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O Cateterismo Cardíaco como Opção Atual no Tratamento de
Cardiopatias Congênitas
Comentário Editorial
ção prévia e a longo prazo após o procedimento.
Assim a possibilidade de fechamento da CIA através
ocateterismocardíacoabreperspectivasamplasparaotra-
tamentodessaanomaliaeJorgeHaddadsepõeemdestaque
por ser o pioneiro da técnica aqui no Brasil.
Seusresultadosobtidos,comparadosaosdainterven-
çãocirúrgica,tornampossívelagoraacuradessesdefeitos,
mesmodediscretarepercussão,cujaindicaçãocirúrgicaé,
por vezes, temerosa em vista da inexistência de sintomas e
sinaiseque,porisso,aospais,avisualizaçãodanecessida-
de operatória é difícil de ser concebida.
Desta maneira, torna-se mais simples a indicação
maisprecoce,atravésocateterismocardíaco,aprevenirto-
das as conseqüências da sobrecarga de volume das cavida-
descardíacas,queobscurecemosresultadosalongoprazo,
considerando-seafreqüentepostergaçãodacirurgiacardí-
aca corretiva, ainda hoje.
Em defeitos maiores, no entanto, a dificuldade técni-
ca no ancoramento da prótese, em cerca de 10% dos casos
descritos por Haddad e col, devida à ausência de tecido do
septo interatrial acima ou abaixo do defeito e, impossibili-
tando seu fechamento, talvez devam ser melhor avaliados
previamente, o que orientaria à cirurgia, sem a tentativa de
fechamento pelo cateter.
Odefeitoresidualimediatoediscretoemcercade10%
doscasos,tambémnãoseconstituiemóbiceàsuaexecução
desde que se sabe, por estudos de história natural da CIA,
que a longevidade desses pacientes não é encurtada quan-
doodesviodesangueocorraemdefeito<5mmnomaiordi-
âmetro e quando o ventrículo direito não mostre sinais de
dilatação cavitária 6
.
Talassertivaémaiscategóricaaindadesdeque,como
Haddad J e col demonstraram, a CIA residual que perma-
neceu a longo prazo em 4,5% dos pacientes, acompanha-
dos acima de um ano de evolução, não impediu a normali-
zação do tamanho do ventrículo direito, o que pressupõe
boa evolução, a maior longo prazo.
Por todos os elementos expostos, a técnica deveria
ser estendida a mais centros brasileiros, evitando descon-
fortos decorrentes do procedimento cirúrgico, ainda mais,
considerando-se a possibilidade de tratamento mais pre-
coce ainda que o preconizado atualmente para a correção
operatória.
O aperfeiçoamento das próteses para o fechamento
da CIA e, possivelmente no futuro também extensivo ao
fechamento da CIV, deve-se à busca do ideal a eliminar as
inconvenientes fraturas das hastes das próteses iniciais
(clamshell) e que, até por momentos, colocaram em des-
crédito a possibilidade do fechamento desse defeito pelo
cateterismo cardíaco.
O material mais sólido da prótese de Sideris a tolerar
A evolução das técnicas e das próteses para o trata-
mento de cardiopatias congênitas através a cateterização
cardíaca tem sofrido acentuado progresso a ponto hoje, de
ter se tornado opção lógica à correção operatória em mui-
tas circunstâncias.
O cateterismo intervencionista na cardiologia pediá-
trica nasceu com Rashkind1
, em 1966, na feitura da comu-
nicação interatrial (CIA) para portadores de transposição
dasgrandesartérias.Apartirdaícriouvulto,primeiro,atra-
vés o alívio de defeitos obstrutivos na década de 1980 com
Kan2
e,posteriormente,comofechamentodedefeitostipo
canalarterialpelopróprioRashkind,tambémnadécadade
1980, através o “sistema oclusor de Rashkind”.
Inúmeros trabalhos demonstram, de maneira cabal, a
efetividadedetaisprocedimentossobbaixoriscoe,porisso,
substituindo com vantagens a correção cirúrgica na
estenosepulmonarvalvarenofechamentodedefeitoscomo
o canal arterial.
Apesaraindadecontrovérsiasnotratamentodeoutros
defeitos, como a estenose aórtica e subaórtica, a coartação
da aorta, dentre outros, é inegável sua utilidade em grande
parte de portadores destes defeitos3
.
Causa-nos satisfação que esses avanços se estendam
a experiências nacionais e alvissareiras, como as demons-
tradas pelos dois artigos publicados neste número dos Ar-
quivosBrasileirosdeCardiologia.NoartigodeChamiéFecol
4
, o fechamento do canal arterial por molas de Gianturco é
demonstrado através técnica adequada e efetiva.
O barateamento do procedimento com as molas de
Gianturco,entrelaçadasdefiosafacilitarematromboseda
estrutura arterial acresce grande interesse face à possibili-
dade do seu uso mais disseminado, em vista do conhecido
desfavorecimento social da nossa população em geral. Por
issoconsolidaumdosgrandesavançosdocateterismocar-
díaco no tratamento de cardiopatias congênitas.
ExperiênciassimilaresàsdeChamiéFecolemoutros
centrosbrasileirospodemtambémservisualizadas.Alimi-
tação das molas de Gianturco para o fechamento de canal
arterial com diâmetros acima de 4mm orienta para o em-
prego da conhecida umbrella de Rashkind, factível sob
custo mais elevado, mas igualmente eficaz. A ausência de
complicações, o menor custo geral e a efetividade desses
procedimentos, mesmo a longo prazo, são fatores conclu-
dentes de que a correção cirúrgica pode ser seguramente
substituída, ainda mais considerando-se que, por essa ma-
neira, obtenha-se a eliminação de possíveis distúrbios psi-
cológicos que obrigatoriamente acometem os pacientes
operados.
Tais considerações são obviamente válidas também
para o fechamento da CIA como demonstraram Haddad J
e col5
, aliás com todos os pormenores técnicos e de avalia-
30 Arq Bras Cardiol
volume 67, (nº 1), 1996
1. RashkindWJ,MillerWW-Creationofanatrialseptaldefectwithoutthoracotomy:
Apalliativeapproachtocompletetranspositionofthegreatarteries.JAMA1966;
196:991-2.
2. KanJS,WhiteRIJr,MitchellSE,GardnerTJ- Percutaneousballoonvalvuloplasty.
Anewmethodfortreatingcongenitalpulmonaryvalvestenosis.NEnglJMed1982;
307:540-2.
3. Fontes VF, Esteves CA, Braga SL et al - It is valid to dilate native aortic
coarctation with a balloon catheter. Int J Cardiol 1990; 27: 311-6.
4. Chamié F, Pereira SJ, SbaffiF, Serra A Jr, de Athayde JG - Fechamento de canal
arterialcommolasdeGianturco.ArqBrasCardiol1996;67:
5. HaddadJ,SecchesA,FinziLetal-Oclusãopercutâneadecomunicaçãointeratrial
medianteutilizaçãodobuttoneddevice.ArqBrasCardiol1996;67:
6. Campbell M - Natural history of atrial septal defect. Br Heart J 1970; 32: 820-
6.
Referências
amovimentaçãocardíacacontínua,alémdoreforçodapró-
pria endotelização do mesmo torna mais factível, ainda,
essa nova opção na cardiologia pediátrica.
Com a certeza de que estes artigos serão estímu-
lo a outros centros cardiológicos à realização do tra-
tamento intervencionista pelo cateterismo cardíaco,
a fim de diminuir o sofrimento de crianças que pade-
cem pela existência de uma cardiopatia congênita,
finalizo parabenizando os autores Chamié F e col e
Haddad J e col pela inestimável colaboração à car-
diologia pediátrica.
Edmar Atik
Instituto do Coração do Hospital
das Clínicas-FMUSP - São Paulo, SP

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  • 1. 29 O Cateterismo Cardíaco como Opção Atual no Tratamento de Cardiopatias Congênitas Comentário Editorial ção prévia e a longo prazo após o procedimento. Assim a possibilidade de fechamento da CIA através ocateterismocardíacoabreperspectivasamplasparaotra- tamentodessaanomaliaeJorgeHaddadsepõeemdestaque por ser o pioneiro da técnica aqui no Brasil. Seusresultadosobtidos,comparadosaosdainterven- çãocirúrgica,tornampossívelagoraacuradessesdefeitos, mesmodediscretarepercussão,cujaindicaçãocirúrgicaé, por vezes, temerosa em vista da inexistência de sintomas e sinaiseque,porisso,aospais,avisualizaçãodanecessida- de operatória é difícil de ser concebida. Desta maneira, torna-se mais simples a indicação maisprecoce,atravésocateterismocardíaco,aprevenirto- das as conseqüências da sobrecarga de volume das cavida- descardíacas,queobscurecemosresultadosalongoprazo, considerando-seafreqüentepostergaçãodacirurgiacardí- aca corretiva, ainda hoje. Em defeitos maiores, no entanto, a dificuldade técni- ca no ancoramento da prótese, em cerca de 10% dos casos descritos por Haddad e col, devida à ausência de tecido do septo interatrial acima ou abaixo do defeito e, impossibili- tando seu fechamento, talvez devam ser melhor avaliados previamente, o que orientaria à cirurgia, sem a tentativa de fechamento pelo cateter. Odefeitoresidualimediatoediscretoemcercade10% doscasos,tambémnãoseconstituiemóbiceàsuaexecução desde que se sabe, por estudos de história natural da CIA, que a longevidade desses pacientes não é encurtada quan- doodesviodesangueocorraemdefeito<5mmnomaiordi- âmetro e quando o ventrículo direito não mostre sinais de dilatação cavitária 6 . Talassertivaémaiscategóricaaindadesdeque,como Haddad J e col demonstraram, a CIA residual que perma- neceu a longo prazo em 4,5% dos pacientes, acompanha- dos acima de um ano de evolução, não impediu a normali- zação do tamanho do ventrículo direito, o que pressupõe boa evolução, a maior longo prazo. Por todos os elementos expostos, a técnica deveria ser estendida a mais centros brasileiros, evitando descon- fortos decorrentes do procedimento cirúrgico, ainda mais, considerando-se a possibilidade de tratamento mais pre- coce ainda que o preconizado atualmente para a correção operatória. O aperfeiçoamento das próteses para o fechamento da CIA e, possivelmente no futuro também extensivo ao fechamento da CIV, deve-se à busca do ideal a eliminar as inconvenientes fraturas das hastes das próteses iniciais (clamshell) e que, até por momentos, colocaram em des- crédito a possibilidade do fechamento desse defeito pelo cateterismo cardíaco. O material mais sólido da prótese de Sideris a tolerar A evolução das técnicas e das próteses para o trata- mento de cardiopatias congênitas através a cateterização cardíaca tem sofrido acentuado progresso a ponto hoje, de ter se tornado opção lógica à correção operatória em mui- tas circunstâncias. O cateterismo intervencionista na cardiologia pediá- trica nasceu com Rashkind1 , em 1966, na feitura da comu- nicação interatrial (CIA) para portadores de transposição dasgrandesartérias.Apartirdaícriouvulto,primeiro,atra- vés o alívio de defeitos obstrutivos na década de 1980 com Kan2 e,posteriormente,comofechamentodedefeitostipo canalarterialpelopróprioRashkind,tambémnadécadade 1980, através o “sistema oclusor de Rashkind”. Inúmeros trabalhos demonstram, de maneira cabal, a efetividadedetaisprocedimentossobbaixoriscoe,porisso, substituindo com vantagens a correção cirúrgica na estenosepulmonarvalvarenofechamentodedefeitoscomo o canal arterial. Apesaraindadecontrovérsiasnotratamentodeoutros defeitos, como a estenose aórtica e subaórtica, a coartação da aorta, dentre outros, é inegável sua utilidade em grande parte de portadores destes defeitos3 . Causa-nos satisfação que esses avanços se estendam a experiências nacionais e alvissareiras, como as demons- tradas pelos dois artigos publicados neste número dos Ar- quivosBrasileirosdeCardiologia.NoartigodeChamiéFecol 4 , o fechamento do canal arterial por molas de Gianturco é demonstrado através técnica adequada e efetiva. O barateamento do procedimento com as molas de Gianturco,entrelaçadasdefiosafacilitarematromboseda estrutura arterial acresce grande interesse face à possibili- dade do seu uso mais disseminado, em vista do conhecido desfavorecimento social da nossa população em geral. Por issoconsolidaumdosgrandesavançosdocateterismocar- díaco no tratamento de cardiopatias congênitas. ExperiênciassimilaresàsdeChamiéFecolemoutros centrosbrasileirospodemtambémservisualizadas.Alimi- tação das molas de Gianturco para o fechamento de canal arterial com diâmetros acima de 4mm orienta para o em- prego da conhecida umbrella de Rashkind, factível sob custo mais elevado, mas igualmente eficaz. A ausência de complicações, o menor custo geral e a efetividade desses procedimentos, mesmo a longo prazo, são fatores conclu- dentes de que a correção cirúrgica pode ser seguramente substituída, ainda mais considerando-se que, por essa ma- neira, obtenha-se a eliminação de possíveis distúrbios psi- cológicos que obrigatoriamente acometem os pacientes operados. Tais considerações são obviamente válidas também para o fechamento da CIA como demonstraram Haddad J e col5 , aliás com todos os pormenores técnicos e de avalia-
  • 2. 30 Arq Bras Cardiol volume 67, (nº 1), 1996 1. RashkindWJ,MillerWW-Creationofanatrialseptaldefectwithoutthoracotomy: Apalliativeapproachtocompletetranspositionofthegreatarteries.JAMA1966; 196:991-2. 2. KanJS,WhiteRIJr,MitchellSE,GardnerTJ- Percutaneousballoonvalvuloplasty. Anewmethodfortreatingcongenitalpulmonaryvalvestenosis.NEnglJMed1982; 307:540-2. 3. Fontes VF, Esteves CA, Braga SL et al - It is valid to dilate native aortic coarctation with a balloon catheter. Int J Cardiol 1990; 27: 311-6. 4. Chamié F, Pereira SJ, SbaffiF, Serra A Jr, de Athayde JG - Fechamento de canal arterialcommolasdeGianturco.ArqBrasCardiol1996;67: 5. HaddadJ,SecchesA,FinziLetal-Oclusãopercutâneadecomunicaçãointeratrial medianteutilizaçãodobuttoneddevice.ArqBrasCardiol1996;67: 6. Campbell M - Natural history of atrial septal defect. Br Heart J 1970; 32: 820- 6. Referências amovimentaçãocardíacacontínua,alémdoreforçodapró- pria endotelização do mesmo torna mais factível, ainda, essa nova opção na cardiologia pediátrica. Com a certeza de que estes artigos serão estímu- lo a outros centros cardiológicos à realização do tra- tamento intervencionista pelo cateterismo cardíaco, a fim de diminuir o sofrimento de crianças que pade- cem pela existência de uma cardiopatia congênita, finalizo parabenizando os autores Chamié F e col e Haddad J e col pela inestimável colaboração à car- diologia pediátrica. Edmar Atik Instituto do Coração do Hospital das Clínicas-FMUSP - São Paulo, SP