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Adam Smith
Prof. Ricardo Feijó
TEORIA MORAL E FILOSOFIA DA CIÊNCIA
• É pelo fato de a visão preponderante da Economia no
século XVIII ter caminhado firmemente em direção à idéia
de ordem natural que os avanços na Física e demais
ciências naturais são bastante relevantes na emergência da
Economia como ciência.
• Os economistas buscam deliberadamente imitar o método
da Física, já que acreditam também tratar a ciência
econômica de fenômenos naturais.
• Não é mera coincidência que o campo social tenha atraído
médicos como François Quesnay e homens com sólida
formação em ciência natural como Adam Smith
Antecessores de Smith
• No fim dos setecentos, Boisguillebert crê que a vida
econômica é governada por mecanismos naturais.
• No começo do século em questão, a influência
newtoniana faz-se presente na obra de Richard
Cantillon que pensa a Economia como Newton pensou
o cosmos, como uma totalidade composta por
elementos interconectados com funcionamento
racional.
• O método newtoniano também teve grande influência
na obra de Smith.
O pai da economia?
• Embora Adam Smith (1723-1790) seja considerado o
pai da Economia Política, sabemos hoje que boa parte
de suas idéias já estava presente em autores
antecedentes como Quesnay e Cantillon.
• O esforço analítico de Smith deve-se muito a esses e
outros autores do século XVIII por fornecerem os
elementos que irão compor sua visão. Smith destacou-
se pelo tratamento sistemático das principais questões
econômicas da época em um único tratado.
Méritos de Smith
• A qualidade literária e pedagógica de seu trabalho é
evidente.
• Há em sua principal obra em Economia, A riqueza
das nações, inúmeras considerações históricas
inéditas e até alguns procedimentos originais no
tratamento teórico.
• O mérito de Smith recai, no entanto, mais em seu
poder de síntese do que na originalidade de seu
sistema teórico.
A História da Astronomia
• Antes de expor as idéias-mestras de seu pensamento
econômico em outra parte, esta seção trata de suas
concepções no campo da ética e da filosofia da ciência.
• O estudo da filosofia de Smith dificilmente seria
apoiado apenas na leitura de A riqueza das nações. É
que ele não explicita nela seus pressupostos filosóficos
e metodológicos.
• Mais revelador nesse sentido é o ensaio smithiano cujo
título já revela seu conteúdo: Os princípios que guiam e
conduzem a investigação científica ilustrados pela
história da astronomia.
O jovem Smith
• Smith escreveu esse ensaio ainda muito jovem, entre
1746 e 1748, com pouco mais de vinte anos de idade,
embora ele só tenha aparecido ao público 19 anos
depois da publicação de A riqueza das nações, obra da
fase madura de Smith.
• O estudo do método de Smith com base em ensaio de
início de carreira pressupõe, é claro, a tese de que ele
tenha mantido uma continuidade de visão ao longo da
vida. Hipótese aceita pela maioria dos estudiosos de
Smith.
Experiência em Oxford
• Sabemos que ele era uma pessoa muito culta, que lera e escrevera em
diversas áreas. Quando ainda jovem, foi enviado a Oxford para estudar;
ao chegar lá não teve uma orientação precisa nos estudos e, como
conseqüência, acabou dispersando o foco de interesse em diversas
áreas do conhecimento.
• Com poucos compromissos formais, passava o dia na biblioteca da
faculdade de Balliol, ligada à Universidade de Oxford, em contato com
os principais clássicos gregos e latinos e com a literatura científica da
época, incluindo-se as obras de Newton, Bacon e Descartes.
• Depois, Smith viria a escrever textos em diversas áreas incluindo
filosofia moral e estudos de lingüística, bem como tratados de estética,
arte, literatura e metodologia da ciência.
O método newtoniano
• O ensaio História da astronomia mostra claramente a
influência do método newtoniano.
• Como Newton, Smith não acredita que o conhecimento
científico possui um substrato ontológico verdadeiro. A
teoria científica não representa a apreensão da
verdade última das coisas como em Aristóteles.
• Destarte, a atividade científica justifica-se como uma
necessidade psicológica para o cientista, ou filósofo,
como Smith referia-se a ele.
A finalidade da ciência
• O fim último da filosofia (ou ciência) é o repouso e a tranqüilidade
da imaginação do filósofo.
• Entretanto, nem todos os homens são filósofos. Estes surgem
apenas em sociedades evoluídas, estáveis e seguras, nas quais já
se nota certa divisão de trabalhos de modo a liberar certos
indivíduos da preocupação com o sustento material.
• Tais pessoas são treinadas a pensarem sobre a natureza e têm
suas mentes especialmente condicionadas para o
desenvolvimento de certos sentimentos que conduzem a uma
reflexão filosófica das coisas.
A mente do cientista
• Os filósofos possuem mentes sensíveis e irrequietas movidas por uma mecânica
que os compelem à busca de prazer por meio do apaziguamento da imaginação.
• Enquanto a imaginação do homem comum é indolente e preguiçosa, a do homem
educado é curiosa. Ela só encontra tranqüilidade quando descobre os elos
invisíveis entre dois fenômenos aparentes. Assim, os filósofos são mentes
curiosas que procuram as cadeias ocultas dos fenômenos.
• O homem comum, como um artesão, contenta-se com as aparências e nunca
percebe a existência dos elos ocultos entre os fenômenos. A causa da
investigação científica é a busca de uma ponte entre as aparências, mas tal
ponte não precisa ser verdadeira ou mesmo provável; basta que ela funcione
para apaziguar os sentimentos.
Teorias de mente de Smith e Descartes
• Smith analisa o funcionamento da mente do filósofo pelo exame de três
sentimentos que ocorrem sempre na mesma seqüência: a surpresa, o
espanto e a admiração.
• Essa descrição da mente humana com base na mecânica de
sentimentos psicológicos lembra René Descartes que em seu Tratado
das paixões da alma aplicou os métodos da Física a fatos humanos.
• Nele, Descartes discorre sobre o processo de descoberta científica
como sendo movido pela ação de uma paixão fundamental a que
denomina de admiratio.
• Smith também descreve um mecanismo psicológico para a descoberta
científica. Ambos não pretendem adotar um modelo mecânico que
aproxima a mente da máquina.
Modelos mecânicos
• Mesmo Descartes não segue modelo rigorosamente
mecânico da mente, premido pelas tensões de certo
“dualismo metafísico” que consiste em separar a mente
das várias diferentes substâncias que preenchem todos os
corpos, de modo que ela jamais pudesse ser explicada como
um sistema físico.
• Fora a semelhança na descrição do funcionamento da
mente, a teoria de Smith de fato não se confunde com a de
Descartes, distinguindo-se principalmente na questão do
método.
• Não aderindo ao racionalismo cartesiano, Smith dava muita
importância aos dados dos sentidos e às observações dos
fenômenos, mais próximo, portanto, da tradição de Bacon e
Locke.
A surpresa
• Embora a observação empírica tenha um grande
valor em Smith, o critério decisivo para a
emergência de novas teorias é a ação dos três
sentimentos já citados. Primeiramente, a
ocorrência de um fato inesperado, que já sabíamos
existir, mas que não esperávamos encontrá-lo no
momento em que ocorreu, desperta no filósofo o
sentimento de surpresa:
“Ficamos surpresos com aquelas coisas
que temos visto com freqüência, mas
que de modo algum esperamos
encontrar no lugar onde efetivamente
as encontramos...”
O espanto
• Tomado pela surpresa, o filósofo passa a
preocupar-se com o fenômeno e descobre nele
aspectos novos e singulares.
• A novidade desperta o sentimento de espanto, um
estado extremo em que a mente é tomada por
fortes inquietações.
“Espantamo-nos com todos os objetos
extraordinários e incomuns; com todos os
fenômenos raros na natureza, com meteoros,
cometas, eclipses; com plantas e animais
singulares e com todas as coisas, em suma, sobre
as quais tenhamos tido pouca ou nenhuma
informação anterior...”
A admiração
• A busca do restabelecimento da tranqüilidade mental leva à proposição
de um novo sistema explicativo que dê conta do fenômeno inusitado.
• As aparências, até então estranhas e desconexas, são integradas como
conseqüência lógica de uma nova construção explicativa. Destarte, a
mente volta a repousar em sua tranqüilidade e o novo sistema desperta
o sentimento de admiração.
• A admiração é estimulada pela grandeza e beleza do quadro
contemplado pela nova teoria.
• Quanto maior for esse sentimento, mais se podem julgar a teoria
alternativa e os resultados da investigação como melhores que na
explicação anterior.
Os sentimentos não apenas se sucedem na
ordem em que os colocamos, eles ainda
influenciam uns aos outros:
“Surpresa de prazer quando a mente está afundada em
mágoa ou surpresa de mágoa quando ela está exaltada
de alegria são desta forma as mais insuportáveis (...)
Não somente a aflição e a alegria, mas todas as outras
paixões são mais violentas quando os extremos opostos
se sucedem uns aos outros (...) Até mesmo os objetos
externos para os sentidos afetam-nos de uma maneira
mais vívida quando os máximos de opostos se sucedem
ou são postos lado a lado. Um frescor moderado
pareceria um calor insuportável se sentido após um frio
extremo”
Smith explica que o sentimento de espanto torna-se menos intenso
conforme o evento original, que o originou, repete-se e o observador
a ele vai habituando-se, diminuindo assim a surpresa:
“Um pai que perdeu muitos filhos
imediatamente um após o outro será
menos afetado com a morte do último do
que com a do primeiro, embora a perda
em si seja neste caso indubitavelmente
maior...”
O ensaio smithiano A história da
astronomia
• Consiste em aplicar a dinâmica dos sentimentos assim
identificados na explicação de como os sistemas
astronômicos foram, desde a Antigüidade, sucedendo-se
uns aos outros.
• Temos o antigo sistema grego, substituído por Ptolomeu,
Tycho Brahe, Copérnico, Kepler e Newton.
• Cada sistema, uma vez proposto, vai tornando-se mais
complexo para salvar as aparências. Até que já não
consegue mais tranqüilizar a imaginação como antes.
• O sentimento de espanto leva os astrônomos a propor um
novo modelo. As teorias astronômicas são ficções para
tranqüilizar a imaginação.
A influência de Hume
• A principal influência exercida sobre Smith em sua abordagem da
história da astronomia advém de David Hume.
• A teoria do conhecimento de Hume apresentada no Tratado da natureza
humana, de 1739, também analisa o funcionamento da mente no
processo de aquisição de conhecimento.
• Hume discorre sobre as paixões e caracteriza a mente humana como
uma máquina psicológica complexa.
• Ao contrário de Descartes, Hume acredita que as idéias não são inatas
e que o trabalho do intelecto consiste em relacionar fatos assimilados
pelos sentidos e pela experiência. As assertivas sobre as propriedades
reais dos objetos externos não podem ser demonstradas verdadeiras.
O método de Hume
• Hume é céptico com relação às pretensões do empirismo
baconiano em obter a verdade das coisas da observação de
fatos.
• Lança então o famoso “problema de Hume” que contesta a
possibilidade de firmar a certeza de uma lei universal.
• É suficiente para a ciência propor enunciados respaldados no que
a observação veio a transformar em hábito.
• Admite-se, portanto, a inevitabilidade da ignorância humana em
conhecer o âmago das coisas. Isso é próximo ao método
newtoniano.
A influência de Hume
• Smith nutria grande admiração por Hume e é certo
que foi do programa de Hume que ele seguiu a
estratégia de entender a empresa científica com
base em considerações sobre a natureza humana,
sob a hipótese de que essa natureza seria única,
mesmo entre homens separados no tempo e no
espaço.
• Hume, antes de Smith, destacou o papel da
imaginação na teoria do conhecimento.
O método newtoniano
• O método newtoniano que influenciou Hume e
Smith consiste na busca de princípios que
possibilitam identificar uma ordem subjacente a
fenômenos aparentemente caóticos.
• Os princípios em si mesmos não precisam ser
verdadeiros, mas funcionam como uma convenção
psicológica que permite salvar as aparências e com
isso tranqüilizar a imaginação.
Newton na casa da moeda
• Curiosamente, o próprio Newton preocupou-se, em certo
momento de sua vida, com questões econômicas.
• Ele foi diretor da Casa da Moeda da Inglaterra em 1717 e
deve-se a ele a primeira tentativa de estabelecer um preço
oficial para o ouro em 85 shillings por onça.
• Smith leu muito do que escrevera Newton e na História da
astronomia conclui o ensaio com uma descrição
entusiasmada das descobertas da Física newtoniana. Smith
gostava de matemática e de “filosofia natural”.
Semelhanças entre Newton e Smith
• Newton e Smith compartilham entre si o método de raciocinar em
ciência tomando os princípios elaborados pela intuição e apoiados na
indução de fenômenos, para com base neles deduzir novos fenômenos.
• Ambos mantêm o ceticismo quanto ao realismo das premissas.
• A prática de Newton lista fenômenos já conhecidos antes da
apresentação da teoria, como se constata diversas vezes nas partes
iniciais em cada um dos livros que compõem os Princípios.
• Os fenômenos justificam a proposição de princípios teóricos dos quais
são deduzidos novos fenômenos. A natureza última dos princípios não
importa, nem seu conteúdo de verdade.
Sobre a força da gravidade, Newton
afirma que:
“Para nós é suficiente que a gravidade atue de
acordo com as leis que nós temos explicado e
sirva, com sucesso, para dar conta de todos os
movimentos dos corpos celestes e do mar”
Os princípios de Smith
• Em analogia às leis gerais dos movimentos dos corpos
na Física, Smith concebe as leis gerais da Economia.
• Na Riqueza das nações, começa dizendo que a divisão
do trabalho é o resultado necessário da propensão
humana a trocar uma coisa por outra.
• A propensão humana à troca é pensada como um
princípio que, ao ser desdobrado em suas
conseqüências pela teoria, irá explicar a causa da
riqueza das nações. Esse princípio econômico deve ser
pensado como uma lei natural.
A origem da propensão para as trocas
• Smith não se julga habilitado a determinar se a propensão à
troca é ela mesma um princípio original da natureza humana ou
se é uma conseqüência das faculdades da razão e da fala.
• Conclui Smith dizendo que essa questão “não pertence ao
presente objeto de estudo”.
• Nenhuma tentativa de provar a veracidade do princípio em
questão é feita por Smith, pois no espírito do método
newtoniano é necessário tão-somente postular sua existência
e demonstrar como sua articulação no modelo teórico conduz a
conclusões que dão conta de explicar a realidade aparente.
O método comum em Newton e Smith pode
ser sintetizado da seguinte forma:
• Começa-se com um princípio, ou poucos princípios básicos, que são inferidos
no processo de explicação de casos mais ou menos triviais.
• Em seguida, tenta-se explicar o mundo dos fatos observáveis, buscando-se
mostrar como esses fatos são derivados daqueles princípios. Os eventos são
classificados (na Riqueza das nações as várias formas de remuneração dos
agentes são classificadas em salários, lucro e renda) e as classes de eventos
são vistas como resultado do jogo desses princípios.
• A teoria procura elaborar um sistema no interior do qual operam os princípios
elementares, de tal forma que fenômenos que pareciam os mais inexplicáveis
são todos deduzidos com base nos princípios e atados a uma única cadeia. A
teoria é julgada pelo poder preditivo, mas conta também elementos estéticos
tais como simplicidade, coerência e beleza. Em todo caso, ela é sempre uma
invenção de uma imaginação particular que poderá eventualmente também
cativar a imaginação dos demais.
Indivíduos auto-interessados.
• Em seu nascimento como ciência, o fenômeno econômico é pensado
como uma ordem natural tratada pelos mesmos métodos da Física.
• Isso, como vimos, já está bem sedimentado mesmo entre os
precursores de Smith.
• A construção teórica do sistema, no entanto, requer a especificação de
hipóteses comportamentais dos agentes. O modelo parte da idéia de
indivíduos auto-interessados.
• Os filósofos éticos ingleses procuram conciliar essa premissa com as
qualidades morais que acreditam existir na espécie humana.
• A solução proposta por eles enfraquece a hipótese exclusiva do
egoísmo, pois vêem a conduta humana como resultante de um jogo de
paixões egoístas e altruístas.
A questão ética em Smith.
Francis Hutcheson
• Primeiramente, há que se notar certa continuidade
entre a filosofia moral de Smith e a de seu antigo
professor em Glasgow Francis Hutcheson (1694-1746)
e também entre Smith e David Hume, de quem desfruta
de íntima amizade.
• Hutcheson segue a filosofia do direito natural, na linha
de Locke, e acredita que o homem é naturalmente
dotado de um senso moral.
• Os homens possuem paixões altruístas, mas também
egoístas e elas são reconciliadas, na determinação da
conduta humana, pela intervenção de um senso de
auto-estima que neutraliza o efeito social das ações
egoístas.
O princípio da simpatia
• Hume fala que a correção moral da conduta humana
depende de julgamentos que nós e os outros fazem de
nossas ações.
• A moral humeana aproxima-se das outras concepções da
época por ser também ela teleológica.
• No caso, porém, os efeitos repercutidos da ação ou os fins
decorrentes dependem, se ela for um bem moral, da
aprovação dela não só da parte de quem a pratica, mas por
todos os demais.
• A importância do julgamento de terceiros é expressa em um
sentimento a que denomina de “simpatia”.
Teoria dos sentimentos morais
• Smith também confere um papel primordial ao sentimento de
simpatia em seu sistema ético. Em seu famoso livro de 1749, a
Teoria dos sentimentos morais, começa descrevendo o homem
como uma criatura dotada de um conjunto de propensões básicas
a que denomina de paixões.
• Há as paixões do amor sexual e paterno e outras não tão
agradáveis como o ódio e o ressentimento.
• Há ainda uma lista de boas paixões a que denomina de paixões
sociais, tais como a generosidade, a compaixão e a amizade. Há
também espaço para as paixões egoístas.
Observação
• Simpatia, que diz em grego exatamente o que
compaixão diz em latim: sofrer com o outro.
• O que é a simpatia?
 É a participação efetiva dos sentimentos do outro (ter
simpatia é sentir juntos).
 É partilhar a alegria que alguém sente.
 Simpatizar é sentir com o outro, saindo, pelo menos
parcialmente, da prisão do eu.
O equilíbrio das paixões
• As paixões tendem a contrapor-se e a equilibrar-se em um balanço
estável feito em cada um de nós.
• O equilíbrio das paixões internamente se reproduz no plano social,
suposto um sistema em harmonia.
• O controle particular das paixões é compelido em cada homem pelo
princípio da simpatia, já presente na teoria moral de Hume. Quando
percebemos a desaprovação de nossas condutas, isso desencadeia
sentimentos desagradáveis que procuramos eliminar corrigindo a
conduta de modo a atrair para nós sentimentos de aprovação.
• O homem virtuoso observa o juízo que os outros fazem dele e está a
ajustar constantemente seu comportamento de modo a vir a “ocupar
um lugar de honra na mente do semelhante”.
O problema de Adam Smith
• Quando Smith descreve a mecânica dos mercados
que move o sistema econômico na Riqueza das
nações, apresenta os homens como sendo
impulsionados a todo momento por um cálculo
egoísta de maximização de riqueza.
• Esse aparente paradoxo entre o agente egoísta da
Riqueza das nações e o homem ético da Teoria dos
sentimentos morais aparece na literatura como o
“problema de Adam Smith”.
A solução do problema
• Não cabe aqui uma discussão prolongada dessa questão. Parece que há
hoje em dia uma opinião amplamente aceita de que não se trata de uma
contradição de uma obra a outra. A maneira de reconciliar os dois
enfoques é notar a distinção estabelecida por Smith entre as
motivações e os efeitos concretos das condutas humanas.
• No plano abstrato da teoria moral, o mérito da ação é julgado pela
intenção do agente, no entanto, nas circunstâncias concretas da
sociedade, as conseqüências efetivas da ação exercem uma poderosa
influência no julgamento da ação.
• A condutas que produzem prazer são avaliadas independentemente das
intenções originais. A busca exclusiva da riqueza, por exemplo, embora
não tenha mérito intrínseco, produz o feito de angariar aprovação dos
demais pelos efeitos benéficos que a riqueza pessoal produz na
sociedade.
• Os homens buscam a riqueza a fim de ostentarem
símbolos de status social e obter a admiração e o
respeito dos demais.
• Os homens, porém, ao procurarem seguir essa
estratégia, não se destacam realmente da multidão e a
posição de honra que vierem a ocupar terá sempre um
caráter efêmero.
• Contudo, na prática, o limite da razão humana compele
os homens a cometerem o mesmo erro
sistematicamente. E assim temos um sistema
econômico movido pelo auto-interesse.
A VIDA DE ADAM SMITH
Infância e juventude
• Tendo nascido em Kirkcaldy, Escócia, no ano de 1723, Smith
completa nesta cidade a sua educação secundária, após o
que se transfere para a universidade de Glasgow a fim de
estudar humanidades.
• Na juventude, as influências principais se dão em torno do
nome de Francis Hutcheson, que desperta a atenção de
Smith para com a filosofia do Direito natural e os princípios
do sistema de Economia Política.
• Por essa época, ele já iniciara o estudo dos problemas
econômicos, mas demorará a que se volte decisivamente para
a Economia
A experiência em Oxford
• Antes de se graduar em Glasgow, em 1740 Smith ganha uma bolsa
para estudar em Oxford, no Balliol College.
• A sua experiência no novo ambiente acadêmico proporcionou-lhe
aprofundamento nos estudos de filosofia clássica e literatura;
• Logo cedo Smith se indispôs com os professores de Oxford, tidos
como obscuros e excessivamente escolásticos.
• Smith foi repreendido por eles por estar lendo o Tratado sobre a
Natureza Humana, obra de David Hume, de 1738, proscrita nos
meios dessa universidade.
O retorno à Escócia
• Tão logo termina o bacharelado, Smith retorna à Escócia em
1746.
• Sem emprego regular em sua terra natal, ele permanece na
casa da mãe ambicionando para o futuro uma posição estável
como tutor companhante de algum nobre.
• Enquanto isso, ele inicia a carreira de professor, de início
ministrando cursos avulsos de literatura inglêsa em
Edimburgo.
• Depois, em 1750 e 1751, volta-se para o tratamento de
problemas econômicos, em que defende princípios liberais e
ganha reputação acadêmica.
A vida em Glasgow
• Começa por ensinar Retórica e Literatura e com o
adoecimento do professor Craigie assumi
interinamente o seu cargo em filosofia moral.
• Em 1752, morre o seu grande mestre Hutcheson e
Smith é agraciado com a cadeira que tinha sido de
Hutcheson. A partir de então, até 1764, Smith
consolida sua reputação intelectual e seu interesse
acadêmico pela Economia.
Idéias econômicas iniciais
• Sabemos das primeiras reflexões econômicas de Smith nos
cursos de Glasgow, pelas anotações preservadas de um
estudante que frequentou as aulas de Smith, depois reunidas no
ensaio Aulas (Lectures).
• Lá ele entecipa idéias que seriam desenvolvidas anos depois na
obra máxima A Riqueza das Nações.
• Smith considera então a riqueza com o sendo fruto do trabalho
humano e assimila os fatos econômicos observados a certos
mecanismos automáticos na sociedade.
• Antecipa a idéia de que a opulência nasce da divisão do trabalho
e que essa divisão leva ao aumento da produtividade pela maior
habilidade conferida ao trabalhador especializado, além da
economia de tempo e da invensão de máquinas proporcinada por
ela.
• Diz também que o capital associado ao trabalho na
produção aumenta a produtividade deste último.
• Antecipando a crítica aos fisiocratas, diz que o trabalho
industrial não é estéril e que ele também contribui para
o processo de acumulação.
• Entrando na questão dos preços, afirma que os preços
naturais remuneram o tempo de trabalho para a
produção do objeto.
• Na questão da distribuição da renda, considera que os
rendimentos aferidos por cada indivíduo devem guardar
certa proporcionalidade ao trabalho de cada um.
• Finalmente critica a doutrina mercantilista.
Vida social e obras em variados temas
• Por essa época, Smith participa ativamente dos
debates acadêmicos e políticos em voga
• É convidado a integrar os principais grupos de
eruditos da Escócia, o Edinburgh Society e o Select
Society, do qual é um dos fundadores ao lado de
Hume, Lauderdale e Townshend.
• Smith publica artigos no Edinburg Review em em
outros periódicos conceituados.
• É também o início da grande amizade com Hume
que perdura até a morte deste em 1776.
A teoria ética de Smith
• No interregno em questão, Smith escreve e publica
sua primeira grande obra, A Teoria dos Sentimentos
Morais, de 1759, que lhe confere projeção
internacional.
• No entanto, Smith não tinha escrito até então apenas
sobre questões de ética, pelo contrário, seu interesse
claramente interdisciplinnar tinha se evidenciado, e
por ocasião ele dispunha de um considerável acervo
de escritos de sua autoria em campos variados
• A Teoria dos Sentimentos Morais teve cinco
edições e foi traduzida para outras línguas. É a
obra que projeta definitivamente o nome de
Smith.
O historiador das idéias
• Smith destaca-se também por seus tratados em
Estética, e história das idéias, neste último temos
a sua História da Astronomia.
• Havia, no entanto, o projeto intelectual, até então
ainda não realizado, de escrever um amplo tratado
sobre os princípios da Economia.
O trabalho como tutor
• Já famoso, Smith contou com a amizade de
Townshend para finalmente realizar o seu antigo
sonho de se tornar tutor.
• Em 1763, Townshend decide confiar a Smith a
tutela de seu enteado, o Duque de Buccleugh.
Smith renuncia à cadeira em Glasgow e parte com
Buccleugh para uma viagem de dois anos à França,
em troca haveria de receber uma generosa pensão
vitalícia.
Os contatos internacionais de Smith
• Dois fatos se destacam na viagem como tutor: ela lhe
proporciona contato direto com as principais expressões
intelectuais da época e também foi nesse período que ele
começa a escrever suas primeiras notas para a obra
econômica.
• Visita o sul da França e vai a Genebra onde conhece
pessoalmente Voltaire, do qual se tornou grande
admirador.
• Em 1765, mora em Paris que lhe recebe com as portas
abertas dos salões e da corte. Para tanto, conta com a
amizade da prestigiada figura de Hume e a fama de sua
Teoria dos Sentimentos Morais, já traduzida para o
francês.
• Foi importante para a formação das crenças
econômicas smithianas o acesso a Quesnay,
Turgot e idéias fisiocráticas, que não aceitou
por inteiro, mas que viriam exercer influência no
pensamento dele.
A volta à Inglaterra
• A estadia na França termina abruptamente em 1766 com o
assassinato do irmão mais novo do Duque, também sob a
custórdia de Smith. Retorna então a Londres onde
permanece trabalhando com Towshend que se tornara
ministro da Fazenda.
• Além de assessorar o anfitrião, Smith dedica-se em Londres
à edição ampliada da Teoria dos Sentimentos Morais.
• Em pouco tempo ele rompe com Towshend, principalmente
por discordar da política inglesa com suas colônias na
América. Não concorda com a excessiva tributação sobre o
chá americano, que de fato seria um dos estopins da
revolução pela independência.
O retorno à Kirkcaldy para escrever a
Riqueza das Nações
• Desiludido, Smith decide retornar a Kirkcaldy, onde na casa
da mãe permaneceria os próximos dez anos dedicados a
escrever o livro A Riqueza das Nações.
• Embora afastado da vida pública, o prestígio de Smith cresce
ainda mais no período. Recebe o título de fellow da Royal
Society, mas, avesso à exposição pública e entretido com seu
livro, permanece relativamente confinado, enquando se
preocupa com o acabamento da obra, lapidando a base
teórica, retocando as observações históricas e os exemplos
práticos, muitos deles observados in locu em suas andanças
pelo interior da Escócia. Finalmente, em 1776 publica sua
obra econômica máxima.
A repercussão da obra
• Durante quase todo o século XIX a Riqueza das
Nações tornou-se, em diversos países, o ponto de
partida ao estudo da Economia.
• A primeira edição se esgota em menos de seis
meses e em 1800 a obra já estava disponível em
francês, alemão, italiano, dinamarquês e espanhol.
Muito embora ela tenha sido proibida na Espanha
“por sua baixeza de estilo e pela indefinição de seu
princípios morais”, diziam os críticos espanhóis, na
verdade uma reação desesperada contra idéias
liberais contidas na obra.
Últimos anos de Smith
• Em 1777, Smith é nomeado para um alto cargo na
administração aduaneira escocesa e dez anos
depois se torna reitor na Universidade de
Glasgow. Coberto de glórias morre em 1790 aos
67 vanos.
A Riqueza das Nações
A importância do livro
• A obra Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da
Riqueza das Nações, de 1776, representa um marco
importante na evolução do pensamento econômico.
• As idéias aí expressas não são inteiramente originais, mas
isto não enfraquece a qualidade dela.
• Há um núcleo teórico em torno da questão do crescimento
econômico das nações, no entanto em torno dele organiza-
se uma miríade de considerações históricas e farto
material empírico que fornecem embasamento à visão geral
e enriquecem sobremaneira o tratado.
• A obra serviu como paradigma teórico no
desenvolvimento científico da Economia no século
XIX. Pode-se extrair dela um modelo explicativo
básico para o crescimento econômico facilmente
resumível.
A importância do capital
• A riqueza é definida como o produto anual per capita da
nação e a ampliação deste produto depende do número de
pessoas empregadas produtivamente.
• Nem todo trabalho humano é produtivo, só os que resultam
na transformação de objetos, tornando-os próprios para
consumo.
• O número de trabalhadores que podem ser empregados
produtivamente é função do estoque de capital disponível na
sociedade.
• O montante de capital aumenta a produtividade do trabalho,
ao se combinar com ele na produção, e também o número de
trabalhadores produtivos. Portanto, o processo de formação
de capital é chave no entendimento do crescimento
econômico.
O processo de acumulação de capital
• A vida econômica nas sociedades evoluídas é
posta em movimento pelo emprego do capital.
• O processo produtivo deve reconstituir esse
capital em escala crescentemente ampliada de
modo a propiciar crescimento econômico.
• Este esquema é semelhante ao de Quesnay,
mas as diferenças entre ele e Smith são
significativas.
Diferenças entre Smith e Quesnay
• Smith não acredita que a atividade industrial seja
estéril, pois ela também gera novos valores. Ele
percebeu ainda que a medida do crescimento
econômico e a comprensão analítica dele
dependeriam de uma teoria do valor.
• Smith conhecia as noções sobre valor em Petty e
Locke, mas as considerava ambíguas.
• A ausência de uma teoria do valor nos fisiocratas,
que se limitavam a comparações entre montantes
físicos de uma mercadoria básica, era tida como
grave lacuna.
Por que uma teoria do valor?
• O trabalho produtivo sempre produz um excedente
de valor sobre o custo de reprodução do
trabalhador.
• Quanto maior o número de trabalhadores produtivos
sobre a população total do país, maior o excedente
anual gerado na economia.
• Parte desse excedente é consumida pela classe dos
patrões, mas parte importante é reinvestida por eles,
ou seja, canalizada para a contratação de mais
trabalhadores.
• A capacidade de ampliação de trabalho produtivo, e
portanto de geração adicional de excedente para novas
inversões futuras, depende do número potencial de
trabalhadores a serem contratados pelo capital.
• Uma medida do valor que estabelecesse uma relação
entre um montante de mercadorias heterogêneas e o
correspondente número de trabalhadores empregados
por elas, enquanto capital, possibilitaria identificar e
mensurar facilmente o processo de reprodução ampliada
das condições de produção.
O uso da teoria do valor-trabalho
• A teoria do valor deveria servir a fim de se comparar
diferentes mercadorias antes que seus preços fossem
determinados pelas vissicitudes de mercado.
• Ao mesmo tempo, tal teoria deveria estabelecer a
referida correspondência entre o valor e o montante de
trabalho útil empregado pelo capital.
• Estas duas questões seriam atendidas pela teoria
smithiana do valor fundamentado no trabalho comandado
ou encomendado por cada mercadoria, ou seja, o poder
de ela ser trocada por outras mercadorias que exigem
trabalho na sua obtenção.
A espiral do crescimento
• A Riqueza das Nações trata dessas questões no livro I, a obra
está dividida em mais quatro livros. Smith descreve uma espiral de
crescimento e o desenvolvimento da teoria do valor confere
embasamento analítico a essa espiral.
• Começa com a discussão da divisão do trabalho, mostrando que
ela aumenta a produtividade do mesmo.
• No segundo elo, temos a geração ampliada do excedente
associado a cada trabalhador.
• Empregado produtivamente, ao menos em parte, tal excedente
possibilita o crescimento no estoque de capital e o aumento
subsequente do emprego produtivo. Mais adiante na obra,
percebe-se os outros elos da espiral.
• O aumento de demanda por trabalho produtivo, acima da
elevação do número de trabalhadores no período,
conduz ao crescimento dos salários, que por sua vez
cria condições para o aumento futuro da população
economicamente ocupada.
• A conseqüência de tudo isto é a ampliação dos
mercados. A extensão dos mercados possibilita que se
intensifique o processo de divisão de trabalho,
voltando-se a posição semelhante à inicial na espiral do
crescimento.
Espiral do crescimento na
riqueza das Nações
Divisão
do
trabalho
Produtividade
por
trabalhador
Excedente
Estoque de capital
Emprego
produtivo
Salários
População
economica-
mente ativa
Mercados
Aspectos institucionais do crescimento
• A explicação anterior não significa que Smith dê um
tratamento meramente mecânico à questão do
crescimento econômico. Ele também incorpora
aspectos institucionais.
• Enfatiza o papel da lei, da propriedade privada e a
necessidade de ausência de barreiras no mercado a
fim de que os processos identificados ocorram na
prática.
O papel dos lucros e o estado
estacionário
• O mecanismo depende das possibilidades de investimento rentável dos
excedentes gerados a cada período.
• Do ponto de vista do capitalista, o incentivo básico à acumulação é a
taxa de lucro.
• Mesmo em condições institucionais ideais, o processo de crescimento
pode não ser indefinidamente sustentável se houver uma redução das
taxas de lucro abaixo de um nível crítico.
• O crescimento no estoque de capital muito acima do crescimento
demográfico pode levar a uma queda das taxas de lucro pela elevação
de salários. Eventualmente a sociedade pode alcançar um estado
estacionário em que o crescimento apenas acompanha a expansão da
população.
Interpretação de Hicks da teoria do
crescimento de Smith
• O economista do século XX John Hicks sintetizou a
teoria do crescimento de Smith em poucas equações.
• Há uma quantidade inicial de capital utilizado como
recurso para sustentar os trabalhadores empregados
por ele. Isto leva à geração do produto Xt que depende
do produto do período anterior Xt-1 e da relação produto
por unidade consumida (p/c) .
• De modo que se pode escrever Xt = (p/c).Xt-1.
• Se p/c > 1, Xt > Xt-1. A taxa de crescimento da
produção é (Xt - Xt-1)/Xt- 1 = p/c – 1.
• Considerando-se os vazamentos não produtivos,
isto é, a quantidade de produto entregue a setores
não produtivos, na expressão anterior Xt-1 seria
substituido por kt, em que kt = k.Xt-1 e k é a fração
restante após esses vazamentos.
• Temos então que Xt = (p/c).kt = (k.p/c).Xt-1.
• E a nova taxa de crescimento seria (k.p/c) – 1.
A economia progressiva
• A condição matemática para uma economia progressiva
seria a de que kp > c, o que se verifica quando há poucos
desvios não produtivos do excedente, k é grande, e quando
é elevada a produtividade p/c.
• Hicks desenvolve o modelo matemático de Smith pensando
numa única mercadoria, trigo por exemplo, mas uma teoria
do valor consistente pode prescindir desta hipótese e
Smith pensava numa economia com múltiplas mercadorias.
Os livros I e II
• Os livros I e II da Riqueza das Nações contém esse esquema
explicativo básico do crescimento econômico. Smith sintetiza o
livro I, dizendo que ele investiga...
“As causas do aprimoramento nas forças produtivas do
trabalho e a ordem segundo a qual sua produção é naturalmente
distribuída entre as diferentes classes e condições de membros
da sociedade.”
• O livro II investiga a natureza do capital e como ele pode ser
acumulado, como pode ser empregado e de que modo utiliza
quantidades de trabalho.
A centralidade dos temas
“valor e distribuição”
• Sobre o livro I, vale notar da descrição anterior de seu conteúdo que ele
também se preocupa com a questão da distribuição dos rendimentos.
• É que a teoria do valor de Smith que aparece no bojo da discussão do
crescimento, como uma medida do mesmo, remete a uma discussão em
termos de componentes desse valor em salário, lucro e renda da terra.
• Na discussão do valor surge a questão da distribuição. Em Smith e entre
seus seguidores clássicos, valor e distribuição aparecem sempre como
temas correlacionados.
A estrutura da obra
“Riqueza das Nações”
• Os livros I e II são as partes teóricas principais da Riqueza
das Nações, embora mesmo aí não apareça apenas teoria e
se constate neles muito material histórico.
• Há alguma análise teórica também nos demais livros, como a
teoria das vantagens absolutas no comércio internacional,
mas do livro III ao V interessam questões de história e
aplicação.
• O livro terceiro trata da evolução histórica das políticas
econômicas. É o teste empírico e histórico da teoria do
crescimento focando a evolução econômica da humanidade.
• Os livros IV e V contém proposições normativas
em termos de legislação e política econômica. Lá
estão a crítica aos fundamentos da política
comercial e colonial mercantilista e o elogio à
escola da fisiocracia (livro IV), bem como questões
de tributação, política fiscal, dívida pública (livro V),
em que se discutem os prós e contras da
intervenção do estado na economia em diferentes
áreas.
O conteúdo do livro I.
• Ele está dividido em 11 capítulos.
• O capítulo 1 discorre sobre a divisão do trabalho.
Começa dizendo que a divisão do trabalho aumenta as
forças produtivas do trabalho.
• Ora Smith se refere à divisão dele na economia geral
da sociedade, ora trata da maneira como a divisão do
trabalho opera em certas manufaturas.
• Smith fala tanto em divisão social do trabalho quanto
em divisão do mesmo no interior de uma unidade
produtiva.
A fábrica de alfinetes
• Smith ilustra o seu ponto de vista com a
observação de uma pequena manufatura de
alfinete.
• A divisão da fabricação de alfinetes em setores
com trabalhadores especializados provoca
grande aumento na produtividade.
• Argumenta que a diferenciação das ocupações e
empregos, principalmente nas sociedade mais
evoluídas, produz aumento nas forças
produtivas do trabalho.
Um operário desenrola o arame, um outro o endireita, um terceiro o corta, um quarto
faz as pontas, um quinto o afia nas pontas para a colocação da cabeça do alfinete;
para fazer uma cabeça de alfinete requerem-se 3 ou 4 operações diferentes; montar a
cabeça já é uma atiividade diferente, e alvejar os alfinetes é outra; a própria
embalagem dos alfinetes também constitui uma atividade independente. Assim, a
importante atividade de fabricar um alfinete está dividida em aproximadamente 18
operações distintas, as quais, em algumas manufaturas são executadas por pessoas
diferentes, ao passo que, em outras, o mesmo operário às vezes executa 2 ou 3 delas.
Ví uma pequena manufatura desse tipo, com apenas 10 empregados, e na qual alguns
desses executavam 2 ou 3 operações diferentes. Mas, embora não fossem muito
hábeis, e portanto não estivessem particularmente treinados para o uso das máquinas,
conseguiam, quando se esforçavam, fabricar em torno de 12 libras de alfinetes por
dia. Ora, 1 libra contém mais do que 4 mil alfinetes de tamanho médio. Por
conseguinte, essas 10 pesssoas conseguiam produz entre elas mais do que 48 mil
alfinetes por dia. Assim, já que cada pessoa conseguia faer 1/10 de 48 mil alfinetes
por dia, pode-se considerar que cada uma produzia 4800 alfinetes diariamente. Se,
porém, tivessem trabalhado independentemente um do outro, e sem que nenhum deles
tivesse sido treinado para esse ramo de atividade, certamente cada um deles não teria
conseguido fabricar 20 alfinetes por dia, e talvez nem mesmo 1, ou seja: com certeza
não conseguiria produzir 240a parte, e talvez nem mesmo a 4800a parte daquilo que
hoje são capazes de produzir, em virtude de uma adequada divisão do trabalho e
combinação de suas diferentes operações.
Divisão do trabalho na
agricultura
• A divisão do trabalho é menor na agricultura, pois aqui
os diferentes tipos de trabalho estão associados às
estações do ano, de modo que é impossível empregar
um único homem em cada uma das oportunidades de
trabalho na agricultura.
• É por isso, argumenta Smith, que as diferenças de
produtividade entre nações ricas e pobres são menores
na agricultura e maiores na manufatura, onde as
possibilidades na especialização de tarefas são muitas.
Divisão do trabalho e produtividade
• Smith explica por que a pessoa é capaz de realizar mais
trabalho com a divisão do trabalho. Enumera três fatores:
• A maior destreza alcançada pelo trabalhador especializado,
a economia de tempo ao se passar de um trabalho a outro
e a invenção de máquinas.
• Nem sempre é o trabalhador especializado que propõe
inovações nas máquinas que emprega. Também contribuem
para as novas invenções o engenho dos fabricantes de
máquinas que se utilizam de “filósofos ou pesquisadores,
cujo ofício não é fazer as coisas, mas observar cada
coisa”.
Quem quer que esteja habituado a visitar tais manufaturas deve ter
visto muitas vezes máquinas excelentes que eram invenção desses
operários, a fim de facilitar e apressar a sua própria tarefa no
trabalho. Nas primeiras bombas de incêndio um rapaz estava
constantemente entretido em abrir e fechar alternadamente a
comunicação existente entre a caldeira e o cilindro, conforme o
pistão subia ou descia. Um desses rapazes, que gostava de brincar
com seus companheiros, observou que, puxando com um barbante
a partir da alavanca da válvula que abria essa comunicação com
um outro componente da máquina, a válvula poderia abrir e fechar
sem ajuda dele, deixando-o livre para divertir-se com seus colegas.
Assim, um dos maiores aperfeiçoamentos introduzidos nessa
máquina, desde que ela foi inventada, foi descoberto por um rapaz
que queria poupar-se no próprio trabalho.
Efeitos benéficos da divisão de trabalho
• A divisão do trabalho e o mecanismo de troca nos
mercados propiciam, numa sociedade avançada, a
abundância geral dos bens. Todos lucram com ela,
até mesmo um simples operário que tem mais
necessidades atendidas do que “muitos reis da
África, que são selhores absolutos das vidas e das
liberdades de 10 mil selvagens nus.”
A ajuda mútua
• Com a divisão do trabalho surge a necessidade de
comparação e ajuda de milhares de pessoas. Nem
sempre nos damos conta de todos os que
contribuíram para que diferentes tipos de bens
cheguem em nossas mãos, mas os benefícos são
evidentes, argumenta Smith.
Divisão de trabalho em Platão
• A idéia de que a divisão do trabalho é a chave para
o progresso material não era novidade à época de
Smith. A República de Platão discute
estensivamente os seus benefícios na formação da
cidade. No entanto, a explicação de Smith é
original em alguns pontos.
A origem da divisão do trabalho
• No capítulo 2, Smith apresenta os princípios que
dão origem à divisão do trabalho. Enquanto para
Platão essa divisão é fruto da sabedoria da cidade,
ou seja, é um tipo de ideal ético, em Smith ela é um
produto não intencional. Não é algo que tenha sido
visado por alguém que imaginou previamente uma
certa consequência. Smith discute a origem da
divisão do trabalho e a associa à propensão
humana para as trocas.
“Essa divisão do trabalho, da qual derivam tantas
vantagens, não é, em sua origem, o efeito de uma
sabedoria humana qualquer, que preveria e visaria esta
riqueza geral à qual dá origem. Ela é a consequência
necessária, embora muito lenta e gradual, de uma certa
tendência ou propensão existente na natureza humana
que não tem em vista essa utilidade extensa, ou seja: a
propensão a intercambiar, permutar ou trocar uma coisa
pela outra.”
De onde vem a propensão para as
troca?
• Smith não aprofunda a regressão análitica a fim de
se chegar à origem da propensão para as trocas,
mas considera provável que ela seja uma
conseqüência das faculdades de raciocinar e falar.
O papel do auto-interesse: a origem da
ajuda dos outros...
• Platão e Smith concordam no ponto de que com
a divisão do trabalho cada indivíduo passa a
necessitar do trabalho do outro. Smith
argumenta que a necessidade de ajuda dos
semelhantes não vem da benevolência alheia...
“Não é da benevolência do açougueiro, do
cervejeiro ou do padeiro que esperamos nosso
jantar, mas da consideração que eles têm pelo seu
próprio interesse. Dirigimo-nos não à sua
humanidade, mas à sua auto-estima, e nunca lhes
falamos das nossas próprias necessidades, mas
das vantagens que advirão para eles.”
Auto-interesse
• A passagem é bastante explícita em apontar que
nas trocas de mercado os homens visam o seu
auto-interesse.
• A existência de uma mercado para as trocas é um
requisito para a divisão do trabalho, pois os homens
só se especializam naquilo que fazem melhor
sabendo que poderão trocar o excedente da
produção.
Pessoas naturalmente iguais
• Platão acredita que os indíviduos possuem desde o
nascimento diferentes aptidões e que cada um se
entrega ao trabalho que atende melhor essas
aptidões. Então a diferença entre as pessoas está
na base da divisão do trabalho.
• Smith discorda radicalmente desta visão. Para ele,
as pessoas não são naturalmente diferentes, é a
propensão para a troca que, ao longo do tempo,
acentua as diferenças. Já os animais são bastante
diferenciados entre si, e no entanto não podem
usufruir dessas diferenças.
Fatores limitativos para a divisão do
trabalho
• Smith identifica no capítulo 3 fatores limitativos
para a divisão do trabalho.
• Como esta depende da possibilidade de se trocar
o excedente da produção, o tamanho do mercado
aparece como um impedimento para a extensão
da divisão do trabalho. É por isso que no campo,
exemplifica Smith, o carpinteiro é também
marceneiro, o ferreiro ainda faz pregos etc.
• Meios de transporte adequados e baratos facilitam a divisão
do trabalho.
• Onde os transportes foram facilitados por condições
geográficas, tais como rios navegáveis e acesso ao mar,
surgiram as grandes civilizações.
• De fato, os povos do mediterrâneo beneficiaram-se de
facilidades de navegação. O progresso e aprimoramente do
Egito muito se deve à navegação interna do Nilo. Bengala,
na Índia, conta com o rio Ganges.
• Pontos remotos do interior e regiões que não oferecem
facilidades de transporte, como no interior da África e norte
da Ásia, não possibilitam comércio internacional e seus
povos permanecem em estado de barbárie.
A origem e o uso do dinheiro
• O capítulo 4 apresenta uma breve história sobre “a
origem e o uso do dinheiro”.
• A parte principal do capítulo reconstitue, por meio
de uma história analítica, como o dinheiro veio a se
tornar o instrumento universal do comércio.
• Na parte final do capítulo, discute o “paradoxo do
valor”.
Todos são comerciantes
• Smith começa apontando que com a divisão do
trabalho a maioria das pessoas conta com as
trocas de mercado para satisfazer a muitas de suas
necessidades.
• Assim é como se todos fossem comerciantes,
caracterizando a moderna sociedade comercial
(Smith não emprega o termo “capitalista”).
Materiais usados como dinheiro
• De início, antes da disseminação do dinherio, havia grandes
problemas para efetivar as trocas, pois, só há troca se
houver coincidência de necessidades e de interesses.
Buscou-se então possuir uma mercadoria amplamente
aceita, além da mercadoria produzida pelo próprio indivíduo
em questão, historicamente temos o gado, sal, açúcar,
peles, couros e até pregos (como de uma observação no
interior da Escócia) como sendo a mercadoria dinheiro.
Origem da moeda metálica
• Aos poucos, a função de instrumento de troca acabou
se fixando nos metais, que são imperecíveis e
subdivisíveis. Ferro, cobre, ouro e prata, descreve
Smith, serviram cronologicamente como dinheiro.
• De início o metal era ofertado em barras brutas. Dado o
incoveniente da pesagem e da verificação da
autenticidade, optou-se pelo dinheiro cunhado ou
moeda com gravação cobrindo os dois lados da peça e
as laterais, de modo a garantir o peso e o teor metálico
da moeda.
O nome da moeda
• O próprio nome da moeda, de início, expressava peso ou
quantidade de metal, como a libra inglês: libra é medida de
peso também. Smith conta que alguns reis diminuiam
propocitalmente a quantidade de metal na moeda, em
prejuízo dos credores e ganhos dos devedores.
• Em suma, é esta pequena história do dinheiro que nos
conta Smith.
Quais as normas que as pessoas observam ao trocar
suas mercadorias por dinheiro ou por outras
mercadorias?
• Smith está a discutir as regras que determinam
o valor relativo ou valor de troca dos bens. Nota
ele que a palavra valor possui dois significados:
a utilidade de um determinado objeto, ou seja, o
valor de uso, e o poder de compra que o
referido objeto possui, o valor de troca.
O paradoxo do valor
• Observa Smith que, em geral, objetos com elevado
valor de uso possuem baixo valor de troca e vice-
versa, cita o caso da água e do diamante.
• Após contrapor os conceitos desta maneira, Smith
diz que a preocupação da Economia Política deve
recair no valor de troca, e antecipa a preocupação
dos capítulos adiante que será a de investigar os
princípios que regulam o valor de troca.
Duas questões básicas
• Qual a medida real do valor de troca, ou seja, no
que consiste o preço real de uma mercadoria?
• Quais as partes ou componentes que constituem o
preço real das coisas?
• O preço que realmente o objeto vale é o seu preço
natural.
• Os preços que se verificam nas vicissitudes dos
mercados são os preços de mercado, que no longo
prazo se aproximam do preço natural.
Observações
• Não é muito comprensível qual a utilidade de se
contrapor os conceitos de valor de uso e valor de
troca. São coisas diferentes, por certo, mas não
decorre que estejam em posição paradoxal.
• A relação entre esses dois conceitos requer a
análise marginalista que não estava ao alcance da
época.
• O fato do bem possuir alto valor de uso e baixo
valor de troca não deve ser moralmente
condenado. Mas o tom de Smith passa esta
impressão.
• Smith deixa claro que o que ele procura não é
exatamente o fundamento analítico do valor,
mas apenas uma forma de medi-lo.
• O uso da palavra natural para os preços é um
modismo da época em que a expressão natural
vinha carregada de conteúdos normativos.
Princípios newtonianos na obra de Smith
• A Riqueza das Nações procurou seguir os passos
metodológicos dos Princípios de Newton.
• A idéia de se identificar princípios fundamentais
subjacentes ao fenômeno e de tentar reconstituir
uma ordem por trás da aparência caótica, de modo a
mostrar como os elementos são coordenados por
esses princípios, é típico do método de Newton.
• A Riqueza das Nações identifica certos
princípios básicos, tais como a propensão para
as trocas, a divisão do trabalho e o auto-
interesse (observada a moral e os costumes), e
a partir deles articula um esquema explicativo
que mostra o jogo aparente dos fatos como
decorrência lógica da aplicação destes
princípios.

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Adam Smith, Adam Smith, Adam Smith, Adam Smith

  • 2. TEORIA MORAL E FILOSOFIA DA CIÊNCIA • É pelo fato de a visão preponderante da Economia no século XVIII ter caminhado firmemente em direção à idéia de ordem natural que os avanços na Física e demais ciências naturais são bastante relevantes na emergência da Economia como ciência. • Os economistas buscam deliberadamente imitar o método da Física, já que acreditam também tratar a ciência econômica de fenômenos naturais. • Não é mera coincidência que o campo social tenha atraído médicos como François Quesnay e homens com sólida formação em ciência natural como Adam Smith
  • 3. Antecessores de Smith • No fim dos setecentos, Boisguillebert crê que a vida econômica é governada por mecanismos naturais. • No começo do século em questão, a influência newtoniana faz-se presente na obra de Richard Cantillon que pensa a Economia como Newton pensou o cosmos, como uma totalidade composta por elementos interconectados com funcionamento racional. • O método newtoniano também teve grande influência na obra de Smith.
  • 4. O pai da economia? • Embora Adam Smith (1723-1790) seja considerado o pai da Economia Política, sabemos hoje que boa parte de suas idéias já estava presente em autores antecedentes como Quesnay e Cantillon. • O esforço analítico de Smith deve-se muito a esses e outros autores do século XVIII por fornecerem os elementos que irão compor sua visão. Smith destacou- se pelo tratamento sistemático das principais questões econômicas da época em um único tratado.
  • 5. Méritos de Smith • A qualidade literária e pedagógica de seu trabalho é evidente. • Há em sua principal obra em Economia, A riqueza das nações, inúmeras considerações históricas inéditas e até alguns procedimentos originais no tratamento teórico. • O mérito de Smith recai, no entanto, mais em seu poder de síntese do que na originalidade de seu sistema teórico.
  • 6. A História da Astronomia • Antes de expor as idéias-mestras de seu pensamento econômico em outra parte, esta seção trata de suas concepções no campo da ética e da filosofia da ciência. • O estudo da filosofia de Smith dificilmente seria apoiado apenas na leitura de A riqueza das nações. É que ele não explicita nela seus pressupostos filosóficos e metodológicos. • Mais revelador nesse sentido é o ensaio smithiano cujo título já revela seu conteúdo: Os princípios que guiam e conduzem a investigação científica ilustrados pela história da astronomia.
  • 7. O jovem Smith • Smith escreveu esse ensaio ainda muito jovem, entre 1746 e 1748, com pouco mais de vinte anos de idade, embora ele só tenha aparecido ao público 19 anos depois da publicação de A riqueza das nações, obra da fase madura de Smith. • O estudo do método de Smith com base em ensaio de início de carreira pressupõe, é claro, a tese de que ele tenha mantido uma continuidade de visão ao longo da vida. Hipótese aceita pela maioria dos estudiosos de Smith.
  • 8. Experiência em Oxford • Sabemos que ele era uma pessoa muito culta, que lera e escrevera em diversas áreas. Quando ainda jovem, foi enviado a Oxford para estudar; ao chegar lá não teve uma orientação precisa nos estudos e, como conseqüência, acabou dispersando o foco de interesse em diversas áreas do conhecimento. • Com poucos compromissos formais, passava o dia na biblioteca da faculdade de Balliol, ligada à Universidade de Oxford, em contato com os principais clássicos gregos e latinos e com a literatura científica da época, incluindo-se as obras de Newton, Bacon e Descartes. • Depois, Smith viria a escrever textos em diversas áreas incluindo filosofia moral e estudos de lingüística, bem como tratados de estética, arte, literatura e metodologia da ciência.
  • 9. O método newtoniano • O ensaio História da astronomia mostra claramente a influência do método newtoniano. • Como Newton, Smith não acredita que o conhecimento científico possui um substrato ontológico verdadeiro. A teoria científica não representa a apreensão da verdade última das coisas como em Aristóteles. • Destarte, a atividade científica justifica-se como uma necessidade psicológica para o cientista, ou filósofo, como Smith referia-se a ele.
  • 10. A finalidade da ciência • O fim último da filosofia (ou ciência) é o repouso e a tranqüilidade da imaginação do filósofo. • Entretanto, nem todos os homens são filósofos. Estes surgem apenas em sociedades evoluídas, estáveis e seguras, nas quais já se nota certa divisão de trabalhos de modo a liberar certos indivíduos da preocupação com o sustento material. • Tais pessoas são treinadas a pensarem sobre a natureza e têm suas mentes especialmente condicionadas para o desenvolvimento de certos sentimentos que conduzem a uma reflexão filosófica das coisas.
  • 11. A mente do cientista • Os filósofos possuem mentes sensíveis e irrequietas movidas por uma mecânica que os compelem à busca de prazer por meio do apaziguamento da imaginação. • Enquanto a imaginação do homem comum é indolente e preguiçosa, a do homem educado é curiosa. Ela só encontra tranqüilidade quando descobre os elos invisíveis entre dois fenômenos aparentes. Assim, os filósofos são mentes curiosas que procuram as cadeias ocultas dos fenômenos. • O homem comum, como um artesão, contenta-se com as aparências e nunca percebe a existência dos elos ocultos entre os fenômenos. A causa da investigação científica é a busca de uma ponte entre as aparências, mas tal ponte não precisa ser verdadeira ou mesmo provável; basta que ela funcione para apaziguar os sentimentos.
  • 12. Teorias de mente de Smith e Descartes • Smith analisa o funcionamento da mente do filósofo pelo exame de três sentimentos que ocorrem sempre na mesma seqüência: a surpresa, o espanto e a admiração. • Essa descrição da mente humana com base na mecânica de sentimentos psicológicos lembra René Descartes que em seu Tratado das paixões da alma aplicou os métodos da Física a fatos humanos. • Nele, Descartes discorre sobre o processo de descoberta científica como sendo movido pela ação de uma paixão fundamental a que denomina de admiratio. • Smith também descreve um mecanismo psicológico para a descoberta científica. Ambos não pretendem adotar um modelo mecânico que aproxima a mente da máquina.
  • 13. Modelos mecânicos • Mesmo Descartes não segue modelo rigorosamente mecânico da mente, premido pelas tensões de certo “dualismo metafísico” que consiste em separar a mente das várias diferentes substâncias que preenchem todos os corpos, de modo que ela jamais pudesse ser explicada como um sistema físico. • Fora a semelhança na descrição do funcionamento da mente, a teoria de Smith de fato não se confunde com a de Descartes, distinguindo-se principalmente na questão do método. • Não aderindo ao racionalismo cartesiano, Smith dava muita importância aos dados dos sentidos e às observações dos fenômenos, mais próximo, portanto, da tradição de Bacon e Locke.
  • 14. A surpresa • Embora a observação empírica tenha um grande valor em Smith, o critério decisivo para a emergência de novas teorias é a ação dos três sentimentos já citados. Primeiramente, a ocorrência de um fato inesperado, que já sabíamos existir, mas que não esperávamos encontrá-lo no momento em que ocorreu, desperta no filósofo o sentimento de surpresa:
  • 15. “Ficamos surpresos com aquelas coisas que temos visto com freqüência, mas que de modo algum esperamos encontrar no lugar onde efetivamente as encontramos...”
  • 16. O espanto • Tomado pela surpresa, o filósofo passa a preocupar-se com o fenômeno e descobre nele aspectos novos e singulares. • A novidade desperta o sentimento de espanto, um estado extremo em que a mente é tomada por fortes inquietações.
  • 17. “Espantamo-nos com todos os objetos extraordinários e incomuns; com todos os fenômenos raros na natureza, com meteoros, cometas, eclipses; com plantas e animais singulares e com todas as coisas, em suma, sobre as quais tenhamos tido pouca ou nenhuma informação anterior...”
  • 18. A admiração • A busca do restabelecimento da tranqüilidade mental leva à proposição de um novo sistema explicativo que dê conta do fenômeno inusitado. • As aparências, até então estranhas e desconexas, são integradas como conseqüência lógica de uma nova construção explicativa. Destarte, a mente volta a repousar em sua tranqüilidade e o novo sistema desperta o sentimento de admiração. • A admiração é estimulada pela grandeza e beleza do quadro contemplado pela nova teoria. • Quanto maior for esse sentimento, mais se podem julgar a teoria alternativa e os resultados da investigação como melhores que na explicação anterior.
  • 19. Os sentimentos não apenas se sucedem na ordem em que os colocamos, eles ainda influenciam uns aos outros: “Surpresa de prazer quando a mente está afundada em mágoa ou surpresa de mágoa quando ela está exaltada de alegria são desta forma as mais insuportáveis (...) Não somente a aflição e a alegria, mas todas as outras paixões são mais violentas quando os extremos opostos se sucedem uns aos outros (...) Até mesmo os objetos externos para os sentidos afetam-nos de uma maneira mais vívida quando os máximos de opostos se sucedem ou são postos lado a lado. Um frescor moderado pareceria um calor insuportável se sentido após um frio extremo”
  • 20. Smith explica que o sentimento de espanto torna-se menos intenso conforme o evento original, que o originou, repete-se e o observador a ele vai habituando-se, diminuindo assim a surpresa: “Um pai que perdeu muitos filhos imediatamente um após o outro será menos afetado com a morte do último do que com a do primeiro, embora a perda em si seja neste caso indubitavelmente maior...”
  • 21. O ensaio smithiano A história da astronomia • Consiste em aplicar a dinâmica dos sentimentos assim identificados na explicação de como os sistemas astronômicos foram, desde a Antigüidade, sucedendo-se uns aos outros. • Temos o antigo sistema grego, substituído por Ptolomeu, Tycho Brahe, Copérnico, Kepler e Newton. • Cada sistema, uma vez proposto, vai tornando-se mais complexo para salvar as aparências. Até que já não consegue mais tranqüilizar a imaginação como antes. • O sentimento de espanto leva os astrônomos a propor um novo modelo. As teorias astronômicas são ficções para tranqüilizar a imaginação.
  • 22. A influência de Hume • A principal influência exercida sobre Smith em sua abordagem da história da astronomia advém de David Hume. • A teoria do conhecimento de Hume apresentada no Tratado da natureza humana, de 1739, também analisa o funcionamento da mente no processo de aquisição de conhecimento. • Hume discorre sobre as paixões e caracteriza a mente humana como uma máquina psicológica complexa. • Ao contrário de Descartes, Hume acredita que as idéias não são inatas e que o trabalho do intelecto consiste em relacionar fatos assimilados pelos sentidos e pela experiência. As assertivas sobre as propriedades reais dos objetos externos não podem ser demonstradas verdadeiras.
  • 23. O método de Hume • Hume é céptico com relação às pretensões do empirismo baconiano em obter a verdade das coisas da observação de fatos. • Lança então o famoso “problema de Hume” que contesta a possibilidade de firmar a certeza de uma lei universal. • É suficiente para a ciência propor enunciados respaldados no que a observação veio a transformar em hábito. • Admite-se, portanto, a inevitabilidade da ignorância humana em conhecer o âmago das coisas. Isso é próximo ao método newtoniano.
  • 24. A influência de Hume • Smith nutria grande admiração por Hume e é certo que foi do programa de Hume que ele seguiu a estratégia de entender a empresa científica com base em considerações sobre a natureza humana, sob a hipótese de que essa natureza seria única, mesmo entre homens separados no tempo e no espaço. • Hume, antes de Smith, destacou o papel da imaginação na teoria do conhecimento.
  • 25. O método newtoniano • O método newtoniano que influenciou Hume e Smith consiste na busca de princípios que possibilitam identificar uma ordem subjacente a fenômenos aparentemente caóticos. • Os princípios em si mesmos não precisam ser verdadeiros, mas funcionam como uma convenção psicológica que permite salvar as aparências e com isso tranqüilizar a imaginação.
  • 26. Newton na casa da moeda • Curiosamente, o próprio Newton preocupou-se, em certo momento de sua vida, com questões econômicas. • Ele foi diretor da Casa da Moeda da Inglaterra em 1717 e deve-se a ele a primeira tentativa de estabelecer um preço oficial para o ouro em 85 shillings por onça. • Smith leu muito do que escrevera Newton e na História da astronomia conclui o ensaio com uma descrição entusiasmada das descobertas da Física newtoniana. Smith gostava de matemática e de “filosofia natural”.
  • 27. Semelhanças entre Newton e Smith • Newton e Smith compartilham entre si o método de raciocinar em ciência tomando os princípios elaborados pela intuição e apoiados na indução de fenômenos, para com base neles deduzir novos fenômenos. • Ambos mantêm o ceticismo quanto ao realismo das premissas. • A prática de Newton lista fenômenos já conhecidos antes da apresentação da teoria, como se constata diversas vezes nas partes iniciais em cada um dos livros que compõem os Princípios. • Os fenômenos justificam a proposição de princípios teóricos dos quais são deduzidos novos fenômenos. A natureza última dos princípios não importa, nem seu conteúdo de verdade.
  • 28. Sobre a força da gravidade, Newton afirma que: “Para nós é suficiente que a gravidade atue de acordo com as leis que nós temos explicado e sirva, com sucesso, para dar conta de todos os movimentos dos corpos celestes e do mar”
  • 29. Os princípios de Smith • Em analogia às leis gerais dos movimentos dos corpos na Física, Smith concebe as leis gerais da Economia. • Na Riqueza das nações, começa dizendo que a divisão do trabalho é o resultado necessário da propensão humana a trocar uma coisa por outra. • A propensão humana à troca é pensada como um princípio que, ao ser desdobrado em suas conseqüências pela teoria, irá explicar a causa da riqueza das nações. Esse princípio econômico deve ser pensado como uma lei natural.
  • 30. A origem da propensão para as trocas • Smith não se julga habilitado a determinar se a propensão à troca é ela mesma um princípio original da natureza humana ou se é uma conseqüência das faculdades da razão e da fala. • Conclui Smith dizendo que essa questão “não pertence ao presente objeto de estudo”. • Nenhuma tentativa de provar a veracidade do princípio em questão é feita por Smith, pois no espírito do método newtoniano é necessário tão-somente postular sua existência e demonstrar como sua articulação no modelo teórico conduz a conclusões que dão conta de explicar a realidade aparente.
  • 31. O método comum em Newton e Smith pode ser sintetizado da seguinte forma: • Começa-se com um princípio, ou poucos princípios básicos, que são inferidos no processo de explicação de casos mais ou menos triviais. • Em seguida, tenta-se explicar o mundo dos fatos observáveis, buscando-se mostrar como esses fatos são derivados daqueles princípios. Os eventos são classificados (na Riqueza das nações as várias formas de remuneração dos agentes são classificadas em salários, lucro e renda) e as classes de eventos são vistas como resultado do jogo desses princípios. • A teoria procura elaborar um sistema no interior do qual operam os princípios elementares, de tal forma que fenômenos que pareciam os mais inexplicáveis são todos deduzidos com base nos princípios e atados a uma única cadeia. A teoria é julgada pelo poder preditivo, mas conta também elementos estéticos tais como simplicidade, coerência e beleza. Em todo caso, ela é sempre uma invenção de uma imaginação particular que poderá eventualmente também cativar a imaginação dos demais.
  • 32. Indivíduos auto-interessados. • Em seu nascimento como ciência, o fenômeno econômico é pensado como uma ordem natural tratada pelos mesmos métodos da Física. • Isso, como vimos, já está bem sedimentado mesmo entre os precursores de Smith. • A construção teórica do sistema, no entanto, requer a especificação de hipóteses comportamentais dos agentes. O modelo parte da idéia de indivíduos auto-interessados. • Os filósofos éticos ingleses procuram conciliar essa premissa com as qualidades morais que acreditam existir na espécie humana. • A solução proposta por eles enfraquece a hipótese exclusiva do egoísmo, pois vêem a conduta humana como resultante de um jogo de paixões egoístas e altruístas.
  • 33. A questão ética em Smith.
  • 34. Francis Hutcheson • Primeiramente, há que se notar certa continuidade entre a filosofia moral de Smith e a de seu antigo professor em Glasgow Francis Hutcheson (1694-1746) e também entre Smith e David Hume, de quem desfruta de íntima amizade. • Hutcheson segue a filosofia do direito natural, na linha de Locke, e acredita que o homem é naturalmente dotado de um senso moral. • Os homens possuem paixões altruístas, mas também egoístas e elas são reconciliadas, na determinação da conduta humana, pela intervenção de um senso de auto-estima que neutraliza o efeito social das ações egoístas.
  • 35. O princípio da simpatia • Hume fala que a correção moral da conduta humana depende de julgamentos que nós e os outros fazem de nossas ações. • A moral humeana aproxima-se das outras concepções da época por ser também ela teleológica. • No caso, porém, os efeitos repercutidos da ação ou os fins decorrentes dependem, se ela for um bem moral, da aprovação dela não só da parte de quem a pratica, mas por todos os demais. • A importância do julgamento de terceiros é expressa em um sentimento a que denomina de “simpatia”.
  • 36. Teoria dos sentimentos morais • Smith também confere um papel primordial ao sentimento de simpatia em seu sistema ético. Em seu famoso livro de 1749, a Teoria dos sentimentos morais, começa descrevendo o homem como uma criatura dotada de um conjunto de propensões básicas a que denomina de paixões. • Há as paixões do amor sexual e paterno e outras não tão agradáveis como o ódio e o ressentimento. • Há ainda uma lista de boas paixões a que denomina de paixões sociais, tais como a generosidade, a compaixão e a amizade. Há também espaço para as paixões egoístas.
  • 37. Observação • Simpatia, que diz em grego exatamente o que compaixão diz em latim: sofrer com o outro. • O que é a simpatia?  É a participação efetiva dos sentimentos do outro (ter simpatia é sentir juntos).  É partilhar a alegria que alguém sente.  Simpatizar é sentir com o outro, saindo, pelo menos parcialmente, da prisão do eu.
  • 38. O equilíbrio das paixões • As paixões tendem a contrapor-se e a equilibrar-se em um balanço estável feito em cada um de nós. • O equilíbrio das paixões internamente se reproduz no plano social, suposto um sistema em harmonia. • O controle particular das paixões é compelido em cada homem pelo princípio da simpatia, já presente na teoria moral de Hume. Quando percebemos a desaprovação de nossas condutas, isso desencadeia sentimentos desagradáveis que procuramos eliminar corrigindo a conduta de modo a atrair para nós sentimentos de aprovação. • O homem virtuoso observa o juízo que os outros fazem dele e está a ajustar constantemente seu comportamento de modo a vir a “ocupar um lugar de honra na mente do semelhante”.
  • 39. O problema de Adam Smith • Quando Smith descreve a mecânica dos mercados que move o sistema econômico na Riqueza das nações, apresenta os homens como sendo impulsionados a todo momento por um cálculo egoísta de maximização de riqueza. • Esse aparente paradoxo entre o agente egoísta da Riqueza das nações e o homem ético da Teoria dos sentimentos morais aparece na literatura como o “problema de Adam Smith”.
  • 40. A solução do problema • Não cabe aqui uma discussão prolongada dessa questão. Parece que há hoje em dia uma opinião amplamente aceita de que não se trata de uma contradição de uma obra a outra. A maneira de reconciliar os dois enfoques é notar a distinção estabelecida por Smith entre as motivações e os efeitos concretos das condutas humanas. • No plano abstrato da teoria moral, o mérito da ação é julgado pela intenção do agente, no entanto, nas circunstâncias concretas da sociedade, as conseqüências efetivas da ação exercem uma poderosa influência no julgamento da ação. • A condutas que produzem prazer são avaliadas independentemente das intenções originais. A busca exclusiva da riqueza, por exemplo, embora não tenha mérito intrínseco, produz o feito de angariar aprovação dos demais pelos efeitos benéficos que a riqueza pessoal produz na sociedade.
  • 41. • Os homens buscam a riqueza a fim de ostentarem símbolos de status social e obter a admiração e o respeito dos demais. • Os homens, porém, ao procurarem seguir essa estratégia, não se destacam realmente da multidão e a posição de honra que vierem a ocupar terá sempre um caráter efêmero. • Contudo, na prática, o limite da razão humana compele os homens a cometerem o mesmo erro sistematicamente. E assim temos um sistema econômico movido pelo auto-interesse.
  • 42. A VIDA DE ADAM SMITH
  • 43. Infância e juventude • Tendo nascido em Kirkcaldy, Escócia, no ano de 1723, Smith completa nesta cidade a sua educação secundária, após o que se transfere para a universidade de Glasgow a fim de estudar humanidades. • Na juventude, as influências principais se dão em torno do nome de Francis Hutcheson, que desperta a atenção de Smith para com a filosofia do Direito natural e os princípios do sistema de Economia Política. • Por essa época, ele já iniciara o estudo dos problemas econômicos, mas demorará a que se volte decisivamente para a Economia
  • 44. A experiência em Oxford • Antes de se graduar em Glasgow, em 1740 Smith ganha uma bolsa para estudar em Oxford, no Balliol College. • A sua experiência no novo ambiente acadêmico proporcionou-lhe aprofundamento nos estudos de filosofia clássica e literatura; • Logo cedo Smith se indispôs com os professores de Oxford, tidos como obscuros e excessivamente escolásticos. • Smith foi repreendido por eles por estar lendo o Tratado sobre a Natureza Humana, obra de David Hume, de 1738, proscrita nos meios dessa universidade.
  • 45. O retorno à Escócia • Tão logo termina o bacharelado, Smith retorna à Escócia em 1746. • Sem emprego regular em sua terra natal, ele permanece na casa da mãe ambicionando para o futuro uma posição estável como tutor companhante de algum nobre. • Enquanto isso, ele inicia a carreira de professor, de início ministrando cursos avulsos de literatura inglêsa em Edimburgo. • Depois, em 1750 e 1751, volta-se para o tratamento de problemas econômicos, em que defende princípios liberais e ganha reputação acadêmica.
  • 46. A vida em Glasgow • Começa por ensinar Retórica e Literatura e com o adoecimento do professor Craigie assumi interinamente o seu cargo em filosofia moral. • Em 1752, morre o seu grande mestre Hutcheson e Smith é agraciado com a cadeira que tinha sido de Hutcheson. A partir de então, até 1764, Smith consolida sua reputação intelectual e seu interesse acadêmico pela Economia.
  • 47. Idéias econômicas iniciais • Sabemos das primeiras reflexões econômicas de Smith nos cursos de Glasgow, pelas anotações preservadas de um estudante que frequentou as aulas de Smith, depois reunidas no ensaio Aulas (Lectures). • Lá ele entecipa idéias que seriam desenvolvidas anos depois na obra máxima A Riqueza das Nações. • Smith considera então a riqueza com o sendo fruto do trabalho humano e assimila os fatos econômicos observados a certos mecanismos automáticos na sociedade. • Antecipa a idéia de que a opulência nasce da divisão do trabalho e que essa divisão leva ao aumento da produtividade pela maior habilidade conferida ao trabalhador especializado, além da economia de tempo e da invensão de máquinas proporcinada por ela.
  • 48. • Diz também que o capital associado ao trabalho na produção aumenta a produtividade deste último. • Antecipando a crítica aos fisiocratas, diz que o trabalho industrial não é estéril e que ele também contribui para o processo de acumulação. • Entrando na questão dos preços, afirma que os preços naturais remuneram o tempo de trabalho para a produção do objeto. • Na questão da distribuição da renda, considera que os rendimentos aferidos por cada indivíduo devem guardar certa proporcionalidade ao trabalho de cada um. • Finalmente critica a doutrina mercantilista.
  • 49. Vida social e obras em variados temas • Por essa época, Smith participa ativamente dos debates acadêmicos e políticos em voga • É convidado a integrar os principais grupos de eruditos da Escócia, o Edinburgh Society e o Select Society, do qual é um dos fundadores ao lado de Hume, Lauderdale e Townshend. • Smith publica artigos no Edinburg Review em em outros periódicos conceituados. • É também o início da grande amizade com Hume que perdura até a morte deste em 1776.
  • 50. A teoria ética de Smith • No interregno em questão, Smith escreve e publica sua primeira grande obra, A Teoria dos Sentimentos Morais, de 1759, que lhe confere projeção internacional. • No entanto, Smith não tinha escrito até então apenas sobre questões de ética, pelo contrário, seu interesse claramente interdisciplinnar tinha se evidenciado, e por ocasião ele dispunha de um considerável acervo de escritos de sua autoria em campos variados
  • 51. • A Teoria dos Sentimentos Morais teve cinco edições e foi traduzida para outras línguas. É a obra que projeta definitivamente o nome de Smith.
  • 52. O historiador das idéias • Smith destaca-se também por seus tratados em Estética, e história das idéias, neste último temos a sua História da Astronomia. • Havia, no entanto, o projeto intelectual, até então ainda não realizado, de escrever um amplo tratado sobre os princípios da Economia.
  • 53. O trabalho como tutor • Já famoso, Smith contou com a amizade de Townshend para finalmente realizar o seu antigo sonho de se tornar tutor. • Em 1763, Townshend decide confiar a Smith a tutela de seu enteado, o Duque de Buccleugh. Smith renuncia à cadeira em Glasgow e parte com Buccleugh para uma viagem de dois anos à França, em troca haveria de receber uma generosa pensão vitalícia.
  • 54. Os contatos internacionais de Smith • Dois fatos se destacam na viagem como tutor: ela lhe proporciona contato direto com as principais expressões intelectuais da época e também foi nesse período que ele começa a escrever suas primeiras notas para a obra econômica. • Visita o sul da França e vai a Genebra onde conhece pessoalmente Voltaire, do qual se tornou grande admirador. • Em 1765, mora em Paris que lhe recebe com as portas abertas dos salões e da corte. Para tanto, conta com a amizade da prestigiada figura de Hume e a fama de sua Teoria dos Sentimentos Morais, já traduzida para o francês.
  • 55. • Foi importante para a formação das crenças econômicas smithianas o acesso a Quesnay, Turgot e idéias fisiocráticas, que não aceitou por inteiro, mas que viriam exercer influência no pensamento dele.
  • 56. A volta à Inglaterra • A estadia na França termina abruptamente em 1766 com o assassinato do irmão mais novo do Duque, também sob a custórdia de Smith. Retorna então a Londres onde permanece trabalhando com Towshend que se tornara ministro da Fazenda. • Além de assessorar o anfitrião, Smith dedica-se em Londres à edição ampliada da Teoria dos Sentimentos Morais. • Em pouco tempo ele rompe com Towshend, principalmente por discordar da política inglesa com suas colônias na América. Não concorda com a excessiva tributação sobre o chá americano, que de fato seria um dos estopins da revolução pela independência.
  • 57. O retorno à Kirkcaldy para escrever a Riqueza das Nações • Desiludido, Smith decide retornar a Kirkcaldy, onde na casa da mãe permaneceria os próximos dez anos dedicados a escrever o livro A Riqueza das Nações. • Embora afastado da vida pública, o prestígio de Smith cresce ainda mais no período. Recebe o título de fellow da Royal Society, mas, avesso à exposição pública e entretido com seu livro, permanece relativamente confinado, enquando se preocupa com o acabamento da obra, lapidando a base teórica, retocando as observações históricas e os exemplos práticos, muitos deles observados in locu em suas andanças pelo interior da Escócia. Finalmente, em 1776 publica sua obra econômica máxima.
  • 58. A repercussão da obra • Durante quase todo o século XIX a Riqueza das Nações tornou-se, em diversos países, o ponto de partida ao estudo da Economia. • A primeira edição se esgota em menos de seis meses e em 1800 a obra já estava disponível em francês, alemão, italiano, dinamarquês e espanhol. Muito embora ela tenha sido proibida na Espanha “por sua baixeza de estilo e pela indefinição de seu princípios morais”, diziam os críticos espanhóis, na verdade uma reação desesperada contra idéias liberais contidas na obra.
  • 59. Últimos anos de Smith • Em 1777, Smith é nomeado para um alto cargo na administração aduaneira escocesa e dez anos depois se torna reitor na Universidade de Glasgow. Coberto de glórias morre em 1790 aos 67 vanos.
  • 60. A Riqueza das Nações
  • 61. A importância do livro • A obra Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações, de 1776, representa um marco importante na evolução do pensamento econômico. • As idéias aí expressas não são inteiramente originais, mas isto não enfraquece a qualidade dela. • Há um núcleo teórico em torno da questão do crescimento econômico das nações, no entanto em torno dele organiza- se uma miríade de considerações históricas e farto material empírico que fornecem embasamento à visão geral e enriquecem sobremaneira o tratado.
  • 62. • A obra serviu como paradigma teórico no desenvolvimento científico da Economia no século XIX. Pode-se extrair dela um modelo explicativo básico para o crescimento econômico facilmente resumível.
  • 63. A importância do capital • A riqueza é definida como o produto anual per capita da nação e a ampliação deste produto depende do número de pessoas empregadas produtivamente. • Nem todo trabalho humano é produtivo, só os que resultam na transformação de objetos, tornando-os próprios para consumo. • O número de trabalhadores que podem ser empregados produtivamente é função do estoque de capital disponível na sociedade. • O montante de capital aumenta a produtividade do trabalho, ao se combinar com ele na produção, e também o número de trabalhadores produtivos. Portanto, o processo de formação de capital é chave no entendimento do crescimento econômico.
  • 64. O processo de acumulação de capital • A vida econômica nas sociedades evoluídas é posta em movimento pelo emprego do capital. • O processo produtivo deve reconstituir esse capital em escala crescentemente ampliada de modo a propiciar crescimento econômico. • Este esquema é semelhante ao de Quesnay, mas as diferenças entre ele e Smith são significativas.
  • 65. Diferenças entre Smith e Quesnay • Smith não acredita que a atividade industrial seja estéril, pois ela também gera novos valores. Ele percebeu ainda que a medida do crescimento econômico e a comprensão analítica dele dependeriam de uma teoria do valor. • Smith conhecia as noções sobre valor em Petty e Locke, mas as considerava ambíguas. • A ausência de uma teoria do valor nos fisiocratas, que se limitavam a comparações entre montantes físicos de uma mercadoria básica, era tida como grave lacuna.
  • 66. Por que uma teoria do valor? • O trabalho produtivo sempre produz um excedente de valor sobre o custo de reprodução do trabalhador. • Quanto maior o número de trabalhadores produtivos sobre a população total do país, maior o excedente anual gerado na economia. • Parte desse excedente é consumida pela classe dos patrões, mas parte importante é reinvestida por eles, ou seja, canalizada para a contratação de mais trabalhadores.
  • 67. • A capacidade de ampliação de trabalho produtivo, e portanto de geração adicional de excedente para novas inversões futuras, depende do número potencial de trabalhadores a serem contratados pelo capital. • Uma medida do valor que estabelecesse uma relação entre um montante de mercadorias heterogêneas e o correspondente número de trabalhadores empregados por elas, enquanto capital, possibilitaria identificar e mensurar facilmente o processo de reprodução ampliada das condições de produção.
  • 68. O uso da teoria do valor-trabalho • A teoria do valor deveria servir a fim de se comparar diferentes mercadorias antes que seus preços fossem determinados pelas vissicitudes de mercado. • Ao mesmo tempo, tal teoria deveria estabelecer a referida correspondência entre o valor e o montante de trabalho útil empregado pelo capital. • Estas duas questões seriam atendidas pela teoria smithiana do valor fundamentado no trabalho comandado ou encomendado por cada mercadoria, ou seja, o poder de ela ser trocada por outras mercadorias que exigem trabalho na sua obtenção.
  • 69. A espiral do crescimento • A Riqueza das Nações trata dessas questões no livro I, a obra está dividida em mais quatro livros. Smith descreve uma espiral de crescimento e o desenvolvimento da teoria do valor confere embasamento analítico a essa espiral. • Começa com a discussão da divisão do trabalho, mostrando que ela aumenta a produtividade do mesmo. • No segundo elo, temos a geração ampliada do excedente associado a cada trabalhador. • Empregado produtivamente, ao menos em parte, tal excedente possibilita o crescimento no estoque de capital e o aumento subsequente do emprego produtivo. Mais adiante na obra, percebe-se os outros elos da espiral.
  • 70. • O aumento de demanda por trabalho produtivo, acima da elevação do número de trabalhadores no período, conduz ao crescimento dos salários, que por sua vez cria condições para o aumento futuro da população economicamente ocupada. • A conseqüência de tudo isto é a ampliação dos mercados. A extensão dos mercados possibilita que se intensifique o processo de divisão de trabalho, voltando-se a posição semelhante à inicial na espiral do crescimento.
  • 71. Espiral do crescimento na riqueza das Nações Divisão do trabalho Produtividade por trabalhador Excedente Estoque de capital Emprego produtivo Salários População economica- mente ativa Mercados
  • 72. Aspectos institucionais do crescimento • A explicação anterior não significa que Smith dê um tratamento meramente mecânico à questão do crescimento econômico. Ele também incorpora aspectos institucionais. • Enfatiza o papel da lei, da propriedade privada e a necessidade de ausência de barreiras no mercado a fim de que os processos identificados ocorram na prática.
  • 73. O papel dos lucros e o estado estacionário • O mecanismo depende das possibilidades de investimento rentável dos excedentes gerados a cada período. • Do ponto de vista do capitalista, o incentivo básico à acumulação é a taxa de lucro. • Mesmo em condições institucionais ideais, o processo de crescimento pode não ser indefinidamente sustentável se houver uma redução das taxas de lucro abaixo de um nível crítico. • O crescimento no estoque de capital muito acima do crescimento demográfico pode levar a uma queda das taxas de lucro pela elevação de salários. Eventualmente a sociedade pode alcançar um estado estacionário em que o crescimento apenas acompanha a expansão da população.
  • 74. Interpretação de Hicks da teoria do crescimento de Smith • O economista do século XX John Hicks sintetizou a teoria do crescimento de Smith em poucas equações. • Há uma quantidade inicial de capital utilizado como recurso para sustentar os trabalhadores empregados por ele. Isto leva à geração do produto Xt que depende do produto do período anterior Xt-1 e da relação produto por unidade consumida (p/c) .
  • 75. • De modo que se pode escrever Xt = (p/c).Xt-1. • Se p/c > 1, Xt > Xt-1. A taxa de crescimento da produção é (Xt - Xt-1)/Xt- 1 = p/c – 1. • Considerando-se os vazamentos não produtivos, isto é, a quantidade de produto entregue a setores não produtivos, na expressão anterior Xt-1 seria substituido por kt, em que kt = k.Xt-1 e k é a fração restante após esses vazamentos. • Temos então que Xt = (p/c).kt = (k.p/c).Xt-1. • E a nova taxa de crescimento seria (k.p/c) – 1.
  • 76. A economia progressiva • A condição matemática para uma economia progressiva seria a de que kp > c, o que se verifica quando há poucos desvios não produtivos do excedente, k é grande, e quando é elevada a produtividade p/c. • Hicks desenvolve o modelo matemático de Smith pensando numa única mercadoria, trigo por exemplo, mas uma teoria do valor consistente pode prescindir desta hipótese e Smith pensava numa economia com múltiplas mercadorias.
  • 77. Os livros I e II • Os livros I e II da Riqueza das Nações contém esse esquema explicativo básico do crescimento econômico. Smith sintetiza o livro I, dizendo que ele investiga... “As causas do aprimoramento nas forças produtivas do trabalho e a ordem segundo a qual sua produção é naturalmente distribuída entre as diferentes classes e condições de membros da sociedade.” • O livro II investiga a natureza do capital e como ele pode ser acumulado, como pode ser empregado e de que modo utiliza quantidades de trabalho.
  • 78. A centralidade dos temas “valor e distribuição” • Sobre o livro I, vale notar da descrição anterior de seu conteúdo que ele também se preocupa com a questão da distribuição dos rendimentos. • É que a teoria do valor de Smith que aparece no bojo da discussão do crescimento, como uma medida do mesmo, remete a uma discussão em termos de componentes desse valor em salário, lucro e renda da terra. • Na discussão do valor surge a questão da distribuição. Em Smith e entre seus seguidores clássicos, valor e distribuição aparecem sempre como temas correlacionados.
  • 79. A estrutura da obra “Riqueza das Nações” • Os livros I e II são as partes teóricas principais da Riqueza das Nações, embora mesmo aí não apareça apenas teoria e se constate neles muito material histórico. • Há alguma análise teórica também nos demais livros, como a teoria das vantagens absolutas no comércio internacional, mas do livro III ao V interessam questões de história e aplicação. • O livro terceiro trata da evolução histórica das políticas econômicas. É o teste empírico e histórico da teoria do crescimento focando a evolução econômica da humanidade.
  • 80. • Os livros IV e V contém proposições normativas em termos de legislação e política econômica. Lá estão a crítica aos fundamentos da política comercial e colonial mercantilista e o elogio à escola da fisiocracia (livro IV), bem como questões de tributação, política fiscal, dívida pública (livro V), em que se discutem os prós e contras da intervenção do estado na economia em diferentes áreas.
  • 81. O conteúdo do livro I. • Ele está dividido em 11 capítulos. • O capítulo 1 discorre sobre a divisão do trabalho. Começa dizendo que a divisão do trabalho aumenta as forças produtivas do trabalho. • Ora Smith se refere à divisão dele na economia geral da sociedade, ora trata da maneira como a divisão do trabalho opera em certas manufaturas. • Smith fala tanto em divisão social do trabalho quanto em divisão do mesmo no interior de uma unidade produtiva.
  • 82. A fábrica de alfinetes
  • 83. • Smith ilustra o seu ponto de vista com a observação de uma pequena manufatura de alfinete. • A divisão da fabricação de alfinetes em setores com trabalhadores especializados provoca grande aumento na produtividade. • Argumenta que a diferenciação das ocupações e empregos, principalmente nas sociedade mais evoluídas, produz aumento nas forças produtivas do trabalho.
  • 84. Um operário desenrola o arame, um outro o endireita, um terceiro o corta, um quarto faz as pontas, um quinto o afia nas pontas para a colocação da cabeça do alfinete; para fazer uma cabeça de alfinete requerem-se 3 ou 4 operações diferentes; montar a cabeça já é uma atiividade diferente, e alvejar os alfinetes é outra; a própria embalagem dos alfinetes também constitui uma atividade independente. Assim, a importante atividade de fabricar um alfinete está dividida em aproximadamente 18 operações distintas, as quais, em algumas manufaturas são executadas por pessoas diferentes, ao passo que, em outras, o mesmo operário às vezes executa 2 ou 3 delas. Ví uma pequena manufatura desse tipo, com apenas 10 empregados, e na qual alguns desses executavam 2 ou 3 operações diferentes. Mas, embora não fossem muito hábeis, e portanto não estivessem particularmente treinados para o uso das máquinas, conseguiam, quando se esforçavam, fabricar em torno de 12 libras de alfinetes por dia. Ora, 1 libra contém mais do que 4 mil alfinetes de tamanho médio. Por conseguinte, essas 10 pesssoas conseguiam produz entre elas mais do que 48 mil alfinetes por dia. Assim, já que cada pessoa conseguia faer 1/10 de 48 mil alfinetes por dia, pode-se considerar que cada uma produzia 4800 alfinetes diariamente. Se, porém, tivessem trabalhado independentemente um do outro, e sem que nenhum deles tivesse sido treinado para esse ramo de atividade, certamente cada um deles não teria conseguido fabricar 20 alfinetes por dia, e talvez nem mesmo 1, ou seja: com certeza não conseguiria produzir 240a parte, e talvez nem mesmo a 4800a parte daquilo que hoje são capazes de produzir, em virtude de uma adequada divisão do trabalho e combinação de suas diferentes operações.
  • 85. Divisão do trabalho na agricultura • A divisão do trabalho é menor na agricultura, pois aqui os diferentes tipos de trabalho estão associados às estações do ano, de modo que é impossível empregar um único homem em cada uma das oportunidades de trabalho na agricultura. • É por isso, argumenta Smith, que as diferenças de produtividade entre nações ricas e pobres são menores na agricultura e maiores na manufatura, onde as possibilidades na especialização de tarefas são muitas.
  • 86. Divisão do trabalho e produtividade • Smith explica por que a pessoa é capaz de realizar mais trabalho com a divisão do trabalho. Enumera três fatores: • A maior destreza alcançada pelo trabalhador especializado, a economia de tempo ao se passar de um trabalho a outro e a invenção de máquinas. • Nem sempre é o trabalhador especializado que propõe inovações nas máquinas que emprega. Também contribuem para as novas invenções o engenho dos fabricantes de máquinas que se utilizam de “filósofos ou pesquisadores, cujo ofício não é fazer as coisas, mas observar cada coisa”.
  • 87. Quem quer que esteja habituado a visitar tais manufaturas deve ter visto muitas vezes máquinas excelentes que eram invenção desses operários, a fim de facilitar e apressar a sua própria tarefa no trabalho. Nas primeiras bombas de incêndio um rapaz estava constantemente entretido em abrir e fechar alternadamente a comunicação existente entre a caldeira e o cilindro, conforme o pistão subia ou descia. Um desses rapazes, que gostava de brincar com seus companheiros, observou que, puxando com um barbante a partir da alavanca da válvula que abria essa comunicação com um outro componente da máquina, a válvula poderia abrir e fechar sem ajuda dele, deixando-o livre para divertir-se com seus colegas. Assim, um dos maiores aperfeiçoamentos introduzidos nessa máquina, desde que ela foi inventada, foi descoberto por um rapaz que queria poupar-se no próprio trabalho.
  • 88. Efeitos benéficos da divisão de trabalho • A divisão do trabalho e o mecanismo de troca nos mercados propiciam, numa sociedade avançada, a abundância geral dos bens. Todos lucram com ela, até mesmo um simples operário que tem mais necessidades atendidas do que “muitos reis da África, que são selhores absolutos das vidas e das liberdades de 10 mil selvagens nus.”
  • 89. A ajuda mútua • Com a divisão do trabalho surge a necessidade de comparação e ajuda de milhares de pessoas. Nem sempre nos damos conta de todos os que contribuíram para que diferentes tipos de bens cheguem em nossas mãos, mas os benefícos são evidentes, argumenta Smith.
  • 90. Divisão de trabalho em Platão • A idéia de que a divisão do trabalho é a chave para o progresso material não era novidade à época de Smith. A República de Platão discute estensivamente os seus benefícios na formação da cidade. No entanto, a explicação de Smith é original em alguns pontos.
  • 91. A origem da divisão do trabalho • No capítulo 2, Smith apresenta os princípios que dão origem à divisão do trabalho. Enquanto para Platão essa divisão é fruto da sabedoria da cidade, ou seja, é um tipo de ideal ético, em Smith ela é um produto não intencional. Não é algo que tenha sido visado por alguém que imaginou previamente uma certa consequência. Smith discute a origem da divisão do trabalho e a associa à propensão humana para as trocas.
  • 92. “Essa divisão do trabalho, da qual derivam tantas vantagens, não é, em sua origem, o efeito de uma sabedoria humana qualquer, que preveria e visaria esta riqueza geral à qual dá origem. Ela é a consequência necessária, embora muito lenta e gradual, de uma certa tendência ou propensão existente na natureza humana que não tem em vista essa utilidade extensa, ou seja: a propensão a intercambiar, permutar ou trocar uma coisa pela outra.”
  • 93. De onde vem a propensão para as troca? • Smith não aprofunda a regressão análitica a fim de se chegar à origem da propensão para as trocas, mas considera provável que ela seja uma conseqüência das faculdades de raciocinar e falar.
  • 94. O papel do auto-interesse: a origem da ajuda dos outros... • Platão e Smith concordam no ponto de que com a divisão do trabalho cada indivíduo passa a necessitar do trabalho do outro. Smith argumenta que a necessidade de ajuda dos semelhantes não vem da benevolência alheia... “Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelo seu próprio interesse. Dirigimo-nos não à sua humanidade, mas à sua auto-estima, e nunca lhes falamos das nossas próprias necessidades, mas das vantagens que advirão para eles.”
  • 95. Auto-interesse • A passagem é bastante explícita em apontar que nas trocas de mercado os homens visam o seu auto-interesse. • A existência de uma mercado para as trocas é um requisito para a divisão do trabalho, pois os homens só se especializam naquilo que fazem melhor sabendo que poderão trocar o excedente da produção.
  • 96. Pessoas naturalmente iguais • Platão acredita que os indíviduos possuem desde o nascimento diferentes aptidões e que cada um se entrega ao trabalho que atende melhor essas aptidões. Então a diferença entre as pessoas está na base da divisão do trabalho. • Smith discorda radicalmente desta visão. Para ele, as pessoas não são naturalmente diferentes, é a propensão para a troca que, ao longo do tempo, acentua as diferenças. Já os animais são bastante diferenciados entre si, e no entanto não podem usufruir dessas diferenças.
  • 97. Fatores limitativos para a divisão do trabalho • Smith identifica no capítulo 3 fatores limitativos para a divisão do trabalho. • Como esta depende da possibilidade de se trocar o excedente da produção, o tamanho do mercado aparece como um impedimento para a extensão da divisão do trabalho. É por isso que no campo, exemplifica Smith, o carpinteiro é também marceneiro, o ferreiro ainda faz pregos etc.
  • 98. • Meios de transporte adequados e baratos facilitam a divisão do trabalho. • Onde os transportes foram facilitados por condições geográficas, tais como rios navegáveis e acesso ao mar, surgiram as grandes civilizações. • De fato, os povos do mediterrâneo beneficiaram-se de facilidades de navegação. O progresso e aprimoramente do Egito muito se deve à navegação interna do Nilo. Bengala, na Índia, conta com o rio Ganges. • Pontos remotos do interior e regiões que não oferecem facilidades de transporte, como no interior da África e norte da Ásia, não possibilitam comércio internacional e seus povos permanecem em estado de barbárie.
  • 99. A origem e o uso do dinheiro • O capítulo 4 apresenta uma breve história sobre “a origem e o uso do dinheiro”. • A parte principal do capítulo reconstitue, por meio de uma história analítica, como o dinheiro veio a se tornar o instrumento universal do comércio. • Na parte final do capítulo, discute o “paradoxo do valor”.
  • 100. Todos são comerciantes • Smith começa apontando que com a divisão do trabalho a maioria das pessoas conta com as trocas de mercado para satisfazer a muitas de suas necessidades. • Assim é como se todos fossem comerciantes, caracterizando a moderna sociedade comercial (Smith não emprega o termo “capitalista”).
  • 101. Materiais usados como dinheiro • De início, antes da disseminação do dinherio, havia grandes problemas para efetivar as trocas, pois, só há troca se houver coincidência de necessidades e de interesses. Buscou-se então possuir uma mercadoria amplamente aceita, além da mercadoria produzida pelo próprio indivíduo em questão, historicamente temos o gado, sal, açúcar, peles, couros e até pregos (como de uma observação no interior da Escócia) como sendo a mercadoria dinheiro.
  • 102. Origem da moeda metálica • Aos poucos, a função de instrumento de troca acabou se fixando nos metais, que são imperecíveis e subdivisíveis. Ferro, cobre, ouro e prata, descreve Smith, serviram cronologicamente como dinheiro. • De início o metal era ofertado em barras brutas. Dado o incoveniente da pesagem e da verificação da autenticidade, optou-se pelo dinheiro cunhado ou moeda com gravação cobrindo os dois lados da peça e as laterais, de modo a garantir o peso e o teor metálico da moeda.
  • 103. O nome da moeda • O próprio nome da moeda, de início, expressava peso ou quantidade de metal, como a libra inglês: libra é medida de peso também. Smith conta que alguns reis diminuiam propocitalmente a quantidade de metal na moeda, em prejuízo dos credores e ganhos dos devedores. • Em suma, é esta pequena história do dinheiro que nos conta Smith.
  • 104. Quais as normas que as pessoas observam ao trocar suas mercadorias por dinheiro ou por outras mercadorias? • Smith está a discutir as regras que determinam o valor relativo ou valor de troca dos bens. Nota ele que a palavra valor possui dois significados: a utilidade de um determinado objeto, ou seja, o valor de uso, e o poder de compra que o referido objeto possui, o valor de troca.
  • 105. O paradoxo do valor • Observa Smith que, em geral, objetos com elevado valor de uso possuem baixo valor de troca e vice- versa, cita o caso da água e do diamante. • Após contrapor os conceitos desta maneira, Smith diz que a preocupação da Economia Política deve recair no valor de troca, e antecipa a preocupação dos capítulos adiante que será a de investigar os princípios que regulam o valor de troca.
  • 106. Duas questões básicas • Qual a medida real do valor de troca, ou seja, no que consiste o preço real de uma mercadoria? • Quais as partes ou componentes que constituem o preço real das coisas? • O preço que realmente o objeto vale é o seu preço natural. • Os preços que se verificam nas vicissitudes dos mercados são os preços de mercado, que no longo prazo se aproximam do preço natural.
  • 107. Observações • Não é muito comprensível qual a utilidade de se contrapor os conceitos de valor de uso e valor de troca. São coisas diferentes, por certo, mas não decorre que estejam em posição paradoxal. • A relação entre esses dois conceitos requer a análise marginalista que não estava ao alcance da época.
  • 108. • O fato do bem possuir alto valor de uso e baixo valor de troca não deve ser moralmente condenado. Mas o tom de Smith passa esta impressão. • Smith deixa claro que o que ele procura não é exatamente o fundamento analítico do valor, mas apenas uma forma de medi-lo. • O uso da palavra natural para os preços é um modismo da época em que a expressão natural vinha carregada de conteúdos normativos.
  • 109. Princípios newtonianos na obra de Smith • A Riqueza das Nações procurou seguir os passos metodológicos dos Princípios de Newton. • A idéia de se identificar princípios fundamentais subjacentes ao fenômeno e de tentar reconstituir uma ordem por trás da aparência caótica, de modo a mostrar como os elementos são coordenados por esses princípios, é típico do método de Newton.
  • 110. • A Riqueza das Nações identifica certos princípios básicos, tais como a propensão para as trocas, a divisão do trabalho e o auto- interesse (observada a moral e os costumes), e a partir deles articula um esquema explicativo que mostra o jogo aparente dos fatos como decorrência lógica da aplicação destes princípios.