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A fotografia é como uma mensagem que se elabora através do tempo, tanto como
       imagem/monumento quanto como imagem/documento1, tanto como testemunho directo
                                           quanto como testemunho indirecto do passado.2




Através do retrato, a fotografia apresenta-se como um meio de verificar, mas também
de inflectir a imagem de um indivíduo. Veja-se a delicada utilização do retrato nas
campanhas eleitorais. O que é ainda mais verdadeiro no caso do auto-retrato, em que o
sujeito procura reconhecer-se ao mesmo tempo que procura esconder aos outros e a si
próprio determinados aspectos da sua personalidade, o que por vezes chega ao ponto
de criar uma imagem fictícia. A ficção, porém nunca é total de uma maneira ou de outra
e a verdade acabam sempre por transparecer. Da mesma forma que existe sempre algo
de auto-retrato no retrato de outrem.3

Actualmente, ninguém poderá contestar que a fotografia, sob múltiplos aspectos, se
afirma cada vez mais como uma forma de expressão, de informação e de comunicação
total, essencial e específica. A fotografia é, por essência importante e interessante, quer
tanto como testemunho artístico ou jornalístico sobre o mundo, quer como prática
social popular4.

A fotografia nunca é mais do que, um canto alternado de <<Olhe>>, <<Veja>>,<< Aqui
está.>>5 ela traz consigo o seu referente, ambos atingidos pela mesma imobilidade
amorosa ou fúnebre, no próprio seio do mundo em movimento.

É representado na (Figura 1), o olhar que o sujeito tem de si próprio. Muitos escultores,
fotógrafos e escritores mostraram como se viam a si próprios, ou para guiar os nossos
olhos sobre eles. Tamara de Lempick dizia que todas as suas pinturas eram auto retratos
e Frida Kahlo para se apropriar das suas angústias. Na Figura 1, o auto-retrato apresenta
autoveridicção, significa que nele está contemplado algo que foi vivenciada pelo próprio
sujeito, há preocupação em aproximar a representação da verdade. (Fotografia e
verdade, muito ao séc.XIX )
1
  Jacques Le Goff, “Documento/Monumento”,In: Memória - História, Enciclopédia Einaudi, vol.I. Lisboa,
Imprensa Nacional - Casa da Moeda,1985.
2
  Marc Bloch, Introdução à história, 5ª,Colecção Saber, Pub. Europa - América
3
  Bauret Gabriel, “ A fotografia”Ed. 70 (Arte e Comunicação), p.64
4
  Bauret Gariel op. Cit. p.9
5
  Barthes “A câmara clara” Ed.70(Arte e Comunicação),p.13
Pode-se definir auto-retrato como um registo que alguém faz de si mesmo. Este pode
ser realizado através de um desenho, de uma pintura, escultura, fotografia ou ainda em
poesia ou outro texto verbal.

Com o advento da fotografia, a pintura ficou liberta da missão que tinha de reproduzir
fielmente a realidade, tanto no retrato, quanto nas paisagens, objectos. Os artistas
ficaram, então, livres para criar, usando à vontade formas e cores nos seus quadros,
tornando visíveis, dessa maneira, também as suas emoções.

    Segundo Henri Cartier Bresson6 advogava que no seu modo de ver a fotografia nada
mudou desde a sua origem, excepto nos seus aspectos técnicos, os quais não são sua
preocupação principal. Os retratos de Henri Cartier Bresson, em que é notória a intenção
do fotógrafo de incluir na composição elementos que façam da fotografia não só o
documento de um rosto ou de um corpo, mas também o documento de uma
personalidade, e uma mentalidade de um mundo (Cartier- Bresson, 1999).

No caso de Jorge Molder este usou o espelho como um sinal, dentro da imagem, de que
existe um universo dentro dela, com se fosse fora dela. Há espelhos em Zerlina, Lares e
Janus (de 1978) e, ininterruptamente, desde a série de auto-retratos de 1986.7

A fotografia é uma operação instantânea que exprime o mundo em termos visuais, tanto
sensoriais como intelectuais, sendo também uma procura e uma interrogação
constantes.

O contributo de novas técnicas e mais actuais permitiram o espírito do fotógrafo estar
mais “aguçado”, por outras palavras ele conta actualmente com um historial já notável
desta arte, ao passo que um fotógrafo do séc XIX, como Nadar, apenas pôde assimilar as
experiencias da pintura. É incontestável que os grandes retratistas não os que
praticaram esta arte ocasionalmente, mas os que se lhe dedicaram a tempo inteiro,
trouxeram ao ser humano algo absolutamente mensurável, para além de que hoje a
fotografia para quem a questiona e a observa atentamente, ter modificado a nossa
maneira de observar os indivíduos que nos rodeiam, parece igualmente intervir no nosso



6
    Pais José, Carvalho Clara, Gusmão Neuza, “ O Visual e o Quotidiano”Imprensa de Ciências Sociais, p.56
7
    Sardo,Delfim “Jorge Molder” Ed. Caminho,SA. pg.23
próprio comportamento quotidiano, revelando em particular, mais ainda do que a
pintura o tem feito, o papel da imagem que oferecemos de nós próprios.8

Segundo uma grande fotógrafa na nossa actualidade, Helena Almeida, refere numa
entrevista …” não transmito quem sou, mas sim emoções. Anulo-me nos trabalhos
procurando que as pessoas se identifiquem com o que quero transmitir. Não quero
auto-retratos, nem contar a minha história” explicou….”Mostro problemas vastos, como
a dor e a perda, o amor”, frisou. Na figura 1, auto-retrato, poder-se-á contemplar parte
do pensamento da fotógrafa Helena Almeida quando refere que nos seus trabalhos
mostra problemas vários tais com o amor, a perda, etc…

Para o francês Henri Cartier Brenson, …” o fotógrafo não pode limitar o seu caderno de
notas e fotos, deve ter paralelamente a imagem e o texto, pois a imagem não se
comunica totalmente por si só.” Quando esse campo apresenta elementos descontínuos
e heterogéneos, torna-se necessário descodificar vários elementos como por exemplo: o
foco, os planos o enquadramento. Já o cineasta japonês Akira Kurosawa sente limitação
das palavras para a concretização das suas ideias conta que fez quinhentos desenhos
para o seu filme Kagemusha, como forma de concretização das suas ideias e para
transmitir com precisão aos colaboradores essas ideias.

O retrato é um domínio privilegiado da fotografia, desde a sua invenção. Permitiu aos
fotógrafos expressarem-se totalmente, e alguns deles dedicam-se-lhe por inteiro. Há
quem diga que o bom retrato é aquele que informa e faz um perfil do fotografado: quem
é ele, onde está ele, o que faz. Ou seja, o bom retrato fornece informações objectivas
que qualquer um pode descodificar ao olhar para a fotografia.

Outros pensarão que o bom retrato é aquele que emociona o leitor, porque o
fotografado se torna quase real, o retratado foi conquistado pelo fotógrafo e se expõe.

No auto-retrato da Figura 1, o sujeito está envolvido por “imagens imaginárias” e um
álbum de fotografias real a seu lado, que apontam para memórias passadas e presentes,
momentos de grande intimidade e tranquilidade associados à incontornável alegria e
saudade. Poder-se-á dizer que também Nan Goldin muito à sua maneira revelou a

8
    Bauret Gariel op. Cit. p.63
intimidade humana no seu trabalho artístico.9 E essa intimidade humana é sem dúvida
evidenciada pela leitura de pensamento do sujeito auto-retratado. À primeira vista o
auto-retrato da Figura 1 poderá parecer de certa forma uma mensagem directa e sem
códigos, contudo …”nela se desenvolvem significações parasitas que pertencem ao
plano da conotação.”10 No auto-retrato da (Figura 1) o que constitui a natureza deste
auto-retrato/fotografia é a pose. Neste auto-retrato (Figura 1), a propósito da postura
do sujeito é aquilo que sugere a posição do braço e da mão.11 Porque a pose não é aqui
uma atitude do alvo, nem mesmo uma técnica do Operator, mas o termo de uma
intenção de leitura: ao contemplar uma foto incluo fatalmente no meu olhar o
pensamento desse instante, por muito breve que tenha sido…”12. De facto, a alternativa
clássica é a de apresentar o ou os modelos tanto de frente, como de perfil. Georges
Péniou mostrou que, em publicidade, o envolvimento do espectador era muito diferente
num caso e no outro. O olhar aqui representado é de perfil, dá a impressão de assistir a
um espectáculo apresentado por um «ele», uma terceira pessoa.13

“É bom lembrar que, mesmo a contra gosto ou sem pensar que o faz, ao construir o seu
auto-retrato o que o artista nos obriga a encarar de frente é sempre, inteiramente, o
nosso espelho.” (Autor desconhecido)




9
  Darsie Alexander, Textos, “The Hug, New York City”1980
10
   Leite Miriam,”Retratos de Família”: Leitura da Fotografia Histórica, Ed. Edusp, 1993 pg.30
11
   Joly, Martine,”Introdução à analise da imagem”, Ed.70,Arte & Comunicação, 2008, pg.124
12
   Barthes Roland,”A câmara clara”Ed.70,Pg.88
13
   Joly Martine, op. Cit. pg 124
Anexo




               Figura 1. Auto-retrato – “Em nós, pensando…”




Bibliografia
Jacques Le Goff, “Documento/Monumento”,In: Memória - História,
Enciclopédia Einaudi, vol.I Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda,
1985.


Enciclopédia Einaudi, vol.I. Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda,
1985.

Marc Bloch, “Introdução à história”, 5ª Colecção Saber, Pub. Europa -
América

Bauret Gabriel, “ A fotografia”Ed. 70 (Arte e Comunicação) 2006

Barthes Roland “A câmara clara” Ed.70 (Arte e Comunicação) 2006

Pais José, Carvalho Clara, Gusmão Neuza, “ O Visual e o
Quotidiano”Imprensa de Ciências Sociais 2008


Sardo,Delfim “Jorge Molder” Ed. Caminho, SA.

(www.editorial-caminho.pt)


Darsie Alexander, Textos, “The Hug, New York City”1980

Leite Miriam,”Retratos de Família”: Leitura da Fotografia Histórica, Ed.
Edusp, 1993

Joly, Martine,”Introdução à análise da imagem”, Ed.70 (Arte &
Comunicação) 2008

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A fotografia como expressão e comunicação

  • 1. A fotografia é como uma mensagem que se elabora através do tempo, tanto como imagem/monumento quanto como imagem/documento1, tanto como testemunho directo quanto como testemunho indirecto do passado.2 Através do retrato, a fotografia apresenta-se como um meio de verificar, mas também de inflectir a imagem de um indivíduo. Veja-se a delicada utilização do retrato nas campanhas eleitorais. O que é ainda mais verdadeiro no caso do auto-retrato, em que o sujeito procura reconhecer-se ao mesmo tempo que procura esconder aos outros e a si próprio determinados aspectos da sua personalidade, o que por vezes chega ao ponto de criar uma imagem fictícia. A ficção, porém nunca é total de uma maneira ou de outra e a verdade acabam sempre por transparecer. Da mesma forma que existe sempre algo de auto-retrato no retrato de outrem.3 Actualmente, ninguém poderá contestar que a fotografia, sob múltiplos aspectos, se afirma cada vez mais como uma forma de expressão, de informação e de comunicação total, essencial e específica. A fotografia é, por essência importante e interessante, quer tanto como testemunho artístico ou jornalístico sobre o mundo, quer como prática social popular4. A fotografia nunca é mais do que, um canto alternado de <<Olhe>>, <<Veja>>,<< Aqui está.>>5 ela traz consigo o seu referente, ambos atingidos pela mesma imobilidade amorosa ou fúnebre, no próprio seio do mundo em movimento. É representado na (Figura 1), o olhar que o sujeito tem de si próprio. Muitos escultores, fotógrafos e escritores mostraram como se viam a si próprios, ou para guiar os nossos olhos sobre eles. Tamara de Lempick dizia que todas as suas pinturas eram auto retratos e Frida Kahlo para se apropriar das suas angústias. Na Figura 1, o auto-retrato apresenta autoveridicção, significa que nele está contemplado algo que foi vivenciada pelo próprio sujeito, há preocupação em aproximar a representação da verdade. (Fotografia e verdade, muito ao séc.XIX ) 1 Jacques Le Goff, “Documento/Monumento”,In: Memória - História, Enciclopédia Einaudi, vol.I. Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda,1985. 2 Marc Bloch, Introdução à história, 5ª,Colecção Saber, Pub. Europa - América 3 Bauret Gabriel, “ A fotografia”Ed. 70 (Arte e Comunicação), p.64 4 Bauret Gariel op. Cit. p.9 5 Barthes “A câmara clara” Ed.70(Arte e Comunicação),p.13
  • 2. Pode-se definir auto-retrato como um registo que alguém faz de si mesmo. Este pode ser realizado através de um desenho, de uma pintura, escultura, fotografia ou ainda em poesia ou outro texto verbal. Com o advento da fotografia, a pintura ficou liberta da missão que tinha de reproduzir fielmente a realidade, tanto no retrato, quanto nas paisagens, objectos. Os artistas ficaram, então, livres para criar, usando à vontade formas e cores nos seus quadros, tornando visíveis, dessa maneira, também as suas emoções. Segundo Henri Cartier Bresson6 advogava que no seu modo de ver a fotografia nada mudou desde a sua origem, excepto nos seus aspectos técnicos, os quais não são sua preocupação principal. Os retratos de Henri Cartier Bresson, em que é notória a intenção do fotógrafo de incluir na composição elementos que façam da fotografia não só o documento de um rosto ou de um corpo, mas também o documento de uma personalidade, e uma mentalidade de um mundo (Cartier- Bresson, 1999). No caso de Jorge Molder este usou o espelho como um sinal, dentro da imagem, de que existe um universo dentro dela, com se fosse fora dela. Há espelhos em Zerlina, Lares e Janus (de 1978) e, ininterruptamente, desde a série de auto-retratos de 1986.7 A fotografia é uma operação instantânea que exprime o mundo em termos visuais, tanto sensoriais como intelectuais, sendo também uma procura e uma interrogação constantes. O contributo de novas técnicas e mais actuais permitiram o espírito do fotógrafo estar mais “aguçado”, por outras palavras ele conta actualmente com um historial já notável desta arte, ao passo que um fotógrafo do séc XIX, como Nadar, apenas pôde assimilar as experiencias da pintura. É incontestável que os grandes retratistas não os que praticaram esta arte ocasionalmente, mas os que se lhe dedicaram a tempo inteiro, trouxeram ao ser humano algo absolutamente mensurável, para além de que hoje a fotografia para quem a questiona e a observa atentamente, ter modificado a nossa maneira de observar os indivíduos que nos rodeiam, parece igualmente intervir no nosso 6 Pais José, Carvalho Clara, Gusmão Neuza, “ O Visual e o Quotidiano”Imprensa de Ciências Sociais, p.56 7 Sardo,Delfim “Jorge Molder” Ed. Caminho,SA. pg.23
  • 3. próprio comportamento quotidiano, revelando em particular, mais ainda do que a pintura o tem feito, o papel da imagem que oferecemos de nós próprios.8 Segundo uma grande fotógrafa na nossa actualidade, Helena Almeida, refere numa entrevista …” não transmito quem sou, mas sim emoções. Anulo-me nos trabalhos procurando que as pessoas se identifiquem com o que quero transmitir. Não quero auto-retratos, nem contar a minha história” explicou….”Mostro problemas vastos, como a dor e a perda, o amor”, frisou. Na figura 1, auto-retrato, poder-se-á contemplar parte do pensamento da fotógrafa Helena Almeida quando refere que nos seus trabalhos mostra problemas vários tais com o amor, a perda, etc… Para o francês Henri Cartier Brenson, …” o fotógrafo não pode limitar o seu caderno de notas e fotos, deve ter paralelamente a imagem e o texto, pois a imagem não se comunica totalmente por si só.” Quando esse campo apresenta elementos descontínuos e heterogéneos, torna-se necessário descodificar vários elementos como por exemplo: o foco, os planos o enquadramento. Já o cineasta japonês Akira Kurosawa sente limitação das palavras para a concretização das suas ideias conta que fez quinhentos desenhos para o seu filme Kagemusha, como forma de concretização das suas ideias e para transmitir com precisão aos colaboradores essas ideias. O retrato é um domínio privilegiado da fotografia, desde a sua invenção. Permitiu aos fotógrafos expressarem-se totalmente, e alguns deles dedicam-se-lhe por inteiro. Há quem diga que o bom retrato é aquele que informa e faz um perfil do fotografado: quem é ele, onde está ele, o que faz. Ou seja, o bom retrato fornece informações objectivas que qualquer um pode descodificar ao olhar para a fotografia. Outros pensarão que o bom retrato é aquele que emociona o leitor, porque o fotografado se torna quase real, o retratado foi conquistado pelo fotógrafo e se expõe. No auto-retrato da Figura 1, o sujeito está envolvido por “imagens imaginárias” e um álbum de fotografias real a seu lado, que apontam para memórias passadas e presentes, momentos de grande intimidade e tranquilidade associados à incontornável alegria e saudade. Poder-se-á dizer que também Nan Goldin muito à sua maneira revelou a 8 Bauret Gariel op. Cit. p.63
  • 4. intimidade humana no seu trabalho artístico.9 E essa intimidade humana é sem dúvida evidenciada pela leitura de pensamento do sujeito auto-retratado. À primeira vista o auto-retrato da Figura 1 poderá parecer de certa forma uma mensagem directa e sem códigos, contudo …”nela se desenvolvem significações parasitas que pertencem ao plano da conotação.”10 No auto-retrato da (Figura 1) o que constitui a natureza deste auto-retrato/fotografia é a pose. Neste auto-retrato (Figura 1), a propósito da postura do sujeito é aquilo que sugere a posição do braço e da mão.11 Porque a pose não é aqui uma atitude do alvo, nem mesmo uma técnica do Operator, mas o termo de uma intenção de leitura: ao contemplar uma foto incluo fatalmente no meu olhar o pensamento desse instante, por muito breve que tenha sido…”12. De facto, a alternativa clássica é a de apresentar o ou os modelos tanto de frente, como de perfil. Georges Péniou mostrou que, em publicidade, o envolvimento do espectador era muito diferente num caso e no outro. O olhar aqui representado é de perfil, dá a impressão de assistir a um espectáculo apresentado por um «ele», uma terceira pessoa.13 “É bom lembrar que, mesmo a contra gosto ou sem pensar que o faz, ao construir o seu auto-retrato o que o artista nos obriga a encarar de frente é sempre, inteiramente, o nosso espelho.” (Autor desconhecido) 9 Darsie Alexander, Textos, “The Hug, New York City”1980 10 Leite Miriam,”Retratos de Família”: Leitura da Fotografia Histórica, Ed. Edusp, 1993 pg.30 11 Joly, Martine,”Introdução à analise da imagem”, Ed.70,Arte & Comunicação, 2008, pg.124 12 Barthes Roland,”A câmara clara”Ed.70,Pg.88 13 Joly Martine, op. Cit. pg 124
  • 5. Anexo Figura 1. Auto-retrato – “Em nós, pensando…” Bibliografia
  • 6. Jacques Le Goff, “Documento/Monumento”,In: Memória - História, Enciclopédia Einaudi, vol.I Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1985. Enciclopédia Einaudi, vol.I. Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1985. Marc Bloch, “Introdução à história”, 5ª Colecção Saber, Pub. Europa - América Bauret Gabriel, “ A fotografia”Ed. 70 (Arte e Comunicação) 2006 Barthes Roland “A câmara clara” Ed.70 (Arte e Comunicação) 2006 Pais José, Carvalho Clara, Gusmão Neuza, “ O Visual e o Quotidiano”Imprensa de Ciências Sociais 2008 Sardo,Delfim “Jorge Molder” Ed. Caminho, SA. (www.editorial-caminho.pt) Darsie Alexander, Textos, “The Hug, New York City”1980 Leite Miriam,”Retratos de Família”: Leitura da Fotografia Histórica, Ed. Edusp, 1993 Joly, Martine,”Introdução à análise da imagem”, Ed.70 (Arte & Comunicação) 2008