa e reforçando os laços com o movimento comunista, estendeu-se a escolas, empresas e às suas, que se encheram de simbologia do regime e apagaram por completo tudo aquilo que dissesse respeito a outros tempos. Ainda hoje, na fachada principal da entrada da Cidade Proibida, se ostenta a fotografia do líder revolucionário, literalmente vigiando o seu povo e reverenciado como se de uma divindade se tratasse… Mao Tsé Tung
  • 9. E o maior choque para quem visita a China pela primeira vez será possivelmente a Cidade Proibida. Conjunto monumental de templos e palácios utilizados pelos vários imperadores chineses desde 1420, quando foi construído, a Cidade Proibida é possivelmente o monumento chinês que transversalmente acompanha o imaginário de todos aqueles que já pensaram estar neste lugar tão diferente. Palco de filmes e de dramas imperiais, vedada ao acesso do cidadão comum, a Cidade Proibida é um autêntico e maravilhoso palco onde se recriavam os espectáculos que sustentavam a magnificência do poder político Chinês. Actualmente, depois da revolução cultural de Mao Tsé-Tung, franquearam-se os portões antigamente sempre fechados e o povo literalmente tomou conta do espaço. Perdendo grande parte da sua mística e o antigo silêncio que dava corpo à apreciação do lugar e que é contado e recontado por todos os viajantes antigos que tiveram a sorte de lá entrar, a Cidade Proibida está sempre literalmente a abarrotar de milhares e milhares de visitantes, maioritariamente chineses, que entram aos gritos, preenchem cada recanto e vão (literalmente) arrancando bocados dos adornos existentes no local. A Cidade Proibida
  • 10. Sem qualquer outra espécie de orientação para além de umas ténues informações muitos genéricas acerca dos nomes ancestrais daquelas vastas praças e terraços, os visitantes seguem ao ritmo da curiosidade, espreitando aqui e além as muitas salas que enchem o lugar e ouvindo aqui e ali algumas palavras ditas por algum guia mais descuidado. Não existe informação escrita, placas indicativas ou sequer livros à venda com notas sobre o lugar (o único sítio onde encontrámos um livro em inglês sobre a história da Cidade Proibida foi na área de embarque do Aeroporto), tudo acontecendo ao sabor do nada que tudo enche! Perde-se a simbologia, o significado profundo e a magnificência milenar de uma história que importava recordar. A Cidade Proibida
  • 12. SHANGHAI Situada junto à foz do Rio Yangtze, importante empório comercial durante muitos séculos, a Cidade de Shanghai é actualmente a maior cidade da China e possivelmente uma das maiores metrópoles do Mundo. Considerada como “Cidade Mercado” em 1074, foi sempre ponto central na distribuição das riquezas produzidas no vastíssimo território Chinês e um porto da maior importância. De tal forma assim foi que, em 1842, quando a revolução industrial simplesmente começava na Europa, Shanghai se tornou no ponto- angular do comércio asiático, facto que ficou consubstanciado no Tratado de Nangum. Profundamente ocidentalizada, com a sua estrutura urbana marcada por alguns dos maiores arranha-céus do mundo, Shanghai consubstancia o seu impacto na linha costeira do Rio Huangpo e no magnífico cenário do Pudong e a Torre Pérola Oriental, visto a partir do Bund.
  • 13. A torre, construída entre 1991 e 1995, foi desenhada por Jia Huan Cheng e, com os seus 468 metros de altura, é actualmente uma das mais altas torres de televisão do Mundo, tendo-se assumido como ex-libris da cidade. O seu traço, baseado num poemos da Dinastia Tang, procura recriar a linha de paisagem com os traços de um alaúde… Do outro lado, causando estranheza por ter sobrevivido ao surto implacavelmente destruir da revolução comunista, sobrevive um antigo palacete colonial actualmente utilizado como Embaixada da Rússia na China.
  • 14. GUANGZHOU De todas as cidades Chinesas, Guangzhou é possivelmente aquela que melhor traduz o estado em que se encontra China actual. Empório comercial antiquíssimo, fundada no Século II a.C. e com mais de dois milénios de História, Guangzhou ou Cantão, como é conhecida no Ocidente, é a capital da província de Guangdong, um dos mais prósperos territórios do País. E se o Cantão é bem conhecido dos Portugueses, existindo centenas de relatos e descrições de viagens feitas à cidade ao longo de muitos séculos, até porque um tratado de 1511 atribui a Portugal o monopólio do comércio em Guangzhou, já pouco resta da magnificência de outrora. Os antigos bairros, as casas típicas, os templos e as ruelas estreitas, foram progressivamente substituídos por enormes arranha-céus com dezenas e nalguns casos centenas de andares de altura, muitas vezes pintados de dourado e verdadeiramente resplandescentes, num processo de descaracterização total que cumpre os objectivos ditados pela dita revolução cultural comunista. Sendo actualmente a terceira metrópole da China continental, com mais de 13 milhões de habitantes, Guangzhou é uma espécie de enorme centro comercial, cruzando vários centros comerciais entre si e que se estende por cima e por baixo da terra. CANTÃO
  • 15. Da sua história mais rocambolesca, subsiste o velho abrigo anti-bombardeamentos, resquício da pressão japonesa durante a II Grande Guerra, mas que se encontra literalmente perdido debaixo de uns quantos arranha-céus e de uma amálgama de centenas e centenas de lojas aglomeradas em vários centros comerciais subterrâneos. O que sobrevive da antiquíssima cultura Chinesa? Pouco mais de nada. Os maus hábitos arreigados por práticas de sucessivas gerações, a sujidade que permanentemente vai enchendo as ruas das suas cidades, alguns hábitos alimentares também eles associados a práticas de pouca higiene e… nada mais. Uma pena.