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A Vida de Jesus
Do Nascimento ao Sermão do Monte
Leandro Lima
Sérgio Lima
Volume 1
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É proibido qualquer reprodução, cópia ou
compartilhamento, total ou parcial deste livro.
A Vida de Jesus
Do Nascimento ao Sermão do Monte
LEANDRO LIMA
SÉRGIO LIMA
© Leandro Lima  Sérgio Lima
Projeto gráfico
Vanessa Sousa
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)
L732c Lima, Leandro Antonio de, 1975-
Lima, Sérgio Paulo de, 1970-
AVida de Jesus - Do Nascimento ao Sermão do Monte. -
São Paulo : Agathos, 2014.
v.1.
ISBN: 978-85-99704-18-9
1. CRISTIANISMO. 2. JESUS CRISTO. 3. NOVOTESTAMENTO. 4. AVIDA DE JESUS
5. BÍBLIA - COMENTÁRIOS. 9. BÍBLIA - CITAÇÕES.
ASPECTOS RELIGIOSOS. I.Título.
PeR – BPE 12-002 CDU261
CDD 261.22
2014
Todos os direitos reservados e protegi-
dos pela Lei 9.610 de 19/02/1998.
Agathos Editora
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A vida de Jesus
Do Nascimento ao Sermão do Monte
LEANDRO LIMA
SÉRGIO LIMA
Volume 1
1ª Edição
2014
SUMÁRIO
Volume 1
1 JESUSCRISTO,OCENTRO 9
2 O ANUNCIADO 16
3 A CHEGADA IMINENTE DO MESSIAS 23
4 FILHOS NOVENTRE, CUMPRIMENTOS A CAMINHO 30
5 ELE ESTÁ ENTRE NÓS 37
6 GLÓRIA E MAJESTADE NA MANJEDOURA 44
7 NA CASA DO PAI 51
8 O MENINO MESTRE 58
9 A DIGNIDADE DO TESTEMUNHO 65
10 ATRINDADE NA CONSAGRAÇÃO DO MESSIAS 72
11 TENTAÇÃO: OTESTE INICIAL DO MINISTÉRIO 79
12 SALVAÇÃO - UMTESOURO PARA COMPARTILHAR 87
13 O PRIMEIRO MILAGRE - SINAL DE SUA AUTORIDADE 94
14 ZELO PELA CASA DE DEUS 101
15 ENSINO, PREGAÇÃO E “TERAPIA” 108
16 SERMÃO DO MONTE: LEI DO CORAÇÃO 115
17 AVERDADEIRA FELICIDADE 122
JESUS CRISTO O CENTRO 9
INTRODUÇÃO
Foi anunciado, mas ao chegar não foi
reconhecido. Era esperado, mas causou
imensa surpresa. Era ouvido, mas
nem sempre compreendido. Causava
preocupações, reconsiderações, temores,
e ao mesmo tempo, esperança e alegria.
“Quem dizeis que eu sou?”, perguntou
certa vez. Simplesmente, o Filho do
Deus vivo, disse Pedro. Sim! Deus se
fez homem e habitou entre nós. Não é
mais um fato corriqueiro da sofrida vida
humana. É a plenitude dos tempos com
o melhor presente. A régua, o prumo que
mediria o mundo estava entre nós. A vida
humana amaria a ele conformando-se à
sua pessoa e obra, ou o odiaria com todas
as suas forças.
EleéJesusCristo!Umimpactoinigualável
nahistóriadomundo.Maisdoquedividir
o próprio tempo em antes e depois de
Cristo, Jesus veio para estabelecer um
tempo realmente novo. Uma nova era de
acesso a Deus e comunhão com ele.
Os seus ensinos vieram das Escrituras
existentes até o momento, foram vividos
pelos que o acompanharam, o seu
exemplo foi assimilado e as suas novas
instruções foram registradas por seus
discípulos. Um mestre em Israel, que
abençoaria o mundo. Luz para os povos!
Ele é o caminho, a verdade, a vida, a água,
o pão, a porta, o pastor. Existe um pastor
paraasovelhasperdidasdaCasadeIsrael!
Não continuarão perdidas! As que lhe
pertencem o ouvirão e o seguirão por fé.
I. O TEMPO DE DEUS (PLENITUDE)
Deus sempre amou ao mundo. Moisés
registra que na criação, a cada novidade,
a cada novo dia, Deus expressava sua
satisfação com a frase: Tudo era bom!
(Gn 1.10, 12, 18, 25).
A queda, porém, trouxe consigo uma
dura pena ao homem. Expulso do jardim,
JESUS CRISTO,
O CENTRO
Gálatas 4.1-7
1
10 A VIDA DE JESUS
o homem teria dificuldade em buscar ao
Senhor, conviver com o seu semelhante e
administrar a natureza.
Quanto tempo isso duraria? Alguns
milênios. Mas Deus sempre amou ao
mundo, e nunca retrocedeu no seu
propósito de redimir o homem do seus
pecados. Haveria um dia em que a relação
comDeusseriarestaurada,arelaçãoentre
semelhantes seria uma possibilidade e
a administração da natureza seria um
propósito almejado por seus filhos.
O apóstolo Paulo escreveu aos Gálatas:
“vindo, porém, a plenitude do tempo,
Deus enviou seu Filho, nascido de
mulher, nascido sob a lei, para resgatar
os que estavam sob a lei, a fim de que
recebêssemos a adoção de filhos” (Gl
4.4-5). Os antigos contavam o tempo
como um recipiente onde iam gotejando
os minutos, horas, dias, semanas, meses
e anos. Na perspectiva do Apóstolo
Paulo, era como se esse recipiente tivesse
finalmente se enchido. Quando esse
tempo se “encheu” Deus enviou seu
Filho. Ele esperou o tempo do mundo,
literalmente o “chronos” se encher.
Todavia, Deus não esperou que o último
grão de areia caísse no recipiente do
tempo de braços cruzados, ele agiu
efetivamente a fim de preparar o mundo
para o nascimento de seu Filho.
Homens como tipificações do Messias
foram conhecidos desde a antiguidade.
Abraão, Isaque, Jacó, José, Moisés, Josué,
Davi, e alguns outros, lembravam o
povo acerca do Deus que tinham, e da
sua relação com ele. A Lei determinava
limites. Os profetas não se cansavam
de propagar a centralidade de Deus.
Os heróis da fé viveram e morreram na
certeza de que Deus orquestrava um
plano redentivo para o seu povo.
Deus preparou o mundo através dos
séculos, para o nascimento de Jesus.
Não poderia ser diferente, a maior e
mais definitiva intervenção de Deus
na história do mundo não poderia
acontecer de qualquer jeito. Deus
preparou cuidadosamente o mundo
para o nascimento de seu Filho, a fim
de que ele pudesse realizar a obra para a
qual veio. No contexto da afirmação de
Paulo aos Gálatas sobre a plenitude do
tempo destaca-se o papel realizado pela
Lei. Acima de tudo, essa foi a grande
preparação de Deus nesse mundo.
Séculos antes de enviar seu Filho, Deus
enviou sua Lei. A Lei ajudou a preparar o
mundo para que Jesus nascesse.
Portanto, a Plenitude dos Tempos se
refere ao tempo quando Deus, em sua
soberania, terminou os preparativos para
executar o plano da Redenção. A Lei já
havia cumprido seu propósito de mostrar
ao homem seu estado de completa
inaptidão para servir a Deus, e o próprio
Deus já havia largamente indicado que a
formadesalvaçãoerapeloderramamento
de sangue, conforme o sistema de
sacrifíciovigentenotemplodemonstrava.
Além disso, sabe-se que Israel desejava
ardentemente a vinda do Messias. Deus
se incumbiu de deixar pistas no Antigo
Testamento sobre a vinda de um homem
que libertaria o povo e o levaria a uma era
de paz e prosperidade. Sem essa crença,
a vinda de Jesus não teria tido o mesmo
JESUS CRISTO O CENTRO 11
impacto.
O ato de enviar o seu filho foi a maior
demonstração do amor de Deus. A conta
eraimpagável,opreçoeradesangue.Jesus
derramou o seu sangue pelos homens. A
cruz foi o local do martírio do filho de
Deus e da redenção dos filhos de Deus.
II. O FILHO DE DEUS (REDENTOR)
No começo do seu ministério, foi
considerado alguém muito inteligente,
que despertava atenção por sua alta
concentração nas coisas de Deus. Mas
isso, outros também fizeram. Poderia ser
mais um mestre em Israel, mesmo sem
passar pela escola clássica? Sempre houve
alguémsobreaterraquepregava,ensinava
e testemunhava a respeito de Deus. No
entanto, quando ele afirmou que era o
FilhoprometidodeDeus,quefaziaaobra
do seu pai, e que era o salvador, dividiu as
águas. Amar e odiar, seguir e perseguir,
glorificar e profanar tornaram-se práticas
antagônicas resultantes da interpretação
de quem ele era.
Não existe personagem mais debatido
em toda a história do mundo do que
Jesus, o carpinteiro de Nazaré. Ninguém
é como Ele, amado ou odiado, adorado
ou profanado. Uma coisa é certa, ele
mexe com todos. O curioso é que,
enquanto os mais eruditos e capacitados
pesquisadores se calam ou falam demais
perante o mistério de sua pessoa, pessoas
simples têm a coragem de dizer que o
conhecem e que ele é o Filho de Deus.
Até aos dias de hoje repercute a questão
que Jesus levantou para seus discípulos:
“quem dizeis que eu sou?” (Mt 16.15).
A. O Filho eterno é a solução para o
problema do mal
A iniquidade não tem limites. O homem
em seu estado decaído pratica o mal,
e se especializa em fazer sempre o
que é errado porque o seu coração é
desesperadamente corrupto. Somente
uma intervenção externa poderia alterar
uma essência terrivelmente dominada
pelo pecado desde a queda. O estado
espiritual do homem é degenerativo,
autodestrutivo e contaminante. Não há
nenhum ser humano saudável, nesse
sentido (Rm 3.23).
Para a Escritura, não resta dúvida, Jesus
é o Filho de Deus, o único possível
interventor. Paulo diz: “na Plenitude dos
tempos, Deus enviou seu Filho”. Como
nenhum outro, Jesus recebe na Escritura
o título de “Filho”. Ele veio a esse mundo
porque foi enviado. Isso significa que
veio com uma missão: resolver o estado
caótico em que se encontra o mundo.
Com a entrada do pecado, o mundo se
tornou “território” de Satanás. O homem
corrompido pelo pecado, destituído
de qualquer capacidade de mudar sua
situação, marcha para a autodestruição
numa vida de separação de Deus.
A vinda de Jesus é a grande intervenção
de Deus na história a fim de recuperar o
território perdido, e reconduzir o mundo
ao propósito original. Paulo escreveu:
“Digo, pois, que, durante o tempo em que
o herdeiro é menor, em nada difere de
escravo, posto que é ele senhor de tudo.
Mas está sob tutores e curadores até ao
tempo predeterminado pelo pai. Assim,
12 A VIDA DE JESUS
também nós, quando éramos menores,
estávamos servilmente sujeitos aos
rudimentos do mundo” (Gl 4.1-3). Paulo
está fazendo uma comparação do homem
antes da vinda de Jesus com o filho
herdeiro antes de assumir a herança: não
são superiores a escravos. O que Paulo
está dizendo é que antes da manifestação
de Cristo, os homens eram escravos dos
“rudimentos do mundo”.
Comentando o texto de Gálatas, uma
excelente interpretação da expressão
“rudimentos do mundo” nos é dada
por Hendriksen: “ensinos elementares
acerca de regras e ordenanças, pelos
quais, antes da vinda de Cristo, os
indivíduos, tanto judeus como gentios,
cada um à sua maneira, buscavam por
seu próprio esforço alcançar, e segundo
a disposição de sua própria natureza
carnal, sua salvação”1
. Ele é a solução para
o problema do mal. Ele é o libertador
dos escravos, que agora se tornam filhos,
tendo sua condição alterada totalmente e
definitivamente.
B. O Filho eterno se torna o menino de
Belém
Existente antes da concepção, desde os
primeiros marcos do mundo, estava com
o Pai. A Glória era sua honra, o mundo
foracriadoparaele.Otempocronológico,
que não consegue dimensionar a sua
existência, por lhe faltar recursos, o terá
por trinta e três anos. Uma das coisas que
essa expressão “Deus enviou seu Filho”
representa é a própria pré-existência
do Filho. Ele abriu mão da sua glória, e
semelhante a um homem, se esvaziou, e
servo se tornou, tornando-se obediente
até a morte, e morte de cruz.
Pré-existente, enviado, nascido de
mulher, filho de homem e filho de Deus,
anunciador, professor, pastor, acusado,
condenado, morto.
O tempo da vida de Jesus na terra
representou o que houve de mais
completo na existência. Nada do que
aconteceu antes, mesmo quando
os grandes impérios surgiram e
desapareceram, mudou a monotonia do
tempo como quando os pequenos grãos
de areia caíram um a um até os tempos
ficarem plenos. A vinda do Filho de
Deus tornou aqueles dias plenos, como
disse Pohl “os anos 1 a 30 foram, nesse
sentido, tempo pleno, mais que cheio,
porque alimentaram de sentido toda a
história da revelação antes e depois deles
e, assim, a história propriamente dita”2
. O
tempo que Jesus esteve aqui foi a grande
intervenção de Deus na história. Aqueles
dias tornam o resto da história cheia de
sentido e expectativa.
Quando nasceu, o colocaram em uma
manjedoura. Um recipiente de madeira,
provavelmente.DamanjedouraemBelém
para a cruz de madeira dos malditos em
Jerusalém, este foi o seu percurso, do
nascimento à morte. Mas a tão temida
morte não o deteve, e o viu tornar-se o
primogênito entre os homens. Deus o
ressuscitou e o exaltou e lhe deu o nome
que é sobre todo o nome tanto no céu
quanto na terra. A glória e a eternidade
são o seu destino.
1
William Hendriksen.
Gálatas. São Paulo:
Cultura Cristã, 1999,
p. 228.
2
Adolf Pohl. Carta aos
Gálatas. Curitiba: Editora
Esperança, 1999. p. 143.
JESUS CRISTO O CENTRO 13
3
João Calvino. Gálatas.
São Paulo: Editora
Paracletos, 1998. p. 123
(Com. Gl 4.4)
C. O Filho eterno se torna homem entre
os homens.
Não era aparência de homem. Era
homem mesmo, sujeito às fragilidades
da raça humana. Menino, adolescente,
jovem e adulto. Feliz, triste, cansado e
animado. Jesus veio a esse mundo realizar
a missão de salvar o homem tornando-
se ele próprio um homem. Também isso
estava no plano de Deus. Paulo aponta
para isso com a expressão “nascido de
mulher”. Essa expressão por sua vez nos
aponta para o maior mistério dessa vida.
Por séculos os teólogos têm debatido em
cima do mistério cristológico e não têm
conseguido entender suficientemente a
essência desse Deus que se fez homem.
Essa porém, é a essência do cristianismo:
Deus adentrou ao tempo e se fez um
de nós. Ao vir para esse mundo, Jesus
entrou pela porta comum pela qual todos
entram, nascendo da mulher.
João Calvino diz que Jesus “se vestiu de
nossa natureza”3
. Isso é uma repercussão
do autor do quarto evangelho que
disse: “e o verbo se fez carne”. Tudo
isso nos aponta para a real e específica
encarnação de Cristo, o maior de todos
os mistérios da teologia. Ele não apenas
pareceu um homem, ele foi um homem
de fato em todos os sentidos. Tanto
sua divindade quanto sua humanidade
eram absolutamente necessárias para a
obra que precisava realizar. Era Deus e
homem, pleno homem e pleno Deus.
Duas naturezas em uma só pessoa. Deus e
homem, sem confusão, sem mistura. Mas
nãoduaspessoasnumser.Umsóser,uma
só pessoa, duas naturezas perfeitamente
unidas, para que o supremo propósito de
Deus se cumprisse. Unir sem misturar a
criatura ao seu criador.
D. O Filho eterno redime os filhos adotivos
de Deus
QualéaprincipalmissãodoFilhoEterno?
De acordo com Paulo a grande missão do
FilhoqueveionaPlenitudedostemposfoi
“resgatar os que estavam sob a lei, a fim de
que recebêssemos a adoção de filhos” (Gl
4.5). Ele expressa o benefício concedido
de uma forma negativa: “resgate”, e outra
positiva: “adoção”. O resgate da Lei dos
rudimentos do mundo que escravizava
o homem aconteceu porque “Cristo nos
resgatou da maldição da lei, fazendo-
se ele próprio maldito em nosso lugar,
porque está escrito: maldito todo aquele
que for pendurado em madeiro” (Gl
3.13). A maldição que Cristo assumiu foi
o pagamento do resgate da tutela da lei.
Ao mesmo tempo que fomos livrados
da escravidão por esse ato de Cristo,
também fomos elevados à categoria de
filhos por adoção. Tanto o resgate de
escravos como a adoção de filhos são
aspectos legais comuns no tempo do
Apóstolo Paulo. O que a adoção sugere
é exatamente a maioridade do cristão,
que em Jesus, deixa de ser escravo sob os
rudimentos do mundo e passa a desfrutar
da verdadeira liberdade do filho em todos
os seus direitos.
Enviando Jesus ao mundo, Deus não só
resgatou o homem da escravidão da lei e
do mundo, elevou o homem a categoria
de filho, como deu plena garantia disso
enviando o Espírito Santo. Paulo diz: “E,
porque vós sois filhos, enviou Deus ao
nosso coração o Espírito de seu Filho,
14 A VIDA DE JESUS
que clama: Aba, Pai! De sorte que já não
és escravo, porém filho; e, sendo filho,
também herdeiro por Deus” (Gl 4.6-7).
A certidão de nascimento do filho de
Deus é o Espírito Santo que habita seu
interior e que clama: “Aba, Pai”, uma
expressão íntima de um filho para seu pai.
O Espírito Santo, também chamado por
Paulo de “penhor da nossa herança” (Ef
1.14) é a garantia de que somos herdeiros
de Deus e que certamente receberemos
essa herança.
CONCLUSÃO
Nunca houve e nem haverá outro como
Jesus, o Cristo, que nasceu, viveu,
morreu e ressuscitou no primeiro século.
Impactou e dividiu a história. Colocou-
se no meio de dois testamentos, e gerou
uma nova contagem cronológica para
os calendários do mundo. Colocou-se
no meio de dois mundos, o divino e o
humano, e possibilitou a união desses
dois lugares separados por causa do
pecado.
Toda uma civilização foi construída sobre
as bases do cristianismo. Os melhores
conceitos de adoração a Deus, de amor
ao próximo e de convivência pacífica com
a existência se devem a Ele. A civilização
ocidental, que tem estado na vanguarda
do mundo desde o estabelecimento do
cristianismo, deve sua própria origem
ao cristianismo de Jesus. O mundo tem
uma dívida impagável com o homem de
Nazaré.
Dá para imaginar um budismo sem Buda
e até um islamismo sem Maomé, e muitas
outras religiões também passariam
bem sem seus fundadores, pois não
dependem deles e sim dos ensinos deles.
O cristianismo, porém, não existe sem
Cristo. De fato, “seria mais fácil separar
todos os raios de luz que atravessam o
espaço e deles remover uma das cores
primárias, do que retirar do mundo o
caráter de Jesus”4
. As vezes as pessoas se
dizem cristãs porque fazem certas obras
ou têm certos comportamentos, mas isso
é um equívoco, ninguém é cristão por
algo que faz e sim por sua postura em
relação a Cristo. Não somos salvos pelos
ensinos de Jesus somos salvos por Jesus.
O Cristianismo é Jesus.
APLICAÇÃO
Jesus perguntou: Quem dizeis que eu sou
(Mateus 16.13-20)? Oqueele épara nós?
João escreveu que a vinda do Filho foi
uma prova de amor de Deus por nós
(João 3.16). Amamos por que ele nos
amou primeiro?
A vinda de Jesus na plenitude dos tempos
impactou a existência (João 1). Qual é o
impacto da vinda de Jesus sobre sua vida?
4
E. H. Bancroft. Teologia
Elementar. São Paulo:
Editora Batista Regular,
1966. p. 97
15
Anotações
16 A VIDA DE JESUS
O ANUNCIADO
Mateus 1.1-17
2
INTRODUÇÃO
Houve um momento no jardim do Éden,
um instante forense, em que o Senhor
Deus estabeleceu um veredicto judicial
sobre Adão, por conta da desobediência
e anunciou suas consequências (Gn
3.14,15). Entendemos que foi um
instante crucial1
, no melhor sentido da
palavra. Parecia não haver solução para a
situação do homem. E, de fato, o homem
não solucionaria o seu problema por sua
própria condição. Condenado, restava
cumprir sua pena. Dali em diante, imerso
no pecado, o homem apenas geraria os
pecadores para sempre. Neste momento,
o redentor foi anunciado pela primeira
vez.
Então, ele foi anunciado no jardim do
Éden (Gn 3.14,15), e continuou a ser
anunciado no monte Moriá quando
Abraão sacrificaria o seu filho (Gn
12.1-14), no cordeiro pascal quando
os israelitas comemoraram a primeira
páscoa (Ex 12.1-28), no Maná que caía
do céu como pão (Ex 16.1-4), na água da
rocha quando o povo andava pelo deserto
(Nm 20.1-11), através dos profetas que
sempre disseram que o redentor viria (Is
11.1-6), e muitas outras vezes.
Na plenitude dos tempos, o sempre
anunciado Messias viria...
I. O DIREITO DE JESUS AO TRONO
DAVÍDICO
Do tronco de Jessé nasceria um renovo,
um rebento... (Is 11.1). A casa davídica
permaneceria para sempre. Mas como
isso seria possível uma vez que o povo
de Deus era frágil? Um povo assim entre
tantos povos mais poderosos conseguiria
tal feito? Sustentaria a propriedade?
Protegeria as suas fronteiras?
Em Mateus 1.1-17 vemos a linhagem
do Messias sendo preservada. A palavra
Cristo tem origem no termo hebraico
mashiac, ou seja, Messias, que significa
ungido. No Antigo Testamento usava-
1
Crucial vem de “cruz”.
O ANUNCIADO 17
se óleo para ungir alguém chamado
por Deus para um ofício (1Sm 16.13),
contudo, no tempo de Jesus, Messias
trazia a conotação de Rei.
De onde viria o rei prometido? Os
israelitas davam muita importância às
genealogias porque para eles era uma
questão vital. Quando o povo entrou
em Canaã, a terra foi dividida entre as
tribos, de maneira que era preciso saber
exatamente a que ascendência uma
determinada pessoa pertencia para saber
qual pedaço de terra herdaria (Nm 26.34-
35).
Com certeza, a principal razão pela qual
tanto Mateus quanto Lucas fizeram
questão de colocar a genealogia de Jesus
em seus Evangelhos foi para provar que
Jesus era um legítimo descendente de
Davi e, consequentemente, um herdeiro
do Trono de Israel. A diferença básica
entre os dois evangelistas é que Mateus
segue a ascendência de José que era
tido como pai de Jesus e Lucas segue a
ascendência de Maria. Fosse por José,
fosse por Maria, Jesus era igualmente
descendentedeDavi.Mateus,queescreve
para os judeus, faz questão de demonstrar
a genealogia de Jesus a partir de Abraão.
Lucas, que escreve para gentios, vai mais
atrás até o próprio Adão, originador de
toda a raça humana.
A descendência davídica de Jesus Cristo
era muito importante, pois Deus havia
prometido a Davi que o descendente dele
se assentaria no Trono de Israel (2Sm
7.12-17). Em seu ministério, Jesus sofreu
várias acusações sobre sua origem. O
povo ignorava sua ascendência davídica.
Era de domínio popular a informação de
que o Messias nasceria em Belém e seria
descendente de Davi (Jo 7.41-42), e
todos pensavam que Jesus era da Galileia.
Os Evangelhos escritos corrigiram essa
noção errônea (Mq 5.2).
Como afirma John MacArthur Jr. “é
igualmente interessante e significante
que desde a destruição do Templo em 70
d.C. não existam genealogias que possam
traçar a ascendência de algum judeu
que vive nos dias de hoje. O significado
primário deste fato é que, para aqueles
judeus que esperam pelo Messias, sua
linhagem até Davi nunca poderá ser
estabelecida. Jesus Cristo é o último
pretendente ao trono de Davi que pode
ser verificado”2
.
Todos os registros dos judeus que
esperavam um sucessor de Davi
apontaram para Cristo, e nunca mais
houve registros que apontem para outro
redentor. Ou é Cristo, ou nenhum. Este
é o dilema judeu, negar os seus próprios
registros e as suas próprias expectativas
messiânicas, rasgando assim, milhares
de anos de história, ou reconhecer Jesus
como Messias.
II. OS HONRADOS PELO REGISTRO
SAGRADO
Quando olhamos para a extensa lista de
nomes descrita na genealogia de Jesus
alguns são absolutamente estranhos
para nós. E de fato, alguns nomes
somente aparecem aqui na Bíblia. Não
temos qualquer informação adicional
sobre eles, mas percebemos que Deus é
suficientemente justo e misericordioso
2
John F. MacArthur.
Mathew - The MacAr-
thur New Testament
Commentary. Chicago:
Moody Press, 1983.
Mt 1.1.
18 A VIDA DE JESUS
para não deixar ninguém esquecido.
A. Abraão e Davi
Precisaríamos muito tempo para falar
desses dois homens de Deus, que estão
entre os personagens bíblicos mais
importantes de todos os tempos. O que
eles têm em comum é a fé inabalável nas
promessas de Deus. A ambos Deus fez
promessas. Abraão foi chamado de Ur
dos caldeus para ser uma bênção para
todas as famílias da terra (Gn 12.1-3).
Sua descendência seria numerosa como
as estrelas do céu (Ex 32.13). Abraão é
chamadopeloNovoTestamentodeo“pai
de todos os que creem” (Rm 4.11). Jesus
é o descendente de Abraão que abençoa
todas as famílias da terra e que torna a
descendência de Abraão numerosa como
as estrelas do céu ou como a areia do
mar. De Davi, como já dissemos, Deus
disse que seu descendente se assentaria
para sempre no seu trono. Jesus é o
descendente de Davi, o legítimo herdeiro
de seu Trono.
B. As mulheres
Significativamente na ascendência de
Jesus, citam-se várias mulheres. Mais do
que a lógica, porque sem elas ninguém
nasceria, há a intenção de honrar quem
deve ser honrado. A começar por
Maria, a mãe de Jesus. Maria era uma
jovem e desconhecida mulher que foi
agraciada por Deus para uma tarefa
sem precedentes. Como Abraão e Davi,
Maria também era pecadora e precisava
de salvação. Por isso ela mesma disse: “o
meu espírito se alegrou em Deus, meu
salvador” (Lc 1.47).
Mais quatro mulheres são citadas na
lista: Tamar, Raabe, Rute e Bateseba
(essa última não é citada pelo nome). As
três primeiras têm algo em comum: são
estrangeiras. E Bateseba, antes de Davi,
era mulher de outro homem.
Tamar era canaanita e nora de Judá.
Sua história é contada em Gênesis 38.
O marido de Tamar chamava-se Er. Ele
morreu sem deixar filhos. No costume
da época, o irmão mais moço deveria
suscitar a descendência do irmão morto.
Assim, Onã, irmão de Er se casou com
Tamar, mas se recusou a engravidá-la,
consciente de que o primeiro filho seria
legalmente descendente de Er. Punido
por Deus, Onã morreu. Judá prometeu a
Tamar o filho caçula, mas não cumpriu a
promessa. Um dia Tamar se disfarçou de
prostituta e se deitou com o próprio Judá.
Tendo engravidado, Judá ordenou que
fosse morta, foi quando ela provou que
estava grávida dele. Dessa ilícita união
nasceram Perez e Zera. Perez entrou na
linhagem do Messias.
Raabe é a próxima citada na genealogia.
Era estrangeira, habitante de Jericó e
prostituta de profissão. Seu grande feito
foi proteger dois israelitas enviados por
Josué para espiar a terra (Js 2.1-21). Por
causa disso foi poupada quando Jericó
foi destruída (Js 6.22-25). Ela se tornou
esposa de Salmom e mãe de Boaz, que foi
avô de Davi.
Rute, a moabita, é a terceira mulher
citada na lista. Foi a mulher que se
casou com Boaz, e portanto, acabou
sendo nora de Raabe. Mas, antes disso
foi nora de Noemi, e permaneceu junto
O ANUNCIADO 19
dessa, mesmo quando o marido, filho de
Noemi, morreu. Voltou junto para Israel
com Noemi, tendo aceitado o Senhor
como seu Deus. Foi avó de Davi, o grande
rei de Israel.
Bateseba é identificada na lista como a
mãe de Salomão, e antes fora mulher de
Urias.Davicometeuadultériocomela,ea
criança que resultou do adultério morreu.
Salomão, entretanto, foi o sucessor de
Davi no trono e continuou a linhagem
messiânica (2 Sm. 11:1-27; 12:14, 24).
O que essas quatro mulheres têm em
comum é que, aos olhos humanos,
não seriam consideradas dignas, nem
muito honradas. Entretanto, Deus
as incluiu na linhagem de seu Filho.
Isso nos mostra como Deus tem seus
“caminhos secretos”, realiza o improvável
e escolhe o inesperado. A graça de Deus
é o que se destaca acima de tudo nessas
escolhas. De fato Jesus veio buscar
pecadores ao arrependimento (Mt
9.13), pois pecadores foram tanto seus
“descendentes” quanto seus ascendentes.
III. OS DIFERENTES PERÍODOS
Ao todo Mateus lista três grupos de
ancestrais de Jesus (Mt 1.17). O objetivo
de Mateus ao dividir as gerações dessa
forma é demonstrar que a graça de Deus
esteve presente em três épocas bem
distintas da nação.
A. O Tempo das Peregrinações
O tempo de Abraão até Davi incluiu o
tempo dos Patriarcas, de Moisés, Josué e
dos Juízes. Foi uma longa época em que
o povo de Deus contemplou os grandes
feitosdoSenhorparalibertação.Foinesse
tempo que o povo tomou conhecimento
da Aliança, recebeu a Lei e conquistou a
Terra Prometida.
De um homem, Deus fez para si um
povo, que se multiplicou e se tornou
uma genealogia, uma luz ascendente
entre as nações, com registros históricos
que confirmam a sua trajetória objetiva
de chegar ao melhor lugar da terra. Isso
aconteceu nos tempos de Josué, o povo,
instalado no lugar escolhido, começou a
sua organização política. Eles querem um
rei...
O povo de Deus necessita ter a mesma
organização dos povos? Quais são as suas
leis?
B. O Tempo da Monarquia
De Davi até a deportação para a Babilônia
foi o período em que Israel se manteve
organizado em forma de Reino. O povo
quis um rei em semelhança das nações
ao redor (1Sm 8.5). Foi um tempo de
declínio e apostasia.
Enquanto os reis se alternavam entre
bons e maus, os profetas iniciaram uma
atividade reformatória apontando para
um rei acima dos reis. Deus era o rei
dos reis. Ele sustentava a existência pela
força do seu poder. Este período de
aproximadamente quinhentos anos foi
um tempo para conhecer a disciplina
de Deus, embora a mais dura disciplina
ainda estava por vir.
Apenas quatro reis se destacaram
20 A VIDA DE JESUS
nesse período como defensores da
verdade de Deus: Davi, um homem
segundo o coração de Deus; Josafá,
que compreendeu a necessidade de
um rei sobre si; Ezequias que estreitou
o relacionamento e foi abençoado por
Deus, e Josias, que foi um dos mais jovens
restauradores da ortodoxia perdida.
Era de reis que o povo necessitava? Ou
de voltar-se para o supremo rei, com a
instrução mais segura, e um cuidado
garantido pela Graça? Ao mesmo tempo,
levantando reis fiéis e tementes, Deus
mostrou sua misericórdia e “adiou”
por várias vezes a destruição de Judá e
Jerusalém. Tudo isso fez parte do plano
de trazer o Messias ao mundo.
C. O Tempo do Cativeiro
As catorze gerações que viveram desde
a deportação para Babilônia até Cristo
experimentam a “Era das Trevas” de
Israel. Durante todo esse período, Israel
jamais deixou de ser escravo de potências
estrangeiras.
Templo queimado, muros assolados,
política danificada, famílias destruídas,
sistema religioso avariado. Nações ímpias
comandaram o seu destino, reis foram
humilhadoseopovofoiescravizado.Uma
coisa permanece: o pacto da redenção
através da linhagem messiânica. E mais
do que nunca, o anseio pelo Messias
perdura.
Durante esses três distintos períodos
da história de Israel, Deus continuou
agindo ininterruptamente a fim de
trazer a salvação ao mundo. Apesar de
toda apostasia e declínio, a linhagem
santa prosseguiu através de heróis como
Davi, ou desconhecidos como Azor. Nas
palavras de MacArthur: “a genealogia de
Jesus é um misto de glória e vergonha,
heroísmo e desgraça, renovação e
obscuridade. Israel levanta, cai, estagna
e finalmente rejeita e crucifica o Messias
que Deus enviou para eles. Mas Deus, em
sua infinita graça, já enviou seu Messias
através deles”3
.
IV. O ÚLTIMO NOME
Como já vimos, muitos nomes citados
na lista nos falam de histórias tristes,
cheias de violência e atos pecaminosos.
Encontramos defeitos em todos os
nomes citados nessa lista. A Bíblia
não é um livro parcial, ela faz questão
de mostrar a realidade sem disfarçar
os defeitos dos personagens como se
fosse um filme de ficção. Homens como
AbraãoquementiusobresuamulherSara
(Gn 12.13), e em outra ocasião tomou a
serva Agar como mulher para “apressar”
a promessa de Deus (Gn 16.1-4). Ou
Arão que construiu os bezerros de ouro
fazendo Israel se desviar (Ex 32.1-4). Ou
Davi que adulterou com Bateseba e foi
responsável pela morte do marido dela
(2Sm 11.1-27). Ou Salomão que deixou
suas mulheres lhe perverterem o coração
e caiu na idolatria (1Rs 11.3-4). Ou Acaz
que foi um rei ímpio, que desviou o povo
do caminho do Senhor e chegou até a
queimar seu próprio filho em sacrifício
segundo as abominações dos povos da
terra (2Rs 16.1-4). Ou Manasses, que
além das abominações de Acaz, chegou
a colocar um poste-ídolo dentro do
Templo do Senhor em Jerusalém (2Cr
3
John F. MacArthur.
Mathew - The MacAr-
thur New Testament
Commentary. Chicago:
Moody Press, 1983. Mt
1.17.
O ANUNCIADO 21
33.1-7). Todos esses figuram na lista e
carregamhistóriasparticularesdevitórias
e derrotas. Mas, ao fim de todos esses
nomes figura o nome do Senhor Jesus
Cristo.
Cristo é a salvação para seu povo não
importa como esse povo vivia antes
de conhecê-lo. Ao mesmo tempo, a
pecaminosidade desses homens (e a
nossa) tornou necessária a vinda do
Senhor. Num sentido podemos dizer que
Cristo termina uma lista e começa outra.
Ele termina a lista dos pecadores da terra
e inicia a dos pecadores regenerados e
arrolados no céu.
CONCLUSÃO
AoestudarmosavidadeJesus,precisamos
nos deter nos Evangelhos escritos
(Mateus, Marcos, Lucas e João). Eles
são nossa fonte. Neles nos deparamos
com a pessoa impressionante de Jesus
de Nazaré. Cada detalhe desses escritos
sagrados é de máxima importância para
nós.
Nas genealogias do Oriente Próximo, as
mulheres geralmente não eram contadas,
mas na genealogia bíblica elas figuram
como parte da história. As cinco contadas
são: Tamar (Gn 38.6-30), Raabe (Js 2),
Rute (Dt 23.3-5), Bateseba (2Sm 11) e
Maria (que cumpriu a promessa de Isaías
7.14 e Gênesis 3.15, conforme Gálatas
4.4).
Pessoas do ocidente não costumam
dar muita importância a Genealogias.
Por essa razão, achamos enfadonho ter
que ler as extensas listas genealógicas
do Antigo Testamento. Mas o Novo
Testamento também começa com uma
lista genealógica: A Genealogia do Filho
de Deus como homem. Ela é de suprema
importância, pois revela a soberania e a
fidelidade de Deus.
Aqueles que costumam “pular” esse
texto até encontrar algum assunto mais
interessante, não fazem ideia do que
estão perdendo ao deixar de considerar a
Genealogia de Jesus Cristo. Se o Espírito
Santo fez questão de que ela estivesse aí
é porque faz sentido e é importante para
nossa vida.
A genealogia, o nascimento, os primeiros
dias, a infância de Jesus nos mostram que
ele era o Messias aguardado. Desde cedo,
Deus o conduziu para ser apresentado
como o rei dos judeus e dos gentios para
todo o sempre.
Ninguém pode ser tão pecador que se
exclua do alcance da graça de Cristo.
APLICAÇÃO
Anunciado no Éden, anunciado no
Monte Moriá, anunciado no cordeiro
Pascal,anunciadonoManá,anunciadona
Rocha,anunciadonaSerpentedeBronze,
anunciado no templo. Anunciado.
O Antigo Testamento afirmou a vinda
do justo servo do Senhor (Is 42.1-9), ele
seriaprofetacomoMoisés(Dt18.18-19),
ministro da ordem de Melquisedeque (Sl
110.4), rei da linhagem de Davi (Is 55.1-
3).
Por mais terríveis que sejam os nossos
22 A VIDA DE JESUS
pecados, eles não fecham o céu para nós.
Nossa vida de pecado acaba em Cristo.
Após Cristo não há mais nomes a serem
citados. Ele é o fim de tudo. É o nosso
destino. Todos nós somos chamados pelo
nome dele. Somos cristãos.
Anotações
CHEGADA IMINENTE DO MESSIAS 23
INTRODUÇÃO
Salvador, Cristo e Senhor. É assim que
ele foi anunciado no Antigo Testamento.
Assim ele foi descrito pelo anjo na
noite do seu nascimento, mostrando
que o Novo Testamento é apenas o
cumprimento de todas as expectativas do
Antigo Testamento. Desde o Éden Deus
fez muitos anúncios sobre o nascimento
de seu Filho (Gn 3.15). Por todo o
Antigo Testamento existem profecias
reveladoras do caráter e da missão do
Messias. Porém, profecias ainda mais
claras, nesse sentido, foram feitas pouco
antes do nascimento de Jesus para Maria,
através de Zacarias e aos pastores na noite
do próprio nascimento. Viva o Rei! Uma
virgem conceberá, uma manjedoura por
trono, pastores como testemunhas, luz
sobre as trevas, o maior acontecimento
do mundo, enquanto o mundo... dorme.
I. ANÚNCIO A MARIA (LC 1.26-38)
O anjo Gabriel aparece na Bíblia muito
antes desse acontecimento, ainda nos
tempos de Daniel, quando foi enviado
para dar resposta a uma oração do
mesmo (Dn 8.16; 9.21). Ele também foi
o responsável pelo anúncio à prima de
Maria chamada Isabel, que igualmente
teria um filho, o qual se chamaria João
Batista. O anúncio para Maria, porém,
sem dúvida foi a maior missão que aquele
anjo já teve.
Quando Gabriel se apresentou, saudou-a
chamando-a de “muito favorecida”, que
também pode ser entendido como “cheia
de graça”, não como fonte de graça para
os outros, mas como beneficiária de
uma graça especial, indicando o alto
privilégio concedido a Maria de ser a
geradora do Filho do próprio Deus, para
o estabelecimento do governo de Deus
sobre toda a terra. O anjo continuou
falando para ela: “Maria, não temas;
A CHEGADA IMINENTE
DO MESSIAS
Lucas 1.26-38; 1.67-79; 2.8-20
3
24 A VIDA DE JESUS
porque achaste graça diante de Deus. Eis
que conceberás e darás à luz um filho,
a quem chamarás pelo nome de Jesus”
(Lc 1.28-29). Mateus nos diz que Jesus
receberia esse nome porque de fato seria
o salvador, conforme suas palavras: “ele
salvará o seu povo dos pecados deles”
(Mt 1.21). Isso nos leva a pensar que
com certeza não foi um nome escolhido
aleatoriamente. De fato, o nome de Jesus
anunciado pelo anjo Gabriel enuncia
claramente quem seria aquela criança. O
nome “Jesus” significa “Yahweh salva”.
O anjo continuou: “Este será grande e
será chamado Filho do Altíssimo; Deus,
o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu
pai; ele reinará para sempre sobre a casa
de Jacó, e o seu reinado não terá fim” (Lc
1.32-33).OAntigoTestamentoanunciou
que o Messias seria chamado de “Filho
de Deus” e se assentaria no “Trono de
Davi” (2Samuel 7.12-16 e Salmos 89.29).
Aqui está a confirmação do próprio anjo
identificando o menino que nasceria
de Maria com o Messias prometido.
Notamos também a promessa angelical
de um reino sem fim sobre a casa de
Jacó. Essa era uma promessa do Antigo
Testamento que até o nascimento de
Jesus ainda não havia se cumprido e nem
se quer parecia ter chance de se cumprir,
mas segundo o anjo, ela se cumpre
integralmente na pessoa de Jesus.
Diante do anúncio do anjo, Maria tem
uma dúvida: Como poderia ela, uma
jovemnãodesposada,conceberumfilho?
Uma mulher casada poderia esperar
um filho, mas alguém poderia gerar
sem a inseminação de um pai humano?
O anjo esclareceu: “Descerá sobre ti o
Espírito Santo, e o poder do Altíssimo
te envolverá com a sua sombra; por isso,
também o ente santo que há de nascer
será chamado Filho de Deus” (Lc 1.35).
Jesus não nasceria pelo processo comum
no qual todos os homens nascem, até
porque ele não seria um homem comum.
De alguma forma miraculosa, Maria
conceberia do Espírito Santo, que a
envolveria com poder e realizaria em seu
ventre a fecundação e o nascimento de
uma criança. Em termos semelhantes à
açãodivinaprimordial,quandooEspírito
de Deus pairou sobre as águas e fez a vida
surgir do nada na criação do mundo; ao
descer sobre Maria, o Espírito criou um
ser santo e sem pecado. Essa criança, esse
“ente santo”, nas palavras de Gabriel, seria
chamado com todo direito de o “Filho de
Deus”.
A resposta de Maria demonstra o
entendimento de que ela seria um vaso
para a glória do Altíssimo. Estou aqui,
disse ela, como serva, para que seja
cumprida a vontade do soberano. Uma
virgem daria a luz pelo poder do Espírito
Santo, este foi o anúncio de Gabriel a
Maria, e ela fora escolhida para a missão.
Esta era a vontade de Deus.
Em seguida Maria expressa gratidão
dizendo que sua alma engrandecia ao
Senhor, e o seu espírito se alegrava em
Deus, o seu Salvador, pois a contemplou
na sua humildade, e isso a tornaria bem-
aventurada, porque o Poderoso e Santo
nome lhe fizera grandes coisas. Maria
entende a intensidade da misericórdia
de Deus que ultrapassou gerações,
dispersando pensamentos soberbos,
derrubando tronos de poderosos e
CHEGADA IMINENTE DO MESSIAS 25
exaltando os humildes. Deus sustentara
os famintos, amparando Israel a fim de
lembrar-se da sua misericórdia a favor
de Abraão e de sua descendência para
sempre. Enfim, Deus estava cumprindo o
que prometera. Maria entendeu isso (Lc
1.46-55).
II. ANÚNCIO A ZACARIAS (LC 1.67-79)
A expressão “Bendito seja” (eulogetos)
ajuda-nos a entender o motivo da sua
oração. É uma maneira comum para a
época ao iniciar uma declaração de ação
de graças (Sl 72.18; 124.6).
A expressão “Poderosa salvação” (Keras)
é uma metáfora que se refere ao chifre
de um animal como símbolo de força,
indicando que a salvação seria um ato de
intensa força de Deus. Uma alusão ao seu
poder por honra às suas promessas.
Quando João Batista nasceu, seu
pai Zacarias cheio do Espírito Santo
profetizou a respeito da missão de João.
Mas ao profetizar sobre João, Zacarias
profetizou também sobre Jesus, a quem
Joãoprecederia.Zacariasdestacaa“visita”
divinaaseupovoqueestavaacontecendo.
Ele diz: “Bendito seja o Senhor, Deus de
Israel, porque visitou e redimiu o seu
povo, e nos suscitou plena e poderosa
salvação na casa de Davi, seu servo”
(Lc 1.68-69). E mais adiante completa:
“graças à entranhável misericórdia de
nosso Deus, pela qual nos visitará o sol
nascente das alturas” (Lc 1.78).
A. A misericórdia de Deus é a fonte da luz
Toda a ação redentiva de Deus está
baseada na sua entranhável misericórdia.
Essa visita é “graças a entranhável
misericórdia de Deus” (v. 78) que não
se conformou com o estado do nosso
mundo e resolveu agir para mudar a nossa
sorte.
A expressão “entranhável” (splagchnon)
vem da anatomia humana e significa
“baço”. As entranhas para os antigos
hebreus eram consideradas o centro
dos sentimentos mais extremos. Para os
hebreus significava a sede das afeições
mais sensíveis, especialmente, bondade,
benevolência e compaixão. Daí, nosso
“coração” ser a sede da misericórdia,
afetos, etc.
No mesmo padrão da libertação israelita
do Egito, quando Deus diz: “Certamente,
vi a aflição do meu povo, que está no
Egito, e ouvi o seu clamor por causa dos
seus exatores. Conheço-lhe o sofrimento;
por isso, desci a fim de livrá-lo” (Ex 3.7-
8), a vinda de Jesus é uma demonstração
da misericórdia libertadora de Deus.
Entranhável é uma misericórdia que vem
das entranhas do ser de Deus.
A plenitude dos tempos seria o tempo
da mais profunda misericórdia de Deus.
Ele se movimentaria em graça na direção
do seu povo para iluminar mentes e
corações, fendas e caminhos. João Batista
anunciaria esta luz.
B. Luz para o conhecimento
Zacarias descreve a vinda de Jesus igual
aonascimentodoSol(v.78).Emboranão
fossemtemposparadimensionardetalhes
acerca do astro que iluminava a vida na
26 A VIDA DE JESUS
terra, o sol tinha um grande significado
para eles. Havia um tipo de beneficência
no sol que os afetava diretamente. Via-se
na produção agrícola, na manutenção da
vida, na luz que espantava a escuridão.
E não existe figura mais impressionante
do que o nascer do Sol. Os seus raios
de luz o antecedem. Ele divide o tempo
entre as trevas e a luz. Significa o fim da
noite e o raiar de um novo dia. É tempo
de esperança e de alegria, quando o
choro passa (Sl 30.5). O nascimento
de Jesus pôs fim a uma era e deu início
a outra. A partir daí o mundo não seria
mais dominado pelas trevas, pois o Sol
da justiça tinha nascido. No Antigo
Testamento somente o povo de Israel
tinha conhecimento de Deus, enquanto
que o resto do mundo vivia mergulhado
nas trevas da ignorância e do pecado.
A vinda de Jesus não é só para Israel,
mas para o mundo todo. A partir de seu
ministério, Jesus enviaria seus discípulos
a todas as nações, pondo fim ao terrível
período de escuridão que cobria os povos
(Is 60.2). Finalmente a alegria da manhã
seria conhecida (Sl 30.5)
C. Luz para o caminho
O nascimento de Jesus não só põe fim
a uma era de trevas do mundo como
significa luz individual para os homens.
Ele veio para “alumiar os que jazem nas
trevas e na sombra da morte, e dirigir
os nossos pés pelo caminho da paz” (Lc
1.79). “Jazer nas trevas” é uma figura da
morte. A morte é para o mundo o fim
da esperança. Essas trevas simbolizam
o pecado que desgraça esse mundo.
Jesus nasceu para trazer luz, ou seja,
tirar o pecado do mundo (Jo 1.29). Seu
nascimento, sua vida, seu sacrifício, sua
ressurreição derrotaram o pecado. Para
todos aqueles a quem ele comprou essa
liberdade há um caminho iluminado a ser
percorrido.
III. ANÚNCIO AOS PASTORES (LC 2.8-
20)
Os próximos que receberam um anúncio
donascimentodeJesusforamospastores.
As tarefas do “pastor” (poimen) no
Oriente Próximo eram: Ficar atento aos
inimigos que tentavam atacar o rebanho,
defender o rebanho dos agressores, curar
a ovelha ferida e doente, achar e salvar a
ovelha perdida ou presa em armadilha,
cuidar do rebanho com todo o esforço e
diligência e assim ganhar a confiança das
ovelhas, de forma que elas ouviriam a sua
voz e seriam conduzidas por ele.
Existem pessoas que parecem
predestinadas a ver coisas excepcionais
acontecerem. É uma questão de estar no
lugar certo na hora certa. Mas o anjo não
apareceu para eles aleatoriamente. Ele foi
buscá-los.
A. Uma visita celestial
Era uma noite comum, como outra
qualquer. Provavelmente uma fria
noite de inverno. Um grupo de homens
estava guardando ovelhas nos arredores
de Jerusalém. Ali estava uma classe
desprezada de homens, eram pastores.
Eram desprezados porque seu trabalho
os impedia de obedecer a lei cerimonial, e
de participar das grandes festas judaicas.
Eram considerados malfeitores, tidos
como ladrões, e indignos de confiança.
CHEGADA IMINENTE DO MESSIAS 27
Isso era tão significativo que a sua palavra
não valia em um tribunal da época.
A sua presença somente tinha valor
para a ovelha. Não podiam imaginar
o que estava acontecendo no mundo
naquele exato instante, e nem que
eles mesmos iriam receber uma visita
muito especial ainda naquela noite. Eles
podiam ser desprezados pelos homens,
mas certamente não eram desprezados
por Deus, eram privilegiados, eram
escolhidos.
Aqueles cuja palavra era desprezada
e desvalorizada foram os primeiros
anunciadores em Belém (Lc 1.20). Isto
não é impressionante?
B. A mensagem celestial
A mensagem do anjo foi a seguinte: “hoje
vos nasceu na cidade de Davi, o Salvador,
que é Cristo, o Senhor”.
Para o mundo os acontecimentos daquela
noite eram um segredo. Em todas as casas
as pessoas dormiam sem se dar conta
do que estava acontecendo. É curioso
que o maior acontecimento de todos os
tempos aconteceu de forma humilde, e,
até poderíamos dizer, particular. O único
sinal diferente foi a estrela que trouxe
os magos. E os únicos que receberam
o anúncio foram aqueles humildes
pastores.Omundoquesempreestáávido
por espetáculos, na maioria das vezes,
perde os principais acontecimentos. Os
anjos sabiam da grandiosidade daquele
evento. Parece até que os companheiros
do anjo que anunciou não se aguentaram
e vieram juntos contar a história (v. 13-
14). O anjo disse: “hoje vos nasceu”.
Hoje é o dia em que a história do mundo
será mudada. O mundo jamais seria o
mesmo depois daquela noite. Entretanto,
a particularidade daquela noite já havia
sido anunciada pelo anjo. Ele disse “hoje
vos nasceu”. O nascimento de Jesus é
realmente especial para poucos, apenas
para aqueles que foram escolhidos para
entender e serem abençoados por esse
nascimento.
O anjo deu três nomes para o menino
que havia nascido: Salvador, Cristo
e Senhor. Esses nomes nos falam da
natureza, do caráter e do poder da vida de
Jesus. O primeiro é Salvador. Jesus veio a
esse mundo com uma tarefa específica:
salvar o seu povo dos pecados deles.
Cristo literalmente significa ungido. A
unção nos fala de alguém que é separado
para alguma função especifica. Jesus,
desde o nascimento, e na verdade, antes
da fundação do mundo, já havia sido
designado para a tarefa de morrer pelos
pecados (Ap 13.8). O título Senhor nos
fala que a Criança que havia nascido
não era uma simples criança. Senhor é o
termo usado no Antigo Testamento para
o próprio Deus. Senhor nos fala do poder,
e da Soberania de Jesus.
C. A reação dos pastores
Eles foram até Belém e encontraram a
criança deitada na manjedoura. E o texto
enfatiza: “e vendo-o, divulgaram o que se
lhes havia dito a respeito deste menino”
(v. 17). Eles se sentiram obrigados
a testemunhar de sua maravilhosa
experiência, conforme todos os
acontecimentos daquela noite. Imagine
uma pessoa falando de sua experiência
28 A VIDA DE JESUS
com anjos! Não seria considerado meio
maluco? Sim, mas tal era a certeza, a
convicção da veracidade do que eles
haviam visto e ouvido que eles não se
preocupavam com o que os outros iriam
pensar. Importava-lhes testemunhar.
Grande efeito causou o testemunho
daqueles pastores na vida de muitas
pessoas. Lucas nos diz que todos os que
ouviam aquilo ficavam maravilhados,
mas foi Maria quem teve a melhor
atitude, Maria guardava tudo aquilo em
seu coração (v.19).
Achar o menino Jesus deitado numa
manjedoura, num casebre, em pobreza
extrema não foi motivo de tropeço para
aqueles homens. O coração deles se
encheu de gozo e alegria, se sentiam
privilegiadosportudooquetinhamvistoe
ouvido, e o louvor fluiu espontaneamente
de seus lábios. Temos muito a aprender
com esses homens. Temos que aprender
com sua simplicidade e fé. Precisamos
aprender a sermos melhores testemunhas
e melhores adoradores.
CONCLUSÃO
Enquanto um anjo desce até onde os
pastores se encontram, com a Glória
do Senhor iluminando a noite escura,
levando-os a um grande temor; enquanto
o anjo afirma que em Belém nasceu o
Salvador, Cristo e Senhor; enquanto os
anjos em coro celebram dizendo: “Glória
a Deus nas maiores alturas, e paz na terra
entre os homens, a quem ele quer bem”, o
mundo dorme.
Podemos concluir que o nascimento de
Jesus, o maior acontecimento de todos os
tempos não foi muito concorrido. Deus
anunciou o nascimento de seu Filho,
mas o mundo não estava muito disposto
a ouvir. O mundo continua dormindo.
Poucos naquela noite ouviram o cântico
dos anjos. E poucos estão ouvindo agora,
mas eles cantam. Eles adoram a Deus
por sua misericórdia e graça para com os
homens.
Enquanto o mundo descansa em berço
esplêndido (ou pouco esplêndido), é dito
para nós que o salvador dos humildes está
aqui (Mt 11.25-27), que Deus escolheu
os simples (1Co 1.26-29), que Cristo
nasceu para nos libertar (Gl 4.4-5), que
o Senhor sabe quando o seu povo precisa
de livramento (Ex 3.1-22), e que o Pai
enviou seu Filho para salvar os perdidos
(1Jo 4.9-14).
O que fazemos enquanto Deus executa as
suas obras? Dormimos?
APLICAÇÃO
Mais uma vez devemos agradecer a Deus
por sua provisão para seu povo. Louvar a
Deus pela disposição de Jesus em tomar
sobre si a dura tarefa de redimir o povo
de Deus. Nossa fé pode ser novamente
renovada nesse Deus que sempre cumpre
suas promessas, e trabalha para aqueles
que esperam nele (Is 64.4).
Enquanto Deus continua a fazer obras
maravilhosas, o que fazemos? Quais os
pensamentos que ocupam nossa mente?
Quais os objetivos do nosso coração?
Quais propósitos norteiam nossa vida
espiritual?
CHEGADA IMINENTE DO MESSIAS 29
Disse o profeta: “Porque um menino nos
nasceu, um filho se nos deu; o governo
está sobre os seus ombros; e o seu nome
será: Maravilhoso conselheiro, Deus
forte, Pai da eternidade, Príncipe da paz”.
(Is 9.6)
Anotações
30 A VIDA DE JESUS
INTRODUÇÃO
Muitas coisas que acontecem nessa vida
parecem simples e corriqueiras, mas
muitas vezes têm implicações eternas.
Encontros aparentemente casuais se
revestem de solenidade ímpar, quando
decisões importantes são tomadas a partir
deles. Outras vezes nem é preciso tomar
essa ou aquela decisão, mas o simples
encontro já torna tudo novo.
Um certo dia, duas mulheres grávidas
se encontraram em algum lugar simples
no interior da Judeia. Seria um encontro
comum, não fosse o momento crucial que
o mundo vivia e a identidade das crianças
que estavam em seus ventres: Jesus e João
Batista. Aquele foi definitivamente um
encontro de gigantes.
Um seria o rei, outro seria o seu profeta
e precursor deste rei. O precursor seria
o maior homem que já viveu. O rei, o
próprio Deus na terra. Na cena relatada
no texto deste estudo, de algum modo
maravilhoso, vemos esses dois antes de
nascerem, e isso faz com que aprendamos
muito a respeito deles.
I. VIDA NO VENTRE
O Evangelista Lucas narra o
impressionante encontro de Jesus e João
Batista quando ainda estavam no ventre
de suas mães. Tendo Maria engravidado
através do Espírito Santo, apressadamente
se dirigiu até a casa desua parenteIsabel,a
fim de compartilhar com ela, que também
estava grávida, as bênçãos recebidas de
Deus.
Pelo contexto, entendemos que Maria
partiu imediatamente. Isabel estava
grávida havia seis meses (v. 36), e Maria
ficou na casa da parente por três meses (v.
56), possivelmente retornando para casa
antes dos nove meses de Isabel.
Aquela família estava sendo alvo de
grandiosas manifestações e promessas
FILHOS NO VENTRE,
CUMPRIMENTOS
A CAMINHO
Lucas 1.39-56
4
FILHOS NO VENTRE, CUMPRIMENTOS A CAMINHO 31
inefáveis. O anjo Gabriel havia se
apresentado a Zacarias, esposo de Isabel,
e lhe anunciado que apesar da idade
avançada e do fato de não terem filhos,
Deus lhes agraciaria com o nascimento
de um menino, que receberia o nome
de João. Esse menino seria “cheio do
Espírito Santo, já do ventre materno”
(Lc 1.15). Sua função seria anteceder o
Senhor, preparando o caminho para a
manifestação de Jesus. Seis meses depois,
Gabriel se dirigiu a Maria na cidade de
Nazaré e lhe anunciou o nascimento
de Jesus que seria chamado “Filho do
Altíssimo”, o qual se assentaria no Trono
de Davi e reinaria para sempre sobre a
casa de Jacó (Lc 1.31-33). Realmente não
é todo dia que se ouve promessas assim.
O encontro daqueles dois bebês notáveis,
que sacudiriam a Judeia dentro de alguns
anos, aconteceu de forma simples em
algum lugar não identificado da região
montanhosa da Judeia. Quando Maria
entrounacasadeZacariasesaudouIsabel,
a criança no ventre de Isabel estremeceu,
e ela ficou cheia do Espírito Santo (Lc
1.40-41).
O termo “estremeceu” pode ser traduzido
por “salto”, o que implica um movimento
objetivo, reativo a um fato. Não era para
menos, aquele a quem ele anunciaria
enquanto vivesse, aquele que seria o seu
Senhor, aquele que mudaria o mundo,
estava ali, à distancia de um ventre. Assim,
um pulo de alegria no ventre, produzido
pelo Espírito Santo, também fez Isabel
entender que a mãe do seu Senhor a
visitava.
Isabel disse a Maria, sobre aquele
acontecimento: “logo que me chegou aos
ouvidos a voz da tua saudação, a criança
estremeceu de alegria dentro de mim” (Lc
1.44). É comum que bebês se movam no
ventre de suas mães. Mas aquele não era
um mover comum. De alguma maneira,
João, no ventre de sua mãe, reconheceu a
pessoa daquele a quem fora enviado para
anteceder. Sendo cheio do Espírito Santo
desde o ventre materno, esse mesmo
Espírito fez com que a criança se movesse
dealegriaaoreconheceroSenhor,a quem
dedicaria toda a sua vida. A partir daquele
momento, João se movimentaria apenas
em resposta ao comando do mestre.
Todas as suas ações, toda a sua vida, foi
para glorificá-lo.
João nunca pretendeu se comparar
a Jesus. Apesar de muitos pensarem
que ele pudesse ser o Messias, em sua
humildade, desde o início reconheceu:
“Eu, na verdade, vos batizo com água,
mas vem o que é mais poderoso do que
eu, do qual não sou digno de desatar-lhe
as correias das sandálias; ele vos batizará
com o Espírito Santo e com fogo” (Lc
3.16). João foi o grande anunciador de
Jesus. Ele realmente preparou o caminho
para a manifestação do Cristo. Ele disse
de Jesus: “É este a favor de quem eu
disse: após mim vem um varão que tem a
primazia, porque já existia antes de mim”
(Jo 1.30). Essa alegria na pessoa de Jesus
foi marca de toda a sua vida. Quando seus
discípulos vieram lhe informar que Jesus
também estava batizando, João disse: “O
homem não pode receber coisa alguma
se do céu não lhe for dada. Vós mesmos
sois testemunhas de que vos disse: eu não
sou o Cristo, mas fui enviado como seu
precursor. O que tem a noiva é o noivo;
32 A VIDA DE JESUS
o amigo do noivo que está presente e o
ouve muito se regozija por causa da voz
do noivo. Pois esta alegria já se cumpriu
em mim. Convém que ele cresça e que eu
diminua” (Jo 3.27-30).
II. GRAÇA DE DEUS QUE GERA VIDA
AoouvirasaudaçãodeMaria,Isabelcheia
do Espírito Santo exclamou: “Bendita és
tu entre as mulheres, e bendito o fruto
do teu ventre! E de onde me provém que
me venha visitar a mãe do meu Senhor?”
(Lc 1.42-43). A despeito de que parte
dos cristãos até hoje use essas palavras
de Isabel numa oração à Maria, recheada
de idolatria, essa certamente não foi a
intenção dela e muito menos do Espírito
Santo. Era um simples reconhecimento
do quanto Maria fora agraciada pelo
Senhor ao ser escolhida para carregar o
Filho de Deus. Maria não era geradora
de graça ou de bênção, mas objeto da
graça e da bênção de Deus. Ela se tornou
bendita porque carregava em seu ventre
aquele que é bendito por excelência. Sua
bênção era derivada do ente bendito que
carregava em seu ventre.
A noção atual de que ela foi concebida
sem pecado (Imaculada Conceição) e que
seja Co-Redentora e Co-Mediadora com
Cristo é algo totalmente anti-bíblico e que
nãoexistianaIgrejaprimitiva. Essas ideias
heréticas foram introduzidas na igreja ao
longo dos séculos quando mitos pagãos
originados ainda na antiga Babilônia pelas
religiõesdemistérioforamseacomodando
dentro do cristianismo. Essas ideias se
reportam ao tempo da torre de Babel,
quando Semíramis, a esposa de Ninrode,
tornou-se a primeira sacerdotisa idólatra.
Semíramis foi cultuada em várias nações
sob nomes diferentes, como Astarote,
Isis, Afrodite, Vênus e Ishtar. Os hebreus
que frequentemente caíam na idolatria
a chamavam de “Rainha dos céus” (Jr
44.17-19). Tamuz, o filho de Semíramis,
que segundo a lenda foi concebido por
um raio do Sol, foi conhecido como
Baal, Eros e Cupido no mundo antigo.
Os israelitas também se inclinavam a
Tamuz em seus tempos de rebeldia (Ez
8.13-14). Inclusive acreditava-se que
ele havia ressurgido dos mortos após 40
dias de jejum por parte de sua mãe. Essa
é a origem do culto da mãe de Deus, da
Rainha dos Céus. Durante a Idade Média,
quando os pagãos foram forçadamente
convertidos a religião cristã, essas crenças
se infiltraram na Igreja. Dessa forma as
deusas do paganismo foram adoradas sob
o nome de Maria.
Àpartedissotudo,Mariadeveserhonrada
pela graça que recebeu de Deus. Porém,
ela é receptora de graça e não geradora
dela.
III. VIDA QUE LOUVA AO SEU SENHOR
A canção de louvor de Maria tem certa
semelhança com outra canção, de outra
mãe, que antes de João, profetizou a
respeito da vinda de um profeta. São as
belas palavras de Ana (1Sm 2.1-10).
Ambos os cânticos jubilam ao Senhor
pelos seus feitos, exaltam a singularidade
e a santidade do Senhor, condenam a
arrogância dos orgulhosos, revelam que o
Senhor interfere nos destinos humanos, e
ambos lembram que o Senhor cuida dos
seus filhos.
FILHOS NO VENTRE, CUMPRIMENTOS A CAMINHO 33
Todo o entendimento da própria Maria
sobre sua situação e sobre a graça de
Deus está descrito em seu cântico que foi
proferido após as palavras de Isabel. Esse
cântico ficou historicamente conhecido
como o Magnificat de Maria por causa da
primeira palavra que aparece na tradução
latina do cântico.
Podemos ver no cântico de Maria três
ênfases distintas.
A. Graça Pessoal
A primeira ênfase do cântico de Maria é
de exaltação pela graça divina da qual ela
própria foi objeto. Ela diz: “A minha alma
engrandece ao Senhor, e o meu espírito se
alegrou em Deus, meu Salvador, porque
contemplou na humildade da sua serva.
Pois, desde agora, todas as gerações me
considerarão bem-aventurada, porque
o Poderoso me fez grandes coisas” (Lc
1.46-49). Ela engrandece (tradução
literal “continua engrandecendo) num ato
contínuo por algo que Deus fez em sua
vida.
O que Deus fez ela descreve como o
momento em que se “alegrou em Deus”,
denotando uma ocasião específica
no passado, sem dúvida se referindo
ao anúncio do anjo e a concepção
sobrenatural. Aquilo foi um momento
de grande alegria. Consequentemente
ela chama Deus de “meu Salvador”, que
interveio na situação humilde dela como
servaefezgrandescoisas.Essaaçãodivina
em sua vida não só garante sua salvação
pessoal como seu estado perpétuo de
“bem-aventurada”. O que não pode ser
esquecido é que a fonte de toda essa
alegria e bem-aventurança é a criança que
ela carregava em seu ventre.
Assim, começando pela exaltação do ser
de Deus, o cântico logo nos mostra o
real sentimento de adoradora. O termo
“engrandece”, também corresponde a
“proclama as grandezas”. “Minha alma”
não deve ser entendida como a parte
espiritual da pessoa, mas tem o sentido
de todo o ser de Maria. Não é um ato
ritualístico, mas algo profundo, com todo
o seu ser. O cântico traz o sentido de
uma pessoa totalmente entregue a Deus,
quebrantadadiantedele,agradecidadesde
asuaalma.Portanto,oprimeirocânticode
louvor do Novo Testamento nos mostra
o sentimento do adorador. Não é uma
explosão desconexa de sentimentos, mas
um profundo reconhecimento de quem
é Deus e do que está fazendo naquele
momento. É um momento de reflexão e
contrição. A verdadeira adoração parte de
um coração rendido e absorto em Deus.
Não há proeminência humana, mas uma
glorificação a Deus. Por isso, o Magnificat
não é um cântico de superioridade, mas
de claro reconhecimento de humildade,
diante do Senhor que atentou para a
“pequenez de sua serva”. Maria recebeu
graça do Poderoso de Israel. Ele “atentou”.
É correto dizer que nossos cânticos
devem expressar nossa fé e nossos
sentimentos, mas devem deixar claro
que tudo que recebemos de Deus é por
generosidade dele e não mérito nosso.
Determinar? Declarar? Reivindicar? Com
que autoridade, uma vez que devemos a
ele até mesmo nossas vidas?! Cânticos,
primeiramente, deveriam magnificar ao
Senhor por ele ter aceitado a nós como
filhos. Maria deu esse exemplo.
34 A VIDA DE JESUS
B. Graça para os humildes
Na sequência, o cântico fala dos que
temem a Deus, e diz que ele operou
contra os soberbos e poderosos, elevou os
maisfracosehumildes,saciouosfamintos
e disciplinou os ricos. Não é um cântico
que apenas expressa gratidão pelo que
lhe aconteceu. É um cântico que não
olha apenas para si, mas inclui os demais.
Louvamos a Deus pela sua bondade para
conosco, mas devemos reconhecer sua
bondade para com os demais. Embora
Maria parta de sua experiência muito
particular, sua gravidez pelo Espírito
Santo,seulouvorincluiosdemais.Mesmo
no momento mais pessoal ela lembra que
Deus é misericordioso para com todos
os fiéis e carentes. Cânticos e culto não
podem resvalar para um particularismo.
Há uma mensagem para todos e não
apenas para o adorador em particular. Em
nossa gratidão lembremos dos irmãos.
Deus não é propriedade de um adorador
em particular, mas é o Senhor de todos os
que creem em Jesus.
Conclui-se que o seu cântico é de louvor
pelaatitudedivinaemprivilegiarospobres
emlugardosricos:“Santoéoseunome.A
suamisericórdiavaidegeraçãoemgeração
sobre os que o temem. Agiu com o seu
braço valorosamente; dispersou os que,
no coração, alimentavam pensamentos
soberbos. Derribou do seu trono os
poderosos e exaltou os humildes. Encheu
de bens os famintos e despediu vazios
os ricos” (Lc 1.49-53). Nessa seção do
cânticoestádescritobastantedocaráterde
Deus. O primeiro aspecto é sua santidade.
Seu nome, ou seja, sua essência é santa.
Sua misericórdia é infinita sobre os que
o temem. Ele age vigorosamente a favor
dos humildes e contra os soberbos. Para
três tipos de pessoas não há misericórdia:
soberbos, poderosos e os que se apegam
às riquezas. Esses ficam de mãos vazias,
ao passo que os humildes e famintos são
agraciados por ele. Uma vez que essas
palavras estão conectadas com a vinda de
Jesus, então precisamos entender que é
sua vinda quem corporifica essa profecia.
De fato, Jesus abraçou os humildes, mas
foirecusadopelospoderosos.Osfamintos
foram e continuam sendo alimentados,
enquanto que os que se acham abastados
continuam de mãos vazias.
C. Graça para Israel
A conclusão do cântico focaliza a graça de
Deus sobre o povo de Israel: “Amparou
a Israel, seu servo, a fim de lembrar-se
da sua misericórdia a favor de Abraão
e de sua descendência, para sempre,
como prometera aos nossos pais” (Lc
1.54-55). O nascimento de Jesus é a
demonstração da misericórdia de Deus
sobre Israel. É o cumprimento de suas
promessas a Abraão e aos pais da nação. O
Messias é o verdadeiro amparo de Israel,
é a consumação e a salvação do povo de
Deus. Embora grande parte da nação
tenha rejeitado a Jesus como Messias, ele
é a salvação definitiva do Israel de Deus,
que não é o da carne, mas o da promessa
(Rm 9.6-8). Promessa essa que Deus fez
a Abraão de que nele e na descendência
dele seriam abençoadas todas as famílias
da terra (Gn 12.1-3).
O cântico contempla o povo na
sua totalidade. Deus está sendo
misericordioso com Israel. O cântico é
FILHOS NO VENTRE, CUMPRIMENTOS A CAMINHO 35
um ofertório espiritual de todo o povo de
Deus, dirige-se a todo o povo de Deus, e
em sua dimensão horizontal fala de todo
o povo. Maria entoa um cântico que sai de
sua pessoa, de sua gratidão pessoal para
o reconhecimento da bondade de Deus
para com todos. Um cântico que vê a
totalidade do povo de Deus e não apenas
os sentimentos da adoradora. Aqui,
uma aplicação especial: O culto público,
principalmente, não pode primar pelo
particularismo e pelo exclusivismo. O
individualismo de um mundo sem Deus
tem marcado até mesmo alguns de nossos
cânticos, em que parecem existir apenas
duas pessoas, o cantante e Deus (às vezes,
só o cantante). O culto é dos demais
irmãos, repartimos as bênçãos com eles, e
nosalegramoscomeles.OamparoaIsrael
se deu em função das promessas a nossos
pais.
CONCLUSÃO
O encontro de Jesus e João Batista ainda
no ventre materno foi um verdadeiro
encontro de gigantes. Naquele dia, em
algum lugar da montanhosa Judeia,
muitos dos soberanos, graciosos e
misericordiosos planos de Deus foram
revelados entre Maria e Isabel. Antes
mesmo do nascimento do Messias e de
seu Precursor, Deus já demonstrava a
grandiosidade da obra que estava por
realizar. Somos bem-aventurados em
poder ler essas palavras. Somos bem-
aventurados porque essa obra já foi
realizada. Podemos cantar juntos com
Maria: “o poderoso nos fez grandes
coisas”.
Neste estudo acompanhamos um
encontro nos ventres, uma bênção que
enche uma mulher de graça, um cântico
de uma mulher que entende que foi
agraciada, e por isso lembra que Deus é
maravilhoso consigo, com os necessitados
e com todo o seu povo.
APLICAÇÃO
A salvação cuidadosamente planejada
nos faz felizes? Podemos dizer que somos
bem-aventurados porque temos um
Salvador? Entendemos que Maria não
é mediadora, mas também não deve ser
desprezada, e que sua humildade sempre
será um estímulo a nós? Devemos nos
alegrar em Deus por ter proporcionado
uma salvação tão poderosa, e, por causa
disso, podemos confiar plenamente nessa
salvação.
36 A VIDA DE JESUS
Anotações
ELE ESTÁ ENTRE NÓS 37
ELE ESTÁ ENTRE NÓS
Mateus 1.18-25
INTRODUÇÃO
Filho de Davi ou filho de Deus? Diante
do nascimento de João batista, alguns
perguntaram: O que virá a ser este
menino? Diante do nascimento de Jesus
a pergunta é outra: Quem é ele? De onde
ele vem?
Os primeiros dezessete versículos do
Evangelho de Mateus estabelecem a
posição humana de Jesus como legal
descendente de Davi e de Abraão.
Porém, os versos seguintes mostram
que ele é muito mais que isso. Esses
versos descrevem o nascimento de Jesus
como Filho de Deus. Se Jesus tivesse se
apresentado apenas como filho de Davi,
possivelmente tivesse sido aceito pelo
povo de sua época. Mas desde que havia
reivindicado uma posição divina, já não
poderia mais ser aceito pelos religiosos.
Atualmente, como está esta questão?
Jesus Cristo é o filho de Deus, que veio
no tempo e na história, e habitou entre
nós, cumpriu a missão dada pelo Pai e
ressurgiu ao terceiro dia? Ou ele é um
5
homem de grande conhecimento e
inteligência e por isso fez seguidores, e
continua a fazer seguidores porque veem
nele um exemplo a ser seguido, e só isso?
Alguns estão dispostos a aceitá-lo como
um grande mestre, um líder, até como o
maior homem que já viveu, mas apenas
isso: um homem. Mateus nos mostra
que Jesus era sem nenhuma dúvida um
homem, porém, muito mais do que
um homem, ele é o Emanuel: o Deus
Conosco. Realmente, ele está entre nós.
I. NASCEU O MESSIAS ESPERADO
Mateus usou muitos versículos para
traçar a genealogia humana de Jesus,
porém apenas um versículo para traçar
a genealogia divina de Jesus. A palavra
“nascimento” é da mesma raiz grega
que a palavra “genealogia” que Mateus
usou no primeiro versículo denotando
claramente que ele pretendia fazer um
paralelo. Se pelo lado humano Jesus tinha
pelo menos quarenta e duas gerações de
antepassados até Abraão, seu lado divino
tinha apenas uma geração, a de seu Pai
38 A VIDA DE JESUS
Celestial. O verdadeiro pai de Jesus foi o
Espírito Santo.
Mateus nos diz que Maria, desposada
com José, achou-se grávida sem que
tivessem antes coabitado. Embora pareça
estranha essa ideia de casamento sem
relação sexual diante dos olhos ocidentais
modernos, era algo bastante comum na
antiguidade. O ato de “desposar” alguém
se assemelhava um pouco à cerimônia de
noivado que conhecemos hoje, porém,
com muito mais seriedade. Era um
casamento no papel. O noivo e a noiva
juravam fidelidade mútua na presença de
testemunhas, e a infidelidade por parte
de uma mulher desposada podia ser
castigada com a morte (Dt 22.23-24).
No caso de José e Maria, eles estavam
legalmente casados, porém, era comum
que se esperasse um tempo até que o
casal fosse morar junto. Nesse período de
espera, Maria subitamente engravidou.
Um nascimento ímpar na história, como
cumprimento de profecia (Is 7.14), como
resultado de um plano específico (Gn
3.15), como concretização de desígnios
imutáveis (Is 11.1).
Não apenas um homem, nem apenas
a presença manifestada de Deus,
ou de sentimentos divinos. Nem
antropomorfismo, nem meramente
antropopatia1
. O nascimento de Jesus
Cristo caracterizou Deus em forma de
homem, Deus em carne. Mesmo que
esse estado de encarnação fosse para ele,
a maior humilhação. Havia uma missão!
Ela justificava as perdas
II. JOSÉ ENTENDEU A DIMENSÃO DO
FATO
Uma noiva grávida sem sua participação?
Este era o problema para José resolver.
Aos olhos humanos, uma traição. Um
pecado previsto na lei dos judeus. Uma
honra manchada, uma vida em risco, uma
sentençaaserproferida.Vergonhapunida
com a pena maior. Em certo momento,
no tempo do ministério público de
Jesus, uma mulher foi trazida porque
fora encontrada em flagrante adultério.
A lei permitia que fosse morta. Jesus não
contestou a lei, apenas disse que os que
não tivessem pecado que começassem a
execução da pena. Eles largaram as pedras
e foram embora. Não há dúvida de que as
palavras de Jesus salvaram a mulher. A
mãe de Jesus poderia ter passado por isso
também. Ter sido morta, e junto com ela,
a criança.
Ao saber que sua mulher estava grávida,
José se encontrou numa situação difícil.
Com certeza sua alma entrou em
profunda agonia. A mulher que amava
o havia traído. Mas é impressionante a
reação desse homem, que não é por acaso
chamadodejusto. Porumlado,nãopodia
crer que sua virtuosa esposa cometesse
tal ato, mas por outro, a situação era por
demais evidente. Ele não a quis difamar,
mesmo tendo todos os motivos para isso.
Alguém poderia dizer que José foi débil
em sua clemência, mas a Palavra de Deus
nosdizqueelefoijusto.Justoemtodosos
sentidos, pois, se por um lado não podia
receber uma adúltera como sua esposa,
pois a Lei condenava isso, por outro, não
desejava ver Maria sendo vituperada.
1
Palavra utilizada
para descrever os
sentimentos divinos
que se parecem com os
sentimentos humanos.
ELE ESTÁ ENTRE NÓS 39
José era um homem inclinado para a
misericórdia, como o é o próprio Deus.
Sua decisão foi deixá-la secretamente
para que ninguém descobrisse e a
denunciasse. Ele preferiu resolver tudo
apenas entre os dois. Porém, quando
estava pensando sobre isso, lhe apareceu
em sonhos um anjo do Senhor dizendo
que não temesse receber sua mulher,
pois o que havia acontecido nela, era
obra do Espírito Santo. Como é bom
meditar antes de agir! Às vezes, enquanto
meditamos, Deus dá a resposta.
A Bíblia não relata sobre a agonia de alma
que José enfrentou naqueles dias, mas,
podemos entender, pelo relato bíblico,
que ele estava pensando durante a noite
justamente sobre aquela situação. De
repente,aquiloquepareciairreconciliável
tornou-se simples e fácil de resolver.
Deus interveio para não deixar seu servo
numa situação difícil. Nos momentos
de silêncio, quando todas as vozes do
mundo, incluindo a nossa, se calam, é
mais fácil ouvir a voz de Deus. O anjo
disse a José: “José, filho de Davi, não
temas receber Maria, tua mulher, porque
o que nela foi gerado é do Espírito Santo”
(Mt 1.20). O coração de José foi alvo
do poder consolador de Deus. Ele agiu
de acordo com o que entendeu, com a
misericórdia que o fato necessitava.
III. A VIRGEM CONCEBEU, COMO
PROMETIDO
José e Maria não se relacionaram
sexualmente até o momento do
nascimento de Jesus. A pureza sexual fora
do casamento sempre foi algo valorizado
por Deus. Implica fidelidade e leito
imaculado (Hb 13.4). No caso de Maria
tinha ainda mais importância, pois era
a garantia da divindade da criança que
nasceria. Se Jesus tivesse sido concebido
por ação de algum homem, jamais
poderia ser o Salvador. É claro que a
concepção de Jesus pelo Espírito Santo é
um grande mistério. Não temos palavras
para explicar esse evento, assim como não
sabemos explicar como Deus pôde criar o
mundodonada.Podemosverumparalelo
entre a concepção de Jesus pelo Espírito
Santo e a própria criação do mundo,
onde o Espírito Santo “pairava por sobre
as águas” (Gn 1.2). Da mesma forma a
“sombra” do Espírito envolveria Maria e
geraria “do nada” no ventre da virgem a
vida do Filho de Deus. Nas palavras de
Sproul: “como o Espírito Santo cobriu o
abismo e gerou um universo criado, assim
o mesmo Espírito pairou sobre uma
virgem camponesa para gerar o Filho de
Deus”2
.
Para o mundo, isso é muito difícil de
compreender. Nascimento virginal?
Ilógico, irreal e fantasioso. As pessoas
cheias de conhecimento olham para essa
história e a julgam um mito. Ainda que
o mundo não acredite no nascimento
virginal de Jesus, ele é amplamente
confirmado pela Escritura. A própria vida
de Jesus aponta para ele. Certa vez um
céticoperguntouaumcristão,natentativa
de fazê-lo duvidar do nascimento virginal
de Jesus: se eu dissesse que aquele
menino ali nasceu de uma virgem você
acreditaria? Sim, disse o cristão, se ele
tivesse uma vida igual a de Jesus. A maior
prova do nascimento virginal de Jesus é
sua vida absolutamente perfeita e sem
pecado.
2
R. C. Sproul. A Glória
de Cristo. São Paulo:
Editora Cultura Cristã,
1997. p. 30
40 A VIDA DE JESUS
Ao contrário do que se pensa, a ideia
de um nascimento virginal não era
algo tão inimaginável. Em Isaías 7.14
havia uma profecia sobre o nascimento
de um menino de uma virgem, e
mesmo do Gênesis vinha a promessa
de um descendente da mulher, onde
aparentemente o homem seria deixado
de lado (Gn 3.15).
EsteéoníveldefidelidadedeDeusàssuas
promessas, muitas vezes inatingível por
nossas mentes limitadas e aprisionadas
pela lógica humana. A virgem concebeu.
Simples assim...
IV. O NOME DO FILHO: JEOVÁ É
SALVAÇÃO (JESUS)
EntãooanjodisseaJosé“eladaráaluzum
filho e lhe porás o nome de Jesus, porque
ele salvará o seu povo dos pecados deles”.
JESUS,Ιησουςdeorigemhebraica,“Jeová
é salvação”, ou “o Senhor salva”. Jesus, o
filho de Deus, Salvador da humanidade,
o Deus encarnado.
Tudo na vida de Jesus teve um significado
eumplanejamentoanterior.Nosmenores
detalhes da sua vida, nós o percebemos
cumprindo profecias de séculos
passados. Sua relação com a história dos
homens é tão importante e significativa
que encontramos profecias sobre
praticamentetodaavidadeledistribuídas
por todo o Antigo Testamento.
Ao longo de sua vida Jesus ficou
conhecido como Jesus de Nazaré, ou
Jesus o Nazareno, em razão de sua cidade
de origem. Ao ter sido batizado no rio
Jordão e reconhecido como o mensageiro
de Yahweh que viera libertar o povo
judeu da opressão romana, Jesus recebeu
o epíteto de Mashiach (“Messias”), que
em hebraico quer dizer “ungido”. Como o
Novo Testamento foi redigido num grego
tardio chamado koiné, o nome Yeshua
Mashiach foi traduzido para Iesoûs ho
Khristós, literalmente “Jesus o Ungido”.
Com a expansão do Cristianismo até
Roma (percebe-se isso com clareza ao
lermos Atos e Romanos 16), e com a
adoção do latim como sua língua oficial,
o nome grego de Jesus foi latinizado para
Iesus Christus. Assim, lemos na língua
portuguesa o nome Jesus Cristo. Mas, se
“ungido” em latim é unctus, por que Jesus
nãoficouconhecidoemRomacomoIesus
Unctus? É que o prestígio da língua grega
em Roma era muito grande, e o fato de os
Evangelhos terem sido escritos em grego
pesou decisivamente para que o epíteto
grego Khristós não fosse traduzido, mas
apenas transliterado para Christus.
Este é o significado do nome por trás
do Deus-homem. Por isso, seu nome
foi escolhido por Deus para ser o Nome
que está acima de todo nome. Podemos
lembrar também que Jesus, no Hebraico,
é Josué (Joshua). Josué no passado foi o
homem usado por Deus para levar o povo
a conquistar a terra prometida. Este é um
ótimo paralelo, pois Jesus é o que nos
leva a terra prometida, a vida eterna nos
céus. O nome Jesus representa a própria
missão pela qual o Filho de Deus veio a
este mundo: Salvar o mundo do pecado.
Nada se compara a esta frase. Nada
abrange com tanta precisão um problema
que é o maior dos problemas, e nada traz
umasoluçãotãocontundente.ABíblia,ao
ELE ESTÁ ENTRE NÓS 41
contrário do homem moderno, não tenta
negar a existência do pecado. A revelação
bíblica demonstra que a existência do
pecado exigiu a vinda do Filho de Deus.
Ele veio salvar o seu povo dos pecados
deles, pois não havia nada tão prejudicial
para o homem, e ao mesmo tempo, nada
que este fosse tão incapaz de realizar por
si mesmo, do que se salvar. Jesus Cristo,
este é o NOME.
V. EMANUEL – O DEUS CONOSCO
Deus existe, mas como ele é, onde ele
está, como falo com ele, e como entendo
quandoelefalacomigo?Desdeostempos
antigos o homem tem crido que Deus
existe, e tem imaginado para si as mais
estranhas formas para descrevê-lo. Não
existem povos que não tenham alguma
coisa a qual eles identificam como o seu
deus. Há no homem uma vontade de
contemplar algo superior. A idolatria,
que se caracteriza principalmente
pela adoração de imagens, vem disso,
certamente. Podemos ver nessa
perspectiva que há no homem um
esforço por conhecer como Deus é, por
contemplá-lo. Esse desejo tem origem no
próprio Deus que também tem desejo
de ser conhecido. A revelação de Deus
é uma atitude de se tornar conhecido
aos homens, que de outra forma jamais
o conheceriam. O nome Emanuel, que
MateusaplicaaJesus,nosfaladessedesejo
divino de se revelar, nos fala do Deus
eterno e todo-poderoso se manifestando
aos homens. Como o homem não iria até
Deus, Deus veio ao homem.
Amor, sacrifício, sofrimento e
humanidade. Cumprimento, vitória,
glória e divindade. Estas são algumas
palavras que nos conduzem ao Emanuel.
Ao afirmar que Jesus é o Emanuel, a
Escritura está apontando para várias
facetas do caráter de Deus. Por exemplo
seu amor. Deus não ficou parado diante
da situação calamitosa do seu povo. Deus
não se contentou em ficar nos céus, e
veio a este mundo para salvar o seu povo.
Emanueltambémnosfaladahumanidade
legítima e sofredora de nosso Senhor. Ele
é homem como qualquer um de nós. O
Emanuel é Deus que veio partilhar as
nossas dores, que veio chorar com os que
choram, e se alegrar com os que estão
alegres.ElenãoéumDeus“quenãopossa
secompadecerdasnossasfraquezas”, pois
ele experimentou as nossas dificuldades e
“em tudo foi tentado, como nós, mas sem
pecado”(Hb4.15).JesuséDeusemcarne
e sangue. Quando lemos os evangelhos
descobrimos que nosso Senhor era capaz
de ficar cansado, de sentir fome e sede,
como também podia chorar, gemer e
sentir dor como qualquer um de nós.
Mas o nome Emanuel nos fala acima de
tudo da divindade de Nosso Salvador.
Ele é verdadeiro homem e verdadeiro
Deus. Apesar de ter se esvaziado de sua
glória exterior (Fl 2:6-8), nunca perdeu
sua glória interior. Ele se manifesta nos
evangelhoscomoalguémqueconheciaos
corações e os pensamentos dos homens,
exercia autoridade sobre os demônios, e
podia fazer os mais espantosos milagres
com apenas uma palavra. Também foi
servido por anjos, permitiu que um de
seus discípulos o chamasse de “Deus
meu”, e igualmente disse: “Antes que
Abraão existisse, eu sou” (Jo 8:58).
Acima de tudo ele podia dizer: “Eu e o Pai
42 A VIDA DE JESUS
somos um” (Jo 10:30). Quando Filipe
pediu para que Jesus lhes mostrasse o Pai,
ele disse “quem vê a mim, vê o Pai” (Jo
14: 8-9). Quem está com Jesus está com
Deus. Pois Jesus é Deus Conosco.
CONCLUSÃO
A Bíblia mostra em 1João 4.2 que Jesus
tinha um corpo humano real, ao mesmo
tempo que em Isaías 9.6 ele é descrito
como o Messias divino, e em Colossenses
1.15-19 há uma asseveração sobre a
plenitude da divindade em Jesus.
Em João 20.26-29 Jesus aceita adoração
e ser chamado de Deus, enfatizando que
seriam bem-aventurados os que cressem
sem ver, uma vez que algum tempo antes
havia declarado ser eterno em João 8.56-
58.
AplenitudedivinaecorporaldeJesusestá
clara em Colossenses 2.8-9 porquanto,
nele habita, corporalmente, toda a
plenitude da Divindade.
A encarnação foi um ato de graça e
misericórdia, como está escrito em
2Coríntios 8.8-9 “pois conheceis a graça
de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo
rico, se fez pobre por amor de vós, para
que, pela sua pobreza, vos tornásseis
ricos”.
Quando contemplamos a natureza, a
Revelação Natural, as coisas que Deus
criou, podemos ver a grandeza e o poder
de Deus, e o quanto ele está acima de
nós. Na Revelação da Lei a situação é
diferente, pois Deus é o juiz de toda a
terra, e nós somos os transgressores da
sua lei. Assim, a Lei o revela contra nós.
Mas no evangelho, Deus não está acima
e nem contra nós, ele é o Emanuel, é o
Deus que se colocou do nosso lado para o
nosso bem. Ele é Deus conosco.
APLICAÇÃO
FilhodeDavieFilhodeDeus.Totalmente
homem e totalmente Deus. O que isso
contribui para o nosso entendimento
acerca da salvação? Que ele é o Messias
prometido, e o único mediador possível.
Há salvação em outra pessoa? Há outra
pessoa que possa ser considerada divina
e humana além de Jesus Cristo? Não há.
Como o Cristo pode viver em nós para
que sejamos luzeiros de uma luz maior,
umaluzquedissipatrevas?Vivamosnele!
ELE ESTÁ ENTRE NÓS 43
Anotações
44 A VIDA DE JESUS
GLÓRIA E MAJESTADE NA
MANJEDOURA
Mateus 2.1-18
INTRODUÇÃO
Um recém-nascido anônimo que atrai
visitantes ilustres. Uma estrela que os
guia para onde a criança está. Um rei
alarmado e preocupado. Religiosos
apanhados de surpresa sem saber o que
estava acontecendo. Estaria a profecia de
Miqueias se cumprindo (Mq 5.2)?
Diante da dureza de coração e da
insensibilidade que são características
marcantes do nosso mundo moderno,
quando lemos nos Evangelhos as
narrativas sobre o nascimento de Jesus,
podemos contemplar um Deus sensível
que está preocupado com a situação do
seu povo, mesmo que o povo não esteja
preocupado com sua situação...
OnascimentodoSenhorJesusrepresenta
o maior ato de amor e de sensibilidade
para com o problema dos outros que já
ocorreu.Esteéotemadosevangelhos,éo
clima do nascimento daquele que trouxe
salvação a todo o que crê. É o momento
em que Deus veio para ser propício, para
receber os homens como sua família. É
6
o início do período histórico que Jesus
descreveu como o “ano aceitável do
Senhor” (Lc 4.19).
Mas, será que o mundo de então estaria
preparado para receber o Rei dos Judeus?
Os judeus o entronizariam? Como estaria
a expectativa messiânica acerca do que
fora dito pelos profetas? Quão a sério
as pessoas daquela época consideravam
a Bíblia (Antigo Testamento) que
possuíam?
I. VISITANTES ILUSTRES
Magos ou reis? Mágicos ou sábios?
Cientistas babilônicos ou especialistas
em coisas sobrenaturais? Judeus ou
gentios?
Existe uma tradição da Igreja que diz
que os homens que vieram do Oriente
para homenagear o menino Jesus eram
reis por causa de uma associação entre
esta passagem e o Salmo 72.10-11.
Outra tradição diz que eles eram três por
causa dos três presentes: ouro, incenso e
mirra. Até nomes eles já receberam pela
GLÓRIA E MAJESTADE NA MANJEDOURA 45
tradição! Nada disso a Bíblia nos diz a
respeito deles, mas em compensação,
podemos saber muito de sua fé.
Algumas traduções trazem a palavra
“sábios”. Geralmente a palavra é usada
para se referir àquelas pessoas que se
envolvem com artes mágicas, ou então os
chamados astrólogos, os observadores
de astros. Essa atividade era muito
comum naquele tempo, principalmente
nas regiões da Babilônia e outras cidades
do Oriente, de onde provavelmente os
magos tenham vindo. Devemos destacar
que este tipo de prática nunca foi
considerado legal por Deus. Entretanto,
os magos aparecem como adoradores
de Deus, de forma que devemos ser
cautelosos quanto a verdadeira profissão
daqueles homens.
Outra questão interessante é como eles
sabiam que o aparecimento da estrela
indicavaonascimentodoReidosJudeus?
Há muitas suposições: Se eles fossem da
Babilônia, por certo tinham contato com
muitas profecias e prováveis escritos do
profeta Daniel que morou em Babilônia
vários séculos antes e profetizou sobre o
nascimento de Jesus. Pode ser ainda que
eles tivessem contato com outros judeus
e conhecessem o Antigo Testamento,
pois desde o Exílio havia judeus morando
em vários países do oriente. Há uma
profecia atribuída a Balaão em Números
24:17, onde Balaão diz que “uma estrela
procederá de Jacó”. Mas, estas e outras,
são apenas suposições. De alguma
maneira secreta, Deus revelou àqueles
homens o que estava acontecendo. E ele
tinha pelo menos dois motivos para isso,
como veremos nessa lição.
Uma lição importante que já podemos
aprender é: Deus tem servos mesmo
nos lugares mais distantes e impróprios.
Embora suas histórias não sejam
conhecidas, seus nomes são conhecidos
por Deus,e estão escritos no livro da vida.
Nós os veremos na companhia de Jesus
por ocasião do seu retorno (Mt 8.11). O
fato é que aqueles homens haviam feito
uma longa e difícil jornada para chegar
até Jerusalém. Eram homens de coragem,
homens de fé. Talvez conhecessem muito
pouco sobre o Messias, e mesmo sobre o
Deus dos céus, mas mesmo assim vieram,
porque sentiam, sabiam que algo muito
grande estava acontecendo na terra.
Eram homens ilustres, dignos de serem
os primeiros a contemplar o Rei dos reis e
depositar suas coroas diante dele. Talvez
realmente fossem reis, mas sabiam que
suas coroas não podiam impedi-los de
contemplar e adorar aquele que é o Rei
dos reis, e Senhor dos senhores.
Guiados pela estrela e pela lógica,
dirigiram-se a Jerusalém, a capital da
nação judaica, pois estavam a busca do
Rei dos Judeus. Talvez esperassem ver
comemorações pelas ruas e gritos de
alegriapelonascimentodonovoRei.Mas
Jerusalém estava completamente alheia
ao nascimento do Messias. Jerusalém
não fazia a mínima ideia do que estava
acontecendo. Isso é no mínimo estranho.
O povo de Deus, a Igreja do Antigo
Testamento, o povo que tinha a Palavra
de Deus, e que dizia cultuar o Nome
de Deus, não tinha a mínima ideia do
que estava acontecendo. Deus estava
promovendo o maior acontecimento que
jamais houve desde a criação do mundo
e o povo de Deus estava totalmente “por
46 A VIDA DE JESUS
fora”. Diz a Palavra de Deus que todos
ficaram alarmados por causa daqueles
homens que diziam que um Rei havia
nascidonaterradeles. Parecequenãoésó
nos dias de hoje que a Igreja praticamente
não sabe como levar alguém ao Salvador.
II. REINO ABALADO
Homens à procura do rei dos judeus? E
chegam ao rei Herodes para procurá-lo?
Com certeza, Herodes entendeu que
procuravam por outra pessoa. O simples
fato de Herodes recebê-los mostra que
eram pessoas de fato muito importantes.
A expressão alarmou-se “ταρασσω”
(tarasso) tem afinidade incerta. Pode
significar agitar, sacudir (algo, pelo
movimento de suas partes para lá e para
cá); ou causar uma comoção interna a
alguém, tirar sua paz de mente, perturbar
sua tranquilidade; ou inquietar, tornar
impaciente, turbar, preocupar; ou
inquietar o espírito de alguém com
medo e temor; ou tornar-se ansioso ou
angustiado; e ainda, causar perplexidade
a mente de alguém ao sugerir escrúpulos
ou dúvidas.
A bíblia fala que Herodes e toda a
Jerusalém ficaram atônitos com as
palavras dos magos. Sua atitude foi
mandar chamar os principais sacerdotes e
os escribas e lhes perguntar em qual lugar
nasceria o Cristo. O curioso é que os
estudiosos sabiam. A resposta deles foi:
“Em Belém da Judeia, pois está escrito
por intermédio do profeta: E tu Belém,
terra de Judá, não és de modo algum a
menorentreasprincipaisdeJudá;porque
de ti sairá o guia que há de apascentar
o meu povo Israel” (Mt 2.5-6). Eles
tinham familiaridade com a Palavra de
Deus, deram uma resposta precisa com
facilidade, mas nenhum deles foi até lá
adorar o Messias. Também não é de hoje
que as pessoas têm muito conhecimento
da Palavra de Deus e pouca vontade de
vivê-la. Ortodoxia morta.
Agora entendemos o primeiro motivo
pelo qual Deus trouxe aqueles homens
importantes do Oriente. Ele não podia
deixar seu Filho sem reconhecimento. Já
que as pessoas importantes do reino não
estavam interessadas em reconhecê-lo,
Deus trouxe aqueles homens de longe.
Deus nunca fica sem adoradores e, ou,
proclamadores (Lc 19.40).
Herodes mandou chamar secretamente
os magos e lhes inquiriu, com precisão,
quanto ao tempo em que lhes aparecera
a estrela, e então, os enviou a Belém,
pedindo para que procurassem o menino,
e quando o encontrassem, informassem-
no sobre o lugar onde estava, para que
assim pudesse também ir adorá-lo. Nem
é preciso dizer que aquilo era uma grande
mentira, pois suas intenções eram outras.
Tristemente, naquele momento, o
mundo presenciaria a última das grandes
investidas de Satanás para impedir que
a semente da mulher se manifestasse:
a matança dos meninos em Belém (Gn
3.15, Ap 12.1-4).
III. GLÓRIA NA MANJEDOURA
Depois que ouviram o rei, partiram, e
então, a estrela apareceu novamente e
os precedia, até que parou sobre o lugar
GLÓRIA E MAJESTADE NA MANJEDOURA 47
onde estava o menino. Em outro tempo,
Deus já usara a sua criação para conduzir
pessoas. Foi quando conduziu Moisés e o
povo através de uma nuvem de dia, e de
uma coluna de fogo à noite. Jerusalém
nãosabia,ossacerdoteseescribassabiam,
mas não estavam interessados; Herodes
tinha medo de perder os seus privilégios,
porém Deus podia usar as estrelas para
indicar onde estava Seu Filho. As estrelas
que naquela época eram adoradas como
deuses, agiram como servas do Senhor,
conduzindo os magos até o local onde
estava o Filho de Deus. Nada na criação
foi criado com o objetivo de ser adorado.
A natureza sempre glorificará ao seu
criador. Havia nascido o Salvador, a
esperança do mundo, a prova de que
Deus não havia abandonado seu povo.
Retornando aos magos, percebemos
como era vigorosa a fé daqueles homens.
Eles não encontraram um Rei vestido
em trajes reais no esplendor da sua força.
Encontraram um recém-nascido, uma
criança, que precisava dos cuidados de
sua mãe, como qualquer outra criança
precisa, e nem se quer o encontraram
em um palácio, mas sim em uma
manjedoura. Ainda assim, de todo o
coração, prostraram-se e o adoraram.
Aqueles homens abriram seus tesouros
e entregaram-lhe ouro, incenso e mirra.
Se fossem reis, certamente, depositaram
suas coroas aos pés daquele que sabiam
ser o Rei dos reis, numa pequena amostra
do que acontecerá no fim dos tempos,
quando na peregrinação final virão povos
de todas as terras e adorarão ao Soberano
Deus(Is2.2-4;Sl72.10-11).Ospresentes
que aqueles homens entregaram a Jesus
nos falam bastante sobre a personalidade
do Senhor. O ouro simboliza a realeza.
Aplica-se perfeitamente a Jesus, pois ele
é Rei. Seu reino é espiritual, estabelecido
no coração e na vida de sua Igreja, mas,
também é um Reino que tem poder
sobre as coisas materiais, sobre os
reinos do mundo. Todas as coisas lhe
estão sujeitas. O incenso simboliza a
oração que sobe até Deus. Era função do
sacerdote oferecer incenso a Deus. Jesus
é considerado o sacerdote por excelência,
pois ele ofereceu a Deus a maior das
ofertas. Ele ofereceu a sua própria vida
no lugar da nossa. A mirra era uma planta
aromática usada para muitas coisas, entre
elas para preparar o embalsamento dos
corpos dos mortos. Pode conter a ideia
de sofrimento. Para Jesus, indicava a
natureza do Servo Sofredor (Is 53). Ele
sofreu o castigo pelos nossos pecados,
sofreu a nossa condenação, morreu a
nossa morte. Talvez, aqueles presentes
ainda pudessem representar: Ouro para
sua humanidade, mirra para sua morte e
incenso para sua divindade.
Porém, mais importante ainda do que
tudo isso foi o fato mais óbvio: eram
coisas preciosas. Ou seja, valiam um bom
dinheiro. E aqui estava o segundo motivo
pelo qual Deus trouxe aqueles magos do
Oriente. Eles foram instrumentos para
a preservação do Filho de Deus. Diante
de todas as perseguições e dificuldades
que viriam em seguida, a oferta trazida
pelos magos foi extremamente útil para a
preservação da família de Jesus.
Hora de partir. Como chegaram, se
foram. Ilustres desconhecidos, dos quais
não temos nem os nomes. A última coisa
48 A VIDA DE JESUS
que sabemos sobre eles é o que nos diz o
verso 12. “Sendo por divina advertência
prevenidos em sonho para não voltarem
à presença de Herodes, regressaram por
outro caminho à sua terra”. Deus não
permitiu que a maldade de Herodes
tivesseêxitosobreseusplanos.Estaéuma
lição eterna: por mais que os homens ou
o próprio Diabo tentem, jamais poderão
frustrar o menor dos desígnios de Deus.
Aqueles homens regressaram à sua terra
jubilosos, certos de que haviam tido o
maiorencontrodesuasvidas.ABíbliafala
que retornaram por outro caminho. Sem
querer ferir as regras de hermenêutica,
é possível pensar que todos que se
encontram com Cristo acabam seguindo
por outro caminho também.
IV. MALDADE HUMANA ILIMITADA
Pena que a história não termine aí. Ainda
somos informados de mais uma barbárie
de Herodes: a terrível matança dos
primogênitosemBelém.ODeusquesabe
de todas as coisas, e que até certo ponto
tolera o mal, mas sempre com propósitos
benéficos, não permitiria que Seu Filho
fosse morto por Herodes. Tendo avisado
José novamente em sonho, a família de
Jesus, agora com boa condição financeira,
se dirige ao Egito onde permanece até a
mortedeHerodes.Edepassagem,cumpre
mais uma profecia: “do Egito chamei
meu Filho” (Mt 2.15). A aplicação que o
EspíritoSanto(comautoridade)fazdessa
passagem é deveras interessante. Essa é
uma citação do profeta Oséias (11.1) que
naquela ocasião se referia à juventude de
Israel quando foi tirado do Egito, sendo
objeto da amorosa eleição de Deus. Era
uma recordação do tempo da inocência
de Israel agora tão corrompida. É ao
mesmo tempo uma nota de esperança
pois Deus está voltando às origens e
formando um povo para si outra vez.
Através do próprio Oséias, Deus já havia
prometido a Israel: “Portanto, eis que
eu a atrairei, e a levarei para o deserto, e
lhe falarei ao coração. E lhe darei, dali,
as suas vinhas e o vale de Acor por porta
de esperança; será ela obsequiosa como
nos dias da sua mocidade e como no
dia em que subiu da terra do Egito” (Os
2.14-15). Quando Deus chama mais uma
vez do Egito o seu Filho, não são apenas
palavras que se encaixam, mas toda uma
história de amor que recomeça. O amor
de Deus para seu povo.
Herodes percebendo-se enganado ficou
terrivelmenteenfurecido, eem meioa sua
loucura, mandou matar todos os meninos
de Belém e arredores que tivessemmenos
de 2 anos. A fúria do dragão se despejava
sobre o Filho, querendo devorá-lo (Ap
12.4). Porém, o Filho já havia sido
arrebatado das garras do dragão (Ap
12.5).
Novamente percebemos um paralelo
com os acontecimentos da “juventude”
de Israel no Egito. Naquela ocasião, Faraó
temendo a proliferação dos israelitas
manda jogar nas águas do Nilo todos
os meninos recém-nascidos (Ex 1.22).
Mateus vê naquele incidente ainda o
cumprimento de mais uma profecia, a do
profeta Jeremias sobre o choro de Raquel
porseusfilhos(Jr31.15).Aquelaerauma
profecia sobre o cativeiro que desolaria a
nação e levaria os filhos de Israel a uma
terra estranha. Simbolicamente Raquel
choraria por seus filhos. Acima de tudo
GLÓRIA E MAJESTADE NA MANJEDOURA 49
era uma recordação da desobediência
de Israel, que recebia a punição de Deus,
ainda que por mãos dos babilônios.
Também as mães de Belém choravam, e
deveriam mesmo chorar, não só por suas
crianças inocentemente assassinadas,
mas pela consciência da desobediência
de Israel, pelo estado de apostasia,
pelo julgamento de Deus sobre aquele
povo que tantos anos antes pediu um
rei, pelo desejo de ser semelhante as
demais nações. Seu rei usurpador agora
matava seus próprios filhos. Enquanto o
verdadeiro rei era e seria rejeitado.
CONCLUSÃO
Épossívelummeninotiraratranquilidade
deumreiexperienteevencedordemuitas
batalhas? É possível um rei iniciar o seu
reinado em um estábulo? É possível uma
estrela guiar pessoas, sob a orientação de
Deus, para que prestassem adoração ao
seu Filho?
A Bíblia nos mostra em Lucas 4.16-30
que a vinda de Jesus marcou o início do
‘Ano Aceitável’ do Senhor. Em Miquéias
5.2-5 Deus disse que de Belém lhe sairia o
que haveria de reinar sobre Israel, e cujas
origens são desde os tempos antigos,
desde a eternidade.
Em Mateus 11.20-27 lemos acerca da
preferência divina pelos humildes, com a
execução de inúmeros milagres, sempre
levando em conta a necessidade de um
povo explorado por seus governos, e
carente.
Em 1Coríntios 1.18-31 somos levados
a entender que “a verdadeira sabedoria
é a de Deus”. Para os que se perdem, a
palavra da cruz sempre será loucura,
mas para nós, os que foram alvos de tão
grande, plena e poderosa salvação, é o
imensurável poder de Deus. Quando o
homem pensa que há loucura em Deus,
ela é mais sábia do que o próprio homem.
Quando o homem pensa que há fraqueza
em Deus, ela é mais forte que o próprio
homem. Onde está o sábio? Quem quiser
gloriar-se, glorie-se no Senhor!
Em 1Coríntios 3.18-23 lemos que a louca
sabedoria do mundo engana-se pensando
ser sábia, mas é apanhada na sua própria
estultícia, porque o Senhor conhece o
que se passa em seus corações e sabe que
são pensamentos sem valor.
Em 2Coríntios 6.1-10 lemos que a
verdadeira riqueza é a espiritual, pois aos
cooperadores é dito que não recebam
em vão a graça de Deus. Deus ouve e
socorre para que no dia da angústia os
seus filhos sejam achados confiantes e em
condições de agirem, de forma que não
envergonhem o ministério.
Por tudo isso, sabemos que Deus nunca
fica sem adoradores. E aqueles que
verdadeiramente o agradam nem sempre
sãoosquedeveriam.Osmagosdooriente
são uma demonstração impressionante
da soberania de Deus, de seus métodos
pouco convencionais e de sua sabedoria
inefável.
APLICAÇÃO
Quais reações o menino de Belém
produziu em nós? O que apresentamos
diante do seu trono, que não é mais uma
50 A VIDA DE JESUS
Anotações
manjedoura, mas é o trono reservado
para si, pelo altíssimo, o seu Pai que o
aguardava em Glória assim que cumpriu
a sua missão?
Que Deus nos permita contemplar um
pouco da glória e da majestade que
aqueles magos puderam ver, quando
contemplaram aquele menino deitado na
humilde manjedoura, em Belém de Judá,
há dois mil anos atrás. Trinta e poucos
anos depois, ele esteve deitado em outro
“trono” de madeira: uma cruz. Na mais
terrível vergonha ele revelou sua maior
glória.
Que nossas vidas sejam impactadas por
ele, um rei que nasceu na simplicidade,
no anonimato, e que desde cedo
experimentou o cuidado de seu Pai.
Temos o mesmo Pai, por isso, vivamos
com confiança.
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  • 1. A Vida de Jesus Do Nascimento ao Sermão do Monte Leandro Lima Sérgio Lima Volume 1
  • 2. Este E-Book é exclusivo para alunos do IRSP Instituto Reformado de São Paulo É proibido qualquer reprodução, cópia ou compartilhamento, total ou parcial deste livro.
  • 3. A Vida de Jesus Do Nascimento ao Sermão do Monte LEANDRO LIMA SÉRGIO LIMA
  • 4. © Leandro Lima Sérgio Lima Projeto gráfico Vanessa Sousa Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) L732c Lima, Leandro Antonio de, 1975- Lima, Sérgio Paulo de, 1970- AVida de Jesus - Do Nascimento ao Sermão do Monte. - São Paulo : Agathos, 2014. v.1. ISBN: 978-85-99704-18-9 1. CRISTIANISMO. 2. JESUS CRISTO. 3. NOVOTESTAMENTO. 4. AVIDA DE JESUS 5. BÍBLIA - COMENTÁRIOS. 9. BÍBLIA - CITAÇÕES. ASPECTOS RELIGIOSOS. I.Título. PeR – BPE 12-002 CDU261 CDD 261.22 2014 Todos os direitos reservados e protegi- dos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. Agathos Editora (011)5521-4495
  • 5. A vida de Jesus Do Nascimento ao Sermão do Monte LEANDRO LIMA SÉRGIO LIMA Volume 1 1ª Edição 2014
  • 6.
  • 7. SUMÁRIO Volume 1 1 JESUSCRISTO,OCENTRO 9 2 O ANUNCIADO 16 3 A CHEGADA IMINENTE DO MESSIAS 23 4 FILHOS NOVENTRE, CUMPRIMENTOS A CAMINHO 30 5 ELE ESTÁ ENTRE NÓS 37 6 GLÓRIA E MAJESTADE NA MANJEDOURA 44 7 NA CASA DO PAI 51 8 O MENINO MESTRE 58 9 A DIGNIDADE DO TESTEMUNHO 65 10 ATRINDADE NA CONSAGRAÇÃO DO MESSIAS 72 11 TENTAÇÃO: OTESTE INICIAL DO MINISTÉRIO 79 12 SALVAÇÃO - UMTESOURO PARA COMPARTILHAR 87 13 O PRIMEIRO MILAGRE - SINAL DE SUA AUTORIDADE 94 14 ZELO PELA CASA DE DEUS 101 15 ENSINO, PREGAÇÃO E “TERAPIA” 108 16 SERMÃO DO MONTE: LEI DO CORAÇÃO 115 17 AVERDADEIRA FELICIDADE 122
  • 8.
  • 9. JESUS CRISTO O CENTRO 9 INTRODUÇÃO Foi anunciado, mas ao chegar não foi reconhecido. Era esperado, mas causou imensa surpresa. Era ouvido, mas nem sempre compreendido. Causava preocupações, reconsiderações, temores, e ao mesmo tempo, esperança e alegria. “Quem dizeis que eu sou?”, perguntou certa vez. Simplesmente, o Filho do Deus vivo, disse Pedro. Sim! Deus se fez homem e habitou entre nós. Não é mais um fato corriqueiro da sofrida vida humana. É a plenitude dos tempos com o melhor presente. A régua, o prumo que mediria o mundo estava entre nós. A vida humana amaria a ele conformando-se à sua pessoa e obra, ou o odiaria com todas as suas forças. EleéJesusCristo!Umimpactoinigualável nahistóriadomundo.Maisdoquedividir o próprio tempo em antes e depois de Cristo, Jesus veio para estabelecer um tempo realmente novo. Uma nova era de acesso a Deus e comunhão com ele. Os seus ensinos vieram das Escrituras existentes até o momento, foram vividos pelos que o acompanharam, o seu exemplo foi assimilado e as suas novas instruções foram registradas por seus discípulos. Um mestre em Israel, que abençoaria o mundo. Luz para os povos! Ele é o caminho, a verdade, a vida, a água, o pão, a porta, o pastor. Existe um pastor paraasovelhasperdidasdaCasadeIsrael! Não continuarão perdidas! As que lhe pertencem o ouvirão e o seguirão por fé. I. O TEMPO DE DEUS (PLENITUDE) Deus sempre amou ao mundo. Moisés registra que na criação, a cada novidade, a cada novo dia, Deus expressava sua satisfação com a frase: Tudo era bom! (Gn 1.10, 12, 18, 25). A queda, porém, trouxe consigo uma dura pena ao homem. Expulso do jardim, JESUS CRISTO, O CENTRO Gálatas 4.1-7 1
  • 10. 10 A VIDA DE JESUS o homem teria dificuldade em buscar ao Senhor, conviver com o seu semelhante e administrar a natureza. Quanto tempo isso duraria? Alguns milênios. Mas Deus sempre amou ao mundo, e nunca retrocedeu no seu propósito de redimir o homem do seus pecados. Haveria um dia em que a relação comDeusseriarestaurada,arelaçãoentre semelhantes seria uma possibilidade e a administração da natureza seria um propósito almejado por seus filhos. O apóstolo Paulo escreveu aos Gálatas: “vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos” (Gl 4.4-5). Os antigos contavam o tempo como um recipiente onde iam gotejando os minutos, horas, dias, semanas, meses e anos. Na perspectiva do Apóstolo Paulo, era como se esse recipiente tivesse finalmente se enchido. Quando esse tempo se “encheu” Deus enviou seu Filho. Ele esperou o tempo do mundo, literalmente o “chronos” se encher. Todavia, Deus não esperou que o último grão de areia caísse no recipiente do tempo de braços cruzados, ele agiu efetivamente a fim de preparar o mundo para o nascimento de seu Filho. Homens como tipificações do Messias foram conhecidos desde a antiguidade. Abraão, Isaque, Jacó, José, Moisés, Josué, Davi, e alguns outros, lembravam o povo acerca do Deus que tinham, e da sua relação com ele. A Lei determinava limites. Os profetas não se cansavam de propagar a centralidade de Deus. Os heróis da fé viveram e morreram na certeza de que Deus orquestrava um plano redentivo para o seu povo. Deus preparou o mundo através dos séculos, para o nascimento de Jesus. Não poderia ser diferente, a maior e mais definitiva intervenção de Deus na história do mundo não poderia acontecer de qualquer jeito. Deus preparou cuidadosamente o mundo para o nascimento de seu Filho, a fim de que ele pudesse realizar a obra para a qual veio. No contexto da afirmação de Paulo aos Gálatas sobre a plenitude do tempo destaca-se o papel realizado pela Lei. Acima de tudo, essa foi a grande preparação de Deus nesse mundo. Séculos antes de enviar seu Filho, Deus enviou sua Lei. A Lei ajudou a preparar o mundo para que Jesus nascesse. Portanto, a Plenitude dos Tempos se refere ao tempo quando Deus, em sua soberania, terminou os preparativos para executar o plano da Redenção. A Lei já havia cumprido seu propósito de mostrar ao homem seu estado de completa inaptidão para servir a Deus, e o próprio Deus já havia largamente indicado que a formadesalvaçãoerapeloderramamento de sangue, conforme o sistema de sacrifíciovigentenotemplodemonstrava. Além disso, sabe-se que Israel desejava ardentemente a vinda do Messias. Deus se incumbiu de deixar pistas no Antigo Testamento sobre a vinda de um homem que libertaria o povo e o levaria a uma era de paz e prosperidade. Sem essa crença, a vinda de Jesus não teria tido o mesmo
  • 11. JESUS CRISTO O CENTRO 11 impacto. O ato de enviar o seu filho foi a maior demonstração do amor de Deus. A conta eraimpagável,opreçoeradesangue.Jesus derramou o seu sangue pelos homens. A cruz foi o local do martírio do filho de Deus e da redenção dos filhos de Deus. II. O FILHO DE DEUS (REDENTOR) No começo do seu ministério, foi considerado alguém muito inteligente, que despertava atenção por sua alta concentração nas coisas de Deus. Mas isso, outros também fizeram. Poderia ser mais um mestre em Israel, mesmo sem passar pela escola clássica? Sempre houve alguémsobreaterraquepregava,ensinava e testemunhava a respeito de Deus. No entanto, quando ele afirmou que era o FilhoprometidodeDeus,quefaziaaobra do seu pai, e que era o salvador, dividiu as águas. Amar e odiar, seguir e perseguir, glorificar e profanar tornaram-se práticas antagônicas resultantes da interpretação de quem ele era. Não existe personagem mais debatido em toda a história do mundo do que Jesus, o carpinteiro de Nazaré. Ninguém é como Ele, amado ou odiado, adorado ou profanado. Uma coisa é certa, ele mexe com todos. O curioso é que, enquanto os mais eruditos e capacitados pesquisadores se calam ou falam demais perante o mistério de sua pessoa, pessoas simples têm a coragem de dizer que o conhecem e que ele é o Filho de Deus. Até aos dias de hoje repercute a questão que Jesus levantou para seus discípulos: “quem dizeis que eu sou?” (Mt 16.15). A. O Filho eterno é a solução para o problema do mal A iniquidade não tem limites. O homem em seu estado decaído pratica o mal, e se especializa em fazer sempre o que é errado porque o seu coração é desesperadamente corrupto. Somente uma intervenção externa poderia alterar uma essência terrivelmente dominada pelo pecado desde a queda. O estado espiritual do homem é degenerativo, autodestrutivo e contaminante. Não há nenhum ser humano saudável, nesse sentido (Rm 3.23). Para a Escritura, não resta dúvida, Jesus é o Filho de Deus, o único possível interventor. Paulo diz: “na Plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho”. Como nenhum outro, Jesus recebe na Escritura o título de “Filho”. Ele veio a esse mundo porque foi enviado. Isso significa que veio com uma missão: resolver o estado caótico em que se encontra o mundo. Com a entrada do pecado, o mundo se tornou “território” de Satanás. O homem corrompido pelo pecado, destituído de qualquer capacidade de mudar sua situação, marcha para a autodestruição numa vida de separação de Deus. A vinda de Jesus é a grande intervenção de Deus na história a fim de recuperar o território perdido, e reconduzir o mundo ao propósito original. Paulo escreveu: “Digo, pois, que, durante o tempo em que o herdeiro é menor, em nada difere de escravo, posto que é ele senhor de tudo. Mas está sob tutores e curadores até ao tempo predeterminado pelo pai. Assim,
  • 12. 12 A VIDA DE JESUS também nós, quando éramos menores, estávamos servilmente sujeitos aos rudimentos do mundo” (Gl 4.1-3). Paulo está fazendo uma comparação do homem antes da vinda de Jesus com o filho herdeiro antes de assumir a herança: não são superiores a escravos. O que Paulo está dizendo é que antes da manifestação de Cristo, os homens eram escravos dos “rudimentos do mundo”. Comentando o texto de Gálatas, uma excelente interpretação da expressão “rudimentos do mundo” nos é dada por Hendriksen: “ensinos elementares acerca de regras e ordenanças, pelos quais, antes da vinda de Cristo, os indivíduos, tanto judeus como gentios, cada um à sua maneira, buscavam por seu próprio esforço alcançar, e segundo a disposição de sua própria natureza carnal, sua salvação”1 . Ele é a solução para o problema do mal. Ele é o libertador dos escravos, que agora se tornam filhos, tendo sua condição alterada totalmente e definitivamente. B. O Filho eterno se torna o menino de Belém Existente antes da concepção, desde os primeiros marcos do mundo, estava com o Pai. A Glória era sua honra, o mundo foracriadoparaele.Otempocronológico, que não consegue dimensionar a sua existência, por lhe faltar recursos, o terá por trinta e três anos. Uma das coisas que essa expressão “Deus enviou seu Filho” representa é a própria pré-existência do Filho. Ele abriu mão da sua glória, e semelhante a um homem, se esvaziou, e servo se tornou, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz. Pré-existente, enviado, nascido de mulher, filho de homem e filho de Deus, anunciador, professor, pastor, acusado, condenado, morto. O tempo da vida de Jesus na terra representou o que houve de mais completo na existência. Nada do que aconteceu antes, mesmo quando os grandes impérios surgiram e desapareceram, mudou a monotonia do tempo como quando os pequenos grãos de areia caíram um a um até os tempos ficarem plenos. A vinda do Filho de Deus tornou aqueles dias plenos, como disse Pohl “os anos 1 a 30 foram, nesse sentido, tempo pleno, mais que cheio, porque alimentaram de sentido toda a história da revelação antes e depois deles e, assim, a história propriamente dita”2 . O tempo que Jesus esteve aqui foi a grande intervenção de Deus na história. Aqueles dias tornam o resto da história cheia de sentido e expectativa. Quando nasceu, o colocaram em uma manjedoura. Um recipiente de madeira, provavelmente.DamanjedouraemBelém para a cruz de madeira dos malditos em Jerusalém, este foi o seu percurso, do nascimento à morte. Mas a tão temida morte não o deteve, e o viu tornar-se o primogênito entre os homens. Deus o ressuscitou e o exaltou e lhe deu o nome que é sobre todo o nome tanto no céu quanto na terra. A glória e a eternidade são o seu destino. 1 William Hendriksen. Gálatas. São Paulo: Cultura Cristã, 1999, p. 228. 2 Adolf Pohl. Carta aos Gálatas. Curitiba: Editora Esperança, 1999. p. 143.
  • 13. JESUS CRISTO O CENTRO 13 3 João Calvino. Gálatas. São Paulo: Editora Paracletos, 1998. p. 123 (Com. Gl 4.4) C. O Filho eterno se torna homem entre os homens. Não era aparência de homem. Era homem mesmo, sujeito às fragilidades da raça humana. Menino, adolescente, jovem e adulto. Feliz, triste, cansado e animado. Jesus veio a esse mundo realizar a missão de salvar o homem tornando- se ele próprio um homem. Também isso estava no plano de Deus. Paulo aponta para isso com a expressão “nascido de mulher”. Essa expressão por sua vez nos aponta para o maior mistério dessa vida. Por séculos os teólogos têm debatido em cima do mistério cristológico e não têm conseguido entender suficientemente a essência desse Deus que se fez homem. Essa porém, é a essência do cristianismo: Deus adentrou ao tempo e se fez um de nós. Ao vir para esse mundo, Jesus entrou pela porta comum pela qual todos entram, nascendo da mulher. João Calvino diz que Jesus “se vestiu de nossa natureza”3 . Isso é uma repercussão do autor do quarto evangelho que disse: “e o verbo se fez carne”. Tudo isso nos aponta para a real e específica encarnação de Cristo, o maior de todos os mistérios da teologia. Ele não apenas pareceu um homem, ele foi um homem de fato em todos os sentidos. Tanto sua divindade quanto sua humanidade eram absolutamente necessárias para a obra que precisava realizar. Era Deus e homem, pleno homem e pleno Deus. Duas naturezas em uma só pessoa. Deus e homem, sem confusão, sem mistura. Mas nãoduaspessoasnumser.Umsóser,uma só pessoa, duas naturezas perfeitamente unidas, para que o supremo propósito de Deus se cumprisse. Unir sem misturar a criatura ao seu criador. D. O Filho eterno redime os filhos adotivos de Deus QualéaprincipalmissãodoFilhoEterno? De acordo com Paulo a grande missão do FilhoqueveionaPlenitudedostemposfoi “resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos” (Gl 4.5). Ele expressa o benefício concedido de uma forma negativa: “resgate”, e outra positiva: “adoção”. O resgate da Lei dos rudimentos do mundo que escravizava o homem aconteceu porque “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo- se ele próprio maldito em nosso lugar, porque está escrito: maldito todo aquele que for pendurado em madeiro” (Gl 3.13). A maldição que Cristo assumiu foi o pagamento do resgate da tutela da lei. Ao mesmo tempo que fomos livrados da escravidão por esse ato de Cristo, também fomos elevados à categoria de filhos por adoção. Tanto o resgate de escravos como a adoção de filhos são aspectos legais comuns no tempo do Apóstolo Paulo. O que a adoção sugere é exatamente a maioridade do cristão, que em Jesus, deixa de ser escravo sob os rudimentos do mundo e passa a desfrutar da verdadeira liberdade do filho em todos os seus direitos. Enviando Jesus ao mundo, Deus não só resgatou o homem da escravidão da lei e do mundo, elevou o homem a categoria de filho, como deu plena garantia disso enviando o Espírito Santo. Paulo diz: “E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho,
  • 14. 14 A VIDA DE JESUS que clama: Aba, Pai! De sorte que já não és escravo, porém filho; e, sendo filho, também herdeiro por Deus” (Gl 4.6-7). A certidão de nascimento do filho de Deus é o Espírito Santo que habita seu interior e que clama: “Aba, Pai”, uma expressão íntima de um filho para seu pai. O Espírito Santo, também chamado por Paulo de “penhor da nossa herança” (Ef 1.14) é a garantia de que somos herdeiros de Deus e que certamente receberemos essa herança. CONCLUSÃO Nunca houve e nem haverá outro como Jesus, o Cristo, que nasceu, viveu, morreu e ressuscitou no primeiro século. Impactou e dividiu a história. Colocou- se no meio de dois testamentos, e gerou uma nova contagem cronológica para os calendários do mundo. Colocou-se no meio de dois mundos, o divino e o humano, e possibilitou a união desses dois lugares separados por causa do pecado. Toda uma civilização foi construída sobre as bases do cristianismo. Os melhores conceitos de adoração a Deus, de amor ao próximo e de convivência pacífica com a existência se devem a Ele. A civilização ocidental, que tem estado na vanguarda do mundo desde o estabelecimento do cristianismo, deve sua própria origem ao cristianismo de Jesus. O mundo tem uma dívida impagável com o homem de Nazaré. Dá para imaginar um budismo sem Buda e até um islamismo sem Maomé, e muitas outras religiões também passariam bem sem seus fundadores, pois não dependem deles e sim dos ensinos deles. O cristianismo, porém, não existe sem Cristo. De fato, “seria mais fácil separar todos os raios de luz que atravessam o espaço e deles remover uma das cores primárias, do que retirar do mundo o caráter de Jesus”4 . As vezes as pessoas se dizem cristãs porque fazem certas obras ou têm certos comportamentos, mas isso é um equívoco, ninguém é cristão por algo que faz e sim por sua postura em relação a Cristo. Não somos salvos pelos ensinos de Jesus somos salvos por Jesus. O Cristianismo é Jesus. APLICAÇÃO Jesus perguntou: Quem dizeis que eu sou (Mateus 16.13-20)? Oqueele épara nós? João escreveu que a vinda do Filho foi uma prova de amor de Deus por nós (João 3.16). Amamos por que ele nos amou primeiro? A vinda de Jesus na plenitude dos tempos impactou a existência (João 1). Qual é o impacto da vinda de Jesus sobre sua vida? 4 E. H. Bancroft. Teologia Elementar. São Paulo: Editora Batista Regular, 1966. p. 97
  • 16. 16 A VIDA DE JESUS O ANUNCIADO Mateus 1.1-17 2 INTRODUÇÃO Houve um momento no jardim do Éden, um instante forense, em que o Senhor Deus estabeleceu um veredicto judicial sobre Adão, por conta da desobediência e anunciou suas consequências (Gn 3.14,15). Entendemos que foi um instante crucial1 , no melhor sentido da palavra. Parecia não haver solução para a situação do homem. E, de fato, o homem não solucionaria o seu problema por sua própria condição. Condenado, restava cumprir sua pena. Dali em diante, imerso no pecado, o homem apenas geraria os pecadores para sempre. Neste momento, o redentor foi anunciado pela primeira vez. Então, ele foi anunciado no jardim do Éden (Gn 3.14,15), e continuou a ser anunciado no monte Moriá quando Abraão sacrificaria o seu filho (Gn 12.1-14), no cordeiro pascal quando os israelitas comemoraram a primeira páscoa (Ex 12.1-28), no Maná que caía do céu como pão (Ex 16.1-4), na água da rocha quando o povo andava pelo deserto (Nm 20.1-11), através dos profetas que sempre disseram que o redentor viria (Is 11.1-6), e muitas outras vezes. Na plenitude dos tempos, o sempre anunciado Messias viria... I. O DIREITO DE JESUS AO TRONO DAVÍDICO Do tronco de Jessé nasceria um renovo, um rebento... (Is 11.1). A casa davídica permaneceria para sempre. Mas como isso seria possível uma vez que o povo de Deus era frágil? Um povo assim entre tantos povos mais poderosos conseguiria tal feito? Sustentaria a propriedade? Protegeria as suas fronteiras? Em Mateus 1.1-17 vemos a linhagem do Messias sendo preservada. A palavra Cristo tem origem no termo hebraico mashiac, ou seja, Messias, que significa ungido. No Antigo Testamento usava- 1 Crucial vem de “cruz”.
  • 17. O ANUNCIADO 17 se óleo para ungir alguém chamado por Deus para um ofício (1Sm 16.13), contudo, no tempo de Jesus, Messias trazia a conotação de Rei. De onde viria o rei prometido? Os israelitas davam muita importância às genealogias porque para eles era uma questão vital. Quando o povo entrou em Canaã, a terra foi dividida entre as tribos, de maneira que era preciso saber exatamente a que ascendência uma determinada pessoa pertencia para saber qual pedaço de terra herdaria (Nm 26.34- 35). Com certeza, a principal razão pela qual tanto Mateus quanto Lucas fizeram questão de colocar a genealogia de Jesus em seus Evangelhos foi para provar que Jesus era um legítimo descendente de Davi e, consequentemente, um herdeiro do Trono de Israel. A diferença básica entre os dois evangelistas é que Mateus segue a ascendência de José que era tido como pai de Jesus e Lucas segue a ascendência de Maria. Fosse por José, fosse por Maria, Jesus era igualmente descendentedeDavi.Mateus,queescreve para os judeus, faz questão de demonstrar a genealogia de Jesus a partir de Abraão. Lucas, que escreve para gentios, vai mais atrás até o próprio Adão, originador de toda a raça humana. A descendência davídica de Jesus Cristo era muito importante, pois Deus havia prometido a Davi que o descendente dele se assentaria no Trono de Israel (2Sm 7.12-17). Em seu ministério, Jesus sofreu várias acusações sobre sua origem. O povo ignorava sua ascendência davídica. Era de domínio popular a informação de que o Messias nasceria em Belém e seria descendente de Davi (Jo 7.41-42), e todos pensavam que Jesus era da Galileia. Os Evangelhos escritos corrigiram essa noção errônea (Mq 5.2). Como afirma John MacArthur Jr. “é igualmente interessante e significante que desde a destruição do Templo em 70 d.C. não existam genealogias que possam traçar a ascendência de algum judeu que vive nos dias de hoje. O significado primário deste fato é que, para aqueles judeus que esperam pelo Messias, sua linhagem até Davi nunca poderá ser estabelecida. Jesus Cristo é o último pretendente ao trono de Davi que pode ser verificado”2 . Todos os registros dos judeus que esperavam um sucessor de Davi apontaram para Cristo, e nunca mais houve registros que apontem para outro redentor. Ou é Cristo, ou nenhum. Este é o dilema judeu, negar os seus próprios registros e as suas próprias expectativas messiânicas, rasgando assim, milhares de anos de história, ou reconhecer Jesus como Messias. II. OS HONRADOS PELO REGISTRO SAGRADO Quando olhamos para a extensa lista de nomes descrita na genealogia de Jesus alguns são absolutamente estranhos para nós. E de fato, alguns nomes somente aparecem aqui na Bíblia. Não temos qualquer informação adicional sobre eles, mas percebemos que Deus é suficientemente justo e misericordioso 2 John F. MacArthur. Mathew - The MacAr- thur New Testament Commentary. Chicago: Moody Press, 1983. Mt 1.1.
  • 18. 18 A VIDA DE JESUS para não deixar ninguém esquecido. A. Abraão e Davi Precisaríamos muito tempo para falar desses dois homens de Deus, que estão entre os personagens bíblicos mais importantes de todos os tempos. O que eles têm em comum é a fé inabalável nas promessas de Deus. A ambos Deus fez promessas. Abraão foi chamado de Ur dos caldeus para ser uma bênção para todas as famílias da terra (Gn 12.1-3). Sua descendência seria numerosa como as estrelas do céu (Ex 32.13). Abraão é chamadopeloNovoTestamentodeo“pai de todos os que creem” (Rm 4.11). Jesus é o descendente de Abraão que abençoa todas as famílias da terra e que torna a descendência de Abraão numerosa como as estrelas do céu ou como a areia do mar. De Davi, como já dissemos, Deus disse que seu descendente se assentaria para sempre no seu trono. Jesus é o descendente de Davi, o legítimo herdeiro de seu Trono. B. As mulheres Significativamente na ascendência de Jesus, citam-se várias mulheres. Mais do que a lógica, porque sem elas ninguém nasceria, há a intenção de honrar quem deve ser honrado. A começar por Maria, a mãe de Jesus. Maria era uma jovem e desconhecida mulher que foi agraciada por Deus para uma tarefa sem precedentes. Como Abraão e Davi, Maria também era pecadora e precisava de salvação. Por isso ela mesma disse: “o meu espírito se alegrou em Deus, meu salvador” (Lc 1.47). Mais quatro mulheres são citadas na lista: Tamar, Raabe, Rute e Bateseba (essa última não é citada pelo nome). As três primeiras têm algo em comum: são estrangeiras. E Bateseba, antes de Davi, era mulher de outro homem. Tamar era canaanita e nora de Judá. Sua história é contada em Gênesis 38. O marido de Tamar chamava-se Er. Ele morreu sem deixar filhos. No costume da época, o irmão mais moço deveria suscitar a descendência do irmão morto. Assim, Onã, irmão de Er se casou com Tamar, mas se recusou a engravidá-la, consciente de que o primeiro filho seria legalmente descendente de Er. Punido por Deus, Onã morreu. Judá prometeu a Tamar o filho caçula, mas não cumpriu a promessa. Um dia Tamar se disfarçou de prostituta e se deitou com o próprio Judá. Tendo engravidado, Judá ordenou que fosse morta, foi quando ela provou que estava grávida dele. Dessa ilícita união nasceram Perez e Zera. Perez entrou na linhagem do Messias. Raabe é a próxima citada na genealogia. Era estrangeira, habitante de Jericó e prostituta de profissão. Seu grande feito foi proteger dois israelitas enviados por Josué para espiar a terra (Js 2.1-21). Por causa disso foi poupada quando Jericó foi destruída (Js 6.22-25). Ela se tornou esposa de Salmom e mãe de Boaz, que foi avô de Davi. Rute, a moabita, é a terceira mulher citada na lista. Foi a mulher que se casou com Boaz, e portanto, acabou sendo nora de Raabe. Mas, antes disso foi nora de Noemi, e permaneceu junto
  • 19. O ANUNCIADO 19 dessa, mesmo quando o marido, filho de Noemi, morreu. Voltou junto para Israel com Noemi, tendo aceitado o Senhor como seu Deus. Foi avó de Davi, o grande rei de Israel. Bateseba é identificada na lista como a mãe de Salomão, e antes fora mulher de Urias.Davicometeuadultériocomela,ea criança que resultou do adultério morreu. Salomão, entretanto, foi o sucessor de Davi no trono e continuou a linhagem messiânica (2 Sm. 11:1-27; 12:14, 24). O que essas quatro mulheres têm em comum é que, aos olhos humanos, não seriam consideradas dignas, nem muito honradas. Entretanto, Deus as incluiu na linhagem de seu Filho. Isso nos mostra como Deus tem seus “caminhos secretos”, realiza o improvável e escolhe o inesperado. A graça de Deus é o que se destaca acima de tudo nessas escolhas. De fato Jesus veio buscar pecadores ao arrependimento (Mt 9.13), pois pecadores foram tanto seus “descendentes” quanto seus ascendentes. III. OS DIFERENTES PERÍODOS Ao todo Mateus lista três grupos de ancestrais de Jesus (Mt 1.17). O objetivo de Mateus ao dividir as gerações dessa forma é demonstrar que a graça de Deus esteve presente em três épocas bem distintas da nação. A. O Tempo das Peregrinações O tempo de Abraão até Davi incluiu o tempo dos Patriarcas, de Moisés, Josué e dos Juízes. Foi uma longa época em que o povo de Deus contemplou os grandes feitosdoSenhorparalibertação.Foinesse tempo que o povo tomou conhecimento da Aliança, recebeu a Lei e conquistou a Terra Prometida. De um homem, Deus fez para si um povo, que se multiplicou e se tornou uma genealogia, uma luz ascendente entre as nações, com registros históricos que confirmam a sua trajetória objetiva de chegar ao melhor lugar da terra. Isso aconteceu nos tempos de Josué, o povo, instalado no lugar escolhido, começou a sua organização política. Eles querem um rei... O povo de Deus necessita ter a mesma organização dos povos? Quais são as suas leis? B. O Tempo da Monarquia De Davi até a deportação para a Babilônia foi o período em que Israel se manteve organizado em forma de Reino. O povo quis um rei em semelhança das nações ao redor (1Sm 8.5). Foi um tempo de declínio e apostasia. Enquanto os reis se alternavam entre bons e maus, os profetas iniciaram uma atividade reformatória apontando para um rei acima dos reis. Deus era o rei dos reis. Ele sustentava a existência pela força do seu poder. Este período de aproximadamente quinhentos anos foi um tempo para conhecer a disciplina de Deus, embora a mais dura disciplina ainda estava por vir. Apenas quatro reis se destacaram
  • 20. 20 A VIDA DE JESUS nesse período como defensores da verdade de Deus: Davi, um homem segundo o coração de Deus; Josafá, que compreendeu a necessidade de um rei sobre si; Ezequias que estreitou o relacionamento e foi abençoado por Deus, e Josias, que foi um dos mais jovens restauradores da ortodoxia perdida. Era de reis que o povo necessitava? Ou de voltar-se para o supremo rei, com a instrução mais segura, e um cuidado garantido pela Graça? Ao mesmo tempo, levantando reis fiéis e tementes, Deus mostrou sua misericórdia e “adiou” por várias vezes a destruição de Judá e Jerusalém. Tudo isso fez parte do plano de trazer o Messias ao mundo. C. O Tempo do Cativeiro As catorze gerações que viveram desde a deportação para Babilônia até Cristo experimentam a “Era das Trevas” de Israel. Durante todo esse período, Israel jamais deixou de ser escravo de potências estrangeiras. Templo queimado, muros assolados, política danificada, famílias destruídas, sistema religioso avariado. Nações ímpias comandaram o seu destino, reis foram humilhadoseopovofoiescravizado.Uma coisa permanece: o pacto da redenção através da linhagem messiânica. E mais do que nunca, o anseio pelo Messias perdura. Durante esses três distintos períodos da história de Israel, Deus continuou agindo ininterruptamente a fim de trazer a salvação ao mundo. Apesar de toda apostasia e declínio, a linhagem santa prosseguiu através de heróis como Davi, ou desconhecidos como Azor. Nas palavras de MacArthur: “a genealogia de Jesus é um misto de glória e vergonha, heroísmo e desgraça, renovação e obscuridade. Israel levanta, cai, estagna e finalmente rejeita e crucifica o Messias que Deus enviou para eles. Mas Deus, em sua infinita graça, já enviou seu Messias através deles”3 . IV. O ÚLTIMO NOME Como já vimos, muitos nomes citados na lista nos falam de histórias tristes, cheias de violência e atos pecaminosos. Encontramos defeitos em todos os nomes citados nessa lista. A Bíblia não é um livro parcial, ela faz questão de mostrar a realidade sem disfarçar os defeitos dos personagens como se fosse um filme de ficção. Homens como AbraãoquementiusobresuamulherSara (Gn 12.13), e em outra ocasião tomou a serva Agar como mulher para “apressar” a promessa de Deus (Gn 16.1-4). Ou Arão que construiu os bezerros de ouro fazendo Israel se desviar (Ex 32.1-4). Ou Davi que adulterou com Bateseba e foi responsável pela morte do marido dela (2Sm 11.1-27). Ou Salomão que deixou suas mulheres lhe perverterem o coração e caiu na idolatria (1Rs 11.3-4). Ou Acaz que foi um rei ímpio, que desviou o povo do caminho do Senhor e chegou até a queimar seu próprio filho em sacrifício segundo as abominações dos povos da terra (2Rs 16.1-4). Ou Manasses, que além das abominações de Acaz, chegou a colocar um poste-ídolo dentro do Templo do Senhor em Jerusalém (2Cr 3 John F. MacArthur. Mathew - The MacAr- thur New Testament Commentary. Chicago: Moody Press, 1983. Mt 1.17.
  • 21. O ANUNCIADO 21 33.1-7). Todos esses figuram na lista e carregamhistóriasparticularesdevitórias e derrotas. Mas, ao fim de todos esses nomes figura o nome do Senhor Jesus Cristo. Cristo é a salvação para seu povo não importa como esse povo vivia antes de conhecê-lo. Ao mesmo tempo, a pecaminosidade desses homens (e a nossa) tornou necessária a vinda do Senhor. Num sentido podemos dizer que Cristo termina uma lista e começa outra. Ele termina a lista dos pecadores da terra e inicia a dos pecadores regenerados e arrolados no céu. CONCLUSÃO AoestudarmosavidadeJesus,precisamos nos deter nos Evangelhos escritos (Mateus, Marcos, Lucas e João). Eles são nossa fonte. Neles nos deparamos com a pessoa impressionante de Jesus de Nazaré. Cada detalhe desses escritos sagrados é de máxima importância para nós. Nas genealogias do Oriente Próximo, as mulheres geralmente não eram contadas, mas na genealogia bíblica elas figuram como parte da história. As cinco contadas são: Tamar (Gn 38.6-30), Raabe (Js 2), Rute (Dt 23.3-5), Bateseba (2Sm 11) e Maria (que cumpriu a promessa de Isaías 7.14 e Gênesis 3.15, conforme Gálatas 4.4). Pessoas do ocidente não costumam dar muita importância a Genealogias. Por essa razão, achamos enfadonho ter que ler as extensas listas genealógicas do Antigo Testamento. Mas o Novo Testamento também começa com uma lista genealógica: A Genealogia do Filho de Deus como homem. Ela é de suprema importância, pois revela a soberania e a fidelidade de Deus. Aqueles que costumam “pular” esse texto até encontrar algum assunto mais interessante, não fazem ideia do que estão perdendo ao deixar de considerar a Genealogia de Jesus Cristo. Se o Espírito Santo fez questão de que ela estivesse aí é porque faz sentido e é importante para nossa vida. A genealogia, o nascimento, os primeiros dias, a infância de Jesus nos mostram que ele era o Messias aguardado. Desde cedo, Deus o conduziu para ser apresentado como o rei dos judeus e dos gentios para todo o sempre. Ninguém pode ser tão pecador que se exclua do alcance da graça de Cristo. APLICAÇÃO Anunciado no Éden, anunciado no Monte Moriá, anunciado no cordeiro Pascal,anunciadonoManá,anunciadona Rocha,anunciadonaSerpentedeBronze, anunciado no templo. Anunciado. O Antigo Testamento afirmou a vinda do justo servo do Senhor (Is 42.1-9), ele seriaprofetacomoMoisés(Dt18.18-19), ministro da ordem de Melquisedeque (Sl 110.4), rei da linhagem de Davi (Is 55.1- 3). Por mais terríveis que sejam os nossos
  • 22. 22 A VIDA DE JESUS pecados, eles não fecham o céu para nós. Nossa vida de pecado acaba em Cristo. Após Cristo não há mais nomes a serem citados. Ele é o fim de tudo. É o nosso destino. Todos nós somos chamados pelo nome dele. Somos cristãos. Anotações
  • 23. CHEGADA IMINENTE DO MESSIAS 23 INTRODUÇÃO Salvador, Cristo e Senhor. É assim que ele foi anunciado no Antigo Testamento. Assim ele foi descrito pelo anjo na noite do seu nascimento, mostrando que o Novo Testamento é apenas o cumprimento de todas as expectativas do Antigo Testamento. Desde o Éden Deus fez muitos anúncios sobre o nascimento de seu Filho (Gn 3.15). Por todo o Antigo Testamento existem profecias reveladoras do caráter e da missão do Messias. Porém, profecias ainda mais claras, nesse sentido, foram feitas pouco antes do nascimento de Jesus para Maria, através de Zacarias e aos pastores na noite do próprio nascimento. Viva o Rei! Uma virgem conceberá, uma manjedoura por trono, pastores como testemunhas, luz sobre as trevas, o maior acontecimento do mundo, enquanto o mundo... dorme. I. ANÚNCIO A MARIA (LC 1.26-38) O anjo Gabriel aparece na Bíblia muito antes desse acontecimento, ainda nos tempos de Daniel, quando foi enviado para dar resposta a uma oração do mesmo (Dn 8.16; 9.21). Ele também foi o responsável pelo anúncio à prima de Maria chamada Isabel, que igualmente teria um filho, o qual se chamaria João Batista. O anúncio para Maria, porém, sem dúvida foi a maior missão que aquele anjo já teve. Quando Gabriel se apresentou, saudou-a chamando-a de “muito favorecida”, que também pode ser entendido como “cheia de graça”, não como fonte de graça para os outros, mas como beneficiária de uma graça especial, indicando o alto privilégio concedido a Maria de ser a geradora do Filho do próprio Deus, para o estabelecimento do governo de Deus sobre toda a terra. O anjo continuou falando para ela: “Maria, não temas; A CHEGADA IMINENTE DO MESSIAS Lucas 1.26-38; 1.67-79; 2.8-20 3
  • 24. 24 A VIDA DE JESUS porque achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus” (Lc 1.28-29). Mateus nos diz que Jesus receberia esse nome porque de fato seria o salvador, conforme suas palavras: “ele salvará o seu povo dos pecados deles” (Mt 1.21). Isso nos leva a pensar que com certeza não foi um nome escolhido aleatoriamente. De fato, o nome de Jesus anunciado pelo anjo Gabriel enuncia claramente quem seria aquela criança. O nome “Jesus” significa “Yahweh salva”. O anjo continuou: “Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim” (Lc 1.32-33).OAntigoTestamentoanunciou que o Messias seria chamado de “Filho de Deus” e se assentaria no “Trono de Davi” (2Samuel 7.12-16 e Salmos 89.29). Aqui está a confirmação do próprio anjo identificando o menino que nasceria de Maria com o Messias prometido. Notamos também a promessa angelical de um reino sem fim sobre a casa de Jacó. Essa era uma promessa do Antigo Testamento que até o nascimento de Jesus ainda não havia se cumprido e nem se quer parecia ter chance de se cumprir, mas segundo o anjo, ela se cumpre integralmente na pessoa de Jesus. Diante do anúncio do anjo, Maria tem uma dúvida: Como poderia ela, uma jovemnãodesposada,conceberumfilho? Uma mulher casada poderia esperar um filho, mas alguém poderia gerar sem a inseminação de um pai humano? O anjo esclareceu: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus” (Lc 1.35). Jesus não nasceria pelo processo comum no qual todos os homens nascem, até porque ele não seria um homem comum. De alguma forma miraculosa, Maria conceberia do Espírito Santo, que a envolveria com poder e realizaria em seu ventre a fecundação e o nascimento de uma criança. Em termos semelhantes à açãodivinaprimordial,quandooEspírito de Deus pairou sobre as águas e fez a vida surgir do nada na criação do mundo; ao descer sobre Maria, o Espírito criou um ser santo e sem pecado. Essa criança, esse “ente santo”, nas palavras de Gabriel, seria chamado com todo direito de o “Filho de Deus”. A resposta de Maria demonstra o entendimento de que ela seria um vaso para a glória do Altíssimo. Estou aqui, disse ela, como serva, para que seja cumprida a vontade do soberano. Uma virgem daria a luz pelo poder do Espírito Santo, este foi o anúncio de Gabriel a Maria, e ela fora escolhida para a missão. Esta era a vontade de Deus. Em seguida Maria expressa gratidão dizendo que sua alma engrandecia ao Senhor, e o seu espírito se alegrava em Deus, o seu Salvador, pois a contemplou na sua humildade, e isso a tornaria bem- aventurada, porque o Poderoso e Santo nome lhe fizera grandes coisas. Maria entende a intensidade da misericórdia de Deus que ultrapassou gerações, dispersando pensamentos soberbos, derrubando tronos de poderosos e
  • 25. CHEGADA IMINENTE DO MESSIAS 25 exaltando os humildes. Deus sustentara os famintos, amparando Israel a fim de lembrar-se da sua misericórdia a favor de Abraão e de sua descendência para sempre. Enfim, Deus estava cumprindo o que prometera. Maria entendeu isso (Lc 1.46-55). II. ANÚNCIO A ZACARIAS (LC 1.67-79) A expressão “Bendito seja” (eulogetos) ajuda-nos a entender o motivo da sua oração. É uma maneira comum para a época ao iniciar uma declaração de ação de graças (Sl 72.18; 124.6). A expressão “Poderosa salvação” (Keras) é uma metáfora que se refere ao chifre de um animal como símbolo de força, indicando que a salvação seria um ato de intensa força de Deus. Uma alusão ao seu poder por honra às suas promessas. Quando João Batista nasceu, seu pai Zacarias cheio do Espírito Santo profetizou a respeito da missão de João. Mas ao profetizar sobre João, Zacarias profetizou também sobre Jesus, a quem Joãoprecederia.Zacariasdestacaa“visita” divinaaseupovoqueestavaacontecendo. Ele diz: “Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo, e nos suscitou plena e poderosa salvação na casa de Davi, seu servo” (Lc 1.68-69). E mais adiante completa: “graças à entranhável misericórdia de nosso Deus, pela qual nos visitará o sol nascente das alturas” (Lc 1.78). A. A misericórdia de Deus é a fonte da luz Toda a ação redentiva de Deus está baseada na sua entranhável misericórdia. Essa visita é “graças a entranhável misericórdia de Deus” (v. 78) que não se conformou com o estado do nosso mundo e resolveu agir para mudar a nossa sorte. A expressão “entranhável” (splagchnon) vem da anatomia humana e significa “baço”. As entranhas para os antigos hebreus eram consideradas o centro dos sentimentos mais extremos. Para os hebreus significava a sede das afeições mais sensíveis, especialmente, bondade, benevolência e compaixão. Daí, nosso “coração” ser a sede da misericórdia, afetos, etc. No mesmo padrão da libertação israelita do Egito, quando Deus diz: “Certamente, vi a aflição do meu povo, que está no Egito, e ouvi o seu clamor por causa dos seus exatores. Conheço-lhe o sofrimento; por isso, desci a fim de livrá-lo” (Ex 3.7- 8), a vinda de Jesus é uma demonstração da misericórdia libertadora de Deus. Entranhável é uma misericórdia que vem das entranhas do ser de Deus. A plenitude dos tempos seria o tempo da mais profunda misericórdia de Deus. Ele se movimentaria em graça na direção do seu povo para iluminar mentes e corações, fendas e caminhos. João Batista anunciaria esta luz. B. Luz para o conhecimento Zacarias descreve a vinda de Jesus igual aonascimentodoSol(v.78).Emboranão fossemtemposparadimensionardetalhes acerca do astro que iluminava a vida na
  • 26. 26 A VIDA DE JESUS terra, o sol tinha um grande significado para eles. Havia um tipo de beneficência no sol que os afetava diretamente. Via-se na produção agrícola, na manutenção da vida, na luz que espantava a escuridão. E não existe figura mais impressionante do que o nascer do Sol. Os seus raios de luz o antecedem. Ele divide o tempo entre as trevas e a luz. Significa o fim da noite e o raiar de um novo dia. É tempo de esperança e de alegria, quando o choro passa (Sl 30.5). O nascimento de Jesus pôs fim a uma era e deu início a outra. A partir daí o mundo não seria mais dominado pelas trevas, pois o Sol da justiça tinha nascido. No Antigo Testamento somente o povo de Israel tinha conhecimento de Deus, enquanto que o resto do mundo vivia mergulhado nas trevas da ignorância e do pecado. A vinda de Jesus não é só para Israel, mas para o mundo todo. A partir de seu ministério, Jesus enviaria seus discípulos a todas as nações, pondo fim ao terrível período de escuridão que cobria os povos (Is 60.2). Finalmente a alegria da manhã seria conhecida (Sl 30.5) C. Luz para o caminho O nascimento de Jesus não só põe fim a uma era de trevas do mundo como significa luz individual para os homens. Ele veio para “alumiar os que jazem nas trevas e na sombra da morte, e dirigir os nossos pés pelo caminho da paz” (Lc 1.79). “Jazer nas trevas” é uma figura da morte. A morte é para o mundo o fim da esperança. Essas trevas simbolizam o pecado que desgraça esse mundo. Jesus nasceu para trazer luz, ou seja, tirar o pecado do mundo (Jo 1.29). Seu nascimento, sua vida, seu sacrifício, sua ressurreição derrotaram o pecado. Para todos aqueles a quem ele comprou essa liberdade há um caminho iluminado a ser percorrido. III. ANÚNCIO AOS PASTORES (LC 2.8- 20) Os próximos que receberam um anúncio donascimentodeJesusforamospastores. As tarefas do “pastor” (poimen) no Oriente Próximo eram: Ficar atento aos inimigos que tentavam atacar o rebanho, defender o rebanho dos agressores, curar a ovelha ferida e doente, achar e salvar a ovelha perdida ou presa em armadilha, cuidar do rebanho com todo o esforço e diligência e assim ganhar a confiança das ovelhas, de forma que elas ouviriam a sua voz e seriam conduzidas por ele. Existem pessoas que parecem predestinadas a ver coisas excepcionais acontecerem. É uma questão de estar no lugar certo na hora certa. Mas o anjo não apareceu para eles aleatoriamente. Ele foi buscá-los. A. Uma visita celestial Era uma noite comum, como outra qualquer. Provavelmente uma fria noite de inverno. Um grupo de homens estava guardando ovelhas nos arredores de Jerusalém. Ali estava uma classe desprezada de homens, eram pastores. Eram desprezados porque seu trabalho os impedia de obedecer a lei cerimonial, e de participar das grandes festas judaicas. Eram considerados malfeitores, tidos como ladrões, e indignos de confiança.
  • 27. CHEGADA IMINENTE DO MESSIAS 27 Isso era tão significativo que a sua palavra não valia em um tribunal da época. A sua presença somente tinha valor para a ovelha. Não podiam imaginar o que estava acontecendo no mundo naquele exato instante, e nem que eles mesmos iriam receber uma visita muito especial ainda naquela noite. Eles podiam ser desprezados pelos homens, mas certamente não eram desprezados por Deus, eram privilegiados, eram escolhidos. Aqueles cuja palavra era desprezada e desvalorizada foram os primeiros anunciadores em Belém (Lc 1.20). Isto não é impressionante? B. A mensagem celestial A mensagem do anjo foi a seguinte: “hoje vos nasceu na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor”. Para o mundo os acontecimentos daquela noite eram um segredo. Em todas as casas as pessoas dormiam sem se dar conta do que estava acontecendo. É curioso que o maior acontecimento de todos os tempos aconteceu de forma humilde, e, até poderíamos dizer, particular. O único sinal diferente foi a estrela que trouxe os magos. E os únicos que receberam o anúncio foram aqueles humildes pastores.Omundoquesempreestáávido por espetáculos, na maioria das vezes, perde os principais acontecimentos. Os anjos sabiam da grandiosidade daquele evento. Parece até que os companheiros do anjo que anunciou não se aguentaram e vieram juntos contar a história (v. 13- 14). O anjo disse: “hoje vos nasceu”. Hoje é o dia em que a história do mundo será mudada. O mundo jamais seria o mesmo depois daquela noite. Entretanto, a particularidade daquela noite já havia sido anunciada pelo anjo. Ele disse “hoje vos nasceu”. O nascimento de Jesus é realmente especial para poucos, apenas para aqueles que foram escolhidos para entender e serem abençoados por esse nascimento. O anjo deu três nomes para o menino que havia nascido: Salvador, Cristo e Senhor. Esses nomes nos falam da natureza, do caráter e do poder da vida de Jesus. O primeiro é Salvador. Jesus veio a esse mundo com uma tarefa específica: salvar o seu povo dos pecados deles. Cristo literalmente significa ungido. A unção nos fala de alguém que é separado para alguma função especifica. Jesus, desde o nascimento, e na verdade, antes da fundação do mundo, já havia sido designado para a tarefa de morrer pelos pecados (Ap 13.8). O título Senhor nos fala que a Criança que havia nascido não era uma simples criança. Senhor é o termo usado no Antigo Testamento para o próprio Deus. Senhor nos fala do poder, e da Soberania de Jesus. C. A reação dos pastores Eles foram até Belém e encontraram a criança deitada na manjedoura. E o texto enfatiza: “e vendo-o, divulgaram o que se lhes havia dito a respeito deste menino” (v. 17). Eles se sentiram obrigados a testemunhar de sua maravilhosa experiência, conforme todos os acontecimentos daquela noite. Imagine uma pessoa falando de sua experiência
  • 28. 28 A VIDA DE JESUS com anjos! Não seria considerado meio maluco? Sim, mas tal era a certeza, a convicção da veracidade do que eles haviam visto e ouvido que eles não se preocupavam com o que os outros iriam pensar. Importava-lhes testemunhar. Grande efeito causou o testemunho daqueles pastores na vida de muitas pessoas. Lucas nos diz que todos os que ouviam aquilo ficavam maravilhados, mas foi Maria quem teve a melhor atitude, Maria guardava tudo aquilo em seu coração (v.19). Achar o menino Jesus deitado numa manjedoura, num casebre, em pobreza extrema não foi motivo de tropeço para aqueles homens. O coração deles se encheu de gozo e alegria, se sentiam privilegiadosportudooquetinhamvistoe ouvido, e o louvor fluiu espontaneamente de seus lábios. Temos muito a aprender com esses homens. Temos que aprender com sua simplicidade e fé. Precisamos aprender a sermos melhores testemunhas e melhores adoradores. CONCLUSÃO Enquanto um anjo desce até onde os pastores se encontram, com a Glória do Senhor iluminando a noite escura, levando-os a um grande temor; enquanto o anjo afirma que em Belém nasceu o Salvador, Cristo e Senhor; enquanto os anjos em coro celebram dizendo: “Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem”, o mundo dorme. Podemos concluir que o nascimento de Jesus, o maior acontecimento de todos os tempos não foi muito concorrido. Deus anunciou o nascimento de seu Filho, mas o mundo não estava muito disposto a ouvir. O mundo continua dormindo. Poucos naquela noite ouviram o cântico dos anjos. E poucos estão ouvindo agora, mas eles cantam. Eles adoram a Deus por sua misericórdia e graça para com os homens. Enquanto o mundo descansa em berço esplêndido (ou pouco esplêndido), é dito para nós que o salvador dos humildes está aqui (Mt 11.25-27), que Deus escolheu os simples (1Co 1.26-29), que Cristo nasceu para nos libertar (Gl 4.4-5), que o Senhor sabe quando o seu povo precisa de livramento (Ex 3.1-22), e que o Pai enviou seu Filho para salvar os perdidos (1Jo 4.9-14). O que fazemos enquanto Deus executa as suas obras? Dormimos? APLICAÇÃO Mais uma vez devemos agradecer a Deus por sua provisão para seu povo. Louvar a Deus pela disposição de Jesus em tomar sobre si a dura tarefa de redimir o povo de Deus. Nossa fé pode ser novamente renovada nesse Deus que sempre cumpre suas promessas, e trabalha para aqueles que esperam nele (Is 64.4). Enquanto Deus continua a fazer obras maravilhosas, o que fazemos? Quais os pensamentos que ocupam nossa mente? Quais os objetivos do nosso coração? Quais propósitos norteiam nossa vida espiritual?
  • 29. CHEGADA IMINENTE DO MESSIAS 29 Disse o profeta: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso conselheiro, Deus forte, Pai da eternidade, Príncipe da paz”. (Is 9.6) Anotações
  • 30. 30 A VIDA DE JESUS INTRODUÇÃO Muitas coisas que acontecem nessa vida parecem simples e corriqueiras, mas muitas vezes têm implicações eternas. Encontros aparentemente casuais se revestem de solenidade ímpar, quando decisões importantes são tomadas a partir deles. Outras vezes nem é preciso tomar essa ou aquela decisão, mas o simples encontro já torna tudo novo. Um certo dia, duas mulheres grávidas se encontraram em algum lugar simples no interior da Judeia. Seria um encontro comum, não fosse o momento crucial que o mundo vivia e a identidade das crianças que estavam em seus ventres: Jesus e João Batista. Aquele foi definitivamente um encontro de gigantes. Um seria o rei, outro seria o seu profeta e precursor deste rei. O precursor seria o maior homem que já viveu. O rei, o próprio Deus na terra. Na cena relatada no texto deste estudo, de algum modo maravilhoso, vemos esses dois antes de nascerem, e isso faz com que aprendamos muito a respeito deles. I. VIDA NO VENTRE O Evangelista Lucas narra o impressionante encontro de Jesus e João Batista quando ainda estavam no ventre de suas mães. Tendo Maria engravidado através do Espírito Santo, apressadamente se dirigiu até a casa desua parenteIsabel,a fim de compartilhar com ela, que também estava grávida, as bênçãos recebidas de Deus. Pelo contexto, entendemos que Maria partiu imediatamente. Isabel estava grávida havia seis meses (v. 36), e Maria ficou na casa da parente por três meses (v. 56), possivelmente retornando para casa antes dos nove meses de Isabel. Aquela família estava sendo alvo de grandiosas manifestações e promessas FILHOS NO VENTRE, CUMPRIMENTOS A CAMINHO Lucas 1.39-56 4
  • 31. FILHOS NO VENTRE, CUMPRIMENTOS A CAMINHO 31 inefáveis. O anjo Gabriel havia se apresentado a Zacarias, esposo de Isabel, e lhe anunciado que apesar da idade avançada e do fato de não terem filhos, Deus lhes agraciaria com o nascimento de um menino, que receberia o nome de João. Esse menino seria “cheio do Espírito Santo, já do ventre materno” (Lc 1.15). Sua função seria anteceder o Senhor, preparando o caminho para a manifestação de Jesus. Seis meses depois, Gabriel se dirigiu a Maria na cidade de Nazaré e lhe anunciou o nascimento de Jesus que seria chamado “Filho do Altíssimo”, o qual se assentaria no Trono de Davi e reinaria para sempre sobre a casa de Jacó (Lc 1.31-33). Realmente não é todo dia que se ouve promessas assim. O encontro daqueles dois bebês notáveis, que sacudiriam a Judeia dentro de alguns anos, aconteceu de forma simples em algum lugar não identificado da região montanhosa da Judeia. Quando Maria entrounacasadeZacariasesaudouIsabel, a criança no ventre de Isabel estremeceu, e ela ficou cheia do Espírito Santo (Lc 1.40-41). O termo “estremeceu” pode ser traduzido por “salto”, o que implica um movimento objetivo, reativo a um fato. Não era para menos, aquele a quem ele anunciaria enquanto vivesse, aquele que seria o seu Senhor, aquele que mudaria o mundo, estava ali, à distancia de um ventre. Assim, um pulo de alegria no ventre, produzido pelo Espírito Santo, também fez Isabel entender que a mãe do seu Senhor a visitava. Isabel disse a Maria, sobre aquele acontecimento: “logo que me chegou aos ouvidos a voz da tua saudação, a criança estremeceu de alegria dentro de mim” (Lc 1.44). É comum que bebês se movam no ventre de suas mães. Mas aquele não era um mover comum. De alguma maneira, João, no ventre de sua mãe, reconheceu a pessoa daquele a quem fora enviado para anteceder. Sendo cheio do Espírito Santo desde o ventre materno, esse mesmo Espírito fez com que a criança se movesse dealegriaaoreconheceroSenhor,a quem dedicaria toda a sua vida. A partir daquele momento, João se movimentaria apenas em resposta ao comando do mestre. Todas as suas ações, toda a sua vida, foi para glorificá-lo. João nunca pretendeu se comparar a Jesus. Apesar de muitos pensarem que ele pudesse ser o Messias, em sua humildade, desde o início reconheceu: “Eu, na verdade, vos batizo com água, mas vem o que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de desatar-lhe as correias das sandálias; ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Lc 3.16). João foi o grande anunciador de Jesus. Ele realmente preparou o caminho para a manifestação do Cristo. Ele disse de Jesus: “É este a favor de quem eu disse: após mim vem um varão que tem a primazia, porque já existia antes de mim” (Jo 1.30). Essa alegria na pessoa de Jesus foi marca de toda a sua vida. Quando seus discípulos vieram lhe informar que Jesus também estava batizando, João disse: “O homem não pode receber coisa alguma se do céu não lhe for dada. Vós mesmos sois testemunhas de que vos disse: eu não sou o Cristo, mas fui enviado como seu precursor. O que tem a noiva é o noivo;
  • 32. 32 A VIDA DE JESUS o amigo do noivo que está presente e o ouve muito se regozija por causa da voz do noivo. Pois esta alegria já se cumpriu em mim. Convém que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3.27-30). II. GRAÇA DE DEUS QUE GERA VIDA AoouvirasaudaçãodeMaria,Isabelcheia do Espírito Santo exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre! E de onde me provém que me venha visitar a mãe do meu Senhor?” (Lc 1.42-43). A despeito de que parte dos cristãos até hoje use essas palavras de Isabel numa oração à Maria, recheada de idolatria, essa certamente não foi a intenção dela e muito menos do Espírito Santo. Era um simples reconhecimento do quanto Maria fora agraciada pelo Senhor ao ser escolhida para carregar o Filho de Deus. Maria não era geradora de graça ou de bênção, mas objeto da graça e da bênção de Deus. Ela se tornou bendita porque carregava em seu ventre aquele que é bendito por excelência. Sua bênção era derivada do ente bendito que carregava em seu ventre. A noção atual de que ela foi concebida sem pecado (Imaculada Conceição) e que seja Co-Redentora e Co-Mediadora com Cristo é algo totalmente anti-bíblico e que nãoexistianaIgrejaprimitiva. Essas ideias heréticas foram introduzidas na igreja ao longo dos séculos quando mitos pagãos originados ainda na antiga Babilônia pelas religiõesdemistérioforamseacomodando dentro do cristianismo. Essas ideias se reportam ao tempo da torre de Babel, quando Semíramis, a esposa de Ninrode, tornou-se a primeira sacerdotisa idólatra. Semíramis foi cultuada em várias nações sob nomes diferentes, como Astarote, Isis, Afrodite, Vênus e Ishtar. Os hebreus que frequentemente caíam na idolatria a chamavam de “Rainha dos céus” (Jr 44.17-19). Tamuz, o filho de Semíramis, que segundo a lenda foi concebido por um raio do Sol, foi conhecido como Baal, Eros e Cupido no mundo antigo. Os israelitas também se inclinavam a Tamuz em seus tempos de rebeldia (Ez 8.13-14). Inclusive acreditava-se que ele havia ressurgido dos mortos após 40 dias de jejum por parte de sua mãe. Essa é a origem do culto da mãe de Deus, da Rainha dos Céus. Durante a Idade Média, quando os pagãos foram forçadamente convertidos a religião cristã, essas crenças se infiltraram na Igreja. Dessa forma as deusas do paganismo foram adoradas sob o nome de Maria. Àpartedissotudo,Mariadeveserhonrada pela graça que recebeu de Deus. Porém, ela é receptora de graça e não geradora dela. III. VIDA QUE LOUVA AO SEU SENHOR A canção de louvor de Maria tem certa semelhança com outra canção, de outra mãe, que antes de João, profetizou a respeito da vinda de um profeta. São as belas palavras de Ana (1Sm 2.1-10). Ambos os cânticos jubilam ao Senhor pelos seus feitos, exaltam a singularidade e a santidade do Senhor, condenam a arrogância dos orgulhosos, revelam que o Senhor interfere nos destinos humanos, e ambos lembram que o Senhor cuida dos seus filhos.
  • 33. FILHOS NO VENTRE, CUMPRIMENTOS A CAMINHO 33 Todo o entendimento da própria Maria sobre sua situação e sobre a graça de Deus está descrito em seu cântico que foi proferido após as palavras de Isabel. Esse cântico ficou historicamente conhecido como o Magnificat de Maria por causa da primeira palavra que aparece na tradução latina do cântico. Podemos ver no cântico de Maria três ênfases distintas. A. Graça Pessoal A primeira ênfase do cântico de Maria é de exaltação pela graça divina da qual ela própria foi objeto. Ela diz: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador, porque contemplou na humildade da sua serva. Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada, porque o Poderoso me fez grandes coisas” (Lc 1.46-49). Ela engrandece (tradução literal “continua engrandecendo) num ato contínuo por algo que Deus fez em sua vida. O que Deus fez ela descreve como o momento em que se “alegrou em Deus”, denotando uma ocasião específica no passado, sem dúvida se referindo ao anúncio do anjo e a concepção sobrenatural. Aquilo foi um momento de grande alegria. Consequentemente ela chama Deus de “meu Salvador”, que interveio na situação humilde dela como servaefezgrandescoisas.Essaaçãodivina em sua vida não só garante sua salvação pessoal como seu estado perpétuo de “bem-aventurada”. O que não pode ser esquecido é que a fonte de toda essa alegria e bem-aventurança é a criança que ela carregava em seu ventre. Assim, começando pela exaltação do ser de Deus, o cântico logo nos mostra o real sentimento de adoradora. O termo “engrandece”, também corresponde a “proclama as grandezas”. “Minha alma” não deve ser entendida como a parte espiritual da pessoa, mas tem o sentido de todo o ser de Maria. Não é um ato ritualístico, mas algo profundo, com todo o seu ser. O cântico traz o sentido de uma pessoa totalmente entregue a Deus, quebrantadadiantedele,agradecidadesde asuaalma.Portanto,oprimeirocânticode louvor do Novo Testamento nos mostra o sentimento do adorador. Não é uma explosão desconexa de sentimentos, mas um profundo reconhecimento de quem é Deus e do que está fazendo naquele momento. É um momento de reflexão e contrição. A verdadeira adoração parte de um coração rendido e absorto em Deus. Não há proeminência humana, mas uma glorificação a Deus. Por isso, o Magnificat não é um cântico de superioridade, mas de claro reconhecimento de humildade, diante do Senhor que atentou para a “pequenez de sua serva”. Maria recebeu graça do Poderoso de Israel. Ele “atentou”. É correto dizer que nossos cânticos devem expressar nossa fé e nossos sentimentos, mas devem deixar claro que tudo que recebemos de Deus é por generosidade dele e não mérito nosso. Determinar? Declarar? Reivindicar? Com que autoridade, uma vez que devemos a ele até mesmo nossas vidas?! Cânticos, primeiramente, deveriam magnificar ao Senhor por ele ter aceitado a nós como filhos. Maria deu esse exemplo.
  • 34. 34 A VIDA DE JESUS B. Graça para os humildes Na sequência, o cântico fala dos que temem a Deus, e diz que ele operou contra os soberbos e poderosos, elevou os maisfracosehumildes,saciouosfamintos e disciplinou os ricos. Não é um cântico que apenas expressa gratidão pelo que lhe aconteceu. É um cântico que não olha apenas para si, mas inclui os demais. Louvamos a Deus pela sua bondade para conosco, mas devemos reconhecer sua bondade para com os demais. Embora Maria parta de sua experiência muito particular, sua gravidez pelo Espírito Santo,seulouvorincluiosdemais.Mesmo no momento mais pessoal ela lembra que Deus é misericordioso para com todos os fiéis e carentes. Cânticos e culto não podem resvalar para um particularismo. Há uma mensagem para todos e não apenas para o adorador em particular. Em nossa gratidão lembremos dos irmãos. Deus não é propriedade de um adorador em particular, mas é o Senhor de todos os que creem em Jesus. Conclui-se que o seu cântico é de louvor pelaatitudedivinaemprivilegiarospobres emlugardosricos:“Santoéoseunome.A suamisericórdiavaidegeraçãoemgeração sobre os que o temem. Agiu com o seu braço valorosamente; dispersou os que, no coração, alimentavam pensamentos soberbos. Derribou do seu trono os poderosos e exaltou os humildes. Encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos” (Lc 1.49-53). Nessa seção do cânticoestádescritobastantedocaráterde Deus. O primeiro aspecto é sua santidade. Seu nome, ou seja, sua essência é santa. Sua misericórdia é infinita sobre os que o temem. Ele age vigorosamente a favor dos humildes e contra os soberbos. Para três tipos de pessoas não há misericórdia: soberbos, poderosos e os que se apegam às riquezas. Esses ficam de mãos vazias, ao passo que os humildes e famintos são agraciados por ele. Uma vez que essas palavras estão conectadas com a vinda de Jesus, então precisamos entender que é sua vinda quem corporifica essa profecia. De fato, Jesus abraçou os humildes, mas foirecusadopelospoderosos.Osfamintos foram e continuam sendo alimentados, enquanto que os que se acham abastados continuam de mãos vazias. C. Graça para Israel A conclusão do cântico focaliza a graça de Deus sobre o povo de Israel: “Amparou a Israel, seu servo, a fim de lembrar-se da sua misericórdia a favor de Abraão e de sua descendência, para sempre, como prometera aos nossos pais” (Lc 1.54-55). O nascimento de Jesus é a demonstração da misericórdia de Deus sobre Israel. É o cumprimento de suas promessas a Abraão e aos pais da nação. O Messias é o verdadeiro amparo de Israel, é a consumação e a salvação do povo de Deus. Embora grande parte da nação tenha rejeitado a Jesus como Messias, ele é a salvação definitiva do Israel de Deus, que não é o da carne, mas o da promessa (Rm 9.6-8). Promessa essa que Deus fez a Abraão de que nele e na descendência dele seriam abençoadas todas as famílias da terra (Gn 12.1-3). O cântico contempla o povo na sua totalidade. Deus está sendo misericordioso com Israel. O cântico é
  • 35. FILHOS NO VENTRE, CUMPRIMENTOS A CAMINHO 35 um ofertório espiritual de todo o povo de Deus, dirige-se a todo o povo de Deus, e em sua dimensão horizontal fala de todo o povo. Maria entoa um cântico que sai de sua pessoa, de sua gratidão pessoal para o reconhecimento da bondade de Deus para com todos. Um cântico que vê a totalidade do povo de Deus e não apenas os sentimentos da adoradora. Aqui, uma aplicação especial: O culto público, principalmente, não pode primar pelo particularismo e pelo exclusivismo. O individualismo de um mundo sem Deus tem marcado até mesmo alguns de nossos cânticos, em que parecem existir apenas duas pessoas, o cantante e Deus (às vezes, só o cantante). O culto é dos demais irmãos, repartimos as bênçãos com eles, e nosalegramoscomeles.OamparoaIsrael se deu em função das promessas a nossos pais. CONCLUSÃO O encontro de Jesus e João Batista ainda no ventre materno foi um verdadeiro encontro de gigantes. Naquele dia, em algum lugar da montanhosa Judeia, muitos dos soberanos, graciosos e misericordiosos planos de Deus foram revelados entre Maria e Isabel. Antes mesmo do nascimento do Messias e de seu Precursor, Deus já demonstrava a grandiosidade da obra que estava por realizar. Somos bem-aventurados em poder ler essas palavras. Somos bem- aventurados porque essa obra já foi realizada. Podemos cantar juntos com Maria: “o poderoso nos fez grandes coisas”. Neste estudo acompanhamos um encontro nos ventres, uma bênção que enche uma mulher de graça, um cântico de uma mulher que entende que foi agraciada, e por isso lembra que Deus é maravilhoso consigo, com os necessitados e com todo o seu povo. APLICAÇÃO A salvação cuidadosamente planejada nos faz felizes? Podemos dizer que somos bem-aventurados porque temos um Salvador? Entendemos que Maria não é mediadora, mas também não deve ser desprezada, e que sua humildade sempre será um estímulo a nós? Devemos nos alegrar em Deus por ter proporcionado uma salvação tão poderosa, e, por causa disso, podemos confiar plenamente nessa salvação.
  • 36. 36 A VIDA DE JESUS Anotações
  • 37. ELE ESTÁ ENTRE NÓS 37 ELE ESTÁ ENTRE NÓS Mateus 1.18-25 INTRODUÇÃO Filho de Davi ou filho de Deus? Diante do nascimento de João batista, alguns perguntaram: O que virá a ser este menino? Diante do nascimento de Jesus a pergunta é outra: Quem é ele? De onde ele vem? Os primeiros dezessete versículos do Evangelho de Mateus estabelecem a posição humana de Jesus como legal descendente de Davi e de Abraão. Porém, os versos seguintes mostram que ele é muito mais que isso. Esses versos descrevem o nascimento de Jesus como Filho de Deus. Se Jesus tivesse se apresentado apenas como filho de Davi, possivelmente tivesse sido aceito pelo povo de sua época. Mas desde que havia reivindicado uma posição divina, já não poderia mais ser aceito pelos religiosos. Atualmente, como está esta questão? Jesus Cristo é o filho de Deus, que veio no tempo e na história, e habitou entre nós, cumpriu a missão dada pelo Pai e ressurgiu ao terceiro dia? Ou ele é um 5 homem de grande conhecimento e inteligência e por isso fez seguidores, e continua a fazer seguidores porque veem nele um exemplo a ser seguido, e só isso? Alguns estão dispostos a aceitá-lo como um grande mestre, um líder, até como o maior homem que já viveu, mas apenas isso: um homem. Mateus nos mostra que Jesus era sem nenhuma dúvida um homem, porém, muito mais do que um homem, ele é o Emanuel: o Deus Conosco. Realmente, ele está entre nós. I. NASCEU O MESSIAS ESPERADO Mateus usou muitos versículos para traçar a genealogia humana de Jesus, porém apenas um versículo para traçar a genealogia divina de Jesus. A palavra “nascimento” é da mesma raiz grega que a palavra “genealogia” que Mateus usou no primeiro versículo denotando claramente que ele pretendia fazer um paralelo. Se pelo lado humano Jesus tinha pelo menos quarenta e duas gerações de antepassados até Abraão, seu lado divino tinha apenas uma geração, a de seu Pai
  • 38. 38 A VIDA DE JESUS Celestial. O verdadeiro pai de Jesus foi o Espírito Santo. Mateus nos diz que Maria, desposada com José, achou-se grávida sem que tivessem antes coabitado. Embora pareça estranha essa ideia de casamento sem relação sexual diante dos olhos ocidentais modernos, era algo bastante comum na antiguidade. O ato de “desposar” alguém se assemelhava um pouco à cerimônia de noivado que conhecemos hoje, porém, com muito mais seriedade. Era um casamento no papel. O noivo e a noiva juravam fidelidade mútua na presença de testemunhas, e a infidelidade por parte de uma mulher desposada podia ser castigada com a morte (Dt 22.23-24). No caso de José e Maria, eles estavam legalmente casados, porém, era comum que se esperasse um tempo até que o casal fosse morar junto. Nesse período de espera, Maria subitamente engravidou. Um nascimento ímpar na história, como cumprimento de profecia (Is 7.14), como resultado de um plano específico (Gn 3.15), como concretização de desígnios imutáveis (Is 11.1). Não apenas um homem, nem apenas a presença manifestada de Deus, ou de sentimentos divinos. Nem antropomorfismo, nem meramente antropopatia1 . O nascimento de Jesus Cristo caracterizou Deus em forma de homem, Deus em carne. Mesmo que esse estado de encarnação fosse para ele, a maior humilhação. Havia uma missão! Ela justificava as perdas II. JOSÉ ENTENDEU A DIMENSÃO DO FATO Uma noiva grávida sem sua participação? Este era o problema para José resolver. Aos olhos humanos, uma traição. Um pecado previsto na lei dos judeus. Uma honra manchada, uma vida em risco, uma sentençaaserproferida.Vergonhapunida com a pena maior. Em certo momento, no tempo do ministério público de Jesus, uma mulher foi trazida porque fora encontrada em flagrante adultério. A lei permitia que fosse morta. Jesus não contestou a lei, apenas disse que os que não tivessem pecado que começassem a execução da pena. Eles largaram as pedras e foram embora. Não há dúvida de que as palavras de Jesus salvaram a mulher. A mãe de Jesus poderia ter passado por isso também. Ter sido morta, e junto com ela, a criança. Ao saber que sua mulher estava grávida, José se encontrou numa situação difícil. Com certeza sua alma entrou em profunda agonia. A mulher que amava o havia traído. Mas é impressionante a reação desse homem, que não é por acaso chamadodejusto. Porumlado,nãopodia crer que sua virtuosa esposa cometesse tal ato, mas por outro, a situação era por demais evidente. Ele não a quis difamar, mesmo tendo todos os motivos para isso. Alguém poderia dizer que José foi débil em sua clemência, mas a Palavra de Deus nosdizqueelefoijusto.Justoemtodosos sentidos, pois, se por um lado não podia receber uma adúltera como sua esposa, pois a Lei condenava isso, por outro, não desejava ver Maria sendo vituperada. 1 Palavra utilizada para descrever os sentimentos divinos que se parecem com os sentimentos humanos.
  • 39. ELE ESTÁ ENTRE NÓS 39 José era um homem inclinado para a misericórdia, como o é o próprio Deus. Sua decisão foi deixá-la secretamente para que ninguém descobrisse e a denunciasse. Ele preferiu resolver tudo apenas entre os dois. Porém, quando estava pensando sobre isso, lhe apareceu em sonhos um anjo do Senhor dizendo que não temesse receber sua mulher, pois o que havia acontecido nela, era obra do Espírito Santo. Como é bom meditar antes de agir! Às vezes, enquanto meditamos, Deus dá a resposta. A Bíblia não relata sobre a agonia de alma que José enfrentou naqueles dias, mas, podemos entender, pelo relato bíblico, que ele estava pensando durante a noite justamente sobre aquela situação. De repente,aquiloquepareciairreconciliável tornou-se simples e fácil de resolver. Deus interveio para não deixar seu servo numa situação difícil. Nos momentos de silêncio, quando todas as vozes do mundo, incluindo a nossa, se calam, é mais fácil ouvir a voz de Deus. O anjo disse a José: “José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo” (Mt 1.20). O coração de José foi alvo do poder consolador de Deus. Ele agiu de acordo com o que entendeu, com a misericórdia que o fato necessitava. III. A VIRGEM CONCEBEU, COMO PROMETIDO José e Maria não se relacionaram sexualmente até o momento do nascimento de Jesus. A pureza sexual fora do casamento sempre foi algo valorizado por Deus. Implica fidelidade e leito imaculado (Hb 13.4). No caso de Maria tinha ainda mais importância, pois era a garantia da divindade da criança que nasceria. Se Jesus tivesse sido concebido por ação de algum homem, jamais poderia ser o Salvador. É claro que a concepção de Jesus pelo Espírito Santo é um grande mistério. Não temos palavras para explicar esse evento, assim como não sabemos explicar como Deus pôde criar o mundodonada.Podemosverumparalelo entre a concepção de Jesus pelo Espírito Santo e a própria criação do mundo, onde o Espírito Santo “pairava por sobre as águas” (Gn 1.2). Da mesma forma a “sombra” do Espírito envolveria Maria e geraria “do nada” no ventre da virgem a vida do Filho de Deus. Nas palavras de Sproul: “como o Espírito Santo cobriu o abismo e gerou um universo criado, assim o mesmo Espírito pairou sobre uma virgem camponesa para gerar o Filho de Deus”2 . Para o mundo, isso é muito difícil de compreender. Nascimento virginal? Ilógico, irreal e fantasioso. As pessoas cheias de conhecimento olham para essa história e a julgam um mito. Ainda que o mundo não acredite no nascimento virginal de Jesus, ele é amplamente confirmado pela Escritura. A própria vida de Jesus aponta para ele. Certa vez um céticoperguntouaumcristão,natentativa de fazê-lo duvidar do nascimento virginal de Jesus: se eu dissesse que aquele menino ali nasceu de uma virgem você acreditaria? Sim, disse o cristão, se ele tivesse uma vida igual a de Jesus. A maior prova do nascimento virginal de Jesus é sua vida absolutamente perfeita e sem pecado. 2 R. C. Sproul. A Glória de Cristo. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1997. p. 30
  • 40. 40 A VIDA DE JESUS Ao contrário do que se pensa, a ideia de um nascimento virginal não era algo tão inimaginável. Em Isaías 7.14 havia uma profecia sobre o nascimento de um menino de uma virgem, e mesmo do Gênesis vinha a promessa de um descendente da mulher, onde aparentemente o homem seria deixado de lado (Gn 3.15). EsteéoníveldefidelidadedeDeusàssuas promessas, muitas vezes inatingível por nossas mentes limitadas e aprisionadas pela lógica humana. A virgem concebeu. Simples assim... IV. O NOME DO FILHO: JEOVÁ É SALVAÇÃO (JESUS) EntãooanjodisseaJosé“eladaráaluzum filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles”. JESUS,Ιησουςdeorigemhebraica,“Jeová é salvação”, ou “o Senhor salva”. Jesus, o filho de Deus, Salvador da humanidade, o Deus encarnado. Tudo na vida de Jesus teve um significado eumplanejamentoanterior.Nosmenores detalhes da sua vida, nós o percebemos cumprindo profecias de séculos passados. Sua relação com a história dos homens é tão importante e significativa que encontramos profecias sobre praticamentetodaavidadeledistribuídas por todo o Antigo Testamento. Ao longo de sua vida Jesus ficou conhecido como Jesus de Nazaré, ou Jesus o Nazareno, em razão de sua cidade de origem. Ao ter sido batizado no rio Jordão e reconhecido como o mensageiro de Yahweh que viera libertar o povo judeu da opressão romana, Jesus recebeu o epíteto de Mashiach (“Messias”), que em hebraico quer dizer “ungido”. Como o Novo Testamento foi redigido num grego tardio chamado koiné, o nome Yeshua Mashiach foi traduzido para Iesoûs ho Khristós, literalmente “Jesus o Ungido”. Com a expansão do Cristianismo até Roma (percebe-se isso com clareza ao lermos Atos e Romanos 16), e com a adoção do latim como sua língua oficial, o nome grego de Jesus foi latinizado para Iesus Christus. Assim, lemos na língua portuguesa o nome Jesus Cristo. Mas, se “ungido” em latim é unctus, por que Jesus nãoficouconhecidoemRomacomoIesus Unctus? É que o prestígio da língua grega em Roma era muito grande, e o fato de os Evangelhos terem sido escritos em grego pesou decisivamente para que o epíteto grego Khristós não fosse traduzido, mas apenas transliterado para Christus. Este é o significado do nome por trás do Deus-homem. Por isso, seu nome foi escolhido por Deus para ser o Nome que está acima de todo nome. Podemos lembrar também que Jesus, no Hebraico, é Josué (Joshua). Josué no passado foi o homem usado por Deus para levar o povo a conquistar a terra prometida. Este é um ótimo paralelo, pois Jesus é o que nos leva a terra prometida, a vida eterna nos céus. O nome Jesus representa a própria missão pela qual o Filho de Deus veio a este mundo: Salvar o mundo do pecado. Nada se compara a esta frase. Nada abrange com tanta precisão um problema que é o maior dos problemas, e nada traz umasoluçãotãocontundente.ABíblia,ao
  • 41. ELE ESTÁ ENTRE NÓS 41 contrário do homem moderno, não tenta negar a existência do pecado. A revelação bíblica demonstra que a existência do pecado exigiu a vinda do Filho de Deus. Ele veio salvar o seu povo dos pecados deles, pois não havia nada tão prejudicial para o homem, e ao mesmo tempo, nada que este fosse tão incapaz de realizar por si mesmo, do que se salvar. Jesus Cristo, este é o NOME. V. EMANUEL – O DEUS CONOSCO Deus existe, mas como ele é, onde ele está, como falo com ele, e como entendo quandoelefalacomigo?Desdeostempos antigos o homem tem crido que Deus existe, e tem imaginado para si as mais estranhas formas para descrevê-lo. Não existem povos que não tenham alguma coisa a qual eles identificam como o seu deus. Há no homem uma vontade de contemplar algo superior. A idolatria, que se caracteriza principalmente pela adoração de imagens, vem disso, certamente. Podemos ver nessa perspectiva que há no homem um esforço por conhecer como Deus é, por contemplá-lo. Esse desejo tem origem no próprio Deus que também tem desejo de ser conhecido. A revelação de Deus é uma atitude de se tornar conhecido aos homens, que de outra forma jamais o conheceriam. O nome Emanuel, que MateusaplicaaJesus,nosfaladessedesejo divino de se revelar, nos fala do Deus eterno e todo-poderoso se manifestando aos homens. Como o homem não iria até Deus, Deus veio ao homem. Amor, sacrifício, sofrimento e humanidade. Cumprimento, vitória, glória e divindade. Estas são algumas palavras que nos conduzem ao Emanuel. Ao afirmar que Jesus é o Emanuel, a Escritura está apontando para várias facetas do caráter de Deus. Por exemplo seu amor. Deus não ficou parado diante da situação calamitosa do seu povo. Deus não se contentou em ficar nos céus, e veio a este mundo para salvar o seu povo. Emanueltambémnosfaladahumanidade legítima e sofredora de nosso Senhor. Ele é homem como qualquer um de nós. O Emanuel é Deus que veio partilhar as nossas dores, que veio chorar com os que choram, e se alegrar com os que estão alegres.ElenãoéumDeus“quenãopossa secompadecerdasnossasfraquezas”, pois ele experimentou as nossas dificuldades e “em tudo foi tentado, como nós, mas sem pecado”(Hb4.15).JesuséDeusemcarne e sangue. Quando lemos os evangelhos descobrimos que nosso Senhor era capaz de ficar cansado, de sentir fome e sede, como também podia chorar, gemer e sentir dor como qualquer um de nós. Mas o nome Emanuel nos fala acima de tudo da divindade de Nosso Salvador. Ele é verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Apesar de ter se esvaziado de sua glória exterior (Fl 2:6-8), nunca perdeu sua glória interior. Ele se manifesta nos evangelhoscomoalguémqueconheciaos corações e os pensamentos dos homens, exercia autoridade sobre os demônios, e podia fazer os mais espantosos milagres com apenas uma palavra. Também foi servido por anjos, permitiu que um de seus discípulos o chamasse de “Deus meu”, e igualmente disse: “Antes que Abraão existisse, eu sou” (Jo 8:58). Acima de tudo ele podia dizer: “Eu e o Pai
  • 42. 42 A VIDA DE JESUS somos um” (Jo 10:30). Quando Filipe pediu para que Jesus lhes mostrasse o Pai, ele disse “quem vê a mim, vê o Pai” (Jo 14: 8-9). Quem está com Jesus está com Deus. Pois Jesus é Deus Conosco. CONCLUSÃO A Bíblia mostra em 1João 4.2 que Jesus tinha um corpo humano real, ao mesmo tempo que em Isaías 9.6 ele é descrito como o Messias divino, e em Colossenses 1.15-19 há uma asseveração sobre a plenitude da divindade em Jesus. Em João 20.26-29 Jesus aceita adoração e ser chamado de Deus, enfatizando que seriam bem-aventurados os que cressem sem ver, uma vez que algum tempo antes havia declarado ser eterno em João 8.56- 58. AplenitudedivinaecorporaldeJesusestá clara em Colossenses 2.8-9 porquanto, nele habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade. A encarnação foi um ato de graça e misericórdia, como está escrito em 2Coríntios 8.8-9 “pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos”. Quando contemplamos a natureza, a Revelação Natural, as coisas que Deus criou, podemos ver a grandeza e o poder de Deus, e o quanto ele está acima de nós. Na Revelação da Lei a situação é diferente, pois Deus é o juiz de toda a terra, e nós somos os transgressores da sua lei. Assim, a Lei o revela contra nós. Mas no evangelho, Deus não está acima e nem contra nós, ele é o Emanuel, é o Deus que se colocou do nosso lado para o nosso bem. Ele é Deus conosco. APLICAÇÃO FilhodeDavieFilhodeDeus.Totalmente homem e totalmente Deus. O que isso contribui para o nosso entendimento acerca da salvação? Que ele é o Messias prometido, e o único mediador possível. Há salvação em outra pessoa? Há outra pessoa que possa ser considerada divina e humana além de Jesus Cristo? Não há. Como o Cristo pode viver em nós para que sejamos luzeiros de uma luz maior, umaluzquedissipatrevas?Vivamosnele!
  • 43. ELE ESTÁ ENTRE NÓS 43 Anotações
  • 44. 44 A VIDA DE JESUS GLÓRIA E MAJESTADE NA MANJEDOURA Mateus 2.1-18 INTRODUÇÃO Um recém-nascido anônimo que atrai visitantes ilustres. Uma estrela que os guia para onde a criança está. Um rei alarmado e preocupado. Religiosos apanhados de surpresa sem saber o que estava acontecendo. Estaria a profecia de Miqueias se cumprindo (Mq 5.2)? Diante da dureza de coração e da insensibilidade que são características marcantes do nosso mundo moderno, quando lemos nos Evangelhos as narrativas sobre o nascimento de Jesus, podemos contemplar um Deus sensível que está preocupado com a situação do seu povo, mesmo que o povo não esteja preocupado com sua situação... OnascimentodoSenhorJesusrepresenta o maior ato de amor e de sensibilidade para com o problema dos outros que já ocorreu.Esteéotemadosevangelhos,éo clima do nascimento daquele que trouxe salvação a todo o que crê. É o momento em que Deus veio para ser propício, para receber os homens como sua família. É 6 o início do período histórico que Jesus descreveu como o “ano aceitável do Senhor” (Lc 4.19). Mas, será que o mundo de então estaria preparado para receber o Rei dos Judeus? Os judeus o entronizariam? Como estaria a expectativa messiânica acerca do que fora dito pelos profetas? Quão a sério as pessoas daquela época consideravam a Bíblia (Antigo Testamento) que possuíam? I. VISITANTES ILUSTRES Magos ou reis? Mágicos ou sábios? Cientistas babilônicos ou especialistas em coisas sobrenaturais? Judeus ou gentios? Existe uma tradição da Igreja que diz que os homens que vieram do Oriente para homenagear o menino Jesus eram reis por causa de uma associação entre esta passagem e o Salmo 72.10-11. Outra tradição diz que eles eram três por causa dos três presentes: ouro, incenso e mirra. Até nomes eles já receberam pela
  • 45. GLÓRIA E MAJESTADE NA MANJEDOURA 45 tradição! Nada disso a Bíblia nos diz a respeito deles, mas em compensação, podemos saber muito de sua fé. Algumas traduções trazem a palavra “sábios”. Geralmente a palavra é usada para se referir àquelas pessoas que se envolvem com artes mágicas, ou então os chamados astrólogos, os observadores de astros. Essa atividade era muito comum naquele tempo, principalmente nas regiões da Babilônia e outras cidades do Oriente, de onde provavelmente os magos tenham vindo. Devemos destacar que este tipo de prática nunca foi considerado legal por Deus. Entretanto, os magos aparecem como adoradores de Deus, de forma que devemos ser cautelosos quanto a verdadeira profissão daqueles homens. Outra questão interessante é como eles sabiam que o aparecimento da estrela indicavaonascimentodoReidosJudeus? Há muitas suposições: Se eles fossem da Babilônia, por certo tinham contato com muitas profecias e prováveis escritos do profeta Daniel que morou em Babilônia vários séculos antes e profetizou sobre o nascimento de Jesus. Pode ser ainda que eles tivessem contato com outros judeus e conhecessem o Antigo Testamento, pois desde o Exílio havia judeus morando em vários países do oriente. Há uma profecia atribuída a Balaão em Números 24:17, onde Balaão diz que “uma estrela procederá de Jacó”. Mas, estas e outras, são apenas suposições. De alguma maneira secreta, Deus revelou àqueles homens o que estava acontecendo. E ele tinha pelo menos dois motivos para isso, como veremos nessa lição. Uma lição importante que já podemos aprender é: Deus tem servos mesmo nos lugares mais distantes e impróprios. Embora suas histórias não sejam conhecidas, seus nomes são conhecidos por Deus,e estão escritos no livro da vida. Nós os veremos na companhia de Jesus por ocasião do seu retorno (Mt 8.11). O fato é que aqueles homens haviam feito uma longa e difícil jornada para chegar até Jerusalém. Eram homens de coragem, homens de fé. Talvez conhecessem muito pouco sobre o Messias, e mesmo sobre o Deus dos céus, mas mesmo assim vieram, porque sentiam, sabiam que algo muito grande estava acontecendo na terra. Eram homens ilustres, dignos de serem os primeiros a contemplar o Rei dos reis e depositar suas coroas diante dele. Talvez realmente fossem reis, mas sabiam que suas coroas não podiam impedi-los de contemplar e adorar aquele que é o Rei dos reis, e Senhor dos senhores. Guiados pela estrela e pela lógica, dirigiram-se a Jerusalém, a capital da nação judaica, pois estavam a busca do Rei dos Judeus. Talvez esperassem ver comemorações pelas ruas e gritos de alegriapelonascimentodonovoRei.Mas Jerusalém estava completamente alheia ao nascimento do Messias. Jerusalém não fazia a mínima ideia do que estava acontecendo. Isso é no mínimo estranho. O povo de Deus, a Igreja do Antigo Testamento, o povo que tinha a Palavra de Deus, e que dizia cultuar o Nome de Deus, não tinha a mínima ideia do que estava acontecendo. Deus estava promovendo o maior acontecimento que jamais houve desde a criação do mundo e o povo de Deus estava totalmente “por
  • 46. 46 A VIDA DE JESUS fora”. Diz a Palavra de Deus que todos ficaram alarmados por causa daqueles homens que diziam que um Rei havia nascidonaterradeles. Parecequenãoésó nos dias de hoje que a Igreja praticamente não sabe como levar alguém ao Salvador. II. REINO ABALADO Homens à procura do rei dos judeus? E chegam ao rei Herodes para procurá-lo? Com certeza, Herodes entendeu que procuravam por outra pessoa. O simples fato de Herodes recebê-los mostra que eram pessoas de fato muito importantes. A expressão alarmou-se “ταρασσω” (tarasso) tem afinidade incerta. Pode significar agitar, sacudir (algo, pelo movimento de suas partes para lá e para cá); ou causar uma comoção interna a alguém, tirar sua paz de mente, perturbar sua tranquilidade; ou inquietar, tornar impaciente, turbar, preocupar; ou inquietar o espírito de alguém com medo e temor; ou tornar-se ansioso ou angustiado; e ainda, causar perplexidade a mente de alguém ao sugerir escrúpulos ou dúvidas. A bíblia fala que Herodes e toda a Jerusalém ficaram atônitos com as palavras dos magos. Sua atitude foi mandar chamar os principais sacerdotes e os escribas e lhes perguntar em qual lugar nasceria o Cristo. O curioso é que os estudiosos sabiam. A resposta deles foi: “Em Belém da Judeia, pois está escrito por intermédio do profeta: E tu Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menorentreasprincipaisdeJudá;porque de ti sairá o guia que há de apascentar o meu povo Israel” (Mt 2.5-6). Eles tinham familiaridade com a Palavra de Deus, deram uma resposta precisa com facilidade, mas nenhum deles foi até lá adorar o Messias. Também não é de hoje que as pessoas têm muito conhecimento da Palavra de Deus e pouca vontade de vivê-la. Ortodoxia morta. Agora entendemos o primeiro motivo pelo qual Deus trouxe aqueles homens importantes do Oriente. Ele não podia deixar seu Filho sem reconhecimento. Já que as pessoas importantes do reino não estavam interessadas em reconhecê-lo, Deus trouxe aqueles homens de longe. Deus nunca fica sem adoradores e, ou, proclamadores (Lc 19.40). Herodes mandou chamar secretamente os magos e lhes inquiriu, com precisão, quanto ao tempo em que lhes aparecera a estrela, e então, os enviou a Belém, pedindo para que procurassem o menino, e quando o encontrassem, informassem- no sobre o lugar onde estava, para que assim pudesse também ir adorá-lo. Nem é preciso dizer que aquilo era uma grande mentira, pois suas intenções eram outras. Tristemente, naquele momento, o mundo presenciaria a última das grandes investidas de Satanás para impedir que a semente da mulher se manifestasse: a matança dos meninos em Belém (Gn 3.15, Ap 12.1-4). III. GLÓRIA NA MANJEDOURA Depois que ouviram o rei, partiram, e então, a estrela apareceu novamente e os precedia, até que parou sobre o lugar
  • 47. GLÓRIA E MAJESTADE NA MANJEDOURA 47 onde estava o menino. Em outro tempo, Deus já usara a sua criação para conduzir pessoas. Foi quando conduziu Moisés e o povo através de uma nuvem de dia, e de uma coluna de fogo à noite. Jerusalém nãosabia,ossacerdoteseescribassabiam, mas não estavam interessados; Herodes tinha medo de perder os seus privilégios, porém Deus podia usar as estrelas para indicar onde estava Seu Filho. As estrelas que naquela época eram adoradas como deuses, agiram como servas do Senhor, conduzindo os magos até o local onde estava o Filho de Deus. Nada na criação foi criado com o objetivo de ser adorado. A natureza sempre glorificará ao seu criador. Havia nascido o Salvador, a esperança do mundo, a prova de que Deus não havia abandonado seu povo. Retornando aos magos, percebemos como era vigorosa a fé daqueles homens. Eles não encontraram um Rei vestido em trajes reais no esplendor da sua força. Encontraram um recém-nascido, uma criança, que precisava dos cuidados de sua mãe, como qualquer outra criança precisa, e nem se quer o encontraram em um palácio, mas sim em uma manjedoura. Ainda assim, de todo o coração, prostraram-se e o adoraram. Aqueles homens abriram seus tesouros e entregaram-lhe ouro, incenso e mirra. Se fossem reis, certamente, depositaram suas coroas aos pés daquele que sabiam ser o Rei dos reis, numa pequena amostra do que acontecerá no fim dos tempos, quando na peregrinação final virão povos de todas as terras e adorarão ao Soberano Deus(Is2.2-4;Sl72.10-11).Ospresentes que aqueles homens entregaram a Jesus nos falam bastante sobre a personalidade do Senhor. O ouro simboliza a realeza. Aplica-se perfeitamente a Jesus, pois ele é Rei. Seu reino é espiritual, estabelecido no coração e na vida de sua Igreja, mas, também é um Reino que tem poder sobre as coisas materiais, sobre os reinos do mundo. Todas as coisas lhe estão sujeitas. O incenso simboliza a oração que sobe até Deus. Era função do sacerdote oferecer incenso a Deus. Jesus é considerado o sacerdote por excelência, pois ele ofereceu a Deus a maior das ofertas. Ele ofereceu a sua própria vida no lugar da nossa. A mirra era uma planta aromática usada para muitas coisas, entre elas para preparar o embalsamento dos corpos dos mortos. Pode conter a ideia de sofrimento. Para Jesus, indicava a natureza do Servo Sofredor (Is 53). Ele sofreu o castigo pelos nossos pecados, sofreu a nossa condenação, morreu a nossa morte. Talvez, aqueles presentes ainda pudessem representar: Ouro para sua humanidade, mirra para sua morte e incenso para sua divindade. Porém, mais importante ainda do que tudo isso foi o fato mais óbvio: eram coisas preciosas. Ou seja, valiam um bom dinheiro. E aqui estava o segundo motivo pelo qual Deus trouxe aqueles magos do Oriente. Eles foram instrumentos para a preservação do Filho de Deus. Diante de todas as perseguições e dificuldades que viriam em seguida, a oferta trazida pelos magos foi extremamente útil para a preservação da família de Jesus. Hora de partir. Como chegaram, se foram. Ilustres desconhecidos, dos quais não temos nem os nomes. A última coisa
  • 48. 48 A VIDA DE JESUS que sabemos sobre eles é o que nos diz o verso 12. “Sendo por divina advertência prevenidos em sonho para não voltarem à presença de Herodes, regressaram por outro caminho à sua terra”. Deus não permitiu que a maldade de Herodes tivesseêxitosobreseusplanos.Estaéuma lição eterna: por mais que os homens ou o próprio Diabo tentem, jamais poderão frustrar o menor dos desígnios de Deus. Aqueles homens regressaram à sua terra jubilosos, certos de que haviam tido o maiorencontrodesuasvidas.ABíbliafala que retornaram por outro caminho. Sem querer ferir as regras de hermenêutica, é possível pensar que todos que se encontram com Cristo acabam seguindo por outro caminho também. IV. MALDADE HUMANA ILIMITADA Pena que a história não termine aí. Ainda somos informados de mais uma barbárie de Herodes: a terrível matança dos primogênitosemBelém.ODeusquesabe de todas as coisas, e que até certo ponto tolera o mal, mas sempre com propósitos benéficos, não permitiria que Seu Filho fosse morto por Herodes. Tendo avisado José novamente em sonho, a família de Jesus, agora com boa condição financeira, se dirige ao Egito onde permanece até a mortedeHerodes.Edepassagem,cumpre mais uma profecia: “do Egito chamei meu Filho” (Mt 2.15). A aplicação que o EspíritoSanto(comautoridade)fazdessa passagem é deveras interessante. Essa é uma citação do profeta Oséias (11.1) que naquela ocasião se referia à juventude de Israel quando foi tirado do Egito, sendo objeto da amorosa eleição de Deus. Era uma recordação do tempo da inocência de Israel agora tão corrompida. É ao mesmo tempo uma nota de esperança pois Deus está voltando às origens e formando um povo para si outra vez. Através do próprio Oséias, Deus já havia prometido a Israel: “Portanto, eis que eu a atrairei, e a levarei para o deserto, e lhe falarei ao coração. E lhe darei, dali, as suas vinhas e o vale de Acor por porta de esperança; será ela obsequiosa como nos dias da sua mocidade e como no dia em que subiu da terra do Egito” (Os 2.14-15). Quando Deus chama mais uma vez do Egito o seu Filho, não são apenas palavras que se encaixam, mas toda uma história de amor que recomeça. O amor de Deus para seu povo. Herodes percebendo-se enganado ficou terrivelmenteenfurecido, eem meioa sua loucura, mandou matar todos os meninos de Belém e arredores que tivessemmenos de 2 anos. A fúria do dragão se despejava sobre o Filho, querendo devorá-lo (Ap 12.4). Porém, o Filho já havia sido arrebatado das garras do dragão (Ap 12.5). Novamente percebemos um paralelo com os acontecimentos da “juventude” de Israel no Egito. Naquela ocasião, Faraó temendo a proliferação dos israelitas manda jogar nas águas do Nilo todos os meninos recém-nascidos (Ex 1.22). Mateus vê naquele incidente ainda o cumprimento de mais uma profecia, a do profeta Jeremias sobre o choro de Raquel porseusfilhos(Jr31.15).Aquelaerauma profecia sobre o cativeiro que desolaria a nação e levaria os filhos de Israel a uma terra estranha. Simbolicamente Raquel choraria por seus filhos. Acima de tudo
  • 49. GLÓRIA E MAJESTADE NA MANJEDOURA 49 era uma recordação da desobediência de Israel, que recebia a punição de Deus, ainda que por mãos dos babilônios. Também as mães de Belém choravam, e deveriam mesmo chorar, não só por suas crianças inocentemente assassinadas, mas pela consciência da desobediência de Israel, pelo estado de apostasia, pelo julgamento de Deus sobre aquele povo que tantos anos antes pediu um rei, pelo desejo de ser semelhante as demais nações. Seu rei usurpador agora matava seus próprios filhos. Enquanto o verdadeiro rei era e seria rejeitado. CONCLUSÃO Épossívelummeninotiraratranquilidade deumreiexperienteevencedordemuitas batalhas? É possível um rei iniciar o seu reinado em um estábulo? É possível uma estrela guiar pessoas, sob a orientação de Deus, para que prestassem adoração ao seu Filho? A Bíblia nos mostra em Lucas 4.16-30 que a vinda de Jesus marcou o início do ‘Ano Aceitável’ do Senhor. Em Miquéias 5.2-5 Deus disse que de Belém lhe sairia o que haveria de reinar sobre Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde a eternidade. Em Mateus 11.20-27 lemos acerca da preferência divina pelos humildes, com a execução de inúmeros milagres, sempre levando em conta a necessidade de um povo explorado por seus governos, e carente. Em 1Coríntios 1.18-31 somos levados a entender que “a verdadeira sabedoria é a de Deus”. Para os que se perdem, a palavra da cruz sempre será loucura, mas para nós, os que foram alvos de tão grande, plena e poderosa salvação, é o imensurável poder de Deus. Quando o homem pensa que há loucura em Deus, ela é mais sábia do que o próprio homem. Quando o homem pensa que há fraqueza em Deus, ela é mais forte que o próprio homem. Onde está o sábio? Quem quiser gloriar-se, glorie-se no Senhor! Em 1Coríntios 3.18-23 lemos que a louca sabedoria do mundo engana-se pensando ser sábia, mas é apanhada na sua própria estultícia, porque o Senhor conhece o que se passa em seus corações e sabe que são pensamentos sem valor. Em 2Coríntios 6.1-10 lemos que a verdadeira riqueza é a espiritual, pois aos cooperadores é dito que não recebam em vão a graça de Deus. Deus ouve e socorre para que no dia da angústia os seus filhos sejam achados confiantes e em condições de agirem, de forma que não envergonhem o ministério. Por tudo isso, sabemos que Deus nunca fica sem adoradores. E aqueles que verdadeiramente o agradam nem sempre sãoosquedeveriam.Osmagosdooriente são uma demonstração impressionante da soberania de Deus, de seus métodos pouco convencionais e de sua sabedoria inefável. APLICAÇÃO Quais reações o menino de Belém produziu em nós? O que apresentamos diante do seu trono, que não é mais uma
  • 50. 50 A VIDA DE JESUS Anotações manjedoura, mas é o trono reservado para si, pelo altíssimo, o seu Pai que o aguardava em Glória assim que cumpriu a sua missão? Que Deus nos permita contemplar um pouco da glória e da majestade que aqueles magos puderam ver, quando contemplaram aquele menino deitado na humilde manjedoura, em Belém de Judá, há dois mil anos atrás. Trinta e poucos anos depois, ele esteve deitado em outro “trono” de madeira: uma cruz. Na mais terrível vergonha ele revelou sua maior glória. Que nossas vidas sejam impactadas por ele, um rei que nasceu na simplicidade, no anonimato, e que desde cedo experimentou o cuidado de seu Pai. Temos o mesmo Pai, por isso, vivamos com confiança.