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Caldo de pedra
(Alguém conhece algum conto tradicional?)
Era uma vez um frade, de seu nome Bernardo, que após vários dias a andar de regresso ao seu
mosteiro, já cansado e faminto, sentiu a sua barriga dar horas.
Lembrou-se que no seu percurso existia uma pequena povoação. Cansado e sem forças, foi
para lá.
Pausa (Como é que se chama o frade? O que é que acham que ele foi fazer?)
Começou a bater às portas das casas por onde passava, para pedir alguma coisa para comer.
Depois de bater a várias portas onde lhe negaram comida.
Chegou por fim, à porta de uns lavradores, mas não lhe queriam dar nada. E fecharam-lhe a
porta.
Faminto, frei Bernardo teve uma ideia!!!!
— Vou fazer um caldinho de pedra.
Pausa (já ouviram falar no caldo de pedra? Alguém sabe como se faz?)
E pegou numa pedra do chão, sacudiu-lhe a terra e pôs-se a olhar para ela para ver se era boa
para fazer um caldo.
E disse em voz alta:
- Dê alguma coisinha para fazer um caldinho de pedra!
A gente da casa pôs-se a rir do frade Bernardo, nunca tinham ouvido tal coisa.
Diz o frade:
— Então nunca comeram caldo de pedra? Só lhes digo que é uma coisa muuuuuiiiito boa.
Curiosos responderam-lhe:
— Sempre queremos ver isso.
Foi o que o frade quis ouvir. Depois de ter lavado a pedra, disse:
— Se me emprestassem aí um pucarinho com água.
O lavrador disse então á mulher para lhe trazer o pucarinho. Deram-lhe uma panela de barro.
Ele encheu-a de água e deitou-lhe a pedra dentro.
— Agora se me deixassem estar a panelinha aí ao pé das brasas.
E assim foi! Assim que a panela começou a chiar, disse ele:
— Com um bocadinho de unto é que o caldo ficava de primor.
O lavrador mandou a mulher buscar um pedaço de unto. Ferveu, ferveu, e a gente da casa
pasmada com o que via. Diz o frade, provando o caldo:
— Está um bocadinho insonso; bem precisa de uma pedrinha de sal.
E a mulher deu-lhe também o sal. Temperou, provou, e disse:
—Agora com uns olhinhos de couve e uma feijocas ficava que até os anjos o comeriam.
A dona da casa foi à horta e trouxe-lhe duas couves tenras. O frade limpou-as, e ripou-as com
os dedos deitando as folhas na panela.
Quando os olhos já estavam aferventados disse o frade:
— Ai, um naquinho de chouriço é que lhe dava uma graça...
O lavrador começou a ficar aborrecido. O caldo estava a sair mais caro do que imaginara e não
estava a gostar nada.
Mas acabou por lhe dar também um pedaço de chouriço; ele botou-o à panela….
O cheirinho pairava na casa!!! E enquanto se cozia, tirou do alforge pão, e arranjou-se para
comer com vagar. O caldo cheirava que era um regalo. Comeu e lambeu o beiço; depois de
satisfeito e de despejada a panela ficou a pedra no fundo; a gente da casa, que estava com os
olhos nele, perguntou-lhe:
— Ó senhor frade, então a pedra?
Respondeu o frade:
— A pedra lavo-a e levo-a comigo para outra vez.
E assim comeu onde não lhe queriam dar nada.
(O que é que o frade usou para fazer o caldo de pedra? Todos os contos têm uma mensagem ,
qual é a mensagem deste conto?)
Adaptado de Teófilo Braga, Contos tradicionais do Povo Português, 1883

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  • 1. Caldo de pedra (Alguém conhece algum conto tradicional?) Era uma vez um frade, de seu nome Bernardo, que após vários dias a andar de regresso ao seu mosteiro, já cansado e faminto, sentiu a sua barriga dar horas. Lembrou-se que no seu percurso existia uma pequena povoação. Cansado e sem forças, foi para lá. Pausa (Como é que se chama o frade? O que é que acham que ele foi fazer?) Começou a bater às portas das casas por onde passava, para pedir alguma coisa para comer. Depois de bater a várias portas onde lhe negaram comida. Chegou por fim, à porta de uns lavradores, mas não lhe queriam dar nada. E fecharam-lhe a porta. Faminto, frei Bernardo teve uma ideia!!!! — Vou fazer um caldinho de pedra. Pausa (já ouviram falar no caldo de pedra? Alguém sabe como se faz?) E pegou numa pedra do chão, sacudiu-lhe a terra e pôs-se a olhar para ela para ver se era boa para fazer um caldo. E disse em voz alta: - Dê alguma coisinha para fazer um caldinho de pedra! A gente da casa pôs-se a rir do frade Bernardo, nunca tinham ouvido tal coisa. Diz o frade: — Então nunca comeram caldo de pedra? Só lhes digo que é uma coisa muuuuuiiiito boa. Curiosos responderam-lhe: — Sempre queremos ver isso. Foi o que o frade quis ouvir. Depois de ter lavado a pedra, disse: — Se me emprestassem aí um pucarinho com água. O lavrador disse então á mulher para lhe trazer o pucarinho. Deram-lhe uma panela de barro. Ele encheu-a de água e deitou-lhe a pedra dentro. — Agora se me deixassem estar a panelinha aí ao pé das brasas. E assim foi! Assim que a panela começou a chiar, disse ele:
  • 2. — Com um bocadinho de unto é que o caldo ficava de primor. O lavrador mandou a mulher buscar um pedaço de unto. Ferveu, ferveu, e a gente da casa pasmada com o que via. Diz o frade, provando o caldo: — Está um bocadinho insonso; bem precisa de uma pedrinha de sal. E a mulher deu-lhe também o sal. Temperou, provou, e disse: —Agora com uns olhinhos de couve e uma feijocas ficava que até os anjos o comeriam. A dona da casa foi à horta e trouxe-lhe duas couves tenras. O frade limpou-as, e ripou-as com os dedos deitando as folhas na panela. Quando os olhos já estavam aferventados disse o frade: — Ai, um naquinho de chouriço é que lhe dava uma graça... O lavrador começou a ficar aborrecido. O caldo estava a sair mais caro do que imaginara e não estava a gostar nada. Mas acabou por lhe dar também um pedaço de chouriço; ele botou-o à panela…. O cheirinho pairava na casa!!! E enquanto se cozia, tirou do alforge pão, e arranjou-se para comer com vagar. O caldo cheirava que era um regalo. Comeu e lambeu o beiço; depois de satisfeito e de despejada a panela ficou a pedra no fundo; a gente da casa, que estava com os olhos nele, perguntou-lhe: — Ó senhor frade, então a pedra? Respondeu o frade: — A pedra lavo-a e levo-a comigo para outra vez. E assim comeu onde não lhe queriam dar nada. (O que é que o frade usou para fazer o caldo de pedra? Todos os contos têm uma mensagem , qual é a mensagem deste conto?) Adaptado de Teófilo Braga, Contos tradicionais do Povo Português, 1883