Este documento apresenta uma introdução e prefácio para uma enciclopédia sobre medicinas naturais. Discute a relação da sociedade moderna com a saúde e como as medicinas naturais podem contribuir para o progresso médico ao fornecer tratamentos eficazes e não tóxicos. Também critica a medicina moderna por prescrever muitos medicamentos que causam doenças.
1. A CURA PELA NATUREZA
Jean Aikhenbaum e Piotr Daszkiewicz
ENCIClOPéDIA FAMILIAR DOS REMéDIOS NATURAIS
Aviso:
Esta obra não tem a pretensão de substituir o seu médico. Não pode substituir uma
consulta médica.
A nossa abordagem não consiste numa crítica sistemática da medicina. A nossa intenção é
apresentar-lhe um guia que permita ajudá-lo a fazer face a certos problemas através do
recurso às terapias ditas “naturais”. Também lhe apresentamos, nas próximas páginas, uma
análise crítica, científica, etnológica e histórica de certos tratamentos.
É importante saber que “natural” não significa “inofensivo”. Existem toxinas terríveis que
são, muitas vezes, de origem natural, e certas plantas que podemos encontrar
correntemente nos nossos parques e jardins são, por vezes, mortais. Devemos também ter
presente que a acção de qualquer substância é sempre múltipla, e que não existe acção
sem reacção. Mesmo as plantas e as técnicas delas derivadas devem ser utilizadas com
moderação. Para terminar, lembramos que é sempre preferível prevenir a ter de remediar.
Título original: Le Pouvoir de Guérir par la Nature
1996
A casa dos meus pais cheirava bem a sopa de couve
Quando o Inverno fustigava que bem que se estava em casa
Mas empurrei a cancela quando chegou a Primavera para deambular rio abaixo como todos
os moços de vinte anos...
G. Jackno
À minha filha Christina, que não gosta de ir ao médico.
Ao meu avô Kalman, que conhecia o poder do Verbo e sabia curar com um pouco de azeite
e de limão.
INTRODUÇÃO E PREFÁCIO
pelo Dr. Jean-Pierre WILLEM
Vivemos num tempo apaixonante em razão das suas contradições!
E a relação que a nossa sociedade mantém com a saúde é uma delas. Aliás o sentido da
palavra “saúde” não cessa de se alargar. Ela tanto designa os cuidados intensivos numa
unidade de reanimação, como o jogging das manhãs de domingo, passando pelos
medicamentos de conforto. A frase “É bom para a saúde” constitui uma etiqueta
indiscutível. Além disso, a saúde especializa-se por meio de técnicas cada vez mais
científicas e espalha-se sob a forma de crendices cada vez mais extravagantes. Por outro
lado, se hoje em dia se tratam doenças que no passado eram mortais, surgem doenças
primárias perante as quais somos ainda impotentes. E voltam a aparecer velhas infecções,
tais como as “doenças da miséria”, de que é um dos exemplos a sarna.
Esta obra é uma enciclopédia de medicinas naturais Seria uma presunção pretender
2. conhecer perfeitamente o conjunto de terapias às quais esta enciclopédia de tratamentos
naturais faz referência, sendo certo que Jean Aikhenbaum, jornalista científico e fundador
da revista Réussir votre Santé, e Piotr Daszkiewicz, biólogo e historiador das ciências,
elaboraram um guia muito completo.
A sua competência em matéria de medicinas naturais, numa perspectiva científica e
sobretudo experiencial, conjugou-se para proveito das pessoas que, a propósito, por
exemplo, de uma angina, de uma gonalgia, de um edema na garganta ou de uma
hemorragia nasal, poderão consultar este manual, que terá um lugar privilegiado para elas.
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Um exame da medicina, dos cuidados de saúde e do doente.
As suas considerações são, na verdade, múltiplas e variadas, mas mencionarei apenas as
três principais:
- O facto de que existe apenas uma medicina, com múltiplas facetas.
Já não se fala de “medicinas diferentes”, a não ser para explicar que muitas formas
possíveis de terapêutica sã o ignoradas, voluntariamente ou não, pelas Faculdades de
Medicina. -A primordialidade da alimentação saudável, equilibrada e natural.
Este fenómeno é conhecido há muito: “Existem doentes que só se curam através da
alimentação”, já dizia Hipócrates, e Jean Rostand, entre outros, fez dele um fervoroso eco.
- A vontade de cura.
Uma reflexão sobre a saúde
Esta enciclopédia aborda também os diferentes aspectos da saúde. -A saúde comporta uma
grande parte de confiança: por se pensar tanto que o progresso técnico resolve
rapidamente os problemas, as suas lentidões ou impotências suscitam decepções violentas
ou a procura de terapias ditas naturais. A confiança é, sem dúvida, fundamental no que toca
a saúde: o sobreconsumo de tranquilizantes prova-o. Existe por conseguinte uma forte
relação entre confiança e saúde. E um bom estado de saúde prova que o corpo se situa
numa relação de autoconfiança, de confiança no médico e de confiança na sociedade.
- Evocando, diversas vezes, o assunto do investimento nos cuidados de
3. saúde, os nossos autores apresentam a questão da confiança na vida, no valor da própria
vida. Será que estar de boa saúde significa não ter qualquer problema? Assistimos
actualmente a um conjunto crescente de doenças físicas bem como a uma grande
dificuldade em suportar a vida. No fundo, é o problema do sentido da vida que se põe. -Que
utilidade tem o que faço?”, que implica a pergunta: “0 que vale a minha vida?”
- Por outro lado, constatamos que as ciências e as tecnologias de ponta se especializam
cada vez mais. Mas o custo destes avanços é duplo:
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a saúde está dividida em especialidades, e o homem, na sua totalidade viva, é talvez menos
considerado. Além do mais, o abismo aumenta entre as tecnologias e a população: esta tem
dificuldade em entender todas as investigações, mas exige-as “de direito”, imediatamente.
E o acesso de toda a população aos cuidados de saúde exige provavelmente uma orientação
tornada inteligível e mais humana.
Sim, a saúde precisa de humanizar-se. E não apenas no que se refere às condições de
acolhimento de um grande hospital, mas, sobretudo, de modo a permitir ao homem manter
uma relação justa com a saúde. Certas pessoas preocupam-se de tal modo com a sua saúde
que dela se tornam escravas. A saúde não é apenas o campo do objecto (o corpo, a
psique), mas também o é do sujeito. E o domínio da saúde passa pela condução da própria
existência e, por conseguinte, pela paz consigo mesmo...
E depois pode-se, recorrer, então, às terapias.
Uma mina de informações sobre as medicinas naturais
Trata-se de um livro de “boa fé”: a informação do público, e até dos terapeutas,
necessitaria aliás de muitos outros livros como este. Basta sabermos que o leque
terapêutico é enorme e que é necessário actualizá-lo constantemente.
Esta obra é também uma mina de informações sobre os métodos tradicionais, os remédios
antigos e a medicina natural.
A medicina dos nossos dias tem o seu tempo, enquanto os métodos tradicionais,
experimentados ao longo de séculos, senão milénios, prosseguem incansavelmente a sua
acção favorável.
A medicina moderna enganou-se no caminho
A medicina moderna, dita “científica-, enganou-se incontestavelmente no caminho nestes
últimos cinquenta anos. E contudo... Nunca antes na história do mundo existiram tantas
drogas, mas, em contrapartida, nunca antes existiram tantas pessoas débeis, tantas
pessoas verdadeiramente doentes: UM terço dos indivíduos hospitalizados - um número
aterrador - ocupam as camas dos hospitais por motivo de doenças “causadas por
medicamentos”. Muitas delas morrem quando poderiam ter sido salvas.
É assim que as purgas e as sangrias dos séculos passados são actualmente substituídas
pelos antibióticos e pelos corticóides sistemáticos, dispensados às cegas. As consequências
nocivas deste procedimento são, desde há muito, piores do que as purgare e saignare de
Molière. Assim, durante séculos, os espíritos “duros” que atravancam as nossas civilizações
ocidentais zombaram de uma prática muito antiga, curiosa mas eficaz: o facto de uma
chave grande, aplicada na nuca, estancar rapidamente a maioria das hemorragias nasais.
Foi necessário que surgissem os trabalhos do padre Leriche para que este método fosse
despojado da sua lenda: qualquer objecto frio (uma chave, um pedaço de metal, um cubo
de gelo), colocado ao nível das vértebras cervicais, tem por efeito excitar o sistema nervoso
simpático situado diante das vértebras, que possui entre as suas múltiplas propriedades a
de provocar a contracção dos vasos sanguíneos. Daí o estancamento das hemorragias
nasais (epistaxes).
4. A medicina moderna deve dar explicações
Por que razão, sempre desconhecida, na nossa época de viagens à Lua, uma simples
ligadura de linho ou de lã suprime certas dores: as cãibras nocturnas nas pernas, as dores
reumatismais nos pulsos, nos cotovelos e nos joelhos? E por que razão um banal pedaço de
sabão de Marselha colocado na cama evita o regresso das cãibras?
Será doravante necessário esforçarmo-nos para encontrar uma explicação para a eficácia de
inúmeros tratamentos.
---As investigações modernas”, escrevia Léon Binet, antigo decano da Faculdade de
Medicina de Paris, “apenas confirmam de uma forma geral o bom fundamento dos cuidados
de saúde utilizados no passado de forma empírica.” Mas continuamos
a ignorar a razão pela qual os nossos predecessores utilizavam há séculos a cavalinha para
as afecções degenerativas e também como agente remineralizante. Sabemos actualmente
que as propriedades desta planta se devem aos seus múltiplos componentes, especialmente
a silícia - cuja importância é fundamental na consolidação do nosso esqueleto; e a cavalinha
é uma das plantas mais ricas neste componente. “A acção da silícia na terapêutica”,
escrevia aliás Louis Pasteur em 1878, “deverá ter um papel grandioso.”
As propriedades vermífugas do musgo-da-córsega foram mencionadas por Teofrasto, há
2000 anos. Utilizadas até à Idade Média, caíram no esquecimento e foi um médico corso,
como é natural, que as reabilitou em 1775. Conhecemos actualmente a realidade científica
da sua acção.
Para os cancros, no primeiro século da nossa era, Dioscórides utilizava o cólquico (mata-
cão). Foi preciso esperarmos até 1934 para isolarmos um dos seus alcalóides: a colquicina,
que, no estado actual dos nossos conhecimentos, combate o desenvolvimento das células
anárquicas dos tumores.
Durante séculos, e tal como para a cavalinha, para o musgo-da-córsega e para a maioria
das outras plantas, os espíritos duros negaram-se à evidência da sua eficácia sob o pretexto
infantil de que se ignorava a razão “científica” da sua acção.
Para Henri Poincaré, “negar porque não se sabe explicar não é nada científico”, o que
também afirmava Ambroise Paré, à sua maneira, há já quatro séculos e meio: “As coisas,
em medicina, não se medem ou consideram senão pelos seus resultados.”
Felizmente que, para muitos doentes com cancro, nem Dioscórides nem os médicos que lhe
sucederam esperaram 1900 anos para tirarem provas científicas da acção evidente das
propriedades antitumorais do cólquico.
É com a intenção de vulgarizar todo este património natural que os nossos autores
escreveram esta enciclopédia.
‘ Não se trata, obviamente, de um musgo mas sim de uma alga, Alsidium helminthocorton,
um remédio esquecido, conhecido dos médicos da Antiguidade e da Idade Média.
Redescoberto em 1775 por Stephanopol, este medicamento foi, muitas vezes, utilizado por
Napoleão.
As medicinas naturais contribuem para o progresso médico
Aqueles que consideram a medicina moderna como fonte de descobertas infinitas, tanto no
plano das preparações farmacêuticas como no plano das intervenções cirúrgicas, avaliam
frequentemente a medicina natural como um travão indesejável ao “progresso”. Outros
parecem estar de tal modo investidos na especificidade das suas profissões que a mera
menção da palavra “oligoelementos” ou “nutriterapia” lhes é insuportável. Os cuidados
5. médicos “sérios” não concedem qualquer lugar às vitaminas e aos exercícios físicos
autoprescritos (argumento ao qual não nos oporemos). Mas o que é bom para o “progresso
médico” ou para os “cuidados médicos” e o que é bom para os seres humanos são duas
coisas completamente diferentes!
Até os médicos podem tratar os seus doentes com esta enciclopédia
Os médicos receitam rapidamente medicamentos para acalmar dores, quando em certos
casos o recurso a esta preciosa enciclopédia lhes facultaria uma solução simplicíssima.
Um exemplo: quantas dores de cabeça, perturbações da visão ou zumbidos nos ouvidos não
teriam cura se não se interviesse ao nível das vértebras cervicais, em muitos casos
deslocadas?
Mais um exemplo? Quantas disfunções vagossimpáticas, que resistiram a cuidados diversos
durante vinte anos, não poderiam ser rapidamente aniquiladas através da negativização
eléctrica?
- E em que consiste esta terapia? - Simplesmente em devolver às células do nosso
organismo as cargas eléctricas negativas benéficas que estas perderam: todas as afecções
degenerativas - artrose, neuroses e afecções similares, diabetes, psoríase, cancro... - são
concomitantes de um excesso de carga positiva.
É uma questão de bom senso
Quando terapêuticas deste tipo, ignoradas pela nomenclatura científica, são capazes de
“recuperar” situações muito comprometidas pelo abuso da quimioterapia, por que não
deveriam elas ser utilizadas antes de quaisquer outras, e para as substituir, em caso de
insucesso, por medicações mais violentas? Não se tratará apenas, com o conhecimento
existente dos tratamentos eficazes e não tóxicos, de uma pura questão de bom senso?
“Para alcançar a verdade é preciso que uma vez na vida nos dispamos de todas as opiniões
recebidas e reconstruamos, de novo e a partir do seu fundamento, os sistemas desses
conhecimentos.” Estas palavras de Descartes, esse antigo oficial do exército, matemático e
filósofo, dizem respeito a todas as disciplinas. E mais ainda à medicina. É por esta razão que
a presente obra terá certamente o grande êxito que merece, tanto em França como no
resto da Europa.
Não é uma questão de negar os resultados, por vezes, incomparáveis, obtidos graças aos
medicamentos modernos. Temos o exemplo da meningite tuberculosa, que, sem a
estreptomicina, continuaria a ser uma doença mortal. É por isso que os inúmeros e
pacientes trabalhos dos fundamentalistas, indispensáveis aos progressos do conhecimento,
devem imperativamente ser prosseguidos sem que os investigadores se tenham de
interrogar se das suas descobertas serão algum dia retiradas conclusões práticas.
A abordagem das medicinas naturais
A medicina natural assenta num método lento e orgânico. Ela começa por reconhecer que o
corpo humano está maravilhosamente equipado de modo a resistir às doenças e a curar as
feridas. Assim, quando a doença se instala, ou se produz um acidente, a primeira
abordagem das medicinas naturais consiste em ver o que pode ser feito para reforçar a
resistência natural e multiplicar os agentes de cura, a fim de que estes possam agir mais
eficazmente contra o processo patológico.
A eficácia da medicina natural repete-se desde os tempos mais remotos
Vem-me à memória um pensamento chinês: “Não devemos acreditar ou deixar de acreditar
numa terapêutica, mas sim constatar ou não os seus resultados benéficos.” Mas o espírito,
mais ou menos cartesiano, de um
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médico ocidental não pode, obviamente, subscrever este tipo de pensamento, que apenas
aceitará como tratando-se de uma afirmação humorística.
Os “resultados benéficos” não trabalham, portanto, a favor da convicção. Aquilo que, em
contrapartida, não deveria deixar dúvidas no espírito dos mais cépticos é a repetição da
mesma eficácia em milhares de casos, por processos semelhantes na aplicação de uma
mesma técnica.
Se os cépticos persistem, que se acautelem, porque o cepticismo arrisca-se a transformar-
se em má-fé. E isto parece lamentável no que diz respeito ao progresso médico.
Esta enciclopédia vai ajudá-lo a defender a sua saúde
Sendo cada um responsável pelo seu próprio bem-estar, é-lhe desejável depender o menos
possível de outrem para defender a sua saúde. Cada um é o promotor, o censor e o
guardião da sua saúde. E esta obra vai ajudá-lo.
Uma síntese entre medicina tradicional e medicina de ponta
Muitas são as pessoas que consideram a medicina natural uma alternativa radical aos
cuidados médicos clássicos. No entanto, quando se encontram perante um problema grave,
em que a saúde está em jogo, essas mesmas pessoas rejeitam na totalidade todo o arsenal
de plantas curativas, de cereais integrais, de vitaminas e de exercícios físicos, que são a
própria essência dessa medicina. E isto é tanto mais absurdo que a medicina natural e os
cuidados médicos modernos não se excluem mutuamente, antes pelo contrário.
Esta é a razão pela qual este livro contém não só tratamentos naturais postos à prova
através dos tempos, mas também as novas terapias derivadas das mais recentes
investigações. Houve poucos, até agora, a fazerem este tipo de síntese entre a medicina
tradicional e a medicina de ponta.
Para cada doença são propostos vários tratamentos
Esta obra, realizada graças à colaboração entre um jornalista que animou e publicou a
revista médica de abordagem holística Réussir votre
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Santé e um homem de ciência recheado de diplomas, constitui um verdadeiro balanço dos
tratamentos mais bem adaptados a cada caso particular.
É aliás a sua segunda faceta de originalidade o propor várias terapias para cada doença: o
leitor encontrará assim, entre os tratamentos e produtos citados, aqueles que mais lhe
convêm.
Consulte esta obra em todos os casos
Desta forma, tudo foi feito para que lhe seja possível consultar esta obra fácil e
rapidamente, em caso de emergência.
O objectivo deste livro é, na verdade, permitir a todas as mães de família, a cada um de
nós, na presença de sintomas ou de doenças variadas (267 doenças abordadas nesta obra):
-tomar as primeiras previdências;
- fazer abortar a doença, se possível;
- alertar a nossa consciência para a eventualidade de uma afecção séria ou grave e pôr-nos
em guarda contra uma despreocupação perigosa.
7. Mas esta obra tem também outras ambições
- Diminuir o absentismo daqueles que têm todos os motivos morais ou
materiais para quererem trabalhar.
- Evitar hospitalizações inúteis.
- Lutar contra o abuso de uma prescrição sistemática de drogas supérfluas, quando existem
vários remédios ditos “suaves” igualmente eficazes (e, muitas vezes, mais fiáveis
preventivamente).
Tratar uma afecção benigna é coisa fácil. A grande dificuldade reside justamente na
apreciação da gravidade das manifestações anormais.
É obviamente perigoso manifestar um optimismo exagerado, mascarando a realidade e
contribuindo, deste modo, para a evolução de uma
doença que um tratamento precoce teria conseguido deter. Em contrapartida, parece-nos
pernicioso usar e abusar de drogas medicamentosas, nenhuma delas desprovida de riscos
(fala-se do risco iatrogénico), quando a aplicação de medicinas naturais pode, sem perigo e
facilmente, levar à cura.
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8. Esta enciclopédia é um passaporte de boa saúde
Saúdo a publicação desta obra de Jean Aikhenbaum e Piotr DasAiewicz que a redigiram
agregando um conjunto de práticas naturais. No nosso
mundo de poluição química e mental, este trabalho vai trazer-nos uma
lufada de ar fresco.
Esta enciclopédia constitui um passaporte de boa saúde. Destina-se a
nos fazer descobrir um conjunto de chaves para melhorarmos a nossa
saúde, aumentarmos o nosso bem-estar e preservarmos a nossa qualidade de vida.
Contudo, ponho em guarda os leitores contra uma automedicação sistemática. Certas
patologias devem recorrer aos médicos (de abordagem holística, de preferência).
Todos aqueles que se interessam pelos métodos naturais de cura experimentarão uma
grande alegria na leitura deste tratado, que é muito mais do que um conjunto de receitas!
Desejo um franco êxito para esta obra, elaborada por dois autores sérios.
Dr. Jean-Pierre Willem Presidente da FLMN (Faculdade Livre de Medicinas Naturais)
e dos MAPN (Médicos de Pés Descalços)
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9. 1 A VIDA, ESSE FENÓMENO TÃO MISTERIOSO
“O nosso mundo materialista é maravilhoso e cruel, mas simultaneamente ultrapassa a
nossa compreensão, é maior do que a própria matéria. E impossível reduzi-lo a essa
matéria.”
Karl Jaspers
SERÁ POSSíVEL DEFINIR A “VIDA,),)?
Todos os sistemas terapêuticos têm em comum o desejo de preservar a vida. A saúde pode
ser considerada como um estado da vida. Ora um dos paradoxos - e eles são inúmeros na
ciência moderna - é a sua incapacidade de explicar em que reside a vida. A biologia (que
pela sua
etimologia não é outra coisa senão a ciência da vida) nem sequer consegue definir o seu
próprio objecto! Houve tentativas de a definir pela sua
estrutura química, pela interpretação de certos fenómenos, mas até à data estas
explicações foram todas elas insuficientes.
A história da biologia tem sido marcada pelo discurso dos vitalistas em
busca da célebre vis vitalis, propriedade ou substância própria à vida, e
pelos reducionistas (mecanicistas do século xix) que apenas viam na vida simples
fenómenos físico-químicos. Mas nenhuma destas escolas apresentou respostas satisfatórias.
Desde a experiência de WõhIer, no início do século xix, que sabemos que podemos
sintetizar substâncias orgânicas, contudo nunca consegui
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mos descobrir um estado particular da matéria viva, nem sequer uma substância da vida.
Todavia, os reducionistas nunca conseguiram criar vida in vitro (mesmo se as últimas
investigações americanas permitiram criar sistemas polimoleculares capazes de se
reproduzirem e de utilizarem recursos nutritivos). E também não foram capazes de explicar
a sua origem.
Algumas definições da vida
Podemos propor várias definições para a vida, por exemplo, a do célebre biólogo húngaro
Szent-Georgyi (Prémio Nobel em 1935, pela sua
descoberta da vitamina C):
“A vida é uma poluição proteínica da água.”
Esta definição, proposta para ridicularizar os esforços de certos mandarins e ideólogos da
ciência oficial, tem a qualidade de fazer a
demonstração da nossa ignorância e realçar a importância da água e das proteínas nos
fenómenos da vida.
A maioria dos dicionários contenta-se com definições tautológicas (que definem a vida...
através do organismo vivo) do tipo:
“A vida é um conjunto de fenómenos que comporta principalmente a assimilação, o
crescimento, a reprodução e a morte, que caracterizam os seres vivos.”
Actualmente a biogénese (estudo da origem da vida) dedica-se, em
especial, às definições e às características da vida. Esse campo da ciência contemporânea
desenvolve-se de forma dinâmica. Podemos contar uma
boa centena de teorias sobre a origem da vida. Elas são, obviamente, apenas hipóteses de
escola... inverificáveis.
11. QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS DA VIDA?
Qual é a fronteira que separa o vivo do não vivo?
- Para Henry Quastler, a unidade da vida deve caracterizar-se pela
capacidade de transformar a matéria, pela estabilidade de organização e pela capacidade de
adaptação e de auto-reprodução.
- Para H. Kuhne, a qualidade mais importante da molécula viva reside
na sua capacidade de procura e de armazenamento de informação sobre o seu meio, bem
como a sua capacidade de reprodução.
- Quanto aos especialistas da biogénese, estes rejeitam as teses
reducionistas e afirmam que é muito difícil (se não impossível) explicar o fenómeno da
origem da vida através da simples evolução química.
Cada vez mais, as investigações tendem, tal como o sugeriram os
vitalistas no passado, para uma explicação de uma “entidade” que seria a característica da
vida, como por exemplo:
* a bioestrutura de Macovschie; ,
* a proteína viva (uma proteína morta que, graças a uma ligação com
a “porfirina”, se transforma numa proteína viva) de Florowska;
* ou ainda o “bioplasma”, proposto por certos bioelectrónicos.
- Certos biólogos, como S. W. Fox, pensam que a vida é eterna e que
uma espécie de informação biológica existe desde a criação do universo. A génese da vida
estaria inscrita no “ Big Bang”.
- Outros supõem que existe uma regra universal de integração que
governa todos os processos do universo e que o aparecimento da vida é a simples
consequência dessa lei (Bahadur designa-a por “regra ekhalma-manav”).
- Para C. Porteli, é a mega informação que dirige a matéria e torna
possível a biogénese.
- P. Fong supõe que a informação é primordial para o aparecimento da
vida, que é ela (e não a matéria) que deve ser primeiro estudada. As teorias e os trabalhos
de Fong permitiram uma nova interpretação das tradições místicas, porque a ciência
contemporânea interpreta
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cada vez mais à letra o preceito segundo o qual “o universo é a regra da organização do
Tao”, ou os primeiros versículos do Génesis: “No princípio, criou Deus os céus e a terra. E a
terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se
movia sobre a face das águas. Deus disse: Taça-se luz.’ E a luz foi feita.”
Quais são as consequências destas investigações e em que medida influenciaram as nossas
teorias em matéria de saúde?
Toda a gente concorda em reconhecer que a vida é um fenómeno de uma extraordinária
complexidade, apesar de existir há vários milhares de anos. Em razão da sua complexidade
e da incapacidade ou impotência da ciência para o explicar, compreender ou simplesmente
descrever, devemos rejeitar todas as explicações simplistas.
Uma doença não pode ser reduzida (salvo em certos casos raros e
extremos) a um único factor. Ou seja, não basta, por exemplo, alterar o pH, nem adicionar
alguns elementos que aparentemente faltam (vitaminas, minerais, etc.), para obter
resultados para os quais a Natureza necessitou de condições específicas que exigiram
milhares de anos para se realizarem.
Em contrapartida, somos da opinião de Hipócrates e pensamos que a Natureza, através dos
seus mecanismos de regulação, é capaz de tratar a maioria das nossas doenças. É também
importante realçar que se os
12. estudos sobre a biogénese demonstram que a vida tem capacidades excepcionais para se
manter (as bactérias, por exemplo, vivem em condições extremas de calor, num ambiente
de substâncias tóxicas), existe contudo uma fronteira de alterações ambientais para além
da qual a vida não consegue manter-se. Ao ultrapassar um “certo patamar” de tolerância, a
vida pode tornar-se impossível nas suas formas actuais.
Desta banal constatação podemos reter como conclusão que preservar a vida e a saúde em
geral passa pela protecção do nosso meio ambiente.
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13. A NATUREZA QUE TRATA
“Saúdo-te, ô Natureza, mãe de todas as coisas. “
Plínio
---Nos povos primitivos todos os indivíduos são exímios naturalistas, o que não é de
espantar já que disso depende a sua sobrevivência.”
Errist Mayr (Histoire de la biologie)
Em busca das origens da Natureza
Há vinte e seis séculos os filósofos gregos propuseram o equivalente à palavra Natureza e,
também na mesma época, o termo Arche (início, origem). A etimologia da palavra Natureza
globalizava o facto de as substâncias serem susceptíveis de se desenvolverem, durarem e
se reproduzirem. Tales de Mileto dedicou-se, mais especificamente, à busca das origens da
Natureza. Os seus sucessores, entre os quais Anaximandro, quiseram saber o que existia na
Natureza no momento da sua criação. A busca filosófica dos factores unificadores e das
causas naturais dos fenómenos originais estão na base da cultura europeia.
A Natureza pode tratar?
Os grandes pensadores gregos ‘debruçaram-se sobre o papel terapêutico da Natureza. Para
Hipócrates, considerado fundador da medicina científica, a Natureza está na base de todas
as curas. Os diversos órgãos do corpo constituem uma entidade harmoniosa, e a Natureza
tem a possibilidade de tratar as doenças. O papel do médico consiste em observar o doente,
seguir os progressos que a Natureza efectua em direcção à cura e, eventualmente, ajudá-la.
Não deve de modo nenhum contrariá-la na sua
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acção curativa. “Primum non nocere” significa que o dever do médico ou do curador é o de
não perturbar o desenrolar de uma acção benéfica. Os preceitos que orientaram os
terapeutas durante séculos estabeleciam que o médico deve ser minisler naturae (estudante
da Natureza) e não magisler nalurae (mestre da Natureza).
As relações entre Natureza e medicina
Na tradição filosófica (e medicinal) existem duas correntes:
-Para a primeira, o homem faz parte da Natureza. É a relação
conflituosa entre o nosso corpo e a Natureza que está na origem das doenças, e é, por
conseguinte, na Natureza que podemos encontrar os meios de preservar ou de recuperar
uma boa saúde.
- Para a segunda, o homem é o mestre da Natureza. A sua ciência e
a sua técnica têm os meios de resolver todos os problemas que lhe possam surgir, incluindo
o problema da saúde.
Nós estamos, pela nossa parte, próximos da primeira tradição: pensamos que a Natureza
põe à nossa disposição todos os meios para um
melhor bem-estar. Felizmente, esta tradição, mesmo tendo sido, por vezes, ocultada ao
longo dos séculos, não desapareceu com a Grécia antiga. Ela acompanhou os homens e a
medicina ao longo da história. Encontramo-la na tradição da Escola de Medicina de
Montpellier, onde outrora se
escrevia com orgulho “Hippocrate oolim Cous, nunc Monspelliensis”, e
nos Conselhos Gerais de Saúde da célebre Escola de Salerno:
“Quando sentirdes que a Natureza vos quer aliviar
14. de alguma matéria impura, Esculai os seus conselhos, ajudai-a nos seus esforços: Em vez
de reterdes essa imundície em vós, dela libertai, rapidamente e sem tardar, o vosso corpo.
Fugi dos tratamentos nocivos, pois por eles se altera o sangue; Evitai a cólera como um
veneno funesto.
O serva do estes pontos, contai que os vossos dias por meio de um regime prudente se
prolongarão.”
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15. A Natureza que trata: a naturopatia
Esta tradição hipocrática encontra-se igualmente na naturopatia e nas
teorias ecológicas de Gaia: “Terra - organismo vivo de que o homem faz parte.”
Esta concepção da Natureza que trata tem tido inúmeros detractores, especialmente entre
os médicos e os cientistas. É compreensível, porque, se é suposto a Natureza tratar, para
que servirão então os médicos?
É evidente que a propagação desta teoria põe em jogo os interesses económicos dos
comerciantes de saúde, dos médicos e dos farmacêuticos, mas sobretudo dos laboratórios
que fabricam os medicamentos. O problema não é novo.
No século xviii um grande naturalista e médico francês, Jean Emmanuel Gilibert, publicou as
obras Autocracia da Natureza ou Primeira Dissertação sobre a Energia do Princípio Vital para
a Cura das Doenças Cirúrgicas e Segunda Dissertação sobre a Autocracia da Natureza na
Qual se Prova que a Natureza Cura as Doenças Internas, tais como Febres, Inflamações,
Convulsões e Dores. A reacção do meio médico não se fez esperar e foi muito violenta.
Gilibert foi obrigado a publicar uma rectificação: Joannis-Emmanuel Gilibert adversaria
medico-praticum Lugduni,
1791, na qual explica que foi mal entendido e que, em certos casos, a intervenção do
médico pode ser necessária.
Nós partilhamos o ponto de vista de Gilibert: a intervenção do médico é necessária apenas
em certos casos. Assim, segundo o princípio hipocrático, devemos limitá-la aos casos mais
sérios.
A medicina pela Natureza
Aliás, na grande tradição da “medicina pela Natureza”, muitos foram os pensadores que
rejeitaram todas e quaisquer intervenções médicas, salvo as mais urgentes (como a cirurgia
das fracturas). Assim, Ambroise Paré não foi o único a descobrir que frequentemente a
ausência de medicamentos (no seu caso tratava-se de óleo a ferver que servia para tratar
as feridas) pode ser mais benéfica do que o tratamento científico”.
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Devemos suprimir os medicamentos?
Encontramos esta ideia na tradição “hasídica” (movimento ortodoxo judeu da Europa
Central, no século xviii), para a qual “a cura e a saúde não pertencem aos médicos”, bem
como nos trabalhos de Karol Rokitansky, da Escola de Viena do século xix. Este grande
médico declarou que cada escola de medicina ensina tratamentos terapêuticos diferentes
para patologias idênticas, sem mesmo assim obter uma cura para as doenças tratadas.
Rokitansky chegou ao ponto de declarar que toda a “matéria médica” não serve para nada e
que os doentes recuperam ou não a saúde graças à acção da Natureza; e que, nesta
hipótese, é por conseguinte impossível tratá-los.
Não somos tão extremistas na nossa maneira de pensar. Partilhamos mais o ponto de vista
de Galiano, que pensava, como Hipócrates, que a
Natureza trata as doenças e que nós podemos observá-la e imitá-la, sem reservas, através
dos dons que ela nos proporciona. A Natureza tem a
capacidade tanto de nos tratar directamente como de nos fornecer as suas capacidades
terapêuticas.
A NATUROPATIA
Não é possível comparar a naturopatia com a medicina oficial, que apenas se limita a
16. intervir quando a doença se declara e que se esforça por fazer desaparecer os seus
sintomas o mais rapidamente possível. Ela constitui a fotografia fiel do nosso modo de vida
e da nossa técnica e sente-se assim na obrigação de trabalhar muito depressa, de
responder o mais imediatamente possível às necessidades do público. Comporta obviamente
vantagens indiscutíveis, mas gera, muitas vezes, inconvenientes maiores, inclusive riscos
com consequências difíceis de avaliar.
E se os medicamentos nos fizessem mais mal do que bem?
Utilizamos um grande número de substâncias químicas de que ignoramos totalmente os
efeitos, tanto para nos tratarmos como para nos alimentarmos: quem poderá explicar o que
acontece quando estas ditas
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substâncias penetram no nosso organismo, se combinam entre si e se acumulam nos
nossos tecidos? Podemos considerar que os seres vivos estão perante várias centenas de
milhar de compostos químicos dos quais nos é impossível avaliar as interacções.
É útil lembrar que 25% das patologias diagnosticadas são consideradas ---iatrogénicas”, ou
seja, resultam directamente de um acto ou de uma prescrição médica.
Os erros da medicina: muitos medicamentos são retirados do mercado
Devemos, igualmente, lembrar que um grande número de produtos considerados anódinos,
que faziam parte da panóplia terapêutica de todos os médicos há alguns anos atrás, foram
desde então retirados do mercado. Numa década, 600 medicamentos foram assim postos
na lista negra. Alguns deles, ainda autorizados em certos países, são contudo considerados
perigosos e proibidos noutros!... Como se, em função da latitude em que se encontra, o ser
humano fosse diferente!
Foi, aliás, o caso da demasiado célebre thalidomida',que foi autorizada na maioria dos
países ocidentais mas não na Turquia. O ministro da Saúde deste país era médico e tinha
muitas reservas relativamente às novas terapias ocidentais. Podemos dizer que as reservas
deste homem foram no mínimo felizes e que, se prejudicaram de alguma forma as finanças
do laboratório que comercializava este produto, evitaram nascimentos monstruosos na
Turquia, tais como aqueles que ocorreram nos nossos países... mais civilizados.
A naturopatia socorre os males quotidianos
Não se trata de pôr em causa os conhecimentos adquiridos e os progressos da medicina e
da cirurgia oficiais. É necessário recorrer a essas
técnicas em certos casos limitados, especialmente nas fases agudas de certas patologias.
Mas, em contrapartida, no que diz respeito à maioria
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dos males correntes, essas medicações apresentam inconvenientes inúteis. Torna-se, por
conseguinte, preferível recorrer a técnicas que respeitem o
meio ambiente e que estejam em harmonia com os princípios vitais do organismo.
A naturopatia baseia-se em princípios filosóficos que assentam no
facto de o homem ser um microcosmos no macrocosmos, um universo no
universo, um corpo feito de mares, montanhas, vales, correntes de água, rios, desertos...
Ele é a imagem emblemática e representativa das forças em movimento que o compõem.
Ele sofre a influência do seu meio, do ambiente que o envolve. Se este é perturbado, a
perturbação reflecte-se no homem microcosmos, espelho da entidade global.
A naturopatia respeita o corpo
17. A naturopatia age rearmonizando as energias que constituem a vida.
Tende a estimular as defesas do nosso organismo e coloca-o num estado capaz de
responder e fazer face às agressões exteriores.
O corpo tem obrigação de ser forte para poder recuperar e conservar
a saúde, preservando simultaneamente o seu capital vital.
* A doença ou as perturbações orgânicas que dela decorrem não são
um simples efeito do acaso, do inexplicável ou da má sorte. Do mesmo modo que não
passamos naturalmente de um estado de boa saúde para um estado de doença.
42
18. ALGUMAS TEORIAS (naturopáticas)
Louis Kuhne combate os excessos alimentares
A sua teoria
As doenças manifestam-se através de sintomas variados, mas a sua
causa é sempre idêntica: é a sobrealimentação que forma substâncias estranhas no corpo.
Estas perturbam-no, prejudicam o seu bom funcionamento e a circulação sanguínea. A
origem da doença reside na acumulação dessas matérias estranhas não eliminadas. Estas
são o resultado de o indivíduo ingerir mais alimentos do que aqueles de que necessita
efectivamente para compensar o desgaste do seu corpo.
Louis Kul---me combate a ingestão de alimentos nocivos (carnes, vinho, especiarias, álcool,
chá, café, narcóticos, medicamentos, etc., que não têm, na sua opinião, qualquer valor
nutritivo) que irritam o corpo e acabam por torná-lo doente. Os órgãos ficam
prematuramente enfraquecidos e tornam-se incapazes de assegurar as suas funções... nada
escapa às suas
críticas, e já em 1850 ele se insurgia contra o tabagismo e as vacinas, o ar impuro, os
vapores das cloacas, os desinfectantes e a poeira “que são nocivos para o corpo e se
transformam em princípios mórbidos”.
Estes materiais armazenados e transformados não podem, em razão da sobrealimentação,
ser eliminados pelos órgãos excretores. Por conseguinte, fermentam e apodrecem. Se surge
alguma agressão interna ou externa, por exemplo um resfriado, um sobreaquecimento ou
uma emoção, os princípios mórbidos procuram uma saída. Se encontram um obstáculo no
seu caminho dilatam o espaço onde se movem e provocam então tumores, hipertiroidismo,
pólipos, enfisema, endurecimentos, úlceras, cancro...
O seu método
Com esta filosofia (unidade das doenças, unidade do tratamento para curar todas as
doenças), Kulme exclui todos os medicamentos, plantas medicinais e intervenções
cirúrgicas. Ele preconiza um tratamento uniforme para todas as doenças, traumatismos e
feridas, através de:
* banhos do tronco;
* banhos de assento com fricções;
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* banhos de prancha;
* banhos de vapor;
* uma alimentação estritamente vegetariana.
O método natural e personalizado do professor Bilz
A sua teoria
Bilz elaborou uma técnica a que deu o nome de O Novo Método do Professor Bilz para Curar
as Doenças. Esta teoria obteve um grande êxito e conseguiu proezas e maravilhas onde a
medicina da época esbarrava contra um impasse.
Bilz utilizava apenas tratamentos naturais que ele personalizava e adaptava a cada caso
particular. Inspirava-se em Savonarola, médico do século xv, e, mais próximos dele, em
Hahn, em Pressnitz e em Frank. Era um fervoroso adepto da hidroterapia, que conseguiu
adaptar maravilhosamente a cada caso.
19. O seu método
Apesar de fornecer receitas saborosas, considera que o vegetarianismo é o regime mais
adaptado ao homem e superior a todos os outros. Não o considera, contudo, como uma
regra absoluta, salvo no tratamento de certas doenças. Com efeito, aconselha a prática de
uma alimentação variada, composta por legumes, fruta, leguminosas (ervilhas, feijões),
lacticínios, ovos, pão integral, saladas, compotas e, eventualmente de vez em quando, um
pouco de carne assada, cereais integrais, arroz, milho, trigo sarraceno, cevada, bem como
manteiga e queijo.
Como bebida, recomenda a água, mas considera que se pode tomar, de
vez em quando, um pouco de vinho, de chá ou de café.
Para cada caso específico impõe-se um tratamento específico. É necessário individualizar o
tratamento e personalizá-lo, de modo a torná-lo o mais eficaz possível.
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Para o doente, ele afirma justamente que uma sobrecarga alimentar é totalmente inútil.
Observa também que a privação de alimentos provoca no organismo as mais belas curas.
Bilz insurgiu-se contra as águas químicas de SeItz, que denunciou violentamente. O que
diria ele hoje perante a profusão de águas gaseificadas, com sabores de fruta e outras,
adicionadas de corantes e de conservantes, que todos nós consumimos?
Ele admitia que o ar era indispensável para prosperarmos e nos desenvolvermos. Basta
observar as plantas e delas retirar a nossa inspiração: as plantas necessitam de ar e de luz.
Os tratamentos do padre Kneipp
Kneipp utilizava nos seus tratamentos tisanas e envolvimentos por meio de banhos de
vegetais. Utilizava a água sob a forma de compressas e aplicava cataplasmas de argila.
Também considerava a água fria como
um remédio particularmente eficaz e aconselhava a prática de imersões frequentes e de
curta duração.
Shelton nega a doença
Para Shelton, as doenças não existem. Aquilo que observamos e a que chamamos doenças
são apenas sintomas variados. Pretender curar a
doença é um contra-senso porque esta não existe. O papel da doença é o
de preparar o corpo para um bom estado de saúde. É por isso que a doença deve ser gerida
e não combatida.
A prática do jejum e as restrições alimentares
A prática do jejum é velha como o mundo e constitui provavelmente um dos meios
conhecidos mais antigos para recuperar um bom estado de saúde. A sua história confunde-
se com a história do homem e das religiões: a Bíblia cita Moisés, e o Novo Testamento cita
Cristo.
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A opinião de alguns teóricos e médicos sobre o jejum
- Para o Pr. Biliz:
“Em vez de alimentarmos o doente alimentamos a doença. A dieta
é o meio mais seguro de recuperar uma boa saúde e de conservar a juventude e a
vitalidade. “
20. O jejum é um período de descanso por excelência. Logo de início o
sangue e a linfa purificam-se e produz-se um novo equilíbrio que permite aos órgãos vitais
regenerarem-se. O jejum pode comparar-se a uma noite de repouso total para um corpo
extenuado.
“Os jejuns são umas férias fisiológicas de todo o nosso organismo.
Não são uma penitência mas sim uma medida de desintoxicação interna que merece ser
mais conhecida e desenvolvida.”
Para Upton Sinclair:
“A coisa mais importante em relação ao jejum é o facto de ele proporcionar um novo nível
de saúde.”
Toda a gente pode jejuar, as contra-indicações são extremamente raras
e os efeitos benéficos fazem-se rapidamente sentir; as funções orgânicas são restauradas, e
o corpo elimina os excessos de peso.
- Para a Sr.’ Geffroy:
“É o fenómeno da autofagia que torna o jejum num meio maravilhoso de regeneração e
num extraordinário factor de longevidade.
O organismo devora as suas células, começando por aquelas que estão fracas ou doentes,
que perderam vitalidade e que representa um perigo para o corpo na sua totalidade.”
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O jejum faz emagrecer e rejuvenescer
É por esta razão que durante as curas de jejum se eliminam primeiro as gorduras e a
celulite.
* O Dr. Bertholet, médico suíço, afirma que a autofagia se processa
da seguinte maneira: 97% da gordura desaparece, depois o baço perde 63% do seu peso, o
que prova que se encontra sobrecarregado e anormalmente dilatado, e não sofre, de modo
algum, com esta perda de peso. Em seguida, o fígado perde também 56% do seu peso,
sem qualquer inconveniente. Os músculos, por sua vez, podem perder até 30% do seu
volume, o sangue 17%, enquanto os nervos e o cérebro 0%. Para este médico o que o
jejum não consegue curar nenhuma outra terapêutica será capaz de o fazer.
* Carlon e Kunde mostraram que quando o jejum é praticado por um
homem de 40 anos, durante um período de 2 semanas:
“O jejum permite ao corpo regressar a uma condição fisiológica comparável à de um
jovem.”
Estes dois médicos realçam que, se o homem praticasse regularmente jejuns
rejuvenescedores, poderia manter-se jovem ano após ano.
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21. AS PLANTAS MEDICINAIS
AS PLANTAS ACALMAM A FOME E ALIVIAM AS DORES
Não existe vida animal sem vida vegetal, nem mundo vegetal sem mundo mineral. O que
demonstra, caso seja necessário, que tudo o
que constitui o nosso planeta se encontra estritamente interdependente.
O essencial da nossa alimentação provém directa ou indirectamente do mundo vegetal.
Os homens sempre procuraram nas plantas, nas flores, nas raízes e nos tubérculos um meio
de saciarem a fome. Depois procuraram as que eram mais aptas a ajudá-los a suportar a
sua miséria, a sua inquietação, a sua
angústia e, também, a aliviar as suas feridas e vencer a doença e a dor.
O interesse das plantas que tratam...
Qual é o interesse da utilização das plantas medicinais na época em
que as manipulações genéticas e a síntese química são moeda corrente?
A resposta põe em evidência as grandes tradições religiosas e todas as civilizações que
utilizaram a fitoterapia - do Egipto antigo à Grécia antiga, passando pela China. Contudo,
estas mostram-se incapazes de fornecer uma resposta que satisfaça as nossas expectativas.
Podemos, evidentemente, falar da superioridade das substâncias obtidas nos laboratórios,
em condições ideais de esterilização e de controlo de qualidade. Não basta citar o exemplo
dos animais que procuram re
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médios no seu biótopo natural, apesar de sabermos, graças aos estudos pormenorizados
dos zoólogos, que os grandes primatas, por exemplo, escolhem espécies vegetais
antiparasitárias. Até sabem compor o seu regime alimentar de modo a preservarem a sua
saúde, tal como o fazem os babuínos, que escolhem as folhas e os frutos do Balanites
aegyptiaca para evitar a bilharziose.
Para convencer os Ocidentais cartesianos da utilidade das plantas medicinais, é difícil
recorrer a concepções místicas, à Lei das assinaturas” (plantas cuja forma e cor se
assemelham aos sintomas de uma determinada doença e que é suposto tratá-las), à
herança dos livros sagrados ou, para finalizar, à convicção de que o homem deve encontrar
remédios para todos os males na Natureza, pois é no desequilíbrio da Natureza que se
encontra a causa da doença.
e o interesse da fitoterapia
A fitoterapia não precisa de recorrer a todas estas explicações para se
justificar. Os resultados obtidos com as substâncias de origem vegetal são suficientemente
convincentes. Devemos lembrar que o potencial e a enorme riqueza bioquímica dos vegetais
são factos indiscutíveis. Eles contêm várias centenas de milhares (ou de milhões) de
componentes químicos que a síntese artificial é incapaz (na maioria das vezes) de
reproduzir e
até, por vezes, de determinar.
No que diz respeito às substâncias que o homem aprendeu a reproduzir em laboratório e
que são portanto quimicamente idênticas às isoladas nas
plantas, existem também diferenças essenciais relativamente aos produtos naturais.
Quando se utilizam plantas, os seus princípios activos nunca
agem sozinhos mas, sim, em sinergia com os outros componentes. São estas substâncias
“complementares” que têm frequentemente um papel activador, completando e reforçando
a acção dos princípios activos. Melhor ainda, quando verificamos que certos componentes
22. isolados são tóxicos, outras substâncias que contêm essa toxicidade diminuem ou
neutralizam completamente a sua acção nefasta.
E, finalmente, não devemos esquecer o aspecto económico da fitoterapia, que se torna
muito importante nas nossas sociedades hipermedicalizadas, nas quais o custo da
segurança social é cada vez mais elevado. Podemos
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frequentemente encontrar plantas muito eficazes entre as espécies banais, as especiarias,
os legumes, as plantas ubíquas (que se encontram em todo o lado). A utilização de certas
plantas exóticas, que se podem cultivar em
casa, é agora também possível.
O poder de cura das plantas está hoje cientificamente confirmado
Inúmeros investigadores, médicos, cientistas ou simples curiosos, redescobriram desde a
última guerra a medicina dos simples. Analisaram e testaram centenas de variedades de
plantas. Conhecemos agora os principais componentes de inúmeras espécies, que os
antigos ignoravam. Estes estudos confirmaram, igualmente, o seu conhecimento empírico e
apercebemo-nos de que as tisanas, as decocções e outras preparações nas quais as plantas
possuem uma virtude terapêutica eram sempre prescritas adequadamente.
Podemos então afirmar que as plantas têm todos os poderes? Que as ervas, as flores, as
raízes têm todas as virtudes, que constituem o remédio ideal, a panaceia universal? Decerto
que não, mas elas têm, em muitos casos, a faculdade de ajudar o corpo a vencer a doença
e a recuperar a saúde, em situações nas quais até as medicinas mais sofisticadas falham.
As plantas têm, meramente, a pretensão de poder constituir uma ajuda complementar
interessante de um tratamento médico.
A “LEI DAS ASSINATURAS” OU A FACE “MíSTICA” DA FITOTERAPIA
As virtudes terapêuticas das plantas
- Em África, as raparigas utilizam uma “planta mágica” Kigelia africana, para aumentar o
tamanho e o volume dos seios e tratar a esterilidade. -No Norte da Europa, os Escandinavos
desde tempos pré-históricos
que tratam as doenças respiratórias com a Lobariapulmonaria.
51
- O salgueiro Salix sp., cura os reumatismos, e o castanheiro-da-Índia
é suposto curar as hemorróidas.
Estas quatro plantas medicinais foram utilizadas por diferentes civilizações, em épocas
diferentes, para tratar diversas doenças. A descoberta das suas virtudes foi feita sem
qualquer correlação. Contudo, possuem inegavelmente factores comuns. Estas quatro
plantas foram descobertas graças à Lei das assinaturas”.
A “lei das assinaturas” revela as virtudes das plantas
*Os frutos da Kígelia africana têm aspecto fálico.
*A Lobariapulmonaria é um líquen foliáceo que se assemelha a um
lóbulo pulmonar.
*O salgueiro cresce, frequentemente, em terrenos inundados e pantanosos e, como é facto
conhecido, os reumatismos estão associados à humidade.
*As raízes do castanheiro-da-índia assemelham-se a veias hipertrofiadas.
Nestes quatro exemplos a ciência moderna confirma as virtudes terapêuticas evocadas
pelas “assinaturas”. Até foi possível identificar e isolar os componentes químicos que
23. traduzem a acção terapêutica da linguagem da doutrina das assinaturas para a linguagem
da química dos medicamentos do século xx*A Kigelia africana contém esteróides cuja
assinatura química é
idêntica às das hormonas sexuais.
*O salgueiro contém derivados salicílicos (como a aspirina).
*Um ácido, próximo do ácido cetrátrico, conhecido pelo seu forte
poder antibiótico, foi isolado a partir da Lobaria pulmonaria.
*Os saponídeos anti- inflamatórios justificam as virtudes do castanheiro-da-índia.
Qual é a “fórmula mágica” que permitiu descobrir as virtudes das diversas plantas? Como é
que as civilizações “primitivas” chegaram às mesmas conclusões e aos mesmos resultados
que os Ocidentais do século xx? Os nossos antepassados não dispunham nem de
laboratórios, nem de aparelhos sofisticados, nem de cromatografia.
52
Quem formulou primeiro a “lei das assinaturas?
Nunca descobriremos o inventor desta doutrina; ela surgiu provavelmente com os primeiros
homens. Nem sequer conseguimos determinar que civilização ou que continente foi
precursor em matéria de decifração dos sinais divinos da cura.
Para os Europeus esta doutrina está ligada à medicina e à filosofia de Paracelso, que
transformou a antiga regra na lei simula similitibus curantor (o semelhante cura-se pelo
semelhante). Esta lei pretende que cada planta contém um sinal que indica a sua
prescrição. Por exemplo, uma folha em forma de coração trata perturbações cardíacas,
outra em forma de fígado e as flores de cor amarela são indicadas contra a icterícia.
Por outro lado, Giambattista della Poria associou a botânica à astrologia e dedicou a sua
obra Phytognomococa ao estudo e à descrição das assinaturas em relação com o cosmos.
A base teórica desta lei pertence à concepção hipocrática e já era
conhecida na Grécia antiga. Mas foi provavelmente no século xvi que a
doutrina das “assinaturas” entrou no cânone do conhecimento médico e na filosofia
ocidental. Foi também nessa época que os viajantes e conquistadores espanhóis
descobriram que esta lei não pertencia apenas aos Europeus. No tempo de Paracelso a
doutrina das “assinaturas” tornou-se no verdadeiro paradigma do conhecimento humano.
A “lei das assinaturas” decifra os “sinais” das plantas
É evidente que a época de Paracelso favorecia a redescoberta, a divulgação e a
predisposição para a doutrina dos sinais. Em primeiro lugar porque o homem (e também o
cientista) vivia com a consciência da omnipresença divina e o medo da morte. Virava-se
para Deus e pedia-Lhe que levasse em conta os seus infortúnios. A certeza de que não
estamos sós com as nossas doenças predominava nas mentalidades.
Segundo a teoria dos alquimistas, e de Paracelso em particular, é a
visão das relações entre micro- e macrocosmos que constitui a base importante da doutrina
das “assinaturas”, porque:
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“Existe uma correspondência entre o que acontece nos astros e o que acontece na terra,
uma influência do céu sobre os objectos que constituem a Natureza.”
Esta ideia teve um papel importante na filosofia do século xvi. A teoria das “assinaturas”
está em sintonia com a visão que os alquimistas tinham da matéria, ou seja, com a
concepção da transformação. É, com
efeito, a Natureza que impõe um sinal na “matéria-prima” (amorfa) e a
transforma em “matéria última”, que possui a forma característica associada às virtudes
medicinais.
24. Os alquimistas, e em particular Della Porta e Paracelso, desenvolveram toda uma teoria da
cosmogonia dos sinais. Devemos lembrar que os
princípios desta teoria são idênticos ou, pelo menos, quase idênticos, em
todas as civilizações.
Como identificar esses sinais
Os sinais podem ser assimilados aos sintomas, às causas das doenças
ou aos órgãos (sinais organolépticos e, eventualmente, aos processos fisiológicos) do corpo
humano.
A ficária (Ficaria sp.) é um bom exemplo de sinal “sintomático”: as
suas raízes são inchadas, têm a forma de hemorróidas, e daí o seu nome corrente, erva-
das-hemorróidas.
As plantas cuja aparência se assemelha à de uma serpente ou de um escorpião foram,
durante muito tempo, utilizadas para neutralizar a acção dos venenos. Elas pertencem ao
grupo dos sinais “causais” (ligados às causas das doenças).
Em certas culturas, a utilização destes sinais ia ao ponto de tratar feridas feitas por flechas
com plantas que serviam para o fabrico das flechas.
Contudo, os sinais organolépticos eram provavelmente os mais frequentes. As plantas em
forma de fígado (como a Repatica nobilis) ou de pulmão (como a Lobaria pulmonaria) estão
presentes em todas as farmacopeias.
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Para terminar, não podemos esquecer os sinais ligados aos processos fisiológicos. As
plantas com suco branco era suposto estimularem a lactação, Nos índios, a pedra-vermelha
eztetl tinha a capacidade de estancar as hemorragias.
Quais são esses sinais?
- É frequentemente a morfologia de uma planta (ou parte dela) que
constitui o sinal:
- As folhas da Hepatica nobilis (anémona-hepática) são recortadas
em três lóbulos profundos com a forma de fígado.
O talo da Lobaria pulmonaria lembra os alvéolos pulmonares.
- As cores constituem a segunda grande classe de sinais:
As plantas amarelas são, com frequência, utilizadas no tratamento da icterícia ou das
afecções da vesícula biliar.
- Estes dois sinais (a morfologia e a cor) estão, muitas vezes, presentes em simultâneo:
* As folhas da pulmonária têm a aparência de alvéolos não só por
causa da sua forma, mas também das suas manchas brancas.
* A cor vermelha da parte inferior de uma folha de anémona-hepática reforça a semelhança
com o fígado.
- Mas o sabor e o aroma constituem, igualmente, sinais utilizados
pelo homem.
-Todas as partes de uma planta podem constituir sinais: a raiz (ficária, orquídeas), os talos
(lianas), a flor (Sarothamnus), o fruto (Kigleya) e também o látex (Chelidonium majus).
-Na tradição chinesa utilizou-se também a repartição anatómica dos
25. sinais: os botões e as flores representavam as partes superiores do corpo, e as raízes as
partes inferiores.
-Os sinais podem estar ligados não apenas à planta, mas também à
sua ecologia. O salgueiro e a rainha-dos-prados, utilizados como antipiréticos e para tratar o
reumatismo, pertencem à classe de sinais
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definidos pelo seu habitat, já que ambos crescem em terrenos habitualmente inundados.
-O homem estudou frequentemente as capacidades específicas dos
organismos a fim de os decifrar:
*Assim, na América do Sul utilizava-se a pele de nandu contra os
males do ouvido, por causa da grande dimensão das orelhas deste animal.
*Considerando a coragem e a força do tigre, os Chineses utilizam
o pó dos ossos deste animal como panaceia necessária para recuperar as forças do
organismo, enfraquecido pela doença.
*As flores da erva-de-são-joão (hipericão) são amarelas, mas se as
desfizermos entre os dedos tornam-se vermelhas, o que lembra a
reacção da pele às queimaduras do sol (as flores desta planta são utilizadas em inúmeros
cremes cosméticos).
Não devemos contudo esquecer que certos sinais nunca foram confirmados (por exemplo, a
utilização da noz, que pela sua forma se assemelha ao cérebro, nunca demonstrou qualquer
eficácia contra as dores de cabeça).
- Para descobrir certos sinais o homem observou os animais, como
é o caso da quelidónia, que, segundo uma tradição popular, é utilizada pelas andorinhas.
- Os sinais ligados ao sistema reprodutor do homem (fálico, testicular
ou vaginal) constituem uma grande parte dos afrodisíacos e também das plantas anti-
sifilíticas. -Não devemos esquecer a categoria dos sinais linguísticos, em que o nome da
planta nos indica as suas propriedades. Mas desde há muito que esta categoria parece
secundária, já que o homem descobriu primeiro as características dos vegetais e só depois
lhes atribuiu um nome. A aceitação da existência de sinais linguísticos exige
obrigatoriamente a aceitação da existência de “nomes primários” (supostamente existentes
antes do conhecimento). Por outro lado, devemos realçar que determinadas concepções
psicolinguísticas (sobre as relações entre o cérebro, o espaço, o tempo e a língua) tentam
explicar este fenómeno.
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A fitoterapia decorre da “lei das assinaturas”
O homem sempre procurou uma panaceia para curar os seus males. Para este efeito, a
lógica da teoria das semelhanças assenta sobre a busca
de uma planta que possua o maior número possível de sinais. É daí que derivam todos os
estudos sobre as plantas que possuem a forma do corpo humano, como, por exemplo, a
mandrágora e o ginseng.
Iniciámos estas reflexões com o exemplo das “assinaturas” que foram confirmadas pela
biologia molecular. Podemos também demonstrar que inúmeras “assinaturas” utilizadas no
passado não têm qualquer poder terapêutico (ou talvez não tenham ainda pura e
simplesmente revelado os seus segredos aos nossos laboratórios?).
Quererá isto dizer que a doutrina das “assinaturas” não é credível? Que todas as plantas
descobertas através desta lei são o resultado de um mero acaso? Ou tratar-se-ia talvez de
“falsos sinais” (mal escolhidos ou mal interpretados) que não constituem o reflexo de uma
teoria exacta?
É certo que a doutrina das “assinaturas” foi uma hipótese para um
26. trabalho de investigação que deu resultados muito interessantes. Ela permitiu a descoberta
de inúmeras plantas medicinais, e não esqueçamos que Paracelso, grande partidário desta
doutrina, está na origem das bases da química e da farmacologia modernas. Até os que
ridicularizaram as
“assinaturas” não podem ocultar a importância do contributo que esta teoria pode ter no
campo da fitoterapia.
ALGUMAS NOÇÕES SOBRE A QUÍMICA DAS PLANTAS
Não lhe vamos fazer um curso teórico
A utilização de fórmulas químicas num livro faz baixar a sua venda em 20%, e até o simples
facto de se utilizarem palavras como “fenol” ou “flavonóide” pode desencorajar o leitor.
Não pensamos, por isso, como o fazem muitos responsáveis do marketing dos laboratórios
farmacêuticos, que uma fórmula ou um nome químico complicado (por exemplo, para-
hidroxi-meta-nitro-hidroxibenzoato de metilo) possa aumentar, graças ao seu efeito
psicológico (placebo), a eficácia dos medicamentos.
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Os leitores interessados no aspecto e na composição química dos remédios naturais podem
consultar, se o desejarem, livros de fitoquímica ou
de bioquímica, de que damos referências no fim desta obra. Limitar-nos-emos, nas linhas
que se seguem, ao estritamente necessário e não lhe apresentaremos qualquer fórmula
química rebarbativa.
Verifique a composição química das plantas
Os princípios activos das plantas podem ter um carácter químico muito variado e serem
compostos por fenóis, flavonóides, antocianos, glícidos, lípidos, aminoácidos e proteínas,
chiquímatos, poliacetatos, terpenos, esteróides, alcalóides, etc.
Alguns deles são venenos terríveis. É o caso, por exemplo, da estricnina, da ergotamina, do
curare, da cocaína... Parece-nos indispensável lembrar este facto, já que certos médicos e
terapeutas têm uma deplorável tendê ncia para banalizar e subestimar o poder da
fitoterapia. A composição química das substâncias de origem vegetal confirma não só a sua
eficácia sobre o organismo humano, mas também o perigo que a sua má aplicação poderia
representar.
A guerra química das plantas entre si
Perguntamo-nos frequentemente qual poderá ser o papel destas substâncias para os
vegetais? Por que razão as plantas sintetizam estes princípios activos? Em inúmeros casos a
ciência não tem capacidade para fornecer uma resposta a esta pergunta. Mas sabemos que
algumas dessas substâncias activas têm um papel na “guerra química que as plantas
travam entre si”.
Por exemplo, a Cafluna vulgaris inibe, graças à síntese dos seus mediadores químicos, o
desenvolvimento da Avenafatua e deste modo livra-se de um concorrente. O Eucalyptus
globulus intoxica os seus concorrentes por meio de fenóis e terpenos, “utilizando” um
pequeno coleóptero, o Paropsis atomaria, que come as suas folhas e ingurgita as
substâncias
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activas para mais tarde as libertar na proximidade de plantas das quais pretende livrar-se.
A intensidade das “armas químicas” das plantas é tal que uma substância isolada a partir do
látex, o Panthenium argentatum, inibe a acção das outras espécies numa concentração de
O,000 1 %! Para se obter 20 g desta substância seria necessário utilizar 20 kg das suas
27. raízes.
Compreendemos, deste modo, a terrível eficácia de que dispõem as
plantas para se defenderem das doenças causadas por bactérias ou fungos, e também dos
seus diversos predadores: das lagartas aos mamíferos.
A título de curiosidade, podemos acrescentar que esta acção constitui uma das hipóteses
apresentadas para tentar explicar o desaparecimento dos dinossauros. Esta tese dá a
entender que, no decurso da sua evolução, as plantas se foram aperfeiçoando
quimicamente cada vez mais. Tornaram-se então tóxicas para os seus predadores e
conseguiram sair vitoriosas dos dinossauros, que não conseguiram desenvolver mecanismos
de desintoxicação.
Esta teoria desenvolveu-se, mas desde os trabalhos de Alvarez que se
admite geralmente a teoria da ocorrência de uma catástrofe cósmica como explicação para
a sua extinção. Contudo, não se considera, actualmente, uma atitude séria pôr em dúvida o
poder da acção biológica dos princípios activos inerentes à fitoterapia.
As plantas também nos protegem
As substâncias contidas nas plantas podem ter ainda outras funções biológicas. Explica-se
que a grande quantidade de bioflavonóides contidos nas folhas de certas espécies
funcionam como filtros contra as radiações ultravioletas e desempenharam um papel
primordial durante a colonização da terra no período siluriano. É possível que estas
substâncias venham ainda a ter um papel importante, no futuro, no que diz respeito à
protecção do homem contra as radiações resultantes da destruição da camada de ozono.
Segundo as últimas investigações americanas, a presença de fenóis garante uma protecção
imunitária e também uma possibilidade de adap
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tação. No caso das plantas que vivem em ecossistemas pobres em azoto, certas espécies
utilizam componentes orgânicos para substituir este elemento. Os fenóis, segundo esta
teoria, formam com as proteínas complexos acessíveis (contrariamente às proteínas que, só
por si, são incapazes de fazê-lo) às plantas como fonte de azoto.
Um dos autores desta obra trabalhou durante vários anos na investigação dos mecanismos
de resistência das plantas às poluições atmosféricas e às doenças fúngicas. Pôde constatar
que o aparecimento ou o desenvolvimento desta resistência são sempre acompanhados de
um aumento importante dos teores em componentes fenólicos. Parece então que os
princípios activos constituem um elemento-chave do sistema de defesa dos vegetais contra
o stress ambiental e as suas diversas patologias.
Os estudos farmacológicos sobre os flavonóides realçam a complexidade da sua acção sobre
o organismo: a capacidade de libertar histaminas, a facilidade de amalgamação às
plaquetas sanguíneas e a capacidade de bloquear os efeitos inflamatórios das toxinas do
fígado, o efeito sobre o sistema enzimático (os flavonóides depositados nas folhas agem no
sistema enzimático e inibem a acção dos parasitas).
A descoberta da presença destas substâncias na superfície dos tecidos vegetais permite
compreender melhor o sistema imunitário das plantas.
São, por conseguinte, os vegetais que, em razão das substâncias activas de que dispõem,
têm fortes possibilidades de substituírem, com eficácia, os antibióticos. Além disso, certos
flavonóides têm, independentemente do seu poder antimicrobiano, um poder
antiarteriosclerótico.
A acção terapêutica das plantas
28. O mistério da Natureza é tal que torna impossível substituir o poder terapêutico da planta
por um dos seus princípios activos, isolado quimicamente. A razão deste fenómeno é
simples: a sua acção terapêutica baseia-se, em geral, no efeito combinado de vários
princípios activos. É o caso, em particular, da salva, que age através dos seus muitos
componentes antibióticos e anti-sépticos, bem como dos seus taninos (acção adstringente).
60
Algumas noções sobre a combinação dos princípios activos das plantas
É importante saber que uma planta possui sempre vários princípios activos. As espécies
(mas também os diversos especimenes da mesma espécie) diferenciam-se pela estrutura
química de alguns dos seus componentes e pela sua quantidade (que depende sobretudo de
factores ecológicos). Contudo certos autores tentaram simplificar a classificação
fitoterapêutica das plantas escolhendo os princípios que caracterizam as suas utilizações
terapêuticas. A título indicativo, apresentamos alguns “tipos quimioterapêuticos”, com as
suas espécies:
Plantas com alcalóides
Aconitum napeflus (acónito), Bryonia alba (briónia), Conium maculatum (cicuta), Cordyalis
cava (cordiala tuberosa). Como podemos verificar, são plantas com uma forte acção,
tóxicas, mas
encontram-se neste grupo espécies mais utilizadas na terapia, como o
Leonurus cardíaca (agripalma cardíaca).
Plantas com vitaminas
Petroselinum crispum (salsa cultivada), Ribes nigrum (groselha).
Plantas com acção antibiótica
Hieracium pilosella (pilosela), Plumbago europeaea (dentelária-da-europa).
Plantas com heteróssidos sulfúricos
Allium porrum (alho-porro).
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Plantas com heteróssidos fenólicos
Arctostaphyllos uva ursi (uva-de-urso).
Plantas com flavonóides
psella hursa pastoris (bolsa-de-pastor).
Plantas com heteróssidos cumaríuicos
Melilotus officinalis (trevo coroa-de-rei)
Plantas com renunculóssidos
Anemone nemorosa (anémona-dos-bosques)
Plantas com antracenóssidos
Rhamnus cathartica (escambroeiro).
Plantas com taninos
29. Fagiis sylvatica (faia).
Plantas com princípios amargos
Artenúsia absinlhum (absinto).
Plantas com cardenólidos
Digitalis lanata (digitália).
Plantas com saponíssidos
Beta vulgaris (beterraba).
Plantas com essências e resinas
Ocinium basilicum (manjericão).
Plantas com glícidos
Borago officinalis (borragem).
Plantas com componentes inorgânicos
Pulmonaria officinalis (pulmonária).
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30. FITOTERAPIA DAS PLANTAS INFERIORES (Criptogamas)
A maioria dos manuais de fitoterapia, bem como as obras sobre saúde relacionadas com
plantas, preocupam-se apenas com as plantas superiores (pteridófitas, gimnospermas e
angiospermas). Contudo, a imensa variedade de cogumelos, de algas e de líquenes
ultrapassa o número de plantas correntemente utilizadas pelos terapeutas.
Esta riqueza manifesta-se pelo número impressionante de espécies e pela sua profusão em
substâncias bioquímicas. Estes organismos são pioneiros na preparação do terreno para
outros organismos que lhes sucedem. Encontram-se frequentemente em estado de
concorrência e travam uma “verdadeira guerra química” entre si. São dotados de
extraordinárias capacidades.
Houve tempos em que o homem procurou os seus remédios no mundo estranho dos
cogumelos e das algas. É por esta razão que decidimos apresentar alguns deles, com as
respectivas utilizações terapêuticas tradicionais.
A MICOTERAPIA OU O TRATADO DOS COGUMELOs MEDICINAIS
O Outono é o período por excelência dos cogumelos. Mas é evidente que os verdadeiros
apreciadores de cogumelos não ligam muito a este pequeno pormenor, já que é possível
cultivá-los praticamente todo o ano.
1 Segundo os novos sistemas taxinómicos, os cogumelos já não são considerados plantas.
Contudo, por razões práticas, inserimo-los neste capítulo.
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De facto, existem espécies que aparecem nos primeiros dias da Primavera e outras que até
existem no Inverno. Mas o Outono é a estação por excelência dos cogumelos.
Quando os colhemos e provamos, negligenciamos quase sempre as suas propriedades
medicinais. Contudo, no que diz respeito à sua composição bioquímica, os cogumelos são
provavelmente os mais ricos e variados de todos os organismos vivos.
Os cogumelos também são medicinais: uma tradição popular antiga
As capacidades metabólicas dos cogumelos são ainda pouco conhecidas. Mas para dar uma
ideia da sua força vital, basta lembrarmos que o Bovista gigantea pode atingir, apenas
numa noite, o tamanho de uma abóbora grande e pesar 7 kg (conhece-se mesmo um
exemplar com 15 kg). Acrescentemos que o pó (composto em grande parte pelos esporos
deste soberbo cogumelo) é utilizado na farmacopeia chinesa como expectorante.
Lindley, biólogo americano, calculou que alguns cogumelos produzem
60 milhões de células por minuto. A sua grande actividade e riqueza enzimática
predestinava-os a todos os tipos de enzimoterapia. Aliás, desde há muito que se utilizam os
fermentos oxidados dos cogumelos, especialmente no tratamento da hipertensão.
Desde a descoberta da penicilina que os investigadores se interrogam sobre o facto de os
cogumelos superiores serem também dotados dos mesmos princípios activos. O estudo e a
observação da sua vida confirmam esta hipótese. Constatou-se com frequência a não
germinação dos grãos na proximidade imediata dos célebres círculos das bruxas. Estes
locais eram assim chamados porque os cogumelos surgiam aí em grande quantidade,
formando um círculo, que era considerado mágico por muitos povos. A morte das plantas
vizinhas é o resultado provável da acção de uma substância comparável à dos antibióticos.
As medicinas populares sempre lhes atribuíram propriedades anti-infecciosas. Sabemos
empiricamente que os esporos do Colybia radiata e os do Amonita inaurata, bem como dos
cogumelos de tabuleiro, tomados em quantidade suficiente, curam as tosses rebeldes. As
31. observações
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populares sobre a acção desinfectante do pó do Polyporus sulfureus, do Polyporus
umbellatus, do Polyporus frondosus e até do vulgar Boletus luteus foram confirmadas.
Nas receitas antigas preconizava-se uma mistura composta do lactário apimentado para
tratar a tuberculose pulmonar. Sabia-se também que o pó do Lycoperdônpirifórine curava
os resfriados e as dores de garganta e o do BolletusfeIlus e do Russula delica reduzia as
secreções excessivas em casos de bronquite.
Já no século xix médicos não convencionais constatavam a existência de propriedades
antibacterianas nos cogumelos. Assim, o Dr. Curtis propõe uma tintura de “agárico falóide”
ou de “agárico bulbex” contra a
cólera e contra a doença de Bright. As experiências confirmam o seu forte poder antibiótico
contra bactérias tais como os estafilococos dourados e os bacilos de Koch. A clitocibina,
extraída dos cogumelos Clilocybe candida e Clitocybe gigantea, foi a primeira substância
isolada nos cogumelos superiores que confirmou as suas propriedades antibióticas.
Depois da descoberta da estreptomicina, as investigações sobre as
propriedades dos clitócibos e sobre as várias espécies de cogumelos caíram em desuso. Mas
é provável que a crise que atravessam os antibióticos, bem como o regresso da tuberculose
e das doenças infecciosas, façam
renascer as investigações sobre as suas propriedades. Além disso, sabe-se que certas
espécies, como o “tricólomo de São Jorge” (Tricholoma georgi), têm uma acção antibiótica
comparável à dos mais potentes antibióticos sintéticos actuais.
Propriedades antibióticas e doenças de civilização
As propriedades antibióticas dos cogumelos não são as únicas virtudes destas espécies que
podem ser utilizadas pela nossa sociedade. Muitos deles podem ter um papel importante no
tratamento das doenças de civilização. Infelizmente abandonámos muito rapidamente as
investigações sobre os cogumelos de tabuleiro (cultura) Agaricus campester, cujos
resultados eram promissores no tratamento das alergias.
Também é possível que certos cogumelos possam substituir vantajosamente as pílulas anti-
stress e os meios químicos inibidores do cansaço.
65
O célebre micólogo George Becker descreveu o caso de uma pessoa “que depois de
mastigar e ingerir a cera branca espessa e amarga que recobre o políporo Ganodemia
appIanatum viu desaparecer em poucos minutos o cansaço que a acometia”. Observou
também que depois de comer dois silercas crus, Marasmius oreades, experimentou durante
alguns minutos um sentimento de alegria e de leveza muito agradáveis.
A medicina popular, por outro lado, utiliza o pó esporal (a porção de
1 colher) de certos licoperdos (bexiga-de-lobo) para combater a sonolência e aumentar a
pressão arterial.
Remédios que não necessitam de preparação
A incomparável vantagem da micoterapia reside no facto de a maioria dos remédios à base
de cogumelos não exigir praticamente qualquer tipo de preparação.
- o pó do Mucidula radicata, tomado tal qual, cura rapidamente todas
as inflamações de garganta, incluindo as anginas!
- O lactário apimentado é um notável antiblenorrágico (antibiótico e
antigonocócico). As suas propriedades foram descobertas em 1930 por um micólogo
amador de nome Bataille e foram posteriormente confirmadas por G. Becker. Antigamente
32. os lenhadores do condado franco curavam-se destas doenças consumindo 2 a 3 destes
cogumelos assados na grelha.
-Os cogumelos do grupo lactário foram também utilizados como
diuréticos para a gravela e para os cálculos urinários. O seu suco foi aproveitado com
grande eficácia para eliminar as verrugas.
À redescoberta dos lactários...
As descobertas em etnobotânica eram divulgadas como notícias de sensação na imprensa
especializada. A nota publicada por S. Berthoud em
Les petites chroniques de la Science, em 1860, sobre a acção de um
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cogumelo, provavelmente o Phallus impudico, é a este respeito muito evocadora:
“ Trata-se de um cogumelo que possuiria uma propriedade que não
possuem, infelizmente!, nem as nossas gentes simples nem a nossa farmacopeia, nem
sequer as nossas águas, de curar essas doenças implacáveis que são a gota e o
reumatismo.
O cogumelo dos pobres... e dos ricos
Este cogumelo, que existe em abundância no Norte da Ásia, no Cáucaso e até nas florestas
da Europa (as que ainda merecem este nome), nasce sob camadas de folhas e detritos de
ramos que a humidade, a fermentação e a acção do tempo transformam em humo, nas
proximidades de aveleiras, de fusanos e de alfeneiros.
De Junho a Agosto o criptogama - que na Rússia é chamado zemlianóe maslo (ou manteiga-
da-terra) - aparece primeiro sob a forma de uma bola subterrânea oblonga, de cor
esbranquiçada e aveludada. Quinze dias depois esta bola rompe-se e dela nasce um
cogumelo grande e sólido que não tarda em secar e em espalhar à sua volta, à medida que
se vai reduzindo em pó, um cheiro acre que irrita a garganta.
Os habitantes da Ucrânia colhem o zemlianóe maslo quando este se
encontra ainda na sua forma ovóide, abrem-no e recolhem o seu muco em vasilhas e
deitam manteiga ou gordura derretida, para o preservar do contacto com o ar. Utilizam-no
com eficácia em fricções para curar os
reumatismos de que muito frequentemente sofrem, devido à insalubridade das suas
cabanas construídas na floresta e na proximidade de pântanos.
E assim é no que diz respeito aos pobres! Para os ricos, secam-se em estufa os pés e os
chapéus dos cogumelos manteiga-da-terra reduzidos a
pó. Este pó é depois macerado em álcool e enviado para toda a Rússia, onde, segundo o Dr.
Kalenitchenko, professor de Fisiologia da Universidade de Khárkov, é muito utilizado para
curar radicalmente a gota e a hidropisia.
67
33. O cogumelo: um remédio universal
Os nomes vulgares de certos cogumelos revelam a sua utilização terapêutica tradicional.
Como podemos constatar lendo os manuais do século XIX:
O políporo dos farmacêuticos’ (ou agárico) era utilizado, ainda
há pouco tempo, contra a diarreia, em aplicação externa nas
doenças dos olhos, nas manchas e nas erupções cutâneas, nas feridas e nas úlceras e
também contra as hemorróidas.”
Actualmente os camponeses suíços utilizam-no para purgar o gado. Em certas regiões da
Europa ainda é utilizado contra os suores nocturnos dos tuberculosos. O agárico
(Pol>porusfomentarius, assim chamado pelos cirurgiões) foi utilizado contra as hemorragias
externas.
Para a sua preparação:
“... escolhem-se os mais jovens, separam-se dos tubos e da casca, depois de amolecidos
durante algum tempo numa cave (ou noutro local fresco). Em seguida cortam-se em fatias
que se batem com força com um maço de madeira, afim de as espalmar e esticar; molham-
se de vez em quando, batem-se de novo e depois esfregam-se entre as mãos até
adquirirem um certo grau de moleza e de doçura. “
O 6(lagárico” utilizado na homeopatia
A homeopatia sempre o utilizou. Já Hal---mernann propunha a utilização da falsa-oronia.
Devemos realçar que os médicos homeopatas empregam o nome Agaricus muscarius há
muito tempo e erradamente, já que este cogumelo não é um agárico! Este remédio é
utilizado para os espasmos musculares, os abalos, os tremores e a epilepsia.
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A tintura obtida a partir destes cogumelos, depois de devidamente limpos, descascados e
cortados em pequenos pedaços macerados em álcool, é um meio eficaz contra a tinha, o
impetigo e as impigens.
A propósito do hongo, esse remédio milagroso
Quando se fala em micoterapia, deve mencionar-se o célebre hongo ou
cogumelo-do-chá. A primeira informação sobre este misterioso organismo foi publicada em
1913 pelo Dr. Lindau. Este médico alemão descobriu que os habitantes de Mitau, um porto
no mar Báltico, consideravam como
um remédio milagroso um “cogumelo”, trazido pelos marinheiros do Extremo Oriente, onde
era acompanhado de um verdadeiro ritual durante a sua preparação e consumo.
A origem deste cogumelo permanece obscura. Será ele originário dos campos de arroz da
China, do Peru ou da Europa? A sua cultura espalhou-se por muitas regiões. As
investigações demonstraram que o hongo não é um simples cogumelo mas sim uma
associação de microrganismos, de bactérias e de cogumelos. Infelizmente, os componentes
do hongo são muito variáveis, e as suas propriedades estão em estrita relação com a forma
como é cultivado.
Nos anos 60, a Europa Ocidental apaixonou-se pelo hongo. Mas esta moda, bem como as
investigações feitas em diversos laboratórios, foram rapidamente abandonadas. É contudo
indiscutível que este cogumelo merece que nos interessemos de novo por ele.
A TERAPIA PELAS ALGAS
34. O mar parece ser uma fonte terapêutica ainda muito mal conhecida e
pouco utilizada. Contudo muitos são os especialistas que pensam que a
riqueza bioquímica dos organismos marítimos é mais importante do que os da terra.
Devemos realçar que a utilização terapêutica das algas, salvo algumas excepções, é recente
e que os nossos antepassados desenvolveram mais (excepto no Extremo Oriente) uma
fitoterapia baseada nas plantas terres
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tres. Além disso, relativamente aos organismos marítimos, os antigos
interessaram-se mais por certas toxinas ou tinturas de origem animal, do que pelas algas.
As algas são antibióticos naturais
Há algumas décadas que certas substâncias são objecto de estudos aprofundados. Neles
utiliza-se o fenómeno do antagonismo bioquímico (os organismos libertam substâncias
biologicamente activas para inibir o
desenvolvimento de outros organismos) de certas espécies de algas, de modo a descobrir
os princípios antibacterianos e antifúngicos.
Descobriu-se que estes “antibióticos naturais” não só inibem a proliferação de certos
organismos patogénicos mas também tornam as bactérias “menos agressivas”. A
penetração das bactérias na célula hospedeira torna-se difícil e até impossível.
Certos terapeutas invocam como argumento a origem marítima da vida para justificar a sua
utilização na terapia. Esta estranha coincidência está associada à descoberta dos
evolucionistas do século xix, que sublinhavam a grande semelhança entre a composição
química da água do mar e a dos líquidos fisiológicos dos organismos, incluindo o do homem.
Os bioquímicos, para grande espanto seu, redescobriram a unidade do mundo vivo.
Constatou-se, assim, que os ácidos biliares de inúmeros peixes são idênticos aos do
homem.
As algas: uma solução milagrosa contra os retrovírus?
Nos tempos da SIDA, a ausência de um remédio antiviral constitui um dos maiores
falhanços da medicina contemporânea. Deste ponto de vista,
o mar e os seus produtos parecem propor-nos uma alternativa. As investigações mostraram
que certas substâncias (derivados sulfÓnicos dos polissacáridos) provenientes das algas têm
uma acção sobre os vírus da poliomielite e do herpes e podem ser utilizadas no tratamento
destas doenças.
Os extractos de um rodófito do Pacífico, o Schizymenia pacífiqua, têm uma acção inibidora
sobre a transcriptase inversa (enzima-chave no fun
70
cionamento dos retrovírus) dos pássaros e dos mamíferos. Além disso, podem utilizar-se
estes extractos de maneiras e em doses não nocivas para as outras enzimas.
Serão as algas uma “solução milagrosa"contra as doenças causadas por retrovírus? É uma
hipótese a investigar. Devemos acrescentar que a riqueza marítima das substâncias
antivírus não se limita às algas e às plantas. Também existem outros organismos que nos
oferecem meios de luta contra os vírus, nomeadamente as esponjas, como, por exemplo,
uma
espécie originária do mar das Caraíbias, a Tethyda crypta.
Algumas algas medicinais: apanhe-as durante as férias
35. É possível encontrar um equivalente para a fitoterapia clássica graças às algas.
Apresentamos em seguida algumas “algas medicinais”. Devemos acrescentar que a sua
maioria é acessível sob diversas formas de preparação. Algumas podem mesmo ser
recolhidas durantes as férias à beira-mar. E a sua preparação é idêntica à das plantas
superiores (decocções, tinturas-mãe, banhos, etc.)
Alsidium helniinthochostor
Musgo-da-córsega - Vermífugo - Estimula a glândula tiróide - Faz parte dos regimes de
emagrecimento - Uso externo: sob a forma de cataplasmas, para tratar as papeiras.
Ascophy11um nodosum
Sargaço-negro - Espécie muito rica em iodo - Utiliza-se como o Fucus vesiculosus.
Corraffina officinalis %Vermífugo - Hipoglicemiante - Diminui a taxa de colesterol -
Anticoagulante.
Cystoseira fibrosa
Espécie aconselhada aos diabéticos, tem uma acção hipoglicemiante. Também faz baixar o
colesterol.
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36. Chondrus crispus
Musgo-da-irlanda. Utiliza-se para tratar: o a arteriosclerose - as doenças respiratórias - as
patologias gástricas (hiperacidez, inflamações intestinais, prisão de ventre) - o raquitismo
(banhos).
Dignea simplex
No Japão é utilizada como vermífugo sob o nome de “kaninso”.
Fucus vesiculosus
Carvalho-marinho (também o Fucus platycarpus e o Fucus serratus) é uma espécie muito
abundante em França, especialmente na Bretanha. Os seus princípios activos, a sua acção e
a sua posologia são semelhantes aos da Laminaria digitata, mas o seu teor em iodo é muito
mais elevado - Além disso tem propriedades hemostáticas e por isso é indicado contra as
hemorragias externas.
Gelidium sp.
(Também Pterociadia sp.) Espécies utilizadas por via interna para
perturbações gástricas (estados inflamatórios, prisão de ventre crónica).
Hisikia fusiforme
Faz parte de um prato japonês. Faz baixar a taxa de colesterol.
Laminaria digitata, Chicote-das-bruxas
(As suas propriedades são idênticas às da Alaria esculenta.) Esta alga
é comum nas costas bretãs e normandas. Tem inúmeras virtudes curativas (é amplamente
utilizada). É - remineralizante * reconstituinte estimulante da circulação sanguínea -
Influencia favoravelmente a glândula tiróide. - É laxante e diurética (presença de manitol). -
É também um estimulante geral do metabolismo celular. - É interessante em
regimes de emagrecimento e - faz baixar o colesterol. - Em banhos é uma aliada eficaz
contra os reumatismos e as perturbações circulatórias.
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- Absorvida por via interna é descrita como uma “verdadeira panaceia”, e muitos autores
aconselham-na para: - a arteriosclerose - as
doenças dos olhos - a menopausa - a prisão de ventre - as neuroses o envelhecimento
prematuro - a queda de cabelo - a astenia - o cansaço e - a convalescença.
- Prepara-se por decocção: 50 g do talo seco para 1 litro de água fria. Deixar macerar
durante 6 horas, em seguida ferver durante um quarto de hora e deixar em infusão durante
15 minutos. Filtrar. Tomar 1 a 2 chávenas por dia.
- Ou em tintura-mãe: 50 g da planta seca para meio litro de álcool a 50’. Deixar macerar
durante ]0 dias. Tornar 20 a 40 gotas num pouco de água, 2 vezes por dia.
- Para banhos: utilizar a planta seca. Existem no comércio preparações prontas a utilizar.
As algas que pertencem ao género Laminaria (a que pertence esta espécie) fazem parte do
prato japonês Kombu.
Mas atenção: as espécies do género Laminaria contêm uma proporção importante de iodo,
agem sobre as glândulas hormonais, e a sua acção anticoagulante exige que sejam
utilizadas com prudência. É por isso preferível utilizá-las sob a prescrição de um
especialista!
37. Laminaria hyperborea, Laminária-de-clouston
Idêntica à espécie anterior.
Laminaria saccharina, Boldrié-de-neptuno
Idem.
Lithothaninium calcereum, “Maêrl”
Recomendada para as acidoses gástricas (incluindo as úlceras), em
decocção: 50 g do talo para 1 litro de água. Tomar 1 a 2 chávenas por dia.
73
38. Rhodymenia palmata, Sargaço-de-vaca
A decocção provoca uma transpiração abundante.
Spirulina maxíma e Spirulina platensis
A primeira espécie, misturada com milho, constitui o célebre “tecuitlatl”, prato tradicional
dos Astecas. A outra espécie é ainda consumida lia
África negra. Estas duas espirulinas têm propriedades - antl-inflamatórias e - de
emagrecimento, Constituem uma fonte importante de amlnoácidos. Encontram-se,
frequentemente, na cozinha vegetariana, como tempero aromatizante dos pratos e saladas.
Undaria sp.
As espécies deste género fazem parte da cozinha oriental (”Wakame” no Japão, “Miyok” na
Coreia, “Quindai-cai” na China). Demonstrou-se que o consumo desta espécie facilita a
assimilação do cálcio (tem uma acção antialérgica notória). A Undariapinnatifida é -
cardiotónica - certos autores aconselham-na nas curas antitabaco. Em tintura-mãe: tomar
30 a 50 gotas por dia.
OS LÍQUENES: UMA SIMBIOSE ENTRE AS ALGAS E OS COGUMELOS
É a Lei das assinaturas” que faz surgir em grande plano a importância medicinal dos
líquenes nas doenças dermatológicas (ainda agora, em várias línguas, a expressão “líquen”
serve para designar sintomas) e também no que diz respeito a outras patologias.
A “lei das assinaturas” impõe o tratamento
-0 Lobaria pulmonaria, semelhante a um lóbulo pulmonar (o líquen-pulmonar, erva-dos-
pulmões), é utilizado no tratamento das afecções
74
das vias respiratórias. É interessante realçar que este líquen contém um ácido próximo do
ácido cetrárico, dotado de um poder antibiótico.
- O Parmelia sulcala é um líquen que se assemelha a um cérebro. Foi
portanto utilizado contra as dores de cabeça.
-O Pelligra canina, misturado com pirrienta, previne contra a raiva (daí o seu nome).
-O líquen dos muros, o Xantharia parietina, foi utilizado como sucedâneo do quinino porque
contém crisopicrina.
- O Pertusaria amara é um excelente antipirético.
Graças à lei das assinaturas” o homem descobriu um verdadeiro tesouro bioquímico.
Actualmente conseguimos isolar cerca de 200 substâncias (princípios activos) liquénicas, e a
lista está longe de ter acabado.
E, para finalizar, os estudos dos Japoneses mostram que algumas destas substâncias têm
propriedades antitumorais e que outras possuem factores inibidores das replicações virais.
75
39. AS PLANTAS EXÓTICAS
OS CINCO CONTINENTES POSSUEM PLANTAS MEDICINAIS
A maioria das plantas medicinais que apresentamos pertencem à flora da Europa. É certo
que os outros continentes possuem também uma
grande riqueza vegetal. Os nossos leitores podem encontrar informações sobre a flora
africana, asiática, americana e australiana, se o desejarem. Infelizmente, é frequente as
espécies apresentadas não estarem disponíveis em França. Além disso a utilização de
algumas dessas plantas, presentes nas colecções botânicas francesas, está interdita.
A flora tropical e a sua utilização terapêutica são, frequentemente, pouco conhecidas e até
ignoradas. Segundo J. M. Watt (Plants potentially useful in mental health, Lloydia 1/1967),
conhecem-se actualmente 200 espécies africanas que estão potencialmente disponíveis
(fazem parte das farmacopeias locais) para o tratamento de doenças mentais.
55 espécies africanas são antiepilépticas e 3 espécies têm uma acção antiamnésica
(descoberta sem precedentes, que consideramos como quase excepcional). Trata-se das
seguintes plantas:
- Adenia lobata;
- Adenia cissampeloides;
- Gardenia neuberias.
Para realçar a riqueza da flora exótica, apresentamos as plantas da família das cactáceas e
dos aloés, cuja grande maioria pode ser comprada em França. São bem conhecidas e
possuem um vasto leque de possibilidades terapêuticas.
77
40. O ALOÉS
Aloe sp. A aparência desta planta engana os não especialistas que pensam que o aloés é um
cacto. Na realidade é uma Liliaceae (actualmente classificada na família das
Asphodelaceae).
O gênero aloés está representado por cerca de 250 espécies. O maior
(Aloe arborescens) pode atingir 5 metros de altura.
O Aloe succotrina é um dos remédios mais antigos da humanidade.
O seu suco, “aloana”, é conhecido desde há 3000 anos na Somália e no Egipto.
Os poderes mágicos e terapêuticos do aloés remontam à noite dos tempos
O aloés vem mencionado na Bíblia e faz parte dos remédios citados no papiro de Edwin
Smith. No Egipto tem a reputação de preservar a
vitalidade e a beleza. Estava presente durante as cerimónias funerárias e era considerado
como um sinal divino da renovação da vida. As lendas atribuem-lhe um papel na preparação
da mumificação dos corpos. Faz também parte das plantas secretas do Atharvaveda (um
dos quatro Vedas).
O aloés era conhecido dos Gregos, que o traziam da ilha de Socotra. Dioscórides menciona
as suas virtudes relativamente à cicatrização de feridas, de arranhões e de chagas. Plínio, o
Antigo, descreve, na sua
História Natural a cura de Alexandre, o Grande, ferido por uma flecha. Hipócrates aprecia as
suas capacidades para curar tumores. Esta “planta panaceia” foi redescoberta por Alberto, o
Grande, que a introduziu na farmacopeia medieval. Era então largamente utilizada como
remédio hepático.
O aloés está presente no Codex de Meletios da medicina bizantina. Também está presente
na farmacologia chinesa: Li Shih-Shen cita-o como
tónico para as doenças do estômago e do aparelho digestivo. Os grandes viajantes
portugueses, espanhóis e ingleses trouxeram novas espécies de aloés dos seus países de
origem, bem como informações sobre as doenças para as quais eram prescritas. Foi assim
que se descobriu o aloés do Cabo e o aloés do Natal.
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Esta planta tem, nas culturas “primitivas”, um papel mágico. Em África, ela neutraliza a
influência dos mortos que voltam à terra para perturbar o espírito dos vivos. Nos Camarões,
ela protege as mulheres contra os acidentes que podem ocorrer ao cultivarem os seus
jardins. No Mali, pendurado no tecto, afasta os espíritos e atrai a boa sorte. Os Mexicanos
fabricam grinaldas de aloés para dar sorte. As jovens Maias besuntam o
rosto com suco de aloés para atrair os rapazes. “A capacidade feronómica” (de atracção) foi
observada e utilizada na África do Sul, onde os Afrikaaners e os Zulus afirmam que o
“perfume do aloés é um potente perfume sexual”.
Os poderes de cura do aloés
As virtudes dos aloés são múltiplas:
-São cicatrizantes em uso externo, colagogos, laxantes e purgativos
em uso interno.
- Têm uma sólida reputação no tratamento de queimaduras, até mesmo
nas queimaduras causadas por irradiações.
- Certas tribos da África do Sul utilizam-no no tratamento anti-sifilítico e antibiótico.
- O Dr. Jefi`rey Bland, que estudou a influência do aloés no sistema
digestivo, verificou que esta planta melhora o pH gástrico e permite uma melhor
assimilação das proteínas.
41. - A tradição africana e as investigações americanas atribuem ao aloés
uma acção benéfica nas doenças dos olhos; o aloés foi utilizado em oftalmologia pelo Dr.
Vladimir Filátov, autor da teoria sobre os bioestimuladores.
- Finalmente, certos investigadores fazem prova da sua capacidade de
diminuir os riscos das doenças coronárias.
- É também prescrito na cirurgia bucal.
É natural que uma planta como esta tenha suscitado inúmeras investigações, especialmente
no que diz respeito ao estudo dos seus componentes fitoquímicos. Parece que a maioria das
virtudes do aloés está ligada aos heteróssidos antracénicos (pelo menos uma quinzena,
entre os quais a aloína) e a certas substâncias aromáticas. Os outros elementos (vitami
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nas, enzimas, am inoácidos) não lhe são específicos, já que estão presentes em abundância
no mundo vegetal.
As diferentes espécies de aloés
A grande riqueza das espécies do género aloés, bem como a existência de inúmeras
diferenças bioquímicas, obrigam a identificá-los com rigor. Certas fontes demonstraram que
os aloés de Curaçau não contêm aloína. Thomas Githeres, em Drug Plants of Africa, afirma
que os aloés medicinais se resumem apenas a algumas espécies: o Aloe succotrina, o Aloe
perryi e os aloés do Cabo (A. ferox, A. africana, A. plicatilis).
Aqueles que podemos encontrar são provavelmente misturas de origem incerta. As plantas
cultivadas são mais homogéneas e mais facilmente identificáveis, mas poderemos nós ter a
certeza de que preservamos toda a riqueza bioquímica que se encontra nas espécies
selvagens? A experiência demonstra que as monoculturas empobrecem os componentes
genéticos das plantas, o que tem forçosamente repercussões na sua riqueza bioquímica.
Sabemos assim que certos aloés selvagens contêm até 18% de aloína.
Qual é a situação das plantas de cultura?
Inúmeras espécies estão actualmente ameaçadas pelo homem, e a única forma de as
preservarmos é cultivar aquelas que podemos aclimatar.
O Aloe aIbida está em vias de extinção (o baixo nível de germinação das suas sementes é
provavelmente um dos factores responsáveis desta situação). Restam apenas algumas
centenas ou menos (certas fontes afirmam que existem apenas 200), de Aloe polyphy11a.
Ora é praticamente impossível cultivá-lo fora dos seus locais naturais.
O Jardim Botânico de Kew, a mais prestigiosa instituição nesta matéria, vai recorrer a
manifestações para a sua protecção.
Desconfiem do Aloe vera
Existem actualmente muitos autores e (sobretudo) produtores que transpõem as virtudes
tradicionais do Aloe succotrina para o Aloe vera (planta de cultura). Mas esta prática não é
minimamente aceitável.
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As diferenças bioquímicas entre as espécies vizinhas devem incitar o
consumidor a uma certa reserva. Os produtos à base de aloés deveriam ser objecto de
estudos sérios antes de serem vendidos como “produtos naturais”. A falta de dados e de
comunicações sobre estes produtos leva-nos a aconselhar os leitores a cultivarem em vaso,
nas suas casas, os seus
próprios aloés e a confeccionarem eles próprios os seus produtos.
Se o aloés foi objecto de estudo dos fármaco-botânicos, não devemos esquecer que
inúmeros charlatães se serviram dele unicamente para ganhar dinheiro. O interesse de