O artigo discute se os ambientes de interação na internet configuram-se esferas públicas. Na tentativa de uma resposta, fizemos uma rápida revisão de alguns pontos específicos dos estudos da interação mediada por computador em consórcio com alguns outros pontos da teoria democrática de Habermas. Para objetivar nossos estudos, fizemos uma observação da seção de comentários de leitores da versão on-line do jornal Folha de S. Paulo. Ao fim, chegamos à conclusão de que as possibilidades de interação viabilizadas pela internet não podem ser tomadas a priori como uma esfera pública. Faz-se necessário analisar caso a caso se o debate obedece a uma ética do discurso, composta pelos valores da inclusividade, da racionalidade, da não-coerção e da reciprocidade.
Quão interativo é o hipertexto? Da interface potencal à escrita coletivaAlex Primo
“No hipertexto interativo e de estrutura não-linear o usuário transforma-se em autor”. Uma frase como essa poderia parecer consensual entre pesquisadores da cibercultura. No entanto, este trabalho pretende discutir o hipertexto e a interação mediada por computador através de uma abordagem relacional. A partir dessa perspectiva, preocupada com a relação entre os interagentes, questões como interatividade, bidirecionalidade, usuário, não-linearidade e autoria compartilhada são revistas e desafiadas. Finalmente, analisando-se a questão da escrita coletiva, propõe-se três formas de interação hipertextual: potencial, colaborativa e cooperativa.
Enfoques e desfoques no estudo da interação mediada por computadorAlex Primo
Muitos são os enfoques sobre a chamada “interatividade”. Reúne-se e critica-se aqui tendências no estudo da interação mediada por computador, a saber: os enfoques tecnicista, informacional, transmissionista, antropomórfico e mercadológico. A partir dessa problemática, defende-se uma abordagem sistêmico-relacional, fundada nas contribuições oferecidas pelas pesquisas sobre complexidade e comunicação interpessoal.
Conflito e cooperação em interações mediadas por computadorAlex Primo
Os blogs e o Orkut vieram atualizar o interesse pelo estudo das interações nas comunidades virtuais. Mas são elas palco apenas de ajuda recíproca e de puras relações consensuais de cooperação? Este artigo quer investigar qual o papel do conflito nas interações mediadas por computador, negando sua oposição radical à cooperação. Para esta discussão, após fazer-se uma reflexão sobre o impacto sociológico do conflito, faz-se uma análise crítica de simulações informáticas do “dilema do prisioneiro”, do problema de Pensamento de Grupo (Groupthink), da “tragédia do comunal”, da produção e circulação de bens públicos no ciberespaço e dos condicionamentos estruturais de certos serviços de comunicação no ciberspaço.
Avaliação qualitativa de interações em redes sociais: Relacionamentos no blog...Alex Primo
Este artigo busca demonstrar a diversidade de interagentes com quem um mesmo blogueiro interage e os diferentes relacionamentos mantidos. Pelo procedimento metodológico qualitativo utilizado (Primo 2006) na investigação empírica do blog Martelada, procura-se discutir as dicoto- mias ego/alter e laços fracos/laços fortes. A pesquisa visa observar não o aspecto de conteúdo, o que é dito, ou meramente as questões tecnológi- cas envolvidas, mas sim o aspecto relacional das interações.
O aspecto relacional das interações na Web 2.0Alex Primo
A Web 2.0 é a segunda geração de serviços na rede, caracterizada por ampliar as formas de produção cooperada e compartilhamento de informações online. Certamente a Web 2.0 tem um aspecto tecnológico fundamental. Mas não se reduz a isso. Este artigo busca, a partir de uma perspectiva relacional, questionar quais são os atores e que forma têm suas interações na Web 2.0. Para este estudo, interações em blogs, na Wikipédia, no Flickr, no del.icio.us e no Orkut são analisadas.
Interatividade no Jornalismo Online: apontamentos conceituais para análise da...Samuel Barros
Este artigo pretende fazer uma discussão dos conceitos de interação e interatividade, com o objetivo de construir um método de análise das versões online de revistas impressas no que tange a interatividade, a partir do entendimento de que esta é uma das características do Jornalismo Online. O objetivo final é avaliar as versões online das revistas TPM, da Editora Trip, e Boa Forma, da Editora Abril.
Interação mútua e interação reativa: uma proposta de estudoAlex Primo
A questão da interatividade em ambientes informáticos tem sido tratada de forma elástica e confusa. Nesse sentido, baseando-se em estudos de comunicação interpessoal, o texto apresenta dois tipos de interação: a mútua e a reativa. Esses dois tipos interativos são analisados quanto às seguintes dimensões: sistema, processo, operação, fluxo, throughput¸ relação e interface.
Quão interativo é o hipertexto? Da interface potencal à escrita coletivaAlex Primo
“No hipertexto interativo e de estrutura não-linear o usuário transforma-se em autor”. Uma frase como essa poderia parecer consensual entre pesquisadores da cibercultura. No entanto, este trabalho pretende discutir o hipertexto e a interação mediada por computador através de uma abordagem relacional. A partir dessa perspectiva, preocupada com a relação entre os interagentes, questões como interatividade, bidirecionalidade, usuário, não-linearidade e autoria compartilhada são revistas e desafiadas. Finalmente, analisando-se a questão da escrita coletiva, propõe-se três formas de interação hipertextual: potencial, colaborativa e cooperativa.
Enfoques e desfoques no estudo da interação mediada por computadorAlex Primo
Muitos são os enfoques sobre a chamada “interatividade”. Reúne-se e critica-se aqui tendências no estudo da interação mediada por computador, a saber: os enfoques tecnicista, informacional, transmissionista, antropomórfico e mercadológico. A partir dessa problemática, defende-se uma abordagem sistêmico-relacional, fundada nas contribuições oferecidas pelas pesquisas sobre complexidade e comunicação interpessoal.
Conflito e cooperação em interações mediadas por computadorAlex Primo
Os blogs e o Orkut vieram atualizar o interesse pelo estudo das interações nas comunidades virtuais. Mas são elas palco apenas de ajuda recíproca e de puras relações consensuais de cooperação? Este artigo quer investigar qual o papel do conflito nas interações mediadas por computador, negando sua oposição radical à cooperação. Para esta discussão, após fazer-se uma reflexão sobre o impacto sociológico do conflito, faz-se uma análise crítica de simulações informáticas do “dilema do prisioneiro”, do problema de Pensamento de Grupo (Groupthink), da “tragédia do comunal”, da produção e circulação de bens públicos no ciberespaço e dos condicionamentos estruturais de certos serviços de comunicação no ciberspaço.
Avaliação qualitativa de interações em redes sociais: Relacionamentos no blog...Alex Primo
Este artigo busca demonstrar a diversidade de interagentes com quem um mesmo blogueiro interage e os diferentes relacionamentos mantidos. Pelo procedimento metodológico qualitativo utilizado (Primo 2006) na investigação empírica do blog Martelada, procura-se discutir as dicoto- mias ego/alter e laços fracos/laços fortes. A pesquisa visa observar não o aspecto de conteúdo, o que é dito, ou meramente as questões tecnológi- cas envolvidas, mas sim o aspecto relacional das interações.
O aspecto relacional das interações na Web 2.0Alex Primo
A Web 2.0 é a segunda geração de serviços na rede, caracterizada por ampliar as formas de produção cooperada e compartilhamento de informações online. Certamente a Web 2.0 tem um aspecto tecnológico fundamental. Mas não se reduz a isso. Este artigo busca, a partir de uma perspectiva relacional, questionar quais são os atores e que forma têm suas interações na Web 2.0. Para este estudo, interações em blogs, na Wikipédia, no Flickr, no del.icio.us e no Orkut são analisadas.
Interatividade no Jornalismo Online: apontamentos conceituais para análise da...Samuel Barros
Este artigo pretende fazer uma discussão dos conceitos de interação e interatividade, com o objetivo de construir um método de análise das versões online de revistas impressas no que tange a interatividade, a partir do entendimento de que esta é uma das características do Jornalismo Online. O objetivo final é avaliar as versões online das revistas TPM, da Editora Trip, e Boa Forma, da Editora Abril.
Interação mútua e interação reativa: uma proposta de estudoAlex Primo
A questão da interatividade em ambientes informáticos tem sido tratada de forma elástica e confusa. Nesse sentido, baseando-se em estudos de comunicação interpessoal, o texto apresenta dois tipos de interação: a mútua e a reativa. Esses dois tipos interativos são analisados quanto às seguintes dimensões: sistema, processo, operação, fluxo, throughput¸ relação e interface.
Webjornalismo participativo e a produção aberta de notíciasAlex Primo
Este artigo traz um estudo sobre a escrita coletiva de notícias, as condições sociais e tecnológicas que viabilizaram a emergência do webjornalismo participativo, além das contribuições e riscos trazidos por esse fenômeno. Discute-se também ox processos de gatekeeping e gatewatching e as diferentes formas de participação na escrita e edição de notícias a partir da análise de diferentes exemplares de noticiários produzidos por cidadãosrepórter.
Trabalho efectuado no âmbito da cadeira de Comunicação Educacional do Mestrado de Pedagogia do e-learning da Universidade Aberta
Texto base:
How Do Communication and Technology
Researchers Study the Internet?
By Joseph B. Walther, Geri Gay, and Jeffrey T. Hancock
O QUE OS MASS MEDIA E A INTERNET SOCIAL PODEM FAZER PELA DELIBERAÇÃO PÚBLICA?Samuel Barros
O presente artigo discute a configuração dos fluxos da deliberação pública no atual ambiente comunicacional, o qual é constituido majoritariamente pelos mass media e pela web social. Neste sentido, este trabalho concluiu que, para o estudo dos efeitos da internet para os mass media, é preciso evitar uma chave interpretativa prévia de ruptura ou de continuidade; é preciso considerar separadamente a morfologia e os usos das diferentes
plataformas e ambientes online; a web social e os mass media podem desempenhar papeis complementares, nomeadamente na discussão e visibilidade dos temas e questões que ocupam a agenda política.
Segunda aplicação do enem 2017: Internet e tecnologiasma.no.el.ne.ves
Tecnologias e internet no ENEM, Segunda aplicação do ENEM-2017, Provas do ENEM resolvidas e comentadas, Segunda aplicação do ENEM-2017 resolvida e comentada, Manoel Neves, Salinha de redação, Salinha de redação em BH, Salinha de redação em Belo Horizonte, Salinha de redação para o ENEM em Belo Horizonte
O artigo relaciona a consolidação da Internet e das suas potencialidades com a
emergência de um novo tipo de interação dos públicos com as mídias. A partir da Web
2.0, entendida como marco de uma maior participação dos cidadãos no espaço público
em que tem se configurado a Internet, diversos meios de comunicação tradicionais
abriram-se à utilização de ferramentas que possibilitam produções colaborativas
Publicado na 3ª Conferência de Comunicação e Tecnologias Digitais (UnB, 2009), o artigo trata de como qualquer tecnologia traz em si pressupostos sociais intrínsecos, que são agenciados pela
sociedade conforme suas necessidades ambientais e históricas específicas. Esses usos podem resultar em configurações bastante diversas das inicialmente imaginadas ou que serviram de inspiração ás técnicas. O artigo aborda tais aspectos, indicando resistências e riscos a um projeto mais democrático de uso das novas tecnologias, por um lado, e a expansão, por outro,
da lógica própria dos meios digitais, que busca chegar até mesmo aos meios de produção,
abrindo oportunidades para uma superação do modelo capitalista, ao menos em sua formulação
contemporânea. Uma versão preliminar foi apresentada em disciplina da UnB.
Webjornalismo participativo e a produção aberta de notíciasAlex Primo
Este artigo traz um estudo sobre a escrita coletiva de notícias, as condições sociais e tecnológicas que viabilizaram a emergência do webjornalismo participativo, além das contribuições e riscos trazidos por esse fenômeno. Discute-se também ox processos de gatekeeping e gatewatching e as diferentes formas de participação na escrita e edição de notícias a partir da análise de diferentes exemplares de noticiários produzidos por cidadãosrepórter.
Trabalho efectuado no âmbito da cadeira de Comunicação Educacional do Mestrado de Pedagogia do e-learning da Universidade Aberta
Texto base:
How Do Communication and Technology
Researchers Study the Internet?
By Joseph B. Walther, Geri Gay, and Jeffrey T. Hancock
O QUE OS MASS MEDIA E A INTERNET SOCIAL PODEM FAZER PELA DELIBERAÇÃO PÚBLICA?Samuel Barros
O presente artigo discute a configuração dos fluxos da deliberação pública no atual ambiente comunicacional, o qual é constituido majoritariamente pelos mass media e pela web social. Neste sentido, este trabalho concluiu que, para o estudo dos efeitos da internet para os mass media, é preciso evitar uma chave interpretativa prévia de ruptura ou de continuidade; é preciso considerar separadamente a morfologia e os usos das diferentes
plataformas e ambientes online; a web social e os mass media podem desempenhar papeis complementares, nomeadamente na discussão e visibilidade dos temas e questões que ocupam a agenda política.
Segunda aplicação do enem 2017: Internet e tecnologiasma.no.el.ne.ves
Tecnologias e internet no ENEM, Segunda aplicação do ENEM-2017, Provas do ENEM resolvidas e comentadas, Segunda aplicação do ENEM-2017 resolvida e comentada, Manoel Neves, Salinha de redação, Salinha de redação em BH, Salinha de redação em Belo Horizonte, Salinha de redação para o ENEM em Belo Horizonte
O artigo relaciona a consolidação da Internet e das suas potencialidades com a
emergência de um novo tipo de interação dos públicos com as mídias. A partir da Web
2.0, entendida como marco de uma maior participação dos cidadãos no espaço público
em que tem se configurado a Internet, diversos meios de comunicação tradicionais
abriram-se à utilização de ferramentas que possibilitam produções colaborativas
Publicado na 3ª Conferência de Comunicação e Tecnologias Digitais (UnB, 2009), o artigo trata de como qualquer tecnologia traz em si pressupostos sociais intrínsecos, que são agenciados pela
sociedade conforme suas necessidades ambientais e históricas específicas. Esses usos podem resultar em configurações bastante diversas das inicialmente imaginadas ou que serviram de inspiração ás técnicas. O artigo aborda tais aspectos, indicando resistências e riscos a um projeto mais democrático de uso das novas tecnologias, por um lado, e a expansão, por outro,
da lógica própria dos meios digitais, que busca chegar até mesmo aos meios de produção,
abrindo oportunidades para uma superação do modelo capitalista, ao menos em sua formulação
contemporânea. Uma versão preliminar foi apresentada em disciplina da UnB.
LEI Nº 4.317, DE 9 DE ABRIL DE 2009
Institui a Política Distrital para Integração da Pessoa com Deficiência, consolida as normas de proteção e dá outras providências.
Interação - Um simples ato de comunicação ou uma relação entre indivíduos?comunidadedepraticas
Esta apresentação foi produzida para o curso "Facilitação: promovendo interação em ambientes de aprendizagem colaborativa", acesso em: https://cursos.atencaobasica.org.br/courses/15784
Articulando ideias nos/com os Softwares SociaisAlice Costa
Este artigo teve como objetivo provocar a reflexão de educadores sobre as possibilidades educacionais existentes no cotidiano dos internautas. Neste sentido, a metodologia adotada foi a pesquisa ação (BARBIER, 2007) que viabiliza uma aprendizagem autônoma, própria da EAD e interativa, que nos permitem vivenciar as práticas dos cotidianos (CERTAU, 2008), simultaneamente das possibilidades
comunicacionais (SANTOS e RICCIO, 2011) dentro e fora do ciberespaço resultando
numa outra interface entre aqueles que por algum motivo estavam desconectados. As
transformações digitais ocorridas na contemporaneidade implicaram em reinvenções de comportamento, das linguagens e dos modos de aprender da/com a geração digital;
neste sentido, investiguei algumas de suas práticas no ciberespaço e suas consequências
para a educação.
A internet está revolucionando a comunicação humana. Com ela abrem-se novas formas de intercâmbio de informações, de forma interativa, assíncrona ou síncrona, com significante intimidade mesmo que sem proximidade física. Sendo assim, além do correio eletrônico, a internet abre
canais de diálogo que permitem a conversa simultânea de dezenas de pessoas.
Os serviços de BBS e chat (como o IRC), verdadeiros pontos de encontro online, têm contribuído para a formação de comunidades virtuais. Este trabalho pretende investigar como as pessoas relacionam-se entre si nessas emergentes comunidades.
Blogs como espaços de conversação: Interações conversacionais na comunidade d...Alex Primo
O blog não passa de um diário íntimo na Web? Como conversam os participantes de um blog? A partir dessas questões, este artigo discute a conversação na comunidade de blogs insanus (http://www.insanus.org). Para tanto, busca definições de conversação e compara os procedimentos utilizados para estudá-la em encontros face-a-face e em processos mediados por computador. A partir disso, discute a especificidade da conversação em blogs, revisando recursos tecnológicos que viabilizam tal processo interativo. Finalmente, analisa uma conversação que percorreu vários blogs daquela comunidade.
Curtir ou não curtir? A reação às publicações dos candidatos à presidência na...Samuel Barros
Entender a relação entre os níveis de engajamento do público e as características das publicações nos ajuda a entender a dinâmica entre a comunicação estratégica de cada candidato e seu público no Facebook. Assim, podemos estudar a campanha não apenas da perspectiva da ação estratégica, mas também como o público e a plataforma respondem a esta e como, em última instância, influenciam a visibilidade e a interpretação dos lances argumentativos. O propósito deste estudo é abordar esta questão a partir da análise das publicações realizadas nas páginas oficiais, no Facebook, dos quatro principais candidatos à presidência do Brasil em 2018.
"Ouvindo nosso bairro": um estudo sobre a participação política local por mei...Samuel Barros
A escolha do “Ouvindo Nosso Bairro” como objeto de pesquisa se dá, fundamentalmente, por três fatores: a) o esforço materializado em recursos financeiros e humanos mobilizados pela Prefeitura de Salvador para a realização do projeto, b) os números de participantes envolvidos nas fases presencial e online da iniciativa e c) a institucionalização da iniciativa por meio da aprovação na Câmara Municipal de Salvador da Lei nº 9358/2018 que institui o Programa Ouvindo Nosso Bairro “como
instrumento de participação popular na gestão pública” e que assegura que os próximos gestores municipais deem continuidade à iniciativa.
A sexualidade em Amor & Sexo: representação, discurso e regime de verdadeSamuel Barros
O presente trabalho analisa, a partir da perspectiva dos Estudos Culturais, que representação da sexualidade é construída pelo programa Amor & Sexo, da TV Globo. Utilizando como base teórica os conceitos de representação, discurso e regime de verdade de Foucault, além dos conceitos de heteronormatividade e performatividade, levantamos os discursos recorrentes sobre a sexualidade para compreender como a questão é representada no programa, e como este organiza os seus discursos para construir uma coerência e fundamentar o consenso. Como principal resultado, concluímos que a representação da sexualidade no programa Amor & Sexo é construída a partir da diferença essencial entre os sexos masculino e feminino, numa concepção monogâmica e heteronormativa.
A confiança para a manutenção de uma inovação democrática: o caso do orçament...Samuel Barros
Dada a crescente importância da internet como método de consulta dos cidadãos por parte da administração pública sobre políticas públicas, o presente artigo apresenta um estudo sobre como se configuram os sentimentos e impressões dos participantes dos fóruns on-line do Orçamento Participativo Digital (OPD) de Belo Horizonte. Trata-se de um caso especialmente profícuo para essa análise, uma vez que houve notável queda do número de participantes entre as edições, de modo que podemos investigar as razões para o desengajamento. Foi realizada uma análise de conteúdo de todas as mensagens dos fóruns on-line das edições de 2008 e 2011 (N = 2.370), com o propósito de identificar o sentimento dos cidadãos em relação à iniciativa, à percepção da eficácia da própria participação na produção das decisões, à percepção de ser bem representado. Os resultados indicam que a expressão de sentimentos dos cidadãos nos fóruns on-line é fundamental para a avaliação das políticas públicas em discussão e também do próprio instrumento de participação. Ademais, ponderamos os prejuízos resultantes da não consideração das opiniões e sentimentos manifestados pelos cidadãos.
[ABCP 2016] A colaboração dos cidadãos na produção de leis: lições das consu...Samuel Barros
O Marco Civil da Internet (Lei número 12.965, de 23 de abril de 2014) estabelece princípios, garantias, direitos e obrigações para os usuários de internet: cidadãos, empresas e governo. Entre outros temas, esta legislação estabelece princípios para a liberdade de expressão, proteção da privacidade, arquivo de dados de conexão, neutralidade da rede e liberdade para os negócios baseados na internet.
Os desafios das consultas públicas online: lições do Marco Civil da InternetSamuel Barros
Este artigo apresenta uma análise das três plataformas de consulta empregadas durante o processo de elaboração do Marco Civil da Internet (MCI). O objetivo é avaliar, a partir de critérios da literatura de democracia digital, como as características das plataformas modelaram o processo de participação e quais lições podem ser tiradas desse caso paradigmático. Ao fim, enumera-se como lições: a) é necessário ter em conta a participação de públicos distintos, leigos e especialistas, cidadãos avulsos e organizações de representação de interesses; b) a ocorrência das consultas deve ser amplamente divulgada, bem como informações sobre o necessário procedimento para participar; c) as consultas devem ser responsivas; d) as consultas devem ser previstas e regulamentadas dentro do processo de tomada de decisão.
A discussão pública e as redes sociais online: o comentário de notícias no Fa...Samuel Barros
O presente artigo faz uma análise das arenas de discussão estabelecidas em páginas de jornais brasileiros no Facebook. A abordagem proposta reconhece a circulação de material político no Facebook como importante na esfera pública contemporânea para a discussão sobre temas de relevância pública. A amostra é composta por 1.164 comentários coletados nas páginas oficiais da Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo. O objetivo é avaliar a qualidade deliberativa dessas arenas, levando em consideração os critérios reciprocidade, provimento de razões, grau da justificativa e respeito, além de discutir elementos estruturais do Facebook, a apropriação social e a discussão pública. No geral, as esferas de conversação da rede criadas em torno das notícias estudadas funcionam como ampliadores da diversidade dos argumentos, demonstrando que, em temas sobre os quais há forte consenso, há uma tendência de ocorrer menores índices de deliberação, além de não haver reciprocidade em quase metade dos comentários e mais de 50% das mensagens não apresentarem qualquer justificativa.
Civic media functions inside the public sphere modelSamuel Barros
How does each kind of civic media project work in relation with the public sphere? How can we understand the relationship between civic media projects and the public sphere? I would like to address these questions by classifying the civic media functions inside the public sphere model. It’s true that there are some different understandings about this concept and its operationalization, but for this post I am just going to use a basic model inspired by the Habermas’ concept.
The Brazilian Civil Rights Framework for the Internet (Marco Civil da Interne...Samuel Barros
What is the Marco Civil da Internet? This law establishes principles, guarantees and rights for Internet users: citizens, companies and government. Among other topics, this legislation establishes principles for freedom of speech, privacy protection, log file and network neutrality.
Setor parcialmente explorado no campo de pesquisa da comunicação, a revista se dirige a um público especíco, destacando-se pelas estratégias visuais, pela segmentação temática e a periodicidade não atrelada à urgência informativa, o que permite a instauração de práticas prossionais e de relação com seu público bastante peculiares. No ciberespaço as revistas se reconguram tanto na produção, na distribuição quanto no consumo.
Interação Mediada por Sites de Redes Sociais entre Revistas e Leitores: Um Ma...Samuel Barros
A Web 2.0 ampliou consideravelmente as possibilidades de interação no fazer e no consumo de jornalismo, especialmente, com os Sites de Redes Sociais (SRS’s), os quais, gradativamente, têm sido incorporados pelas organizações jornalísticas em suas rotinas. Com o objetivo de entender este cenário, o presente capítulo faz um mapeamento do uso de SRS’s por 15 revistas comerciais brasileiras: Veja, IstoÉ, Época, Bravo, Cult, Trip, VIP, TPM, Boa Forma, Capricho, Atrevida, Galileu, Nova Escola, Placar e Quatro Rodas. Após o mapeamento dos SRS’s usados pelas revistas – os quais são: Orkut, Facebook, Twitter, YouTube, Flickr e MySpace, este artigo trata das possibilidades de uso destes sites como fonte e lugar de produção de conteúdos; como plataforma de distribuição e lugar de consumo; e como estratégia de fidelização de leitores, mas ao mesmo tempo como abertura à participação. O trabalho consiste numa cartografia provisória, dada a constante mudança do fenômeno e a rarefeita literatura sobre a interface entre as revistas e os SRS’s, mas apresenta algumas potencialidades.
A eleição do amadurecimento? A Internet como suporte para a memóriaSamuel Barros
O que tem de específico as eleições presidenciais de 2014? Como ela será lembrada? Qual foi o papel da Internet? Agora mesmo, durante o segundo turno, enquanto Dilma e Aécio ainda trocam acusações de corrupção da coisa pública e promessas de uma vida melhor, quem gosta de política diz que o pleito deste ano é um dos mais emocionantes desde que voltamos à democracia.
Influência da mídia, distância moral e desacordos sociais: um teste do efeito...Samuel Barros
Imaginemos a seguinte situação: eu entendo o que uma determinada mensagem quis dizer e acho que o que ela diz é sério e grave, mas estou igualmente convencido, por outro lado, que, no que me diz respeito, o conteúdo da mensagem não vai produzir nenhuma modificação nas minhas convicções nem no meu comportamento. A convicção sobre a impossibilidade de eu ser influenciado pela mensagem decorre, neste caso, do fato de eu divergir, emocional e cognitivamente, dos valores, das posições ou dos fatos presentes na mensagem. Porque considero errado, cognitiva ou moralmente, o que uma mensagem diz, recuso inteiramente a hipótese de ser persuadido ou convencido por ela. Mas persuasão e preocupação são dois efeitos muito diferentes que uma mesma mensagem pode produzir em mim. Temos, então, uma situação curiosa: o efeito persuasivo direto sobre mim é nulo, ou quase, mas eu não fiquei indiferente à mensagem; ao contrário, ela produziu o enorme efeito de me preocupar. Ademais, não se trata de uma preocupação sem razão ou escopo, ao contrário, está relacionada à persuasão que eu presumo que será exercida sobre os outros: a mensagem não deixa de ser convincente por não me convencer, uma vez que nem todos são como eu. Isso é importante: o potencial que uma mensagem tem de me preocupar está diretamente relacionado ao meu julgamento sobre o poder, que lhe atribuo, de convencimento e de indução de atitudes e comportamentos nos outros. Mas também se dá o seguinte caso: a razão que torna impossível que eu seja convencido pela mensagem é a mesma pela qual ela me causa preocupação – para mim, ela é ou está errada.
SOBRE O CONTEXTO DA DELIBERAÇÃO ONLINE: LEVANTAMENTO DAS PRINCIPAIS VARIÁVEISSamuel Barros
Este artigo tem como propósito o levantamento e problematização das variáveis contextuais que influenciam na qualidade de discussões sobre questões públicas online, nomeadamente as variáveis mais importantes para a agenda de pesquisa da deliberação online. A partir de uma revisão da literatura desta agenda, identificou-se os seguintes elementos: a exclusão digital, o acesso ao ambiente das discussões, o ator que patrocina o ambiente, as características técnicas e de usabilidade da plataforma, a identificação dos participantes, a moderação do conteúdo das discussões, e os temas e problemáticas em discussão. A expectativa é que este trabalho sirva para uma melhor compreensão dos elementos que devem
ser levados em conta por estudos que investigam a qualidade, em termos democráticos, de discussões online.
Revistas online, redes sociais e leituraSamuel Barros
O artigo visa refletir sobre os desafios de definir revista em tempos de web 2.0, e como estas publicações se inserem nas redes sociais. Analisar as transformações da leitura de revistas na web, de como o consumo e a recepção de mídias precisam se prover de novos conceitos para compreender as formas contemporâneas de ser e participar da cultura da convergência, (Jenkins, 2008), e as formas específicas que as revistas adquirem para se adequar estas novas configurações.
Can news sites stimulate online deliberation? A study of readers’ comments po...Samuel Barros
This paper assesses online deliberation on readers’ comments on the website of the Brazilian newspaper Folha de S. Paulo. To this end, 260 posts on four different stories were analyzed. In addition to the comments, the newspaper’s website, its discursive tools and the political stance of the participants, were examined. It was concluded that there was relevant deliberativeness in discussions but also excessive aggressiveness among participants. The comments posted revealed that most of the participants sought to win debates rather than promoting mutual understanding. Lastly, the paper discusses how to deal normatively with this aggressiveness and attempts to identify ways to increase democratic values through the provision of discursive tools by news sites.
Telejornalismo, Agenda-Setting e Twitter: possibilidade metodológica para o t...Samuel Barros
Este estudo visa propor uma metodologia alternativa para se averiguar indícios do efeito de Agendamento (Agenda-Setting) no público pelos telejornais noturnos. Em segundo
lugar, buscou-se verificar qual telejornal seria o mais citado pelos internautas. Para tanto, foi selecionado um evento de grande cobertura midiática, o julgamento do exativista
Cesare Battisti e foram verificados os comentários na rede social Twitter sobre o caso. Buscou-se levantar os tweets (mensagens) que mencionavam tanto Battisti quanto
algum dos 4 principais telejornais noturnos (JN, Band, SBT e Record). O estudo verificou 268 menções captadas em 4 dias, que relacionam Battisti a um dos 4 jornais e
evidencia que o JN é a principal fonte de tais indivíduos (72%) das menções. Ao fim, discutem-se as limitações e vantagens da aplicação de tal metodologia.
LUPA: JORNALISMO EXPERIMENTAL EM REVISTASamuel Barros
A Lupa é uma revista impressa laboratorial da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom-UFBA) produzida por estudantes da disciplina Temas Especiais em Jornalismo Impresso, o que a caracteriza como um espaço para experimentação e
aprendizagem. A realização dessa publicação tem como objetivos divulgar a produção dos alunos do curso de Comunicação da UFBA, estimular a produção de textos, criar um elo entre a teoria e a prática do jornalismo e da produção cultural, através de um produto laboratorial, bem como colocar em circulação um produto editorial não comercial dirigido à juventude universitária. Dentro das características do jornalismo de revista, busca-se uma
identificação temática e visual com o público jovem universitário, compreendido como o grupo etário entre 17 e 25 anos.
INTERNET E REVOLUÇÃO NO EGITO: O USO DE SITES DE REDES SOCIAIS DURANTE A CONV...Samuel Barros
Partindo de pressupostos da literatura de participação política e de sites de redes sociais, este artigo investiga os usos da Internet, com destaque para o Facebook, na convulsão social que derrubou o governo ditatorial de Muhammad Hosni Mubarak no Egito, em fevereiro de 2011. Trata-se de um estudo explanatório cujo objetivo principal é
identificar os usos feitos dos sites de redes sociais pelos cidadãos envolvidos com os protestos.
Como avaliar a deliberação online? Um mapeamento de critérios relevantesSamuel Barros
Este artigo explora os critérios utilizados nas pesquisas da área de Deliberação Online. Através de uma ampla revisão de literatura, foram selecionados os 59 artigos que elencam os indicadores a serem medidos em discussões na internet. Nestes artigos, foram encontrados, ao todo, 369 critérios, com média de 6,25 por artigo e desvio padrão de 2,69. Em um segundo momento, o esforço da pesquisa se deu no agrupamento de tais critérios em categorias mais amplas e conectadas aos princípios deliberativos. Os critérios foram então resumidos a 8 categorias, a saber: Justificação, Reciprocidade, Reflexividade, Respeito, Pluralidade, Igualdade, Informação e Tópico. Conclui-se que, apesar dos muitos critérios utilizados, não se trata de uma dispersão dos estudos de deliberação online. Este resultado está ligado às diferentes correntes teóricas da democracia deliberativa, à difícil operacionalização dos critérios, à necessidade de critérios específicos para os diferentes contextos e objetos de análise e, em vários casos, à simples diferença de taxonomia.
Como avaliar a deliberação online? Um mapeamento de critérios relevantes
Ambientes de Interação na Internet como Esferas Públicas: um Estudo dos Comentários de Leitores da Folha Online
1. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Curitiba, PR – 4 a 7 de setembro de 2009
Ambientes de Interação na Internet como Esferas Públicas:
um Estudo dos Comentários de Leitores da Folha Online1
Samuel BARROS2
Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA
RESUMO
O artigo discute se os ambientes de interação na internet configuram-se esferas públicas.
Na tentativa de uma resposta, fizemos uma rápida revisão de alguns pontos específicos
dos estudos da interação mediada por computador em consórcio com alguns outros
pontos da teoria democrática de Habermas. Para objetivar nossos estudos, fizemos uma
observação da seção de comentários de leitores da versão on-line do jornal Folha de S.
Paulo. Ao fim, chegamos à conclusão de que as possibilidades de interação viabilizadas
pela internet não podem ser tomadas a priori como uma esfera pública. Faz-se
necessário analisar caso a caso se o debate obedece a uma ética do discurso, composta
pelos valores da inclusividade, da racionalidade, da não-coerção e da reciprocidade.
PALAVRAS-CHAVE: internet; interação; debate; esfera pública; democracia.
Introdução
Com o surgimento da internet, ganha fôlego a esperança de uma maior justiça no
fluxo de informação, o que traria invariavelmente ganhos para a democracia. A internet,
com a possibilidade de interação igualitária entre todos os usuários, foi apresentada
como uma saída ao cenário comunicacional extremamente monopolizado por grandes
grupos empresariais. André Lemos (2007) define esse fenômeno como pós-massivo,
uma vez que a Internet possibilitou a liberação do pólo de emissão. O novo ambiente
possibilitaria a comunicação um <=> um e/ou todos <=> todos, o que se configura uma
alternativa ao modelo um => todos (LEMOS, 2007, p.79-80).
O cidadão ganha mecanismos tanto para a comunicação privada, como para a
discussão pública com outros espalhados em qualquer lugar do globo e com a
possibilidade de não-coincidência entre o momento de enunciação e o de recepção,
diferente da TV e do rádio. Portanto, uma vantagem nas sociedades contemporâneas,
onde as rotinas cotidianas – e o momento do consumo de informação – são cada vez
mais diversas. Ou seja, o novo meio possibilitaria a formação de coletivos de discussão
que nunca tinham sido possíveis, uma vez que não exigia coincidência espacial e/ou
temporal.
1
Trabalho apresentado na Divisão Interfaces Comunicacionais, da Intercom Júnior – Jornada de Iniciação Científica
em Comunicação, evento componente do XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.
2
Estudante do 5º semestre de Comunicação, habilitação em Jornalismo, da Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal da Bahia (Facom-UFBA). E-mail: samuel.barros77@gmail.com.
1
2. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Curitiba, PR – 4 a 7 de setembro de 2009
No entanto, os teóricos e engenheiros da internet se concentraram demais nas
possibilidades de melhora para o exercício da democracia que traziam os novos aparatos
tecnológicos, e dispensaram pouco ou nenhum esforço para avaliar o emprego efetivo
dessas ferramentas por parte do cidadão. Esqueceram de avaliar o uso efetivo, ou ainda,
caso o uso ocorresse, quais as limitações. O simples fato de existir fóruns de discussão
já é um ganho democrático? Não seria o caso de perguntar o quê e como se discute? E
se a rede for usada, como é, para organizar grupos nazistas, por exemplo?
Por isso, retomaremos algumas reflexões dos estudos da Interação Mediada por
Computador em consórcio com alguns pontos específicos da teoria democrática de
Habermas, mais especificamente a ética discursiva, na tentativa de avaliar se
efetivamente ocorre diálogo, no sentido mais nobre do termo, ou apenas interação
descomprometida. Nosso objetivo final é avaliar a seção de comentários de leitores da
versão on-line do jornal Folha de S. Paulo.
2. Definindo interação e interatividade
Atualmente, há um uso exagerado, de termos como “interação” e
“interatividade” para definir fenômenos distintos. Nos estudos mais recentes da
cibercultura, interação e interatividade se misturam a ponto de perder a especificidade
semântica de cada uma. Portanto, antes de qualquer coisa, faz-se necessário um acordo
quanto ao emprego que daremos a esses termos.
A interação é entendida por Alex Primo como “uma ação entre os participantes
do encontro (inter+ação)” (PRIMO, 2007, p.13), o que não é necessariamente interação
social. No mesmo sentido, Lucia Santaella, ao fazer um levantamento de alguns
conceitos empregados pela academia, aponta que “a comunicação interativa pressupõe
que haja necessariamente intercâmbio e mútua influência do emissor e receptor na
produção das mensagens transmitidas” (SANTAELLA, 2004, p.160). Interação,
portanto, é um processo, uma relação que se estabelece entre dois ou mais entes com
efeitos para todos envolvidos. A interação influencia as trocas subseqüentes da relação,
bem como na própria constituição das partes envolvidas, o que só é possível na
comunicação interpessoal (entre consciências). Ou seja: interação é interpessoal
(PRIMO, 2007, p. 99-100). No entanto, sempre lembrando que “interpessoal não é
sinônimo de presencial” (PRIMO, 2007, p.10). Interação (portanto, interpessoal) pode
acontecer tanto face, quanto mediada por telefone, por exemplo. A diferença é mais ou
menos sistemas sígnicos empregados no fluxo comunicacional.
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Enquanto interatividade seria “un tipo de comunicación posible gracias a las
potencialidades específicas de unas particulares configuraciones tecnológicas”
(Vittadini, 1995, p. 154). Primo (2007), por sua vez, ao estudar a interação mediada por
computador (CMC), nomeia os dois pólos como: interação reativa e interação mútua.
a interação mútua é aquela caracterizada por relações
interdependentes e processos de negociação, em que cada interagente
participa da construção inventiva e cooperada do relacionamento,
afetando-se mutuamente; já a interação reativa é limitada por relações
determinísticas de estímulo e resposta. (ibid., p.57)
Segundo Primo, o uso da palavra “mútua” evidencia “as modificações
recíprocas” dos envolvidos no fluxo comunicacional. “Cada comportamento na
interação é construído em virtude das interações anteriores. A construção do
relacionamento, no entanto, jamais pode ser prevista” (ibid., p.57). Enquanto a palavra
reativa indica que a resposta é geralmente pré-estabelecida, é previamente programada
pelos engenheiros do dispositivo técnico.
A dicotomia – interação mútua e interação reativa – proposta por Primo para os
extremos do espectro pode ser comparada ao antônimo interatividade/reatividade
(WILLIAMS, 1992). A reatividade tem como exemplo mais elucidativo um sistema de
estímulo-resposta, fechado e totalmente previsível. Enquanto a interatividade tem como
modelo o diálogo humano numa troca aberta de mensagens que configura os próximos
passos, ao tempo que afeta os participantes mutuamente, e é totalmente imprevisível.
Também percebendo esta dicotomia, Lemos (1997) classifica a interatividade
em: a) interação social e b) interação técnica, sendo que a última se divide em interação
analógico-mecânica e eletrônico-digital. Ao falar em interação técnica de tipo
eletrônico-digital se está falando de “processos baseados em manipulações de
informações binárias” (ibid., p.1), a exemplo da interação com o conteúdo através da
interface. O autor lembra, no entanto, que a técnica é um fenômeno social, por isso a
interação técnica está sempre relacionada à interação social.
Os dois extremos tão precisos dificilmente ocorrem na experiência
comunicacional cotidiana. O mais comum é que tanto a interatividade quanto a
reatividade estão presentes em todas as nossas práticas comunicativas em maior ou
menor grau, mesmo na comunicação interpessoal há muito que se pode considerar com
forte carga reativa. Isso porque os processos de comunicação que se repetem com
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alguma freqüência no cotidiano tendem a cair em estruturas mais ou menos rígidas, de
modo que a interação fica previsível (PRIMO, 2007, p.193-195).
Mesmo levando em conta que na vida cotidiana misturam-se os conceitos,
propomos um acordo de nomenclatura para facilitar a atividade analítica.
Gráfico 1: Esquema básico para a diferenciação dos termos interação, interatividade e reação
(Fonte: Elaboração do autor).
No gráfico acima, entendemos a interação, por excelência, como a relação mútua
entre consciências3 (nos termos ideais colocados por Habermas, como veremos no
tópico 4); enquanto a reação por excelência como a relação entre máquinas. Ao perceber
a dificuldade de estabelecer a fronteira entre interação mútua e reativa (ou interatividade
e reatividade, ou ainda interação social e interação técnica), preferimos adotar um
modelo que lide com um espectro ou invés de dois territórios distintos, deste modo um
fenômeno pode ser mais ou menos interativo a medida que aproxima-se da interação ou
da reação, como valores normativos. Em atividade analítica, não precisamos (e não
podemos) decidir se trata de uma interatividade ou reatividade de modo estanque, até
mesmo porque não existem ferramentas precisas para isso. Com isto, acreditamos ser
possível uma análise comparativa ou invés de uma classificação arbitrária. Podemos
3
Lembramos que a coincidência de tempo e espaço (o face-a-face) não é condição para a interação
mútua, apesar de ser um facilitador, uma vez que um maior número de sistemas sígnicos são empregados.
4
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dizer, a partir dos conceitos normativos de interação e reação, que a relação entre Z-Y é
mais interativa em relação A-B, mas menos que X-K.
A escolha pelo termo interatividade para nomear este espectro entre interação e
reação ideal (e, por isso mesmo, não existente), justifica-se por ser este um valor
positivo tido como meta. Para fins de crítica, transformamos a meta em escala. Todas as
relações que estabelecemos com uma página na Web é uma interatividade, mas umas se
aproximam mais da interação do que outras.
A interação mediada por computador, por sua vez, é o percurso consciência-
máquina-máquina-consciência. A interação mediada por computador é estruturada no
universo viabilizado pelas interfaces: o ciberespaço.
Con las tecnologias digitales parecia que los viejos espacios se
reducen y que las agujas del reloj giraran más rápido. Estas
mutaciones afectan a las oposiciones y diferencias que fundan
nuestro sistema de significación cultural. Así como el concepto de
distancia (cerca/lejos, centro/periferia) ha ido variando em cada
período histórico según las tecnologias que modelaban la percepción,
también la oposición privado/público ha sufrido transformaciones por
la irrupción de las tecnologías digitales (SCOLARI, 2008, p.275).
Neste ambiente, os sistemas de significação não são os mesmos da interação
face-a-face, muda a percepção do espaço e do tempo, muda a percepção do privado e do
público, instaura-se um mundo (não menos real que o off-line) que dá os parâmetros de
significação das interações.
3. Os ambientes de interação interpessoal na internet constituem esferas públicas?
Para Jürgen Habermas (1984), a interação humana nem sempre traz benefícios
para a democracia. Ele argumenta que se faz necessário a observância de uma ética do
discurso que paute a inclusividade, a racionalidade, a não-coerção e a reciprocidade
(MAIA, 2008). Se a partir dessas regras, analisarmos os debates públicos não-
institucionalizados, aqueles que acontecem fora dos ambientes previstos pela
organização do Estado (parlamentos), perceberemos o quão distante é este marco ideal
da práxis, porém é ainda um ideal a ser alcançado 4. A boa condução do debate público é
salutar, porque tanto nos espaços institucionalizados e encarregados das decisões
políticas; quanto nos espaços informais, onde se gesta a opinião pública, cumprem papel
4
O que não quer dizer que os debates nos parlamentos estejam próximos do marco ideal, porém neste trabalho nos
interessa apenas os debates não-institucionalizados.
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importante para o exercício democracia, pelo menos no modelo idealizado na
modernidade pelos burgueses.
O público pensante dos “homens” constitui-se em público dos
“cidadãos”, no qual ficam se entendendo sobre as questões da res
publica. Essa esfera pública politicamente em funcionamento torna-
se, sob a “constituição republicana”, um princípio de organização do
Estado liberal de Direito (HABERMAS, 1984, p.131).
No entanto, precisamos lembrar que o próprio Habermas em Direito e
Democracia, obra publicada em 1992, fazendo um esforço para entender o papel dos
meios de comunicação de massa na constituição da esfera pública contemporânea,
diagnóstica perdas da discussão pública em função da visibilidade. Nesta obra,
Habermas entende a esfera pública como espaço “no qual há a livre flutuação de
questões, informações, pontos de vista e argumentos provenientes das vivências
quotidianas dos sujeitos” (GOMES, 2008, p.74). Esta definição mais ampla comporta
tanto “a esfera de visibilidade e exposição social”, atualmente estruturada pelos meios
de comunicação massivos; como a “discussão, o debate e a argumentação com
propósito deliberativo, demonstrativo, conclusivo”, como acontece nos parlamentos; ou
ainda “a conversa, o debate, a discussão, a comunicação como formas de interação
social” (GOMES, 2008, p.130).
Neste trabalho, nos interessam as interações interpessoais, os debates não-
institucionalizados, aqueles que não têm os seus procedimentos regulamentados por leis,
mas que ocorrem num ambiente viabilizado e controlado pelos meios de comunicação
massivos: os ambientes de interação na internet viabilizados por empresas de
comunicação com capacidade de agregar um número demograficamente importante de
pessoas: a massa. Pretendemos testar a possibilidade de uma esfera pública fundada em
interações interpessoais com alcance massivo.
Neste ambiente, a verbalização das posições é fundamental, porque apenas
quando conhecidas as opiniões e desejos dos membros da comunidade política podem
ser consideradas. Se pensarmos em ambientes de interação viabilizados pela internet,
em princípio, parecem oferecer condições ideais para um debate racional, uma vez que
possibilitam uma igualdade nas condições de emissão. Além do ganho dos cidadãos não
precisarem coincidir o espaço-tempo para travar um debate. “Contudo, [as tecnologias
da informação e da comunicação] não determinam o procedimento da interação
comunicativa nem garantem a reflexão crítico-racional” (MAIA, 2008, p.288).
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7. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
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Quanto a pergunta que deu origem a este tópico – Os ambientes de interação
constituem uma esfera pública? – não pode ter uma resposta universal. Faz-se
necessário responder a pelo menos duas perguntas: os temas são de interesse público? O
debate obedece à ética discursiva – inclusividade, racionalidade, não-coerção e
reciprocidade? Quando o debate não acontece segundo esses parâmetros, há apenas um
aglomerado de pessoas falando sozinhas. A relação que se estabelece é apenas uma
competição para ver quem impõe a sua fala por força das cordas vocais.
4. Os comentários dos leitores da Folha Online: empenho na troca de argumentos
Como estratégia para demonstrar (e verificar) os conceitos acima trabalhados,
decidimos analisar a seção de comentários da versão on-line do jornal Folha de S.
Paulo5 - a Folha Online, por se tratar de um dos maiores jornais brasileiros; a versão
impressa tem a maior tiragem entre os jornais pagos em circulação no Brasil, segundo
dados do Instituto Verificador de Circulação (IVC), disponibilizados pela Associação
Nacional de Jornais6. A versão online está hospedada no portal mais antigo e,
provavelmente, de maior credibilidade da internet brasileira: o UOL.
A escolha da seção de comentários da Folha Online se justifica também pela
estrutura como os comentários são dispostos. Os comentários são organizados por temas
e não diretamente associados a notícias isoladas, como faz a maioria dos jornais online
brasileiros. Tomamos como hipótese que esta característica da estrutura favorece
discussões com maior complexidade ou que levam em conta um número maior de
facetas do fato noticioso.
Observamos os comentários agrupados no assunto “Voo Air France 447”, que
falou basicamente da queda do avião da Air France no Oceano Atlântico no dia 1º de
junho de 2009 e sobre as operações de busca. Em torno deste tema, até as18h do dia 22
de junho, foram feitos 1.482 comentários. Por mais que esses números sejam
questionáveis no que diz respeito a pouca influência política ou de formação de opinião
pública para o conjunto da sociedade brasileira, em relação a grande maioria das
discussões que acontecem na internet é um fenômeno que merece estudo. Para
operacionalizar nossa análise, selecionamos os 50 comentários mais recentes que
tinham sido postados sobre o este tema até as 18 horas do dia 22 de junho. Com isso,
5
http://www.folha.uol.com.br/
6
Os números da circulação dos 10 maiores jornais brasileiros nos últimos sete anos estão disponíveis aqui:
http://www.anj.org.br/a-industria-jornalistica/jornais-no-brasil/maiores-jornais-do-brasil. Acesso em: 22 jun. 2009.
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8. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
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pretendíamos avaliar se as trocas de mensagens configuravam-se um debate de acordo
com os critérios defendidos por Habermas.
Não obstante, o nosso objetivo neste trabalho é avaliar se efetivamente esses
ambientes de interação se configuram esferas públicas de troca de razões sobre coisas
públicas; se a interação pode ser considerada um debate de acordo com a ética
discursiva, que preza pela inclusividade, racionalidade, não-coerção e reciprocidade. É
preciso lembrar ainda estas são as características de um debate ideal, ou seja, que não
existe, nunca existiu, nem existirá. Esses são, portanto, parâmetros normativos. No
entanto, a premissa é que, quanto mais perto estiver o debate desse marco ideal, mais
saudável será para a democracia.
4.1 Inclusividade
O ideal é que todas as pessoas possam participar do debate ou, pelo menos, todas
as quais o debate concerne. No caso de esferas públicas institucionalizadas pelo Estado,
todos os afetados pelas decisões deveriam poder participar, e no caso das esferas
públicas de discussão informal, todos os concernidos pelo tema deveriam ter a
possibilidade de opinarem e de serem considerados dignos de igual modo para tanto.
Quanto maior for o grau de participação, maior será o número de posições e mais
complexa será a opinião pública resultante deste debate.
A não necessidade de coincidência temporal é um ganho, se levarmos em conta
que nas sociedades atuais as rotinas diárias são muito distintas e, consequentemente, o
período de tempo livre de cada cidadão; porém pode ser entendida também como uma
perda por quem acredita numa certa pureza do argumento de alguém que é interpelado
sem muito tempo para formular a resposta. Na nossa amostra, os comentários são
postados ao longo de todo o dia, havendo pouca concentração em horários
determinados, o que indica que possíveis diálogos nestes espaços perderiam muito se
fosse imperativa a coincidência temporal.
Quanto ao espaço, nasce com a internet a possibilidade de debater com pessoas
da mesma comunidade que não estão dispostas a um encontro físico para debater
assuntos de interesse comum, pessoas geograficamente distantes e não só, mas também
pessoas impedidas por restrições dos Estados. No entanto,
O potencial da internet para expandir os fóruns conversacionais faz
emergir inevitavelmente o problema do acesso. Em termos ideais, a
aproximação das condições de universalidade do discurso significa,
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em primeiro lugar, que não pode haver barreiras que excluam certas
pessoas do debate. Supõe idealmente, a inclusão de todos aqueles
potencialmente concernidos ou afetados (MAIA, 2008, p.283-284).
Precisamos lembrar também que no Brasil o acesso à internet ainda é pequeno,
se comparado ao conjunto da população. Antes disso, porém, é preciso considerar que o
uso da internet demanda alguns conhecimentos prévios sobre o funcionamento da
tecnologia ou mesmo ser capaz de ler e escrever, o que ainda não atinge toda a
população brasileira. E, uma vez tendo acesso, não há garantias de que os cidadãos terão
vontade de participar, mesmo que os temas lhes sejam concernentes. Acesso é pré-
requisito para participação, não sua garantia. Então, mesmo os que têm acesso e
vontade, precisam ser capazes de usar as ferramentas disponíveis para o diálogo e de
expor a sua posição através de um discurso racional.
4.2 Racionalidade
Para que o debate traga contribuições democráticas, faz-se necessário também
que o argumento seja exposto com racionalidade e razoabilidade. Não é suficiente expor
as opiniões, é preciso estruturá-las racionalmente em um argumento coeso. A
organização razoável das opiniões em palavras é importante para convencer os
participantes do debate, no sentido de chegar a um entendimento quanto às coisas
públicas. Não estamos falando, portanto, de uma conversa cotidiana despreocupada; os
interlocutores precisam se engajar na tentativa de convencimento do outro (GOMES,
2008).
O que pesa sobre as decisões dos participantes de um discurso
prático é a força da obrigatoriedade daquela espécie de razões que,
em tese, podem convencer a todos igualmente – não só as razões que
refletem minhas preferências, ou as de qualquer outra pessoa, mas as
razões a luz das quais todos os participantes podem descobrir juntos,
dado um assunto que precisa ser regulamentado, qual a prática que
pode atender aos interesses de todos (HABERMAS, 20007, p.14-
15).
Na Folha Online, percebemos que, constantemente, os envolvidos buscam
informações de especialistas, veículadas pelo próprio jornal ou de outras fontes, para
sustentar seus argumentos. No trecho em que nos debruçamos mais atentamente, houve
uma discussão quanto à constituição societária da Air France. Os envolvidos buscaram
informações em fontes com credibilidade (sites noticiosos e mesmo da Air France), para
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10. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
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estruturar argumentos, bem como também para combater. O participante do debate,
mesmo quando não tem certeza, apresenta sua posição com alguma pretensão de
verdade, ou pelo menos considera que o seu ponto de vista pode contribuir para chegar a
uma verdade. No fim, o objetivo é sempre o convencimento do outro.
Por mais que ambientes de interação, como o que analisamos, dificilmente
tomem deliberações de ações práticas, são muito importantes para a construção da
opinião pública. Uma vez que as opiniões individuais são expostas e confrontadas, os
interesses escusos e mesquinhos são repelidos, e a opinião pública tende a ser construída
em bases preocupadas com o bem comum. Para a democracia, o debate não é
necessariamente interessante e pode mesmo ser prejudicial, a exemplo dos grupos
nazistas que se estruturam em todo o mundo através da internet. Para que se configure
um ganho para a democracia, é preciso uma preocupação com o interesse comum a
todos. Para tanto, todos devem ser tratados como dignos de manifestar sua opinião. A
disputa deve ser entre os argumentos e não entre pessoas.
4.3 Não-coerção
Para Habermas, ninguém pode ser impedido por força ou por coerção de
manifestar suas opiniões. Todos devem ser considerados de igual modo dignos. A
disputa num debate deve girar em torno do argumento e nunca avaliar os argumentos de
acordo o refinamento cultural ou das classes sociais dos envolvidos. Como instituiu a
era clássica da democracia grega, todos os homens são igualmente dignos para o
exercício da política. A disputa se dá no campo dos argumentos. “Coerção já não pode
mais, então, ser exercida na forma de dominação pessoal ou de auto-afirmação à força,
mas só de tal modo que “apenas a razão tenha poder”” (HABERMAS, 1984, p.127).
Ao que indicava as primeiras observações, a Internet parece ser um ambiente
muito propício para a diminuição da coerção no debate. Primeiro, por haver um
favorecimento para a relação um-um, dada a possibilidade de interpelação mútua
através dos mesmos modos. Segundo, pela diminuição das barreiras de espaço e tempo.
O número de participantes não fica limitado ao tamanho do espaço físico, mas às
possibilidades das interfaces. O debate sobre as coisas públicas não precisa ser
interrompido para que os cidadãos cuidem de seus interesses particulares. Cada um
pode dedicar ao debate o período do dia e a duração de tempo que lhe for conveniente.
Terceiro, os Estados tem poucos mecanismos para controlar o debate.
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A internet traz ainda a possibilidade do anonimato, como nunca foi possível
antes. Os participantes de um debate não precisam revelar sua identidade ao expor uma
opinião. O que pode ser favorável para a democracia ou não, a depender do uso. O
anonimato pode ser um artifício muito importante para denunciantes que temem por
represália; podem favorecer a discussão de temas íntimos; podem possibilitar que
pessoas coagidas pelo meio em que vivem se manifestem com mais liberdade; o
anonimato pode aumentar a paridade inicial em um debate, ao tempo que todos os
participantes não trazem reconhecimento prévio.
No entanto, por outro lado, o anonimato pode também ser prejudicial para o
debate, uma vez que diminui a credibilidade da mensagem: fica sempre a dúvida se a
mensagem anônima não teria objetivo de beneficiar ou prejudicar terceiros, por razões
escusas e mesquinhas; alguém que não preza pela manutenção do respeito dos pares ou
pela manutenção de uma determinada identidade pode partir para ofensas que não
trazem contribuição para o debate.
No caso da Folha Online, é necessário aceitar um termo de uso 7, no qual,
basicamente, o usuário é lembrado da legislação brasileira e é avisado sobre a política
de propriedade intelectual da empresa. Neste termo, a Folha Online tem a preocupação
de avisar as penalidades cabíveis caso não sejam respeitados os propósitos do site e a
legislação brasileira – a exemplo da veiculação de material pornográfico ou com direitos
autorais; salvaguardar o direito de tirar, sem aviso, material publicitário; também
informa que é feito o registro do IP do usuário que se conecta ao sistema de
comentários, a fim de viabilizar a identificação do autor dos comentários, quando for
necessário. O próximo passo é preencher a um cadastro informando e-mail, primeiro
nome, sobrenome, data de nascimento, CPF, sexo, país e CEP. Uma mensagem, então, é
enviada para o endereço de e-mail informado e um link é disponibilizado para o
primeiro acesso.
Ao solicitar nome, CPF e CEP, o jornal Folha Online não permite que os leitores
possam fazer uso da condição de anonimato, mas em compensação cria uma exigência
por respeito mútuo e exposição cuidadosa das opiniões. Para comentar, o usuário
precisa informar e-mail e senha, então todos os comentários feitos por um determinado
usuário ficam acessíveis ao lado do nome do usuário. De modo que, ao ler um
comentário de determinado autor, é possível acessar facilmente todos os comentários
feitos por este usuário.
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Disponível em: http://comments.folha.com.br/terms.html. Acesso em: 22 jun. 2009.
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Assim, os comentadores, ao longo do tempo, delimitam de modo cada vez mais
preciso sua visão de mundo. Constrói uma identidade pela qual tem o cuidado de zelar
ao manifestar opinião sobre quaisquer temas. Com isso, não afirmamos que a identidade
(ou as identidades) do indivíduo é sempre coerente, mas que a identidade fica a cada
comentário mais complexo. Quanto mais comentários faz um leitor, mais complexa é
sua identidade. Há também a possibilidade de avaliação pelos pares, através de uma
escala que vai de 1 a 5 estrelas.
Na Folha Online, não há moderação antes do comentário ser postado, conforme
informa o termo de uso. A moderação se dá a posteriori, quando algum comentário, na
interpretação do jornal, fere os propósitos estabelecidos no termo. O jornal toma para si
o direito de excluir os comentários, sem aviso prévio. A falta de um moderador, porém,
atrapalha na leitura, uma vez que não há uma organização por ordem de encadeamento
ou uma edição mínima que garanta alguma qualidade textual. No entanto, essa
dificuldade é muito minimizada, ao considerarmos que esta é uma conseqüência da
liberdade de expressão.
4.4 Reciprocidade
O debate não pode ser um simples aglomerado de vozes. É preciso haver um
esforço mútuo para construir um entendimento em relação a um tema de interesse
comum. Neste sentido, o debate pode ser entendido como uma conversação em que as
partes buscam convencer umas as outras. Os interlocutores precisam considerar-se
mutuamente, a fim de que não pareçam duas palestras em que cada palestrante quer
impor o seu ponto de vista, sem levar em conta a posição do outro. Um debate
socialmente importante, dentro das regras de racionalidade discursiva, tem como
pressuposto a possibilidade de “uma opinião prevalente ou um consenso possível”
(GOMES, 2008, p.36), ou seja, os participantes precisam considerar a possibilidade de
convencer e de serem convencidos.
Os participantes, no momento mesmo em que encetam uma tal
prática argumentativa, têm de estar dispostos a atender a exigência
de cooperar uns com os outros na busca de razões aceitáveis para os
outros; e, mais ainda, têm de estar dispostos a deixar-se afetar e
motivar, em suas decisões afirmativas e negativas, por essas razões e
somente por elas (HABERMAS, 2007, p.15).
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13. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
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De certo modo, as características da reciprocidade defendida por Habermas se
assemelham ao conceito de interação mútua (PRIMO, 2007), com a diferença de que a
interação mútua não se preocupa com as outras características do debate. Tanto para
Primo quanto para Habermas, numa interação recíproca os participantes estabelecem
uma relação com efeitos para todos envolvidos. Para se configurar como tal, a interação
recíproca precisa influenciar as trocas subsequentes da relação, o que, ao longo do
tempo, influência na própria constituição das partes envolvidas. Numa interação ou
debate recíproco honesto, em graus diferentes, invariavelmente, os envolvidos alteram a
configuração do ponto de vista, seja no sentido de mudança ou sedimentação.
Na Folha Online, percebemos que é frequente a citação entre os comentários de
leitores. O que objetivamente percebemos na interpelação direta entre usuários. Num
nível mais profundo, há um constante retomar dos pontos de vista apresentados para a
formulação de argumentações mais complexas. No entanto, mesmo quando um
argumento através de dados objetivos sobrepõe a outro, os comentadores dificilmente
admitem em palavras que o seu argumento foi vencido. Impera o silêncio, como
acontece nos debates off-line. As mudanças de opinião são somadas às identidades do
indivíduo gradativamente.
5.0 Algumas conclusões ou novas perguntas
1) Para futuros estudos, acreditamos ser necessário verificar a ocorrência de
diálogo em torno de outros temas, uma vez que existe a possibilidade desta participação
constante na seção de comentários da Folha Online ter assim acontecido porque o tema
tinha uma característica muito peculiar: uma tragédia misteriosa. Ao tempo em que a
morte de 283 pessoas causa grande comoção, existe um jogo de mistério quanto às
causas do acidente e também na alta tecnologia empregada nas buscas. Ao expandir os
temas, a amostragem será maior, o que não permitirá uma observação tão de perto, mas
dará uma melhor compreensão do todo.
2) O fato dos comentários não serem atrelados a uma notícia particular, mas a
um tema, possibilita uma maior complexidade das discussões. Por vezes, informações
de notícias veiculadas dias antes do comentário são retomadas na argumentação dos
leitores sobre um fato presente. A questão ganha historicidade contribuindo para
interpretações mais profundas, complexas e, em certa medida, críticas.
3) O fato das pessoas se identificarem e de ser possível acessar os comentários
anteriores de uma pessoa, exige que o participante zele por alguma coerência na sua
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postura. O que acreditamos ser benéfico, por conta de uma exigência de melhor
expressão das opiniões, a fim de evitar incoerências internas do discurso disposto ao
longo de vários posts e para expressar com clareza as opiniões, objetivando ser bem
entendido pelos outros. Porém, também identificamos um fator negativo, porque podem
acontecer situações em que o debatedor é argumentativamente convencido de que sua
posição precisa ser revista, porém não o faz para não assumir que seu argumento
perdeu. Para estudos posteriores, acreditamos ser necessárias outras abordagens desde
fenômeno, a saber: a constituição da identidade do envolvido no debate ao longo tempo
e a distribuição do capital simbólico de reconhecimento entre os participantes.
4) Quanto à pergunta central deste artigo, concluímos que, pelo menos na nossa
amostra, o ambiente de interação entre leitores da Folha Online se configurou uma
esfera pública, de acordo com a ética discursiva de Habermas. Distante do ideal, é
verdade, mais já podemos considerar que este é um espaço que traz benefícios à
democracia, ao tempo que se configura um ambiente de consideração mútua entre
opiniões, o que resulta em um conjunto de opiniões, nem sempre coerente, denominado
opinião pública, ou pelo menos em um conjunto das opiniões dos participantes do
debate.
5) Contudo, lembramos que este diagnóstico não permite fazer afirmações
generalizantes. Cada caso exige uma avaliação particular. Faz-se necessário questionar
se o debate está de acordo com as “regras do discurso” nomeadas por Habermas, a
saber, a inclusividade, a racionalidade, a não-coerção e a reciprocidade.
6) De todo modo, concluímos que, em condições a serem testadas caso a caso, as
potencialidades de interação mútua da internet são inovadoras, ao tempo que possibilita
a constituição de uma esfera pública fundada em interações interpessoais com alcance
massivo. Os ambientes da interação na internet, com capacidade de agregar massas, tem
condições de promover debates interpessoais com grande visibilidade. Esta é uma
potência. Até o momento, ao que tudo indica, apenas uma potência, que se não de forma
limitada transformou-se em força.
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