Entrevista Diário do Minho analisa formação em Ciências Sociais
1. 12 www.diariodominho.pt Entrevista Diário do Minho
SÁBADO, 4 de fevereiro de 2012
Entrevista Diário do Minho / Rádio Faculdade de Filosofia a Engrácia Leandro
Ciências Sociais tratam
da pessoa em sociedade
DM
A presente entrevista com Engrácia Leandro, diretora do próximo semestre, vamos
da Faculdade de Ciências Sociais, é a terceira das que ter bastantes alunos no Mes-
programámos para comemorar o Dia da Universidade trado de Serviço Social, ultra-
passando mesmo os 20. No
Católica que se celebra amanhã, cinco de fevereiro, dia
mesmo sentido, também se
em que se comemoram também os 45 anos da sua verificou uma enorme procu-
fundação. A entrevista poderá ser ouvida integralmen- ra a nível da educação, tendo
te no site da Rádio FF (Faculdade de Filosofia), www. subido a cerca de 40 alunos
facfil.braga.ucp.pt vindos da área do ensino.
LM Estamos a falar de for-
Luís da Silva Pereira templadas, embora já houves- mação de professores licen-
Luísa Magalhães/Rádio FF se a nível da Universidade Ca- ciados antes de Bolonha…
tólica a Faculdade de Ciências EL Exatamente. Temos à vol-
Luísa Magalhães (LM): Esta- Humanas em Lisboa, onde, ta de 40, como já referi. Vol-
mos a celebrar os 45 anos da por exemplo, está integrada tando aos TIC, sobretudo o
Universidade Católica Portu- toda a formação em serviço mestrado em TIC, tanto quan-
guesa, integrados num dos social: licenciatura, mestrado to eu sei, esta formação era
centros regionais onde está e doutoramento. única no país e tinha uma pro-
instalada a Faculdade de Ci- cura extraordinária, inclusive
LM Mas Lisboa está longe até pessoas do sul, de todo o
ências Sociais (FACIS) a pro-
fessora Engrácia atualmen- para que os candidatos in- Engrácia Leandro, diretora da FACIS lado, pedindo mesmo que
te dirige. O que é que a FA- teressados para aí se pudes- abríssemos uma segunda edi-
CIS? O que traz de novo, de sem deslocar. muitas outras saídas profissio- conta que há 23 cursos. Só descida, mas não tão expres- ção. Nesta altura, já não so-
positivo, a todo este enqua- EL Em meu entender, sem- nais. A FACIS nasce com este nós já formámos para cima de siva. De qualquer maneira, as mos os únicos. Pelo menos a
dramento do Centro Regio- pre que possível, não serão objectivo de formar pessoas 400 assistentes sociais. duas licenciaturas tiveram di- Universidade do Minho já tem
nal de Braga? apenas os candidatos que te- que possam trabalhar, quer minuição de procura. Se bem outro mestrado também nes-
Engrácia Leandro (EL): A Fa- rão de ir à procura das uni- nas instituições de solidarie- LM Terá a ver também com que, particularmente nos TIC, sa área, o que não impediu
culdade de Ciências Sociais versidades onde estão sedia- dade social quer noutro tipo o cenário geral de crise fi- essa diminuição foi colmata- que a intensidade da procura
surgiu num momento em que das, mas também estas, de di- de instituições ou noutro tipo nanceira e de dificuldade na da com os acordos que temos nos levasse a abrir duas edi-
havia necessidade de respon- versas formas, terão de se co- de trabalho, procurando dar empregabilidade dos recém- com Cabo Verde, a nível de ções. Assim, temos, nesta al-
der a alguma procura em áre- locar ao seu alcance. Esta Fa- resposta às questões mais pre- licenciados. câmaras municipais. Realmen- tura, nesta formação, cerca de
as como a do serviço social culdade integra um objetivo mentes da coesão social. EL Com certeza, mas também te, os alunos cabo-verdianos 60 alunos. Quer dizer que, ape-
que na altura tinha grande fundamental: dar resposta a pode não haver mercado. Re- formam um grupos bastante sar de ter havido uma dimi-
amplitude, como a realidade uma formação que não havia LM Mas entretanto foram pito: pensar que temos 23 cur- grande da nossa Faculdade, nuição a nível da licenciatura
até muito recentemente tem nesta região, como é o caso criadas outras licenciatu- sos de serviço social no país, sobretudo na área dos TIC, em serviço social, a nível da
vindo a revelar, embora a si- do serviço social. Foi realmen- ras. não sei se há sociedades com mas também no Serviço So- Faculdade em si, este ano até
te uma inovação extraordiná- EL A FACIS tem a funcionar muito mais dimensão do que cial, embora menos. temos mais alunos do que no
tuação seja atualmente algo
diferente. ria nesta área até porque, sob duas licenciaturas distintas em nós que tenha tantas pesso- ano passado.
ponto de vista demográfico, serviço social para poder res- as formadas em serviço social. LM Em contrapartida, no ati-
LM A fronteira entre as embora as coisas estejam a ponder à procura, designada- Mas isso é uma coisa que acon- nente aos mestrados, a bai- LM Os TIC constituíram uma
ciências humanas e a socio- mudar muito, tradicionalmen- mente de estudantes traba- tece muito em Portugal. Quan- xa não se terá feito sentir espécie de balão de oxigé-
logia será muito ténue… te esta região do noroeste era lhadores, o que levou a criar do uma coisa está a dar, to- com tanta acuidade. nio…
EL As ciências humanas tra- uma das mais povoadas do o ensino noturno. Num futu- dos vão atrás. EL Se tivéssemos doutora- EL Os TIC, por um lado e, por
tam da pessoa humana e as país. ro próximo, não sabemos se mento, teríamos mais alunos outro, os mestrados pré-Bolo-
ciências sociais mais das so- se vai manter, tendo em con- LM Portanto, a descida foi do que em Lisboa, onde fun- nha. A adesão foi muita boa.
ciedades. Mas estas não exis- LM Não é por acaso que é ta a grande descida de alunos muito significativa. ciona o único curso nesta área Ao todo, bem acima de 50 alu-
tem sem as pessoas. Talvez aqui que está situado um que aconteceu este ano. Há EL Este ano, no curso de ser- e neste grau na Universidade nos, tendo em conta o servi-
com um pequenino matiz: as grande número de institui- aqui um dado demográfico viço social, foi muito signifi- Católica. Por outro lado, a nova ço social e a educação.
ciências sociais tratam da pes- ções de solidariedade so- pois há cada vez menos crian- cativa, quer a nível dos cursos lei que permite aos alunos das
soa humana situada em so- cial. ças e jovens em Portugal. Por diurnos quer noturnos. Em licenciaturas pré-Bolonha fa- LM Portanto foi uma boa es-
ciedade. A diferença é mais EL Muitas das formações de outro lado, isso também pode contrapartida, a nível da licen- zer o Mestrado em condições tratégia por parte da FACIS
por aí. Esta Faculdade, quan- assistente social encaminham- ter a ver com a proliferação e ciatura em TIC (Tecnologias mais vantajosas, tem granjea- não só na cativação destes
do nasce, tenta preencher áre- se para áreas desta natureza, saturação, a nível do país, de da Informação e Comunica- do uma boa adesão de can- novos alunos como na qua-
as que até aí não estavam con- sem querer dizer que não haja assistentes sociais tendo em ção), aí não. Também houve didaturas, pelo que, a partir lificação de quadros.
2. Diário do Minho
SÁBADO, 4 de fevereiro de 2012 Entrevista www.diariodominho.pt 13
O nosso principal projeto
é apostar na qualidade
DM
EL O nosso principal projeto se está aqui a fazer apelo a der, subjaz a uma instituição do esta dimensão, orienta-se
é apostar na qualidade. Na uma memória que se foi cons- deste cariz a procura de um mais para o saber/saber. De
qualidade do ensino, na qua- truindo ao longo destes 45 objetivo: a qualidade. qualquer maneira, não levar
lidade da investigação, na qua- anos. Se me perguntarem o apenas as pessoas a aprender
lidade da relação também. que considero mais importan- LM Mas nisso nada há de es- a fazer coisas, mas principal-
te nesta celebração, penso que pecífico. Qualquer outra uni- mente a refletir sobre as coi-
LM Essa é a grande missão é fazer um balanço, o que sig- versidade se preocupa. sas, porque isso também é a
da Universidade Católica. nifica parar, refletir, partilhar, EL Com certeza, mas há aqui nossa preocupação.
EL Exatamente. E comemo- reelaborar, estar atento aos outra vertente: a de ser cató-
rar o 45.º aniversário da Uni- desafios da sociedade. É mui- lica, conferindo-lhe singulari- LM Uma preocupação da
versidade Católica é fazer um to importante aproveitar esta dades e responsabilidades Universidade Católica…
balanço e querer reformular ocasião para olhar o caminho acrescidas ao nível da trans- EL Mais uma vez, volto à ra-
o que tem de ser reformula- percorrido, onde é que já se missão de valores e de zelar zão de ser da nossa entrevis-
do, de modo a podermos cor- chegou e o que é que impor- pela qualidade das relações, ta: os 45 anos da UCP. A efe-
responder às aspirações de to- ta mudar para que a Univer- no sentido amplo do termo. méride também se afigura
das as pessoas que mais dire- sidade Católica seja mais uni- como uma boa ocasião para
tamente estão envolvidas na versidade e mais católica. LM Poderemos falar numa fazer esta articulação de pen-
UCP e daquelas que, de modo Como qualquer outra univer- perspetiva cultural… samento: o saber, ou os sabe-
mais indireto, também têm sidade, deve estar aberta à EL Com certeza. Investindo res, e o fazer, ou os fazeres.
expetativas a seu respeito. É pluralidade e ao investimen- naquela dimensão que diz que Afinal de contas, ver o que é
o fundamental destas celebra- to na qualidade, mas também a aprendizagem não será pro- que temos andado a fazer, no
ções. a todas “as pessoas de boa priamente a aprendizagem ao saber/fazer e no saber/saber,
vontade”, aos que queiram par- longo da vida, mas a forma- como é que estas dimensões
LM Porque é um aniversário ticipar e beneficiar das ofer- ção ao longo da vida. A apren- se articulam, o que é que nós
importante. tas que proporciona em ter- dizagem pode estar muito as- podemos ainda receber e dar,
EL É, sem dúvida. Mas tam- mos de ensino e de investiga- sociada ao saber/fazer. Ora o o que é que a própria socie-
bém convém ter presente que Faculdade de Ciências Sociais ção. Repito, em meu enten- que propomos, não descuran- dade espera de nós.
Levar as pessoas a refletir sobre as coisas
LM Estamos agora a acompanhar não uma reviravolta, mas, partir deste mês. Pensamos, também, nas áreas da “Segu- dade”, por enquanto não temos candidatos suficientes para
pelo menos, um desenvolvimento de dinâmica da Faculdade rança, Crime e Sociedade” e de “Criminologia e Reinserção abrir a primeira edição de imediato. Pretendemos investir na
de Ciências Sociais. Social”, pois tem muito que ver com os nossos objetivos de área da saúde, mas ao nível da nossa dimensão, ciências
EL Apesar das dificuldades, temos em mente vários proje- formação na área do serviço social e com o próprio contex- sociais, e não nas áreas da biologia, que já estão bem sedi-
tos. Uma das áreas que já está em funcionamento como to social em que vivemos. Sabemos que muitas assistentes mentadas na Universidade Católica, em Lisboa e no Porto.
pós-graduação, ou como master, como agora se diz, uma sociais e outros agentes sociais similares têm aí um campo
área onde vamos investir no futuro, é o turismo. Está já a de trabalho desafiante. LM Saúde com pendente hospitalar.
funcionar um master em turismo e graças ao dinamismo do EL Esse não é diretamente o nosso propósito, embora toda
seu diretor Prof. Nuno Fazenda está a ser objeto de um di- LM E quanto à saúde na terceira idade? a dimensão hospitalar e da própria formação dos profissio-
namismo e sucesso muito bons. Os alunos mostram-se EL Também temos dedicado uma atenção particular à ge- nais de saúde se mostrem aptos a criar mais sinergias entre
muito interessado por tudo o que envolve as aulas, e um rontologia. É um quadro que queremos alargar, até em as ciências que lhe são peculiares e os contributos que
conjunto de várias atividades, designadamente em forma de termos de protocolos com outras instituições de ensino su- advêm das ciências sociais nestes domínios cada vez mais
seminários abertos a outros públicos, contando com grandes perior. Outra dimensão que estamos a desenvolver prende- em desenvolvimento. O que pretendemos são as dimensões
nomes nacionais e internacionais. Vamos ter um grande -se com a formação avançada, por exemplo, na área de sociais da saúde e também agora com a área do turismo,
evento no dia 20 de abril, com pessoas que vêm desde os instituições associadas à economia social e outras. porque realmente estes cruzamentos estão a funcionar
Estados Unidos à Grécia, de grande renome internacional muito bem, entre outros aspetos. Também já temos pensa-
nessa área. LM Refere-se às IPSS? do oferecer, no próximo ano, uma formação na área da
EL Não tem que ver apenas com as IPSS, mas é uma área história da saúde no que se refere à formação avançada.
LM Mas há outras áreas em que estão também a investir em que vamos intervir já este ano. Ainda vamos desenvolver Mas é uma formação que não confere grau académico,
EL Uma deve começar já a funcionar no próximo semestre, nestas áreas dos serviços sociais mais trabalhos com a famí- aberta a pessoas de qualquer idade que vêm frequentar
a saúde, concretamente na área do termalismo. Termalismo, lia, criando até extensões a nível internacional. Na área da cursos livres ou similares. Nisto também se traduz a nossa
Saúde e Turismo é a designação desse master. Com as ins- saúde propusemos duas pós-graduações para o próximo abertura e prestação de serviços à sociedade, no caso, à
crições que já temos pensamos que vamos funcionar já a semestre. Porém, para o Master de “Saúde, Cultura e Socie- comunidade de Braga.