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Agroecologia construída em família
1. Agroecologia é construída em família
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 7 • nº1120
Outubro/2013
Itapipoca
Contar a história de Maria de Fátima dos
Santos ou simplesmente Fafá não é uma das
missões mais fáceis de cumprir. Internalizar a
história de uma líder, mãe, multiplicadora
agroecológica, militante e transformá-las
nessas poucas linhas que se seguem. Então,
vamos à história de Fafá...
Nascida e criada na comunidade
Jenipapo localizada no município de Itapipoca, a
mesma terra em que seus 8 filhos (Rita,
Raimunda, Jânio, Jânia, Jesivânio, Josivânio,
Josenir e Janiele), seus pais e seus avós
puderam correr pelos terreiros, subir nos pés de
árvores, plantar, colher, construir suas casas e
fazer uma grande festa da farinhada. Os rostos
das pessoas que moram na comunidade
Jenipapo revelam um olhar de curiosidade para
o que é novo, para o que é puro.Assim também é
Fafá, seu olhar revela a inocência e a abertura
para trocar suas experiências de convivência
com o Semiárido, basta chegar à porta da sua
casa que encontraremos um coração aberto de
generosidade, mas forte e corajoso.
Aos 10 anos de idade já sabia o que era trabalhar com agricultura, seus pais a
levavam para capinar, plantar e colher. “Eu trabalhava com o meu pai, a gente queimava e
depois plantava, antes a gente só achava que só dava certo se fosse desse jeito. Mas,
aos poucos, eu comecei a observar que não dava certo ficar queimando, se eu me
queimar eu acho ruim e imagina a terra.” lembra Fafá.
Mas foi em 2004 que sua história de vida começa a ganhar novos rumos. Sua filha
Jânia começa a participar do Curso de Formação de Multiplicadores/as emAgroecologia,
parte do projeto Caminhos da Sustentabilidade para a Agricultura Familiar, do CETRA.
“Minha filha foi escolhida pra participar do curso e outro jovem da comunidade, eu queria
muito participar do curso também, toda vez que Jânia chegava em casa contava como
tinha sido o curso, até que o jovem desistiu, e essa foi a oportunidade que tive. Fiquei tão
feliz em entrar no curso.” conta Maria de Fátima. O Curso foi o pontapé inicial para Maria
de Fátima aplicar as práticas de agroecologia e de convivência com o Semiárido,
juntamente com seus filhos/as que foram influenciados pela mãe a trabalhar com
agricultura familiar agroecológica e a consumir produtos saudáveis.
Fafá mostra seus produtos agroecológicos
2. Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Ceará
Realização Apoio
Assim nos revela “Antes os meus filhos não
acreditava, principalmente os meninos, ele
começaram aos poucos ver que tínhamos uma
vida melhor, que tínhamos frutas o ano todo, que
os nossos produtos são saudáveis, e ao ver que
estava dando certo, os meninos começaram a me
ajudar e fazer do mesmo jeito. Hoje todos aqui de
casa são agricultores e agricultoras
agroecológicos/as”.
Fafá e família produzem num quintal
agroecológico, a diversidade do quintal é o que faz
encher os olhos da agricultora de alegria “Neste
quintal tem um pouco de tudo, tem coentro,
cebolinha, pimenta, tomate, goiaba, limão,
jerimum, noni e muito mais, dá para mim e pra
minha família e pra vender na feira”, conta feliz.
Maria de Fátima participa da Rede de
Agricultores/as Agroecológicos/as dos Vales do
Curu e Aracatiaçu, comercializa na Feira
Agroecológica de Itapipoca, é vice-diretora do
Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais
(MMTR), acompanha as ações do Fundo Rotativo
Solidário e Sustentável. Toda essa articulação faz dessa mulher engajada uma
multiplicadora da construção do conhecimento agroecológico do território de Itapipoca
“participar dessas ações me fortalecem enquanto mulher, fortalece a minha família”
comenta. Mas suas realizações não param por aí, sua filha Jânia é formada como técnica
agrícola e Josenir e Janiele também estão em fase de conclusão. Mãe e filhos/as
cotidianamente se reúnem para fazer trocas de conhecimento em família, todos/as
aprendem juntos.
A família Santos conquistou o direito à uma alimentação saudável, o direito ao
conhecimento, o direito à autonomia, o direito à vida. “Tudo que eu queria realizar, eu
realizei. Meu sonho é de ver minha família engajada nesse movimento agroecológico, eu
já alcancei, mas espero que essa semente plantada neles, eles continuem sempre
cultivando, repasse para os netos”, finaliza Fafá.
Jânio, filho de Fafá
No quintal agroecológico de Fafá se cria a família inteira.