SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 2
A invenção do 7 de Setembro
07 de setembro de 2010 | 0h 00
          Isabel Lustosa*


Quando se deu realmente a Independência do Brasil? Porque, quando
consultamos os jornais de 1822, não há nenhuma referência ao que se passou
nas margens do Ipiranga em 7 de setembro? Porque aquele episódio foi
escolhido em detrimento de outros, quando sabe que, em 1822, a data tomada
como marco da Independência foi o 12 de outubro, dia do aniversário de dom
Pedro I e de sua aclamação como imperador? Essas e outras questões foram
respondidas, em artigo de enorme valor acadêmico, porém pouco conhecido,
publicado em 1995, pela historiadora Maria de Lourdes Viana Lyra, sócia titular
do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Intrigada com o silêncio da documentação e das publicações do ano de 1822
sobre o 7 de setembro, Lourdes Lyra devassou essa história e estabeleceu ponto
por ponto o processo e os interesses envolvidos na escolha do 7 de setembro
como data da Independência. Um ponto que merece realce é que os documentos
que supostamente dom Pedro I teria lido às margens do Ipiranga no dia 7 só
teriam chegado ao Rio de Janeiro em 22 de setembro. Outro é que o primeiro
relato detalhado do episódio do Ipiranga só foi publicado em 1826, em
momento de desprestígio do imperador diante dos brasileiros que tinham feito a
Independência e que se indignaram com as bases do tratado assinado com
Portugal.

A Inglaterra, que representou junto à Corte do Rio de Janeiro seus próprios
interesses e os da Coroa portuguesa, pressionara o imperador. Dom Pedro foi
convencido a aceitar que, no tratado pelo qual Portugal reconhecia a nossa
Independência, ao contrário de todos os documentos do ano de 1822 que a
davam como uma conquista dos brasileiros, constasse que esta nos fora
concedida por dom João VI. Este era também reconhecido como imperador do
Brasil que abdicava de seus direitos ao trono em favor do filho e ao qual ainda
tivemos de pagar vultosa indenização. O patente interesse de dom Pedro em
conservar seus direitos à sucessão do trono de Portugal, que essa fórmula do
tratado revelava, apontava no sentido de uma posterior reunificação dos dois
reinos.

Um príncipe que se declarara constitucional, que desde o Fico (9 de janeiro de
1821) vinha sendo aclamado até pelos setores mais liberais, que rompera com
Lisboa e convocara eleições para uma Assembleia Constituinte, tão amado que
recebera da Câmara o título de Defensor Perpétuo do Brasil, fora pouco a pouco
se convertendo num tirano. Primeiro, ao dissolver a Assembleia Constituinte,
depois, pela forma violenta com que reprimiu a Confederação do Equador e,
finalmente, pela assinatura do vergonhoso tratado.

É nesse contexto que a escolha do 7 de setembro como data da Independência
ganha sentido. Segundo Lourdes Lyra, até então tinham sido consideradas as
seguintes datas decisivas para o processo: o 9 de janeiro, dia do Fico; o 3 de
maio, dia da inauguração da Assembleia Constituinte Brasileira; e o 12 de
outubro, dia da Aclamação. Foi o esforço concentrado do Senado da Câmara
(atual Câmara Municipal) do Rio de Janeiro, durante o mês de setembro de
1822, enviando mensagem à Câmaras das principais vilas do Brasil - num tempo
em que eram as vilas e cidades as instâncias decisivas da política portuguesa -,
que fez com que, na fórmula consagrada, constasse que dom Pedro fora feito
imperador pela "unânime aclamação dos povos". Foi o apoio das Câmaras e de
setores da elite e do povo do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Minas Gerais que
deu forças ao príncipe para se contrapor às decisões de Lisboa.

Segundo bem demonstra Lourdes Lyra, a opção pelo 7 de setembro casava bem
com a ideia de que a Independência fora obra exclusiva de dom Pedro e essa
data foi estrategicamente escolhida para a assinatura do tratado de 1825. Foi a
partir de então que começaram a surgir referências mais entusiásticas ao 7 de
setembro no Diário Fluminense, que fazia as vezes de órgão oficial do governo,
e, em 1826, esse dia foi incluído entre as datas festivas do Império. Essa obra in
progress foi reforçada ainda naquele ano pela publicação do famoso relato do
padre Belchior, a primeira descrição minuciosa dos fatos que se verificaram às
margens do Ipiranga por uma testemunha ocular da História. Ao lado deste,
dois outros relatos publicados bem mais tarde por membros do grupo que
acompanhou dom Pedro a São Paulo passariam a ser a fonte privilegiada para o
estudo da data.

O coroamento da obra se deveria ao Visconde de Cairu, intelectual respeitado
que se conservou sempre aos pés do trono. Em sua História do Brasil, publicada
em partes entre 1827 e 1830, Cairu afirma que a Independência do Brasil foi
"obra espontânea e única" de dom Pedro, que a tinha proclamado "estando fora
da Corte, sem ministros e conselheiros de Estado, sem solicitação e moral força
de requerimento dos povos". Estava entronizado o mito do herói salvador, e
postos na sombra os outros protagonistas, como José Bonifácio, Gonçalves Ledo
e os membros de todas as Câmaras que impulsionaram e sustentaram o príncipe
em suas decisões. Sem esse poderoso elenco de coadjuvantes, ao contrário do
que afirma Cairu, não teria ocorrido a Independência.

É interessante como símbolos forjados a partir de circunstâncias fortuitas se
podem transformar com o tempo. Prova de que na memorabilia pátria menos
que os fatos importam o peso que a tradição lhes imprimiu. Foi assim, durante
todo o Império com a Constituição de 1824. O gesto de sua criação - ela foi
outorgada, e não resultou da deliberação de uma Assembleia - não impediu que
ela fosse respeitada e sacramentada até muito depois da deposição de dom
Pedro I. O mesmo se deu com o 7 de setembro. A data impôs-se sobre as demais,
hoje esquecidas, e continuou a ser festejada com o mesmo entusiasmo depois da
abdicação, em 7 de abril de 1831, e bem depois de proclamada a República.



*CIENTISTA POLÍTICA PELO IUPERJ, É HISTORIADORA DA CASA DE RUI
BARBOSA NO RIO DE JANEIRO

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Mais procurados (20)

Dom Pedro 1ª
Dom Pedro 1ªDom Pedro 1ª
Dom Pedro 1ª
 
A independência do brasil
A independência do brasilA independência do brasil
A independência do brasil
 
Primeiro reinado
Primeiro reinadoPrimeiro reinado
Primeiro reinado
 
Independencia do brasil e primeiro imperio
Independencia do brasil e primeiro imperioIndependencia do brasil e primeiro imperio
Independencia do brasil e primeiro imperio
 
A vinda da família real ao brasil
A vinda da família real ao brasilA vinda da família real ao brasil
A vinda da família real ao brasil
 
Texto 4º e 5º ano
Texto 4º e 5º anoTexto 4º e 5º ano
Texto 4º e 5º ano
 
10 revliberal1820
10 revliberal182010 revliberal1820
10 revliberal1820
 
O primeiro reinado
O primeiro reinadoO primeiro reinado
O primeiro reinado
 
Independência do Brasil - Aula 1,2 e 3
Independência do Brasil - Aula 1,2 e 3Independência do Brasil - Aula 1,2 e 3
Independência do Brasil - Aula 1,2 e 3
 
Jb news informativo nr. 0373
Jb news   informativo nr. 0373Jb news   informativo nr. 0373
Jb news informativo nr. 0373
 
1º Reinado
1º Reinado1º Reinado
1º Reinado
 
4 ref...texto dia do fico 04.10
4 ref...texto dia do fico 04.104 ref...texto dia do fico 04.10
4 ref...texto dia do fico 04.10
 
Independência do brasil e o primeiro reinado
Independência do brasil e o primeiro reinadoIndependência do brasil e o primeiro reinado
Independência do brasil e o primeiro reinado
 
44 2 ref...texto dia do fico
44 2 ref...texto dia do fico44 2 ref...texto dia do fico
44 2 ref...texto dia do fico
 
Primeiro Reinado
Primeiro ReinadoPrimeiro Reinado
Primeiro Reinado
 
Independencia
IndependenciaIndependencia
Independencia
 
Slide regionalização cópia
Slide regionalização   cópiaSlide regionalização   cópia
Slide regionalização cópia
 
Dia de portugal
Dia de portugalDia de portugal
Dia de portugal
 
Resenha
ResenhaResenha
Resenha
 
Primeira reinado (1822 1831)
Primeira reinado (1822  1831)Primeira reinado (1822  1831)
Primeira reinado (1822 1831)
 

Destaque (20)

Cargo empresa
Cargo empresaCargo empresa
Cargo empresa
 
Urna de db
Urna  de dbUrna  de db
Urna de db
 
Abaporu reprodução por simone helen drumond
Abaporu   reprodução por simone helen drumondAbaporu   reprodução por simone helen drumond
Abaporu reprodução por simone helen drumond
 
História médio
História   médioHistória   médio
História médio
 
LOTOMÁTICA 01
LOTOMÁTICA 01LOTOMÁTICA 01
LOTOMÁTICA 01
 
Salmos e hinos 104
Salmos e hinos 104Salmos e hinos 104
Salmos e hinos 104
 
Cristiano ronaldo
Cristiano ronaldoCristiano ronaldo
Cristiano ronaldo
 
aula de 06/08/2010 - história
aula de 06/08/2010 - históriaaula de 06/08/2010 - história
aula de 06/08/2010 - história
 
Aula 8 desenvolver a habilidade de comunicar-se
Aula 8 desenvolver a habilidade de comunicar-seAula 8 desenvolver a habilidade de comunicar-se
Aula 8 desenvolver a habilidade de comunicar-se
 
Apresentação2
Apresentação2Apresentação2
Apresentação2
 
Dado
DadoDado
Dado
 
Consulta a los apoderados
Consulta a los apoderadosConsulta a los apoderados
Consulta a los apoderados
 
Regulamento guarujá
Regulamento guarujáRegulamento guarujá
Regulamento guarujá
 
Primer trimestre 2º eso
Primer trimestre 2º esoPrimer trimestre 2º eso
Primer trimestre 2º eso
 
SIMULADINHO DIAGNÓSTICO 01
SIMULADINHO DIAGNÓSTICO 01SIMULADINHO DIAGNÓSTICO 01
SIMULADINHO DIAGNÓSTICO 01
 
Principios fundamentais iii
Principios fundamentais iiiPrincipios fundamentais iii
Principios fundamentais iii
 
Aula 1
Aula 1Aula 1
Aula 1
 
Mensagem ao Povo da Bahia
Mensagem ao Povo da BahiaMensagem ao Povo da Bahia
Mensagem ao Povo da Bahia
 
Lista material 3ºb 2010
Lista material 3ºb 2010Lista material 3ºb 2010
Lista material 3ºb 2010
 
Pl2788
Pl2788Pl2788
Pl2788
 

Semelhante a A invenção do 7 de setembro

Cap independncia do br
Cap   independncia do brCap   independncia do br
Cap independncia do brmarceloks
 
Independencia do Brasil
Independencia do BrasilIndependencia do Brasil
Independencia do BrasilANDRÉA LEMOS
 
INDEPENDÊNCIA DO BRASIL
INDEPENDÊNCIA DO BRASILINDEPENDÊNCIA DO BRASIL
INDEPENDÊNCIA DO BRASILAndrea Lemos
 
A verdadeira data da independência do brasil para mesclagem
A verdadeira data da independência do brasil   para mesclagemA verdadeira data da independência do brasil   para mesclagem
A verdadeira data da independência do brasil para mesclagemWilliam de Carvalho
 
Independência do Brasil - 7 de setembro.pptx
Independência do Brasil - 7 de setembro.pptxIndependência do Brasil - 7 de setembro.pptx
Independência do Brasil - 7 de setembro.pptxANDRÉA LEMOS
 
Brasil Império (Primeiro Reinado / Regências / Segundo Reinado)
Brasil Império (Primeiro Reinado / Regências / Segundo Reinado)Brasil Império (Primeiro Reinado / Regências / Segundo Reinado)
Brasil Império (Primeiro Reinado / Regências / Segundo Reinado)profrogerio1
 
Independência do brasil
Independência do brasilIndependência do brasil
Independência do brasilDeaaSouza
 
Primeiro Reinado - Prof. Altair Aguilar
Primeiro Reinado - Prof. Altair AguilarPrimeiro Reinado - Prof. Altair Aguilar
Primeiro Reinado - Prof. Altair AguilarAltair Moisés Aguilar
 
Resumo liberalismo guerrra vivil portugal
Resumo liberalismo guerrra vivil portugalResumo liberalismo guerrra vivil portugal
Resumo liberalismo guerrra vivil portugalSilvia Oliveira
 
Primeiro Reinado
Primeiro ReinadoPrimeiro Reinado
Primeiro ReinadoCaarolis
 
Primeiro reinado
Primeiro reinadoPrimeiro reinado
Primeiro reinadoLucas Reis
 
Primeiro reinado no Brasil
Primeiro reinado no BrasilPrimeiro reinado no Brasil
Primeiro reinado no Brasilanaecarla
 
A Independência do Brasil - contexto histórico.pptx
A Independência do Brasil - contexto histórico.pptxA Independência do Brasil - contexto histórico.pptx
A Independência do Brasil - contexto histórico.pptxssuserc8a15f1
 

Semelhante a A invenção do 7 de setembro (20)

Cap independncia do br
Cap   independncia do brCap   independncia do br
Cap independncia do br
 
independencia do brasil
independencia do brasilindependencia do brasil
independencia do brasil
 
Independencia
IndependenciaIndependencia
Independencia
 
Independencia do Brasil
Independencia do BrasilIndependencia do Brasil
Independencia do Brasil
 
INDEPENDÊNCIA DO BRASIL
INDEPENDÊNCIA DO BRASILINDEPENDÊNCIA DO BRASIL
INDEPENDÊNCIA DO BRASIL
 
Avaliação história
Avaliação históriaAvaliação história
Avaliação história
 
A verdadeira data da independência do brasil para mesclagem
A verdadeira data da independência do brasil   para mesclagemA verdadeira data da independência do brasil   para mesclagem
A verdadeira data da independência do brasil para mesclagem
 
Historia
HistoriaHistoria
Historia
 
Independência do Brasil - 7 de setembro.pptx
Independência do Brasil - 7 de setembro.pptxIndependência do Brasil - 7 de setembro.pptx
Independência do Brasil - 7 de setembro.pptx
 
Independencia do Brasil
Independencia do BrasilIndependencia do Brasil
Independencia do Brasil
 
1º reinado 2º reinado no brasil
1º reinado 2º reinado no brasil1º reinado 2º reinado no brasil
1º reinado 2º reinado no brasil
 
Brasil Império (Primeiro Reinado / Regências / Segundo Reinado)
Brasil Império (Primeiro Reinado / Regências / Segundo Reinado)Brasil Império (Primeiro Reinado / Regências / Segundo Reinado)
Brasil Império (Primeiro Reinado / Regências / Segundo Reinado)
 
Independência do brasil
Independência do brasilIndependência do brasil
Independência do brasil
 
Primeiro Reinado - Prof. Altair Aguilar
Primeiro Reinado - Prof. Altair AguilarPrimeiro Reinado - Prof. Altair Aguilar
Primeiro Reinado - Prof. Altair Aguilar
 
Slide rhanny
Slide rhannySlide rhanny
Slide rhanny
 
Resumo liberalismo guerrra vivil portugal
Resumo liberalismo guerrra vivil portugalResumo liberalismo guerrra vivil portugal
Resumo liberalismo guerrra vivil portugal
 
Primeiro Reinado
Primeiro ReinadoPrimeiro Reinado
Primeiro Reinado
 
Primeiro reinado
Primeiro reinadoPrimeiro reinado
Primeiro reinado
 
Primeiro reinado no Brasil
Primeiro reinado no BrasilPrimeiro reinado no Brasil
Primeiro reinado no Brasil
 
A Independência do Brasil - contexto histórico.pptx
A Independência do Brasil - contexto histórico.pptxA Independência do Brasil - contexto histórico.pptx
A Independência do Brasil - contexto histórico.pptx
 

Mais de Denise Vilardo

Trabalho de Biologia - Caio Alves
Trabalho de Biologia - Caio AlvesTrabalho de Biologia - Caio Alves
Trabalho de Biologia - Caio AlvesDenise Vilardo
 
E.life hábitos e comportamento de brasileiros nas redes sociais
E.life hábitos e comportamento de brasileiros nas redes sociaisE.life hábitos e comportamento de brasileiros nas redes sociais
E.life hábitos e comportamento de brasileiros nas redes sociaisDenise Vilardo
 
A narrativa da criadagem
A narrativa da criadagemA narrativa da criadagem
A narrativa da criadagemDenise Vilardo
 
Dia do abraço – 2013 – Estação Metrô - São Cristóvão
Dia do abraço – 2013 – Estação Metrô - São CristóvãoDia do abraço – 2013 – Estação Metrô - São Cristóvão
Dia do abraço – 2013 – Estação Metrô - São CristóvãoDenise Vilardo
 
Dia do Abraço Pça Afonso Pena
Dia do Abraço   Pça Afonso PenaDia do Abraço   Pça Afonso Pena
Dia do Abraço Pça Afonso PenaDenise Vilardo
 
Desenvolvimento Sustentável
Desenvolvimento Sustentável Desenvolvimento Sustentável
Desenvolvimento Sustentável Denise Vilardo
 
Gerações de celulares
Gerações de  celularesGerações de  celulares
Gerações de celularesDenise Vilardo
 
Revista Instituto Telecom - 03
Revista Instituto Telecom - 03Revista Instituto Telecom - 03
Revista Instituto Telecom - 03Denise Vilardo
 
Revista Instituto Telecom - 02
Revista Instituto Telecom - 02Revista Instituto Telecom - 02
Revista Instituto Telecom - 02Denise Vilardo
 
Revista Instituto Telecom - 01
Revista Instituto Telecom - 01Revista Instituto Telecom - 01
Revista Instituto Telecom - 01Denise Vilardo
 
Revista Instituto Telecom-00
Revista Instituto Telecom-00Revista Instituto Telecom-00
Revista Instituto Telecom-00Denise Vilardo
 

Mais de Denise Vilardo (20)

Curriculum vitae
Curriculum vitaeCurriculum vitae
Curriculum vitae
 
Trabalho de Biologia - Caio Alves
Trabalho de Biologia - Caio AlvesTrabalho de Biologia - Caio Alves
Trabalho de Biologia - Caio Alves
 
Ambiguidades
AmbiguidadesAmbiguidades
Ambiguidades
 
E.life hábitos e comportamento de brasileiros nas redes sociais
E.life hábitos e comportamento de brasileiros nas redes sociaisE.life hábitos e comportamento de brasileiros nas redes sociais
E.life hábitos e comportamento de brasileiros nas redes sociais
 
A narrativa da criadagem
A narrativa da criadagemA narrativa da criadagem
A narrativa da criadagem
 
Dia do abraço – 2013 – Estação Metrô - São Cristóvão
Dia do abraço – 2013 – Estação Metrô - São CristóvãoDia do abraço – 2013 – Estação Metrô - São Cristóvão
Dia do abraço – 2013 – Estação Metrô - São Cristóvão
 
Dia do Abraço Pça Afonso Pena
Dia do Abraço   Pça Afonso PenaDia do Abraço   Pça Afonso Pena
Dia do Abraço Pça Afonso Pena
 
Dia do abraço 2013
Dia do abraço   2013Dia do abraço   2013
Dia do abraço 2013
 
Recifes artificiais
Recifes artificiaisRecifes artificiais
Recifes artificiais
 
Energia Eólica
Energia Eólica Energia Eólica
Energia Eólica
 
Desenvolvimento Sustentável
Desenvolvimento Sustentável Desenvolvimento Sustentável
Desenvolvimento Sustentável
 
1G; 2G; 3G
1G; 2G; 3G1G; 2G; 3G
1G; 2G; 3G
 
Gerações de celulares
Gerações de  celularesGerações de  celulares
Gerações de celulares
 
Gerações do SMC
Gerações do SMCGerações do SMC
Gerações do SMC
 
Gerações do SMC
Gerações do SMCGerações do SMC
Gerações do SMC
 
De onde vem a energia
De onde vem a energiaDe onde vem a energia
De onde vem a energia
 
Revista Instituto Telecom - 03
Revista Instituto Telecom - 03Revista Instituto Telecom - 03
Revista Instituto Telecom - 03
 
Revista Instituto Telecom - 02
Revista Instituto Telecom - 02Revista Instituto Telecom - 02
Revista Instituto Telecom - 02
 
Revista Instituto Telecom - 01
Revista Instituto Telecom - 01Revista Instituto Telecom - 01
Revista Instituto Telecom - 01
 
Revista Instituto Telecom-00
Revista Instituto Telecom-00Revista Instituto Telecom-00
Revista Instituto Telecom-00
 

Último

PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...azulassessoria9
 
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Ilda Bicacro
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfMarianaMoraesMathias
 
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -Aline Santana
 
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.Mary Alvarenga
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...azulassessoria9
 
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....LuizHenriquedeAlmeid6
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinhaMary Alvarenga
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...Rosalina Simão Nunes
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxleandropereira983288
 
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptLiteratura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptMaiteFerreira4
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxBeatrizLittig1
 
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdfFicha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdfFtimaMoreira35
 
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxSlides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdfPortfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdfjanainadfsilva
 
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestreCIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestreElianeElika
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelGilber Rubim Rangel
 

Último (20)

PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
 
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULACINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
 
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
 
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
 
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
 
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinha
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
 
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptLiteratura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
 
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdfFicha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
 
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxSlides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
 
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdfPortfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
 
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestreCIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
 

A invenção do 7 de setembro

  • 1. A invenção do 7 de Setembro 07 de setembro de 2010 | 0h 00 Isabel Lustosa* Quando se deu realmente a Independência do Brasil? Porque, quando consultamos os jornais de 1822, não há nenhuma referência ao que se passou nas margens do Ipiranga em 7 de setembro? Porque aquele episódio foi escolhido em detrimento de outros, quando sabe que, em 1822, a data tomada como marco da Independência foi o 12 de outubro, dia do aniversário de dom Pedro I e de sua aclamação como imperador? Essas e outras questões foram respondidas, em artigo de enorme valor acadêmico, porém pouco conhecido, publicado em 1995, pela historiadora Maria de Lourdes Viana Lyra, sócia titular do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Intrigada com o silêncio da documentação e das publicações do ano de 1822 sobre o 7 de setembro, Lourdes Lyra devassou essa história e estabeleceu ponto por ponto o processo e os interesses envolvidos na escolha do 7 de setembro como data da Independência. Um ponto que merece realce é que os documentos que supostamente dom Pedro I teria lido às margens do Ipiranga no dia 7 só teriam chegado ao Rio de Janeiro em 22 de setembro. Outro é que o primeiro relato detalhado do episódio do Ipiranga só foi publicado em 1826, em momento de desprestígio do imperador diante dos brasileiros que tinham feito a Independência e que se indignaram com as bases do tratado assinado com Portugal. A Inglaterra, que representou junto à Corte do Rio de Janeiro seus próprios interesses e os da Coroa portuguesa, pressionara o imperador. Dom Pedro foi convencido a aceitar que, no tratado pelo qual Portugal reconhecia a nossa Independência, ao contrário de todos os documentos do ano de 1822 que a davam como uma conquista dos brasileiros, constasse que esta nos fora concedida por dom João VI. Este era também reconhecido como imperador do Brasil que abdicava de seus direitos ao trono em favor do filho e ao qual ainda tivemos de pagar vultosa indenização. O patente interesse de dom Pedro em conservar seus direitos à sucessão do trono de Portugal, que essa fórmula do tratado revelava, apontava no sentido de uma posterior reunificação dos dois reinos. Um príncipe que se declarara constitucional, que desde o Fico (9 de janeiro de 1821) vinha sendo aclamado até pelos setores mais liberais, que rompera com Lisboa e convocara eleições para uma Assembleia Constituinte, tão amado que recebera da Câmara o título de Defensor Perpétuo do Brasil, fora pouco a pouco se convertendo num tirano. Primeiro, ao dissolver a Assembleia Constituinte, depois, pela forma violenta com que reprimiu a Confederação do Equador e, finalmente, pela assinatura do vergonhoso tratado. É nesse contexto que a escolha do 7 de setembro como data da Independência ganha sentido. Segundo Lourdes Lyra, até então tinham sido consideradas as seguintes datas decisivas para o processo: o 9 de janeiro, dia do Fico; o 3 de
  • 2. maio, dia da inauguração da Assembleia Constituinte Brasileira; e o 12 de outubro, dia da Aclamação. Foi o esforço concentrado do Senado da Câmara (atual Câmara Municipal) do Rio de Janeiro, durante o mês de setembro de 1822, enviando mensagem à Câmaras das principais vilas do Brasil - num tempo em que eram as vilas e cidades as instâncias decisivas da política portuguesa -, que fez com que, na fórmula consagrada, constasse que dom Pedro fora feito imperador pela "unânime aclamação dos povos". Foi o apoio das Câmaras e de setores da elite e do povo do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Minas Gerais que deu forças ao príncipe para se contrapor às decisões de Lisboa. Segundo bem demonstra Lourdes Lyra, a opção pelo 7 de setembro casava bem com a ideia de que a Independência fora obra exclusiva de dom Pedro e essa data foi estrategicamente escolhida para a assinatura do tratado de 1825. Foi a partir de então que começaram a surgir referências mais entusiásticas ao 7 de setembro no Diário Fluminense, que fazia as vezes de órgão oficial do governo, e, em 1826, esse dia foi incluído entre as datas festivas do Império. Essa obra in progress foi reforçada ainda naquele ano pela publicação do famoso relato do padre Belchior, a primeira descrição minuciosa dos fatos que se verificaram às margens do Ipiranga por uma testemunha ocular da História. Ao lado deste, dois outros relatos publicados bem mais tarde por membros do grupo que acompanhou dom Pedro a São Paulo passariam a ser a fonte privilegiada para o estudo da data. O coroamento da obra se deveria ao Visconde de Cairu, intelectual respeitado que se conservou sempre aos pés do trono. Em sua História do Brasil, publicada em partes entre 1827 e 1830, Cairu afirma que a Independência do Brasil foi "obra espontânea e única" de dom Pedro, que a tinha proclamado "estando fora da Corte, sem ministros e conselheiros de Estado, sem solicitação e moral força de requerimento dos povos". Estava entronizado o mito do herói salvador, e postos na sombra os outros protagonistas, como José Bonifácio, Gonçalves Ledo e os membros de todas as Câmaras que impulsionaram e sustentaram o príncipe em suas decisões. Sem esse poderoso elenco de coadjuvantes, ao contrário do que afirma Cairu, não teria ocorrido a Independência. É interessante como símbolos forjados a partir de circunstâncias fortuitas se podem transformar com o tempo. Prova de que na memorabilia pátria menos que os fatos importam o peso que a tradição lhes imprimiu. Foi assim, durante todo o Império com a Constituição de 1824. O gesto de sua criação - ela foi outorgada, e não resultou da deliberação de uma Assembleia - não impediu que ela fosse respeitada e sacramentada até muito depois da deposição de dom Pedro I. O mesmo se deu com o 7 de setembro. A data impôs-se sobre as demais, hoje esquecidas, e continuou a ser festejada com o mesmo entusiasmo depois da abdicação, em 7 de abril de 1831, e bem depois de proclamada a República. *CIENTISTA POLÍTICA PELO IUPERJ, É HISTORIADORA DA CASA DE RUI BARBOSA NO RIO DE JANEIRO