O documento discute como as redes sociais estão gerando ciúmes e inseguranças nos relacionamentos, levando em alguns casos ao término do namoro ou casamento. A exposição constante e acesso a novas possibilidades de relacionamento online fazem com que as pessoas vejam os outros e a si mesmas como "objetos descartáveis". Isso reflete um "amor líquido" inconstante em nossa época pós-moderna.

1. Amores e insegurança em tempos de Internet
Facebook, MSN, Twitter, Orkut e mais um sem número de redes sociais conectam pessoas em
tempo real, aumentando a possibilidade de relações e aproximando pessoas que talvez sequer se
(re)conheceriam não fossem essas ferramentas.
Porém, o que poderia ser um instrumento de contato, tem sido cada vez mais um grande motivo de
desentendimentos e rompimento de laços nos namoros, noivados e casamentos, pelos ciúmes gerados por
comentários deixados nos perfis do ser amado, ou até mesmo na adição de novo (a)s amigo(a)s
desconhecidos pelo(a) parceiro(a).
Em parte, essas ações aparentemente extremas de tentativa de controle do outro, traduzem a
insegurança e a ansiedade gerada por um novo tipo de relação surgida nesta época que convencionou-se
chamar de pós-modernidade, nomeada pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman de “amor líquido”.
Esta nova modalidade de sentimento, reflete justamente o excesso de exposição de novas e
variadas possibilidades de relação, bem como liberdade de escolha e a acessibilidade a novos modelos de
relacionamentos mais satisfatórios, oferecendo em prateleiras virtuais, possibilidades mais atraentes e que
aquelas vivenciadas na pseudo-solidez do “até que morte os separe“.
Dessa forma, relações se tornam obsoletas como as novas tecnologias, que são utilizadas
enquanto não aparecem outras com mais vantagens, e trocadas em espaços de tempo cada vez mais
curtos.
A baixa estima gerada pela insegurança eclodida no risco da perda chega a gerar novos pactos,
como criar perfis únicos do casal, para que os dois tenham acesso ao conteúdo postado pelo outro,
coibindo também relacionamentos de terceiros com aquele “avatar de dupla face”, que não é um sujeito,
mas uma pareja, despersonalizando os indivíduos e criando um terceiro ente, controlador e ciumento, que
filtra intenções de interlocutores e limita as relações à dupla, não cabendo a privacidade tão necessária à
saúde emocional dos membros dessa união.
Para Erich Fromm, psicanalista alemão, esse sentimento de posse é considerado amor neurótico e
pode afetar a saúde integral, pois essa obsessão reduz o suposto amor a uma simples dependência
psicológica que gera uma profunda pena, frustração e desilusão.
Ainda para o psicanalista, o amor não é um ato passivo, mas ativo, em direção ao outro, não tendo
como problema primeiro o de ser amado, mas o da própria capacidade de amar. A fidelidade então, se torna
fruto desta capacidade, por ser “uma atitude, uma orientação de caráter que determina como alguém se
relaciona com o mundo como um todo, e não apenas com um “objeto” de amor”. Portanto, quem não ama,
independe de meios para trair, seja pela internet ou em qualquer espaço ou ambiente.