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INFORMAÇÃO AO LEITOR
Numa linguagem clara, dirigida aos espíritos mais curiosos, a coleção «Génios do Mundo» tem como objetivo dar a
conhecer a vida e a obra de figuras ímpares e incontornáveis da História da Humanidade.
Contada de uma forma simples e com alguma fantasia da autora, cada história não pretende fazer uma apresentação
exaustiva da vida de cada génio. A seleção dos acontecimentos foi feita segundo critérios unicamente editoriais, de acordo
com o espírito da coleção, podendo excluir factos reais.
Morada: Rua Castilho, 57 – 1.º direito, 1250-068 Lisboa
Telefone: 213 713 130
Fax: 213 713 139
E-mail: publicacoes@zeroaoito.pt
Edição original PASS Edições
Título: Génios do Mundo – Albert Einstein
Texto: Margarida Fonseca Santos
Revisão de texto: Rute Mota
Ilustrações: Vasco Gargalo
Design: Zero a Oito
2.ª edição: abril 2016
ISBN: 978-989-8054-96-8
Depósito Legal: 408740/16
Impressão e acabamento: Publito – Estúdios de Artes Gráficas, Lda.
O conteúdo desta obra não pode ser reproduzido nem transmitido, no todo ou em parte,
por processo eletrónico ou mecânico, fotocópia, gravação ou qualquer outro meio
sem prévia autorização por escrito da Zero a Oito.
Uma chancela da Zero a Oito – Edição e Conteúdos, Lda.
Texto:Margarid
a
Fonseca Santos Ilustrações: V
asco
Gargalo
Génios
doMundo
5
O
Joaquim recostou-se na cadeira. Pas-
sou as mãos pela cara. Estava cansa-
do, e o corpo doía-lhe por ter ficado
tanto tempo na mesma posição. Que personagem incrí-
vel: Einstein! A sua Teoria da Relatividade impulsionou a
Física de tal forma que foi considerada a maior descober-
ta científica do século xx.
Confirmou no relógio de parede que faltavam dez
minutos para as onze da manhã. Há quanto tempo começa-
ra? Isso não era importante. A única coisa que o incomoda-
va era o facto de não ter dormido uma única hora.
Quando o António chegou e viu o colega naquele
estado ficou apreensivo.
– Não saíste daqui?! Essa roupa não é a mesma
de ontem…?
Capítulo 1
76
mudou o pensamento da Física moderna, o homem que
abriu as portas para um conhecimento diferente do mun-
do. Albert Einstein conseguiu, sobretudo a partir do ano
de 1905, o seu ano de ouro, abalar as certezas anteriores
e lançar uma nova luz na compreensão do espaço e do
tempo.
O Joaquim e o António trabalhavam sobre Eins-
tein para um documentário ficcionado, um documentá-
rio em que existiriam partes representadas por atores,
como se fossem pedaços de um filme. Nenhum dos dois
sabia grande coisa sobre Física nem Astronomia; apenas
conheciam vagamente os nomes das teorias que Einstein
formulara. No entanto, assim que começaram a investi-
gar a vida e a obra deste génio, ficaram ambos rendidos.
Era muito fácil de entender, a aura de homem excecional
que Einstein mantinha!
Filho de uma pianista, Pauline Koch, e de um
comerciante, Hermann Einstein, judeus alemães, Albert
Einstein nasceu a 14 de março de 1879. A família sobres-
saltara-se com aquela criança: o seu crânio tinha uma for-
ma angulosa, bastante peculiar, e a cabeça era enorme e
muito pesada.
O Joaquim e o António acharam uma certa pia-
da a esta particularidade. Os adultos que rodeavam Eins-
tein não podiam saber que acabara de nascer uma mente
– Agora começaste a preocupar-te com essas
coisas? – brincou o Joaquim. – Não, não fui a casa. Se
queres mesmo saber, nem sequer dormi.
– Lindo. Deves estar com uma capacidade de
trabalho extraordinária – ironizou o António. – Qual foi
a ideia? Estamos com pouco tempo, mas isso não justifica
diretas… quer dizer, pelo menos por enquanto…
– Não dei pelas horas passarem, a sério!
O António apontou para as janelas. Quando saí-
ra do estúdio eram três da manhã. Entretanto, como era
óbvio, a noite passara, o dia nascera…
– Mas porquê…?
O Joaquim não lhe respondeu. Estava muito ata-
refado com uma investigação que nada tinha de científi-
co: haveria algo para comer naquele estúdio bafiento? O
António saiu de imediato para comprar qualquer coisa,
também ele sem dizer nada. Não valia a pena tentar tra-
balhar com o colega sem este se alimentar… Quando ou-
viu a porta fechar-se, o Joaquim achou que devia arejar a
sala. O ar fresco iria saber-lhe bem.
Já depois de um café e de um pão com fiambre, o
Joaquim pôde enfim contar o que se passara. Depois de o
António se retirar, ele ficou a rever algumas notas. O fas-
cínio por Einstein era crescente. Até aos nossos dias, este
homem não foi destronado: continua a ser a pessoa que
98
de fúria até perto dos sete anos. Ficava fora de si, descon-
trolado e agressivo, e Maja não escapava aos objetos que
o irmão atirava pelo ar. Mas nunca o viu como um ser
desorientado, pelo contrário.
– Acho que devíamos incluir cenas de família
– disse o Joaquim. – Foi importante para Einstein esta
vivência tranquila em casa. A mãe parece ter a personali-
dade mais forte.
– Pois. O ambiente era culto, a mãe estimulou-os
para a música…
– É verdade, sim. Einstein aprendeu violino entre
os seis e os treze anos. Gostava de tocar com a mãe… Além
disso, aprendeu piano sozinho e adorava improvisar.
– E o pai lia, em voz alta, textos de grandes figu-
ras da literatura – completou o António.
– Sim. E ainda se pode fazer referência ao tio de
Einstein, o que montou com o pai uma sociedade que mais
tarde evoluiu para uma fábrica de eletrotécnica. Este tio,
engenheiro, foi um dos grandes estímulos para o rapaz.
– O que é absolutamente inacreditável é que
estamos a falar de estímulos dados aos cinco, seis, sete
anos! Com essa idade, a minha maior preocupação era a
coleção de cromos!
O Joaquim pegou numa série de papéis que re-
pousavam perto da impressora.
absolutamente única, capaz de raciocínios complexos e
inovadores. Naquele momento, Einstein era apenas uma
criança estranha… Existia uma forte apreensão com ele.
Só começaria a falar muito tarde, e os pais chegaram a
pensar que não era uma criança normal. Einstein relatou,
já na sua velhice, que gostava de pensar muito em frases
perfeitas e completas. Construía-as na sua mente, mas
não as dizia enquanto não tivesse a certeza de estarem
corretas.
O casal teve uma segunda filha em 1881, Maja,
quando viviam em Munique. Os irmãos deram-se sem-
pre bem, e Maja seria para Albert um apoio fundamental
em momentos importantes da sua vida. Ela escreveu que
o irmão, embora fosse uma criança calma, tinha acessos
1110
C
ena 1A – Interior / Sala da casa de
Einstein / Fim de tarde
(O casal Einstein observa o filho que
brinca sozinho, no chão, com blocos de madeira. Entreo-
lham-se e recolhem-se para um canto da sala.)
Hermann – Tu não achas que…?
Pauline – Não sei… A sério que não sei…
Hermann – Já tem quase três anos, devia conse-
guir falar mais…
Pauline – Mas pode ser só por preguiça…
(Hermann observa o filho com um ar apreensivo.)
Hermann – Pauline, acho que temos de conside-
rar a hipótese de o nosso Albert ser atrasado…
(Pauline tapa a boca do marido, como se pudesse
impedir aquela frase de soar.)
Capítulo 2
– Desculpa, mas não resisti… – avisou.
O amigo tirou-lhe as folhas das mãos.
– O que é isto? Já escreveste cenas para o filme?
– O António estava admirado. – Tu não tens mesmo juí-
zo, não é? Quatro cenas?!
– Não fiques irritado, por favor… Eu só quis pôr
no papel aquilo que estava a «ver». Podemos refazê-las à
tua maneira, não há problema. Tu depois…
– Para! – pediu o António, fazendo-lhe sinal de
que o desconcentrava com tanta conversa. – Deixa-me
ler. Esta primeira parece-me ótima!
– Mas podes mudar o que quiseres – insistiu o
Joaquim.
– Chiu!
1312
Einstein – Eu faço… gosto… (Pausadamente.)
Eu gosto de fazer construções de madeira.
(Visão geral da sala. Ninguém presencia este mo-
mento. Einstein volta à brincadeira, descontraído.)
Cena 2 – Interior / Fábrica / Escritório do pai
(Einstein, cinco anos, tem uma bússola na mão.
O pai sorri ao seu lado.)
Einstein – Mas o que é isto, pai?
Hermann – Chama-se bússola.
Einstein – E esta coisa que anda à volta…?
Hermann – É uma agulha magnética.
Einstein – Isso é o quê? Porque não para quieta?
Hermann – Já reparaste que aponta sempre na
mesma direção?
Einstein – Sim… É teimosa!
Hermann – Está a indicar o norte.
(Einstein fica calado, perplexo. Treme e arrepia-se.)
Einstein – Esta agulha sabe onde é o norte?
Hermann – Sim, Albert. Ela «sente» o norte e
aponta para lá.
(A porta abre-se. Vê-se a cabeça de um emprega-
do da fábrica.)
Empregado – Senhor Hermann? Chegou o tal
homem com as peças.
Pauline – Não digas isso!
(O casal volta a olhar para o filho. Einstein brin-
ca em silêncio. A certa altura para, olha para o infinito e
fica quieto.)
Hermann – Vês? Não é uma criança como as ou-
tras. Fica aéreo!
Pauline – Talvez esteja a pensar…
Hermann – Mas a pensar em quê?!
Pauline – Oh, Hermann! Como o vamos ajudar…?
Cena 1B – Continuação da cena anterior
(Einstein está agora sozinho na sala. Mantém-
-se a olhar para o infinito. Plano de frente. Os olhos me-
xem-se como se procurasse algo dentro da sua mente.)
1514
me na minha vida, em todo o meu trabalho. (Pensa um
pouco.) Foi o primeiro… (Hesita e ri.) «milagre» da minha
vida, aquela bússola! O segundo iria ser-me apresentado
por um estudante de Medicina, Max. (Pausa.) O meu
querido amigo Max… Deu-me a conhecer os segredos da
Geometria, através de um livro de Euclides. A clareza e a
segurança do conteúdo daquele livro causaram-me uma
impressão indescritível. (Sorri.) Eu chamei-lhe sempre o
«Livro Sagrado da Geometria»!
Cena 4 – Interior / Sala da casa dos Einstein
(Sentados no sofá, Einstein, doze anos, e Max Tal-
mey, estudante de Medicina, conversam animadamente. Os
pais de Einstein, sentados em duas poltronas, ligeiramente
afastados, observam-nos; ambos têm livros nas mãos.)
Pauline – (A rir.) Tinhas razão, Hermann. O
nosso filho não é uma criança normal…
Hermann – Pois não. Olha para eles. O Albert
tem doze anos! Como é possível estarem a discutir a Geo-
metria de Euclides?!
Pauline – Bom, ele só lê livros desse género, hoje
em dia…
Hermann – Mas não brinca com rapazes da ida-
de dele. Isso não te preocupa?
(Pauline pensa antes de responder.)
(O empregado retira-se.)
Hermann – Desculpa, Albert. Já volto.
(Einstein não lhe responde. Está fascinado. Man-
tém-se absorto a olhar para a bússola, mexendo-lhe, vi-
rando-a, virando-se ele mesmo e testando. Pormenor das
mãos e da bússola.)
Cena 3 – Interior / Escritório
(Grande plano de Einstein, já com muita idade.
Quando sorri deverá mostrar um certo ar infantil, brincalhão.)
Einstein – Entendi, no instante em que conheci
a bússola, que algo no espaço fazia mexer aquela agulha,
algo que estava por detrás das coisas, algo escondido. Foi
uma experiência profunda e que teve um impacto enor-

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  • 1.
  • 2. INFORMAÇÃO AO LEITOR Numa linguagem clara, dirigida aos espíritos mais curiosos, a coleção «Génios do Mundo» tem como objetivo dar a conhecer a vida e a obra de figuras ímpares e incontornáveis da História da Humanidade. Contada de uma forma simples e com alguma fantasia da autora, cada história não pretende fazer uma apresentação exaustiva da vida de cada génio. A seleção dos acontecimentos foi feita segundo critérios unicamente editoriais, de acordo com o espírito da coleção, podendo excluir factos reais. Morada: Rua Castilho, 57 – 1.º direito, 1250-068 Lisboa Telefone: 213 713 130 Fax: 213 713 139 E-mail: publicacoes@zeroaoito.pt Edição original PASS Edições Título: Génios do Mundo – Albert Einstein Texto: Margarida Fonseca Santos Revisão de texto: Rute Mota Ilustrações: Vasco Gargalo Design: Zero a Oito 2.ª edição: abril 2016 ISBN: 978-989-8054-96-8 Depósito Legal: 408740/16 Impressão e acabamento: Publito – Estúdios de Artes Gráficas, Lda. O conteúdo desta obra não pode ser reproduzido nem transmitido, no todo ou em parte, por processo eletrónico ou mecânico, fotocópia, gravação ou qualquer outro meio sem prévia autorização por escrito da Zero a Oito. Uma chancela da Zero a Oito – Edição e Conteúdos, Lda. Texto:Margarid a Fonseca Santos Ilustrações: V asco Gargalo Génios doMundo
  • 3. 5 O Joaquim recostou-se na cadeira. Pas- sou as mãos pela cara. Estava cansa- do, e o corpo doía-lhe por ter ficado tanto tempo na mesma posição. Que personagem incrí- vel: Einstein! A sua Teoria da Relatividade impulsionou a Física de tal forma que foi considerada a maior descober- ta científica do século xx. Confirmou no relógio de parede que faltavam dez minutos para as onze da manhã. Há quanto tempo começa- ra? Isso não era importante. A única coisa que o incomoda- va era o facto de não ter dormido uma única hora. Quando o António chegou e viu o colega naquele estado ficou apreensivo. – Não saíste daqui?! Essa roupa não é a mesma de ontem…? Capítulo 1
  • 4. 76 mudou o pensamento da Física moderna, o homem que abriu as portas para um conhecimento diferente do mun- do. Albert Einstein conseguiu, sobretudo a partir do ano de 1905, o seu ano de ouro, abalar as certezas anteriores e lançar uma nova luz na compreensão do espaço e do tempo. O Joaquim e o António trabalhavam sobre Eins- tein para um documentário ficcionado, um documentá- rio em que existiriam partes representadas por atores, como se fossem pedaços de um filme. Nenhum dos dois sabia grande coisa sobre Física nem Astronomia; apenas conheciam vagamente os nomes das teorias que Einstein formulara. No entanto, assim que começaram a investi- gar a vida e a obra deste génio, ficaram ambos rendidos. Era muito fácil de entender, a aura de homem excecional que Einstein mantinha! Filho de uma pianista, Pauline Koch, e de um comerciante, Hermann Einstein, judeus alemães, Albert Einstein nasceu a 14 de março de 1879. A família sobres- saltara-se com aquela criança: o seu crânio tinha uma for- ma angulosa, bastante peculiar, e a cabeça era enorme e muito pesada. O Joaquim e o António acharam uma certa pia- da a esta particularidade. Os adultos que rodeavam Eins- tein não podiam saber que acabara de nascer uma mente – Agora começaste a preocupar-te com essas coisas? – brincou o Joaquim. – Não, não fui a casa. Se queres mesmo saber, nem sequer dormi. – Lindo. Deves estar com uma capacidade de trabalho extraordinária – ironizou o António. – Qual foi a ideia? Estamos com pouco tempo, mas isso não justifica diretas… quer dizer, pelo menos por enquanto… – Não dei pelas horas passarem, a sério! O António apontou para as janelas. Quando saí- ra do estúdio eram três da manhã. Entretanto, como era óbvio, a noite passara, o dia nascera… – Mas porquê…? O Joaquim não lhe respondeu. Estava muito ata- refado com uma investigação que nada tinha de científi- co: haveria algo para comer naquele estúdio bafiento? O António saiu de imediato para comprar qualquer coisa, também ele sem dizer nada. Não valia a pena tentar tra- balhar com o colega sem este se alimentar… Quando ou- viu a porta fechar-se, o Joaquim achou que devia arejar a sala. O ar fresco iria saber-lhe bem. Já depois de um café e de um pão com fiambre, o Joaquim pôde enfim contar o que se passara. Depois de o António se retirar, ele ficou a rever algumas notas. O fas- cínio por Einstein era crescente. Até aos nossos dias, este homem não foi destronado: continua a ser a pessoa que
  • 5. 98 de fúria até perto dos sete anos. Ficava fora de si, descon- trolado e agressivo, e Maja não escapava aos objetos que o irmão atirava pelo ar. Mas nunca o viu como um ser desorientado, pelo contrário. – Acho que devíamos incluir cenas de família – disse o Joaquim. – Foi importante para Einstein esta vivência tranquila em casa. A mãe parece ter a personali- dade mais forte. – Pois. O ambiente era culto, a mãe estimulou-os para a música… – É verdade, sim. Einstein aprendeu violino entre os seis e os treze anos. Gostava de tocar com a mãe… Além disso, aprendeu piano sozinho e adorava improvisar. – E o pai lia, em voz alta, textos de grandes figu- ras da literatura – completou o António. – Sim. E ainda se pode fazer referência ao tio de Einstein, o que montou com o pai uma sociedade que mais tarde evoluiu para uma fábrica de eletrotécnica. Este tio, engenheiro, foi um dos grandes estímulos para o rapaz. – O que é absolutamente inacreditável é que estamos a falar de estímulos dados aos cinco, seis, sete anos! Com essa idade, a minha maior preocupação era a coleção de cromos! O Joaquim pegou numa série de papéis que re- pousavam perto da impressora. absolutamente única, capaz de raciocínios complexos e inovadores. Naquele momento, Einstein era apenas uma criança estranha… Existia uma forte apreensão com ele. Só começaria a falar muito tarde, e os pais chegaram a pensar que não era uma criança normal. Einstein relatou, já na sua velhice, que gostava de pensar muito em frases perfeitas e completas. Construía-as na sua mente, mas não as dizia enquanto não tivesse a certeza de estarem corretas. O casal teve uma segunda filha em 1881, Maja, quando viviam em Munique. Os irmãos deram-se sem- pre bem, e Maja seria para Albert um apoio fundamental em momentos importantes da sua vida. Ela escreveu que o irmão, embora fosse uma criança calma, tinha acessos
  • 6. 1110 C ena 1A – Interior / Sala da casa de Einstein / Fim de tarde (O casal Einstein observa o filho que brinca sozinho, no chão, com blocos de madeira. Entreo- lham-se e recolhem-se para um canto da sala.) Hermann – Tu não achas que…? Pauline – Não sei… A sério que não sei… Hermann – Já tem quase três anos, devia conse- guir falar mais… Pauline – Mas pode ser só por preguiça… (Hermann observa o filho com um ar apreensivo.) Hermann – Pauline, acho que temos de conside- rar a hipótese de o nosso Albert ser atrasado… (Pauline tapa a boca do marido, como se pudesse impedir aquela frase de soar.) Capítulo 2 – Desculpa, mas não resisti… – avisou. O amigo tirou-lhe as folhas das mãos. – O que é isto? Já escreveste cenas para o filme? – O António estava admirado. – Tu não tens mesmo juí- zo, não é? Quatro cenas?! – Não fiques irritado, por favor… Eu só quis pôr no papel aquilo que estava a «ver». Podemos refazê-las à tua maneira, não há problema. Tu depois… – Para! – pediu o António, fazendo-lhe sinal de que o desconcentrava com tanta conversa. – Deixa-me ler. Esta primeira parece-me ótima! – Mas podes mudar o que quiseres – insistiu o Joaquim. – Chiu!
  • 7. 1312 Einstein – Eu faço… gosto… (Pausadamente.) Eu gosto de fazer construções de madeira. (Visão geral da sala. Ninguém presencia este mo- mento. Einstein volta à brincadeira, descontraído.) Cena 2 – Interior / Fábrica / Escritório do pai (Einstein, cinco anos, tem uma bússola na mão. O pai sorri ao seu lado.) Einstein – Mas o que é isto, pai? Hermann – Chama-se bússola. Einstein – E esta coisa que anda à volta…? Hermann – É uma agulha magnética. Einstein – Isso é o quê? Porque não para quieta? Hermann – Já reparaste que aponta sempre na mesma direção? Einstein – Sim… É teimosa! Hermann – Está a indicar o norte. (Einstein fica calado, perplexo. Treme e arrepia-se.) Einstein – Esta agulha sabe onde é o norte? Hermann – Sim, Albert. Ela «sente» o norte e aponta para lá. (A porta abre-se. Vê-se a cabeça de um emprega- do da fábrica.) Empregado – Senhor Hermann? Chegou o tal homem com as peças. Pauline – Não digas isso! (O casal volta a olhar para o filho. Einstein brin- ca em silêncio. A certa altura para, olha para o infinito e fica quieto.) Hermann – Vês? Não é uma criança como as ou- tras. Fica aéreo! Pauline – Talvez esteja a pensar… Hermann – Mas a pensar em quê?! Pauline – Oh, Hermann! Como o vamos ajudar…? Cena 1B – Continuação da cena anterior (Einstein está agora sozinho na sala. Mantém- -se a olhar para o infinito. Plano de frente. Os olhos me- xem-se como se procurasse algo dentro da sua mente.)
  • 8. 1514 me na minha vida, em todo o meu trabalho. (Pensa um pouco.) Foi o primeiro… (Hesita e ri.) «milagre» da minha vida, aquela bússola! O segundo iria ser-me apresentado por um estudante de Medicina, Max. (Pausa.) O meu querido amigo Max… Deu-me a conhecer os segredos da Geometria, através de um livro de Euclides. A clareza e a segurança do conteúdo daquele livro causaram-me uma impressão indescritível. (Sorri.) Eu chamei-lhe sempre o «Livro Sagrado da Geometria»! Cena 4 – Interior / Sala da casa dos Einstein (Sentados no sofá, Einstein, doze anos, e Max Tal- mey, estudante de Medicina, conversam animadamente. Os pais de Einstein, sentados em duas poltronas, ligeiramente afastados, observam-nos; ambos têm livros nas mãos.) Pauline – (A rir.) Tinhas razão, Hermann. O nosso filho não é uma criança normal… Hermann – Pois não. Olha para eles. O Albert tem doze anos! Como é possível estarem a discutir a Geo- metria de Euclides?! Pauline – Bom, ele só lê livros desse género, hoje em dia… Hermann – Mas não brinca com rapazes da ida- de dele. Isso não te preocupa? (Pauline pensa antes de responder.) (O empregado retira-se.) Hermann – Desculpa, Albert. Já volto. (Einstein não lhe responde. Está fascinado. Man- tém-se absorto a olhar para a bússola, mexendo-lhe, vi- rando-a, virando-se ele mesmo e testando. Pormenor das mãos e da bússola.) Cena 3 – Interior / Escritório (Grande plano de Einstein, já com muita idade. Quando sorri deverá mostrar um certo ar infantil, brincalhão.) Einstein – Entendi, no instante em que conheci a bússola, que algo no espaço fazia mexer aquela agulha, algo que estava por detrás das coisas, algo escondido. Foi uma experiência profunda e que teve um impacto enor-