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ARTIGO
ECOLOGIADAIMA
GINA
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Culturadeparticipaçãocívica:
mobilizaçãotransmédiaehacktivismo
emcomunidadesdeprática
(casosdefãsefabricantes)
JoséManuelCorona-Rodríguez
InstitutoT
ecnológicoedeEnsinoSuperiordeMonterrey(ITESM)
Datadeapresentação:outubrode2021
Datadeaceitação:janeiro de2022
Datadepublicação:janeirode2022
Citaçãorecomendada
Corona-Rodríguez,JoséManuel.2022."Culturadeparticipaçãocívica:mobilizaçãotransmédiae
hacktivismoemcomunidadesdeprática(casosdefãsemakers)".In:Garcés,Marina(coord.).
"EcologiadaImaginação".Artnodes,n.º29.UOC.[Acedidoem:dd/mm/yy].https://doi.
org/10.7238/artnodes.v0i29.393059
Ostextospublicadosnestarevistaestão- salvoindicaçãoemcontrário-sujeitosaumalicença.
CreativeCommonsAttribution4.0International. Alicençacompletapodeserconsultada em
https://creativecommons. org/licenses/by/4.0/deed.en
Resumo
Este artigo apresenta os resultados de uma investigação etnográfica sobre as práticas participativas
(orientadasparacausas cívicas)levadasacaboporduascomunidadesdepráticanocontextoda cultura
participativa. Oconceito decultura departicipação cívica éproposto comoumatentativa de evidenciar
práticas de participação relacionadas com questões e causas cívicas, a partir de narrativas
mediáticasficcionaisedediscursosbaseadosnomovimentomaker.Ametodologia desenvolveuma
estratégia que recupera as formas de agência comunicativa presencial e virtual dos membros de
duascomunidadesdeprática.Propõe-seumacategorizaçãodaspráticas observadascombasenuma
mobilização transmédia que incorpora referências da cultura popular no envolvimento cívico dos
participantesenumaformadehacktivismodefãscaracterizadapela utilizaçãocriativaealternativade
tecnologiadigitaleanalógicapararesolverproblemassociais.
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2022,JoséManuelCorona-Rodríguez 2022, desta edição FUOC
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Palavraschave
Culturadeparticipaçãocívica:mobilizaçãotransmédiaehacktivismoemcomunidadesdeprática(casosdefãsecriadores)
culturadeparticipação;mobilizaçãotransmédia;hacktivismo;fãs;comunidades
Culturadeparticipaçãocívica:mobilizaçãotransmédiaehacktivismoemcomunidadesde
prática(casosdecriadorese fãs)
Resumo
Esteartigo apresentaos resultadosdeumestudoetnográficosobreas práticasparticipativas (orientadaspara causas
cívicas)levadasacaboporduascomunidadesdepráticanocontextodaculturaparticipativa.Oconceitode culturade
participação cívica épropostocomoformadedemonstraras práticasdeparticipaçãorelacionadascom questõesecausas
cívicas,combaseemnarrativasediscursosficcionaisdosmediaenomovimentomaker.A metodologiadesenvolveuma
estratégiaquerecuperaasformasdeagênciacomunicativapresencialevirtualdos membrosdeduascomunidadesde
prática. Éfeitaumapropostadecategorizaçãodaspráticasobservadascombasena mobilizaçãotransmédiaqueincorpora
referentesdaculturapopularaoenvolvimentocívicodosparticipantes,enuma formadehacktivismodefãscaracterizada
pelousocriativoealternativodatecnologiadigitaleanalógicapara resolverproblemassociais.
Palavras-chave
culturaparticipativa;mobilizaçãotransmédia;hacktivismo;fãs;comunidades
Introdução
Estetextodocumentaumainvestigaçãosobreduas comunidadesde
prática(umadefãs1
eoutrademakers2
),combasenaanálise dassuas formas
decomunicaçãoeorganizaçãoemrelaçãoaproblemassociais com
umaorientaçãocívica,paraaqualsãoutilizadasepropostasas
categoriasdeanálise:mobilizaçãotransmédiaehacktivismodefãs.
Comopartedaargumentação,sãodescritase analisadas as
práticasobservadasdascomunidadeseaformacomoestãoligadas a
formasdeparticipaçãorelacionadascomcausascívicas.Na perspetiva
damobilizaçãotransmédia(Costanza-Chock 2010), trabalhamoso
envolvimentodeumgrupodepessoaspertencentesaum movimento
socialnacriaçãodemensagenseprodutos comunicativosque
promovemascausas,osobjectivosouas posiçõesdaquelequedá
sentidoeapoioapráticaspartilhadascom basenaculturapopularou
comoresultadodainteraçãocom
narrativase
narrativasmediáticas.
Ohacktivismo(Avogadro2014,Coleman2014)procura
demonstrarodesenvolvimentodeumtipodeativismobaseadona
utilizaçãodo
tecnologia e/ou no questionamento crítico dos sistemas técnicos
hegemónicos. Epropõea existência de umtipo de hacktivismo de fãs
entendidocomoumamodalidadealternativademobilização transmédia,
caracterizada pelo uso e apropriação criativa da tecnologia (tanto digital
como analógica) para a resolução, visibilidade ou intermediação de
problemassociais específicos.
O contexto geral em que este texto se situa problematiza as
constantestransformaçõestecnológicaseculturaisquetêm i n f l u e n c
i a d o a evoluçãodacomunicação edaeducação3
comoduasdisciplinas
quesetêmtransformadosignificativamente nosúltimos anos4.
1.Culturasepráticasdeparticipação
Cultura participativa (Aparici e Osuna-Acedo 2013) ou cultura
participativaéumconceitopopularizadonosúltimos anosnos estudos
decomunicação,especialmentenosdebatessobreas transformações
nos tipos de produção e consumo realizados pelas pessoas após o
adventoeestabelecimentodaconvergênciadaUnião Europeia.
1
. Oconceitodefãséentendidocomoumenvolvimentoprofundocomumahistória,produto,conteúdoousistemadevalores,etc.Aligaçãodossujeitoscomoobjetodoseupassatempobaseia-seno interesse
pessoalepartilhadodecontinuaraconhecereaaprendersobreoquelhesinteressa.
2. Temorigemnomovimentomaker,queserefereaumconjuntodeacçõeseatitudesbaseadasnatransformação,fabricoecriaçãodeobjectosmateriais,atravésdadesintermediaçãoedautilizaçãode
tecnologiaseferramentasdigitaisouanalógicas.
3. Estetextoéoresultadodotrabalhorealizadopeloautornoâmbitodasuainvestigaçãodedoutoramento,quedecorreuatéfevereirode2020.
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4. Oquadrogeraldainvestigaçãoaquirelatadapodesercaracterizadoemtermosdocenáriodosmediaconvergentesedodebatesobreaagênciadoc
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Culturadeparticipaçãocívica:mobilizaçãotransmédiaehacktivismoemcomunidadesdeprática(casosdefãsecriadores)
gência (Jenkins 2014), caracterizada pela integração de múltiplos
meios de comunicação e discursos na transformação dos papéis dos
meiosdecomunicação,dasindústriasdecomunicação,daspessoas e
das plataformas tecnológicas, e pelo uso crescente de dados de massa
(Mejías e Couldry 2019). Popularizada em grande parte pelo trabalho de
Henry Jenkins (2008), a cultura participativa ou participativa significa
uma transformação nas condições técnicas, económicas e culturais
quepermitemqueaspessoasseenvolvamnacriaçãoenãoapenas no
consumodeprodutos mediáticos.
É verdade que, pelo menos ao longo da última década, têm sido
várias as críticas ao conceito de cultura participativa, uma vezque se
tem assumido que as formas de participação ocorrem
independentemente das condições económicas, tecnológicas ou
educacionais das pessoas que acedem, produzem ou consomem
informação.Umadascríticas maisapontadasfoi adeCouldry(2011), que
sugere que, para se falar de uma verdadeira cultura de participação,
seria preciso considerar as diferenças em termos de estratificação da
sociedade e a problematização da ideia de cultura como um conceito
complexo que dissemina o significado e os símbolos que são
referência para as pessoas. Outras questões sobre as formas de
participaçãocentram-senadimensãoeconómicasubjacenteàs interacções
que são possíveis através dos espaços virtuais e sociodigitais; um
exemploclaroéapropostacontraofreemium(Evans 2015,Hamari,Hanner
eKoivisto2020),queconsistenummodelode negóciobaseadonaofertade
serviçosbásicosgratuitos,quedepoisse traduzememtaxasparaserviços
avançadosouexclusivos.
Uma definição adequada da cultura de participação seria
aquela que considera não uma única cultura, mas muitas formas
culturais nas quais a agência individual se manifesta e ocorre,
considerandosempreascondiçõesestruturaisexternasdas indústrias,
domercadoedopapeldosEstados.Nestaperspetiva,e s e g u i n d
o os resultados desta investigação, propomos a existência de uma
cultura departicipação cívica, orientada parapráticas comunicativas que
procuraminfluenciararesoluçãodeumproblema social.
Com base na proposta de Jenkins (2009), assumimos a cultura
participativacombasenasseguintes características
a) A existência de condições para a expressão e o envolvimento
social.
b) As circunstâncias sócio-afectivas da criação e da partilha das
produções.
c) A coexistência de pessoas dispostas a partilhar os seus
conhecimentos e experiências para que outros menos
experientespossamintegrar-seemgrupossociais.
d) Membros de comunidades que se consideram relevantes num
grupoequepodemcontribuirpara ele.
e) O estabelecimento de laços emocionais e intelectuais entre
os membros para a realização e/ou definição de objectivos
comuns.
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Comoextensãodaconcetualizaçãoacima,propomos
considerara culturadeparticipação cívicacomoum tipo de
participação em que os objectivos centrais dos
indivíduos/comunidades estãoorientados para:
a) Uma procura livre, diversificada, crítica e igualitária, que
permitedefinir umaorientação política face a problemas ou
questões socioculturais que motivam ou congregam uma
comunidade.
b) Aconstituiçãocomopartedeumrepertórioparaadefinição de
uma identidade partilhada que recupera referentes da cultura
pop e dos media para criar e dar sentido a acções e
discursos.
A cultura da participação permitiu que o debate sobre consumo e
produção revisitasse questões sobre quais são as verdadeiras
capacidades de agência das pessoas e como é que as suas práticas
implicam efeitos que vão para além delas próprias ou dos contextos
locais em que se desenvolvem. Esta discussão precisa de ser
analisada criticamente, especialmente face à influência excessiva das
empresastecnológicas,queatravésdocapitalismodeplataforma (Srnicek
2017)levantamincertezassobrealiberdadeeaagênciadas pessoas.
Issoéespecialmenterelevantediantedosdesafioscolocados p e l a
vigilância excessiva (Van Dijck, Poell e De Waal 2018, Zuboff 2019)
tantodeEstadosquantodecorporações,enaslógicas docolonialismo
de dados (Mejías e Couldry 2019), que questiona como as lógicas
colonialistas são reproduzidas em áreas e territórios do mundo que
historicamenteforam vulnerabilizadosporatores internacionaisa t r a
v é s d a extração de valor e dalegitimação da exploração (Corbel,
Newman e Farrell 2022). Neste sentido, o legado do pensamento
marxistaaindaestápresenteeévistocomo necessáriocomoresposta
crítica ao sistema capitalista dependente de lógicas extractivas,
principalmente os conglomeradosmediáticos e tecno-lógicos. Autores
como Fuchs (2017), Srnicek (2017) e Zuboff (2019) têm levantado
críticasatuaiserelevantesparaentendercomo funcionamos sistemas
tecnológicos e quais são os desafios que enfrentamos diante da
influência excessiva de conglomerados que privilegiam uma lógica
extrativista, colonialistaebaseadanoconsumoexcessivo.
2.Comunidadesdeprática:participação
colectivae comunitária
As comunidades de prática são um grupo de pessoas que se
reúnem com base em interesses, problemas, paixões ou objectivos,
através dos quais aprofundam os seus conhecimentos sobre umaárea
de interesse comum. Estes grupos sociais são geralmente informais e
fazemcircularinformaçãoentreosseusmembrosdeformaauniformizar ou
igualaros seusconhecimentos,experiênciaseinteresses,como
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objetivodefazercomqueascomunidadesperdurem(Wenger,
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Snyder2002).
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Culturadeparticipaçãocívica:mobilizaçãotransmédiaehacktivismoemcomunidadesdeprática(casosdefãsecriadores)
Referir-se às comunidades de prática como conceito teórico implica
reconhecê-las como organizações sociais que não dependem
necessariamente de uma lógica estrutural hierárquica, mas de uma
lógica relacional. Isto significa que os grupos não são entendidos em
termosdeformasdeautoridadeoudeexercíciodepoder,mascom base
nas motivações, conhecimentos, afinidades e interesses dos seus
participantes, oquese verifica através dosignificado quedãoàs acçõese
objectivos quedesenvolvem(Wenger2001);embora,naturalmente, nem
sempresejaassim,umavezqueosgrupossociaistendemacomportar- se
deformainesperada.
Seguimos a proposta de Wenger, McDermotty e Snyder (2002) ao
identificar três aspectos fundamentais que podem caraterizar uma
comunidadedeprática.Odomínio,queéoconjuntodetemase objectos
de interesse da comunidade, refere-se aos recursos humanos que
compõem uma rede social dinâmica que se define por práticas,
entendidas comoos modose procedimentos socialmente definidos para
fazerascoisas.
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3.Compromissoetnográficocomas
práticaspresenciaise virtuais
Esta secção descreve os argumentos metodológicos relevantes e
oferecetambémumadescriçãogeralecomparativadas comunidades
investigadas,afim decompreenderocontextoeas circunstânciasem
queassuaspráticaseactividades têmorigem.
A abordagem, as reflexões e os resultados apresentados neste
documentofazem partedeumprojetodeinvestigaçãoemqueo autor
se interrogou sobre as tipologias de participação em duas
comunidadesdeprática:fãsemakers.Ocorpusanalisadoresultou da
realizaçãodeumaetnografiadaspráticasdascomunidades atravésda
implementação de um desenho de ferramentas metodológicas que
incluiuaobservaçãovirtualepresencial, entrevistasemprofundidadee
aformulaçãodecategoriasdeanálise baseadasnasistematizaçãode
códigosatravésdautilização do software informático Atlas.ti, tudo isto
sob os postulados da grounded theory (Strauss e Corbin 2002). O
quadro seguinte apresenta o esquema analítico através do qual foi
seguido o processo de categorização das práticas participativas das
comunidades investigadas.
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Histórico
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media/tecn
o logias
Práticasvisíveis nasinteracçõescomasinterfaces
esistemasdecomunicaçãotemporariamente.
Estruturais
Institucional /
económic
o
Práticasdeconsumo,venda,mercado,apropriação,
público-privado e ética hacker-fã.
Comunidad
e
Organizacional/op
er acional
Práticasdecolaboração,filiação,trabalhoemrede,
negociação,liderança,regrase valores.
Individual
Atrajetória/
cognitivo-experiencial
Práticasdesentido,expressão,lazer,formação,
aspirações, emoçõese sentimentos.
Tabela1.EsquemaanalíticodaspráticasparticipativasFonte:
Elaboradopelosautores.
A abordagemdeCharmaz(2001)foiutilizadaparaformular perguntas
que facilitassem o processo de codificação. Estas perguntas eram: O
queestáaacontecer,oqueéqueaspessoasestãoafazer,o queéqueo
sujeitoestáadizer,oqueéqueestasacçõeseafirmações implicam,ecomo
équeaestruturaeocontextoajudam a compreenderestas acçõese
afirmações?
Oprocesso decodificaçãoenvolveuum exercíciopormenorizado de
questionamentodosdados,reconhecendoqueoscódigostêmorigem tanto
nos referentes teóricos como nos dados empíricos analisados. Este
processo relacional de estabelecimento de ligações entre as suas
propriedadesedimensõessemelhantesédesignadopor
codificaçãoaxial(Gibbs2007)epermitiuageraçãodecódigose
relações.
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Figura1.CodificaçãodeimagensnoAtlas.tiFonte:
elaboraçãoprópria.
Umdosprincipais aspectosdainvestigaçãoéqueambosos tipos
de grupos sociais são comparáveis, porque para além das suas
características, contextos,identidades,objectivoseinteresses, ambos
seorganizam(erespondem)emtornodediscursosmediáticos específicos
quetornam visíveis as suas paixõeseinteresses,tanto individuais como
colectivos. Este facto resultou da observação constante dos seus
modosde
deagênciacomunicativaeorganizativaatravésdautilizaçãode plataformas
e espaços sociodigitais e do planeamento e realização de encontros
presenciaisregularesparadiscutir,mostrar,ensinar,aprender edesfrutar
dosseusinteresses.
O quadro 2 apresenta uma síntese comparativa da estratégia
metodológicaedasfasesdasuaaplicaçãoedesenvolvimento.
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Notasdecampo,capturasdeecrã,registosvisuais,
áudio,audiovisuais, áudioe textuais.
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Registossonorose textuais
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O CategorizaçãomanualatravésdoAtlas.ti - -
Quadro2.EstratégiaefasesdainvestigaçãoFonte:
elaboraçãoprópria
Como se pode ver, além disso, a estratégia metodológica acima
delineada implicou umacontribuição para os debates (Estalella eArdèvol
2007) sobre os limites da etnografia enquanto abordagem epistémica que
levanta novas questões sobre como assumir a noção de acesso,
campo,observação,registo,informadoreentrevista,numa investigação
que se interroga sobre as formasde agência das pessoas paraalém
dos limites tradicionais de espaço/tempo. Neste sentido, acreditamos
que esta experiência metodológica pode ser útil para a investigação
orientadaparaascomunidadesde prática.
Metodologicamente, este trabalho apresenta uma estratégia que
combina o estudo de espaços e dinâmicas que ocorrem online e
offline, o que motivou o desenvolvimento de uma estratégia de
construçãodedadosàmedida,atravésdaobservaçãoparticipante em
ambasas modalidades edarealizaçãodeentrevistasem profundidade
com informantes-chave. Para tanto, foi necessário implantar um
aparato interpretativo capaz de mediar a variedade dos dados
reconstruídos e a configuração espaço-temporal das experiências.
Neste sentido, a estratégia desenvolvida motivou uma revisão
epistemológica constante das dimensões éticas, para a qual se
tomaramcomoreferênciaas dificuldadeséticasdescritasna literatura
(Estalella eArdèvol 2007)eseprivilegiou aperspetivados sujeitos da
investigação,bem comoasexpectativasdeprivacidade. Nestesentido,o
carácterprivadooupúbliconãofoidecididoaprioriou apenascombase
emdisposiçõestécnicas.
(software,porexemplo),massim,atravésdeumexercíciosituacional e
dialógico, foi possível encontrar o significado que os indivíduos
atribuem a um determinado contexto e conteúdo. Oconhecimento e a
compreensão da perspetiva dos sujeitos investigados foram
fundamentais para a construção de uma ética que tivesse em conta as
propriedadesdocontextoeas escolhasdaspessoas sobreasua agência
eosseusdiscursos.5
A Tabela 3 apresenta um exercício comparativo das duas
comunidades, deformaaevidenciaralgumasdassuas características,
contextosepontosdeconvergência.Podetambém servistacomouma
tabela que dá uma visão geral de algumas das semelhanças mais
relevantes em cada comunidade, e como as suas práticas são
semelhantes entre si, e as formas de participação que são
desenvolvidas deacordocomasquestõesoucausasque motivamas
formasdeparticipação cívica.
Embora exista um vasto conhecimento sobre as práticas
desenvolvidas tanto pelas comunidades de fãs como pelas
comunidades maker, é importante descrevê-las sobretudo em
termos das questões e/ou causas que motivam as suas formas de
participação hacktivista. Ou seja, enquanto os fãs de Star Wars
centram as suas actividades na construção de identidades e no
altruísmo dirigido a grupos vulneráveis, os makers procuram juntar-se a
causascolectivasdenaturezamuitomaisinternacional,comoo movimento
OpenSource,oucausasbaseadasnaliberdade da Internet e afavor da
neutralidadedaWeb.
5.Deumpontodevistaético,todososparticipantesnasfasesdeobservaçãoedeentrevistaestavamplenamenteconscienteseaceitaramparticiparnesteestudo.
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Instagram, sítio Web.
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S Encontros,fóruns,celebraçõesemarchas.
Festas,palestras,contactos,feirase
conferências.
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Memes,entrevistas,ilustrações,
colecções,memórias,compilaçõese
críticas.
Vídeostutoriais,infografias,manuais,GIFs,
memes e críticas.
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Trajes/disfarces,brinquedos,objectos
narrativos (armas), pinturas e livros.
Códigodeprogramação,
carpintaria/mobiliário,robótica,ferramentas,
metalurgia,componenteselectrónicos,
etc.
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• Sensibilizaçãoparaoautismoeasíndrome
deAsperger.
• ApoioàRedNose(umaorganização
para crianças com cancro).
• Dádivadesangue.
• Entregadebrinquedosàscrianças.
• Aulaseatelierspara crianças.
• MovimentoOpenSource.
• Afavordocopyleftedaslicençasabertas.
• Movimentoanti-censurana Internet.
• Afavordaneutralidadedarede.
• Contraoconsumismo excessivo.
• Formaçãonautilizaçãodastecnologias.
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Tabela3:CaracterísticasgeraiseaspectoscomparativosdascomunidadesFonte:
Elaboradopelosautores.
4.Resultados
1.Mobilizaçãotransmédiaatravésdohacktivismo e
do altruísmo
Aspráticasparticipativasdascomunidadesdepráticatêm implicações
cívicas e políticas visíveis sob a forma de hacktivismo e altruísmo. A
dimensão comunicativa e mediática é fundamental para ligar o
posicionamentopolítico/cívicodosparticipantesaopúblicoemgeral.
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rexperiênciasrelevantesemresultadodassuaspráticas
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Culturadeparticipaçãocívica:mobilizaçãotransmédiaehacktivismoemcomunidadesdeprática(casosdefãsecriadores)
Nestesentido,amobilizaçãoétransmédiaporque:
a) Elementos narrativos ficcionais, uma diversidade de meios de
comunicaçãoelinguagenssãoutilizados paracomunicare evocar
emoçõesparaumacausaouquestãoespecífica.
b) A participação das pessoas expande os significados dos
mediaepermiteacriaçãocolectivademembros.
c) Facilita a resolução de questões sociais de interesse para as
comunidades através de referências mediáticas que evocam o
interesseatravésdas emoções.
Estas formas de mobilização têm duas variantes: a primeira é o
hacktivismo(Coleman2014),desenvolvido porambasas comunidades,
baseado na ética hacker (Himanen 2011), que procura ter um
impacto social baseado na defesados direitos digitais, no direito aser
esquecido,àprivacidadeeaumaredeneutra, etc.;etambémnaprocurade
reconhecimento que torna visível a importância do acesso a
ferramentas de construção e fabrico para democratizar ainvenção e a
produçãodevalor,influenciandoascadeiasdeprodução estabelecidas.
Ohacktivismoobservadonestainvestigaçãomaterializou-se através
dadimensãoeducativaemtermosdeacessos,hierarquias, produções e
formasde validação da informação. Comotem sido documentadoem
váriasocasiões(BurgosPino2014,Sorell2015,Fitri 2020),ohacktivismo
éentendidocomoumamodalidadedeativismo,na qualousodatecnologiaé
determinantepara açõesderesistência, protestoouaçãopolítica (López
Rod, Martín eMartínez2020). Esta modalidadedeativismo nãodepende
apenasdastecnologiasdigitais, masdocompromissosocialedacapacidade
depromoveracolaboração em rede, paraaqualosusosalternativosdas
redes sociodigitais e das plataformas tecnológicas são fundamentais.6
Os
seus efeitos podem ser observados na vida pública (através da
diversificação da participação), atravésdatransformaçãodoacessoe
da produção de informação e na formação de comunidades, e como
base dos movimentos sociais (ao facilitar a reunião de interesses,
vontades e paixões). Isto também é relevante em termos educativos,
especialmentenadimensãodaaprendizagem aolongodavida (Aubert,
García eRacionero2009),ouseja,aaprendizagemqueocorre fora das
instituiçõesescolares.7
Asegundadimensãodamobilizaçãotransmédiaéoaltruísmo. ficcional,
quesebaseianaconcretizaçãodelaçossociais parao
estabelecimentoeparticipaçãoemredesdeapoioecolaboraçãopara causas
sociaisougrupos vulneráveis.Avertentenarrativaeficcional destetipode
altruísmo é utilizada para fomentar um ambiente de confiança que
facilitaoacessoaumaparticipaçãoecooperação plenaesignificativa.
altruísmo ficcional. Ambas as dimensões, hacktivismo e altruísmo
ficcional, são duas categorias que emergiram da análise das
comunidades investigadas edas diferenças entre elas, especialmente
em termos da sua capacidade de agência comunicativa e
organizacional,bemcomodasquestõesqueas convocam.
Amobilizaçãotransmédiaconsideraostiposeníveisde participação,
especialmente em termos geracionais, estéticos, educativos e políticos,
porque nos permite compreenderas disposições, atitudes e valores da
literaciatecnológicaquesãoimplementadosemcada comunidadee com
baseem cadatipodediscursomediático ficcional.
Isto é evidente em ambas as comunidades porque os adeptos da
cultura makerestãoconstantementeàprocuradepontosdeentrada e
saída para diversificar as suas formas de produção e comunicação,
enquanto os fãs estão gradualmente a ousar propor novas utilizações
dasredessociaiseaproduçãoalternativadeobrasmediáticase peças
físicasbaseadasemnarrativasficcionaisparaseremmais eficazesnas
suas estratégias de apoio a grupos vulneráveis. Isto pôde ser
observadorepetidamente,especialmentequandotantoos fãscomoos
criadores participaram em eventos especiais organizados por eles
própriosouporoutrascomunidades,taiscomomarchasparaa comunidade
LGBT,apoioapessoasnoespetrodeaspergerouoapelo àneutralidade
da rede.
Umaformadediferenciarascomunidadesinvestigadaspodeserfeita
combasenasferramentasqueutilizam paraproduzirosobjectos ou
discursosdoseuinteresse. Osmembrosdacomunidademaker estão
constantementeaexperimentarnovasformasdeproduzir e comunicar
os seus resultados e experiências. Desta forma, a diferença geracional
acentua-se porque os adeptos não apresentam o mesmo
desenvolvimento de competências e valores que apostam na
experimentação, na investigação e na transformação de usos e
significados estabelecidos. Outra causa resultante desta diferença
residetambémnosperfisdosmembrosdecada comunidade; enquanto
nocasodacomunidadedefãs deStarWars(SW)osmembros sãomais
especializadosecomumaorientaçãomaisartísticaou humanista,osmakers
provêm de formações universitárias e carreiras orientadas para as
engenhariasouprofissõesSTEAM8
(HoneyeKanter 2013).
Comose podeobservarnaTabela3,nocritériorelativoàs causas
ouquestões paraaparticipaçãocívica, emambasas comunidadeshá
um interesse emenvolver-se emquestões problemáticas ou urgentes
que exigem cidadania para serem resolvidas. Participam emcausas que
podem ser agrupadas em duas grandes categorias: numa forma de
altruísmo que recorre a referências mediáticas para ser facilmente
acessívelecriarempatia paracomo exteriordascomunidadese,poroutro
lado,numaformadehacktivismoqueconcentratodososseusesforçosem
6. Váriasabordagensdesenvolveramohacktivismo,sejanumaperspetivaartística(FernándezCastrillo2021),comunicativa(Torres-Soriano,2018),política(BurgosPino2014),de
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Culturadeparticipaçãocívica:mobilizaçãotransmédiaehacktivismoemcomunidadesdeprática(casosdefãsecriadores)
movimentosocial(LechóneMena2019)oudecompromissosocial(García-Estévez 2018).
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7. Emboraadimensãoeducativadaspráticasparticipativasfossecentralparaaquestãodeinvestigaçãoquedeuorigemaestetexto,ofocoaquiénaspráticasparticipativasorientadas
paraohacktivismo.
8.E
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inglesaquesignifica:ciência,tecnologia,engenharia,artesematemática.
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Culturadeparticipaçãocívica:mobilizaçãotransmédiaehacktivismoemcomunidadesdeprática(casosdefãsecriadores)
resolver problemas exacerbados pela utilização excessiva (ou acrítica) da
tecnologia digital interactiva. Nomeadamente, o altruísmo e o
hacktivismo são duas faces da mesma moeda. A secção seguinte
desenvolveaformacomoohacktivismoéproduzidoatravésde acções
comunicativasedaimplementação deligaçõescomgrupos sociaisforada
comunidade.
4.2.Comunidadesdefãsecriadores:estudosdecasosde
culturaparticipativa
As comunidades de prática investigadas dedicam constantemente as
suas actividades à construção e manutenção da confiança e da
credibilidade, a fim de desenvolverem uma voz que as posicione num
determinadolugardelegitimidadebaseadonoconhecimento,nas relaçõese
nainteligência colectiva (Rheingold 2002, Atlee 2003, Lévy 2004), para
serem ouvidas e exercerem influência sobre os outros. Isto ajuda a
transformar a sua realidade social com base na empatia e na
capacidade de compreender as condições de vida de outras pessoas
quenãotêmacessoàtecnologia,àinformação,e nãopodem entregar-
seaointelecto,àreflexão,àsemoçõeseà construçãodeummododevida
baseadonasactividadesetemas que canalizam a sua paixão (seja ela
qualfor).
Atravésdohacktivismoedoaltruísmo,amobilizaçãotransmédia
dascomunidadesenvolveformasderepresentardesejosdeum
lugar/tempomelhor,eumaconstantedefazerassuaspróprias
posiçõespolíticas,ideológicas,educativasedevalorquedãosentido
àssuaspráticasquotidianas.UmdosfundadoresdacomunidadeStar
Warscoloca-onosseguintestermos:"colaborarcomcomunidadese
organizaçõescivisserveparatrazeràtonaasprópriaspreocupações
[...]comofomosconvidados,motivamososmembrosaaprendero
valordeoutrascoisasparaalémdeSW"(Carla,S.9
Comunicação
pessoal,21deagostode2019).Umareflexãoquepermiterelacionar
aspráticascolaborativasdacomunidadecomasatividadesqueoutros
gruposeassociaçõesdesenvolvemnoseuquotidianoemproldecausas
altruístasecooperativas,deformaaassumiremasuaresponsabilidade
individualegrupalperanteasociedade.
Ohacktivismoobservadoaconteceuatravésdautilizaçãoe apropriaçãode
algoritmos,códigos elinguagens informáticas, mas sobretudoatravés
deacçõessociaiseculturaispartilhadasembusca deuma
transformaçãooumelhoriadasociedade.Emambasas comunidades,
foramobservadaspráticasparticipativas tanto hacktivistasquanto
altruístas.Defacto,acreditamosqueestasduasdimensõesdasua
agênciaocorremcomopartede um mesmo impulsocoletivopara
alcançarrelevânciasocialedarvazãoàssuas preocupações ou
questões de interesse. Nesta perspetiva, é
importanteassumir que
Uma parte essencial das motivações para a participação situa-se na
esferadarecreaçãoedolazer,oqueimplicaaentregaaquestõesquenãose
traduzemnecessariamenteembenefícioseconómicos,massim numaforma
de fruição partilhada, que reconhece, direta ou indiretamente, a
importânciadeviveremsociedadeedecontribuir paraaresoluçãodos
problemasdasociedadenumaperspetivade corresponsabilidade.
Comosepodevernatabela4,asdiferençasentreas comunidades
pesquisadas emtermosdehacktivismoealtruísmo podem ser vistas
especialmentenostópicosdeseuinteressee naformacomoesses
interesses são traduzidos em ações e discursos que ajudam o
funcionamento de cada comunidade de prática e que também
procuramcontribuirparaoexterior dessas comunidades.
Comose pode ver, umadiferença notável éo facto deos fãs deS
W
desenvolverem mais práticas numa perspetiva altruísta, enquanto a
comunidade maker o faz numaperspetiva hacktivista. Este facto pode
ser explicado pela formação dos seus membros, por diferenças
geracionaisoumesmopelaformacomodecidemparticipar na sociedade.
No caso dos fãs, a adesão a causas altruístas é uma forma de
aspirar à empatia eà compreensãodooutro (diferente-distinto), quena
ficçãodeecrã(enosdiscursosmediáticos)époucorepresentado,mas que
os fãs interpretam de uma dupla forma: ou como algo ausente que
precisa de ser representado, ou como um reflexo implícito na luta
constante entre o bem e o mal que se manifesta nas narrativas que
resumem.
Nodiscursoutilizadoenasacçõesrecorrenteslevadasacabo pelos
criadores, é constantemente reflectida uma crítica ao sistema
educativo de que fizeram parte (e que muitas vezes replicam
involuntariamente),comoobjetivodetornarclaroàopiniãopública(ea eles
próprios) que há conhecimentos e experiências de aprendizagem que
(segundoeles)nãopodemserconstruídosnaescola.
Esta ideia é uma forma de posicionamento político-ideológico que
procura manter a comunidade à margem das estruturas de poder
institucionais, de modo a permanecer diferente e marginalizada. Também
podeserinterpretadacomoumaaçãohacktivistaemsimesma,umavezque
procura a transformação social através da utilização crítica das
tecnologias.
As estratégias para alcançar o acima exposto têm uma
componente comunicacionalbaseadanaapropriação tecnológica, na
propostadenovasconfiguraçõesapartirdacriaçãodesoftwaree interfaces
capazes de evidenciar as falhas das metodologias tradicionais de
aprendizagem, transmissão de informação e validação de
conhecimento.Eassentenaexperimentaçãoconstantedautilização de
plataformas e sistemas que alarguem o seu raio de influência e
redimensionemasuavoze perspetiva.
9.Todososnomesdosentrevistadossãopseudónimos.
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Culturadeparticipaçãocívica:mobilizaçãotransmédiaehacktivismoemcomunidadesdeprática(casosdefãsecriadores)
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• Distribuiçãodigitaldemateriaiseconteúdos
narrativos de SW.
• Criaçãoderepositóriosebasesdedadosde
conteúdoseprodutosmediáticosrelacionados
comaficção eoutrosassuntos da
atualidade.
• Acçõespararegularomercadodepeçase
produtosde coleção.
• Entregadepresentesacriançasdoentes.
• Campanhasdedoaçãodesangue.
• ApoioacriançasdoespetrodeAsperger.
• Eventosecaminhadaspelosdireitosda
criança.
• Recolhaeentregadematerialescolar.
• ConviteparafunçõesdeSWauma
variedadede pessoas.
FABRI
CAN
T
E
S
• Promoverareparaçãodematerialinformático.
• Campanhasparaobservaremelhorara
mobilidadena cidade.
• Promoverautilizaçãoeaimplementação de
acçõesamigasdoambiente,comoa
compostagemeareciclagem doméstica.
• Contributostécnicos,baseadosnaanálise de
dados,paraincentivarautilizaçãodeveículos
não motorizados.
• Criaçãodeobjectosatravésdetecnologias
facilmente acessíveis.
• Aulasdeciênciase matemáticaparacrianças.
• Aberturadeespaçosfísicosparaqueoutras
comunidadespossamofereceractividades
educativasourecreativas.
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Quadro4:TiposdehacktivismoealtruísmodesenvolvidospelascomunidadesFonte:
elaboraçãoprópria.
Conclusões:culturade participaçãocívica
através do hacktivismo
Nocontextodaculturaparticipativa,atravésdadinâmica transmédia
da comunicação e da cultura, outras categorias emergem como
possibilidades de condensar a diversidade da participação, do
envolvimento e da agência. A imaginação cívica (Jenkins et al. 2016)
define a capacidade de vislumbrar alternativas para melhorar o
momento atual (e futuro) das instituições políticas, educativas,
económicaseculturais.Assim,estaformadeimaginação permitea gestão
de esperanças e paixões, uma vez que, através das práticas
quotidianas, procura dar contributos para melhorar o que não está a
funcionar, o que está errado ou o que deveria funcionar melhor (na
perspetivadascomunidades).
No caso dos makers, esta imaginação cívica e gestão da
esperança, à primeira vista, parece estar orientada para o uso da
tecnologia;mas,pelocontrário,adimensãotecnológicaéumaforma de
concretizar essa imaginação, e o veículo que permite (muitas vezes
baseado exclusivamente num sentido lúdico e numa atitude rebelde)
experimentar outras alternativas de fazer as coisas. Neste sentido, a
imaginaçãocívicapassapelareformulaçãodohacktivismo, atravésde
uma ética de participação que tenha efeitos materiais, tangíveis e
observáveisnavidapública,napolíticaenaculturacomo possibilidades
defazersentirasuaexistênciaeconquistaro seulugar no mundo.
O hacktivismo de fãs é uma forma de mobilização transmédia que
promoveademocratizaçãodainformaçãoedacomunicaçãoatravés do
usoedaapropriaçãodealgoritmos,códigoselinguagens informáticas,
massobretudoatravésdepadrõessociaiseculturais quenormalizame
popularizampráticasdeconsumoe,sobretudo, práticasdeprodução que
oferecem novos significados aos problemas sociais. Nesta perspetiva, o
hacktivismodefãséumaformade participaçãoqueestáamoldaracultura
atravésdautilizaçãoeapropriaçãodetecnologiadigitaleanalógica.
Umaformadeavaliar aeficácia das práticas activistas e altruístas
defãsecriadoreséoprópriofactodasua constante agênciafaceaos
váriosdesafiosqueenfrentamouàsquestõesque lhesinteressam.Neste
sentido, podemos tomar como referência o constante crescimento de
ambas as comunidades, quer na sua dimensão virtual, quer na sua
agência presencial. Para além disso, é de salientar que a sua
capacidade de influência social tem conseguido estabelecer ligações
relevantescomoutrascomunidades eatécomalgumasautoridades.
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Culturadeparticipaçãocívica:mobilizaçãotransmédiaehacktivismoemcomunidadesdeprática(casosdefãsecriadores)
Aeficáciadaspráticasparticipativastemdeseranalisadaem contexto,
especialmente porque implica uma procura de transformação dos
ambientes pessoais, familiares e comunitários. Neste sentido, um
membro da comunidade maker explica: "... trabalhar em projectos é
interessante porque é uma forma de testar o que sabemos [...] e o
que podemos aprender ao trabalhar com os nossos pares, que são
especialistasemassuntosdiferentesdosnossos" (Lorenzo,R.Comunicação
pessoal,2desetembrode2019).
Do exposto, pode também derivar uma crítica à educação
tradicional, que pode adotar algumas das abordagens da ética e da
cultura hacker, especialmente a partir de uma autocrítica que
evidencieas coisasquenãofuncionamàluzdoquemudouna culturae
navidadaspessoas,especialmentedos jovens.
Imaginar soluções alternativas para os problemas sociais é uma
tarefa pendente que tentamos resolver com umaconstante expetativa do
futuro representado nas ficções, não só como uma aspiração, mas
tambémcomoumhorizontequedelineiaparaondeépossívelir,paramelhor
ouparapior. Sejaporserumfuturo promissoremaisjusto paratodos,
sejaporse tornarumarealidadequenãopermite diferentesformasde
ser,dizer efazer as coisas.
Quando as comunidades de prática recuperam os seus referentes
nacionais-rativos-mediáticos para elaborar as suas próprias
produções,estãoadesenvolveraimaginaçãocívica,poisissopermite- lhes
envolver-secom(ereproduzir)umaideiadomundoeda sociedadede
quefazemparte.Nestaperspetiva,avidaemcomunidade adquireumnovo
significado se for vista como uma oportunidade para aprender a ser
cidadãoapartirdeumconjuntodeaspirações partilhadasqueenvolvemum
constantevaivém entreficção, sociedade,tecnologiae atualidade.
Isto favorece o desenvolvimento de uma literacia cívica que
visualizaosproblemasdasociedadeatravésdasquestõesdeinteresse para
as comunidades, permitindo que os membros escolham quais as
particularidades da questão (que os convoca e reúne) que se
relacionamcomassuaspaixõesenecessidadespessoais.
A cultura da participação e a mobilização transmediática, através do
hacktivismo e do altruísmo, implicam a configuração de espaços e
dinâmicas partilhadas emque são possíveis acrítica, odebatee a
expressão pública, que, embora tenham origem em temas
específicos, têm influências e componentes sociais e culturais
relevantes para a construção do espaço público e do debate. Ainda há
muitapesquisaaserfeitasobreotemaemuitasperguntasaseremfeitas
sobreasculturasdeparticipaçãoeosdiferentesgrupossociaisque as
praticam, especialmente considerando as complexas discussões que
ocorremsobrequestõesfundamentais comoa
propagação de notícias falsas (Riva-Casas 2019), o colonialismo de
dados(MejíaseCouldry2019),avigilância(Zuboff2019)eo capitalismo
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minorias.
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Jenkins, Henry, Shresthova, Sangita, Gamber-Thompson, Liana,
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valuesinaconnectiveworld(Sociedadedasplataformas:valores
públicosnummundoconectivo).NovaIorque:OxfordUniversityPress,
2018.DOI:https://doi.org/10.1093/oso/9780190889760.001.0001.
Wenger, Étienne. Comunidades deprática: aprendizagem, significado e
identidade.BuenosAires:Paidós, 2001.
Wenger, Étienne, McDermott, Richard, Snyder, William. M. Cultivating
Communities of Practice. Massachusetts: Harvard, 2002. DOI:
http://doi.org/10.1016/j.jchas.2013.03.426.
Zuboff, Shoshana. The age of surveillance capitalism: The fight for
a humanfutureatthenewfrontier ofpower[Aerado capitalismo
de vigilância: A luta por um futuro humano na nova fronteira do
poder].NovaIorque:ProfileBooks,2019.
UniversidadeAbertada
Catalunha
nós de
arte
https://artnodes.uoc.edu
CV
Culturadeparticipaçãocívica:mobilizaçãotransmédiaehacktivismoemcomunidadesdeprática(casosdefãsecriadores)
JoséManuelCorona-Rodríguez
Instituto Tecnológico y de Estudios Superiores de Monterrey
manuel.corona@tec.mxu
Doutor em Educação e Mestre em Comunicação pela Universidade de
Guadalajara, México. Licenciada em Ciências da Comunicação pela
Benemérita Universidad Autónoma de Puebla. Investigador membro do
Sistema Nacional de Investigadores Nível C do CONACYT. Professor
convidadodaFaculdadedeComunicaçãodaUniversidadePompeuFabra em
2017. Coordenadorexecutivo e investigador daCátedra UNESCO- AMIDI
UDGdesde 2016. Professor e investigador com interesse e experiência em:
comunicaçãopública,teorias dacomunicação,literacia mediática,narrativas
transmédia,estudosdeaudiênciaeculturadigital. Membrodogrupode
investigação internacional do Global Kids Online Project, queinvestiga o
estado atual dos direitos digitais das crianças em diferentes países do
mundo. Henry Jenkins, Tessa Jolls e Carolyn Wilson, entre outros,
colaboramnesteprojetodeinvestigação. Atualmente,émembrodogrupo de
investigaçãoresponsávelpeloprojeto Contentanalysisof therepresentation
ofpeopleofsexualdiversity in
audiovisual content, financiado pelo Instituto Federal de
Telecomunicações.
https://orcid.org/0000-0001-7394-5230
Artnodes,n.º29(janeirode2022)I ISSN1695-5951
2022,JoséManuelCorona-Rodríguez 2022, desta edição FUOC
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  • 1. ARTIGO ECOLOGIADAIMA GINA ÇÃO"NÓ Culturadeparticipaçãocívica: mobilizaçãotransmédiaehacktivismo emcomunidadesdeprática (casosdefãsefabricantes) JoséManuelCorona-Rodríguez InstitutoT ecnológicoedeEnsinoSuperiordeMonterrey(ITESM) Datadeapresentação:outubrode2021 Datadeaceitação:janeiro de2022 Datadepublicação:janeirode2022 Citaçãorecomendada Corona-Rodríguez,JoséManuel.2022."Culturadeparticipaçãocívica:mobilizaçãotransmédiae hacktivismoemcomunidadesdeprática(casosdefãsemakers)".In:Garcés,Marina(coord.). "EcologiadaImaginação".Artnodes,n.º29.UOC.[Acedidoem:dd/mm/yy].https://doi. org/10.7238/artnodes.v0i29.393059 Ostextospublicadosnestarevistaestão- salvoindicaçãoemcontrário-sujeitosaumalicença. CreativeCommonsAttribution4.0International. Alicençacompletapodeserconsultada em https://creativecommons. org/licenses/by/4.0/deed.en Resumo Este artigo apresenta os resultados de uma investigação etnográfica sobre as práticas participativas (orientadasparacausas cívicas)levadasacaboporduascomunidadesdepráticanocontextoda cultura participativa. Oconceito decultura departicipação cívica éproposto comoumatentativa de evidenciar práticas de participação relacionadas com questões e causas cívicas, a partir de narrativas mediáticasficcionaisedediscursosbaseadosnomovimentomaker.Ametodologia desenvolveuma estratégia que recupera as formas de agência comunicativa presencial e virtual dos membros de duascomunidadesdeprática.Propõe-seumacategorizaçãodaspráticas observadascombasenuma mobilização transmédia que incorpora referências da cultura popular no envolvimento cívico dos participantesenumaformadehacktivismodefãscaracterizadapela utilizaçãocriativaealternativade tecnologiadigitaleanalógicapararesolverproblemassociais. nósde Artnodes,n.º29(janeirode2022)I ISSN1695-5951 2022,JoséManuelCorona-Rodríguez 2022, desta edição FUOC 1
  • 2. UniversidadeAbertada Catalunha nós de arte https://artnodes.uoc.edu Palavraschave Culturadeparticipaçãocívica:mobilizaçãotransmédiaehacktivismoemcomunidadesdeprática(casosdefãsecriadores) culturadeparticipação;mobilizaçãotransmédia;hacktivismo;fãs;comunidades Culturadeparticipaçãocívica:mobilizaçãotransmédiaehacktivismoemcomunidadesde prática(casosdecriadorese fãs) Resumo Esteartigo apresentaos resultadosdeumestudoetnográficosobreas práticasparticipativas (orientadaspara causas cívicas)levadasacaboporduascomunidadesdepráticanocontextodaculturaparticipativa.Oconceitode culturade participação cívica épropostocomoformadedemonstraras práticasdeparticipaçãorelacionadascom questõesecausas cívicas,combaseemnarrativasediscursosficcionaisdosmediaenomovimentomaker.A metodologiadesenvolveuma estratégiaquerecuperaasformasdeagênciacomunicativapresencialevirtualdos membrosdeduascomunidadesde prática. Éfeitaumapropostadecategorizaçãodaspráticasobservadascombasena mobilizaçãotransmédiaqueincorpora referentesdaculturapopularaoenvolvimentocívicodosparticipantes,enuma formadehacktivismodefãscaracterizada pelousocriativoealternativodatecnologiadigitaleanalógicapara resolverproblemassociais. Palavras-chave culturaparticipativa;mobilizaçãotransmédia;hacktivismo;fãs;comunidades Introdução Estetextodocumentaumainvestigaçãosobreduas comunidadesde prática(umadefãs1 eoutrademakers2 ),combasenaanálise dassuas formas decomunicaçãoeorganizaçãoemrelaçãoaproblemassociais com umaorientaçãocívica,paraaqualsãoutilizadasepropostasas categoriasdeanálise:mobilizaçãotransmédiaehacktivismodefãs. Comopartedaargumentação,sãodescritase analisadas as práticasobservadasdascomunidadeseaformacomoestãoligadas a formasdeparticipaçãorelacionadascomcausascívicas.Na perspetiva damobilizaçãotransmédia(Costanza-Chock 2010), trabalhamoso envolvimentodeumgrupodepessoaspertencentesaum movimento socialnacriaçãodemensagenseprodutos comunicativosque promovemascausas,osobjectivosouas posiçõesdaquelequedá sentidoeapoioapráticaspartilhadascom basenaculturapopularou comoresultadodainteraçãocom narrativase narrativasmediáticas. Ohacktivismo(Avogadro2014,Coleman2014)procura demonstrarodesenvolvimentodeumtipodeativismobaseadona utilizaçãodo tecnologia e/ou no questionamento crítico dos sistemas técnicos hegemónicos. Epropõea existência de umtipo de hacktivismo de fãs entendidocomoumamodalidadealternativademobilização transmédia, caracterizada pelo uso e apropriação criativa da tecnologia (tanto digital como analógica) para a resolução, visibilidade ou intermediação de problemassociais específicos. O contexto geral em que este texto se situa problematiza as constantestransformaçõestecnológicaseculturaisquetêm i n f l u e n c i a d o a evoluçãodacomunicação edaeducação3 comoduasdisciplinas quesetêmtransformadosignificativamente nosúltimos anos4. 1.Culturasepráticasdeparticipação Cultura participativa (Aparici e Osuna-Acedo 2013) ou cultura participativaéumconceitopopularizadonosúltimos anosnos estudos decomunicação,especialmentenosdebatessobreas transformações nos tipos de produção e consumo realizados pelas pessoas após o adventoeestabelecimentodaconvergênciadaUnião Europeia. 1 . Oconceitodefãséentendidocomoumenvolvimentoprofundocomumahistória,produto,conteúdoousistemadevalores,etc.Aligaçãodossujeitoscomoobjetodoseupassatempobaseia-seno interesse pessoalepartilhadodecontinuaraconhecereaaprendersobreoquelhesinteressa. 2. Temorigemnomovimentomaker,queserefereaumconjuntodeacçõeseatitudesbaseadasnatransformação,fabricoecriaçãodeobjectosmateriais,atravésdadesintermediaçãoedautilizaçãode tecnologiaseferramentasdigitaisouanalógicas. 3. Estetextoéoresultadodotrabalhorealizadopeloautornoâmbitodasuainvestigaçãodedoutoramento,quedecorreuatéfevereirode2020. Artnodes,n.º29(janeirode2022)I ISSN1695-5951 2022,JoséManuelCorona-Rodríguez 2022, desta edição FUOC 2
  • 4. UniversidadeAbertada Catalunha nós de arte https://artnodes.uoc.edu Culturadeparticipaçãocívica:mobilizaçãotransmédiaehacktivismoemcomunidadesdeprática(casosdefãsecriadores) gência (Jenkins 2014), caracterizada pela integração de múltiplos meios de comunicação e discursos na transformação dos papéis dos meiosdecomunicação,dasindústriasdecomunicação,daspessoas e das plataformas tecnológicas, e pelo uso crescente de dados de massa (Mejías e Couldry 2019). Popularizada em grande parte pelo trabalho de Henry Jenkins (2008), a cultura participativa ou participativa significa uma transformação nas condições técnicas, económicas e culturais quepermitemqueaspessoasseenvolvamnacriaçãoenãoapenas no consumodeprodutos mediáticos. É verdade que, pelo menos ao longo da última década, têm sido várias as críticas ao conceito de cultura participativa, uma vezque se tem assumido que as formas de participação ocorrem independentemente das condições económicas, tecnológicas ou educacionais das pessoas que acedem, produzem ou consomem informação.Umadascríticas maisapontadasfoi adeCouldry(2011), que sugere que, para se falar de uma verdadeira cultura de participação, seria preciso considerar as diferenças em termos de estratificação da sociedade e a problematização da ideia de cultura como um conceito complexo que dissemina o significado e os símbolos que são referência para as pessoas. Outras questões sobre as formas de participaçãocentram-senadimensãoeconómicasubjacenteàs interacções que são possíveis através dos espaços virtuais e sociodigitais; um exemploclaroéapropostacontraofreemium(Evans 2015,Hamari,Hanner eKoivisto2020),queconsistenummodelode negóciobaseadonaofertade serviçosbásicosgratuitos,quedepoisse traduzememtaxasparaserviços avançadosouexclusivos. Uma definição adequada da cultura de participação seria aquela que considera não uma única cultura, mas muitas formas culturais nas quais a agência individual se manifesta e ocorre, considerandosempreascondiçõesestruturaisexternasdas indústrias, domercadoedopapeldosEstados.Nestaperspetiva,e s e g u i n d o os resultados desta investigação, propomos a existência de uma cultura departicipação cívica, orientada parapráticas comunicativas que procuraminfluenciararesoluçãodeumproblema social. Com base na proposta de Jenkins (2009), assumimos a cultura participativacombasenasseguintes características a) A existência de condições para a expressão e o envolvimento social. b) As circunstâncias sócio-afectivas da criação e da partilha das produções. c) A coexistência de pessoas dispostas a partilhar os seus conhecimentos e experiências para que outros menos experientespossamintegrar-seemgrupossociais. d) Membros de comunidades que se consideram relevantes num grupoequepodemcontribuirpara ele. e) O estabelecimento de laços emocionais e intelectuais entre os membros para a realização e/ou definição de objectivos comuns. Artnodes,n.º29(janeirode2022)I ISSN1695-5951 2022,JoséManuelCorona-Rodríguez 2022, desta edição FUOC 4 Comoextensãodaconcetualizaçãoacima,propomos considerara culturadeparticipação cívicacomoum tipo de participação em que os objectivos centrais dos indivíduos/comunidades estãoorientados para: a) Uma procura livre, diversificada, crítica e igualitária, que permitedefinir umaorientação política face a problemas ou questões socioculturais que motivam ou congregam uma comunidade. b) Aconstituiçãocomopartedeumrepertórioparaadefinição de uma identidade partilhada que recupera referentes da cultura pop e dos media para criar e dar sentido a acções e discursos. A cultura da participação permitiu que o debate sobre consumo e produção revisitasse questões sobre quais são as verdadeiras capacidades de agência das pessoas e como é que as suas práticas implicam efeitos que vão para além delas próprias ou dos contextos locais em que se desenvolvem. Esta discussão precisa de ser analisada criticamente, especialmente face à influência excessiva das empresastecnológicas,queatravésdocapitalismodeplataforma (Srnicek 2017)levantamincertezassobrealiberdadeeaagênciadas pessoas. Issoéespecialmenterelevantediantedosdesafioscolocados p e l a vigilância excessiva (Van Dijck, Poell e De Waal 2018, Zuboff 2019) tantodeEstadosquantodecorporações,enaslógicas docolonialismo de dados (Mejías e Couldry 2019), que questiona como as lógicas colonialistas são reproduzidas em áreas e territórios do mundo que historicamenteforam vulnerabilizadosporatores internacionaisa t r a v é s d a extração de valor e dalegitimação da exploração (Corbel, Newman e Farrell 2022). Neste sentido, o legado do pensamento marxistaaindaestápresenteeévistocomo necessáriocomoresposta crítica ao sistema capitalista dependente de lógicas extractivas, principalmente os conglomeradosmediáticos e tecno-lógicos. Autores como Fuchs (2017), Srnicek (2017) e Zuboff (2019) têm levantado críticasatuaiserelevantesparaentendercomo funcionamos sistemas tecnológicos e quais são os desafios que enfrentamos diante da influência excessiva de conglomerados que privilegiam uma lógica extrativista, colonialistaebaseadanoconsumoexcessivo. 2.Comunidadesdeprática:participação colectivae comunitária As comunidades de prática são um grupo de pessoas que se reúnem com base em interesses, problemas, paixões ou objectivos, através dos quais aprofundam os seus conhecimentos sobre umaárea de interesse comum. Estes grupos sociais são geralmente informais e fazemcircularinformaçãoentreosseusmembrosdeformaauniformizar ou igualaros seusconhecimentos,experiênciaseinteresses,como
  • 6. UniversidadeAbertada Catalunha nós de arte https://artnodes.uoc.edu Culturadeparticipaçãocívica:mobilizaçãotransmédiaehacktivismoemcomunidadesdeprática(casosdefãsecriadores) Referir-se às comunidades de prática como conceito teórico implica reconhecê-las como organizações sociais que não dependem necessariamente de uma lógica estrutural hierárquica, mas de uma lógica relacional. Isto significa que os grupos não são entendidos em termosdeformasdeautoridadeoudeexercíciodepoder,mascom base nas motivações, conhecimentos, afinidades e interesses dos seus participantes, oquese verifica através dosignificado quedãoàs acçõese objectivos quedesenvolvem(Wenger2001);embora,naturalmente, nem sempresejaassim,umavezqueosgrupossociaistendemacomportar- se deformainesperada. Seguimos a proposta de Wenger, McDermotty e Snyder (2002) ao identificar três aspectos fundamentais que podem caraterizar uma comunidadedeprática.Odomínio,queéoconjuntodetemase objectos de interesse da comunidade, refere-se aos recursos humanos que compõem uma rede social dinâmica que se define por práticas, entendidas comoos modose procedimentos socialmente definidos para fazerascoisas. Artnodes,n.º29(janeirode2022)I ISSN1695-5951 2022,JoséManuelCorona-Rodríguez 2022, desta edição FUOC 6 3.Compromissoetnográficocomas práticaspresenciaise virtuais Esta secção descreve os argumentos metodológicos relevantes e oferecetambémumadescriçãogeralecomparativadas comunidades investigadas,afim decompreenderocontextoeas circunstânciasem queassuaspráticaseactividades têmorigem. A abordagem, as reflexões e os resultados apresentados neste documentofazem partedeumprojetodeinvestigaçãoemqueo autor se interrogou sobre as tipologias de participação em duas comunidadesdeprática:fãsemakers.Ocorpusanalisadoresultou da realizaçãodeumaetnografiadaspráticasdascomunidades atravésda implementação de um desenho de ferramentas metodológicas que incluiuaobservaçãovirtualepresencial, entrevistasemprofundidadee aformulaçãodecategoriasdeanálise baseadasnasistematizaçãode códigosatravésdautilização do software informático Atlas.ti, tudo isto sob os postulados da grounded theory (Strauss e Corbin 2002). O quadro seguinte apresenta o esquema analítico através do qual foi seguido o processo de categorização das práticas participativas das comunidades investigadas. C O N C E I T O DIMENSÃ O C O M P O N E N T E S O B S E R V Á V E I S PRÁ T ICA S D EP A R T I C I P A Ç Ã O Histórico Os media/tecn o logias Práticasvisíveis nasinteracçõescomasinterfaces esistemasdecomunicaçãotemporariamente. Estruturais Institucional / económic o Práticasdeconsumo,venda,mercado,apropriação, público-privado e ética hacker-fã. Comunidad e Organizacional/op er acional Práticasdecolaboração,filiação,trabalhoemrede, negociação,liderança,regrase valores. Individual Atrajetória/ cognitivo-experiencial Práticasdesentido,expressão,lazer,formação, aspirações, emoçõese sentimentos. Tabela1.EsquemaanalíticodaspráticasparticipativasFonte: Elaboradopelosautores. A abordagemdeCharmaz(2001)foiutilizadaparaformular perguntas que facilitassem o processo de codificação. Estas perguntas eram: O queestáaacontecer,oqueéqueaspessoasestãoafazer,o queéqueo sujeitoestáadizer,oqueéqueestasacçõeseafirmações implicam,ecomo équeaestruturaeocontextoajudam a compreenderestas acçõese afirmações? Oprocesso decodificaçãoenvolveuum exercíciopormenorizado de questionamentodosdados,reconhecendoqueoscódigostêmorigem tanto nos referentes teóricos como nos dados empíricos analisados. Este processo relacional de estabelecimento de ligações entre as suas propriedadesedimensõessemelhantesédesignadopor codificaçãoaxial(Gibbs2007)epermitiuageraçãodecódigose relações.
  • 8. UniversidadeAbertada Catalunha nós de arte https://artnodes.uoc.edu Culturadeparticipaçãocívica:mobilizaçãotransmédiaehacktivismoemcomunidadesdeprática(casosdefãsecriadores) Figura1.CodificaçãodeimagensnoAtlas.tiFonte: elaboraçãoprópria. Umdosprincipais aspectosdainvestigaçãoéqueambosos tipos de grupos sociais são comparáveis, porque para além das suas características, contextos,identidades,objectivoseinteresses, ambos seorganizam(erespondem)emtornodediscursosmediáticos específicos quetornam visíveis as suas paixõeseinteresses,tanto individuais como colectivos. Este facto resultou da observação constante dos seus modosde deagênciacomunicativaeorganizativaatravésdautilizaçãode plataformas e espaços sociodigitais e do planeamento e realização de encontros presenciaisregularesparadiscutir,mostrar,ensinar,aprender edesfrutar dosseusinteresses. O quadro 2 apresenta uma síntese comparativa da estratégia metodológicaedasfasesdasuaaplicaçãoedesenvolvimento. Artnodes,n.º29(janeirode2022)I ISSN1695-5951 2022,JoséManuelCorona-Rodríguez 2022, desta edição FUOC 8
  • 9. UniversidadeAbertada Catalunha nós de arte https://artnodes.uoc.edu Culturadeparticipaçãocívica:mobilizaçãotransmédiaehacktivismoemcomunidadesdeprática(casosdefãsecriadores) F A S E SD O P R O C E S S O D EI N V E S T I G A Ç Ã O T I P O D ER E G I S T OO B T I D OP A R AA N Á L I S E P E S S O A SD A SC O M U N I D A D E SE N V O L V I D A SN O P R O C E S S O F Ã S FABRI CA N T E S D O C U M E N T Á R I O Recuperaçãoconcetual 0 0 E X P L O R A T Ó R I O Notasdecampoefotografias 3403 1358 O B S E R V A Ç Ã O V I R T U A L Notasdecampo,capturasdeecrã,registosvisuais, áudio,audiovisuais, áudioe textuais. 85 42 O B S E R V A Ç Ã ON O L O C A L Notasdecampoefotografias 33-38 15-20 E N T R E V I S T A SV I R T U A I SE M PROFUNDIDADE Registosaudiovisuaise textuais E N T R E V I S T A SP R E S E N C I A I S A P R O F U N D A D A S Registossonorose textuais C Ó D I G O CodificaçãomanualatravésdoAtlas.ti - - C A T E G O R I Z A Ç Ã O CategorizaçãomanualatravésdoAtlas.ti - - Quadro2.EstratégiaefasesdainvestigaçãoFonte: elaboraçãoprópria Como se pode ver, além disso, a estratégia metodológica acima delineada implicou umacontribuição para os debates (Estalella eArdèvol 2007) sobre os limites da etnografia enquanto abordagem epistémica que levanta novas questões sobre como assumir a noção de acesso, campo,observação,registo,informadoreentrevista,numa investigação que se interroga sobre as formasde agência das pessoas paraalém dos limites tradicionais de espaço/tempo. Neste sentido, acreditamos que esta experiência metodológica pode ser útil para a investigação orientadaparaascomunidadesde prática. Metodologicamente, este trabalho apresenta uma estratégia que combina o estudo de espaços e dinâmicas que ocorrem online e offline, o que motivou o desenvolvimento de uma estratégia de construçãodedadosàmedida,atravésdaobservaçãoparticipante em ambasas modalidades edarealizaçãodeentrevistasem profundidade com informantes-chave. Para tanto, foi necessário implantar um aparato interpretativo capaz de mediar a variedade dos dados reconstruídos e a configuração espaço-temporal das experiências. Neste sentido, a estratégia desenvolvida motivou uma revisão epistemológica constante das dimensões éticas, para a qual se tomaramcomoreferênciaas dificuldadeséticasdescritasna literatura (Estalella eArdèvol 2007)eseprivilegiou aperspetivados sujeitos da investigação,bem comoasexpectativasdeprivacidade. Nestesentido,o carácterprivadooupúbliconãofoidecididoaprioriou apenascombase emdisposiçõestécnicas. (software,porexemplo),massim,atravésdeumexercíciosituacional e dialógico, foi possível encontrar o significado que os indivíduos atribuem a um determinado contexto e conteúdo. Oconhecimento e a compreensão da perspetiva dos sujeitos investigados foram fundamentais para a construção de uma ética que tivesse em conta as propriedadesdocontextoeas escolhasdaspessoas sobreasua agência eosseusdiscursos.5 A Tabela 3 apresenta um exercício comparativo das duas comunidades, deformaaevidenciaralgumasdassuas características, contextosepontosdeconvergência.Podetambém servistacomouma tabela que dá uma visão geral de algumas das semelhanças mais relevantes em cada comunidade, e como as suas práticas são semelhantes entre si, e as formas de participação que são desenvolvidas deacordocomasquestõesoucausasque motivamas formasdeparticipação cívica. Embora exista um vasto conhecimento sobre as práticas desenvolvidas tanto pelas comunidades de fãs como pelas comunidades maker, é importante descrevê-las sobretudo em termos das questões e/ou causas que motivam as suas formas de participação hacktivista. Ou seja, enquanto os fãs de Star Wars centram as suas actividades na construção de identidades e no altruísmo dirigido a grupos vulneráveis, os makers procuram juntar-se a causascolectivasdenaturezamuitomaisinternacional,comoo movimento OpenSource,oucausasbaseadasnaliberdade da Internet e afavor da neutralidadedaWeb. 5.Deumpontodevistaético,todososparticipantesnasfasesdeobservaçãoedeentrevistaestavamplenamenteconscienteseaceitaramparticiparnesteestudo. Artnodes,n.º29(janeirode2022)I ISSN1695-5951 2022,JoséManuelCorona-Rodríguez 2022, desta edição FUOC 9
  • 10. UniversidadeAbertada Catalunha nós de arte https://artnodes.uoc.edu Culturadeparticipaçãocívica:mobilizaçãotransmédiaehacktivismoemcomunidadesdeprática(casosdefãsecriadores) N O M E ClubedefãsdaGuerradasEstrelas Guadalajara FabricantesGDL A N OD EI N I C I A Ç Ã O 1999 2014 N A R R A T I V AM E D I Á T I C A Q U E O S R E Ú N E NarrativadeficçãotransmédiadaGuerra dasEstrelas Discursosmediáticosnãoficcionaissobre a cultura "Maker"e o "Do-It-Yourself". N . ºD EM E M B R O SV I R T U A I S 4.520 4.100 N . ºD EM E M B R O SP R E S E N T E S ( R E C O R R E N T E ) 33-38 15-20 N.ºD EM E M B R O S S U P E R I O R E S D OG R U P O 7-9 8-12 I D A D EM É D I AD O SM E M B R O S 33 L O C A I SAP A R T I RD O SQ U A I S P A R T I C I P A R Guadalajara, CDMX, Monterrey, Veracruz, LosAngeles(EUA),Puebla,PuertoVallarta, Tijuana. Guadalajara,Monterrey,CDMX,Nova Iorque,SãoFrancisco (EUA). R E D E SEP L A T A F O R M A S D E COMUNICAÇÃ O/ORGA N I Z A C I O N A I S P R E D O M I N A N T E S Facebook,WhatsApp,Messenger(Facebook), Instagram, sítio Web. Slack,Facebook,Twitter,Trello,YouTube, Website. T I P O S D ER E U N I Õ E S EA C T I V I D A D E SP R E S E N C I A I S Encontros,fóruns,celebraçõesemarchas. Festas,palestras,contactos,feirase conferências. T I P O S D EP R O D U Ç Ã OD E M É D I AD I G I T A L Memes,entrevistas,ilustrações, colecções,memórias,compilaçõese críticas. Vídeostutoriais,infografias,manuais,GIFs, memes e críticas. T I P O S D EP R O D U Ç Ã OD E O B J E C T O SO U D E T E C N O L O G I A Trajes/disfarces,brinquedos,objectos narrativos (armas), pinturas e livros. Códigodeprogramação, carpintaria/mobiliário,robótica,ferramentas, metalurgia,componenteselectrónicos, etc. P R O B L E M A SO U C A U S A S P A R AAP A R T I C I P A Ç Ã OC Í V I C A • Sensibilizaçãoparaoautismoeasíndrome deAsperger. • ApoioàRedNose(umaorganização para crianças com cancro). • Dádivadesangue. • Entregadebrinquedosàscrianças. • Aulaseatelierspara crianças. • MovimentoOpenSource. • Afavordocopyleftedaslicençasabertas. • Movimentoanti-censurana Internet. • Afavordaneutralidadedarede. • Contraoconsumismo excessivo. • Formaçãonautilizaçãodastecnologias. Artnodes,n.º29(janeirode2022)I ISSN1695-5951 2022,JoséManuelCorona-Rodríguez 2022, desta edição FUOC 10 Tabela3:CaracterísticasgeraiseaspectoscomparativosdascomunidadesFonte: Elaboradopelosautores. 4.Resultados 1.Mobilizaçãotransmédiaatravésdohacktivismo e do altruísmo Aspráticasparticipativasdascomunidadesdepráticatêm implicações cívicas e políticas visíveis sob a forma de hacktivismo e altruísmo. A dimensão comunicativa e mediática é fundamental para ligar o posicionamentopolítico/cívicodosparticipantesaopúblicoemgeral.
  • 12. UniversidadeAbertada Catalunha nós de arte https://artnodes.uoc.edu Culturadeparticipaçãocívica:mobilizaçãotransmédiaehacktivismoemcomunidadesdeprática(casosdefãsecriadores) Nestesentido,amobilizaçãoétransmédiaporque: a) Elementos narrativos ficcionais, uma diversidade de meios de comunicaçãoelinguagenssãoutilizados paracomunicare evocar emoçõesparaumacausaouquestãoespecífica. b) A participação das pessoas expande os significados dos mediaepermiteacriaçãocolectivademembros. c) Facilita a resolução de questões sociais de interesse para as comunidades através de referências mediáticas que evocam o interesseatravésdas emoções. Estas formas de mobilização têm duas variantes: a primeira é o hacktivismo(Coleman2014),desenvolvido porambasas comunidades, baseado na ética hacker (Himanen 2011), que procura ter um impacto social baseado na defesados direitos digitais, no direito aser esquecido,àprivacidadeeaumaredeneutra, etc.;etambémnaprocurade reconhecimento que torna visível a importância do acesso a ferramentas de construção e fabrico para democratizar ainvenção e a produçãodevalor,influenciandoascadeiasdeprodução estabelecidas. Ohacktivismoobservadonestainvestigaçãomaterializou-se através dadimensãoeducativaemtermosdeacessos,hierarquias, produções e formasde validação da informação. Comotem sido documentadoem váriasocasiões(BurgosPino2014,Sorell2015,Fitri 2020),ohacktivismo éentendidocomoumamodalidadedeativismo,na qualousodatecnologiaé determinantepara açõesderesistência, protestoouaçãopolítica (López Rod, Martín eMartínez2020). Esta modalidadedeativismo nãodepende apenasdastecnologiasdigitais, masdocompromissosocialedacapacidade depromoveracolaboração em rede, paraaqualosusosalternativosdas redes sociodigitais e das plataformas tecnológicas são fundamentais.6 Os seus efeitos podem ser observados na vida pública (através da diversificação da participação), atravésdatransformaçãodoacessoe da produção de informação e na formação de comunidades, e como base dos movimentos sociais (ao facilitar a reunião de interesses, vontades e paixões). Isto também é relevante em termos educativos, especialmentenadimensãodaaprendizagem aolongodavida (Aubert, García eRacionero2009),ouseja,aaprendizagemqueocorre fora das instituiçõesescolares.7 Asegundadimensãodamobilizaçãotransmédiaéoaltruísmo. ficcional, quesebaseianaconcretizaçãodelaçossociais parao estabelecimentoeparticipaçãoemredesdeapoioecolaboraçãopara causas sociaisougrupos vulneráveis.Avertentenarrativaeficcional destetipode altruísmo é utilizada para fomentar um ambiente de confiança que facilitaoacessoaumaparticipaçãoecooperação plenaesignificativa. altruísmo ficcional. Ambas as dimensões, hacktivismo e altruísmo ficcional, são duas categorias que emergiram da análise das comunidades investigadas edas diferenças entre elas, especialmente em termos da sua capacidade de agência comunicativa e organizacional,bemcomodasquestõesqueas convocam. Amobilizaçãotransmédiaconsideraostiposeníveisde participação, especialmente em termos geracionais, estéticos, educativos e políticos, porque nos permite compreenderas disposições, atitudes e valores da literaciatecnológicaquesãoimplementadosemcada comunidadee com baseem cadatipodediscursomediático ficcional. Isto é evidente em ambas as comunidades porque os adeptos da cultura makerestãoconstantementeàprocuradepontosdeentrada e saída para diversificar as suas formas de produção e comunicação, enquanto os fãs estão gradualmente a ousar propor novas utilizações dasredessociaiseaproduçãoalternativadeobrasmediáticase peças físicasbaseadasemnarrativasficcionaisparaseremmais eficazesnas suas estratégias de apoio a grupos vulneráveis. Isto pôde ser observadorepetidamente,especialmentequandotantoos fãscomoos criadores participaram em eventos especiais organizados por eles própriosouporoutrascomunidades,taiscomomarchasparaa comunidade LGBT,apoioapessoasnoespetrodeaspergerouoapelo àneutralidade da rede. Umaformadediferenciarascomunidadesinvestigadaspodeserfeita combasenasferramentasqueutilizam paraproduzirosobjectos ou discursosdoseuinteresse. Osmembrosdacomunidademaker estão constantementeaexperimentarnovasformasdeproduzir e comunicar os seus resultados e experiências. Desta forma, a diferença geracional acentua-se porque os adeptos não apresentam o mesmo desenvolvimento de competências e valores que apostam na experimentação, na investigação e na transformação de usos e significados estabelecidos. Outra causa resultante desta diferença residetambémnosperfisdosmembrosdecada comunidade; enquanto nocasodacomunidadedefãs deStarWars(SW)osmembros sãomais especializadosecomumaorientaçãomaisartísticaou humanista,osmakers provêm de formações universitárias e carreiras orientadas para as engenhariasouprofissõesSTEAM8 (HoneyeKanter 2013). Comose podeobservarnaTabela3,nocritériorelativoàs causas ouquestões paraaparticipaçãocívica, emambasas comunidadeshá um interesse emenvolver-se emquestões problemáticas ou urgentes que exigem cidadania para serem resolvidas. Participam emcausas que podem ser agrupadas em duas grandes categorias: numa forma de altruísmo que recorre a referências mediáticas para ser facilmente acessívelecriarempatia paracomo exteriordascomunidadese,poroutro lado,numaformadehacktivismoqueconcentratodososseusesforçosem 6. Váriasabordagensdesenvolveramohacktivismo,sejanumaperspetivaartística(FernándezCastrillo2021),comunicativa(Torres-Soriano,2018),política(BurgosPino2014),de Artnodes,n.º29(janeirode2022)I ISSN1695-5951 2022,JoséManuelCorona-Rodríguez 2022, desta edição FUOC 12
  • 13. UniversidadeAbertada Catalunha nós d e https://artnodes.uoc.edu Culturadeparticipaçãocívica:mobilizaçãotransmédiaehacktivismoemcomunidadesdeprática(casosdefãsecriadores) movimentosocial(LechóneMena2019)oudecompromissosocial(García-Estévez 2018). Artnodes,n.º29(janeirode2022)I ISSN1695-5951 2022,JoséManuelCorona-Rodríguez 2022, desta edição FUOC 13 7. Emboraadimensãoeducativadaspráticasparticipativasfossecentralparaaquestãodeinvestigaçãoquedeuorigemaestetexto,ofocoaquiénaspráticasparticipativasorientadas paraohacktivismo. 8.E ax p rr e ts s eã o inglesaquesignifica:ciência,tecnologia,engenharia,artesematemática.
  • 14. UniversidadeAbertada Catalunha nós de arte https://artnodes.uoc.edu Culturadeparticipaçãocívica:mobilizaçãotransmédiaehacktivismoemcomunidadesdeprática(casosdefãsecriadores) resolver problemas exacerbados pela utilização excessiva (ou acrítica) da tecnologia digital interactiva. Nomeadamente, o altruísmo e o hacktivismo são duas faces da mesma moeda. A secção seguinte desenvolveaformacomoohacktivismoéproduzidoatravésde acções comunicativasedaimplementação deligaçõescomgrupos sociaisforada comunidade. 4.2.Comunidadesdefãsecriadores:estudosdecasosde culturaparticipativa As comunidades de prática investigadas dedicam constantemente as suas actividades à construção e manutenção da confiança e da credibilidade, a fim de desenvolverem uma voz que as posicione num determinadolugardelegitimidadebaseadonoconhecimento,nas relaçõese nainteligência colectiva (Rheingold 2002, Atlee 2003, Lévy 2004), para serem ouvidas e exercerem influência sobre os outros. Isto ajuda a transformar a sua realidade social com base na empatia e na capacidade de compreender as condições de vida de outras pessoas quenãotêmacessoàtecnologia,àinformação,e nãopodem entregar- seaointelecto,àreflexão,àsemoçõeseà construçãodeummododevida baseadonasactividadesetemas que canalizam a sua paixão (seja ela qualfor). Atravésdohacktivismoedoaltruísmo,amobilizaçãotransmédia dascomunidadesenvolveformasderepresentardesejosdeum lugar/tempomelhor,eumaconstantedefazerassuaspróprias posiçõespolíticas,ideológicas,educativasedevalorquedãosentido àssuaspráticasquotidianas.UmdosfundadoresdacomunidadeStar Warscoloca-onosseguintestermos:"colaborarcomcomunidadese organizaçõescivisserveparatrazeràtonaasprópriaspreocupações [...]comofomosconvidados,motivamososmembrosaaprendero valordeoutrascoisasparaalémdeSW"(Carla,S.9 Comunicação pessoal,21deagostode2019).Umareflexãoquepermiterelacionar aspráticascolaborativasdacomunidadecomasatividadesqueoutros gruposeassociaçõesdesenvolvemnoseuquotidianoemproldecausas altruístasecooperativas,deformaaassumiremasuaresponsabilidade individualegrupalperanteasociedade. Ohacktivismoobservadoaconteceuatravésdautilizaçãoe apropriaçãode algoritmos,códigos elinguagens informáticas, mas sobretudoatravés deacçõessociaiseculturaispartilhadasembusca deuma transformaçãooumelhoriadasociedade.Emambasas comunidades, foramobservadaspráticasparticipativas tanto hacktivistasquanto altruístas.Defacto,acreditamosqueestasduasdimensõesdasua agênciaocorremcomopartede um mesmo impulsocoletivopara alcançarrelevânciasocialedarvazãoàssuas preocupações ou questões de interesse. Nesta perspetiva, é importanteassumir que Uma parte essencial das motivações para a participação situa-se na esferadarecreaçãoedolazer,oqueimplicaaentregaaquestõesquenãose traduzemnecessariamenteembenefícioseconómicos,massim numaforma de fruição partilhada, que reconhece, direta ou indiretamente, a importânciadeviveremsociedadeedecontribuir paraaresoluçãodos problemasdasociedadenumaperspetivade corresponsabilidade. Comosepodevernatabela4,asdiferençasentreas comunidades pesquisadas emtermosdehacktivismoealtruísmo podem ser vistas especialmentenostópicosdeseuinteressee naformacomoesses interesses são traduzidos em ações e discursos que ajudam o funcionamento de cada comunidade de prática e que também procuramcontribuirparaoexterior dessas comunidades. Comose pode ver, umadiferença notável éo facto deos fãs deS W desenvolverem mais práticas numa perspetiva altruísta, enquanto a comunidade maker o faz numaperspetiva hacktivista. Este facto pode ser explicado pela formação dos seus membros, por diferenças geracionaisoumesmopelaformacomodecidemparticipar na sociedade. No caso dos fãs, a adesão a causas altruístas é uma forma de aspirar à empatia eà compreensãodooutro (diferente-distinto), quena ficçãodeecrã(enosdiscursosmediáticos)époucorepresentado,mas que os fãs interpretam de uma dupla forma: ou como algo ausente que precisa de ser representado, ou como um reflexo implícito na luta constante entre o bem e o mal que se manifesta nas narrativas que resumem. Nodiscursoutilizadoenasacçõesrecorrenteslevadasacabo pelos criadores, é constantemente reflectida uma crítica ao sistema educativo de que fizeram parte (e que muitas vezes replicam involuntariamente),comoobjetivodetornarclaroàopiniãopública(ea eles próprios) que há conhecimentos e experiências de aprendizagem que (segundoeles)nãopodemserconstruídosnaescola. Esta ideia é uma forma de posicionamento político-ideológico que procura manter a comunidade à margem das estruturas de poder institucionais, de modo a permanecer diferente e marginalizada. Também podeserinterpretadacomoumaaçãohacktivistaemsimesma,umavezque procura a transformação social através da utilização crítica das tecnologias. As estratégias para alcançar o acima exposto têm uma componente comunicacionalbaseadanaapropriação tecnológica, na propostadenovasconfiguraçõesapartirdacriaçãodesoftwaree interfaces capazes de evidenciar as falhas das metodologias tradicionais de aprendizagem, transmissão de informação e validação de conhecimento.Eassentenaexperimentaçãoconstantedautilização de plataformas e sistemas que alarguem o seu raio de influência e redimensionemasuavoze perspetiva. 9.Todososnomesdosentrevistadossãopseudónimos. Artnodes,n.º29(janeirode2022)I ISSN1695-5951 2022,JoséManuelCorona-Rodríguez 2022, desta edição FUOC 14
  • 15. UniversidadeAbertada Catalunha nós de arte https://artnodes.uoc.edu Culturadeparticipaçãocívica:mobilizaçãotransmédiaehacktivismoemcomunidadesdeprática(casosdefãsecriadores) HA CKT IV IS MOS A L T RU I S M O F Ã SD ES W • Distribuiçãodigitaldemateriaiseconteúdos narrativos de SW. • Criaçãoderepositóriosebasesdedadosde conteúdoseprodutosmediáticosrelacionados comaficção eoutrosassuntos da atualidade. • Acçõespararegularomercadodepeçase produtosde coleção. • Entregadepresentesacriançasdoentes. • Campanhasdedoaçãodesangue. • ApoioacriançasdoespetrodeAsperger. • Eventosecaminhadaspelosdireitosda criança. • Recolhaeentregadematerialescolar. • ConviteparafunçõesdeSWauma variedadede pessoas. FABRI CAN T E S • Promoverareparaçãodematerialinformático. • Campanhasparaobservaremelhorara mobilidadena cidade. • Promoverautilizaçãoeaimplementação de acçõesamigasdoambiente,comoa compostagemeareciclagem doméstica. • Contributostécnicos,baseadosnaanálise de dados,paraincentivarautilizaçãodeveículos não motorizados. • Criaçãodeobjectosatravésdetecnologias facilmente acessíveis. • Aulasdeciênciase matemáticaparacrianças. • Aberturadeespaçosfísicosparaqueoutras comunidadespossamofereceractividades educativasourecreativas. Artnodes,n.º29(janeirode2022)I ISSN1695-5951 2022,JoséManuelCorona-Rodríguez 2022, desta edição FUOC 15 Quadro4:TiposdehacktivismoealtruísmodesenvolvidospelascomunidadesFonte: elaboraçãoprópria. Conclusões:culturade participaçãocívica através do hacktivismo Nocontextodaculturaparticipativa,atravésdadinâmica transmédia da comunicação e da cultura, outras categorias emergem como possibilidades de condensar a diversidade da participação, do envolvimento e da agência. A imaginação cívica (Jenkins et al. 2016) define a capacidade de vislumbrar alternativas para melhorar o momento atual (e futuro) das instituições políticas, educativas, económicaseculturais.Assim,estaformadeimaginação permitea gestão de esperanças e paixões, uma vez que, através das práticas quotidianas, procura dar contributos para melhorar o que não está a funcionar, o que está errado ou o que deveria funcionar melhor (na perspetivadascomunidades). No caso dos makers, esta imaginação cívica e gestão da esperança, à primeira vista, parece estar orientada para o uso da tecnologia;mas,pelocontrário,adimensãotecnológicaéumaforma de concretizar essa imaginação, e o veículo que permite (muitas vezes baseado exclusivamente num sentido lúdico e numa atitude rebelde) experimentar outras alternativas de fazer as coisas. Neste sentido, a imaginaçãocívicapassapelareformulaçãodohacktivismo, atravésde uma ética de participação que tenha efeitos materiais, tangíveis e observáveisnavidapública,napolíticaenaculturacomo possibilidades defazersentirasuaexistênciaeconquistaro seulugar no mundo. O hacktivismo de fãs é uma forma de mobilização transmédia que promoveademocratizaçãodainformaçãoedacomunicaçãoatravés do usoedaapropriaçãodealgoritmos,códigoselinguagens informáticas, massobretudoatravésdepadrõessociaiseculturais quenormalizame popularizampráticasdeconsumoe,sobretudo, práticasdeprodução que oferecem novos significados aos problemas sociais. Nesta perspetiva, o hacktivismodefãséumaformade participaçãoqueestáamoldaracultura atravésdautilizaçãoeapropriaçãodetecnologiadigitaleanalógica. Umaformadeavaliar aeficácia das práticas activistas e altruístas defãsecriadoreséoprópriofactodasua constante agênciafaceaos váriosdesafiosqueenfrentamouàsquestõesque lhesinteressam.Neste sentido, podemos tomar como referência o constante crescimento de ambas as comunidades, quer na sua dimensão virtual, quer na sua agência presencial. Para além disso, é de salientar que a sua capacidade de influência social tem conseguido estabelecer ligações relevantescomoutrascomunidades eatécomalgumasautoridades.
  • 16. UniversidadeAbertada Catalunha nós de arte https://artnodes.uoc.edu Culturadeparticipaçãocívica:mobilizaçãotransmédiaehacktivismoemcomunidadesdeprática(casosdefãsecriadores) Aeficáciadaspráticasparticipativastemdeseranalisadaem contexto, especialmente porque implica uma procura de transformação dos ambientes pessoais, familiares e comunitários. Neste sentido, um membro da comunidade maker explica: "... trabalhar em projectos é interessante porque é uma forma de testar o que sabemos [...] e o que podemos aprender ao trabalhar com os nossos pares, que são especialistasemassuntosdiferentesdosnossos" (Lorenzo,R.Comunicação pessoal,2desetembrode2019). Do exposto, pode também derivar uma crítica à educação tradicional, que pode adotar algumas das abordagens da ética e da cultura hacker, especialmente a partir de uma autocrítica que evidencieas coisasquenãofuncionamàluzdoquemudouna culturae navidadaspessoas,especialmentedos jovens. Imaginar soluções alternativas para os problemas sociais é uma tarefa pendente que tentamos resolver com umaconstante expetativa do futuro representado nas ficções, não só como uma aspiração, mas tambémcomoumhorizontequedelineiaparaondeépossívelir,paramelhor ouparapior. Sejaporserumfuturo promissoremaisjusto paratodos, sejaporse tornarumarealidadequenãopermite diferentesformasde ser,dizer efazer as coisas. Quando as comunidades de prática recuperam os seus referentes nacionais-rativos-mediáticos para elaborar as suas próprias produções,estãoadesenvolveraimaginaçãocívica,poisissopermite- lhes envolver-secom(ereproduzir)umaideiadomundoeda sociedadede quefazemparte.Nestaperspetiva,avidaemcomunidade adquireumnovo significado se for vista como uma oportunidade para aprender a ser cidadãoapartirdeumconjuntodeaspirações partilhadasqueenvolvemum constantevaivém entreficção, sociedade,tecnologiae atualidade. Isto favorece o desenvolvimento de uma literacia cívica que visualizaosproblemasdasociedadeatravésdasquestõesdeinteresse para as comunidades, permitindo que os membros escolham quais as particularidades da questão (que os convoca e reúne) que se relacionamcomassuaspaixõesenecessidadespessoais. A cultura da participação e a mobilização transmediática, através do hacktivismo e do altruísmo, implicam a configuração de espaços e dinâmicas partilhadas emque são possíveis acrítica, odebatee a expressão pública, que, embora tenham origem em temas específicos, têm influências e componentes sociais e culturais relevantes para a construção do espaço público e do debate. Ainda há muitapesquisaaserfeitasobreotemaemuitasperguntasaseremfeitas sobreasculturasdeparticipaçãoeosdiferentesgrupossociaisque as praticam, especialmente considerando as complexas discussões que ocorremsobrequestõesfundamentais comoa propagação de notícias falsas (Riva-Casas 2019), o colonialismo de dados(MejíaseCouldry2019),avigilância(Zuboff2019)eo capitalismo deplataforma(Srnicek 2017). Referênciasbibliográficas Aparici,Roberto,Osuna-Acedo,Sara."A CulturadaParticipação. MediterraneanJournalofCommunication, vol.4,no.2 (2013): 137-. 148. DOI:https://doi.org/10.14198/MEDCOM2013.4.2.07. Atlee, Tom. "Is Collective Intelligence like Individual Intelligence? The Co- Intelligence Institute (2003). https://www.co-intelligence.org/ CollectiveAndIndivIntell.html.[Acedidoem19/01/22]. Aubert, Adriana, García, Carme, Racionero, Sandra. "Aprendizagem dialógica". Cultura e Educação, vol. 21, no. 2 (2009): 129-139. DOI: https://doi.org/10.1174/113564009788345826. Avogadro, Marisa. 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Artnodes,n.º29(janeirode2022)I ISSN1695-5951 2022,JoséManuelCorona-Rodríguez 2022, desta edição FUOC 16
  • 17. UniversidadeAbertada Catalunha nós de arte https://artnodes.uoc.edu Culturadeparticipaçãocívica:mobilizaçãotransmédiaehacktivismoemcomunidadesdeprática(casosdefãsecriadores) Internet: entendendo o hacktivismo para a mudança global". Revista onlinedetecnologiasdecomunicação emídia,vol.1,no.2 (2020). DOI: https://doi.org/10.29333/ojcmt/2332. Fuchs,Christian.Digital LabourandKarl Marx.Londres:Routledge,2017. García-Estévez,Noelia. "Origen, evolución yestadoatual del activis- mo digital y su compromiso social. Ciberactivismo, hacktivismo eoslacktivism".Move.NetCongressoInternacional de Artnodes,n.º29(janeirode2022)I ISSN1695-5951 2022,JoséManuelCorona-Rodríguez 2022, desta edição FUOC 17 MovimentosSociaiseTIC(2018):139-156. https://idus.us.es/hand- le/11441/70636. Gibbs, Graham. El análisis de datos cualitativos en Investigación Cuali- tativa.Coruña:EdicionesMorata, 2007. Hamari, Juho, Hanner, Nicolai, Koivisto, Jonna. "Porquê pagar um prémio emserviçosfreemium?U mestudosobreovalor percebido, o uso continuado e as intenções de compra em jogos gratuitos" InternationalJournalofInformationManagement,vol.51(2020). ISSN 0268-4012. DOI: https://doi.org/10.1016/j.ijinfomgt.2019.102040. Himanen, Pekka. La ética del hacker y el espíritu de la era de la información(CreativeCommons).Barcelona:E-book,2011. Honey, Margaret, Kanter, David E (eds.). Design, make, play: Growing the next generation of STEM innovators (Desenvolver a próxima geração de inovadores STEM). Nova Iorque: Routledge, 2013. DOI:https://doi.org/10.4324/9780203108352. Jenkins,Henry.ConvergenceCulture.Laculturadelaconvergenciade los mediosdecomunicación.Barcelona:Paidós,2008. Jenkins, Henry (2009). Confronting the Challenges of Participatory Culture: Media Education for the 21st Century [Enfrentar os Desafios da Cultura Participativa: Educação para os Media no Século XXI]. Massachusetts: MacArthur-MIT Press. DOI: https://doi.org/10.7551/mi- tpress/8435.001.0001. Jenkins,Henry."RethinkingConvergence/Culture".EstudosCulturais,n.º 28 (2014,outubro):267-297.DOI:https://doi.org/10.1080/095023 86.2013.801579. Jenkins, Henry, Shresthova, Sangita, Gamber-Thompson, Liana, Kligler-Vilenchik, Neta e Zimmerman, Arely. M. By any media necessary:thenewyouthactivism[Portodososmeiosnecessários: o novoativismojuvenil].NovaIorque:NewYorkUniversityPress, 2016. Lechón Gómez, Domingo M., Mena Farrera, Ramón A. "El hacktivismo e Internetcomoterritorioendisputa.U molharapartirdosquadrosdeação colectiva". Estudios Políticos, no.48 (2019). DOI: https:// doi.org/10.22201/fcpys.24484903e.2019.48.70423. Lévy,Pierre.Inteligênciacolectivaparaumaantropologiado ciberespaço.Washington:OrganizaçãoPan-AmericanadaSaúde, 2004.LópezRod,A.A.,Martín,ÁC.,Martínez,P.C."Hacktivismoe participaçãopolítica:Entreacriminalizaçãodonão convencionale aconstituiçãodenovosactorespolíticos".RISTI-RevistaIbérica deSistemaseTecnologiasdeInformacao,no.E35(2020):390-405. Mejías, Ulises, Couldry, Nick. "Colonialismo de dados: repensando a relação dosdadosdemassacomosujeitocontemporâneo".Vir- tualis,vol.10,no.18(2019):78-97.ISSN2007-2678. Rheingold, Howard. Smart Mobs: The Next Social Revolution [Multidões Inteligentes: A Próxima Revolução Social]. Nova York: BasicBooks, 2002. Riva-Casas,Andrés."Laalfabetizaciónmediáticaeinformacionalenla era del capitalismo de vigilancia. Cuadernos Del CLAEH, vol. 38, no. 110(2019).DOI:https://doi.org/10.29192/claeh.38.2.15. Sorell, Tom."Direitos humanosehacktivismo: os casos dowikileaks edo anonymous". Journal of Human Rights Practice, vol. 7, no. 3 (2015): 391-410.DOI: https://doi.org/10.1093/jhuman/huv012 Srnicek, Nick. Platform capitalism. Cambridge: Polity Press, 2017. Strauss, Anselm, Corbin, Juliet. Fundamentos da investigação qualitativa: técnicaseprocedimentosparaodesenvolvimentodateoria fundamentada.Antioquia:EditorialUniversidaddeAntioquia,2002. Torres-Soriano,Manuel.R."Elhacktivismocomoestrategia decomuni- cación".CuadernosdeEstrategia,no.197(2018):197-224.https:// dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=6518649. VanDijck,José,Poell,Thomas,DeWaal,Martijn.Platformsociety:public valuesinaconnectiveworld(Sociedadedasplataformas:valores públicosnummundoconectivo).NovaIorque:OxfordUniversityPress, 2018.DOI:https://doi.org/10.1093/oso/9780190889760.001.0001. Wenger, Étienne. Comunidades deprática: aprendizagem, significado e identidade.BuenosAires:Paidós, 2001. Wenger, Étienne, McDermott, Richard, Snyder, William. M. Cultivating Communities of Practice. Massachusetts: Harvard, 2002. DOI: http://doi.org/10.1016/j.jchas.2013.03.426. Zuboff, Shoshana. The age of surveillance capitalism: The fight for a humanfutureatthenewfrontier ofpower[Aerado capitalismo de vigilância: A luta por um futuro humano na nova fronteira do poder].NovaIorque:ProfileBooks,2019.
  • 18. UniversidadeAbertada Catalunha nós de arte https://artnodes.uoc.edu CV Culturadeparticipaçãocívica:mobilizaçãotransmédiaehacktivismoemcomunidadesdeprática(casosdefãsecriadores) JoséManuelCorona-Rodríguez Instituto Tecnológico y de Estudios Superiores de Monterrey manuel.corona@tec.mxu Doutor em Educação e Mestre em Comunicação pela Universidade de Guadalajara, México. Licenciada em Ciências da Comunicação pela Benemérita Universidad Autónoma de Puebla. Investigador membro do Sistema Nacional de Investigadores Nível C do CONACYT. Professor convidadodaFaculdadedeComunicaçãodaUniversidadePompeuFabra em 2017. Coordenadorexecutivo e investigador daCátedra UNESCO- AMIDI UDGdesde 2016. Professor e investigador com interesse e experiência em: comunicaçãopública,teorias dacomunicação,literacia mediática,narrativas transmédia,estudosdeaudiênciaeculturadigital. Membrodogrupode investigação internacional do Global Kids Online Project, queinvestiga o estado atual dos direitos digitais das crianças em diferentes países do mundo. Henry Jenkins, Tessa Jolls e Carolyn Wilson, entre outros, colaboramnesteprojetodeinvestigação. Atualmente,émembrodogrupo de investigaçãoresponsávelpeloprojeto Contentanalysisof therepresentation ofpeopleofsexualdiversity in audiovisual content, financiado pelo Instituto Federal de Telecomunicações. https://orcid.org/0000-0001-7394-5230 Artnodes,n.º29(janeirode2022)I ISSN1695-5951 2022,JoséManuelCorona-Rodríguez 2022, desta edição FUOC 18