O mundo se defronta na era contemporânea com várias crises, econômica, política, social e ambiental. A cada dia que se passa, essas crises se aprofundam, seja nos planos nacionais, seja em escala planetária. Mas, a maior crise vivida hoje pela humanidade é, sem sombra de dúvidas, a crise intelectual do pensamento que se constitui no principal obstáculo à superação das demais crises e à construção de uma nova sociedade e nova ordem mundial centradas no real progresso econômico, político, social e ambiental. A crise intelectual do pensamento da era contemporânea é que faz com que o mundo em que vivemos funcione de forma caótica como uma nave à deriva rumo ao desastre.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
A crise intelectual do pensamento na era contemporânea e como superá la
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A CRISE INTELECTUAL DO PENSAMENTO NA ERA CONTEMPORÂNEA E
COMO SUPERÁ-LA
Fernando Alcoforado*
O mundo se defronta na era contemporânea com várias crises, econômica, política,
social e ambiental. A cada dia que se passa, essas crises se aprofundam, seja nos planos
nacionais, seja em escala planetária. Mas, a maior crise vivida hoje pela humanidade é,
sem sombra de dúvidas, a crise intelectual do pensamento que se constitui no principal
obstáculo à superação das demais crises e à construção de uma nova sociedade e nova
ordem mundial centradas no real progresso econômico, político, social e ambiental. A
crise intelectual do pensamento da era contemporânea é que faz com que o mundo em
que vivemos funcione de forma caótica como uma nave à deriva rumo ao desastre.
O mundo passa por um período conturbado na era contemporânea em que tudo é varrido
pela velocidade das mudanças nos campos econômico, político, social, tecnológico e
ambiental. Se por um lado existe otimismo com a perspectiva de avanço do progresso
científico e tecnológico, existe também um grande pessimismo diante da perda dos
valores e referenciais do passado e da falta de sentido da vida. Embora nos séculos
XVIII e XIX o progresso da civilização europeia despertasse entusiasmo, esse sonho se
dissipou ao longo do século XX que foi uma época devastada por guerras em escala
jamais vista, ditaduras, explosão populacional, vastas áreas de pobreza extrema, entre
outros problemas, que contribuíram para que fosse colocada em xeque a ideia de
progresso.
No século XX, desapareceram as utopias como a da edificação de um mundo melhor, de
uma sociedade sem classes sociais com o fim da União Soviética, e em seu lugar
surgiram distopias como as do sociólogo Oswald Spengler com sua obra Le Déclin de
L´Occident (O declínio do Ocidente) (Paris: Gallimand, 1976) que dizia no início do
século XX que o Ocidente já havia há muito atingido o seu apogeu e que, portanto, só
lhe restava o declínio e as de Aldous Huxley com sua obra Admirável mundo novo (Rio:
Editora Globo de Bolso, 2015) e George Orwell com sua obra 1984 (São Paulo:
Companhia das Letras, 2009) que vislumbravam um futuro sombrio para a humanidade.
Este clima pessimista não se limitou à primeira metade do século XX se estendendo
também para o período posterior à Segunda Guerra Mundial. Embora neste período
tenha havido momentos de grande otimismo como durante os “anos gloriosos” das
décadas de 1950 e 1960 de expansão da economia mundial que logo tenderam a se
dissipar em meio às sombrias décadas de 1970 e 1980 de declínio do sistema capitalista
mundial culminaram atualmente com a crise econômica mundial de 2008 e a escalada
global do terrorismo.
Na era contemporânea, a razão e a ciência entraram também em crise profunda com a
derrota dos paradigmas do Iluminismo e da Modernidade na segunda metade do século
XX que foram substituídos pelo novo paradigma da Pós-Modernidade que, segundo
seus ideólogos, não existem verdades. Após declarar que todos os sistemas anteriores
estavam errados, o pós-modernismo chegou também à trágica conclusão de que nada
pode ser conhecido. Os pós-modernistas não acreditam na razão. Para os pós-
modernistas, mesmo a ciência seria apenas uma entre várias formas de se conhecer a
realidade, sem nada dizer respeito à verdade. O pensamento pós-moderno é convergente
com o niilismo do filósofo alemão Friedrich Nietzsche que em sua obra, A Vontade de
Potência (Petrópolis: Editora Vozes, 2011), afirmou que a solução para a crise estava na
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rejeição da razão e no retorno dos profetas, que deveriam, não através da razão, mas da
determinação, fundar novos valores que iriam guiar os povos e erguer novas
civilizações. É preciso não esquecer que Nietzsche foi o grande ideólogo do nazismo.
Nietzsche via como inevitável em um mundo relativista, a tolerância a todos os valores
e modos de vida, pois todos eram igualmente válidos. Esta visão é convergente com a
opinião de muitos autores pós-modernos que define a Pós-modernidade como a época
das incertezas, das fragmentações, das desconstruções, da troca de valores. Esta nova
interpretação de Nietzsche está nas bases do pensamento do século XX. Desta forma, o
irracionalismo nietzscheano penetrou na sociedade contemporânea. Tudo leva a crer que
prevalecendo no mundo de hoje o pensamento niilista de Friedrich Nietzsche reforçado
pelo paradigma pós-moderno, a humanidade caminhará inevitavelmente para o desastre
econômico, político, social e ambiental que poderá ameaçar sua sobrevivência.
O desaparecimento no mundo de hoje das ultimas reservas de racionalidade crítica
preconizada pelo Iluminismo e pela Modernidade, que se degradaram em sucessivos
processos de autodestruição ao longo do tempo do século XVIII aos tempos atuais,
abriram caminho para a Pós-Modernidade que representa uma gigantesca ameaça para o
progresso da humanidade. Ressalte-se que os ideólogos da Pós-Modernidade defendem
a tese de que, na construção de seu futuro, os povos do mundo inteiro devem se limitar
às seguintes alternativas: 1) capitulação/resignação/conformismo com a vitória histórica
do capitalismo globalizado neoliberal; ou então, 2) contestar a ordem vigente, mas não a
partir de uma perspectiva totalizante, global que leve à substituição do capitalismo, mas
sob uma ótica fragmentada de lutas. A postura prática do pós-modernismo é de não
contestar a lógica capitalista como ela é de fato. Deliberadamente, a Pós-modernidade
defende a tese de que é impossível contestar um sistema vitorioso e que veio para ficar,
o capitalismo neoliberal.
Pelo exposto, trata-se de um imenso desafio para os pensadores contemporâneos
estabelecer novos paradigmas e novos valores de comportamento racional a serem
formulados para a sociedade humana na era atual visando derrotar a nefasta influência
política e ideológica da Pós-Modernidade que, do ponto de vista político, sustenta
ideologicamente o neoliberalismo e a globalização contemporânea. Não resta outro
caminho para os homens e mulheres de pensamento da era contemporânea senão
reinventar o Iluminismo ajustado aos tempos atuais para que ele possa indicar os
caminhos que a humanidade terá de trilhar visando a construção de um mundo melhor.
Os pensadores contemporâneos precisam se mobilizar urgentemente na reinvenção do
projeto iluminista como fizeram os pensadores do século XVIII visando a construção de
um mundo novo que leve ao fim o calvário sofrido pela humanidade.
Sobre o Iluminismo do século XVIII, é importante observar que seus ideólogos usaram
valores da ciência clássica para forjar uma nova visão de mundo, baseada na igualdade
de todos os seres humanos. Precisamos de um novo Iluminismo, para o século XXI. No
centro do novo pensamento, deve estar a proteção de todas as formas de vida e do
planeta. O único progresso humanamente relevante é o que contribui de fato para o
bem-estar de todos que os automatismos do crescimento econômico não bastam para
assegurá-lo. O progresso, nesse sentido, não deve ser visto como uma doação
espontânea da técnica, mas uma construção intencional pela qual a humanidade decide o
que deve ser produzido, como e para quem, evitando ao máximo os custos sociais e
ecológicos do capitalismo selvagem. Esse progresso não pode depender nem de
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decisões empresariais isoladas nem das diretrizes burocráticas de um Estado
centralizador, e sim de decisões tomadas pela própria sociedade.
O Iluminismo do século XXI deve manter sua fé na ciência que precisa ser controlada
socialmente e que a pesquisa científica e tecnológica precisa obedecer a fins e valores
estabelecidos com base no consenso social, para que ela não se converta numa força
cega, a serviço da guerra e da dominação. Deve assumir sua bandeira mais valiosa que é
a dos direitos humanos, sem ignorar que só profundas reformas sociais e políticas
podem assegurar sua efetiva realização. Deve combater o poder ilegítimo, consciente de
que ele não se localiza apenas no Estado tirânico, mas também no seio da sociedade.
Deve lutar sem quartel pela liberdade e contra a opressão de qualquer espécie e edificar
uma nova ordem mundial que seja capaz de organizar não apenas as relações entre os
homens na face da Terra, mas também suas relações com a natureza. Deve elaborar um
contrato social planetário que possibilite o desenvolvimento econômico e social e o uso
racional dos recursos da natureza em benefício de toda a humanidade.
* Fernando Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel,
São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG,
Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora,
Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global
(Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do
Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.